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Celebra-se em Março o nosso dia. A mensagem de dois mil e ... · Deixa de escrever para teatro em 2016, ... Construção e Manipulação de Marionetas, ... áreas da saúde, ensino,

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Celebra-se em Março o nosso dia. A mensagem de dois mil e dez, escrita pela atriz JudiDench dizia “O Teatro é uma fonte de divertimento e de inspiração e tem a capacidade deunificar as numerosas populações e culturas existentes no mundo. Mas é mais do que issoe também oferece oportunidades para educar e informar”.

Já em 2012 Urbano Tavares Rodrigues na sua mensagem dizia: "O teatro, o teatroverdadeiramente popular, na mais nobre aceção da palavra, é, deve ser, um meio deformação, desalienante, que acautela o espectador contra a propagandamentirosa de umasociedade sem valores que visa aliená-lo, para o utilizar como coisa ao serviço de umamáquina triturante de falsos valores económicos.”

Eis aqui, em súmula, duas ideias chave desta arte: Formação e Informação. Euacrescentaria, no caso particular do teatro de amadores (ou associativo), os conceitos deafetividade, recreação e solidariedade que aportam mais humanidade à causa.

Em Março ficamos também a conhecer o vencedor do prémio Ruy de Carvalho (XII ediçãodo Concurso Nacional de Teatro) – Teatro Passagem de Nível (Amadora) com “Pessoa”adaptado do texto “Fernando Pessoa contado às crianças adultas” de Jorge ChichorroRodrigues a quem endereçamos as nossas felicitações. Salientamos também o GrupoDramático da Retorta que conquistou 5 galardões.

Nesta edição destacamos uma resenha sobre o Fórum de Montemor-o-Novo e um“aperitivo” para o próximo Fórum Permanente que se irá realizar em Loures a 23, 24 e 25deSetembro; o professor JoãoMaria André prossegue a sua colaboração com textos sobreestética e prática teatral sob o mote “conversas com os mestres” que desta vez nos falamde Peter Brook.

Nãomenos interessante é o texto que a Vice-Presidente Tânia Falcão nos apresenta sobreo Amar-Teatro, a mais recente “conquista” da FPTA e dos seus associados…

Assimse resumemosprincipais temasque iremosabordar neste número danossa “Palcos”que está aí para ser lido e partilhado por todos.

Aproveitem!

Fernando RodriguesDiretor da Revista PALCOS

editorial

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FICHA TÉCNICA

Propriedade Federação Portuguesa de Teatro - Praça José Afonso, 15 E | C.C. Colina do Sol, Loja 55 | 2700-495 AmadoraDiretor Fernando Rodrigues Conselho Editorial Luis Mendes, Tânia MariaFalcão, Anabela Teixeira, Manuel Ramos Costa, Bruno Gomes e José TelesColaborador Permanente João Maria André Fotografia Alice Grade, AndréTenente e Carla Ferreira Grafismo e Paginação Gabinete de Comunicação/Federação Portuguesa de TeatroPeriodicidade Semestral | Edição Digital

editorial 1 estreia xvi fórumperma-nente de teatro3programadesalaloures | teatro independente deloures 7 na ribalta xii concurso na-cional de teatro 12 boca de cenaamar-teatro 2016 16 reportórioconversas comosmestres - opoderdo silêncio 17 sem palco oreparador 21

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estreia XII FÓRUM PERMANENTE DE

TEATRO

OFórum “Sem Pressa”

Montemor-o-Novo acolheu o XVI Fórum Permanente de Teatro, uma organização daFederação Portuguesa de Teatro em parceria com o THEATRON – Associação Cultural.

A Federação Portuguesa de Teatro contou com a parceria institucional do Município deMontemor-o-Novo e o Fórum aconteceu no Cine Teatro Curvo Semedo e na EscolaSecundária de Montemor-o-Novo, onde decorreram a maioria dos painéis de formação.

As boas-vindas do grupo anfitrião não poderiam ter sido melhores. Embalados ao som doCante Alentejano pelo Grupo Coral “Fora d´oras” de Montemor-o-Novo, eis que chega omomento de acolher os participantes desta edição: ACIJE – Associação do Coro Infanto-Juvenil deEsporões, AssociaçãoProjéctor –Companhia deTeatro doBarreiro, Associaçãodos Funcionários da Câmara Municipal de Póvoa de Lanhoso, Associação Teatro semDono, ATA – Acção Teatral Artimanha, Ateneu Artístico Vilafranquense, Clube da Sertã –A.Com.Te.Ser – Companhia Teatral da Sertã, Contacto – Companhia de Teatro ÁguaCorrente de Ovar, GAFT – Alma de Ferro, GETAS – Centro Cultural de Sardoal, Grupo deTeatro Palha de Abrantes, Grupo de Teatro Renascer, Grupo Nun´Álvares Teatro Vitrine,Grupo deTeatroAmador deCristelo,Grupo deAnimaçãoeTeatro –EspelhoMágico, Páteodas Galinhas – Grupo Experimental de Teatro Figueira da Foz, Teatro Nova Morada, TEM– Teatro Experimental deMortágua, TIL – Teatro Independente de Loures, Tin.Bra – Grupode Teatro Infantil de Braga, TPN – Teatro Passagem de Nível e KaixaCriativa – AssociaçãoCultural.

A Presidente do Município de Montemor-o-Novo endereçou a todos os participantes destefórum uma excelente jornada de trabalho, mostrando-se orgulhosa por receber umainiciativa deste género, frisando a importância que o Teatro possui para esta cidadealentejana.

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Era o momento de apresentar a Homenagem ao Dramaturgo desta Edição do Fórum:

-CarlosDinis TomásCebola, Dramaturgo, Encenador, Teatrólogo ePoeta, nasceu emNisaa 9 de Novembro de 1928.

Estudou emAlcains, concelho deCastelo Branco e emNisa noColégio Dr. Durões Correia,tendo concluído o Curso Geral dos Liceus, no antigo liceu Mouzinho da Silveira, emPortalegre.

Fez o Curso do Magistério Primário em Évora e exerceu o Magistério em Reguengos deMonsaraz, Montemor-o-Novo e em Luanda (Angola).

Em 1958, emMontemor casa comMaria José Vacas Capela, relação da qual nasceram osseus dois filhos, Maria da Glória e António Carlos.

EmAgosto de 1965 parte para Angola eaí, ocupou sucessivamente os cargosde subinspector escolar, subdiretor doDistrito Escolar de Luanda e inspectorescolar, até 1971. Depois de 44 anos deserviço, aposentou-se em 1994, comoinspector principal da Inspecção Geralde Educação. Volta a Montemor-o-Novo, cidade do Almansor, que tomoupor terra adoptiva e onde reside. Foi umdos primeiros escritores no Jornal “OMontemorense” de Montemor-o-Novo.

Como dramaturgo escreveu “TrêsTardes de Três Outonos” (1956),

“Cigarra e a Formiga” (1960), uma narrativa tradicional reescrita às avessas; “A Acácia doQuintal” – Melodia com Forma de Teatro declamado, gravado e apresentado pelaRadiotelevisão Portuguesa (RTP) em 1962, pela Rádio Clube de Angola (1966) e editadaem separata pela Revista HUMANITAS do Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade deLetras da Universidade de Coimbra (1998). “O Retrato deMarcelo” texto com qual em 1962ganhou um segundo prémio no 1º concurso de originais para a RTP com e nesse mesmoano escreve “Quinto Mandamento” vencedor no Teatro da Trindade com encenação deJosé Saloio, depois de dois anos proibido pela censura. Seguiu-se ainda “JoãoCidade” (1964), teatro infantil - “ONatal doCapuchinho” (1971), “UmaAventura de Aladino”e “A Loja do Mestre André”.

Em1986 escreve “Frei Adão Dinis”, ensaio sobre esta figura histórica de Nisa e a partir de1994 inicia colaboração assídua no Jornal “A folha de Montemor”, Montemor-o-Novo atéAbril de 2003.

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Seguiram-se ainda “Tamar” (1999), “In(e)vasões” (2008) e “Frei Adão” (2009), ainda nãorepresentada.

Entre mitos textos dispersos escreveu ainda os livros “Nisa, a Outra História” (2005),“Montemor, o Maio” (2006) e “Nisa, História e Tradição” (2014).

Deixa de escrever para teatro em 2016, depois de actualizar a primeira peça “Três Tardesde Três Outonos” escrita há 60 anos. Continua a escrever poesia.

Porque o propósito do Fórum é também a formação, eis chegado o momento do início dos12 painéis de formação com os respectivos formadores:

- JOGODRAMÁTICO– “VamosBrincar aoFaz de Conta” – MARIA JOÃO VIEIRA;TÉCNICA DA MÁSCARA – “MáscaraNeutra” – MIGUEL LEMOS;PREPARAÇÃODOACTOR– “Sensaçõese Emoções” – IVO LUZ; IMPROVISAÇÃOTEATRAL – “Improvisação Dirigida” –HUGOSOVELAS; TRABALHOSOBREOTEXTO DO AUTOR – “Construção doEspectáculo” – FERNANDO SOARES;CRIAÇÃO DO ESPECTÁCULO – JORGEFRAGA; ENCENAÇÃO EDRAMATURGIA – NUNO LOUREIRO; CONSTRUÇÃODECENOGRAFIA E ADEREÇOS–JOÃOFONSECABARROS; ILUMINAÇÃODECENA– “OsEquipamentoseaMontagem”– RUI FERREIRA; SONOPLASTIA E DESENHO DE SOM – CAJÓ VIEGAS;CARACTERIZAÇÃO – AURORA GAIA; CONSTRUÇÃO E MANIPULAÇÃO DEMARIONETAS – CATARINA MOTA.

O habitual espaço de debate- “Painel de Dirigentes” decorreu no Salão Nobre da União deFreguesias de Nossa Senhora da Vila, Nossa Senhora do Bispo e Silveiras onde foramdebatidos alguns projectos, assim como o prelúdio do Relatório de Actividades e Contas doano de 2015 que viria a ser aprovado em Assembleia Geral de Associadas no dia seguinte.

No Fórum também os espectáculos,animação e convíviomarcampresença,logo na sexta-feira o Cine Teatro CurvoSemedo recebe, a convite do anfitriãoTheatron, o Grupo Cénico SOIRJoaquimAntóniodeAguiar com “OGritona Charneca” de Manuel Peres.

Nomesmopalco, no sábado, o grupodacasa Theatron apresenta “4 Mulheres

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paraUmaEfigénia” a partir da obra de “E.R.” JosepMaria Benet I Jonet, encenado porHugoSovelas. Ainda nessa noite os participantes podiam desfrutar dos espaços de convívionocturnos de Montemor.

O espectáculo de Domingo é o encerramento dos Painéis de Formação no Cine TeatroCurvo Semedo. Passaram pelo palco os formandos do painel “Vamos Brincar ao Faz deConta” que recriaram um “Capuchinho Vermelho” moderno e original; o Painel deConstrução e Manipulação de Marionetas, Painel de Encenação e Dramaturgia e ainda ospainéis de atores que tiveram como base de trabalho o texto “A Acácia no Quintal” dohomenageado Prof. Carlos Cebola. As apresentações foram apoiadas pelos formadores eformandos dos Painéis de Caracterização, Sonoplastia, Iluminação e Construção deCenografia e Adereços.

OXVI Fórum termina coma fotografia de grupo, entre risos, abraços e a alegria contagiantequeuneesta “grande família” queéaFederaçãoPortuguesadeTeatro. Loures está ànossaesperanosdias23, 24e25deSetembroparaoXVII FórumPermanentedeTeatro.OTeatroIndependente de Loures na pessoa do seu presidente Luís Paniágua promete “muitasaloiada”….Jávamosacaminho,masdevagar…porqueestamosnoAlentejoeaqui pedempara Visitar Montemor Sem Pressa!

José Teles e Tânia FalcãoCoordenação do Fórum Permanente de Teatro

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programade

sala LOURES

Terra de tradições

Loures é sinónimo de tradição,cultura, património emodernidade. Vertentes de umasó raiz queconferemaoMunicípiouma identidade única. A ponteperfeita entre o antigo e omoderno traduz-se nacapacidade de gerir, dentro doseu território, tudo aquilo que sãoas tradições de um povo e osdesafios de futuro.

A riqueza do seu património histórico e cultural, aliada à modernidade que hoje em dia seevidencia no concelho, conferem-lheumpapel dedestaqueentre osmunicípios commelhorqualidade de vida, emprego e com grande potencial turístico.

AproximidadedoconcelhodeLouresaLisboa, bemcomoasua ligaçãoa todaazonaOestedePortugal, colocam-nonum lugar central deumaoferta turística diversificadaealternativa.

A riqueza dos valores das suas gentes é o seu melhor cartão de visita.

História

A evolução da cidade de Lisboa e do seu termo, e a crescente importância económica deLoures permitiram que a 26 de julho de 1886 Loures fosse, por decreto real, elevado aconcelho, integrando freguesias dos entretanto extintos concelhos dos Olivais e Belém.

Contudo, só a partir de 2 de janeiro de 1887, é que viria a iniciar a sua plena atividade, coma instalação do novo concelho e eleição do seu primeiro presidente, Anselmo BraamcampFreire.

À data da sua elevação, o sector agrícola era a atividade preponderante, embora a indústriacomeçasse já a ocupar uma posição de destaque, como era disso exemplo a Fábrica daLoiça de Sacavém e a de papel, na Quinta da Abelheira, em São Julião Tojal.

O ar puro, a excelente qualidade das águas e a fertilidade dos solos, foram condiçõespropícias para o desenvolvimento da atividade agrícola, sendo o principal meio de sustentoda grande maioria da população do concelho, até meados do século XX.

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Desde cedo que estas condições ambientais proporcionaram também a preferência demuitos monarcas e outros fidalgos para construírem as suas quintas e palacetes nestasterras, como locais de lazer, de descanso e refúgio contra doenças e pestes.

A 4 de outubro de 1910, já com a certeza do derrube da monarquia, reúnem-se AugustoMoreira Feio, farmacêutico; Manuel Marques Raso, padeiro; Jacinto Duarte, operário daCâmara Municipal; José Joaquim Veiga, escrivão das Finanças; Joaquim Augusto Dias,comerciante; António Rodrigues Ascenso, ourives e relojoeiro; José Paulo Oliveira,comerciante e regedor; José Ferreira Cleto e outros cidadãos, no Centro EscolarRepublicano, situado no Largo do Chafariz (atual Largo 4 de Outubro). Com a populaçãoreunida, os oito homens nomeados para constituir a Junta Revolucionária dirigem-se aosPaços do Concelho, na Rua Azevedo Coutinho (atual Rua da República), ocupam o edifícioe é hasteada, pela mão de Joaquim Augusto Dias, a bandeira com as cores republicanas– o verde e o vermelho. Junto ao estandarte improvisado, a Junta Revolucionária declaraa implantação da República em Loures.

No dia 13 de outubro de 1910 toma posse uma Comissão Administrativa provisória,nomeada por aclamação e pelos respetivos delegados paroquiais, composta por AugustoHerculano Moreira Feio,presidente, JoséPedroLourenço,Manuel Marques Raso, JúlioCamilo Alves, vice-presidente,Jaime Manuel dos Santos, TiagodaSilva Santos e FranciscoMariaBorges.

O Concelho de Loures

O concelho de Loures faz parte da Área Metropolitana de Lisboa, situando-se junto àmargem direita do Rio Tejo e limitado pelos concelhos de Arruda dos Vinhos, Sintra,Odivelas, Lisboa, Vila Franca deXira eMafra. Temumaárea de 168 quilómetros quadradose cerca de 200 mil habitantes. É constituído por duas cidades, Loures e Sacavém. OMunicípio está dividido emduas grandes áreas: a rural, a norte, e a urbana, a sul e a oriente.

Loures, sede de concelho e cidade desde 9 de Agosto de 1990, localiza-se no centro doterritório concelhio. Apesar das características rurais e significativa atividade agrícola,apresenta também uma concentração de atividades comerciais e de serviços, que lheconfere a importância e o estatuto de primeira cidade do concelho. Apresenta um núcleourbano central e histórico que mantém ainda parte das suas características mais antigas,onde se encontram edifícios como os Paços do Concelho e a Igreja Matriz, entre muitos

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outros. A cidade dispõe atualmente de umconjunto significativo de equipamentos deutilização coletiva, dos quais se destacam oJardim Municipal Major Rosa Bastos, o Parqueda Cidade, as Piscinas Municipais, o PavilhãoPaz e Amizade, o Museu Municipal – Quinta doConventinho e a Biblioteca José Saramago,para além de outros serviços fundamentais, nasáreas da saúde, ensino, justiça, proteção civil esegurança pública. Anualmente, no dia 26 deJulho, a cidade é palco de festividades alusivasao feriado municipal.

Núcleo Histórico

O primitivo núcleo da cidade formou-se junto à Igreja Matriz (Rua Fria) e, gradualmente, foi-sealargando em direção às encostas das Alvogas, procurando as margens do rio e o antigo caisde embarque, situado junto à antiga ponte sobre o rio de Loures. Em 1179, Loures surgereferenciada no foral concedido por D. Afonso Henriques à cidade de Lisboa enquanto árealimítrofe. Englobada no termo de Lisboa, Loures teve, ao longo dos séculos, um papelimportante enquanto região abastecedora da capital. Do século XVIII, há registos da existênciadesalinasnavárzeadeLouresedeatividadecomercial intensaem tornodosprodutosagrícolase hortícolas desta zona saloia, aproveitando o curso navegável do rio Trancão.

Do património edificado existente no núcleo antigo do centro da cidade, destaca-se cerca deuma dezena de edifícios, que valem essencialmente pela sua aglomeração homogénea e peloespaço e dimensão urbana que formam. Testemunham que na primeira metade do século XXLoures era um lugar pacato, com poucas estradas e cafés, mas com uma vida cultural eassociativa rica.

A atual Praça daLiberdadeera designada, no início do século, como “casaréus”. Bemno centrodeste “Rocio de Loures”, onde existia o Palácio dos Marqueses de Fronteira, viriam a serconstruídos os Paços do Concelho em 1916. A estrutura deste núcleo fortalece o carácter deLoures e ajuda-nos a perceber as palavras de Mendes Leal, quando em 1909 escrevia na suaAdmirável IgrejaMatriz de Loures: “Foi Loures povoaçãomuito importante desta freguesia, comjuiz de vintena, capitão-mor, repartição de Sete Casa para arrecadação de dízimos; umacompanhia de ordenanças com a sua respetiva oficialidade; repartição de sisas. Teve grandemosteiro de franciscanos, muitas irmandades e muito boas quintas.” Os edifícios ilustramtestemunhos e vivências de um passado que foi o quotidiano de diversas gerações, e a suaresistência aos “tempos modernos” deve merecer a nossa admiração e, sobretudo, o nossorespeito. Tudo isto forma a singularidade e a autenticidade de Loures.

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OT.I.L. –Teatro IndependentedeLoures,agrupaAmadoresque,desde13deJulhode1968(então como TAB – Teatro Amador dos Bombeiros), vêm dedicando ao Teatro bemmais doque os seus tempos livres.

Nos seus primeiros anos de vida, foi co-fundador (em 68) e vogal da 1ª Direcção (em 74)da APTA – Associação Portuguesa do Teatro de Amadores. Destacamos ainda, em 75, aparticipação na Campanha de Dinamização Cultural do MFA “Maio-Nordeste”: 10 dias noDistrito de Bragança com a peça “A Inauguração da Estátua”, de Jaime Salazar Sampaio,iniciando uma frutuosa ligação com este Autor. Em Abril de 79, interrompe as actividades,por falta de instalações.

Reaparece em Julho de 86, e em Novembro estreia “Árvores, Verdes Árvores” tambémdaquele dramaturgo e participa no Festival de Teatro de Amadores de Loures (2º prémio deCategoria Infantil e 1º de Música); e no Festival de Amadores do Distrito de Lisboa - 88 (2ºprémio de Categoria Infantil), voltando a parar em 90, pelas mesmas razões anteriores.

Volta à cena em Julho de 92, destacando-se, a participação com a peça “Um HomemDividido”, de Jaime Salazar Sampaio, no Festival Internacional de Teatro de Portalegre - 99e, em representação de Portugal, seleccionado entre 4 candidatos, no XIII FestivalInternacional de Teatro Experimental do Cairo – 2001, sendo o único Grupo de Amadorespresente. Em 2002 volta ao Festival Internacional de Portalegre com “Romance de umaRosa Verde”, teatralização de um texto daquele mesmo Autor. Mais recentementeparticipou com “O Escadote”, do mesmo Autor, no CURTAS 2014, Bienal de Peças Curtas,onde voltou a ser o único grupo amador presente; no CONTE 2015 com “Histórias paraseremcontadas”, deOsvaldoDragun,onde tevenomeaçõesparaMelhorAmbienteSonoro,Melhor Guarda-Roupa, Melhor Encenação e Prémio Ruy de Carvalho – MelhorEspectáculo; comomesmo trabalho esteve no II Festival Ibérico deTeatro, organizado pelaFederação Portuguesa de Teatro (FPTA) e pela Confederación Escenamateur.

Em 2003, organizou em Loures o primeiro TEATRARTES, com a presença de váriasCompanhias e Grupos de Teatro, Dança, Música, para além de exposições de Fotografia,Pintura e Cerâmica, e também workshops de formação. Este evento bienal teve comoPatronos Jaime Salazar Sampaio (2005), Ruy de Carvalho (2007), João Mota (2009),Eunice Munõz (2011), Helder Costa (2013) e Carlos Paulo (2015).

São já 47 anos (38 de trabalho, 25 desde a última paragem) de um percurso do qual fazem

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parte 40 montagens, 14 delas para crianças, de autores nacionais e estrangeiros (além deJaime Salazar Sampaio, Anton Tchekhov, Harold Pinter, William Shakespeare, ArianoSuassuna, Jaime Gralheiro, Raul Brandão, Gil Vicente, Almeida Garrett, António Gedeão,Sophia de Mello Bryner Andresen, Samuel Beckett, etc.), bem como outro tipo deactividades: recriações históricas, jograis, leituras encenadas, animações, etc., que foramlevadas aos mais variados lugares cénicos.

“Levar o Homem ao Teatroé pôr o Homem perante o Homem.

Urge, portanto,levar o Homem ao Teatro.”

Luís de Sttau-Monteiro

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naribalta XII CONCURSO NACIONAL DE

TEATRO

A XII Edição do Concurso Nacional de Teatro chega ao final, com nota muito positiva parao desenvolvimento cultural regional e nacional.

Esta Edição foi sem dúvida alguma uma das mais desafiantes para a organização, desdelogo, pela presença do patrono do Evento - Ruy de Carvalho, com o seu filho João e o seunetoHenrique deCarvalho que subiramaopalco doTheatroClub comoespetáculo “Trovas& Canções – Atores Poetas e cantores” que marcou o início de uma edição emblemática,pois foi a primeira vez queRuy apresentou um espetáculo seu em terras deMaria da Fonte.

De realçar a enorme afluência de público sentida ao longo de todo o Concurso, marcaincontornável da qualidade dos espetáculos apresentados e da notoriedade já alcançada.

A abertura dos espetáculos a concurso foi da responsabilidade do Teatro de Carnide queapresentou a comédia “OBicho do Teatro” de Sofia Ângelo, da Figueira da Foz o Pateo dasGalinhasGrupo Experimental de Teatro levou a comédia ”Grupo de Vanguarda” de VicenteSanches, seguindo-se da comédia “Mosqueta” de Ruzante pela mão de Getas – CentroCultural do Sardoal. O TEM – Teatro experimental de Mortágua apresentou a comédia“Muito Molière” de Cláudio Hochman, de Montemor-o-Novo o THEATRON – AssociaçãoCultural apresentou o drama “Quatro mulheres para uma Ifigénia”, adaptação coletiva doTexto "E.R" deJosepMB I Jonet.DeOvar aContacto -CompanhiadeTeatroÁguaCorrentedeOvar apresentou a fantasia dramática “Enquanto a cidade dorme” de ÁlvaroMagalhães.DaAmadora veio o drama “Pessoa” de JorgeChichorroRodrigues apresentado pelo TeatroPassagem de Nível, o Grupo Dramático e Recreativo da Retorta – Valongo apresentou odrama “Mulheres” de Laura Ferreira. O encerramento dos espetáculos a concurso foi daresponsabilidade do Grupo de Animação e Teatro Espelho Mágico que levou a cena ”OPrincipezinho” de Antoine de Saint Exupéry.

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Acerimóniadeencerramento realizou-senosábadodia12deMarço,noTheatroClub,palcoda competição, que, durante cerca de um mês, reuniu nove companhias de todo o país.

Extra concurso a cerimónia contou comaapresentação da peça “LimpezasMaria da Fonte”daautoria deMaíraRibeiro eRosaMariaCruz, pelaAssociaçãodeFuncionáriosdaCâmaraMunicipal daPóvoa de Lanhoso, seguindo-se umverde de honra para todos os convidados,de realçar que o mesmo só foi possível pelo esforço da FPTA, empresas e municípios detodo o país, numa parceria muito interessante que permitiu a todos os convidadosdisfrutarem da gastronomia mais típica do país, ao mesmo tempo que se consubstanciounum momento de convívio entre todos os participantes.

A Gala de entrega de prémios foi apresentada por Rafa Leite, que apresentou váriosmomentos, tanto musicais como de humor.

Numa noite cheia de emoções, em que o teatro esteve mais vivo do que nunca, o grandevencedor da XII edição do Concurso Nacional de Teatro, distinguido com o Prémio "RuydeCarvalho" paraMelhor Espetáculo, foi o espetáculo "Pessoa" do Teatro PassagemdeNível, que entrou na Cerimónia deEncerramento com um total de 7nomeações. Espetáculoconstruído a partir a partir da obrade Jorge Chichorro Rodrigues,“Fernando Pessoa Contado àsCrianças Adultas”, e de excertosda obra de Fernando Pessoa.

O espetáculomais galardoado, comum total de 5 prémios, em8 nomeações, foi "Mulheres"do Grupo Dramático e Recreativo da Retorta, espetáculo encenado por Laura Ferreira quelevou para casa o Prémio de Melhor Encenação, tendo ainda vencido nas categorias:Desenho de Luz “Prémio Orlando Worm" (João Pereira), Ambiente Sonoro (FlávioOliveira), Interpretação Feminina Secundária (Núria Melo), e ainda InterpretaçãoFeminina Principal (Ana Sousa).

Destaqueaindapara o "OBichodoTeatro" doTC -Teatro deCarnide, Lisboa, premiadonascategorias de Interpretação Masculina Secundária (Tiago Costa) e Principal (DiogoBach).

Outro vencedor da noite foi o espetáculo "OPrincipezinho" do Grupo de Animação e Teatro"Espelho Mágico" de Setúbal, galardoado nas categorias: Cenografia e Guarda-Roupa(Céu Campos), tendo ainda vencido o Prémio do Público "Maria da Fonte".

Omomento alto da noite foi o desvendar do nomepara oPrémioPrestigio, Personalidade

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"Fundação INATEL",atribuído pela organização doConcurso Nacional de Teatro aumapersonalidade ou entidadecujo percurso e trabalhodignifiqueo teatroeacultura, foientregue a Aurora Gaia,conhecida atriz, poetisa,formadora, e caracterizadora,homenageando o seu longo erico percurso artístico. OPrémio foi entregue pela Vice-Presidente da Fundação

INATEL, a atriz Inês deMedeiros. AuroraGaia extremamente emocionada foi surpreendidapor uma sala repleta que ovacionou fervorosamente o seu trabalho.

O Júri desta XII edição do Concurso Nacional de Teatro, composto por José Barros(Município de Póvoa de Lanhoso), Dantas Lima (Fundação INATEL) e Luiz Oliveira(Federação Portuguesa de Teatro), entendeu, ainda, atribuir as seguintes MençõesHonrosas:

Cenografia João Paulo Pereira, Maria Fontes, Paula Nogueira e Vítor Hugo Oliveira parao espetáculo "Mulheres”, Interpretação Secundária Masculina a José Carlos noespetáculo "Muito Molière", Interpretação Principal Feminina a Rosa Souto Armas como espetáculo "Quatro Mulheres para Uma Ifigénia" e Interpretação Principal Masculina aDiogo Leiria em “O Principezinho”.

Na Gala de Encerramento do Concurso Nacional de Teatro 2016, foi ainda entregue, porparte da FPTA, o Prémio Ibéria 2016, ao espetáculo “Jesu Cristo Superstar”, pelaCompañia de Teatro MC Reche, destinado a galardoar uma produção da congénereConfederación Escenamateur.

Foi, ainda, apresentado, pela Vice- Presidente da FPTA, o cartaz da I Mostra Nacional deTeatro – AmarTeatro que arranca já no próximo dia 23 de Abril, em Braga.

OConcursoNacional deTeatro2016 terminoucomacertezaqueoeventoé jáumabandeiraconsolidada da Federação Portuguesa de Teatro que tudo fará para que continue a ser amontra dos melhores espetáculos de Teatro de cariz associativo de todo o país.

Anabela TeixeiraDiretora do Concurso Nacional de Teatro

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Actriz, poetisa, caracterizadora, mulher das artes, na alma, na voz, nas mãos.

De seu nome completo Aurora Inocêncio Ferreira Carvalhães –, Aurora Gaia é natural doPorto, onde nasceu a 7de Setembro de 1938. Aí, na cidade invicta deixou-se apaixonarpelas artes, com especial afeição pelo teatro, tendo-se estreado como atriz no ClubeFenianos Portuenses, sob a direção de Jaime Valverde e Luís de Lima.

Além de teatro, Aurora Gaia fez teatro radiofónico, fez televisão e fez cinema. Temcolaborado com a Federação Portuguesa de Teatro como formadora no painel decaracterização, desdeodistanteFórumdeSerpaem2003.Ebemassimcomváriasescolase associações culturais. A par disto, tem-se dedicado à poesia quer como autora quer comodinamizadora. Tem colaborado com programas culturais, tornando-se ainda membro daAcademia de Letras e Artes Lusófonas.

De facto, o seu encontro com o teatro é o resultado do interesse que desde muito cedomanifestou pela leitura, pela música, pela pintura e muito especialmente pela vida ao seuredor. Um dia, numa das salas portuenses, terminado um espetáculo, a atriz Dalila Rochaapercebendo-se do seu fascínio pelo teatro, levou-a para o Tep (Teatro Experimental doPorto), onde protagonizou «A Lenda deGaia», «Reginaldo», «Os Fantasmas», «ÉUrgenteoAmor», «HenriquetaEmília daConceição», «MemóriasdeLúcia»e«FelizmenteháLuar».Mais tarde foi para o Seiva Troupe, levada pela mão da atriz Estrela Novais, estreando-seem «Quanto Vale um Poeta?», peça dirigida por Norberto Barroca, em 1980.Representando posteriormente «ADamadeCopas», em1980, e «UmCálice dePorto», em1982. Em 2001, fez «Marlene» e em 2002 participou na peça «Liberdade em Bremen».

Mas o melhor papel que lhe poderiam ter dado foi o de caracterizadora, na RTP, papel quetomouverdadeiramente comoprofissãoequedesempenhoudurante quase cincodécadas.

Pela sua dedicação e amor ao teatro e à cultura, marcadapor uma entrega incondicional e permanente ao universodas artes de palco, e pela simplicidade com que partilhaas suas vivências e emoções com todos aqueles que arodeiam, entendeu a organização do Concurso Nacionalde Teatro distinguir Aurora Gaia com oPrémio PrestígioPersonalidade Fundação INATEL 2016.

Por tudo aquilo que és, como pessoa e amiga, e pelaimensa generosidade comque nos acolhes no teu círculomais íntimo,

Obrigado Aurora...

AURORA GAIAA simplicidade e a excelência em pessoa!

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bocasde

cena

AMAR-TEATRO 2016I Mostra Nacional de Teatro

Nasceu o Amar-Teatro. Esta Mostra de Teatro promovida pela FPTA e pelas suasassociadasdecorreapartir dodia23deAbril a30deMaio.OTeatrovai acontecerpormuitassalas do país, com espetáculos de diferentes géneros. Pretende-se com este projectoincentivar os intercâmbios entre grupos, ao mesmo tempo em que se dinamiza e eleva anotoriedade da Federação Portuguesa de Teatro e se impulsiona o público a ir ao teatro.

O projeto conta com a participação de 22 grupos de teatro associados da FPTA e 18espetáculos em 17 salas diferentes. Estão todos convidados a assistir.

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reportório Conversas com os Mestres:

O poder do silêncio

“Veja, isto começa tudoassim: comumsilêncio.Mashá dois silêncios, talvez haja mais, masfundamentalmente não há senão dois. O silêncio dechumbo, este silêncio sem vida, que não nos ajuda,e o outro, o verdadeiro silêncio, aquele que reúnemisteriosamente e inegavelmente pessoasnormalmente separadas. É um verdadeiromomento, um verdadeiro momento de partilha.Entre estes dois silêncios, entre este silêncio semvida — o do aborrecimento no teatro, quando nossoltámos do espectáculo e nos deixámosadormecer — e este silêncio em que nos sentimos‘ajustados’, emconjunto, este silêncio cheio de vida,de uma vida extraordinária, mil questões selevantam. Não no cume, não na base, não,

justamente entre os dois pólos.”

Peter BrookEntre deux silences

Arles, Actes-Sud2006, p. 5

É com estas palavras que Peter Brook inicia uma conversa com estudantes da SouthernMethodist University, em 1999. Poderá parecer estranho que, elegendo este encenadorpara dar continuidade às nossas conversas com os mestres, não tenhamos escolhido oclássico início da sua obra mais conhecida, publicada originalmente em 1968, e que, há jáalguns anos, se encontra também traduzida para português: “Posso chegar a um espaçovazio qualquer e usá-lo como espaço de cena. Uma pessoa atravessa esse espaço vazioenquanto outra pessoa observa — e nada mais é necessário para que ocorra uma acçãoteatral”. Mas é significativo que as palavras que escolhemos para iniciar esta conversa,proferidas 31 anos depois da publicação de O espaço vazio, constituam um comentáriodesenvolvido destas linhas que acabamos de citar, quando é lançado a Peter Brook odesafio para falar sobre o teatro e sobre o encontro do encenador com os actores e com opúblico, partindo das linhas comque começaaobra de1968.Curiosamente, emvezde falardo espaço, o encenador opta por falar do silêncio, fazendo do silêncio o motor do encontroque, para ele, é a essência do teatro. Em última análise, o que Peter Brook pretende dizer

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é que não há teatro sem encontro e não há encontro sem silêncio. O teatro é, assim, o queaconteceentresilênciosdiferentes:nascedosilêncio, entretece-secomsilênciosedesaguano silêncio. Vale a penameditar sobre estas palavras e sobre a forma comoelas nos podemrevelar opoderdosilêncionum tempoemqueo ritmodavidaeassuassolicitaçõesparecemproscrever o silêncio, preenchendo o seu espaço com a multiplicação das vozes, dos sonse dos ruídos e como se bastasse o preenchimento sonoro dos espaços vazios para que acomunicação aconteça. Assim, a associação que Peter Brook faz do espaço vazio aosilêncio vem mostrar-nos que o espaço vazio se pode preencher com silêncio e que dosilêncio pode nascer aquilo que enche o vazio.

Mas convém começar por sublinhar a distinção que aqui se estabelece entre dois silêncios:umsilêncio de chumbo e umsilêncio de vida.O que significa que nem todos os silêncios sãoiguais: o silêncio de chumboéumsilênciomorto e demorte, umsilêncio estéril, do qual nadabrota senão o tédio e o aborrecimento; o silêncio de vida é um silêncio dinâmico, grávido defuturo, cheio de possibilidades. Reconduzindo-nos ao título destas reflexões, poderiapensar-se que o silêncio de chumbo é um silêncio impotente, ou seja, incapaz de activarpossibilidades, e que, ao contrário, o silêncio de vida seria um silêncio cheio de poder.Todavia, por mais paradoxal que pareça, há poder tanto num silêncio como no outro: há opoder da criação no silêncio de vida e há o poder da morte no silêncio de chumbo. E se éde teatro que falamos, e centremo-nos, para já, no acto teatral no seu acontecimento empalco, isto significa que uma cena emsilêncio tanto pode transformar-se numa cena emqueopoder do teatro seafirmaem todaasua intensidade, comosepode transformarnumacenaem que o tédio teatral faz emergir aquilo a que Peter Brook chama, em O espaço vazio, “oteatro do aborrecimento mortal”. Neste sentido, o silêncio é uma espécie de irmão gémeodo vazio: porque se o espaço vazio também pode ser um espaço de morte do teatro e dodrama (drama significa acção) pode ser igualmente um espaço potencial e aberto em todaa sua fecundidade. Um espaço vazio não é necessariamente um espaço morto: é antes,para Peter Brook, um espaço aberto a todos os possíveis na acção do actor/personageme na interpretação do público/espectador; ummomento de silêncio não é necessariamenteum silêncio morto: é um silêncio aberto a todos os sons, a todos os verbos, a toda a músicaque se geram no silêncio e que do silêncio emergem. Tal como uma tela vazia: a sua nudeznão é a ausência da cor, mas a possibilidade de todas as cores, a germinação de todos osgritos, o ponto de partida para todas as formas, a pausa de que nascem todas as melodias,como Kandinsky proclamou nas suas variadas teses sobre a essência da pintura. Uma telavazia na pintura, um espaço vazio no palco e ummomento de silêncio no teatro podem sero presente e o amanhã de toda a acção, de todo o drama, de todo o sonho que é a vida ede todaavidaqueéosonho, de todaapalavraquenascenosilêncio eque, no fundoeafinal,ao silêncio retorna. Tudo depende da força ou da energia que habita ou não, que mora ounão, que se demora ou não nesse silêncio. Um silêncio de vida é um silêncio em que todaa energia da acção cénica se contrai e que depois dispara nos gestos, nos olhares, nosmovimentos e nas palavras. É um silêncio que é presença e não ausência e se fazpermanentemente presença, um silêncio que, sendo já acção, continuamente se refaz em

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acção. Não devem, por isso, os encenadores ou os actores temer o silêncio apenas por sersilêncio; devem apenas temer o silêncio de que nada nasce e que tudo aniquila. O silênciode morte. O tal silêncio de chumbo.

E se o silêncio pode ser a expressão do som imperceptível, da plenitude da voz, da músicae do sentido (como o excesso de luz, enquanto plenitude imperceptível das cores, semetamorfoseia em trevas na nossa capacidade de visão), o seu correlato é a atitude daescuta. O silêncio é o chão da escuta, porque só se pode escutar se se fizer silêncio. Paraque o autor escreva um texto de teatro, tem de fazer silêncio para ouvir a voz domundo, dasgentes e das coisas. Para que o encenador orquestre a encenação de uma peça tem defazer silêncio e escutar o autor, escutar o cenógrafo, escutar os actores, escutar aspersonagens e o seumundo, escutar a cena, a sua luz e as suas sombras, escutar o tempo,o seu ritmo e as suas vozes. Para que o actor interprete uma personagem tem de fazersilêncio dentro de si e escutar a personagem, escutar o autor e o encenador, escutar osoutros actores/personagens e escutar o público, além de se escutar a si próprio, porque, seo silêncio serve para escutar os outros, serve também para cada um se escutar a si próprionas suasmemórias, nos seus segredos, nas suasemoções, nos seusdesejos, no seu sabere na sua ignorância. E o mesmo se diga do cenógrafo, do figurinista, do músico ou dodesenhador de luz. E o silêncio não é apenas exterior, mas é também interior, tal como ovazio, esse espaço vazio de que fala Peter Brook nas primeiras linhas da sua obra, não éapenas exterior, mas igualmente interior. Se é preciso criar o vazio fora de si e fazer silênciofora de si, é tambémpreciso criar o vazio dentro de si e fazer silêncio no seu interior. O actorsó se deixa habitar pelomundo da vida e pela vida dos outros, pelomundo das personagense pelas outras personagens se criar espaço e tempo emque essemundo e essa vida sejamaudíveis. Porque fazer teatro é comunicar e a comunicação teatral não é uma comunicaçãounidireccional mas um acto de partilha: uma doação, uma entrega e uma abertura para adoação e para a entrega que também os outros fazem de si próprios.

Significado especial assumem, no teatro, três tipos de silêncio: o silêncio que habita osgestos com que manuseamos artefactos ou adereços cénicos, como uma máscara, umceptro, a caveira no Hamlet, uma espada ou outro qualquer objecto, o silênciocorrespondente às pausas que contrapontuam as falas das personagens e o silêncio daspersonagens que estão em contracena. No primeiro caso, o silêncio cria um espaço paraque aquele objecto fale e, na sua fala, transmita a sua energia que depois é modulada emolhares, gestos e respirações. No segundo caso, o silêncio abre o espaço de ressonânciaque palavras anteriores reclamam na sua presença cénica ao mesmo tempo que setransforma no tempo de que vão brotar outras palavras na sua presença física e semântica.No terceiro caso, o silêncio constitui a nascente de um bios cénico que se diz sem se dizer,que se faz presença na ausência e na representação dessa mesma ausência, que permitea dilatação do corpo-mente do actor na presença intensa da ausência da sua personagem,como é o caso de determinados actores no teatro nô (o Waki, por exemplo), cuja funçãoprincipal na maior parte do espectáculo é estarem presentes na sua ausência. Mas em

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qualquer um destes casos, se o silêncio não é um silêncio de vida, se não deixa vibrar neleo seu poder, pode, pura e simplesmente, ser a morte da representação.

Significa isto que é necessário aprender o silêncio no teatro, na sua energia e no seudinamismo. O que implica uma pedagogia artística do poder do silêncio. No trabalho dotreino quotidiano de um actor, nos ensaios de uma peça e no acto de representação. Osilêncio é também a irrupção do “sagrado” no teatro. E todos os grandes encenadores, deStanislavsky aPeter Brook, criarammétodos de aprendizagemdesse poder quase invisíveldo silêncio empráticas e exercícios de improvisaçãoque sãomodosdeescuta e de trabalhosobre um silêncio criador.

Se não houvesse silêncio, não haveria melodia, pois a música é constituída por sonsrecortados no silêncio. Se não houve silêncio, não haveria palavras, porque as palavras sãotambém sons recortados no silêncio. Tal como se não houvesse vazio não haveria formas,pois elas são cores e figuras recortadas no vazio. Mas este silêncio de que brota a palavra,a música e também os gestos e os olhares não é um estado, é um processo. Em recriaçãocontínua.

Porque a palavra não é a negação do silêncio mas a sua transfiguração. E o silêncio nãoé a negação da presença e do sentido, mas a plenitude do seu mistério.

João Maria AndréProfessor CatedráditoFaculdade de Letras da Universidade de Coimbra

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sempalco O Reparador

Texto produzido no âmbito do Painel de Escrita Criativa, orientado por Manuel RamosCosta, no II Fórum Permanente de Teatro, em Vila Nova de Foz Côa, Setembro de 2008

Olá! Não tenhas medo!... Não pude deixar de reparar que estás ai, com um ar triste, quasea chorar. Talvez eu possa ajudar… Eu tenho uma larga experiência em ajudar pessoas.Experiência daquela que não se aprende em curso universitários, mas sim convivendo. Eacredita que eu convivi!... (Ri)

Mas que indelicado que eu sou! (Estica o braço) Como estás? Eu sou o…Reparador. Bemsei que não é nome, mas foi o que sempre me chamaram, e habituei-me. Se já tive nome,já o esqueci.

Ondeestava?Ah,estavaeua falar daminhaexperiência…Deixa-mecontar…Eu jápercorriomundomúltiplas vezesa reparar a vidaàspessoas.Desdeosproblemasdoarquitecto daspirâmides do Egipto, às crises da mais recente juventude. Não te preocupes, já nada mesurpreende, já ouvi de tudo. De facto tenho ouvido sempre do mesmo:

-Crisesamorosas, depressões, faltadedirecçãonavida, etc.…Araçahumanaapósalgunsmilénios torna-se bastante previsível.

Que foi? Porqueme olhas assim?!... Ah, pois!... Foi o que eu disse, não foi? Pois é… Já vivio suficiente para saber que não sou como as restantes pessoas. Nãome lembro de crescer,… nunca tive pais. Apareci, já íntegro, quando o primeiro homem deu o seu primeiro passona Terra. Desde então que soube sempre qual era aminha natureza, a minha tarefa, o meuobjectivo, a minha finalidade… Andar pelo mundo a reparar a vida dos outros, um fielservidor da raça humana… Continuamente a viver para os outros… A fazer mais nadanestes milénios que compõem a minha existência… Sozinho, a ver a vida dos outros apassar-meao lado…Sozinho, a vê-losnascer emorrer e continuar por cá, a resolver assuasvidas finitas… Sozinho, sem ninguém que posse resolver a minha… Sem ninguém parafalar, … simplesmente falar.

Oh,desculpa!Distrai-me…Devesestara interrogar-te como faço isso, como resolvo, reparoa vidas das outras pessoas? Bem, … principalmente oiço, utilizo a minha larga sabedoriacom que eu já nasci, e entrego as chaves das prisões onde as suas almas se encontram…Sim, pois todos os problemas podem resumir-se a prisões, das quais é preciso sair. Deixa-me mostrar como o faço. (tira as chaves do bolso)

É isto que eu entrego. As pessoas têm a liberdade de aceitar ou não. Surpreendente não

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é?Deixa-me explicar: estas chaves são no fundo o símbolo e origem das soluções de todosos problemas pessoais.

A primeira é simples, é uma simples chave de abrir e fechar portas, pois é preciso primeirosair das celas que as pessoas criam para si, seja uma prisão do espírito, do preconceito,…É preciso primeiro abrir os corações e mentes.

A segunda já não é tão simples, já houve muitos que não a aceitaram. Deixa-me explicar…Por vezes a liberdade a mais provoca tantos malefícios, ou até mais, que as anterioresprisões que mencionei. Uma chave de fendas dá estrutura, disciplina, simboliza o trabalhoque é necessário para obter estabilidade, deste modo possibilitando assim a obtenção daliberdade.Como issoépossível?Souvelhoosuficientepara lembrar-medeuma frasemuitosábia:

- Uma corda de uma guitarra demasiado apertada parte-se, mas, demasiado frouxa, nãotoca…

Desculpa,andosóa falardemim,esquecendoque tambémprecisasdeajuda.Peçoperdão,eu nãodevia-o estar a fazer,masumapessoaquando vive tanto comoeu, precisa por vezesde falar com outra. Precisa de contacto, nem que seja breve… Mas agradeço teres-meouvido. Vamos lá reparar-te…

Porque sorris? Ainda não fiz nada… Gostavas de continuar-me a ouvir? Penso que vougostar de te reparar.”

Bruno GomesATA - Acção Teatral Artimanha

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