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CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE MANAUS CEULM/ULBRA Comunidade Evangélica Luterana “São Paulo” Credenciado pelo Decreto Presidencial de 26/03/2001- DOU 27/03/2001 DA PROTEÇÃO CONTRA DISPENSA ARBITRÁRIA OU SEM JUSTA CAUSA: UM SONHO OU REALIDADE? Manaus AM 2017

CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE MANAUS … · os votos já proferidos na ADIN 1625 qual é a perspectiva para os empregados terem o direito contra dispensa arbitraria do empregador

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CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE MANAUS – CEULM/ULBRA

Comunidade Evangélica Luterana “São Paulo” Credenciado pelo Decreto Presidencial de 26/03/2001- DOU 27/03/2001

DA PROTEÇÃO CONTRA DISPENSA ARBITRÁRIA OU SEM JUSTA CAUSA: UM

SONHO OU REALIDADE?

Manaus – AM 2017

CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE MANAUS – CEULM/ULBRA

Comunidade Evangélica Luterana “São Paulo” Credenciado pelo Decreto Presidencial de 26/03/2001- DOU 27/03/2001

ANA CLÁUDIA DA COSTA BRANDÃO

DA PROTEÇÃO CONTRA DISPENSA ARBITRÁRIA OU SEM JUSTA CAUSA: UM

SONHO OU REALIDADE?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Centro Universitário Luterano de Manaus –

CEULM ULBRA, Curso de Direito como um dos

requisitos para obtenção do grau de Bacharel.

Orientador: Prof. José Luiz Leite

Manaus – AM 2017

CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE MANAUS – CEULM/ULBRA

Comunidade Evangélica Luterana “São Paulo” Credenciado pelo Decreto Presidencial de 26/03/2001- DOU 27/03/2001

ANA CLÁUDIA DA COSTA BRANDÃO

DA PROTEÇÃO CONTRA DISPENSA ARBITRÁRIA OU SEM JUSTA CAUSA: UM

SONHO OU REALIDADE?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Centro Universitário Luterano de Manaus –

CEULM ULBRA, Curso de Direito como um dos

requisitos para obtenção do grau de Bacharel.

Orientador: Prof. José Luiz Leite

Aprovado em _____ de _______________, de 2017.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________ Presidente

CEULM – ULBRA

_________________________________________________________ Membro

CEULM – ULBRA

_________________________________________________________ Membro

CEULM - ULBRA

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos que estiveram

presentes ao longo dessa caminhada, meu

esposo, familiares, amigos, colegas, professores e

principalmente ao meu Diretor José Carlos Penatti,

hoje falecido, a todas as pessoas que de alguma

forma contribuíram para a conclusão desse

projeto.

A todos o meu muito obrigado!

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus por ter

derramado suas bênçãos sobre mim, concedendo-

me sabedoria, foco, força e disciplina para que

completasse, com sucesso mais esta etapa de

minha caminhada e dessa forma concluísse minha

segunda e tão sonhada graduação.

Agradeço a minha família por todo o apoio ao longo

dessa jornada especialmente ao meu esposo João

Carlos Gramático, meu Pai Edilson, minha mãe

Guilhermina, meus irmãos Dávila e Darlan.

Aos meus Diretores José Carlos Penatti e Rodrigo

Penatti, que me apoiaram, me incentivaram e

contribuíram para minha formação.

Agradeço também ao meu Orientador Prof. José

Luiz Leite por confiar em meu potencial, por

acreditar que seria possível e me motivar sempre.

Ao Centro Universitário Luterano de Manaus, por

ceder o seu nome, o espaço e a oportunidade para

o desenvolvimento desta pesquisa, aos colegas

Alunos e Professores meus sinceros

agradecimentos.

“Ouvirá o sábio e aumentará teu saber e o entendido adquirirá destreza”

Provérbios de Salomão

RESUMO

A Constituição Federal dentre outros temas, destaca os direitos sociais.

Apesar de já transcorrido mais de 29 anos de sua promulgação, a pretensa proteção

contra dispensa arbitraria pelo empregador disposta em seu inciso I do artigo 7º,

devido sua efetividade limitada, sempre foi objeto de discussão doutrinaria e

jurisprudencial. O cenário jurídico tornou mais conturbado no ano de 1996, devido ato

unilateral o Presidente da República, o qual, sem a participação do Congresso

Nacional, denunciou a Convenção nº 158 da Organização Internacional do Trabalho,

cujo tratado disponha da proibição ao término da relação de trabalho por iniciativa do

empregador de forma arbitrária em consonância ao texto constitucional. Neste

contexto, o presente trabalho tem como partida o seguinte problema: De acordo com

os votos já proferidos na ADIN 1625 qual é a perspectiva para os empregados terem

o direito contra dispensa arbitraria do empregador diante a previsão do artigo 7º, inciso

I da Constituição Federal e inconstitucionalidade do ato unilateral de denúncia da

Convenção nº 158 da Organização Internacional do Trabalho? O objetivo do presente

repousa na análise da constitucionalidade de ato de denúncia unilateral de Tratado

Internacional do Presidente da República, assim como o atual cenário jurídico no que

tange a efetividade de norma constitucional sobre a proteção contra a dispensa

arbitraria pelo empregador presente nos votos dos ministros do Supremo Tribunal

Federal. Ao final, pretende-se compreender as razões pelas quais uma norma já

promulgada a mais de 29 anos ainda pende de efetividade no plano jurídico nacional

e as atuais tendências interpretativas sobre o tema. A metodologia utilizada é o

método hipotético – indutivo de natureza aplicada, exploratória com levantamento

bibliográfico.

Palavras-Chave: Dispensa arbitrária – Tratado Internacional – Convenção 158 da OIT

- Constitucionalidade

ABSTRACT

The Federal Constitution, among other issues, highlights social rights.

Although more than 29 years have passed since its promulgation, the alleged

protection against arbitrary dismissal by the employer provided in its section I of article

7, due to its limited effectiveness, has always been the object of doctrinal and

jurisprudential discussion. The legal scenario became more troublesome in 1996, due

to the unilateral act of the President of the Republic, which, without the participation of

the National Congress, denounced Convention No. 158 of the International Labor

Organization, which treats the prohibition at the end of the work on the initiative of the

employer in an arbitrary manner in line with the constitutional text. In this context, the

present work has as a starting point the following problem: According to the votes

already given in ADIN 1625, what is the perspective for employees to have the right

against arbitrary dismissal of the employer, in view of the provisions of article 7, item I

of the Federal Constitution and constitutionality of the unilateral act of denunciation of

Convention No. 158 of the International Labor Organization? The purpose of the

present is based on the analysis of the constitutionality of a unilateral act of

denunciation of the International Treaty of the President of the Republic, as well as the

current legal scenario regarding the effectiveness of constitutional rule on protection

against arbitrary dismissal by the employer present in the votes of the ministers of the

Federal Supreme Court. In the end, it is intended to understand the reasons why a

norm already enacted for more than 29 years still depends on national legal

effectiveness and the current interpretive tendencies on the subject. The methodology

used is the hypothetical - inductive method of an applied nature, exploratory with a

bibliographical survey.

Keywords: Arbitrary dispensation - International Treaty - ILO Convention 158 -

Constitutionality

LISTA DE ABREVIATURAS

ADCT: Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

ADIN: Ação de Inconstitucionalidade

ART: Artigo

CF: Constituição Federal

CLT: Consolidação das Leis Trabalhistas

CONTAG: Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

CUT: Central Única dos Trabalhadores

EC: Emenda Constitucional

FGTS: Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

OI: Organização Internacional

STF: Supremo Tribunal Federal

TRT: Tribunal Regional do Trabalho

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1 CAPÍTULO I – SOBRE NORMA CONSTITUCIONAL – ART. 7, I CF ................... 12

2 CAPÍTULO II – TRATADOS INTERNACIONAIS ................................................. 19

2.1 Conceito ........................................................................................................... 19

2.2 Formação dos tratados internacionais ............................................................ 19

2.3 Como se deu a recepção da convenção n. 158 da oit e a matéria tratado ..... 21

2.3.1 Definição ................................................................................................... 21

2.3.2 Decreto legislativo 68/1992 ....................................................................... 25

2.3.3 Decreto legislativo 1855/1996.................................................................... 25

3 CAPÍTULO III – ADI 1480 ...................................................................................... 26

3.1 Conceito .......................................................................................................... 26

3.2 Objeto ............................................................................................................. 26

4 CAPÍTULO IV – ADI 1625 ...................................................................................... 29

5 CAPÍTULO V – SÚMULA 42 DA 17ª Região/ES ................................................. 34

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 36

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 39

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INTRODUÇÃO

O direito da proteção contra a dispensa arbitrária é um dos pilares dos direitos

sociais da carta Magna. Tanto é que a proteção contra a dispensa arbitrária por parte

do empregador foi elencada já no primeiro inciso do art. 7º da CF. Tal fato demonstra

a preocupação do Constituinte Originário em garantir certa tranquilidade e estabilidade

nas relações trabalhistas.

Por se tratar de um período de transição, a pretensa proteção contra a dispensa

arbitrária foi intermediada pelos os Atos das Disposições Constitucionais Transitórias.

O art. 10 das referidas normas transitórias limitou a estabilidade à gestante e aos

membros da comissão interna de prevenção do acidente de trabalho, deixando, porém,

a aplicabilidade da proteção contra a dispensa arbitrária ou sem justa causa aos

demais empregados condicionados à lei complementar. Portanto, se ver que a vontade

da Constituição é garantir a proteção contra a dispensa arbitrária, a todos os

empregados, a qual, todavia, já perpassa mais de 29 anos sem a efetividade da norma,

devido a inercia da promulgação de lei complementar.

Em 10 de abril de 1996, o Brasil promulgou o Decreto n. 1.855, o qual versa

sobre a convenção n 158 da OIT, mormente ao término da relação de trabalho por

iniciativa do empregador. Tal fato, implicaria ao Brasil a execução e o cumprimento de

todo dispositivo do tratado internacional, qual seja, assegurar a todos os trabalhadores

a garantia contra a dispensa arbitrária, no viés da norma constitucional e da vontade

do Constituinte Originário. Porém oito meses após sua promulgação, o Presidente da

República por ato unilateral denunciou o referido tratado.

Portanto, tal fato impõe a reflexão a qual derivou ao problema da presente

pesquisa: De acordo com os votos já proferidos na ADIN 1625 qual é a perspectiva

para os empregados terem o direito contra dispensa arbitraria do empregador diante a

previsão do artigo 7º, inciso I da Constituição Federal e inconstitucionalidade do ato

unilateral de denúncia da Convenção nº 158 da Organização Internacional do

Trabalho?

Assim, para responder o questionamento da pesquisa, inicialmente abordou a

reflexão conceitual quanto a classificação da eficácia das normas constitucionais,

notadamente quanto à eficácia atribuída ao art. 7º, inciso I, da Constituição Federal,

cujo o texto trata sobre a proteção contra a dispensa arbitrária sem justa causa.

11

No capítulo seguinte foi introduzido o conceito dos tratados internacionais, a

definição, a evolução histórica da Organização Internacional do Trabalho, perpassando

pela análise dos decretos de recepção da Convenção n. 158 da OIT no ordenamento

doméstico, assim como a reflexão do decreto o qual derivou a denúncia da referida

convenção por ato unilateral do Presidente da República.

O terceiro capitulo objetivou o estudo da Ação Direita de Inconstitucionalidade

proposta em face do ato unilateral do Chefe do Executivo o qual denunciou a

Convenção n.158 da OIT, bem como as perspectivas do julgamento da referida a ADIN

por meio dos votos já proferidos até o presente momento e também a interpretação

dada ao art. 7, inciso I, da Constituição Federal pelo Tribunal Regional do Trabalho da

17ª Região através de sua súmula 42 a qual foi suspensa a presente pesquisa.

O presente trabalho não tem a pretensão de esgotar o tema ou exaurir de forma

definitiva o viés perspectivo da proteção contra a dispensa arbitrária prevista no art. 7º,

inciso I da Constituição, mas sim, obter como resultado a interpretação majoritária

proferida pelo os tribunais superiores até o presente momento. Adotar-se-á

metodologia hipotética indutiva baseada em pesquisa aplicada explicativa através de

material bibliográfico.

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1 CAPÍTULO I – SOBRE NORMA CONSTITUCIONAL – ART. 7, I CF

O conceito, segundo José Afonsa da Silva (2016, p. 93)

As normas são preceitos que tutelam situações subjetivas de

vantagem ou de vínculo, ou seja, reconhecem, por um lado, as

pessoas ou as entidades a faculdade de realizar certos interesses por

ato próprio ou exigindo ação ou abstenção de outrem, e, por outro lado

vinculam pessoas ou entidades à obrigação de submeter-se às

exigências de realizar uma prestação, ação ou abstenção em favor de

outrem. Os princípios são ordenações que se irradiam e imantam os

sistemas de normas (...)

A doutrina classifica as normas constitucionais quanto a sua eficácia em

norma plena, contida e limitada.

As normas de eficácia plena são aquelas que são aplicáveis de imediato, não

depende de lei complementar, não depende da vontade, não depende de lei futura,

são normas que já contém em si todos os elementos necessários para sua plena

aplicação como por exemplo o art. 132, caput da Carta Magna.

“Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em

carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público e títulos,

com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil, em todas as

suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica

das respectivas unidades federadas”.

As normas constitucionais de eficácia contida, tem total eficácia por si,

contudo, por expressa disposição constitucional, podem eventualmente sofrer

restrições, por outras normas, como por exemplo o art. 5º, XIII da Carta Magna.

“É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendida

as qualificações profissionais que a lei estabelecer”, isto é, o

dispositivo constitucional supramencionado, que estabelece o livre

exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, tem aplicabilidade

independente da norma infraconstitucional. Contudo, eventual norma

infraconstitucional, pode estabelecer determinadas qualificações para

o exercício do trabalho, ofício ou profissão, como por exemplo a

13

aprovação no exame de ordem para exercício da advocacia, nos

termos da Lei 8.906/1994”.

As normas de eficácia limitada, são aquelas que dependem de

regulamentação, pede lei para produzir matéria e está dividido em princípio institutivos

(organizativa, contém comando) como por exemplo o art. 18, § 2º de normas

infraconstitucionais e programático (elabora programa sociais), bem como por

exemplo o art. 196 da CF.

“A saúde é direito de todos e dever do estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de

doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações

de serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

A Constituição brasileira no seu capitulo II nos traz um rol de direitos sociais.

Dentre eles, o artigo 7º, I que trata sobre os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais

que até os dias atuais causam polêmicas quanto a sua eficácia.

A doutrina nos apresenta várias interpretações sobre o tema em epígrafe,

entretanto, para elucidar alguns pontos sobre a eficácia do referido artigo com relação

a proteção contra a dispensa arbitrária, haja visto, que o término da relação de

trabalho se dá por iniciativa do empregador.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 7º, inciso I, prevê relação de

emprego protegida contra despedida arbitrária, ou sem justa causa, nos termos de lei

complementar que preverá indenização compensatória entre outros direitos. Ocorre

que a presente legislação ao proteger o emprego, contra despedida arbitrária (atitude

injusta e deliberada) e sem justa causa, conforme disposto no artigo 482 da CLT,

concedeu ao empregado uma certa estabilidade no emprego, não cabendo as partes

realizarem quaisquer negociações sobre a relação de trabalho. Entrementes, outro

questionamento também se faz presente que é quando o legislador menciona nos

termos de lei complementar que preverá indenização compensatória. Ocorre que até

o presente momento não há no meio jurídico Lei Complementar que regule o

supracitado artigo 7º, inciso I, da Constituição Federal de 1988, por isso classificada

por doutrinadores com sua eficácia contida. Essa omissão, quanto a indenização

compensatória por motivo de dispensa SEM JUSTO MOTIVO ou sem JUSTA CAUSA,

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está sendo suprida, conforme entendimento de alguns doutrinadores por uma reunião

de direitos trabalhistas, bem como, pela aplicação de uma indenização

compensatória, nos termos do artigo 18, parágrafo 1º da Lei 8.036/90:

Art. 18. (...)

§1º. Na hipótese de despedida pelo empregador sem justa causa

depositará este na conta vinculada, do trabalhador no FGTS,

importância igual a 40% (quarenta por cento) do montante de todos os

depósitos realizados na conta vinculada, durante a vigência do

contrato de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos dos

respectivos juros.

O empregado que é dispensado sem justa causa tem o direito de receber o

saldo salarial que são os dias trabalhados no mês, o salário do período de aviso

prévio, as férias vencidas e proporcionais, mais um terço constitucional do salário

normal, décimo terceiro proporcional, seguro desemprego, o saque do FGTS e a

indenização rescisória.

No sentido contrário o Enunciado da 1ª jornada de Direito Material e

Processual na Justiça do Trabalho (apesar de não ser lei, assemelha-se a súmula que

tal qual sintetiza seu entendimento sobre questões que apresentam controvérsias na

jurisprudência e servem para expressar a orientação de determinado julgadores

acerca de um tema controvertido) dispõe em seu inciso 2 que a omissão legislativa

impõe a atuação do Poder Judiciário na efetivação da norma constitucional,

garantindo aos trabalhadores, a efetiva proteção contra a dispensa arbitrária.

Para Bomfim (2014, p.1127):

“Estabilidade e garantia de emprego, constituem institutos afins,

porém diversos, não se confundindo. A garantia de emprego abrange

não só a restrição ao direito potestativo de dispensa (estabilidade),

como também a instituição de mecanismos de recolocação do

trabalhador, de informações, consulta entre empresa, sindicatos,

trabalhador, política estatal, criando estimulo para evitar o

desemprego”.

A mesma autora afirma ainda que:

15

Toda medida praticada com o intuito de diminuir o desemprego,

recolocar o trabalhador no mercado de trabalho, incentivar a

admissão, desestimular a dispensa, obstar ou onerar a despedida

arbitraria, capacitar o profissional no sentido de aproveitá-lo no

mercado é considerada medida de garantia no emprego (BOMFIM,

2014, p.1127).

Nesse, caso podemos observar que a estabilidade apresentada pelo art. 7º,

inciso I da CLT não é só uma forma de garantir o emprego, mas insurge em sério

questionamento sobre o direito potestativo do empregador em despedir.

Bomfim (2014) explica que “estabilidade no emprego é a garantia que o

empregado tem de não ser despedido senão nas hipóteses previstas em lei ou no

contrato. Esse direito atenua o poder potestativo do empregador de despedida”.

(p.1128)

Conforme preceitua o Art. 170 da Constituição Federal, a ordem econômica

fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar

a todos a existência digna conforme os ditames da justiça social.

Quando se fala que a estabilidade atenua o poder potestativo do empregador

de impor a outrem unilateralmente a sujeição da despedida sem que este conteste,

dá-se a entender que o mesmo extinguiu seu direito sobre seu negócio, que fora lhe

tirado a autoridade sobre quem deve permanecer no seu empreendimento, que vem

contrapor com o princípio da livre iniciativa.

De acordo com a parte final do Art. 165 da CLT, considera-se dispensa

arbitrária, aquela que não se funda em motivo técnico, financeiro, disciplinar ou

econômico. Dessa forma o que se extrai do contexto de forma geral é que a dispensa

sem justo motivo é defeso a qualquer dispensa que não corresponda as justificativas

expostas e podem ser tornadas nulas, sem efeito.

Neste sentido, podemos dizer que não corresponde a dispensa arbitrária,

aquela com os seguintes fundamentos:

Despedida por motivo técnico, enseja em duas situações, a primeira ocorre

quando o empregador objetivar substituir o trabalho manual por máquinas,

automatizando seu processo produtivo em virtude de concorrência de mercado, porém

esta situação também entra em conflito com o próprio Art. 7º, inciso XXVII, o qual

16

garante proteção quanto a automação nos temos de lei; o segundo fator ocorre

quando o empregado não está desempenhando suas funções com presteza,

cometendo falhas, mas que não seja suficiente para aplicação da desídia.

Despedida por motivo financeiro, ocorre quando há falta de capital de giro,

quando a empresa passa por dificuldades financeiras, seja por falta de administrar

bem suas entradas ou saída e/ou por falta de planejamento.

Despedida por motivo econômico, ocorre quando há escassez de clientes,

comercialização dos produtos a baixa demanda de produtos/serviços devidamente

comprovados permitem a dispensa.

Despedida por motivo disciplinar justa causa, ocorre quando o empregado

comente falta grave conforme elencados no Art. 482 da CLT.

Cabe ressaltar que as despedidas por motivos técnicos, financeiros ou

econômicos equivale a despedida imotivada, cabendo a aplicação do Art. 7º, inciso I:

Art. 7º: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros

que visem a melhoria de sua condição social:

I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem

justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização

compensatória entre outros direitos;

II – seguro-desemprego em caso de desemprego involuntário;

III- fundo de garantia;

.....

VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no

valor da aposentadoria;

....

XVII – gozo de férias anuais, remuneradas com pelo menos um terço

a mais do que o salário normal

...

XXI – Aviso Prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo

de 30 dias nos termos da lei.

Como podemos observar quando as empresas amparadas por seu poder

protestativo, decide realizar a dispensa de seus empregados, sem justo motivo, elas

cumprem com o que determina o art. 7º, inciso I da CLT, ou seja, indeniza o

empregado pagando todas as verbas rescisórias previstas na legislação vigente.

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A dispensa sem justo motivo ou sem justa causa, por iniciativa do empregador

ocorre quando o empregador rescinde o contrato laboral sem motivo grave, implica

na autonomia que a empresa possui para a quebra de contrato, o que acarreta como

condição a incidência do pagamento do aviso prévio trabalhado (o empregado

trabalhará com redução de duas horárias diárias sem prejuízo do salário, ou ainda

pode optar por faltar o serviço por sete dias corridos) ou aviso prévio indenizado (com

acréscimo de 03 dias por cada ano trabalho previsto na Lei 12.506/2011), décimo

terceiro salário proporcional, férias vencidas se houver e proporcionais acrescidas de

1/3 constitucional; FGTS do mês da rescisão e multa de 40% sobre o salário do FGTS

para o empregado e mais 10% para o governo, liberação das guias do seguro

desemprego conforme Decreto 7.721/2012.

O Artigo 477, parágrafo 8º da CLT, assegura a favor do empregado, multa

para o caso do descumprimento do pagamento das verbas rescisórias, bem como,

havendo controvérsia sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é

obrigado a pagar, à data do comparecimento à justiça do trabalho, a parte

incontroversa dessas verbas, sob pena de paga-las acrescidas de 50% (cinquenta por

centos).

Noutro viés, para José Afonso da Silva (2016, p. 292), a norma prevista no art.

7º, inciso I, da Constituição, teria sua eficácia definida como plena, ou seja, a própria

lei já é autossuficiente para garantia contra a dispensa arbitrária.

Garantia de emprego significa o direito de o trabalhador conservar sua

relação de emprego contra despedida arbitrária ou sem justa causa. A

constituição não conferiu a garantia absoluta do emprego. Os debates

na constituinte, neste tema, foram os mais acirrados, variando de uma

postura de livre desfazimento unilateral do contrato de trabalho, até

uma vedação quase absoluta ao desfazimento. Prevaleceu uma

formula que não é de toda satisfatória, conforme disposto no art. 7, I,

pela qual se assegura a relação de emprego protegida contra

despedia arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei

complementar. O que é que fica dependendo da lei complementar: a

definição da proteção da relação de emprego ou a definição do que

seja despedida arbitrária? Temos para nós que a garantia do emprego

é um direito por si bastante, nos termos da Constituição, ou seja, a

18

norma do Art. 7º, I, é por si só suficiente, para gerar direitos nela

previsto.

O mesmo autor afirma ainda que:

Garantia de emprego de emprego é a garantia de tempo de serviço,

prevista agora (art. 7º, III), não como alternativa à estabilidade, mas

como direito autônomo. Seus objetivos e natureza não podem ser mais

os de proteger o empregado despedido dos malefícios do

desemprego, facilitando ao empregador a possibilidade de despedi-lo,

como a doutrina dizia antes. Primeiro porque não é sucedâneo a

garantia da relação de emprego do inciso I, nem objetiva facilitar a

despedida; segundo porque o que protegera o empregado em caso de

desemprego voluntário é o seguro desemprego previsto no art. 7º, II.

O fundo de garantia passará a ser, dependendo de sua

regulamentação, uma espécie de patrimônio individual do trabalhador,

que servirá para suprir despesas extraordinárias para as quais o

simples salário não se revele suficiente, como por exemplo, aquisição

de casa própria, despesas com doenças graves, casamento etc.

A definição dos direitos sociais em consonância com as garantias

fundamentais, acarretam consequências das quais podemos citar subordinação à

regra da auto-aplicabilidade prevista no art. 5º § 1º.

A Constituição de 1998, portanto, consagrou diversas regras garantidoras da

socialidade e corresponsabilidade, entre as pessoas, os diversos grupos e camadas

socioeconômicas.

Ademais, em sentido amplo temos ainda os tratados internacionais que são

acordos resultantes da convergência das vontades de dois ou mais sujeitos de direito

internacional, com objetivo de produzir efeito jurídico no plano internacional.

19

2 CAPÍTULO II – TRATADOS INTERNACIONAIS

2.1 Conceito

De acordo com a Convenção de Viana do Direito dos Tratados de 1969, o

tratado significa um acordo internacional, regido pelo Direito Internacional e celebrado

por escrito.

Para Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros (1995, p. 550)

“Tratado significa um acordo, internacional concluído por escrito entre

Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um

instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos,

qualquer que seja sua denominação específica”.

Os tratados internacionais são as fontes principais do direito internacional no

contexto contemporâneo. São leis do plano internacional consubstanciadas em textos

formais e escritos, celebrados por pessoas jurídicas de direito, público externo, que

podem ser estados soberanos ou, ainda, organizações internacionais.

Os tratados internacionais são acordos formados pelo os sujeitos de direito

internacional, regido pelo direito internacional e que emana efeito sobre toda a ordem

internacional.

De acordo com o art. 6º da Convenção de Viana, as pessoas que tem

capacidade para formar tratado jurídico, são os Estados, as Organizações

Internacionais, e demais entidades equiparadas, como por exemplo, a Santa Sé.

O processo de formações dos tratados apresenta-se sob alguns

procedimentos dentre eles podemos citar negociação, assinatura, ratificação,

promulgação, registro e publicação, seguindo as regras da Convenção de Viana, com

alterações introduzidas em 1986, sem prejuízo das normas específicas do direito

interno de cada Estado soberano como veremos a seguir.

A incorporação dos tratados internacionais ao direito dos Estados soberano,

ocorre em conformidade com as regras do direito interno do respectivo Estado, que

geralmente possui uma Constituição.

20

2.2 Formação dos tratados internacionais

A intensificação das relações internacionais, ocasionou transformações na

técnica de celebração de tratados. O dinamismo de produção de normas jurídicas

internacionais e a diversificação das suas formas de surgimento, levaram vários

países a se adaptarem a essa realidade, inserindo em suas constituições dispositivos

específicos sobre os acordos em forma simplificada.

A Constituição Federal de 1988 consagrou em seu texto os mais importantes

direitos e garantias fundamentais, prevendo, em nível positivo, dispositivos históricos

e amadurecidos a partir de grandes conquistas da civilização, tais como a Magna

Carta de 1215, a Constituição dos Estados Unidos da América e a Declaração

Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, ambas de 1789, a Declaração

Universal dos Direitos do Homem, dentre outros importantíssimos diplomas.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é consequência histórica do

avanço dos direitos humanos de segunda dimensão. Sendo que a organização é

fundada em 1919, através do Tratado de Versalhes, tendo sido constituída na Parte

XIII do referido tratado, e complementada posteriormente pela Declaração de

Filadélfia, de 1944. O Brasil é membro fundador e signatário do tratado que originou

a OIT.

O tratado de Versalhes começa a ser elaborado em janeiro de 1919 e é

assinado em 28 de junho do mesmo ano, é importante salientar os motivos que

levaram a criação de uma organização do trabalho (OIT), dentro de um tratado de paz

armistício, uma vez que o tradado referia-se principalmente a rendição da Alemanha

na primeira guerra mundial. Conforme Vizentini (1998), a Europa vivenciou inúmeras

guerras civis, pós-conflitos entre as nações. Os principais motivos desses conflitos

estavam vinculados à instabilidade social, nas classes dos soldados e dos

trabalhadores que viam com bons olhos a revolução proletária ocorrida na Rússia em

1917.

Após a primeira guerra mundial, em Versalhes, as potências vencedoras

reuniram em 1919, para a formação de uma organização internacional denominada

de Sociedade das Nações ou Liga das Nações. A finalidade da reunião foi à criação

de um Tratado com intuito de negociação de acordo de Paz devido à tensão pós-

guerra. A Liga também tinha outras diretrizes específicas, através de suas comissões,

dentre elas, a Organização Internacional do Trabalho (OIT ou ILO, do inglês

21

International Labour Organization) alicerçada em uma perspectiva no

desenvolvimento e harmonização das relações de trabalho no mundo e proteção de

direitos de algumas minorias.

A organização Internacional do Trabalho (OIT) é a Agencia das Nações

Unidas, cuja missão é promover oportunidades para que homens e mulheres possam

ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade,

segurança e dignidade, conforme demonstraremos no decorrer do próximo capitulo.

2.3 Como se deu a recepção da convenção n. 158 da oit e a matéria

tratado

2.3.1 Definição

As grandes nações representadas por Estados Unidos da América, Itália,

Japão, Checoslováquia, Polônia, Cuba, França e Inglaterra, formaram próximo ao fim

da 1ª Guerra Mundial, comissões com finalidade de realizar estudos iniciais e

apresentar projetos sobre a regulamentação Internacional do Trabalho na Conferência

de Legislação Internacional do Trabalho. Em 24 de março de 1919, o projeto de lei foi

aprovado na conferência, passando a integrar a parte XIII do Tratado de Versalles e

em seu preâmbulo informou o seguinte:

“Considerando que a Sociedade das Nações tem por objetivo

estabelecer a paz universal e que tal paz não pode ser fundada senão

sobre a base da justiça social; em atenção a que existem condições

de trabalho que implicam para um grande número de pessoas em

injustiça, miséria e privações, e que origina tal descontentamento que

a paz e a harmonia universais correm perigo; em vista de que é

urgente melhorar essas condições (por exemplo, no que concerne à

regulamentação das horas de trabalho, à fixação de uma duração

máxima da jornada e da semana de trabalho, ao aproveitamento da

mão-de-obra, à luta contra o desemprego, à garantia de um salário

que assegure condições convenientes de existência, à proteção dos

trabalhadores contra as enfermidades gerais ou profissionais e os

acidentes resultantes do trabalho, à proteção das crianças, dos

adolescentes e das mulheres, às pensões de velhice e de invalidez, à

22

defesa dos interesses dos trabalhadores ocupados no estrangeiro, à

afirmação do princípio da liberdade sindical, à organização do ensino

profissional e técnico e outras medidas análogas); tendo presente que

a não-adoção por uma nação qualquer de um regime de trabalho

realmente humanitário é um obstáculo aos esforços das demais

desejosas de melhorar a sorte dos trabalhadores nos seus próprios

países; - as Altas Partes Contratantes, movidas por sentimentos de

justiça e humanidade, assim como pelo desejo de assegurar uma paz

duradoura e mundial, convencionaram o que segue”.

Para Flávia Piovesan, a Convenção “continha previsões genéricas relativas

aos direitos humanos, destacando-se aos voltados ao mandate system of the League,

ao sistema das minorias e ao padrão internacional do direito ao trabalho”.

Contudo, na 68ª Conferência Internacional foi debatida de forma específica os

problemas sobre o término da relação de trabalho, sendo registrado importantes

novidades na legislação e na prática de numerosos Estados-Membros.

A OIT procede da convicção de que a justiça social é essencial para garantir

uma paz universal e perene, que o crescimento econômico é essencial, mas

insuficiente para assegurar a equidade, o progresso social e a erradicação da

pobreza, o que confirma a necessidade da OIT promova políticas sociais sólidas, a

justiça e instituições democráticas, visa a proteção dos direitos fundamentais inscritos

na Constituição da Organização, bem como promover sua aplicação universal. E

lembra que no momento de incorporar-se livremente a OIT, todos os membros

aceitaram os princípios e direitos enunciados em sua constituição e na Declaração de

Filadélfia e se comprometeram a esforçar-se por alcançar os objetivos gerais da

organização na medida de suas possibilidades e atendendo as suas condições

específicas.

Nos termos da Constituição Federal de 05 de outubro de 1988, art. 21, I,

compete à União (indelegável) manter relações com os estados estrangeiros e

participar de organizações internacionais; compete privativamente ao Presidente da

República, celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo

do Congresso Nacional conforme o art. 84, inciso VIII, da CF. Entretanto, em

consonância com o art. 49, I da CF, compete exclusivamente ao Congresso Nacional

resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem

23

encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. Diante desses dois

artigos ambos fundamentados pela CF é que surge o conflito sobre a competência de

cada um quando se trata aprovação ou denuncia de um tratado internacional.

Os tratados internacionais são acordos formados por sujeitos de direitos

internacional, formalizado pelo o consentimento mutuo por escrito do objeto lícito e

possível, regidos pelo direito internacional e emana efeito jurídico sobre toda a ordem

internacional, observando a capacidade das partes contratantes para firmar tratados

internacionais, conforme disposto o art. 06 da convenção de Viena.

O procedimento da formação dos tratados, passam por diversas fases, sendo

a primeira fase a negocial, em que as partes contratantes discutem e negociam o

tratado, conforme os arts.11 a 17 da Convenção de Viena1. Após essa fase negocial

do tratado, entra a fase de assinatura que em outras palavras é formalização do texto

negocial. No caso do Brasil é o presidente da República que assina o tratado e, logo

em seguida, o mesmo deve passar por uma aprovação legislativa que é o referendo

do congresso nacional. Depois de aprovado o trato internacional é expedido um

decreto legislativo pelo próprio congresso nacional, formalizando essa decisão

tomada e na sequencia o tratado é enviado de volta ao Presidente da República, a

quem compete ratificar e promulgar aquele texto.

A ratificação é o ato que manifesta o consentimento definitivo do Estado de

se vincular aos termos do tratado internacional, uma vez ratificado e promulgado o

texto ele será publicado no diário oficial e em seguida deverá ser feito o depósito do

ato de ratificação do tratado no âmbito do estado ao qual o tratado indicou ser

competente para receber os depósitos dos atos de ratificação.

Com a democracia e a internacionalização de nossa economia e sendo à

Carta de fundamental importância para dirimir os conflitos nas relações jurídicas entre

o parlamento e o executivo, fundamentada na tripartição dos poderes que é o pilar de

nossa organização política, constituindo elementos importantes do estado

democrático moderno a existência de mecanismo de frenagem dentro de cada poder,

que nada mais é do que a essência do mecanismo da separação dos poderes

proposta por Montesquieu (Revolução Francesa), que consiste em um dos poderes

do estado, seja, Executivo, Legislativo e Judiciário estejam aptos a conterem os

abusos um dos outros e sob esse aspecto enfocaremos o poder de celebrar tratados.

1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm

24

A competência para celebrar tratados foi e continua sendo tema de intensos

debates na Assembleia Constituinte, consubstancia por dois dispositivos de leis,

previstos no Art. 49, inciso I e Art. 84, inciso VIII, ambos da constituição federal de

1988, os quais conferem poderes tanto ao Presidente da República, quanto ao

Congresso Nacional para tratar sobre os tratados internacionais. Os tratados e

convenções internacionais que versarem sobre direitos humanos, devem ser votados

através de maioria qualificada ou maioria simples. Vejamos o quadro resumo para

melhor elucidação:

Tratados

Internacionais

Matéria comum

Sistema de votação:

Maioria simples

(Conta-se o número de presentes na

votação, e a aprovação se dá pela

metade + 1, independente do total

fixo de membros)

Característica:

Equiparado à Lei

Ordinária

Direitos humanos

(aprovados antes

da EC 45/2004)

Sistema de votação:

Aprovado por Rito Ordinário

Maioria simples dos membros das

casas legislativa

Característica

Norma Supra legal

Está Abaixo da

Constituição Federal,

mas acima da

legislação

infraconstitucional

Direitos humanos

(aprovados após

a EC 45/2004)

Sistema de votação:

Quórum qualificado - EC’s

(Aprovação ou não da proposta de

ser feita em cada Casa do

Congresso Nacional, em dois turnos

distintos por 3/5 dos membros e

serão equivalentes as emendas

constitucionais.

Característica:

Emenda

Constitucional

(art.5º § 3º da CF/88)

Mesmo nível da

Constituição Federal

A doutrina nos mostra que a política externa está materializada juridicamente

através de tratados internacionais, cabendo ao poder executivo diligenciar a matéria.

25

Entretanto ficou estabelecido o direito do parlamento em velar para que os interesses

nacionais, não sejam afetados por equívoco do executivo na direção das relações

exteriores.

Neste contexto, cabe esclarecer que quando houver alguma lei, atos

normativos federais, estaduais ou distritais de competência estadual editadas após a

constituição federal de 1988, cabe aos legitimados ativos disposto no art. 103 da

CF/88, propor ação direta de inconstitucionalidade (ADIN), como é o caso Decreto

2.100 que veremos posteriormente.

2.3.2 Decreto legislativo 68/1992

Aos dezesseis dias de setembro de mil novecentos e noventa e dois, o Brasil

aprova a Convenção nº 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que trata

do Término da Relação de trabalho por iniciativa do empregador, aprovada na 68ª

reunião de Conferência Internacional da OIT, em Genebra, em vinte e dois de julho

de mil novecentos e oitenta e dois, com vigência internacional em vinte e três de

novembro de mil novecentos e noventa e oito.

2.3.3 Decreto legislativo 1855/1996

A promulgação da convenção se deu por intermédio do Decreto nº 1.855 de

dez de abril de mil novecentos e noventa e seis, o qual cumpriu com todas as

exigências estabelecidas para formação do tratado.

Todavia, a referida convenção não chegou a ser publicada no Brasil, tendo

em vista que o poder judiciário a declarou incompatível, com a Constituição Federal,

em virtude de um detalhe técnico: No Brasil, os tratados internacionais, tem status de

lei ordinária e no mesmo sentido a Constituição prevê que a proteção ao trabalhador

contra dispensa sem justa causa deve ser regulada em lei complementar.

Diante do enfrentamento dos dois posicionamentos, a Convenção nº 158, foi

denunciada pelo Decreto nº 2.100, de vinte de dezembro de mil novecentos e noventa

seis.

De posse dos direitos que lhe conferem o art. 103 da CF/88, como sendo

legitimado para a Confederação Nacional do Transporte – CTN e a Confederação

Nacional da indústria - CNI no uso de suas atribuições ajuizaram ADI nº 1480 contra

o Decreto acima citado.

26

3 CAPÍTULO III – ADI 1480

3.1 Conceito

A ADI é uma ação direita de inconstitucionalidade, é um instrumento utilizado

no chamado controle concentrado da constitucionalidade das leis prevista no art. 102,

Inciso I, “a” da CF e regulamentada pela Lei n. 9.868/1999, que visa buscar por meio

do controle abstrato, em tese, expurgar do ordenamento jurídico lei (espécie normativa

relacionada ao art. 59, CF) ou ato normativo (conforme entendimento do STF, incluem

os atos revestidos de algum caráter normativo genérico e impessoal, a exemplo dos

regimentos internos e resoluções administrativas dos tribunais, bem como dos atos

estatais de conteúdo derrogatório incidentes sobre os atos de caráter normativo)

viciado, federal ou estadual, tanto material quanto formal.

Além da ADI genérica, o controle concentrado é exercido por intermédio de

outros quatros instrumentos jurídicos, quais sejam: a ação de inconstitucionalidade

por omissão (ADO), a ação declaratória de constitucionalidade (ADC), a arguição de

descumprimento de preceito fundamental (ADF) e a representação interventiva,

também conhecida como ADI interventiva.

O controle concentrado de constitucionalidade, como seu próprio nome diz, é

aquele que se concentra em apenas um órgão. No sistema brasileiro de controle, este

órgão é o Supremo Tribunal Federal, titular exclusivo da competência para julgar, em

tese a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo. Esse controle, pelo critério

formal de classificação, também é chamado de abstrato ou direto, já que se dá pela

via principal, ou seja, a analise da constitucionalidade é o objeto principal, autônomo

e exclusivo da causa.

3.2 Objeto

A ADI n.1.480, foi ajuizada com o objetivo de questionar a validade jurídico-

constitucional do Decreto Legislativo n. 68/92, que aprovou a Convenção n. 158 (OIT)

e do Decreto n.1.855/96 que promulgou esse mesmo ato de direito internacional

público.

A Confederação Nacional do Transporte – CTN e Confederação Nacional da

Indústria – CNI autores da presente, ADI n. 1.480/96, por entender que referida

Convenção n. 158 seria prejudicial à competitividade da indústria em termos

27

econômicos e aos investimentos, propuseram a presente ADIN, sob o argumento de

que a convenção teria colidido com o art. 7º, inciso I da Constituição Federal,

afirmando que ela disciplina as mesmas matérias do tratado (indenização

compensatória, para despedida arbitrária sem justa causa) e que a regulamentação

da dispensa arbitrária estaria sujeita a reserva constitucional de lei complementar

(LC).

O pedido de liminar nos autos da ADI-CNI para suspender os efeitos da

Convenção foi acolhido pelo STF (votos 7X4), o que acarretou a denúncia brasileira

ao tratado, a partir de novembro de 1997, por meio do Decreto n. 2.100/96, sem

qualquer participação do Congresso Nacional. Com a renúncia, à Convenção, a ADI-

CNI perdeu o objeto e foi arquivada sem o julgamento final do mérito, em 27.06.2001,

pelo o Ministro Celso de Mello.

Para Celso de Melo,

E M E N T A: - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -

CONVENÇÃO Nº 158/OIT - PROTEÇÃO DO TRABALHADOR

CONTRA A DESPEDIDA ARBITRÁRIA OU SEM JUSTA CAUSA -

ARGÜIÇÃO DE ILEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DOS ATOS

QUE INCORPORARAM ESSA CONVENÇÃO INTERNACIONAL AO

DIREITO POSITIVO INTERNO DO BRASIL (DECRETO

LEGISLATIVO Nº 68/92 E DECRETO Nº 1.855/96). É na Constituição

da República - e não na controvérsia doutrinária que antagoniza

monistas e dualistas - que se deve buscar a solução normativa para a

questão da incorporação dos atos internacionais ao sistema de direito

positivo interno brasileiro. O exame da vigente Constituição Federal

permite constatar que a execução dos tratados internacionais e a sua

incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado

pelo Brasil, de um ato subjetivamente complexo, resultante da

conjugação de duas vontades homogêneas: a do Congresso Nacional,

que resolve, definitivamente, mediante decreto legislativo, sobre

tratados, acordos ou atos internacionais (CF, art. 49, I) e a do

Presidente da República, que, além de poder celebrar esses atos de

direito internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe - enquanto

Chefe de Estado que é - da competência para promulgá-los mediante

28

decreto. O iter procedimental de incorporação dos tratados

internacionais - superadas as fases prévias da celebração da

convenção internacional, de sua aprovação congressional e da

ratificação pelo Chefe de Estado - conclui-se com a expedição, pelo

Presidente da República, de decreto, de cuja edição derivam três

efeitos básicos que lhe são inerentes: (a) a promulgação do tratado

internacional; (b) a publicação oficial de seu texto; e (c) a

executoriedade do ato internacional, que passa, então, e somente

então, a vincular e a obrigar no plano do direito positivo interno.

Precedentes. SUBORDINAÇÃO NORMATIVA DOS TRATADOS

INTERNACIONAIS À CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. - No sistema

jurídico brasileiro, os tratados ou convenções internacionais estão

hierarquicamente subordinados à autoridade normativa da

Constituição da República. Em conseqüência, nenhum valor jurídico

terão os tratados internacionais, que, incorporados ao sistema de

direito positivo interno, transgredirem, formal ou materialmente, o texto

da Carta Política.

(ADI 1480 MC, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno,

julgado em 04/09/1997, DJ 18-05-2001 PP-00429 EMENT VOL-

02031-02 PP-00213)

Acrescentou ainda o referido Ministro à sua decisão que a denúncia, enquanto

manifestação soberana do Estado que a formula, qualifica-se quanto á alta parte que

emana, como causa extintiva do tratado ou convenção internacional. Vê-se, portanto,

que a Convenção n. 158/OIT, não mais se acha incorporada ao sistema de direito

positivo interno brasileiro, eis que, com a denúncia dessa Convenção Internacional,

registrada junto a OIT, em 1996, operou-se, quanto ao Brasil, a própria extinção do

referido ato de direito internacional público, o que importa – considerada a integral

cessação de sua eficácia – em situação configuradora de perda superveniente do

objeto da presente ação.

29

4 CAPÍTULO IV – ADI 1625

Posteriormente ao ato da renúncia à Convenção pelo o Presidente Fernando

Henrique Cardoso, a Central única dos Trabalhadores – CUT e Confederação

Nacional dos Trabalhadores da Agricultura – CONTAG, ajuizaram em junho de 1997,

a ADI n.1.625, requerendo a nulidade da denúncia à Convenção n. 158, sob o

fundamento de que esta não poderia ter sido realizada de forma unilateral pelo o Poder

Executivo, devendo ser submetida ao Congresso Nacional nos termos do art. 49,

inciso I, da Constituição.

Atualmente o julgamento da referida ADI, encontra-se suspensa a pedido de

vista do Ministro Dias Toffoli. sendo que já proferiram seus votos os ministros Maurício

Corrêa e Carlos Ayres Britto pela procedência em parte da ADI, o ministro Nelson

Jobim pela improcedência total e os ministros Joaquim Barbosa e Rosa Weber pela

procedência total da ação. Contudo, cabe informar que dos onzes ministros faltam

votar portanto, o ministro Alexandre de Moraes (que substituiu o ministro Teori

Zavascki), o ministro Ricardo Lewandowski, o ministro Celso de Mello, o ministro

Marco Aurélio, o ministro Gilmar Mendes e o Ministro Dias Toffoli.

De acordo com o cenário apresentado, há uma tendência que o STF venha a

declarar a inconstitucionalidade do Decreto 2.100/96, contudo provavelmente essa

declaração deverá ser parcial, isto é, para exigir o referendo do Congresso Nacional.

O direito de estabilidade no emprego, como dito anteriormente, visa impedir

que o empregador quando lhe convir denuncie (rescinda) o contrato de trabalho,

embora assumindo a responsabilidade de liquidação das verbas rescisórias cabíveis.

Desta forma de maneira geral, traremos alguns posicionamentos

contemporâneos acerca do entendimento da garantia de emprego.

A denúncia de uma convenção exige algumas formalidades. Nesse sentido, o

texto da própria Convenção 158 prevê a possibilidade, no seu art. 17, inciso I, “Todo

Membro que tiver ratificado a presente Convenção poderá denunciá-lo no fim de um

período de 10 (dez) anos, a partir da data da entrada em vigor inicial, mediante um

ato comunicado, para ser registrado, ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do

Trabalho. A denúncia tornar-se-á efetiva somente 1 (um) ano após a data de seu

registro.

Todavia, expirando o período de dez anos, o país signatário da presente

convecção, terá um ano (doze meses) para realizar a denúncia e caso não o faça

30

dentro desse período o país ficará obrigado a cumprir a aludida convenção pelo

mesmo período (dez anos).

A polêmica que envolve essa questão diz respeito à possibilidade de ocorrer

a denúncia da Convenção 158 por ato isolado do Presidente da República uma vez

que está em andamento a discursão da Ação Indireta de Inconstitucionalidade - ADI

1.625 proposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura –

CONTAG e a Central única dos Trabalhadores - CUT face sua legitimidade ativa

conforme preceitua o art. 103, IX da CF/88, cujo objetivo é obter a declaração de

inconstitucionalidade do Decreto 2.100 que denunciou a Convenção 158 da OIT,

O Tribunal Regional do Trabalho da 3ª região, em seu artigo denominado

Polemica sobre adesão do Brasil à Convenção 158 da OIT se reflete em ações

julgadas na JT, nos remete ao seguinte posicionamento:

O juiz José Quintella de Carvalho, titular da 1ª Vara do Trabalho de

Congonhas, ao julgar uma ação civil pública que versava sobre a matéria, ajuizada

pelo sindicato representante dos trabalhadores na indústria de extração mineral de

Congonhas e região contra a Companhia Siderúrgica Nacional, fez a seguinte análise

de competência:

Na interpretação do magistrado, o artigo 49, I, da Constituição, não se aplica

aos atos de ratificação da Convenção nº 158 da OIT, tendo em vista que essa norma

internacional disciplina relações de direito privado entre empregadores e empregados,

as quais não envolvem situações que acarretem encargos ou compromissos gravosos

ao patrimônio nacional, única circunstância que atrai a aplicação do artigo 49, I.

Portanto, concluiu o juiz que, uma vez afastada a regra especial, deve ser aplicada ao

caso a regra geral, segundo a qual o Congresso não delibera em caráter definitivo.

Observou o magistrado que, no texto do decreto legislativo que aprovou a Convenção

158, ficou estabelecido que o tema só deve retornar ao Congresso em caso de

modificações. Como não houve alterações no conteúdo da Convenção, o juiz

entendeu que estava encerrada a participação do Congresso Nacional. Nesse

contexto, o julgador considerou válido o ato de denúncia da Convenção 158, ocorrido

durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e, em consequência declarou a

constitucionalidade do Decreto n. 2.100/1996. Por esses fundamentos, o juiz

sentenciante não analisou os demais pedidos formulados pelo sindicato autor, uma

31

vez que o pedido principal tinha como base a declaração da inconstitucionalidade do

ato presidencial

Na atualidade o pedido de vista do ministro Dias Toffoli interrompeu o

julgamento, pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, da Ação Direta de

Inconstitucionalidade (ADI) 1.625, a qual questiona o Decreto 2.100/1996. Até o

presente momento, são quatro votos no STF pela inconstitucionalidade da medida dos

ministros Maurício Corrêa, Joaquim Barbosa, Ayres Britto e Rosa Weber e apenas um

voto pela improcedência do pedido do ministro Nelson Jobim.

O exame da ADI n. 1.625 foi iniciado em 2003, com o voto do relator, Ministro

Maurício Corrêa (falecido), pela procedência parcial da ação para dar interpretação

conforme a Constituição ao decreto, para que ele só produza efeitos a partir da

ratificação do ato pelo Congresso Nacional, uma vez que ele ratifica, também tem o

poder de decidir sobre a extinção deste tratado por meio de decreto legislativo. Ele foi

seguido pelo Ministro Carlos Ayres Brito (aposentado).

Em 2006, o ministro Nelson Jobim (aposentado) votou pela total

improcedência da ação e a manutenção do decreto presidencial que denunciou a

convenção 158 da OIT, na avaliação do Ministro a denúncia de tratado internacional,

é feita de forma unilateralmente pelo Presidente da República, que é o órgão que

representa o país na ação e independe da apreciação do Congresso Nacional.

Em 2009, o ministro Joaquim Barbosa trouxe voto-vista pela procedência total

da ação pronunciando-se no sentido de julgar totalmente procedente a ação da Cut e

da Contag para declarar inconstitucional o decreto presidencial que excluiu a

aplicabilidade no Brasil da Convenção 158 da OIT. Na avaliação de Joaquim Barbosa,

da mesma forma que um acordo internacional para vigorar no Brasil precisa ser

assinado pelo presidente da República e submetido à ratificação do Congresso

Nacional, a extinção desse tratado deve passar pelo mesmo processo. Caso contrário,

disse o ministro, há violação [formal] do texto constitucional, uma vez que o processo

legislativo não foi respeitado.

Concluiu não ser possível ao Presidente da República denunciar tratados sem

o consentimento do Congresso Nacional. Por essa razão, divergiu do relator e julgou

inconstitucional, no todo, o Decreto n. 2100/1996. Em virtude de a denúncia já estar

produzindo efeitos no plano internacional creio ser importante explicitar duas

consequências, advindas da declaração de inconstitucionalidade. Primeira: a

32

declaração de inconstitucionalidade somente terá o feito de tornar o ato de denúncia

não obrigatório no Brasil, por falta de publicidade. Como consequência, o Decreto que

internalizou a Convenção 158 da OIT no Brasil continua em vigor. Caso o Presidente

da República deseje que a denúncia produza efeitos também internamente, terá de

pedir a autorização do Congresso Nacional e, somente então, promulgar novo decreto

dando publicidade da denúncia já efetuada no plano internacional. Segunda: a

declaração de inconstitucionalidade somente atinge o decreto que deu a conhecer a

denúncia. Nada impede que o Presidente da República ratifique novamente a

Convenção 158 da OIT.

A possibilidade de rerratificação de tratados é concreta, já tendo, inclusive,

acontecido no Brasil com a Convenção 81, da OIT, cuja denúncia se tornou pública

pelo Decreto 68.796/1971, mas foi novamente ratificada e incorporada ao nosso

sistema por força do Decreto nº 95.461/1987, que revigorou o Decreto 41.721/1957,

que originalmente incorporava ao direito nacional a dita Convenção.

Nos mesmos termos do voto proferido hoje pela ministra Rosa Weber. A

ministra destacou que o que se discute não é a validade da denúncia em si, mas do

decreto, que implica a revogação de um tratado incorporado ao ordenamento jurídico

como lei ordinária.

Embora ainda pendente esse julgamento, os votos até aqui colhidos tendo em

vista que o Supremo Tribunal Federal – STF é composto por 11 ministros dos quais

04 julgaram procedente e 01 improcedente, indicam a prevalência da tese do Ministro

Joaquim Barbosa, primeiro porque a inexistência de norma específica na Constituição

Brasileira não confere a pretensão de inconstitucionalidade do ato do Chefe de

Governo, em realizar de forma unilateral a denúncia do tratado, um vez que sua atitude

faz parte das atribuições que lhe confere, segundo porquê do ponto de vista

econômico seria um retrocesso para o atual cenário, haja vista a entrada reforma

trabalhista que prima pela flexibilização trabalhista, negociação entre as partes e que

a própria CLT encorpou.

Nesse diapasão mostra-se desarrazoado o pedido de inconstitucionalidade da

denúncia.

Com efeito, cabe destacar que faltam votar o Ministro José Celso de Melo

Filho, Marcos Aurélio Mendes Farias de Melo, Gilmar Ferreira Mendes, Enrique

Ricardo Lewandowski, José Antonio Dias Toffoli e Alexandre de Moraes

33

Nesse aspecto, a matéria não encontra-se, pacificada, por tanto, merece

melhor reflexão e distinta abordagem, ante o estado atual do julgamento.

Nessa ótica, inclui-se ainda a súmula nº 42 do TRT da 17ª Região, que não

poderíamos deixar de tratar em um capitulo próprio a explanação sobre elaboração

desta súmula, os efeitos sobre sua deliberação, ponto este questionável em nosso

trabalho e que insurge como um dos principais pontos a ser esclarecidos, haja visto

que traz à baila todo questionamento em volta da constitucionalidade da ADI 1625.

34

5 CAPÍTULO V – SÚMULA 42 DA 17ª Região/ES

Em 24 de janeiro de 2017, o Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região/ES,

do Espírito Santo, publicou a Súmula 42, que versa sobre a proibição para empresas

rescindirem os contratos trabalhistas sem justificada motivação, baseada em uma

suposta inconstitucionalidade na convenção nº 158 da OIT, tendo como fundamento

o ato presidencial que denunciou a referida convenção de forma unilateral.

No entendimento do TRT-ES, a convenção de 158 da Organização

Internacional do Trabalho (OIT), permanece vigente no país e, assim, observando o

artigo 4º do referido regramento internacional “não se dará termino a relação de

trabalho de um trabalhador, a menos que exista para isso, uma causa justificada,

relacionada com sua capacidade ou seu comportamento, ou baseada nas

necessidades de funcionamento da empresa, estabelecimento ou serviço”, seria

expressamente vedado o término da relação de trabalho,

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu artigo 2º, institui o

enunciado que consubstancia o que a doutrina alcunhou de “Poder Empregatício” ou

“Poder Diretivo”. O dispositivo legal assim dispõe: “Considera-se empregador a

empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica,

admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço”. Assim, o empregador tem

a prerrogativa de planejar ou organizar, dirigir, regulamentar e controlar o seu negócio

no âmbito do espaço empresarial. Logo, é aquele o detentor exclusivo do poder

empregatício.

A Súmula 42 do TRT da 17ª Região/ES, vem em desacordo com a

concordância dos dispositivos legais que versam sobre a autonomia que o

empregador tem sobre seu empreendimento, que o permitem adequar a realidade de

sua empresa aos seus empregados, podendo, dentro de um ato unilateral ou até

mesmo, bilateral, dispensar o empregado desde que, dependendo da dispensa, arque

com todas as verbas rescisórias legais.

Sabido é que de acordo com princípio da alteridade, o empregador assume

todos os riscos perante o negócio. Contudo, há de se ponderar essa obrigação desde

que possa ser fomentada por dispositivos legais que seja bom para ambas as partes.

Nesse caso, a súmula enseja insegurança jurídica no ramo empresarial, no que

diz respeito ao engessamento do poder diretivo do empregador de organizar sua

atividade econômica, bem como burocratização nos processos de dispensa, na

35

medida que será demandado à empresa o ônus de comprovar a dispensa sem justa

causa. Outro ponto que causara impacto no caso de retorno da vigência da

Convenção n. 158, será a necessidade de monitorar e documentar a produtividade e

performance do empregado, planos estruturais da empresa que envolvam tecnologia.

36

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante o exposto, conclui-se que:

1. As normas constitucionais têm sua classificação entre outras através de

sua eficácia. Nota-se, portanto, no presente a divisão das normas constitucionais de

eficácia plena, contida e limitada. Nesse viés têm-se que a norma prevista no art. 7º,

inciso, I, da Constituição Federal é classificada por parte da doutrina como norma de

eficácia contida, embora também existam defensores da sua auto-aplicabilidade.

2. Os tratados internacionais notadamente, objeto da presente pesquisa,

Convenção n. 158 da OIT revela ser mecanismo de dinamismo de implementação de

garantias fundadas em perspectiva de desenvolvimento e harmonização das relações

de trabalho no mundo. A sua recepção no ordenamento jurídico doméstico prescinde

de formalidades para sua aprovação no caso em questão através de quórum por

votação de maioria simples através do Congresso Nacional, o qual passaram os

Decretos n. 68/1992 e 1855/1996, este o qual foi denunciado por ato unilateral

presidencial n. 2.100/1996, cuja a constitucionalidade é objeto de discussão até a

presente data.

3. Conforme exposto nas linhas ao norte, a discussão da constitucionalidade

do ato presidencial disposto no Decreto n. 2.100/1996, iniciou a ADIN n.1625, a qual

visa impedir a denúncia e os efeitos do ato presidencial e garantir a proteção contra a

dispensa arbitrária sem justa causa.

Ocorre que a referida ADIN, encontra-se, suspensa a pedido do ministro Dias

Toffoli. Até o presente momento, o Supremo Tribunal Federal proferiu 05 votos do total

de 11 ministros. Favorável ao acolhimento da inconstitucionalidade, têm-se o voto pela

inconstitucionalidade da medida dos ministros Maurício Corrêa, Joaquim Barbosa,

Ayres Britto e Rosa Weber e apenas um voto pela improcedência do pedido do

ministro Nelson Jobim.

4. Sobre a perspectiva da garantia do emprego comum sob a ótica da

constitucionalidade da Súmula 42 editada pelo TRT DA 17ª Região/ES, que versa

sobre a proibição para empresas rescindirem os contratos trabalhistas sem justificada

motivação, baseada em uma suposta inconstitucionalidade na convenção nº 158 da

OIT, há o entendimento do TRT-ES, que a convenção de 158 da Organização

Internacional do Trabalho (OIT), permanece vigente no país e, assim, observando o

artigo 4º do referido regramento internacional “não se dará termino a relação de

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trabalho de um trabalhador, a menos que exista para isso, uma causa justificada,

relacionada com sua capacidade ou seu comportamento, ou baseada nas

necessidades de funcionamento da empresa, estabelecimento ou serviço”, seria

expressamente vedado o término da relação de trabalho. Entretanto, como podemos

observar no decorrer o trabalho, a inconstitucionalidade da referida convenção n. 158

da OIT, não foi julga em definitivo, portanto, A Súmula 42 do TRT da 17ª Região/ES,

vem em desacordo com a concordância dos dispositivos legais que versam sobre a

autonomia que o empregador tem sobre seu empreendimento. Adicionalmente, a

súmula 42 do TRT/ES, encontra-se suspensa aguardando julgamento da ADIN n.

1.625.

5. Da análise proposta dos casos, pode-se concluir que o Tribunal interpreta

a Constituição Federal como um conjunto de regras rígidas que restringem a aplicação

e plena eficácia dos tratados. O constituinte brasileiro, foi letrado em denunciar a

convenção, preferindo criar princípios modernos no próprio texto constitucional, um

conjunto de proteções fundamentais: a compensação indenizatória pelo empregador,

o sistema intocável do fundo de garantia por tempo de serviço e o seguro desemprego

pelo Estado. Este regramento, é aplicável por força dos comandos constitucionais.

Todavia, o cenário atual político-jurídico pode influenciar os julgados da Suprema

Corte. Isso por que, sendo o Brasil uns dos países com maiores custos empregatícios

e burocráticos do mundo, pode levar a Suprema Corte a modular os efeitos do

julgamento da ADIN nº 1625/1996, para que os efeitos do julgamento passem a valer

no mundo jurídico tão somente na hipótese de inercia do Congresso Nacional deliberar

sobre possível denuncia da convenção nº 158 da OIT.

6. Importante salientar que a classificação sobre liberdade econômica do

Brasil, em termo de índice de liberdade econômica (2017 index of economic freedom),

o Brasil está posição de nº 140, isso significa dizer que dentre os critérios, adotados

nos índices de liberdade econômica, os quais variam entre livres, majoritariamente

livres, moderadamente livres e repressores, o Brasil está na beira dos poucos livres.

Além disso, é considerado o país com os encargos mais elevados e isso obsta

o empreendedorismo por onerar demais o empregador, o que vem na contramão com

as novas legislações que visam flexibilização nas leis trabalhistas, maior

produtividade, menos custos com encargos e maior liberdade de negociação direta

com o empregado.

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A eventual opção pela convenção, provocaria a saída de um sistema certo pela

a adesão de um sistema incerto, cujo o resultado além de demorado é desconhecido

o que incorreria em outro conflito que em nada compatibiliza com a celeridade que é a

base norteadora do direito do trabalho. O Brasil adotou o princípio da indenização na

dispensa imotivada, conforme preceitua o art. 7º da CF/88 e art. 10 do ADCT, afastando

qualquer outro sistema, em especial a estabilidade e a reintegração, prevista na

convenção nº 158 da OIT. A adoção da convenção traria novamente a não

recepcionada norma da estabilidade decenal, só que dessa vez de forma

inconsequente, pois, passado o período de experiência o empregado faz jus a

estabilidade e com isso acarreta outros problemas como a inibição de novos empregos,

a disputa pelo emprego restrito para o nacional, jovens fora do mercado entre outros.

A Convenção 158, ao estabelecer uma complexa burocracia nos procedimentos

de dispensa sem justa causa, pode ser inibidora de abertura de novos empregos o que

é danoso para jovens e adultos. A dificuldade para despedir leva os empresários a

relutarem para criar novas vagas, conflitando com a globalização que requer

renovações contínuas para fazer frente as inovações tecnológicas, bem como na forma

de produzir.

A busca pela proteção dos trabalhadores é assunto importante para a grande

maioria dos países no mundo, mas não como medidas restritivas como as observadas

na convenção n 158 da OIT e sim através de outras medidas, como já aplicadas no

Brasil pode garantir certa proteção contra a dispensa arbitraria, a exemplo, de prazos

de notificação de dispensa e de indenizações. Como se verifica a convenção n. 158 é

de 1982, quando o cenário econômico era mais fechado. Adotar tal convenção, nesse

momento, pode ocasionar efeitos que anulariam o grande esforço que o Brasil vem

realizando no sentido de acelerar o crescimento econômico e, sobretudo estimular o

avanço dos empregos formais que desfrutam da proteção da legislação atual e dos

acordos e convenções coletivas de trabalho.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Decreto nº 7.030, de 14 de dezembro de 2009. Convenção de Viena sobre

o Direito dos Tratados, concluída em 23 de maio de 1969, com reserva aos art. 25 e

66. Diário oficial da União, 15 dez.2009. Seção 1, p. 59.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm

BRASIL. Lei Nº 11.417, de 19.12.2006.Regulamenta o art. 103-A da Constituição

Federal e altera a Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, disciplinando a edição, a

revisão e o cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal

Federal e dá outras providencias.

MARTINS, Sérgio Pinto. Convenções da OIT.3ªed. São Paulo. Saraiva, 2016.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 40ªed. São Paulo.

Malheiros Editores, 2017.