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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL FRANCIEVELIN LIMA DE SOUSA A QUESTÃO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA SOB A ÓTICA DE MÃES E PARENTES DE USUÁRIOS DE DROGAS ACOMPANHADOS PELO SERVIÇO SOCIAL DO CENTRO COMUNITÁRIO LUÍZA TÁVORA NO BAIRRO PIRAMBU FORTALEZA (CEARÁ). FORTALEZA 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

FRANCIEVELIN LIMA DE SOUSA

A QUESTÃO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA SOB A ÓTICA DE MÃES E

PARENTES DE USUÁRIOS DE DROGAS ACOMPANHADOS PELO

SERVIÇO SOCIAL DO CENTRO COMUNITÁRIO LUÍZA TÁVORA NO

BAIRRO PIRAMBU – FORTALEZA (CEARÁ).

FORTALEZA

2013

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FRANCIEVELIN LIMA DE SOUSA

A QUESTÃO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA SOB A ÓTICA DE MÃES E

PARENTES DE USUÁRIOS DE DROGAS ACOMPANHADOS PELO

SERVIÇO SOCIAL DO CENTRO COMUNITÁRIO LUÍZA TÁVORA NO

BAIRRO PIRAMBU – FORTALEZA (CEARÁ).

Monografia apresentada ao curso de graduação em

Serviço Social da Faculdade Cearense – FAC, como

requisito para obtenção do título de bacharelado.

Orientadora: profª esp. Verbena Paula Sandy

FORTALEZA

2013

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FRANCIEVELIN LIMA DE SOUSA

A QUESTÃO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA SOB A ÓTICA DE MÃES E

PARENTES DE USUÁRIOS DE DROGAS ACOMPANHADOS PELO

SERVIÇO SOCIAL DO CENTRO COMUNITÁRIO LUÍZA TÁVORA NO

BAIRRO PIRAMBU

Monografia como pré-requisito para obtenção do

título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado

pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido

aprovada pela banca examinadora composta pelos

professores.

Data de Aprovação:

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profª Esp. Verbena Paula Sandy

Faculdade Cearense

________________________________________

Profª Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos

Faculdade Cearense

_________________________________________

Prof Ms. Mario Henrique Castro Benevides

Faculdade Cearense

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Feliz é o homem que acha sabedoria, e o homem

que adquire conhecimento; porque melhor é o lucro

que ela dá do que o da prata, e melhor a sua renda

do que o ouro mais fino.

Provérbios 3: 13, 14

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que me dá o ar que eu respiro, e que me sustenta a cada dia. Sem Ele

esse trabalho não seria possível.

A minha honrada mãe, Francisca Maria, pelos seus exemplos de vitória,

conselhos, cuidados que me fizeram ser um ser humano melhor. E por sempre

priorizar os meus estudos, fazendo o possível e o impossível para me ajudar.

Ao meu pai Francisco Alves que, mesmo com pouca instrução, me ensinou

valores e exemplo de caráter.

Ao meu irmão Jânio Lima, que vê em mim um exemplo de superação.

Ao meu amor Devan, que sempre esteve ao meu lado, me ajudando no que

pôde para me ver feliz.

A todas as amizades sinceras que fiz ao longo desses quatro anos, em

especial as amigas Camila Oliveira e Nayara Ribeiro pelos nossos momentos

bons e pelas angustias compartilhadas.

A minha pontual orientadora Verbena Sandy, pelas suas sábias orientações, e

pela pessoa humilde e humana que mostrou ser.

Aos professores que compuseram a banca Talitta Cavalcante e Mario

Henrique, pela disponibilidade.

A todos os professores que fizeram parte da minha formação.

À coordenadora e assistente social do Centro Comunitário Luiza Távora,

respectivamente Cecília Costa e Maria Iracy , em que com muito carinho e

disponibilidade em me ajudar fizeram parte para que este estudo fosse

realizado.

Aos sujeitos pesquisados, pela gentileza e pela relação de confiança

estabelecida.

A todos o meu muito obrigado.

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RESUMO

O presente estudo compreende a questão da dependência química sob o olhar de mães e parentes de usuários de drogas acompanhados pelo serviço social no Centro Comunitário Luíza Távora, no bairro do Pirambu em Fortaleza (Ceará). Entendemos que estudos que abordam a temática da droga são no mínimo válidos e produtivos, pois se trata de um assunto transversal, alvo de debates e discussões das mais variadas áreas profissionais, considerando que as consequências que causam o abuso de droga é hoje um problema em escala mundial. Para esta pesquisa foram feitos estudos bibliográficos, documental e de campo. Algumas pesquisas e dados foram utilizados a fim de enriquecer o estudo, assim como outras fontes. Como técnica de coleta de dados utilizamos entrevistas semi- estruturadas, visando responder aos objetivos da pesquisa, como; conhecer o perfil socioeconômico das famílias dos sujeitos envolvidos; perceber quais dificuldades são vivenciadas pelas mães e familiares de dependentes químicos ao lidarem com a situação de drogadição de seus filhos e parentes; compreender como as famílias se portam diante da realidade dos filhos e parentes em situação de uso e abuso de drogas; entender sob a ótica das pesquisadas os fatores que levaram seu familiar a se envolver no mundo das drogas; entender o que as entrevistadas esperam do poder público para ajudá-lo(s) na área. Palavras-chave: drogas; dependência química; família.

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ABSTRACT

This study comprises the issue of chemical dependency under the gaze of mothers and relatives of drug users followed by social services at the Community Center Luiza Tavora in Pirambu neighborhood in Fortaleza ( Ceará ) . We believe that studies addressing the issue of drug are at least valid and productive because it is a cross-cutting issue , the subject of debates and discussions of various professional areas , whereas the consequences that cause drug abuse is a problem now worldwide . For this research bibliographic , documentary and field studies were done . Some research and data were used to enhance the study , as well as other sources . As a technique for data collection through semi - structured interviews in order to answer the research objectives as ; know the socio-economic profile of the families of those involved ; realize what difficulties are experienced by mothers and family members of addicts to deal with the situation of drug addiction their children and relatives ; understand how families behave on the reality of children and relatives in situations of drug use and abuse ; understand the perspective of the researched the factors that led the family to get involved in the drug world ; understand that the respondents expect the government to help ( s ) in the area . Keywords : drugs , chemical dependency , family.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AL-ANON ALCOÓLICOS ANÔNIMOS

CAPS CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

CEBRID CENTRO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS

CID-10 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS

CONTRAN CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO

CONAD CONSELHO NACIONAL ANTIDROGAS

COVIO LABORATÓRIO DE ESTUDOS DA CONFLITUALIDADE E

VIOLÊNCIA

CREAS CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DE ASSISTÊNCIA

SOCIAL

DSM-V MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS

MENTAIS

LABVIDA LABORATÓRIO DE DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA E

ÉTICA

NAR-ANON NARCÓTICOS ANÔNIMOS

OBID OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE

DROGAS

OMS ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

ONG ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL

PNAD POLÍTICA NACIONAL ANTIDROGAS

SENAD SECRETARIA NACIONAL ANTIDROGAS

SISNAD SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE

DROGAS

SNC SISTEMA NERVOSO CENTRAL

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UECE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

UNIFESP UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

UFC UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................11

1. DROGAS: BREVE HISTÓRICO, CONCEITOS E

LEGISLAÇÃO...................................................................................................14

1.1 Abordagem dos aspectos socioculturais do fenômeno drogas...........14

1.2 Drogas: conceitos e classificações.........................................................18

1.3. Legislação brasileira e políticas públicas sobre drogas......................21

2. A DEPENDÊNCIA QUÍMICA E A INSTITUIÇÃO FAMÍLIA COMO UMA

EXPRESSÃO SOCIAL......................................................................................28

2.1 Abordagem conceitual da dependência química...................................28

2.2 Codependência: uma doença?.................................................................31

2.3 A família como codependente..................................................................32

3. FAMÍLIA E DEPENDÊNCIA QUÍMICA, COTIDIANO, REPRESENTAÇÕES

E ENFRENTAMENTOS.....................................................................................36

3.1. O Centro Comunitário Luíza Távora e serviço social............................36

3.2. Perfil de mães e parentes de dependentes químicos acompanhados

pelo Serviço Social do Centro Comunitário Luíza Távora no bairro

Pirambu.............................................................................................................37

3.3. Família e dependência química: cotidiano, representações e

enfrentamentos................................................................................................41

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................50

REFERÊNCIAS.................................................................................................52

APÊNDICE........................................................................................................55

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INTRODUÇÃO

Por se tratar de um tema polêmico, a questão das drogas é hoje alvo de

debates e discussões das mais variadas áreas do saber. Tratamos aqui de uma das

expressões da questão social mais repercutida na atualidade, com enfoque nas

problemáticas que causam o abuso de destas, seja individual, seja coletivo.

Segundo o levantamento nacional de famílias de dependentes químicos feito

por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), cerca de 28

milhões de brasileiros vivem com um dependente químico. Entre os entrevistados as

mulheres são a grande maioria representando 80%, sendo que 46% delas são mães

de dependentes químicos. O levantamento revela ainda que mais da metade, 57,6%

dos familiares tem outro parente usuário de drogas 1 . Esse levantamento sem

duvidas, é um tanto revelador, e os resultados deste se assemelha aos resultados

da nossa pesquisa.

O presente estudo se deu a partir de nossa experiência de estágio no

Centro Comunitário Luíza Távora. Cabe salientar que essa pesquisa é fruto de

alguns questionamentos e inquietações que tivemos durante essa experiência.

Inicialmente, para realizar a presente pesquisa, que tem por tema a

questão da dependência química sob a ótica de mães e familiares de usuários de

drogas acompanhados pelo serviço social do Centro Comunitário Luíza Távora no

Pirambu, utilizei-me de técnicas qualitativas, pois estas compreendem como

imprescindível a participação e os relatos do pesquisado.

Segundo Minayo (2012, p. 21)

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, ela se preocupa nas Ciências Sociais com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes.

Através dela podemos entender a realidade dos sujeitos, pois contém

suas histórias de vida e suas experiências. Visando alcançar o objetivo da pesquisa,

foram utilizadas entrevistas “semiestruturadas que combinam perguntas fechadas e

abertas em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em

questão sem se prender à indagação formulada” (MINAYO, 2007, p. 64).

1 Fonte: www.uniad.org.br/ acesso em 10 de dezembro de 2013.

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Entendemos que este instrumental deixa tanto o entrevistado quanto o

entrevistador à vontade, compreendendo assim o momento da entrevista como um

momento de diálogo, fugindo totalmente do que possa vir a ser uma entrevista

jornalística, no sentindo de responder apenas ao que lhe é perguntado.

Através das fichas de acompanhamento do serviço social, foram

identificadas 30 famílias que tinham o perfil da pesquisa, porém, apenas 15 ainda

estavam frequentando atividades na instituição, como oficinas e cursos e apenas 7

mulheres se dispuseram a participar da entrevista, sendo 3 mães, 1 tia, 1 avó, 1

esposa e 1 em que a própria foi dependente química por algum tempo.

As entrevistas foram feitas na instituição, em dias previamente marcados

com as entrevistadas, conforme suas disponibilidades. Foi aplicado um roteiro de

entrevistas com perguntas fechadas e abertas e gravadas com consentimento.

A pesquisa de campo foi realizada durante todo o mês de julho de 2013;

em seguida, nos meses de agosto e setembro, fizemos a transcrição das entrevistas

a fim de analisar os dados. Para esta pesquisa, foram realizados estudos

bibliográficos, documentais, através de documentos da instituição e de campo.

Os sujeitos da pesquisa foram mães e parentes de dependentes

químicos, acompanhados pelo serviço social da instituição. O estudo tem como

objetivos específicos: conhecer o perfil socioeconômico das famílias dos sujeitos

envolvidos; perceber quais dificuldades são vivenciadas pelas mães e familiares de

dependentes químicos ao lidarem com a situação de drogadição de seus filhos e

parentes; compreender como as famílias se portam diante da realidade dos filhos e

parentes em situação de uso e abuso de drogas; entender sob a ótica das

pesquisadas os fatores que levaram seu familiar a se envolver no mundo das

drogas; entender o que as entrevistadas esperam do poder público para ajudá-lo(s)

na área.

E, como objetivo geral, entender como mães e parentes lidam com a

problemática de drogadição de seus filhos e assemelhados. Para a realização da

pesquisa, optamos pela aproximação com o método dialético, pois conforme Gil,

A dialética fornece as bases para interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos quando consideramos isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais etc. (GIL, 2011, p. 14).

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Compreendemos que este método nos favorece o movimento do real e

uma aproximação com a dinamicidade, permitindo uma reflexão em que diversos

elementos dialogam entre si, numa perspectiva de totalidade, partindo do

pressuposto de que tudo na realidade representa uma totalidade, em que a

sociedade capitalista seria a realidade macroscópica, tendo por característica sua

dinamicidade, devido seu caráter contraditório, composta por micrototalidades

(NETTO, 2009).

A fim de nortear o leitor, visando uma melhor compreensão sobre a

temática em questão e sobre o que traz cada capítulo, fizemos uma pequena

introdução. No primeiro capítulo, que tem por tema ‘Drogas: breve histórico,

conceitos e legislação’ analisamos os aspectos socioculturais do fenômeno drogas,

evidenciando que o consumo de drogas vem desde a antiguidade e que esta não é

uma prática recente. Trazemos ainda conceitos, classificações e no último tópico

deste capítulo abordamos a legislação e as políticas públicas sobre drogas no Brasil.

No segundo capítulo, ‘A dependência química e a instituição família como

uma expressão social’, trazemos uma abordagem conceitual da dependência

química. Aprofundamos um diálogo a respeito da dependência e codependência, em

que esta diz respeito, segundo alguns autores, a um familiar ou alguém que tenha

um relacionamento próximo com o dependente químico.

No terceiro capítulo, ‘Família e dependência química, cotidiano,

representações e enfrentamentos’, consideramos ser o momento mais importante da

pesquisa, pois é a pesquisa de campo a articulação da prática com a teoria.

Traçamos o perfil de mães e familiares de dependentes químicos acompanhados

pelo serviço social do Centro Comunitário Luíza Távora – Pirambu. Analisamos, a

partir das entrevistas realizadas, o cotidiano, dificuldades e enfrentamentos destes

ao lidarem com a situação de uso e abuso de drogas de seus filhos ou parentes.

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1. DROGAS: BREVE HISTÓRICO, CONCEITOS E LEGISLAÇÃO

1.1. Abordagem dos aspectos socioculturais do fenômeno drogas

O uso de drogas não é uma prática recente, ao contrário, remonta a

antiguidade. Temos referências que o uso de bebidas e substâncias psicotrópicas já

eram utilizadas desde a pré-história por variadas culturas. Mas, somente no século

XX, é que se intensificou o debate acerca desse fenômeno, considerando a

intensidade com que se alastrou. Macrae afirma que

desde a pré-história os membros das diferentes culturas humanas têm sabido utilizar plantas e algumas substâncias de origem animal para provocar alterações de consciência com os mais variados fins. Assim tábuas sumérias do terceiro milênio A.C., cilindros babilônicos, imagens da cultura cretense-micênica e hieróglifos egípcios já mencionam os usos medicinais do ópio e o próprio Homero o menciona na Odisseia como algo que "faz esquecer qualquer sofrimento" (MACRAE, 2001, p. 3).

Esse mesmo autor coloca ainda que os sumérios, na Mesopotâmia, 3.500

A.C., são considerados o primeiro povo a usar ópio2, planta que cresce naturalmente

na Ásia. É também chamada de "dormideira", sendo originária do Mediterrâneo e

Oriente Médio. O nome dado por eles à papoula pode ser traduzido como "flor do

prazer". Já os hindus, mesopotâmios e gregos, 2000 A.C., usam o cânhamo -

produto derivado da cannabis sativa - como planta medicinal. Os romanos fumavam

o cânhamo em reuniões sociais.

Na Índia, a maconha é considerada um presente dos deuses, uma fonte

de prazer e coragem. Segundo Mota (2009), o ópio também é conhecido como a

planta da felicidade. Foi usada na Roma Antiga como calmante e analgésico. O

consumo deste, assim como o do vinho, não era proibido, mas os seus

consumidores eram advertidos acerca dos males causados, se consumidos em

excesso.

Conforme Macrae (2001), assim como o cânhamo, ópio e as bebidas

alcoólicas são alguns dos mais utilizados pelo homem e que remontam a

antiguidade. Na Grécia antiga, utilizava-se muito o ópio para tratar uma série de

2Muitas substâncias com grande atividade farmacológica podem ser extraídas de uma planta

chamada papauer soniferum, conhecida popularmente com o nome de “papoula do oriente”. Ao se fazer cortes na cápsula da papoula, quando ainda verde, obtém-se um suco leitoso, o ópio (a palavra ópio em grego quer dizer “suco”) (CEBRID, 2007).

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males e prevenir contra envenenamentos aqueles que temiam ser envenenados,

como líderes políticos, que consumiam grandes quantidades dessa substância. O

uso do ópio nunca foi percebido pelos gregos como sendo degradante. Macrae

acrescenta que

o uso de bebidas alcoólicas remonta à pré-história e seu emprego como medicamento já era mencionado nas tábuas de escritura cuneiforme da Mesopotâmia em 2200 A.C. Cerca de 15% dos quase 800 diferentes medicamentos egípcios antigos incluíam cervejas ou vinhos em sua composição. São também numerosas as referências ao vinho no Antigo Testamento. Este, assim como a cerveja, poderia ser misturado com outras drogas produzindo bebidas de grande potência numa época em que ainda se desconhecia a destilação (MACRAE, 2001, p. 5).

Para este autor, algumas bebidas eram consideradas sagradas por

algumas culturas e religiões antigas, uma vez que ingerida permitia conduzir o

homem ao mundo do sobrenatural, sendo provável que se tratasse de um

psicoativo.

No Império Romano, com o predomínio do cristianismo, foi posto em

evidência que as ideias acerca da neutralidade da droga era uma noção errônea;

houve então uma forte censura e perseguição ao conhecimento farmacológico,

sendo o emprego de drogas mesmo que para fins terapêuticos considerado como

sinônimo de heresia.

a Europa medieval também passava por crises. Pragas, catástrofes naturais, caos social, privilégios, guerras e invasões produziram situações de colapso econômico e social que demandavam bodes expiatórios, levando à caça às bruxas que duraria por vários séculos. Durante esse período fazia-se uma relação entre o uso de drogas, a luxúria e a bruxaria. Várias receitas desse tipo constam dos autos da Inquisição, que punia com torturas e morte o uso de qualquer droga que não o álcool (MACRAE, 2001, p. 8).

Segundo esse mesmo autor, com a Renascença e a retomada de um

contato mais estreito com as culturas orientais, ocorreu uma retomada gradual do

uso de drogas. A partir do século XVIII, começou uma larga produção e comércio de

medicamentos à base de ópio, temos a partir daí o retorno das drogas. O ópio

tornou-se a principal mercadoria de exportação das potências europeias. E, a partir

do século XIX, cientistas isolam princípios ativos de várias plantas, fabricando

fármacos como a morfina (1806), a codeína (1832), a atropina (1833), a cafeína

(1841), a cocaína (1860), a heroína (1883), a mescalina (1896) e os barbitúricos

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(1903) no século XX. Incluindo assim tais drogas no imenso mercado capitalista,

como um produto de consumo.

O consumo dessas drogas cresce significativamente, passando a se

tornar um problema, tendo em vista as consequências advindas com o seu uso,

passando a ser tanto problema de saúde pública, quanto social. Carneiro (2002)

coloca que

o século XX foi o momento em que esse consumo alcançou a sua maior extensão mercantil, por um lado, e o maior proibicionismo oficial por outro. Embora sempre tenham existido, em todas as sociedades, mecanismos de regulamentação social do consumo das drogas, até o início do século XX não existia o proibicionismo legal e institucional internacional (CARNEIRO, 2002, p. 115).

Na década de 1960, o consumo dessas drogas se expande,

principalmente entre os jovens; essa década é marcada por movimentos de

juventude, que agiam de forma “radical” em oposição à ordem vigente, a partir de

1964, referente ao período ditatorial; com isso, podemos destacar o movimento

hippie, composto por jovens na sua maioria estudantes, que contestavam o regime e

buscavam novas práticas e posturas sociais.

Adotaram o estilo de música do rock como forma de contrariar a cultura

predominante. O uso de drogas entre eles era liberado. O movimento defendia o uso

de drogas, principalmente o LSD e a maconha, para a alteração do estado de

consciência e o amor livre era bandeira da experimentação contra a repressão

moral. Tinham como lema: ‘faça amor, não faça a guerra’ (CARVALHO, 2009).

Temos então, entre os anos de 1960 a 1980, bem presente o uso da

maconha. Já na década de 1970 o uso da cocaína torna-se popular e passa a ser

glamourizado. Nos anos 1980, o preço de 1 K de cocaína cai de US$ 55 mil (1981)

para US$ 25 mil (1984), o que contribui para sua disseminação. E, no final da

década de 1980, segundo Serrat (2009), o seu consumo passa a se tornar uma

epidemia, pois começam a aparecer novas formas de uso, sendo utilizada também

de forma injetável, marcando assim o final do século XX pelo consumo de drogas e

infecção do vírus HIV.

Ainda na década de 1980 surge o crack3, a cocaína na forma de pedra.

Droga acessível às camadas mais pobres da população tem um alto poder de

3 O crack é uma mistura de cocaína em forma de pasta não refinada com bicarbonato de sódio. Esta

droga se apresenta na forma de pequenas pedras e pode ser até cinco vezes mais potente do que a cocaína em pó. O efeito do crack dura, em média, dez minutos. Sua principal forma de consumo é a inalação da fumaça produzida pela queima da pedra. É necessário o auxílio de algum objeto como

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dependência. Conforme SERRAT (2009), o seu consumo inicia com grande

expansão, e, tem por foco o consumo por jovens de baixa renda, e com menos de

20 anos de idade. Passando a se tornar uma epidemia. Rodrigues (2006, p. 54)

reforça afirmando que,

com o passar das décadas, a utilização das drogas se torna um problema a ser enfrentado em escala mundial. Esse uso acarreta inúmeras consequências, tanto para o individuo (como a perda da auto-estima, dos vínculos familiares e trabalhistas, podendo ate envolver-se com o crime, com o objetivo de obter a droga) quanto para os pais (como o alto valor dos gastos com internações e outros procedimentos da saúde, expansão do narcotráfico, aumento da criminalidade).

De acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas de 2012, uma em cada

vinte de 230 milhões de pessoas consumiu alguma droga ilícita pelo menos uma vez

no ano de 2010. O relatório aponta que os dependentes de heroína e cocaína,

totalizam cerca de 27 milhões, isto é, 0.6% da população adulta mundial, ou uma em

cada 200 pessoas.

Pesquisas recentes 4 mostram que o Brasil é o segundo consumidor

mundial de cocaína e derivados, ficando atrás apenas dos EUA. Isto é, o Brasil

responde hoje por 20% do mercado mundial da droga. Com isso, nos últimos anos que

correspondem ao século XXI, intensificaram-se pesquisas acerca da questão das

drogas, devido ao forte poder destrutivo que causam aos seus usuários, tornando,

assim, o problema da drogadição uma demanda também do serviço social de forma

direta ou indireta em seus diversos espaços sócio-ocupacionais.

Com isso, fica evidente o aumento exacerbado do consumo de drogas

ilícitas, passando a ser não só caso de polícia, mas também acarretando as mais

graves consequências para a sociedade e para a saúde pública mundial. Sem

desconsiderar que não só as drogas consideradas ilícitas, conforme a legislação,

mas também as consideradas lícitas pelo Estado acarretam graves danos à saúde,

como a prevalência global do álcool e do tabaco, em que o tabagismo é

responsável, segundo a Organização Mundial da Saúde, por 30% de todos os tipos

de câncer e por 90% dos casos de câncer no pulmão.

um cachimbo (“marica”) para consumir a droga, muitos desses feitos artesanalmente com o auxílio de latas, pequenas garrafas plásticas e canudos ou canetas. Os pulmões conseguem absorver quase 100% do crack inalado. O seu consumo é um fenômeno recente, surgido há 25 anos nos Estados Unidos e há 20 anos no Brasil (ROCHA, 2010, p. 10). 4 De acordo com o segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) em 2012, feito pela

Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), coordenada pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira. Disponível em http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/09/brasil-e-o-segundo-maior-consumidor-de-cocaina-e-derivados-diz-estudo.html. Acesso em 22 de abril de 2013.

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Sem desconsiderar ainda outros problemas advindos com o seu uso. Por

ser considerada lícita, a mídia se utiliza desde propagar e intensificar o seu consumo

assim como do álcool, sem considerar os danos à saúde de quem as consomem,

prevalecendo assim um alto custo social.

Podemos destacar também as consequências sofridas pelo fumante

passivo, em que, de acordo com uma pesquisa publicada recentemente do Instituto

Nacional do Câncer (Inca) e do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ5

indica que, todo ano, 2.655 não fumantes morrem a cada ano no Brasil por causa do

fumo passivo. Somente indivíduos na faixa etária de 35 anos ou mais foram alvo do

estudo. Fumantes e ex-fumantes não fizeram parte da população avaliada.

Na pesquisa, foram consideradas apenas as três principais doenças

relacionadas ao tabagismo passivo, tais como, câncer de pulmão, doenças

isquêmicas do coração (como infarto) e acidentes vasculares cerebrais. O estudo

definiu os fumantes passivos como pessoas que nunca fumaram e que moravam

com pelo menos um fumante no mesmo domicílio.

Não podemos deixar de colocar a relação entre álcool e acidentes de

trânsito, em que grande parte dos acidentes de trânsito ocorridos no Brasil é

consequência direta da embriaguez ao volante, isso porque muitas pessoas ainda

acreditam no falso poder estimulante do álcool, na verdade o álcool é depressivo e a

sua ação pode induzir ao sono6, ponto este que iremos nos deter mais à frente,

destacando, portanto, as respectivas leis. No próximo tópico destacaremos as

classificações e conceitos no que se refere às drogas.

1.2 Drogas: conceitos e classificações

A literatura nos disponibiliza uma série de definições acerca do vocábulo

drogas, que traz consigo as mais variadas substâncias, e conceitos, porém, são

significados semelhantes, pois obedecem a uma padronização da Organização

5Fonte: http://www.inca.gov.br/releases/press_release_view.asp?ID=1855 . Acesso em 21 de abril de

2013. 6Fonte: http://portal.detran.ce.gov.br/index.php/component/content/article/350-artigos-educacao/708-

o-alcool. Acesso em 6 de setembro de 2013.

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Mundial da Saúde (OMS) em que define drogas como sendo qualquer substância

capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças

fisiológicas ou de comportamento.

Segundo o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas – (OBID,

2006), o termo droga teve origem na palavra droog (holandês antigo) cujo significado

literal é ‘folha seca’, devido ao fato de que a quase totalidade dos medicamentos

produzidos, à época, eram preparados à base de plantas.

Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1981), drogas

psicoativas ou psicotrópicas são aquelas que “agem no Sistema Nervoso Central

(SNC) produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo

grande propriedade reforçadora sendo, portanto, passíveis de autoadministração”,

levando o usuário destas à dependência.

De acordo com o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas

Psicotrópicas (CEBRID), existe uma classificação que se baseia nas ações

aparentes das drogas sobre o sistema nervoso central (SNC), conforme as

modificações observáveis na atividade mental ou no comportamento da pessoa que

utiliza a substância. São elas as drogas depressoras da atividade do SNC e que se

referem ao grupo de substâncias que diminuem a atividade do cérebro, ou seja,

deprimem o seu funcionamento, tais como álcool inalantes/solventes, ansiolíticos,

barbitúricos e opiáceos.

Já as drogas estimulantes da atividade do SNC são substâncias que

aumentam a atividade do cérebro, isto é, estimulam o seu funcionamento, como a

cafeína, cocaína, anfetaminas e o crack. E as drogas perturbadoras da atividade do

SNC são substâncias que modificam e alteram a atividade do cérebro. Ou seja,

perturbam e distorcem o seu funcionamento, como anticolinérgicos – na forma de

medicamentos e planta, a maconha, ecstasy, LSD, dentre outras.

Quanto à legalidade, a classificação das drogas psicoativas ou

psicotrópicas pode ser lícitas e ilícitas; são consideradas lícitas aquelas que têm sua

produção, comercialização e uso liberados por lei, como o álcool, o tabaco e os

ansiolíticos, porém, com algumas exceções, demandam controle do governo, como

exceção, a proibição da venda e consumo de bebidas alcoólicas para menores de

18 anos, dentre outros. Já as drogas ilícitas são aquelas que possuem a sua

produção, comercialização e uso proibidos por lei, como a maconha, o crack e a

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cocaína.

Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), o termo “uso

nocivo” é aquele que resulta em dano físico ou mental, enquanto no Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM- V), “abuso” engloba

também consequências sociais. Quanto ao uso e abuso de drogas, a Organização

Mundial da Saúde (OMS) destaca que é possível usar moderadamente certas

substâncias sem abusar delas, assim como os fármacos uma vez receitados por

médicos, o uso correto está relacionado com a dosagem adequada.

Com isso, a classificação de transtornos mentais e comportamentais

apontada na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) coloca que o uso de

drogas pode ser: o uso que traz de início uma intoxicação aguda, ou seja, o estado

consequente ao uso de uma substância psicoativa, compreendendo perturbações da

consciência, das faculdades cognitivas, da percepção ou do comportamento.

As perturbações estão na relação direta dos efeitos farmacológicos

agudos da substância consumida e desaparecem com o tempo, com cura completa,

salvo nos casos em que surgiram lesões orgânicas ou outras complicações. A

natureza destas complicações vai depender do seu modo de administração ou da

categoria farmacológica da substância consumida.

Ainda conforme CID-10, o uso nocivo para a saúde passa a ser

configurado como abuso, um modo de consumo de uma substância psicoativa que é

prejudicial à saúde do indivíduo, acarretando tanto danos físicos quanto psíquicos,

com tendência a episódios depressivos ao ser consumida em grande quantidade.

E a última classificação se refere à síndrome da dependência, em que

inclui um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se

desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, associado ao

desejo incontrolável de usar a droga; o dependente vive pela droga e para a droga,

em detrimento de outras atividades e obrigações, há um aumento da tolerância7 pela

droga e, por vezes, um estado de abstinência física.

O consumo abusivo de drogas é hoje, um dos fenômenos que além de

7 Quando o organismo começa a reagir com menos intensidade ao efeito da droga. Neste caso, o

usuário passa a utilizar doses maiores da substância para sentir o mesmo efeito de antes. Diz-se que o organismo “acostumou-se” com a droga. Esse fenômeno é muito frequente em usuários de tranquilizantes (CAVALCANTE, 2003, p. 24).

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causarem sofrimento para a família, e uma preocupação para a sociedade, ainda

acarretam gastos com a saúde pública, tendo em vista a intensidade com que esse

consumo se alastrou. É um problema transversal, e multiprofissional, tornando assim

uma demanda para o serviço social. Iremos destacar em seguida as leis que

envolvem o fenômeno das drogas.

1.3. Legislação brasileira e políticas públicas sobre drogas

O consumo abusivo de substâncias psicoativas tornou-se um problema

em escala mundial, assim, como o comércio ilícito destes, demandando do governo

que as leis vigentes sejam revistas e a implementação de políticas eficazes que

tratem dessa problemática.

No Brasil, no século XX, o problema das drogas passa a ser tratado

semelhante ao processo internacional, mas precisamente dos Estados Unidos. A

primeira medida norte-americana contra as drogas foi proibir em 1909 a importação

e o uso do ópio e em 1914 a comercialização da morfina, heroína e cocaína entre os

estados norte-americanos. No Brasil, semelhante a este processo, em 1921 o

governo federal promulga o decreto-lei nº 4.294 que estabelece

penas aos que comercializarem cocaína, ópio, morfina e seus derivados, cria um estabelecimento especial para internação dos intoxicados pelo álcool ou substâncias venenosas e estabelece as formas de processo e julgamento dessas infrações (MORAIS, 1997, p. 4).

Após a efetivação desse decreto-lei, no Rio de Janeiro, em 1926, foi

criada uma delegacia especializada, tendo por foco a repressão contra as drogas no

qual se intensificou a fiscalização sobre vendedores e usuários de substâncias

psicoativas.

Nas décadas que emergem o período da ditadura militar, mais

precisamente no governo de Ernesto Geisel, entra em vigor a Lei nº 6.368, de 21 de

outubro de 1976, que dispõe sobre medidas de prevenção e repressão ao tráfico

ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência

física ou psíquica. No que diz respeito à prevenção, a lei proíbe, em seu artigo 2°, a

plantação e colheita de plantas que dela se extraia algum derivado psicoativo,

contudo, somente no artigo 5° é que trata de fato do significado e significante do

termo prevenção.

Art. 2º Ficam proibidos em todo o território brasileiro o plantio, a cultura, a

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colheita e a exploração, por particulares, de todas as plantas das quais possa ser extraída substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica. § 1º As plantas dessa natureza, nativas ou cultivadas, existentes no território nacional, serão destruídas pelas autoridades policiais... Art. 5º Nos programas dos cursos de formação de professores serão incluídos ensinamentos referentes a substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica, a fim de que possam ser transmitidos com observância dos seus princípios científicos. Parágrafo único. Dos programas das disciplinas da área de ciências naturais, integrantes dos currículos dos cursos de 1º grau, constarão obrigatoriamente pontos que tenham por objetivo o esclarecimento sobre a natureza e efeitos das substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica (BRASIL, 1976).

Já no que se refere ao tráfico ilícito e uso indevido de drogas, a lei

assume caráter criminal, pois não diferencia o usuário do traficante. Os artigos 12 e

16 colocam que

Art. 12. Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; Pena - Reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos, e pagamento de 50 (cinquenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

Art. 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de (vinte) a 50 (cinquenta) dias-multa (BRASIL, 1976).

Ou seja, é considerado criminoso tanto quem vende quanto quem usa.

Sendo o que distingue o usuário do traficante é a quantidade de drogas encontrada

durante a apreensão pelo policial. O artigo 37 desta lei explica melhor.

Art. 37. Para efeito de caracterização dos crimes definidos nesta lei, a autoridade atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, bem como à conduta e aos antecedentes do agente (BRASIL, 1976).

Morais (2005) analisando a lei em destaque afirma que “a ineficiência e a

injustiça do sistema jurídico-criminal brasileiro têm contribuído significativamente

para o enfraquecimento do ethos do trabalho e para o fortalecimento da

criminalidade no Brasil” (MORAIS, 2005, p. 88).

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Isto é, essa lei que tem como objetivo inibir o tráfico de drogas é no

mínimo ineficiente, pois não faz distinção objetiva do usuário e traficante, podendo

ser este primeiro visto como criminoso. Ainda referente ao tráfico de drogas, a

Constituição Federal de 1988 considera em seu artigo 5º que

a lei considerará crimes inafiançáveis,[...] o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins... (BRASIL, Art. 5º - XLIII, 1988). a lei regulará [...] a pena e adotará, entre outras, as seguintes: privação ou restrição da liberdade; perda de bens; multa; prestação social alternativa; suspensão ou interdição de direitos (BRASIL, Art. 5º - XLVI, 1988).

Com isso, podemos destacar a criação no Ministério da Justiça da

Secretaria Nacional de Entorpecentes, isto é, a Lei nº 8.764, de 20 de dezembro de

1993, no governo do presidente Itamar Franco. “Art. 2º Compete à Secretaria

Nacional de Entorpecentes supervisionar, acompanhar e fiscalizar a execução das

normas estabelecidas pelo Conselho Federal de Entorpecentes (BRASIL, 1993).”

Após a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1998, sob o governo do

presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, na Casa Militar da Presidência da

República foi criada a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), nomenclatura esta

que muda com a posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva para Secretaria

Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, em que se efetiva em 2005.

Tendo em vista a necessidade da criação de uma política brasileira coube

à SENAD instituir, em 2002, por meio de decreto presidencial n. 4.345, de 26 de

agosto de 2002, a Política Nacional Antidrogas (PNAD). Com dois anos apos ser

instituída, houve a necessidade de um realinhamento da política de acordo com as

tendências internacionais.

Em 27 de outubro de 2005, por meio da resolução nº 3/ CONAD, passou

a se chamar Política Nacional sobre Drogas (PNAD), tendo em seus fundamentos,

objetivos e diretrizes estratégias voltadas para a redução da demanda e da oferta de

drogas. E reconhece em seus pressupostos as diferenças entre usuário, dependente

e traficante de drogas, tratando-os de forma diferenciada.

Em 2006, foi decretada pelo Congresso Nacional ainda no governo de

Lula, a lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, em substituição da lei nº 6.368/76, no

qual em seu art. 1º institui

o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - SISNAD; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de

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usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes (BRASIL, 2006).

O SISNAD, regulamentado pelo Decreto n. 5.912, de 27 de setembro de

2006, tem como finalidade articular, integrar, organizar e coordenar as atividades

relacionadas com a prevenção e a repressão das drogas. Representa, assim, a Lei

nº 11.343/2006 um avanço, frente às novas demandas que colocam o fenômeno das

drogas, pois traz instrumentos legais que buscam tratar desde a prevenção, com

atividades de prevenção do uso indevido, à atenção e reinserção social de usuários

e dependentes de drogas. Dispõe ainda dos crimes e penas, da repressão à

produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas. Vejamos o que coloca a lei no

que diz respeito às atividades de prevenção:

Art. 19. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas devem observar os seguintes princípios e diretrizes: I - o reconhecimento do uso indevido de drogas como fator de interferência na qualidade de vida do indivíduo e na sua relação com a comunidade à qual pertence; II - a adoção de conceitos objetivos e de fundamentação científica como forma de orientar as ações dos serviços públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos e estigmatização das pessoas e dos serviços que as atendam; III - o fortalecimento da autonomia e da responsabilidade individual em relação ao uso indevido de drogas; IV - o compartilhamento de responsabilidades e a colaboração mútua com as instituições do setor privado e com os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e dependentes de drogas e respectivos familiares, por meio do estabelecimento de parcerias; V - a adoção de estratégias preventivas diferenciadas e adequadas às especificidades socioculturais das diversas populações, bem como das diferentes drogas utilizadas [...] (BRASIL, 2006).

De fato, esta nova lei nº 11.343/2006 representa um avanço, porém, na

prática no quesito prevenção deixa muito a desejar, pois, no que se refere às

atividades concretas de execução não se apresenta de forma objetiva. Essa mesma

lei coloca ainda as atividades de atenção e reinserção social de usuários e/ou

dependentes de drogas com caráter inovador em comparação à lei revogada.

Art. 22. As atividades de atenção e as de reinserção social do usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares devem observar os seguintes princípios e diretrizes: I - respeito ao usuário e ao dependente de drogas, independentemente de

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quaisquer condições, observados os direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional de Assistência Social; II - a adoção de estratégias diferenciadas de atenção e reinserção social do usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares que considerem as suas peculiaridades socioculturais; III - definição de projeto terapêutico individualizado, orientado para a inclusão social e para a redução de riscos e de danos sociais e à saúde; IV - atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos respectivos familiares, sempre que possível, de forma multidisciplinar e por equipes multiprofissionais;

Consideramos ser de suma importância tratar essa reinserção, contudo,

se deve dar destaque de forma primordial foco na prevenção, considerando a

intensidade com que se alastrou e os prejuízos causados pelas drogas que estão

visíveis na sociedade. Em destaque a prevenção nas instituições, família, escola e

comunidade.

Como citado no início desse estudo, iremos dar destaque ao álcool que,

mesmo por ser considerado lícito pelo Estado, não reduz os danos causados à

sociedade pelo seu consumo. Conforme o Ministério da Saúde, “o uso do álcool é

cultural, sendo permitido em quase todas as sociedades do mundo” (BRASIL, 2004,

p. 13).

Como medida de prevenção, foi instituída e aprovada pelo Governo

Federal a Política Nacional sobre o Álcool, através do Decreto- Lei nº 6.117, de 22

de maio de 2007 que tem por objetivo criar estratégias para o enfrentamento coletivo

dos problemas relacionados ao consumo do álcool, visando ações para a redução

dos danos sociais à saúde e à vida, em decorrência do seu consumo. Tendo em

vista que

os custos decorrentes do consumo de álcool são de grande magnitude. Considerando dados referentes ao ano de 2001 (DATASUS, 2001), tivemos no Brasil 84.467 internações para o tratamento de problemas relacionados ao uso do álcool, mais de quatro vezes o número de internações ocorridas por uso de outras drogas (BRASIL, 2004, p. 18).

O consumo de álcool é legitimado pela mídia, que “vende” o “status” de

quem consome bebida alcoólica. Como já vimos o uso de bebidas alcoólicas, é

naturalizado, pois é uma prática cultural, que vem desde tempos antigos e que está

intensamente presente em nossa sociedade e associado a vários tipos de violência

e, em destaque, à violência no trânsito, pois a ingestão de álcool, mesmo em

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pequenas quantidades, diminui a coordenação motora e os reflexos,

comprometendo a capacidade de dirigir. Tanto é que foram criadas várias medidas

visando diminuir acidentes e mortes no trânsito que estejam relacionadas ao

consumo do álcool.

Como medida de prevenção, foi sancionada pela presidente Dilma, em

dezembro de 2012, a Lei nº 12.760, a “nova Lei Seca,” em alteração à Lei nº

11.705/2008. Sendo considerado como crime os motoristas que apresentarem

medição igual ou superior a 0,3 mg de álcool por litro de ar expelido dos pulmões no

teste do bafômetro, ou que apresentem sinais de alteração de capacidade

psicomotora. Nestes casos, o condutor fica sujeito à detenção de seis meses a três

anos, multa e suspensão ou proibição de obter a carteira de motorista.

Trata-se de uma alteração no Código de Trânsito Brasileiro, que além de

aumentar o valor da multa administrativa de R$ 957,69 para R$ 1.915,38, amplia as

possibilidades de prova da infração de dirigir sob a influência de álcool ou de

qualquer substância psicoativa, as quais foram disciplinadas pelo Conselho Nacional

de Trânsito (CONTRAN).8

O objetivo dessa lei é reduzir os acidentes e mortes no trânsito

causadas pelo consumo de álcool. Visando inibir a prática de beber e depois dirigir

foram criadas alternativas rigorosas, como dobrar o valor da multa, para aqueles que

insistem em praticar tal crime contra suas próprias vidas, e mais, contra a vida do

próximo.

Temos bem presente neste século XXI os problemas decorrentes do uso

de drogas, em destaque o crack e os problemas decorrentes do seu uso. Como

citado no decorrer desta pesquisa, o crack surge na década de 1980 e, segundo

Laranjeira (2003), é um subproduto originário da cocaína, acessível às camadas

mais pobres da população e que tem um alto poder de dependência, assim como a

cocaína e seus derivados.

Na busca por soluções que venham reverter essa situação alarmante

provenientes do uso do crack foi que, em 20 de maio de 2010, o governo federal,

através do decreto nº 7.179, instituiu o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e

outras drogas em que tem por objetivo principal ações de prevenção, tratamento e

8FONTES: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9503.htm> (Acesso em 23 de abril de 2013).

<http://www.cisa.org.br/artigo/2579/nova-lei-seca-127602012.php> (Acesso em 23 de abril de 2013).

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reinserção social de usuários de crack e outras drogas. Considerando que o maior

desafio do nosso tempo presente e do plano é de reduzir a violência e crimes, em

que por vez estão associados ao consumo de drogas.

Podemos dizer que os problemas advindos com o abuso de drogas vêm

crescendo significativamente a cada dia; são problemas de ordem individual e

coletiva, quando o usuário passa a não ter controle sobre seu uso. Quando isso

ocorre a família passa a ser vítima tanto quanto o dependente, sendo este vítima da

droga pois está nas garras desta e não consegue se livrar e a família que, conforme

depoimentos de entrevistados, trata-se de uma situação que um familiar nunca

espera, sendo visto como algo distante e que só acontece com as outras famílias.

No próximo capítulo, iremos nos debruçar e dialogar com autores que

trazem a família enquanto codependentes.

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2. A DEPENDÊNCIA QUÍMICA E A INSTITUIÇÃO FAMÍLIA COMO UMA EXPRESSÃO SOCIAL 2.1 Abordagem conceitual da dependência química

Na antiguidade, as drogas eram usadas em cerimônias e rituais religiosos

para se obter prazer, diversão e experiências transcendentais; com o passar dos

séculos, as drogas adquirem um caráter de mercadoria e passam a ser vistas como

uma alternativa para o estresse e as frustrações.

O mercado das drogas é considerado o terceiro maior negócio

“empresarial” do mundo; é investido muito dinheiro em pesquisas para desenvolver

novas drogas e potencializar as já existentes; sua distribuição e venda está em toda

parte “ela pode ser encontrada até mesmo no campo, na roça” (GONÇALVES, 2010,

p. 19). Dessa forma, o usuário passa a ser consumidor desse “mercado paralelo”.

Hoje, o consumo abusivo de drogas é um problema em escala mundial,

pois algumas drogas possuem um alto grau de dependência em pouco tempo de

uso, dependendo da quantidade e do organismo. “Quando um indivíduo fica

dependente de uma droga, seu organismo precisa dela não mais para obter

determinado efeito, e sim para continuar funcionado como se estivesse em

condições normais” (ARATANGY, 2010, p. 52).

Segundo a OMS, enquanto o uso nocivo é um padrão de uso de

substâncias psicoativas que está causando dano à saúde, podendo ser este de

natureza física ou mental, a dependência possui sinais e sintomas específicos. De

um modo geral, há alguma perda do controle sobre o uso, associado com sintomas

de abstinência9 e tolerância. Para evitar o surgimento de tais sintomas, os usuários

passam a consumir a substância constantemente e a privilegiar o consumo a outras

coisas que antes valorizava.

A dependência “é a necessidade de continuar o consumo de uma droga

para evitar uma síndrome de abstinência (muitas vezes sintomas contrários aos

efeitos da droga)” (BURKHART, 1998, p. 8).

O termo dependência química significa escravo das drogas, comumente

9

Terrível sensação provocada, não pelo uso, mas pela ausência da droga. Muitas vezes, o sofrimento é tão intenso que é suficiente para manter o vício: o viciado passa a procurar a droga, não mais pelas sensações prazerosas que experimentava, mas para livrar-se do sofrimento da síndrome de abstinência (ARATANGY, 2010, p. 53).

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ao termo “adicto,” que significa dependente, apegado a alguma coisa. Dados do

Ministério da Saúde, do ano de 2003, conforme a OMS, indicam que 10% da

população mundial é consumidor abusivo de substâncias psicoativas. Sem distinção

de cor, raça, gênero ou etnia, o seu consumo atinge das camadas mais vulneráveis

até as mais altas da sociedade e do mundo.

Conforme Gonçalves (2010), a dependência química é uma doença

progressiva, em que dependendo da droga e do usuário as consequências podem

vir rapidamente ou gradativamente. Podendo ser esta, crônica, pois uma vez que o

individuo se torna dependente, não há cura, apenas tratamento e pode ser fatal,

levando o usuário desta à morte, se não buscar ajuda a tempo.

Há vários grupos terapêuticos e instituições governamentais e não

governamentais que trabalham visando a recuperação do dependente, assim como

grupos terapêuticos de apoio a familiares de dependentes, como a Nar-Anon, que

inclui usuários de drogas em geral, diferentemente do Al-Anon, que foca apenas em

familiares de dependentes do álcool.

Esses dois grupos adotam um programa composto por doze passos,

visando o crescimento espiritual do indivíduo, pois o codependente é tão vítima

quanto o dependente e precisa de tratamento tanto quanto, inclusive para lidar com

o dependente. Além destes, existe ainda o grupo ‘Amor Exigente’, que foca por

trabalhar na mudança de atitudes e de comportamento do codependente.

Conforme CID-10, para ser confirmada a dependência química, devem

ser diagnosticados pelo menos três desses comportamentos: um forte desejo ou

senso de compulsão para consumir a substância; comprometimento da capacidade

de controlar o início, término ou níveis de uso; estado de abstinência quando o uso

foi interrompido ou reduzido; tolerância aos efeitos, necessitando de quantidades

maiores para obter o efeito desejado; preocupação, pois houve um abandono das

atividades prazerosas ou de interesse significativo por causa do uso de drogas e uso

persistente, a despeito de evidências claras de consequências nocivas.

Já o IV Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-

IV), é diagnosticada dependência quando são manifestados três ou mais dos

seguintes critérios: tolerância, em que há necessidade de aumentar o consumo para

obter o efeito desejado; abstinência, sensação provocada pela ausência da droga; o

usuário gasta muito tempo em atividades necessárias para a obtenção e utilização

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da substância ou na recuperação de seus efeitos; importantes atividades sociais,

ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso, entre

outros.

Podemos perceber a comparação entre os dois sistemas de classificação

em que os critérios para diagnosticar a dependência em ambos são semelhantes e

claros. E que um elemento em comum para diagnosticar a dependência seria a falta

de controle e compulsão para o uso, “sensação de estar nas garras de algo

indesejado. É o que denominam de ‘fissura’ ou ‘craving’, desejo intenso ou ainda de

uma forma bem particular” (LARANJEIRA; FIGLE; BORDIN, 2004, p. 10).

Sendo assim, o dependente químico é

um indivíduo que se encontra numa situação vivencial insuportável, que ele não consegue resolver ou evitar, restando-lhe como única alternativa alterar a percepção desta realidade intolerável através da droga. Esta forma de compreender o dependente químico se coaduna com a concepção de dependência enquanto sintoma de um mal-estar psicológico mais amplo (SILVEIRA; MOREIRA, 2006, p. 5).

Detoni (2006) coloca que existem três tipos de usuários de drogas, o

ocasional, que só usa quando a droga está disponível; o habitual, que faz uso

frequente de substâncias psicoativas e o dependente, que não tem controle sobre o

uso e organiza sua vida em torno da droga.

Esta autora chama a atenção para o diagnóstico da dependência, pois

não é realizado pela quantidade ou frequência do consumo de álcool ou drogas. Não

é o número de doses de uísque ou de cigarros de maconha consumidos por dia que

caracteriza a dependência, mas a interferência da droga na vida do usuário, nos

relacionamentos, nos trabalhos, nos estudos.

Conforme a OMS, dependência é uma relação alterada entre um

indivíduo e seu modo de consumir uma substância. Essa relação alterada é capaz

de trazer problemas para o seu usuário. Muitos indivíduos, porém, não apresentam

problemas relacionados ao seu consumo. Outros apresentam problemas, mas não

podem ser considerados dependentes.

Por último, mesmo entre os dependentes, há diferentes níveis de

gravidade. Isto é, quando o consumo se mostra compulsivo e destinado à evitação

de sintomas de abstinência e cuja intensidade é capaz de ocasionar problemas

sociais, físicos e ou psicológicos, fala-se em dependência. Bem próximo a essa

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noção de dependência, não poderíamos deixar de abordar os codependentes que

são a família ou aqueles que mantêm um relacionamento próximo com o

dependente. Assunto este que iremos tratar no próximo ponto.

2.2. Codependência: uma doença?

De acordo com Beattie (2001), a palavra codependência surge na década

de 1970 para definir familiares e pessoas que possuem um relacionamento com o

dependente e que apresentam sentimentos e comportamentos afetados devido à

convivência com o dependente químico, como nervosismo, raiva, medo, ansiedade,

dentre outros. Portanto, a codependência configura-se como uma doença

emocional. Enquanto o dependente químico vive em função da droga, o

codependente vive em função do outro, “cuidando”, controlando-o e sentindo um alto

sentimento de culpa.

Segundo Cavalcante, codependência

é a resposta complexa à experiência de se ter um relacionamento íntimo, ou compromissado, com alguém que tenha um problema de dependência química ou outro tipo de desordem compulsiva. É muito comum nos filhos de alcoólicos e de adictos em geral e provavelmente torna-se mais enraizado na personalidade de pessoas que vieram de famílias disfuncionais. Essas pessoas tendem a sofrer profundos problemas de autoestima (CAVALCANTE, 2003, p. 10).

Já ZampierI (2010) acrescenta que a codependência diz respeito ao

convívio direto que o mesmo tem com o dependente, a qual os sintomas seriam um

alto grau de estresse e sofrimento emocional.

Devido a certas atitudes, e sofrimento, que a dependência causa no

individuo, as pessoas que convivem ao seu redor acabam por se preocupar, cuidar e

tomar para si a vida do próximo no sentido de cuidar ao extremo, vigiar, controlar e

ate mesmo tentar mudar o outro chegando ao ponto de entrar em “‘bocadas’

frequentando favelas, tentando achar e resgatar seu ente querido, e desse modo

colocando em risco suas próprias vidas” (GONÇALVES, 2010, p. 37).

Por aflorar sentimentos de sofrimento, o codependente acaba por

adoecer. Sendo assim, a codependência é considerada uma doença e suas

características “por incrível que pareça, são as mesmas da dependência química.

Também é uma doença progressiva, crônica e pode ser fatal se não houver controle

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a tempo” (GONÇALVES, 2010, p. 31).

Progressiva, pois o sofrimento ao lidar com o dependente tende a

aumentar significativamente. Crônica, pois precisa de apoio e tratamento que visem

em primeiro lugar a sua mudança e, por conseguinte, estratégias para lidar com o

dependente. E fatal porque, passando a viver para o outro e a vida do outro, o

codependente passa a ser um dependente do outro em depressão, não tendo mais

vida própria.

Ainda conforme as ideias de Gonçalves

se o familiar não se tratar, sofrerá as consequências profundamente; é questão de tempo. E não é muito. Poderá perder o emprego porque passa a chegar atrasado e muitas vezes até falta ao trabalho. Pelo fato de estar tentando controlar e mudar o dependente, deixa de se cuidar, abaixa sua autoestima, vem a raiva misturada com a culpa que se transformam em depressão, podendo aumentar a pressão, potencializar o diabetes, afetar o coração e levá-lo a uma grave doença e, não raro, à morte (2010, p. 37).

Dessa forma o codependente deve reconhecer que precisa de ajuda, e

que sua doença tem tratamento. Assim o mesmo entenderá o que é e como lidar,

numa perspectiva de mudança. Para Barrera (2006), falar em mudança e pensar em

mudar, o codependente deve em primeiro lugar reconhecer, pois se ele não tem

consciência da dimensão do problema dificilmente irá progredir para uma mudança.

2.3 A família como codependente

Entendemos por família como sendo uma instituição dinâmica, em que ao

longo dos anos vem tomando novas formas e conceitos. A família é uma totalidade

dentro da totalidade maior que é a sociedade. A maior responsável pelo

desenvolvimento é a mediação entre o indivíduo e a sociedade; é dentro da família

que são constituídas as bases de sustentação do ser e que irão se refletir na

sociedade as consequências, sendo elas positivas ou negativas.

Historicamente, a família assumiu caráter de hierarquia em que cada um

tinha suas funções delegada, como: para o homem, o papel seria de trabalhar para

trazer o sustento da casa, enquanto para a mulher a função era cuidar dos filhos e

da casa e para os filhos, como ainda hoje, alguns assuntos não eram tratados

abertamente, como conversa sobre sexo e drogas. No entanto, deve-se considerar

que nas últimas décadas o aumento da tecnologia facilitou o acesso à informação e

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ao conhecimento.

Vivemos em uma estrutura macrossocietária, em que temos bem presente

a negação dos direitos e valores, a individualidade e a estrutura familiar afetada, em

meio à sociedade do consumo atual, em que tudo vira mercadoria e na busca por

consumir esse contexto anterior muda, pois há a inserção da mulher no mercado de

trabalho, ficando assim os filhos aos cuidados de terceiros.

As famílias em geral podem vir a assumir fatores de proteção e de risco.

De proteção seria priorizar o diálogo como forma de informar e prevenir,

acompanhar as atividades dos filhos, estabelecer regras, se envolver na vida dos

filhos, demonstrando afeto, dando bom exemplo, respeitando a dinâmica da família,

e claro estabelecendo sua hierarquia de pai e de mãe.

E os fatores de risco para uso de substâncias psicoativas, seriam: pais

que fazem uso abusivo de drogas, que sofrem de doenças mentais, pais que

demonstram autoridade excessiva, ou muito exigentes; famílias que não priorizam o

diálogo e nem reflexões visando a solução de um problema. De certa forma, é

evidente que há fatores que predispõem o indivíduo para algo. Pois “um homem não

nasce, um homem se cria” (CAVALCANTE, 2003, p. 51). Não só a família, mas a

escola, os amigos e a comunidade, podem ser considerados fatores de risco e

proteção ao uso de drogas (SCHENKER, MINAYO, 2003).

A questão das drogas é vista como uma preocupação para as famílias,

inclusive aquelas que têm filhos adolescentes, tendo em vista que a adolescência é

uma fase de descobertas e a busca por experimentação do novo é inquestionável.

Cavalcante (2003) coloca que quando é descoberto que o seu familiar está usando

drogas, as famílias passam a viver:

esse momento com um grande sentimento de culpabilidade. Em que foi que erramos? Por que isso está acontecendo conosco que sempre demos o melhor de nós? Como? Se nunca deixamos faltar nada em casa! E tentam assumir a responsabilidade pelo que está se passando, com muita ansiedade. Outras vezes buscam soluções milagrosas, tentando, por exemplo, interná-los em instituições especializadas para que sejam purificados e curados, através de um processo de exorcização. Ou, então, são enviados a lugares distantes onde outros parentes poderão se ocupar do destino do jovem. Já alguns reagem acusando os amigos, as más companhias, a astúcia e a impunidade dos traficantes, o governo e os ambientes da moda. Estas atitudes nos parecem extremamente simplificadoras. O envolvimento do jovem com as drogas é insuportável para os pais. Eles ficam desesperados. Seja pelo medo do que venha a acontecer com o filho, seja pela destruição da imagem familiar que este episódio está denunciando aos amigos e parentes [...] (CAVALCANTE, 2003, p. 56).

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Muitos familiares tomam atitudes extremas pensando ser a solução para o

problema e acabam caindo dentre outros no “auto-engano da fuga geográfica”

(GONÇALVES 2010, p. 77), como mudar de casa, de bairro, de estado ou até

mesmo de país. Contudo, estão inteiramente enganados, pois a droga “pode ser

encontrada em todos os condomínios, em todas as escolas, em todas as boates, em

vários pontos de nossas ruas, em todos os bairros, em todas as cidades, em todos

os estados, em todos os países” (idem, 2010, p. 19).

Compreendendo a família como espaço de afeto, mas também como

espaço de desavenças, devido ao seu caráter de convivência, funciona como um

organismo; quando um de seus membros apresenta algum problema, seja ele qual

for. Nesse caso, em relação ao problema da doença, da dependência, toda a família

é afetada, ou seja, deve se compreender não apenas o indivíduo, mas também a

família em seu sistema (SCHENKR, MINAYO, 2003). Entende-se a família como

codependente, necessitando de apoio e tratamento.

Para Zampieri (2004), a codependência na família "funciona como uma

obsessão familiar sobre o comportamento e bem-estar do dependente, em que o

eixo da organização familiar passa a ser o controle do consumo” (idem, p. 64).

A partir das entrevistas realizadas com mães e familiares de

dependentes químicos, pudemos perceber que no desespero de tentar controlar o

uso de drogas de seu parente o familiar acaba por tomar medidas poderíamos dizer

desumanas; podemos destacar isso no depoimento de uma tia de dois sobrinhos

dependentes químicos, em que ela chega a trancar seu sobrinho no fundo de um

quintal.

... minha casa é dois cômodos mas é bem larga sabe, ai tinha um quartinho no quintal e quando ele chegava drogado eu botava ele lá dentro e fechava a porta. Dava comida a ele, dava água e mandava ele ficar quieto... (Joana).

Medidas essas são raras de acontecer. No decorrer das entrevistas, mães

e familiares relatam algumas situações drásticas, a fim de conter e tentar controlar o

consumo de drogas de seu ente, pois, o codependente tem a certeza de que pelo

menos naquele momento em que o dependente está trancado, amarrado,

acorrentado, não vai usar drogas. Solução imediatista esta, que com certeza, não é

a melhor.

No próximo capítulo, reconhecemos este ser o momento mais importante

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dessa pesquisa, pois nele estão os relatos, experiências e histórias de vida dos

entrevistados.

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3. FAMÍLIA E DEPENDÊNCIA QUÍMICA, COTIDIANO, REPRESENTAÇÕES E ENFRENTAMENTOS 3.1. O Centro Comunitário Luíza Távora e serviço social

Os centros comunitários foram criados no século XX, mais precisamente

na década de 80. No Pirambu, o Centro Comunitário Luíza Távora de acordo com

documentos da instituição foi criado em 1982 com o objetivo de executar a política

de proteção social básica e especial, atuando em ações que minimizam a

vulnerabilidade social e o fortalecimento dos vínculos sociais e comunitários. Para

tanto, o assistente social atua, enquanto peça fundamental para execução de

programas e projetos na instituição, com os demais profissionais, como psicóloga e

advogado. A instituição fica localizada na rua General Costa Matos, nº 8, Pirambu.

A inserção do assistente social na esfera estatal se deu no final da

Segunda Guerra Mundial, no contexto de aceleração industrial, em que houve um

intenso processo de migração de pessoas do campo para a cidade, iniciando assim

um crescente processo de urbanização. É nesse contexto que o serviço social

emerge enquanto profissão, frente às mais variadas expressões da questão social,

sendo a questão social alvo de intervenção estatal; assim surge um espaço sócio-

ocupacional para o assistente social, no qual ele atua na formulação, implementação

e execução de políticas sociais públicas (RAICHELLIS, 2009, p. 379).

Por ser hoje o Estado o seu maior empregador, a partir da década de

1980 surge um novo espaço sócio-ocupacional para o assistente social, os centros

comunitários, de um órgãos estatais mantidos pela Secretaria do Trabalho e

Desenvolvimento Social (STDS).

Em parceria com órgãos públicos e entidades não governamentais, o

Centro Comunitário Luíza Távora objetiva ainda, propiciar à comunidade acesso às

ações socioeducativas, culturais, qualificação e geração de renda, atendimento

socioassistencial, contribuindo, assim, para o processo de autonomia e

emancipação social das famílias e seus membros, e o fortalecimento das

organizações populares.

Atualmente são desenvolvidas no centro comunitário as atividades de

oficinas de qualificação profissional (oito oficinas e um curso de informática); oficinas

temáticas, com temas estratégicos como: família, drogas, sexualidade, meio

ambiente, higiene, violência etc.; assessoramento às organizações sociais /

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entidades comunitárias; acompanhamento às instituições cadastradas no programa

Sua Nota Vale Dinheiro e Projeto Conviver, com 130 idosos, em que 90 são do

Pirambu e 40 remanescentes do Centro Comunitário Goiabeiras.

A instituição tem como área de abrangência os bairros da Regional 1, que

é composta por Alagadiço, Álvaro Weyne, Arraial Moura Brasil, Carlito Pamplona,

Cristo Redentor, Farias Brito, Floresta, Jacarecanga, Jardim Iracema, Jardim

Guanabara, Monte Castelo, Nossa Senhora das Graças (Pirambu) e Vila Ellery. Tem

como parcerias o Centro de Saúde da Família Guiomar Arruda, CRAS do Pirambu,

ABC do Pirambu, Conselho Tutelar 1, 13ª Promotoria de Justiça do Juizado Especial

Cível e Criminal de Fortaleza, FEMOCOPI, CAPS e ONGs que são assessoradas

pela instituição.

O centro é composto por um salão em que acontecem as oficinas, a sala

da diretora, a sala da assistente social, uma sala de música inclusiva, que é um

projeto voltado para deficientes visuais, uma sala do curso de informática, por falta

de espaço, um curso de boneca de pano e arte em tecido, acontece no corredor em

frente a algumas salas e a cozinha.

Atualmente, o serviço social da instituição realiza atividades como

trabalho em grupo, atendimentos individuais, demanda espontânea, visitas

domiciliares e a ONGs e acompanhamento de oficinas. No momento, o serviço

social não está responsável por nenhum programa ou projeto desde 2012, após a

extinção do Programa Criança Fora da Rua e Dentro da Escola.

3.2. Perfil de mães e familiares de dependentes químicos acompanhados pelo serviço social do Centro Comunitário Luíza Távora – Pirambu

A ideia de pesquisar sobre a problemática em questão surgiu durante a

experiência de estágio, durante o período de mais ou menos um ano e meio.

Observamos que o público acompanhado pelo serviço social na instituição, na sua

maioria, tinha casos de filhos e parentes dependentes químicos e que diariamente

atendíamos mães e familiares destes em busca de ajuda, de orientação, ou mesmo

alguém para uma escuta profissional.

Considerando que por atuarem os centros comunitários na proteção

social básica, fazíamos apenas orientações e os devidos encaminhamentos. Ao

observar e acompanhar esses atendimentos, surgiram alguns questionamentos,

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como: quais os motivos que levam alguém a se envolver com drogas? Como uma

família lida com a situação de drogadição de um filho ou parente? Quais dificuldades

são vivenciadas por esses familiares? Quais as expectativas, se estas há, no que se

refere ao poder público e ao Estado para ajudá-los nessa área? Esses são alguns

dos questionamentos, dentre outros, nos qual buscamos esclarecer nessa pesquisa,

com base nos relatos das entrevistadas.

A comunidade onde se localiza o Centro Comunitário Luíza Távora no

bairro do Pirambu é marcada como cenário de violência urbana e da problemática

gritante da drogadição, em que a droga não é de difícil acesso, segundo relato de

uma entrevistada, “é porque aqui pra baixo tem muitas pessoas que traficam que

vendem drogas” (Clara).

Nos anos de 2007 a 2009, foi realizado um estudo da criminalidade e da

violência vivenciada pela população que habita os bairros da Secretaria Executiva

Regional I (SER I). Segundo a publicação, em 2009 foram registradas, no bairro do

Pirambu, 200 ocorrências de furtos, 481 de roubos, 135 de lesões corporais e 24 de

mortes violentas, em que 12 delas são homicídios10. Ou seja, segundo a pesquisa, o

bairro se apresenta como segundo mais violento de Fortaleza, ficando atrás

somente do bairro Barra do Ceará.

A pesquisa apresentada neste trabalho foi desenvolvida com mães e

familiares de dependentes químicos, tendo como objetivo geral entender como lidam

com a problemática de drogadição de seus filhos e parentes.

E, como objetivos específicos, conhecer o perfil socioeconômico das

famílias dos sujeitos envolvidos; perceber quais dificuldades são vivenciadas pelas

mães e familiares de dependentes químicos ao lidarem com a situação de

drogadição de seus filhos e parentes; compreender como as famílias se portam

diante da realidade dos filhos e parentes em situação de uso e abuso de drogas;

entender sob a ótica dos pesquisados os fatores que levaram seu familiar a se

envolver no mundo das drogas, entender o que as entrevistadas esperam do poder

público para ajudá-lo(s) nessa área.

Na busca por responder a esses questionamentos, buscamos conhecer

10

Pesquisa feita pelo Laboratório de Direitos Humanos, Cidadania e Ética (Labvida) e Laboratório de Estudos da Conflitualidade e Violência (Covio), ambos da Universidade Estadual do Ceará (Uece), e o Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC). Disponível em <www.UECE.br/covio/dmdocuments/regional_I.pdf>.

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de perto a realidade dessas mães e familiares que lidam com filhos e parentes

usuários de drogas. O nosso acesso ao público entrevistado se deu de forma

tranquila, sem grandes dificuldades, até porque diariamente atendíamos essa

demanda. Um dos critérios de seleção dos entrevistados foi através das fichas de

acompanhamento das famílias pelo serviço social. Identifiquei 30 famílias que

tinham o perfil da pesquisa, porém, apenas 15 ainda estavam frequentando

atividades na instituição, como cursos e oficinas.

Após a identificação, foi passada a proposta da pesquisa de forma

individual e assim finalizadas as entrevistas com sete mulheres que se

disponibilizam a participar da pesquisa. Sendo três mães, uma tia, uma avó, uma

esposa e um em que a própria foi dependente química por algum tempo. Visando

resguardar a identidade dos sujeitos pesquisados, estes foram identificados com

nomes fictícios, seguindo a sequência de apresentação a mesma das entrevistas.

Joana: 54 anos, brasileira, casada, evangélica, doméstica, estudou

apenas até a 4ª série do ensino fundamental, mãe de três filhos, respectivamente

22, 27 e 29 anos. Todos terminaram o ensino médio e hoje mora com ela apenas o

filho mais novo, de 22 anos. A família tem renda mensal de um salário mínimo,

reside em casa própria de dois cômodos, recebe um benefício do governo (bolsa-

família). Joana é tia de dois sobrinhos dependentes químicos, os quais passou a

criar depois que sua irmã faleceu.

Ana: 58 anos, brasileira, casada, católica, doméstica, não alfabetizada,

mãe de nove filhos, o mais velho com 28 anos e o mais novo com 16; apenas a

metade concluiu o ensino médio, os demais pararam de estudar e a mais nova ainda

estuda. A família tem renda mensal de mais ou menos R$ 200, reside em casa

própria de três cômodos com os filhos e um neto, recebe bolsa-família. Mãe de um

filho dependente químico, falecido recentemente, acredita-se que por overdose.11

Izabel: 62 anos, casada, brasileira, católica, doméstica, ensino

fundamental incompleto, mãe de dois filhos, um de 44 (falecido) e outro de 40 anos;

a família tem renda mensal de R$ 475, reside em casa própria, de dois cômodos,

com sua mãe e dois netos, recebe bolsa-família. Ela é avó de dois sobrinhos

dependentes químicos e hoje não moram mais com ela.

11

Palavra de origem inglesa que significa acima da dose, além do suportável pelo organismo. Pode ocasionar problemas orgânicos graves, inclusive a morte (CAVALCANTE, 2003, p. 24).

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Cecília: 44 anos, solteira, brasileira, católica, doméstica, estudou até a 5ª

série do ensino fundamental, mãe de cinco filhos, de 28, 26, 21, 18 e um de 13 anos

que é especial. Ela reside com ele em casa própria de quatro cômodos, recebe

bolsa-família, renda esta que é a única da família, no valor de R$ 45, ou seja, a

família vive em extrema pobreza. Ela foi dependente química desde os 37 anos e

segundo afirma parou recentemente devido a problemas de saúde e está em

tratamento.

Clarisse: 52 anos, casada, brasileira, católica, trabalha fazendo “bicos,”

não alfabetizada, mãe de dois filhos, um de 24 e outra de 16 anos; reside em casa

própria de dois cômodos com a filha mais nova, convive com menos de um salário

mínimo. Marido e sobrinha dependentes químicos.

Clara: 39 anos, casada, brasileira, católica, doméstica, mãe de duas

filhas, uma de 15 e outra de oito anos; reside em casa própria de três cômodos, com

o marido que é pescador e as duas filhas. A família tem por renda um salário mínimo

e mais o beneficio do governo, que é o bolsa-família, no valor de R$ 134 (cento e

trinta e quatro reais). Sua filha de 15 anos é usuária de drogas há mais ou menos

um ano.

Glória: 43 anos, solteira, brasileira, católica, trabalhava em uma empresa

na parte de serviços gerais, porém, teve que sair do emprego para ficar com seu

filho que é dependente químico. Neste emprego ela recebia meio salário e

trabalhava meio expediente; mãe de dois filhos, uma de 18 e outro de 16 anos; dos

seus filhos apenas a menina estuda, o outro deixou de estudar depois que começou

a usar drogas. Glória reside em casa própria de três cômodos, com sua mãe e os

filhos, e tem por renda mensal um salário e meio. Recebe bolsa-família e pensão.

Seu filho mais novo é dependente químico desde os 13 anos.

Podemos constatar que a questão da dependência química atinge várias

pessoas da mesma família; percebemos também que algumas dessas famílias

convivem com menos de um salário mínimo, algumas têm por renda apenas o bolsa-

família; das sete entrevistadas apenas uma concluiu o ensino médio. A maioria

durante a entrevista se emociona, principalmente quando pergunto quando

descobriu e peço para relembrar como foi e quando chego a perguntar como lida

com a situação de dependência química de seu filho ou parente.

Das sete entrevistadas, seis afirmam não saber ao certo quando seus

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filhos e parentes iniciaram o uso de substâncias psicoativas. Ficando isso claro nas

falas a seguir.

Quando eu descobri já tava bem adiantado porque eu não sabia, quando fui saber ele já tava até vendendo. (Ana). Só descobri porque a polícia pegou lá na pracinha, ai mandaram chamar a mãe dele, a mãe dele foi com o registro e amostrou, ai os policiais disseram; sua mãe sabe que você fuma maconha, aí ele disse sabe não, ai eles disseram olha aqui, olha aqui que coisa linda pra sua mãe, pra sua mãe, pra sua avó a policia disse ai soltou ele, ai tinha ido eu e a mãe dele a mãe dele foi levou o registro e eu fui também, até antes desse fato a gente nem desconfiava (Izabel). Eu fiquei chocada né, porque eu já tinha passado por aquilo e não queria que uma filha minha passasse, é tipo como se você levasse assim, é um choque mesmo porque você não espera nunca. Eu comecei a perceber, ela mudou a maneira de ser o comportamento, aí eu chegava do trabalho cansada, não prestava atenção, aí o pai dessa minha menina mais nova não é o mesmo pai dela, falou pra mim que ela tava usando droga, foi ele que descobriu primeiro de que eu (Clara). Ah, foi péssimo (entrevistada chora, fica calada por alguns segundos e continua), eu soube por que pessoas me falaram né, e aí mandaram eu ter mais cuidado com ele porque viram ele fumando numa passarela e vieram me dizer, aí eu fiquei apavorada né, pedi minhas conta no trabalho, porque eu trabalhava numa casa de família carteira assinada, eu trabalhava na messejana aí pedi as conta para ficar em casa e ficar mais com ele, mas foi mesmo que nada porque eu não consigo controlar porque eu não podia ficar em casa direto e atrás dele direto, eu tinha que sair pra fazer uma faxina, porque eu não tenho como ninguém me sustentar e ele né, aí quando eu não tava em casa ele saia, e como agora ele tá saindo mais, passa mais tempo fora do que dentro de casa (Glória).

Conforme os relatos de familiares, é comum as famílias não perceberem

quando seu parente iniciou o uso de drogas, até porque quando o usuário consegue

conciliar suas atividades rotineiras ao uso, dificilmente a família desconfia. Nesse

sentido, somente quando o usuário passa a consumir abusivamente deixando em

evidência os problemas que trazem o abuso de drogas, como abandono das

atividades na escola, trabalho, ou algo que antes o interessava é que a família passa

a desconfiar. No próximo tópico iremos aprofundar mais um pouco sobre o que traz

o discurso das entrevistadas.

3.3. Família e dependência química, cotidiano, representações e enfrentamentos

Por ser a questão da dependência química uma das diversas expressões

da questão social12, acaba sendo uma demanda posta ao assistente social, em que

12

Questão social segundo Iamamoto refere-se ao conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva,

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ele, de forma direta ou indireta, trabalha com essa demanda, seja em clínicas de

internação para dependentes químicos, comunidade terapêutica, CAPS, CREAS

dentre outros, seja em instituições que possuem esse público como demanda

espontânea, como o Centro Comunitário no Pirambu.

Por ser um mal que assola nossa humanidade e uma demanda para

várias áreas profissionais, sendo uma dessas o serviço social, exige hoje ainda mais

a profissionalização do assistente social nesta área, para atender a demanda que a

cada dia infelizmente só aumenta.

Logo a seguir iremos tratar das entrevistas. Compreendemos que este

seja um dos momentos mais importantes da pesquisa, pois traz em si os relatos,

vivências histórias e experiências de vida dos pesquisados a respeito da temática

em questão, ou seja, trataremos aqui em articular tudo o que foi debatido nos

capítulos e tópicos anteriores, que são a teoria a prática, ou seja, a teoria com a

pesquisa de campo.

Objetivamos perceber nesta pesquisa como ponto primordial quais

dificuldades são vivenciadas por mães e familiares de dependentes químicos ao

lidarem com a situação de drogadição de seus filhos e parentes.

Meu quintal era muito grande né, minha casa é dois cômodos mas é bem larga sabe, ai tinha um quartinho no quintal e quando ele chegava drogado eu botava ele lá dentro e fechava a porta. Dava comida a ele, dava água e mandava ele ficar quieto, ai ele ficava falando, falando, falando ai eu dizia assim pro Davi, Davi num liga não que eles tão drogado, quem tá drogado é assim mesmo, ai meu filho dizia (Davi) Mãe mas a gente num tem obrigação não certo que a tia era sua irmã a senhora gostava muito dela se davam muito bem, mas a senhora num tem obrigação mas de ficar aguentando essas coisas dos seus sobrinhos não. Ai chegou um momento que não deu mais pra aguentar por que eles já eram de maior né aí mandei eles viver a vida deles (Joana). Eu converso com ele, dou conselho, falo olha isso aí só leva pra morte, você está se destruindo, eu digo meu filho pare com essas coisas, ele usa essas coisas e fica falando besteira, escuta essas músicas véa de rap, não sei o que artigo 157, racionais né (Glória).

A partir do primeiro depoimento podemos perceber que muitas vezes o

familiar acaba tomando medidas drásticas, como acorrentar, amarrar, deixando os

familiares trancados na tentativa de conter ou mesmo dominar o dependente.

Compreendemos não ser esta a solução, mas infelizmente acabam tomando a única

medida imediatista de um familiar em desespero, pois já fizeram de tudo para tentar

o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade (IAMAMOTO, 2000, p. 27).

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controlar seu parente e não conseguiram.

Muitas vezes, nessa tentativa o familiar acaba deixando suas atividades

rotineiras em segundo plano, cuidando e tentando controlar o dependente, muitas

vezes sem êxito; podemos destacar isso na fala de uma mãe entrevistada: “pedi

minhas contas no trabalho [...] para ficar em casa e ficar mais com ele, mas foi

mesmo que nada porque eu não consigo controlar” (Gloria).

Conforme Gonçalves (2010), por ser a dependência química uma doença,

o dependente tem uma maior dificuldade sobre seu uso e por mais que a família

tente falar sobre os malefícios que traz o abuso de drogas, o dependente, inclusive

se se tratar de um adolescente ou jovem, tende a não acatar os conselhos e acaba

fazendo exatamente o contrário,

não adianta apenas falarmos para os jovens que droga é ruim. Se assim o fosse, tanta gente não a usaria. No começo deve ser muito bom. As consequências é que são terrivelmente desagregadoras e destruidoras tanto para os usuários quanto para os seus familiares (GONÇALVES, 2010, p. 23).

A sociedade tende a discriminar e rotular o dependente com os mais

variados insultos, com uma visão muitas vezes reducionista, pondo a “culpa” no

dependente, como se este pudesse deixar de usar quando quisesse, bastando ter

força de vontade, na família, enquanto não provedor de uma boa educação, e na

droga, como se esta tivesse vida própria.

Entendemos ser este um problema bem maior em que envolve a intensa

relação e interação entre indivíduo, sociedade e a droga; se considerado apenas um

item desses isoladamente, não obteremos avanço, pois se trata de uma visão do

senso comum. Cavalcante (2003, p. 15), nos faz pensar que

reduzir a questão das drogas a um discurso moralista e alarmista, além de significar um desconhecimento do contexto social, com todas as mazelas que nos perseguem, é abrir espaço para toda uma visão oportunista e manipuladora, que permite, entre outras coisas, a exploração do tema para fins eleitoreiros.

A temática das drogas é hoje colocada em evidência constantemente em

meio ao imenso meio midiático; é um tema preferido para fins eleitoreiros e o mais

utilizado, tendo em vista o imenso público e demasiadas famílias que sofrem devido

aos males causados pelo abuso das drogas.

O problema que envolve o fenômeno das drogas é de origem múltipla; ela

resulta do encontro de uma personalidade e de um produto inserido em um contexto

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sociocultural (CAVALCANTE, 2003, apud OLIEVENSTEIN, 1989). Na verdade, se

trata de uma questão complexa, que envolve vários fatores. Quando perguntamos

acerca dos fatores/ motivos que levaram seu familiar a se envolver no mundo das

drogas, muitos familiares se emocionam e colocam:

Eu acho que foi os conhecidos mesmo né, negócio de colega né, mas eu mesmo não sei como começou não, eu não sei não, ele foi porque ele quis também né, porque ninguém vai pegar e botar na boca de ninguém né, vai porque quer (Ana). Eles dizem que se envolverem porque minha Irmã também usava, mas eu acho que não justifica não porque os outros não são viciado os outros quatro tudim tem suas casas suas vidas, mas minha irmã em nenhum momento incentivou eles a usarem, não usava na frente deles, eles sabiam que ela usava. Ela faleceu não foi por causa disso não foi um problema no cérebro, mas foi por causa de cigarro não foi por causa da droga não ela morreu de câncer. Eles colocam a culpa na mãe.. ah porque minha mãe usava, eu também comecei a usar (Joana). As más companhias, porque ele saia de casa e não dizia pra onde ia, ele saia de casa e o pai dele nem ligava, ele hoje mora com o pai dele, quando ele morava comigo ele não usava não ele começou a se envolver com drogas depois que foi para lá (Izabel). Rapaz ele, os amigos que ele tinha era só do trabalho dele aí depois ele saiu do emprego começou a se envolver com os outros aí pronto caiu na droga e ela do mesmo jeito foi as amizades também (Clarisse). Eu acho que as amizades, ela começou com umas amizades estranhas, aí o pai dela disse pra mim, tu sabe que a menina que a tua filha ta andando usa maconha, aí eu perguntei a menina e ela disse, não eu já usei, mas parei, aí quando foi depois aconteceu né (Clara). Assim eu nunca deixei faltar nada dentro de casa pra eles, então eu não sei te falar um motivo assim não, eu dou carinho (Glória).

Os discursos se misturam, em um caso, é colocada a “culpa” na mãe pois

esta era dependente; em outro caso, percebemos que a mesma no fundo se sente

culpada e tenta entender onde foi que errou e, na fala da maioria é posta a “culpa”

nos amigos, nas amizades, nas más companhias.

Cavalcante (2010) destaca algumas possíveis causas que levam o

individuo a se envolver com drogas, são estas

Curiosidade: o jovem é um manancial de dúvidas, perguntas e vontade de conhecer. Muitas lhe é falado o “perigo” das drogas. Ele quer saber até que ponto isso é verdade. Quer conhecer, testar, vivenciar. [...] Influência dos amigos: na idade em que os jovens costumam iniciar o uso de drogas – dos 12 aos 15 anos - o poder de convencimento do grupo de amigos é quase total. Ser legitimado, reconhecido e identificado pela “patota” é vital. Estão aptos e disponíveis a fazerem não importa o que para se legitimarem no grupo. A força de persuasão dos amigos é sempre decisiva. Por isso, nessa fase, a opinião dos colegas vale mais do que a dos pais. Inútil insistir [...] (CAVALCANTE, 2003, p. 60).

Das sete entrevistadas, duas são mães de adolescentes dependentes

químicos, respectivamente de 15 e 16 anos e iniciaram o uso de substâncias

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psicoativas, segundo seus familiares, entre os 12 e 14 anos, perfil este colocado

pelo autor como para iniciar de uso de drogas. Outra entrevistada, avó de dois

dependentes químicos, coloca:

desde os doze, treze anos, ai hoje ele tá com dezessete, só que ninguém sabia que ele usava essas coisas, porque ele não dizia pra ninguém (Izabel).

Outras possíveis causas colocadas pelo autor, para iniciar o uso de

drogas são:

Ambiente: os locais por onde anda e frequenta são em grande parte reveladores dos riscos e/ou situações que vivenciam, lembrando o velho aforisma: “diz-me por onde andas e dir-te-ei quem és”. [...] Clima familiar (afetivo e químico): muitas vezes o jovem não encontra na família um espaço de vida. O comportamento dos outros lhe parece hostil. Quer fugir. Ser diferente. Experimentar outras vivências. Não se sente estimado, protegido. Ou o inverso em excesso. Por outro lado, alguns autores assinalam a coincidência no comportamento: quando o pai tem um problema, encontra uma solução química, toma bebida alcoólica. A mãe, quando tem algum contratempo, de igual forma aplica uma solução química, toma um comprimido de tranquilizante. Nessa perspectiva, o filho, diante de um impasse ou mal-estar, ensaiará também uma solução química, a droga. Um modelo familiar; fase de transição [...]; autoafirmação [...]; fuga/ viagem: [...]; correr risco [...] (CAVALCANTE, 2003, pp. 60 a 62).

O clima familiar afetivo e químico está presente em alguns depoimentos,

como colocado pelos familiares durante as entrevistas, por terem vivenciado os

problemas causados devido ao abuso de drogas. Nos depoimentos a seguir, temos

a situação de duas mães dependentes químicas, uma já falecida e a outra que foi

dependente por algum tempo e que hoje vive o sofrimento de uma codependente,

com a situação de dependência química da filha adolescente de 15 anos.

A minha Irmã já era viciada, bebia cachaça e fumava maconha, eles estudavam (sobrinhos) e ela sempre batia na mesma tecla pra eles não usar né, ai de seis filhos que ela teve quatro não usam e esses dois que usam, é um menino e uma menina o menino começou a usar com uns dezoito anos e ela também com a mesma idade, ai pronto de lá pra cá a gente leva eles pra igreja ai passou um mês dois mês mas não se concentra ai voltou de novo alguem tenta ajudar eles dois ai deixam de usar um dois meses ai voltam de novo [...].Eles dizem que se envolverem porque minha Irmã também usava... (Joana). ... porque eu já tinha passado por aquilo e não queria que uma filha minha passasse, é tipo como se você levasse assim, é um choque mesmo porque você não espera nunca... (Clara).

Não se sabe ao certo se há fatores objetivos que predispõem ao uso de

drogas, mas podemos, aqui, embasados nas falas das entrevistadas, analisar o

perfil dessas famílias que possuem um familiar dependente químico, em todo caso,

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no depoimento da maioria das entrevistadas afirmam ser as amizades, colegas e

maus companhias como fator primordial para iniciar o uso de drogas.

De toda forma, é constante nessas famílias a ausência do pai, sendo por

separação ou falecimento; na situação de família monoparental e a presença de

padrastos, em alguns casos, podemos destacar ainda que é uma constante ter um

histórico de pais dependentes, seja de bebidas alcoólicas, seja de substâncias

psicoativas. Contudo, não afirmamos serem estes os motivos objetivos para se

iniciar o uso de drogas, porém, revela ser este o perfil das famílias entrevistadas.

Porém, sabemos que a família pode se apresentar como fator de risco, podendo

indicar vulnerabilidade.

Outro ponto que consideramos relevante estar dentre as perguntas da

entrevista foi na opinião das entrevistadas se houve algum problema depois que seu

parente começou a usar droga:

Não ele nunca tinha me dado nenhum tipo de problema não, ele estudava aí com o tempo ele deixou de estudar, ai pronto eu num sei nem como foi que eu descobri ele fazendo isso aí, eu num sei como foi não, num sei se foi vizinho que eu comecei ver ele vendendo não sei mas antes disso acho que ele já usava né. Acho que ele já usava, ele num me dava problema não era só a mulher dele com ele mais né, porque ele queria dá na mulher chamava ela pra ir pra casa ela não queria ir, ai começava né ele brigava com ela ai quebrava as coisas dentro de casa quebrava até as telhas né pra poder entrar e porque ela não queria deixar né (Ana). Antes ela estudava, quando ela tinha quinze anos ela namorou teve uma meninazinha, eles eram normal né. Ele trabalhava, os pessoal levava ele pra trabalhar em construção, ele trabalhava normalmente. Ai depois que começaram a usar droga não quizeram mais nada na vida (Joana). Trouxe muitos problemas, porque é uma vergonha pra família, uma vergonha, antes ele estudava, eu acordava ele todo dia pra ir pra aula, mas aí depois disso não quis mais estudar, não quis mas saber de nada. (Izabel). Meu filho desde pequeno nunca gostou muito de estudar, eu pagava reforço pros dois filhos meu, aí a menina que ensinava reforço a ele dizia Glória tu vai ter um trabalhozinho com o seu filho porque ele não gosta de estudar tá entendendo, então um dos problemas é esse depois que começou a usar droga, já não gostava de estudar e depois disso parou total, tá com dois anos que ele não estuda parou com 14 anos na oitava série, diz ele que vai fazer o CEJA, mas o CEJA é lá na Liberato barroso aí ele ia a pé ele já é assim um pouco preguiçoso e ainda quer estudar nesse que é longe que só, o Moema Távora aqui bem pertinho pra quê colégio melhor que esse porque pra quem quer estudar, estuda em qualquer lugar (Glória). Eu fico insistindo pra ela ir pro colégio, fico aconselhando ela as coisas, fico insistindo mesmo, peço pra ela parar mais em casa, eu vim agora pra oficina e ela disse que ia ficar em casa, aí eu disse pois tá certo pois aproveita e lava a loca do almoço a chave tá aí. A moça lá do colégio dela me deu um papel pra mim ir com ela fazer um tratamento no CAPS, mas ela não quer ir de jeito nenhum ela pensa que é alguma coisa assim de internamento, ela disse que tem vergonha, mas eu disse minha filha ninguém vai saber, aí ela diz não mãe não eu não vou de jeito nenhum. Ela

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agora vai fazer um curso de doces e salgados aí eu já disse quando você terminar esse curso eu vou te matricular em outro, mas é assim uma luta (Clara).

A partir desses depoimentos podemos afirmar que a estrutura familiar

sem dúvida é abalada quando há a presença da droga, pois, além dos problemas

que o abuso de drogas causa ao dependente, na mesma proporção trata-se de uma

experiência dolorosa para a família e para quem convive com o dependente.

Podemos perceber ainda na maioria das entrevistadas que um dos

problemas latentes é o abandono das atividades como escola, trabalho, esporte,

depois que seu familiar começou a usar droga, são famílias que convivem com esse

problema entre um e 28 anos. São famílias que convivem com usuários dos mais

variados tipos de drogas, desde a maconha ao crack; são famílias em que os

dependentes usam mais nos finais de semana, mas, em outros casos, o uso da

droga é o dia todo, todo o dia.

Vivemos em uma época de acentuada tecnologia e globalização, em que

o acesso à informação chega mais rápido em menos tempo à mídia, tendo por

veículos de informação a TV, jornal, internet, rádio, revistas. Possuem em seu roteiro

a questão das drogas como tema principal e até estratégia de marketing, assim

como outras instâncias, como para fins eleitoreiros, em que diariamente basta

ligarmos a TV e ‘nos informamos’ acerca dos malefícios que traz o abuso de drogas

e os problemas advindos com este.

Conforme coloca Cavalcante, existem duas principais distorções em

relação às informações, são elas o sensacionalismo, em que consiste em enfatizar

de forma acentuada a droga como produto, desconsiderando as outras dimensões.

“Buscam mais o impacto, a bomba, o choque, em última análise, uma audiência

mais pelo barulho e exagero, do que pela equilibrada informação” (2003, p. 86)

a boa intenção destaca a tendência de que, exagerando, se conseguiria impedir à juventude o risco das drogas. Essa é uma postura duplamente equivocada: primeiro, os jovens sabem que essa mensagem é falsa, desonesta. Corre-se o perigo de não ser levado a sério. De ser desacreditado: ‘Esse cara não fala a verdade.’ Segundo, falar de risco não funciona como dissuasão para os jovens, mas – muito mais – como desafio Eles gostam de correr riscos (CAVALCANTE, 2003, pp. 86, 87).

A mídia movida pelo capitalismo é por vez contraditória, consiste não em

informações, mas em desinformações, em que muitas delas sobre o mundo das

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drogas; crianças e jovens aprendem em casa em frente à TV, informações estas

distorcidas e cheias de sensacionalismo, comprometendo ações futuras. Como

exemplo, programas policiais de noticiários locais.

Perguntamos ainda aos familiares entrevistados o que esperam do poder

público, do Estado, para ajudá-los nessa área. As respostas foram, respectivamente:

Isso ai pra mim na minha opinião era pra ter era emprego pra esse pessoal e acabar com os traficantes, porque é por causa dos traficante é que tem os pequeno né ( os usuário), porque ele começa a usar depois começa a vender. Mas antes tivesse emprego pra botar todo mundo pra trabalhar dentro dos presídios, porque tem muitos prisioneiro que vive só de roubar, dentro dos presídios eles usa drogas e comanda os que estão soltos e rouba o pessoal né negocio de banco, os cartãozeiros, e lá dentro mesmo rola drogas mesmo estando preso eles usa porque tem droga lá toda hora, ali não era pra entrar drogas porque já que estão presos é pra se recuperar, mas ali fica vendendo fica usando (Ana). É que tenha clínica pra internar esses menino que tem a cabeça virada e que usa essa pedra maldita, esse que ela veio falar aqui usa é pedra é meu neto, eu espero que tenha mais clinica com segurança que eles não possam fugir esse que eu to falando já foi internado várias vezes mas só que ele foge é tudo aberto (Izabel). Mais clínica pública para ajudar esses que usam e que querem sair, essa minha sobrinha não se internou ainda por que não acharam uma clínica pra ela, mas ela tem maior vontade de sair da droga (Clarisse). Eu acho que deveria assim dá mais emprego, dá mais oportunidade para essas pessoas, porque esses jovens que usam drogas eles são muito discriminados, as pessoas acham que eles não vão fazer nada, que vão desistir, aí eu acho que deveria assim, colocar mais cursos, mais esporte, mais emprego, mesmo que seja pra ganhar um salário mas um valor pra eles se manter, pra comprar um calçado, uma roupa, essas coisas né (Clara). Ah, eu espero que dê mais oportunidades para os jovens, mas aí você vê né que tanto faz em classe baixa, classe alta tá se alastrando né (Glória).

Percebemos que as falas seguem em uma mesma linha, são famílias

fragilizadas em que no momento das entrevistas ouvimos vários argumentos como

“foi tão bom conversar sobre isso, estava precisando de alguém para desabafar”

(Cecília). São pessoas que clamam por socorro, pois além da problemática de

drogadição de seus familiares, se tratam de famílias pobres e algumas vivem em

extrema pobreza, com o bolsa-família com o valor de R$ 45, mais ajuda de terceiros,

e alguns bicos quando aparece. Nesta entrevista, Cecília declarou ter sido

dependente química durante sete anos, o que nos fez sentirmos uma expectativa e

um desabafo tremendo seu quando perguntada o que ela espera do poder público

para ajudá-la na área da dependência química.

Pra ajudar essas pessoas, tem muitas que tem problema né como eu tenho meu filho é especial não consigo aposentar vivo numa vida precária, tem dia

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que não tenho o que comer, passo a maior parte do tempo sem ter né, isso aí é que leva agente a ficar mais fraca né, eu ajudo em uma casa em outra pra ter o que comer, uma ajuda de cesta básica. E mais clínica sem ser pago porque quem num tem nem o que comer como é que vai ter uma cesta básica pra dar numa clinica, tinha que ter mais clínica gratuita para os dependentes químicos (Cecília).

Estudando, pesquisando e ouvindo essas pessoas constatamos que as

políticas públicas existentes voltadas para essa questão não são suficientes. E essa

pesquisa é apenas um recorte, mas, pensando mais além, quantas pessoas,

quantas comunidades vivem nesse mesmo dilema. Sem dúvida são indivíduos que

tiveram seus direitos, inclusive sociais, violados e necessitam urgentemente de

ajuda, de apoio, visando sua reinserção social.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos iniciar as considerações desse estudo afirmando que, em todas

as épocas, não houve cultura sem o consumo de drogas, seja para fins ritualísticos,

seja para fins recreativos, no sentido de obter sensações prazerosas, por vezes

estimulantes e transcendentais. Com o passar dos tempos, mas precisamente com a

Revolução Industrial, foram sendo potencializadas as drogas já existentes e a

criação de novas.

Atualmente, o mercado das drogas é o terceiro maior negócio empresarial

do mundo, ou seja, o comércio do tráfico de drogas movimenta muito dinheiro, é um

mercado que vem crescendo a cada dia e gera ao traficante uma desastrosa

riqueza, pois, por trás está a violência, o crime, pessoas e famílias sendo destruídas

e tendo suas vidas ceifadas.

Detectamos ainda com a análise dos depoimentos de que, ao iniciar o uso

de substâncias psicoativas, o indivíduo tem um falso engano de que pensa que sabe

dominar suas vontades e o seu organismo e o que muitas vezes devia ser um

“remédio” para suas frustrações, na verdade o usuário acaba trocando um problema

por outro bem maior, que é quando o mesmo não tem mais domínio, isto é, está

dominado pela droga, em que na busca por tentar sair e acaba encontrando um

desafio constante, pelo menos sozinho não consegue, necessita de ajuda e, nessa

hora, do apoio da família.

Com base nos relatos das entrevistadas, o estudo nos deixou evidente a

fragilidade e a impotência dos codependentes em lidar com a situação de

dependência de seu familiar e a intensa preocupação destes na relação droga,

violência e crime.

Podemos constatar que a dependência química, sem dúvida, é a maior

responsável pela fragilização dos laços familiares e rompimento dos vínculos, sendo

esta uma das principais causas das dificuldades enfrentadas hoje. Ressalte-se ainda

o vagão que temos no que se refere à efetivação de políticas públicas existentes e a

reinserção dessas pessoas, que devido a sua condição de dependência química

tiveram de alguma forma suas vidas afetadas e desestruturadas. Dessa forma, as

políticas públicas existentes, no que diz respeito à prevenção e de combate às

drogas, são, no mínimo, insuficientes, pois não comportam, não dão conta da vasta

demanda.

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Precisamos de políticas eficazes e duradouras, voltadas para a prevenção

daqueles que ainda não tiveram contato com as drogas e para a reabilitação

daqueles que querem, mas não conseguem se livrar do vício das drogas, pelo

menos sozinho, e necessitam de ajuda de apoio.

Sem dúvidas pesquisas que abordam a questão das drogas são

necessárias, considerando que os problemas que as envolvem só aumenta a cada

dia, pois é um tema amplo e que está posto em nossa sociedade de forma

multifacetada, e transversal.

Tratamos nesse estudo de indivíduos inseridos em uma comunidade

considerada pobre, e vulnerável socialmente com problemas de habitação irregular,

desemprego, alcoolismo, drogas dentre outros problemas sociais Esse estudo nos

mostrou que a droga muitas vezes passa a ser a única opção para aqueles que

tiveram seus direitos violados, inclusive sociais.

Busquei ao longo desse estudo estabelecer uma relação de confiança

com o publico pesquisado, ponto este que se apresentou de forma positiva, sendo o

momento da entrevista um momento de diálogo, assim o mesmo fica a vontade para

responder as perguntas. Recomendamos para próximos pesquisadores sobre essa

temática, de que ir ao campo quanto mais cedo melhor, para melhor aproveitamento

quanto à coleta de dados. Evitando assim posteriores insatisfações.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A

Pesquisa de TCC: A questão da dependência química sob a ótica de mães e,

parentes de usuários de drogas acompanhados pelo Serviço Social do Centro

Comunitário Luíza Távora.

Pesquisadores: Francievelin Lima de Sousa (Orientanda) e Verbena Sandy

(Orientadora).

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM MÃES E PARENTES DE DEPENDENTES

QUÍMICOS ACOMPANHADOS PELO SERVIÇO SOCIAL DO C. COMUNITÁRIO

LUÍZA TÁVORA.

Nome: _________________

Idade: ______

Estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado

Qual a sua religião?______________________

Quantos filhos? ( ) (Idade: ________________________)

Com quem eles moram___________________________

Estudam? SIM ( ) NÃO( ) Se não porque?______________________________

Naturalidade: _____________________

Qual a sua formação acadêmica? ( ) Não Alfabetizado ( ) Alfabetizado ( )

Ensino fundamental I ( ) Ensino Fundamental II ( ) Ensino médio ( ) Superior

incompleto ( ) Superior completo.

Você trabalha? ( ) Sim ( ) Não Qual a profissão?_________________

Valor renda familiar ___________________________

Quantos cômodos tem na casa?____________________________

Recebe algum beneficio do governo? ( ) sim ( ) não. Se sim especifique

_______________________.

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1- Quando a Srª descobriu que seu filho ou parente era usuário de drogas? Como

foi?

2- O que você sentiu, sua reação quando descobriu?

3- Na sua opinião, quais os fatores (motivos) que levaram seu filho (a) ou parente a

se envolver com Drogas.

4- Como ele se comporta quando está sob o efeito de Drogas?

5- Como você lida com essa situação?

6- O que ele(a) faz para comprar Drogas?

7- Na sua opinião porque ele usa Drogas?

8- Já teve ou tem algum problema depois que começou a usar drogas?

9- Qual a freqüência?

10- Qual(is) as Drogas(as) que ele(a) usa?

11- Quanto tempo faz que ele usa?

12-Ele(a) estuda?

13- Trabalha?

14-Pratica esportes?

15- Já tentou parar de usar Drogas?

16- Se sim? Onde?

17- Se não? O que pode fazer por ele?

18- O que você espera do poder publico, do estado para ajudá-lo nesta área?

19- Conhece algum lugar para tratamento?

20- Se sim? Qual?

21- Se não? Porque?

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APÊNDICE B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a) para participar da Pesquisa “a questão da Dependência Química sob ótica de

mães e, parentes de usuários de drogas acompanhados pelo Serviço Social do Centro Comunitário Luíza

Távora”, sob a responsabilidade da pesquisadora Francievelin Lima de Sousa sob orientação de Verbena Paula

Sandy, que tem por objetivo geral Pesquisar e entender como as mães e familiares de dependentes químicos,

acompanhados pelo Serviço Social do Centro Comunitário Luíza Távora lidam com a problemática da

drogadição dos filhos e parentes.

Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista, que consiste em respostas a perguntas

apresentadas ao Sr(a). pelo pesquisador. A entrevista será realizada no Centro Comunitário, no dia

previamente marcado, de acordo com a sua disponibilidade. Os depoimentos desta entrevista serão gravados

com seu consentimento.

Não há riscos decorrentes da sua participação e o Sr(a). possui a liberdade de retirar sua permissão a

qualquer momento, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo

a sua pessoa e nem ao seu atendimento e/ ou trabalho na Instituição.

Não há despesas pessoais para o(a) participante em qualquer fase do estudo. Também não há

compensação financeira relacionada à sua participação.

Os pesquisadores assumem o compromisso de utilizar os dados somente para esta pesquisa. Os

resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada

em sigilo.

Para qualquer outra informação, o Sr(a). poderá entrar em contato com a pesquisadora no endereço

Rua General Costa Matos, nº 08 – Pirambu e pelos telefones 31012372 / 85042403.

Consentimento Pós–Informação

Eu,___________________________________________________________, fui informado sobre o que o

pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo

em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento é

emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um

de nós.

________________________________________ Data: ___/ ____/ ____

Assinatura do Participante

__________________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

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APÊNDICE C

TERMO DE CIÊNCIA DO RESPONSÁVEL PELO SETOR ONDE SERÁ REALIZADA A PESQUISA

Eu, Cecília Maria da Costa, coordenador(a) do Centro Comunitário Luíza Távora,

conheço o protocolo da pesquisa intitulado: A questão da dependência química sob a ótica de

mães e parentes de usuários de drogas acompanhados pelo Serviço Social do Centro

Comunitário Luíza Távora, desenvolvido por Verbena Paula Sandy com Graduação em

Serviço Social, Especialização em Família: Uma abordagem sistêmica e Francievelin Lima de

Sousa acadêmico(a) do curso de Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense.

Conheço seus objetivos e a metodologia que será desenvolvida, estando ciente de que os

pesquisadores não irão interferir no fluxo normal do Serviço.

Fortaleza, 23 de julho de 2013

_______________________________________________

Cecília Maria da Costa