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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL MIRIAN DO NASCIMENTO BANDEIRA O SIGNIFICADO ATRIBUÍDO À FAMÍLIA NO PROCESSO DE TRATAMENTO DO USO E ABUSO DE DROGAS POR SUJEITOS ASSISTIDOS PELO CENTRO DE RECUPERAÇÃO MÃO AMIGA FORTALEZA-CE 2014

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

MIRIAN DO NASCIMENTO BANDEIRA

O SIGNIFICADO ATRIBUÍDO À FAMÍLIA NO PROCESSO DE

TRATAMENTO DO USO E ABUSO DE DROGAS POR SUJEITOS

ASSISTIDOS PELO CENTRO DE RECUPERAÇÃO MÃO AMIGA

FORTALEZA-CE

2014

MIRIAN DO NASCIMENTO BANDEIRA

O SIGNIFICADO ATRIBUÍDO À FAMÍLIA NO PROCESSO DE TRATAMENTO

DO USO E ABUSO DE DROGAS POR SUJEITOS ASSISTIDOS PELO CENTRO DE

RECUPERAÇÃO MÃO AMIGA

Monografia apresentada ao curso de graduação

em Serviço Social da Faculdade Cearense,

como requisito parcial para a obtenção do grau

de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profa. Esp. Verbena Paula Sandy

FORTALEZA-CE

2014

MIRIAN DO NASCIMENTO BANDEIRA

O SIGNIFICADO ATRIBUÍDO À FAMÍLIA NO PROCESSO DE TRATAMENTO DO

USO E ABUSO DE DROGAS POR SUJEITOS ASSISTIDOS PELO CENTRO DE

RECUPERAÇÃO MÃO AMIGA

Monografia como pré-requisito para obtenção

do título de Bacharel em serviço Social,

outorgado pela Faculdade Cearense – FAC,

tendo sido aprovada pela banca examinadora

composta pelos professores.

Data de Aprovação: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

Professora Esp. Verbena Paula Sandy (Orientadora)

Professora M.ª Virzângela Paula Sandy

Professora Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos

“E aqueles que foram vistos dançando foram

julgados insanos por aqueles que não podiam

escutar a música.”

(Friedrich Nietzsche)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, o autor e consumador da minha fé, por ter me concedido

sabedoria, força e capacidade para produzir um trabalho que não foi fácil. Sem Ele, eu não

teria concluído. A ti, Deus, toda glória!

Ao meu marido e companheiro, Marcus Vinicius que me ajudou financeiramente, além de

compreender minha ausência, em momentos que eu não pude compartilhar.

À minha querida e amada mãe Francisca Bandeira, meu exemplo de vida, minha referência.

Foi ela que me influenciou na escolha do curso, me apoiou o tempo todo, me deu palavras de

incentivo e sempre acreditou em mim.

Ao meu amado pai Erivaldo Bandeira, pela preocupação, pela força, pela generosidade, pelo

amor, pelo incentivo.

Ao meu tio Donizete, minha avó Luiza, minhas tias Marlene e Maria que sempre torceram

para que esse momento chegasse.

Aos meus irmãos Nina Bandeira e Gessé Bandeira, pelo afeto, companheirismo e apoio moral

e meus primos.

A minha sogra Maria Oliveira, pelas palavras de esperança e atenção.

A minha grande amiga Aveline, Pelas palavras de ânimo. pela escuta, pela força, pela torcida,

pela atenção.

A minha amiga Natasha que conheci há pouco tempo, mas já ocupa um enorme espaço no

meu coração. Grata pelo grande apoio e incentivo, pela atenção, pelo carinho e generosidade.

Aos meus amigos do Sesi, Francisco, Camila, Ana Paula, Patrícia e meu gestor, José

Teófanes. Pela compreensão, pela força e pela torcida Vocês contribuíram relevantemente

para esse trabalho.

Aos meus amigos de minha jornada acadêmica, especialmente a Raquel, Regina, Deusirene,

Marcos Amanari, Isabelly, Neila, Tayane, Tâmiris, Keliane, Herlen. Obrigada pelo carinho,

pela gentileza, pela contribuição acadêmica que vocês me concederam.

Às Assistentes Sociais da Sefaz, Rozelha Pontes e Rute Mourão, pela contribuição teórica

sobre dependência química, que durante esse período de estágio contribuíram significamente

para realização dessa pesquisa e para minha formação profissional.

Ao assistente social do Crema, Luis Carlos Favaron, pela recepção, competência, pelo

profissionalismo, pelo exemplar compromisso com o projeto Ético-político do Serviço Social.

Aos entrevistados-residentes do Crema, que dispuseram de seu tempo e história, contribuindo

no processo de construção desse trabalho.

Ao Crema, uma instituição que eu aprendi a amar no primeiro contato. Obrigada pela

oportunidade que me foi concedida, tanto para realização do meu estágio II e II, quanto para

minha pesquisa de campo.

À minha orientadora, Verbena Paula Sandy. Obrigada pela disponibilidade, pelas orientações,

pelas sugestões de texto, pelas pontuações, pela flexibilidade.

Agradeço também as componentes da banca examinadora, Virzângela Paula Sandy e Talitta

Cavalcante Albuquerque Vasconcelos, que tive o prazer de estar com vocês nas disciplinas de

estágio. Agradeço pela disponibilidade, prontidão, carinho, compromisso com as disciplinas e

por fazer parte de um momento tão especial para mim, como esse.

E aos que aqui não citei, mas que de qualquer forma estiveram presentes em minha vida

durante esses anos, muito obrigada!

Esse trabalho é nosso!

RESUMO

Esta pesquisa partiu do objetivo central de identificar o significado atribuído à família no

processo de tratamento de uso e abuso de drogas, por sujeito assistidos pelo Centro de

Recuperação Mão Amiga, uma Comunidade Terapêutica para tratamento de dependência

química, localizado no município de Maracanaú-CE. Para tanto, foram delineados alguns

objetivos específicos: Traçar o perfil socioeconômico dos dependentes químicos em

tratamento, como também identificar os diversos tipos de configuração familiar e analisar a

relação familiar antes, durante e depois do uso de drogas. Para atingir o objetivo desse

trabalho foi primeiramente feito um levantamento teórico a luz de autores que estudam a

temática, para então, discutirmos as categorias Drogas, Dependência química, Família e

Tratamento. Nesse sentido, foi feito uma discussão sobre drogas, foi esclarecido também a

diferença do uso, abuso e dependência química. Discutimos também sobre família e as novas

configurações familiares além disso, foi feita uma articulação de família e dependência

química, com destaque na prevenção e do tratamento de dependência química. E por fim

falamos também sobre o Tratamento e suas Redes de Atenção, destacando as Comunidades

Terapêuticas. Na realização desse estudo, os dados metodológicos utilizados constituíram em

pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo sob análise da pesquisa qualitativa. A pesquisa

de campo foi realizada entre os meses de agosto e dezembro de 2014. Em primeiro momento,

foi aplicado um questionário com 48 perguntas fechadas com objetivo de traçar o perfil geral

dos residentes da instituição. A partir dos dados apurados foi feito a seleção de oito residentes,

onde que cada um pertencia a uma configuração familiar, sendo esse o critério de escolha.

Nessa etapa foram realizadas as entrevistas com caráter semiestruturadas, para apreendermos

na realidade, a visão dos sujeitos sobre a temática. Ficou evidenciado, que a família representa

um apoio no processo de tratamento dos dependentes químicos do Centro de Recuperação

Mão Amiga, e quando isso não acontece, a recuperação torna-se mais árdua, difícil,

comprometendo muitas vezes até no abandono do tratamento.

Palavras-chave: Drogas. Dependência química,Família e Tratamento.

ABSTRACT

This study started from the main objective of identifying the meaning assigned to the family

in the treatment process use and drug abuse, by subject assisted by the Recovery Helping

Hand Center, one therapeutic community for treatment of chemical dependency, located in

the municipality of Maracanaú-EC . Therefore, some specific objectives were outlined: To

describe the socioeconomic profile of drug addicts in treatment, but also identify the various

types of family structure and analyze the family relationship before, during and after the use

of drugs. To achieve the objective of this work was first made a theoretical survey the light of

authors who study the issue, then, discuss Drugs categories, Chemical Dependency, Family

and Treatment. In this regard, a discussion of drugs was made, also was cleared up the

difference in the use, abuse and addiction. We also discussed about family and the new family

configurations in addition, a family of articulation and substance abuse has been made,

especially in the prevention and treatment of addiction. Finally we also talk about the

treatment and its Care Networks, highlighting the Therapeutic Communities. In conducting

this study, methodological data used formed in literature and field research in analysis of

qualitative research. The fieldwork was carried out between August and December 2014. In

the first instance, a questionnaire with 48 closed questions in order to trace the general profile

of the institution residents was applied. From the data collected was made selection of eight

residents, where each belonged to a family setting, which is the criterion of choice. At this

stage the interviews were conducted with semi-structured character to apprehend the reality,

the vision of the subjects on the subject. It was evident that the family is support in the

treatment process of chemical dependent Helping Hand Recovery Center, and when that

happens, the recovery becomes more arduous, difficult, often committing to the abandonment

of treatment.

Keywords: Drug. Chemical Dependency. Family and Treatment.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CAPS - entros de Atenção Psicossocial

CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

CID - Código Internacional de Doenças

CONAD - Conselho Nacional Antidrogas

CT - Comunidade Terapêutica

FUNCAB - Fundo de Prevenção, Recuperação e Combate às Drogas de Abuso.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MS - Ministério da Saúde

OBID - Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas

OMS - Organização Mundial da Saúde

PNAD - Política Nacional Sobre drogas

RDC - Resolução da Diretoria Colegiada do Ministério da Saúde (ANVISA)

SENAD - Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas

SISNAD -Sistema Nacional antidrogas

SPA - Substâncias psicoativas

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 - Característica dos entrevistados quanto à idade.................................................. 20

Gráfico 2 - Característica dos entrevistados quanto ao estado civil ...................................... 21

Gráfico 3 - Característica do residentes quanto à escolaridade ............................................. 21

Gráfico 4 - Característica quanto à renda familiar ................................................................ 22

Gráfico 5 - Característica quanto à religião .......................................................................... 22

Gráfico 6 - Característica dos participantes quanto à primeira droga consumida .................. 23

Gráfico 7 - Característica quanto à idade inicial do uso da drogas ........................................ 23

Gráfico 8 - Característica quanto à idade inicial do uso às drogas ........................................ 24

Gráfico 9 - Característica quanto à droga de preferência ...................................................... 24

Gráfico 10 - Característica quanto à relação familiar ........................................................... 25

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 10

2 METODOLOGIA ........................................................................................................... 15

2.1 Local da Pesquisa ......................................................................................................... 15

2.2 Percurso Metodológico ................................................................................................. 17

2.3 População de Estudo .................................................................................................... 20

3 DROGAS, DEPENDÊNCIA QUÍMICA, FAMÍLIA E TRATAMENTO E SUAS

REDES DE ATENÇÃO. ................................................................................................. 26

3.1 Drogas: Breves Conceitos ............................................................................................ 26

3.2 Dependência Química: Uso, Abuso e Dependência ..................................................... 32

3.3 Família .......................................................................................................................... 35

3.4 Tratamento e suas Redes de Atenção .......................................................................... 39

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA ............................... 44

4.1 Breves Considerações Sobre Família E Dependência Química .................................. 44

4.2 Apresentação dos Sujeitos da Pesquisa ....................................................................... 47

4.3 O Significado Atribuído à Família no Processo de Tratamento de uso e Abuso de

Drogas por Sujeitos Assistidos pelo Centro de Recuperação Mão Amiga ................ 49

5 CONSIRERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 57

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 59

APÊNDICES ...................................................................................................................... 64

ANEXOS ............................................................................................................................ 67

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1 INTRODUÇÃO

Essa pesquisa tem como eixo principal identificar qual o significado atribuído à

família no processo de tratamento do uso e abuso de drogas, tendo como objetivos

específicos: Traçar o perfil socioeconômico dos dependentes químicos em tratamento, como

também identificar os diversos tipos de configuração familiar e analisar a relação familiar

antes, durante e depois do uso de drogas.

A primeira motivação para a pesquisa desta temática e a construção deste ensaio

monográfico ocorreu a partir do interesse pessoal da pesquisadora.1 Desde minha infância eu

presenciei meu pai chegando bêbado em casa, muitas vezes tarde da noite. A presença de

conflitos era muito frequente, pois sempre que ele bebia, ele agredia minha mãe verbalmente

e em outros momentos, fisicamente também. Enquanto criança, eu não entendia aquele

fenômeno. Lembro-me que uma vez, devido ao impacto causado pelo álcool, meu pai teve

que sair de casa, minha mãe não aguentava mais as brigas, a falta de respeito, a perca de

emprego, e as grosserias com os filhos. Meu pai saiu de casa várias vezes e aquilo, era

horrível para mim. Eu não me recordo exatamente minha idade, quando ele parou de beber,

mas lembro-me que sentia medo de pensar que a qualquer momento ele poderia chegar

bêbado em casa de novo, fazer as mesmas coisas e causar uma nova separação da família.

Acredito que minhas primeiras inquietações estão no campo da subjetividade, que

processualmente se solidificou.

Outro momento que contribui para meu envolvimento com a temática foi minha

aproximação com uma amiga de sala de aula, representante de uma Comunidade Terapêutica.

Ela comentava sobre o fenômeno da dependência química, tecia algumas problemáticas

decorrentes desse fenômeno, dos limites da recuperação, internação e das famílias. Algumas

vezes eu a questionava, procurava entender algumas situações que a priori, não era possível.

Considero que meu objeto de estudo estava muito próximo, porém demorou um

pouco para eu perceber. Posso afirmar que veio à tona no meu segundo e terceiro estágio

supervisionado em Serviço Social no Centro de Recuperação Mão Amiga. A partir de minha

inserção nesse campo, fui me aproximando mais temática, lendo textos e livros sugeridos pelo

assistente social, além da aproximação com alguns residentes através de seus relatos.

Lembro-me de uma conversa que tive com um dos residentes que morava em

outro estado e veio para o tratamento no Ceará, devido intervenção de sua mãe pois

1 Neste tópico será utilizado a primeira pessoa por se tratar de uma justificativa pessoal.

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acreditava que o filho teria que se distanciar dos locais que frequentava, considerando que

seria mais fácil assim,a recuperação do filho. Pude perceber a dificuldade dele em aceitar o

tratamento, pois dizia que a falta da família e dos amigos, era maior que a vontade de

continuar. Nesse sentido, comecei a refletir sobre família e dependência química, porém,

ainda não havia definido a temática. Outro aspecto que justificou a escolha do tema foi minha

participação nas reuniões destinadas às famílias, facilitada pelo assistente social. Eu me

recordo que durante algumas reuniões, eu comecei a observar a postura dos residentes em

relação às famílias. Observava a postura daqueles que recebiam visitas, e daqueles que não

recebiam. Em datas comemorativas, como por exemplo, em festas alusivas ao dia das mães ou

dos pais, esses ficavam em seus quartos dormindo, outros participavam, mas deixavam

transparecer a falta que a família fazia.

Outro fator significante consiste na relevância científica dessa temática. Ao

refletirmos sobre o uso de substâncias psicoativas, podemos afirmar que esse fenômeno

sempre existiu em todas as épocas, porém, nunca como nos atuais. No presente século,

verifica-se o uso dessas substâncias em quaisquer circunstâncias e por sujeitos com idade cada

vez mais precoce.

As últimas pesquisas apontam que a dependência química é um fenômeno que

vem crescendo expressivamente a nível preocupante, prejudicando não apenas o dependente

químico, mas também a família e a sociedade. O II Levantamento Domiciliar sobre o uso de

Drogas Psicotrópicas no Brasil de 2005, realizado pela Secretaria Nacional Sobre Drogas, em

parceria com o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, pontuou que em

2001(ano do I Levantamento) 19,4% dos entrevistados já haviam usado algum tipo de droga

e, em 2005 este número foi para 22,8%. Sobre o mesmo levantamento, a comparação das

porcentagens de uso na vida das drogas entre 2001 e 2005 mostrou que houve aumento para

Maconha (6,9% para 8,8%); Benzodiazepínicos (3,3% para 5,6%); Estimulantes (1,5% para

3,2%); Solventes (5,8% para 6,1%) e Cocaína (2,3% para 2,9%). Outro aspecto considerado

relevante para análise é a presença da faixa etária de 12 – 17 anos (CEBRID, 2005)

Outro estudo, que ratifica o aumento do uso de drogas no Brasil é o “VI

Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do

Ensino Fundamental e Médio das Redes Pública e Privada de Ensino nas 27 Capitais

brasileiras realizados em 2010. Segunda a amostra, as drogas mais citadas pelos estudantes

foram bebidas alcoólicas e tabaco. Além disso vale destacar que os meninos têm apresentado

maior chance de uso de drogas ilegais. Outro ponto preponderante apresentado no relatório

dessa pesquisa refere-se ao acompanhamento temporal, iniciado desde a década de 80, onde

12

indica que as bebidas alcoólicas e o tabaco (cigarro) têm sido as substâncias mais consumidas

pelos adolescentes. (CEBRID, 2010)

Outra pesquisa realizada em 2012, também relevante para compreensão desse

fenômeno foi o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas realizado em todo território

nacional. É interessante ressaltar, segundo o relatório desse levantamento, que o crescimento

econômico do Brasil nos últimos 10 anos foi o maior da história, fator favorável para o

aumento do consumo do álcool. Esse mesmo estudo constatou que os índices de uso nocivo e

dependência foram altos entre os bebedores. Em outras palavras, tem-se uma mudança nos

padrões de uso através das comparações entre os dados de 2006 e 2012. sendo possível

observar mudanças significativas nas quantidades e na rotina de consumo, nesse caso, o álcool

(CEBRID, 2012).

Outro ponto crucial desse levantamento, refere-se ao início da experimentação,

idade que começou a beber regularmente. O mesmo Levantamento pontuou que metade dos

entrevistados consomem bebidas alcoólicas e o consumo se iniciou aos 15 anos, ou seja,

durante a adolescência. Em publicação2 o Brasil foi apontado como uma das nações

emergentes onde o consumo de estimulantes como a cocaína – seja na forma intranasal (“pó”)

ou fumada (crack, merla ou oxi) – está aumentando enquanto na maioria dos países o

consumo está diminuindo (CEBRID, 2012).

Diante dos estudos apresentados, destacamos o levantamento epidemiológicos

realizado no campo de pesquisa, na qual ratifica os estudos acima apresentados. Em relação a

idade inicial com o uso de drogas, a pesquisa contemplou que do universo de 48 residentes,

43,75% tiveram envolvimento com o uso de drogas durante a adolescência. Foi identificado

também que 50% dos residentes fizeram consumo do álcool, antes de qualquer outra droga.

Tais dados, contribuem para refletirmos sobre o consumo de drogas por sujeitos com idade

cada vez mais precoce, além do álcool se mostrar como primeira droga consumida antes de

qualquer outra substância.

Diante da problemática apresentada, esse trabalho procurar-se-á discutir o

fenômeno dependência química, tendo como objetivo geral: identificar o significado atribuído

à família no processo de tratamento de uso e abuso de drogas, por sujeito assistidos pelo

Centro de Recuperação Mão Amiga. Nesse sentido, faz-se necessário explanar acerca de

como foi estabelecido a divisão de cada capítulo, para facilitar a compreensão do assunto ao

leitor.

Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas. Disponível em: <www.onu.org.br/unodoc>.

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O primeiro capítulo, refere-se à Metodologia. A priori, destacamos o campo da

pesquisa apresentando o Centro de Recuperação Mão Amiga, uma Comunidade Terapêutica

localizada no município de Maracanaú, no estado do Ceará. Logo após, apresentamos também

o percurso metodológico da pesquisa destacando detalhadamente o caminho feito pela

pesquisadora. Nesse sentido, apresentamos o processo da pesquisa bibliográfica, ressaltando

as leituras realizadas, os autores, os cursos feitos pela pesquisadora, além da participação em

eventos voltados para temática. Em seguida, a apresentamos a pesquisa de campo, destacando

o uso da pesquisa qualitativa. Foi também destacado as técnicas e os instrumentos utilizados

para coleta de dados detalhadamente. Por fim, apresentamos, através de gráficos, uma

caracterização dos participantes da pesquisa, onde foi pontuado aspectos em relação a idade,

escolaridade, religião, idade inicial ao uso de drogas, primeira droga utilizada, droga de

preferência e por fim, a conjuntura familiar.

O segundo capítulo consiste o referencial teórico, onde discutimos as categorias

Drogas, Dependência química, tratamento e família. Nesse sentido, fizemos uma breve

pontuação histórica sobre as drogas, apresentamos algumas conceituações, os tipos de drogas

e suas características quanto aos efeitos, quanto a legalização, diferenciando as lícitas das

ilícitas, além disso, discutimos os fatores de risco e de proteção tanto social. Em seguida,

debruçamo-nos sobre a diferenciação de uso, uso nocivo e dependência. Discutimos também

sobre dependência química destacando os aspectos que caracterizam essa doença, e por fim

desse subitem, fizemos uma reflexão sobre o álcool e o crack, tendo em vista ser dois tipos de

substâncias mais consumidas, segundo a leitura da realidade e das estatísticas atuais. Outro

subtópico, pontuamos sobre Tratamento e suas Redes de Atenção. Nesse, falamos um pouco

sobre as políticas existentes, assim como também as Redes e os Serviços, dentre eles as

Comunidades Terapêuticas. Por fim, foi feita uma reflexão sobre Família, que a priori,

fizemos um breve relato histórico, fazendo um paralelo entre a família nuclear e as novas

configurações familiares

O terceiro capítulo consiste o conteúdo da pesquisa. No primeiro subtópico,

fizemos uma discussão sobre família e dependência química destacando o papel do núcleo

familiar no que concerne ao tratamento do dependente químico. Em seguida apresentamos

uma breve caracterização dos entrevistados, para assim discutirmos os achados da pesquisa.

Nesse último subtópico, denominamos: O significado atribuído à família no processo de

tratamento do uso e abuso de drogas por sujeitos assistidos pelo Centro de Recuperação Mão

Amiga, tema da pesquisa.

As reflexões abordadas são discutidas considerando as transformações sociais que

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ocorrem na sociedade capitalista decorrentes do processo de modernização e civilização da

sociedade ocidental considerando a problemática do abuso de drogas como um fenômeno da

modernidade pontuando seus reflexos nas relações familiares e sua consequente influência no

comportamento e atitudes dos indivíduos diante da vida.

Sendo assim, acreditamos que o presente estudo contribuirá para ampliação do

conhecimento da relação dependência química e família, especificamente o significado

atribuído à família no processo de tratamento do uso e abuso de drogas.

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2 METODOLOGIA

No que concerne a apresentação da trajetória da pesquisa, faz-se necessário,

primeiramente, a apresentação do campo de pesquisa, tendo como finalidade, conhecermos o

que faz a instituição, sua localidade, objetivos, finalidade, quem são os profissionais

envolvidos, a Política norteadora das ações quais as atividades, conhecendo também o modelo

de tratamento além de refletirmos como ocorre a inserção da família no tratamento.

2.1 Local da Pesquisa

A pesquisa foi realizada no Centro de Recuperação Mão Amiga, Comunidade

Terapêutica para tratamento de dependência química, localizado rua Jaguaribe, 913 – Parque

Luzardo Viana- Maracanaú-CE.

O Crema é uma Organização não governamental (ONG) filiado à Federação

Brasileira de Comunidades Terapêuticas – FEBRACT. Como estrutura organizacional, o

CREMA é formado pela Diretoria e Conselho Fiscal, junto a seu corpo técnico assistente

social, uma terapeuta ocupacional, além de monitores e estagiários que desenvolvem suas

atividades de forma voluntária. Os monitores e estagiários, são ex-residentes que já passaram

pelo tratamento, esses contribuem facilitando reuniões, assim como também nas atividades

administrativas. Há também um psicopedagogo, contratado pela prefeitura de Maranguape

onde trabalha na alfabetização dos residentes do CREMA, através da educação supletiva, dos

cursos de educação de jovens e adultos (EJA) I, II, III, em parceria com a Prefeitura

Municipal de Maranguape.

A instituição oferece atividades como dinâmica de grupo, Arte terapia,

Laborterapia, exercícios físicos e relaxamento, e um trabalho de elevação da espiritualidade

(sem exclusividade religiosa).

A referida instituição orienta suas ações por meio da Política Nacional sobre

Drogas, que estabelece os fundamentos, os objetivos, as diretrizes e as estratégias

indispensáveis para que os esforços voltados para a redução da demanda e da oferta de drogas

possam ser conduzidas de forma planejada e articulada. Orienta suas ações por meio da

Política Nacional sobre Drogas, que estabelece os fundamentos, os objetivos, as diretrizes e as

estratégias indispensáveis para que os esforços voltados para a redução da demanda e da

oferta de drogas possam ser conduzidos de forma planejada e articulada. A instituição também

segue os direcionamentos regulamentados pela ANVISA sobre Comunidades Terapêuticas

16

(Resolução RDC nº 29), que trata das instituições que prestam serviços de atenção a pessoas

com transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas, sendo

fiscalizada recentemente.

No campo da (re)inserção profissional, o CREMA já desenvolveu cursos

profissionalizantes, visando formações específicas para revitalização do profissional sem

emprego e para sua (re)colocação no mundo do trabalho, como: Eletricidade Básica e

Avançada (através do PROMIL – Corpo de Bombeiros), Pedreiro (através do IDESC –

Governo do Estado) e de Informática (através da Prefeitura de Maracanaú e participação em

programas de inclusão social do Governo como o PROJOVEM TRABALHADOR, entre

outros.

O Crema tem como missão, ser referência no modelo biopsicossocial de

tratamento de dependência química na Região Metropolitana de Fortaleza, construído com a

participação ativa dos atores envolvidos. Nesse sentido, utiliza uma proposta terapêutica

pautada no Programa dos Doze Passos( APÊNDICE) das Irmandades, reconhecido

internacionalmente como um dos mais eficazes no tratamento de dependentes químicos.

Para tanto, tem como finalidades: serviço privado de atenção às pessoas com

transtornos decorrentes do uso ou abuso de substâncias psicoativas, prestando assistência,

orientação e acompanhamento, bem como à sua família, na direção da recuperação e resgatar

o convívio na família e na sociedade, com base nos princípios de igualdade sem discriminação

de nacionalidade, cor, idade, sexo ou credo, assim como de qualquer outra ordem.

A instituição possui convênio com a Secretaria Nacional de Política sobre Drogas

(SENAD), com a Prefeitura Municipal de Fortaleza e Prefeitura Municipal de Maracanaú.

Atualmente estão acolhidos 60 dependentes químicos, sendo esse número bastante dinâmico

devido ao elevado número de rotatividades de saída e entrada de residentes. A maioria das

vagas é advinda são preenchidas dos convênios, porém existem alguns, que fazem o

tratamento a custo próprio e ainda há alguns que por não terem condições, a instituição isenta-

os do custo do tratamento. O tratamento varia de quatro meses a oito meses, a adesão ao

mesmo dependente muito do próprio dependente químico, pois a instituição não adere a

internação involuntária. No que concerne às visitas, os dependentes químicos em tratamento

podem receber visitas nos fins de semana ou feriados a partir do momento da internação e a

cada dois meses, a Instituição concede dois de folga para aqueles que desejam visitarem seus

familiares ou amigos.

No que concerne as ações voltadas para as famílias, a instituição realiza uma

reunião mensal no primeiro domingo de cada mês, com os familiares dos residentes. A

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reunião é facilitada pelo assistente social da instituição, onde se discute o fenômeno da

dependência química como doença, seus sintomas e consequências, discutindo também a

postura da família em relação a compreensão do tratamento, através de textos ou através de

partilhas compartilhada muitas vezes pelos próprios familiares. Além dessa reunião, a

instituição também realiza encontros, em datas comemorativas, convidando as famílias,

principalmente no dia das mães, dos pais e no natal.

2.2 Percurso Metodológico

A pesquisa sempre estará vinculada a um processo chamado de conhecimento. É

mister afirmar que nós não nascemos sabendo, nós vamos aprendendo e um dos passos onde

se aprende a fazer ciência é a partir da experiência que temos com o mundo.

Como bem relata Luckesi (1985), temos como pressupostos básicos que o

conhecimento só nasce da prática com o mundo, enfrentando os seus desafios e resistências e

que o conhecimento só tem seu sentido pleno na relação com a realidade.

Nesse sentido, a pesquisa é uma ferramenta de grande relevância para a

construção de um estudo, é através da pesquisa que proporcionamos uma aproximação e um

entendimento da realidade a ser investigada, sempre fornecendo subsídios para uma possível

intervenção naquele contexto. É um processo sempre em construção, uma investigação a

partir de uma metodologia.

Haguette (1992) ressalta a importância de uma pesquisa bem feita, ao afirmar que

“pesquisar é sempre tematizar o real, dentro de uma dialética do sujeito e do objeto, com a

ajuda de métodos e técnicas que permitem uma aproximação entre o inesgotável e o móvel, já

que se modifica constantemente através da interação”. Deste modo a abordagem de uma

realidade precisa ser feita de forma responsável e através de instrumentais que possam

analisar de forma precisa aquele contexto, conforme explica Minayo (2010) ao afirmar que é

necessário dispor de um instrumental claro, coerente, elaborado e capaz de encaminhar os

impasses teóricos para o desafio da prática.

Nessa direção, essa pesquisa foi pautada no método qualitativo que segundo

Minayo a pesquisa qualitativa:

responde a questões muito particulares, [...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais

profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis (1997, p. 21-22).

18

Para elaborar uma pesquisa com esse tipo de abordagem, exige uma postura

comprometida do pesquisador, tendo em vista que a pesquisa qualitativa está para além de

dados quantitativos, ou seja, é uma pesquisa mais aprofundada, acima de números. Por se

tratar de questões subjetivas é o método mais indicado, uma vez que permite o contato direto

com os sujeitos pesquisados (Gil, 2006).

Nesse sentido, natureza desse estudo será explicativa que segundo Acevedo e

Nohara (2004, p. 47), “a pesquisa explicativa, por sua vez, tem a finalidade de explicar por

que o fenômeno ocorre, ou quais os fatores que causam ou contribuem para a sua ocorrência”.

Considerando que o objetivo dessa pesquisa é identificar a atribuição dada à

família no processo de tratamento por sujeitos que serão pesquisados, a pesquisa qualitativa

contribuirá para apreensão desses dados e a pesquisa explicativa, para explicação.

Para o alcance do objetivo, o trabalho passou por diversas fases, iniciado pela

pesquisa bibliográfica, na qual foi feito um levantamento teórico à luz de diversos autores que

estudam a temática em estudo. Fizemos leitura de livros, revistas, teses, dissertações,

monografias, além do acesso a noticiários e outras produções através da internet, pois a busca

de informações é essencial para se chegar ao conhecimento. Durante esse momento,

percebemos o quanto a dependência química é pouco explorado no Serviço Social, contudo

amplamente discutido na Psicologia.

Nessa etapa tive oportunidade de conhecer diversos autores que discutem a

temática dependência química e tratamento, dentre eles, destaco, Ronaldo Laranjeira, Silveira,

Mota, Serrat, Rappaport, Motta. No âmbito da família, li autores Kalina & Kovadloff,

Oliveira, Montali, Acosta e Amalia. Outro autor também preponderante para elaboração desse

estudo foi Fracasso que discute o tema Comunidade Terapêutica.

O site Google Acadêmico me forneceu um vasto conteúdo de artigos e

monografias, bem como a minha orientadora contribuiu com indicações de autores e livros

que tratavam sobre o assunto estudado. Recebi como sugestão da mesma a leitura de um

artigo sobre família intitulado:“Família e Atenção em Saúde: Proteção, Participação ou

Responsabilização?” das autoras Ana Claudia Correia Nogueira e Marcia Valeria de Carvalho

Monteiro. Destaco que a leitura desse artigo foi relevante quando discuti a categoria família,

pois contribui para explanação das novas configurações familiares. Além de leituras, também

fiz três cursos na área da dependência química, sendo eles: “Capacitação para Comunidades

Terapêuticas”, “Prevenção dos problemas relacionados ao uso de drogas, “Curso prevenção

do uso de drogas para educadores de escolas públicas” todos disponibilizados pela SENAD”.

Ressalto também minha participação em congressos, eventos e palestras voltados para essa

19

temática e por fim, minha participação no Congresso de Dependência Química – CONDEC,

onde tivemos um custo elevado. Tivemos também com o acesso a noticiários e outras

produções através da internet, pois a busca de informações é essencial para se chegar ao

conhecimento

Lemos também a Política Nacional Sobre Drogas, assim como alguns Decretos

lançados pelo Governo Federal no âmbito da dependência química. Dois sites também foram

bastante utilizados nessa pesquisa, a saber, o site da Federação Brasileira de Comunidades

Terapêuticas e o da Secretaria de Políticas sobre Drogas.

Reconhecendo a importância dessa etapa, Malheiros (2010, p. 12) afirma que a

pesquisa bibliográfica levanta o conhecimento disponível na área, possibilitando que o

pesquisador conheça as teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para

compreender ou explicar o seu problema objeto de investigação.

O segundo momento se deu através da pesquisa de campo, na qual contribuiu para

apreensão de informações subjetivas, ou seja, compreensão do fenômeno pesquisado sem

intervenção do pesquisador. De acordo com Ruiz (2002), a pesquisa de campo consiste na

observação dos fatos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados e no registro de

variáveis presumivelmente relevantes para ulteriores análises.

Nessa direção, para conhecer melhor a população estudada e traçar o perfil geral

dos residentes da instituição, aplicamos um questionário com 26 perguntas fechadas

(APÊNDICE B) no total de 48 residentes, todos jovens do sexo masculino. Foram levantados

dados relacionados a faixa etária, escolaridade, estado civil, renda familiar, principais formas

de lazer, religião, primeira droga utilizada, droga de preferência, onde teve o primeiro acesso,

tempo de tratamento, se existe contato com a família, se a família visita e a idade inicial do

uso. Os dados coletados (ANEXO B) foram necessários para selecionarmos os sujeitos da

pesquisa. Considerando que o objetivo da pesquisa está intrinsecamente relacionado à família,

optamos escolher os sujeitos da pesquisa a partir de sua configuração familiar, com isso

analisamos os 48 questionários e dividimos a partir desse critério de seleção, onde foi

identificado sujeitos pertencentes a família nuclear, monoparental, outros que moram sozinhos

ou com amigos, dentre outros. Sendo assim, foram escolhidos sete sujeitos. Além desse

critério, participaram da amostra aqueles que se submeterem participarem das entrevistas.

Nesse sentido, utilizamos como instrumento a entrevista semiestruturada, onde

consideramos ser essencial para obtenção de resultados qualitativos significativos,

contribuindo para o enriquecimento de uma pesquisa científica. É importante ressaltar que a

entrevista é uma das técnicas mais utilizadas, nos dias atuais, em trabalhos científicos, pois

20

permite ao pesquisador extrair uma quantidade muito grande de dados e informações que

possibilitam um trabalho bastante rico.

Para Haguette (1992) a entrevista pode ser definida como um processo de

interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivos a

obtenção de informação por parte do outro, o entrevistado. Na mesma direção, Trivinos

(1987), compreende que o processo de entrevista semi estruturada dá melhores resultados se

trabalhado com diferentes grupos de pessoas.

As entrevistas continham sete perguntas abertas, as quais foram respondidas

individualmente. (APÊNDICE C). Todas foram gravadas e transcritas posteriormente, com a

aprovação dos mesmos após a entrega do termo de consentimento e assinadas com a

autorização. Os nomes dados aos entrevistados foram nomes bíblicos dos quais eu me

identifico, sendo eles: Paulo, Abraão, Davi, Jonas, Calebe, Jacó e José. As transcrições das

falas foram analisadas a partir da leitura teórica sobre o objeto em estudo. Sendo assim, a

pesquisa foi realizada durante o período de quatro meses, entre o mês de agosto e novembro

de 2014, incluindo a execução de todo o percursos metodológico apresentado e como

resultado identificamos o significado que os residentes do Centro de Recuperação Mão Amiga

atribuem à família durante o processo de tratamento.

2.3 População de Estudo

Conforme relatado no tópico anterior, a pesquisa foi feita com sete participantes,

todos do sexo masculino, cada um pertencente a uma configuração familiar diferente, cujas

caracterizações serão apresentadas nos gráficos abaixo.

O gráfico a seguir, refere-se à característica da idade dos entrevistados:

Gráfico 1 - Característica dos entrevistados quanto à idade

Fonte: A pesquisa

21

O gráfico 1 pontuou que 42,85% dos residentes encontram-se na faixa etária

entres 21 a 30 anos, seguidos de um percentual de 28,57% entre 31 a 40 anos, e o mesmo

percentual para aqueles que estão entre a faixa de 41a 50 anos

Outra característica se refere ao estado civil dos entrevistados.

Gráfico 2 - Característica dos entrevistados quanto ao estado civil

Fonte: A pesquisa

Como se pode observar, há uma proporção equitativa entre os participantes

solteiros, representando 42,85%. e na mesma percentagem para os separados. Sendo viúvo,

representado por 14,30%.

Outra característica pontuada no gráfico 3 , foi em relação a escolaridade.

Gráfico 3 - Característica do residentes quanto à escolaridade

Fonte: A pesquisa

Observa-se que a maioria possuem nível fundamental incompleto, representando

42,85%. Em seguida, 28,57% ensino médio completo, 14,30% superior incompleto e 14,30%

também não são alfabetizado.

Pontuamos também a caracterização dos residentes quanto a renda família

divulgada no gráfico a seguir:

22

Gráfico 4 - Característica quanto à renda familiar

Fonte: A pesquisa

Infere-se que a maioria dos entrevistados possuem renda entre 1 e 3 salários

mínimos, representando o total de 85,71% e 14,30% possui renda menor que um salário

mínimo.

O gráfico 5 permite visualizar a religião dos residentes.

Gráfico 5 - Característica quanto à religião

Fonte: A pesquisa

Observa-se que a religião evangélica é predominante, representando 71,42%,

sendo a religião católica 28,57%.

O gráfico 6 relata a caracterização dos residentes quanto à primeira droga

consumida.

23

Gráfico 6 - Característica dos participantes quanto à primeira droga consumida

Fonte: A pesquisa

Percebe-se que o álcool e a maconha foram as primeiras drogas consumidas pelos

participantes. O álcool representa 85,71% seguido da maconha com 14,30%. Tais informações

são coerentes com as últimas estatísticas feitas no âmbito nacional, relatadas no capítulo I.

O próximo gráfico permite visualizar idade inicial do uso.

Gráfico 7 - Característica quanto à idade inicial do uso da drogas

Fonte: A pesquisa

Conforme descrição, é perceptível o inicio às drogas,durante a adolescência,

sendo que 85,71% iniciaram o uso quando adolescentes quando 14,30% na fase adulta.

Também foram caracterizados a frequência do uso, que pode ser visualizado no

gráfico 8 a seguir.

24

Gráfico 8 - Característica quanto à idade inicial do uso às drogas

Fonte: A pesquisa

Observa-se que todos os participantes faziam uso abusivo de drogas todos os dias.

Outro fator também observado se refere à droga de preferência.

Gráfico 9 - Característica quanto à droga de preferência

Fonte: A pesquisa

Conforme o gráfico, a droga de maior preferência é o crack, representando o

percentual de 71,45%. Na sequência a cocaína 14,30% e o mesmo percentual para os

psicotrópicos , ou seja, 14,30%.

Os dois últimos tópicos nortearam a relação familiar.

25

Gráfico 10 - Característica quanto à relação familiar

Fonte: A pesquisa

Logo percebe-se que 71,42% tem contato com a família e 28,57% não possuem.

Acreditamos que a coleta de dados apresentada, construída a partir dos dados obtidos do

questionário, contribuiu para a próxima fase do andamento da pesquisa, a saber: a realização

das entrevistas que será discutida no próximo capítulo.

26

3 DROGAS, DEPENDÊNCIA QUÍMICA, FAMÍLIA E TRATAMENTO E SUAS

REDES DE ATENÇÃO.

3.1 Drogas: Breves Conceitos

Neste tópico faremos uma discussão sobre drogas, apresentando inicialmente o

significado etimológico, destacando duas finalidades para o uso de substâncias químicas para

o tratamento de doenças e o uso de substância com a finalidade de alterar o funcionamento

cerebral. Discutiremos também os tipos de drogas e seus efeitos no sistema nervoso central,

pontuamos também quanto a legalidade que consiste nas drogas lícitas e ilícitas.

Apresentaremos também os fatores de risco e de proteção pontuados pela Organização

Mundial da Saúde e por fim, faremos uma breve discussão sobre as dois tipos de drogas mais

consumidas no Brasil, conforme os Levantamentos apresentados no início desse trabalho, a

saber, o álcool e o crack.

Segundo Toscano(2001) o consumo de substâncias psicoativas sempre existiu em

toda a história da humanidade. O mesmo autor e outros afirmam, que não se conhece

nenhuma sociedade, em que o homem não tenha feito uso de substâncias entorpecentes, seja

para fins medicinais, seja em rituais religiosos, místicos, ou para se divertir..

Para Mota (2007) a palavra droga denota um significado tanto de remédio como

de veneno. De acordo com o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (OBID), o

termo droga teve origem na palavra droog (holandês antigo) cujo significado literal é “folha

seca”, devido ao fato de que quase todos os medicamentos produzidos na época eram

preparados à base de plantas. Segundo Oliveira (2008), pela palavra droga pode entender

como, qualquer elemento de origem mineral, animal ou vegetal que entre na composição de

medicamentos ou tinturas; nome genérico dado às substâncias que entram como ingredientes

em farmácia ou química; coisa de pouco ou nenhum valor.

No tocante ao conceito existente sobre drogas, consideramos a definição da

Organização Mundial da Saúde onde afirma que droga é qualquer substância não produzida

pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas,

produzindo alterações em seu funcionamento.

Vale destacar que existem substâncias que são usadas com a finalidade de

produzir efeitos benéficos, como por exemplo, no tratamento de doenças, como os

medicamentos. Porém, há aquelas substâncias que alteram o funcionamento cerebral, por essa

razão, são chamadas de substâncias psicoativas ou psicotrópicas. É o que pontua Oliveira

(2008) quando afirma que a droga possui vários termos que podem ser utilizados como seus

27

sinônimos, por exemplo, “psicotrópicos”, que se referem às substâncias que ocasionam

alterações na percepção, na emotividade e no comportamento; e substâncias entorpecentes

que se referem a todo produto químico capaz de gerar no usuário dependência física e/ou

psíquica.

Em relação sua atuação no sistema nervoso central, as drogas psicotrópicas

dividem-se em três grupos: Drogas que diminuem a atividade mental, são chamadas de

depressoras. Serrat (2010) explica que tais drogas agem de forma contrária, pois reduzem a

eficácia das funções do SNC, à medida que deprimem os tecidos excitáveis do cérebro. Em

relação ao comportamento afirma ser alterado e desordenado, pois há a perda dos reflexos.

“Fazem parte deste grupo: o ópio, opóides (heroína, morfina e metadona), hipnosedativos,

tranquilizantes, álcool e os inalantes (solventes orgânicos, nitritos voláteis, óxido nitroso)

(SERRAT, 2010).

Existem aquelas que aumentam a atividade mental, denominadas de estimulantes.

Segundo o mesmo autor, esse tipo de droga tem como função excitar os tecidos do Sistema

Nervoso Central, através da liberação de substâncias transmissoras ou pelo bloqueio das

células inibidoras, acelerando a função cerebral. Após o efeito da droga, o indivíduo pode

passar por um período de depressão, pois o organismo reconhece a agressão ocorrida,

exigindo a reposição das dosagens de tais substâncias. Os seus principais tipos são: “a

cocaína, o crack, as anfetaminas, o tabaco, o ecstasy e a cafeína” (SERRAT, 2010).

E existem também aquelas que alteram a percepção classificadas em

perturbadoras e/ou alucinógenas ou modificadoras estas alteram o humor, a percepção e a

imagem, isto é, o indivíduo enfrenta alterações sensoriais como deturpações na cor, forma,

ritmo e cheiro. “Os seus principais sintomas são: alucinações, ilusões e despersonalização. As

drogas mais conhecidas são: o LSD, o PCP, psilocibina, mescalina, MDA, MDMA e naturais

a maconha e o haxixe” (SERRAT, 2010).

Quanto à legalidade, as drogas são consideradas lícitas e ilícitas. Para Nicastri

(2014, p. 88), “são consideradas lícitas as drogas que podem ser comercializadas

livremente.”Algumas estão submetidas a certas restrições, como por exemplo, bebidas

alcoólicas e tabaco não podem ser comercializados para crianças e adolescentes. No caso de

medicamentos, alguns só podem ser adquiridos por meio de prescrição médica especial.

Quanto as ilícitas são aquelas proibidas por lei.

A partir das ponderações sobre drogas e da discussão sobre os Levantamentos

estatísticos apresentados no início desse trabalho,consideramos relevante refletirmos pelo

menos dois tipos de drogas, a saber, aquelas que estatisticamente estão sendo mais

28

consumidas nos dias atuais, sendo o álcool e o crack.

Sabemos que o álcool é a droga lícita mais comum na sociedade. Segundo Macrae

(2014) O álcool etílico é um produto da fermentação de carboidratos (açúcares) presentes em

vegetais. O álcool induz tolerância (necessidade de quantidades progressivamente maiores da

substância para se produzir o mesmo efeito desejado ou intoxicação) e síndrome de

abstinência (sintomas desagradáveis que ocorrem com a redução ou com a interrupção do

consumo da substância).

O mesmo autor pontua que o álcool atua primeiramente nas regiões do cérebro

que comandam o autocontrole e a censura interna. Em altas doses, diminui a capacidade de

perceber sensações e perturba a coordenação muscular, a memória e o julgamento. Em

grandes quantidades e por um período longo de tempo, pode danificar permanentemente o

fígado e o coração, além de provocar danos irreversíveis para o cérebro. A mesma substância

é causadora também do aparecimento de doenças como a cirrose, gastrite, polineurite, anemia,

pelagra e úlceras cutâneas além de impactos sociais como conflitos familiares, violência,

acidente de trânsito, dentre outros.

Segundo Laranjeira (2004, p. 8),

temos poucas informações sobre o custo social do álcool,mas dados coletados por

agências internacionais sugerem que pagamos um alto preço pelo álcool. A OMS

criou índices que mostram que o Brasil tem o dobro do custo social em relação ao

álcool do que os EUA.

Além do álcool, o crack tem sido um tipo de droga mais consumida em nosso

contexto nacional. Segundo as pesquisas apresentadas, infere-se que essa droga tem

comprometido a vida de muitos dependentes químicos. Para Lima (2008), dentre as drogas

mais utilizadas pelas pessoas em situação de rua, o crack, ou seja, a “pedra” (como é chamado

pelos que vivenciam nas ruas) é uma das substâncias mais consumidas, haja vista por ser

produto de valor relativamente baixo e de fácil acesso

Marcelo Cruz; Renata Vargens e Marise Ramo (2014) definem essa substância

sendo uma mistura de cloridrato de cocaína (cocaína em pó), bicarbonato de sódio ou amônia

e água destilada, que resulta em pequeninos grãos, fumados em cachimbos (improvisados ou

não). É obtido do pó da cocaína e pode ser fumado em cachimbos especiais. Atinge o cérebro

de maneira intensa e perigosa, levando o indivíduo rapidamente à dependência, à loucura e à

morte. Pontua também que o nome crack é derivado do ruído característico que é produzido

pelas pedras quando são decompostas pelo fumo. O crack é, portanto, uma droga que leva a

molécula de cocaína ao cérebro.

Os mesmos autores afirmar que essa substância é fumada, o vapor aspirado é

rapidamente absorvido pelos pulmões e alcança o cérebro em 6 a 8 segundos. Quando a droga

29

é injetada nas veias demora de 16 a 20 segundos e, quando cheirada, demora de 3 a 5 minutos

para atingir o mesmo efeito. Fumar crack é a via mais rápida de fazer com que a droga chegue

ao cérebro e, provavelmente, essa é a razão para a rápida progressão da dependência.

Exemplificam que quando atinge o cérebro, produz sensação de prazer e satisfação. A área do

cérebro estimulada pela droga é a mesma que é ativada quando os instintos de sobrevivência e

reprodução são satisfeitos, como, por exemplo, quando a pessoa tem satisfação sexual ou

quando bebe água para saciar a sede. Esta é uma das principais regiões envolvidas com os

quadros de dependência.

No uso dessa substância tinham um viés diferente dos dias hodiernos. Sielski

(1999), afirma que inicialmente as substâncias eram utilizadas com finalidades mágicas, com

o objetivo de incrementar com as mesmas a pretensa ação de feitiços e encantamentos. Na

mesma direção, Gikovate (2004) afirma que nos primórdios da civilização elas exerciam uma

função bem diferente dos dias atuais, as drogas eram usadas como remédios, tendo elas o

objetivo de atenuar problemas de ordem física. Assim, ao usá-las, o indivíduo tinha as suas

necessidades suprimidas, pelo menos enquanto durassem seus efeitos.

Tais motivações se diferem dos dias atuais. Para Macraev (2014) os fatores que

levam uma pessoa a consumir drogas modificaram significativamente nas últimas décadas, o

que contribuiu para o padrão do uso problemático, tendo se despregado serem motivações

religiosas, médicas ou culturais. Rappaport (2000) afirma que as pessoas que entram em

contato com as drogas, buscam nelas adquirir bem-estar e esquecer ou fugir dos problemas e

acreditam que tem o controle sobre o seu uso, o que na maioria das vezes não acontece.

Segundo Motta (2007) muitas variáveis (ambientais, biológicas, psicológicas e

sociais) atuam simultaneamente para influenciar a tendência de qualquer pessoa vir a usar

drogas e isto se deve à interação entre o agente (a droga), o sujeito (o indivíduo e a sociedade)

e o meio (os contextos socioeconômicos e culturais. No mesmo sentido, Varanda (2009

considera que o uso de drogas apresenta uma série de fatores vinculados não somente ao uso

recreativo e de aspecto de privilégio dos que as consomem, mas também por outros fatores

(estruturais, psicológicos, emocionais, etc.

Nesse âmbito, a Organização Mundial da Saúde, considera dois fatores ambientais

de risco e proteção que interferem na etiologia da dependência química. A saber: Fatores de

Risco: Fácil disponibilidade de drogas, pobreza, mudanças sociais, cultura permissiva do

círculo de amigos em relação ao uso de drogas, profissão, normas, atitudes culturais e

ausência de políticas sobre álcool, tabaco e outras drogas. Fatores de proteção: Situação

econômica estável, controle das situações, apoio social, integração social e acontecimentos

30

positivos na vida. (OMS, 2004). No mesmo sentido, Schenker e Minayo (2005) expressam

com mais detalhes que os fatores de risco e de proteção em relação ao uso de drogas estão

relacionados a seis domínios da vida sendo o individual, o familiar, o escolar, o midiático, os

amigos e a comunidade de convivência.

Na compreensão de Viana (2006), o consumo de drogas também está ligado à

carência, à fraqueza física, moral, psíquica e social. Assim, devem-se levar em consideração

diversos fatores da vida do usuário considerando seu contexto social e histórico e as

dimensões psicológicas e econômicas. Nesse sentido reconhecemos o quanto autores

comprometidos com essa temática consideram significativos os aspectos sociais, familiares e

psicológicos no que concerne a busca pelas drogas.

Outro fator de risco é destacado pelo Observatório Brasileiro de Informações

sobre drogas (2014), a saber, a propaganda que incentiva e mostra apenas o prazer que a

droga causa e o prazer intenso que leva o indivíduo a querer repetir o uso. Além disso,

existem fatores do próprio indivíduo, como por exemplo, a insegurança, insatisfação com a

vida, sintomas depressivos, curiosidade e busca do prazer. Um jovem, por exemplo, que não

consegue se destacar em algum esporte, estudos e relacionamentos sociais, dentre outras

ações, pode buscar nas drogas a sua identificação.

No mesmo sentido, Bahrke e colaboradores (1998) afirmam que a insatisfação

com a própria imagem corporal e a deposição de muita importância nos atributos físicos

podem se tornar fatores de risco para o uso dessas substâncias, que acabam desempenhando

um papel na manutenção da auto-estima desses jovens. Destacam também que o efeito das

drogas podem proporcionar, de forma imediata, uma melhora desses sintomas, sendo uma

tentativa de “auto-medicação”. Segundo estudo desenvolvido com adolescentes dependentes,

aqueles que apresentavam sintomas depressivos evoluíam mais rápido da experimentação

para o uso regular e também consumiam drogas mais fortes, como a cocaína, em alguns casos,

sem ter usado substâncias mais “leves” anteriormente, como a maconha (SCIVOLETTO,

1997).

As mudanças sociais, conforme já descrito acima, é também um dos fatores

sociais de risco relevantes para a compreensão do fenômeno estudado. “Numa perspectiva

histórica, pode-se dizer que a droga tornou-se um problema de saúde pública, a partir da

metade do século XIX” (BERGERET, 1991). Mota (2009) ressalta que a morfina, um

importante alcalóide encontrado no ópio, que no inicio do século XIX foi considerada uma

“bênção” por parte dos soldados feridos na Guerra Civil Americana, sendo utilizada como

analgésico, esta substância passou a ser produzida em larga escala. O autor ainda afirma que é

31

nesse período que começam a surgir os primeiros casos de dependência química devido a

mudanças significativas quanto aos padrões de consumo de substâncias psicoativas.

Nesse âmbito , cabe a seguinte citação:

A partir da necessidade de superar as consequências do incremento dos meios de

produção, a modernidade fomentou guerras, exploração, fadiga, mal-estar, que

ocasionariam consequências sociais de grandes proporções. Então, para minimizar

esses efeitos colaterais do “progresso”, era necessário desenvolver drogas cada vez

mais eficazes. Ideologias universalizantes como o liberalismo ou seriam os

“remédios sociais”. Mas, no que tange ao corpo, era necessário desenvolver novas drogas que pudessem ser comercializadas sob a mesma lógica de desenvolvimento

das forças produtivas. Mesmo as bebidas alcoólicas, já tradicionais há milênios,

deveriam ser mais fortes e disponíveis em larga escala (MOTA, 2009, p. 44- 45).

É importante ressaltar que a partir do século XX, a sociedade é marcada pela

reestruturação produtiva do capital, uma larga escala na produção de mercadorias, como por

exemplo, a indústria de bebidas alcoólicas e consequentemente o barateamento dessas bebidas

facilitam de alguma forma a comercialização e a disponibilidade de drogas. O aumento da

desigualdade social, desemprego, instabilidade no trabalho, pelo risco, pelo efêmero. É uma

sociedade marcada pelo exacerbamento. Ou seja, o poder econômico em detrimento do social

modificando nosso mundo subjetivo. Como a sociedade cada vez mais “coisifica” o homem,

encarando-o como uma máquina, desumanizando-o, acaba deixando de lado valores humanos

e afetivos importantes. “Assim, a busca pelas drogas não é mais do que uma das

consequências da alienação histórico-social, política e econômica, através da qual se

manifesta a dramática dissociação em que vivemos” (Kalina & cols., 1999, p. 88). Na

compreensão dos mesmos autores, é um sintoma da crise que atravessamos, decorrentes de

uma gama de fatores incluídos na dimensão familiar, social e individual, “bem como das

rápidas e consistentes mudanças no modo de organização das sociedades industrializadas”

(TOSCANOS, 2001).

“Diante disso, a busca pela droga, torna-se um caminho favorável para aqueles

que se sentem excluídos dessa dinâmica econômica, tendo em vista que o efeito da droga

causa “alívio” (HYGINO E GARCIA, 2003)”. Os mesmos pontuam também, que a droga não

deve ser entendida simplesmente como um entorpecente, um componente químico que produz

sensações específicas no corpo biológico, mas como um recurso mediador, ou seja, um

artifício por meio do qual se satisfaz uma necessidade psíquica e social.

Na mesma direção, Silva (2000) pontua que a busca pelas drogas é visto como

resultado de uma falta de adaptação à realidade e uma ausência de habilidade do indivíduo em

lidar com o meio social, ou ainda de uma incapacidade em resolver os problemas que a vida

32

lhe apresenta (SILVA, 2000). Pratta & Santos (2006), considera que as últimas décadas a

dependência física e/ou psíquica causada pelas drogas entre os jovens tem aumentado, na

busca de intensificar o prazer e diminuir o sofrimento, e assim proporcionando danos muitas

vezes irreversíveis ao dependente químico e á sociedade.

No intuito de compreendermos melhor o fenômeno da dependência química,

discutiremos esse assunto no tópico a seguir.

3.2 Dependência Química: Uso, Abuso e Dependência

Neste tópico faremos uma breve discussão sobre dependência química destacando

o significado desse fenômeno, logo, destacaremos a diferença entre o uso de drogas, o uso

nocivo ou abuso e a dependência química. Refletiremos também sobre a dependência química

enquanto doença segundo a Classificação Internacional das Doenças CID 10, destacando

também os sintomas que a caracterizam e por fim, discutiremos a dependência física e a

psicológica causada pela doença.

O termo dependência é usado para se referir a um tipo de comportamento

caracterizado pelo abuso e falta de limite entre o sujeito e o objeto que abusa. Sendo assim,

pode haver dependência à comida, a chocolate, ao café, aos medicamentos, etc. No que

concerne à dependência química, é a dependência de substâncias psicoativas. Esse tipo de

dependência é caracterizada pela perda do controle do uso que modifica o comportamento do

indivíduo, é um sentimento de necessidade pela droga ou uma compulsão aguda pelo uso.

Para uma melhor compreensão sobre esse fenômeno, vale ser destacado a

diferença existente entre o uso de drogas, o uso nocivo e a dependência, tendo em vista que

cada aspectos desses têm suas diferenças, sintomas e características singulares. Bucher (1995)

diz que o uso de drogas não leva automaticamente ao estado de dependência. Passa-se ao

abuso com a perda de controle sobre o uso.

Para Figlie (2004), o uso pode ser definido como, o consumo de qualquer

substância, podendo ser um consumo experimental, esporádico ou episódico. Já, o uso nocivo

é um padrão de consumo que está associado a algum tipo de prejuízo, quer em termos

biológicos, psicológicos ou sociais e, por fim, a dependência que é o consumo de substâncias

de uma forma descontrolada e associada a muitos problemas para o usuário.

Para Silveira(2014), é inegável a existência de padrões diversos de relacionamento

com as substâncias psicoativas, de forma que não seria correto considerar que todo uso seja

patológico ou problemático. Essa constatação é valida para o uso de qualquer substância

33

psicoativa, seja ela lícita, seja ilícita; contudo, mesmo o uso ocasional não é isento de riscos,

como podemos verificar, por exemplo, através dos numerosos casos de acidentes de trânsito

ocasionados por motoristas sob efeito do álcool.

Compreendendo as diferenças explicitadas, segue a conceituação de dependência

química de acordo com Silveira (2004, p. 14):

A Dependência é o impulso que leva a pessoa a usar uma droga de forma contínua

(sempre) ou periódica (frequentemente) para obter prazer. Alguns indivíduos podem

também fazer uso constante de uma droga para aliviar tensões, ansiedades, medos, sensações físicas desagradáveis, etc. O dependente caracteriza-se por não conseguir

controlar o consumo de drogas, agindo de forma impulsiva e repetitiva.

No âmbito legal, a dependência química é reconhecida como uma doença e possui

tratamento. A explicação mais atual encontra-se na CID 10 – Classificação Internacional das

Doenças onde aborda esse fenômeno de forma global.

Um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se

desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente

associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o

consumo, à utilização persistente apesar das suas consequências nefastas, a uma

maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e

obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de

abstinência física. A síndrome de dependência pode dizer respeito a uma substância

psicoativa específica (por exemplo, o fumo, o álcool ou o diazepam), a uma

categoria de substâncias psicoativas (por exemplo, substâncias opiláceas) ou a um conjunto mais vasto de substâncias farmacologicamente diferentes. (BALLONE,

2001, p. 12).

Segundo o mesmo código, dependência química é uma doença progressiva,

crônica, primária e que gera outras doenças, mais especificamente caracterizada como um

transtorno mental e comportamental devido ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras

substâncias psicoativas. No mesmo âmbito, “a dependência química é mundialmente

classificada entre os transtornos psiquiátricos, sendo uma doença de curso crônico e que

acompanha o indivíduo para o resto da vida, mas que pode ser tratada e controlada” (

LARANJEIRA, 2012).

Nessa mesma direção, Vizzolto (1991) apresenta os seguintes sintomas que

caracterizam a dependência química. Sendo a Tolerância caracterizada pela necessidade de

aumento da dose para se obter o mesmo efeito; Crises de abstinência, caracterizado pela

ansiedade, irritabilidade, insônia ou tremor quando a dosagem é reduzida ou o consumo é

suspenso; Ingestão em maiores quantidades ou por maior período do que o desejado pelo

indivíduo; Desejo persistente ou tentativas fracassadas de diminuir ou controlar o uso da

substância; Perda de boa parte do tempo com atividades para obtenção e consumo da

34

substância ou recuperação de seus efeitos; Negligência com relação a atividades sociais,

ocupacionais e recreativas em benefício da droga; Persistência na utilização da substância,

apesar de problemas físicos e/ou psíquicos decorrentes do uso.

A dependência química é caracterizado por vários sinais e sintomas. Nesse

sentido, a Organização Mundial da Saúde (2003) destaca que, caso o sujeito apresente três ou

mais das situações abaixo, serão fortes os indícios de presença da dependência química. São

eles: Desejo acentuado ou compulsão para usar uma substância psicoativa, dificuldade em

controlar o consumo, presença da síndrome de abstinência ou uso da substância para evitar os

seus sintomas, tolerância, evidenciada pela necessidade de aumentar a quantidade da droga

para obter o mesmo efeito, interesse centrado na droga em detrimento de todos os outros e

persistência no uso, apesar de todos os prejuízos.

A partir da compreensão desses sintomas, vale apontar as considerações de

Silveira (2004), quando afirma que a dependência química se apresenta de duas formas: a

física e a psicológica. A forma física consiste na necessidade sempre presente, a nível

fisiológico, o que torna impossível a suspensão brusca das drogas. Essa suspensão acarretaria

a chamada crise da "abstinência". A dependência física é o resultado da adaptação do

organismo, independente da vontade do indivíduo. A dependência física e a tolerância podem

manifestar-se isoladamente ou associadas, somando-se à dependência psicológica. A

suspensão da droga provoca múltiplas alterações somáticas, causando a dramática situação do

delirium tremens. Isto significa que o corpo não suporta a síndrome da abstinência, entrando

em estado de pânico. Sob os efeitos físicos da droga, o organismo não tem um bom

desenvolvimento.

O mesmo autor, destaca que na dependência psicológica, o indivíduo sente um

impulso irrefreável, tem que fazer uso das drogas a fim de evitar o mal-estar. A dependência

psicológica indica a existência de alterações psíquicas que favorecem a aquisição do hábito. O

hábito é um dos aspectos importantes a ser considerado na toxicomania, pois a dependência

psíquica e a tolerância significam que a dose deverá ser ainda aumentada para se obter os

efeitos desejados. A tolerância é o fenômeno responsável pela necessidade sempre presente,

que o dependente sente em aumentar o uso da droga. Em estado de dependência psíquica, o

desejo de tomar outra dose ou de se aplicar, transforma-se em necessidade, que, se não

satisfeita, leva o indivíduo a um profundo estado de angústia, (estado depressivo).Segundo

Silveira, (2004) esse estado de angústia, por falta ou privação da droga, é comum em quase

todos os dependentes químicos.

35

Torloni (1977) refere-se à dependência química como algo que atinge os fatores

físicos e psicológicos no individuo. Para ele a droga proporciona no individuo um desejo de

consumo incontrolável devido seus efeitos prazerosos, o que faz com que a falta desta

ocasione sensações desagradáveis como a síndrome de abstinência. Devido a isso o agente

usuário é levado a ingerir a droga em doses cada vez maiores, tendo como consequência a

dependência física e psíquica. Monteiro (2000) também destaca que a dependência química é

um estado do organismo proveniente do uso periódico ou contínuo de certas drogas o que leva

a um desejo físico e/ou psíquico do seu uso.

Diante das reflexões, é mister afirmar que a dependência química não tem uma

causa única, e para uma melhor compreensão cabe a compreensão de Olivenstein (1985)

quando considera que o envolvimento com as drogas acontece a partir de uma relação

triangular entre o sujeito,a droga e o contexto. Em consonância com o autor, acreditamos que

a dependência química deve ser compreendida também a partir de uma dimensão social,

privilegiando as relações familiares. Nessa direção, discutiremos a categoria família no

próximo tópico.

3.3 Família

Para uma melhor compreensão dessa temática, acreditamos ser necessário realizar

uma breve contextualização sobre essa instituição histórica, apresentando a diversidade dos

conceitos que se manifestam através da história, além de uma discussão sobre as

transformações do modelo da família patriarcal, destacando a gama de fatores que

modificaram a vida da família, nesse estudo, a brasileira. Nesse sentido, pontuaremos sobre as

novas configurações familiares, apresentando os conceitos dos novos arranjos além de uma

breve pontuação do último estudo sobre o perfil da família brasileira realizado em 2010 pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, destacando o aumento significativo da família

monoparental.

No que concerne a compreensão sobre família, é condizente que se fale de

famílias no plural e não de família , tendo em vista os diversos modelos existente desse

fenômeno e sua relação com as transformações que ocorrem em sociedade.

De acordo com Bruschini (2000) várias literaturas tem colocado em questão a

diversidade de conceitos sobre família. Muitas são as correntes que tentam compreender seus

pensamentos, ratificando assim, a multiplicidade de dimensões e as variações pertinentes a

esse grupo social.

36

Numa dimensão histórica, até a década de 1950 foi a teoria funcionalista que

dominou o pensamento norte americano sobre família. De acordo com Parsons (1955) essa

teoria procura mostrar também um modo de padrão ideal de família, definindo bem o papel da

figura masculina paterna e figura feminina materna, que tem desempenhos completamente

diferenciados, onde o pai é visto como o líder e provedor e a mãe responsável pelo sustento

emocional, propondo assim a família nuclear .

De acordo com Bruschini (1990) a estrutura doméstica patriarcal era caracterizada

pela importância central do núcleo conjugal e da autoridade masculina onde era visto como

um chefe ou “coronel” - detentor de poder econômico e político. A distribuição de papeis

além de bem rígida, era hierárquica. Os casamentos, na maioria das vezes, eram realizados

por conveniência e interesses entre grupos econômicos.

Nesse sentido, podemos afirmar que durante muito tempo, o perfil da família

brasileira perdurava uma imagem vinculada a esse modelo, onde o conceito de família era

relacionado apenas ao sentido genérico e biológico. No entanto, vale ser pontuado que nos

dias atuais não se conceitua família com um olhar voltado para um modelo único e ideal, até

porque, conforme pontua Losacco (2010) vemos hoje que a configuração familiar modifica-

se profundamente.

Para Kalina (psiquiatra e psicanalista) & Kovadloff (filósofo e poeta):

A instituição família é o contexto primário no qual se produz o desenvolvimento do

ser humano. (...) Uma família se define muito mais pela 'intimidade partilhada' por

aqueles que a integram, do que pelas normas e critérios legais que lhe dão realidade

formal. Essa atmosfera de intimidade não coincide necessariamente com os laços de

sangue ou com qualquer um dos enunciados clássicos que caracterizam a chamada 'célula familiar' (KALINA & KOVALDLOFF, 1980).

A partir do século XIX, com o advento da industrialização, a abolição da

escravatura e a imigração, começam as transformações do modelo de família patriarcal, onde

segundo Correia (1982, p 27) “a tal família é trocada pela família conjugal moderna, típica do

mundo urbano e reduzida ao casal com filhos, na qual, a relação conjugal já não possui mais

em sua essência a manutenção de uma propriedade comum ou de interesses político, mas com

destaque para as funções afetivas”.

Para Mioto (1997) a família passou a ser conhecida no plural, visando abarcar,

dentro da concepção, a diversidade de arranjos familiares presente hoje na sociedade

brasileira. Nessa direção, Oliveira (2008) define família como um conjunto de indivíduos

atados entre si por laços que vão além dos sanguíneos, o que resultam nas ligações de

parentesco nas quais os valores, como a assistência e a solidariedade, são assumidas de

37

maneira distinta, variando de indivíduo para indivíduo. Para Ariès (1981) família é uma

construção social que varia segundo as épocas, permanecendo, no seu seio aquilo que se

chama de “sentimento de família”.

Mas que arranjo são esses? O autor abaixo faz a descrição e ao mesmo tempo uma

breve caracterização de cada uma.

Nuclear: também chamada de biparental, composta pelo pai, mãe e filhos. Nela se

destacam as funções social, política, sexual, econômica, reprodutiva e educativa.

Extensas ou ramificadas: neste tipo de arranjo familiar, estão incluídas diferentes gerações na mesma família; Associativas: é o tipo de família na qual, as pessoas com

as quais existem estreitos laps afetivos, também estão inseridos como membros;

Adotivas: atribui-se esta denominação ao conjunto de pessoas que, ao se

encontrarem, desenvolvem afinidades, passam a conviver considerando-se uma

mesma família, independente de qualquer consanguinidade. tendo-se por exemplo:

estudantes que vivem em residências universitárias ou que dividem apartamento ou

outros espaços residenciais; Duais ou monoparentais: este tipo de arranjo familiar é

assim denominado por ser aquele formado por apenas dois membros: mãe-filho, pai-

filho, esposo-esposa / companheiro-companheira; Ampliadas; são as famílias

formadas sem necessidade de haver espaço físico comum, nem de desempenhar

todas as funções tradicionais em conjunto. As pessoas se consideram como parentes, "psicologicamente falando". Recompostas: são àquelas famílias (marido, esposa e

filhos ou um dos cônjuges e filhos), que após uma primeira experiência não bem

sucedida. fazem uma nova tentativa com o mesmo ou com outro cônjuge

(RODRIGUES,2000).

Para que se compreenda a modificação do padrão das famílias, é necessário

entender que tal fenômeno passou por intensas e diversas transformações. Segundo Pereira

(2004) é em 1990, período da reestruturação produtiva, que as famílias tornaram-se mais

efêmeras e heterogêneas.

Na mesma direção, Claudia e Valeria (2014) considera que o agravamento das

expressões da expressões da questão social3 decorrente do processo dessa reestruturação, ou

seja, das transformações demográficas da retração do Estado, sobretudo no âmbito das

políticas públicas, a adoção do ideário neoliberal, têm repercussões diretas no âmbito das

famílias.

Como consequência, Montali (2000) descreve o avanço tecnológico, o aumento

do desemprego, a precarização das relações de trabalho e a inserção dos diferentes membros

da família no mercado de trabalho, principalmente das mulheres. Nesse sentindo os autores

Amazonas e Braga (2006) fazem a seguinte pontuação: Ao falar da família, o mais adequado

seria nos referir a uma trans- historicidade do laço familiar, ao invés de uma "eternidade" da

3 Conforme define Iamamoto (2005), a Questão social é “o conjunto das expressões das desigualdades sociais da

sociedade capitalista madura que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho

torna-se amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma

parte da sociedade” (p.27)

38

família. Nunca existiu "a família" e, hoje, principalmente, o que há são "famílias". As

transições ocorridas nos âmbitos cultural, econômico, político e social têm afetado essa

instituição de uma forma, talvez, jamais vista na História. Entre elas, elencamos: as mudanças

demográficas, em especial a maior longevidade humana; a participação crescente da mulher

no mercado de trabalho; o divórcio e as organizações familiares distintas da família nuclear

tradicional; o controle sobre a procriação a partir dos anticonceptivos; as transformações

ocorridas nos papéis parentais e de gênero (AMAZONAS e BRAGA, 2006, p. 4).

Vale destacar que foi uma gama de fatores que modificaram a vida de homens e

mulheres. De acordo com o IBGE (2012) os novos arranjos familiares são resultados do

aumento da expectativa de vida e da diminuição da fecundidade o que faz com que aumente a

convivência com avôs/avós/netos/netas e diminua o tamanho médio das famílias. Ainda é

resultado do crescimento de uniões consensuais e divórcios que proporciona um aumento no

número de famílias reconstituídas e famílias monoparentais.

Nogueira e Monteiro (2014) destacam o aumento significativo das famílias

monoparentais, com predominância de mulheres como chefes de família, aumento das

famílias recompostas como consequência do maior número de separações e divórcios, das

famílias inter geracionais ( três gerações vivendo sobre o mesmo teto). Destacam também o

aumento da coabitação e união consensual, dos casais sem filhos, de pessoas morando

sozinhas, além de famílias compostas (formadas por pessoas sem laços de parentesco)

Nessa mesma direção, Acosta e Amalia (2006) afirmam que a família deixa de ser

aquela constituída unicamente por casamento formal. Hoje, diversifica-se e abrange as

unidades familiares formadas seja pelo casamento civil ou religiosos, seja pela união estável,

seja grupos formados por qualquer um dos pais ou ascendentes e seus filhos, netos ou

sobrinhos, seja por mãe solteira, seja pela união de homossexuais (mesmo que ainda não

reconhecida em lei). Para as mesmas autoras essas configurações se constroem mais no afeto

do que nas relações de consanguinidade, parentesco ou casamento.

No que concerne a diversidade de relações familiares do Brasil contemporâneo,

dados do IBGE (2010) aponta a redução da tradicional formação nuclear onde representa hoje

49% dos domicílios, enquanto em 1980 representava 75%. Ou seja, as demais configurações

já representam a maioria, um total de 50,1%. A mesma fonte de pesquisa destaca também a

existência de 600 mil uniões homoafetivas e de 400 mil domicílios em que grupos de amigos

coabitam e dividem despesas, convivendo debaixo do mesmo teto como se fossem uma

família, sem, no entanto, terem laços de sangue.

Diante das reflexões feitas, cabe também pontuarmos que o papel da família

39

assume um caráter inovador, pois diante desse contexto, que de alguma forma provoca

instabilidade familiar, os familiares necessitam se organizar, no sentido de trabalhar suas

diferenças.

Nesse mesmo sentido, Kaloustian (2005) afirma que a família, independente dos

arranjos familiares, é responsável pelos aportes afetivos e materiais, que venham favorecer o

desenvolvimento e bem estar dos seus componentes, desempenhando um papel decisivo na

educação formal e informal e favorecendo a assimilação de valores éticos e humanitários.

Direcionando essa categoria para temática em estudo, acreditamos que a família exerce

também um papel significativo no que concerne ao tratamento do dependente químico,

assunto que será tratado nos próximos tópicos.

3.4 Tratamento e suas Redes de Atenção

Nesse tópico, iremos pontuar historicamente sobre as primeiras intervenções

estatais sobre drogas ilícitas no Brasil, datadas do século XX, destacando algumas leis e

decretos, criação de órgãos governamentais que contribuíram para a construção da Política

Nacional sobre Drogas no Brasil pontuando os objetivos e pressupostos dessa política, além

de uma breve reflexão sobre a existência de dispositivos e redes de atenção de saúde e de

assistência social para o atendimento aos usuários de substâncias psicoativos, com enfoque

nas Comunidades terapêuticas, tendo em vista o local que esse trabalho foi realizado .

Segundo Ferreira e Luis (2004), no final do século XIX e primeira metade do

século XX, a assistência ao uso de drogas, era vinculada apenas à assistência psiquiátrica.

Nesse sentido, podemos dizer que a forma como a sociedade e o Estado compreendia o

conceito de saúde, implicava de certa forma na elaboração das leis, assim como também no

modelo de tratamento. É em 1948, segundo Rezende (1986), que a Organização Mundial da

Saúde (OMS) propôs,em sua Carta Magna de 7 de abril, um conceito de saúde diferenciado,

correspondendo a um estado de completo bem estar físico, mental e social, e não apenas a

mera ausência de moléstia ou doenças. Tais modificações contribuíram para a proposta de um

novo modelo de tratamento, o psicossocial.

No que concerne ao processo histórico das leis sobre drogas no Brasil, Oliveira

(2003) afirma que uma das primeiras, se refere à Lei nº 6.368/76, podendo ser considerada um

avanço, em contrapartida era criminaliza Dora. No ano 1980, especialmente no Governo de

João Figueiredo, foi instituído o Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão de

Entorpecentes. Já em 1986, foi criado o Fundo de Prevenção, Recuperação e Combate às

40

Drogas de Abuso. (FUNCAB). Na década de 90, precisamente em 1993, foi criada através da

Lei 8.764 a Secretaria Nacional de Entorpecentes, ligada ao Ministério da Justiça. Esta

secretaria tinha por finalidade supervisionar, acompanhar e fiscalizar a execução das normas

estabelecidas pelo Conselho Federal de Entorpecentes (BRASIL, 1993).

È a partir de 1988 que o Brasil dá início à construção de uma política nacional

específica sobre o tema da redução da demanda e da oferta de drogas. Paulatinamente foi

havendo algumas modificações, como por exemplo, O Conselho Federal de Entorpecentes

(CONFEN) foi transformado no Conselho Nacional Antidrogas (CONAD), sendo criada pela

Medida Provisória nº 1.669 e Decreto nº 2.632 de 19 de junho de 1998 a Secretaria Nacional

Antidrogas, atualmente Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD). Em 2000,

cria-se o Sistema Nacional antidrogas (SISNAD) com objetivo de ampliar o enfrentamento.

Em 2001, foi criada a Lei 10.216 no dia 06 de abril de 2001 que “dispõe sobre a

proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo

assistencial em saúde mental” (BRASIL, 2001). Portanto, ao entrar em vigor, a Lei 10.216/01

passou a reorganizar o modelo de atenção às pessoas portadoras de transtornos decorrentes da

saúde mental, um modelo diferenciado, pois outrora os usuários de drogas eram tratados em

asilos e manicômios. A partir dessa lei, a saúde pública passou a ampliar sua atenção,

incluindo ações relativas de tratamento, prevenção e reinserção social.

Posteriormente, em 2002, ancorada pela proposta da III Conferência Nacional em

Saúde Mental, as ações foram se voltando para a diminuição de leitos de hospitais

psiquiátricos e da implantação de serviços ambulatoriais. Nesse sentido, Iniciou-se um espaço

preciso de discussões sobre a necessidade de novas formas de atenção aos portadores de

transtorno mental, incluindo os usuários de álcool e outras drogas. Nessa direção, são criados

os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) através da Portaria GM/336 de 19 de fevereiro de

2002 (MS, 2002) e hospitais mentais especializados criados pela portaria SAS/189 de 20 de

março de 2002 (MS, 2002).

Representando um avanço nas políticas públicas sobre drogas, é instituído através

do Decreto Presidencial nº 4.345 de 26 de agosto de 2002, a Política Nacional Antidrogas

(PNAD) (BRASIL, 2002). Tal política tinha como objetivos prenotar a questão do uso e

abuso de álcool e outras drogas como problema de saúde pública; indicar o paradigma da

redução de danos nas ações de prevenção e de tratamento; formular políticas que pudessem

desconstruir o senso comum de que todo usuário de droga é um doente que requer internação,

prisão ou absolvição e mobilizar a sociedade civil, proporcionando-lhe condições de exercer

seu controle, participar das práticas preventivas, terapêuticas e reabilitadoras, bem como

41

estabelecer parcerias locais para o fortalecimento das políticas municipais e estaduais

(BRASIL, 2002).

Para Oliveira (2003) por mais que a PNAD tenha sua gênese num órgão de

Segurança Pública, ela apresentou uma abordagem bem ampla, distante de medidas de

repressão. Ela reúne a noção de redução de danos, menciona acerca das drogas lícitas, através

da participação da sociedade na sua elaboração. Logo, representou um avanço significativo.

Considerando as transformações sociais, políticas e econômicas pelas quais o país

e o mundo vinham passando, o Presidente da República apontou a necessidade de construção

de uma nova Agenda Nacional para a redução da demanda e da oferta de drogas no país que

viesse completar três pontos principais: integração das políticas públicas, descentralização das

ações; estreitamento das relações (BRASIL, 2013). Nesse sentido, foi necessário um

realinhamento da PNAD, que em 23 de maio de 2005, passou a se chamar de Política

Nacional sobre Drogas (PNAD), sendo substituído o prefixo “anti” pelo termo “sobre”.

(BRASIL, 2013). Na mesma direção, superando uma legislação de trinta anos, a qual se

apontava atrasada e contraditória diante das transformações sociais, houve a aprovação da Lei

nº 11.343/06, que designou o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD),

antes, conforme já relatado, Sistema Nacional antidrogas.

É interessante ressaltar que após essa modificação, a Política Nacional sobre

Drogas (PNAD), pontuou e realinhou alguns pressupostos básicos e objetivos, sendo eles a

prevenção, o tratamento, a recuperação e reinserção Social, a redução de danos sociais e a

Saúde, redução da Oferta, estudos, pesquisas e avaliações.(SENAD, 2014)

Diante do aumento das problemáticas advindas do uso e abuso de drogas, dentre

elas o crack, além do aumento da criminalidade, o governo federal na busca de soluções

concretas lançou em 20 de maio de 2010, por meio do Decreto nº 7.179, o Plano Integrado de

Enfrentamento ao crack e outras Drogas, que indicou a implementação de ações para a

abordagem do tema de forma intersetorial. (BRASIL, 2013). Um dos objetivos desse

programa é aumentar a oferta de tratamento de saúde aos usuários de drogas e seus familiares,

por meio da ampliação dos serviços especializados, como os Consultórios na Rua, os Centros

de Atenção Psicossocial álcool e drogas (CAPS ad), as unidades de Acolhimento adulto e

infantojuvenil e outros (BRASIL, 2013).

No que concerne a existência de dispositivos e redes de atenção de saúde e de

assistência social para o atendimento aos usuários de substâncias psicoativos, fazem parte

também as Comunidades terapêuticas.

A nível histórico, o termo “comunidade terapêutica” (CT) foi primeiro usado por

42

Maxwell Jones, que dirigia o hospital Dingleton, na Escócia. O Dr. Jones era um psiquiatra

preocupado com o fato de que psiquiatria tradicional parecia não estar ajudando os pacientes.

Convocou vários profissionais para uma reunião mundial, visando investigar como falar

diretamente com seus pacientes, procurando desmistificar a imagem autoritária da profissão,

insistindo na ideia da autoajuda e que todos deveriam trabalhar juntos para ajudarem a si

mesmos e aos demais (BRASÍLIA, 2013).

Processualmente essas ideias foram difundidas e o que esclarece Fracasso (2009),

é que em 1958, um pequeno grupo de alcoolistas em recuperação decidiu viver juntos para,

além de ficar em abstinência, buscarem um estilo alternativo de vida. Fundou em Santa

Mônica, na Califórnia, a primeira Comunidade Terapêutica (CT) que se chamou Synanon.

Adotando um sistema de relacionamento direcionado em uma atmosfera quase carismática, o

que para o grupo foi muito terapêutico. Podemos afirmar que a CT teve seu início para os

alcoolistas, Segundo Fracasso (2009), “esse tipo de alternativa terapêutica se consolidou e deu

origem a outras CTs que, conservando os conceitos básicos, aperfeiçoam o modelo proposto

pela Synanon”.

Nessa direção, o número de CT foram crescendo. Fracasso (2009) afirma ser em

1968, na cidade de Goiânia, que surgiu a primeira comunidade terapêutica, denominada

Desafio Jovem, antes mesmo de existir qualquer Política Pública de atenção à dependência

química no país. Segundo a literatura, nos .anos de 1970, há um aumento considerável quanto

a multiplicação das CTs, Diante disso, foi necessário o estabelecimento de um padrão básico

para o funcionamento destes serviços, que garantissem a segurança e a qualidade do trabalho

de recuperação das pessoas com dependência química (BRASÍLIA, 2013).

Cabe também ressaltar que no ano de 2001, a Secretaria de Políticas sobre Drogas

(SENAD), desenvolveu um amplo processo democrático com a participação governamental e

popular para o realinhamento da política vigente no país. Como produto desse processo

foram, então, aprovadas novas resoluções que tivessem em seu regimento a questão do

tratamento, recuperação e reinserção social do dependente químico e as comunidades

terapêuticas incluídas como parte das intervenções para tratamento, recuperação, redução de

danos, reinserção social e ocupacional passando então, a fazer parte formal dessa política.

Todo movimento para reconhecimento da importância das Comunidades Terapêuticas como estratégia do cuidado e o esforço das federações em incentivar para que as

comunidades ofereçam atendimento de qualidade, tem resultado em novas ações

governamentais. RDC 29/11 que dispõe sobre os requisitos de segurança sanitária

para o funcionamento das instituições que prestem serviços de atenção a pessoas com

transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas

(SPA), em regime de residência (BRASÍLIA, 2013, p. 44).

43

Diante das pontuações, podemos concluir que as CTs têm sido um espaço de

grande importância e relevância social no que concerne ao tratamento de sujeitos que fazem

uso abusivo de drogas. No que concerne ao tratamento, a CT tem como principal instrumento

terapêutico a convivência entre os pares (modelo psicossocial). Nesse sentido, De Leon

(2009) afirma que a abordagem básica da CT, e o tratamento da pessoa inteira por meio do

uso da comunidade e de companheiros que estão na mesma situação, desenvolvido

tradicionalmente para atender ao problema do uso de substâncias, foi ampliado pela inclusão

de inúmeros serviços vinculados à família, à educação, à formação vocacional e à saúde física

e mental.

44

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA

4.1 Breves Considerações Sobre Família E Dependência Química

Diante das reflexões feitas sobre drogas, dependência química, família e

tratamento, nesse tópico decidimos refletir sobre o papel da família no que concerne o

tratamento da dependência química segundo alguns autores , como por exemplo, Olivenstein,

Kaloustian, Rapport e Schenker e Minayo, dentre outros.

É mister afirmar que a dependência química não é um fenômeno que deve ser

visto isoladamente, pois diante da literatura e da leitura da realidade, a dependência química é

uma doença que traz prejuízos não apenas a vida do dependente químico, mas compromete a

vida de todos envolvidos, em especial a família. É também multifatorial, é o que pontua Filho

(1999), podem ser de natureza biológica, psicológica, social ou resultar de uma combinação

destas. No campo social,encontra-se a família.

Considerando a familiar como a instância onde se desenvolvem as primeiras

relações do indivíduo, e em consonância com a pontuação feita por Olivenstein (1985) de que

a drogadicção se estabelece a partir de uma dinâmica relacional (entre o sujeito, a substância e

o contexto), é imprescindível pensar o fenômeno do abuso de drogas sem considerar a

subjetividade do sujeito, a que droga está se referindo e em que contexto esse fenômeno se

estabeleceu. Diante da leitura da realidade, além das análises dos Levantamentos

apresentados, muitos dependentes químicos iniciaram seu relacionamento com as drogas

dentro de casa.

Diante da leitura da realidade e de autores que estudam esse fenômeno,

destacamos o comportamento permissivo em relação às substâncias químicas, como exemplo,

a presença de bebida alcoólica é tratada como indispensável na maioria dos encontros como

festas, reuniões de famílias, aniversários até de crianças, ou seja, o sujeito cresce em um

ambiente propício ao uso que direta ou indiretamente impacta na construção do sujeito

contribuindo para a naturalização desse fenômeno.

Como já mencionado nos capítulos anteriores, são múltiplos os fatores e as

motivações que levam uma pessoa a engajar-se às drogas. Entre os diversos fatores, a família

é uma questão importante para ser considerada ao questionar o assunto da dependência

química. Para Leite (1999) a família tem um papel importante na criação de condições

relacionadas, tanto ao uso abusivo de drogas, quanto aos fatores de proteção, funcionando

igualmente como antídoto, quando o uso de drogas já estiver instalado.

45

Outra pontuação envolve as profundas transformações que a família tem passado

nos últimos anos as quais acabam pro levar milhares de famílias a se adaptarem aos critérios

do mundo moderno como por exemplo, o consumismo, valorização do ter, intensificação do

trabalho, dentre outros. Em virtude de uma série de problemas, normalmente de ordem

material e afetiva, a família tem sofrido reflexos negativos afetando a rijeza da convivência

mútua, além de outros impactos como inabilidade social, pais ausentes de casa por longas

horas diárias. Sabemos que muitas famílias estão vivendo um cotidiano permeado por

intensas dificuldades e já não conseguem lidar de forma equilibrada com seus conflitos. É

preciso reconhecer que as transformações mais recentes na estrutura e dinâmica familiar

atingem e modificam os tradicionais mecanismos de solidariedade familiar, acarretando uma

interação limitada e precária na família (TRAD, 2010).

Essas transformações fazem com que comportamentos adversos se instalem no

seio familiar. Decorre daí uma disponibilidade insuficiente de tempo para as relações

pessoais, principalmente no âmbito familiar. As famílias enfrentam pressões e desafios que

dificultam o ato de orientação e afeto que seus filhos necessitam “Essa ausência, mesmo que

involuntária, leva ao adolescente e ao jovem a estabelecer outros laços e sua comunidade,

muitas vezes bastantes desviantes” (LOSACCO, 2010, p. 73).

Apesar dessas diversas transformações no âmbito familiar, e esta apresentar

diversas formas de estruturação e organização, conforme discutido no tópico sobre família, há

uma responsabilidade que todas possuem independente do contexto em que se encontram, que

é a função de proteger seus filhos e favorecer neles o desenvolvimento para lidar com limites

e frustrações, oferecendo-lhes bem-estar, valores éticos, morais e culturais, além de amor e

cuidados básicos (KALOUSTIAN, 2000). A mesma autora pontua que quando falta esses

aspectos na família, os adolescentes ou jovens podem encontrar refúgio nas drogas, sendo que

estas passam a representar as necessidades e sentimentos que não foi possível encontrar no

âmbito familiar como segurança, confiança em si mesmo, libertação de seus problemas, e uma

forma de suportar a crise que está vivendo (RAPPAPORT, 2000).

Para Silva (2000) O problema da dependência química é visto como resultado de

uma falta de adaptação à realidade e uma ausência de habilidade do indivíduo em lidar com o

meio social, ou ainda de uma incapacidade em resolver os problemas que a vida lhe apresenta.

Ao problematizar a questão das drogas na esfera familiar, Trad (2010) diz que cabe

reconhecer as configurações que adquire a família na contemporaneidade, com implicações

sobre suas funções ou papéis sociais. Isso significa que para refletirmos sobre esse fenômeno

é imprescindível a compreensão do contexto familiar do dependente químico.

46

Schenker e Minayo (2004) entendem que a dependência está relacionada ao

funcionamento do indivíduo, devido aos problemas que surgem em sua vida, sejam eles

sociais ou cognitivos. Na compreensão das duas autoras o individuo que cresce recebendo

carinho, atenção, limite adequado, tem maior probabilidade de se tornar um adulto centrado,

equilibrado. Ao contrário disso, se o indivíduo for tratado com falta de carinho, de amor, terá

muito mais chance de se tornar uma pessoa frustrada, com dificuldades emocionais. É na

família que o ser humano aprende, através dos comportamentos do seu grupo familiar

(HERBERT, 1991).

Para Freitas (2002) a origem da dependência está na falta de amor e na

negligência das famílias. Nesse sentido, compreender a importância do papel que a família

exerce durante o desenvolvimento dos sujeitos e de seu envolvimento com as drogas é

relevante pois segundo Oliveira, (2008), é de indiscutível relevância da família como

instituição capaz de contribuir para a prevenção frente aos inúmeros problemas acarretados

pelas drogas. Cabe a citação de Heller (1987) quando afirma:

Diante de vários conflitos vivenciados pelos sujeitos na atual conjuntura, a família

pode ainda ser um lugar onde se pode contar para extravasar suas angústias e

ansiedades frente a tantos problemas (desemprego, desentendimentos com amigos,

transportes, trabalho precário, baixos salários e outros) (HELLER, 1987).

Diante da compreensão do papel da família antes do envolvimento com o uso de

drogas, cabe também ressaltar o que os autores pontuam sobre o significado da família após

esse momento. Muitos estudos, de diferentes referenciais teóricos, ressaltam a importância da

família tanto na prevenção quanto no tratamento dos dependentes químicos. A família tem um

papel importante na criação de condições relacionadas, tanto ao uso abusivo de drogas, quanto

aos fatores de proteção, funcionando igualmente como antídoto, quando o uso de drogas já

estiver instalado (LEITE, 1999).

Segundo Leite (1999, p. 19), “o papel da família é um fator fundamental tanto na

dependência, como em seu tratamento”.

Alguns estudiosos chegam a considerar a dependência como uma patologia familiar

(doença de origem no funcionamento familiar). A genética por um lado, é considerada

responsável por 30% dos casos de alcoolismo, embora sua influência seja menor no

caso de outras drogas. Por outro lado, a convivência familiar, os relacionamentos

interpessoais e seus conflitos ambientais a que todos os integrantes da família estão

submetidos, são considerados de importante contribuição para a dependência (LEITE, 1999, p. 19)

47

No mesmo sentido Vizzolto (2000) pontua que quando o filho é dependente

químico, o apoio da família é fundamental para que este venha a buscar e aceitar a ajuda

através de tratamento. Sendo assim, a priori, o esforço mútuo do apoio da família e a

motivação do dependente para a mudança é importantíssimo para se dar o primeiro passo ao

tratamento (BERNARDI, 2002; MONTEIRO, 2000).

Schenker & Minayo (2004), em seu estudo bibliográfico sobre a importância da

família no tratamento do uso abusivo de drogas, verificou que os tratamentos de dependentes

químicos que incluem a participação e o envolvimento da família obtém maior possibilidade

de sucesso do que aqueles que trabalham com o foco apenas no indivíduo, demonstrando a

contribuição que a família pode oferecer no resultado do tratamento do dependente. Monteiro

(2000) pontua que quando a família participa ativamente do tratamento do dependente é como

se construísse um edifício sobre uma base sólida, e quando os familiares se omitem, a

sensação é exatamente contrária, parece que se tenta erguer uma construção sobre o nada.

Diante das reflexões apresentadas, conclui-se que o papel da família é significante

tanto no que diz respeito a prevenção quanto ao tratamento, pois segundo Schenker e Minayo

(2004) afirmam que a família influencia tanto no aparecimento da dependência, como no

tratamento do sujeito, pois ela é a rede de apoio mais próxima. Para Orth (2010), as famílias

dos dependentes químicos representam a principal rede de apoio do indivíduo.

Sendo assim, faz-se necessária uma confrontação das reflexões teóricas aqui

apresentas com a prática, nas quais serão apresentadas no tópico a seguir.

4.2 Apresentação dos Sujeitos da Pesquisa

Paulo. Tem 26 anos, é separado e morava sozinho. Começou usar drogas com 16

anos, sua primeira droga foi o álcool e sua droga de preferência é o crack. Não conhece o pai,

comentou sobre maus tratos pela mãe. Começou a trabalhar cedo, estudava à noite. Disse não

ter tido infância. Destacou a falta de amor da mãe quando criança. Em uma de suas falas citou

que em datas comemorativas ele sentia falta da presença da mãe na escola. Relatou sobre

rejeições da parte da mãe e imagina que sofria com isso devido parecer com o pai, acha que

por esse motivo sua mãe o rejeitou. Está na instituição há mais de 6 meses.Sobre os vínculos

familiares, o participante não tem contato com a família, nem recebe visitas. Sente-se sozinho.

Abraão. Tem 33 anos, é separado e morava com a sogra. Começou a usar drogas

aos 14 anos de idade, sua primeira droga foi a maconha e a droga de preferência é o crack

onde relatou ter conhecido numa festa através de uma “paquera”. Está na instituição há dois

48

meses. Sobre os vínculos familiares, o participante possui contato com a família como

também recebe visitas.

Davi.Tem 22 anos, é solteiro, mora com a mãe e avó. Começou a usar drogas aos

16 anos de idade. Relatou que o relacionamento familiar antes da droga era bom, modificou

durante o uso nocivo da droga. Sua primeira droga foi o álcool e sua droga de preferência é a

cocaína onde teve o primeiro acesso em um campo de futebol através de amigos. Está na

instituição há dois meses. Sobre os vínculos familiares, o participante tem contato com a

família e recebe visitas.

Jonas. Tem 45 anos, é viúvo, pais falecidos, mora com amigos. Comentou que a

morte dos pais foi devido a doenças por conta do impacto do uso nocivo de drogas do

participante. Mora com a irmã e possui duas filhas que não tem contato. Começou a usar

drogas aos 14 anos de idade. Seu primeiro contato foi com álcool depois com psicotrópicos,

sendo essa sua droga de preferência. O motivo pelo uso das drogas relatado pelo participante

foi a curiosidade. Está na instituição há mais de seis meses. Sobre os vínculos familiares, o

participante tem contato com a família por telefone e recebe visitas raramente.

Calebe. Tem 34 anos, é solteiro, mora com o pai e a mãe Começou a usar drogas

aos 19 anos de idade conhecendo a substância através dos amigos. Relata ter procurado a

droga por conta de uma discussão que houve com mãe, além disso, comentou que o pai bebia

muito, devido a isso cresceu em meio a conflitos produto do uso abusivo do álcool por seu

pai. A primeira droga usada foi o álcool e sua droga de preferência é o crack. Está na

instituição há mais 2 meses. Sobre os vínculos familiares, o participante tem contato com a

família e recebe também visitas.

Jacó. Tem 25, é solteiro, mora com o pai. Começou usar drogas aos 13 anos de

idade conhecendo a substância através dos amigos. Sua primeira droga foi o álcool e sua

droga de preferência é o crack. Está na instituição há mais de 6 meses. Sobre os vínculos

familiares, o participante tem contato com a família, relata ter um bom relacionamento

familiar, mas não recebe visitas devido a distância da CT.

José. Tem 42 anos, é separado, pais falecidos. Estava em situação de rua antes do

tratamento Tem duas filhas que moram em outro município, porém não tem contato há muito

tempo devido os conflitos da separação. . Começou usar drogas aos 12 anos de idade

conhecendo a substância através dos amigos. Sua primeira droga foi o álcool e sua droga de

preferência é o crack. Sobre o motivo do uso, falou que sempre seus pais foram liberais,

quando adolescente saia de casa e passava mais de mês sem voltar. Acredita que essa postura

por parte dos pais, contribuiu para o mesmo se envolver no mundo das drogas. Está na

49

instituição há mais de 6 meses.Sobre os vínculos familiares, o participante não tem nenhum

tipo de contato com a família.

4.3 O Significado Atribuído à Família no Processo de Tratamento de uso e Abuso de

Drogas por Sujeitos Assistidos pelo Centro de Recuperação Mão Amiga

Neste capítulo será apresentado o resultado realizado por meio das entrevistas que

do ponto de vista dialético, o processo de análises foi feito considerando os pressupostos

teóricos até aqui abordados.

Na tentativa de entender qual a percepção dos residentes acerca do conceito,

perguntamos sobre o significado atribuído à família. O entrevistado Abraão respondeu:

"Família pra mim é tudo, tudo na minha vida". Davi respondeu: "Família é meu porto seguro".

Outro participante por nome José também considerou: "Sou grato. Família é tudo pra mim" e

o entrevistado Calebe afirmou: “A família é o início de tudo" No entanto, dois dos

entrevistados, reconhecem que algo está errado, como por exemplo Paulo que afirmou: “Pra

mim , família tinha que ser uma base, um porto seguro. Só que para mim não representa isso

não. Pra mim representa divisão, brigas, só valo o que tenho.....falta de amor...isso daí pra

mim é o que minha família representa.

Entendemos que a formação de cada um de nós se inicia na família e que há

necessidade de amor, de afeto nos cuidados prestados a nós humanos a partir do momento que

nascemos. Acreditamos que a família, seja que configuração ela for, é responsável por cuidar

dos filhos e dentre outros deveres devem proporcionar aos filhos habilidade de lidar com

limites e frustrações.

É importante ressaltar que, embora possa parecer que a representação de família

seja compreensível, ela não é idêntica, ocorrem modificações que podem alterar sua

representação. Devido a isso, é sempre importante considerar de que família estamos falando,

qual o contexto no qual estamos nos referindo, quais os arranjos. Tais aspectos contribuem

para o significado da família na sociedade.

A família não é uma totalidade homogênea, mas um universo de relações

diferenciadas, e as mudanças atingem de modo diverso cada uma destas relações e cada uma

das partes da relação (SARTI, 1995, p. 39). Na verdade, quando se fala em família, é

importante considerar que os conceitos são mutáveis, conforme discutido no capítulo II.

Segundo Bilac (2000) a variabilidade da instituição família desafia qualquer conceito geral de

família

50

Buscamos compreender também a relação familiar e o envolvimento com as

drogas, antes do tratamento para assim refletirmos sobre o objeto de estudo. Frente ao

depoimento dos residentes, identificamos que dos sete, seis tiveram envolvimento com as

drogas durante a adolescência. Vejamos nas falas a seguir:

O início foi ao meus 14 anos, foi um colega de trabalho que me apresentou a droga e

no começo eu andava com ele, mas eu não quis , né. Ele nunca me ofereceu não, foi

só um momento de raiva que eu tive em casa, porque eu era um cara muito rebelde

em casa ai eu não me lembro bem, mas eu peguei uma discussão com minha mãe e

ela falou algo que eu não gostei, e eu sai perturbado de casa, né? Sai sem rumo. .

(CALEBE)

Rappaport,(2000) afirma que as pessoas que entram em contato com as drogas,

buscam nelas adquirir bem-estar e esquecer ou fugir dos problemas.

Comecei a usar drogas com 14 anos, e eu comecei a andar com umas pessoas que o

meu pai dizia que era erradas, e ele sempre me chamou de maconheiro, de vagabundo

e sem eu nunca ter usado, então eu pensei, pois agora, já que sou chamado de

maconheiro, então eu vou ser (JACÓ). Eu comecei a usar droga né cara, foi com 12 anos (...) foi através de um conhecido

meu (...) ele abriu uma lata de cola, olha ai, vamo cheirar isso aqui, e eu disse: como é

que cheira isso mar, eu num sei não mar, ai colocou dentro dum saco né, comecei

cheirar né. (JOSÉ).

Em relação ao início do uso de drogas, foi percebido que dos sete entrevistados,

seis tiveram envolvimento durante a adolescência. Segundo as elaborações teóricas o início do

uso de drogas ocorre na maioria das vezes na adolescência, por ser um período de

significativas transformações nos aspectos cognitivos, físicos e psicossociais que influenciam

nos pensamentos, sentimentos e comportamentos dos indivíduos.

Em consonância, Freitas (2002) também pontua que o adolescente é

extremamente vulnerável aos apelos provenientes do mundo das drogas em virtude das

modificações pelas quais passa o seu mundo interno. No que concerne ao contexto familiar,

todos os entrevistados relataram sentir falta do carinho da família, infância e adolescência,

além disso relataram ter sofrido agressões físicas e verbais por parte do pai ou da mãe durante

as fases mencionadas. Nesse sentido, o entrevistado José afirmou: "Meus pais sempre me

deixaram muitos solto, eu viajava, passava mês fora, e eles confiava em mim, né? Eles não

tinha rédia, sabe?”.

Os autores Oliveira e Freitas (2002) apontam que a dinâmica familiar pode

minimizar os riscos do uso de drogas quando há o monitoramento dos filhos, imposição de

limites, promoção do diálogo e demonstração de afeto.

51

Não estamos aqui, responsabilizando a família, até porque compreendemos que a

dependência química é um fenômeno multifatorial, porém somos sabedores que a família tem

sua responsabilidade no que concerne aos cuidados dos filhos. A fala do participante abaixo, é

uma exemplificação do que falamos até aqui.

Não sei quem é meu pai, nunca nem vi ele. A minha mãe, eu sempre fui um cara

rebelde em relação a minha mãe, porque a gente não se dava bem por conta dos maus

tratos dela comigo. Ela me chama de vagabundo, eu tinha que trabalhar, desde oito

trabalhando em feira livre, empurrando carrinho de geladeira e nunca tive o que acho

que era o básico para uma criança, nunca tive isso. (...) com 16 anos ela já me

expulsou de casa, nesse tempo eu não era usuário de droga. Eu não sei se era porque

ela não gostava do meu pai, porque lá em casa todos são filhos de pais diferentes..e eu

não sei se era porque ela tinha raiva do meu pai, disse que eu aparentava muito o jeito

do meu pai e ai tinha essa restrição comigo (...)eu sai de casa com 16 anos de idade,

nesse tempo eu fui morar na casa de uns amigos porque a gente todo dia, todo dia era

isso, todo dia era mal trato, pra mim se acordar ela batendo na minha rede né, me

batia e eu estudava a noite, o cansaço, não tinha condições nenhuma de ter aquela

vida de criança, entendeu? Com doze anos, eu acredito que nessa faixa eu já tava

estudando a noite, mas isso ai não me impedia nos estudos não até porque eu nunca

repeti uma série,sempre eu fui dedicado aos estudos , mas tive que parar por causa do

trabalho.... com 16 eu tive que morar sozinho, trabalhar, se virar , parei de

estudar.(PAULO)

Vizzolto (2000) afirma que a família desempenha o papel mais importante na vida

do ser humano, e serve de modelo aos filhos, pois o comportamento, as reações, atitudes e a

forma como os pais se relacionam entre si e com os filhos influenciam no desenvolvimento

dos mesmos.

Nessa direção, vale relembrar sobre os fatores de risco abordados do II capítulo

dessa pesquisa, pontuados pelos autores Schenker e Minayo (2005) os quais afirmam que os

fatores de risco e de proteção em relação ao uso de drogas, estão relacionados a seis domínios

da vida, dentre eles o familiar. Escolhemos dois relatos que sintetizam as falas dos

participantes.

Eu entendo assim que quem ama cuida e se uma família não tiver aquela noção, se ela

não quiser cuidar, ai o mundo ta aí entendeu? E por conta de muitos maus tratos(...)

Porque era só pra ela ser diferente, era só pra ela ir pra uma reunião no colégio, era só

pra assinar o boletim, era só para tá lá no dia das mães na festinha, entendeu?E não ia,

isso causava uma frustração, uma tristeza, entendeu? E ai fazia com que eu não

quisesse tá em casa, não sentia bem em casa e ia pra tua e na rua era muito mais fácil

[...] Acredito que a família tem influência sim, mas eu não culpo eles pela minha

escolha, a escolha foi minha, mas ajudar, ajudou. (PAULO).

52

Eu acho que sim. Eu acho porque eu cresci num lar conturbado, né. Eu cresci num lar

cheio de brigas né, cheio de mentiras, vendo o meu pai fazendo o que fazia dentro de

casa, eu cresci revoltado (JACÓ).

Em correlação com as situações relatadas pelos entrevistados, Blefari (2002)

comenta que o indivíduo que cresce em um ambiente familiar sem amor, sem limites, sem

atenção pode tornar-se um sujeito sem estrutura emocional para lidar com os problemas que

vão surgindo em sua vida e, muitas vezes, acaba tornando-se usuário de drogas. Vários

estudos também apontam a influência da família no envolvimento do jovem ás drogas

(SCHENKER & MINAYO, 2004; BILACA, 2000; BUCHER, 1995). Tal influência da

família pode ocorrer pela falta de compreensão e a indiferença dos pais para com os filhos

(ROCHA, 1988).

Vale também a pontuação do autor a seguir, conforme já discutido no primeiro

subtópico desse capítulo. Para Recio (1999, p. 203) as condutas dos pais podem estar

associadas ao consumo de drogas pelos filhos. Os pais com menor probabilidade de terem

filhos adolescentes envolvidos com drogas ou que desenvolvam condutas antissociais são

aqueles que estabelecem uma boa relação afetiva e de apego com os filhos, que não

consomem nenhum tipo de drogas (lícitas ou ilícitas).

Outro ponto que pedimos para os participantes comentarem foi sobre a influência

da família em relação a sua dependência química. Questionado sobre isso, o participante

Calebe respondeu: “Meu pai era dono de um bar, comerciante..desde de criança a gente teve

esse conflito com ele, ele bebia, ai quando ele bebia ele ficava outro homem, ele quebrava o

bar, quebrava a casa, batia na gente.” O entrevistado Jacó também relatou sobre o contexto de

uso de drogas durante sua infância e adolescência, expressa a seguir:

Eu sempre cresci vendo meu pai bebendo e fumando e pra mim aquilo era natural,

então de acordo que eu vou alcançando a maturidade, eu começo a achar que ou beber

ou fumar cigarro é uma coisa natural que nem se alimentar e beber água, que é uma

que eu tou acostumado a ver muita gente usando, muita gente usa e não vejo mias

bicho de sete cabeça, a droga é aquela que não é lícita né, é a ilícita, então essa

geração, parece que essa geração de agora de novas drogas iventadas ai a cada dia, faz

com que eu me lembre que a primeira vez que eu bebi foi com meu pai, eu bebi um

copo de cerveja, eu tava com ele bebendo e ele me colocou pra beber eu tinha 13

anos, eu fumei porque eu fumava cigarro do meu pai e ele deixou eu fumar também,

eu com 14 anos fumava o cigarro dele, então pra mim beber,fumar que já era natural,

pra mim sentir outras coisas foi só questão de tempo, né, começar a fumar maconha,

com 19 anos eu já fumava crack, tomava comprimido, fazia uma série de coisas e o

meu irmão hoje ele cheira cocaína, bebe, ele é casado , mas assim, nunca se

desequilibrou, talvez ele nem seja adicto (JACÓ).

53

Diante das falas, percebe-se que a presença do histórico do uso de drogas no

âmbito familiar, pode influenciar na naturalização do consumo, que geralmente se inicia pelas

lícitas. Para Schivoletto e Falabella (2003) acreditam ser em casa, em família, que as crianças

aprendem como se relacionar com as substâncias químicas, pontua também que os pais são os

modelos de comportamento adulto dos filhos. Outra percepção obtida, é a existência dos

fatores de risco, que segundo a Organização Mundial da Saúde, são fatores de risco, a fácil

disponibilidade de drogas e a cultura permissiva do círculo de amigos em relação ao uso de

drogas (OMS, 2014).

Além de compreender as relações familiares antes do uso das drogas, a pesquisa

também pontuou os impactos causados pelas drogas no contexto familiar. Jonas afirmou:

“Perdi minha mãe, meu pai. Eles adoeceram devido o meu envolvimento com as drogas (...),

eu não tenho tanta culpa assim não, mas eu tenho culpa, entendeu... pela perda do meu pai e

da minha mãe.

Sobre o mesmo questionamento, os participantes abaixo comentaram:

Dificuldade com meu pai e o meu uso meu pai já sabia que eu usava há muito tempo,

mas a partir do momento que chegaram a cobrar lá em casa, bater no portão, ligar lá

pra casa dizendo que eu tava devendo dinheiro, que era de droga e tal, ai foi o

momento que ele me botou pra fora. .(JACÓ)

(...)”Teve sim um impacto porque já tinha um relacionamento ruim, e depois que eu comecei na adicção ativa, né? Depois que eu passei a usar muita droga, ficar

incontrolado()... passei a morar na rua, né? Não tinha mais nenhuma responsabilidade,

ai ficou pior, ai que minha situação ficou mais difícil.” .(JOSÉ)

“Foram fortes porque eu sai de casa, eu cheguei a ser expulso de casa, só que na

época eu trabalhava né, mas mesmo assim era como eu não trabalhasse porque meu

dinheiro era todo pra droga ai não sobrava pra eu comer, pra eu pagar um aluguel, ai

ficava jogado” .(CALEBE).

É sabido que o uso de drogas traz impactos destrutivos não apenas ao dependente

químico como na família e na sociedade. A compulsão pela droga é cada vez maior e a

consequência do uso torna-se mais difícil. Conforme vimos nos relatos acima, os familiares

adoecem e às vezes até perdem a vida devido os impactos que esse mal causa na família e na

sociedade, como por exemplo, doenças físicas. Foi relatado também que algumas famílias

chegam a não permitir que o filho entre mais em casa, seja por conta de dívidas que os mesmo

fazem lá fora, seja por conta dos comportamentos advindos do uso. Problemas que incluem

violência doméstica, abuso infantil, roubo de bens familiares, condução de veículos em estado

de embriaguez e ausências prolongadas são comportamentos tipicamente descritos pelos

familiares (LENAD, 2014).

54

Desta maneira percebemos que durante esse período de envolvimento com as

drogas, os vínculos familiares são fortemente afetados, tendo em vista, os impactos sociais

que as drogas trazem. Para Figlie (2004, p. 340) o impacto que a família sofre com o uso de

drogas por um de seus membros é correspondente às reações que vão ocorrendo com o sujeito

que as utiliza.

No que concerne ao tratamento, o dependente químico passa por diversas

dificuldades, dentre elas é a ausência da família. Antes de identificarmos o significado

atribuído à família durante o tratamento, objetivo geral desse estudo, tentamos identificar os

vínculos familiares, na qual foi percebido que dos sete, dois deles nunca tiveram contato com

a família no tratamento. Sobre aqueles que têm contato com a família, seja por telefone ou

por meio de visitas. Sobre esse questionamento, Davi relatou: "Recebo visitas, todo final de

semana minha família vem. Esse não é meu primeiro tratamento e toda a família tem me dado

apoio. Isso ajuda a gente a pensar positivo e não desistir” Abraão também pontuou: “Minha

família me visitar. Dia de domingo eu fico ansioso, quero que eles chegue logo, sabe. Tem

vez que minha sogra traz um lanche, traz uns biscoitos. Eu sinto alegria hoje, principalmente

porque estou bem com minha família."

Outro relato, que sintetiza o significado da família, para os participantes que não

recebem visitas.

Às vezes um dia de sábado, um domingo aqui tem visitas e vem a família visitar,

entendeu? E, às vezes, por mais que não trouxesse nada, mas só em vir visitar [...] aí a

pessoa ver o outro companheiro com os familiares ai o cara se lembra, vixe eu tenho

uma mãe , mas minha mãe não ta nem aí, eu tenho meus irmãos, mas meus irmãos

não tão nem aí, eu não sei nem que é meu pai, nunca nem ouvi falar dele, entendeu?

Ai dá uma tristeza, atrapalha. Às vezes dá vontade de ir embora, dá vontade do cara....

eu já pensei em pegar as coisas e ah meu meu irmão eu vou me acabar porque não

tem sentido, o que é que eu vou fazer, tá entendendo? Dá uma tristeza tão grande,

uma frustração que atrapalha, mas ai que tá, quem ta precisando de ajuda sou eu, num

é, eu tenho que fazer isso ai, eu tenho que ta procurando uma melhora (PAULO).

Diante dos relatos, é perceptível o quanto a presença das famílias nos dias de

visitas, tem influências positivas no processo do tratamento, ao contrário disso, conforme

relatado por Paulo, a vontade de desistir aumenta, podendo ser um fator decisivo para a

desistência.

Concomitantemente indagamos aos participantes sobre o significado atribuído à

família no processo de tratamento, sendo essa a pergunta norteadora dessa pesquisa. A

percepção dos residentes em relação ao significado atribuído à família durante esse momento,

sintetiza-se nas colocações do entrevistado a seguir:

55

É muito importante a família não só presente né, mas tá participando de como deve

lhe dar com o dependente químico, agora pra quem não tem família, ai fica como se

fosse uma recuperação dobrada, porque ele tem que procurar alguém que ele possa

apontar como família, além de fazer um tratamento dele, ele vai ter que procurar

alguém que ele possa apontar que ele vai escolher como família dele. (JACÓ).

No tratamento é interessante a família ter a participação de procurar entender né o

que a doença de adicção, saber lidar com a gente, comigo no caso, para quando queira

surgir os sintomas da doença e de recaída, a família saber lidar. Isso ajuda muito. Por

isso eu acho importante (DAVI).

Segundo Rozende (1999) quando a família participa do programa de tratamento,

os resultados nos aspectos de adesão ao mesmo podem ser melhores. Tal compreensão, se

expressa no relato do participante a seguir:

Quando a família participa do tratamento a gente fica mais forte, sente que tem ali

torcendo sabe, isso ajuda, ajuda muito. As vezes, nos fins de semana, bate aquela

tristeza, a gente sente só, mas ai quando a gente ver a família,a gente muda, sente

aquela força (...) Acontece às vezes de vir aquele pensamento de voltar pra casa, de

procurar um trabalho, sabe. Mas eu sei que ainda não tá no tempo, e que se eu fizer

isso agora, minha família vai sofre (CALEBE).

Diante das falas, um dos relatos que mais nos chamou atenção foi do participante

Mauro, que inicialmente na entrevista, relatou não sentir falta dos familiares, porém, no

decorrer, foi percebido que a falta da família, tem uma repercussão negativa em seu

tratamento. Segue seu relato:

Eu vejo assim, eu vejo que a família é muito importante, mas meu tratamento é muito

mais importante que a família, entende? A família não contribui no meu

tratamento(...)é tanto que eu andei esses dias ai pensativo, né, andei um pouco assim

meio triste, como seria minha vida, sei lá, eu acho que se eu saísse daqui eu não

queira procurar minha família não. Ia procurar a doidice mesmo (JONAS).

É interessante destacar que o entrevistado Jonas, inicialmente pontuou que a

família não é importante e destacou que devido ter perdido o pai e a mãe, seus irmãos culpam-

no por isso. Nesse sentido, refletimos que nem sempre a família é o um campo de relações

harmoniosas, isso desmistifica o idealismo que existe sobre família, pois sabemos que existem

aspectos comuns e divergentes nesse âmbito.

O mesmo participante comentou também que sente falta das filhas. “Sinto falta

das minhas filhas. Eu tenho contato com dois irmãos só, mas é difícil. Na minha folga eu

prefiro ir pra outro lugar.Mas não pensei em desistir do tratamento por isso não, saudade eu

sinto, né? Saudade dá e passa"(JONAS).

56

Monteiro (2000) pontua que quando a família participa ativamente do tratamento

do dependente é como se construísse um edifício sobre uma base sólida, e quando os

familiares se omitem, a sensação é exatamente contrária, parece que se tenta erguer uma

construção sobre o nada

As análises das entrevistas apresentadas é coerente com as afirmações de Figlie

(2004) o qual afirma que a família perto, participando de todo o processo do tratamento, faz

com que o dependente químico venha a perceber que ainda há possibilidades, ainda há

diálogo, a família não desistiu e que ainda acredita na eficácia do tratamento. Essa postura da

família contribui positivamente para eficácia do tratamento. Caso contrário, pode haver uma

desmotivação, pois segundo o mesmo autor, para que tratar, se não há mais a credibilidade

dos entes mais chegados, daqueles que, conhecendo sua essência, deviam ser agentes

restauradores no processo de tratamento e recuperação.

57

5 CONSIRERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho contribui para identificar o significa da família no processo de

tratamento de uso e abuso de drogas por sujeitos assistidos pelo Centro de Recuperação Mão

Amiga.

Podemos perceber que o envolvimento de pessoas com o mundo das drogas estar

para além da simples busca dos efeitos dessas substâncias, e não se restringe a um único fator,

mas um somatório deles. Sobre esses fatores, percebemos que a disponibilidade de drogas,

cultura permissiva do círculo de amigos em relação ao uso de drogas, os conflitos familiares,

a inabilidade de lidar com as perdas, de lidar com as emoções, foram aspectos que

influenciaram o consumo de substâncias psicoativas dos participantes.

Ficou claro também que a maioria dos sujeitos tem envolvimento com as drogas

durante a adolescência, além disso, as primeiras drogas utilizadas foram o álcool, muitas

vezes encontrado dentro de casa, e a maconha, na maioria das vezes apresentada por amigos.

No contexto do universo da pesquisa, foi percebida a presença significativa da

família monoparental, assim como daqueles que moram sozinhos. Assim, dos 48 residentes da

CT, 29,16%, pertencem à família monoparental, sendo a maioria chefiada por mulheres e

18,75% moravam sozinhos, antes do tratamento. Tais dados, apenas ratificam o retrato da

sociedade brasileira segundo a última pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística apresentada no capítulo de família.

Com os principais resultados, constatou-se que a família é importante para o

tratamento do dependente químico. Consideram-na sua fonte de apoio, base forte, referência.

Ficou claro,que quando os participante sentem vontade de desistir, de voltar para casa ou de

procurar um trabalho, a família é um aspecto relevante para a decisão da adesão ou não ao

tratamento.

A pesquisa também contribui para identificarmos a importância das visitas

familiares durante o tratamento. Ficou nítido que as visitas contribuem positivamente para a

eficácia do tratamento, pois os residente sentem-se apoiados afetivamente, isso impacta na

elevação da auto estima do sujeito, impactando positivamente no tratamento. Para os que não

recebem visitas, é ao contrário. A falta da presença da família em visitas como também em

datas comemorativas, impactam negativamente o sujeito, que muitas vezes, como uma

espécie de fuga se recua nos quartos. Para esses, nos dias de visita, é o momento mais difícil

do tratamento, pois outro residente juntamente com seus familiares, é doloroso.

Outro ponto apreendido, é que para os dependentes químicos que não têm contato

58

com a família, é possível ser relatado, que os familiares não têm importância, que o

tratamento só depende do próprio dependente químico. Porém, em outro momento,

percebemos que tais relatos são reflexos da falta de apoio, afeto e carinho da família, sendo

mais fácil encarar a realidade afirmando que a família não é importante que afirmar ser

importante e não tê-la presente.

Nesse sentido, entendemos que os resultados obtidos dessa pesquisa contribuem

para as reflexões de vários estudiosos que apontam para a importância da família no

tratamento, independente de sua configuração. Tal pesquisa tem a pretensão de estimular o

desenvolvimento de propostas onde a família seja inserida no tratamento da dependência

química, tendo em vista, os relatos e as elaborações teóricas apresentadas.

59

REFERÊNCIAS

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de conteúdo e forma. Inclui normas atualizadas da ABNT, TCC, trabalhos de estágio, MBA,

dissertações, teses. São Paulo: Atlas, 2004.

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políticas públicas. 4.ed. São Paulo: Cortez/Instituto de Estudos Especiais/PUC-SP, 2006.

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2006.

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APÊNDICES

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCL Termo De

Consentimento Livre e Esclarecido aos Residentes do Centro de

Recuperação Mão Amiga

O (a) Sr. (a) está sendo convidado (a) a participar da pesquisa “O significado

atribuído à família no processo de tratamento do uso e abuso de drogas por sujeitos assistidos

pelo Centro de Recuperação Mão Amiga”, que tem como objetivo compreender o significado

atribuído a família durante o tratamento.

Dessa forma, pedimos a sua colaboração nesta pesquisa para responder a uma

entrevista sobre seu tratamento na Comunidade Terapêutica, solicitando sua autorização para

gravar as conversas geradas durante a entrevista. Garantimos que a pesquisa não trará

nenhuma forma de prejuízo no seu acompanhamento e tratamento, independente da sua

opinião sobre o tema. Nas entrevistas, todas as informações serão mantidas em sigilo e sua

identidade não será revelada, pois não haverá divulgação de nomes. Vale ressaltar que sua

participação é voluntária e o(a) Sr.(a) poderá a qualquer momento deixar de participar deste,

sem qualquer prejuízo ou dano. Comprometemo-nos a utilizar os dados coletados somente

para pesquisa, e os resultados poderão ser veiculados através de artigos científicos e revistas

especializadas e/ou encontros científicos e congressos, sempre resguardando sua

identificação. Como benefício direto para os usuários, comprometemo-nos em fazer a

devolutiva dos dados ao serviço, coordenadores, gestores e aos próprios participantes quando

assim solicitado, através de quaisquer esclarecimentos acerca da pesquisa e, ressaltando

novamente, terão liberdade para participarem quando assim não acharem mais conveniente.

Contatos com a graduanda Mirian do Nascimento Bandeira, ou com a orientadora Prof.ª

Verbena Paula Sandy.

Este termo está sendo elaborado em duas vias, sendo uma para o sujeito

participante da pesquisa e outro para o arquivo do pesquisador.

Eu, ___________________________________tendo sido esclarecido(a) a respeito da

respeito da pesquisa, aceito participar da mesma.

Maracanaú-CE, ____/____/2014

__________________________________

Mirian do Nascimento Bandeira

65

APÊNDICE B – Estrutura do Questionário

Nome: __________________________________________________________________________

1. Onde você mora atualmente?______________________________________________________

2. Qual sua idade?__________________

3. Qual seu estado civil? ( ) Solteiro ( ) Separado ou divorciado ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) União

estável

4. Quem mora na sua casa? ( ) Moro sozinho ( ) Irmãos ( ) Pai / Padrasto ( ) Avô(ó) ( ) Mãe /

Madrasta ( ) Outros parentes ( ) Esposa / Companheira ( ) Amigos ou colegas

5. Qual seu grau de escolaridade? ( ) Alfabetizado ( ) Não alfabetizado ( ) Ensino

fundamental completo ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino médio completo ( )

Ensino médio incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) Ensino superior incompleto

6. Qual a sua renda familiar mensal, isto é, somando a sua renda e de toda a sua família? ( ) Menos de 1 salário

mínimo ( ) 10 a 20 salários mínimos ( ) 01 a 03 salários mínimos ( ) Acima de 20 salários mínimos ( )

04 a 10 salários mínimos

7. Quem é o principal responsável pelo sustento da família? ( ) Você ( ) Pai ( ) Esposa

( ) Mãe ( ) Filho(a) ( ) Irmão(a) ( ) Outro(s): _____________________

8. Quais suas principais formas de lazer e sociabilidade (no seu tempo livre)? ( ) Ir ao Cinema/teatro ( )

Conversar com os amigos ( ) Ler ( ) Namorar ( ) Ir para a Igreja ( ) Ir à festas ( ) Praticar esportes (

) Outras: ____________________________________________

9. Qual sua religião?

( ) Católica ( ) Espírita ( ) Evangélica ou Protestante ( ) Umbanda ou Candomblé ( ) Sem religião:

Era ateu? ( ) Sim ( ) Não ( ) Outra: ____________

10. Qual a sua droga de preferência?( ) Tabaco ( )Álcool ( ) Maconha ( ) Ecstasy / LSD ( ) Cocaína ( ) Crack( )Solventes ou inalantes ( ) Barbitúricos (comprimidos) ( )Outra:____________________

11. Com que frequência fazia o uso delas? ( ) Quatro ou mais vezes por dia ( ) 1 ou mais vezes por semana (

) Duas ou três vezes por dia ( ) Eventualmente ( ) Uma vez por dia

12. Qual a primeira droga que você utilizou?( ) Tabaco ( )Álcool ( ) Maconha ( ) Ecstasy / LSD ( )

Cocaína ( ) Solventes ou inalantes ( ) Crack ( ) Barbitúricos (comprimidos) ( )Outra:_______________

13. Onde/como teve o primeiro acesso ao uso de drogas? ( ) Na escola ou universidade ( ) Na vizinhança ( )

Em festas( ) Grupo de amigos ( ) Outros: __________________________

14. Como foi informado sobre o Centro de Recuperação Mão Amiga(CREMA)?

( ) Orientação/recomendação de alguma igreja ( ) Pela família ( ) Pelos meios de comunicação: Qual?

( ) Pelos próprios membros do CREMA ( ) Outro:

Especificar:_________________________________________ 15. Há quanto tempo está em atendimento no CREMA? ( ) Menos de 1 mês ( ) De 4 a 6 meses ( ) De 1 a

3 meses ( ) De 6 a 8 meses ( ) De 3 a 4 meses ( ) Mais de 8 meses

16. Qual sua idade quando começou a usar drogas?___________

17.Possui contato com a família_______________18. Recebe visitas?_______________

66

APÊNDICE C - Roteiro de Entrevista

O SIGNIFICADO ATRIBUÍDO À FAMÍLIA NO PROCESSO DE TRATAMENTO DO USO

E ABUSO DE DROGAS POR SUJEITOS ASSISTIDOS PELO CENTRO DE

RECUPERAÇÃO MÃO AMIGA.

1. Identificação -

2. Estado civil

3. Com quem mora

4. Idade inicial do uso com as drogas

5. Primeira droga utilizada

1. Como começou a usar drogas?

2. Fale-me sobre sua família.

3. Você acha que sua família teve influencia em relação a sua dependência química?

4. Qual significado ou sentimento que a palavra família lhe representa?

5. Fale um pouco do impacto das drogas em sua família.

6. Como é a inserção de sua família no tratamento?

7. Qual a importância da família em seu tratamento?

67

ANEXOS

ANEXO A - OS DOZE PASSOS DE NARCÓTICOS ANÔNIMOS

(Programa de Recuperação da Drogadição)

1. Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que nossas vidas tinham se

tornado incontroláveis.

2. Viemos a acreditar que um Poder maior do que nós poderia devolver-nos à sanidade.

3. Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus, da maneira como

nós o compreendíamos.

4. Fizemos um profundo e destemido inventário moral de nós mesmos.

5. Admitimos a Deus, a nós mesmos e a outro ser humano a natureza exata das nossas falhas.

6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de

caráter.

8. Humildemente pedimos a Ele que removesse nossos defeitos.

9. Fizemos uma lista de todas as pessoas que tínhamos prejudicado, e dispusemo-nos a fazer

reparações a todas elas.

10. Fizemos reparações diretas a tais pessoas, sempre que possível, exceto quando fazê-lo

pudesse prejudicá-las ou a outras.

11. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos

prontamente.

12. Procuramos, através de prece e meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus,

da maneira como nós O compreendíamos, rogando apenas o conhecimento da Sua vontade

em relação a nós, e o poder de realizar essa vontade.

12. Tendo experimentado um despertar espiritual, como resultado destes passos, procuramos

levar esta mensagem a outros adictos e praticar estes princípios em todas as nossas

68

ANEXO B – CARACTERIZAÇÂO GERAL DOS RESIDENTES DO CREMA

Fonte: Elaborado pelo autor