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O CIRURGIÃO-DENTISTA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA Dourados 2011

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O CIRURGIÃO-DENTISTA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Dourados2011

SÉRGIO LUIZ RAMOS

O CIRURGIÃO-DENTISTA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Artigo apresentado como Trabalho de

3

Conclusão do Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família. Orientador M. Sc. Fernando Lamers.

Dourados 2011

Dedico este trabalho

a todos os idealistas que acreditam

no ideal de Saúde Pública e que lutam

para melhorar a dignidade do ser humano.

Agradeço a:

Deus, que nos guiou no intuito de concluirmos esses conhecimentos.

Prof. Fernando Lamers, pelo tempo dedicado à minha orientação e pelos saberes que me

transmitiu.

Dificuldades e obstáculos

são fontes valiosas de saúde

e força para qualquer sociedade.

(Albert Einstein)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CFO – Conselho Federal de Odontologia

CPOD - Número médio de dentes permanentes cariados, perdidos e obturados, aos 12 anos de

idade, em determinado espaço geográfico, no ano considerado.

CEP – Comitê de Ética em pesquisa em seres humanos

ESB – Equipes de Saúde Bucal

ESF – Estratégia de Saúde da Família

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PSF – Programa de Saúde da Família

SUS – Sistema Único de Saúde

TCLE – Termo de consentimento livre e esclarecido

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 03

2 MATERIAL E MÉTODOS....................................................................... 08

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................ ... 09

3.1 Identificação dos participantes.................................................................. 09

3.2 Qualificação dos profissionais.................................................................. 10

3.3 Estrutura e concepção do trabalho............................................................ 11

4 CONCLUSÃO........................................................................................... 15

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................... 18

6 ANEXO...................................................................................................... 21

Modelo do Questionário

O CIRURGIÃO-DENTISTA E A ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

THE DENTIST AND THE FAMILY HEALTH STRATEGY

RAMOS, S. L. 1

LAMERS, F. 2

RESUMO

Este estudo tem como objetivo buscar conhecer a qualificação e compreender as dificuldades do trabalho do cirurgião-dentista inserido na equipe de saúde bucal da Estratégia da Família do município de Dourados. A população foi composta por 40 cirurgiões-dentistas das ESFs, sendo que 29 deles concordaram em responder entrevistas sem identificação nominal em um roteiro composto por perguntas fechadas e semi-abertas contendo vários aspectos sobre a atuação do cirurgião-dentista na equipe de saúde bucal. Os principais resultados encontrados foram: idade situada entre 31 a 60 anos; preponderância de tempo de formado de 21 a 30 anos; hegemonia do sexo feminino; deficiências nas diretrizes curriculares da graduação na área da Saúde Coletiva que poderiam contribuir para o trabalho desenvolvido; maioria dos participantes com especialização ou aperfeiçoamento na área da Saúde Pública; trabalho com foco no atendimento clínico, prevenção e educação em saúde; realização de visitas domiciliares; problemas com a aceitação por parte da comunidade do trabalho preventivo e cuidado em saúde; predominância de harmonia no trabalho em equipe; falta de promoção de ações multidisciplinares; aplicação do princípio da integralidade; filosofia da ESF e proposta de atenção à saúde como motivação principal e satisfação com o trabalho desenvolvido. Os resultados demonstram a necessidade de reestruturação das matrizes curriculares da graduação, do incentivo ao aprimoramento do profissional na área, de maior integração multidisciplinar, do redirecionamento das práticas de prevenção e cuidado para maior vínculo com a comunidade, além de monitoramento e permanente avaliação das ações desenvolvidas pela equipe.

Palavras-chave: equipe, qualificação, graduação, motivação, satisfação, ESF

ABSTRACT

This study aims to know the dentists qualification and understand their difficulties when inserted in the oral health teams at Family Health Strategy (FHS) in Dourados, MS. The target population was composed by 40 dentists from the FHS but only 29 agreed to answer the interviews with no identification data. They were oriented by a guidebook with some closed and semi-opened questions consisting of several aspects, concerning to their performance in the oral health team. The main results found were: 31-60 years old professionals; supremacy of 21-30 years of graduation time; hegemony of the female gender; deficiencies on the curricular guidelines on the Public Health graduation which might contribute for the developed work; the majority of the dentists are specialized or improved in Public Health Program; their work focuses the clinical activity, health prevention and education; achievement home visits; problems with the approval for a preventive work and health care by the community; predominance of harmony in the work team; lack of promoting multidisciplinary actions; Integrality Principle application; FHS philosophy and proposal for health care as a main motivation and satisfaction with the developed work. The results indicate the necessity of a new structure on the curricular

guidelines on dentistry graduation and it must be stimulated the professional improvement and a greater multidisciplinary integration and a new direction on preventive and health care practices to bond with the community as well as a close follow-up and evaluation of the actions developed by the team.

Keywords: team, qualification, graduation, motivation, satisfaction, FHS

1 Pós-graduando do Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, EaD, UFMS, Fio Cruz.2 Tutor do Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, EaD, UFMS, Fio Cruz.

1 INTRODUÇÃO

Na tentativa de minimizar diferenças sociais e ofertar ações para a melhoria da saúde

da população brasileira, é fundamental que se reavalie constantemente os ideais de criação do

Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pela reestruturação do modelo de prestação de

saúde pública no Brasil.

Sabe-se, de acordo com o Ministério da Saúde (2000), que os princípios de

universalidade, equidade, descentralização, hierarquização e controle social que se originaram

da VIII Conferência Nacional de Saúde (1986) se consagraram na Constituição de 1988

reafirmando a necessidade de estruturação de um processo social mais justo.

Pela análise do contexto predominantemente curativo dos modelos assistenciais,

utilização irracional de recursos e inefetiva resolubilidade, gerando insatisfação em todos os

setores da rede, o Ministério da Saúde, na tentativa de reorientar o modelo brasileiro, implanta

em 1994 o Programa de Saúde da Família - PSF, ainda não de modo integral, sem a presença

do cirurgião-dentista (ARAÚJO E DIMENSTEIN, 2006).

Uma nova dinâmica é então proposta à saúde, através da sua união com a família e a

comunidade (ESCOREL et al., 2007). O profissional inserido no contexto do PSF passa a

assumir o compromisso em grupo de assistência resolutiva e de identificação de fatores de

risco aos quais a população assistida está exposta (UNIV. DE SÃO PAULO, 2000).

Com a criação do incentivo de saúde bucal pelo Ministério da Saúde em 2000,

inserem-se então, as Equipes de Saúde Bucal (ESB) a partir da Portaria nº. 1.444, de 28 / 12 /

2000 no Programa de Saúde da Família (PSF), hoje Estratégia de Saúde da Família (ESF),

preenchendo assim a lacuna que se acreditava faltar para o cumprimento da integralidade de

cuidados ao indivíduo como um todo.

3

A atuação do cirurgião-dentista no serviço público de saúde anterior à criação do

Sistema Único de Saúde consistia, por tradição, ao atendimento clínico da população nos

Postos de Saúde, hoje Unidades Básicas de Saúde ou ao trabalho solitário restrito ao ambiente

físico do consultório particular (ALVES et al., 2009).

Dados do Conselho Federal de Odontologia (CFO) apontam para um crescimento de

49% entre os anos de 2002 a 2009 do número de cirurgiões-dentistas ligados ao SUS. A

inserção do cirurgião-dentista na ESB das ESF aparece como oportunidade inclusive de

primeiro emprego para esses cirurgiões-dentistas. O investimento no Programa Brasil

Sorridente e a expansão dos serviços públicos na Odontologia foram fundamentais para essa

mudança de quadro, no qual não se desvincula a saúde da população da saúde bucal.

O advento da ESF trouxe consigo o desafio de mudar a prática curativa, higienista e

restrita antes a ambiente restrito do consultório. A implantação das ESB se instaurou em

momentos planejados de apropriação de território, identificação de desigualdades,

estabelecimento de grupos prioritários e cuidado longitudinal às famílias assistidas.

Como a Odontologia não esteve presente desde o início do programa, Baldani et al.,

(2005) acreditam que prejuízos se acarretaram no processo de integralização dos

profissionais.

Quando se pensa no trabalho do cirurgião-dentista, se imagina que ele trabalhe

exaustivamente em um ambiente fechado, atendendo pacientes, imagem essa que povoa o

imaginário de quase uma totalidade da população, quando se remete à saída dele do

consultório para visitas domiciliares, atividades em grupo e outras atividades previstas na ESF

estranheza e desconfiança despontam (GONÇALVES E RAMOS, 2010).

Agripino et al., (2005) acreditam que a partir do momento em que a atenção à saúde

bucal passa a ser focada no domicílio, rompendo com a prática odontológica tradicional

centrada na dor, passa-se a exigir uma mudança qualitativa na abordagem de doenças e na

integração das ações combinadas, através da humanização das práticas de saúde (UNIV. DE

SÃO PAULO, 2000).

A inclusão do cirurgião-dentista acabou por se dar de maneira um tanto quanto

desorganizada, sem planejamento, resultando muitas vezes num simples acúmulo de horas de

atendimento e procedimentos de resolução imediata, sem a preocupação com a realização de

ações preventivas e educativas (ARAÚJO; DIMENSTEIN, 2005).

Segundo aspectos administrativos, os profissionais, segundo Baldani et al., (2005)

podem ter sido inseridos através de concursos públicos, testes seletivos internos,

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aproveitamento de pessoal sem teste seletivo, credenciamento, licitação ou contrato de

prestação de serviços.

A contratação temporária pode gerar o problema da rotatividade no setor, implicando

em instabilidade e insegurança para a equipe, pois a permanência do profissional é curta.

(GONÇALVES e RAMOS, 2010).

Deste período em diante, segundo Cericato et al., (2007) princípios e diretrizes se

confundiram pela grande demanda de trabalho e por dificuldades administrativas tais como as

trazidas pelas inovações, como a utilização dos Sistemas de Informação em Saúde, utilizados

como ferramentas de planejamento e gestão. Barros et al., (2003) concluem que o adequado

preenchimento dos instrumentos de registros de dados, a sensibilidade da sua importância e a

sua utilização na análise e difusão de informações no desenvolvimento dos modelos de

assistência à saúde bucal requerem treinamento permanente dos profissionais envolvidos.

A Portaria 2.527 de 19/10/2006 define como conteúdos mínimos do curso introdutório

para profissionais da saúde da família uma carga horária mínima de 40 horas para certificação

abrangendo a atenção básica, a organização dos sistemas locais de saúde, o processo de

trabalho das equipes, a atuação interdisciplinar e a participação popular (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2006).

Escorel et al., (2007) constatam que o trabalho que se apóia em equipes

multiprofissionais deve oferecer atenção integral e sustentar a proposta de melhoria social

abrangente da Estratégia de Saúde da Família, objetivando a inclusão social e exigindo

qualificação e total adesão dos profissionais nela inseridos.

Diante de toda essa inovação, Cericato et al., (2007) entendem que a lógica de ampliar

a visão da saúde pode não ter sido contemplada anteriormente, na formação acadêmica de

odontologia, ou, ainda que tenha sido, ocorreu de forma pontual e isolada, refletindo na falta

de domínio para o trabalho em equipe, na visão interdisciplinar e na motivação.

Pinheiro et al., (2008) também constataram que os conhecimentos adquiridos na

graduação podem ter sido insuficientes para o desenvolvimento do trabalho no Programa de

Saúde da Família, restringindo as atividades à técnica somente.

Matos e Tomita (2004) verificaram que uma das universidades investigadas

apresentou um currículo baseado nas novas diretrizes curriculares enquanto as outras duas

contavam com um currículo em reforma há pelo menos quatro anos.

Nas universidades que saem na frente, Sanchez et al., (2008) destacaram que aquelas

que tem como proposta estágios supervisionados em regime de internato em pequenos

municípios possibilitam a vivência do dia-a-dia de uma ESF e da realidade muitas vezes dura

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e cruel das famílias assistidas, fazendo com que se compreenda que a aquisição de

conhecimentos extrapola o ambiente físico da universidade e trazendo experiências que

posteriormente somadas farão dos alunos melhores profissionais na área da saúde pública.

Salientam também que conforme se vivencia a realidade, mais se passa a demonstrar

sensibilidade perante o vínculo que deve se firmar entre o cirurgião-dentista e a comunidade.

Dependendo então da bagagem acadêmica que o profissional carrega, quando ele se

depara com o propósito da ESF em desenvolver um amplo e eficiente trabalho, pode se

estabelecer um conflito. O dentista vem segundo Pinheiro et al., (2008) incorporado com a

concepção de promover saúde, mas ainda impregnado com a ideologia curativista e tem que

lidar com integração de equipe, intersetorialidade e as próprias condições de saúde da

população que por vezes, ainda não absorveram o conceito da fusão profissional - família.

Muitas vezes ainda, o formando sai da universidade, segundo Matos e Tomita (2004)

com a perspectiva voltada para a lógica do mercado, distanciando-se da perspectiva do SUS.

Nesse descompasso, autores são unânimes em atentar que ensino superior e saúde

devem estar atrelados e que estratégias de conhecimento são necessárias para a qualificação

de profissionais de saúde na melhoria de suas práticas, além do que salientar que os Pólos de

Capacitação, Formação e Educação Permanente ocupam um espaço indiscutível na formação

do profissional de saúde e devem ser trabalhados no sentido de capacitar o trabalho na saúde,

fazendo com que ele seja mais efetivo e participativo (BARBOSA, 2009; MATOS e

TOMITA, 2004).

Gonçalves e Ramos (2010) detectaram em suas entrevistas resultados que mostram

que a força do trabalho do dentista da ESF se forma na pós-graduação na área da saúde

pública levando ao intenso comprometimento dos profissionais com a Saúde da Família. Os

que já estão predispostos a usar os valores na prática sentem-se realizados ao contrário dos

que, despreparados para os desafios, fazem da frustração um limite para seu trabalho.

Partindo da hipótese de que havia falhas na formação no nível de graduação dos

dentistas e sua inserção na rede básica do município, Villalba et al., (2009) se surpreenderam

no que se referia à visão destes profissionais que, apesar de reconhecerem a defasagem de

conhecimentos na área da saúde, detêm muitas noções sobre o SUS e a ESF, e, mediante

enfrentamento puderam reconhecer seu lugar nas equipes e alavancar iniciativas no âmbito da

educação permanente.

Segundo o IBGE (2009), o município de Dourados tem uma população estimada em

189.762 habitantes, distribuídos em uma área territorial de 4086 km quadrados. Quando da

criação do SUS (1998), Dourados contava com duas equipes de Estratégia de Saúde da

146

Família, sendo que em 2007 este número já havia crescido para 35 equipes que

acompanhavam 28.989 famílias e atualmente, em 2010, conta com 40 equipes. As equipes de

saúde bucal foram incorporadas à Estratégia de Saúde da Família a partir de 2001, evoluindo

para 29 equipes no ano de 2007 e alcançando hoje, no ano de 2010, 40 equipes de saúde bucal

numa relação de 1/1, com uma equipe de saúde bucal para cada equipe de Estratégia de Saúde

da Família. Nota-se uma diminuição considerável no índice CPOD (número médio de dentes

permanentes cariados, perdidos e obturados, aos 12 anos de idade, em determinado espaço

geográfico, no ano considerado de 2000) de 3,15 em 2000 para 1,88 em 2006 (SECRETARIA

MUNICIPAL DE SAÚDE DE DOURADOS, 2008), demonstrando assim a importância da

atuação do cirurgião - dentista na saúde pública.

Perante toda essa nova proposta, o profissional se depara diante de desafios. De acordo

com Agripino et al., (2007), os profissionais se vêem diante da necessidade de modificação da

prática assistencialista e curativa, devendo inserir a odontologia integralmente na saúde.

Segundo Pinheiro et al., (2008), ainda não ocorre o entendimento de promoção de

saúde como uma proposta ampla passível de influenciar mudanças significativas nas políticas

de saúde, na participação da comunidade e na organização de serviços.

Conhecer essas situações se faz válido para que, através de um esforço conjunto se

possam detectar necessidades e levantar propostas junto à coordenadoria de saúde bucal

visando planejar e desenvolver ações que busquem suprir eventuais falhas, otimizando a

organização do trabalho do cirurgião-dentista na Estratégia de Saúde da Família e as

necessidades da comunidade.

Considerando como permanente e intensa a reestruturação do profissional para se

adequar às exigências do modelo atual de saúde, a presente pesquisa tem como objetivo

buscar conhecer a qualificação e compreender as dificuldades do trabalho do cirurgião-

dentista inserido na equipe de saúde bucal da Estratégia da Família, identificar se os dentistas

têm procurado aperfeiçoar sua qualificação profissional, analisar qual a motivação principal

para estes profissionais estarem desenvolvendo suas atividades e relatar se existem

dificuldades em relação ao trabalho em equipe.

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2 MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo teve como base o método quantitativo descritivo.

A pesquisa quantitativa, segundo Richardson (1989), pode ser denominada como um

tipo de abordagem que possui uma metodologia que costuma impor uma estrutura pré-

determinada ao respondente, minimizando assim a heterogeneidade da coleta dos dados e

possibilitando, desta forma, mais confiabilidade aos resultados.

Segundo Gil (2002) a pesquisa descritiva objetiva a descrição das características de

populações específicas. Utilizam-se técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o

questionário, entre outros e se visa descrever o processo de uma organização, estudar o nível

de atendimento de uma entidade, levantar opiniões de uma determinada população.

A população que integrou a pesquisa foi composta inicialmente pelos 40 cirurgiões-

dentistas que atuam nas equipes de saúde bucal das ESF do município de Dourados, sendo

que deste total, 29 profissionais consentiram em participar do estudo.

A seleção deste grupo foi feita por uma lista fornecida pela Secretaria Municipal de

Saúde a qual continha a relação das Estratégias de Saúde da Família com suas respectivas

equipes de saúde bucal e dentistas atuantes.

Foram excluídos do estudo os demais dentistas do município que não atuam na ESF.

Este estudo, enquadrado na modalidade de pesquisa de risco mínimo recebeu parecer

favorável da Comissão de Ética em Pesquisa da UNIGRAN e cada participante assinou o

termo de consentimento livre e esclarecido assentindo em participar da mesma.

Para a coleta de dados, realizada nos meses de maio e junho de 2011, utilizou-se como

instrumento um questionário sem identificação nominal estruturado, com questões fechadas e

semi-abertas objetivando a coleta do máximo possível de informações fidedignas acerca da

visão de cada profissional sobre seu trabalho desenvolvido na ESF.

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Foram eleitas as seguintes variáveis para o presente estudo: individuais, tempo de

formado, tipo e extensão do trabalho realizado, satisfação com o trabalho, contribuição da

formação acadêmica, iniciativas para melhoria da qualificação, motivação principal,

dificuldades do trabalho em equipe.

Após a coleta, os dados foram armazenados cuidadosamente em planilhas e foi feita a

análise quali e quantitativa destes, uma vez que o instrumento, no caso o questionário,

constava de questões semi-abertas e fechadas. Observou-se a frequência de cada resposta,

relacionando-a ora a números absolutos, ora a percentuais.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Identificação dos participantes

Os dentistas participantes da pesquisa se situam na faixa etária de 31 a 60 anos,

estando 11 (37,9%) entre 31 a 40 anos, 10 (34,5%) entre 51 a 60 anos e 8 (27,6%) entre 41 a

50 anos. No Brasil, em uma prévia do perfil atual e tendências do cirurgião-dentista realizado

em 2009 pelo CFO verificou-se que a maior parte dos CDs brasileiros tem menos de 40 anos e

que um quarto deles tem menos de 30 anos. Nota-se que a faixa etária dos profissionais

atuantes nas ESFs do município de Dourados se situa entre 31 a 60 anos, sendo que a maior

porcentagem ocorre também em menos de 40 anos.

Quanto ao gênero, 65,5% representam o sexo feminino. Fato importante a se observar

é a feminilização da profissão. Todo o mercado vem acompanhando esse processo o qual

claramente se mostra agora na área da saúde. Profissões anteriormente ocupadas

exclusivamente por homens vem hoje sendo exercida predominantemente por mulheres,

segundo os mesmos dados do CFO, nos quais as mulheres aparecem como maioria na

profissão em 25 dos 27 estados brasileiros. Há 40 anos eram 10% do total, hoje esse

percentual alcança 56%. Várias hipóteses aparecem para justificar tal fato segundo Villalba et

al., (2009), entre elas citamos a observação, a paciência, a minúcia e o acolhimento, dentre as

virtudes do universo feminino.

O tempo de formado foi dividido em períodos de até 1 ano, de 1 a 10 anos, de 11 a 20

anos, de 21 a 30 anos e de 31 a 40 anos. A maior predominância do tempo de formado foi de

21 a 30 anos com 37,9%%, a seguir de 11 a 20 anos com 34,5%%, 20,68% estão formados

entre 31 a 40 anos atrás e apenas 6,9% concluíram recentemente a universidade (de 1 a 10

9

anos). Observando-se que o tempo de formado predominante dos dentistas que trabalham nas

ESFs foi de 21 a 30 anos, fundamentam-se vários aspectos na análise das respostas, já que

esse fator também tem influência direta na vivência destes profissionais graduados

anteriormente à implantação das equipes de saúde bucal nas ESFs.

3.2 Qualificação dos profissionais

Quando questionados sobre a formação acadêmica, a maioria (37,9%) afirma que ela

não trouxe colaboração para o desenvolvimento do trabalho na ESF, 20,6% acreditam que

receberam uma contribuição de forma ampla, com estágios e programas de extensão

supervisionados, 17,2% sob forma isolada, através de aulas teóricas somente e 24,1% sob

outras formas. A maior porcentagem de profissionais relatando a falta da contribuição da

formação acadêmica como pilar de apoio para o trabalho na equipe de saúde bucal vem de

encontro com a conclusão de Pinheiro et al., (2008) que também constataram que os

conhecimentos adquiridos na graduação poderiam ter sido insuficientes para o

desenvolvimento do trabalho no PSF, restringindo-se as atividades à técnica somente. O

dentista pode ter vindo com a concepção de promover saúde, mas ainda influenciado sob a

ideologia imediatista de cura e ainda tem que se adaptar com integração de equipe e as

próprias condições de saúde da população que na maioria das vezes, ainda não absorveu o

conceito da fusão profissional - família.

Em relação ao aperfeiçoamento da qualificação, 22 CDs (75,8%) concluíram curso de

aperfeiçoamento ou especialização sendo que 18 deles na área específica de Saúde Pública ou

Saúde da Família, 4 CDs (13,8%) procuram se aperfeiçoar através de leitura, estudo

individual ou sites especializados, 1 CD (3,4%) através de experiência de outros serviços, 1

CD (3,4%) por meios não especificados e 1 CD (3,4%) não procurou aperfeiçoar sua

qualificação. Destinar projetos com o objetivo de se obter sucesso na melhoria da saúde bucal

da população pode declinar ao fracasso se os recursos humanos não estiverem qualificados

devidamente, ainda que o contingente de profissionais seja suficiente em número e os

métodos considerados eficientes.

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Tabela 1 – Formas utilizadas pelos profissionais para aperfeiçoamento da qualificação em relação ao

trabalho na Estratégia de Saúde da Família

Formas de aperfeiçoamento Profissionais %

Leitura; estudo individual; sites especializados

4 13,7%

Experiência de outros serviços 1 3,4%

Aperfeiçoamento ou Especialização 22 75,8%

Outros 1 3,4%

Não procurou aperfeiçoar a qualificação 1 3,4%

Total 29 100%

Fonte: Primária

Quando se fala em devida preparação, devemos visualizar não o profissional para

solução de problemas imediatos, mas aquele que esteja apto a sentir e aos poucos modificar e

ajustar suas atitudes às modificações tecnológicas, sócio-econômicas e culturais, interagindo

constantemente e revisando seu papel como modificador de uma instituição social.

(QUELUZ, 2003).

Ainda que segundo dados do CFO que comprovam que o menor número de

especialistas entre as 10 especialidades mais frequentes está na área da Saúde Coletiva com

somente 1430 profissionais registrados, essa busca no aperfeiçoamento da qualificação

principalmente nesta área específica pode alavancar conhecimentos para se ampliar os saberes

num campo de práticas que exigem formação adequada às exigências impostas pelo modelo

de saúde atual.

11

3.3 Estrutura e concepção do trabalho

Quanto ao tipo de trabalho realizado na equipe de saúde bucal, encontramos que 100%

dos profissionais se dedicam a procedimentos clínicos, preventivos e educativos.

Da forma, observamos que 100% deles realizam visitas domiciliares que possibilitam

estreitar o vínculo de confiança com as famílias assistidas. Importante a constatação que

aliadas às práticas clínicas, preventivas e educativas integra-se a importante visita domiciliar,

a qual segundo Giacomozzi et al., (2009) centra as suas práticas na saúde da família,

possibilitando uma maior compreensão das relações que fazem parte do contexto

comunidade-instituição de saúde. Os profissionais devem trabalhar a família seguindo

diferentes enfoques principalmente no reconhecimento e administração das diferenças sociais.

Vinte e um profissionais (72,4%) atestaram conseguir planejar ações para desenvolver

junto à comunidade. Promover ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e

informais existentes na comunidade para o enfrentamento conjunto dos problemas é

responsabilidade da equipe de ESF segundo o Ministério da Saúde. O profissional precisa

estar capacitado para planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações que respondam às

verdadeiras necessidades da comunidade, integrando os diversos setores envolvidos na

promoção da saúde. Para isso, é necessário que exista uma constante interação com a

comunidade, no objetivo de mobilizá-la, incentivar sua participação e envolvê-la nas ações

devendo isso ser desenvolvido de forma dinâmica, com avaliação permanente, através do

acompanhamento de indicadores de saúde da área de abrangência. (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2000).

Questionamos se consideram que a comunidade tem limitações em aceitar a prevenção

e o cuidado em saúde, preferindo o tratamento curativo. 75,8% dos profissionais acreditam

que sim. A educação em saúde vem sendo abordada de maneira rotineira, sem a participação

ativa da comunidade, daí muitas vezes o desinteresse. De acordo com Manfredini (2009)

muitas vezes as ações educativas realizadas pelos dentistas se repetem e se restringem a

vídeos, palestras. Normalmente, os professores pouco exploram os temas de saúde bucal nas

escolas e se não há uma articulação entre equipes de saúde bucal e estas, a discussão não pode

se ampliar nem se problematizar para efetivar mudanças.

Em relação ao trabalho em equipe, a maioria (55,1%) não encontra dificuldade,

relatando que a mesma trabalha em harmonia. Por outro lado, 27,5% acham que a dificuldade

se encontra na falta de promoção de ações multidisciplinares, com outras áreas de saúde. Dois

12

profissionais (6,89%) encontram dificuldades em outros aspectos como falta de apoio da

gestão para as atividades que não deveriam envolver somente metas e divergências com a

coordenação, 1 profissional (3,4%) acredita que a centralização dos gestores dificulta a

tomada de decisões e 1 dentista (3,4%) diz faltar integração entre os componentes da equipe.

Segundo as Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal, a atuação da equipe de saúde

bucal (ESB) não pode se restringir somente ao campo biológico ou ao trabalho. Esta precisa

atuar ampliando seu conhecimento, abordando o indivíduo como um todo, sempre atenta ao

contexto múltiplo no qual ele está inserido. O intercâmbio de saberes e o respeito às diferentes

visões deve acontecer sempre entre todos os profissionais de saúde para permitir que aspectos

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da saúde bucal também sejam devidamente observados e se tornem objeto das suas práticas. A

ESB deve se sentir parte integrante da equipe multiprofissional em qualquer nível de atenção.

Tabela 2 – Opinião do cirurgião-dentista sobre a ocorrência de dificuldades no trabalho em equipe da

Estratégia de Saúde da Família.

Dificuldades Profissionais

%

Não ocorre, a equipe trabalha em harmonia 16 55,1%

Ocorre por falta de integração entre os membros da equipe 1 3,4%

Ocorre por falta de promoção de ações multidisciplinares 9 31,0%

Centralização de gestores dificulta tomada de decisões

Ocorrem por outros motivos

Prefere trabalhar sozinho

1

2

0

3,4%

6,8%

0

Total 29 100%

Fonte: Primária

Quanto à observância dos princípios do SUS no cotidiano, 55,1% conseguem aplicar a

integralidade no seu trabalho sendo que foram lembrados a reabilitação do paciente como um

todo, a visita domiciliar, o conhecimento da história do paciente, a articulação do indivíduo

com o coletivo, a promoção, a prevenção e a recuperação da saúde e o encaminhamento para

maior complexidade quando necessário. Dentre os 44,8% que encontram obstáculos à

aplicação da integralidade, foram citados como motivos: a sobrecarga de atribuições do

profissional, a falta de esclarecimento da comunidade que muitas vezes se preocupa somente

com a resolutividade, não querendo dar continuidade ao tratamento preventivo, a escassez de

recursos materiais e o despreparo da equipe em enxergar o usuário como um todo e a falta de

incentivo dos gestores. É parte integrante das Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal

que a equipe deve estar capacitada a ofertar a integralidade oferecendo de forma conjunta

ações de promoção, proteção, prevenção, tratamento, cura e reabilitação, tanto no nível

individual quanto coletivo. Todavia, para se falar em integralidade é preciso que as políticas

sociais e econômicas façam sua parte no processo. Nesta perspectiva, não faz sentido falar em

integralidade na ‘atenção básica’, uma vez que, sem as ações necessárias em todos os níveis

de atenção, não se deve falar em ‘atendimento integral’ muito menos em ‘integralidade’. Num

certo sentido a integralidade pode ter início, mas não seu término nas ações assistenciais. É

preciso mais, em outras esferas, em outras dimensões da vida social e política, ultrapassando,

e muito, os serviços de saúde (NARVAI, 2005).

Encontramos que 65,5% dos dentistas têm como motivação principal para estarem

desenvolvendo suas atividades à filosofia da ESF e a proposta atual de atenção a saúde e

20,6% a estabilidade que o emprego público proporciona. Dos 13,8% que assinalaram outros

motivos, foram lembrados a motivação pessoal para melhoria da saúde, a satisfação em ver a

continuidade do trabalho, a oportunidade de acompanhar o paciente e o contato com usuários

carentes.

Tabela 3 – Motivação principal que o cirurgião-dentista encontra para desenvolver suas atividades no

município.

Motivação Profissionais %

Filosofia da ESF e proposta atual de atenção à saúde

19 65,5%

Estabilidade proporcionada pelo emprego público 6 20,6%

Outras 4 13,7%

Não se sente motivado (a) com o trabalho 0 0

Total 29 100%

Fonte: Primária

Em relação à satisfação proporcionada pelo trabalho em si, 82,7% se consideram

satisfeitos, citando dentre outros fatores a vivência que a ESF possibilita ao profissional, os

14

vínculos estabelecidos com as pessoas, a dinâmica motivadora, o ser útil e ajudar ao próximo,

a aprovação da remuneração e a crença nos princípios da ESF. Os 17,2% que se consideram

insatisfeitos lembram a falta de organização para atividades educativas, o desinteresse da

população, os problemas na estrutura física, o descaso com a saúde e a crescente

desvalorização do dentista e a dificuldade em efetuar programas e aplicar os princípios do

SUS. Motivar os profissionais a refletir, tomando como medida inicial o investimento na

educação continuada e permanente, além da monitoração e avaliação das ações por eles

desenvolvidas se faz hoje na proposta atual de saúde uma necessidade (ARAÚJO E

DIMENSTEIN, 2006).

4 CONCLUSÃO

Tendo como objetivo principal deste estudo buscar conhecer a qualificação e

compreender as dificuldades do trabalho do cirurgião-dentista inserido na equipe de saúde

bucal da Estratégia da Família, esta investigação permitiu identificar diversos aspectos que

serão analisados a seguir.

Os resultados iniciais da pesquisa vieram de encontro à suposição de que haviam

espaços a serem preenchidos entre a formação universitária e a inserção do dentista na ESF, já

que a maioria dos profissionais reconhece o déficit na transmissão de conhecimentos na área

da saúde coletiva na graduação. Toda universidade, como pólo formador de recursos humanos

para a Odontologia deve se engajar em transmitir conhecimentos que permitam ao aluno

compreender, problematizar e se tornar um agente efetivo nas mudanças sociais de uma

comunidade. A visão da integralidade, da multidisciplinaridade, da abordagem coletiva deve

ser contemplada para que o profissional possa depois, ao atuar em equipe, planejar, executar e

avaliar seu trabalho, o qual deve sempre estar conectado às condições sócio-econômicas da

população e aos recursos materiais e humanos disponíveis.

Apesar disso, os dados surpreendem em relação ao conhecimento que a maior parte

dos dentistas detém em relação ao SUS e à reorganização da área da saúde, a ESF. Um

provável marcador que deve ter possibilitado esse avanço é o fato da maioria ter procurado

aperfeiçoar sua qualificação na área específica da Saúde Pública, estendendo os

conhecimentos iniciados no curso introdutório obrigatório de 40hs para inserção na ESF. A

adoção da filosofia da ESF e da proposta atual de atenção à saúde como motivação principal

para estar desenvolvendo suas atividades no município, o engajamento nas visitas

15

domiciliares para estabelecimento de vínculos demonstra que os conhecimentos adquiridos

em um aperfeiçoamento ou especialização podem fazer a diferença.

Um dos aspectos que aflige os profissionais é a resistência da comunidade em aceitar a

prevenção e o cuidado em saúde, preferindo somente o tratamento curativo. Muitas vezes, o

perfil profissional voltado basicamente para os procedimentos clínicos, assim como a própria

expectativa de resolução imediata da comunidade e da gestão do serviço preocupada em

estabelecer metas, interage sobre essas limitações. A prevenção também é parte dos

programas de saúde pública e observa-se que os profissionais encarregados dela apresentam

dúvidas de como e o que fazer no planejamento dessas ações. Na maioria das vezes, eles

atuam como simples mediadores de informações entre órgãos oficiais e comunidade e essas

nem sempre foram desenvolvidas para a necessidade daquela população em si. Deste modo,

apesar do empenho, não se consegue atingir o objetivo e o usuário passa a ser o alvo de culpa

pelo seu desinteresse com a sua saúde. Resultados da pesquisa mostram que apesar da maioria

dos profissionais acreditar que a equipe trabalha em harmonia, outra parcela sente que falta

promoção de ações multidisciplinares. Para que a prevenção e a educação sejam efetivas faz-

se necessária inclusive a multidisciplinaridade, com a participação de médicos, enfermeiros,

auxiliares e técnicos em higiene dental e não só do dentista, pois este através de reuniões em

equipe pode transmitir conhecimentos de saúde bucal a esses profissionais que se tornarão

veículos multiplicadores, já que a carga horária de 20 horas semanais do dentista acaba

resultando numa sobrecarga de funções. É necessário estabelecer maior vínculo entre os

membros da equipe e destes com a população assistida. Essa integração teria reflexo positivo

no desenvolvimento do trabalho das equipes, facilitando inclusive a gestão das mesmas e sua

organização.

Alguns dos profissionais que se consideram insatisfeitos se referem à escassez ou falta

de recursos materiais. Para se assegurar que ocorra plena utilização da capacidade instalada da

rede de serviços, políticas de suprimento de instrumentos e material de consumo e de

conservação, manutenção e reposição dos equipamentos odontológicos devem ser mantidas.

Outro aspecto observado é a dificuldade que profissionais relatam no encaminhamento

de pacientes para maior complexidade. A assistência odontológica no setor público do Brasil

tem-se restringido quase que unicamente aos serviços básicos. A baixa capacidade de oferta

dos serviços de atenção secundária e terciária compromete o estabelecimento de adequados

sistemas de referência e contra-referência. O crescimento da oferta de serviços de atenção

básica não foi acompanhado da expansão da rede de assistência secundária e terciária.

16

Portanto, faz-se necessário investimentos que possibilitem aumentar o acesso a estes níveis de

atenção.

Detecta-se que o aprimoramento do cirurgião-dentista na ESF está em curso e essa

posição tende a ser crescente, uma vez que as universidades vêm modificando suas diretrizes

no sentido dessa formação.

A consolidação da Odontologia na Estratégia de Saúde da Família depende ainda de

iniciativas governamentais e pessoais na educação permanente e continuada, de motivação e

redirecionamento de práticas, de investimento nas condições de trabalho em equipe e na

valorização do profissional como ser integrante e atuante das condições de saúde da

população brasileira.

A realização de ações cotidianas neste modelo de saúde representa um verdadeiro

avanço e um significativo desafio. Deve-se trabalhar no intuito de se construir um espaço de

17

práticas e relações com possibilidades de inovar o processo de trabalho e a própria inserção da

saúde bucal nos serviços de saúde. Alcançar aumento de cobertura, de efetividade na resposta

às necessidades da população e medidas de caráter coletivo são metas a serem vislumbradas.

Os maiores ganhos estão nos campos do trabalho em equipe, nas relações com os

usuários e na gestão, implicando uma nova forma do profissional produzir o cuidado em

saúde bucal.

25

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOModelo do Questionário

1. Qual a sua idade?

( ) de 21 a 30 anos

( ) de 31 a 40 anos

( ) de 41 a 50 anos

( ) de 51 a 60 anos

2. Gênero:

( ) masculino

( ) feminino

3. Qual o seu tempo de formado?

( ) até 1 ano

( ) de 1 a 10 anos

( ) de 11 a 20 anos

( ) de 21 a 30 anos

( ) de 31 a 40 anos

4. Você acha que sua formação acadêmica contribuiu para o trabalho na Estratégia de Saúde da Família?

Assinale somente UMA alternativa, a que mais se aproxima da formação recebida:

( ) sim, de forma ampla, com estágios e programas de extensão supervisionados.

( ) sim, de forma isolada, através de aulas teóricas direcionadas ao novo modelo de saúde.

( ) sim, por outras formas. Especifique _________________________________

( ) não.

21

5. O que você fez / faz para aperfeiçoar sua qualificação em relação ao trabalho na Estratégia de Saúde da

Família?

Escolha UMA alternativa, a que melhor traduza sua resposta:

( ) iniciativa pessoal através de leitura / estudo individual / sites especializados.

( ) experiência de outros serviços.

( ) curso de aperfeiçoamento / especialização. Especifique a área _________________

( ) outros. Especifique ______________________________

( ) não procurei aperfeiçoar minha qualificação.

6. Você está satisfeito com o seu trabalho na Estratégia de Saúde da Família?

( ) sim. Por quais motivos? ________________________________________________

( ) não. Por quais motivos? ________________________________________________

7. Qual sua motivação principal para estar desenvolvendo suas atividades no município?

Assinale somente UMA alternativa:

( ) filosofia da Estratégia de Saúde da Família e proposta atual de atenção à saúde.

( ) estabilidade que o emprego público proporciona.

( ) outros - Especifique ___________________________________

( ) não me sinto motivado com o trabalho.

8. Que tipo de trabalho você realiza na Equipe de Saúde Bucal?

Assinale somente UMA alternativa, a que mais se aproxima do trabalho desenvolvido:

( ) clínico

( ) preventivo/educativo

( ) clínico e preventivo/educativo

( ) capacitação do pessoal auxiliar

( ) supervisão das atividades preventivas/educativas

( ) outros. Especifique___________________________________

9. Faz visitas domiciliares que possibilitem estreitar o vínculo de confiança com as famílias assistidas?

( ) sim

( ) não

10. Você considera que a comunidade tem limitações em aceitar a prevenção e cuidado em saúde, preferindo

somente o tratamento curativo?

( ) sim

( ) não

11. Você consegue planejar ações para desenvolver junto à comunidade?

( ) sim

22

( ) não

12. Você encontra alguma dificuldade no trabalho da sua equipe?

Assinale somente UMA alternativa.

( ) não, a equipe trabalha em harmonia

( ) sim, falta integração entre os componentes da equipe

( ) sim, falta promoção de ações multidisciplinares (com outras áreas de saúde)

( ) sim, o trabalho se torna desagradável, sem privacidade, prefiro trabalhar sozinho (a)

( ) sim, a centralização dos gestores dificulta a tomada de decisões

( ) sim, por outros motivos. Especifique ______________________________

13. Você consegue aplicar o princípio da integralidade no seu trabalho?

( ) sim. De que forma?_______________________________________

( ) não. Por quais motivos?___________________________________