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EDGARD MICHEL-CROSATO PERFIL DA FORÇA DE TRABALHO REPRESENTADA PELO CIRURGIÃO-DENTISTA: ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS PROFISSIONAIS QUE EXERCIAM SUAS ATIVIDADES NA PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2007 São Paulo 2008

perfil da força de trabalho representada pelo cirurgião-dentista

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  • EDGARD MICHEL-CROSATO

    PERFIL DA FORA DE TRABALHO REPRESENTADA PELO

    CIRURGIO-DENTISTA: ANLISE EPIDEMIOLGICA DOS

    PROFISSIONAIS QUE EXERCIAM SUAS ATIVIDADES NA

    PREFEITURA MUNICIPAL DE SO PAULO, 2007

    So Paulo

    2008

  • Edgard Michel-Crosato

    Perfil da fora de trabalho representada pelo Cirurgio-Dentista:

    anlise epidemiolgica dos profissionais que exerciam suas

    atividades na Prefeitura Municipal de So Paulo, 2007

    Tese de Livre-Docncia apresentada Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo, para concorrer ao ttulo de Livre-Docente pela Disciplina de Gesto e Planejamento em Odontologia

    rea de Concentrao: Odontologia Social

    So Paulo

    2008

  • Catalogao-na-Publicao

    Servio de Documentao Odontolgica Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo

    Michel-Crosato, Edgard

    Perfil da fora de trabalho representada pelo Cirurgio-Dentista: anlise epidemiolgica dos profissionais que exerciam suas atividades na Prefeitura Municipal de So Paulo, 2007. / Edgard Michel-Crosato. -- So Paulo, 2008.

    113p., 30 cm.

    Tese (Livre-Docncia na Disciplina de Gesto e Planejamento em Odontologia rea de concentrao: Odontologia Social) -- Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo.

    1. Orientao Profissional 2. Odontologia Social

    BLACK D585

    AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,

    POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E

    PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE E COMUNICADO AO AUTOR A

    REFERNCIA DA CITAO.

    So Paulo, 01/09/2008.

    Assinatura:

    E-mail: [email protected]

  • FOLHA DE APROVAO

    Michel-Crosato E. Perfil da fora de trabalho representada pelo Cirurgio-Dentista: anlise epidemiolgica dos profissionais que exerciam suas atividades na Prefeitura Municipal de So Paulo, 2007 [Tese de Livre-Docncia]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008. So Paulo, / / .

    Banca Examinadora

    1)Prof(a). Dr(a). ________________________________________________

    Titulao:_____________________________________________________

    Julgamento: __________________ Assinatura:_______________________

    2) Prof(a). Dr(a).________________________________________________

    Titulao: _____________________________________________________

    Julgamento: __________________ Assinatura:_______________________

    3)Prof(a). Dr(a). ________________________________________________

    Titulao: _____________________________________________________

    Julgamento: __________________ Assinatura:_______________________

    4) Prof(a). Dr(a).________________________________________________

    Titulao: _____________________________________________________

    Julgamento: __________________ Assinatura:_______________________

    5) Prof(a). Dr(a).________________________________________________

    Titulao: _____________________________________________________

    Julgamento: __________________ Assinatura:_______________________

  • DEDICATRIA

    minha esposa Maria Gabriela,

    Aos meus pais, Edgard e Ana Cristina,

    minha filha Ana Laura

    Teresa, Wagner e Rafael

    Juan, Daniza, Paulo e Dani

    "Este trabalho, dedico a essas pessoas muito especiais, que

    acompanharam tudo de perto".

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Moacyr da Silva, pelo constante apoio, contribuies e

    principalmente por seus conselhos e orientaes.

    Aos Profs. do Departamento de Odontologia Social: Profa. Dra. Hilda

    Ferreira Cardoso; Profa. Dra. Ida T.P. Calvielli; Profa. Dra. Maria Erclia Arajo;

    Profa. Dra. Simone Renn Junqueira; Prof. Dr. Dalton Luis de Paula Ramos;

    Prof. Dr. Jos Leopoldo Ferreira Antunes; Prof. Dr. Rogrio Nogueira de

    Oliveira; Prof. Dr. Rodolfo F.H. Melani; Prof. Dr. Antnio Carlos Frias; Prof. Dr.

    Edgard Crosato, pela amizade e convivncia.

    Profa. Dra. Maria Gabriela Haye Biazevic, pela inestimvel colaborao

    na realizao deste trabalho.

    Universidade de So Paulo, representada pelo Diretor da FOUSP Prof.

    Dr. Carlos de Paula Eduardo pela oportunidade de continuar meu aprimoramento.

    Aos funcionrios do Departamento de Odontologia Social, Andria, Sonia e

    Laura.

    A todos os funcionrios da biblioteca da Faculdade de Odontologia da USP.

    A todos os Cirurgies-Dentistas da Prefeitura Municipal de So Paulo,

    pela participao nessa pesquisa.

    A coordenao de Sade Bucal da Prefeitura Municipal de So Paulo, na

    pessoa da Maria Candelria Soares, pelo apoio na realizao da pesquisa.

    Ao Observatrio de Recursos Humanos em pela participao nessa

    pesquisa.

  • Ao Ministrio da Sade / Pr-Sade pelo apoio financeiro para a realizao

    desse trabalho.

    A todas as pessoas que participaram de forma direta e indireta nesse

    trabalho.

  • Sem conhecer a extenso e a natureza de nossos problemas, no ser

    possvel ao menos comear a tratar deles.

    Dalai Lama

  • Michel-Crosato E. Perfil da fora de trabalho representada pelo Cirurgio-Dentista: anlise epidemiolgica dos profissionais que exerciam suas atividades na Prefeitura Municipal de So Paulo, 2007 [Tese de Livre-Docncia]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008.

    RESUMO

    O tipo de profissional que existe em um pas, em um determinado momento,

    resultante do processo evolutivo da atividade, e caracteriza uma etapa de evoluo

    da profisso. O objetivo do estudo foi verificar o perfil das atividades profissionais

    dos Cirurgies-Dentistas que desenvolviam seu trabalho no Sistema nico de Sade

    (SUS) no Municpio de So Paulo em 2007. Para obter as informaes constantes

    da proposio deste trabalho foi realizado um estudo transversal descritivo e

    analtico atravs da utilizao de questionrio. Foram entrevistados profissionais

    participantes de curso de capacitao oferecido pela prefeitura e que estavam

    presentes no dia do inqurito. Antes da sua aplicao, o instrumento passou por um

    processo de estudo piloto e pr-teste para chegar sua verso final. A parte do

    questionrio que mensurou a satisfao no trabalho foi adaptada para a lngua

    portuguesa (Brasil). Tambm foram testadas as suas propriedades psicromtricas.

    Os dados foram organizados e analisados no programa STATA 10.0. A pesquisa foi

    encaminhada aos Comits de tica em Pesquisa da Prefeitura Municipal de So

    Paulo e da Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo, tendo sido

    aprovados. O processo de validao da escala de satisfao foi adequada,

    apresentando boa consistncia e validade. Participaram do estudo 605 Cirurgies-

    Dentistas que exerciam suas atividades profissionais na Prefeitura Municipal de So

  • Paulo no ano de 2007. Em relao s caractersticas scio-econmicas, 70,74% dos

    profissionais eram do gnero feminino e 29,26% do gnero masculino. Os

    Cirurgies-Dentistas no estavam distribudos de forma simtrica pelo municpio, e a

    regio que continha o maior nmero de profissionais foi a zona sul, com 40,00% do

    total de profissionais. Em relao atuao profissional, 259 (42,81%)

    apresentavam curso de especializao, 29 (4,79%) de mestrado e 03 (0,50%) de

    doutorado. Relataram trabalhar em consultrio privado 381 Cirurgies-Dentistas

    (62,98%). A mdia de horas trabalhadas por semana foi de 37,30 horas, atendendo

    em mdia 8,38 pacientes a cada turno de 4 horas. O nvel de satisfao dos

    participantes foi 2,84 (DP=0,29), em uma escala de 0 a 5. Os valores cada bloco

    verificados foram: satisfao geral com o trabalho/emprego (mdia=2,86; DP=0,45),

    percepo de renda (mdia=2,71; DP=0,47), tempo pessoal (mdia=2,86; DP=0,50),

    tempo profissional (mdia=2,79; DP=0,84), equipe (mdia=2,80; DP=0,53),

    relacionamento com pacientes (mdia=2,77; DP=0,40) e fornecimento de

    assistncia/atendimento (mdia=2,25; DP=0,60). Os profissionais que participaram

    do estudo eram em sua maioria mulheres, atuavam tambm no setor privado e

    possuam uma carga de trabalho expressiva. A satisfao profissional foi boa e se

    mostrou associada com o atendimento concomitante no setor privado.

    Palavras-Chave: Odontologia; Recursos Humanos; Satisfao no Emprego

  • Michel-Crosato E. Workforces Dental Surgeon profile: epidemiologic analysis of the Professional that worked at the So Paulos City Municipality, 2007 [Tese de Livre-Docncia]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2008.

    ABSTRACT

    The professional pattern that is available in a country, in a certain moment, reflects

    the evolution of the activity, and characterizes an evolution step of the profession.

    The objective of the study was to verify professional activities profile among the

    Dental Surgeons that worked in the So Paulos Municipality (Public Health Care

    Settings) in 2007. A descriptive cross-sectional and analytic study was carried out,

    using a questionnaire. Dentists that participated of the continued education course

    offered by the Municipality and that were present at the day of the questionnaire

    application participated of the study. Before its application, the instrument was

    submitted to a pilot process and also a pre-test was performed, and then the final

    version was achieved. The questionnaire component that measured job satisfaction

    was adapted to portuguese language (Brasil). Its psicometric properties were also

    tested. Data were organized and analysed at STATA 10.0 package. The investigation

    project was submitted to the School of Dentistry (FOUSP) and to the So Paulos

    Municipality Ethical Committees, and was approved. A pesquisa foi encaminhada

    aos Comits de tica em Pesquisa da Prefeitura Municipal de So Paulo e da

    Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo, tendo sido aprovados.

    Satisfactions scale validation process was appropriate, with good consistency and

    validity. Participated of the study 605 Dental Surgeons that professed Professional

    activities in the Municipality of So Paulo in 2007. Most of the professionals were

  • female (70.74%) and 29.26% were male. Dental Surgeons were not equally allocated

    through the city, and South Region had the highest number of working professionals,

    with 40.00% of all. With regard to professional performance, 259 (42.81%) were

    specialists, 29 (4.79%) had Master degree and 03 (0.50%) were PhDs. Most of the

    dentists (N=381, 62.89%) used to work in private settings. The mean working hours

    in a week were 37.30, with a mean of 8.38 patients in a 4-hour working shift. Job

    satisfaction level among the participants was 2.84 (SD=0.29), in a 0 to 5 scale. The

    series values were: general satisfaction with job/employment (mean=2.86; SD=0.45),

    income perception (mean=2.71, SD=0.47), personal time (mean=2.86; SD=0.50),

    professional time (mean=2.79; SD=0.84), team (mean=2.80; SD=0.53), patients

    relationship (mean=2.77; SD=0.40) and healthcare delivery (mean=2.25; SD=0.60).

    Most of the participants of the study were women that used to work at private

    healthcare setting and they had expressive work shifts. Job satisfaction was good

    and it was associated to concurrent attendance at private healthcare setting.

    Key-Words: Dentistry; Manpower; Job Satisfaction

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 2.1 - Participao da mulher na Odontologia nos Estados Unidos e na

    Europa................................................................................................. 29

    Quadro 2.2 - Participao da mulher na Odontologia na Amrica Latina................ 30

    Quadro 2.3 - Educao continuada no Brasil........................................................... 43

    Quadro 4.1 - Locais onde ocorreram os cursos de capacitao realizados para os

    Cirurgies-Dentistas do Municpio de So Paulo, 2007..................... 56

    Quadro 4.2 - Blocos de agrupamento da escala de satisfao................................ 61

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 5.1 - Distribuio de Bland-Altman para as observaes inter-

    observadores......................................................................................................... 67

    Figura 5.2 - Distribuio de Bland-Altman para as observaes intra-

    observadores..........................................................................................................

    68

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 5.1 - Consistncia interna da verso brasileira da escala de satisfao

    profissional. So Paulo, 2007....................................... 66

    Tabela 5.2 - Validade inter-examinadores da verso brasileira da escala de

    satisfao profissional. So Paulo, 2007....................................... 66

    Tabela 5.3 - Consistncia externa da verso brasileira da escala de

    satisfao profissional. So Paulo, 2007....................................... 69

    Tabela 5.4 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo satisfao no

    trabalho. So Paulo, 2007............................................................. 70

    Tabela 5.5 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo gnero e regio

    de residncia. So Paulo, 2007..................................................... 71

    Tabela 5.6 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo idade e anos de

    formados. So Paulo, 2007........................................................... 72

    Tabela 5.6 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo faculdade, e

    cursos realizados. So Paulo, 2007.............................................. 72

    Tabela 5.8 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo atividades de

    educao continuada. So Paulo, 2007........................................ 73

    Tabela 5.9 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo Renda e horas

    trabalhadas. So Paulo, 2007....................................................... 74

    Tabela 5.10 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo queixas de

    sade. So Paulo, 2007................................................................ 75

    Tabela 5.11 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo satisfao no

    trabalho. So Paulo, 2007............................................................. 76

  • Tabela 5.12 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo satisfao no

    trabalho (Satisfao geral), So Paulo. 2007................................ 77

    Tabela 5.13 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo satisfao no

    trabalho (Renda). So Paulo, 2007............................................... 78

    Tabela 5.14 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo satisfao no

    trabalho (Tempo pessoal). So Paulo, 2007.................................. 79

    Tabela 5.15 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo satisfao no

    trabalho (Tempo profissional). So Paulo, 2007............................ 80

    Tabela 5.16 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo satisfao no

    trabalho (Equipe). So Paulo, 2007............................................... 81

    Tabela 5.17 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo satisfao no

    trabalho (Paciente). So Paulo, 2007............................................ 82

    Tabela 5.18 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo satisfao no

    trabalho (Fornecimento de assistncia). So Paulo,

    2007................................................................................................

    83

    Tabela 5.19 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo satisfao no

    trabalho, gnero, tipo, se trabalha no setor privado e idade. So

    Paulo, 2007................................................................................... 84

    Tabela 5.20 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo remunerao no

    trabalho, gnero, tipo, se trabalha no setor privado e idade. So

    Paulo, 2007................................................................................... 85

    Tabela 5.21 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo horas trabalhadas

    por semana, gnero, tipo, se trabalha no setor privado e idade. 86

  • So Paulo, 2007.

    Tabela 5.22 - Distribuio dos Cirurgies-Dentistas segundo paciente por

    turno de 4 horas, gnero, tipo, se trabalha no setor privado e

    idade. So Paulo, 2007................................................................. 87

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABO Associao Brasileira de Odontologia

    ADA Americam Dental Associaton

    APCD Associao Paulista de Cirurgies Dentistas

    CFO Conselho Federal de Odontologia

    CONEP Conselho Nacional de tica em Pesquisa

    CRO-PE Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco

    CRO-SP Conselho Regional de Odontologia de So Paulo

    DP Desvio Padro

    DF Distrito Federal

    DORT Distrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FOA-UNESP Faculdade de Odontologia de Araatuba da Universidade Estadual Paulista.

    FOB-USP Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de So Paulo

    FOL Faculdade de Odontologia de Lins

    FOUSP Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo

    IBGE Instituto Nacional de Geografia e Estatstica

    IPEM Instituto de Previdncia Municipal de So Paulo

    INEP Instituto Nacional de Estudo e Pesquisa Educacionais

    LER Leses por Esforos Repetitivos

    Mn. Valor mnimo

    Max. Valor mximo

    OPAS Organizao Pan-Americana da Sade

    PSF Programa de Sade da Famlia

  • SESI Servio Social da Indstria

    SNS Sistema Nacional de Sade

    SUS Sistema nico de Sade

    UFBa Universidade Federal da Bahia

    UFPe Universidade Federal de Pernambuco

    UNESP Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho

    UNIB Universidade Ibirapuera

    UNIP Universidade Paulista

    UNISA Universidade de Santo Amaro

    USP Universidade de So Paulo

  • SUMRIO

    1 INTRODUO...............................................................................................20

    2 REVISO DE LITERATURA.........................................................................24

    2.1 A participao feminina na Odontologia........................................24

    2.2 Motivaes para escolher a Odontologia como profisso...........31

    2.3 Atuao profissional.........................................................................34

    2.4 Educao continuada.......................................................................40

    2.5 Riscos Ocupacionais........................................................................43

    2.6 Satisfao profissional.....................................................................46

    2.7 Validao de questionrios..............................................................51

    3 PROPOSIO...............................................................................................54

    4 MTODO........................................................................................................55

    4.1 Tipo de estudo...................................................................................55

    4.2 Populao de estudo........................................................................55

    4.3 Coleta de dados................................................................................56

    4.4 O instrumento de coleta de dados..................................................57

    4.5 Pr-teste e Estudo Piloto..................................................................58

    4.6 Diretrizes para o processo de adaptao trans-cultural...............58

    4.7 Mtodo da aplicao do questionrio.............................................60

    4.8 Avaliao das propriedades psicomtricas...................................60

    4.9 A escala de satisfao......................................................................61

    4.10 Digitao e anlise dos dados.......................................................62

    4.11 Consideraes ticas.....................................................................62

  • 5 RESULTADOS...............................................................................................64

    5.1 Descrio da amostra.......................................................................64

    5.2 Validao do instrumento de coleta................................................64

    5.2.1 Descrio da amostra..............................................................65

    5.2.2 Propriedades psicomtricas.....................................................65

    5.2.3 Satisfao profissional.............................................................69

    5.3 Distribuio scio-demogrfica.......................................................70

    5.4 Educao continuada.......................................................................72

    5.5 Atuao profissional e renda auferida............................................74

    5.6 Queixas de Sade.............................................................................74

    5.7 Satisfao no trabalho......................................................................75

    5.8 Fatores associados...........................................................................84

    6 DISCUSSO...................................................................................................88

    6.1. Descrio da amostra......................................................................88

    6.2 Distribuio scio-demogrfica.......................................................89

    6.3 Educao Continuada.......................................................................90

    6.4 Atuao profissional e renda auferida............................................91

    6.5 Riscos ocupacionais.........................................................................92

    6.6 Validao do instrumento de coleta................................................93

    6.7 Satisfao profissional.....................................................................94

    6.8 Fatores associados...........................................................................95

    7 CONCLUSO.................................................................................................98

    REFERNCIAS.................................................................................................99

    ANEXOS..........................................................................................................107

  • 20

    1 INTRODUO

    A Odontologia tem passado por modificaes no modelo de prtica desde a

    dcada de 1980, e vrios fatores tm contribudo para essas alteraes. Dentre elas,

    destaca-se a implementao do Sistema nico de Sade (SUS), a sua incluso no

    Programa de Sade da Famlia (PSF), a popularizao dos sistemas de Odontologia

    de grupo, a abertura de novos cursos, a maior oferta de profissionais no mercado de

    trabalho, bem como a mudana do poder aquisitivo da populao. Todas essas

    caractersticas acabaram por modificar a relao paciente-profissional. Tais fatores,

    alm de alterar o perfil da atividade odontolgica, tm feito com que o mercado de

    trabalho e o campo de atuao tambm mudem, implicando alteraes na fora de

    trabalho daqueles que se dedicam a essa profisso (MICHEL-CROSATO et al.,

    2003).

    Um fator importante do atual campo profissional o aumento indiscriminado

    da oferta de cursos de graduao, fato que gerou o crescimento da disponibilidade

    de profissionais no mercado de trabalho, sem no entanto haver planejamento sobre

    a capacidade do mercado de trabalho de absorver tal incremento de profissionais.

    Em 2008, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) divulgou relatrio que apontava

    a existncia de 221.164 cirurgies-dentistas no pas (CONSELHO FEDERAL DE

    ODONTOLOGIA, 2008), com uma proporo de um profissional para cada grupo de

    848 habitantes segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (INSTITUTO

    NACIONAL DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA, 2008). Por sua vez, a Organizao

    Mundial da Sade (OMS) recomenda a relao mdia de um profissional para 1500

    habitantes (JUNQUEIRA, 2006).

  • 21

    Paradoxalmente, a grande maioria da populao no tem acesso a

    tratamento odontolgico (BELARDINELLI; RANGEL, 1999) e a distribuio dos

    profissionais no uniforme, j que os cirurgies-dentistas elegem os grandes

    centros urbanos para o exerccio de suas atividades (NICKEL; LIMA; SILVA, 2008;

    SIMONETTI, 1980; VACARIUC, 1985).

    A conseqncia desse excesso de oferta e diminuio da procura dos

    servios odontolgicos privados foi o surgimento de novas formas de prestao de

    servios por parte dos Cirurgies-Dentistas. Apesar do objetivo do egresso do curso

    de Odontologia continuar sendo montar o seu consultrio particular, na maioria das

    vezes, isso demora para acontecer, ou mesmo esse objetivo no se concretiza, em

    funo dos custos de montagem e de manuteno. Assim, quando o profissional

    ingressa no mercado de trabalho, procura novas alternativas para o exerccio

    profissional. Vrios estudos tm sido realizados para verificar as caractersticas de

    atendimento dos servios de sade bucal; em geral, eles apontam para a tendncia

    do Cirurgio-Dentista procurar empregos privados e pblicos e trabalhar por

    porcentagem (BRENNAM; SPENCER; SZUSTER, 2000; CORDN, 1991; COSTA,

    1988; JUNQUEIRA, 2006; MADEIRA; PERRI DE CARVALHO, 1980; NEWTON;

    THOROGOOD; GIBBONS, 2000; POURAT et al., 2007; SALIBA et al., 2002).

    Devido s mudanas nas sociedades modernas, a fora de trabalho feminina

    comeou ser requerida no incremento da renda financeira das famlias (GIDDENS,

    2005). A participao da mulher como fora de trabalho tem aumentado

    consideravelmente nas diferentes atividades humanas. Esse processo de

    feminilizao da fora de trabalho na rea odontolgica um achado constante nos

    dados bibliogrficos, e apontam que houve no Brasil um aumento no nmero de

    mulheres que exercem a profisso, o que tambm foi constatado nos Estados

  • 22

    Unidos da Amrica (EUA) e Europa (HJALMERS, 2006; MCEWEN; SEWARD, 1988;

    MICHEL-CROSATO et al., 2003; PARAJARA, 2000; PERRI DE CARVALHO,

    1995a,b; SALIBA et al., 2002; SERPA, 1991).

    Outro fator que tem se destacado nesse campo profissional a avaliao da

    satisfao profissional do Cirurgio-Dentista. Ayers et al. (2008) destacam que h

    necessidade de um contnuo acompanhamento da fora de trabalho e da satisfao

    profissional e das tendncias sociais do exerccio da Odontologia. Essa avaliao se

    dedicaria a estudar vrios domnios: a satisfao geral com o trabalho / emprego, a

    percepo sobre a renda, o tempo dedicado s atividades pessoais, o tempo

    dedicado s atividades profissionais, a relao com a equipe de trabalho, o

    atendimento odontolgico (HARRIS et al., 2008; HJALMERS, 2006; HJALMERS;

    SDERFELDT; AXTELIUS, 2006; JEONG et al., 2006).

    Tendo em vista que o maior conhecimento da realidade da profisso em

    nosso pas de suma importncia, foi objetivo desse estudo verificar se essas

    alteraes esto de fato modificando o exerccio profissional; buscou-se estudar o

    perfil dos Cirurgies-Dentistas que atuam no servio pblico, o tipo de servio

    oferecido, a remunerao profissional, o nmero de horas trabalhadas e a satisfao

    profissional.

    Para obter as informaes necessrias para a execuo desta pesquisa,

    realizou-se um estudo transversal com Cirurgies-Dentistas que exerciam suas

    atividades profissionais na Prefeitura Municipal de So Paulo no ano de 2007 e que

    participavam de um curso de capacitao oferecido pela prpria prefeitura. A coleta

    de dados foi realizada utilizando-se um instrumento que continha perguntas

    fechadas e abertas e que antes da sua aplicao, passou por um processo de

    estudo piloto e pr-teste para chegar sua verso final. A parte do questionrio que

  • 23

    mensurou a satisfao no trabalho, por se tratar de uma escala internacional, foi

    adaptada para a lngua portuguesa do Brasil; alm disso, foram testadas as

    propriedades psicomtricas do instrumento.

    O presente documento foi estruturado em diferentes captulos. Na Reviso

    de Literatura, para facilitar o entendimento dos leitores, os estudos foram agrupados

    por assunto e, em cada grupo, os trabalhos foram citados em ordem cronolgica. Os

    objetivos foram apresentados na Proposio. No captulo de Materiais e Mtodo

    apresentou-se o delineamento do estudo, a forma da coleta de dados, o instrumento

    de coleta, o processo de adaptao trans-cultural do instrumento, os testes das

    propriedades psicomtricas do questionrio, a descrio das formas de anlise

    estatstica e as consideraes ticas. Nos tpicos Resultados, Discusso e

    Concluses, os dados da pesquisa foram, respectivamente, apresentados,

    discutidos e sintetizados.

  • 24

    2 REVISO DE LITERATURA

    Existem vrios trabalhos que visam examinar o perfil da fora de trabalho da

    rea odontolgica, tanto na literatura estrangeira quanto na literatura de nosso pas.

    Assim, para facilitar o entendimento dos leitores, tais estudos foram agrupados por

    assunto e local onde as pesquisas foram realizadas.

    2.1 A participao feminina na Odontologia

    O perfil da fora de trabalho em Odontologia vem mudando em todo o

    mundo. Dolan e Lewis (1987) realam que vem ocorrendo um processo de

    feminilizao da fora de trabalho que se dedica Odontologia. Os autores

    relataram que o perfil dos recm-graduados em cursos de Odontologia nos Estados

    Unidos da Amrica (EUA) mudou drasticamente. Segundo eles, o nmero de

    mulheres que ingressavam na carreira odontolgica aumentou significativamente.

    Em 1960, 1,00% da fora de trabalho em Odontologia nos EUA, era representada

    pelo sexo feminino. Em 1986, 27,00% dos alunos do ltimo ano das faculdades de

    Odontologia eram mulheres.

    Em pesquisa realizada no Estado de Washington (EUA) em 2005 por Del

    AGUILA et al. (2005), 12,00% dos profissionais que se dedicavam Odontologia

    eram do gnero feminino.

  • 25

    A American Dental Association (ADA) estimou que, para ano de 2020, a

    participao da mulher nos EUA estaria prxima dos 30,00% (AMERICAN DENTAL

    ASSOCIATION, 2001).

    Em pesquisa realizada para verificar o perfil dos ortodontistas dos EUA,

    Blasius e Pae (2005) verificaram que a participao das mulheres era de 50,00% em

    relao ao total de Ortodontistas. Em pesquisa realizada por Janus, Hunt e Unger

    (2007), que teve como objetivo verificar o perfil dos servios de prtese realizados

    por clnicos gerais no Estado da Virginia (EUA), a porcentagem de mulheres na

    profisso foi de 25,00%.

    Ao avaliarem a fora de trabalho e a demanda por tratamento para a crie

    dentria na cidade de Quebec (Canad) entre 1985-1988, Brodeur et al. (1990)

    relataram que, em 1971, 55,60% dos profissionais registrados no Register of The

    Board of The Dentist of The Province of Quebec eram do gnero feminino. Em 1985,

    esse percentual diminuiu para 50,60% do total de registrados, voltando a subir em

    1988, quando atingiu o patamar de 51,70%. Estudo realizado por Muirhead e Locker

    (2007) entre estudantes de odontologia canadenses encontrou que a participao

    feminina foi de 58,00%.

    McEwen e Seward (1988) relataram a mesma tendncia citada

    anteriormente, em pases europeus. Em estudo para verificar a contribuio da

    mulher na Inglaterra e no Pas de Gales, constataram que houve crescimento da

    participao feminina. Os autores relataram que em 1956, a porcentagem de

    mulheres que ingressavam na profisso era de 13,70%; a porcentagem de mulheres

    registradas no rgo de classe local, o Dentists Register, era de apenas 7,70% do

    total de profissionais inscritos. Dez anos depois, em 1966, o nmero de mulheres

    que ingressaram em cursos de Odontologia tinha subido para 16,30%, e aquelas

  • 26

    registradas no rgo de classe representavam 10,70% do total de profissionais. Em

    1976, essas porcentagens j estavam em 24,90% e 15,10%, respectivamente. E, em

    1986, tais ndices eram de 34,60% e 21,20%, respectivamente.

    Matthews e Scully (1993), em estudo que objetivou verificar o perfil dos

    profissionais da Inglaterra com relao ao gnero, encontraram uma relao

    homens/mulheres bem mais modesta: no binio 1985/1986 havia 1,37 homem para

    1 mulher e, no binio 1990/1991, havia 1,02 homem para 1 mulher.

    Harris et al. (2008) apontaram, em estudo realizado na Inglaterra, que a

    participao da mulher na Odontologia foi de 36,00%.

    Em estudo realizado na Bulgria (KATROVA, 2004), o autor relatou que a

    participao das mulheres na profisso era de 72,57%. Na Sucia, em pesquisa

    realizada por Kronstrm et al. (1997) observou-se uma participao feminina de

    42,00%.

    Na America Latina existem poucos estudos que relatam o nmero de

    Cirurgies-Dentistas nos diversos pases. Em estudo realizado pela Organizao

    Pan-Americana da Sade (OPAS) entre profissionais da sade, relatou que na

    Argentina 56,00% dos trabalhadores eram mulheres; na Bolvia, o nmero era

    60,70%, na Costa Rica 53,90%, na Colmbia 69,50%, em Cuba 72,50% e no Mxico

    66,30% (ORGANIZAO PAN-AMERICANA DA SADE, 2004).

    Em relatrio apresentado para a Organizao Pan-Americana da Sade

    (AMARANTE, 2006), verificou-se que no Uruguai, em 1998, na regio de

    Montevidu, a participao feminina era 55,00% e no interior do pas, 66,00%. Em

    2005, essa participao j era de 71,00% considerando todo o pas.

    No Brasil, vrios estudos tm se dedicado ao tema. Perri de Carvalho

    (1995a,b) realizou uma pesquisa na regio da alta noroeste do Estado de So

  • 27

    Paulo. O autor aplicou, em sala de aula, um questionrio aos alunos do oitavo

    semestre da Faculdade de Odontologia de Araatuba da Universidade Estadual

    Paulista Jlio de Mesquita Filho e da Faculdade de Odontologia de Lins (FOL).

    Nessas instituies, houve predominncia de alunas mulheres: na FOL, a proporo

    de mulheres foi de 59,40%, e na FOA-UNESP esse percentual foi de 60,70%. O

    mesmo questionrio foi aplicado a Cirurgies-Dentistas de dez cidades nas

    cercanias de Lins e de Araatuba; dos 10,00% de profissionais que responderam

    pesquisa, 31,85% eram do gnero feminino. Complementando as informaes por

    ele levantadas, o autor informou que, segundo os registros do Conselho Regional de

    Odontologia, So Paulo (CROSP), havia 894 Cirurgies-Dentistas naquela regio,

    dos quais 54,47% eram homens e 45,53% eram mulheres.

    Em matria publicada em 1991, Serpa relata que, em 1967, na Faculdade de

    Odontologia de Araatuba da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita

    Filho (FOA-UNESP), havia apenas trs mulheres dentre os alunos que cursavam o

    ltimo ano. Nesse artigo, a autora reproduziu um estudo realizado no Instituto

    Metodista de Ensino Superior, localizado em So Bernardo do Campo-SP, que

    registrou que em 1985, havia 55,55% de mulheres matriculadas no primeiro ano do

    curso de Odontologia. Em 1990, esse percentual chegava a 89,25%. Ainda segundo

    a autora, outras instituies de ensino superior apresentavam um quadro

    semelhante, recebendo, anualmente, maior nmero de novos alunos do gnero

    feminino que do sexo masculino.

    Parajara (2000), em reportagem publicada pela Revista da Associao

    Paulista de Cirurgies Dentistas (APCD) relatou que, dos 51.525 Cirurgies-

    Dentistas que possuam registro no CROSP em 1999, 51,00% eram mulheres, e,

  • 28

    dentre os profissionais que ainda estavam com inscrio provisria, a presena

    feminina era ainda mais marcante, atingindo cerca de 67,00%.

    Em pesquisa realizada em Araatuba, com o objetivo de analisar a

    demanda do gnero feminino nos cursos de Odontologia, Saliba et al. (2002)

    relataram que em relao Faculdade de Odontologia Faculdade de Odontologia

    de Araatuba da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho,

    observou-se que entre 1961-1970, 18,88% dos graduandos eram mulheres. No

    perodo de 1971-1980, a proporo foi 41,43%, de 1981-1990 foi 51,10% e de

    1991-2000 foi de 59,95%. Os autores concluram que houve um aumento do

    nmero de mulheres na Odontologia, e aconselharam as instituies de ensino e

    s entidades de classes que permanecessem atentas para avaliar as

    conseqncias decorrentes desse perfil no mercado de trabalho futuro.

    Em estudo realizado com egressos da Faculdade de Odontologia da

    Universidade de So Paulo, Michel-Crosato et al. (2003) relataram que a

    participao feminina foi de 55,25%.

    Em pesquisa para verificar a prevalncia de distrbios osteo-

    musculares entre Cirurgies-Dentistas no Meio-Oeste Catarinense, Michel-

    Crosato, Kotiliarenko e Biazevic (2006) relataram que a participao feminina foi

    de 48,00%.

    Nesse tpico procuramos abordar a participao feminina no exerccio

    da profisso de Cirurgio-Dentista. Os quadros 2.1 e 2.2 apresentam uma sntese

    desses estudos.

  • 29

    Pas/Continente Caractersticas / Regio Ano Estudo Mulheres

    (%)

    Estados Unidos

    (EUA)

    / Canad

    Cirurgies-Dentistas

    (EUA) 1960 Dolan e Lewis (1987) 1,00

    Formandos (EUA) 1986 Dolan e Lewis (1987) 27,00

    Cirurgies-Dentistas

    Washington (EUA) 2005 Del Aguila MA (2005) 12,00

    Ortodontistas (EUA) 2005 Blasius e Pae (2005) 50,00

    Cirurgies-Dentistas

    Virgnia (EUA) 2007

    Janus, Runt e Unger

    (2007) 25,00

    Cirurgies-Dentistas

    (EUA) 2020 ADA (2001) 30,00

    Cirurgies-Dentistas

    Quebec (Canad) 1971 Brodeur et al (1990) 55,60

    Cirurgies-Dentistas

    (Quebec, Canad) 1988 Brodeur et al (1990) 51,70

    Estudantes

    (Canad) 2007

    Muirhead e Locker

    (2007) 58,00

    Europa

    Formandos

    (Inglaterra) 1965

    McEwen e Seward

    (1988) 13,70

    Cirurgies-Dentistas

    (Inglaterra) 1965

    McEwen e Seward

    (1988) 7,70

    Formandos

    (Inglaterra) 1986

    McEwen e Seward

    (1988) 34,6

    Cirurgies-Dentistas

    (Inglaterra) 1986

    McEwen e Seward

    (1988) 21,2

    Cirurgies-Dentistas

    (Inglaterra) 1993 Mattews e Scully (1988) 50,00

    Cirurgies-Dentistas

    (Inglaterra) 2008 Harris et al. (2008) 36,00

    Cirurgies-Dentistas

    (Sucia) 1997 Kronstrm et al. (1997) 42,00

    Cirurgies-Dentistas

    (Bulgria) 2004 Katrova (2004) 72,57

    Quadro 2.1. Participao da mulher na Odontologia nos Estados Unidos e na Europa.

  • 30

    Pas/Continente Caractersticas / Regio

    Ano Estudo Mulheres (%)

    Amrica Latina

    Formandos

    (Inglaterra) 1960 Dolan e Lewis (1987) 1,00

    Cirurgies-Dentistas

    (Montevidu, Uruguai) 1998 Amarante (2006) 55,00

    Cirurgies-Dentistas

    (Uruguai, Interior) 1998 Amarante (2006) 66,00

    Cirurgies-Dentistas

    (Uruguai) 2005 Amarante (2006) 71,00

    Profissionais de Sade

    (Argentina*) 2004 OPAS (2004) 56,00

    Profissionais de Sade

    (Bolvia*) 2004 OPAS (2004) 60,70

    Profissionais de Sade

    (Costa Rica*) 2004 OPAS (2004) 53,90

    Profissionais de Sade

    (Colmbia*) 2004 OPAS (2004) 69,50

    Profissionais de Sade

    (Cuba*) 2004 OPAS (2004) 72,50

    Profissionais de Sade

    (Mxico*) 2004 OPAS (2004) 66,30

    Brasil

    Cirurgies-Dentistas

    (Araatuba, CROSP) 1961 Serpa (1991) 3,00

    Formandos

    (So Bernardo do Campo-SP)

    2000 Serpa (1991) 89,25

    Cirurgies-Dentistas

    (So Paulo, CROSP) 2005 Parajara (1991) 51,00

    Cirurgies-Dentistas

    (Araatuba-SP)

    1991-

    2000 Saliba et al. (2002) 59,95

    Cirurgies Dentistas

    (Brasil) 2003 CFO (2003) 57,50

    Cirurgies-Dentistas

    (Estado de So Paulo)

    1990-

    1998

    Michel-Crosato et al.

    (2003) 55,25

    Cirurgies-Dentistas

    (Santa Catarina) 2005

    Michel-Crosato, Kotiliarenko

    e Biazevic (2006) 48,00

    Quadro 2.2. Participao da mulher na Odontologia na Amrica Latina.

  • 31

    2.2 Motivaes para escolher a Odontologia como profisso

    Outro aspecto importante com relao profisso odontolgica

    correspondem aos motivos que levam os jovens a eleger a Odontologia como

    profisso. Vrios foram os fatores relatados, e esses se alteram medida que as

    caractersticas da profisso mudam.

    Em 1973, Arbenz et al. (1973) realizaram um trabalho para verificar os

    motivos da escolha da profisso odontolgica. Foram entrevistados 125 alunos do

    curso de graduao da Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo

    (FOUSP); relataram que o principal fator para a escolha da cincia odontolgica foi a

    aptido s cincias mdicas.

    Almeida Jnior et al. (1984) realizaram estudo no qual aplicaram

    questionrios a 150 estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBa). Os

    resultados apresentam que a maioria dos sujeitos de pesquisa escolheu a profisso

    por gostar de cincias mdicas e, principalmente, de Odontologia. Os autores

    tambm apontaram que alguns estudantes escolheram a Odontologia por ambio

    scio-econmica, ou por influncia familiar. Os autores apresentaram que a histria

    familiar poderia ter influncia na escolha da profisso, j que 43,30% dos

    entrevistados relataram ter parentes que eram Cirurgies-Dentistas.

    Em estudo que entrevistou todos os Cirurgies-Dentistas inscritos no

    Conselho de Odontologia do Estado de So Paulo, Costa (1988) relatou que um

    entre cada quatro profissionais indicou a perspectiva de ganhos financeiros e de

  • 32

    prestgio social como motivadora da escolha. Sua pesquisa foi conduzida com

    Cirurgies-Dentistas da Grande So Paulo.

    Com o objetivo de analisar as caractersticas do ensino e da prtica

    odontolgica, Perri de Carvalho (1995a,b) realizou uma pesquisa na regio da Alta

    Noroeste do Estado de So Paulo. O autor aplicou, em sala de aula, um questionrio

    aos alunos do oitavo semestre da Faculdade de Odontologia da Universidade Julio

    de Mesquita Filho (FOA-UNESP) e da Faculdade de Odontologia de Lins (FOL). O

    mesmo questionrio foi aplicado a Cirurgies-Dentistas de dez cidades nas

    cercanias de Lins e de Araatuba; tais questionrios foram entregues diretamente

    aos profissionais. Os questionrios respondidos apontaram que a opo pela

    Odontologia prendia-se s possibilidades de ganhos financeiros para as trs

    categorias estudadas.

    Em estudo realizado por Gietzelt (1997), entre os estudantes de Odontologia

    de primeiro ano, foi encontrado que as principais motivaes por escolher a

    Odontologia como carreira foram a aptido para a sade e possibilidade de ter vrios

    empregos.

    Carvalho, Perri de Carvalho e Sampaio (1997) realizaram um estudo para

    verificar as motivaes e as expectativas que alunos de faculdades de Odontologia

    do Municpio de So Paulo nutriam com relao ao curso e ao exerccio profissional.

    Os autores aplicaram, a uma populao de 179 estudantes da Faculdade de

    Odontologia da Universidade de So Paulo (FOUSP) e de cursos de Odontologia da

    Universidade Paulista (UNIP) e da Universidade de Santo Amaro (UNISA),

    questionrio no qual indagavam as razes da escolha profissional. Obtiveram os

    seguintes resultados: vocao - 37,20% (UNIP), 39,40% (UNISA) e 23,40% (USP);

    possibilidade de auferir bons rendimentos - 54,30% (UNIP), 11,40% (UNISA) e

  • 33

    34,30% (USP).

    Em estudo realizado na Irlanda, Hallissey, Hannigan e Ray (2000)

    verificaram por que os estudantes escolheram a ocupao de Cirurgio-Dentista.

    Foram entrevistados 150 estudantes universitrios durante o ano letivo de 1998-

    1999. Os graduandos escolheram a Odontologia principalmente devido a uma

    percepo positiva de condies de trabalho, seguida pelas motivaes de poder

    ajudar as pessoas.

    Em estudo realizado por Michel-Crosato et al. (2003), referente questo

    sobre os motivos de escolha da Odontologia como profisso, os autores relataram

    que 170 (53,12%) a escolheram pelo fato de esta ser uma profisso liberal; 118

    (36,875) por terem tido contato com outros dentistas; 103 (32,18%) pela flexibilidade

    de horrio; e 101 (31,00%) por vocao.

    Em pesquisa que tinha como objetivo verificar a motivao de estudantes do

    curso de Odontologia e de Medicina na Universidade de Manchester (Gr-Bretanha),

    Crossley e Mubarik (2002) relataram que os estudantes de Medicina manifestaram

    uma atitude mais profissional na qual o desafio intelectual constituiu fator motivador

    central para a escolha da profisso.

    Gallagher et al. (2007) realizaram um estudo qualitativo para verificar os

    motivos que levavam os jovens a escolher a Odontologia. Os autores concluram em

    seu estudo que os graduandos escolheram a profisso por remuneraes lucrativas

    e por ser uma profisso da rea de sade.

  • 34

    2.3 Atuao profissional

    Ainda dentro do escopo do presente estudo, outro fator importante so as

    possibilidades de atuao profissional do Cirurgio-Dentista. Esse aspecto tem sido

    objeto de muitos estudos, que visam avaliar as oportunidades de colocao do

    profissional no mercado de trabalho.

    Em levantamento sobre as caractersticas de atendimento dos servios de

    sade bucal da cidade de Bauru (SP), Moraes (1971) relatou que 53,09% dos

    Cirurgies-Dentistas trabalhavam somente em consultrios odontolgicos, e 46,91%

    atuavam em autarquias, em servios de assistncia odontolgica e na Faculdade de

    Odontologia de Bauru da Universidade de So Paulo (FOB-USP).

    Em estudo realizado no oeste do Estado de So Paulo para verificar as

    necessidades e as tendncias da Odontologia e do exerccio dessa profisso,

    Madeira e Perri de Carvalho (1980) destacaram a possibilidade de alocar os recm-

    formados, pelo perodo de um ano, e mediante remunerao, em consultrios

    odontolgicos especialmente montados pelo governo em cidades carentes.

    Em trabalho realizado para verificar as opes de trabalho e a distribuio

    dos Cirurgies-Dentistas no territrio nacional, Vacariuc (1985) constatou que as

    atividades que apresentavam maiores ndices de preferncia eram o consultrio

    prprio, o emprego junto a terceiros e a dedicao docncia.

    Para analisar o perfil de atuao de egressos de cursos de Odontologia nos

    Estados Unidos, Dolan e Lewis (1987) enviaram questionrios para uma populao

    de 4.470 profissionais escolhidos aleatoriamente em um universo de 14.228

    Cirurgies-Dentistas graduados nos anos de 1979, 1980 e 1981. Os autores

  • 35

    relataram que 36,10% das mulheres, e 24,50% dos homens, trabalhavam em

    clnicas privadas. E comentaram ainda sobre a concordncia existente, na literatura

    mdica e na literatura odontolgica, sobre a maior incidncia de profissionais do

    sexo feminino atuando com vnculo empregatcio em empresas de Odontologia de

    grupo, em empregos pblicos e em instituies privadas.

    No j citado estudo realizado em 1988 por Costa, o autor constatou que, nos

    1.020 questionrios respondidos, houve predominncia de atuao em consultrios

    prprios, e que a porcentagem de homens que no possuam vnculo empregatcio

    (66,00%) era maior do que a de mulheres (51,00%).

    Em estudo sobre a atuao de Cirurgies-Dentistas do Distrito Federal (DF),

    Cordn (1991) observou que a maioria dos profissionais da rea trabalhava em

    consultrios individuais e particulares (64,00%) na condio de clnicos gerais; que

    20,60%, alm do consultrio, tambm tinham um emprego pblico; e que somente

    3,3% tinham como nica fonte de renda o servio pblico.

    A pesquisa supra citada tambm revelou que 25,60% dos Cirurgies-

    Dentistas tinham vnculo empregatcio com os servios pblicos federais ou distritais

    e que 32,50% trabalhavam em mais de um local, privado ou pblico.

    Pinto (1993), relatou que em 1989, havia 40.581 postos de trabalho

    ocupados por Cirurgies-Dentistas, com maior concentrao nas regies Sudeste,

    Sul e Nordeste do Brasil.

    Em sua dissertao de mestrado, Silva (1994) encontrou que a maioria dos

    profissionais formados em Odontologia que mantinham emprego em Araraquara

    estava vinculada ao setor pblico; o autor explicou que, com a municipalizao dos

    servios de sade, a prefeitura ampliou seus servios, abrindo maiores

    oportunidades de emprego aos Cirurgies-Dentistas. O Servio Social da Indstria

  • 36

    (SESI), a UNESP, as empresas privadas e os sindicatos ofereciam poucos

    empregos a tais profissionais naquela cidade.

    Na j mencionada pesquisa realizada por Perri de Carvalho (1995a,b), o

    autor relatou que, na populao de alunos estudada, as expectativas de atuao

    profissional poca da formatura diferiram entre os alunos da FOA-UNESP e da

    FOL. Na FOA-UNESP, 29,00% dos graduandos planejavam possuir consultrios

    prprios, 36,00% pretendiam trabalhar em clnicas privadas; 52,00% previam

    trabalhar em consultrios cedidos ou alugados; 56,00% queriam continuar

    estudando; 54,00% objetivavam trabalhar em sindicatos ou associaes. As

    expectativas dos alunos da FOL apresentaram percentuais um pouco diferentes:

    40,00% tinham a previso de possuir consultrios prprios, e 27,00% queriam

    trabalhar em clnicas privadas; 49,00% tinham a expectativa de atuar em

    consultrios cedidos ou alugados; 54,00% pretendiam continuar estudando; 64,00%

    objetivavam trabalhar em sindicatos ou associaes.

    Em estudo realizado na frica do Sul com a finalidade de verificar os

    padres de trabalho de Cirurgies-Dentistas de ambos os gneros, Wet, Truter e

    Ligthelm (1997) verificaram que 89,90% dos entrevistados do sexo masculino

    trabalhavam em clnicas privadas; as profissionais do sexo feminino que

    trabalhavam dessa forma eram 70,00% do total da amostra.

    Para verificar as diferenas de perfil da fora de trabalho na Sucia,

    Kronstrm et al. (1997) enviaram questionrios a uma populao escolhida

    aleatoriamente - de 2.100 Cirurgies-Dentistas daquele pas. Os resultados

    apontaram que 50,00% dos profissionais trabalhavam em clnicas privadas e 50,00%

    estavam vinculados aos servios pblicos. Entre os homens, 63,00% trabalhavam

    em clnicas privadas, enquanto que apenas 32,00% das mulheres o faziam.

  • 37

    Pesquisa realizada para verificar o padro dos diagnsticos e as

    caractersticas dos pacientes de servios odontolgicos na Austrlia apontou que,

    dos 7.493 profissionais registrados no Dentist Register, 16,50% eram mulheres. De

    todos os profissionais, 79,60% trabalhavam no setor privado (BRENNAN;

    SPENCER; SZUSTER, 2000).

    Aspectos atinentes aos ganhos financeiros e ao tempo dedicado

    Odontologia tm sido avaliados por diversos estudiosos. E alguns desses

    pesquisadores ainda se debruaram sobre as possveis diferenas - relacionadas a

    esses fatores que podem ocorrer em conseqncia do sexo do profissional.

    Em estudo que analisou algumas caractersticas dos Cirurgies-Dentistas

    graduados na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco

    (UFPE), Parahyba Neto, Bijella e Morais, (1983) verificaram que, com exceo das

    clnicas empresariais, em todas as outras atividades desenvolvidas, os profissionais

    do sexo masculino apresentavam mdia de horas semanais de trabalho superior

    quelas registradas para o sexo feminino. Dos profissionais que trabalhavam

    somente em consultrios particulares, os do sexo masculino cumpriam uma mdia

    semanal de 39 horas, e os do sexo feminino atuavam por 30 horas. Entre aqueles

    que mantinham vnculo empregatcio, os homens tambm trabalhavam mdia

    semanal de 39 horas, e as mulheres apenas 34 horas.

    Dolan e Lewis (1987) empreenderam pesquisa para verificar o perfil

    profissional dos recm-graduados em cursos de Odontologia dos Estados Unidos.

    Os autores relataram que as mulheres ganharam menos que os homens na prtica

    privada, administrativa ou na docncia, mesmo realizando as mesmas atividades e

    dedicando-se o mesmo nmero de horas ao servio.

  • 38

    O trabalho publicado por Cordn em 1991 apontou que, em geral, 68,00%

    dos dentistas trabalhavam at 40 horas, e 30,00% trabalhavam mais de 40 horas

    semanais. Na avaliao realizada segundo sexo, foi observado que os homens

    dedicavam maior tempo ao consultrio. Quanto aos rendimentos, o autor relatou

    tambm que 62,60% dos profissionais haviam tido, no ano de 1990, receitas

    mensais superiores a dez salrios mnimos, e 24,40% haviam recebido,

    mensalmente, mais de 30 salrios mnimos.

    Pesquisa realizada com Cirurgies-Dentistas na frica do Sul apontou que

    41% dos profissionais trabalhavam entre 41 e 50 horas semanais, e 13,00%

    trabalhavam mais de 50,00 horas semanais (RUDOLPH; BRAND; GILBERT, 1995).

    As publicaes de Perri de Carvalho (1995a,b) ressaltaram que outros

    fatores, alm do tipo de atividade desenvolvida pelo Cirurgio-Dentista, influenciaria

    seus rendimentos; o mercado de trabalho tambm deveria ser considerado em

    estudos voltados ao assunto.

    Wet, Truter e Ligthelm (1997) verificaram que, em 80% dos entrevistados, o

    sexo masculino respondia pela principal fonte de renda da famlia, ao passo que

    apenas 19,6% das profissionais do sexo feminino que atuavam em Odontologia se

    inseriam nessa situao.

    O trabalho de Kronstrm et al. (1997) apontou para os seguintes ndices de

    horas semanalmente dedicadas ao exerccio profissional: entre os homens, 26-30

    horas (7,00%), 31-35 horas (26,00%), 36-40 horas (48,00%), mais de 40 horas

    (10,00%); entre as mulheres, 26-30 horas (27,00%), 31-35 horas (25,00%), 36-40

    horas (30,00%), mais de 40 horas (2,00%). Os autores comentaram que

    aproximadamente 53,00% dos Cirurgies-Dentistas consideravam a sua demanda

    de pacientes suficiente; 12,00% dos homens e 20,00% das mulheres afirmavam ter

  • 39

    uma grande demanda; 30,00% dos homens e 21,00% das mulheres relataram ter

    poucos pacientes novos; e 6,00% dos homens e 4,00% das mulheres consideravam

    baixa a sua demanda.

    Em estudo realizado para verificar o perfil do egresso do curso de

    Odontologia da Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo

    (FOUSP), Michel-Crosato et al. (2003), relataram que, em relao ao nmero de

    horas que o profissional dedicava Odontologia no primeiro ano aps a

    formatura, 159 (49,16%) trabalhavam de 8 a 12 horas por dia, e 30 (9,46%)

    trabalhavam mais de 12 horas por dia, o que resultou em um somatrio de 189

    (59,62%) Cirurgies-Dentistas atuando alm de 8 horas dirias.

    Em estudo realizado no Meio-Oeste Catarinense, onde participaram da

    pesquisa 153 profissionais, mais da metade dos Cirurgies-Dentistas, ou seja, 86

    (52,59%) relataram trabalhar mais do que 40 horas semanais e de atender mais de

    cinco pacientes por turno de 4 horas; apenas 10% relatou atuar sem pessoal

    auxiliar. Com relao posio ergonmica de trabalho, as localizaes que

    correspondem a 9, 10, 11 e 12 horas foram as preferidas por cerca de 56,86% dos

    profissionais e 80% relatou trabalhar exclusivamente na posio sentado. Na

    questo da renda, 56,21% dos respondentes recebiam at R$ 5.000,00 por ms,

    sendo que 31,37% relatou valores superiores e 12,42% preferiu no revelar a

    renda. A renda familiar de 49,67% dos profissionais correspondeu a valores que

    no superaram os R$ 10.000,00 e 31,37% deles no informou a condio

    (MICHEL-CROSATO; KOTILIARENKO; BIAZEVIC, 2006).

  • 40

    2.4 Educao continuada

    Diferentes autores empreenderam estudos voltados s reas ou

    especialidades que o Cirurgio-Dentista atua em sua prtica. Tambm os cursos de

    ps-graduao (atualizao, especializao, mestrado e doutorado) tm sido

    avaliados e discutidos na literatura.

    Discutindo a crise no atendimento odontolgico, Simonetti (1980) relatou que

    os especialistas seriam importantes para o progresso da cincia odontolgica, mas

    ponderou que a linha de raciocnio que supervaloriza a realizao de cursos de

    especializao prejudicaria a formao profissional. Tal postura levaria o indivduo a

    uma viso limitada da prtica odontolgica, que lhe tornaria difcil a adequao a

    novas situaes.

    Dos 167 profissionais que responderam aos questionrios enviados por

    Parahyba Neto, Bijella e Morais (1983), em que se analisaram algumas

    caractersticas dos profissionais formados pela Faculdade de Odontologia da UFPE,

    apenas 48 (28,74%) exerciam alguma especialidade e, destes, somente 28 estavam

    registrados como especialistas no Conselho Regional de Odontologia do Estado de

    Pernambuco (CRO-PE). Entre as especialidades exercidas pela populao

    estudada, as mais freqentes foram: para o gnero feminino, odontopediatria,

    endodontia e periodontia (que, somadas, representaram 80,95% das especialidades

    exercidas por esse sexo); para o gnero masculino, endodontia, prtese e cirurgia

    (totalizando 70,37% das especialidades exercidas pelos homens). Para os autores, o

    elevado ndice de profissionais que no exerciam especialidades (71,26%) poderia

    estar associado ao baixo poder aquisitivo da populao atendida, ou ainda ao fato

  • 41

    de que o clnico geral estaria apto a atender s necessidades odontolgicas bsicas

    da comunidade; esse percentual sugeriria a inexistncia de um mercado de trabalho

    favorvel para os especialistas na regio estudada.

    O estudo realizado por Almeida Jnior et al. (1984) com graduandos da

    Faculdade de Odontologia da UFBa relatou que os alunos que pretendiam fazer

    outro curso aps a obteno do ttulo de Cirurgio-Dentista citaram com maior

    freqncia: medicina, psicologia e farmcia, demonstrando a preferncia dessa

    populao pelas cincias biomdicas.

    Vacariuc (1985) apontou que as opes de especialidades mais procuradas

    em seu estudo, que foram: odontopediatria, endodontia, prtese dental, ortodontia e

    dentstica. A autora relatou ainda que existe preferncia do gnero feminino em

    especializar-se em odontopediatria, e dos homens, por cirurgia.

    Costa (1988) realizou um estudo com profissionais da Grande So Paulo e

    em relao s especialidades odontolgicas praticadas em consultrios pela

    populao estudada, que foram: dentstica, endodontia, odontopediatria, prtese,

    periodontia, cirurgia, semiologia e ortodontia, nessa ordem de freqncia. Todavia,

    quando consideradas apenas as profissionais mulheres, essa ordem se alterou para:

    dentstica, prtese, endodontia, periodontia, cirurgia, odontopediatria, semiologia e

    ortodontia. O autor ainda destacou que apenas 25,00% dos Cirurgies-Dentistas que

    responderam pesquisa eram especialistas, e que a maioria destes no se dedicava

    apenas especialidade estudada.

    Cordn (1991) constatou que 55,80% dos profissionais de sua amostra no

    haviam freqentado cursos de educao continuada. Entre aqueles que haviam

    freqentado, 18,70% tinham feito cursos de aperfeioamento; 23,60% concluram

    cursos de especializao; e apenas 1,90% haviam feito cursos de mestrado,

  • 42

    doutorado ou ps-doutorado. Quase todos os cursos de aperfeioamento

    freqentados pelos participantes haviam tido durao inferior a 40 horas.

    Na populao avaliada por Silva (1994), a porcentagem total de

    especialistas foi de 48,50%, e a maioria (59,50%) dos profissionais havia concludo

    os cursos de especializao nos 10 anos anteriores pesquisa. O autor destacou

    dois fatores como responsveis pelo grande nmero de especialidades na cidade

    estudada (Araraquara-SP): a nfase que os docentes dos cursos de graduao em

    Odontologia do ao conhecimento tcnico e especializao e a atuao da sede

    regional da Associao Paulista dos Cirurgies-Dentistas (APCD), que oferecia

    cursos de diferentes reas. Os resultados desse estudo demonstraram a seguinte

    distribuio de profissionais por rea de atuao odontolgica: dentstica, 72,00%;

    odontologia preventiva, 64,00%; odontopediatria, 58,80%; cirurgia, 29,40%; prtese,

    26,50%; endodontia, 20,60%; periodontia, 11,80%; e ortodontia, 6,00%.

    O site do Instituto Nacional de Estudo e Pesquisa Educacionais (2000)

    relatou os resultados e a anlise dos dados recolhidos pelo questionrio-pesquisa

    aplicado aos graduandos de cursos Odontologia pelo Exame Nacional de Cursos

    (Provo). Das 14 especialidades arroladas, a que teve o maior ndice de adeses

    foi a dentstica restauradora, que obteve manifestao de interesse por parte de

    59,9% dos pesquisados. Os estudantes revelaram ainda um desejo bastante

    acentuado pela continuidade dos estudos: 77,2% pretendiam fazer cursos de

    aperfeioamento e de especializao, e 20% pretendiam fazer cursos de mestrado e

    de doutorado.

    Michel-Crosato, Kotiliarenko e Biazevic (2006) apontaram em seu estudo

    realizado no Meio-Oeste Catarinense, que 76,00% do total de 153 Cirurgies-

    Dentistas relataram ser especialistas e 26,00% eram clnicos gerais.

  • 43

    O quadro 2.3 apresenta a sntese dos trabalhos de educao continuada

    realizados no Brasil.

    Pas/Continente Caracteristicas /

    Regio Ano Estudo

    Especialistas

    (%)

    Brasil

    Cirurgies-Dentistas

    (Pernambuco) 1983

    Parahyba Neto, Bijela

    e Morais (1983) 28,74

    Cirurgies-Dentistas

    (So Paulo-SP) 1988 Costa (1988) 25,00

    Cirurgies-Dentistas

    (Braslia-DF) 1991 Cordn (1991) 44,20

    Cirurgies Dentistas

    (Piracicaba-SP) 1994 Silva (1994) 48,50

    Cirurgies-Dentistas

    (Brasil) 2000 INEP (2000) 77,02

    Cirurgies-Dentistas

    (Santa Catarina) 2005

    Michel-Crosato,

    Kotiliarenko e Biazevic

    (2006)

    76,00

    Quadro 2.3. Educao continuada no Brasil.

    2.5 Riscos Ocupacionais

    A preocupao com problemas de sade decorrentes do exerccio

    profissional tambm est presente na rea odontolgica. A literatura contempla

    estudos voltados a essa matria, como o de Eccles (1970), que postulou que, como

    o Cirurgio-Dentista desenvolveria os procedimentos no paciente consciente, e que

    este est freqentemente apreensivo, seu trabalho seria permeado por um clima de

    tenso, o que poderia lev-lo a situaes de grande estresse.

  • 44

    Para Nogueira (1983), os riscos ocupacionais poderiam ser divididos em

    dois grupos: os acidentes de trabalho - eventos caracterizados pelo curto perodo de

    tempo decorrido entre a ao do agente nocivo e o aparecimento da leso, e as

    doenas profissionais - eventos caracterizados por maior perodo de tempo

    transcorrido a ao do efeito nocivo e o aparecimento da doena. As doenas

    profissionais poderiam ser causadas por agentes mecnicos, fsicos, e biolgicos, e

    a melhor maneira de preveni-las seria a adoo de medidas preventivas j

    conhecidas.

    Os Cirurgies-Dentistas modernos, como verdadeiros profissionais da

    sade, teriam a obrigao de conhecer, cumprir e divulgar as normas ergonmicas e

    sanitrias que beneficiam os seus clientes, a populao, os seus familiares e a eles

    prprios (GENOVESE; LOPES, 1991).

    Augustson e Morken (1996) citaram as queixas mais comuns entre os

    profissionais da rea de Odontologia: dores nas costas (49,00%), desconforto no

    pescoo (47,00%), desconforto no ombro e dores no pulso (21,00%), dentre outras.

    Para Poi, Reis e Poi (1999), seria necessrio que o Cirurgio-Dentista fosse

    visualizado em sua totalidade. A partir dessa viso, postularam os autores, o

    profissional deveria dedicar algum tempo para preservar a sua sade.

    Os profissionais de Odontologia no deverim se limitar a cuidar da sade

    alheia. Alm da competio profissional cada vez mais acirrada, o Cirurgio-Dentista

    teria de lidar com muitos problemas especficos, tais como varizes, leses por

    esforos repetitivos (LER), dores na coluna e estresse. Os cuidados com o bem-

    estar deveriam comear desde cedo e, preferencialmente, deveriam integrar o dia-a-

    dia da prtica em consultrio (LUSVARGHI, 1999).

  • 45

    Midorikawa et al. (1998) realizaram estudo para observar a incidncia de

    leses por esforos repetitivos (LER) e de distrbios osteomusculares relacionados

    ao trabalho (DORT) em Cirurgies-Dentistas, constatando que 66,9% dos

    profissionais que apresentavam tais manifestaes eram do gnero feminino.

    Alexopoulos Stathi e Charizani (2004) verificaram ser elevada a

    prevalncia de queixas msculo-esquelticas em 430 Cirurgies-Dentistas gregos

    que realizaram a pesquisa mediante a aplicao de um questionrio. Os resultados

    da pesquisa mostraram que 62,00% relataram ao menos uma queixa dolorosa,

    30,00% sofriam do problema cronicamente, 16,00% tinham tido relatos de

    ausncia de dor e 32,00% declararam ter procurado assistncia mdica em

    decorrncia dos problemas.

    Estudando a dor decorrente da atividade profissional dos Cirurgies-

    Dentistas de Porto AlegreRS, Loges (2004) constatou que metade dos

    profissionais entrevistados referiu sintomas de lombalgia e um quarto da amostra,

    cervicalgia, 41,00% queixas de dores de cabea, 20,00% problemas nos ombros,

    13,00% nos cotovelos e 25,00% relataram sintomas nas mos e punhos. A

    prevalncia dos distrbios msculo-esquelticos se mostrou acentuada para o

    gnero feminino. Os achados indicaram que os dentistas homens apresentaram

    maior consumo de bebidas alcolicas e contraturas no ombro direito, enquanto as

    mulheres fizeram mais uso de medicamentos e referiram mais dor espontnea no

    ombro direito durante o trabalho.

    Michel-Crosato, Kotiliarenko e Biazevic (2006) realizaram um estudo no

    Meio-Oeste Catarinense, onde participaram da pesquisa 153 profissionais. Do total

    de Cirurgies-Dentistas pesquisados, 93,00% relataram dores msculo-esquelticas

    em pelo menos uma parte do corpo no ltimo ano em decorrncia da atividade

  • 46

    profissional, com predominncia para os indivduos do gnero feminino. A regio

    mais prevalente com sintomatologia foi a coluna cervical (69,93%). O risco de dor

    para os indivduos que apresentavam a probabilidade positiva para transtornos

    psiquitricos menores foi cerca de quatro vezes maior. Puderam concluir que a

    prevalncia dos distrbios osteomusculares foi alta e que esteve associada a

    algumas caractersticas ocupacionais e scio-econmicas.

    2.6 Satisfao profissional

    A prtica de uma profisso no pode ser considerada somente como o

    resultado das aptides e habilidades de sua fora de trabalho. Ela ir resultar da

    confluncia de fatores psicolgicos e sociais que exercem marcada influncia sobre

    o comportamento do homem no exerccio de sua profisso e condicionam a

    compatibilizao do profissional com seu trabalho. Seu nvel de ajustamento do

    profissional nos leva chamada satisfao profissional (KOTLIANRENKO, 2005).

    Verificando os fatores que contribuem com satisfao profissional do

    Cirurgio-Dentista e com a sua qualidade de vida, Logan et al. (1997) realizaram

    estudo e constataram que, embora a maioria dos profissionais entrevistados

    estivesse satisfeito com sua carreira, estavam igualmente insatisfeitos com seu

    nvel de estresse, com o ambiente de trabalho e com o tempo pessoal disponvel.

    Para Nicolielo e Bastos (2002), a satisfao profissional constitui um tema

    muito importante e atualmente vem sendo descrita como o estado emocional

    positivo resultante do prazer que se tem com as experincias do trabalho, estando

    fortemente relacionada a fatores como desempenho profissional, qualidade de

    vida, sade fsica e mental e com a auto-estima do trabalhador. Os autores

  • 47

    relataram que haveria uma relao estabelecida entre o tempo de atuao no

    mercado de trabalho e a satisfao profissional, estando os profissionais recm-

    formados mais insatisfeitos.

    Soria Bordin e Costa Filho (2002) afirmaram que o setor odontolgico

    estaria atravessando uma fase paradoxal, caracterizada pelo excesso de

    profissionais no mercado de trabalho e pelo grande contingente populacional

    carente de tratamentos odontolgicos. Com isso, haveria necessidade crescente

    de serem aprimoradas suas habilidades gerenciais, a fim de possibilitar a melhor

    organizao do setor.

    Funk et al. (2004) avaliaram o perfil do Cirurgio-Dentista formado pela

    Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo (RS) no perodo de

    1965 a 1999. Os resultados mostraram que a maioria dos profissionais se sentiam

    satisfeitos com a prtica da Odontologia, mas deixaram transparecer a insatisfao

    com os aspectos financeiros da profisso.

    Um estudo foi realizado em Medunsa, frica do Sul, por Harris e Zwane

    (2005), que teve por objetivo verificar as expectativas e percepes com relao

    satisfao na carreira com graduados de 2003 do curso de Odontologia, encontrou

    que o respeito profissional e o estresse foram os fatores que mais impactaram na

    satisfao com o trabalho.

    Gorter et al. (2006) realizaram um estudo que analisou a prtica

    odontolgica alem. O objetivo do trabalho foi desenvolver um instrumento que

    medisse os recursos de trabalho entre dentistas e avaliasse a sua importncia

    relativa. Um questionrio foi enviado a 848 dentistas generalistas para que

    pudessem monitorar e registrar suas experincias de trabalho. Os autores

  • 48

    concluram que a infra-estrutura de trabalho se mostrou correlacionada com a

    satisfao no trabalho.

    Em 2006, Hjalmers realizou um estudo com Cirurgis-Dentistas suecas e

    que teve como objetivo verificar quais eram os problemas que sofriam decorrentes

    do seu exerccio profissional. Os dois artigos publicados sobre o estudo Hjalmers

    (2006) e Hjalmers, Sderfeldt e Axtelius (2006) relataram que essas profissionais

    sofriam com muitos problemas relacionados s suas condies psicossociais de

    trabalho, e que existiam grandes discrepncias entre sua percepo de situao

    ideal de trabalho e a sua realidade.

    Em pesquisa em Cirurgies-Dentistas da regio do Meio-Oeste

    Catarinense (MICHEL-CROSATO; KOTILIARENKO; BIAZEVIC, 2006), observou-

    se que 83,10% estavam entre satisfeitos ou muito satisfeitos com a profisso.

    Estudo realizado na Coria do Sul por Jeong et al. (2006) investigou o nvel

    e distribuio da satisfao profissional, e explorou fatores ambientais do trabalho

    associados com satisfao dos Cirurgies-Dentistas coreanos. Foi selecionada

    amostra aleatria e estratificada 1.029 dentistas dentre 10.357 dentistas registrados

    na Associao Odontolgica Coreana. Aplicou-se um questionrio auto-administrado

    postado pelo correio. A taxa de resposta foi de 62,20%. A mdia de satisfao

    profissional geral entre os participantes foi de 3,20 em 5 pontos. Em termos de

    fatores do ambiente de trabalho, o aspecto mais satisfatrio foi o relacionamento

    com os pacientes (3,70) e o menos satisfatrio foi o tempo pessoal (2,80). O estudo

    sugeriu que o relacionamento com pacientes, a percepo de renda, o tempo

    pessoal, a equipe e o treinamento especializado foram fatores importantes do

    ambiente de trabalho para a satisfao profissional. Os autores realaram que os

    achados deste estudo seriam teis para planejar aes efetivas e assim poder

  • 49

    contribuir para aumentar o nvel de satisfao profissional entre os dentistas sul-

    coreanos.

    Bengmark , Nilner e Rohlin (2007) descreveram algumas caractersticas dos

    graduados das cinco primeiras turmas do programa odontolgico de Malm (Sucia).

    De 166 profissionais graduados entre 1995-1999 convidados a participar do estudo,

    128 responderam pesquisa (taxa de resposta de 77,00%). O questionrio continha

    questes sobre caractersticas do participante, educao fundamental e situao

    profissional. Quanto situao atual, a maioria dos participantes estava trabalhando

    como dentista em perodo integral e acreditava que seu curso tinha fornecido uma

    boa base para o exerccio da profisso. Verificou-se que a satisfao dos

    participantes com sua situao profissional esteve correlacionada com o quanto eles

    eram capazes de influenciar sua situao de trabalho. Quanto ao gnero, houve

    diferenas com relao ao interesse por atividades de pesquisa: 64,00% das

    mulheres graduadas e 42,00% dos homens estariam interessados. Concluiu-se

    tambm que os participantes da pesquisa estavam satisfeitos com sua situao

    profissional e a maioria gostaria de prosseguir seus estudos na ps-graduao.

    Berthelsen, Hjalmers e Sderfeldt (2008) avaliaram de que maneira

    Cirurgies-Dentistas dinamarqueses generalistas de clnicas particulares percebiam

    o apoio de colegas e relacionaram o apoio percebido a fatores contextuais

    demogrficos e relacionados ao trabalho. A varivel mais importante relacionada

    percepo de apoio entre dentistas foi o porte da clnica. Mulheres perceberam

    maior apoio emocional (por exemplo, discutindo com suas colegas sobre pacientes

    problemticos) que seus colegas homens; por outro lado, no foi encontrada

    diferena de gnero para a percepo de apoio prtico, como ajudar um ao outro no

    caso de atraso nos horrios.

  • 50

    Em 2008, Harris et al. (2008) enviaram um questionrio a 684 dentistas

    ingleses, contendo 83 afirmaes sobre atitudes relacionadas ao trabalho, o que

    avaliaria a satisfao geral e questes relativas carga de trabalho. Dentistas

    generalistas do Sistema Nacional de Sade (SNS), trabalhando integralmente neste

    Sistema, tinham a menor probabilidade de estarem satisfeitos com seu trabalho,

    seguidos de dentistas do servio particular do SNS e dentistas trabalhando

    conjuntamente no SNS e clnicas privadas. Dentistas particulares eram os mais

    satisfeitos. Foram encontradas diferenas entre os todos os grupos com relao

    satisfao geral e a facetas de satisfao profissional relacionadas restrio

    capacidade de oferecer assistncia de qualidade, controle do trabalho e

    desenvolvimento de habilidades tcnicas.

    Em estudo publicado em 2008, Ayers et al. descreveram as prticas de

    trabalho e a satisfao profissional de dentistas neozelandeses de ambos os

    gneros. A pesquisa foi realizada em mbito nacional, por meio de questionrios

    postados por correio a todos os dentistas com o certificado anual de exerccio da

    profisso. As mulheres trabalhavam menos horas por semana e sua principal razo

    para o trabalho de meio-perodo foi cuidar dos filhos, enquanto que para os homens,

    o motivo foi escolha pessoal. Uma proporo maior de mulheres que homens eram

    assalariadas ou scias de clnicas em vez de possuir seu prprio consultrio. Os

    homens eram mais ativos com relao educao continuada e houve diferena

    significativa entre as mdias de pontuao de satisfao na carreira para homens e

    mulheres (p

  • 51

    Puriene et al. (2007) avaliaram, utilizando um questionrio, o nvel de

    satisfao profissional entre dentistas lituanos, pesquisando a satisfao com

    diferentes fatores ambientais do trabalho e relacionando-os satisfao profissional.

    As caractersticas de trabalho que causaram mais insatisfao profissional foram

    seguro social e renda. As caractersticas de implicaram maior satisfao foram as de

    relacionamento com pacientes e com outros profissionais. No geral, observou-se que

    os dentistas lituanos vivenciavam grande satisfao profissional e os estudos de

    ps-graduao e a possibilidade ilimitada de desenvolvimento profissional tiveram

    impacto mais positivo para a satisfao profissional que fatores ambientais.

    Estudo de Gorter et al. (2008) na Alemanha teve como objetivo determinar o

    nvel de envolvimento entre dentistas e investigar quais recursos de trabalho

    odontolgico se correlacionam com o envolvimento ao trabalho. Um total de 632

    Cirurgies-Dentistas com idade mdia de 44 anos respondeu pesquisa, sendo a

    amostra constituda 75,00% por homens e 25,00% por mulheres. Os autores

    relataram que os dentistas mostraram mdias elevadas com relao ao

    envolvimento com o trabalho e o cuidado com o paciente, e o orgulho com a

    profisso foram fatores determinantes para a satisfao profissional.

    2.7 Validao de questionrios

    O uso de questionrios auto-administrados em sade tem sido aceito com

    maior freqncia na avaliao de eventos relacionados sade (DEYO, 1998),

  • 52

    sendo recomendados pela Organizao Mundial da Sade como teis para analisar

    a eficcia dos estudos de tratamentos de sade (EHRLICH; KHALTAEV, 1999).

    Qualquer questionrio deve possuir como fundamentos tcnicos algumas

    propriedades psicomtricas, confiabilidade e validade, bem avaliadas especialmente

    quando usadas para discriminar entre fatores causais esperados (BEURSKENS et

    al., 1995; KIRSCHNER; GUYATT, 1985; STRATTFORD et al., 1994).

    A validade pode ser definida como o grau em que os resultados de um

    estudo so provveis de serem verdadeiros, ou seja, o grau em que uma medida

    realmente mede ou detecta o que se prope a medir (AMATUZZI et al., 2006). Em

    um estudo epidemiolgico, podem existir dois tipos de validade: interna (o grau em

    que os resultados de um estudo esto corretos para a amostra de indivduos que

    esto sendo estudados) e externa (grau pelo qual os resultados de uma observao

    mantm-se verdadeiros em outras populaes diferentes da de onde provm a

    amostra) (STEIN, 1998).

    A confiabilidade ou reprodutibilidade a consistncia de resultados quando

    a medio ou o exame repetido (STEIN, 1998), ou seja, o grau em que repetidas

    medidas de uma caracterstica so concordantes (AMATUZZI et al., 2006). Alguns

    estudos tm sido destinados a examinar as caractersticas psicomtricas dos

    instrumentos de pesquisa, especialmente quando da validao para verses de

    idiomas diferentes do original, pois a simples traduo para a lngua da populao

    na qual ser aplicado o questionrio no revela, necessariamente, as caractersticas

    preconizadas pelo questionrio em sua verso original (OPPENHEIM, 1993).

    A maioria dessas investigaes tem estado concentrada na confiabilidade

    (consistncia interna e confiana teste-reteste) e na validade dos questionrios

  • 53

    (BOSCAINOS et al., 2003; GROTLE; BROX; VOLLESTAD, 2003; GUILLEMIN;

    BOMBARDIER; BEATON, 1993).

    Entre os estudos para avaliar a satisfao profissional, destaca-se o estudo

    de Jeong et al. (2006), onde se testaram as propriedades psicomtricas de uma

    escala de satisfao profissional.

  • 54

    3 PROPOSIO

    O presente estudo visou verificar a constituio da fora de trabalho

    representada pelos Cirurgies-Dentistas que desenvolviam suas atividades no

    Sistema nico de Sade (SUS) do Municpio de So Paulo no ano de 2007,

    levantando, nessa populao, os seguintes aspectos: o tipo de atividade

    desenvolvida; o tempo de dedicao profisso; a renda auferida; as reas de

    atuao ou especialidades a que se dedicavam; os cursos realizados aps a

    graduao; as possveis queixas relativas sade decorrentes da atuao

    profissional, e a satisfao profissional.

    Outra proposio do estudo foi realizar a adaptao trans-cultural da

    verso brasileira da escala de satisfao profissional.

  • 55

    4 MTODO

    4.1 Tipo de estudo

    Para obter as informaes constantes da proposio deste trabalho foi

    realizado um estudo transversal descritivo e analtico atravs da utilizao de

    questionrio.

    4.2 Populao de estudo

    Cirurgies-Dentistas que exerciam suas atividades profissionais na

    Prefeitura Municipal de So Paulo no ano de 2007 e que participavam de um curso

    de capacitao oferecido pela prefeitura, e que estavam presentes no dia da coleta

    de dados.

  • 56

    4.3 Coleta de dados

    Para realizar a coleta de informaes foi utilizado um instrumento que

    apresentava perguntas fechadas e abertas, agrupadas por assuntos (Anexo A).

    O questionrio foi aplicado nas salas de aula do curso de capacitao

    executado pela Prefeitura Municipal de So Paulo. A capacitao aconteceu em

    vrias regies de So Paulo (Quadro 4.1), abrangendo profissionais que

    trabalhavam em todas as reas da capital.

    A coleta dos dados era realizada ou no incio ou no trmino das aulas, nos

    perodos matutino ou vespertino. Antes do incio, uma explicao sobre a pesquisa

    era dada, convidando-se os Cirurgies-Dentistas a participar.

    Local Zona Endereo

    Instituto de Previdncia Municipal de So Paulo (IPREM) Norte Av. Zachi Narchi, 536.

    Universidade Ibirapuera (UNIB) Sul Av. Interlagos, 1329.

    Superviso Tcnica de Sade de Ermelino Matarazzo Leste Av. So Miguel, 5977.

    Faculdade Santa Marcelina Leste R. Cachoeira de Utupanema, 60.

    Universidade de So Paulo (USP) Leste Av. Arlindo Betio, 1000.

    FOUSP Faculdade de Odontologia Centro Oeste Av. Prof. Lineu Prestes, 2227.

    Faculdade Anhembi-Morumbi Sudeste R. Dr. Almeida Lima, 1134

    Quadro 4.1 Locais onde ocorreram os cursos de capacitao realizados para os Cirurgies-Dentistas do Municpio de So Paulo, 2007.

  • 57

    4.4 O Instrumento de coleta de dados

    O instrumento (Anexo A) de coleta de dados foi elaborado em blocos. O

    primeiro apresenta a caracterizao da amostra com questionamentos sobre gnero,

    idade e regio de residncia.

    A segunda parte se refere formao profissional, abordando temas como

    o tipo de instituio em que realizou a graduao, instituio, tempo de formado (em

    anos), se possui ttulo de especialista, rea da especialidade, se possui mestrado,

    doutorado e ps-doutorado e as respectivas reas, se costuma participar de

    congressos, se tem acesso a revistas cientficas, se membro de sociedades da

    rea.

    O terceiro agrupamento se refere ao mercado de trabalho e atuao

    profissional. Os temas abordados foram: situao profissional, atuao em servios

    privados e pblicos, atende convnios, realiza atividade docente, qual remunerao

    mdia mensal, tempo de dedicao, posio de trabalho e queixas de sade.

    O quarto bloco deu destaque participao da mulher na odontologia,

    enfocando principalmente as diferenas atuaes entre a atuao de homens e

    mulheres.

    O quinto e ultimo bloco apresenta o indicador de satisfao profissional.

  • 58

    4.5 Pr-teste e Estudo Piloto

    O instrumento, antes da sua aplicao, passou por um processo de estudo

    piloto e pr-teste para chegar a sua verso final. A parte do questionrio que

    mensura a satisfao no trabalho, por se tratar de uma escala internacional, foi

    adaptada para a lngua portuguesa do Brasil. Tambm foram testadas as

    propriedades psicromtricas do instrumento.

    4.6 Diretrizes para o processo de adaptao trans-cultural

    As diretrizes seguidas nessa pesquisa foram propostas por Beaton et al.

    (2000) e Wild et al. (2005), e so relatadas a seguir:

    Etapa 1: Preparao: organizao da pesquisa.

    Etapa 2: Primeira traduo: a primeira traduo do questionrio diretamente

    de sua verso original em ingls para a lngua portuguesa falada no Brasil foi

    realizada por um tradutor juramentado sem conhecimento odontolgico, sem vnculo

    acadmico e desconhecedor do propsito e do contedo do estudo. Tambm

    realizou a primeira traduo um profissional da rea de Odontologia, com vnculo

    acadmico e conhecedor do estudo.

    Etapa 3: Concordncia entre as tradues: as duas tradues foram

    comparadas e sintetizadas em uma nica verso brasileira, e em seguida foi

    realizada a traduo de volta lngua inglesa (back translation).

  • 59

    Etapa 4: Traduo de volta ao ingls (back translation): foi realizada por dois

    professores de Ingls, nativos e sem qualquer conhecimento do questionrio original

    e odontolgico.

    Etapa 5: Reviso da back translation; com o intuito de eliminar qualquer

    ambigidade e assegurar a equivalncia conceitual da traduo, os autores

    realizaram a reviso da back translation. O autor do questionrio original pode ser

    envolvido para resolver alguma dvida.

    Etapa 6: Harmonizao; o Comit de Especialistas foi composto por dois

    professores brasileiros da Lngua Inglesa, um professor-doutor de Lngua

    Portuguesa e o autor do trabalho, os quais realizaram uma verso pr-final.

    Foram avaliadas quatro equivalncias: a) semntica: anlise do significado

    das palavras, quando existia mais de um significado e das dificuldades gramaticais

    da traduo; b) idiomtica: anlise de algum termo coloquial, quando necessria a

    adaptao ao vocabulrio brasileiro; c) experiencial: anlise das situaes do

    questionrio original com o cotidiano brasileiro e, d) conceitual: anlise dos exemplos

    citados no questionrio original com o cotidiano brasileiro.

    Etapa 7. Questionrio cognitivo: os questionrios foram entregues para 8

    pacientes nativos (brasileiros) e que configuravam caractersticas dos participantes

    do estudo (idade, sexo, raa, gnero).

    Etapa 8. Reviso do questionrio cognitivo: os resultados dos questionrios

    cognitivos foram revisados pelo autor do projeto e a traduo foi finalizada.

    Etapa 9. Reviso: com o objetivo de assegurar a traduo e conferir mnimos

    detalhes que poderiam ter sido esquecidos durante o processo.

    Etapa 10. Verso Final.

  • 60

    4.7 Mtodo da aplicao do questionrio

    Etapa 1: a escala de validao foi fornecida para cada entrevistado pelo

    avaliador sorteado, e o tempo de preenchimento foi cronometrado. Os avaliadores

    foram: o autor e outro profissional, ambos Cirurgies-Dentistas. Todos os

    entrevi