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CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA CÍVEIS FALIMENTARES, DE LIQUIDAÇÕES EXTRAJUDICIAIS, DAS FUNDAÇÕES E DO TERCEIRO SETOR Av. Mal. Deodoro. 1028 – Edifício Baracat – 4º andar – FONE: (41) 32504848/4852 1 CONSULTA N.º 37/2013 – CAOP Cível OBJETO: Aplicação do Decreto Lei n° 4.857/1939 – Nulidade dos Atos Registrais – Nulidade de Pleno Direito no Registro Imobiliário – Procedimento Inominado de Declaração de Nulidade – Prescrição e Decadência – Responsabilidade Civil do Oficial e do Estado – Constituição Federal de 1946 – Oficial/Funcionário Público – Teoria do Risco Administrativo – Teoria Objetiva da Responsabilidade Civil do Estado – Prescrição. INTERESSADA: PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ANTONINA CONSULTA N. 37/2013: 1. Trata-se de consulta encaminhada pela d. Promotora de Justiça Isabella Demeterco - oficiante junto à 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Antonina -, por meio do ofício n° 813/2013, a respeito de Inquérito Civil registrado sob n° 0006.09.000097-4. Cuida-se de Inquérito Civil instaurado a partir de denúncia do engenheiro agrônomo e perito judicial da área de investigação dominial Zung Che Yee, redirecionada à d. Promotoria de Justiça de Antonina pela Procuradoria-Geral de Justiça do MPPR.

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CONSULTA N.º 37/2013 – CAOP Cível

OBJETO: Aplicação do Decreto Lei n° 4.857/1939 – Nulidade dos Atos

Registrais – Nulidade de Pleno Direito no Registro Imobiliário –

Procedimento Inominado de Declaração de Nulidade – Prescrição e

Decadência – Responsabilidade Civil do Oficial e do Estado –

Constituição Federal de 1946 – Oficial/Funcionário Público – Teoria do

Risco Administrativo – Teoria Objetiva da Responsabilidade Civil do

Estado – Prescrição.

INTERESSADA: PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE

ANTONINA

CONSULTA N. 37/2013:

1. Trata-se de consulta encaminhada pela d. Promotora

de Justiça Isabella Demeterco - oficiante junto à 1ª Promotoria de

Justiça da Comarca de Antonina -, por meio do ofício n° 813/2013, a

respeito de Inquérito Civil registrado sob n° 0006.09.000097-4.

Cuida-se de Inquérito Civil instaurado a partir de

denúncia do engenheiro agrônomo e perito judicial da área de

investigação dominial Zung Che Yee, redirecionada à d. Promotoria de

Justiça de Antonina pela Procuradoria-Geral de Justiça do MPPR.

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Em sua petição, noticiou o Sr. Zung quanto à existência

de um projeto denominado “Comentários sobre a Superposição das

Áreas Rurais do Estado do Paraná”, desenvolvido com o escopo de

investigar a documentação de origem das terras rurais de grande

notoriedade do estado, a fim de identificar possíveis irregularidades que

tenham impulsionado os diversos litígios possessórios na região.

Dentre esses imóveis, foi objeto de análise pelo

especialista um conjunto de áreas denominado “Lafont”.

Após levantamento das transcrições e das matrículas do

referido bem, bem como dos seus respectivos títulos causais e estudo

acerca da sua cadeia dominial, revelou o perito que o imóvel é originário

da transcrição n° 1.358/866, de 1922, lavrada no Cartório de Registro

de Imóveis de Antonina – a qual foi aberta em virtude da transmissão do

domínio das terras pelo Banco Hypotecário do Brasil para o Sr. Marcel

Bouilloux Lafont.

No sobredito documento consta que as terras estariam

situadas nas regiões do “Sítio do Limoeiro” e do “Rio Pequeno”,

abrangendo três fazendas denominadas “Pinheiro”, “Tapera Grande” e

“Rio Pequeno”, bem como que a área do imóvel seria de 41.140 ha.,

ressalvado o direito de posseiros sobre a região – que representaria a

redução da área do imóvel para, aproximadamente, 33.880 ha.

Com o falecimento do Sr. Marcel B. Lafont e,

sucessivamente, dos seus herdeiros, o imóvel foi sendo partilhado e

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transferido na forma de percentuais para os sucessores vivos da família

Lafont.

No ano de 1954 – após a morte do Sr. Marcel Lafont -, foi

aberta a transcrição n° 2.255 para fins de registro de Título de

Retificação da área do imóvel, expedido pelo Governo do Estado do

Paraná, em 1924 - o qual ampliou a extensão do bem para 35.532,33

ha. (já consideradas as reduções provenientes dos direitos possessórios).

Destacou o expert que, em virtude do registro tardio do

Título de Retificação – haja vista que a averbação ocorreu no ano de

1954, conquanto o título seja datado de 1924 -, a alteração da área do

imóvel era ignorada por ocasião do inventário dos bens do Sr. Marcel

Lafont.

Em 1961 o imóvel foi transferido, integralmente, para

Ulysses de Oliveira Carvalho, Alarico de Oliveira Carvalho, José Gomes

de Vasconcellos, Feliciano Miguel Abdalla e Antonio Leal Reis – tendo

este último, no ano de 1965, transferido a sua quota parte para Mário

Gomes Cezar.

O ato de transferência da totalidade do imóvel pelos

sucessores da família Lafont foi registrado por meio da transcrição n°

2.886, de 1961, lavrada no Cartório de Registro de Imóveis de Antonina,

na qual o imóvel foi identificado, imotivadamente, com uma área de 35.532,33 ha. (já consideradas as reduções provenientes dos

direitos possessórios) para 39.273,07 ha., localizada nos municípios

de Antonina, Campina Grande do Sul e Guaraqueçaba.

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Segundo o nominado perito, a extensão do imóvel para

as circunscrições de outros dois municípios vizinhos se deu em

virtude da ampliação da área. Todavia, tal informação não seria proveniente de nenhum título ou retificação averbada no Cartório

Imobiliário.

Na concepção do engenheiro, o ato do Oficial de Registro

de Imóveis, ao modificar aleatoriamente a área do imóvel, afrontou o

princípio da continuidade dos registros públicos e, de consequência,

ensejou a nulidade da transcrição n° 2.886, de 1961, e de todos os

títulos dominiais subsequentes – incluindo centenas de Projetos de

Reflorestamento de Palmito, realizados nas décadas de 70 e 80 por

iniciativa do, já extinto, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento

Florestal.

Além disso, ressaltou o perito que a permissibilidade de

invasão em áreas pertencentes a outras duas circunscrições imobiliárias

(Campina Grande do Sul e Guaraqueçaba) culminou na duplicidade de

registros sobre a mesma fração de imóvel, tanto no município de origem

– Antonina –, quanto nas demais localidades invadidas.

Tal irregularidade, ao ver do expert, deu origem e foi o

estopim de diversos conflitos possessórios na região - os quais

perduravam até a conclusão dos estudos.

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Tendo em vista que a família Lafont nunca ocupou o

imóvel, ele pontuou que alguns posseiros lograram êxito em adquirir o

domínio sobre determinadas frações do bem por meio de usucapião.

Por derradeiro, o perito ainda apontou para uma

irregularidade na procuração outorgada por uma das transmitentes do

imóvel na ocasião da transferência integral do bem para Ulysses de

Oliveira Carvalho e outros, no ano de 1961.

Segundo ele, a procuração que permitiu ao outorgado

alienar parcela do imóvel pertencente à Isabelle L. T. M. G. B. Lafont e

Christian J. G. C. S. Martin teria sido firmada em data anterior a

aquisição do domínio pelos outorgantes.

Ante o exposto, questionou a d. Promotora de Justiça

se, comprovadas as denúncias do perito, os atos registrais seriam nulos, bem como quando ao prazo prescricional ou decadencial para

reconhecimento dos vícios. Além disso, pugnou por auxílio no

tocante às medidas cabíveis para o deslinde do feito.

É o que cumpria relatar, passo à manifestação.

2. Antes de discorrer a respeito da nulidade dos atos

registrais, é importante definir qual a legislação aplicável ao caso em

epígrafe.

O Direito Registral Brasileiro subordina-se ao princípio do

tempus regit actum, segundo o qual se aplica a lei vigente no momento da

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ocorrência do fato – isto é, devem ser consideradas as exigências legais contemporâneas ao registro1.

No caso em apreço, o ato registral precursor das

nulidades apontadas pelo perito foi praticado no momento da lavratura

da transcrição n° 2.886, em 1961.

Naquele ano ainda estava em vigor o Decreto Lei n°

4.857/1939, responsável pela disciplina da matéria de registros públicos

até o advento da Lei n° 6.015/1973.

Portanto, tem-se que o caso deve ser apreciado à luz

das disposições do Decreto Lei n° 4.857/1939.

O instituto das nulidades na matéria de Registros

Públicos era tratado nos artigos 227 e 229 do referido Decreto. Tais

dispositivos tinham o seguinte teor:

Art. 227. Se o teor do registo não exprimir a verdade poderá o

prejudicado reclamar a retificação, por meio do processo

contencioso, que será inscrito.

1 “No sistema registral pátrio aplicam-se as exigências legais contemporâneas ao registro e não aquelas que vigoravam quando da lavratura do título (tempus regit actum) (...) observe-se que, no sistema registral, quando um título é qualificado, aplicam-se as exigências legais contemporâneas ao registro e não aquelas que vigoravam quando da lavratura do título (tempus regit actum)”. (1ª Vara de Registros Públicos de São Paulo. Autos n° 0026357-62.2010.8.26.0100. Relator: Dr. Gustavo Henrique Bretas Marzagão – julgado em 22.09.2010. Disponível em: <http://www.quinto.com.br/Integra.asp?id=21383> Acesso em 02.10.2013). (Grifou-se).

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Art. 229. As nulidades, de pleno direito, do registo, uma vez

provadas, invalidam-no, independentemente de ação direta.

O art. 227 cuidava das nulidades decorrentes do título

causal e exigia, para o cancelamento do registro, mandado judicial

expedido no bojo de processo contencioso.

A necessidade de processo contencioso para o

reconhecimento de nulidade no título causal – capaz de forjar o registro

de ocorrência inverídica – era prevista no sistema anterior e foi mantida

na Lei n° 6.015/73 (art. 216), haja vista o caráter de representatividade

da manifestação de vontade das partes presente no título e a imperiosa

análise judicial e obediência aos princípios do contraditório e da ampla

defesa para o reconhecimento de eventual vício do negócio jurídico.

Já o art. 229 – reproduzido ipsis litteris no art. 214 da Lei

n° 6.015/73 – tratava das nulidades de pleno direito.

As nulidades de pleno direito são aquelas decorrentes de

irregularidades no próprio ato registral, independentemente do título.

Nas palavras de Miguel Maria de SERPA LOPES:

São inerentes ao próprio registro imobiliário, ao ato

considerado em seu próprio conteúdo, desligado, completamente, de qualquer nexo com o título causal. É a

essa classe de nulidades que se refere o art. 229, isto é, as

inerentes ao próprio registro, independentemente do título

(Tratado dos Registros Públicos, vol. IV, 4.ª ed., Freitas Bastos,

1960, pp. 357-358). (Grifou-se).

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Para o reconhecimento de uma nulidade de pleno direito

há necessidade, portanto, de que o vício seja ínsito, direta e

exclusivamente, ao ato registral praticado.

A jurisprudência e a doutrina apontam para os atos

registrais ofensivos às normas e aos princípios norteadores dos registros públicos, como hipóteses de nulidade de pleno direito2.

Dentre os princípios informativos dos registros públicos

encontra-se o princípio da continuidade.

Referido princípio estava previsto expressamente nos

artigos 214 e 244 do Decreto Lei n° 4.857/1939 e, na legislação em

vigor, pode ser visualizado nos artigos 195 e 237 da Lei n° 6.015/73.

O princípio da continuidade orienta a prática notarial e

registral no sentido de que os atos devem espelhar uma concatenação de

dados sucessivos e subordinados, respectivamente, a um título. Isto é,

cada assento deve corresponder a um comando – proveniente de

contrato, escritura, mandado, etc. –, formando, assim, um

encadeamento ininterrupto de informações que se coadunam entre si3.

2 Decisões Administrativas da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo - 1981/1982, p. 78, ementa 55, Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1982. In SILVA FILHO, Elvino. O cancelamento no registro de imóveis. 2005, p. 08. 3 MELO FILHO, Álvaro. Princípios do Direito Registral Imobiliário. Disponível em <http://arisp.files.wordpress.com/2008/06/008-melo-principios.pdf> Acesso em 03.10.2013.

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Nesse sentido, observa-se que a conduta do Oficial do

Cartório de Registro de Imóveis de Antonina, ao promover a alteração da

área do imóvel “Lafont” de 35.532,33 ha. (já consideradas as

reduções provenientes dos direitos possessórios) para 39.273,07 ha., aleatoriamente, pode ser considerada uma afronta ao princípio

da continuidade dos registros públicos.

Reconhecida, eventualmente, a ocorrência de ato registral

contrário à norma direcionadora do Direito Registral Brasileiro, pode-se

dizer que a conduta do Oficial estaria eivada de nulidade de pleno direito – a qual justifica o cancelamento do registro da área na

transcrição n° 2.886 e, também, em todos os assentos subsequentes,

que, possivelmente, desencadearam os conflitos possessórios na região.

Nesse ponto, é importante retomar o conteúdo do art. 229

do Decreto Lei n° 4.857/1939, o qual autoriza o reconhecimento das nulidades de pleno direito independentemente de ação direta.

Tal permissibilidade existe em razão da natureza do ato registral.

As atividades de registros públicos são exercidas em

caráter privado por delegação do Poder Público ou, a partir da CF/88,

pela própria Administração Pública Direta, por meio da implantação das

secretarias - mantidas, organizadas e administradas pelo Poder Público.

A jurisprudência mais recente do Supremo Tribunal

Federal tem firmado o entendimento de que os serventuários do Foro

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Extrajudicial, que exercem atividade registral e notarial por intermédio

de delegação, não são considerados titulares de cargo público efetivo

(servidores públicos em sentido estrito), mas exercem atividade estatal.

Portanto, os atos praticados por seus Oficiais ou prepostos sujeitam-se

ao regime de Direito Público (STF - ADI 1.800, Rel. p/ o ac. Min. Ricardo

Lewandowski, julgamento em 11-6-2007, Plenário, DJ de 28-9-2007 e

RE 556.504-ED, Rel. Min. Dias Toffoli, Julgamento em 10-8-2010,

Primeira Turma, DJE de 25-10-2010).

Já os Oficiais atuantes junto às secretarias são,

necessariamente, servidores públicos, submetidos, integralmente, ao

regime jurídico de Direito Público.

Dessa feita, considera-se que atos registrais são atos

administrativos e, tendo em vista essa qualidade, eventuais

nulidades de pleno direito podem ser declaradas pela própria Administração, com base nos princípios da legalidade e da autotutela.

Tal prerrogativa, inclusive, encontra-se sumulada pelo Supremo

Tribunal Federal:

Súmula 473: A ADMINISTRAÇÃO PODE ANULAR SEUS

PRÓPRIOS ATOS, QUANDO EIVADOS DE VÍCIOS QUE OS

TORNAM ILEGAIS, PORQUE DELES NÃO SE ORIGINAM

DIREITOS; OU REVOGÁ-LOS, POR MOTIVO DE

CONVENIÊNCIA OU OPORTUNIDADE, RESPEITADOS OS

DIREITOS ADQUIRIDOS, E RESSALVADA, EM TODOS OS

CASOS, A APRECIAÇÃO JUDICIAL.

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A doutrina esclarece que a anulação e, consequentemente,

o cancelamento do registro, deve ser declarada por autoridade

hierarquicamente superior ao agente público que praticou o ato irregular

– na hipótese, o Juiz Corregedor do Foro Extrajudicial4 - e requerida

por meio de procedimento inominado de decretação de nulidade.

Acredita-se que o Ministério Público, por intermédio da d.

Promotoria de Justiça de Antonina, possui legitimidade para propor a

medida, tendo em vista a qualidade do Parquet de curador dos Registros

Públicos e o manifesto interesse público presente no caso.

A doutrina e a jurisprudência sustentam que a

nulidade de pleno direito, hábil a cancelar e tornar sem efeito o ato registral, não convalesce pelo decurso do tempo, ou seja, não está

sujeita a prazo prescricional ou decadencial. Nesse sentido:

Para a anulação do ato ilegal (...) não se exigem formalidades

especiais, nem há prazo determinado para a invalidação,

salvo quando a norma legal, o fixar expressamente. O essencial

é que a autoridade que o invalidar demonstre a nulidade com

que foi praticado. Evidenciada a infração à lei, fica justificada a

anulação administrativa (Direito Administrativo Brasileiro, p.

175, 3.ª ed., Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo. In SILVA

FILHO, Elvino. O cancelamento no registro de imóveis. 2005, p.

13).

4 Nesse sentido: SILVA FILHO, Elvino. O cancelamento no registro de imóveis. 2005, p. 13. E, ainda: “A decisão proferida é de órgão judiciário, mas não corresponde a típico exercício da função judicial, pois o juiz competente atua como corregedor do cartório, com característicos próximos aos de superior hierárquico do delegado”. (CENEVIVA, Walter. Lei de Registros Públicos Comentada. 20ª Ed., Saraiva, ano 2010, p. 526).

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Registros públicos. Ação anulatória de registro imobiliário. Prescrição. 1. As nulidades de pleno direito invalidam o

registro (Lei nº 6.015/73, art. 214). Princípio da continuidade. 2. Segundo boa parte da doutrina, a nulidade,

além de insanável, é imprescritível. Conforme precedente da

3ª Turma do STJ, "Resultando provado que a escritura de

compra e venda for forjada, o ato é tido como nulo e não

convalesce pela prescrição" (Resp n.12.511, DJ de 4.11.91). 3.

Não se perde a propriedade pelo não-uso (Resp n. 76.927, DJ

de 13.4.98). Não se extingue enquanto não se adquire, a saber,

"a prescrição extintiva não ocorre enquanto não se perfizer a

prescrição aquisitiva que se lhe contrapõe" (RP-55/196). 4.

Caso em que se entendeu imprescritível a pretensão.

Inocorrência de afronta ao art. 177 do Cód. Civil. 5. Recurso

especial não conhecido. (STJ - REsp 89.768/RS, Rel. Ministro

NILSON NAVES, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/03/1999,

DJ 21/06/1999, p. 149). (Grifou-se).

Destaca-se, por oportuno, trecho de parecer (anexo) de

lavra da d. Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado da

Bahia, Márcia Rabelo Sandes, lançado em procedimento inominado de

decretação de nulidade de ato registral, no qual se questionava, também,

a alteração irregular de área de imóvel por Oficial de Cartório de Registro

de Imóveis:

Ao retificar registro público para acrescer área de imóvel

sem observar as formalidades impostas pelos arts. 212 e 213 da Lei nº 6.015/73, a Sra. Oficiala incidiu em vícios

que maculam fatalmente o ato jurídico (art.145, incs. III e IV do CC), praticando, assim, ato nulo de pleno direito.

Dispõe o art.214 da Lei de Registros Públicos: “As nulidades

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de pleno direito do registro, uma vez provadas, invalidam-

no, independentemente de ação direta”. (...) Assim, diante da prova documental acostada, que evidencia a realização

pela Sra. Oficiala de retificação de área de imóvel sem observância das formalidades legais, urge o reconhecimento

da nulidade do ato. Pela semelhança com a hipótese sub

judice, válida a transcrição de julgado do Superior Tribunal de

Justiça nos autos de Recurso Especial nº163226, em

08/05/00: 16053852 JCCB.145.III JCCB.145.IV – DIREITO

CIVIL – REGISTROS PÚBLICOS – RETIFICAÇÃO DE REGISTRO

IMOBILIÁRIO – NECESSIDADE DE DESPACHO JUDICIAL –

ARTS. 213 E 214 DA LEI 6.015/73 – ERRO DE FORMA –

NULIDADE DE PLENO DIREITO – ART. 145, III E IV, CC –

DESNECESSIDADE DE AÇÃO JUDICIAL – PRONUNCIAMENTO

ADMINISTRATIVO – POSSIBILIDADE – PRECEDENTES DO

TRIBUNAL – RECURSO PROVIDO – I – Ao proceder à retificação

de registro de imóvel sem pronunciamento judicial e sem que

tenha havido erro evidente, o oficial cartorário exorbita de sua

competência, tornando o ato nulo de pleno direito, por

inobservância da lei. II – A falta de "despacho judicial" que

determine a retificação do registro de imóvel constitui erro de

forma, tornando o ato nulo de pleno direito (art. 145, III e IV,

CC), cuja declaração independe de ação judicial, a teor dos

arts. 213, § 1º, e 214 da Lei de Registros Públicos. (STJ – RESP

163226 – (199800074830) – MT – 4ª T. – Rel. Min. Sálvio de

Figueiredo Teixeira – DJU 08.05.2000 – p. 00096). Em face do exposto, opina o Ministério Público, na qualidade de

curador dos registros públicos, pela declaração de nulidade do ato jurídico de retificação promovido pela Sra. Oficiala,

para que volte a constar na escritura pública a extensão inicial de 38.000 m² do imóvel pertencente a José Henrique

Ferreira do Nascimento. É o pronunciamento. (Grifou-se).

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Certamente que eventual anulação do registro da área na

transcrição n° 2.886, de 1961, e nos demais assentos subsequentes que

também se maculados, refletirá em prejuízos a terceiros de boa-fé que

adquiriram o imóvel.

Nesse norte, convém tecer alguns comentários a respeito

da responsabilidade civil dos Oficiais de Cartório Registral.

Em primeiro lugar, é importante observar, mais uma vez,

à luz do princípio do tempus regit actum, que o ato ilícito praticado pelo Oficial do Cartório de Registro de Imóveis de Antonina ocorreu

na vigência da Constituição Federal de 1946.

Naquele período histórico os cartórios extrajudiciais já

eram considerados tão somente um arquivo público, desprovido de

personalidade jurídica e gerenciado por particulares mediante a

delegação do serviço público não privativo do Estado. Por tal razão, a

responsabilidade civil decorrente de atos registrais e/ou má

administração sempre foi imputada diretamente aos Oficiais/Tabeliões e

ao Estado.

Esses particulares, delegados do serviço registral, eram

tratados pela CF/46 como funcionários públicos em sentido amplo5.

5 GRAEFF JUNIOR, Cristiano. Natureza Jurídica dos Órgãos Notarial e Registrador. Disponível no endereço eletrônico do Instituto de Registro Imobiliário do Brasil, no seguinte link: <http://www.irib.org.br/html/biblioteca/biblioteca-detalhe.php?obr=200> Acesso em 07.10.2013.

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No que diz respeito à responsabilidade civil dos

funcionários públicos, a antiga Carta Magna, em seu art. 194, foi

pioneira ao adotar o princípio da “responsabilidade em ação regressiva” e

a teoria objetiva da responsabilidade civil do Estado, baseados na

teoria do risco administrativo. Referida norma constitucional tinha o

seguinte teor:

Art. 194 - As pessoas jurídicas de direito público interno são

civilmente responsáveis pelos danos que os seus funcionários,

nessa qualidade, causem a terceiros.

Parágrafo único - Caber-lhes-á ação regressiva contra os

funcionários causadores do dano, quando tiver havido culpa

destes.

Tal dispositivo permitia a propositura de ação

indenizatória em face do Estado, diretamente, ou em prejuízo do

funcionário público, em litisconsórcio passivo ou isoladamente6. A

benesse de ajuizamento da demanda em face do Estado consistia na

desnecessidade de comprovação da culpa do agente, tendo em vista a

aplicação da teoria objetiva da responsabilidade civil.

Com a vigência da Constituição Federal de 1988 e o

advento da Lei n° 8.934/1994 – que regulamentou os serviços notariais

e registrais (cf. art. 37, § 6°, da CF/88) -, a matéria da responsabilidade

civil dos oficiais e tabeliões passou a ser discutida mais intensamente na

jurisprudência, especialmente no que diz respeito a necessidade de

comprovação da culpa e da solidariedade ou subsidiariedade do dever do

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Estado ressarcir os prejuízos causados por ato de agente público no

exercício de atividade notarial e registral.

Acerca da matéria, o Supremo Tribunal Federal assentou o entendimento de que é devido o ressarcimento por

danos decorrentes de ato administrativo ilegal praticado por agente

público:

Ato administrativo: ilegalidade: anulação e ressarcimento de danos morais. Súmula 473. CF, art. 37, § 6º. A Administração

Pública pode anular seus próprios atos, quando inquinados de ilegalidade (Súmula 473); mas, se a atividade do agente

público acarretou danos patrimoniais ou morais a outrem - salvo culpa exclusiva dele, eles deverão ser ressarcidos, de

acordo com o disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal. (STF - RE 460881, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA

PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 18/04/2006, DJ 12-

05-2006 PP-00011 EMENT VOL-02232-05 PP-00829 RTJ VOL-

00201-03 PP-01182 LEXSTF v. 28, n. 330, 2006, p. 299-303

RMP n. 35, 2010, p. 223-226). (Grifou-se).

Relativamente à responsabilidade do Estado, manteve-se a

aplicação da teoria do risco administrativo e da teoria objetiva da

responsabilidade civil.

Vale destacar que o STF já pronunciou que a

responsabilidade estatal proveniente das atividades exercidas por

serventuários titulares de cartórios e registros extrajudiciais é

6 CRETELLA JÚNIOR, José. O Estado e a obrigação de indenizar. Ed. Forense, ano

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objetiva (RE 209.354-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 2-3-

1999, Segunda Turma, DJ de 16-4-1999; RE 518.894-AgR, Rel. Min.

Ayres Britto, julgamento em 2-8-2011, Segunda Turma, DJE de 23-9-

2011 e RE 551.156-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 10-3-

2009, Segunda Turma, DJE de 3-4-2009).

No que concerne ao prazo prescricional para propositura

de eventual ação de ressarcimento contra o Estado, tem-se que é

aplicável o lapso quinquenal previsto no art. 1°, do Decreto Lei n°

20.910/19327, bem como que o seu computo terá início no momento em

que as possíveis vítimas tomem conhecimento da lesão e dos seus

efeitos, haja vista a aplicação do princípio da actio nata8.

2002, p. 190. 7 DIREITO ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. PRAZO PRESCRICIONAL QUINQUENAL. As ações de indenização contra a Fazenda Pública prescrevem em cinco anos. Por se tratar de norma especial, que prevalece sobre a geral, aplica-se o prazo do art. 1º do Dec. n. 20.910/1932, e não o de três anos previsto no CC. Precedentes citados: EREsp 1.081.885-RR, DJe 1º/2/2011 e AgRg no Ag 1.364.269-PR, DJe 24/9/2012. (STJ - AgRg no AREsp 14.062-RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 20/9/2012). 8 DIREITO PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. PRESCRIÇÃO. TERMO A QUO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO CONTRA O ESTADO. O termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de indenização contra ato do Estado ocorre no momento em que constatada a lesão e os seus efeitos, conforme o princípio da actio nata. Precedentes citados: AgRg no AgRg no Ag 1.362.677-PR, DJe 7/12/2011; REsp 1.168.680-MG, DJe 3/5/2010; REsp 1.172.028-RJ, DJe 20/4/2010; REsp 1.089.390-SP, DJe 23/4/2009. (STJ - AgRg no REsp 1.333.609-PB, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/10/2012). PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. APREENSÃO DE VEÍCULO REVERTIDA JUDICIALMENTE. DANOS EMERGENTES. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. PRINCÍPIO DA ACTIO NATA. AÇÕES INDENIZATÓRIAS AJUIZADAS CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. PRAZO PRESCRICIONAL QÜINQÜENAL. 1. O curso do prazo prescricional do direito de reclamar inicia-se somente quando o titular do direito subjetivo violado passa a conhecer o fato e a extensão de suas conseqüências, conforme o princípio da actio nata. Precedentes. 2. No caso em questão, não há falar em ocorrência da prescrição, pois o recorrido somente tomou ciência dos danos ocorridos no veículo com sua devolução. 3. Esta Corte, no julgamento do REsp

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Em contrapartida, entendemos que eventual pretensão

em face do Oficial que praticou o ato registral objeto de análise na

presente consulta estaria prescrita (cf. regra geral prevista no art. 177

do Código Civil de 1916).

Paralelamente a isso, também é possível que as potenciais

vítimas de boa-fé da redução da área, em decorrência da anulação do

ato registral e consequente retificação de toda a cadeia dominial, podem

requerer a declaração de aquisição do domínio da fração da área

diminuída por meio de usucapião, desde que preenchidos os requisitos

legais.

Tendo em conta o propenso impacto social e jurídico na

esfera de diversos particulares que adquiriram fração do imóvel

correspondente à parcela ilegalmente ampliada, sugere-se à d.

Promotora de Justiça que examine a possibilidade de realização de

audiências públicas no bojo do procedimento de declaração de

nulidade do ato registral, a fim de prestar esclarecimentos quanto aos

fatos e as medidas cabíveis.

Por derradeiro, diante das conclusões acima assinaladas e

do fato de a nulidade da transcrição n° 2.886, de 1961, ter refletido no

assentamento irregular e na duplicidade registral na circunscrição

1.251.993/PR, submetido ao rito dos recursos repetitivos, firmou entendimento no sentido de que mesmo nas ações indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública, se aplica o prazo prescricional quinquenal do art. 1º do Decreto 20.910/32. 4. Recurso especial não provido. (STJ - REsp 1257387/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/09/2013, DJe 17/09/2013).

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imobiliária de Campina Grande do Sul, sugere-se à consulente que, se forem acatadas as considerações expostas neste parecer, entre em

contato com o d. Promotor de Justiça oficiante na Comarca de

Campina Grande do Sul, objetivando dar-lhe ciência dos fatos e das conclusões aqui explanadas, bem como estudar a possibilidade de

ser realizado um trabalho em conjunto.

3. Ante o exposto e retomando os questionamentos

formulados na consulta, concluímos, em linhas gerais, que:

Se consideradas verídicas as assertivas do perito

dominial, a modificação da área do imóvel “Lafont”, por ocasião do

assentamento da transcrição n° 2.886, em 1961, pode ser considerada nula de pleno direito e, por conseguinte, cancelada.

De igual maneira, entendemos que os registros subsequentes da área irregular também devem ser tornados sem

efeitos por meio de cancelamento e retificação.

A medida cabível, para tanto, seria o procedimento

inominado de declaração de nulidade de ato registral – a qual não

estaria sujeita a prescrição ou decadência -, a ser proposta pelo Parquet

perante o d. Juízo Corregedor do Foro Extrajudicial.

Concluímos, também, que o ressarcimento de eventuais prejuízos a serem suportados em razão da adequação dos registros

imobiliários poderá ser pleiteado em ação contenciosa de

indenização, proposta em face do Oficial e do Estado ou apenas do

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Estado, que responde objetivamente pelos danos, sem prejuízo de eventual pleito de aquisição do domínio das frações reduzidas do

imóvel por meio de usucapião.

4. Frente ao questionamento formulado e aos dados

fornecidos a esta coordenadoria do Centro de Apoio Operacional às

Promotorias de Justiça Cíveis, Falimentares, de Liquidações

Extrajudiciais, das Fundações e do Terceiro Setor, são esses, em tese, os

esclarecimentos que se entende adequados.

Persistindo quaisquer dúvidas, poderá a solicitante

encaminhar novos questionamentos.

5. À secretaria para que junte o presente parecer nos

autos de Inquérito Civil sob n° 0006.09.000097-4.

6. Em virtude da possibilidade de o Oficial responsável

pela lavratura do ato registral em debate ainda estar vivo – muito

embora com elevada idade -, acreditamos, por cautela, ser adequada a

comunicação da ocorrência dos fatos à d. Corregedoria Geral de Justiça

para eventuais medidas na esfera administrativa.

6.1. À secretaria para que oficie à d. Corregedoria

Geral de Justiça, com cópia integral dos autos de Inquérito Civil sob

n° 0006.09.000097-4 e do presente parecer, para ciência.

7. Após, à secretaria para que extraia cópia integral

dos autos de Inquérito Civil sob n° 0006.09.000097-4, deste parecer

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e dos ofícios, autue e arquive os documentos como Consulta n° 37/2013.

8. Na sequência, à secretaria para que devolva os autos de Inquérito Civil sob n° 0006.09.000097-4 à d. Promotoria de

origem.

Curitiba, 08 de outubro de 2013.

TEREZINHA DE JESUS SOUZA SIGNORINI Procuradora de Justiça – Coordenadora

Samantha Karin Muniz Assessora Jurídica