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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA – UNIARA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MEIO AMBIENTE MINI-USINAS DE LEITE COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL PARA PRODUTORES FAMILIARES Eliene Cristina Barros Ribeiro A R A R A Q U A R A – SP 2005

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA – UNIARA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO

REGIONAL E MEIO AMBIENTE

MINI-USINAS DE LEITE COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL PARA PRODUTORES FAMILIARES

Eliene Cristina Barros Ribeiro

A R A R A Q U A R A – SP

2005

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA – UNIARA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO

REGIONAL E MEIO AMBIENTE

MINI-USINAS DE LEITE COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL PARA PRODUTORES FAMILIARES

Eliene Cristina Barros Ribeiro

Orientador: Prof. Dr. Oriowaldo Queda

Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Araraquara, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.

A R A R A Q U A R A – SP 2005

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Ribeiro, Eliene Cristina Barros Título: Mini-usinas de leite como alternativa de desenvolvimento regional para produtores familiares da EDR de Araraquara. Eliene Cristina Barros Ribeiro. Araraquara, 2005.

Dissertação (Mestrado) – Uniara Área de concentração: Dinâmica Regional e Alternativas de Sustentabilidade Orientador: Queda, Oriowaldo. 1. Mini-usinas. 2. Desenvolvimento regional. 3. Políticas públicas

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AGRADECIMENTOS

Esta dissertação é o resultado da Fidelidade, Misericórdia e Provisão de Deus

para com a minha vida. Diante disso, posso dizer: “Até aqui o Senhor tem me

ajudado. A Ele toda honra, glória e louvor”. Dedico este trabalho a Esse Deus que

tudo pode e tudo vê, como ato de louvor e adoração.

Compartilho com o meu amado esposo, maior presente de Deus para minha

vida, Paulo Roberto da Silva Ribeiro, as alegrias de uma vida de amor, trabalho e

compreensão.

Aos meus amados pais, José de Souza Barros e Maria da Glória Soares

Barros, irmãos, cunhada e sobrinhas expresso meus sinceros agradecimentos pelo

incentivo, confiança e apoio em todos os momentos.

Ao Prof. Dr. Oriowaldo Queda, motivo de orgulho não só para seus

orientandos, mas para todo o curso de mestrado da Uniara, dado suas colaborações

fundamentais para o crescimento da pesquisa e da ciência. Como orientador

paciente, minucioso e atento, soube me conduzir na construção desta dissertação,

mostrando caminhos para a busca do conhecimento. A ele, meus sinceros

agradecimentos!

Aos meus amigos Alécio, Aleyr, Emanuel (Juninho), Marina, Marco Aurélio

(Lelo), Liliana (Lili), Rute, Antônio Manoel (Mané), agradeço pela amizade e por todo

o incentivo.

Aos amigos especiais de mestrado, primeira turma com o reconhecimento do

curso, pela troca de conhecimentos: Alcir Antonio Kuranga, Alessandro S. de

Oliveira, Alexandre Marucci Bastos, Antonio Silvestre Leite, Cátia Miciane Caíres

Haddad, Falbert Mauricio de Sena, Juliana Munaretti de Oliveira, Juliana Sakoda T.

Chinalia, Lee Yun Feng, Leonice Aparecida da Silva, Manoel Luiz Neto, Núbia Alves

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de Carvalho Ferreira, Paulo Sérgio Rosalin Moreno, Rodrigo Furgieri Manchini,

Selma Aparecida Cury Agnelli.

Aos queridos Professores Drs (a) do curso de Mestrado da Uniara: Denílson

Teixeira, Ethel Cristina, Flávia Cristina, Helena Carvalho, Hildebrando Herrmann,

Janaína Florinda, João Alberto Sé, José Luís Hermosila, Marcus César, Maria Lúcia

Ribeiro, Mariângela Tambelini, Oscar Tupy, Maria José Brito, Sônia Regina Paulino,

Wilson Tachibana, Zildo Gallo e em especial à Profa. Dra. Vera Lúcia. S. B. Ferrante,

que me incentivou no início de tudo e não me deixou desistir de enxergar o futuro, a

ela, meus eternos agradecimentos.

À Ivani, Adriana e Izolina, secretárias do Curso de mestrado desta instituição,

pessoas especiais, sempre muito competentes e atenciosas, agradeço pelo grande

apoio.

À banca examinadora pela gentileza de participarem desta etapa, nessa

pesquisa.

Gostaria de fazer um agradecimento em especial aos meus companheiros de

pesquisa de campo, Alessandro S. de Oliveira (ITESP/Araraquara) e Maria de

Fátima A. F. Bardi (ITESP/Araraquara), que enfrentaram comigo uma árdua

pesquisa em sítios, assentamentos, mini-usinas, enfrentando as viagens, o barro e a

poeira do caminho.

Ao Prof. Ademir de Lucas (ESALQ/USP), pelo seu apoio para a realização da

pesquisa de campo, disponibilidade e prontidão para discutir e responder as

questões que foram surgindo.

Como não poderia deixar de ser, gostaria de agradecer a paciência e

contribuições dos produtores entrevistados.

A todos vocês, meu muito obrigado!

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RESUMO

Na década de 90, ocorreram transformações no ambiente institucional da cadeia

produtiva do leite. As principais mudanças foram a liberalização dos preços em todos

os elos da cadeia produtiva e a abertura comercial. As transformações redefiniram

os padrões de concorrência na cadeia produtiva, causando transtornos aos

produtores de leite e aos laticínios, levando alguns produtores a desistirem da

atividade e outros a entrarem na informalidade. Diante disto, a abertura de mini-

usinas de leite no estado de São Paulo foi estimulada como alternativa de resolução

do problema da comercialização do leite informal, uma vez que os produtores

familiares recebiam um preço baixo pelo seu produto, pago por indústrias privadas

nacionais, transnacionais e cooperativas. Se por um lado, o sucesso econômico de

algumas mini-usinas induzem as autoridades à conclusão de que o problema da

informalidade possa ser combatido com uma política de incentivo de crédito dirigido

a este tipo de investimento, por outro lado, não existem estudos que identifiquem se

essas mini-usinas respondem de maneira favorável às questões sociais, políticas e

ambientais, a fim de proporcionar a estes produtores condições de vida mais dignas.

Este trabalho tem como objetivo analisar a estrutura produtiva das mini-usinas de

leite situadas na EDR de Araraquara/SP, como alternativa e proposta de políticas

que possam levar à geração de renda e empregos no âmbito local/regional. Este

estudo demonstra as dificuldades encontradas pelos produtores, para obtenção de

crédito, registros e legalização dos empreendimentos, comercialização dos produtos

e assistência técnica, quando não estão organizados em associações ou

cooperativas. Detectou-se a inexistência de políticas locais dirigidas a este tipo de

empreendimento, onde deveriam ter o papel de articular e organizar esses

produtores familiares, a fim de gerar renda, inclusão social, acabar ou diminuir a

informalidade e aumentar a arrecadação do município.

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7

ABSTRACT

In the 90’s, happened changes in the institutional environment of the milk productive

chain. The main changes were the liberalization of prices in every linking points of

the productive chain and the commercial opening. The changes redefined de

competition standards in the productive chain, causing troubles to the milk producers

and dairy companies, leading some producers to give up of the activity and others to

start the informality. In face of it, the opening of mini-mills of milk in the state of São

Paulo was stimulated as alternative solution of the problem of the informal milk

commercialization, since that the familiar producers received a low price for their

product, paid by national private companies, transactional and cooperatives. If by

one side, the economic success of some mini-mills induce the authorities to the

conclusion that the problem of the informality may be combated with a policy of credit

incentive towards this kind of investment, on the other hand, there aren’t studies that

identify if these mini-mills answer in a favorable manner to the social, political and

environmental questions, in order to provide better life conditions to these producers.

The goal of this work is to analyze the productive structure of mini-mills of milk

located in the EDR of Araraquara/SP, as alternative and proposal of policies that may

lead the development of income and jobs in the local/regional ambit. This study

demonstrates the difficulties found by producers to obtain credit, registers, and

legalization of enterprises, commercialization of products and technical assistance,

when they are not organized in associations or cooperatives. It has been detected

the inexistence of local policies towards this kind of enterprise, where it should have

the role of articulating and organizing these familiar producers, in order to generate

income, social inclusion, finish or reduce the informality and increase the collection of

taxes of the municipal district.

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LISTA DE QUADROS

Página

Quadro 1 - Fusões e aquisições de empresas lácteas no Brasil............ 44

Quadro 2 - Programas sociais de distribuição de leite para crianças, executados pelo Governo de estado de São Paulo e pela Prefeitura municipal de São Paulo...........................................................................

60

Quadro 3 - Exigências Mínimas para a Produção de Leite Pasteurizado na Fazenda (lei nº1283, de 18-12-1950 e decreto nº 30691, de 29-03-1952 e alterações), Padrões do Ministério da Agricultura, Válidos em Todo o Território Nacional.................................

73

Quadro 4 - Exigências Mínimas para a Produção de Leite Pasteurizado na Indústria (lei nº1283, de 18-12-1950 e decreto nº 30691, de 29-03-1952 e alterações), Padrões do Ministério da Agricultura, Válidos em todo o Território Nacional..................................

74

Quadro 5 - Exigências Mínimas para a Produção de Leite Pasteurizado na Propriedade Rural........................................................

79

QUADRO 6 - Exigências Mínimas para a produção de Leite Pasteurizado na Indústria........................................................................

79

Quadro 7 - Produção Convencional x Produção Alternativa................... 98

Quadro 8 - Sistema Agroindustrial do Leite na EDR de Araraquara/SP – Subsistema Produção: Custo Médio de produção conforme período..

149

Quadro 9 - Caracterização do sistema de produção de leite.................. 152

Quadro 10 - Antiga DIRA (Divisão Regional Agrícola) e atual bacia leiteira de Ribeirão Preto.........................................................................

181

Quadro 11 - Municípios em que há presença de mini-usinas na EDR de Araraquara.........................................................................................

182

Quadro 12 - Interpretação das análises microbiológicas........................ 184

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LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1- Produção de leite no Brasil no período de 1990 a 2004........... 3

Figura 2 - Regressão linear simples da produção de leite no Brasil no período de 1990 a 2004...........................................................................

3

Figura 3 - Cadeia produtiva do leite......................................................... 62

Figura 4 - Agronegócio do leite no Brasil – canais de comercialização... 153

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LISTA DE TABELAS

Página

Tabela 1 - Produção total de leite no Brasil, total de vacas ordenhadas e rendimento.............................................................................................

02

Tabela 2 - Consumo Brasileiro de Leite Fluido (milhões de litros)........... 33

Tabela 3 - Produção, consumo e importações de leite no Brasil 90-2004 (milhões de litros)............................................................................

37

Tabela 4 - Classificação dos países produtores de leite – 2004.............. 47

Tabela 5 - Demanda da produção de leite no Brasil................................ 48

Tabela 6 - Distribuição percentual da produção leiteira nas cinco regiões do Brasil (1970 – 1999)................................................................

48

Tabela 7 - Produção de Leite na Região Sudeste (1970 – 2003)............ 49

Tabela 8 - Produção de leite por tipo, segundo os dez principais Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDR), Estado de São Paulo, em 2002 e posição em 1990 – 92..................................................................

52

Tabela 09 - Produção formal e informal de leite no Brasil 1980 e 2002 (milhões de litros).....................................................................................

53

Tabela 10 - Preços pagos e recebidos pelo produtor - Leite tipo C......... 57

Tabela 11 - Produção de leite dos assentados F, G e H - 02/01/2005 a 31/03/2005................................................................................................

140

Tabela 12 - Produção de leite dos assentados F, G e H – a partir de 01/04/2005................................................................................................

141

Tabela 13 - Produtos elaborados pelos assentados e locais de venda... 142

Tabela 14 - Sistema agroindustrial do leite na EDR de Araraquara/SP –resfriamento de leite nas propriedades....................................................

148

Tabela 15 - Sistema Agroindustrial do leite na EDR de Araraquara – Subsistema Produção: Informações sobre a Cadeia láctea....................

150

Tabela 16 - Sistema Agroindustrial do leite na EDR de Araraquara – Subsistema Transformação: Pessoal Utilizado na Distribuição do produto......................................................................................................

151

Tabela 17 – Composição do leite............................................................. 183

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LISTA DE MAPAS

Página

Mapa 1- Mapa da Agricultura Paulista - Distribuição do Gado de Leite..........................................................................................................

50

Mapa 2 - EDRs do Estado de São Paulo - Regionais Agrícolas (2005).......................................................................................................

180

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LISTA DE SIGLAS

ABILP – Associação Brasileira da Indústria de leite Pasteurizado

ABLV – Associação Brasileira de Leite Longa Vida

APAMSP – Associação dos produtores Agropecuários do município de São Pedro

CBQL – Conselho Brasileiro de Qualidade do leite

CNA – Confederação Nacional da Agricultura

COOPAMSP – Cooperativa dos Produtores Agropecuários de São Pedro

CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito

EDR – Escritórios de Desenvolvimento Rural

FAESP – Faculdade de Administração de Empresas do Estado de São Paulo

FEAP – Fundo de Expansão da Agropecuária Paulista

ESALQ/USP – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo

ETA – Enfermidades Transmitidas por Alimentos

FAO – Organização de Alimentos e Agricultura

IN – Instrução Normativa

ITAL – Instituto de Tecnologias de Alimentos

ITESP – Instituto de Terras do Estado de São Paulo

LBA – Legião Brasileira de Assistência

MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

OMS – Organização Mundial da Saúde

PLANAN – Programa de Melhoramento da Alimentação e manejo do Gado leiteiro

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

SEAP – Secretaria Especial de Abastecimento e Preços

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SIF – Serviço de Inspeção Federal

SIM – Serviço de Inspeção Municipal

SISP – Serviço de Inspeção do Estado de São Paulo

SUDAM – Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia

SUDENE – Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste

SUNAB – Superintendência Nacional do Abastecimento

TEC – Tarifa Externa Comum

UAT – Ultra Alta Temperatura

UHT – Ultra Higt Temperature

UPA – Unidades de Produção Agropecuária

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SUMÁRIO

Página

1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 01

1.2. Abordagem Metodológica..................................................................... 10

1.2.1. O Estudo de caso............................................................................... 10

1.2.2. Métodos de pesquisa......................................................................... 11

1.2.3. Método de trabalho............................................................................ 13

1.3. Estrutura do trabalho............................................................................. 14

2. PEQUENOS EMPREENDIMENTOS: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS...................................................................................

16

2.1. O complexo agroindustrial lácteo e regulação estatal........................... 16

2.1.1. O complexo agroindustrial lácteo e a auto-regulação nos anos 90: a manutenção da heterogeneidade estrutural e tecnológica.......................

28

2.1.2. Empresas nacionais e transnacionais do setor lácteo....................... 39

2.2. Caracterização geral do complexo agroindustrial brasileiro................ 45

2.3. Diagnóstico da cadeia produtiva de leite.............................................. 62

2.3.1. Qualidade na cadeia produtiva do leite.............................................. 68

2.4. Em busca de uma pecuária alternativa................................................. 81

2.4.1 Produção familiar................................................................................ 87

3. DISCUSSÃO E RESULTADOS............................................................... 101

3.1. Caracterização das mini-usinas de leite estudadas.............................. 101

3.2. Cooperativa de produtores agropecuários de São Pedro (COOPAMSP): pequena história e funcionamento do laticínio....................

104

3.3. Mini-usina A.......................................................................................... 120

3.4. Mini-usina B.......................................................................................... 126

3.5. Mini-usina C.......................................................................................... 129

3.6. Mini-usina D.......................................................................................... 132

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3.7. Mini-usina E.......................................................................................... 136

3.8. Assentamentos rurais........................................................................... 139

3.9. Subsistema de produção dos empreendimentos.................................. 147

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 155

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 163

APÊNDICE 1- EDRs do estado de São Paulo............................................. 180

APÊNDICE 2 - Antiga DIRA (Divisão Regional Agrícola) e atual bacia

leiteira de Ribeirão Preto..............................................................................

181

APÊNDICE 3 - Municípios em que há presença de mini-usinas na EDR de Araraquara..............................................................................................

182

APÊNDICE 4 - Composição do leite............................................................ 183

APÊNDICE 5 - Interpretação das análises microbiológicas......................... 184

APÊNDICE 6 – Formulário de pesquisa...................................................... 186

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1 Introdução

O setor lácteo nacional tem enfrentado mudanças turbulentas, envolto em um

processo de reestruturação que se assemelha aos vividos há algumas décadas em

países como a Argentina e os Estados Unidos (HERRERA, 2001). Entretanto, o

raciocínio simplista, daqueles que acreditam que as soluções que se aplicaram em

outros países serão fatalmente as soluções para o Brasil, esbarra na complexidade,

na singularidade e na unicidade do setor lácteo brasileiro. Este setor demanda

estudos aprofundados e particularizados, a fim de especificar alternativas viáveis às

estratégias de nossos governos e produtores (FILGUEIRA; BELICK, 1999).

A pecuária leiteira é praticada em todo território nacional. As condições

edafoclimáticas do país permitem a adaptação da atividade às peculiaridades

regionais, observando-se, consequentemente, a existência de diversos sistemas de

produção. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,

2004), os estados que mais produzem leite são, respectivamente, Minas Gerais,

Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.

A produção de leite cresceu a uma taxa média de 4,5% ao ano, na última

década, passando de 15,6 milhões de litros, em 1993, para 23,5 milhões, em 2004

(LEITE BRASIL, 2005). O setor é um dos mais importantes do agronegócio

brasileiro. Atualmente o Brasil é o sexto maior produtor de leite, com um volume que

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corresponde a aproximadamente 4,5% da produção mundial (ÁLVARES et al.,

2003).

De 1990 a 2002, o número de vacas ordenhadas diminuiu em 67.732 cabeças

(IBGE, 2004), e a produção total cresceu 7,1 milhões de litros. Isso significa que a

produtividade, medida em litros vaca/ano, apresentou um aumento de 49,96%.

A Tabela 1 mostra que a importação de leite no Brasil mais do que dobrou na

década de 90, enquanto que a produção leiteira aumentou linearmente entre 1990 e

2004, sendo que a taxa de crescimento média foi de 6,7% neste período, como

observado nas Figuras 1 e 2.

TABELA 1 – Produção, importações e consumo de leite no Brasil 90 – 2004 (milhões de litros)

Ano Produção Variação (%)

Importação Consumo Variação (%)

Consumo l/hab

1990 14.484 2,76 906,0 15.390,0 -0,40 106,3

1991 15.079 4,11 1.313,0 16.392,0 6,51 111,5

1992 15.784 4,68 276,0 16.060,0 -2,03 107,3

1993 15.591 -1,22 632,0 16.223,0 1,01 107,1

1994 15.784 1,24 1.250,0 17.034,0 5,00 110,7

1995 16.474 4,37 3.200,0 19.674,0 15,50 126

1996 18.515 12,39 2.450,0 20.965,0 6,56 132,4

1997 18.666 0,82 1.930,0 20.596,0 -1,76 128,2

1998 19.327 3,54 2.270,0 21.597,0 4,86 128,6

1999 19.133 -1,00 2.410,0 21.543,0 -0,25 129,9

2000 20.090 5,00 2.000,0 22.089,7 2,54 126,5

2001 20.510 2,09 800,0 Não relatado

--------- 123,1

2002 21.643 5,24 1.400,0 Não relatado

--------- 124,2

2003 22.254 2,82 628 Não relatado

--------- 122,6

2004 23.526 5,71 Não relatado Não relatado

--------- Não relatado

Fonte: Leite Brasil (2004), IBGE (Censo Agropecuário e pesquisa da pecuária Municipal).

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1990199119921993199419951996199719981999200020012002200320040

5000

10000

15000

20000

25000

Prod

ução

(milh

ões

de li

tros

)

Ano Figura 1 – Produção de leite no Brasil no período de 1990 a 2004.

1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006

5,0

5,5

6,0

6,5

7,0

7,5

8,0

8,5

9,0

Y = A + B . X

Parâmetro Valor ------------------------------ A -442,9430 B 0,2251 R 0,9844

Porc

enta

gem

de

prod

ução

Ano

Figura 2 – Regressão linear simples da produção de leite no Brasil no período de 1990 a 2004.

Quanto ao produtor, neste mesmo período, registrou ganhos em volume, mas,

por outro lado, o preço médio bruto recebido não evoluiu da mesma forma. De

janeiro de 1990 a dezembro de 2003, registrou-se uma queda real nos preços de

59,05% na média nacional, conforme dados do centro de Estudos Avançados em

Economia Aplicada (CEPEA, 2005).

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Segundo HERRERA (2001), até o final da década de 80, o Governo Federal

intervinha diretamente na cadeia produtiva do leite, controlando as importações e

regulando, de forma diferenciada, os preços dos produtos lácteos. O leite

pasteurizado tipo “C”, por ser o produto lácteo de maior importância para a cesta

básica da população, era tabelado desde a sua produção até a comercialização.

Na década de 90, ocorreram transformações no ambiente institucional da

cadeia produtiva do leite, cujas principais mudanças foram: a liberalização dos

preços em todos os elos da cadeia produtiva e a abertura comercial (ficando a cargo

das empresas a decisão de importar derivados lácteos). As transformações

redefiniram os padrões de concorrência na cadeia produtiva, causando transtornos

aos produtores e laticínios (VIEIRA, 1999).

No elo industrial, assiste-se aos avanços de empresas privadas –

principalmente as transnacionais – em movimento de aquisição ou incorporação de

empresas privadas nacionais e cooperativas que, historicamente, tiveram grande

importância na recepção, processamento e abastecimento do mercado de leite

pasteurizado. Apesar desta grande concentração, tem surgido no estado de São Paulo

alternativas como as mini-usinas de processamento de leite, que são definidas, como

usinas processadoras de até 10.000 l/dia, podendo processar a produção oriunda de

outras propriedades (CIPOA, 2004).

No período entre 1992 e 2003, segundo dados do CIPOA (Centro de Inspeção

de Produto Animal do Estado de São Paulo), cento e setenta e nove (179) mini-usinas

estavam registradas nesse órgão. Permaneceram em funcionamento noventa e nove

(99) delas: algumas cancelaram e outras paralisaram a produção de leite e derivados

(CIPOA, 2004). Em junho/2005, havia 103 mini-usinas registradas, quando cinqüenta e

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nove (59) se encontravam em funcionamento, quatro (4) foram suspensas e quarenta

(40) cancelaram a atividade (CIPOA, 2005).

A abertura das mini-usinas de leite foi estimulada como alternativa de

resolução do problema da comercialização do leite informal, uma vez que os

produtores familiares recebiam um preço baixo pelo seu produto, pago por indústrias

privadas nacionais, transnacionais e cooperativas. Diante disto, acabavam optando

por vender este tipo de leite, diretamente aos consumidores finais, chegando a

receber até 120%1 a mais pelo leite informal (CAMPEÃO, 2004). Outro estímulo para

criação das mini-usinas foi o barateamento da tecnologia necessária ao

processamento do leite in natura, o pasteurizador. Há no mercado equipamentos de

baixo custo que podem dar conta da pasteurização de 500 a 10.000 l/leite/dia. Além

disso, a Lei Federal n° 7.889/89 (novembro de 1989) dá aos Estados a competência

para inspeção e fiscalização sanitária e industrial dos produtos de origem animal

(OLIVEIRA, 1999).

A aprovação da Lei n. 7889/89 não foi suficiente para resolver os problemas

enfrentados pelas mini-usinas, por isso, muitas delas ainda funcionavam de maneira

informal, ao mesmo tempo em que as normas exigidas pela Legislação dificultavam

a adaptação por parte das mesmas.

Em 1997, foi sancionada uma Lei Estadual, a Lei n° 10610/97, que flexibilizou

as exigências. Porém, segundo PRESOTTO (1999), a concepção dos técnicos que

realizam a inspeção conservou a rigidez de antes, além de contestarem a nova

lei, alegando sua inconstitucionalidade. Deste modo, sua aplicação está bastante

_______________________________________________________

1 De dezembro/2004 a julho/2005, o valor do leite pago pelos laticínios aos produtores variava entre R$ 0,44 e R$ 0,46 o litro. Esse leite era vendido informalmente pelos produtores diretamente ao consumidor final por um valor entre R$ 0,90 e R$ 1,00 o litro.

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comprometida. No estado de São Paulo, as mini-usina de leite não se limitam apenas

à transformação do leite, mas incluem uma ampla variação de produtos.

Esta forma de produzir recebeu novo incentivo em 1998, quando foi lançado o

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Este

programa tem por objetivo oferecer “recursos adicionais aos produtores familiares

para melhorar a sua situação e inseri-los integralmente na cadeia produtiva,

melhorando a sua produção agropecuária, agroindustrializando e comercializando a

sua produção” (PRONAF – Agroindústria; 1998: 9 apud DE GRANDI, 1999: 29). Os

recursos do PRONAF, mesmo com as exigências para se ter acesso a este tipo de

crédito, estimularam as agroindústrias de pequeno porte e, principalmente,

capacitaram técnicos da área de extensão para assessorar empreendimentos que

enfatizam a importância da produção familiar e do produtor enquanto sujeito e não só

objeto das políticas públicas (CAMPEÃO, 2004).

Para o IBGE (2004), de 1997 a 2002 a produção formal (controlada pelo SIF –

Sistema de Inspeção Federal; SISP – Sistema de Inspeção Estadual e SIM –

Sistema de Inspeção Municipal) de leite no país cresceu 24,13%, passando de 10,6

milhões de litros para 13,2 milhões. Em relação à produção total (formal e informal), a

FAO (2004) (Organização de Alimentos e Agricultura), mostra que em 1997 ela era de

19,4 milhões de litros de leite e, já em 2003, atingia 23,3 milhões de litros, um

crescimento de 15,03% em sete anos.

De um lado, este estudo demonstra o potencial do setor revelado no grande

número de iniciativas, na diversidade e na distribuição geográfica dos

empreendimentos, na riqueza cultural das experiências, no impacto da atividade na

vida dos produtores e na aceitação dos produtos da pequena agroindústria

associada à produção familiar pelos consumidores e decisores de compra dos

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estabelecimentos comerciais pesquisados. De outro lado, estão as dificuldades

encontradas pelos produtores para obtenção de crédito, de registros e da

legalização dos empreendimentos, assim como para a comercialização dos produtos

e assistência técnica. E, principalmente, do pequeno avanço tecnológico no que diz

respeito à alimentação do gado, à conservação das pastagens, à erosão do solo, ao

uso de fertilizantes, aos agrotóxicos, ao melhoramento genético do rebanho etc, e

que são fundamentais na passagem de uma pecuária convencional para uma

alternativa mais sustentável.

A implantação de mini-usinas de leite é sempre citada como uma das

alternativas para diminuir a produção e a comercialização de leite e derivados de

maneira informal e, também, para aumentar a rentabilidade do produtor familiar.

Artigos como os de VIEIRA (1999), MIRANDA (1999) e HERRERA (2001) apontam

casos de sucesso econômico neste tipo de empreendimento.

A Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em

várias oportunidades, manifestou-se preocupada com o aumento do leite informal e

com o futuro dos produtores familiares de leite. Na tentativa de reverter esse

panorama institucionalizou-se o CIPOA (Centro de Inspeção de Produtos de Origem

Animal) que, entre tantas outras atribuições, vem promovendo a expansão e a

instalação de mini-usinas de leite no interior do estado de São Paulo. “A meta é criar

muitas mini-usinas e oferecer leite da melhor qualidade no âmbito local/regional”

(CIPOA, 2005).

Se por um lado, o sucesso econômico de algumas mini-usinas de leite

induzem as autoridades à conclusão de que o problema da informalidade pode ser

combatido com uma política de incentivo de crédito dirigido a este tipo de

investimento, por outro lado, não existem estudos que identifiquem se essas mini-

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usinas respondem de maneira favorável às questões sociais, políticas e ambientais.

Se este tipo de empreendimento é considerado viável economicamente, quais

seriam os motivos de várias mini-usinas estarem fechando ou paralisando suas

atividades?

O objetivo geral deste trabalho é analisar a estrutura produtiva das mini-

usinas de leite situadas na EDR de Araraquara/SP, como alternativas e propostas de

políticas que possam levar à geração de renda e empregos no âmbito local/regional.

Avaliar a alternativa dessas mini-usinas como opção para mudanças na atual cadeia

produtiva do leite, visando melhorar o desempenho da produção de produtores

familiares e a qualidade do produto ao consumidor.

Os objetivos específicos são os seguintes:

a) Identificar os resultados obtidos e os impactos gerados pelas mini-usinas de

leite no âmbito local/regional (ações desenvolvidas e áreas de atuação);

b) Investigar e analisar os fatores intervenientes para a manutenção

(continuidade ou desistência) dos produtores no processo;

c) Detectar o processo de gestão das mini-usinas sob os aspectos da

participação do produtor rural e sob aspectos da atuação dos agentes

externos (políticas públicas);

d) Identificar quais os pontos de estrangulamento (político, social e econômico)

da produção de leite pelas mini-usinas.

A resposta pode estar fundamentada na hipótese de que o funcionamento das

mini-usinas de leite do Estado de São Paulo tem sido proposto como uma alternativa

viável para os produtores familiares de leite, porém precisa responder não apenas a

questões econômicas, mas também sociais, políticas e ambientais, a fim de

proporcionar a estes produtores uma condição de vida mais digna. Acredita-se

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também que as exigências burocráticas para instalação e funcionamento das mini-

usinas de leite e o não incentivo do governo à organização desses produtores

familiares têm levado à informalidade e também ao fechamento deste tipo de

estabelecimento.

A meta de desenvolvimento a ser buscada deve ser sustentável, ou seja:

Sistema de produção e de processamento de âmbito regional/local;

Capital reduzido e dependência reduzida de fontes externas (energia,

insumos e crédito);

Ênfase à permanência dos produtores familiares na terra;

Alimentos minimamente processados e nutritivos.

Espera-se que os resultados deste trabalho possam servir de subsídio na

elaboração de políticas específicas para este setor, a fim de que possam ser alvos

de incentivos para produzir e ser parte integrante das políticas de investimentos

locais. Espera-se que os subsídios oferecidos, como resultado desta pesquisa,

possam servir aos produtores familiares interessados em agregar valor aos seus

produtos e aos Governos Estadual e Municipal, interessados em desenvolver uma

política que responda a alternativas socialmente justas.

O escopo do trabalho é, portanto, de caracterização e discussão dessas

questões (propostas nos objetivos), buscando estabelecer algumas inter-relações

entre fatos vividos pelas mini-usinas em estudo e as abordagens teóricas sobre tais

questões.

1.2 Abordagem Metodológica

1.2.1 O estudo de caso

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A primeira e mais importante condição para diferenciação entre as várias

estratégias de pesquisa é identificar o tipo de questão de pesquisa a ser respondida.

Podem ser identificadas algumas situações nas quais estratégias específicas têm

uma vantagem distinta. Para o estudo de caso, isso acontece quando a questão

respondida é sobre um conjunto de eventos contemporâneos sobre os quais o

investigador tem pouco ou nenhum controle (YIN, 1994).

Segundo Martins (1999) a grande crítica ao método de estudo de caso é o

fato de seus resultados não serem passíveis de generalização – validade externa.

Porém, Bryman (1989) afirma que o objetivo não é inferir a partir dos resultados de

uma amostra para a população, mas engendrar características e ligações de

importância teórica.

Yin (1994) acrescenta, ao citado por Bryman (1989), que estudo de casos,

assim como experimentos, são generalizáveis em termos de proposições teóricas e

não para populações ou universos. Nesse sentido, o estudo de caso não representa

uma amostra e o objetivo do investigador é expandir e generalizar teorias

(generalização analítica) e não enumerar freqüências (generalização estatística).

Ainda conforme YIN (1994), o estudo de caso pode ser utilizado para explicar,

descrever, avaliar e explorar situações.

1.2.2 Métodos de pesquisa

Lakatos e Marconi (2001, p. 27) definem métodos de pesquisa como sendo:

O conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar um objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.

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Conforme Bryman (1989) a pesquisa quantitativa é mais difundida,

principalmente nas ciências naturais. Por vezes, é confundida com a forma de fazer

ciência. Nessa abordagem, a hipótese é formulada a partir da teoria. A hipótese é

transformada em variáveis a serem manipuladas e medidas para efeito de

quantificação. A quantificação das variáveis permite fazer inferências estatísticas e

correlações que confirmarão ou refutarão a hipótese. As preocupações principais da

abordagem quantitativa são: mensurabilidade, causalidade, generalização e a

replicação do experimento.

Como outra alternativa ao método quantitativo, tem-se a pesquisa qualitativa.

Bryman (1989) considera um erro afirmar que a diferença básica entre essas duas

abordagens é a ausência de quantificação na segunda. A pesquisa qualitativa não

tem aversão à quantificação de variáveis, a diferença está na ênfase em captar a

perspectiva dos indivíduos que estão sendo estudados.

De acordo com Bryman (1989), as características básicas da pesquisa

qualitativa são: o ambiente natural é a fonte direta de dados e o pesquisador o

instrumento fundamental; múltiplas fontes de dados são utilizadas; o significado que

as pessoas dão às coisas é a preocupação essencial do investigador; e os

pesquisadores têm proximidade com o fenômeno estudado.

Para o desenvolvimento deste trabalho utilizou-se pesquisa quantitativa e

qualitativa, na qual se procurou interpretar fenômenos em torno dos significados que

as pessoas atribuem a eles, havendo preocupação com o processo e não

simplesmente com os resultados e os produtos.

De acordo com Yin (1994), as evidências para a pesquisa podem vir de seis

fontes: documentos, arquivos gravados, entrevistas, observação direta, observação

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participativa e artefatos físicos. Os benefícios destas fontes de evidências podem ser

maximizados se forem seguidos três princípios:

Uso de múltiplas fontes de evidência: no caso desta pesquisa foram

utilizadas como fontes: documentos, entrevistas e observação direta;

Criação de um banco de dados para o estudo de caso: no caso desta

pesquisa, o roteiro de entrevista, as tabelas de observação e os

documentos solicitados aos órgãos governamentais, mini-usinas, bem

como outros documentos de fontes eletrônicas, serviram como banco

de dados para cada um dos casos pesquisados;

Manutenção de cadeia de evidências: os resultados foram descritos de

acordo com a seqüência de evidências, ou seja, começando com um

breve histórico e evolução das mini-usinas pesquisadas.

Para atingir os objetivos propostos por esta pesquisa, inicialmente, foi

realizado um levantamento bibliográfico de caráter geral (obras com afinidade à

temática) e específico (obras especificamente ligadas à temática), com a finalidade

de aprofundar os conhecimentos sobre o universo a ser pesquisado; esse

levantamento constou de livros, teses, dissertações, artigos de periódicos, jornais,

revistas e documentos relacionados à questão estudada.

1.2.3 Método de trabalho

O estado de São Paulo é composto por quarenta EDRs (Escritório de

Desenvolvimento Rural) (APÊNDICE 1), sendo que em algumas delas estão presentes

as mini-usinas processadoras de leite e derivados. A EDR de Araraquara faz parte da

bacia leiteira de Ribeirão Preto, localizada no interior do estado de São Paulo. Esta

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bacia refere-se territorialmente à antiga DIRA (Divisão Regional Agrícola) de Ribeirão

Preto, composta atualmente por seis EDRs, abrangendo noventa e dois municípios do

estado de São Paulo, como demonstra o APÊNDICE 2. A opção por pesquisar mini-

usinas processadoras de leite na EDR de Araraquara foi pelo conhecimento do

impacto de algumas marcas de produtos oriundos das mini-usinas, em cidades como

Araraquara, São Carlos e Matão; e, além disso, em função da ausência de estudos

que demonstrassem os impactos sociais, políticos e ambientais destes

estabelecimentos.

Na pesquisa de campo, foram realizadas visitas a nove estabelecimentos

localizados na EDR de Araraquara/SP (APÊNDICE 3) e a uma mini-usina localizada

na EDR de Piracicaba. Foram estudados quatro tipos de situações:

1. Uma mini-usina composta por produtores familiares que se uniram

formando uma cooperativa. Essa mini-usina é utilizada como modelo de

sucesso e está localizada na EDR de Piracicaba.

2. Quatro mini-usinas, onde os proprietários não participam de nenhum tipo

de associação ou cooperativa, localizadas nos municípios de

Descalvado, Ribeirão Bonito, São Carlos e Tabatinga.

3. Um proprietário de uma mini-usina localizada no município de Matão,

que teve as suas atividades paralisadas, desistindo assim do negócio.

4. Três assentados que produzem clandestinamente produtos lácteos,

localizados no Assentamento Rural Monte Alegre I e II no município de

Araraquara.

Para obtenção dos dados, optou-se por entrevista padronizada ou

estruturada, para a qual foi elaborado um questionário previamente estabelecido.

Conforme Lakatos e Marconi (2001, p. 212), o motivo da padronização é obter, dos

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entrevistados, respostas às mesmas perguntas, permitindo que todas sejam

comparadas com o mesmo conjunto de perguntas. As respostas foram anotadas e

gravadas. Todas as entrevistas (100%) foram realizadas com os proprietários dos

estabelecimentos visitados. É fundamental salientar, que a predominância de

entrevistas com os proprietários pretende garantir uma veracidade maior das

informações.

A pesquisa foi realizada entre os meses de dezembro/2004 e junho/2005, em

estabelecimentos, que tem na pecuária leiteira a razão de sua formação.

1.3 Estrutura do Trabalho

O presente trabalho está estruturado em quatro Capítulos. O Capítulo 1,

Introdução, retrata a atual situação da pecuária leiteira no Brasil e é composto pelos

tópicos: tema, problematização, justificativa, hipótese, objetivos e metodologia, como

já foi exposto.

O Capítulo 2, Pequenos Empreendimentos: Conceito e Caracterização,

mostra a reestruturação agroindustrial láctea brasileira até os anos 90, quando o

Estado deixa de intervir no setor, trazendo impactos relevantes para o

desenvolvimento das bacias lácteas regionais. Também apresenta a importância do

leite na produção agropecuária brasileira, o posicionamento dos produtores

familiares dentro da cadeia produtiva, fazendo um recorte a partir da pecuária leiteira

até o consumidor, agregando alterações recentes pelas quais cada um desses

segmentos vem passando, e a condição do estado de São Paulo, como região de

abrangência da pesquisa.

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O Capítulo 3, Discussão dos Resultados, apresenta o perfil das mini-usinas

estudadas, bem como as considerações sobre este tipo de empreendimento; os

resultados da pesquisa de campo, constando de um breve relato sobre as questões

políticas, sociais, econômicas e ambientais dessas mini-usinas.

O capítulo 4, Considerações Finais, apresenta as conclusões acerca de toda

pesquisa realizada, com as limitações da pesquisa e as Recomendações para

Trabalhos Futuros. Ao final do trabalho também estão contidas as Referências

Bibliográficas, Apêndices, Mapas, Quadros e Tabelas.

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CAPÍTULO 2

PEQUENOS EMPREENDIMENTOS: CONCEITOS E

CARACTERÍSTICAS

2.1 O complexo agroindustrial lácteo e a regulação estatal

A produção leiteira é uma das atividades agropecuárias mais tradicionais da

economia brasileira. Nas primeiras décadas de século XX (1910-1930), a produção

era realizada por pecuaristas muito próximos das grandes cidades. Os próprios

produtores responsabilizavam-se pela distribuição, entregando o leite nas

residências dos consumidores urbanos e os intermediários pouco existiam. Assim, a

pecuária leiteira concentrava-se nos arredores dos centros urbanos (AIKEN, 1984).

O processo de urbanização, que ganha força com a industrialização e com os

problemas enfrentados pelo setor cafeeiro nos anos 30, modificou o cenário

agropecuário por meio da descentralização da atividade produtiva. As fazendas

leiteiras, localizadas nos arredores dos grandes centros urbanos, foram transferidas

para locais mais distantes, predominantemente nas regiões do Vale do Paraíba e de

Ribeirão Preto no estado de São Paulo. As usinas de pasteurização, resfriamento e

distribuição de leite também seguiram esse caminho (PAULILO, 1991).

As empresas multinacionais não tinham interesse pela produção de queijos e

envasamento de leite natural. Estes segmentos tinham reduzidas barreiras à

entrada, com baixo nível tecnológico e pouco capital, permitindo que cooperativas e

pequenas empresas nacionais ocupassem totalmente o espaço produtivo (PAULILO,

1991).

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Neste cenário, os problemas de qualidade do produto decorrente da forma de

produção e transporte tornaram-se constantes, fazendo com que o governo paulista

passasse a regular a produção, o beneficiamento e a distribuição de leite, com o

Decreto estadual 5.032 de 1931. Foram impostas, pela Diretoria da Indústria Animal

e do Serviço Sanitário do estado de São Paulo, as seguintes normas: a) resfriamento

do leite no máximo até uma hora após a ordenha, a uma temperatura de 2 a 5 graus,

em postos de refrigeração; b) o produto deveria ser acondicionado em frascos; c) no

interior do Estado o leite deveria ser entregue aos consumidores no máximo três

horas após a ordenha; d) as usinas beneficiadoras lácteas deveriam possuir os

equipamentos exigidos para recepção, pesagem, pasteurização, refrigeração entre

outros; e) tanto entregadores como vendedores deveriam apresentar documentação

sanitária e certificado de inspeção do leite (FLEURY, 1983).

Essas medidas, bem como a disseminação do cooperativismo leiteiro,

incentivado principalmente pelas isenções fiscais do governo federal, colaboraram

para o desenvolvimento lácteo regionalizado. Historicamente, o cooperativismo

leiteiro surge em 1906, mas é a partir do Decreto-lei de 1931 que as cooperativas de

laticínios se disseminaram nas regiões produtivas lácteas. O benefício fiscal para a

formação de cooperativas foi uma medida governamental, visando o

estabelecimento de uma nova forma de articulação econômica entre pecuária leiteira

e beneficiamento, já que a relação dos produtores com as empresas privadas eram

conflituosas.

Foi na década de 40 que o modelo de cooperativas de laticínios se consolidou

no Brasil, principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Além das

cooperativas regionais ou singulares (em São Carlos, Batatais, Brodosqui, Patrocínio

Paulista, Aguaí e Vale do Paraíba), houve a constituição de uma cooperativa central

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na grande São Paulo (Cooperativa Central de Laticínios de Estado de São Paulo),

visando manter a continuidade do fluxo do produto para o mercado consumidor da

capital paulista (ALENCAR, 1997). Assim, o cooperativismo lácteo foi determinante

para a constituição das bacias produtivas leiteiras.

As cooperativas centrais paulistas e mineiras tornaram-se as principais

envasadoras de leite natural naquele período, ao lado das empresas nacionais

privadas como a Vigor e a Leco. A escala produtiva de 100.000 litros por dia

decorreu das inovações tecnológicas na pasteurização do leite (à alta temperatura

em curto período de tempo). A diversificação da produção também se deu neste

período, com a produção de farinha láctea e leite em pó (PAULILO, 1991). Nota-se,

portanto, a intensa transformação tecnológica no segmento lácteo processador. E a

que se deve a intensidade da transformação? A pasteurização ocorreu porque as

normas sanitárias passaram a ser expedidas e controladas pelo Estado.

A mudança da forma de intervenção provocou avanço técnico e

organizacional no setor lácteo. Esse movimento foi significativo para a questão da

regionalização produtiva, já que o Estado reconhecia o aparecimento da

heterogeneidade estrutural láctea. Nesse reconhecimento, o Estado não viu

qualquer constrangimento para a modernização agropecuária, pelo contrário, aceitou

o perfil regionalizado da produção leiteira e objetivou a organização láctea nacional

em bacias produtivas, estabelecendo as primeiras regras de normas sanitárias e de

comercialização de um produto nutricional básico.

A intervenção estatal láctea se desenvolveu em 1945 com o início da política

de tabelamento dos preços do leite no Rio de Janeiro. Daquela região produtiva

disseminou-se o tabelamento dos preços para todo o país. Este tipo de controle

objetivava proteger os pecuaristas do poder de negociação das empresas lácteas, já

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que o caráter temporal da produção leiteira reduzia a capacidade de barganha da

agropecuária frente à indústria beneficiadora. O governo federal estipulou um preço-

mínimo ou de base denominado preço-cota. E quando havia sazonalidade na

produção, eram estipulados descontos (o chamado preço extra-cota). Havia também

o preço que se referia ao destino do produto, o chamado leite/consumo e

leite/indústria. Com essas medidas estatais de regulação do preço, o único elemento

diferenciador para o pagamento do leite era baseado no teor de gordura do produto

(FARINA, 1996).

A partir de 1945, a intervenção estatal se consolidou na pecuária leiteira

nacional porque o tabelamento não se restringiu aos preços pagos aos produtores,

mas alcançou a esfera do consumidor. Com o tabelamento do preço final do leite in

natura o Estado visou impedir que os consumidores sofressem com o poder do

monopólio dos laticínios e, principalmente, fez com que a população menos

favorecida tivesse possibilidade de acesso ao produto. A busca da segurança

alimentar estava embutida nessas medidas de regulação. Além disso, o governo

praticava o tabelamento do leite visando segurar a inflação, já que a manutenção do

preço de um produto alimentar básico minimizaria os impactos sobre os índices de

preços (CAMPEÃO, 2004).

Na década de 50, com o Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek

e a internalização da indústria de bens de capital no país, há uma intensificação dos

investimentos no segmento de beneficiamento lácteo, com o acirramento da

concorrência entre as empresas nacionais, as multinacionais e as cooperativas. Com

a presença das empresas de bens de capital, as bacias produtivas passam a estar

inseridas na dinâmica de um complexo agroindustrial lácteo nacional, pautadas nas

relações produtivas a montante e a jusante (basicamente relações de compra e

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venda). No entanto, reservavam-se as especificidades das regiões ou bacias lácteas

para as questões organizacionais e institucionais, nas quais a cultura local, a história

dos lugares ou bacias e as relações de proximidades pesavam nos processos de

negociação dos atores produtivos lácteos (PAULILO, 2000).

No final da década de 60, com a expansão industrial, há um intenso

crescimento urbano e, conseqüentemente, um aumento na demanda de produtos

alimentícios. A adoção do Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG),

adotado em 1964, em plena ditadura militar, foi um programa de reestruturação

econômica embasado em três mecanismos principais: a) a reforma tributária; b) a

reforma bancária e c) a política de crédito, com o objetivo de conter a inflação e

alcançar o crescimento econômico. Tal programa permitiu a manutenção da

modernização industrial e agropecuária, seja pelo crescimento da demanda de bens

de consumo duráveis seja pelo de não-duráveis (PAULILO, 1991).

No plano das relações tecno-produtivas a montante e a jusante, as

multinacionais APV inglesa e a suíça Alfa Laval instalaram-se no Brasil e passaram

a fornecer vários equipamentos para a pasteurização do leite, tais como: tanques

mecânicos para a coagulação, ordenhadeiras, bombas centrífugas, formas em

plástico para embalagem, pasteurizadores etc. Nos anos 70, novas inovações

tecnológicas alcançaram a produção de leite, embora restrita a poucos pecuaristas

das bacias do estado de São Paulo, com a introdução da ordenhadeira mecânica

para a produção de leite tipo B (CARVALHO, 1982).

A introdução do leite tipo B no Brasil foi especialmente importante para os

grandes produtores que, insatisfeitos com a política de tabelamento de preços do

leite tipo C, podiam auferir com este novo produto, uma margem de lucro superior.

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Para as empresas nacionais e as cooperativas também houve benefícios, pois estas

acabaram por diversificar sua produção.

Nesse sentido, o Governo Federal também procurou atuar com o lançamento

do Programa de Melhoramento da Alimentação e Manejo do Gado Leiteiro

(PLANAM), que objetivava aumentar a produção e a produtividade do rebanho

leiteiro via melhoria de pastagens, conservação de forragens e generalização de

melhores práticas de manejo do rebanho. Além disso, houve a introdução do tanque

isotérmico para o transporte do leite (FARINA, 1996).

Ainda na década de 70, as indústrias multinacionais se destacaram com a

atuação na produção de iogurtes, sobremesas e petit-suisse. As cooperativas

concentraram esforços na consolidação e ampliação das centrais tendo em vista

dominar o mercado de leite pasteurizado, produto de menor valor agregado, mas de

maior consumo pela grande maioria da população.

No começo dos anos 70, o Governo passou a reprimir os preços pagos aos

produtores visando o combate à inflação. Assim, as bacias leiteiras tradicionais

(Minas Gerais e São Paulo) foram prejudicadas e o reflexo foi a estagnação da

produção no período 1970/73. Logo, a produção interna não era suficiente para o

atendimento da demanda nacional e, em 1974, o Governo Federal teve que importar

vários produtos como carne, leite, trigo, milho etc. No caso específico do leite,

mesmo havendo a ampliação das bacias leiteiras do interior paulista (principalmente

a do Vale do Paraíba e a de Ribeirão Preto), a importação tornou-se necessária

(FARINA, 1996).

Neste mesmo ano houve uma alteração na política governamental láctea.

Houve o aumento dos preços pagos ao produtor tendo em vista estimular a

produção, além de ser fornecido subsídios para o transporte das bacias leiteiras para

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as capitais. Para regularizar o abastecimento devido ao desequilíbrio entre safra e

entressafra, houve a adoção da política de importação de leite em pó o que

provocou a normalização no abastecimento dos grandes centros entre 1974/75.

Porém em 1976, o Governo não mais manteve os preços reais para os produtores e

os preços começaram a cair.

No transcorrer da década de 70, mesmo com o grande crescimento da

demanda de leite para o consumo e o desenvolvimento dos setores voltados para a

produção de insumos e equipamentos para a agropecuária, não houve o

desenvolvimento esperado na pecuária leiteira das principais bacias produtivas. A

produção de leite continuou apresentando baixos níveis de produtividade, tornando-

se subproduto da pecuária de corte. Isso foi decorrente do achatamento dos preços

do leite realizado pelo Governo, por meio da política discriminatória de preços e

também pelo desinteresse das indústrias em favorecer a modernização do produtor,

dado que elas buscavam matéria-prima mais barata através da expansão geográfica

do mercado de leite cru, via postos de captação. Enfim, o progresso tecnológico e

aumento da margem de lucro ocorreram apenas para os produtores de leite tipo B

(PAULILO, 1991).

Em 1970, o rebanho bovino-leiteiro representava 32,2% do total do rebanho

nacional que, naquela época, era de 78.562 mil cabeças. Já o rebanho de dupla

aptidão (corte/leite) representava 12,4% e o restante (55,4%) representava o

rebanho de corte. No ano de 1975, o rebanho nacional saltou para 101.674 milhões

de cabeças, sendo que houve uma redução na quantidade de rebanho leiteiro entre

1970/75 para 20,6% (uma queda de 11,6%), o gado de dupla aptidão teve uma

pequena elevação de 2,4%, aumentando, portanto, sua participação para 14,7% e o

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rebanho de corte aumentou em 9,3%, saltando de 55,4% para 64,7% (PAULILLO,

1991).

Na década de 80 o rebanho nacional total era, segundo dados da mesma

fonte, de 118.085 mil cabeças, sendo a participação do gado leiteiro de 20,5%, o

gado de corte 72,9% e de dupla aptidão era de 6,6%. Portanto, conclui-se que

durante a década a participação do rebanho bovino-leiteiro e do rebanho de dupla

aptidão caíram de maneira considerável.

Em termos regionais, a especialização para a atividade de extração leiteira

concentrava-se principalmente na região Sudeste. Porém, já naquele período,

verificava-se o maior crescimento do rebanho bovino nas regiões Norte de Centro-

oeste do país. E tal crescimento não foi fruto da adoção de tecnologia, foi decorrente

dos programas governamentais de créditos específicos para determinadas regiões.

Esses programas foram iniciados na década de 70, no qual se destacaram os

programas Proterra, Condepe, Polocentro e outros, além de incentivos fiscais via

SUDAM (Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia) e SUDENE

(Superintendência para o Desenvolvimento Do Nordeste). Como observa Paulillo

(1991, p. 12):

A evolução do rebanho bovino tem sido maior em regiões que ainda possuem terras a serem exploradas como no Norte e Centro-Oeste, tendo a atividade bovina, seja para corte ou leite, crescido em função da incorporação de novas áreas de pastagens, e não devido à modernização e incorporação de novas tecnologias; à medida que uma região se desenvolve, a agricultura também se desenvolve ocupando áreas de pastagens e deslocando a pecuária para terras mais afastadas.

A intervenção estatal sofreu nova mudança no início da década de 80. Em

1980, foi criada a Secretaria Especial de Abastecimento e Preços (SEAP), que

assumiu as decisões quanto aos preços do leite. Em março de 1980, havia um

grande impasse entre o Governo e os produtores. Tratava-se dos reajustes dos

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preços do leite tipo C e também da qualidade do leite distribuído no mercado

consumidor (considerado nocivo à saúde), principalmente em São Paulo. O

Governo, aproveitando-se desse impasse, propôs a criação de um novo tipo de leite

denominado de “especial”, com teor de gordura de 3,2%. Além disso, o cenário

apresentava alguns problemas, tais como: produtores e indústrias requereram

reajustes pela defasagem em que se encontravam; faltavam estoques para suportar

o período de entressafra, havia acusações sobre a má qualidade do leite tipo C, e,

finalmente, a necessidade de controle do impacto do reajuste de preços sobre a

inflação (PAULILLO, 1991).

Na verdade, o principal objetivo do Governo era o controle inflacionário, pois

um aumento de 0,2% no teor de gordura de leite não aumentaria sua qualidade.

Esse leite “classe especial” saiu do mercado em dezembro de 1985, sendo um

motivo de comemoração por parte dos pecuaristas, que o culpavam pelos baixos

preços recebidos pelo leite.

Por diversas vezes, na década de 80, o Governo prometia melhorar a

remuneração dos produtores de leite, além de reestruturar o setor especializado na

produção, complementando a política de preços com assistência técnica e

estocagem de produtos lácteos. Mas essas medidas ficaram na promessa. E a

primeira grande oportunidade de liberação dos preços surgiu em 1981, no período

da entressafra, pois o país havia importado uma quantidade significativa de leite e a

produção nacional havia sido considerável, o que pressionava os preços para baixo.

Assim, em setembro de 1981 o Governo Federal resolveu liberar os preços do leite

para o consumidor, porém, os preços aos produtores continuavam os mesmos

(FLEURY, 1983).

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Como o preço do leite classe especial, pago aos produtores entre junho de

1980 e dezembro de 1985, só havia crescido 78% frente a uma inflação de 168%,

houve uma retração na oferta que culminou em escassez e o Governo teve que

recorrer novamente às importações (SILVA, 2001). Em 1986, o Governo importou

200.000 toneladas de leite em pó (integral e desnatado) e 700.000 toneladas de

matéria gorda, ou seja, manteiga e outros produtos. Essa importação ocorreu para o

atendimento da demanda crescente do Plano Cruzado. Em julho daquele ano, o

Governo voltou a conceder subsídios para a produção de leite tipo C.

Os subsídios foram retirados em poucos meses, pois no início de 1987 o

Governo incorporou-o ao preço do leite. Foram importadas 100.000 toneladas de

leite em pó e 30.0000 toneladas de matéria gorda. Mesmo com essas importações o

preço médio real do leite tipo C encerrou em 1987 em cerca de 20% maior do que

em 1986 (Revista Balde Branco, abril, 1989, p. 22).

No início de 1988, o Governo dispunha de um estoque remanescente de

importações de 45.000 toneladas de leite em pó desnatado e 26.000 toneladas de

matéria gorda e o segmento industrial reclamava do excesso de produto no

mercado. Isso não impediu a queda do preço médio real. O Governo articulou a

formação da Comissão Permanente do setor Leiteiro com o objetivo de apurar o

custo de produção do leite, tendo como base uma planilha aprovada pelos próprios

representantes dos produtores (PAULILO, 1991).

A partir daí começaram a surgir reajustes constantes. O reajuste dado pelo

Governo ao leite tipo C atingiu 85,08% em março daquele ano. Outra oportunidade

de liberação surgiu em junho de 1988, quando o Governo resolveu fazer um acordo

com os pecuaristas. Estes já não mais acreditavam no cumprimento do acordo e

ficaram temerosos com o livre mercado. Surgiram pressões regionalizadas. Em São

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Paulo, a Cooperativa Central de Laticínios protestava contra os constantes reajustes

de preços feitos mediante a planilha de custos do Governo. Diante desses vários

problemas, os pecuaristas e as empresas beneficiadoras terminaram a década de 80

da mesma forma como iniciaram, com altas importações de leite em pó e outros

produtos lácteos, promessas do Governo para a recuperação dos preços do leite

não cumpridas, filas de consumidores para a compra do leite pasteurizado,

queijarias pagando pela matéria-prima e tirando produtores das cooperativas e

consumidores dependentes do leite reidratado (PAULILLO, 1991).

Assim, no final dos anos 80 com a crise econômica pela qual o Brasil

passava, representada pelos elevados índices inflacionários, ocorreu uma retração

da demanda láctea, bem como diminuíram os recursos estatais à disposição da

pecuária de leite e de corte. Com a insuficiência da demanda houve retração da

produção, o que impediu o crescimento das bacias lácteas tradicionais do estado de

São Paulo, como a de Ribeirão Preto e a do Vale do Paraíba.

No ambiente institucional lácteo dos anos 80, ainda sob a ação estatal, a

questão da importação do leite em pó foi o aspecto mais relevante. Durante um

período que se inicia em 1980, o país passa a ser um grande importador lácteo,

principalmente da União Européia, Argentina, Austrália e Nova Zelândia. Naquela

década, a responsabilidade pelas importações era do Governo Federal que, depois,

repassava uma parcela para as indústrias e a outra era destinada para programas

sociais. As importações de leite em pó, manteiga e queijos eram realizadas para

minimizar as constantes crises de abastecimento na época da entressafra. Porém,

esse tipo de intervenção causou impactos negativos no mercado interno, já que os

produtos importados eram subsidiados nos países de origem, possuindo, portanto

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um preço menor, o que desestimulava a produção no período de entressafra e

também formação de estoques do produto no período da safra (WILKINSON, 1996).

Segundo JANK e GALAN (1998, p. 211):

Eternamente preocupado em controlar a inflação corrente na cesta básica, toda vez que previa falta de leite na entressafra o governo zerava alíquotas e promovia importações de leite em pó e outros produtos, subsidiados ou não, para abastecer o mercado. A regulação tradicional era feita pelo leite barato do safrista, pela reidratação deste leite em pó monopolizado pelo governo.

As definições intervencionistas do Estado e de suas agências públicas ligadas

à atividade láctea prejudicou em muitas vezes os produtores de leite. Assim, a

intervenção na atividade láctea, encabeçada pelo regime de tabelamento que durou

45 anos, apresentou seus efeitos negativos. Os principais foram a subordinação da

renda do produtor rural ao combate à inflação, a inviabilização da tecnificação do

setor, a dependência de importações, a predominância de uma oferta leiteira não-

especializada e a manutenção e fortalecimento do setor informal na produção leiteira

(WILKINSON, 1996).

O leite pasteurizado tinha seus preços tabelados para o consumidor e os

preços dos derivados eram controlados pela Comissão Interministerial de Preços.

Com relação à importação, esta era realizada apenas com permissão governamental

e fiscal do SIF (Serviço de Inspeção Federal), que ficavam na unidade industrial para

fiscalizar as condições higiênico-sanitárias. A justificativa para esse controle de

preços era:

[...] para proteger o produtor contra o oligopsônio da indústria, cujo poder de barganha era ampliado pela especificidade temporal do leite in natura. Ao mesmo tempo buscava-se dar prioridade para o abastecimento dos mercados de leite pasteurizado a preços considerados sociais, evitando o suposto poder de monopólio dos laticínios” (FARINA, 1996, p. 85).

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2.1.1 O Complexo agroindustrial lácteo e a auto-regulação nos anos 90: a

manutenção da heterogeneidade estrutural e tecnológica

O modo de intervenção estatal no complexo agroindustrial lácteo se rompeu

em 1990. A crise fiscal do Estado e a diminuição do seu poder político, a integração

dos capitais financeiro, industrial, comercial e agrário, o avanço das grandes

corporações transnacionais e o surgimento de novas formas de financiamento foram

os fatores mais importantes da ruptura que também afetou os demais complexos

agroindustriais constituídos no país (BELIK, 1997; PAULILLO, 2000).

O primeiro sinal de queda da participação do Estado no complexo lácteo foi a

eliminação de seu controle sobre as importações do leite em pó e, posteriormente, o

início da redução das tarifas. Com o passar do tempo, houve a liberação dos preços

pagos ao produtor e ao consumidor, além da retirada de fiscalização de dentro dos

laticínios, cabendo o controle higiênico-sanitário aos órgãos estaduais de defesa do

consumidor (FARINA, 1996).

Com a mudança do modo de intervenção da agropecuária brasileira veio o

processo de reestruturação agroindustrial láctea. A principal marca da passagem da

intervenção estatal láctea para a auto-regulação foi o fim do tabelamento dos preços

do leite tipo C, além da entrada de grandes empresas multinacionais e a passagem

do controle dos movimentos de importação de leite em pó do aparelho público para

o setor privado.

Com o estabelecimento da auto-regulação láctea no início da década de 90

vieram as conseqüências (HERRERA, 2001): a) preços pagos aos produtores com

grandes variações, dependendo da distância entre este e o mercado consumidor, do

volume de produção, da empresa que o adquire e também das condições do

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mercado final; b) aumento na seleção dos participantes do mercado; c) negociações

de preços mais complexas entre os agentes; d) a intensificação do fluxo lácteo entre

os países devido à abertura comercial, alterando a forma de concorrência entre as

empresas de cada nação como também a relação de produtores e firmas de

beneficiamento (grandes, médias e pequenas).

Com esses movimentos, a desestruturação das bacias leiteiras tradicionais do

estado de São Paulo era iminente. Primeiro, porque eram movimentos excludentes

para boa parte dos pecuaristas, pequenos, médios ou grandes. No caso de grandes

pecuaristas, porque muitos deles cresceram em produção e produtividade não

honrando as dívidas contraídas no sistema bancário nacional. Segundo, porque as

relações entre produtores e cooperativas singulares enfraqueceram-se ainda mais;

as grandes empresas privadas jogaram fortemente com suas estratégias de quase-

integração. Terceiro, porque a liberação das importações de leite em pó para os

agentes privados concedeu liberdade de atuação para os grandes grupos industriais

e varejistas buscarem fora do país os ajustes necessários para as suas ofertas no

mercado interno. E quarto, porque os programas sociais de distribuição de leite

foram se reduzindo (CAMPEÃO, 2004).

Entre 1988 e 1990, estes programas representaram 30% do leite C distribuído

no país, variando entre 1 e 2 bilhões de litros/ano e com pretensões de chegar à

meta de distribuição de 6 bilhões de litros em 1991. Mas já no ano de 2001 ocorreu

a finalização de vários programas sociais de distribuição de leite, como o Programa

Nacional do leite para Crianças Carentes e o Ticket Leite.

O maior impacto desse movimento ocorreu no Nordeste, pois a indústria

daquela região havia dobrado sua capacidade de processamento de leite

pasteurizado em 1986, quando foram lançados os programas sociais. Assim, a

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redução da demanda leiteira criou ociosidade e novas dificuldades para a indústria

láctea nordestina, além dos impactos nutricionais e sociais destrutivos para a

população infantil daquela região (WILKINSON, 1996).

O fim do tabelamento de preços afetou muito mais os pequenos pecuaristas,

provocando a marginalização de boa parte da categoria. O grande problema foi a

negociação entre pecuaristas e empresas de beneficiamento sobre a formação do

preço do leite, e também pelo fato de o pequeno produtor apresentar menor poder

de barganha frente à indústria. Apesar de existirem planilhas de custos de produção

e a Comissão Técnica da Pecuária Leiteira atuar como pretensa mediadora da

governança láctea nacional, inclusive pautada em mecanismos formais para

determinação do preço que seria pago aos produtores, a decisão final saía de

reuniões que ocorriam em cada estado administrativo e eram compostas

basicamente por grandes grupos industriais e produtores muito especializados

(FILGUEIRA; BELICK, 1999).

Outra questão problemática foi a da granelização da coleta de leite refrigerado

devido ao aumento da concorrência industrial. Segundo Jank e Galan (1998), para a

grande maioria dos produtores brasileiros a coleta a granel torna-se uma

preocupação, pois demanda investimentos e incremento na produtividade e muitos

não têm certeza de que os preços recebidos serão compensatórios para a cobertura

dos custos de produção e aumento de sua rentabilidade. Logo, é um fator de

exclusão de muitos produtores, levando à produção e à venda informal.

Já para as indústrias, a coleta a granel é uma medida que reduz os custos de

captação, possibilitando a eliminação de postos de resfriamento de leite, fazendo

com que a produtividade na fazenda se eleve (tornando possível a segunda

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ordenha) e permitindo que o leite chegue até a plataforma da indústria com melhor

qualidade.

A prática de produção de leite informal já ocorria no Brasil em várias

localidades, mas na década de 90 aumentou de maneira considerável. Entre 1990 e

1997, o mercado de leite informal cresceu cerca de 40%, passando de 4.875

milhões de litros para 8.172 milhões (JANK; GALAN, 1998, p. 201).

Para os produtores tecnificados cujas características principais são a

produção com maior escala e com menor sazonalidade, as empresas de laticínios

passaram a oferecer contratos de compra da produção com preços chegando a ser

o dobro da média e com prazos de até dois anos. Isso acirrou a concorrência entre

as firmas pelos fornecedores. A principal conseqüência foi a elevação dos preços

pagos para os grandes pecuaristas.

Mas, além desse movimento estrutural, que em última instância representa

marginalização de boa parte dos pecuaristas tradicionais que não conseguiram

acompanhar a modernização, outras transformações evidenciam o caráter

excludente da década de 90. No segmento final do fluxo agroindustrial lácteo

brasileiro, a concorrência do leite tipo B com o leite longa vida vem reduzindo

significativamente o preço do último e alterando a estrutura de mercado via

alterações no modo de consumo final (FARINA, 1996). Em 1982, havia nove firmas

produzindo longa vida e, em 1992, já havia dezoito. Nesse período o número de

marcas subiu de nove para vinte e três e a capacidade produtiva instalada subiu

para 655.320 mil litros (crescimento de 81,5%). Em 1991, o longa vida ocupava 5%

do mercado nacional de leite e o preço médio desse produto era 40% superior ao do

leite B e 80% superior ao do C. Em 1992, um ano depois, os preços mais baixos do

leite tipo longa vida já eram iguais aos do leite C (WILKINSON, 1996).

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É interessante ressaltar que na década de 80 o leite longa vida, devido ao alto

preço, era visto pela população como um produto superior no segmento de leite

fluido. Nos anos 90, a percepção da massa consumidora não se alterou. A alegada

praticidade do produto foi o fator mais relevante para alteração do modo de consumo

de leite no país, iniciado nos grandes centros urbanos. Além desse fator, os

consumidores, com a intervenção da propaganda, foram levados a aceitar que este

tipo de leite tem uma qualidade superior aos outros tipos, como o pasteurizado.

Entretanto, por traz dessa praticidade ao consumidor, o longa vida

representou o “[...] fortalecimento do poder dos super e hipermercados na

distribuição dos produtos lácteos, em detrimento das padarias e do pequeno

comércio” (JANK; GALAN, 1997, p. 14). Isso ocorreu porque estes estabelecimentos

passaram a operar com altíssimo giro de vendas e com margens mínimas de

comercialização.

Esse movimento no segmento de consumo final acabou por alterar a estrutura

do mercado industrial lácteo do país. O leite longa vida transformou-se no produto

regulador do sistema de preços, fazendo com que as redes varejistas e as grandes

empresas de beneficiamento dominassem a coordenação da governança láctea

nacional. Isso trouxe fortes impactos para as próprias bacias produtivas tradicionais,

pois:

[...] ao aproximar produtores distantes de grandes varejistas, o leite esterilizado acabou quebrando o equilíbrio das bacias leiteiras tradicionais que abasteciam mercados locais pulverizados em milhares de pontos de venda. A conseqüência não podia ser outra: uma guerra de preços sem precedentes, principalmente no grande varejo, transformou o longa vida no produto regulador do mercado de leite, substituindo o papel que era antes desempenhado pelo leite em pó reidratado na entressafra” (JANK; GALAN, 1997, p. 210).

A Tabela 2 mostra que o leite longa vida detinha em 1990 uma participação

de 4,4% no consumo total de leite fluido no Brasil e alcançou 58,3% em 1999. Já em

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1998 esse desempenho foi sentido, pois o volume total consumido de leite A, B, e C

foi de 2.245 milhões de litros (41,6%) e o longa vida foi de 3.150 milhões (58,4%), de

um total de 5.395 milhões de litros.

TABELA 2 – Consumo Brasileiro de Leite Fluido (milhões de litros)

Ano Longa vida Pasteurizado Total

Tipo A Tipo B Tipo C

1990 184 28 347 3.655 4.214

1991 204 34 445 3.245 3.928

1992 341 36 358 2.924 3.659

1993 386 48 433 2.245 3.112

1994 759 48 388 2.305 3.500

1995 1.050 55 460 2.432 3.997

1996 1.700 44 405 2.327 4.476

1997 2.450 40 360 2.120 4.970

1998 3.150 45 400 1.800 5.395

1999 3.500 50 450 2.000 6.000

2000 3.600 40 400 1.190 5.230

2001 3.950 45 420 975 5.390

2002 4.220 48 450 982 5.700

2003 4.227 50 430 1060 5.767

2004 4.403 55 460 1075 5.993

Fonte: Leite Brasil e ABLV (2005)

A Tabela 2 mostra que em 1997 o leite longa vida superou o leite tipo C no

consumo nacional. Este desempenho é mais uma comprovação de que esse

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produto tornou-se o elemento regulador de preços no complexo agroindustrial lácteo

brasileiro.

O leite tipo longa vida tornou-se símbolo do novo modo de regulação lácteo

nacional, em que o Estado e suas agências públicas retiraram-se das atividades

fundamentais de política pública.

As importações passaram a ser realizadas pelas grandes empresas que

importam leite e derivados para aumentar a variedade de produtos e por

empresários “sem fábrica”, que importam o produto para ganhar com os diferenciais

de preços, taxas de juros, de câmbio e de prazos de pagamento (JANK; GALAN,

1997, p. 211).

O crescimento da importação de leite no país oscilou muito durante os anos

90, mas desde 1995 supera a média de cerca de 2 bilhões de litros anuais, portanto

bem superior ao desempenho da primeira metade da década. A principal causa

deste crescimento foi a consolidação do plano de estabilização do Governo Federal,

desde julho de 1994. Nos primeiros anos do plano real, a queda da inflação causou

uma elevação significativa da demanda de leite e derivados. Entre julho de 1994 e

dezembro de 1997, o consumo de leite longa vida cresceu cerca de 340%, o de

iogurte em 162% e o de requeijão em 119%; no que se refere à redução de preços,

o longa vida sofreu redução de cerca de 6,3%, o requeijão 4,7% e o iogurte 1,9%

(BORTOLETO & CHABARIBERY, 1998). Mesmo as classes de menor poder

aquisitivo aumentaram o consumo médio de derivados lácteos (iogurtes, queijos,

petit suisses, leites fermentados e outros), pois desde a implantação do plano real o

consumo triplicou, passando de 1 kg per capita para 4 kg per capita. Porém,

comparando com outros países, o consumo ainda é muito baixo: na França o

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consumo é oito vezes superior e na Argentina e no Chile a demanda está entre 5 kg

a 7 kg per capita (JANK; GALAN, 1999).

O crescimento da demanda de produtos lácteos não só deve-se aos impactos

do plano real nos primeiros anos como também ao aumento da concorrência entre

as grandes empresas de beneficiamento. Nessa concorrência a principal ação

estratégica dos grupos empresariais foi a utilização dos canais de importação do

leite em pó e esterilizado ou longa vida.

No uso desses canais há a triangulação de produtos de origem externa ao

Mercosul, o que traz impactos negativos para a produção leiteira nacional. Isto é, no

Mercosul houve a queda de barreiras tarifárias para produtos lácteos entre os países

componentes (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). No entanto, os grandes grupos

empresariais que operam no Brasil utilizavam-se dessa regra para, através da

Argentina e do Uruguai, importarem leite em pó de nações produtoras que

apresentam subsídios em suas políticas agrícolas, como os países da União

Européia. Assim, o leite europeu entrava na Argentina graças à alíquota mais baixa

da Tarifa Externa Comum (TEC), sendo posteriormente transportado para o mercado

brasileiro, onde os lácteos figuravam na lista de exceções à TEC e não

apresentavam alíquota tão baixa como a da Argentina. E nesse jogo não estão

unicamente as grandes empresas, mas também os “sem-fábrica”, que importavam

basicamente leite em pó (YAMAGUCHI, 2001).

Nesse ambiente de auto-regulação, a questão que se coloca é a da

possibilidade do Governo Federal influenciar o desenvolvimento do complexo lácteo

por meio de alguma forma de intervenção no atual mecanismo de importação de

leite. Algumas ações governamentais existiram nesse sentido a partir de 1998. Após

as pressões exercidas pelas organizações de interesses dos segmentos

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agropecuário e industrial lácteo – Associação Brasileira dos Produtores de Leite

(Leite Brasil), Associação Brasileira dos produtores de Leite A (ABPLA), Associação

Brasileira das Indústrias de Leite Pasteurizado (ABILP), Confederação Nacional das

Cooperativas de Laticínios, Organizações Estaduais de Cooperativas e algumas

Federações Estaduais da Agricultura – o governo adotou algumas medidas de

minimização dos efeitos do dumping. As duas principais foram: 1) redução do prazo

de financiamento das importações de lácteos para um máximo de 30 dias e 2)

elevação da tarifa de importação para 33%, dependendo do tipo de produto

importado (BORTOLETO; CHABARIBERY, 1998).

A Tabela 3 apresenta alguma indicação da concentração industrial láctea

brasileira através da recepção anual de leite das quinze maiores empresas de

beneficiamento. Nos anos de 2001 a 2003, a recepção anual de leite oscilou, caindo

4,4%, o número de produtores caiu 17% e a produção média diária aumentou

12,8%. O volume total de leite captado por essas empresas representou 28,35% do

total de leite produzido no país em 1998, que foi de 19.327.000 mil litros. Em 1999

essas empresas captaram 27,71% do total da produção total nacional de 19.133.000

mil litros e, em 2000, captaram 28,71% da produção total de 20.090.000 mil litros.

Tomando como base o leite sob inspeção, verifica-se que a participação

destas empresas é ainda mais relevante. Em 2001, o total de leite inspecionado no

Brasil era de 10.932.000 mil litros, logo, a participação destas empresas no total foi

de 50,13%. Em 2002, o total de leite inspecionado no Brasil foi de 11.073.000 mil

litros, comparando com a captação do leite destas quinze empresas no mesmo ano,

tem-se uma participação de 47,9%. Em 2003 foram inspecionados 11.500.000 mil

litros de leite e a participação destas empresas foi de 49,20%.

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TABELA 3 – Maiores empresas de laticínios no Brasil - 2003

Recepção Anual de Leite (2) – (103 l) Número de produtores (3) Produção Média Diária (l/dia/produtor)

C 1 Empresas/Mar-cas

2001 2002 (4) 2003 (4) 2001 2002 2003 2001 2002 2003

1 DPA (5) 1.425.628 1.489.029 1.500.179 8.536 7.192 7.163 458 567 574

2 Parmalat (6) 941.490 947.832 840.000 15.300 12.605 10.350 169 206 222

3 Itambé 832.000 732.000 750.000 7.990 6.010 5.991 285 334 343

4 Elegê 782.141 711.335 671.780 31.282 28.665 27.676 69 68 67

5 CCL 367.213 268.385 309.540 8.191 4.512 6.402 123 163 132

6 Centro-leite 220.533 213.503 261.230 4.725 4.905 5.438 128 119 132

7 Leite Nilza 139.937 182.568 241.217 2.384 3.031 3.671 161 165 180

8 Batávia 225.659 165.276 232.311 6.820 6.529 5.111 91 69 125

9 Sudcoop 209.070 230.952 226.016 6.333 6.993 6.734 90 90 92

10 Danone 247.487 272.236 225.033 2.452 2.470 1.274 277 302 484

11 Embaré 180.081 192.378 218.687 3.203 2.884 4.413 154 183 136

12 Laticínios Morrinhos

207.031 210.572 191.782 7.299 4.990 3.128 78 116 168

13 Grupo Vigor 209.743 154.158 153.145 2.039 1.525 1.413 282 277 297

14 Líder Alimentos 220.000 163.766 129.177 7.035 2.807 2.634 86 160 134

15 Confepar 102.664 109.239 115.834 2.771 3.743 5.256 102 80 60

Total ---------------- 6.310.677 5.958.229 6.031.070 116.360 98.861 96.564 149 165 171

(1) Classificação base recepção no ano de 2003, (2) Não inclui compra de terceiros, (3) Posição em 31 de dezembro, (4) O total não inclui leite recebido pela DANONE da CCL devido à duplicidade, (5) Números referentes a compra de leite realizada pela DPA Manufacturing Brasil em nome da Nestlé, da Fonterra, da DPA Brasil e da Itasa, (6) Estimativa para o ano de 2003 Fonte: LEITE BRASIL (2004). CNA/Decon, OCB/CBCL e EMBRAPA/ Gado de leite.

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Com a mudança do ambiente institucional do complexo lácteo, que rompeu os

antigos acordos tácitos entre os laticínios quanto à divisão de mercados, houve uma

intensificação da concorrência pelos fornecedores que operam com maior escala

(FARINA, 1996, p. 98). Assim, produtores especializados ganharam preferência das

grandes empresas processadoras, passando a fazer parte de contratos entre

pecuaristas e grandes empresas lácteas.

As cooperativas de laticínios (singulares e centrais) sofreram intensamente

com a elevação da concorrência empresarial e a conseqüente concentração

industrial. Nos anos 80, eram nove grandes cooperativas centrais de laticínios

atuantes no país, em 1998 eram três (Paulista em São Paulo, a Cooperativa Central

do Produtores de Leite (CCPL) no Rio de Janeiro e a Itambé em Minas Gerais

(HERRERA, 2001). Diante da concentração e a elevada concorrência dos grandes

grupos empresariais, muitas cooperativas de laticínios encontraram dificuldades na

compra de insumos. Diante disso, passaram a pagar a seus cooperados preços mais

baixos do que os vigentes no mercado. Este processo atingiu com maior intensidade

as cooperativas do estado de São Paulo, pois em regiões de expansão láctea, como

o estado de Goiás, o movimento se inverteu (FIGUEIRA, 1999)).

As empresas multinacionais passaram a pagar preços mais altos pela

matéria-prima (leite) a produtores da região. Diante disto, as cooperativas,

impossibilitadas de pagar o mesmo preço, começaram a comprar leite em outros

Estados, mudando assim a logística de captação, o que causava o aumento do

custo final do produto. Assim, as cooperativas foram fechando e as empresas

multinacionais foram também adquirindo (integração horizontal) outras empresas

privadas nacionais.

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Esse aspecto é particularmente relevante quando se quer mostrar que, com

as transformações do modo de regulação láctea a partir de 1990, a heterogeneidade

estrutural e a tecnológica entre as regiões e bacias produtivas é mantida. Os

movimentos mais relevantes não permitiram reverter esse quadro estrutural. O fim

do controle de preços ao longo do fluxo agroindustrial (seja na relação entre

agropecuária e indústria, seja no consumo final), a abertura comercial e a

transferência do mecanismo de importação para o controle do aparato privado, o

aumento da concentração industrial, a presença dos “sem-fábrica” e a falta de

programas de política pública para estimular a modernização agropecuária foram os

movimentos fundamentais para a desestruturação de algumas bacias produtivas

tradicionais no estado de São Paulo.

2.1.2 Empresas Nacionais e Transnacionais do Setor Lácteo

As empresas privadas de laticínios subdividem-se em dois segmentos: as

empresas privadas nacionais e as empresas privadas transnacionais.

As empresas privadas nacionais são empresas que realizam atividades de

compra formal de matéria-prima, processamento e distribuição de derivados lácteos.

A atuação dessas empresas é voltada para produtos específicos e mercados

regionais, tanto no que se refere à coleta de leite quanto à comercialização de

produtos finais. O melhor exemplo deste tipo de empresa é a Vigor, que também

detém as marcas Leco e Flor da Nata (GALAN et al., 1998). Essas empresas

vivenciaram momentos difíceis nos anos 90, por conta do mais concorrido mercado

nacional de derivados lácteos e por sua menor disponibilidade financeira em relação

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às empresas de capital externo, quando muitas dessas empresas foram adquiridas

por empresas privadas transnacionais.

Já as empresas privadas de capital externo (transnacionais) assumiram

posição de destaque nos mercados mais dinâmicos e de maior valor agregado

produzindo produtos como iogurtes, sobremesas e “petit-suise” (WILKINSON, 1996).

A característica comum entre esses grupos empresariais é o fato de atuarem em

âmbito nacional e, às vezes, internacional, tanto na captação formal da matéria-

prima (controlada pelo SIF - Serviço de Inspeção Federal) quanto na

comercialização de produtos finais. Todas praticam atividades de compra de leite,

processamento do produto, fabricação e distribuição de produtos finais com marcas

nacionalmente reconhecidas (GALAN et al., 1998).

Conforme PORTER (1991), há quatro forças que afetam a concorrência em

uma indústria:

1) Ameaça de novos entrantes: a abertura comercial e a implantação do

Mercosul permitiram a entrada de produtos lácteos de outros países no

mercado brasileiro, reduzindo assim as barreiras utilizadas pela indústria de

laticínios brasileira. Dessa forma, empresas estrangeiras, principalmente

argentinas e uruguaias, passaram a competir com produtos lácteos

brasileiros. Como exemplo de tal situação pode-se considerar o caso da

Conaprole (uruguaia), da Sancor e da Mastellone (argentinas) que

disputaram o mercado de derivados lácteos com empresas brasileiras. Além

disso, a liberação comercial desencadeou a expansão do número de

empresas importadoras também chamadas de “empresários sem fábrica”.

2) Ameaça de produtos substitutos: alguns derivados lácteos, entre os quais

manteiga, iogurtes e sobremesas lácteas, sofrem concorrência de outros

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produtos substitutos não lácteos como margarina, sucos de frutas e

sobremesas que não têm o leite como base. O caso mais característico

deste tipo de concorrência refere-se à existente entre manteiga (produzida à

base de leite) e margarina (produzida a partir de gordura vegetal). As

empresas que produzem margarina adotaram intensas estratégias de

marketing e passaram a vender o produto a preços mais baixos na década

de 90, conseguindo assim tomar significativas parcelas de mercado da

manteiga. Começa a se observar também a entrada no mercado de

produtos lácteos derivados de leite de outras espécies que não a bovina, a

exemplo de queijo de leite de búfala e leite de cabra (Panorama Setorial,

19997). Para concorrer com produtos substitutos, as indústrias de laticínios,

principalmente as empresas privadas transnacionais, estão desenvolvendo

produtos lácteos para atrair novos consumidores. Esse é o caso do Ômega

3 e o Parmalat Zyimil desenvolvidos pela Parmalat. O primeiro produto, de

acordo com o fabricante, ajuda a prevenir doenças cardiovasculares. O

segundo é dirigido a pessoas que têm intolerância ao açúcar natural do

leite, a lactose (“Parmalat e Nestlé investem no mercado de leite

funcionais”- GAZETA MERCANTIL, 27 de maio de 1999).

3) Poder de negociação dos fornecedores: a desregulamentação de todos os

preços na cadeia produtiva do leite e a liberalização das importações

provocaram dois importantes impactos no que se refere aos fornecedores.

O primeiro diz respeito à competição no elo industrial da cadeia produtiva do

leite, que se reflete na relação das empresas privadas e cooperativas de

produtores de leite. Nesse sentido, intensifica-se a disputa pelo grande

produtor rural, permitindo ganhos de escala na captação de leite. O segundo

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impacto refere-se à redução dos preços reais pagos aos produtores rurais

de leite. Tal redução nos preços reais serviu como fator catalisador para a

maior articulação de produtores em torno de associações em defesa dos

produtores de leite, como a SOS Leite, a Leite Brasil e a CNA

(Confederação Nacional da Agricultura). O objetivo principal dessas

associações tem sido pressionar o governo federal para inibir as práticas

desleais de comércio embutidas nos produtos lácteos importados, como os

subsídios, o que contribui para depreciar os preços do produto nacional.

Outra bandeira dessas associações é reivindicar providências quanto à

expansão do mercado informal de leite e derivados lácteos, que concorre de

forma desleal com os produtores formais ao não recolherem impostos e

deixarem de investir para se adequar às exigências sanitárias.

4) Poder de negociação dos compradores: no caso da indústria de laticínios, a

disseminação da produção e o consumo do leite longa vida também

provocaram mudanças nos canais de distribuição utilizados para escoar

esse produto. O maior prazo de validade e a possibilidade de ser estocado

em temperatura ambiente favorecem a sua comercialização nos

supermercados, que assumem papel essencial na distribuição desse tipo de

derivado lácteo em detrimento das padarias, essenciais para a distribuição

de leite pasteurizado (CAMPEÃO, 2004).

Segundo SCALCO (2004) alguns técnicos discordam que a esterilização,

processo utilizado para a produção do leite longa vida, seja sinônimo de qualidade,

já que elimina micro-organismos maléficos e benéficos apresentados no leite,

acreditando assim, que o processo de pasteurização seria suficiente. JANK (1995)

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diz que nos EUA há leite pasteurizado de alta qualidade, que dura doze dias na

geladeira.

Mesmo o mercado de leite pasteurizado, caracterizado por pouca rivalidade

no período de intervenção, tornou-se mais competitivo. Diversas marcas de leite

pasteurizado de várias regiões passaram a concorrer entre si na disputa por maior

participação no mercado.

Houve também a aceleração do processo de aquisição liderada por empresas

privadas, principalmente as transnacionais, que dominam o processo de

concentração da indústria de laticínios no Brasil. O processo de aquisição permitiu

às empresas privadas ampliarem sua base de captação e criarem possibilidade de

expandir a escala de produção visando reduzir os custos de produção e atender o

mercado nacional. Como resultado das fusões e aquisições houve maior

concentração da indústria de laticínios no país, pois tanto grandes quanto pequenos

laticínios privados nacionais, e algumas cooperativas, foram incorporados por

empresas privadas transnacionais (HERRERA, 2001).

No Quadro 1 é ilustrado o processo de fusões e aquisições que vem

ocorrendo no Brasil desde a década de 90. Observa-se que a Parmalat e a Nestlé

foram as empresas transnacionais que adotaram as mais agressivas políticas para

tanto. Os dados desta tabela indicam que as empresas transnacionais dominam os

processos de fusões e aquisições, sendo que as exceções foram: a Vigor/Leco que

adquiriu a Flor da Nata em 1990; e a Avipal que adquiriu a CCGL. A tendência mais

evidente, da concentração da indústria de laticínios, é percebida principalmente pelo

fato de as dez maiores empresas do setor controlarem 53% da captação de leite sob

inspeção federal e as três de maior porte exercerem controle sobre 31% desse leite.

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QUADRO 1 - Fusões e aquisições de empresas lácteas no Brasil

Compradora Período Empresa adquirida

Parmalat (italiana) 1990 1991 1992

1994 1996 1998

Alimba (BA), Teixeira (SP) e Via Láctea (SP) Supremo (MG), Aloha (RJ) e Snata Helena (GO) Go-gó, unidade de Mococa e Santa helena (GO) e Planalto (RJ). Lacesa (RS)Clipe , Ouro preto e Silvania Bethânia Batavo (PR)

Nestlé (Suíça) 1991 1993

CCPL, unidade de Teófilo Otoni (MG) Adquiriu quatro fábricas de queijo e manteiga da SPAM localizadas em Nova Venécia (ES), Medeiros Neto (BA), Nanuque (MG) e Rialma (GO).

Grupo Mansur (Vigor/Leco)

1990 Flor da Nata (SP)

Fleischmann (americana) 1995 Avaré (SP), Gums (SP)

Avipal (brasileira) 1995 CCGL (RS)

La Serenísima (argentina) 1996 Leite Sol (SP)

Milkaut (argentina) 1998 Ivoti (RS)

Royal Numico (holandesa)

1999 Mococa

Perez Companc (argentina)

1999 Queijo Minas

Fonte: Adaptado de FIGUEIRA (1999).

É importante destacar que as informações obtidas apóiam a hipótese de que

o mercado de leite no Brasil no segmento industrial possui, efetivamente, a estrutura

de um oligopólio, no qual existe um core de empresas líderes e uma franja de

pequenas e médias seguidoras.

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Com respeito à disponibilidade financeira, as empresas do tipo – empresa

privada transnacional, empresa privada nacional e pequenos laticínios – no elo

industrial da cadeia produtiva do leite no Brasil apresentam realidades distintas: as

empresas privadas transnacionais são empresas com maior fôlego financeiro por

conta de suas atividades em vários países, o que lhes garante maior receita, e

também pela facilidade de captação de recursos em mercados internacionais, com

juros menores dos que os praticados no Brasil. Esse maior fôlego financeiro permitiu

que as empresas privadas transnacionais adquirissem inúmeras empresas privadas

nacionais e pequenos laticínios (HERRERA, 2001).

A descentralização e o fortalecimento das representações locais oferecem

uma nova perspectiva para o desenvolvimento rural. Permitem um enfoque regional

que leva em consideração as dimensões espaciais do desenvolvimento e o

delineamento de soluções localmente compatíveis. Em complemento, entidades do

governo local podem se constituir na força motora dos esforços de desenvolvimento

(CAMPANHOLA ; GRAZIANO DA SILVA, 2000a).

2.2 Caracterização Geral do Complexo Agroindustrial Brasileiro

O termo Complexo Agroindustrial foi utilizado por ALBERTO PASSOS

GUIMARÃES (1979), para demonstrar a integração “técnico-produtiva” existente a

montante e a jusante entre os setores industrial e o agrícola. Guimarães trouxe a

noção de “tesoura de preços”, no qual os produtores ficam subordinados a montante

à indústria fornecedora de insumos, máquinas e equipamentos e também fica

subordinado a jusante à indústria processadora que fixa preços e quantidades a

serem demandadas. Assim, a noção de complexo agroindustrial de GUIMARÃES

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(1979) enfatiza a subordinação que há do produtor à indústria, e que isto contribui

para a diminuição da renda dos produtores.

O Complexo Agroindustrial Lácteo brasileiro é caracterizado por uma grande

heterogeneidade estrutural e tecnológica. Essa heterogeneidade poderia ser

justificada pela grande dimensão territorial do país. Entretanto, elementos da cultura

local, certas convenções regionais e as expectativas econômicas e sociais

diferenciadas dos atores fazem com que em uma mesma região exista os mais

diversos sistemas de produção e manejo do rebanho, além do perfil do produtor de

leite ser bem diferenciado em escala de produção, nível tecnológico e capacidade

organizacional.

O Brasil é o sexto maior produtor de leite do mundo, tendo uma participação

de 4,3% no volume mundial, como demonstra a Tabela 4, sendo superado pelos

Estados Unidos com 15,0% de participação no volume mundial; pela Índia com

7,3%, Federação Russa com 6,5%; Alemanha com 5,4% e França com 4,7%. Vale

destacar que entre os seis maiores produtores mundiais, três são países periféricos:

Brasil, Índia e Federação Russa.

Apesar de toda esta importância, o consumo de lácteos no país vai à

contramão do consumo de outras bebidas. As despesas mensais dos domicílios

brasileiros com bebidas foi de 7,2% em 1987, para 10% em 1996. Já as despesas

com leite e derivados passou de 15,5% em 1987 para 14,4% em 1996 (IBGE, 1996).

Em 2001 o consumo de leite no Brasil foi de 124 litros per capita. Isso representou

20% de todas as bebidas neste ano, que teve como destaque os refrigerantes com

39% do consumo e a cerveja com 29% (LEITE BRASIL, 2002).

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TABELA 4 – Classificação dos países produtores de leite - 2004

Países Produção de leite (mil/ton) Percentual total

1° Estados Unidos 77.565 15,0

2° Índia 37.800 7,3

3° Rússia 30.850 6,5

4° Alemanha 28.000 5,4

5° França 24.200 4,7

6° Brasil 23.320 4,5

7° Nova Zelândia 14.780 2,9

8° Reino Unido 14.600 2,8

9° Ucrânia 13.700 2,7

10° Polônia 12.400 2,4

11° Itália 10.730 2,1

12° Holanda 10.700 2,1

13° Austrália 10.377 2,0

14° México 9.950 1,9

15° Argentina 8.100 1,6

Outros países 188.765 36,6

Total 515.837 100

Fonte: Leite Brasil (2004)

Conforme pode ser visto na Tabela 5, há um grande potencial de mercado

consumidor ainda a ser explorado, o qual necessitaria de políticas de incentivos e

uma divulgação mais ampla da importância do leite para a saúde humana.

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TABELA 5 – Demanda da Produção de Leite no Brasil – 2000

Recomendações População Demanda

Faixas de idade l/ano 2000 (milhões l/ano)

Crianças (até 10 anos) 146 32.918.055 4.806

Adolescentes (10 a 19 anos)

256 35.287.882 9.034

Adultos (20 a 60 anos) 219 95.239.239 20.857

Idosos (maiores de 60 anos)

219 6.353.994 1.392

Total 169.799.170 35.658

Fonte: EMBRAPA GADO DE LEITE (2002)

A produção brasileira de leite tem como característica a sua regionalização

(CAMPEÃO, 2004). É o que pode ser observado na Tabela 6, que representa a

distribuição percentual da produção de leite nas regiões brasileiras entre 1970 e

1999.

TABELA 6 – Distribuição percentual da produção leiteira nas cinco regiões do Brasil

(1970 - 1999)

Ano Norte % Nordeste % Sudeste %

Sul % Centro-oeste %

1970 0,7 13 53,7 24,8 7,8

1975 0,6 13 56,9 22 7,5

1980 1,3 14,1 50,8 23 10,8

1985 2,2 13 50,5 22,1 12,2

1990 3,8 14,1 47,8 22,5 11,7

1995 4,10 11,26 46,39 24,2 14,01

1999 4,34 12,07 44,05 24,9 14,57

Fonte: Anuário Estatístico, 1972-1991 in ZOCCALA, 1994 e Anualpec 2000.

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Verificam-se os primeiros sinais de redução na participação das regiões

tradicionais na produção leiteira e o aumento na produção de leite nas regiões Norte

e Centro-Oeste, fruto da expansão da fronteira agrícola e de incentivos para a

produção nas duas regiões.

A região Sudeste é a maior produtora de leite do Brasil, conforme Tabela 7.

Esta região detinha o maior efetivo do rebanho bovino leiteiro do país até 1985. Seu

rebanho começou a se formar em meados da década de 30, com a entrada de

animais reprodutores da raça indiana, principalmente nos estados de São Paulo e

Minas Gerais. Os produtores de leite e carne tentaram naquela época introduzir

rebanho de raça européia, mas o clima tropical predominantemente no país e na

região em questão, inviabilizou essa iniciativa (FARINA, 1996).

TABELA 7 – Produção de Leite na Região Sudeste (1970 – 2003)

Estados 1970 1980 1990 1995 1999 2003

Minas Gerais

2.356.149 3.218.337 4.290.800 4.762.543 5.801.063 6.320.000

São Paulo 1.331.984 1.844.122 1.960.781 1.981.843 1.913.499 1.785.000

Rio de Janeiro

369.078 360.084 390.304 432.380 457.736 449.000

Espírito Santo

2169.937 246.164 281.416 362.696 367.903 379.000

Sudeste 4.277.148 5.668.707 6.923.301 7.539.462 8.540.201 8.943.000

Total Brasil

7.947.378 11.162.245 14.484.412 16.474.353 19.070.035

Fonte: Leite Brasil, 2004

Das 277.123.000 Unidades de Produção Agropecuária – UPAs existentes no

estado de São Paulo, 217.192.000 possuem pastagens, o que representa 78,6% do

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total das UPAs (FERREIRA et al., 1999). A seguir apresenta-se Mapa 1 com a

distribuição do gado leiteiro no estado de São Paulo.

O agronegócio do leite tem algumas importantes diferenciações quando se

trata do estado de São Paulo. Segundo dados do IBGE (2000), trata-se do maior

consumidor de leite e derivados do país, com 22% da população. Embora seja o

maior mercado consumidor, a posição nacional caiu do quarto lugar em 2000, para o

quinto lugar em 2001.

Mapa 1 – Mapa da Agricultura Paulista - Distribuição do Gado de Leite. Fonte: CATI (2005)

A taxa de crescimento do consumo de leite longa vida no Brasil é a mais

expressiva de todo o setor leiteiro. No período de 1988 a 93, segundo dados da

SUNAB (2005), o consumo de leite longa vida cresceu, em média, 25% ao ano. Tal

crescimento tem muito a ver com o mercado do estado de São Paulo, que é o maior

do país, mas tem pouco a ver com a produção de leite do estado, onde existem as

menores taxas de crescimento do Brasil. A conclusão é óbvia: o consumo do leite

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longa vida cresce mais em São Paulo com leite proveniente de outras regiões do

país, ou até mesmo de outros países. Atualmente, o abastecimento do leite longa

vida na grande São Paulo é feito assim: 16% leite consumido é produzido no estado

de São Paulo e 84% é produzido fora do Estado.

Segundo HERRERA (2001, p. 127), a EDR de Araraquara pertence à Bacia

Leiteira de Ribeirão Preto e tem a sua área constituída por 23% de pastagens, 17%

de culturas perenes, 36% de semiperene e 24% de outras. Ainda, segundo a autora,

existem alguns fatores estruturais que afetam esta bacia leiteira: a) atividade

primária pulverizada; b) falta de assistência técnica na produção e industrialização;

c) insuficiência da inspeção sanitária; d) distorções contratuais entre empresas

privadas e produtores que causam verdadeiros subsistemas com pagamentos

diferenciados; e) falta de linha de financiamento para a produção agropecuária e f)

produtores que comercializam leite clandestinamente.

Entre 1990 a 2002, o EDR de Presidente Venceslau teve a produção de leite

incrementada em 232,2%; EDRs de Bragança Paulista, Pindamonhangaba,

Araraquara, Araçatuba e General Salgado, em 80,8%, 66,1%, 56,5%, 44,2% e

42,4%, respectivamente, sendo considerados percentuais acima do total do estado,

que foi de 13,9% no mesmo período (CAMPEÃO, 2004).

Ainda segundo o mesmo autor, com relação à produtividade, mediu-se

indiretamente o rendimento por região produtora, em 2002, considerando-se o

volume de leite produzido pelo total de cabeças do rebanho bovino. O rendimento

físico médio do Estado foi de 314,8 litros por cabeça. A EDR de Araraquara

apresentou o melhor rendimento físico, com 943,5 litros por cabeça. A Tabela 8

demonstra a produção de leite nas dez EDRs que mais produzem leite no estado de

São Paulo.

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TABELA 8 – Produção de leite por tipo, segundo os dez principais Escritórios de

Desenvolvimento Rural (EDR), Estado de São Paulo, em 2002 e posição em 1990-

92.

Ano C 1 EDR Tipo A

(%)

Tipo B

(%)

Tipo C

(%)

Total (1.000 l/ano)

Var. (%) (2002/ 1990-

92)

2002 1990-92

Pindamonhangaba --------

31,9

59,0

68,1

41,0

159.841

96.221

66,1

2002 1990-92

São José do Rio Preto

0,7 2,0

0,1

97,3

99,9

130.649

101.795

28,3

2002 1990-92

General Salgado --------

1,4

0,0

98,6

100,0

109.012

76.579

42,4

2002 1990-92

Guaratinguetá --------

37,4

55,3

62,6

44,7

96.756

90.891

6,5

2002 1990-92

Araçatuba 0,4 2,1

0,3

97,5

99,7

93.971

65.162

44,2

2002 1990-92

Araraquara 4,9 36,8

56,7

58,3

43,3

92.990

59.433

56,5

1 Classificação. Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados da IEA/CATI

Em pesquisa realizada por HERRERA (2001) com seis produtores

clandestinos (um médio produtor e cinco pequenos produtores), na bacia leiteira de

Ribeirão Preto, foi constatado que eles movimentam 715 litros/leite/dia, sendo que o

lucro obtido na comercialização do leite cru é praticamente o dobro do recebido

pelos fornecedores das cooperativas de laticínios, e que, portanto, estavam mais

satisfeitos com a atividade. Estes produtores encontram demanda no mercado

devido principalmente à falta de informação nutricional dos consumidores

(principalmente famílias de baixa renda e pessoas idosas).

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A diferença básica entre o leite formal e informal é a presença, ou não, da

inspeção sanitária e higiênica do governo. O mercado formal está sob inspeção,

enquanto o informal não está. A comercialização no mercado formal é feita por meio

de cooperativas ou indústrias particulares que, em geral, são fiscalizadas, quanto ao

controle de qualidade e ao recolhimento de impostos. O mercado informal,

praticamente, não é fiscalizado, nem quanto ao controle de qualidade nem quanto

ao recolhimento de impostos. Este mercado funciona de diversas maneiras, desde a

venda em domicílio de leite cru, até a venda a pequenos e médios varejos (GOMES,

2001).

A Tabela 9 ilustra a evolução da produção formal, comparada com a informal

de leite e derivados no período de 1980-2000.

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TABELA 9 – Produção total formal e informal de leite no Brasil 1980 e 2002 (milhões

de litros)

Período Produção total

Produção sob

inspeção

% sob inspeção

Leite informal e autoconsumo

(1)

% leite informal e auto-consumo/total

1980 11.162 7.728 69% 3.434 31%

1981 11.324 8.400 74% 2.924 26%

1982 11.461 8.126 71% 3.335 29%

1983 11.463 8.585 75% 2.878 25%

1984 11.933 8.887 74% 3.046 26%

1985 12.846 8.834 69% 4.012 31%

1986 12.492 8.698 70% 3.794 30%

1987 12.997 10.037 777% 2.960 23%

1988 13.522 10.262 76% 3.260 24%

1989 13.095 10.135 77% 2.960 23%

1990 14.484 10.747 74% 3.737 26%

1991 15.079 10.413 69% 4.666 31%

1992 15.784 10.700 72% 4.084 28%

1993 15.591 9.146 59% 6.445 41%

1994 15.784 9.441 60% 6.343 40%

1995 16.474 10.577 64% 5.897 36%

1996 18.515 11.366 61% 7.149 39%

1997 18.666 10.558 57% 8.108 43%

1998 19.327 10.932 57% 8.395 43%

1999 19.133 11.073 58% 8.060 42%

2000 20.090 11.500 57% 8.590 43%

2001 20.510 13.213 64% Não relatado ----------

2002 21.643 13.221 61% Não relatado ----------

(1) Calculado por diferença. Fonte: Produção total, IBGE 1980-97 e CNA/ Leite Brasil 1998-2002. Produção sob inspeção, IBGE.

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Mais de 250 enfermidades diferentes são causadas por alimentos

contaminados. As enfermidades transmitidas por alimentos (ETA) são definidas

como síndromes originadas pela ingestão de alimentos e/ou água que contenham

agentes etiológicos (causadores de doenças) em quantidades tais que afetem a

saúde do consumidor individualmente ou em grupos de população. As ETAs mais

comuns são causadas por bactérias, tais como Campilobacter jejuni, Clostridium

perfringens, Listeria monocytogenes, Salmonellas, Estafilococos aureus, Shigella,

Vibrio vulnificus, Yersinia enterocolitica, Escherichia coli enterohemorrágica;

parasitas como Toxoplasma gondii, Cysticercus bovis, Trichinella spiralis e vírus

como o da Hepatite A e Norwalk (SACLACO, 1999). São caracterizadas por

infecções sintomáticas com quadros de diarréia, vômito, mal estar, dores

abdominais, cefaléia, desidratação, podendo levar também à morte.

A participação do leite informal na produção total do país foi de 31% em 1980.

No ano de 1990, esta participação foi de 26% e em 2000, segundo dados estimados

pela CNA/Leite Brasil, foi de 43%. Ou seja, houve principalmente entre 1990 e 2000

uma elevação considerável da comercialização do leite informal no Brasil. Segundo

AMARAL (2001) o problema poderia ser solucionado por meio de uma fiscalização

mais intensiva por parte dos órgãos governamentais, dado que o consumo de leite

sem nenhum tipo de controle de qualidade contribui para o aumento de doenças.

Este fato é preocupante, pois com o crescimento da produção de leite

informal, cresce o consumo de produtos clandestinos pela classe de baixa renda,

que são produtos não fiscalizados pelo governo, seja Municipal, Estadual ou

Federal. Isso indica que a população brasileira está, cada vez mais, consumindo

produtos de baixa qualidade, podendo assim comprometer a sua saúde. Além disso,

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confere impacto negativo ao setor, pois tende a provocar o comportamento

oportunista e a ruptura de relações contratuais estáveis (FARINA et al., 2001).

O descontentamento dos pecuaristas, com os preços pagos e suas

dificuldades na negociação láctea, impulsionou o surgimento das mini-usinas de leite

na bacia leiteira de Ribeirão Preto, envolvendo também a EDR de Araraquara

(BORTOLETO et al., 1997). A média de preço pago aos produtores pelo litro de leite

tipo C, no ano de 2003, ficou entre R$ 0,47 e R$ 0,59; no ano de 2004 ficou entre R$

0,40 a R$ 0,67 e em 2005 ficou entre R$ 0,40 e R$ 0,56. No período da entressafra,

ainda no ano de 2005, o preço pago ao produtor está entre R$ 0,43 e R$ 0,49

(LEITE BRASIL, 2005). Dois fatores são considerados responsáveis para este novo

cenário. O primeiro mostra claramente, o aumento da oferta diária de leite de junho

para julho nos principais estados produtores e o segundo é o crescimento das

importações. No Rio Grande do Sul e em São Paulo, por exemplo, o volume captado

aumentou 4,7% em julho, no Paraná, 2,1% e, em Minas Gerais, um pouco menos,

1,3%. Já em Goiás, o volume diário captado chegou a diminuir 2,1%, mas os preços

também sofreram influência dos outros Estados (CEPEA, 2005). As quedas mais

significativas do preço do leite pago ao produtor no mês de julho foram observadas

no Paraná (-7,9%), em São Paulo (-6,6%) e em Goiás (-6,3%).

A análise regional das cotações mostram ainda que, nos estados do Rio

Grande do Sul, Paraná e São Paulo, os pequenos produtores sofreram recuos

maiores que os grandes ofertantes. A queda dos preços mínimos (em geral, pago

aos pequenos produtores) foi na média dos três estados de 10,25%, enquanto que a

queda dos valores máximos (grandes produtores) se limitou a 4,12% (CEPEA,

2005). A Tabela 10 demonstra o valor do litro de leite tipo C pago ao produtor no

mês de julho/2005.

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A partir de 1990, o Ministério da Agricultura delegou a fiscalização sanitária

aos estados e municípios. O SIF (Serviço de Inspeção Federal) perdeu espaço para

o SISP (Serviço de Inspeção do estado de São Paulo) e o SIM (Serviço de Inspeção

Municipal). Estes serviços de inspeção certificam as mini-usinas com um selo,

garantindo que o produto fabricado está dentro das especificações exigidas. No

entanto, esses serviços apresentam disfunções relevantes, sendo elas (HERRERA,

2001): a) material humano e tecnológico precários; b) inexistência em muitos

municípios; c) falta de coordenação e desconhecimento das prefeituras sobre o setor

lácteo.

TABELA 10 – Preços pagos e recebidos pelo produtor - Leite tipo C

(R$/litro) Julho - 2005

Preço Bruto – Inclusos Frete e INSS

Preço Líquido

Var (%) Bruto

Var (%) Líquido

UF Mesorregião Máximo Mínimo Médio Médio Jun/Jul Jun/Jul

Noroeste 0,6192 0,4859 0,5541 0,4989 -2,2 -3,4

Noroeste 0,5800 0,4400 0,5600 0,4900 -5,2 -8,2

Metropolitana Porto Alegre

0,5821 ,04552 0,5470 0,4338 -0,8 -0,4

RS Média

Estadual - RS 0,6114 0,4769 0,5533 0,4985 - 2,4 -4,0

Centro Oriental

Paranaense

0,6196 0,4321 0,5684 0,5160 -10,0 -11,9

Oeste Paranaense

0,5720 0,4219 0,4980 0,4804 -8,8 -4,3

Norte Central Paranaense

0,5683 0,4583 0,5027 0,4427 -9,7 -12,0

PR

Média Estadual - PR

0,5820 0,4432 0,5214 0,4832 - 7,9 -7,4

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(R$/litro) Julho - 2005

Preço Bruto Inclusos Frete e INSS

Preço Líquido

Var (%) Bruto

Var (%) Líquido

UF Mesorregião Máximo Mínimo Médio Médio Jun/Jul Jun/Jul

São José do Rio Preto

0,6185 0,4390 0,5721 0,5324 -8,7 -11,1

Macro Metropolitana

Paulista

6552 0,4465 0,5969 0,5614 -3,7 -1,3

Vale do Paraíba Paulista

0,5757 0,4999 0,5497 0,4981 -4,2 -6,1

SP

Média Estadual - SP

0,6245 0,4905 0,5820 0,5454 -6,6 - 6,4

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba

0,6301 0,5038 0,5834 0,5493 -4,2 -3,8

Sul/Sudoeste de Minas

0,6172 0,5108 0,5723 0,5269 -1,2 4,2

Metropolitana de Belo

Horizonte

0,6683 0,5677 0,6129 0,5779 1,6 1,4

MG

Média Estadual -

MG

0,6260 0,5183 0,5827 0,5472 -1,3 - 0,2

Centro Goiano

0,6209 0,5168 0,5988 0,5647 -2,7 -4,9

Sul Goiano 0,5782 0,4948 0,5474 0,5106 -8,7 -7,9

GO

Média Estadual -

GO

0,5948 0,5034 0,5674 0,5316 -6,3 - 6,7

Centro Sul Baiano

0,5500 0,4759 0,5029 0,4414 2,7 4,3

Sul Baiano 0,5921 0,4378 0,5128 0,4844 -1,9 -0,07

BA

Média Estadual - BA

0,5586 0,4461 0,5003 0,4559 0,3 1,6

Média nacional

0,6126 0,4941 0,5675 0,5284 -4,3 - 4,17

Fonte: Cepea/Boletim do Leite (2005) Notas: Preço bruto é pago pelos laticínios/cooperativas, e preço líquido, o efetivamente recebido pelo produtor. Os valores acima são médias ponderadas.

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Segundo pesquisa realizada por HERRERA (2001) na bacia leiteira de

Ribeirão Preto, o SISP e o SIM são muito falhos, porque a freqüência da fiscalização

não se mantém. A restrição de profissionais e a falta de articulação das Prefeituras

municipais com a Secretaria da Agricultura do estado de São Paulo e os Escritórios

de Desenvolvimento Rural (EDRs), potencializam uma heterogeneidade na própria

inspeção, já que na região existem mini-usinas fiscalizadas por períodos

diferenciados (quinzenal, bimestral ou semestral).

O Governo Federal abandonou os programas sociais de distribuição de leite a

partir de 1990. Porém, na cidade e no estado de São Paulo, existem dois programas

de distribuição denominados respectivamente “Leve Leite” e “Viva Leite”. Estes dois

programas têm o potencial de demandar 20% do leite produzido no Estado

(FONSECA, in MilkPoint, 28/07/2000).

Os programas sociais envolvendo leite, além de minimizarem os problemas

sociais estimulam a atividade leiteira diminuindo assim problemas de exclusão de

produtores e de aumento de desemprego no setor rural. Assim o Quadro 2

demonstra algumas características dos dois programas (FONSECA, 2000). Do ponto

de vista social, os dois programas atendem diretamente a 1.570.000 crianças

carentes, que necessitam deste produto para seu desenvolvimento.

Analisando os dois Programas do ponto de vista de incentivar a produção de

leite no estado de São Paulo, apenas o Programa Viva Leite é bem visto pelos

produtores, pois todos os dez milhões de litros de leite/mês demandados são

provenientes de produtores nacionais. Já o Programa da Prefeitura de São Paulo

distribui leite em pó integral e nem sempre este produto é oriundo da produção

nacional, sendo muito mal visto pelos produtores e especialmente pelos produtores

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paulistas, pois o leite vindo de outros países pode vir (como já foi comprovado pelos

organismos nacionais) com prática de dumping.

Em se tratando de qualidade, o leite distribuído pelo Viva Leite, mesmo

sendo leite pasteurizado tipo C, pode ser considerado de melhor qualidade para o

consumo das crianças, pois é acrescido de vitamina A e Ferro. Já o leite distribuído

pela Prefeitura de São Paulo, pode ser considerado de qualidade inferior, pois não

há garantias de que a água utilizada para dissolver o produto seja de boa qualidade

(HERRERA, 2001).

QUADRO 2 – Programas Sociais de Distribuição de Leite para Crianças, Executados pelo Governo de Estado de São Paulo e pela Prefeitura Municipal de São Paulo

Itens Programa Viva Leite (estado de São Paulo)

Programa Leve-Leite (prefeitura de São Paulo)

Público Alvo Famílias com renda até dois salários mínimos e que tenham crianças entre 6 meses e 6 anos.

Crianças que freqüentam a rede municipal de ensino e que tenham freqüência escolar acima de 90% no mês.

Tipo de leite empregado no programa

Leite fluido tipo C aditivado com vitamina A e Ferro

Leite em pó integral

Fornecedor Vários fornecedores (licitação pública periódica)

Nutril (empresa de laticínios de MG – fornecedor exclusivo)

Distribuição Via entidades Comunitárias/entidades da sociedade civil previamente cadastradas no programa

Diretamente nas escolas – 1 Kg/criança/mês: escolas municipais de educação infantil e creches. 2Kg/criança/mês: Escolas municipais de Ensino Fundamental

Público Atendido 700 mil crianças carentes entre 6 meses e 6 anos

870.000 crianças matriculadas na rede municipal de ensino (creche, educação infantil e ensino fundamental)

Volume de leite distribuído 10 milhões de litros de leite fluido/mês (equivalente a 9% da produção total do estado de São Paulo

1.600 mil toneladas de leite em pó integral/mês (corresponde a 12,8 milhões de litros de leite fluido

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reconstituído/mês) (Equivalente a 11% da produção do total de estado de São Paulo)

Órgão aferidor da qualidade do produto distribuído

ITAL (Campinas) Departamento de Inspeção Municipal de Alimentos

Preço pago pelo leite distribuído

R$ 0,56 (capital) R$ 0,52 (interior)

R$ 6,29 Kg leite em pó. Equivalente a R$ 0,78 litro de leite fluido.

Principais vantagens • Leite proveniente de produtores nacionais.

• Programa muito bem visto pelo setor produtivo de leite;

• Garantia de consumo pela criança (se distribuído na merenda escolar);

• Preço mais baixo; • Envolvimento de vasta

rede de distribuição (geração de emprego e politicamente favorável por envolver várias associações);

• Alto valor nutritivo.

Logística e transporte; Conservação garantida/garantia de qualidade mais fácil.

Potenciais desvantagens • Logística e transporte; • Conservação/garantia de

qualidade

• Não há garantia da qualidade da água que vai ser utilizada para diluição do leite em pó no domicílio da criança;

• Programa muito mal visto pelo setor produtivo de leite (sérias acusações referentes à utilização de leite em pó importado e subsidiado, que causa grandes prejuízos à produção animal;

• Não há garantia de consumo pela criança (leite é distribuído mensalmente para ser teoricamente utilizado no domicílio da criança).

Fonte: HERRERA (2001)

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2.3 Diagnóstico da Cadeia Produtiva de Leite

Figura 3 – Cadeia produtiva do leite. Fonte: Adaptado de SILVA (2001).

Segundo GOMES (2001), entre as inúmeras alterações recentes, pelas quais

o segmento lácteo vem passando, podem-se destacar alguns agentes da cadeia

produtiva, como:

Laticínios

A indústria que é o segmento que adquire e processa a matéria-prima leite, é

classificada em sete tipos (JANK ; GALAN, 1998):

Empresas multinacionais: grandes grupos privados controlados por capital

de origem externa. Destacam-se no Brasil, Nestlé, Parmalat, Itambé e

Danone. O que há de comum entre os grupos empresariais é o fato de eles

atuarem em âmbito nacional (e às vezes internacional), tanto na captação

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formal de matéria-prima (ou seja, controlada pelo SIF) como,

principalmente, na comercialização de produtos finais;

Grupos nacionais: são empresas que também realizam atividades de

compra formal de matéria-prima, de processamento e de distribuição de

derivados lácteos, porém com menor capacidade financeira que as

multinacionais e atuação mais voltada para produtos específicos e

mercados regionais, tanto no que se refere à coleta de leite como à

comercialização de produtos finais;

Cooperativas de produtores de leite: estas empresas cresceram bastante

durante o período de intervenção estatal, dentro de uma estratégia de

captação regional de leite sob inspeção. Algumas delas procuram apenas

aumentar o poder de barganha dos produtores diante das grandes

empresas compradoras de leite e dos fornecedores de insumos. Outras se

integram verticalmente, procurando atingir o consumidor final a partir da

produção de derivados lácteos.

Cooperativas singulares: são cooperativas de primeiro grau, que atuam na

compra comum de insumos, na venda comum da matéria-prima leite a

outros laticínios, e em alguns casos, na industrialização do leite, fabricando

produtos voltados basicamente para o consumo local em mercados

regionais.

Cooperativas centrais: são cooperativas de segundo grau, constituídas por

cooperativas singulares. O seu principal objetivo é alcançar economias de

escala no processo de industrialização de derivados lácteos, buscando

atingir o consumidor final em escala regional ou nacional.

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Comerciais importadores: também chamados de “negociantes sem fábrica”.

Estas empresas internalizam, a preços altamente competitivos, produtos

importados de origens diversas.

Pequenos laticínios: são empresas pequenas que adquirem matéria-prima,

industrializam e comercializam produtos lácteos em mercados regionais,

também os pequenos e médios varejos das grandes cidades. A maioria

destas empresas atuam aproveitando-se de lacunas legais nas áreas

tributárias e sanitária, em função da falta de fiscalização na comercialização

de produtos lácteos.

Comercialização

Esta etapa da cadeia diz respeito à distribuição e à venda dos produtos

lácteos ao consumidor final e é classificada em três tipos (JANK; FARINA, 1999):

Padarias e pequenos varejos: são importantes na comercialização de

leite pasteurizado tipo A, B e C e queijos fatiados sem marca. No

entanto, estão perdendo sua importância na distribuição de leite fluido,

devido ao crescimento no consumo de leite longa vida.

Grandes superfícies: nesta classe estão incluídos os super e

hipermercados, cuja importância na distribuição de derivados lácteos

tem crescido significativamente nos últimos anos, principalmente em

decorrência do crescimento do consumo de leite longa vida.

Normalmente estes distribuidores pressionam fortemente as margens

dos laticínios, pois operam com margens reduzidas de comercialização,

elevado risco de vendas, prazos dilatados de pagamento, além de

crescente exigência de entrega just-in-time.

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Venda direta ao consumidor: realizada por produtores, intermediários e

pequenos laticínios que operam, via de regra, à margem da legislação.

Os principais produtos vendidos diretamente ao consumidor são o leite

cru e os queijos sem marca. Entra também, nesta categoria, o leite tipo

A que, segundo a legislação, deve obrigatoriamente ser industrializado

na propriedade rural e, em seguida, ser entregue na forma integral para

varejistas ou diretamente ao consumidor final. Vale salientar que este

último produto é tido como leite fluido de melhor qualidade disponível no

mercado brasileiro.

Consumidor final

O perfil do consumidor de leite informal caracteriza-se por 76% de mulheres

da classe C e D. As vantagens que essa faixa de consumidores considera ao

consumir o leite in natura são: leite forte e gorduroso (26,1%), puro e sem água

(16,5%) e nutritivo e saudável (14,6%). E ainda, 66,3% desses consumidores não

apontam nenhuma desvantagem no consumo deste leite (PESQUISA, 2001).

Quanto ao consumo de leite e derivados sob inspeção, o leite fluido é o mais

representativo, sendo que 58,3% representam o leite longa vida; 33,3% o tipo C;

7,5% o tipo B e 0,8% o tipo A. Apesar do leite tipo A representar apenas 0,8% do

total do leite consumido, sua participação no mercado na década de 90 cresceu

50%. Este tipo de leite geralmente é consumido por uma faixa privilegiada da

população brasileira (BANCO DE DADOS, 2001).

No que tange à caracterização das transações entre os agentes da cadeia

brasileira de produção do leite e derivados brasileiros, pode-se dizer que existem

três tipos de transações: produtor de leite – laticínio, laticínio – distribuidor (ponto de

venda) e distribuidor consumidor final.

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81

Produtor de leite – laticínio: na cadeia de produção de leite e derivados existem

três estruturas de governança entre produtores de leite e laticínios (GALAN,

2000):

Transação direta entre produtor e laticínio: nela o produtor vende o

leite diretamente à indústria de laticínios;

Transação entre produtor e cooperativa e, posteriormente, entre essa e

uma indústria de laticínios privada: nessa, a cooperativa capta leite dos

produtores para repassá-lo a uma indústria privada. O objetivo é

aumentar o poder de negociação dos produtores perante os laticínios.

Transação entre produtor e cooperativa singular e, posteriormente,

entre essa e uma cooperativa central: as cooperativas centrais

agregam margens antes pertencentes aos laticínios privados,

possibilitando a sua distribuição aos produtores cooperados.

Quando existem contratos entre produtor e laticínio, os requisitos que são

geralmente privilegiados, são o preço e o volume de produção. O requisito qualidade

do leite é muito pouco privilegiado. O pagamento ao produtor de leite é mensal e o

preço é anunciado ao final do mês, ou seja, após o fornecimento de leite no período

de um mês (GOMES, 2002).

Laticínio – distribuidor: a relação entre indústria e varejo é mais formalizada

do que entre produtor e indústria. As estruturas de mercado de ambos são

oligopolizadas, embora esteja ocorrendo um processo de concentração mais

expressivo por parte das grandes redes supermercadistas, conferindo a esse

segmento maior poder de negociação de preços (GOMES, 2002). Prazos

dilatados de pagamento, adequação e logística de entrega, elevados volumes

de produtos e produto de qualidade são pressões desse segmento sobre a

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indústria de laticínios (FARINA et al., 1999). Os super e hipermercados são

responsáveis por 50% do faturamento das indústrias de laticínios (RUFINO

apud PRIMO, 2000). A estrutura de governança adotada por estes dois

agentes é a de mercado, já que essas empresas convivem com a redução de

margens de lucro frente ao incremento da concorrência (GOMES, 2001).

Distribuidor – consumidor final: o consumidor final dentro da cadeia de

produção de leite e derivados é quem determina as formas de governança

entre os agentes da cadeia. O consumidor brasileiro atribui o fator preço

como a principal variável para decisão de compra. Em pesquisa realizada

pela ACNielsem, com consumidores de supermercados brasileiros, foi

apontado que 41% consideram o preço um fator decisivo no momento da

compra de produtos alimentícios (MARCA, 2001). Quanto à qualidade

intrínseca do produto, essa é valorizada por nichos de mercados específicos.

Assim, a estrutura de governança predominante entre distribuidor e

consumidor final é a de mercado.

É importante destacar que o consumidor brasileiro está mais atento ao

comprar produtos alimentícios. O valor nutricional e prazo de validade que antes não

eram considerados na aquisição desses produtos, hoje já se tornaram

imprescindíveis (MARCA, 2001). Segundo PRIMO (2000), o consumidor brasileiro

não é mais aquele que aceita tudo o que lhe é imposto. Este novo consumidor quer

produtos variados e saudáveis, sem abrir mão do sabor e da aparência. Neste

sentido, a fim de atender a esse novo padrão de consumo, mesmo para nichos de

mercado específicos, a cadeia precisa se organizar.

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2.3.1 Qualidade na Cadeia Produtiva do Leite

Após o beneficiamento do leite in natura, a indústria de laticínios transforma-o

em leite pasteurizado tipos A, B e C, longa vida, leite em pó, queijos e outros

derivados lácteos. A seguir, apresenta-se breve caracterização desses tipos de leite

nas suas mais diversas formas.

Quanto ao leite pasteurizado, no processo de pasteurização ele é aquecido

por volta de 72 a 76ºC durante 15 a 20 segundos, seguido de rápido resfriamento.

Existem três tipos de leite pasteurizado: “A”, “B” e “C” (MEIRELES, 1982: 52).

As características marcantes deste tipo de leite são seu curto prazo de

validade, e necessidade de manutenção em ambiente refrigerado, mesmo após o

beneficiamento (CTENAS, 1997).

Leite pasteurizado tipo “A”: é aquecido a 72ºC na própria fazenda produtora,

o que evita riscos de contaminação e de proliferação de microorganismos

prejudiciais à saúde. Para a sua produção e seu beneficiamento os produtores

precisam ter instalações de acordo com as normas higiênico-sanitárias e

tecnológicas. Devem ter dependências de higienização, azulejos até o teto, redes de

esgoto, locais para isolamento de animais doentes e equipamentos com capacidade

para resfriar o leite até 8ºC. Todos esses critérios de produção permitem que o leite

pasteurizado tipo “A” tenha prazo de validade de quatro a sete dias após a

pasteurização, desde que resfriado e armazenado de forma adequada. Esses

critérios de produção elevam os custos, mas garantem a qualidade diferenciada do

produto. A produção deste tipo de leite é restrita a grandes produtores que

distribuem o leite na própria região em que é produzido.

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Leite pasteurizado tipo “B”: os produtores e a indústria de leite pasteurizado

tipo “B” têm de cumprir exigências no que se refere tanto à origem da produção,

ambiente revestido por azulejos e uso de macacão para os trabalhadores na sala de

ordenha, avaliação sanitária do rebanho semestralmente; quanto à plataforma (hora

de entrega, padrão de qualidade, temperatura). Deve-se destacar ainda que o leite

tipo “B” passa pelo processo de resfriamento na fazenda, que serve de inibidor da

proliferação de microorganismos. A pasteurização e o processo de envase ocorrem

na indústria. A produção de leite pasteurizado tipo “B” tomou impulso na década de

70, por iniciativa dos produtores e indústrias de laticínios, com o intuito de obter

preço diferenciado por este produto que não era tabelado (PINAZZA et al., 1995: 9).

Pode-se considerar que tanto o leite tipo “A” quanto o tipo “B” são a indicação mais

importante de tecnificação e especialização da produção, apesar desses tipos

representarem apenas de 10 a 15% da produção de leite pasteurizado, pois exigem

raças leiteiras diferenciadas, ordenha mecânica, rações e insumos especiais,

condições de resfriamento e controle de qualidade e sanidade – padrões típicos da

produção leiteira especializada.

Leite pasteurizado tipo “C”: Até 30 de junho de 2005, este tipo de leite era

resfriado em entrepostos no caminho para a indústria ou entregue aos laticínios à

temperatura ambiente, onde passava pelo processo de resfriamento e

pasteurização.

Leite em pó: é obtido a partir da desidratação do leite e pode ser encontrado

em duas versões, integral e desnatado, sendo diferenciado pelo teor de gordura que

apresenta. São necessários 8,4 litros de leite para a fabricação de um quilo de leite

em pó integral e 10,2 litros para a produção de um quilo de leite em pó desnatado.

Com esse tipo de leite as empresas podem colocar suas marcas em locais de venda

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mais distantes da unidade de fabricação. Devido à sua longa duração, inúmeras

empresas e cooperativas processam o leite em pó com o intuito de armazenar o

excedente da produção. Porém, significativo número de empresas, já utilizam o leite

longa vida para tanto. O leite em pó é usado na industrialização de derivados lácteos

e em outros produtos, como chocolates, mas também pode ser consumido na forma

original. A vantagem do produto na venda no varejo é que, para consumi-lo na forma

líquida, o consumidor tem a possibilidade de dosá-lo conforme suas necessidades

obtendo maior rendimento.

Leite longa vida ou UHT: é homogeneizado e processado a elevadas

temperaturas - 130º C por 2 a 4 segundos – e imediatamente resfriado. O resultado

é a destruição de todos os microorganismos tanto os maléficos quanto os benéficos

à saúde humana. Após este processamento é acondicionado em embalagens

assépticas e denominado leite UHT (ultra high temperature), UAT (ultra alta

temperatura) ou, simplesmente, leite longa vida ou ultrapasteurizado. Da

ultrapasteurização resulta um produto com vida de prateleira em temperatura

ambiente bastante longa – até 180 dias. Este tipo de leite não necessita passar

pelas classificações “A”, “B” e “C”, como ocorre com o leite pasteurizado, o que

possibilita à indústria de laticínios utilizar qualquer tipo de leite para produção do

longa vida. Porém, estima-se que a embalagem do leite longa vida (caixa tetra brik)

chega a custar 900% mais caro que a embalagem de leite pasteurizado (saco

plástico) (CTENAS, 1997, p. 16).

Queijos: trata-se de produto sólido ou cremoso, obtido pela coagulação do

leite pasteurizado. A coagulação ocorre por meio da ação isolada ou combinada do

coalho, ácido láctico, calor ou outro agente coagulante adequado. Os principais

ingredientes utilizados na fabricação de queijo são o leite, o coalho, os fermentos, o

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sal e o corante natural (urucum). Estima-se serem necessários 10 litros de leite para

a produção de um quilo de queijo. No Brasil há mais de 800 variedades de queijos,

os quais podem ser classificados em frescos, maturados e processados.

Outros derivados lácteos: existem ainda outros derivados lácteos, como

iogurtes, petit suisse e manteiga. São resultados da fermentação controlada do leite,

devido à ação de bactérias que transformam a lactose (açúcar do leite) em ácido

lácteo, formando assim um coágulo de consistência cremosa e suave.

Tradicionalmente, o iogurte é produzido com leite acrescido de leite em pó, creme de

leite e estabilizantes (gelatina). O petit suisse é o nome dado aos iogurtes fabricados

à base de queijo. As sobremesas lácteas incluem pudins industrializados, com a

utilização de leite como matéria-prima. A manteiga é um produto obtido da matéria

gorda (gordura) do leite, com adição ou não de sal.

A disputa pelo mercado levanta questões sobre a qualidade do leite vendido

ao consumidor, independentemente do processo de produção. O principal

argumento das associações dos produtores de leite pasteurizado é que o leite longa

vida, em seu processo de industrialização, perde valor nutricional. De acordo com o

presidente da Associação Brasileira da Indústria de Leite Pasteurizado (ABILP), o

processo de ultrapasteurização, utilizado na fabricação de leite longa vida, diminui o

valor nutricional do produto. Segundo ele, no processo, o leite perde grande parte

das vitaminas C e B6 que detém e é privado dos lactobacilos, microrganismos

importantes para o bom funcionamento da flora intestinal (GOMES, 2002). O diretor

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do Centro de Tecnologia em Laticínios do Instituto de Tecnologia de Alimentos

(ITAL), diz que o processo de ultrapasteurização reduz o valor nutricional do leite

SCALCO (2004). O contra-argumento utilizado pela indústria de leite longa vida, nas

palavras da veterinária e gerente de informação ao consumidor da Associação

Brasileira de Leite Longa Vida (ABLV), é que essas perdas não são relevantes.

Segundo ela, a perda de vitaminas e lactobacilos causada pelo processo de

ultrapasteurização não é significativa, pois o leite não é considerado fonte primordial

desses nutrientes. O leite é considerado fonte de outras substâncias, como cálcio e

proteínas. Segundo ela, mesmo que esses componentes sejam perdidos no

processo, isso não alteraria o valor nutricional real do longa vida (GOMES, 2002).

Em sua defesa, a ABLV apresentou documentos do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da FAO (Organização de Alimentos e

Agricultura, na sigla em inglês), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS),

garantindo a boa qualidade do produto, no qual o Ministério da Agricultura afirma

que as perdas nutricionais decorrentes da ultrapasteurização não são relevantes.

Para a FAO, os dois tipos de leite são equivalentes. O leite tratado à temperatura

ultraelevada goza de todas as vantagens do leite pasteurizado ou esterilizado em

forma convencional e não tem nenhum de seus inconvenientes (SCALCO, 2004).

O parâmetro preço é também um dos fatores que mais comprometem a

qualidade do leite, principalmente para o produtor rural. No final do ano de 2001, foi

criado o Fórum Nacional de Comissão Parlamentar de Inquérito do Leite (CPI do

leite) pelos maiores Estados brasileiros produtores de leite, a fim de implementar

uma política para o setor leiteiro, principalmente devido às várias reivindicações dos

produtores de leite por preços mais justos. Enquanto o consumidor paga em média

um real pelo litro de leite, o produtor recebe em média vinte centavos. Ou seja, o

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preço chega ao consumidor com cerca de 400 a 500% acima do que recebe o

produtor. Há de se concluir que um dos dois outros agentes da cadeia está com

maior margem de lucro, ou a indústria ou o varejo (MILKPOINT-3, 2002).

Relatórios emitidos por essas CPIs apontam acusações às grandes redes de

varejo, tais como dumping, cobrança de taxas para a introdução de produtos ou

exposição privilegiada dos mesmos nas gôndolas, devolução de produtos perecíveis

sem comprovação de comprometimento de sua qualidade, sonegação de ICMS,

“maquiagem” de margens de lucro via não declaração dos descontos e o “enxoval”

que é o fornecimento gratuito de produtos para inauguração ou aniversário das lojas

(FONSECA, 2002).

As normas e padrões de qualidade dos produtos lácteos para a cadeia de

leite foram formulados há mais de 50 anos e são os que regem a cadeia até os dias

de hoje, conforme Quadro 3.

QUADRO 3 – Exigências Mínimas para a Produção de Leite Pasteurizado na

Fazenda (lei nº1283, de 18-12-1950 e decreto nº 30691, de 29-03-1952 e

alterações), Padrões do Ministério da Agricultura, Válidos em Todo o Território

Nacional.

Descrição na Fazenda Tipo A Tipo B Tipo C

Instalação de equipamentos Exigente Exigente Sem exigência

Descrição na Fazenda Tipo A Tipo B Tipo C

Resfriamento imediato Exigente Pouco exigente

Sem exigência

Higiene da produção Exigente Exigente Sem exigência

Saúde do rebanho (1) Exigente Exigente Sem exigência

Controle da produção Exigente Exigente Sem exigência

Controle laboratorial Exigente Exigente Sem exigência

Projeto de construção Sim Sim Não

Registro do estabelecimento Sim Sim Não

Transporte até a indústria Sim Resfriado Temperatura ambiente

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No Quadro 4, apresentam-se os padrões mínimos exigidos pelo Ministério da

Agricultura, quanto à produção de leite pasteurizado pela indústria, exigências

essas, válidas em todo o território nacional.

Quadro 4 – Exigências Mínimas para a Produção de Leite Pasteurizado na Indústria

(lei nº1283, de 18-12-1950 e decreto nº 30691, de 29-03-1952 e alterações),

Padrões do Ministério da Agricultura, Válidos em todo o Território Nacional.

Descrição na Indústria Tipo A Tipo B Tipo C

Pasteurizado na fazenda Sim Não Não

Padrão e anál. Microbiológicas Sim Sim Sim

Padrão e anal. Físico-químicas Sim Sim Sim

Padrão cel. Somáticas Sem exigência Sem exigência Sem exigência

Higienização Exigente Exigente Exigente

Existência de termoregulador Sim Sim Sim

Existência de termoregistrador Sim Sim Sim

Automação Sim Sim Sim

Descrição na Indústria Tipo A Tipo B Tipo C

Registro prévio na inspeção Sim Sim Sim

Contagem leite cru (máx.) 10.000/ml 500.000/ml sem limites

Prova de redutase leite cru > 5 horas > 3 horas > 2,5 horas (2)

Contagem leite past. (máx.) 500/ml 40.000/ml 150.000/ml

Coliformes totais 0/ml 2/ml 10/ml

(1) Desconsiderando a exigência de contagem, máxima de células somáticas, que não existe atualmente no Brasil. (2) Na prática, sem exigências Fonte: normas higiênico-sanitárias e tecnológicas para leite e produtos lácteos – Ministério da Agricultura. DOC

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Segundo SILVA (1999) o resfriamento do leite na fazenda e a granelização do

transporte são fenômenos irreversíveis e imprescindíveis para a qualidade do leite.

No entanto, não se pode perder a referência de que essa transformação do setor foi

desencadeada pelo mercado e capitaneada pela iniciativa privada, pois, antes de

mais nada, a granelização do leite faz parte de uma estratégia de otimização de

logística, redução de custos e melhoria da qualidade da matéria-prima, fatores esses

fundamentais para manutenção da competitividade das grandes indústrias de

laticínios. Dessa forma, apontam-se, a seguir, os benefícios efetivos obtidos pela

indústria com a granelização do leite (HERRERA, 2001):

Melhoria da qualidade da matéria-prima: basicamente os três parâmetros que

interessam sobremaneira à indústria estão intrinsecamente associados à

qualidade da matéria-prima: características organolépticas dos produtos finais

(leite fluido e derivados lácteos), tempo de prateleira e rendimento industrial

para fabricação de derivados lácteos. Dessa forma, considerando que o

resfriamento do leite na origem e o transporte granelizado são medidas

intrinsecamente associadas com o padrão microbiológico do leite, em função

de proporcionarem baixas temperaturas do produto durante o armazenamento

na fazenda e transporte até a indústria, pode-se concluir que tais medidas são

de grande interesse para a indústria.

Ampliação do horário de recepção do leite: considerando que o leite resfriado

e granelizado chega na plataforma sempre a uma baixa temperatura, a

pressão sobre o horário de recepção do leite desaparece, pois essa passa a

ser viável na indústria por até 24 horas, o que não ocorre com a utilização do

latão, que exige que o leite seja rapidamente entregue na plataforma.

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Redução de custos operacionais: esta redução é marcante no que diz

respeito à energia elétrica, pois o resfriamento e a granelização do leite geram

uma transferência de custos com energia da indústria para o produtor. Além

disso, a indústria também economiza em insumos e mão-de-obra para

limpeza dos latões, vapor d’água e equipamentos (esteiras, máquinas para

lavagem de latões etc.). Também há um impacto significativo em termos de

redução de mão-de-obra, no que diz respeito tanto ao pessoal de plataforma,

quanto aos transportadores do leite.

Melhoria da logística e transporte: com a granelização do transporte, há uma

otimização na descarga do leite, com a redução de tempo de operação e

eliminação das tradicionais filas de caminhões nos horários de pico de

recebimento. Além disso, racionaliza-se o transporte, pois invariavelmente

aumenta o volume de leite transportado/caminhão, e é possível reorganizar as

linhas de coleta, pois o volume de leite coletado/produtor tende a ser maior

em função da eliminação de linhas com predominância de micro-produtores

ou pela aglutinação destes em torno de tanques comunitários.

Segundo XAVIER (1999) também há um impacto significativo no número de

postos de resfriamento das indústrias, pois com o transporte granelizado em grandes

caminhões, a matéria-prima pode ir direto para a fábrica. Isto gera uma redução

expressiva também no custo de frete de 2º percurso (transporte dos postos de

resfriamento até indústrias de processamento).

Já pelo lado do produtor, há alguns entraves como aponta Bressan (2001):

Custo do resfriador: esse ponto pode ser bastante limitante para os pequenos

produtores uma vez que um resfriador de leite, mesmo de pequenas

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dimensões, envolve um investimento significativo para uma pequena unidade

de produção. Desta forma, fica inviável para um produtor que produz, por

exemplo, 100 litros leite/dia, fazer investimento em um tanque de resfriamento

que tem um custo de pelo menos R$ 3.000,00. Além disso, nessa

circunstância, o produtor não estaria otimizando o investimento, já que o

menor tanque do mercado seria muito maior do que a necessidade desse

pequeno produtor. Considerando que algumas estatísticas apontam que mais

da metade dos produtores de leite no Brasil produzem menos de 50 litros/dia,

esta questão do investimento na aquisição de um resfriador passa a ser um

fator altamente limitante, obrigando-os a se organizarem em cooperativas.

Treinamento dos Produtores: este é um fator extremamente importante em

um programa de disseminação de resfriamento do leite. É importante ter

consciência que a simples instalação de um tanque resfriador na fazenda não

é a solução mágica para todos os males da qualidade do leite. É fundamental

que o produtor saiba operar corretamente esse novo equipamento; cabe

destacar a importância da limpeza e desinfecção corretas do tanque. Se não

houver um bom trabalho na higienização dos tanques, o sistema de coleta a

granel vai tornar-se caótico, pois a qualidade do leite de alguns produtores vai

permanecer muito aquém do desejável. Tudo isto, também agrega custos ao

valor do leite produzido.

Marginalização/Exclusão de Pequenos Produtores: Considerando que dentro

desse novo cenário de modernização da coleta de leite, a palavra chave é

racionalização com otimização do processo, potencialmente as indústrias

captadoras de leite optam pelo fechamento ou cancelamento de linhas de

leite deficitárias ou que geram baixa eficiência, especialmente aquelas mais

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distantes das fábricas, ou de difícil acesso para os caminhões e compostas

por produtores que apresentam pequena escala de produção.

Segundo o presidente do CBQL (Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite),

as normas para a qualidade do leite vêm sendo discutidas desde 1996, e deveriam

ter entrado em vigor em 1999, mas foram postergadas para 2002 e, em seguida,

para 01 de julho de 2005. A exigência básica da instrução normativa (IN 51) é a

granelização do produto, que passa a ser coletado e resfriado nas propriedades

rurais e transportado em caminhões-tanque, ao invés dos antigos latões. Outra

mudança instituída com a nova regulamentação é que o leite tipo C passará a ser

denominado leite cru refrigerado. Segundo Leite Brasil, FAESP e MINISTÉRIO DA

AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO (2001), entende-se por leite, o produto

oriundo da ordenha completa e ininterrupta, em condições de higiene, de vacas

sadias, bem alimentadas e descansadas. Entende-se por leite cru, o produto não

submetido a qualquer tipo de tratamento térmico na fazenda leiteira onde foi

produzido e integral quanto ao teor de gordura, transportado em vasilhame

adequado e individual de capacidade até cinqüenta litros e entregue a

estabelecimento industrial adequado até às dez horas do dia de sua obtenção. No

padrão de qualidade mínima, um mililitro (ml) do produto não poderá conter mais do

que um milhão de unidades formadoras de colônias e um milhão de células

somáticas, sendo que antes da Norma IN 51, não havia exigências para contagem

de células somáticas e unidades formadoras de colônias, conforme Quadros 5 e 6.

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QUADRO 5 – Exigências Mínimas para a Produção de Leite Pasteurizado na

Propriedade Rural

Tipo A Tipo B Tipo C (*)

Instalação e Equipamentos Exigente Exigente Sem Exigência

Resfriamento Imediato Exigente Pouco Exigente

Sem Exigência

Higiene na Produção Exigente Exigente Sem Exigência

Saúde do Rebanho (1) Exigente Exigente Sem Exigência

Controle da Produção Exigente Exigente Sem Exigência

Controle Analítico (laboratorial) Exigente Exigente Sem Exigência

Projeto de Construção Sim Sim Não

Transporte até a Indústria Não Resfriado Temperatura ambiente

(1) – Desconsiderando a exigência de contagem máxima de células somáticas, que não existe atualmente no Brasil. (*) As normas de leite tipo “C” na propriedade rural também valem para a produção de todos os tipos de leite industrial (longa vida, queijos, etc.) (**) Na prática, sem exigências. Nota: Segundo a Lei n° 1.283, de 18/12/1952 e alterações, padrões do Ministério da Agricultura (riispoa), válidos em todo o território nacional. Fonte: JANK e GALAN (1998, p. 206).

QUADRO 6: Exigências Mínimas para a produção de Leite Pasteurizado na Indústria

Tipo A Tipo B Tipo C (*)

Pasteurização na Fazenda Sim Não Não

Padrão e Análises Microbiológicas

Sim Sim Sim

Padrão e Análises Físico-Química

Sim Sim Sim

Tipo A Tipo B Tipo C (*)

Padrão e Contagem de Células Somáticas

Sem definição Sem definição Sem definição

Higienização Exigente Exigente Exigente

Exigência de Termoregulador Sim Sim Sim

Sim Sim Sim

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Exigência de Termoregistrador Sim Sim Sim

Automação Sim Sim Sim

Registro Prévio na Inspeção Sim Sim Sim

Contagem Global do Leite Cru (máximo)

10.000/ml 500.000/ml Sem limites

Prova de Redutase do Leite Cru

>5 horas >3 horas >2,5 horas (**)

Contagem Global do leite Pasteurizado (máximo)

500/ml 40.000/ml 150.000/ml

Coliformes Totais 0/ml 2/ml 10/ml

(1) – Desconsiderando a exigência de contagem máxima de células somáticas, que não existe atualmente no Brasil. (*) As normas de leite tipo “C” na propriedade rural também valem para a produção de todos os tipos de leite industrial (longa vida, queijos, etc.) (**) Na prática, sem exigências. Nota: Segundo a Lei n° 1.283, de 18/12/1952 e alterações, padrões do Ministério da Agricultura (riispoa), válidos em todo o território nacional. Fonte: JANK e GALAN (1998, p. 206).

Em tais condições, produtores que não se organizarem, a fim de

especializarem-se e aumentarem a produção, ficarão à margem do mercado formal,

restando para eles, desta forma, duas opções: a exclusão do mercado ou a entrada

na informalidade. Assim, as mini-usinas, quando envolvem produtores organizados

em associações ou cooperativas, preocupados com o aumento da produtividade e

da qualidade podem ser a saída para que não sejam marginalizados do mercado.

2.4 Em Busca de uma Pecuária Alternativa

A partir das avaliações de GRAZIANO (1982), pode-se observar que, em

nome da modernização agrícola, foram promovidas grandes transformações no

campo social, econômico, político e ambiental.

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O autor enfatiza que para efetivar a superação das barreiras “naturais” de

produção, o processo de modernização conservador, também chamado de

“Revolução Verde”, buscou o aumento da produtividade, intensificando o uso de

tecnologias tais como: mecanização e fertilização química e biológica. Ele afirma

que, por um momento, esse processo de modernização atingiu seu objetivo, o

aumento da produção agrícola. Porém, gradualmente, os problemas começaram a

surgir, demonstrando uma crescente dificuldade de manutenção do padrão

produtivo. Segundo GRAZIANO (1982) tais problemas ocorreram devido ao fato de a

tecnologia modernizada e sofisticada ser onerosa e não ser adequada à produção

em pequena escala. Isso provoca a submissão da agropecuária à dinâmica industrial

e à perda de autonomia dos produtores sobre o processo de produção, assim como

a crescente elevação dos custos da produção, associada à queda real dos preços

pagos pelos produtos e a incapacidade dos governantes de proteger o produto

nacional. Esse processo de produção causa, ainda, segundo o autor, a exclusão

social. As políticas desenvolvimentistas gerenciaram e aplicaram os pacotes

tecnológicos importados dos países da Europa e dos Estados Unidos, sem

considerar as condições regionais e climáticas do Brasil, como se as práticas

agrícolas fossem universais.

ALTIERI (1998) também analisa o problema da degradação agrícola e

ambiental como sendo uma resposta ao fracasso desse padrão de desenvolvimento.

Para ele, as estratégias tomadas no processo de desenvolvimento não foram

capazes de promover uma transformação sustentável no campo, assim como não

cumpriram com seus propósitos iniciais, que eram o de resolver o problema da

desnutrição, da fome e da pobreza. Ao contrário, produziram problemas ainda

maiores: a exclusão social e a degradação ambiental. Contudo, observa-se que as

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conseqüências são ainda mais profundas, pois a redução da diversidade agrícola,

com a intensificação da monocultura, favoreceu o aumento das doenças e pragas na

produção. Os produtores, diante desse problema, acabam optando por uma solução

rápida, passando assim, a utilizar os insumos químicos. Essa solução agrava

também os problemas, pois aumenta a incidência de pragas, a redução da

diversidade biológica e os riscos de doenças degenerativas. É importante destacar

que institutos tais como a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e

a Alimentação), que estabelece os limites aceitáveis de resíduos de agrotóxicos em

alimentos, estão constantemente tentando amenizar a situação, pautando-se nos

conceitos de “dosagem tolerável ou limites de tolerância”. GRAZIANO (1982),

esclarece ainda que a indústria química se defende dizendo que os “defensivos

químicos não vão matar de uma hora para outra”. De acordo com LUTZENBERGER

(1992), o uso indiscriminado de insumos químicos na produção agropecuária, aliado

a outros fatores, tem levado os alimentos à contaminação com resíduos de produtos

sintéticos e outras substâncias. Segundo esse autor isso ocorre devido à mudança

da concepção agrícola, a partir da Revolução Verde, quando houve a necessidade

de maior domínio das atividades de cultivo.

A principal preocupação do complexo agroindustrial do leite, em termos de

problemas ambientais, era a poluição proveniente do excesso de aplicações de

nutrientes no solo. Além da contaminação direta do solo e da água, a emissão de

amônia dos estábulos e a aplicação de adubos e nutrientes contribuíram também

para a acidificação da água e do solo. Considerando-se que uma grande parte dos

problemas ambientais provenientes da atividade agropecuária no país foi causada

pelo excesso de fertilização e emissão de amônia, uma grande responsabilidade

recai sobre a produção de leite.

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O conceito de desenvolvimento sustentável surge como forma de resposta às

contradições do crescimento econômico capitalista, provocado pelo desenvolvimento

tecnológico, o que cooperou para a intensificação e má utilização dos recursos

naturais e para a ampliação dos problemas ambientais. EHLERS (1996, p. 17)

aponta o contexto que propiciou o debate acerca da sustentabilidade do planeta com

as seguintes palavras:

Em meados da década de oitenta, os impactos da agricultura moderna, a dilapidação das florestas, as chuvas ácidas, a destruição da camada atmosférica de ozônio, o aquecimento global e o efeito estufa tornaram-se temas familiares para grande parte da opinião pública, principalmente nos países ricos. Questionava-se até que ponto os recursos naturais suportariam o ritmo de crescimento econômico imprimido pelo industrialismo, ou mesmo se a própria humanidade resistirá às seqüelas do chamado desenvolvimento.

Ainda segundo EHLERS (1996), diante desse contexto, consolidou-se um

novo paradigma, um novo ideal, isto é, a sustentabilidade. Em 1987, a CMMAD

(Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) publica

“O Nosso Futuro Comum”, conhecido como relatório Brundlant, que ajudou a

disseminar o ideal de desenvolvimento sustentável para os diferentes setores da

sociedade moderna. Esse relatório definiu que o ideal de desenvolvimento

sustentável é aquele que tem como base dois conceitos chaves: a prioridade da

satisfação das comunidades mais pobres da população e as limitações que o estado

atual da tecnologia e da organização social impõe para o meio ambiente. O

documento introduz um elemento novo que parte do princípio de que os modelos

atuais de desenvolvimento, elaborados tanto nos países de primeiro mundo quanto

nos outros, são inviáveis, pois ambos seguem padrões de crescimento econômico

não-sustentáveis. Esse documento apresenta ainda uma noção ética e política, que

implica em várias transformações nos aspectos político, econômico e social.

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Contudo, o conceito é ainda bastante controverso, gerando muitas perguntas, tais

como: o que é desenvolvimento sustentável e o que dele se espera?

CARMO (1998) levanta alguns pontos fundamentais para o estudo da

produção agrícola sustentável, sugerindo que há a necessidade de se discutir

terminologias e conceitualizações, pois, só assim, poder-se-ia entender a definição

de desenvolvimento sustentável e como ele poderia ser desenvolvido e, a partir da

definição, compreender quais seriam as condições sociais adequadas para que se

processasse uma transição para a produção agrícola sustentável, ou seja, qual seria

a sustentabilidade que se busca e quais substratos sociais estariam incorporados

nesse conceito. Conforme a autora, a dificuldade de compreensão do que seria o

desenvolvimento sustentável não está apenas relacionada ao conceito, mas também

em conseguir caracterizar os aspectos multidimensionais relativos às diferenças de

estágios de desenvolvimento entre países e até mesmo de regiões dentro de cada

país. Assim, além da evolução histórica das relações sociais de produção e dos

diferentes níveis de desenvolvimento econômico, os países defrontam-se, ainda,

com novas tendências mundiais na trajetória do crescimento industrial. Diante deste

contexto, CARMO (1998) afirma ser imprescindível discutir a possibilidade da

existência da produção agrícola sustentável, com base na agricultura familiar, face

às novas tendências mundiais de reestruturação do sistema agroalimentar.

Um dos grandes problemas com relação à definição de desenvolvimento rural

sustentável, segundo CARMO (1998) é o confronto com a relatividade do adjetivo

que qualifica o desenvolvimento. Conceitualmente, torna-se difícil operacionalizar a

sustentabilidade do desenvolvimento, uma vez que, além dos interesses econômicos

e de classes sociais envolvidas, há a necessidade de compatibilizar o que se deve

desenvolver. Apesar do conceito sustentável implicar, em um certo sentido,

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imobilidade no tempo e no espaço, a noção de desenvolvimento pressupõe o

inverso, a necessária mutação e o crescimento contínuo. Faz-se, então, necessário

conciliar os dois conceitos, o de sustentabilidade e o de desenvolvimento,

entendendo-os de forma dinâmica e impondo limites ao desenvolvimento, para se

poder realizar um bem-estar social e ambiental (CARMO, 1998). A mesma autora

afirma que a contribuição para o entendimento da necessidade de mudanças na

base de produção foi:

A visão da miséria como a pior das poluições que advém da desigualdade de crescimento enquanto um fenômeno mundial, levando os países centrais a um super consumo e a maior parte da população mundial à pobreza e a fome. Nos países com industrialização recente, principalmente na América Latina, o contraste entre a miséria e a opulência foi tamanha que durante muitos anos senão até os dias atuais, os subprodutos do “boom” desenvolvimentista, a poluição e a destruição da base natural, foram considerados bem vindos pelas autoridades governamentais” (CARMO, 1998, p. 218).

As observações de CARMO (1998) são bastante esclarecedoras, pois

permitem compreender que por trás das formas de organização da produção há uma

ideologia muito forte que liga a reprodução do capital à produção agrícola e ao

mesmo tempo dissemina a idéia de que, em nome da superação da fome, tudo é

permitido, inclusive a degradação ambiental. A autora denuncia ainda que, nos anos

80, a preocupação com a natureza não passava de mera retórica, tanto no que se

refere ao discurso, quanto aos planos e programas de governo. Na fase do

crescimento econômico, as questões sociais e ambientais ficaram à margem, a

preocupação do governo era abrir as portas ao capital internacional, reforçando a

idéia de que espaços continentais brasileiros eram capazes de absorver uma

poluição necessária e pouco impactante ao desenvolvimento nacional. A autora

ainda desvela um fator importante para análise:

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A modernização conservadora da agricultura brasileira colocou o aumento da produtividade como saída para as questões sociais no campo, quando na verdade, o que ocorreu e ainda ocorre é que havia uma imposição das sociedades industriais modernas, que desorganizam a produção centrada no valor de uso, para subordiná-la às necessidades de reprodução e ampliação do capital e para tanto, concebeu-se a natureza como objeto e base da exploração humana”.(CARMO, 1998, p. 219).

Para a autora, ainda é importante registrar a tendência à diversificação do

consumo em função dos novos comportamentos sociais e econômicos. Essa

tendência é marcada pelas transformações qualitativas do consumo dos países

desenvolvidos e constitui um novo cenário, o da busca por produtos com baixo valor

calórico, que agreguem novos valores sociais, como os da não agressão ao meio

ambiente e o da defesa do consumidor. Para a autora, esse contexto sugere que há

um campo promissor para a produção sustentável. De acordo com a referida autora

é inegável que a agricultura convencional tenha promovido o crescimento da

produtividade. O grande problema é que ela também promoveu a dilapidação dos

recursos naturais e a pobreza no campo, gerando mais fome, a qual ela,

criticamente, dizia combater. E, se antes a fome se localizava em redutos de área

com recursos naturais e climas inóspitos, hoje ela se generaliza nos grandes centros

urbanos e mesmo na zona rural.

GUIWANT (1995), ao analisar a “produção sustentável”, vê no conceito uma

espécie de guarda-chuva para abrigar as mais distintas noções de práticas na

agropecuária. Assim, sustentável pode significar uma produção com insumos

reduzidos, alternativa, regenerativa, biológica, orgânica, ecológica, dentre outras.

2.4.1 Produção Familiar

Em linhas gerais, os empreendimentos familiares têm duas características

principais: eles são administrados pela própria família; e neles a família trabalha

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diretamente, com ou sem o auxílio de terceiros. Vale ressaltar que a gestão é

familiar e o trabalho é predominantemente familiar. Pode-se dizer, também, que um

estabelecimento familiar é, ao mesmo tempo, uma unidade de produção e de

consumo; uma unidade de produção e de reprodução social (DUARTE, 1998).

O ponto de partida dessa reflexão é visualizar e analisar a potencialidade do

produtor familiar como facilitador da implementação de uma produção sustentável.

Mas antes de analisar as reais potencialidades do produtor familiar como precursor

de uma produção sustentável, precisa-se ter uma definição clara de que tipo de

sustentabilidade se está falando. Para tanto, utiliza-se o conceito sugerido por dois

autores que definem a sustentabilidade. São eles DIEGUES (1996) e CAPRA

(1996).

DIEGUES (1996, p. 3) inicialmente afirma que:

A idéia de desenvolvimento sustentado acabou por se transformar numa poção mágica no Brasil destinada a curar todas as enfermidades crônicas de que sofrem as sociedades modernas. O conceito é um termo fundamentalmente político, uma vez que cada grupo de interesse e classe social o define conforme suas próprias perspectivas. Para empresários e financistas o desenvolvimento sustentável é um meio de alcançar lucros sustentáveis; freqüentemente como estratégia para conseguir apoio financeiro de instituições internacionais, determinados grupos ambientalistas definem a sustentabilidade como princípio inerente à natureza, independentemente de sua relação com a sociedade.

DIEGUES (1996) esclarece que os defensores da globalização a qualquer

custo enfatizam o desenvolvimento sustentável como forma de se conseguir um

equilíbrio econômico-ambiental para toda a biosfera, diminuindo somente o

crescimento perverso dos mercados e da tecnologia, controlados pelas empresas

transnacionais, tais como o efeito estufa e a perda da biodiversidade.

Ainda segundo o autor, é necessário resgatar o conceito de sustentabilidade

ligado ao bem estar e à qualidade de vida das comunidades e da sociedade

humana. A sustentabilidade, ainda que inicialmente formulada enquanto conceito,

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tomando-se como parâmetro os ecossistemas e seus processos, é uma definição

pluri-facetada que envolve as dimensões sociais, econômicas e políticas, bem como

as ambientais. O mesmo autor ainda afirma que:

Deve-se pensar como se constrói comunidades e sociedades sustentáveis. A construção de comunidades e sociedades sustentáveis devem partir da reafirmação de seus elementos culturais e históricos, no desenvolvimento de novas solidariedades, do respeito à natureza não pela mercantilização da biodiversidade, mas pelo fato da criação da relação harmoniosa entre a sociedade e a natureza serem um dos fundamentos das sociedades sustentáveis. (DIEGUES, 1996, p. 6-7).

Para CAPRA (1996), a sustentabilidade não se refere apenas ao tipo de

inserção humana como um mundo que preserva ou conserva o meio ambiente para

não comprometer os recursos naturais das gerações futuras, ou que visa apenas a

manutenção prolongada de itens ou processos econômicos, sociais, culturais,

políticos institucionais ou físico-territoriais, mas, sim, aquele que busca uma visão

integrada do processo. Conforme este autor, para se atingir este nível de

consciência, é preciso se reconectar com a teia da vida, o que significa construir e

educar comunidades sustentáveis, nas quais se possa satisfazer as aspirações e as

necessidades, sem diminuir as chances das gerações futuras.

A partir da reflexão de autores como GRAZIANO (1982), ALMEIDA (2001),

ALTIERI (1995), LUTZENBERGER (1992), EHLERES (1996) e CARMO (1998) se

destacam alguns problemas que devem ser avaliados, problemas esses que

surgiram após a implementação do processo de modernização agrícola, que são a

degradação ambiental e a desestruturação das unidades de produção familiar.

CARMO (1998) avalia e esclarece qual o papel da produção familiar após o

processo de modernização. Segundo a autora, o processo de modernização agrícola

não foi igual para todas as regiões; concentrou-se inicialmente no centro-sul e

depois no centro-oeste, onde as atividades eram, prioritariamente, voltadas para o

comércio internacional ou vinculadas ao complexo agroindustrial.

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Conforme ALMEIDA (2001, p.18):

[...] os produtores familiares se mantiveram historicamente à margem dos latifúndios e das atividades dos sistemas considerados maiores, ou seja, culturas de exportação e, como hoje, das culturas vinculadas aos complexos agroindustriais. Para se reproduzirem como categoria social, esses produtores desenvolveram sistemas produtivos que prescindem da utilização de insumos externos às propriedades, sendo, por si só, capazes de suprir necessidades ambientais. As práticas, nesse sentido, destinam-se a otimizar a produtividade em longo prazo e não a maximizá-la em curto prazo .

Para o autor, a sustentabilidade da exploração agrícola é uma dimensão

fundamental, considerada nas diferentes estratégias adotadas pelos produtores

familiares. Nas limitadas condições financeiras e ambientais em que trabalham, a

reciclagem de nutrientes se torna um elemento chave para a sustentabilidade dos

sistemas produtivos enquanto que as diversificações espacial e temporal das

atividades constituem a base da estratégia adotada para otimizar esses reciclos.

Todos os autores estudados, até o presente momento, avaliam como sendo

positivas as análises que atrelam a produção familiar à mudança de padrão para

uma produção sustentável.

As ações visando a construção de uma produção baseada na reorganização

dos sistemas convencionais de produção suscitam estudos sobre o sentido e a

perspectiva dessas iniciativas. Desse modo, no início da década de oitenta a

tecnologia passa a ser discutida pelas ciências sociais sob a rubrica de alternativas

ou socialmente apropriadas. Assim, CARVALHO (1982) analisaria a via da produção

não convencional como a da tecnologia socialmente apropriada que embora sob a

hegemonia do capital veria nela uma alternativa de redução de dependência de

tecnologias subordinadas ao interesse do capital. SILVA (1987) vê nesse movimento

um “retrocesso histórico no avanço das forças produtivas”. Para esse autor a

produção não convencional não apresenta perspectivas em função da superioridade

técnica do padrão moderno.

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As discussões e análises da questão ambiental no campo são abordadas no

contexto da reorganização do ambiente rural diante da sociedade globalizada.

Nesse sentido o tema da ruralidade apresenta-se mediante uma controvérsia que

articula basicamente duas posições: uma, aponta para o desaparecimento de um

rural agrícola, face aos processos contínuos de urbanização e industrialização;

outra, para a reconstrução de uma ruralidade que resgata um mundo da vida rural

articulado com valores urbanos. Para a primeira versão, o rural deixa de ser um

espaço que privilegia a agropecuária; é cada vez mais espaço de múltiplas

atividades (SCHNEIDER, 1999).

Segundo GOODMAN, SORJ, WILKINSON (1990) a agropecuária caminha

para um processo de industrialização. Nessa perspectiva, é possível deduzir que a

terra perde importância como recurso produtivo, à medida que a produção é

realizada em ambientes construídos, como a produção de legumes e verduras em

estufas, as granjas produtoras de aves e as fábricas-fazenda produtoras de leite.

Desse modo, o rural é analisado na perspectiva da reorganização das atividades

econômicas, onde o progresso tecnológico exerce um papel preponderante. Os

recursos tecnológicos da informática e da engenharia genética estariam na ponta

desse processo de transformação. Nesse contexto, o ambiente rural seria

reconstruído na perspectiva de uma sociedade industrializada, onde as

especificidades entre as atividades desaparecem, uma vez que a lógica da

racionalidade técnico-instrumental seria determinante nos processos de

reorganização social.

Para a segunda versão – o da reconstrução da ruralidade – o mundo rural não

deixa de existir para a sociedade. Se por um lado ocorre um esvaziamento da

população no campo à medida que a sociedade se industrializa, por outro, há uma

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reconstrução de relações sociais no meio rural mediante categorias sociais que

permanecem no campo e que são valorizadas no contexto de políticas públicas

(WANDERLEY, 2000). Assim há um número majoritário de produtores familiares,

cujo processo de organizações social e produtiva reconstrói relações sócio-

ambientais que não se baseiam exclusivamente em valores urbanos. Antes, essas

relações são reconstruídas com base em dois universos tencionados e

complementares: o mundo da vida rural, expresso pelo cotidiano marcante das

relações comunitárias no campo e o sistema urbanizado que através de relações de

troca mediatiza valores universais com a sociedade (BRANDENBURG, 1990). Nessa

perspectiva, embora as comunidades rurais, os núcleos, os povoamentos ou as

pequenas vilas ou as cidades possam ser dotadas de infra-estrutura de lazer,

energia, saneamento e serviços com característica dos centros urbanos, expressam

um modo de vida que tem suas raízes no meio rural (WANDERLEY, 2000).

Considera-se ainda que nos chamados pequenos centros urbanos, atividades como

as de serviços, agroindústria e turismo ainda têm seu vínculo com a agropecuária.

O ambiente rural é reconstruído mediante uma diversidade de atividades e

com processos produtivos que combinam diferentes tipos de saberes

(BRANDENBURG, 1999; WANDERLEY, 2000). Ao combinar saberes diferenciados

os produtores constroem relações com a natureza que retomam processos de

gestão que fazem uso de recursos naturais e não necessariamente de recursos

industrializados. Se há uma preocupação em restaurar processos produtivos que

procuram gerir recursos naturais, é possível que a preocupação com meio o meio

ambiente se amplie, e dessa forma outros aspectos ambientais passem a ser

considerados na reorganização do espaço rural.

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A bovinocultura leiteira, devido a sua capacidade de geração de emprego e

de distribuição de renda ao longo do ano, pode surgir como alternativa viável para

melhoria e manutenção das condições sociais e econômicas da propriedade familiar.

Caracterizada por utilizar basicamente a força de trabalho dos membros da

família, a produção familiar representa um segmento importante no campo brasileiro.

O atraso histórico e a urgente necessidade do setor fazer-se competitivo sobre a

pressão da abertura de mercado (globalização da economia) são dois dos fatores,

que explicam as aceleradas transformações, que atingiram a produção familiar,

envolvendo o processamento e a distribuição de leite no país. Tais mudanças

ocorrem na verdade em âmbito mundial, mas se mostram mais agudas nas

economias emergentes, especificamente em situações de necessidade urgente de

crescimento (ABRAMOVAY; CARVALHO FILHO, 1994).

Em tese, podem-se visualizar três cenários para o desenvolvimento rural do

Brasil (NISHIKAWA, 2004). O primeiro cenário consiste em concentrar todas as

atenções sobre a rápida expansão da produção tradicional e das indústrias

agroalimentares, voltadas em boa parte para os mercados externos. Antônio Ermírio

de Moraes (PANORAMA RURAL, maio 2002) escreve a respeito:

Temos de multiplicar a irrigação por dez e, com isso, passarmos a ser o celeiro do mundo. Temos que acabar com o desperdício dos alimentos no transporte e armazenagem que chega a 25 milhões de toneladas por ano - 2,5 bilhões de dólares.

O padrão de modernização aplicado atualmente à grande agropecuária

levaria a uma redução drástica do número de produtores rurais, o que significaria a

exclusão de muitos produtores familiares.

Um segundo cenário seria de só perceber a importância social da produção

familiar, sem lhe conferir uma função econômica significativa. A reforma agrária

pertenceria assim exclusivamente ao âmbito de políticas sociais de luta contra a

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pobreza extrema, limitando-se a assegurar condições de modesta sobrevivência a

um número elevado de famílias excluídas da economia moderna, incapaz de

proporcionar o pleno emprego para toda a população. Em outras palavras, este tipo

de produção familiar voltada para a mera subsistência, funcionaria como uma válvula

de segurança para o setor moderno da economia, à imagem do setor informal

urbano. Este segundo cenário é igualmente inaceitável, por razões, inclusive morais,

na medida em que institui um verdadeiro e duradouro apartheid social, mesmo

quando amenizado por políticas compensatórias tais como a aposentadoria rural.

Estas políticas são por certo necessárias e bem vindas, quando integram um pacote

que inclui como componentes essenciais, a geração de empregos e auto-empregos

decentes, ou seja, a inserção produtiva das populações-alvo.

Isso nos leva, por eliminação, ao terceiro cenário, esse sim desejável: o

desenvolvimento rural sustentável no qual a produção familiar desempenha um

papel central, embora não único. Segundo CALDAS (2001), em um estudo sobre

impactos regionais, conduzido em várias regiões que refletem a diversidade da

realidade brasileira, chegou-se a conclusões positivas no que diz respeito à melhoria

das condições de vida de produtores familiares, a diversificação da produção, que

em certos casos permitiu uma reconversão produtiva em regiões de crise da

produção convencional, a diversificação também de canais de comercialização

desde a recriação de canais tradicionais como as feiras, passando por pontos de

venda próprios, formas cooperativas, implantação de pequenas indústrias até a

constituição de um mercado específico para os produtos provenientes da produção

familiar, vendas diretas aos consumidores urbanos, enfim, a criação de empregos. A

presença de produtores rurais também atua como fator gerador de postos de

trabalho não agrícola, como construção de casas, estradas, escolas, contratação de

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professores, surgimento de transporte alternativo, e como dinamizador do comércio

local nos municípios onde se insere. Não se trata de apresentar uma visão

uniformemente otimista da situação diversificada da produção familiar, que em

muitos casos lutam com grandes dificuldades, e sim para insistir sobre a existência

de um amplo espaço para uma política pública mais vigorosa de apoio, em particular

no que diz respeito aos acessos à tecnologia, aos conhecimentos, ao crédito, aos

mercados e à geração de oportunidades para agregar mais valor aos produtos

primários em pequenas unidades agroindustriais.

A consolidação da produção familiar e a promoção do desenvolvimento rural

exigem o acesso simultâneo a terra, à informação, à tecnologia apropriada, à infra-

estrutura (estradas, água, saúde e energia), ao crédito e aos mercados. O problema

é assegurar aos produtores familiares uma parcela razoável do valor agregado aos

produtos primários, o que implica uma participação bem maior de pequenas

unidades de transformação local, de preferência associativa ou coletiva, em vez de

reservar o processamento às empresas de grande porte, relegando aos produtores o

papel de meros fornecedores de matéria prima. Ao mesmo tempo convém melhorar,

como já foi dito, as condições contratuais impostas aos produtores integrados com

estas empresas (NISHIKAWA, 2004).

A transformação/beneficiamento de produtos e subprodutos da produção

familiar coloca-se como uma das mais importantes alternativas de promoção de

desenvolvimento rural sustentável. Muito utilizada para conservação dos alimentos,

auto-provisionamento das famílias e comercialização dos excedentes, ela é parte da

história e da cultura desses agentes. A produção de alimentos minimamente

processados passa a ser encarada como uma alternativa determinante, em muitos

casos, para a própria viabilização de inúmeras pequenas propriedades (OLIVEIRA et

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al., 1999). Utilizando tecnologias (equipamentos e instalações) adaptadas, a

agroindústria de pequeno porte proporciona meios efetivos de manutenção do

homem do campo. Situada na propriedade agrícola ou nas suas proximidades, tem a

capacidade de aumentar a renda das famílias a ela ligadas, pela agregação de valor

aos produtos agropecuários; de gerar postos de trabalho no meio rural; de abastecer

os mercados locais e regionais, colocando rapidamente à disposição dos

consumidores produtos de qualidade e a preços compatíveis; além de elevar a

arrecadação municipal pelos impostos gerados (MIRANDA, 1999). Soa estranho

pensar e escrever sobre o local quando só se fala em globalização, blocos e macro-

políticas. Na verdade, é preciso entender que quanto mais a economia se globaliza

mais a sociedade tem também necessidades em criar suas âncoras locais

(CALDAS, 2001).

Constata-se que a atividade agrícola, reconhecidamente essencial para a

produção de alimentos e de produtos de primeira necessidade para o bem-estar

humano, gera inúmeros desafios. De maneira geral, esses desafios são colocados

tanto para governos e sociedade como para os produtores e podem ser

considerados a partir de cinco vertentes básicas (DUARTE, 1998):

a) desafio ambiental - considerando que a agropecuária é uma atividade que

causa impactos ambientais, decorrentes da substituição de uma vegetação

naturalmente adaptada por outra que exige a contenção do processo de sucessão

natural, visando ganhos econômicos, o desafio consiste em buscar sistemas de

produção agrícola adaptados ao ambiente de tal forma que a dependência de

insumos externos e de recursos naturais não-renováveis seja mínima;

b) desafio econômico - considerando que a agropecuária é uma atividade

capaz de gerar, a curto, médio e longo prazos, produtos de valor comercial tanto

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maior quanto maior for o valor agregado, o desafio consiste em adotar sistemas de

produção e de cultivo que minimizem perdas e desperdícios, que apresentem

produtividade compatível com os investimentos feitos, e em estabelecer mecanismos

que assegurem a competitividade do produto agrícola no mercado interno e/ou

externo, garantindo a economicidade da cadeia produtiva e a qualidade do produto;

c) desafio social - considerando a capacidade da agropecuária de gerar

empregos diretos e indiretos, e de contribuir para a contenção de fluxos migratórios,

que favorecem a urbanização acelerada e desorganizada, esse desafio consiste em

adotar sistemas de produção que assegurem geração de renda para o trabalhador

rural e que este disponha de condições dignas de trabalho com remuneração

compatível com sua importância no processo de produção. Considerando o número

de famintos no planeta, e particularmente no Brasil, é necessário que a produção

agrícola contribua para a segurança alimentar e nutricional.

d) desafio territorial – considerando que a agropecuária é potencialmente uma

atividade capaz de integrar-se a outras atividades rurais, esse desafio consiste em

buscar a viabilização de uma efetiva integração agrícola com o espaço rural, por

meio da multifuncionalidade desses espaços;

e) desafio tecnológico – considerando que a agropecuária é fortemente

dependente de tecnologias para o aumento da produção e da produtividade, e que

muitas das tecnologias, sobretudo aquelas intensivas em capital, são causadoras de

impactos ao ambiente, urge que se desenvolvam novos processos produtivos nos

quais as tecnologias sejam menos agressivas ambientalmente, mantendo uma

adequada relação produção/produtividade.

A produção sustentável ou a alternativa defende unidades de produção

menores, menos uso de tecnologia e energia, maior eficiência das propriedades e

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regiões agrícolas, alimentos menos processados, conservação de recursos não

renováveis, comercialização regional/local, dentre outras características. Segundo

AIKEIN (1984), o consumo de alimentos próximo ao local de sua produção e a

redução da complexidade do sistema de abastecimento de alimentos reduziriam o

consumo de energia, valorizaria o conhecimento local e o controle da produção,

além de tornar o sistema de abastecimento menos vulnerável a uma quebra.

O Quadro 7, segundo o que já foi exposto, representa as posições polares da

Produção Convencional e da Produção Alternativa. A Produção Convencional foi

definida como produção de uso intensivo de capital, de larga escala, altamente

mecanizada, de monocultivo, de uso intensivo de fertilizantes artificiais, herbicidas e

pesticidas (KNORR; WATKINS, 1984). Já a Produção Alternativa inclui produções

orgânica, sustentável, de agricultura regenerativa e de agricultura de reduzidos

inputs, além de unidades de produção agrícola menores, menos uso de tecnologia e

energia, maior eficiência das propriedades e regiões agrícolas, alimentos menos

processados, conservação de recursos não renováveis e eliminação de

atravessadores (BUTTEL et. al. 1986).

Conforme BEUS E DUNLAP (1990), os defensores da Produção Convencional

pregam a centralização, com a redução do número de propriedades e proprietários

como uma etapa necessária ao desenvolvimento. Por outro lado, a crescente

concentração dos recursos agrícolas, nas mãos de um número menor de indivíduos,

é vista pelos adeptos à Produção Alternativa como uma ameaça à democracia e à

sustentabilidade no campo. A Produção Convencional também defende que o

progresso agrícola e social, como qualquer outro negócio, é uma questão de

mecanização, dinheiro e gerenciamento. Também defende o monocultivo e a

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separação da agricultura e da pecuária, sendo estas características muito criticadas

pelos adeptos à Produção Alternativa.

Quadro 7 - Produção Convencional x Produção Alternativa

PRODUÇÃO TRADICIONAL PRODUÇÃO ALTERNATIVA

Centralização • Produção, processamento e marketing

nacional e internacional; • Atividade centrada em menor número de

produtores; • Controle concentrado da terra, dos recursos

e capital nas mãos de poucos produtores (maiores e mais tecnificados).

Descentralização • Produção, processamento e

marketing mais regionalizado; • Atividade envolvendo maior número

de produtores; • Controle descentralizado da terra,

dos recursos e capital.

PRODUÇÃO TRADICIONAL PRODUÇÃO ALTERNATIVA

Dependência • Unidades de produção e tecnologia de larga

escala e uso intensivo de capital; • Elevada dependência em fontes externas de

energia, insumos e créditos.

Independência • Unidades de produção e tecnologia

de menor escala e uso reduzido de capital;

• Dependência reduzida em fontes externas de energia, insumos e crédito;

• Maior auto-suficiência da comunidade.

Competição • Falta de cooperação, interesses pessoais; • Tradições e cultura rural abandonada; • Pequenas comunidades rurais são

desnecessárias à pecuária; • Trabalho na fazenda é penoso: mão-de-obra

é um insumo a ser minimizado; • Pecuária é apenas um negócio; • Ênfase na velocidade de produção, na

quantidade e no lucro.

Comunidade • Maior cooperação (agrupamentos

em associações, cooperativas e condomínios);

• Preservação das tradições e culturas rurais;

• Pequenas comunidades rurais essenciais à pecuária;

• Trabalho na fazenda é recompensante: mão-de-obra sendo algo essencial que deve ser rico em significado;

• Pecuária deve ser uma forma de vida, assim como um negócio.

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PRODUÇÃO TRADICIONAL PRODUÇÃO ALTERNATIVA

Dominação da natureza • Humanidade é distinta e superior à natureza;• Produção mantida por agroquímicos; • Alimentos altamente processados,

adicionados de outros nutrientes.

Harmonia com a natureza • Humanidade é parte sujeita à

natureza; • Alimentos minimamente

processados e naturalmente sadios.

Especialização • Isolamento de culturas e animais; • Sistemas de produção padronizados; • Ciência e tecnologia especializada e

reducionista.

Diversidade • Integração de culturas e animais; • Sistemas de produção localmente

adaptados (clima, quantidade de água, etc.);

• Ciência e tecnologia interdisciplinares e orientadas para os sistemas.

Exploração • Custo das externalidades freqüentemente

ignorado; • Baseia-se em uso bastante intenso de

recursos não renováveis; • Sucesso financeiro: estilo de vida

ativo/atarefado.

Conservação • Custo das externalidades devem ser

consideradas; • Baseia-se nos recursos renováveis;

recursos não renováveis são conservados;

• Autoconhecimento; estilo de vida mais simples.

Fonte: BEUS e DUNLAP (1990). Tradução de Ana Raquel Santos Bueno

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CAPÍTULO 3

DISCUSSÃO E RESULTADOS

3.1 Caracterização das Mini-usinas de Leite Estudadas

Este trabalho analisa as mini-usinas de leite pertencentes a EDR (Escritório

de Desenvolvimento Rural) de Araraquara a partir das perspectivas do produtor

familiar que participa como fornecedor de matéria-prima e, de outra na qual ele é

dono e gestor do empreendimento. Aponta as vantagens da segunda sobre a

primeira. Busca-se mostrar como a entrada de multinacionais, apoiada por políticas

públicas, tem gerado problemas sociais e econômicos decorrentes da especialização

e da concentração da produção.

Em contrapartida, discute-se o papel das mini-usinas de leite, localizadas no

meio rural e gerida por produtores familiares, diante das novas propostas de

desenvolvimento regional e sustentável, apresentando seu potencial como

instrumento capaz de proporcionar novas oportunidades de trabalho e renda.

Apresentam-se, ainda, as dificuldades enfrentadas por esses produtores para a

implantação e legalização das mini-usinas, principalmente quando são iniciativas

isoladas, e o início tímido de apoio dos poderes públicos. Finalmente, busca-se

mostrar os avanços alcançados no sentido de viabilizar essas iniciativas e as

limitações ainda existentes para isso.

Na pesquisa realizada, foi abordado o caso de uma mini-usina situada na

EDR de Piracicaba, na cidade de São Pedro, denominada Cooperativa dos

Produtores Agropecuários de São Pedro (COOPAMSP) e que, apresenta resultados

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satisfatórios pelos produtores familiares que a compõem. As outras unidades, desse

estudo, tratam-se de mini-usinas de leite localizadas na EDR de Araraquara, na

região central do Estado de São Paulo. A EDR de Araraquara possui atualmente

quatro mini-usinas que processam leite pasteurizado e derivados, e uma que se

encontra paralisada. As mini-usinas estudadas serão denominadas unidades A, B,

C, D, e E. Foram pesquisados também, três assentados rurais localizados no

Assentamento Monte Alegre I e II, que atualmente produzem leite, e seus derivados

como queijos e doces, que são produzidos e comercializados de maneira informal,

através de um empreendimento clandestino. Estes serão denominados unidades F,

G e H.

A Cooperativa dos Produtores Agropecuários de São Pedro processa leite

dos tipos B e C, iogurte e bebida láctea. A unidade A é responsável pelo

processamento de leite fluido pasteurizado, queijos tipo frescal, iogurtes e bebida

láctea. Por sua vez, a unidade de fabricação de queijos foi denominada de unidade

B. As unidades C e D produzem apenas leite pasteurizado. A mini-usina paralisada

foi denominada de unidade E, e funciona atualmente como fábrica de sorvetes.

De um lado, este estudo revela o potencial do impacto da atividade na vida

dos produtores e da aceitação dos produtos desses laticínios pelos consumidores,

mesmo onde, em alguns casos, esses produtos são produzidos de maneira informal.

De outro lado, constatam-se as dificuldades encontradas pelos produtores na

obtenção de créditos, na legalização dos empreendimentos, na comercialização dos

produtos (poder de barganha) e na assistência técnica.

Este estudo contou com uma etapa de campo, na qual foram realizadas

entrevistas semi-estruturadas envolvendo produtores familiares que

beneficiam/transformam os seus produtos agropecuários de maneira formal, e

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outros ainda permanecem na informalidade. Foi feito um levantamento colocando

as dificuldades enfrentadas para se implantar uma mini-usina e se manter no

mercado, além dos impactos da atividade na vida desses produtores familiares.

Quando lhes foi perguntado que medidas seriam necessárias para

melhorar a situação das mini-usinas, foram citados o crédito mais barato e

desburocratizado, o combate ao leite informal e a melhoria do ambiente legal que

estimule a busca de todos os registros necessários para a inserção desses

estabelecimentos no mercado formal.

É importante salientar ainda, que existe uma série de problemas que

interferem na produtividade e na qualidade da produção: falta de capital para se

investir na compra de equipamentos e instalações adaptadas às condições locais

e ao volume de produção, informações sobre o setor, uniformidade dos produtos

produzidos, gestão dos empreendimentos, melhoramento genético do rebanho,

condições sanitárias, alimentação das vacas (pastagens), controle de erosão,

dentre outros. Não se pode subestimar o fato de que nessas unidades o produtor

e seus familiares assumem todas as funções da cadeia produtiva, de simples

produtores de matéria-prima, passam a desempenhar funções polivalentes que

vão desde a ordenha do leite até a de executivos, com todas as dificuldades que

isso comporta. Logo, não basta implantar mini-usinas, é necessário pensar em

introduzir estratégias que permitam o desenvolvimento, a ampliação e a

sobrevivência dessas iniciativas.

As mini-usinas são estabelecimentos importantes do ponto de vista

econômico e social, principalmente para os municípios onde estão situados seus

nichos de mercado, como pequenos e médios supermercados, bares,

restaurantes, sorveterias, escolas, hospitais, asilos, dentre outros

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estabelecimentos. Para FONTE et al. (1998), o atendimento de um mercado local,

com menores custos de distribuição e preços mais compatíveis para o

consumidor, pode ser a provável explicação da sobrevivência desses

estabelecimentos frente à concorrência dos grandes laticínios. Na maioria das

vezes as mini-usinas são constituídas, inicialmente, por produtores de leite que

buscam agregar valor à sua produção e sair das mãos de empresas privadas e de

algumas cooperativas.

Para os produtores investigados, as mini-usinas têm sido uma alternativa de

escoamento da produção e de agregação de valor à matéria-prima (leite), garantindo

uma renda maior para o sustento da família. Como esses empreendimentos dispõem

de pouco capital financeiro, a liberalização de crédito (governos federal e estadual) e

os incentivos da prefeitura são vistos como imprescindíveis para investimentos

adicionais em equipamentos e insumos diversos, utilizados tanto na propriedade

rural, quanto no laticínio e para o escoamento da produção.

3.2. Cooperativa dos Produtores Agropecuários de São Pedro (COOPAMSP):

pequena história e funcionamento do laticínio

A mini-usina estudada localiza-se no perímetro rural do município de São

Pedro, separado da cidade por 5 Km de serras. Foi fundada em 1997 e possui

atualmente 90 cooperados: 56 são produtores de leite e 34 utilizam a COOPAMSP

para compra de insumos para produção de milho, aves, gado de corte, suínos, horta,

enfim tudo que uma propriedade familiar consegue produzir.

O foco da pesquisa está voltado para a mini-usina processadora de leite

(laticínio), sendo formada pelos cooperados da COOPAMSP que atuam na produção

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de leite. Os produtos beneficiados e comercializados pela mini-usina são leite

pasteurizado tipo B e C e iogurtes (sabores morango, laranja, pêssego, côco,

abacaxi e kiwi). A marca utilizada para comercializar os produtos é denominada “Do

Campo”.

A mini-usina tem como missão, congregar os produtores em torno de uma

sociedade regida pelos princípios cooperativistas, com apoio logístico à atividade

leiteira, facilitar o acesso à assistência técnica e aos insumos a preços justos,

receber toda a produção leiteira de seus cooperados e comercializá-la da maneira

mais rentável. Vale-se, para tanto, do aumento do valor agregado, por meio da

pasteurização do leite e da fabricação de derivados.

A administração do laticínio é realizada por uma diretoria, composta pelos

seguintes cargos: Diretor Presidente, Diretor Administrativo, Diretor de Produção e

dois Diretores Vogais. Uma vez por mês há uma Assembléia envolvendo a diretoria,

na qual são prestadas as contas e discutidas as diretrizes a serem implementadas.

A grande maioria dos produtores que compõem a COOPAMSP obtiveram

suas terras por meio de herança, onde seus antecedentes trabalhavam como

colonos ou meeiros no cultivo de café, nas primeiras décadas do século XX, e assim

obtiveram recursos necessários para a compra das terras, onde foram se

expandindo com os retornos obtidos pela produção.

Inicialmente, os pioneiros organizavam sua produção dentro da família e não

era raro encontrar, em cada propriedade, de quinze a vinte famílias explorando a

área em conjunto. Entretanto, com o crescimento das famílias, os patriarcas foram

repassando suas terras aos filhos homens. Atualmente, a maior parte das

explorações agropecuárias passaram a ser realizadas por uma família (casal e

filhos, geralmente). Com a evolução do aumento do preço da terra, as áreas não

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puderam mais continuar sendo aumentadas. Hoje a área disponível dos atuais

produtores varia entre 7 e 60 ha.

A idade dos produtores de leite associados a COOPAMSP varia entre 23 e 70

anos e a maioria deles não chegou a cursar as quatro primeiras séries do ensino

fundamental. Entretanto, seus filhos, que se encontram na faixa etária entre 10 e 30

anos, concluíram ou têm intenção de concluir a oitava série, mas poucos pensam em

cursar o ensino médio.

A pecuária leiteira é tida atualmente como atividade principal dos cooperados

da COOPAMSP; contudo a maioria deles diversifica suas atividades produtivas, com

a produção de milho destinado à venda e também à silagem, além da avicultura de

corte, de horta, de suínos, etc.

A produção é algo a que já estavam acostumados, desde 1989, quando

começaram a trabalhar na forma de associados, na APAMSP (Associação dos

Produtores Agropecuários do Município de São Pedro), antes mesmo de haver o

laticínio.

A associação originou-se de um projeto do Centro Regional da Legião

Brasileira de Assistência (LBA) de Piracicaba em 1988. No final daquela década, a

LBA implementou um projeto que emprestava recursos para a formação ou

desenvolvimento de microempresas. Estes recursos eram devolvidos,

posteriormente, na forma de produtos gerados pelas mesmas, sem juros ou correção

monetária, em doze parcelas anuais, destinados a uma instituição de caridade da

mesma região da microempresa. O objetivo da LBA, dessa forma, resumia-se ao

repasse de recursos e apesar de nunca haver desenvolvido projetos no setor rural,

passou a atuar também nessa área. Contudo, quando a proposta foi apresentada,

levantou-se a hipótese dos produtores rurais terem algum receio em relação ao

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empréstimo, já que experiências anteriores foram mal sucedidas (política agrícola

desfavorável e dívidas contraídas ao tomarem empréstimos, que fizeram com que

alguns chegassem a perder suas terras). Considerou-se também, haver um certo

desinteresse para com as atividades agrícolas, especialmente no caso de

proprietários que receberam suas terras por herança. A despeito disso, a LBA

decidiu atuar nessa área envolvendo a assistente social da prefeitura de São Pedro

e o engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura do município. A partir daí foi feito

um levantamento dos produtores interessados em tomar o empréstimo. Em outubro

de 1988, foram assinados trinta e oito (38) contratos individuais para a obtenção de

empréstimo, nos moldes do projeto de microempresas, após uma seleção que

seguiu a inscrição no serviço social, o aval do engenheiro agrônomo e a aprovação

da LBA (MIRANDA, 1998).

Como a LBA havia se comprometido a oferecer assistência técnica, mas não

dispunha de pessoal capacitado em atividades agropecuárias, a Escola Superior de

Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), localizada

no município de Piracicaba/SP, foi procurada e estabeleceu-se um convênio técnico-

financeiro, denominado “Projeto de Acompanhamento e Avaliação das Unidades de

Produção Agrícola dos Mutuários do Projeto de Microempresas”.

Entre outubro de 1988 e abril de 1989, os técnicos envolvidos no projeto de

acompanhamento realizaram um levantamento nas unidades de produção agrícola

(UPA), realizando visitas às propriedades para obtenção de dados relativos ao

sistema de produção, tecnologia empregada e tamanho das UPAs. Aplicaram ainda

o “Formulário do Lar” destinado à coleta de informações sobre o modo de vida dos

produtores e seus familiares. A partir desses dados os técnicos tiveram condições de

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caracterizar o nível de vida, o grau de participação e o interesse do produtor em

participar desse empreendimento (MIRANDA, 1998).

Em abril de 1989, na primeira reunião destinada à discussão sobre o destino

do ressarcimento dos recursos recebidos, os técnicos da ESALQ e da LBA

propuseram a formação de uma associação composta pelos produtores mutuários.

Dessa forma, o empréstimo que deveria ser devolvido a uma instituição de caridade

poderia ser pago a essa associação dos próprios produtores. Assim, foi fundada no

dia 13 de abril de 1989, a APAMSP (Associação dos produtores Agropecuários do

Município de São Pedro). O depoimento de um dos produtores ilustra tal fato:

“Em março/abril de 1989 foi que o ADL (extensionista coordenador do projeto)

e o pessoal vieram para formar e organizar o grupo e devolver o dinheiro(...). O

dinheiro tinha que ser devolvido para uma entidade. Falaram para devolver para a

Santa Casa, lar dos Velhinhos e cada um deu uma idéia para devolver, todos

queriam devolver em dez anos. Aí, o ADL falou: vai devolver, e esse dinheiro vai

sumir. Logo, acaba o dinheiro. Aí ele falou: e se nós devolvêssemos para nós? Um

aceita, outro não aceita (...) até chegar num acordo de montar a Associação. Aí,

devolvia para a Associação, já que ela se tornou uma entidade e aí nós íamos

administrar o dinheiro para fazer alguma coisa para o grupo aqui, e isso tudo foi idéia

do ADL. Quem aceitou ficou, quem não aceitou tinha que devolver o dinheiro para o

grupo e fazer o que quisesse da vida dele e bastante tiveram que devolver mas não

participaram do grupo” (SFL, agricultor cooperado, citado por MIRANDA, 1998).

Como revela esse depoimento, nem todos os produtores que haviam recebido

as verbas da LBA se prontificaram a integrar esta Associação. Um folheto

institucional do grupo confirma essa versão e acrescenta que a maioria dos

produtores não aceitou a idéia por não acreditar na ação coletiva (MIRANDA, 1998).

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Esse estímulo inicial foi determinante para os produtores se organizarem. Os

produtores entrevistados relataram a existência de um forte individualismo no grupo

e acreditavam que, caso não houvesse uma intervenção, seria pouco provável que

eles se organizassem espontaneamente. Alguns deles, ainda se manifestam

surpresos por conseguirem construir e sustentar o grupo por tantos anos.

Segundo o Estatuto Social, os objetivos traçados pela APAMSP naquele

tempo continuam válidos até hoje para a COOPAMSP, sendo alguns deles: (a)

desenvolver o espírito cooperativista de seus associados, particularmente as

atividades que favoreçam a compra de insumos e comercialização dos seus

produtos; (b) propiciar aos seus associados e ao meio rural, condições básicas de

desenvolvimento sócio-econômico, promoção humana e integração comunitária; (c)

prestação de serviços que possam contribuir para o fomento e racionalização das

atividades agropecuárias, sociais e culturais que permitam a permanência do

homem no meio rural; (d) manter intercâmbio com instituições e associações

congêneres, visando o fortalecimento dos produtores; (e) auxílio para a

comercialização de produtos dos associados; (f) possibilidade de acesso à

assistência técnica individualizada; (g) recebimento de recursos para o grupo; (h)

representação dos produtores em conselhos de desenvolvimento público; (i)

organização de eventos sociais para levantar fundos e de eventos visando à

informação técnica (cursos, palestras, excursões, dias de campo). Além dessas

áreas direcionadas prioritariamente aos seus sócios, também desempenhou papel

importante ao facilitar negociações de benefícios sociais para a comunidade em

geral, como a construção de uma escola na zona rural, onde estudam também os

filhos de produtores não cooperados e a reativação do Posto de Saúde.

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Realizou também, intervenções nas propriedades a fim de resolver problemas

de ordem ambiental, como erosão, proteção do solo e das matas ciliares e medidas

quanto à higiene na ordenha, à falta de vacinação do gado e às contaminações

advindas de antibióticos que podem ser prejudiciais à saúde humana. Assim como a

construção de um barracão onde se realizam compras conjuntas de rações,

medicamentos, adubos, sementes etc.

A idéia de possuir o próprio laticínio existia desde o início da APAMSP. Na ata

da reunião realizada em abril de 1990, ao falarem sobre possíveis objetivos da

Associação aos associados que ingressavam naquele momento, comentaram sobre

a comercialização de vários produtos em sistema de varejo e da criação de um

laticínio. Para concretizarem essa idéia, realizaram visitas a três laticínios, mas a

concretização só ocorreu no início de 1994, com a liberação de recursos da LBA

para a compra de equipamentos mais caros: o pasteurizador e a embaladeira

(MIRANDA, 1998).

Nessa época, os produtores já levavam em conta a qualidade do que

produziam, ou seja, produtos que tinham valor para a venda, e começaram também

a melhorar as condições do solo e do manejo dos animais. A produtividade para o

laticínio começou, primeiramente, dentro da propriedade rural e não somente no

processo de beneficiamento do leite no laticínio. Vale lembrar que, em alguns casos,

a falência ou dificuldade de algumas mini-usinas se deve ao fato do problema

começar no momento da produção da matéria-prima, pois há ineficiência de

produção na propriedade, comprometendo a produtividade da mini-usina (OLIVEIRA,

1999).

Como o montante oferecido pela LBA só era suficiente para a compra de

equipamentos, os sócios tiveram que entrar com recursos próprios para custear as

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demais despesas1. Porém, apenas parte dos sócios da APAMSP contribuíram

financeiramente com as despesas para a construção do laticínio, o que acabou

gerando uma divisão entre eles, formando então a Cooperativa dos Produtores

Agropecuários de São Pedro, a COOPAMSP. No momento em que decidiram

montar o laticínio, viram que não poderiam mais ser associação, e sim cooperativa,

pois a associação permite apenas a realização de compras em seu nome, e a

cooperativa, além de permitir efetuar compras, permite também efetuar vendas, o

que já revela as dificuldades diante da lei.

A decisão de construir o laticínio teve de ser tomada em período bem curto

para aproveitar a oportunidade surgida com os recursos oferecidos pela LBA. Três

meses após a notícia da disponibilidade dos recursos, os primeiros cooperados

começaram a contribuir financeiramente para a construção. Ao longo do período da

construção do laticínio, realizaram diversos eventos para levantar fundos, bem como

atividades para a obra na forma de mutirão. O laticínio entrou em funcionamento em

20 de julho de 1997, passando a pasteurizar o leite de seus cooperados e

comercializá-lo na forma de leite C. Nos primeiros dez dias de funcionamento,

escoou parte da produção dos cooperados (700 l/dia) e já a partir do mês seguinte

passou a comercializar a maior parte da produção dos produtores cooperados.

Em fevereiro de 1998 comercializou-se mais de 3.500 litros de leite/dia,

escoando a produção de todos os produtores cooperados. Atualmente o laticínio

processa 7.000 litros/leite/dia. O planejamento inicial foi feito para processar 5.000 1Segundo o Extensionista, o Professor Ademir de Lucas, atualmente, para se montar uma mini-usina com capacidade para processar 12.000 l/leite/dia, com a construção e todo o equipamento necessário, são necessários investimentos em torno de R$ 250.000,00; sem a construção, contando somente com o maquinário, o investimento fica em torno de R$ 150.000,00. O que encarece a atividade é o custo operacional. Segundo ele, a mini-usina é vantagem porque é uma cooperativa e eles têm a oportunidade de agregar valor ao seu produto e adquirir outros benefícios. Como um projeto individual para ser viável, é um empreendimento que precisa ser bem avaliado, pois o retorno é muito baixo, principalmente se você precisar adquirir leite de terceiros. Esta pode ser uma razão pela qual muitas mini-usinas de leite estão fechando em todo o estado de São Paulo.

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litros/dia de leite, mas, devido à adoção de estratégias de crescimento, foi adquirido

em junho de 1998 equipamentos para mais que dobrar sua capacidade de

beneficiamento, passando a uma capacidade de 10.000 litros/dia.

A empresa, atualmente, tem um canal de comercialização conquistado pela

boa aceitação da marca nas cidades de São Pedro, Águas de São Pedro e

Piracicaba. Os produtos são entregues as padarias, supermercados diversos,

restaurantes, hotéis e Prefeitura de São Pedro. A distribuição é terceirizada e feita

através de caminhões refrigerados. Há um trabalho de conscientização com os

proprietários dos estabelecimentos citados, quanto a não deixar os produtos em

caixas fora da geladeira, a fim de não comprometer a qualidade dos mesmos.

Para a construção do laticínio, a Cooperativa recebeu a doação de um terreno

pela prefeitura de São Pedro. Para que a prefeitura doasse o terreno foi necessário

que a Câmara Municipal declarasse a Cooperativa como sendo de utilidade pública.

Segundo o Código Civil Brasileiro (art.16, inciso I), entidades de utilidade pública não

possuem fins econômicos e são de interesse social. A declaração de utilidade

pública de uma cooperativa se faz por meio de instrumentos de Lei Municipal, por

iniciativa de um vereador ou do prefeito, após o registro da cooperativa.

Atualmente todos os produtores cooperados do laticínio possuem as

seguintes características em comum: empregam exclusivamente mão-de-obra

familiar, têm a pecuária como principal atividade ou como atividade importante na

composição da renda, utilizam máquinas (tratores e implementos) próprias ou

alugadas, realizam análises de solo e fazem adubação e calagem periodicamente

conforme recomendação da assistência técnica e utilizam silagem de milho para

fornecer como alimentação de inverno às vacas. Os produtores que entregam leite

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para o laticínio podem ser divididos em função da área e da especialização do

rebanho, em dois grupos (MIRANDA, 1998):

O grupo 1 é constituído por 59% dos produtores, cujas propriedades possuem

áreas que variam de 24 a 60 ha, superiores ao módulo rural regional que é de 13

ha. Criam rebanhos mestiços, destinando os bezerros para corte. A produção total

varia de 80 a 165 litros/dia (produção média por vaca é de 10 litros/dia).

O grupo 2 é formado por 41% dos produtores e a área média de suas

propriedades é de 8 ha; o rebanho é especializado para a produção de leite (raça

holandesa) e a produção total varia de 31 a 177 litros/dia (produção média por vaca

é de aproximadamente 15 litros/dia).

Entrevistado, um produtor cooperado diz, “antes da COOPAMSP a produção

era baixa, pois os insumos eram caros e tínhamos que comprar sozinhos, além da

falta de assistência técnica e gerencial. Hoje, sei que trabalhar em conjunto é

sempre melhor e hoje temos o Ademir (Extensionista e Coordenador da

COOPAMSP – Professor ESALQ/USP ) que desde a APAMSP foi à pessoa central

para conseguir segurar o grupo. Hoje, nós entendemos o que acontece quando

ganhamos mais ou menos pelo litro de leite, porque somos nós que fazemos o

nosso preço, além de nunca na história da cooperativa, o preço do leite ser aquele

exagero, mas sempre foi melhor do que o de outros laticínios. Precisamos estar de

olho no nosso custo de produção e na nossa produtividade, para não gerar custo

alto na produção do laticínio” (MRB, sócio fundador e cooperado).

Segundo M. R. B., cooperado do laticínio, o pai já era produtor de leite e

frango na mesma área em que reside atualmente, onde já havia tentado fundar

várias associações e cooperativas, mas todas sem sucesso. Porém, nunca desistiu e

sempre acreditou que trabalhar em conjunto dá certo, além de passar para o filho

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essa idéia. Declara que antes da COOPAMSP, o problema, que tinham com

empresas para quem entregavam o leite, era o valor pago pelo litro do leite; nem

sempre recebiam o valor que esperavam, além do valor do frete que vinha

descontado e era muito alto.

“Hoje tenho uma granja e tudo que aprendi na cooperativa, utilizo na granja.

Consigo olhar para o que eu quero, acreditar e saber se tem futuro, o que antes não

conseguia. Aqui na propriedade tem serviço sobrando pra mim, para os meus dois

filhos (10 e 16 anos) e a esposa, e trabalhamos todos juntos. Aqui as coisas só tem

melhorado, as vacas melhoram a cada dia e sei que com o tempo vou conseguir ter

um rebanho melhor e mais produtivo, estou caminhando pra isso. Hoje tenho 36

vacas, sendo 19 em lactação e estou tirando uma média de 300 L/leite/dia. Só duas

vacas foram compradas, o restante é tudo cria daqui. Quanto a empréstimo tenho

PRONAF, que usei um pouco na produção de leite e um pouco na granja. Se não

fosse o empréstimo, não tinha também os maquinários que tenho hoje, o trabalho

seria mais difícil” (MRB, sócio fundador e cooperado).

A percepção da Cooperativa como sendo um mecanismo que lhes permite

atender às suas necessidades básicas e, consequentemente, permanecerem como

produtores, é reforçada pelo fato de terem vizinhos e parentes que já abandonaram

as atividades agrícolas. Apesar de existir casos de sucesso econômico por parte de

alguns que mudaram para a cidade (por exemplo, trabalhando como autônomos no

transporte de carga), e como o nível de escolaridade dos produtores é baixo

(primário incompleto, com exceção de alguns casos com colegial completo) as

perspectivas de um trabalho com boa remuneração são baixas e o abandono da

atividade agrícola é uma decisão que envolve incerteza. Assim, percebem a

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Cooperativa como algo que lhes dá esperança ou, na linguagem dos próprios

entrevistados, “dá confiança que ainda vai dar certo”.

“(...) Se não fosse a Cooperativa não sei se tava no sítio (...) não sei se não

estava cortando cana, não sei o que seria...” (SLF, sócio fundador da APAMSP e

COOPAMSP).

“A Cooperativa hoje é importante exatamente nessa parte, de se manter (...)

se tivesse fora da Cooperativa, já tinha parado. Pra mim, o que dá condição de tocar

e continuar com o leite é isso aí, é estar junto com o grupo. (...) Ela dá confiança que

ainda vai dar certo, trabalhando em grupo.”(SLF, sócio fundador da APAMSP e

COOPAMSP).

A Cooperativa proporciona a esses produtores acesso à assistência técnica, o

que possibilita uma melhoria da produção com o uso de insumos nas quantidades

recomendadas e novos conhecimentos, o que é bastante valorizado e importante

pela limitação de área disponível. Além disso, alguns dos cooperados que participam

mais ativamente das atividades da diretoria da Cooperativa, consideram que esse

envolvimento foi um aprendizado sobre como lidar com pessoas de fora do setor

rural com as quais passaram a conviver. Deve-se ressaltar que a própria construção

do laticínio foi uma decisão estratégica do grupo; uma opção visando atenuar um

problema de comercialização enfrentado por grande parte dos produtores.

O preço do leite pago aos cooperados é baseado no valor de mercado,

variando atualmente (julho/2005) entre R$ 0,50 e R$ 0,56. Além disso, em março de

cada ano, é feito um balanço, e cada cooperado recebe a sua cota parte advinda da

comercialização dos produtos do laticínio no exercício do ano anterior.

A cooperativa trouxe a seus cooperados vários benefícios econômicos,

gerenciais, tecnológicos e sociais, tais como:

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Econômicos:

Ganhos pela compra em conjunto: é a redução do preço obtida pela

compra em conjunto para os cooperados (insumos, equipamentos etc).

Aumento no preço do litro de leite: é o ganho obtido pela cooperativa

na venda do leite dos cooperados. Permite a análise de integração à jusante na

cadeia produtiva, verificando as relações de venda.

Aumento da receita bruta: é o aumento da receita dos produtores.

Permite a análise interna à propriedade, verificando as condições de melhoria da

atividade.

Melhoria no acesso ao crédito: é a condição de facilidade de acesso

ao crédito por estar organizado em cooperativa.

Redução do custo operacional: é a redução no custo da atividade

leiteira e/ou da propriedade. Permite a análise de redução de custos por ações

conjuntas (compra de insumos, assistência técnica, transporte de leite etc.).

Aumento na produção: é o aumento da produção de leite em função

das ações promovidas pela cooperativa. Permite a análise de melhoria nas

condições de produção.

Busca de oportunidades: é a busca de novos mercados e/ou a

manutenção do que já existe.

Gerenciais

Apoio externo: é a assistência externa recebida pela cooperativa

(gerencial, técnica, contábil, comercial...). Permite a análise de interação da

cooperativa com outros agentes.

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Eventos de capacitação tecnológica: os produtores passaram a

participar de alguns eventos de capacitação para aprenderem novas técnicas de

manejo do rebanho e de gerenciamento da atividade, e isso sem custo adicional

(reuniões, palestras, visitas técnicas, cursos, programas, treinamentos).

Tecnológicos

Novas instalações: é a promoção para a aquisição de novas

instalações por orientação da cooperativa.

Novas técnicas: o conhecimento que os produtores passaram a ter

com as novas formas de manejo do rebanho, de controle sobre as atividades na

propriedade e no laticínio.

Melhoria na qualidade do produto: é a melhoria da qualidade no

produto final (leite). Permite a análise de intervenção promovida pela cooperativa,

direta ou indiretamente, na qualidade do produto. Todos os produtores que

participam atualmente da cooperativa perceberam um aumento na qualidade e

quantidade do leite produzido na propriedade.

Sociais

Participação nas decisões comunitárias: é a participação e a freqüência

com que a cooperativa participa da comunidade. Atualmente participam no Conselho

de Desenvolvimento Rural de São Pedro, Câmara Municipal, Entidades

Assistenciais, dentre outras.

Realização e/ou participação em eventos gerais: é a promoção e a

freqüência com que a cooperativa promove eventos gerais, para os produtores e

familiares. Permite a análise de capacitação e lazer, verificando se a cooperativa

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está contribuindo para levar informações e/ou lazer para os envolvidos na atividade.

A cooperativa promove algumas festas, onde participam não apenas os produtores,

mas também seus familiares. Essas festas promovem lazer e cultura a todos os

participantes. Podem ser citadas também as reuniões da cooperativa, no qual cada

sócio tem a sua opinião considerada importante para o desenvolvimento da mesma

e sendo uma aprendizagem para tocar o próprio negócio.

Melhoria da qualidade de mão-de-obra: os produtores perceberam que

obtiveram um ganho pessoal de qualificação, tendo reflexo na própria propriedade.

Acesso a serviços de saúde: é a melhoria de acesso aos serviços de

saúde pelos produtores e familiares. Como exemplo disso, tem-se a reativação do

Posto de Saúde e do plano de saúde pela cooperativa com preço mais acessível do

que se fosse feito de forma particular.

Participação na tomada de decisão em reuniões: os produtores

cooperados participam das ações da cooperativa; a tomada de decisão é sempre

por consenso, ou seja, os membros analisam a situação em conjunto.

Parcerias locais e regionais: é a parceria com alguma entidade ou grupo

da cidade ou região. A cooperativa tem como grande parceria a ESALQ, a

EMBRAPA/São Carlos e a Prefeitura de São Pedro, como sendo parcerias externas

locais e regionais muito importantes.

Ambientais

As informações obtidas da cooperativa facilitaram a percepção dos

produtores sobre questões ambientais, onde no laticínio, aprenderam a importância

do tratamento da água antes de retorná-la à natureza e o reaproveitamento da

mesma na própria propriedade.

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A COOPAMSP realiza um trabalho de conscientização com os

produtores quanto às atividades ilegais, como a venda de leite cru, queijos, carnes e

outros alimentos sem inspeção sanitária, mostrando que é uma atividade sem futuro

de crescimento, uma vez que sempre estarão ameaçados pela legislação.

A Cooperativa está se preparando para se adequar às novas normas e

exigências da IN 51 (Instrução Normativa). Houve uma reunião com os cooperados

produtores de leite da COOPAMSP, em que foi discutida, a viabilidade dos tanques

de resfriamento particulares e comunitários. Chegou-se a um acordo, alguns

optaram por ter o seu próprio tanque de resfriamento e outros optaram por

adquirirem um tanque comunitário. Essa decisão foi tomada depois de ter sido

realizado um estudo da viabilidade econômica sobre esse tipo de investimento. A

Cooperativa fará um cálculo do montante que cada cooperado vai pagar pelo

tanque, em um prazo de três anos, ou seja, pagarão em 36 parcelas, e o produtor

vai destinar entre oito a treze litros de leite/dia para pagar o financiamento. A

cooperativa está fazendo uma cotação em onze empresas que fabricam tanques de

resfriamento e tem por objetivo adquirir em nome da mesma uma média de R$

300.000,00 em tanques. Diante disso, a Cooperativa está fazendo um projeto para

conseguir um empréstimo junto ao FEAP (Fundo de Expansão da Agropecuária

Paulista), que é destinado ao apoio a agroindústrias.

De acordo com a nova lei da granelização do leite, os produtores serão

obrigados a tomarem uma decisão se querem ou não ser produtores de leite, pois

precisarão se especializar a cada dia, principalmente agora que se vêem obrigados

por lei a tal investimento.

Os entrevistados sabem que, com a granelização do leite, não vai aumentar o

valor pago pelo litro do leite, pelo menos em curto prazo, mas vai obrigá-los a terem

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uma padronização na qualidade, uma vez que existirão tanques comunitários. “Não

temos medo das novas medidas, pois a Cooperativa está aí para nos ajudar no que

for preciso, por isso nos sentimos amparados. Todo negócio tem seus altos e baixos,

mas o importante é que todos temos vontade de melhorar”. Para o laticínio, uma

vantagem da granelização do leite é a redução do valor do frete. O frete atualmente

custa R$ 0,03 o Km por dia, se o caminhão pegar o leite dia sim/dia não, o preço

cairá pela metade, proporcionando ganhos para os cooperados.

3.3 Mini-usina A

A mini-usina A está localizada a 17 Km do município de São Carlos/SP, na

zona rural e foi fundada no ano de 1994. A idéia de se montar a mini-usina surgiu a

partir da necessidade de agregar valor ao leite produzido na própria propriedade

rural, uma vez que o valor pago, pela cooperativa que recebia o leite, era muito

baixo, e, às vezes, nem cobria os custos de produção. Diante dessa situação, sendo

a atividade leiteira a única fonte de renda da família, começou-se a comercializar o

leite de maneira informal, vendendo leite cru e queijos produzidos na propriedade.

Esses produtos eram comercializados na cidade de São Carlos, tanto para

consumidores finais quanto para pequenos varejos. À medida que a atividade foi

crescendo e se solidificando, os dois filhos e uma nora do proprietário da

propriedade rural, deixaram o emprego na cidade de São Carlos e foram trabalhar

no laticínio, que até então era clandestino. Diante disso, resolveram regularizar a

atividade, ao criar uma mini-usina, com registro no SISP.

Quando o laticínio foi registrado, a estrutura física já estava pronta conforme

as normas do SISP, o que facilitou muito no momento em que houve a decisão de se

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registrar a atividade. “ Enquanto trabalhamos na informalidade houve tempo e capital

para se investir na estrutura física do laticínio, que conta atualmente com cinco

funcionários contratados mais os quatro sócios (pai, dois filhos e uma nora), sendo

que o proprietário da propriedade rural (pai), cuida mais da administração da

mesma. O sonho de beneficiar o leite produzido na propriedade já era antigo”.

Atualmente, a produção é quase que exclusivamente de pecuária leiteira,

tendo algumas galinhas poedeiras e horta para consumo próprio da família. A coleta

de leite é feita por ordenhadeira mecânica, realizada por mão-de-obra contratada. A

alimentação do gado consiste em pastagem nativa, silagem seca e ração

balanceada no inverno.

Atualmente o laticínio processa 3.500 litros/dia de leite, dos quais 600l/dia é

produção própria e 2.900 l/dia são provenientes de pequenos produtores da região

de Araraquara. O laticínio possui dois caminhões abertos para fazer a coleta em

cinco rotas diferentes, onde coletam o leite em latões. Conforme os proprietários, a

mini-usina está se preparando financeiramente para adquirir tanques de resfriamento

e instalar em pontos estratégicos para os produtores. Segundo os proprietários do

laticínio eles terão que investir uma média de R$ 100.000,00, pois além dos

resfriadores, o laticínio precisará investir em um caminhão fechado e refrigerado,

para a captação do leite e também no treinamento do motorista para proceder à

análise de qualidade no momento de se coletar o leite e colocar no caminhão.

Afirmam que desconhecem linha de crédito com juros acessíveis, voltado para tal

investimento. Quanto ao valor pago pelo litro de leite aos produtores não haverá

nenhum acréscimo, em virtude do grande investimento realizado pelo laticínio e,

também, porque pelo valor de mercado não está havendo diferencial no preço do

leite granelizado. Será pago um acréscimo apenas ao produtor onde o tanque ficará

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instalado. Conforme os proprietários, o mercado na época da seca, neste ano de

2005, está reagindo como nunca se lembram ter acontecido, no qual o preço do leite

pago ao produtor está caindo e não subindo, isso, devido ao aumento da oferta

diária de leite a partir do mês de junho/2005, nos principais estados produtores, e

devido ao crescimento das importações.“Não temos a intenção de baixar o preço

pago aos produtores, a menos que o mercado nos force a isso, isso não é justo”.

O laticínio atualmente paga aos produtores R$ 0,50 pelo litro de leite (valor

líquido), assume as despesas com frete e fornece assistência técnica (veterinário do

laticínio). “Esses produtores que nos fornecem leite são fiéis ao laticínio desde o ano

de 1994, quando começamos a comprar leite de terceiros. Sempre procuramos

orientá-los quanto às estratégias das grandes empresas que atuam comprando leite

em nossa região, que pagam um valor alto pelo litro de leite ao produtor, mas com a

finalidade de falir os pequenos e comprar os médios e grandes laticínios, como está

acontecendo na região de São Carlos, mas depois começam a ditar novamente o

preço do leite ao produtor, que não dá nem para cobrir os custos”.

A mini-usina começou a produção apenas com leite pasteurizado tipo C e

queijos tipo Minas Frescal, mas atualmente produz também bebida láctea, iogurte,

ricota e leite pasteurizado tipo B. Tem projetos para produzir manteiga, requeijão e

doce de leite, mas para isso, precisa-se investir em outros ativos.

A empresa atualmente tem um canal de comercialização conquistado pela

boa aceitação da marca nas cidades de São Carlos, Ibaté e Araraquara. Os

produtos são entregues a padarias, supermercados diversos, restaurantes, hotéis,

sorveterias e Prefeitura de São Carlos, onde participaram de licitações. Segundo os

proprietários, “a prefeitura podia incentivar ainda mais os pequenos laticínios, não

permitindo que laticínios de outras regiões participassem das licitações”. A

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distribuição é terceirizada, e feita em caminhões fechados e refrigerados. O laticínio

toma o cuidado de recomendar às pessoas, responsáveis pela distribuição, que

façam um trabalho junto com os proprietários de varejos, a fim de não deixarem os

produtos nas caixas fora da geladeira, para não comprometer a qualidade dos

mesmos.

Quanto a incentivos políticos, a Prefeitura de São Carlos organizou a

Associação da Agricultura Familiar, com um local que foi reservado na cidade, onde

são comercializados frutas, legumes, verduras, leite e derivados provenientes da

produção familiar. A Prefeitura conseguiu parte do dinheiro para esse projeto com o

Banco do Brasil e em alguns órgãos governamentais. O projeto deverá começar a

funcionar em maio/2005 e segundo os proprietários do laticínio “está sendo a

esperança de muitos produtores familiares, onde um dos problemas da maioria deles

é onde comercializar sua produção. O fato de ter leite e derivados vai ser um grande

incentivo também para produtores familiares de leite, pois esse tipo de projeto

raramente envolve produtores de leite. Para o cliente também vai ser bom, pois

encontrará produtos lácteos, não precisando assim ir até outro estabelecimento para

terminar a compra da semana”.

Conforme o regulamento do projeto, no que diz respeito aos laticínios, só irão

se beneficiar dessa alternativa quem estiver regularizado no SIM (Serviço de

Inspeção Municipal), SISP (Serviço de Inspeção do Estado de São Paulo) ou SIF

(Serviço de Inspeção Federal). Essa iniciativa está sendo considerada um grande

incentivo para que alguns produtores comecem a produzir de maneira formal,

respeitando as especificações legais e atendendo a critérios exigidos para garantir a

qualidade do produto e a segurança do consumidor.

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Segundo os proprietários, o maior concorrente do laticínio atualmente é o leite

informal, sendo de grande circulação na cidade de São Carlos. “A informalidade é

uma opção viável para produtores que não têm condições financeiras para se

formalizarem. É mais rentável que entregar para cooperativas. Apesar da

informalidade prejudicar o andamento do laticínio e ser uma prática prejudicial à

saúde da população, entendemos a situação desses produtores, porque para se

formalizar no mercado não é fácil, e precisa de capital, e nem sempre eles

conseguem algum tipo de empréstimo e assistência técnica na produção do leite e

no gerenciamento do laticínio”.

No projeto Associação da Agricultura Familiar, seria necessário um programa

para apoiar financeiramente os empreendimentos de conversão dos pequenos

produtores para atividades geradoras de empregos e renda no meio rural. Segundo

SCHMIDT (2002), em Santa Catarina, existiu uma associação denominada

Associação de Municípios do Vale do Itajaí, onde as Prefeituras da região criaram

uma área de livre comércio entre os municípios e investiram em marketing com a

população, para que valorizassem produtos da região, divulgando os benefícios

dessa iniciativa. Para acompanhar e orientar esse trabalho com os produtores, a

Associação estruturou uma equipe técnica, e o alvará de funcionamento para o

estabelecimento estava condicionado a adequação dos produtores às exigências em

estrutura física, funcionalidade e higiene determinadas por essa equipe técnica.

Restava saber se para o produtor familiar essa iniciativa seria interessante o

suficiente para que passasse a ser um microempresário, e assumisse todas as

exigências quanto à estrutura física e produtiva para viabilizar o empreendimento.

Embora tenha surgido como alternativa interessante de apoio à produção familiar, o

projeto acabou não dando certo. Uma das explicações para isso, segundo SCHMIDT

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(2002), vem da falta de recursos financeiros para auxiliar esses produtores quanto

às exigências físicas e quanto ao apoio técnico e gerencial.

Muitas tentativas de promover a modernização e mudanças no sistema de

produção dos produtores familiares têm fracassado por não reconhecerem as

condições reais dos mesmos – disponibilidade de recursos, nível de qualificação,

acesso ao mercado, assistência técnica etc. Cria-se uma estrutura econômica

ineficiente, cujo rendimento é inferior ao previsto, e que se agrava devido ao

desnível entre o fluxo de capital de giro requerido para manter o processo de

trabalho e os recursos disponíveis. Uma vez esgotados os recursos externos que

financiam tais inovações, muitas áreas e práticas são simplesmente abandonadas

por causa da impossibilidade de sustentar os gastos exigidos (EMBRAPA, 2002).

É interessante salientar, ainda, que existe uma série de problemas que

interferem na produtividade e na qualidade da produção: qualidade da matéria-

prima, dimensionamento e desenvolvimento de equipamentos e instalações

adaptados às condições locais e aos volumes de produção, racionalização dos

processos, higiene, profissionalização das pessoas, uniformidade dos produtos,

gestão dos empreendimentos, dentre outros. Não se pode subestimar o fato de que

nessas unidades o produtor e seus familiares assumem todas as funções da cadeia

produtiva. De simples produtores de matéria-prima, passam a desempenhar funções

polivalentes que vão desde a de pequenos empresários até a de vendedor, com

todas as dificuldades que isso comporta (OLIVEIRA, 1999). Logo, não basta

implantar essas unidades, mas é necessário, desde o início, pensar em introduzir

estratégias que permitam o desenvolvimento, a ampliação e a sobrevivência dessas

iniciativas.

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Atualmente, o leite cru e o longa vida têm sido fortes concorrentes do leite

pasteurizado. “Já tentamos colocar na embalagem do leite algumas informações ao

consumidor quanto as diferenças entre o leite pasteurizado e o longa vida, mas

fomos barrados. Diante disso, investimos em marketing por meio de jornais de

circulação na cidade de São Carlos e rádio, mas também temos procurado ir às

escolas divulgar a marca e distribuímos para as crianças um folhetinho montado por

nós, explicando as diferenças do leite pasteurizado e do leite longa vida. Acho que

essa conscientização também deveria ser realizada pela prefeitura quanto ao leite

cru, pois a sociedade não tem conhecimento do que significa esse tipo de leite,

achando que é o mais saudável”.

Ao finalizar a entrevista, foi enfatizado o interesse de se formar uma

associação com as mini-usinas da EDR de Araraquara, pois acham que seria uma

maneira de fortalecer a atividade.

3.4 Mini-usina B

A mini-usina está localizada no município de Ribeirão Bonito, na zona rural, a

7 Km da cidade. O laticínio foi fundado no ano de 1998, por apenas um proprietário,

que tinha por objetivo abrir uma agroindústria para a filha (Engenheira Agrônoma) e

isso, dentro da própria propriedade rural. Trata-se de um pequeno produtor

(propriedade menor que 50 ha), que não tem a propriedade rural como atividade

principal de sobrevivência, uma vez que sobrevive com uma aposentadoria de

professor universitário.

A sua produção é diversificada, com cana-de-açúcar, gado de leite e de corte.

A alimentação das vacas consiste em pastagem não adubada e cana-de-açúcar no

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inverno. A coleta de leite é manual e realizada por um funcionário contratado que

reside na propriedade. Segundo SCALCO (2004), vale ressaltar que não é pelo fato

de a propriedade utilizar ordenha manual que o leite seja de baixa qualidade. O que

caracteriza o leite de baixa qualidade são os procedimentos de higiene na ordenha,

o armazenamento do leite não ser adequado ou o gado estar contaminado.

Antes de montar a mini-usina, o leite era escoado para uma grande empresa

privada localizada na cidade de Araraquara, sendo que o valor pago pelo litro de

leite, em geral, não cobria os custos de produção. Outras motivações para se montar

a mini-usina envolviam a agregação de valor ao leite e sair, assim, das mãos das

grandes empresas que ditam os preços. Diante disso, o proprietário resolveu fazer

algumas visitas a laticínios e fábricas de fazer lingüiça, quando declara ter optado

por montar um laticínio pela seguinte razão: “Há dez anos atrás, os órgãos de defesa

do consumidor começaram a se fortalecer, exigindo uma maior qualidade dos

alimentos. Na minha pesquisa, constatei que a carne estragada consumida pelo ser

humano pode levar à morte muito mais fácil do que o leite estragado, que pode

causar apenas diarréia ou vômito, e por isso optei pelo laticínio, pois correria menos

riscos”.

O laticínio começou a funcionar de maneira informal, permanecendo assim

por um período de tempo de três anos. Em 1998, foi registrado junto ao SISP

(Serviço de Inspeção do Estado de São Paulo) como mini-usina. Após pesquisa de

mercado realizada pelo proprietário, foi detectado que a produção de queijos seria

mais rentável que o leite pasteurizado, por já haver uma oferta muito grande no

mercado. Diante disso, começou a produzir queijos tipo Mussarela, Minas frescal e

Ricota. No ano de 2001, foram introduzidos os tipos Ricota, Mussarela e Minas

Frescal com leite de búfala. A projeção é de produzir, em 2006, queijo Parmesão.

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Com o aumento da demanda pelos produtos da marca, os proprietários

começaram a comprar leite de pequenos produtores da região, que se viram sem ter

para quem entregar o leite produzido. A coleta se dá de forma terceirizada, e a mini-

usina fica responsável pelo pagamento do frete.

Com a nova lei de granelização do leite, os proprietários disseram não ter

condições de assumirem tanques de resfriamento para uso dos produtores que

fornecem leite para a mini-usina, tendo esses produtores que se organizarem para

isso.

O laticínio possui veterinário contratado, mas não dá assistência técnica aos

produtores que fornecem leite para o mesmo. O leite fornecido nem sempre é de boa

qualidade, tendo às vezes que ser descartado pela presença de microorganismos

prejudiciais na fabricação dos queijos e, sendo também algumas vezes misturado

com água.

A empresa atualmente possui um canal de comercialização conquistado pela

boa aceitação da marca nas cidades de Araraquara, Matão, Ibaté, São Carlos e

Américo Brasiliense. Os produtos são entregues as padarias, supermercados de

médio e grande porte e hotéis. A distribuição é feita em caminhão fechado e com

refrigeração, pertencente ao próprio laticínio. Prezam pela não terceirização das

entregas ao varejo, a fim de terem o cuidado de acompanhar o acondicionamento

dos produtos nos pontos de vendas e obterem um retorno da aceitação do seu

produto pelos consumidores finais. A empresa investe em publicidade através de

jornais de circulação nas cidades em que comercializa os produtos.

Os maiores concorrentes são os produtos fabricados em Minas Gerais,

principalmente os de Poços de Caldas, por já haver na mente dos consumidores um

marketing construído sobre os queijos mineiros.

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Quanto a incentivos políticos, diz que nunca pôde contar, uma vez que já fez

diversos projetos para conseguir empréstimos junto ao FEAP (Fundo de Expansão

da Agropecuária Paulista) e nunca foram aprovados. “A nossa maior luta é para que

os grandes laticínios não comprem o meu. Até agora estou conseguindo sobreviver,

mas sei que preciso me especializar melhor na produção de leite na minha

propriedade, para daqui a algum tempo não precisar depender de matéria-prima de

terceiros”.

O proprietário alega que “a Prefeitura de Ribeirão Bonito nunca se manifestou

nem para arrumar a estrada de acesso à mini-usina, que é de terra, onde em

períodos chuvosos não passam veículos, tendo que ser feita essa melhoria por

mim”.

Os proprietários demonstraram interesse em fazer parte de uma associação

de produtores de leite e derivados, pois acreditam que essa seria uma alternativa

viável atualmente para o setor. Acham que “o que precisa é alguém para mediar

essa alternativa”.

3.5 Mini-usina C

A mini-usina C está localizada a 15 Km do município de Descalvado/SP. Foi

fundada no ano de 1993, por um grupo de quatro irmãos, como atividade

secundária, sendo a atividade primária, uma empresa de grande porte no país, com

produtos tipo exportação como máquinas agrícolas e rações diversas. A idéia de

montar a mini-usina foi facilitada, pois a família já possuía a propriedade rural e o

rebanho. O objetivo era agregar valor ao produto (leite) além de sair das mãos das

cooperativas, que ditavam os preços aos produtores. Segundo os proprietários da

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mini-usina, a idéia de montá-la foi pelo seguinte fator: “há doze anos, muitos

produtores de leite começaram a montar laticínios a fim de agregar valor ao leite e

sair das mãos das grandes cooperativas brasileiras e empresas multinacionais, que

estavam ditando todo andamento do negócio do leite, sendo que o valor recebido

pelo leite não cobria nem os custos de produção”. Nessa época, começaram a

presenciar muitos produtores falindo sem ter condições de se sustentarem apenas

com a atividade leiteira, sendo obrigados a mudar de atividade ou vender a

propriedade e se mudar para a cidade. Esses produtores, na época, não tinham

outro tipo de produção a não ser o leite. Atualmente, muitos já deixaram a atividade

e começaram plantar laranja e outras culturas, mas segundo os proprietários, muitos

desses produtores, que continuaram na atividade, vendo-se em situação difícil,

começaram a vender o leite de maneira informal. Outros não voltaram a produzir

leite, colaborando com a escassez da matéria-prima na região, o que acabou

prejudicando a mini-usina. Outros, ainda continuam na informalidade, constituindo-se

também como problema para a mini-usina, pois entregam o leite atualmente para

consumidores finais, restaurantes, sorveterias, enfim, clientes em potencial que

antes eram clientes da mini-usina.

A mini-usina possui atualmente três funcionários e processa 350 litros de leite

tipo C por dia, mas tem capacidade para processar 1.500 litros/dia. O leite

processado é repassado para padarias e pequenos mercados através de um

atravessador que faz o transporte do produto em Kombi ou caminhão baú não

refrigerado. Segundo os proprietários, “às vezes recebemos reclamações do leite

que azedou antes de vencer a validade, aí trocamos o produto, mas isso se dá pelo

mau acondicionamento do produto, desde o atravessador até os varejos que não

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prezam pela qualidade do produto”. Os proprietários sabem que tais procedimentos

comprometem a marca do produto, mas se mostram desanimados com o setor.

Acham que um dos problemas que compromete a mini-usina é a falta de

eficiência na propriedade. Enfrentaram um problema, 70% das vacas pararam de

produzir leite, ficando apenas com 30% das vacas em lactação e, como

conseqüência, comprometeu a eficiência do laticínio, uma vez que não compram

leite de terceiros. Contrataram assistência técnica e o problema já está sendo

solucionado, mas tudo isso gasta tempo e dinheiro. Atualmente, a alimentação das

vacas consiste em pastagem nativa e capineira (cana de açúcar e capim elefante).

Os maiores concorrentes do laticínio são o leite longa vida e o leite informal,

mas consideram o informal mais prejudicial que o longa vida. Acham que, o que

acontece com a população, é a falta de esclarecimento do que é o leite longa vida, o

pasteurizado e o leite cru, e essas informações precisariam ser repassadas por meio

de estratégias do governo para melhorar o setor, a fim de que o consumidor não seja

enganado quanto a qualidade de um produto essencial à mesa da população.“A

população precisa saber dos perigos do leite cru, como a febre aftosa, a brucelose e

outras doenças que podem ser causadas pela ingestão desse tipo de produto. O

governo também precisa incentivar a população a tomar leite, uma vez que o

consumo per capita no Brasil ainda é baixo, mas acho que também é devido ao

preço do produto, que por ser essencial à mesa de todo brasileiro, ainda é um

produto caro”.

Em relação a incentivos políticos, nunca puderam contar com nenhuma linha

de empréstimo do governo. Quanto à Prefeitura, nunca receberam nenhum tipo de

incentivo e desconhecem algum projeto voltado para o setor. “A Prefeitura poderia

ajudar bastante se fiscalizasse a quantidade de leite informal comercializado na

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cidade, mas nem isso ela faz”. O laticínio é registrado no SISP (Serviço de Inspeção

do estado de São Paulo), que segundo os proprietários, atém-se a detalhes na

estrutura física do laticínio e já chegam querendo multar.“Daqui a algum tempo,

apenas as grandes empresas vão se manter no mercado, e a entrada das grandes

multinacionais no Brasil vão forçar até mesmo as grandes empresas nacionais a

fecharem as portas”.

3.6 Mini-usina D

A mini-usina D está localizada na zona rural a 12 Km da cidade de

Tabatinga/SP. O laticínio foi fundado no ano de 2000, por dois proprietários, pai e

filho, que tinham por objetivo ter uma atividade, em que pudessem trabalhar. Trata-

se de um médio produtor, que produz atualmente 700 litros de leite/dia, tendo a

propriedade rural (230 ha) e o laticínio como principal fonte de renda para sustento

da família.

A atividade da propriedade é quase que exclusivamente pecuária leiteira,

tendo algumas galinhas poedeiras e horta para consumo próprio. A coleta de leite é

com ordenhadeira mecânica, realizada por mão-de-obra contratada. A alimentação

do gado consiste em pastagem não adubada e cana-de-açúcar no período da seca.

Antes de se montar o laticínio, o leite produzido na propriedade era escoado para

uma cooperativa de médio porte, situado na cidade de Itápolis. Nunca tiveram

problemas quanto a preço ou falta de pagamento, pois o montante de leite que era

entregue (700 litros/dia) era compensatório para a cooperativa, o que dava ao

laticínio um certo poder de barganha no preço do produto.

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Quando houve a idéia de montar a mini-usina, os atuais proprietários, pai e

filho, reuniram os pequenos produtores de leite da região de Tabatinga e Ibitinga, e

fizeram a proposta de montarem uma cooperativa, no qual os produtores estariam

entregando o leite produzido para o laticínio, mas não teriam nenhuma participação

no mesmo. A idéia era desses produtores se juntarem para comprar matéria-prima,

obter assistência técnica e melhorar a eficiência da produção na propriedade rural.

Os produtores não acharam compensatória a proposta, pois queriam alguém que

fosse neutro às duas atividades para mediar a negociação. Segundo um dos

proprietários da mini-usina, “ainda temos interesse em que esses produtores se

organizem em cooperativa, para que o laticínio pegue o leite deles, para podermos

diversificar a produção com iogurte, bebida láctea e outros derivados do leite. Ajuda

também porque elimina rotas na logística”.

Atualmente o laticínio utiliza leite próprio, mas também capta de três

pequenos produtores (cada um produz até 100 litros/dia). A captação do leite é

terceirizada e o próprio produtor paga pelo frete. Segundo os proprietários do

laticínio “queremos aumentar a produção do laticínio, mas os produtores da região

estão optando por produzir laranja e quando produzem leite, preferem vender de

maneira informal ou fazer derivados como queijos e doces e vender também na

informalidade. O laticínio tem interesse em aumentar a produção, mas não

conseguimos empréstimos que seja viável, pois os juros de banco são muito altos.

Esses empréstimos seriam necessários para aumentar a produção de leite na

fazenda, para não dependermos de outros produtores”.

A produção atual do laticínio consta de leite pasteurizado tipo C, e tem como

projeto produzir iogurte e bebida láctea, a fim de utilizar a sobra do leite em algumas

épocas. Já entraram em contato com os pontos de venda de leite pasteurizado, que

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manifestaram interesse em comercializar o iogurte e a bebida Láctea da mesma

marca. Entregaram ao SISP a documentação necessária para produção de iogurte e

bebida láctea, com as embalagens desses produtos, mas o processo de aprovação

é muito burocrático, levando em média um ano para ser aprovado.

O laticínio é registrado no SISP, ao qual, os proprietários fizeram a seguinte

colocação: “As exigências do SISP são muito grandes quanto à estrutura física do

laticínio, embalagem do leite e derivados, mas fiscalizam muito pouco a qualidade do

produto, e existem laticínios por perto que têm um leite de péssima qualidade e o

SISP não vê e não pega também as pessoas que vendem de maneira informal, mas

gostam de multar porque falta um pouco de pedra no quintal do laticínio. Após a

produção do iogurte ser liberada, eles não vão até o laticínio fazer uma fiscalização

preventiva, ou ver se o iogurte está com boa qualidade, mas ficam doidos para

multar por motivos como a falta de um azulejo na sala do veterinário. Não adianta só

cobrar e exigir, tem que ensinar também. O que revolta é que as exigências são

apenas para quem produz leite, mas quem produz doces, como doces de frutas,

dentre outros, são poucas as exigências quanto à qualidade. Quem produz

alimentos em geral não tem tantas exigências quanto quem produz leite

pasteurizado. Parece que dificultam ao máximo para não dar certo”.

O laticínio possui veterinário contratado pelo próprio laticínio, mas não presta

assistência técnica aos produtores que fornecem leite. A empresa atualmente tem

um canal de comercialização conquistado pela boa aceitação da marca nas cidades

de Tabatinga e Ibitinga. Os produtos são entregues a padarias, supermercados de

grande e médio porte e restaurantes. A entrega é feita em caminhão fechado com

refrigeração, pertencente ao próprio laticínio, por um funcionário assalariado da

empresa para essa função. Não é realizado um programa de conscientização nos

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varejos quanto aos cuidados do manejo com o produto, uma vez que um problema,

existente no varejo, é a permanência do leite durante toda a manhã em caixas, fora

dos refrigeradores, o que compromete a qualidade do leite, que segundo SCALCO

(2004) envolve:

Atributo físico-químico: temperatura da mercadoria

Atributos organolépticos: cor, aparência, sabor e textura

Quanto a incentivos políticos, citaram a doação feita pela Prefeitura de

Tabatinga do terreno em que atualmente funciona a mini-usina. Desconhecem

programas de empréstimos do governo voltados para o setor de agroindústrias. “Já

tentamos junto ao Banco de Brasil, mas os juros eram muito altos e não

compensava. A finalidade do dinheiro era para melhorar a produção de leite na

propriedade e comprar maquinários para o laticínio”.

Atualmente, a mini-usina possui concorrentes, como os laticínios de Itápolis e

Catanduva que produzem leite pasteurizado e longa vida, e, quando da negociação

no varejo, impõem a compra do leite pasteurizado com o longa vida, e isso a preços

baixos. Há também concorrentes como o leite cru, que circula livremente no

mercado.

Atualmente, o leite longa vida é uma das maiores ameaças aos produtores de

leite pasteurizado. As grandes empresas têm oferecido esse tipo de leite ao mesmo

preço ou a preço inferior ao do leite pasteurizado. Segundo o proprietário do laticínio

“uma das vantagens do leite de caixinha é que as pessoas compram juntamente

com a compra do mês nos supermercados e dão cheques pré-datados, uma vez que

o leite pasteurizado não pode ser estocado, e nem sempre o cliente tem o dinheiro

todos os dias para pegar o leite na padaria. Existem também muitas propagandas do

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leite longa vida na televisão e quanto ao pasteurizado não existe nenhum tipo de

marketing voltado para isso”.

Outro forte concorrente ao leite pasteurizado é o leite cru ou “leite de caneca”.

Segundo um dos proprietários da mini-usina “as cidades pequenas têm ainda a

cultura de comprar o leite cru e isso atrapalha muito os laticínios, acham que o leite

cru é puro e mais forte. Esse pessoal desconhece o que é a pasteurização. A

sociedade precisa ser informada sobre o que é o leite pasteurizado e seus

benefícios, o que é o leite longa vida e o leite cru”.

Acreditam que uma das principais barreiras para o setor de laticínios é a falta

de incentivo dos Governos Federal, Estadual e Municipal, principalmente quando se

trata de pequenos laticínios privados (mini-usinas), quanto aos impostos e aos

créditos voltados para o setor. É necessário também que o governo invista em

marketing informando ao consumidor o que é o leite pasteurizado, o longa vida e o

informal. “Afinal de contas, o consumidor tem direito de saber o que está

consumindo”.

3.7 Mini-usina E

A mini-usina E se localizava na zona rural a 2 Km da cidade de Matão/SP. Foi

fundada no ano de 1996, por três irmãos que já trabalhavam com a produção de

leite na propriedade rural do pai (120 ha), e encerrou as atividades em dezembro de

2004. Montar a mini-usina foi a realização de um sonho antigo, onde os objetivos

eram processar o leite produzido na propriedade e não mais depender de outros

laticínios. A produção própria de leite chegava a 1.500 l/dia, sendo a principal fonte

de renda da família.

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A atividade da propriedade era quase que exclusivamente pecuária leiteira,

tendo algumas galinhas poedeiras e horta para consumo próprio. A coleta de leite se

dava com ordenhadeira mecânica, realizada por mão-de-obra contratada. A

alimentação do gado consistia em pastagem nativa e cana-de-açúcar no período da

seca. Antes de se montar o laticínio, parte do leite produzido na propriedade era

escoado para uma cooperativa de médio porte da região. A parte que não

entregavam, vendiam de maneira informal, na forma de leite cru, queijos e bebida

láctea. A comercialização era fácil, pois já tinham os fregueses certos, desde donas

de casa a pequenos varejos, e a demanda crescia a cada dia. Quando a atividade

começou a crescer, decidiram regularizar o registro no SISP. Segundo um dos

proprietários “quando começamos a pasteurizar o leite, colocar na embalagem com

todas as exigências do SISP, e isso também com a bebida láctea e o queijo, a

população parou de comprar, pois não era mais leite de sítio e sim industrializado. O

problema é que o povo não tem informação sobre o que é pasteurização, mas

acham que o leite cru e os derivados sem inspeção são mais saudáveis”.

A mini-usina chegou a processar 5.000 l/leite/dia, nas formas de leite tipo B e

C, iogurte e bebida láctea. Desse leite, 1.500 litros era produção própria e 3.500 era

comprado de outros produtores da região, inclusive de assentados rurais. “Até

dezembro/2004 estava pagando R$ 0,50 pelo litro de leite sem nenhum desconto.

Sempre paguei valor de mercado e na data combinada, e nunca tive reclamações

junto aos produtores”. A própria mini-usina era responsável pela captação do leite e

distribuição nos pontos de varejo, em cidades como Matão, Araraquara, Itápolis,

Borborema, Ibitinga, Jaboticabal, Rincão e Américo Brasiliense. A mini-usina possuía

5 caminhões, sendo 2 abertos para a coleta de leite em latões e 3 caminhões baú

térmicos, para distribuição ao varejo.

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O carro chefe era o iogurte e a bebida láctea, tanto no volume de venda

quanto no lucro. O leite pasteurizado tinha muita concorrência, sendo os principais o

leite longa vida e o leite cru. “Da maneira como vão as coisas, a tendência do leite

pasteurizado é acabar, pois antes a concorrência era com as diversas marcas de

pasteurizado, mas agora concorrer com o longa vida ficou difícil. Quem dera se a

sociedade soubesse o que é leite longa vida e pasteurizado, mas falta informação”.

Segundo os proprietários, “as exigências do SISP são muito grandes quanto à

estrutura física do laticínio, a qualidade do produto, porém não disponibilizam

informações para que resolvam os problemas, logo chegam e querem multar”.

Segundo um dos proprietários, “em uma determinada época o SISP dispunha de

uma fiscal que entendia muito de leite e nos ensinava como trabalhar, mas depois

colocaram outros veterinários que não entendiam nada de leite, e só queriam

multar”.

Quanto a incentivos políticos, entregou leite pasteurizado durante seis anos

para o Programa Viva Leite, mas foi tudo por licitação. Quanto a empréstimos do

governo e incentivos da prefeitura, nunca puderam contar.

As razões para o fechamento da mini-usina foram pela concorrência com o

leite longa vida e o leite cru, o alto custo operacional da atividade e as grandes

exigências do SISP. Com o fechamento da mini-usina, deixou-se de produzir leite na

propriedade rural, mudando assim de atividade, pois não queriam mais ficar nas

mãos dos laticínios.

Atualmente, a mini-usina funciona como fábrica de sorvete, sendo fiscalizada

pelo Ministério da Saúde e Vigilância Sanitária. Captam atualmente 500 l/leite/dia de

alguns produtores familiares, pagando R$ 0,50 pelo litro de leite. “A intenção é de

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nunca mais trabalhar com laticínio e nem produção de leite, pois estamos satisfeitos

assim”.

3.8 Assentamentos Rurais

Foram entrevistados três produtores de leite, situados no Assentamento Rural

Monte Alegre I, II e III, onde alguns processam parte da produção para venda

informal. Esses produtores serão denominados de produtores F, G e H.

No ano de 1997, os assentados pesquisados escoavam a produção de leite

para uma empresa multinacional localizada na cidade de Araraquara, que chegou a

pagar R$ 0,18 por litro, valor este, insuficiente para cobrir os custos de produção.

Além disso, era descontado, a gordura, o frete e o Fundo Rural. A partir daí, no ano

de 1998, surgiu a oportunidade de entregarem o leite a um laticínio clandestino

localizado na cidade de Guariba, onde permaneceram por três meses, pois nada

receberam pela entrega do leite. Diante disso, ainda no ano de 1998, começaram a

escoar o leite a uma mini-usina localizada na cidade de Matão, que fabricava leite

pasteurizado, iogurte e sorvete. A mini-usina pagava R$ 0,50 por litro de leite (valor

líquido) sendo o pagamento efetuado sempre na data combinada. Em dezembro de

2004, a mini-usina foi paralisada pelo SISP, e a partir daí os assentados

pesquisados passaram a entregar o leite a uma cooperativa situada na cidade de

Ribeirão Preto/SP, conforme Tabela 11.

A cooperativa colocou um tanque de resfriamento com capacidade de 2.000

l/dia numa propriedade próxima ao assentamento, onde o produtor (não assentado)

passou a fazer a captação do leite produzido nos assentamentos. Tal produtor

recebia um preço diferenciado pelo litro de leite, uma vez que tinha custos

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relacionados à energia elétrica, material de limpeza, trabalho para higienizar o

tanque, realização dos testes com o leite, dentre outros. O valor pago pela

cooperativa aos assentados era de R$ 0,46 por litro (valor líquido) e ao produtor

(não assentado) R$ 0,63.

TABELA 11: Produção de leite dos assentados F, G e H - 02/01/2005 a 31/03/2005

Assentados Produção de leite litros/dia

Número de vacas

Destino do leite

Assentado F 120 litros/dia 13 vacas 100 l/dia: Cooperativa; 20 l/dia: produção de

queijos.

Assentado G 70 litros/dia 9 vacas Dia sim e dia não entregava os 70 l/dia a um

atravessador e fabricava requeijão e doces.

Assentado H 65 litros/dia 8 vacas 50 l/dia: Cooperativa; 15 l/dia: produção de doces

e queijos.

Fonte: Dados de pesquisa de campo

O produtor que captava o leite era um atravessador, que também captava

leite fora dos assentamentos pagando um valor abaixo do que a cooperativa pagava,

a fim de completar os 2.000 l/dia combinado por ele com a mesma, uma vez que os

assentamentos produziam no máximo 1.200 l/dia. Mas não conseguiu atingir a meta

estipulada pela cooperativa. A partir do dia primeiro de abril de 2005, começou a

entrega do leite a uma empresa privada nacional localizada na cidade de Casa

Branca/SP, que pagava R$ 0,02 a mais pelo litro de leite, e isso, sem comunicar a

decisão aos assentados, quando embora os mesmos continuassem a receber o

mesmo valor pelo litro de leite (R$ 0,46). A partir do mês de maio/2005, a empresa

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baixou R$ 0,04 no litro de leite, em pleno período de seca, quando o valor costuma

subir, passando a pagar R$ 0,44 por litro. Quando os assentados ficaram sabendo

que não mais entregavam leite para a cooperativa, que o valor do leite havia baixado

e que o produtor (não assentado) era um atravessador, passaram a dar um novo

destino ao leite produzido por eles, conforme Tabela 12.

TABELA 12: Produção de leite dos assentados F, G e H – a partir de 01/04/2005

Assentados Produção de leite litros/dia

Número de vacas

Destino do leite

Assentado F 120 litros/dia 13 vacas 120 l/dia: produção de queijos e venda do leite cru.

Assentado G 70 litros/dia 9 vacas 70 l/dia: produção de doce e requeijão.

Assentado H 65 litros/dia 8 vacas 65 l/dia: produção de doces e queijos e venda do leite

cru.

Fonte: Dados da pesquisa de campo

O assentado G, que também chegou a entregar o leite para uma empresa

multinacional, e logo após para o laticínio clandestino situado em Guariba, na

mesma época em que os assentados F e H, decidiu não mais ficar nas mãos de

nenhum tipo de laticínio. Começou, então, a processar parte do leite, fabricando

doce de leite e requeijão e comercializando de maneira informal. Como a produção

diária era em média 70 litros/dia, e nem sempre conseguia processar todo esse leite,

até por não dispor de cozinha industrial, começou a entregar o leite dia sim, dia não

a um assentado residente no Assentamento Monte Alegre, que pagava R$ 0,60 por

litro, com pagamento no momento da compra, e revendia de maneira informal, em

garrafas plásticas, na cidade de Matão, a clientes que já possuíam uma regularidade

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na compra. Com o aumento da demanda pelos doces e requeijão, a partir de

maio/2005, o assentado G comprou um fogão industrial e passou a processar todo o

leite produzido por ele.

A Tabele 13 apresenta os produtos produzidos pelos assentados e seus

respectivos locais de vendas.

TABELA 13: Produtos elaborados pelos assentados e locais de venda

Produtos Locais de vendas

Assentado F Queijos tipo Minas Frescal

Consumidores finais (donas de casa). Araraquara

Assentado G Requeijão e doce de leite

Consumidores finais (donas de casa) e pequenos varejos

Araraquara, Matão e São Paulo (envia pelo ônibus da Empresa Cruz)

Assentado H Queijo tipo Minas Frescal e doce de

leite

Consumidores finais (donas de casa) e pequenos varejos. Matão

Fonte: Dados da pesquisa de campo

Os assentados começaram a vender em domicílios pequena quantidade

excedente do leite cru, doces e queijos produzidos por eles. Vendem também o

excedente do consumo familiar como ovos, frangos e verduras. Alguns permanecem

na comercialização de pequena quantidade de derivados em períodos

indeterminados. Porém, outros aumentaram a produção e aprimoraram o

atendimento que inclui quantidade, periodicidade e diferenciações de acordo com as

preferências das famílias consumidoras, como é o caso do leite cru, ou conhecido

por muitos como “leite de caneca”, comercializado em embalagens do tipo garrafas

plásticas reutilizadas, na quantidade desejada pelo consumidor. Esse leite é

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considerado por grande parte da população como leite puro, natural ou saudável,

desconhecendo assim, os perigos desse tipo de produto.

Segundo os entrevistados, o início das vendas é bastante penoso. Quem vai

vender se sente um intruso ao bater na porta de uma casa. As pessoas não o

conhecem e nem conhecem a qualidade do produto, o que os deixa bastante

desconfiados, mas aos poucos, com tenacidade e sensibilidade descobre-se o que

interessa a esse consumidor e cria-se uma clientela. Assim, esses assentados levam

os seus produtos à sede dos municípios próximos com o destino definido e apenas

uma parte pequena é levada para novos consumidores como açougues e pequenos

mercados.

Segundo OLIVEIRA et al. (1999), grande parte dos produtos elaborados de

maneira informal por produtores familiares são vendidos em casas comerciais. Ainda

segundo os mesmos autores, essa relação direta com o consumidor exige não só

uma profunda aprendizagem, mas também uma revisão dos valores e da ética

existente na comunidade rural.

Os três assentados disseram já ter recebido mais de uma vez empréstimos do

PRONAF (Programa Nacional da Agricultura Familiar), sendo esse dinheiro

destinado à compra de vacas, construção e consertos do curral, compra de cercas

de arame farpado e melhoramento do pasto. Segundo os assentados, para que

esses empréstimos sejam adquiridos, precisam da intervenção do ITESP.

É comum a esses três assentados a produção de galinhas poedeiras, horta e

algumas frutas para consumo próprio e para a venda dos excedentes. Segundo o

assentado F “o dinheiro dos ovos, da horta e da venda dos queijos, nos garante

dinheiro na mão toda semana e ajuda muito na despesa da casa”.

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No âmbito municipal, algumas Prefeituras têm buscado desenvolver ações no

sentido de estimular produtores familiares, criando em seus municípios, programas

de apoio específicos para esse fim. Porém, no que se refere a produtores de leite

dos assentamentos, o que parece é que nenhum desses incentivos ainda funcionou

a fim de retirar os produtores da informalidade. Esses programas tentam garantir a

assistência técnica, proporcionar espaços e canais de comercialização e divulgar a

qualidade dos produtos oriundos dessas unidades familiares, porém nada disso

ainda conseguiu resolver os problemas dos produtores familiares de leite dos

assentamentos rurais. Apesar de conseguir empréstimos com o governo, ainda

continuam na informalidade, segundo eles, pela produção ser pequena e não

conseguirem sobreviver sozinhos no mercado.

O leite, os queijos e os doces produzidos nos assentamentos e vendidos de

maneira informal não atendem aos requisitos mínimos de qualidade, como

(SCALCO, 2004):

Atributos físico-químicos da mercadoria: temperatura da mercadoria (se

refrigerada) e o leite não passa por nenhum tipo de pasteurização.

Atributos de embalagem, como a presença de rótulos com informações

(nome do alimento, ingredientes, peso, origem, data de fabricação, validade e

instruções de armazenamento e uso).

Segundo a veterinária do ITESP (Maria de Fátima A. F. Bardi), a ingestão do

leite cru pode causar algumas doenças ao ser humano, como:

Brucelose: pode causar aborto em mulheres e esterilidade em homens.

Tuberculose: pode causar perda de peso pneumonia, podendo levar à

morte.

Salmonelose: pode causar vômito e diarréia.

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Conforme o assentado F, a melhor solução, para a melhoria da atividade no

assentamento, seria as prefeituras das cidades de Araraquara, Matão e Motuca se

reunirem para ajudá-los a montar uma mini-usina, onde pudessem pasteurizar o leite

e produzir derivados como doces, queijos, requeijão, iogurte e bebida láctea.

Já o assentado G, diz que tem vontade de participar de uma associação ou

cooperativa, e montar uma mini-usina, onde os filhos também pudessem trabalhar,

mas “como não temos oportunidade de participar de alguma associação, estamos

tentando montar uma fabriqueta de doces”. Em fevereiro de 2004, houve uma

proposta da Prefeitura de Araraquara, do Projeto Fome Zero, para que os

assentados se reunissem e pasteurizassem uma determinada quantidade de leite

que a prefeitura compraria. Mas a idéia não vingou, pois não foram mais procurados.

Quanto ao pasteurizador e outros ativos que seriam necessários, a prefeitura não se

manifestou se poderia ajudar financeiramente.

Segundo o assentado G, “para quem tem terreno pequeno e não tem como

diversificar muita coisa, o leite é um produto que pode virar muita coisa, como doce,

queijo, requeijão e outros produtos. Se colocar cana no assentamento em parceria

com a usina, já se perde 50% do lote onde você poderia produzir alguma coisa que

é sua. Por isso o leite é uma atividade cabível no assentamento. A minha meta é de

produzir 150 litros/dia de leite”.

O assentado G manifestou o desejo de participar de uma associação ou

cooperativa, também a fim de montar uma mini-usina, mas na condição de ter

alguém que organize a atividade, sendo essa pessoa de fora do assentamento. O

assentado diz que “o povo do assentamento só tem leite nas águas, chega a seca e

ninguém tem leite, pois só trata das vacas com pasto. Gostaria que houvesse uma

organização para que todos começassem com vacas boas, aprendessem a tratar

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das vacas, recebessem empréstimos do governo para isso e comprássemos

insumos em conjunto, como uma associação, pois assim seria viável para todos.

Tem que começar a mudar a cabeça das pessoas, pois todos precisam aprender a

cuidar da propriedade com capineira, cana, pasto razoável e lugar descente para

tirar o leite, onde tenha higiene. Enquanto isso não acontece, vou continuar

vendendo meus queijos e meus doces, pois me garantem dinheiro nas mãos toda

semana”.

A participação dos assentados, em organizações sociais do tipo cooperativa

ou associação de produtores, tem impacto direto tanto sobre a capacidade de

produção como sobre a eficiência do uso dos recursos disponíveis. De um lado, a

participação em associação ou cooperativa de interesses permite em muitos casos

alcançar o patamar e a escala mínima exigida para viabilizar a adoção de

determinadas opções produtivas e realizar certos investimentos – construção de

instalações de armazenagem, utilização de máquinas, assim como o uso eficiente de

recursos. De outro lado, a organização, geralmente, resulta em melhor informação,

maior comprometimento e amparo dos mecanismos coletivos de planejamento e

gestão das atividades (GERLACH, 2004).

Tem-se constatado que o trabalho de cooperação solidária é um importante

fator na viabilidade da maioria das agroindústrias de pequeno porte, levando os

produtores a terem o desejo de se associarem. Essa iniciativa de associativismo,

segundo os produtores familiares, aumenta a capacidade de auto-suficiência em

matéria-prima, o que lhes confere maior liberdade e garantia à qualidade e

constância no fornecimento (GERLACH, 2004).

Alguns assentados não têm alternativas mais viáveis, senão a de vender

excedentes de produção para atravessadores. Conforme já destacado, a ausência

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de escala, de padronização, de freqüência e meios adequados de

acondicionamento, de estocagem e de transporte dificultam e algumas vezes

impedem o acesso direto desses assentados aos mercados consumidores,

obrigando-os a aceitar as condições de intermediários, que raramente agregam valor

(exceto valor especulativo) aos produtos (ABRAMOVAY, 1998).

3.9 Subsistema de Produção dos Empreendimentos

Foram feitas algumas constatações ligadas ao que ocorre no interior da

unidade produtiva, com os produtores entrevistados. Encontrou-se que,

atualmente, 77,8% não utilizam nenhum tipo de resfriamento de leite. Segundo a

pesquisa, adquirir tanque de resfriamento é adicionar mais um custo à produção

que já tem o seu lucro pequeno, além de ser um investimento alto (Tabela 14).

Porém, com a IN 51, que entrou em vigor em 1º de julho de 2005, eles terão seis

meses a partir dessa data para se adequarem.

Devido à nova lei todo o leite produzido terá de ser obrigatoriamente resfriado

na propriedade. Segundo 44,4% dos entrevistados, “vamos ter que permanecer na

informalidade se quisermos nos manter no mercado”.

Segundo um dos produtores entrevistados, “os grandes laticínios estão

prometendo pagar melhor pelo litro de leite a produtores que possuem o seu próprio

tanque de resfriamento, mas os que já se adaptaram à nova lei não estão recebendo

nada a mais pelo leite”.

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TABELA 14 – Sistema agroindustrial do leite na EDR de Araraquara/SP – resfriamento de leite nas propriedades

Discriminação %

Sistema de frio na propriedade, tanque de resfriamento

nenhum

Resfriamento natural, tanque com água, freezer ou geladeira

22,2%

Não usa a prática de resfriar o leite após ordenha 77,8%

Total 100%

Fonte: Dados da pesquisa de campo

Observou-se que 55,5% dos produtores de leite desconhecem o custo de

produção do produto, diante disso, não sabem se é mais viável entregar o leite a um

laticínio ou produzir derivados.

Os custos variam conforme a qualidade e quantidade do rebanho e o tipo de

alimentação do mesmo, sendo que, vacas especializadas em produção de leite

requerem maiores cuidados no manejo, o que encarece a atividade (Quadro 7) . De

acordo com informações fornecidas pela EMBRAPA GADO DE LEITE (2004), a

alimentação de vacas em lactação de alto potencial genético representa algo em

torno de 50% dos custos de produção do leite. À medida que se eleva o potencial de

produção dos rebanhos leiteiros, os ajustes necessários no manejo e na alimentação

tornam-se cada vez mais complexos.

A assistência técnica, como fonte de obtenção de novos conhecimentos sobre

a atividade leiteira, foi citada como obtida por 55,5% dos produtores sendo que, os

pertencentes ao Assentamento Rural Monte Alegre recebem assistência técnica dos

técnicos do ITESP (Instituto de Terras do Estado de São Paulo). Quanto à área

gerencial, apenas 33,3% dos entrevistados já receberam ou ainda recebem algum

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tipo de assistência técnica, sendo esta privada, o que acaba aumentando os custos

de produção, mas segundo os entrevistados, é compensador. Observou-se que o

laticínio São Pedro, considerado como modelo para esta pesquisa, recebe

assistência técnica em todos os ramos de atividades por intermédio da ESALQ

(alunos e professores de diversas áreas) sem nenhum custo adicional.

QUADRO 8 – Sistema Agroindustrial do Leite na EDR de Araraquara/SP – Subsistema Produção: Custo Médio de produção conforme período

Discriminação Faixa de Custos

Período chuvoso Menor ou igual a R$ 0,10 Entre R$ 0,11 e R$ 0,25 Entre R$ 0,26 e R$ 0,30

Período seco Menor ou igual a R$ 0,15 Entre R$ 0,16 e R$ 0,25 Entre R$ 0,26 e R$ 0,30

Fonte: Dados da pesquisa de campo

Nas condições da produção familiar brasileira, os serviços de assistência

técnica devem contribuir para definir a adoção de tecnologias apropriadas como

também para propor o desenvolvimento de atividades agrícolas viáveis socialmente,

ambientalmente e economicamente, mas muitos extensionistas possuem formação e

cultura que não permitem cumprir de forma satisfatória essas três funções. Esse é

um grande desafio, especialmente, porque na agropecuária as margens de lucro são

constantemente estranguladas. Em primeiro lugar, muitos técnicos não estão

familiarizados com a realidade da produção familiar e com alternativas mais

adequadas à condição de baixa capitalização que caracteriza os produtores. Em

geral, adota-se um receituário que dada a insuficiência de recursos dos produtores,

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é aplicado de forma incompleta e não sistemática, resultando em elevados riscos de

perda da produção, baixa produtividade e forte comprometimento da eficiência e da

própria base de recursos naturais (SOUZA, 1998). O resultado pode ser a

concepção e da implantação de projetos totalmente inadequados para as condições

de mercado e/ou condições sócio-econômicas locais.

Quanto a informações sobre o setor, a Tabela 15, mostra como os produtores

entrevistados as adquirem.

TABELA 15 – Sistema Agroindustrial do leite na EDR de Araraquara – Subsistema Produção: Informações sobre a Cadeia Láctea

Discriminação Freqüência (%)

Conversa com outros produtores 77,7

Programas de TV e rádio 44,4

Jornais e revistas especializadas 11,1

Técnicos de assistência pública 44,4

Fonte: Dados da pesquisa de campo OBS: alguns produtores recebem essas informações por meio de mais de uma fonte, por esse motivo, a soma não resulta em 100%.

É nítida a idéia, entre os produtores entrevistados da falta de recursos e da

falta de políticas públicas, uma vez que foi citado por 88,8% dos entrevistados. É

animador constatar que a assistência técnica é algo desejado e considerado como

importante por 100% dos produtores, para ser utilizada tanto na propriedade rural,

quanto na mini-usina. Foi considerada também como importante para 100% dos

entrevistados a participação em algum tipo de associação ou cooperativa, como

fundamental para o fortalecimento da produção familiar.

Para distribuir seus produtos à rede varejista (Tabela 16), 66,7% das mini-

usinas pesquisadas ainda utilizam exclusivamente seu próprio pessoal, contra um

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percentual de 33,3% que terceiriza a operação. Embora os dados da pesquisa não

permitam uma comparação entre os custos incorridos nos dois sistemas, pode-se

afirmar, pelo menos, que essa situação não se coaduna com a atual tendência das

empresas concentrarem seus esforços e recursos no desenvolvimento de suas

atividades principais ou estratégicas, descentralizando aquelas que poderiam ser

melhor desempenhadas por outros agentes.

TABELA 16 - Sistema Agroindustrial do leite na EDR de Araraquara – Subsistema Transformação: Pessoal Utilizado na Distribuição do produto

Discriminação %

Pessoal próprio 66,7

Pessoal terceirizado 33,3

Total 100,0

Fonte: Dados da pesquisa de campo

O perfil clássico de produção dos produtores familiares é composto por um a

dois produtos comerciais, significando um deles em torno de 70% de sua renda total,

e o segundo considerado de menor importância, mas que compõe 30% da renda,

seja para autoconsumo ou para venda.

Quanto à alimentação do rebanho (Quadro 8), a grande maioria dos

produtores ainda utiliza pastagens nativas como a principal fonte de nutrição animal

e cana-de-açúcar no inverno. A alimentação do rebanho, tanto em quantidade como

em qualidade, é destacada como um dos principais entraves enfrentado pela

pecuária leiteira familiar (SCALCO, 2004). No caso da silagem, foi identificado um

baixo nível de utilização o que, de acordo com os entrevistados, está associado à

falta de equipamentos e infra-estrutura para tal. Em outras situações, sua pouca

utilização também está relacionada à falta de área adequada para a produção das

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forragens. Em relação à alimentação do gado, 77,7% dos produtores investem

pouco na atividade, geralmente têm custos de produção baixos e também pouco

retorno.

QUADRO 9 – Caracterização do Sistema de Produção de Leite

Descrição Mini-usina A

Mini-usina B

Mini-usina C

Mini-usina D

Mini-usina E

Cooperativa São Pedro

Assentados rurais

Volumoso de verão

Pasto não adubado

Pasto não adubado

Pasto não adubado

Pasto não adubado

Pasto não adubado

Silagem e pasto adubado

Pasto não adubado

Volumoso de inverno

Silagem de milho

Cana-de-açúcar

Cana-de-açúcar

Cana-de-açúcar

Cana-de-açúcar

Silagem Cana-de-açúcar

Concen-trado de inverno

Nada Nada Nada Nada Nada Ração Cevada

Rebanho Cruzado Cruzado Cruzado Cruzado Cruzado Cruzado Cruzado

Ordenha Mecânica Manual Manual Mecânica Manual Mecânica/ma-nual

Mecânica / manual

Leite predomi-

nante

Tipo C Tipo C (para

fabricação de

queijos)

Tipo C Tipo C Tipo C Tipos B e C Tipo C

Assistên-cia técnica

Particular Particular Particular Particular Particular Pública Pública

Leite é viável na

região

Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Fonte: Dados da pesquisa de campo

Quanto à estrutura de comercialização, são representados na Figura 4

(EMBRAPA, 2001) os cinco agentes principais do mercado – produtor,

cooperativa/indústria, distribuidor/representante, varejista e consumidor. As

cooperativas, tanto podem fazer papel das indústrias como o de um intermediário

entre o produtor e a indústria, quando não industrializam o leite de seus produtores.

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FIGURA 4 – Agronegócio do leite no Brasil – canais de comercialização Fonte: SILVA (2001)

O mesmo pode ser dito do produtor que entrega produtos diretamente ao

consumidor. As linhas contínuas representam os canais mais comumente

observados no mercado; as linhas tracejadas representam canais alternativos

menos comuns, também identificados pela pesquisa.

Em relação aos problemas enfrentados pelos produtores familiares

entrevistados, foi indicada a presença das vendas informais de leite fluido; a

produção de queijos e doces de leite se mostra expressiva na região, além da

concorrência quanto ao preço do leite longa vida. A falta de informação por parte dos

consumidores quanto aos benefícios do leite pasteurizado, cru e longa vida, foi

apontada como uma das razões da dificuldade de se produzir leite pasteurizado.

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É na comercialização de seus produtos que residem as principais dificuldades

dessas empresas, dado o crescimento dos supermercados como canais de

escoamento de derivados lácteos e as crescentes dificuldades de negociação de

preços e prazos de pagamento exigidos por esses agentes (EMBRAPA, 2001).

A ausência ou debilidade organizacional acarretam problemas de escala,

padronização, freqüência na entrega e meios adequados de acondicionamento,

estocagem e transporte que impedem que os produtores familiares aproximem-se do

outro extremo da cadeia de comercialização, tornando-se reféns de atravessadores

e comerciantes. Disto resulta a transferência de renda para outros elos da cadeia

produtiva, e não para o produtor.

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CAPÍTULO 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa teve por objetivo encontrar respostas para questões como: a

viabilidade das mini-usinas como alternativa de desenvolvimento regional; identificar

pontos de estrangulamentos político, econômico e social da produção de leite pelas

mini-usinas na EDR de Araraquara; identificar os impactos gerados nos âmbitos

local e regional e investigar fatores intervenientes para a manutenção das mesmas.

Diante do que foi proposto, permanecem ainda muitos obstáculos para a

implantação de atividades como mini-usinas de leite. Um dos principais entraves

encontrados atualmente pelos produtores familiares é o acesso ao crédito. Embora

existam linhas de financiamento exclusivas para atividades de agroindustrialização

praticada pelos produtores familiares, as exigências, especialmente, no que se

refere a garantias, impedem o acesso aos recursos financeiros pelos que mais têm

necessidade deles. Há insatisfação com os preços praticados e inexistem incentivos

para a produção de leite, dada a falta de políticas para o setor. Além da venda

clandestina, muitos produtores de leite acabam buscando outras atividades

agropecuárias mais atrativas em termos de rentabilidade, como a cana-de-açúcar e

a bovinocultura de corte, deixando a atividade leiteira em segundo plano ou até

mesmo abandonando-a. A saída de pecuaristas da atividade tem culminado com o

aumento da dependência da região com produtos lácteos oriundos de outras

regiões, com a queda nas arrecadações estadual e municipal, e também com o

aumento do desemprego no setor rural da EDR de Araraquara e na bacia leiteira de

Ribeirão Preto (HERRERA, 2001). Isso poderia ser resolvido com uma maior

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integração entre produtores de leite, institutos de pesquisa, prefeituras etc; e

principalmente, pela formulação de políticas públicas para o setor. Diante disso, é

conveniente pelo menos enumerar algumas das políticas necessárias para fortalecer

a produção familiar:

Incentivos a formas associativas na produção, armazenamento e acesso

a mercados;

Capacitação e treinamento dos produtores;

Articulação das políticas específicas para a produção familiar às ações

voltadas para o fortalecimento das economias locais.

O desempenho dos produtores familiares é determinado por razões

econômicas e não econômicas. Muitos desses determinantes não são controlados

por eles, tais como: os arranjos institucionais determinados pelas políticas públicas,

as condições de acesso ao crédito, à educação, à extensão rural e ao próprio

comportamento dos preços. É desejável que se combine instrumentos segundo as

diferentes configurações sociais da região, qualidade da terra, características dos

produtores etc. Enfim, romper com a lógica de modelos fechados de políticas

públicas e desenhar políticas abertas, flexíveis e adaptáveis às particularidades e

demandas das comunidades.

O processo de exclusão de parte dos produtores familiares não é socialmente

desejável, mas para alguns, torna-se inevitável. O mercado de leite longa vida, cuja

produção vem crescendo aceleradamente, tem-se mostrado relativamente

competitivo, em virtude da variedade de marcas que tem surgido no mercado, vindo

também de outros Estados, devido à facilidade do transporte, uma vez que esse tipo

de leite tem durabilidade de quatro a seis meses na embalagem. Diante disso, o

fator preço tem sido crítico na disputa entre as inúmeras empresas. O maior custo da

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embalagem em relação ao concorrente pasteurizado, sendo 900% maior, também

tem levado os laticínios produtores de leite longa vida a procurar matéria-prima de

baixo custo (EMBRAPA, 2001). Dados de produção e consumo de leite no Brasil

mostram também que cerca de 30% da produção nacional de leite está no mercado

informal e, ao mesmo tempo, os laticínios estão sempre tentando ampliar a sua

captação (EMBRAPA, 2004). A venda de leite clandestino é também um fator

desestruturante para a cadeia láctea, pois representa um retrocesso. Os produtores

conseguem demanda no mercado, pois muitos consumidores consideram esse tipo

de produto, que não possui nenhum tipo de fiscalização, ter qualidade superior ao

fiscalizado. Mas este tipo de demanda ocorre fundamentalmente pela ineficiência

dos órgãos de fiscalização municipal e estadual.

Qual foi a principal mudança no mercado lácteo a partir da década de 90? A

retirada do controle governamental de preços; a abertura do mercado às

importações; o crescimento do leite longa vida em substituição ao pasteurizado; ou a

deficiência da fiscalização quanto ao leite informal? Por fim, algumas questões

surgem como pontos ainda obscuros na evolução futura e na organização dos

agentes da cadeia láctea brasileira:

Quais as reais exigências do leite longa vida em relação à qualidade da

matéria-prima? Em que direção evolui a qualidade do leite brasileiro, dado o

crescimento de mercado dos produtos esterilizados?

Qual a sustentabilidade do modelo extensivo de exploração pecuária

predominante na produção leiteira nacional? Quais sistemas de produção de leite

deverão predominar no médio prazo nas diferentes regiões do país? A permanência

dos produtores familiares será admitida no mercado? As cooperativas ou

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associações de produtores podem auxiliar na sobrevivência desta classe de

produtores?

Consideradas a abertura econômica e a concorrência global entre as

empresas, até onde deve caminhar o processo de fusões e aquisições verificados

nos segmentos de processamento e distribuição de derivados lácteos, ou seja, qual

o limite entre os ganhos de eficiência e a obtenção de poder de mercado? Qual o

tamanho de mercado reservado aos pequenos laticínios ou mini-usinas?

Ao longo dos últimos anos, tem se tornado claro para a comunidade

acadêmica que a competitividade da agropecuária nacional – até mesmo da

produção familiar – somente poderá ser construída, em bases sustentáveis, por meio

da adoção de práticas que estimulem a cooperação entre os agentes de uma cadeia

produtiva e, complementarmente, entre estes e os poderes governamentais.

Observa-se que com as oportunidades que se abrem, o produtor familiar dá

mostras de que consegue produzir alimentos de qualidade, ocupar espaços de

mercado, gerar postos de trabalho, aumentar a renda da família e dinamizar a vida

no meio rural. Constata-se que as mini-usinas processadoras de leite e derivados,

têm sido uma atividade que tem respondido de maneira favorável às questões

ambientais, sociais e econômicas, em se tratando de produtores de leite que vêem

na atividade uma forma de se manterem no mercado e permanecerem na terra, sem

dependerem das políticas de preços de alguns laticínios, quando o que é pago pelo

litro de leite, nem sempre é suficiente para cobrir os custos de produção. Esta

atividade tem apresentado características, como:

Produção e processamento regionalizado, utilizando unidades de

produção e tecnologia em menor escala e também uso reduzido de capital, gerando

uma maior auto-suficiência do produtor.

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Maior cooperação: das mini-usinas pesquisadas, 100% dos proprietários

manifestaram o desejo de participar de algum tipo de associação ou cooperativa.

Trabalho na propriedade sendo recompensante, no qual a mão-de-obra

é essencial para o bom andamento do negócio, incentivando assim, a permanência

destes produtores na terra.

Produção de alimentos minimamente processados e naturalmente

sadios.

Sistema de produção localmente adaptados, levando em consideração o

tipo de solo, clima, quantidade de água etc.

Busca de informação e assistência técnica, a fim de crescerem na

atividade.

A percepção pela população local de que a crise da produção familiar afeta

toda a região permite desenvolver estratégias com ampla mobilização e, ao mesmo

tempo, possibilita a emergência de uma coalizão de atores comprometidos em

redefinir as prioridades regionais, com base no potencial produtivo inserido nos

sistemas da produção familiar, na emergência de novas atividades e novas funções

para o espaço rural e na busca incessante de um desenvolvimento com mais

equilíbrio e justiça social.

Desta forma, é possível combinar estratégias capazes de garantir a

sustentabilidade deste modelo ao longo do tempo, podendo-se destacar:

A valorização dos espaços locais, dos conhecimentos, das habilidades e

dos recursos existentes, a partir de uma nova visão que busque o envolvimento da

comunidade e dos atores sociais locais.

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As Prefeituras como agente articulador das bases para uma proposta de

desenvolvimento rural, pois tem como papel, o de agente organizador das políticas

locais.

A presença ativa e a ação reguladora do Estado através de políticas

estruturais e de apoio à produção familiar, no sentido de promover a ampliação das

oportunidades para as famílias rurais, integrando-as aos mercados dos principais

produtos da região.

Afinal, o livre curso das forças de mercado tende a desperdiçar vocações e

capacidades que as políticas públicas têm a missão de estimular, como a criação de

novos mercados que evidenciem capacidades regionais, como produtos cuja

imagem resgate conhecimentos e modos tradicionais de fabricação dos produtos. O

estímulo à capacidade de buscar respostas e executá-las cooperativamente, à

criação de um clima de confiança entre os atores sociais, e o respeito à cultura local,

cria energias comunitárias e organizacionais que podem levar adiante amplos

processos de construção. Para haver sustentabilidade econômica, precisa haver

políticas públicas locais.

A idéia sempre deve ser a de fortalecer a organização da comunidade local,

sem interferir nas decisões, contribuindo como facilitador dos processos. O fato de

não haver políticas locais para incentivar a organização destes produtores familiares

incentiva a concentração dos grandes empreendimentos e a diminuição dos

pequenos produtores. A fala dos produtores já diz tudo isso, a produção familiar hoje

precisa ser uma preocupação do poder local. No caso das mini-usinas de leite, a

Prefeitura, além de organizadora, pode entrar também como consumidora dos

produtos produzidos nestes estabelecimentos, para merenda escolar, hospitais,

creches e até mesmo na organização de pequenas fábricas de pães, biscoitos,

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dentre outros produtos em que o leite entra como ingrediente, e assim, continuar

gerando renda e empregos no campo.

Se prefeitura e produtores familiares não construírem parcerias, não se chega

a lugar algum, podendo haver prejuízos políticos para uns e outros, mas uns

sobrevivem e outros não, a não ser na informalidade. Também é importante integrar

as políticas municipais, articulá-las e governar para as peculiaridades de cada

município, e não copiar exemplos de políticas de outras localidades, sem levar em

conta as particularidades do mesmo.

As políticas precisam ter um processo de sustentação e alicerçamento, de

continuidade ao longo do processo, e a sustentabilidade que é a de não exaustão

dos recursos humanos, naturais e de uso de maneira harmoniosa de todos esses

talentos, a ponto de produzir as riquezas necessárias. O papel que o poder local

precisa desenvolver é estimular a geração de renda, gerar sistema de auxílio na

montagem de cooperativas e associações (gerando baixos custos, volume de capital

relativamente baixo e tecnologia simples), com acompanhamentos sistemáticos para

que tais empreendimentos se consolidem, promovendo também a realização de

cursos de formação profissional e de gestão, possibilitando assim, à população

excluída, acesso ao mercado de trabalho, estímulos à participação social, por meio

da divulgação das marcas dos produtos produzidos no município, e quem sabe, até

um selo de qualidade, indicando que o produto é proveniente do município.

Por intermédio deste trabalho, pôde-se constatar, que apesar de algumas

limitações, como concorrência com o leite longa vida e informal e pouco incentivo do

governo para a atividade, as mini-usinas têm respondido às questões sociais,

políticas e econômicas, e têm demonstrado ser uma alternativa viável para que

esses produtores se mantenham na terra, com condições dignas de vida.

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Os resultados da Cooperativa de São Pedro (COOPAMSP), mostraram que

por meio da organização dos produtores em associação e cooperativa e a

colaboração de outros agentes, conseguiu-se reunir um grupo de produtores

familiares sem uma prática para o trabalho em conjunto. Mostrou-se ainda que,

organizados, passaram a relacionar-se com o mercado de forma conjunta obtendo

maior poder de barganha com os fornecedores de insumos, e construíram um

laticínio próprio, permitindo a apropriação local do valor agregado da sua produção.

Concluindo, ressalta-se a necessidade de explorar, em novas pesquisas

sobre os tipos de incentivos políticos dirigidos aos produtores familiares de leite e à

abertura e funcionamento de pequenos empreendimentos agroindustriais no setor

lácteo. Indica-se também o estudo dos custos de transação desses

empreendimentos, justificando o porque do fechamento dessas mini-usinas

processadoras de leite e derivados.

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APÊNDICES

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APÊNDICE 1 - MAPA 2 - EDRs do Estado de São Paulo (Regionais Agrícolas)

MAPA 2 - EDRs do Estado de São Paulo (Regionais Agrícolas) Fonte: CATI, IEA (2005)

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APÊNDICE 2 - Antiga DIRA (Divisão Regional Agrícola)

e atual bacia leiteira de Ribeirão Preto

QUADRO 10 - Antiga DIRA (Divisão Regional Agrícola) e atual bacia leiteira de Ribeirão Preto

EDR Municípios

EDR de Araraquara (16 municípios)

Américo Brasiliense, Araraquara, Boa Esperança do Sul, Descalvado, Dourado, Ibaté, Gavião Peixoto, Matão, Motuca, Nova Europa, Ribeirão Bonito, Rincão, Santa Lúcia, São Carlos. Tabatinga e Trabiju.

EDR de Barretos (18 municípios)

Altair, Barretos, Bebedouro, Cajobi, Colina, Colônia, Embaúba, Guairá, Guaraci, Jaborandi, Monte Azul Paulista, Olímpia, Piranji, Pitangueiras, Severínia, Taquaral, Terra Roxa e Viradouro.

EDR de Franca (13 municípios)

Altinópolis, Batatais, Cristais Paulistas, Franca, Itirapuã, Jeriquara, Patrocínio Paulista, Pdregulho, Restinga, Ribeirão Corrente, Rifaina, Santo Antônio da Alegria e São José da Bela Vista.

EDR de Jaboticabal (14 municípios)

Borborema, Cândido Rodrigues, Dobrada, Fernando Prestes, Guariba, Ibitinga, Itápolis, Jaboticabal, Monte Alto, Santa Ernestina, Taiaçu, Taiúva, Taquaritinga e Vista Alegre do Alto.

EDR de Orlândia (12 municípios)

Aramina, Buritizal, Guará, Igarapava, Itapuã, Miguelópolis, Morro Agudo, Nuporanga, Orlândia, Sales de Oliveira, e São Joaquim da Barra.

EDR de Ribeirão Preto (19 municípios)

Barrinha, Brodowiski, Cajuru, Cássia dos Coqueiros, Cravinhos, Dumont, Guatapará, Jardinópolis, Luiz Antônio, Pontal, Pradópolis, Ribeirão Preto, Santa Cruz da Esperança, Santa Rita do Passa Quatro, Santa Rosa do Viterbo, São Simão, Serra Azul, Serrana e Sertãozinho.

Fonte: CATI, IEA

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APÊNDICE 3 - Municípios em que há presença de mini-usinas

na EDR de Araraquara

QUADRO 11 - Municípios em que há presença de mini-usinas na EDR de Araraquara

EDR Municípios

EDR de Araraquara Américo Brasiliense, Araraquara, Boa Esperança do Sul, Descalvado, Dourado, Ibaté, Gavião Peixoto, Matão, Motuca, Nova Europa, Ribeirão Bonito, Rincão, Santa Lúcia, São Carlos. Tabatinga e Trabiju.

Municípios onde há presença de mini-usinas processadoras de leite e derivados

Descalvado, Ribeirão Bonito, São Carlos e Tabatinga.

Fonte: CATI, IEA

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APÊNDICE 4 – Composição do Leite

TABELA 17 - Composição do leite

Componentes Média em leite integral (%)

Água 87,5

Gordura 3,6

Carboidrato (lactose) 4,6

Proteína (caseína e albumina) (3,0 e 0,6) = 3,6

Sais minerais 0,7

Fonte: BEHMER (1981)

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APÊNDICE 5 – Interpretação das análises microbiológicas

QUADRO 12 – Interpretação das análises microbiológicas

Interpretação das Análises Microbiológicas do leite Total do rebanho para Identificar as Possíveis Fontes de Contaminação do Leite Cru na Fazenda

Grupo de bactérias Fonte Controle

Psicotróficas - Deficiência na higiene da ordenha;

- Falhas na limpeza e sanitização do tempo e equipamentos de ordenha;

- refrigeração inadequada do leite;

- Água contaminada.

- Ordenhar tetas limpas e secas;

Desinfecção das tetas antes da ordenha;

- Manter o leite refrigerado a 4ºC ou ligeiramente menos. O leite deve alcançar essa temperatura em menos de três horas após a ordenha;

- Rever a prática de limpeza dos equipamentos de ordenha, do tanque de refrigeração e dos utensílios.

- Fazer análise microbiológica e realizar o tratamento, se necessário;

- Fazer regularmente a limpeza das caixas de água.

Termodúricas - Deficiências crônicas ou persistentes na limpeza dos equipamentos de ordenha;

- tetas com sujeiras do solo.

- Ordenhar tetas limpas e secas;

- Desinfecção das tetas antes da ordenha;

- manter o leite refrigerado a 4ºC ou ligeiramente menos. O leite deve alcançar essa temperatura após 3 horas após a ordenha;

- Rever a prática de limpeza dos equipamentos de ordenha, do tanque de refrigeração e dos utensílios;

- Trocar regularmente os componentes da borracha dos equipamentos de ordenha.

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Continuação do QUADRO 12 – Interpretação das análises microbiológicas

Interpretação das Análises Microbiológicas do leite Total do rebanho para Identificar as Possíveis Fontes de Contaminação do Leite Cru na Fazenda

Mesófilas - Contaminação da cama e das tetas com fezes;

- Água contaminada.

- Ordenhar tetas limpas e secas;

- Desinfecção das tetas antes da ordenha;

- manter o leite refrigerado a 4ºC ou ligeiramente menos. O leite deve alcançar essa temperatura após 3 horas após a ordenha;

- Rever a prática de limpeza dos equipamentos de ordenha, do tanque de refrigeração e dos utensílios;

- Fazer análise microbiológica e realizar o tratamento, se necessário;

- Fazer regularmente a limpeza das caixas de água.

Fonte: PAIVA & BRITO (2001)

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APÊNDICE 6 – Questionário de Pesquisa

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA – UNIARA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO

REGIONAL E MEIO AMBIENTE

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA

Nome do Laticínio:----------------------------------

Ano de fundação:-----------------------------------

Endereço:------------------------------------------------

Nome do Entrevistado/Telefone:----------------------------

Funções na Empresa:-----------------------------

Grau de Escolaridade dos administradores do laticínio:-----------------------------

Sócios do laticínio:------------------------------

Como surgiu a idéia da fundação do laticínio?---------------------------------

Quantos funcionários o laticínio possui?---------da família-------H ( ) M ( )

----------contratados-----H ( ) M ( )

Localização do laticínio: ( ) Zona Rural ( ) Zona Urbana

Qual a distância da cidade?-------------------------------------

1. Volume diário produzido

1.1. Pasteurizado “convencional”

Leite A:---------L

Leite B:---------L

Leite C:---------L

1.2. Leite UHT:-----------------L

1.3. Queijos: Ricota:------------; Mussarela:-------------; Minas Frescal:------------;

Outros:----------------------------------------------------------------------------------------.

1.4. Bebida Láctea:----------------------------

1.5. Iogurte:---------------------------------------

1.6. Outros produtos:----------------------------

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2. A empresa participa de algum tipo de associação? ( )Sim ( ) Não

Qual?-----------------------------------

3. Aquisição de Matéria-prima

3.1. Número de produtores que capta leite:

Grandes (acima de 500 litros/dia):---------------------------------------

Médios (entre 100 e 500 litros/dia):--------------------------------------

Pequenos (abaixo de 100 litros/dia):-------------------------------------

3.2. Qual o preço pago pelo litro de leite que capta de outros produtores?

Leite A/Litro-------------------

Leite B/Litro-------------------

Leite C/Litro-------------------

3.3. A empresa compra leite cru de outras Regiões/Estado? ( )Sim ( ) Não Por

quê? Quais Regiões?

4. Na região, o n° de produtores de leite tem aumentado ou diminuído? Por quê?

5. Como se dá a coleta de leite cru?

5.1. A empresa possui frota própria para a coleta de leite? ( ) Sim ( ) Não

5.2. Qual o número de caminhões?

5.3. Qual o tipo de caminhão utilizado para o transporte? ( ) abertos ( ) fechados

6. Qual a qualidade geral da matéria-prima captada?

7. O laticínio fornece assistência técnica ao produtor? Algum órgão faz? Que tipo?

8. Tecnologia

8.1. Qual a capacidade de processamento instalada?

8.2. Quantas unidades de processamento/resfriamento a empresa possui?

8.3. Seria necessário aquisições de novos equipamentos para o aumento da

produtividade/ quantidade de produtos finais?

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9. Quais as reclamações dos clientes? E como mantêm contato com o cliente final

para saber o grau de satisfação destes?

10. Comercialização

10.1. Qual o preço de venda do produto final?

Leite A R$ --------------------

Leite B R$ --------------------

Leite C R$ --------------------

Queijos: Ricota:------------; Mussarela:-------------; Minas Frescal:------------;

Outros:----------------------------------------------------------------------------------------.

Bebida Láctea:-----------------------------

Iogurte:-------------------------------------

Outros produtos:-----------------------------

10.2. Margem de lucro do produto final (%):-----------------------

10.3. A empresa está satisfeita com os preços praticados? ( ) Sim ( ) Não Por

quê?------------------------

10.4. Quais são os seus principais clientes?----------------------------------

10.5. Existe algum atravessador na comercialização do leite processado? ( )Sim ( )

Não Quem são?--------------------------------------

10.6. A empresa faz algum tipo de publicidade? ( )Sim ( ) Não Que tipo?------------

10.7. Quais os principais concorrentes da empresa?---------------------------------

10.8. Que vantagens os concorrentes têm em relação à empresa? (Custos,

tecnologia, marketing, etc.)-------------------------------------

10.9. Recebe algum tipo de retaliação por parte de algum concorrente e sente que

algumas empresas promovem concorrência desleal?------------------------------------

11. Canais de Distribuição

11.2. Canais de distribuição dos produtos na cidade:

Padarias (se possível o nome):---------------------------------

Supermercados:----------------------------------

Restaurantes:---------------------------------

Hotéis:---------------------------------

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Hospitais:---------------------------------------

Escolas:------------------------------------

Outros:------------------------------------

11.3. Possui algum convênio de distribuição com a Prefeitura ou outros órgãos

públicos?------------------------------------

11.4. Quais as vantagens da embalagem utilizada (saquinho plástico) quando se

comparado com a embalagem tetrapack?--------------------------------------

12. Tipo de alimentação das vacas:

Pastagem cultivada:---------------------------

Pastagem nativa:----------------------------

Silagem na seca:-------------------------------

Ração balanceada durante todo ano:----------------------------

Ração balanceada na seca:------------------------

Capineira (cana de açúcar e capim elefante):-------------------------

Outros (especificar):------------------------------

13. Antes de se associar à mini-usina, escoava o leite produzido para:

( ) cooperativa ( ) empresa nacional ( ) empresa transnacional ( ) vendia

informalmente

Cite o nome da empresa ou cooperativa que escoava o leite produzido:-----------------

14. Quais fatores te levaram a montar uma mini-usina de leite?---------------------------

15. Melhoraram as condições de vida após a montagem da mini-usina de leite?-------

16. Quantas famílias são sustentadas através dessa atividade?--------------------------

17. Aspectos Políticos

17.1. Há algum incentivo político por parte da Prefeitura?----------------------------

17.2. Há algum tipo de incentivo por parte dos Governos Estadual ou Federal?--------

17.3. Quais as medidas que deveriam ser tomadas pelo Governo ou outro órgão de

maneira a sanar os eventuais problemas que o setor enfrenta?-----------------------------

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18. Diversos

18.1. Regularidade da fiscalização:----------------------------------

18.2. A empresa possui selo de inspeção?-----------------------------

18.3. Tipo de pasteurização utilizado no laticínio:-------------------------------

18.4. Mantém contato direto com institutos de pesquisa ou universidades? Quais?----

-----------------------------------

18.5. Existe algum tipo de serviço terceirizado?-------------------------------

18.6. Qual a principal dificuldade interna que a empresa enfrenta?-------------------

18.7.. Recebe algum tipo de assistência técnica? ( ) Não ( ) Sim.

Se sim, qual?

( ) oficial

( ) contratada

( ) da Própria unidade Produtora

( ) da Associação

Outro(s), Qual(is)? .................................................

18.8. Quais são as principais dificuldades enfrentadas no desenvolvimento da

atividade pecuária?

( ) falta de incentivo do Estado

( ) dificuldade de comercialização

( ) falta de assistência técnica

( ) falta de mão-de-obra especializada

( ) falta de organização por parte dos produtores

( ) outras. Quais?................................

18.9. Qual a principal barreira para o setor laticinista como um todo e

especificamente para as mini-usinas de leite?-------------------------------------

18.10. Como você vê o futuro do “negócio leite” na região?-------------------------

18.11. Como vê o futuro do leite no país?--------------------------------