A responsabilidade civil do cirurgião-dentista em face ao código de defesa do consumidor

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    A RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIO DENTISTA EM FACE AO

    CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

    WANDER PEREIRA (PESQUISADOR) - PROJETO N. F-002/2005, FADIR,

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA, Rua Nordau Gonalves Melo 1020,

    Bairro Santa Mnica, Uberlndia/MG, CEP: 38408218, e-mail: [email protected].

    CARLOS JOS CORDEIRO (ORIENTADOR) - FADIR, UNIVERSIDADE FEDERAL DE

    UBERLNDIA, Rua Joaquim Cordeiro, 145, Apartamento 700, Bairro Centro,

    Uberlndia/MG, CEP: 38400030, e-mail: [email protected].

    RESUMO

    O objetivo deste trabalho analisar o Direito das relaes sociais, em especial, o instituto da

    responsabilidade civil do cirurgio dentista aps a vigncia da Constituio Federal de 1988,

    do Cdigo de Defesa do Consumidor e do Cdigo Civil de 2002. A importncia de se estudar

    a responsabilidade civil do cirurgio dentista justificou-se pela averiguao do aumento no

    nmero de demandas judiciais em desfavor a esse profissional valendo-se desse instituto de

    direito. Os problemas enfrentados por pacientes, como a dificuldade em provar a ocorrncia

    da leso ou dano causado, os empecilhos encontrados pelos operadores do direito em

    fundamentar suas pesquisas e decises pelo fato de que so parcas as obras que tratam o tema

    de forma especfica. A metodologia utilizada foi uma reviso bibliogrfica de textos, artigos e

    livros atinentes ao tema e da anlise dos julgados dos juzes e tribunais brasileiros. A partir da

    anlise da literatura, das sentenas, dos acrdos referentes ao erro odontolgico, tratou-se de

    refletir sobre questes significativas levantadas em torno da importncia de se observar que o

    paciente um ser humano carente de ajuda, que deseja obter a opinio de um profissional

    capacitado, desejando ser bem tratado, ouvido e informado de sua real situao e o tratamentoa ser adotado. O profissional cirurgio dentista tambm almeja ter uma segurana jurdica de

    que poder desenvolver suas atividades laborais de forma que no fique exposto a um grande

    nmero de aes processuais.

    PALAVRAS CHAVE: Direito 1, Responsabilidade 2, Civil 3, Dentista 4, Consumidor 5

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    THE CIVILIAN RESPONSIBILITY OF THE DENTIST RELATED TO THE

    CONSUMER DEFENSE CODE

    ABSTRACT

    The objective of this project is to analyse the Law of the social relation, and, in special, the

    institute of civilian responsibility of the dentist after the 1988 Federal Constitution validity,

    the Consumer Defense Code and the 2002 Civilian Code. The importance to study the civilian

    responsibility of the dentist was justify by the averiguation in the increase on the law process

    numbers in disfavour to this professional using this law institute. The problems that the

    patients have to face, like the difficulty to prove the occurrence of the lesion or caused

    damage, the difficulty founded by the law operators in validate their researches and decisions

    because of the small number of works that treat the theme in a specific way. The methodology

    used was the bibliography review of texts, articles and books about the theme and the analysis

    of the judges and courts of justice decisions in Brazil. Then, by the analysis of the literature,

    the judge decisions and courts of justice decisions about the odontological mistakes, began to

    reflect about significatives questions based in the importance that we have to observe that the

    patient is a human being that needs help, that wants to have a capacity professional opinion,

    wondering to be well treated, listened and informed about the real situation and the adopted

    treatment. The dentist profession also wants to have a law security that he can do his

    professional work in a way that he will not be exposure to a large number of law process.

    KEY- WORDS: Law 1, Responsibility 2, Civilian 3, Dentist 4, Consumer 5

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    INTRODUO

    Atendendo aos objetivos

    propostos do plano de pesquisa desse

    projeto, procurou-se analisar o instituto da

    Responsabilidade Civil em face ao Cdigo

    de Defesa do Consumidor, verificando as

    relaes sociais de consumo existente entre

    o dentista e o seu paciente/cliente.

    Constatou-se durante o

    desenvolvimento das etapas indicadas no

    cronograma de execuo da pesquisa, que

    ocorreu considervel transformao no

    Direito positivado brasileiro com o advento

    da Constituio Federal de 1988,

    principalmente, porque ela fez a previso,

    em seu art. 48 dos Atos das Disposies

    Constitucionais Transitrias, da elaborao

    de um Cdigo de proteo e de defesa do

    consumidor, que foi concretizado somente

    em 11 de setembro de 1990, com a gnese

    da Lei 8.078, intitulado Cdigo de Defesa

    do Consumidor (CDC).

    Pde-se averiguar que os

    institutos da Responsabilidade Civil e do

    Cdigo de Defesa do Consumidorcontriburam sobremaneira, para melhoria

    das relaes sociais no mbito da sade

    brasileira, e, de forma especfica, das

    relaes de consumo envolvendo os

    Cirurgies-dentistas e seus pacientes.

    Assim como no Direito

    brasileiro, observou-se tambm naOdontologia brasileira inmeras mudanas,

    a sociedade ps-moderna capitalista

    caracterizada por um intenso movimento

    do consumo, influenciou tanto na

    multiplicao do nmero de Faculdades de

    Odontologia, quanto na legislao vigente

    para tutelar os direitos e deveres presentes

    nas relaes de consumo advindas dessas

    relaes sociais.

    Analisando o contexto

    histrico-poltico atual, constatou-se que a

    Odontologia brasileira, passa por um

    momento de transio, se antes da dcada

    de 1980, existia uma prestao de servio

    odontolgico no qual o vnculo de

    confiana do cliente no profissional era

    essencial e determinante na escolha do

    cirurgio pelo paciente, atualmente,

    observa-se que ocorreu a massificao dos

    servios de sade bucal que vendida

    pelos convnios e empresas/clnicas

    especializadas como mero produto de

    consumo.

    Sendo assim, pode-se traar

    um divisor de guas nas relaes sociais

    entre os dentistas e seus pacientes, se,

    anteriormente era uma relao deconfiana, de proximidade e, s vezes, at

    de familiaridade, ou seja, falava-se no

    dentista da famlia, hoje, nota-se uma

    relao superficial e frgil entre os

    profissionais da sade bucal e seus

    clientes, a Odontologia prestada virou, na

    maioria das vezes, produto de consumo,fornecido por clnicas e convnios que

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    exigem uma prestao otimizada, em

    outras palavras, passou-se a exigir o

    atendimento do maior nmero de pacientes

    no menor tempo possvel.

    A proliferao do nmero

    de Faculdades de Odontologia aumentou

    substancialmente o nmero de

    profissionais no mercado de trabalho,

    tornando-o cada vez mais competitivo.

    Nota-se que grande parte dos recm-

    formados se sujeita a trabalhar nas ditas

    clnicas odontolgicas populares, as

    quais no oferecem, na maioria das vezes,

    condies favorveis para realizao de um

    bom trabalho, e, exigem do profissional

    uma produtividade mxima, tornando

    tnue o elo de dialogo entre o paciente e

    esse dentista, pois esse ltimo tem seu

    tempo limitado, e sob o risco de no ter

    uma boa produo, no tem prazo nem

    disponibilidade para esclarecer todas as

    dvidas, hipteses e conseqncias do

    tratamento para o paciente, resultando,

    assim, em desentendimentos, contendas,

    litgios e no incremento do nmero de

    demandas judiciais em desfavor a esseprofissional da sade.

    MATERIAL E MTODOS

    A seleo de material foi

    realizada por meio de um levantamento e

    uma reviso bibliogrfica doutrinria ejurisprudencial referente ao tema,

    observando-se os fatores que levaram ao

    aumento de demandas judiciais em face

    aos cirurgies dentistas, chamados a

    efetuarem reparao de danos

    experimentados pelos servios prestados, a

    re-execuo de trabalhos mal realizados,

    ou s vezes, a devoluo de quantias pagas

    e as indenizaes advindas de aes

    culposas.

    Para uma realizao

    satisfatria da pesquisa foram utilizados os

    pressupostos tericos bsicos propostos

    por doutrinadores do Direito Civil, tais

    como: Caio Mrio da Silva Pereira (1996),

    Maria Helena Diniz (1998), Washigton de

    Barros Monteiro (1982), Nelson Nery

    Junior (1992), Olavo Bergamaschi (1998),

    entre outros, apresentados nas referncias

    bibliogrficas, visando apreender

    elementos concernentes s questes

    processuais resultantes das relaes sociais

    entre o dentista e o paciente/cliente.

    A primeira tarefa cumprida

    foi realizar fichamentos das principais

    obras atinente s questes que circundam

    os direitos do consumidor e aresponsabilidade civil o que possibilitou a

    delimitao do corpus. Posteriormente,

    realizou-se a coleta e a anlise de dados

    trazidos pelas jurisprudncias e pelos

    acrdos, buscando subsdios para

    sustentar e corroborar as assertivas trazidas

    pelos pressupostos tericos adotados, natentativa de elucidar questes referentes

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    responsabilidade civil do cirurgio dentista

    aps o advento do Cdigo de Defesa do

    Consumidor e demais diplomas legais

    citados.

    Aps a anlise das Obras e

    dos dados coletados, passou-se para fase de

    redao de alguns artigos e apresentaes

    em Congressos e Seminrios de Pesquisas

    Jurdicas, de maneira que juntamente com

    o apontamento trazidos por outros

    pesquisadores, realizaram-se leituras

    complementares em outros tericos, o que

    resultou em um enriquecimento da

    pesquisa e facilitou a confeco do

    relatrio final.

    RESULTADOS

    evidente que a

    Odontologia hodierna tomou rumos

    diferentes dos adotados anteriormente a

    Constituio Federal de 1988 e do Cdigo

    de Defesa do Consumidor, inmeros

    acontecimentos e situaes comearam a

    se verificar na sociedade brasileira aps a

    vigncia dessas normas, verificando-secomo evoluo imperativa de atualizao

    das Leis as necessidades da sociedade ps-

    moderna, de meios e procedimentos que se

    incorporam e delimitam direitos e deveres

    relativos a regulamentao da atuao dos

    profissionais da Odontologia.

    O tempo em que o dentistaatuava de forma solidria, familiar e

    amigvel, estreitando os laos de afinidade

    entre ele e a famlia do seu paciente,

    tornou-se histria do passado, pode-se

    afirmar que o dentista de famlia j

    morreu, e, se ainda existe algum, esse a

    exceo rara que serve para confirmar a

    regra.

    Esse Odontlogo do

    passado cedeu lugar ao dentista tcnico

    especializado, que trabalha de forma

    impessoal e distante do paciente, que tenta

    sobreviver concorrncia do mercado de

    trabalho e as imposies dos convnios e

    clnicas odontolgicas.

    No se pode responsabilizar

    exclusivamente o cirurgio dentista pelo

    aumento do nmero de demandas judiciais,

    o incremento dessas aes em desfavor a

    esse profissional se deu tambm por

    mudanas de comportamentos dos

    pacientes. Anteriormente, os ltimos no

    duvidavam da capacidade do dentista e

    estabeleciam uma relao de confiana

    olhando os doutores como detentores do

    conhecimento, e eram preocupados com

    suas obrigaes enquanto pacientes,atualmente, como consumidores mais

    esclarecidos, esses pacientes/clientes tm

    conhecimentos dos seus direitos e, vem

    esses profissionais como pessoas humanas

    que tambm so passveis de cometerem

    erros e que devem responder por eles.

    A sociedade brasileira atual,segue uma tendncia mundial direcionada

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    pela intensificao das prticas e aes de

    consumo. Sob essa tica, analisou-se a

    profisso odontolgica que por sua

    natureza e circunstncias criam riscos de

    danos aos pacientes.

    Sendo assim, a

    responsabilidade civil do Dentista provoca

    algumas controvrsias que podem ser

    analisadas no campo contratual ou pelo

    vis extracontratual, porm ficando notrio

    a tendncia de se colocar a relao

    dentista/paciente na forma contratual e sua

    obrigao classificada como de meio ou de

    resultado para se aferir e indicar a

    responsabilidade do profissional da sade

    bucal.

    Em alguns casos o dentista e

    o paciente no se encontram ligados por

    um contrato de servios odontolgicos.

    Isto no indica que no exista um vnculo

    de direito e deveres entre os dois. O elo

    jurdico existe independentemente de

    contrato, pois o dentista tem o dever

    profissional ex oficio, de maneira que tem

    com seu paciente/cliente os mesmos

    deveres, mesmo se exista ou no umcontrato formal.

    As relaes sociais vigentes

    entre o cirurgio dentista e o paciente se

    fundamentam em um princpio geral no

    qual mesmo que haja a existncia de um

    contrato nada impede que deva reconhecer

    o direito real de que poder existir umaresponsabilidade civil extracontratual do

    dentista. Pode-se citar como exemplo, o

    caso da prestao de servios facultativa

    que deve ser realizada a quem tenha

    sofrido um acidente, circunstncia em que

    o acidentado no tem condies fsicas e

    mentais de expressar seu consentimento,

    porm o cirurgio dentista tem o dever

    profissional de dar a devida assistncia

    pessoa sob os auspcios de preservao da

    humanidade e do dever para com a vida

    humana. Nesse caso, a recusa de ajuda,

    pode se configurar em omisso de socorro,

    previsto como crime no nosso Cdigo

    Penal, ou seja, vai alm de uma simples

    obrigao de indenizar.

    Tambm podem se verificar

    outros casos de responsabilidade

    extracontratual, alm do citado

    anteriormente, em que o paciente no tem

    condies de dar o consentimento para o

    dentista realizar o tratamento, o que

    acontece, principalmente, na rea dos

    dentistas especializados em cirurgia buco-

    maxilo-fascial, h tambm, casos em que o

    dentista tenha realizado um contrato com

    um terceiro pelo qual se obriga a prestarseus servios aos pacientes encaminhados

    por esse profissional. A responsabilidade

    no contratual tambm se verifica na

    questo do dentista de empresa, ou do

    cirurgio dentista que trabalha para uma

    clnica particular, e, por fim, pode-se

    apontar o exemplo dos dentistas queatendem como funcionrios pblicos

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    cumprindo sua funo, ao atender um

    paciente o mesmo ter uma relao de

    responsabilidade extracontratual, e poder

    responder pelos danos que causar.

    Por outro lado, temos a

    relao contratual entre o odontlogo e

    seus pacientes, por meio da qual por

    vontade prpria de cada um se obrigam

    mutuamente. O primeiro contrata a

    prestao de servios em troca do

    pagamento que se torna, a partir desse

    momento, uma das obrigaes do paciente.

    Independente de ser

    contratual ou extracontratual, a sociedade

    clama por justia quando ocorre a leso de

    um direito, ou seja, apurado o erro

    odontolgico durante a interveno do

    tratamento, surge o dever de indenizar se

    caso for comprovado que esse profissional

    no cumpriu seus deveres de forma

    adequada segundo preceitua a Odontologia

    contempornea.

    Nos prximos tpicos

    levantaram-se alguns aspectos essenciais

    para o entendimento de como se encontra a

    responsabilidade desse profissional nosdias de hoje, tentando colaborar de forma

    significativa para os atuantes e operadores

    do direito, propiciando e facilitando a

    atuao no caso concreto de ao judicial

    por prticas envolvendo a

    responsabilizao civil do cirurgio

    dentista.

    A RESPONSABILIDADE CIVIL

    A responsabilidade civil tem

    sua origem advinda de diversos fatores,

    dentre eles, destaca-se o descumprimento

    obrigacional, a desobedincia de uma regra

    contratual, ou simplesmente, o fato de no

    se respeitar um preceito normativo que

    regula a vida em sociedade.

    De acordo com Maria

    Helena Diniz (1998, p.34), a

    responsabilidade civil est relacionada

    com: [...] a aplicao de medidas que

    obriguem algum a reparar dano moral ou

    patrimonial causado a terceiros, em razo

    de ato prprio imputado, de pessoas por

    quem ele responde, ou de fato de coisa ou

    animal sob sua guarda (responsabilidade

    subjetiva) ou, ainda de simples imposio

    legal (responsabilidade objetiva).

    Observa-se no conceito de

    responsabilidade civil trazido pela autora,

    uma classificao de duas espcies de

    responsabilidade presente no ordenamento

    jurdico brasileiro, a subjetiva e a objetiva.

    Conforme o fundamento dagnese da responsabilidade civil ela poder

    ser subjetiva ou objetiva, caracterizando-se

    como subjetiva a responsabilidade que tem

    como requisito a culpa do agente. Dever

    nesse caso concreto, ser comprovada a

    existncia da culpa para gerar a obrigao

    de indenizar. O causador do dano deverter agido com culpa no sentido lato sensu,

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    ou seja, dolo ou culpa no sentido stricto

    sensu (impercia, imprudncia e

    negligncia), esses so elementos

    essenciais para configurar o dano

    indenizvel advindo da responsabilidade

    civil subjetiva.

    A lei determina, em

    situaes especficas, a obrigao de

    reparar o dano independente da verificao

    da existncia de culpa do agente. Essa a

    modalidade de responsabilidade civil

    objetiva, ou seja, em determinados casos

    prescinde e no exige comprovao da

    culpa para que ocorra o dever de indenizar

    o dano. Na responsabilidade civil objetiva

    basta ocorrer o dano e haver o nexo de

    causalidade para nascer obrigao de

    indenizar.

    Segundo Jos de Aguiar

    Dias (1944, p. 94-95), a distino entre

    responsabilidade civil subjetiva e objetiva

    deve ser analisada no sistema da culpa,

    sem ela, real ou artificialmente criada, no

    h responsabilidade: no sistema objetivo,

    responde-se sem culpa, ou melhor, esta

    indagao no tem lugar.

    Portanto, em consonncia

    com Dias, deve-se averiguar a presena ou

    no da culpa, se tiver o dever de indenizar

    independente da existncia da culpa o

    agente infrator responder objetivamente

    segundo determinao legal.

    Deve-se ter conscincia queo instituto da responsabilidade civil est

    permeado pelo princpio de que todo

    aquele que causar dano a outrem

    obrigado a repar-lo. O Cdigo Civil

    brasileiro de 2002 em seu artigo 186

    positivou esse princpio, tornando-o um

    pressuposto para se caracterizar a

    responsabilizao civil. Sendo assim o

    art.186 estabelece que: Aquele que, por

    ao ou omisso voluntria, negligncia

    ou imprudncia, violar direito e causar

    dano a outrem, ainda que exclusivamente

    moral, comete ato ilcito.

    Observa-se no artigo acima

    a presena da possibilidade de tipificao

    do dano moral como ato ilcito passvel de

    indenizao, baseando-se nos seguintes

    pressupostos, a saber: conduta humana

    (ao ou omisso), culpa ou dolo do

    agente, relao de causalidade nexo de

    causalidade entre a ao e omisso e o

    dano e, por fim a existncia do dano

    sofrido pela vtima.

    Apesar do direito positivo

    brasileiro ter priorizado a responsabilidade

    civil objetiva, deve-se atentar para

    importncia essencial de averiguar a culpacomo elemento essencial da

    responsabilidade civil em alguns casos

    concretos.

    Nesse sentido, afirmou Caio

    Mario da Silva Pereira (1997, p.391): A

    abolio total do conceito da culpa vai dar

    num resultado anti-social e amoral,

    dispensando a distino entre o lcito e o

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    ilcito, ou desatendendo qualificao da

    boa ou m conduta, uma vez que o dever

    de reparar tanto corre para aquele que

    procede na conformidade da lei, quanto

    para aquele outro que age ao seu arrepio.

    Dessa maneira, pode-se

    inferir que de acordo com esse autor a

    responsabilidade civil no deve assentar

    exclusiva e simplesmente na culpa ou no

    risco fixado em lei, pois as relaes sociais

    e os casos concretos mostram que a adoo

    de um critrio nico seria ineficiente para

    dar uma prestao isonmica aos

    jurisdicionados.

    Apesar de se observar uma

    tendncia de prevalncia da

    responsabilidade civil objetiva nos

    julgados dos tribunais brasileiros, no se

    deve pensar em substituir completamente a

    responsabilidade civil subjetiva pela

    objetiva, mas que h uma necessidade de

    completar e integrar essas duas

    modalidades de responsabilidade para

    conseguir trazer uma justia que trate os

    desiguais na medida das suas

    desigualdades.

    O CIRURGIO DENTISTA E O

    CDIGO DE DEFESA DO

    CONSUMIDOR

    Para Oscar Ivan Prux (1998,

    p.144) o Cdigo de Defesa doConsumidor, fundamentalmente, prev trs

    tipos de situaes das quais se podem

    deduzir responsabilidade civil do

    fornecedor, destacando-se dentre elas: O

    fato do produto ou do servio; o vcio do

    produto ou do servio, as condutas e

    prticas abusivas (...) fornecedor o

    profissional liberal que adentra o

    mercado para prestar servios ao

    consumidor, sempre o fazendo em carter

    pessoal e profissional. (grifos do

    pesquisador).

    Diante do exposto, pode-se

    inferir que o cirurgio dentista se

    enquadrar nesse ltimo tipo de fornecedor

    de servios ao consumidor, visto que suas

    atividades como profisso liberal tem

    carter pessoal e profissional sendo,

    consequentemente, regidas pela Lei

    8.078/1990 (CDC).

    necessrio que os

    dentistas estejam conscientes dos riscos as

    que esto expostos em ter de responder,

    frente aos juzes e sociedade, pelas

    obrigaes e nus a que eventualmente,

    possam estar sujeitos, decorrentes de

    prejuzos ocasionados a seus pacientes,quando do exerccio da atividade

    profissional.

    A responsabilidade civil a

    qual esta sujeita o cirurgio dentista

    quando atua como profissional liberal

    subjetiva, ou seja, conforme descrito

    anteriormente, exige como requisitos alm

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    do dano e do nexo causal, a comprovao

    da configurao da culpa.

    Pode-se averiguar de forma

    clara, que o Cdigo de Defesa do

    Consumidor em seu artigo 14, pargrafo

    quarto, cria uma forma de exceo

    responsabilidade geralmente objetiva

    trazido por esse Cdigo. Segundo reza o

    art. 14 4 A responsabilidade pessoal dos

    profissionais liberais ser apurada

    mediante verificao de culpa.

    Dessa forma, no se pode

    apenas enfatizar a existncia do dano

    causado, sem traar uma correlao entre a

    culpa do cirurgio dentista frente a tais

    leses. Deve-se ter, de forma efetiva, a

    comprovao da responsabilidade do

    profissional liberal.

    A culpa do profissional

    poder ser constatada quando o dentista

    age, por ao ou omisso, sem o intuito de

    lesar, mas assume tal risco. Tal ao ou

    omisso decorre de atos de negligncia,

    imprudncia ou impercia do agente do ato

    ilcito causador do dano.

    O cirurgio dentista terculpa quando sua ao ou omisso

    mereciam ser censuradas, quando entender

    que em face s circunstncias do caso

    concreto o profissional poderia ou deveria

    ter agido de forma diversa.

    A negligncia pode ser

    entendida como descuido, menoscabo,falta de ateno, omisso displicente, ou

    seja, poder ser entendida como a falta de

    cuidados e precaues que a profisso

    exige. Portanto, pode-se afirmar que age

    com negligncia o dentista que no se

    precaveu em evitar a fratura de uma lima

    endodntica velha dentro do canal de um

    dente, visto que ela deveria ser substituda

    por uma nova, ou at mesmo o ortodontista

    que deveria fazer exames radiogrficos

    preventivos e no o fez, o implantodontista

    que observa que o implante instalado no

    logrou sucesso, tendo uma

    osteointegrao deficiente devido a uma

    osteoporose que devia ter sido previamente

    diagnosticada e no foi; o dentista que

    deveria aguardar o prazo para recuperao

    do paciente para iniciar uma prxima

    interveno e no espera o momento

    adequado para atuar. Sendo assim, toda

    vez que o profissional da sade bucal tiver

    a obrigao de agir ou de ser omisso e no

    faz, estar sendo negligente.

    A imprudncia

    caracterizada pela atuao precipitada, de

    maneira intempestiva e sem se preocupar

    com os resultados adversos e nocivos queaquela conduta sem os devidos cuidados

    poder causar. O exemplo clssico do dia-

    a-dia o motorista habilitado que confiante

    na sua capacidade, dirige em alta

    velocidade em uma via repleta de

    pedestres. No caso da odontologia podem-

    se citar aquelas situaes em que o dentistacapacitado para atender o paciente no

  • 8/7/2019 A responsabilidade civil do cirurgio-dentista em face ao cdigo de defesa do consumidor

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    toma os devidos cuidados e age com

    excesso de confiana na sua habilidade.

    Como exemplo pode-se citar o cirurgio

    que faz uma extrao em uma mulher

    grvida prxima ao perodo do parto, e que

    por excesso de confiana, no se preocupa

    com uma possvel antecipao do parto.

    Outro exemplo seria o dentista que por se

    achar muito competente marca muitos

    pacientes para o mesmo dia tendo pouco

    tempo para fazer a interveno e faz de

    forma rpida, agindo sem os devidos

    cuidados na extrao do terceiro molar

    (dente siso) ocasionando fratura de ngulo

    da mandbula.

    A impercia ser

    configurada quando o cirurgio dentista,

    sem a devida qualificao tcnica, ou seja,

    sem os conhecimentos necessrios para

    desenvolver tal interveno faz o

    atendimento fora do ramo de sua

    competncia causando dano. Quando o

    dentista atua praticando um ato de natureza

    complexa, sem a devida atualizao

    profissional. Por exemplo, age com

    impercia o cirurgio dentista que formadocomo clnico geral, sem experincia, tenta

    realizar uma cirurgia que deveria ser

    encaminhada para um especialista, outro

    caso seria o odontlogo tentar fazer uma

    cirurgia de reconstruo de orelha,

    excedendo as prerrogativas que lhe so

    atribudas pelo seu diploma. Pode-se citartambm os casos em que o profissional

    deveria se reciclar por meio de cursos

    aperfeioamento, para aprender as tcnicas

    atuais para trabalhar com os materiais

    modernos, se nesse caso concreto, o

    dentista age sem ter os conhecimentos

    necessrios para realizar tal trabalho

    causando dano, ele estar agindo com

    impercia.

    Alm da classificao da

    culpa por meio da negligncia,

    imprudncia e negligncia tem-se tambm,

    outros trs graus de diviso da culpa.

    Podendo dividi-la em grave quando ela se

    aproxima do dolo, por serem causadas por

    total desconhecimento dos elementos

    mnimos que o profissional liberal no

    pode desconhecer e ignorar, a culpa leve

    que poderia ser evitada com aplicao de

    medidas preventivas que deveriam ser

    tomadas, nesse caso, coloca-se como

    parmetro quais seriam as atitudes que

    deveriam ser tomadas por um homem

    mdio, ou seja, utiliza-se do bom senso

    para aferir o que um profissional mediano

    faria em determinado caso. Por fim, a

    culpa levssima, identifica-se com asutileza, sendo necessria uma ateno

    extrema para ser evitada.

    Os doutrinadores trazem

    que independente do agente (entenda-se

    cirurgio dentista) ter agido como dolo ou

    culpa, ao causar dano ao paciente ser

    obrigado a indeniz-lo, independente se foiculpa por imprudncia, negligencia ou

  • 8/7/2019 A responsabilidade civil do cirurgio-dentista em face ao cdigo de defesa do consumidor

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    impercia ou se foi grave, leve ou

    levssima, esse ltimo servir de auxilio

    para o juiz determinar o quantum (valor)

    indenizatrio, pois no seria justo que um

    agente que concorreu com uma culpa

    levssima arcasse com as mesmas

    obrigaes de indenizar de um agente que

    atuou com dolo ou culpa grave.

    A RESPONSABILIDADE CIVIL DO

    DENTISTA E AS OBRIGAES DE

    MEIO E DE RESULTADO

    Aps analisado as aes

    judiciais interposta contra dentistas

    observou-se que a maioria dos processos

    teve sua origem em diagnstico falho,

    ineficiente e, s vezes incorreto. Pode-se

    constatar uma tentativa por parte dos

    Conselhos de classe em motivar e exigir do

    cirurgio dentista maior ateno nessa fase

    do tratamento, considerada uma das

    principais e de maior importncia, pois

    dela resultar o prognstico favorvel para

    cura da doena.

    O Cdigo de ticaOdontolgica (2003, p. 9) artigo 5 inciso

    XII impe como dever fundamental:

    assumir responsabilidade pelos atos

    praticados.

    Desta sorte, devem-se trazer

    quais so os tipos de obrigaes do

    cirurgio dentista e como esse deveresponder mediante ela.

    O cirurgio dentista ao

    elaborar um diagnstico dever estruturar

    um pronturio completo do paciente, com

    os exames complementares, quando

    necessrio, exame fsico geral e bucal,

    alm de ter de realizar uma avaliao

    chamada anamnsica, na qual realizado

    um questionrio inquirindo ao paciente

    todas suas condies fsicas e psquicas

    que possivelmente poderia interferir no

    tratamento, desde uma alergia a um

    determinado tipo de medicamento ou

    anestesia at a presena de doenas infecto

    contagiosas que exigiram maiores cuidados

    do dentista responsvel.

    Depois de realizados essa

    etapa inicial, realiza-se um diagnstico

    final da situao em que se encontra o

    paciente e determinam-se quais sero as

    necessidades de tratamento desse paciente,

    que dever fazer parte do plano de

    tratamento, indicando para ele qual o

    prognstico, ou seja, como ser o possvel

    resultado aps a realizao da teraputica.

    O profissional deve

    preocupar-se em efetuar cursos deatualizao e participao em Congressos

    para se manter a par da evoluo das

    tcnicas e das inovaes odontolgicas,

    para poder evitar falhas e ter um melhor

    recurso durante a confeco do

    diagnstico.

    Devem-se citar tambmalguns outros importantes elementos

  • 8/7/2019 A responsabilidade civil do cirurgio-dentista em face ao cdigo de defesa do consumidor

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    capazes de originar aes contra os

    dentistas, alm do erro ou falha no

    diagnstico inicial, tem-se tambm, a falta

    de um pronturio completo e do

    consentimento por escrito do paciente ou

    do seu responsvel durante cada etapa do

    tratamento. O cirurgio dentista quando

    tem seus pronturios deficientes e

    incompletos sem as assinaturas de

    consentimento do paciente/cliente fica

    exposto, durante um processo, a ter

    dificuldade de trazer provas de sua

    inocncia. Por isso, aconselhvel que

    esses profissionais se resguardem,

    guardando todos os documentos e exames

    clnicos, juntamente com os atestados e

    contratos de prestao de servios

    (oramentos) formas de pagamentos.

    Portanto, o profissional

    dever ser diligente, arquivando e

    registrando por escrito todo e qualquer

    procedimento efetuado, inclusive acerca

    das advertncias dadas ao paciente em

    relao ao tratamento.

    Ainda segundo o Cdigo de

    tico Odontolgica (2003, p.10) em seuart. 7. Constitui infrao tica: IV

    deixar de esclarecer adequadamente os

    propsitos, riscos, custos e alternativas do

    tratamento. Dessa maneira entende-se que

    a responsabilidade civil do cirurgio

    dentista comea desde o planejamento e

    orientao do paciente quanto conduo

    do tratamento.

    Outro fator importante nos

    processos contra os profissionais da sade

    bucal a ocorrncia de falha na relao de

    comunicao entre o paciente e o cliente.

    O dentista deve tentar esclarecer e

    informar todas alternativas de tratamento e

    agir de acordo com o consentimento do

    paciente, as instrues devem ser passadas

    de forma inteligvel para o paciente, de

    maneira que possibilite at mesmo para o

    leigo entender como se dar a prestao de

    servio.

    A boa comunicao entre as

    duas partes paciente/dentista evita

    ocorrncia de enganos e falhas de

    entendimento que possivelmente poderiam

    ensejar uma demanda judicial.

    Atualmente, tem-se uma

    populao melhor informada quanto aos

    seus direitos, o que tambm incrementa o

    nmero de aes judiciais, para no ficar

    dvida de que consumidor/paciente foi

    lesado ou no, o dentista dever manter

    uma relao cordial com seu paciente. Emgrande parte das inmeras das aes

    judiciais propostas contra os dentistas

    notaram-se certa rispidez e animosidade

    entre os litigantes, enquanto de um lado

    observou-se um profissional que no deu

    as devidas informaes ao seu paciente

    por, s vezes, achar que ele no iria sercapaz de entender; do outro se tinha o

  • 8/7/2019 A responsabilidade civil do cirurgio-dentista em face ao cdigo de defesa do consumidor

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    paciente indignado por achar que sua

    inteligncia tinha sido menosprezada por

    um profissional prepotente e falho em sua

    conduta.

    de suma importncia que

    depois de instaurado a ao judicial para

    avaliao da responsabilidade civil do

    cirurgio dentista, a verificao do tipo de

    obrigao do mesmo. De acordo com o

    plano de tratamento e o resultado esperado,

    a obrigao poder ser de meio ou de

    resultado, ao propor o tratamento, deve

    averiguar se o dentista prometeu ou no

    um resultado final.

    A principal diferena que

    existe entre a obrigao de meio e a de

    resultado, que na primeira o profissional

    no se responsabiliza e no tem como

    prever como ser o resultado final do

    tratamento, pois ele pode variar de acordo

    como o organismo de cada paciente.

    Porm, se caso for possvel prever o

    resultado, ou se o dentista prometer ao

    paciente uma possibilidade de resultado ele

    dever cumprir o prometido sob pena de

    ter que indenizar o dano e/ou a insatisfaodo paciente. Nessa modalidade de

    obrigao de resultado o cirurgio dentista

    est automaticamente assumindo a

    responsabilidade de atingir e alcanar uma

    expectativa dada ao seu cliente, que

    normalmente, fica pr-estabelecido no

    plano de tratamento proposto. Se opaciente entender que o resultado obtido

    no atingiu e no coincidiu com aquele

    anunciado pelo dentista, ele poder levar

    seu caso para deciso em uma lide judicial.

    relevante destacar que a

    obrigao de meio conforme relatado

    anteriormente, no h como se prever o

    resultado, mas no exime o dentista de

    empregar todos meios necessrios para a

    cura ou soluo do problema, apesar de

    no poder assumir a responsabilidade

    quanto ao desenvolvimento final do

    tratamento, ele dever utilizar-se de todos

    os meios e recursos disponveis para

    conseguir o melhor resultado possvel para

    a sade dos seus pacientes.

    Atualmente, no se

    constatou na jurisprudncia uma

    unanimidade de opinio, nem os

    legisladores e nem os juristas chegaram a

    um acordo se a profisso de cirurgio

    dentista lhe impe uma obrigao de meio

    ou de resultado. Grande parte dos juristas

    entendem que o dentista diferentemente do

    mdico tem obrigao de resultado, pois

    para eles a maioria dos tratamentos

    odontolgicos so passveis de se preverum resultado final. Desta maneira, os

    tratamentos dentrios teriam como regra

    geral o comprometimento com o resultado

    final, ficando o dentista responsvel por

    alm de empregar todos os recursos

    disponvel, alcanar o fim esperado pelo

    seu paciente.

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    Porm, apesar de que na

    maioria das sentenas e acrdos

    analisados ter-se observado essa tendncia

    de entendimento dos juzes de que a

    obrigao do dentista de resultado, pode-

    se afirmar que se deve avaliar o caso

    concreto, pois no se pode generalizar sob

    pena de cometer injustias.

    Interessante se faz destacar,

    como a definio dessa obrigao do

    cirurgio dentista poder interferir no

    andamento e no final do julgamento da

    lide, pois conforme descrito antes, a culpa,

    em suas modalidades de negligncia,

    imprudncia e impercia, s poder ser

    imputada ao profissional liberal mediante

    concreta verificao de sua existncia, e

    no apenas diante de uma suposio

    fatdica. O requisito da verossimilhana no

    que pese as alegaes declaradas pelo

    paciente/consumidor fator intrnseco e

    necessrio para interposio de uma ao

    judicial.

    O possvel dano resultante

    da ao do cirurgio dentista, advindo da

    sua prestao de servios, dever serindenizado mediante comprovao da

    culpa, se o paciente se sentir lesado esse

    poder ingressar com uma ao judicial,

    porm no caber ao prprio profissional

    liberal o nus de provar a sua no-

    culpabilidade no fato gerador da lide.

    A razo desse tratamentodiferenciado est justificada pelo fato do

    dentista como prestador de servios ser

    considerado um profissional liberal. Ele

    faz parte juntamente com mdicos,

    advogados, enfermeiros entre outros que

    nas relaes de consumo, ao contratarem

    com seus pacientes e clientes, dependendo

    da situao no tem como prometer ou

    prever o resultado. Seja a eliminao da

    doena, seja o ganho da ao judicial, ou

    at mesmo, a eliminao de uma

    odontalgia, esses profissionais liberais tm

    o compromisso de desempenhar o melhor

    trabalho possvel para solucionar o

    problema dos seus pacientes/clientes.

    Portanto, no pacfico se o

    dentista tem obrigao de meio ou de

    resultado, mas j possvel constatar nos

    julgados analisados que se a obrigao for

    de resultado, o profissional da sade bucal

    quando chamado para responder em juzo

    dever provar que conseguiu chegar ao

    resultado prometido ao seu paciente.

    Porm, se for considerado que a obrigao

    do cirurgio dentista de meio caber ao

    paciente o nus de provar a culpa do

    dentista.Assim, entende-se que a

    legislao brasileira tentou e ainda procura

    colocar a salvo a justia nas relaes

    sociais, pois permite a avaliao de cada

    caso concreto, valendo-se de todos os tipos

    de provas lcitas para formar o livre

    convencimento do juiz.

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    O dentista que atua como

    profissional liberal deve exercer sua

    atividade respeitando as normas prprias,

    seguindo os ditames do Cdigo de Defesa

    do consumidor, os regulamentos dos

    Conselhos Federal e Estadual de

    Odontologia, assim como o Cdigo de

    tica, porque se o cirurgio dentista

    conseguir atuar respeitando todos os

    ditames legais, quando chamado para

    responder a um processo judicial acusado

    de ter causado um dano ao seu paciente,

    conseguir provar e convencer o juiz de

    que fez tudo que estava ao alcance para

    fornecer o melhor tratamento possvel e,

    sendo assim, no poder ser condenado a

    indenizar o dano sob pena de se estar

    cometendo uma injustia.

    CONCLUSO

    O objetivo dessa pesquisa

    foi apresentar aos cirurgies dentistas,

    pacientes e operadores do direito uma

    contribuio terica, na tentativa de

    colaborar para eximir as principais dvidasconcernentes a responsabilidade civil do

    cirurgio dentista em face ao Cdigo de

    Defesa do Consumidor.

    Observou-se que o aumento

    do nmero de demandas judiciais contra os

    cirurgies dentistas foi resultado de vrios

    fatores, dentre eles pode-se destacar: amaior conscientizao da populao

    brasileira quanto aos seus direitos, uma

    melhoria do acesso ao judicirio, avano

    dos diplomas legais na tentativa de tutelar

    a supremacia do interesse pblico, e, de

    forma especfica os direitos do

    consumidor, o aumento do nmero de

    profissionais no mercado de trabalho

    determinando uma crescente interveno

    odontolgica e atendimentos a pacientes,

    majorando-se conseqentemente o risco de

    erros e de iatrognias cometidas pelos

    cirurgies dentistas.

    Finalmente, pode-se dizer

    que a vida em sociedade requer cuidados,

    e, principalmente, exige-se cautela dos

    profissionais que lidam com alguns dos

    bens mais valiosos do ser humano: a sade

    e a vida.

    O cirurgio dentista dessa

    sociedade ps-moderna deve ter

    obrigatoriamente, o conhecimento tcnico-

    cientfico e, sobretudo, deve saber atender

    dentro dos limites ticos que a profisso

    lhe impe, tendo sempre a conscincia de

    que seu trabalho tem a funo de (re)

    estabelecer o sorriso dos seus pacientes eno de causar-lhe danos e transtornos que

    os levem a procurar guarida do judicirio

    brasileiro.

    Os pacientes tambm

    devem entender que alm de seus direitos

    nesse trabalho apontados, tambm

    necessitam cumprir seus deveres nessarelao social, de seguir todas

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    17

    recomendaes trazidas pelo seu dentista,

    agindo de boa f, para com o profissional

    que est tentando ajudar na cura da sua

    patologia.

    Quanto aos operadores do

    Direito: advogados, promotores e juzes,

    eles devem servir de exemplo para a

    comunidade, esclarecendo sempre que

    possvel qual o melhor caminho que as

    relaes sociais devem tomar, para que

    sejam harmnicas e tranqilas, e, mediante

    questes, s vezes, to delicadas que a

    discusso de um dano sade e de sua

    respectiva responsabilidade, devem eles

    saber conferir de quem verdadeiramente,

    a responsabilidade civil de tal fato, e, por

    fim, punindo se necessrio, e se for para o

    bem e pelo interesse de manter a ordem

    nas relaes sociais.

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    AGRADECIMENTOS

    Preliminarmente, gostaramos de agradecer aos organizadores dos Encontros

    Internos de Iniciao Cientfica, que permite a divulgao dos trabalhos e o enriquecimento

    atravs da troca de informaes entre os pesquisadores e orientadores.

    Agradecemos ao CNPq/UFU pela concesso da bolsa de estudos sem a qual

    no seria possvel o desenvolvimento desse trabalho acerca da responsabilidade civil do

    cirurgio dentista em face ao cdigo de defesa do consumidor.

    Aos organizadores dos seminrios de iniciao cientfica que permitem o

    intercmbio de conhecimento entre os alunos da Universidade Federal de Uberlndia.

    No podemos deixar de registrar a satisfao de ser aluno da Universidade

    Federal de Uberlndia que tem a Pr-reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao, uma Diretoria de

    Pesquisa e uma comisso institucional de iniciao cientfica atuando de forma conjunta de

    maneira a possibilitar o desenvolvimento de importantes pesquisas no seio da comunidade

    uberlandense.

    Tive a satisfao de ser orientado pelo Professor Dr. Carlos Jos Cordeiro,

    professor, Juiz, amigo que confiou no meu potencial e permitiu que essa pesquisa fosse

    desenvolvida.

    Agradecimentos a todos aqueles que de forma direta ou indireta contriburam

    para realizao dessa pesquisa.

    E, finalmente, de corao agradeo ao Supremo Arquiteto do Universo, Deus

    nosso criador por iluminar meus pensamentos e abrir o caminho para mais uma etapa

    concluda e por dar a sensao feliz de ter mais uma tarefa cumprida.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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