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CENTRO UNIVERSITÁRIO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA – IESB
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
GLAYCIANE FERREIRA DE ALMEIDA
A RETÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS FRENTE AS RELAÇÕES EUA-CHINA
Brasília-DF
2016
GLAYCIANE FERREIRA DE ALMEIDA
A RETÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS FRENTE AS RELAÇÕES EUA-
CHINA
Trabalho de Conclusão apresentado ao curso
de Relações Internacionais do Centro
Universitário Instituto de Educação Superior de
Brasília – IESB, como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Relações
Internacionais.
Orientador: Profª. MSc. Francisca Gallardo.
Brasília-DF 2016
GLAYCIANE FERREIRA DE ALMEIDA
A RETÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS FRENTE AS RELAÇÕES EUA-
CHINA
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado
pela Banca Examinadora com vistas à
obtenção do título de Bacharel em Relações
Internacionais, do Centro Universitário Instituto
de Educação Superior de Brasília.
Brasília, 14 de Junho de 2016.
Banca Examinadora:
Profª. MSc. Francisca Gallardo (Orientador)
Prof. DSc. Weber Lima (Membro)
Prof. MSc. Fabrício Lopes
(Membro)
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, que é o autor da vida e o autor de tudo, por sua
misericórdia e Sua graça, porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas.
Agradeço aos meus pais, Ilza e Nadim pelo amor incondicional e o apoio que
sempre me deram.
Agradeço ao meu marido, Samuel, que eu amo muito, que sempre me
incentivou, apoiou e não mediu esforços para me ajudar nesse momento.
Agradeço a minha orientadora, professora Francisca Gallardo, pelo carinho,
incentivo, conforto e sua dedicação para comigo, e por ser a melhor orientadora de
todas.
Agradeço aos integrantes do SPG, que compreenderam minha ausência.
Agradeço também aos meus colegas e aos professores que nos ensinou e nos
apoiou durante essa jornada.
Agradeço aos meus colegas de turma, pela terapia nesse semestre de
conclusão.
Por fim, agradeço a todos que acreditaram em mim, que contribuíram pelo meu
crescimento pessoal e profissional, e a todos que porventura não foram aqui
mencionados, mas que de alguma forma se fizeram presente, torceram por mim, e me
ajudaram nessa gratificante jornada.
Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento; Provérbios 3:13
RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso tem como plano de fundo a evolução dos Direitos Humanos e o discurso proclamado para a implementação destes no mundo pelos Estados Unidos. A delimitação do tema é importante pois o assunto tem grande relevância nos dias atuais, levando em consideração a importância dada ao indivíduo pela Comunidade Internacional através dos desafios que foram enfrentados para a evolução e a afirmação dos Direitos Humanos hoje. Nesse contexto, procurou-se identificar se os Direitos Humanos atingiram plenamente o “funcionamento” efetivo, diante da gama de direitos alcançados atualmente, e dos discursos proclamados na defesa dos Direitos Humanos. A partir dessas reflexões, utilizou-se as relações econômicas desenvolvidas pelos Estados Unidos e a China, – sendo esta, um dos países que mais violam os Direitos Humanos em âmbito interno – que se mostram cada vez mais aproximadas. A China por sua vez, tem oferecido muitas vantagens econômicas, através do grande desenvolvimento econômico que ela tem apresentado nas últimas 3 décadas, e isso a torna uma irresistível parceira para os negócios. Os Estados em sua maioria do ocidente, os mesmos que proclamam os Direitos Humanos, em destaque os Estados Unidos, mesmo tendo o conhecimento das violações dos direitos ocorridas pelo governo chinês, fazem vista grossa e mantém as relações econômicas entre ambas a todos vapor, pois a economia lhes convém. As discussões em torno da matéria, demonstraram que a economia é das maiores violadoras dos Direitos Humanos, visto que frente a economia, os direitos ficam em segundo plano. Nesse sentido, confirmou-se que os discursos proclamados é apenas uma retórica e que ainda existem muitos desafios a serem enfrentados para a total eficácia dos Direitos Humanos. Palavras-chave: Direitos Humanos; Economia; China; Estados Unidos.
ABSTRACT
The current final term paper has on background the Human Rights evolution and the speech proclaimed by United States to be deployed in the World. It is a important theme due to be a relevant thing nowadays, taking into account the importance given to the individual by the International Community through the challenges that were faced in the development and affirmation of human rights, today. Within this context, we sought to identify whether Human Rights fully reached the "operation" effective, given the range of rights currently achieved. Based on such reflections, we used the economic relations developed by the United States and China, - and China is one of the countries that violate Human Rights in the domestic sphere - which show increasingly approximated. China has offered many economic advantages, through the great economic development that it has shown in the past 3 decades that makes China an irresistible partner for business. Mostly of the States from the West and United States, the countries that proclaim human rights, even with the knowledge of Human Rights violations by China government. They close the eyes and keep economic relations between them all steam. Discussions on the theme, have shown that the economy is the biggest violators of Human Rights, between economy, the rights remain in the background. Therefore, it only confirms the speeches proclaimed is just rhetoric and that there are still many challenges to be faced to the overall effectiveness of Human Rights.
Keywords: Human Rights; Economy; China; United States.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Mapa da China com Seus Dados................................................................25
LISTA DE TABELAS Tabela 1 – PIB das 4 maiores economias do mundo – Ranking, PIB e Investimentos de 2015.......................................................................................................................29 Tabela 2 – Expectativa de vida das 4 maiores economias do mundo em 2012 – Expectativa de vida masculino e feminino..................................................................29 Tabela 3 – Balança Comercial dos EUA com a China de 1975 a 2008 – Exportações e Importações.............................................................................................................35 Tabela 4 – Participação das Exportações da China nas Exportações Mundiais de 1970 a 2007 – Exportações Mundiais e Exportações Chinesas...........................................36 Tabela 5 – Déficit Comercial dos EUA com os 20 Principais Países – Anos de 1996 a 2008............................................................................................................................37
LISTA DE ABREVIATURAS BNDES BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO
EMN EMPRESA MULTINACIONAL
EMN’s EMPRESAS MULTINACIONAIS
EUA ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
FIDH FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS OIT ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO
OMC ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO
ONU ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
PIB PRODUTO INTERNO BRUTO
URSS UNIÃO DAS REPÚBLICA SOCIALISTAS SOVIÉTICAS
ZEE ZONA ECONÔMICA ESPECIAL
ZEE’s ZONAS ECONÔMICAS ESPECIAIS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 OS DIREITOS HUMANOS ..................................................................................... 13
2.1 CONCEITO .......................................................................................................... 13
2.2 A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS ........................................................................... 15
2.3 ESCRAVIDÃO MODERNA .................................................................................. 21
3 A CHINA ................................................................................................................ 25
3.1 CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS NA CHINA. ............................................ 25
3.2 VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS NA CHINA ............................................ 28
3.3 CHINA DESENVOLVE RELAÇÕES ECONÔMICAS COM EUA .......................... 33
4 A RELEVÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO E DA ECONOMIA ........................... 39
4.1 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ............................................................. 39
4.2 O DESENVOLVIMENTO DA CHINA COMO ÓTIMA PARCEIRA PARA ECONOMIA
....................................................................................................................... 42
4.3 A ECONOMIA COMO MAIOR VIOLADORA DOS DIREITOS HUMANOS ........... 46
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 49
6 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 51
11
1 - INTRODUÇÃO
Os Direitos Humanos são entendidos como os Direitos Fundamentais de todo
ser humano. A sua dimensão pública permite tratar de assuntos e temas relevantes
nas Relações Internacionais, como as normas de proteção internacional destes
direitos, a evolução desta para a incorporação das normas em cada Estado, e os
conflitos de interesses no mundo globalizado, que por sua vez, muitas vezes estão
associados aos interesses econômicos.
A discussão nos foros regionais e mundiais sobre a proteção dos Direitos
Humanos ganhou força, a partir do momento em que os Estados nacionais aceitaram
a debater o assunto não mais como um conteúdo exclusivamente interno, e isso
provocou o desenvolvimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos.
A matéria dos Direitos Humanos passou a fazer parte do discurso dos Estados,
em sua maioria do Ocidente, e com a maior atuação dos Estados Unidos. Entretanto,
as coisas não funcionam exatamente como está no papel, ou como proclamam nos
discursos.
Apesar do grande avanço e desenvolvimento dos Direitos Humanos no mundo,
ocorre ainda muitos problemas com violações em muitos Estados que não respeitam
de forma efetiva os direitos, como por exemplo, em alguns países do Oriente e da
Ásia, como é o caso da China.
A problemática deste trabalho de conclusão de curso fundamenta-se no
paradoxo entre o discurso dos Direitos Humanos anunciado pelo Ocidente, e as
relações econômicas-políticas desenvolvidas entre a China e os Estados Unidos.
Levando em consideração, a China ser uma das grandes violadoras dos Direitos
Humanos e os EUA tendo uma atuação relevante na proclamação dos direitos no
mundo.
A China tem apresentado um grande crescimento e desenvolvimento
econômico, desde 1990 aproximadamente, e isso sucede por diversos motivos.
Ocorre que, a China oferece grandes vantagens econômicas, que a fazem ser uma
excelente parceira para os negócios. Visando o desenvolvimento e a economia, os
outros Estados, inclusive os EUA – o mesmo que proclama os Direitos Humanos no
mundo com bravura – fazem vista grossa às violações de Direitos Humanos
sistematicamente realizadas pelo governo chinês, e mantém relações econômicas-
12
políticas intensamente. Assim, se tem como hipótese a economia sendo o maior
interesse do mundo.
Nesse contexto, esta pesquisa tem como objetivo geral, inserido no campo das
Relações Internacionais, evidenciar a respectiva evolução dos Direitos Humanos no
Direito Internacional, a partir das positivações da normas e aplicação na Comunidade
Internacional, mas mostrar que ainda existem desafios na esfera dos Direitos
Humanos à serem enfrentados para a maior efetividade. Ela também tem como
objetivos específicos apresentar violações de direitos ocorridas na China e salientar
as relações econômicas desenvolvidas por ela e os EUA, considerando que frente a
economia, os Direitos Humanos ficam em segundo plano.
Para tanto, no primeiro capítulo serão abordados o conceito de Direitos
Humanos, citando a definição de alguns autores para o tema; apresentará também a
evolução histórica dos direitos no mundo, revelando o desenvolvimento do Direito
Internacional, e por fim, denotará o conceito de escravidão moderna. Essas categorias
servirão como direcionamento para maior entendimento do trabalho.
No segundo capítulo, serão apresentados o conceito de Direitos Humanos na
China, abordando a Constituição chinesa e sistema jurídico, faz-se também um
quadro das violações que ocorrem na China desde de 1980, e coloca em evidência
as relações econômicas dos EUA e da China, revelando a incoerência do discurso
dos Direitos Humanos que os EUA proclama.
No terceiro capítulo, por fim, haverá uma breve apresentação do conceito de
desenvolvimento econômico, que é um aspecto que os Estados em sua maioria
querem alcançar, evidenciando a importância da economia para o mundo; abordará
também o grande desenvolvimento e crescimento chinês, revelando aspectos que a
tornam uma ótima parceira para a economia, – que é um interesse da grande parte
dos Estados – desta forma, o discurso dos Direitos Humanos se torna apenas uma
retórica.
A metodologia de pesquisa empregada neste trabalho se deu por
meios bibliográficos, que compreendem a leitura de livros, artigos e revistas que
mencionam os temas de direitos humanos, desenvolvimento econômico da China,
relações econômicas dos EUA e da China, violações de direitos humanos na China e
leitura de documentos legais internacionais relacionados aos temas e foi aplicado o
método comparativo.
13
2 - OS DIREITOS HUMANOS
Os Direitos Humanos é uma temática bastante atual e este tema ainda gera
muita discussão. Para que haja uma melhor compreensão do trabalho, este capítulo
aborda o conceito de direitos humanos, explicando de maneira clara o significado
deste; a evolução dos direitos no tempo para que hoje se apresente desta forma; e
por fim, aborda o conceito de escravidão moderna.
2.1 - CONCEITO
Antes de qualquer análise sobre os direitos humanos, é preciso entender o
significado desta expressão. O conceito de Direitos Humanos apresenta uma série de
interpretações e não existe um consenso exatamente deste, porém apesar de não
existir uniformidade consensual sobre o tema pode-se classificá-lo como direitos
fundamentais, de todo homem.
Segundo o autor Robson dos Santos1, direitos humanos tem diversos
significados, interpretações e diferentes sentidos, mas existe um consenso de que
todas as pessoas são detentoras dos direitos humanos, independentemente da sua
raça, etnia, religião, gênero e condição socioeconômica. Para ele, os direitos são
inalienáveis pois sustentam pressupostos de que cada ser humano tenha uma vida
digna.
O autor espanhol Henrique Pedro Haba citado por Dornelles2, distingue três
momentos distintos em sua classificação: Direitos Humanos, como a expressão
axiológica que serve como base para a sua positivação jurídica, ou seja, o direito como
valor, como o conjunto de princípios norteadores da lei; Direitos Fundamentais, como
a expressão positivada, em textos legais, daquela dimensão valorativa original;
Liberdades Individuais, como uma categoria referente às liberdades que se
concretizam nas relações sociais, a manifestação fática dos direitos previstos
1 SANTOS, Robson dos. Artigo: Afinal, o que são Direitos Humanos – Revista: Sociologia – ciência e vida. N° 05, ano 1. São Paulo: Escala. p 38. 2 DORNELLES, J. R. W.. Sobre os Direitos Humanos, a Cidadania e as práticas democráticas no contexto dos Movimentos Contra-Hegemônicos. Revista da Faculdade de Direito de Campos, v. 6, p. 121-153, 2005. p. 121.
14
legalmente, o exercício reconhecidos como fundamentais.
Quando se aborda Direitos Humanos, refere-se aos direitos naturais que
pertencem ao ser humano e que são intangíveis para que se viva de maneira digna e
respeitável. Bobbio3, caracteriza "os direitos do homem como aqueles que pertencem,
ou deveriam pertencer, a todos os homens, ou dos quais nenhum homem pode ser
despojado."
A expressão Direitos Humanos já nos remete à um direito que é do homem e
não cabe ao governo conceder ou não, mas tem o dever de consagrar e garantir para
toda sociedade.
O autor João Baptista4, entende que os direitos dos homens são
modernamente entendidos como os direitos fundamentais que o homem possui pelo
fato de ser homem, por sua própria natureza humana, pela dignidade que ela é
inerente. Esses direitos não resultam de uma concessão de uma sociedade política,
mas pelo contrário são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e
garantir.
De acordo com a doutrina dominante, os direitos fundamentais têm algumas
características que estabelecem o seu significado, dentre os quais podemos citar: a)
universalidade, b) indivisibilidade, c) interdependência, d) interrelacionaridade, e)
imprescritibilidade, f) inalienabilidade, g) historicidade, h) irrenunciabilidade, i)
vedação ao retrocesso, j) efetividade, etc.
Diógenes Junior em artigo publicado em Âmbito Jurídico5, descreve esses
direitos de forma explicativa: a) universalidade trata a respeito a abrangência desses
direitos à todos os indivíduos independentemente de sexo, raça, credo, filosofias
políticas, nacionalidade, etc.; b) indivisibilidade significa que os direitos não podem ser
analisados individualmente; c) interdependência de que os direitos fundamentais
estão vinculados uns aos outros, não podendo ser vistos como elementos isolados; d)
interrelacionaridade que tem abrangência regional e mundial; e) imprescritibilidade
que não se perdem pelo decurso de prazo; f) inalienabilidade trata da não
3 BOBBIO, Noberto. A Era dos Direitos. Nova Ed. Rio de Janieiro. Elsevier. 7ª reimpressão. 2004. p. 17. 4 HERKENHOFF, J. B. Gênese dos Direitos Humanos. 2. ed. Aparecida, SP: Santuário, 2002. 5 DIÓGENES JUNIOR, José Eliaci Nogueira. Aspectos gerais das características dos direitos fundamentais. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 100, maio 2012. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11749&revista_caderno=9> Acesso em 20 de fevereiro de 2016.
15
possibilidade de transferência seja gratuito ou custoso; g) historicidade diz respeito de
que os direitos fundamentais não nasceram de uma única vez, e sim foi fruto de uma
evolução histórica e cultural; h) irrenunciabilidade refere-se que os direitos não podem
ser renunciados; i) vedação ao retrocesso por sua vez, significa que os direitos não
pode ser objeto de retrocesso; j) efetividade de que a atuação do Poder Público deve
ser no sentido de garantir a efetivação dos direitos e garantias previstas por meio do
poder coercitivo.
Vale salientar que estas características apresentadas no parágrafo anterior
foram solidificadas apenas em 1948 com a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, pois antes os Direitos Humanos não tinham relevância suficiente em todos
os Estados.
Os Direitos Humanos são divididos em 3 gerações: 1) civis e políticos, que se
relacionam com ideias de democracias; 2) econômicos e sociais, que se relacionam
ao mundo trabalhista e ideais de igualdade; 3) autodeterminação dos povos,
desenvolvimento, preservação do meio ambiente e bens comuns à humanidade.
Flávia Piovesan6, descreve as 3 gerações dos Direitos Fundamentais:
a) Direitos Humanos de Primeira Geração: direitos civis e políticos, compreendem as liberdades clássicas - realçam o princípio da liberdade. b) Direitos Humanos de Segunda Geração: direitos econômicos, sociais e culturais. Identificam-se com liberdade positivas, reais ou concretas e acentuam o princípio da igualdade. c) Direitos Humanos de Terceira Geração: titularidade coletiva. Consagram o princípio da fraternidade. Englobam o direito ao meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, progresso, paz, autodeterminação dos povos e outros direitos difusos. d) Direitos de Quarta Geração: Existe? Biogenética, etc.
Os direitos conquistados nessas gerações não ocorreram todos
simultaneamente, mas cada um foi fruto de lutas. A cada época e contexto histórico
foi surgindo uma nova demanda na sociedade em relação aos direitos, e desta forma,
os direitos foram sendo positivados (ou não) nas Constituições dos Estados.
2.2 - A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS
Os Direitos Humanos no mundo de hoje, é temática de grande relevância e
atenção, pois revela o valor do indivíduo em si e a dignidade da pessoa humana. A
6 PINHEIRO. Tertuliano C. Os Direitos Humanos na Idade Moderna e Contemporânea. In DHNET <http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/tertuliano/dhnaidademoderna.html>. Acessado em 25 fevereiro de 2016.
16
razão desta importância gira em torno de que todos os seres humanos são iguais e
merecem igual respeito. Comparato7 escreve que "é reconhecimento universal de que,
em razão dessa radical igualdade, ninguém - nenhum indivíduo, gênero, etnia, classe
social, grupo religioso ou nação - pode afirmar-se superior aos demais."
A ideia de Direitos Humanos sempre existiu desde os tempos mais antigos na
história da humanidade. Sabe-se que a aparição e noção desses direitos veio há muito
tempo na Antiguidade e que passaram por uma série de transformações.
A lei escrita foi o primeiro símbolo de que os seres humanos têm de ser
igualmente respeitados. Com o surgimento da lei escrita torna-se hábil a aplicação de
leis para todos. O autor Fábio Comparato8 afirma ”Ora, essa convicção de que todos
os seres humanos têm direito a ser igualmente respeitados, pelo simples fato de sua
humanidade, nasce vinculada a uma instituição social de capital importância: a lei
escrita, como regra geral e uniforme, igualmente aplicável a todos os indivíduos que
vivem numa sociedade organizada”.
Porém, a lei escrita tornou-se pela primeira vez o fundamento da sociedade
política, na democracia ateniense, século VI a.C., na Grécia. Os cidadãos atenienses
tinham liberdade de participação política, entretanto, nem todos eram considerados
como cidadãos. A partir disso, a lei escrita torna-se um antídoto contra o arbítrio
governamental. Desta forma, “a autoridade ou força moral das leis escritas suplantou,
desde logo, a soberania de um indivíduo ou de um grupo ou classe social, soberania
esta tida doravante como ofensiva ao sentimento de liberdade do cidadão”.9
Após algum tempo, a república Romana foi outro exemplo centrado na
limitação do poder político. Relata Fábio10, a limitação do poder político foi atingida,
não pela soberania popular ativa, mas pela à instituição de um complexo sistema de
controles recíprocos entre os diferentes órgãos políticos.
E ainda, ao longo da história, diversos documentos contribuíram para a
concretização dos direitos humanos como antecedentes das declarações positivas de
direitos. Porém, esses documentos não eram cartas de liberdade do homem comum,
mas sim, contratos feudais escritos nos quais o rei comprometia-se a respeitar os
direitos de seus vassalos. Portanto, não afirmavam direitos humanos, mas direitos de
7 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo. Saraiva. 7ª edição. 2010. p. 13. 8 Idem. p. 24. 9 Idem. p. 25. 10 Ibidem.
17
estamentos.11
Depois no século III d.C., surgiu um documento que promoveu a evolução dos
direitos humanos. O documento denomina-se Magna Carta, escrita em 1215. A Magna
Carta garantia a liberdade política inglesa e a liberdade da igreja na intervenção da
monarquia, através dos 63 artigos em latim, que a componham.
É no contexto dessa evolução histórica que deve ser apreciada a importância
da Magna Carta. Como salientou um historiador, quando editada, em 1215, ela foi um
malogro completo. Seu objetivo era assegurar a paz, e ela provocou a guerra. Visava
a consolidar em lei o direito costumeiro, e acabou suscitando o dissenso social. Tinha
uma vigência predeterminada para apenas três meses, e mesmo dentro desse
período limitado de tempo muitas de suas disposições não chegaram a ser
executadas. No entanto, a Magna Carta foi reafirmada solenemente em 1216, 1217 e
1225, tornando-se a partir desta última data, direito permanente. Três de suas
disposições ainda fazem parte da legislação em vigor.12
Com o advento da modernidade surgem outras concepções de pessoas, e de
direitos humanos e de direitos fundamentais. A partir do século XVII e XVIII, as teorias
contratualistas propiciaram a consagração dos direitos humanos.
Na transição do Estado Absoluto para o Estado Liberal Moderno, foi quando
houve uma forma de estabelecer limites para o Estado. O poder foi descentralizado e
os direitos passam a ser de todo homem, não exclusivos de uma classe ou de outra.
Nesse sentido, o filósofo John Locke, na leitura de Sarlet13 fala, que ao final do século
XVIII, estava preocupado em defender os interesses individuais em face dos abusos
governamentais, sendo ele considerado, portanto, o precursor no reconhecimento de
direitos naturais e inalienáveis do homem.
O século XVII, foi realmente, um tempo de "crise da consciência europeia",
uma época de profundo questionamento das certezas tradicionais. A "crise de
consciência europeia" fez ressurgir na Inglaterra o sentimento de liberdade,
11 Idem p. 40. 12 Idem p. 91. 13 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. 3. ed., atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado: 2004. p. 44-45.
18
alimentado pela memória da resistência à tirania, que o tempo se encarregou de
realçar com tons épicos.14
Em 1679, surge a Lei de Habeas Corpus, na Inglaterra. O documento garantia
da liberdade do indivíduo acusado até ao seu julgamento. Na leitura de Afirmação
Histórica dos Direitos Humanos, o autor15 relata: "A importância histórica do habeas-
corpus, tal como regulado pela lei inglesa de 1679, consistiu no fato de que essa
garantia judicial, criada para proteger a liberdade de locomoção, tornou-se a matriz de
todas as que vieram a ser criadas."
Até esse período de 1679, os Direitos Humanos eram mencionados como
"Direitos Naturais", porém com algumas diferenças do real significado hoje. No século
XVIII, alguns filósofos como: Thomas Hobbes, John Locke e Rousseau, ampliaram a
teoria de Direitos Naturais proclamando que não eram de ordem divina, mas que cada
ser humano tem certos direitos que não podem ser tirados entrando na sociedade.
Em 1689, foi promulgada a Bill of Rights na Inglaterra e passou a ser uma das
Leis Fundamentais do reino. A Bill of Rights estabeleceu o fim da monarquia absoluta,
no qual todo o poder era apenas do rei e em seu nome é exercido.
Esta foi uma grande evolução na esfera dos direitos humanos, pois estabelece
a importância do povo, que estava representado no Parlamento. Comparato16,
destaca "a partir de 1689, na Inglaterra, os poderes de legislar e criar tributos já não
são prerrogativas do monarca, mas entram na esfera de competência reservado do
Parlamento".
Algumas décadas mais tarde, a Declaração de Independência e a
Constituição dos Estados Unidos da América do Norte, vai marcar a história dos
Direitos Humanos. A Declaração de Direitos de Virgínia em 1776 foi a primeira a
formular expressamente os direitos do homem. Por sua vez, esta se tornou uma
inspiração para outros Estados, etc.
De acordo com Comparato17, própria ideia de se publicar uma declaração das
razões do ato de independência, por um "respeito devido às opiniões da humanidade",
constituiu uma novidade absoluta. Doravante, juízes supremos dos atos políticos
deixavam de ser os monarcas, ou os chefes religiosos, e passavam a ser todos
14 COMPARATO. op. cit., p.60-61. 15 Idem, p. 101. 16 Idem, p. 105. 17 Idem, p. 118.
19
homens, indiscriminadamente.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, criada em 1789 garantia
liberdade pessoal, a igualdade perante a Lei, a propriedade, a segurança e a
resistência a opressão. Comparato18, destaca:
[...] as declarações de direitos norte-americanas constituem as cartas fundamentais de emancipação do indivíduo perante os grupos sociais aos quais ele sempre se submeteu: a família, o estamento, as organizações religiosas. A afirmação da autonomia individual, que vinha sendo progressivamente feita na consciência europeia desde fins da Idade Média, assume na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, no último quartel do século XVIII, contornos jurídicos definitivos.
Essa declaração teve mais expressão devida a Revolução Francesa. A
Revolução Francesa desencadeou, em curto espaço de tempo, a supressão das
desigualdades entre indivíduos e grupos sociais, como a humanidade jamais
experimentara até então, conforme Comparato19. Os princípios da Revolução foram:
Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Após esse período, esses ares de igualdade inspiraram outras declarações e
constituições que foram promulgadas: A Constituição Francesa de 1848, A
Convenção de Genebra de 1864, A Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição
Alemã de 1919.
O mundo no início do século XX, foi cenário de duas grandes guerras. A I
Grande Guerra (1914-1918), deixou milhares de pessoas mortas e feridas. Após esse
acontecimento, é criado a Liga das Nações como uma forma de administrar os
conflitos e manter a paz entre os Estados, porém esta não teve êxito por falta de
participação de muitos Estados.
Com o fim da Guerra em 1919, é criado a OIT (Organização Internacional do
Trabalho) através do Tratado de Versalhes. Fundou-se sobre a convicção de que a
paz universal e permanente simplesmente pode existir com justiça social.
Em 1926, realiza-se a Convenção de Genebra sobre a Escravatura e em
1929, realiza-se também a Convenção Relativa ao Tratamento de Prisioneiros de
Guerra, em Genebra.
Entretanto em 1939, o mundo foi palco da II Grande Guerra (1939-1945).
Desta vez, as atrocidades sendo muito piores do que a primeira. Ao final, o mundo
tomou conhecimento das barbáries realizadas pelo regime nazista, Estados totalitários
18 Idem, p. 123. 19 Idem, p.148.
20
e dos campos de extermínio em que 60 milhões de pessoas foram mortas (maioria
civis).
Fábio Comparato20, escreve:
Mas sobretudo, a qualidade ou característica essencial das duas guerras mundiais foi bem distinta. A de 1914-1918 desenrolou-se, apesar da maior capacidade de destruição dos meios empregados (sobretudo com a introdução de tanques e aviões de combate), na linha clássica das conflagrações imediatamente anteriores, pelas quais os Estados procuravam alcançar conquistas territoriais, sem escravizar ou aniquilar os povos inimigos. A Segunda Guerra Mundial, diferentemente, foi deflagrada com base em proclamados projetos de subjugação de povos considerados inferiores, lembrando os episódios de conquista das Américas a partir dos descobrimentos. Ademais, o ato final da tragédia - o lançamento da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente - soou como um prenúncio de apocalipse: o homem acabara de adquirir o poder de destruir toda a vida na face da terra.
Diante deste fato, a Comunidade Internacional entende que a proteção dos
Direitos Humanos é de interesse internacional, reconhecendo que não pertence
exclusivamente ao domínio do Estado Nacional, mas, é dever da Sociedade
Internacional proteger eles.
Face a este cenário, foi criada em 1945 a Organização das Nações Unidas
(ONU) com função de administrar os conflitos, empenhados na defesa da dignidade
humana e propagação da paz.
No âmbito da ONU, com necessidade de buscar uma solução das
contingências existentes, foi aprovado um dos maiores marcos da evolução histórica
dos direitos humanos: A Declaração Universal do Direitos Humanos - 1948.
Na leitura de Comparato21, ele menciona o artigo I da Declaração, que
proclama os três princípios axiológicos fundamentais em matéria de direitos humanos:
liberdade, a igualdade e fraternidade. Que remontam exatamente à Revolução
Francesa.
Grande maioria dos Estados da Sociedade Internacional, ratificaram ou
assinaram a Declaração, e apesar desta não ter força vinculante, teve e tem relevância
crucial nos documentos realizados no futuro. Após a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, foram criadas Cortes, Convenções, Cartas, Tratados, Pactos e
outros documentos em matéria de Direitos Humanos que abrange o indivíduo e novos
temas como: a questão ambiental, direito da mulher, direito das crianças etc.
Este documento possibilitou o Tratado Internacional dos Direitos Civis e
20 Idem, p. 225-226. 21 Idem, p. 240.
21
Políticos e o Tratado Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais em
1966, estes já com mecanismos de controle das violações.
2.3 - ESCRAVIDÃO MODERNA
O trabalho escravo existe desde a antiguidade e ainda persiste na sociedade
contemporânea. De acordo com Valdeci22, pode-se dizer que o liame que difere a
condição de trabalho escravo hoje com as condições de trabalho escravo há dois
séculos não é muito expressivo, sendo apenas diferente a condição de liberdade e da
necessidade econômica. A escravidão de hoje é uma forma extrema de exploração
econômica, que se adaptou ao mundo global.
Em toda história do mundo, homens e mulheres foram submetidos à
escravidão – escravidão em que o homem é obrigado a trabalhar sem ter direito a
receber nada – por outras pessoas que se achavam superior (ex: escravidão negra
pelos europeus).
Após a Revolução Industrial no século XVIII e XIX, a maioria da população
que morava em campos e que viviam do trabalho artesanal teve que ir para cidade
em busca de trabalho. Como muitos burgueses (empresários) eram ambiciosos para
lucrar muito, os operários eram obrigados a trabalhar cerca de 15 horas por dia em
troca de salários baixíssimos. As mulheres e crianças também eram obrigadas a
trabalhar em condições muito precárias.
Dario da Silva23 comenta: “a revolução industrial dos séculos XVIII e XIX teve
um peso determinante, com a formação de exércitos de trabalhadores que
desprovidos de qualquer propriedade são obrigados a abandonar a vida do campo”, e
assim sendo obrigados procurar empregos assalariados nas indústrias.
Segundo Silvana Melo24, escravidão contemporânea, não atinge somente os
casos em que o trabalhador é privado de sua liberdade, mas todas aqueles em que o
trabalho é exercido em situações degradantes, em ambiente de trabalho inadequado
22 SCHERNOVSKI, Valdeci. Trabalho Escravo Contemporâneo. 2014. Disponível em: <http://advaldeci.jusbrasil.com.br/artigos/111749665/trabalho-escravo-contemporaneo> Acessado em 07 de março de 2016. 23 SILVA. Dario Da. Os Tempos Modernos de Chaplin: Trabalho e Alienação da Revolução Industrial. 2011. <https://dariodasilva.wordpress.com/2011/03/15/os-tempos-modernos-de-chaplin-trabalho-e-alienacao-na-revolucao-industrial/> acessado em 07 de março de 2016. 24 MELO, Silvana Cristina Cruz e. Escravidão Contemporânea e Dignidade da Pessoa Humana. Jacarezinho, PR, 2010, p. 90.
22
e perigoso, exercido de maneira forçada, com o pagamento de baixíssimos salários e
sem respeito à legislação trabalhista e às suas próprias limitações corporais e de
saúde, enfim, em condições de total desrespeito ao ser humano e sem o mínimo de
valorização do seu trabalho.
Raquel Elias Ferreira Dodge na leitura de Silvana25, comenta:
As formas contemporâneas de escravidão diferem daquela feição tradicional apenas na oportunidade ou na ênfase de emprego da força, da violência e do confinamento. No mais, utilizam da mesma perfídia, astúcia, coerção e operam em razão da mesma indiferença e sentimento de superioridade. A indiferença e o desrespeito à condição do outro – o escravizado – ainda persistem e estão hoje acirrados, mais perversos, não só porque os meios de sua prática são mais dissimulados, mas porque o modo como se invisibiliza no meio social são agravados pela certeza de que a prática é ilícita, injusta e ilegal. A situação é agravada, sobretudo, pela impunidade. Segundo a Organização das Nações Unidas, a escravidão compreende hoje grande variedade de violações de direitos humanos. Sustenta que além da escravidão tradicional e do tráfico de escravos, a escravidão moderna compreende a venda de crianças, a prostituição infantil, a pornografia infantil, a exploração de crianças no trabalho, a mutilação sexual de meninas, o uso de crianças em conflitos armados, a servidão por dívida, o tráfico de pessoas e a venda de órgãos humanos, a exploração da prostituição e certas práticas de apartheid e regimes coloniais14 (Office of the High Commissioner for Human Rights Fact Sheet No. 14, 1991). Estas modalidades não caracterizam escravidão por equiparação, nem são formas assemelhadas à escravidão. São, na realidade, formas contemporâneas.
De acordo com a Organização das Nações Unidas, além da escravidão
tradicional, a escravidão contemporânea também é: venda de crianças, prostituição
infantil, pornografia infantil, exploração de crianças no trabalho, a mutilação sexual de
meninas, o uso de crianças em conflitos armados, a servidão por dívida, o tráfico de
pessoas, a venda de órgãos humanos, exploração da prostituição e trabalhos em
situações precárias.
Na leitura de Silvana Melo26, a Organização Internacional do Trabalho em
suas publicações utiliza a expressão "trabalho forçado" referindo-se a atitude de
alguém que desrespeita os direitos do trabalhador, atingindo sua integridade física e
moral, o seu direito a liberdade e, principalmente, a sua dignidade enquanto ser
humano.
Hoje, no mundo, milhares de pessoas trabalham em situações deploráveis ou
recebem salários baixíssimos, que mal podem sustentar a família. Segundo Dario27,
o capitalismo por sua vez, trouxe esse problema e os Direitos Humanos busca
25 DODGE, Raquel Elias Ferreira citado por SILVANA. op. cit, p. 90-91. 26 Ibidem. 27 SILVA. op. cit.
23
solucionar até os dias de hoje. Assim, os capitalistas sempre encontram um grupo de
trabalhadores à margem do processo produtivo, mas sempre ávidos por incorporar-se
a ele, a estes trabalhadores Marx denominou de “exército industrial de reserva”.
O filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, de 1936, mostra com
excelência os efeitos que o desenvolvimento capitalista e seu processo de
industrialização trouxeram a classe trabalhadora. Revela claramente a mecanização
do trabalho e a desconsideração do elemento humano. A organização era vista como
uma máquina e o homem era uma peça do mesmo.28
O sociólogo norte-americano Kevin Bales, na leitura de Carmo29, descreve
essa “Gente Descartável” vive e participa de uma nova escravatura que se processa
como forma de adaptação à globalização. A nova escravatura coloca pessoas ao
subjugo de forças econômicas e sociais que a sustentam, desde a corrupção dos
governos locais até à cumplicidade das grandes organizações nacionais ou
multinacionais.
No mundo da globalização, o que interessa é o lucro, o dinheiro, a economia.
O ser humano ao mesmo tempo que luta para garantir os direitos humanos de um
lado, é o mesmo que esmaga e deplora o ser humano em sua condição, unicamente
por causa dos interesses maiores: a economia.
Segundo Silvana Melo30, todas as formas de escravidão no século XXI
denominada contemporâneas são totalmente proibidas e a sua prática é
absolutamente vedada por violar a dignidade humana. Essa proibição também
abrange todas as medidas capazes de garantir a prática da escravidão como a tortura,
o tratamento cruel, desumano ou degradante; o não reconhecimento do homem como
pessoa, dentre outros.
Por fim, a escravidão moderna é exatamente a desvalorização do ser humano
em favor dos interesses econômicos de outrem. O homem se submete à essa servidão
por causa de sua necessidade, e as leis e proibições não tem impedido disso
acontecer.
A economia é uma das coisas mais importantes no mundo hoje, pois tudo
envolve dinheiro. Para um Estado, a economia é o que move o governo, dependendo
28 Ibidem. 29 CARMO, Suzana J, de Oliveira. Escravidão Contemporânea: Mal que subsiste a abolição. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3698/Escravidao-contemporanea-mal-que-subsiste-a-abolicao> Acessado em 07 de março de 2015. 30 MELO. op. cit., p. 142
24
do funcionamento desta, a população estará satisfeita ou não.
A China é um país que tem crescido em larga escala e alcançado os EUA em
seu PIB. A Economia Chilena tem despertado muita curiosidade para saber o segredo
deste grande sucesso. A maioria dos Estados do mundo tem feito parceria com ela,
mas porquê? O que tem despertado tamanha interesse nos produtos chineses?
O capítulo seguinte apresenta um panorama histórico das violações de
direitos humanos ocorridas na China e das relações econômicas desenvolvidas por
ela.
25
3 - A CHINA
O capítulo aborda o contexto histórico e o conceito de Direitos Humanos na
China, retratando a Constituição chinesa e os direitos internos; faz-se também, um
panorama das violações ocorridas na China desde da década de 1980; e por fim, trata
das relações econômicas entre EUA e China, revelando uma grande parceria
econômica e política entre os dois Estados, apesar de ser uma total incoerência, tendo
em vista as violações de Direitos Humanos ocorridas internamente na China e o
discurso do mesmo proclamado pelo EUA.
3.1 - CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS NA CHINA.
Atualmente, a China é a segunda economia do mundo e de acordo com muitas
fontes, como Leão, Pinto e Acioly, ela fica atrás apenas dos EUA. O crescimento da
economia tem permanecido há quase 30 anos e no século XXI mostrou-se como uma
grande potência mundial. Porém, internamente o desenvolvimento jurídico, tem sido
diferente. (Figura 1)
Figura 1 - [Mapa da China com seus dados]
31
Segundo Alessandra Lisboa,32 “na China acredita-se que o direito é uma
característica de uma sociedade imperfeita,” e as leis e a constituição são
31 SLIDESHARE. Mapa da China. Disponível em <http://pt.slideshare.net/DeliParanhos/histria-bleh>. Acessado dia 31 de março de 2016. 32 LISBOA, Alessandra. China uma Emergente Potência Mundial – Controvérsia Entre Direitos Individuais e Coletivos. Rio de Janeiro. 2010. Âmbito Jurídico. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9104>. Acesso em: 16 de março de 2016.
26
consideradas fontes secundárias. Os direitos coletivos prevalecem sobre os direitos
individuais na China, que significa que os deveres são mais importantes que os
direitos.
Para que se tenha um maior entendimento, é necessária uma elucidação da
evolução do direito interno na China, baseado em Sergio Couto na leitura de
Alessandra Lisboa33, e desta forma entender os direitos humanos no país.
Com o advento da primeira dinastia chinesa (Dinastia Xia) há 4 mil anos, foi
quando houve o marco inicial do direito chinês. Os clãs e as grandes famílias
dominavam a China, pois viviam em monarquias hereditárias e até o século XIX a
solução de conflitos entre indivíduos era por “conciliação”, pelo fato de terem como
princípios: a equidade e o sentimento da humanidade.
Outro marco do direito foi quando estabeleceram o Estado Socialista na
China, chamado “O Grande Salto Adiante”, que foi um programa econômico e
sociopolítico lançado pelo Presidente Mao Zedong, do partido comunista chinês entre
1958 e 1960. Este período foi de decadência econômica, e por isso havia grandes
tensões entre os Estados.
Em face disso, a China aderiu planos econômicos e políticos, e o socialismo
foi implementado, trazendo significativa mudança no direito chinês. O confucionismo
foi a base para este acontecimento que a China atravessou. Conforme André Bueno34,
essa ideologia existia desde o século 3 a.C e durou até o século XX, e sua origem
vem do sábio Confúcio (551-479 a.C). Lisboa35 explica que o confucionismo “defendia
que toda e qualquer noção de humanidade residia na importância na difusão do ensino
moral, da cultura e do respeito mútuo.” Para que se tenha uma sociedade harmônica
o indivíduo deve ter consciência moral. A educação também é um dos pilares
confucionistas, pois ela a base para que a consciência ocorra.
Através da educação e ensinamentos, é que essa ideologia seria passada e
ensinada. Pois, quando os indivíduos aprendem, gera consciência do que se tem que
fazer. Na China, a educação foi um instrumento para a construção desse pensamento,
pois por intermédio da educação há formação de mentalidade e comportamentos.
Baseado em princípios da coletividade é o pensamento chinês, em que a visão
33 Ibidem. 34 BUENO, André. Compreendendo o " Novo Confucionismo": A Possível Transição do Marxismo Para o Confucionismo na China Contemporânea. Revista Mundo Antigo, v. 1, p. 125-138, 2012. 35 LISBOA. op. cit.
27
é sociocêntrica e não antropocêntrica (como é no ocidente). Lisboa36 relata que o
direito não é importante: ”consideram também que o direito não é característica de
uma sociedade bem organizada, mas sim de uma sociedade imperfeita.”
A China já teve quatro constituições: 1954, 1975, 1978 e a última em 1982.
Esta última assegura muitos direitos humanos (ao menos, teoricamente). Os principais
direitos individuais são os direitos civis e políticos. Conforme o DhNet37 explana, os
direitos civis são direitos em sua maioria exercidos individuais, liberdade, igualdade,
direito a vida, etc. Os direitos políticos compreende o direito de votar, de ser eleito,
influenciar na administração pública, etc.
Os direitos sociais, econômicos e culturais, são os direitos coletivos que
resultam das transformações ocorridas no final do século XIX, referentes da
Revolução Industrial. De acordo com DhNet38, os direitos sociais são os direitos a
educação, moradia, saúde, alimentação; e os direitos econômicos são direitos a ter
uma renda mínima de sobrevivência; e os direitos culturais são os direitos à lazer, à
cultura, etc. Na Constituição chinesa atual de 1982, contém direitos e deveres
fundamentais como estes citados.
Ainda baseado em Alessandra Lisboa39, a Declaração Universal sobre
Direitos Humanos é apreciada pela China, mas que acreditam que os direitos devem
ser aplicados de acordo com a realidade de cada país, e com seus costumes e
tradições.
O conceito de direitos humanos na China há um caráter amplo, justo e real.
Segundo Alessandra Lisboa40:
De acordo com o primeiro caráter, todos os cidadãos chineses devem ter seus direitos humanos garantidos, sejam individuais ou coletivos. O caráter justo diz respeito à igualdade de todos os cidadãos perante a lei, sem quaisquer discriminações. Segundo o último caráter, o sistema dos direitos humanos é garantido pelo Estado. Por isso, o Estado conseguiu apoio de grande parte da população.
Na leitura de Lisboa41, relata que no início da república da China, por volta de
1949, o governo chinês se esforçava para de fato, haver uma melhora na vida do
36 Ibidem. 37 DHNET. O que são direitos humanos. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/dh/municipais/gestao_m/02_oquesaodh.htm> Acessado em 17 de março de 2016. 38 Ibidem. 39 LISBOA. op. cit. 40 Ibidem. Acesso em: 17 de março de 2016. 41 Ibidem. Acesso em: 18 de março de 2016.
28
cidadão, investindo na educação, saúde, alimentação, etc. Mas, o governo decidiu
investir no desenvolvimento econômico da China, a partir de 1979.
A partir de 1978, que Deing Xiaoping assume o poder foram iniciadas reformas
econômicas para tornar a China umas das maiores economias do mundo, mas a
desigualdade social era muito grande, segundo o site Index Mundi42. As reformas
tinham o objetivo de tornar a uma economia de mercado no modelo capitalista e isso
fez com que abrisse o mercado chinês para exportação, devido os grandes incentivos
que o governo fez/faz.
A China, participou de muitos eventos internacionais de caráter de direitos
humanos, e, ao examinar a Constituição chinesa os direitos estão lá e
presumivelmente estão protegidos. Porém, apesar disso, os direitos humanos, de fato
são violados pelo governo.
3.2 - VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS NA CHINA
A China é considerada uma das maiores potências mundiais e atualmente é
o país que mais tem se desenvolvido. O desenvolvimento econômico chinês tem
surpreendido a todos, com grande número de crescimento ao ano em seu PIB desde
a década de 1980. De acordo com o site do Gabinete de Documentação e Direito
Comparado43, isso se deve por sacrifício de muitas crianças, jovens, adultos em
trabalho árduo para conseguir essa visibilidade no mundo.
Tal qual Zhang Qihua44, a estrutura social na China antes a reforma política e
abertura, era relativamente simples. Existiam apenas duas formas dos meios de
insumos: economia estatal e economia coletiva. A população se dividia em três
grandes grupos: operários, agricultores e funcionários no sentido geral; o regime de
distribuição de renda conforme o trabalho era o modelo dominante, ou seja, existiam
duas classes a de operários e camponeses, e a de intelectuais. Após as reformas
econômicas, reajustes políticos e das industrias, houve uma profunda mudança a
42 IDEXMUNDI. Dados Históricos Gráficos. Disponível em: <http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=74&c=ch&l=pt>. Acesso em: 18 de março de 2016. 43 GDDC. Gabinete de Documentação e Direito Comparado. Sobre a legislação do procedimento administrativo na china. Disponível em: <http://www.gddc.pt/pesquisa/pesquisa.asp?pg=16&query=China&RankBase=336> Acesso em: 18 de março de 2016. 44 QIHUA, Zhang. Estrutura dos Estratos Sociais da China e Medidas frente à Desigualdade Social. Disponível em: <http://www2.fpa.org.br/uploads/China-Estratos-sociais-na-China.pdf>. Acessado em 31 de março de 2016.
29
participação econômica com a divisão do trabalho social cada vez mais detalhada.
Sendo assim, permaneceu a duas classes básicas, com algumas mudanças, surgiram
novos estratos sociais como fundadores e técnicos de empresas privadas e grupos
de diferentes interesses, mas a população de operários e camponeses, sempre foram
a mais explorada.
Conforme o site do Gabinete de Documentação e Direito Comparado45, a
China é caracterizada como um país comunista e autoritário, que proíbe a liberdade
de expressão, o livre movimento entre países, proíbe outro tipo de religião, além de
perseguir e torturar opositores do governo. A população é vítima de exploração por
parte do governo e empresas estrangeiras, em função do crescimento econômico.
Enquanto os valores de crescimento permanecem elevados em comparação
aos outros países, a esperança média de vida é baixo para um país desse nível
econômico.
Comparando as 4 maiores economias do mundo perante a expectativa de
vida, a China fica ainda muito atrás para um país de grande economia. Segue gráficos
com esses dados (Tabela 1 e 2):
Tabela 1 – PIB das 4 maiores economias do mundo – Ranking, PIB e Investimentos de 2015.
Tabela 2 – Expectativa de vida das 4 maiores economias do mundo em 2012 – Expectativa de vida masculino e feminino.
45 GDDC. op. cit. Acesso em: 18 de março de 2016.
30
Esses dados parecem incoerentes, porém mostram que a China ainda não
atingiu totalmente o bem-estar social do povo chinês. Vale salientar, de acordo com
Index Mundi46, que a China tenta mostrar uma imagem de um país em
desenvolvimento pacífico com uma perspectiva equilibrada, sem mostrar a verdadeira
realidade, por isso, alguns dados como a expectativa de vida podem ser fraude dos
verdadeiros dados.
Desde o final da década de 80, manifestações são severamente reprimidas
na China. Um caso que abalou o mundo, foi o "Massacre da Praça da Paz Celestial"
em junho de 1989, estudantes e trabalhadores insatisfeitos com as reformas
econômicas e com o governo, decidiram manifestar. Porém o governo, sob a liderança
do secretário geral do Partido Comunista Chinês, Deng Xiaoping, criador do chamado
socialismo de mercado, decidiu suprimir violentamente as manifestações.
De acordo com Amnesty International47, milhares de civis (estudantes,
trabalhadores, jornalistas, etc.) foram brutalmente mortos pelas tropas do governo,
sem qualquer chance de se defenderem; outras centenas de pessoas foram presas,
sem ao menos terem o direito de um advogado. Após este acontecimento, o governo
começou a controlar o fluxo de informações e censurar sites de pesquisa como o
"Google".
Na leitura de Amnesty International48, o jornal regional oficial Xinjiang Daily
informou em 23 de outubro de 1990, que 3 homens foram condenados a morte em 13
de outubro na China, por acusação de assalto e roubo. Desde então, mesmo com as
denúncias, 470 pessoas foram condenadas à morte na China.
As pessoas que não concordam ou denunciam alguma irregularidade do
governo, correm sério risco de serem submetidos à tortura cruelmente. Muitos
documentos na Amnesty International, relatam casos de tortura na China. Tortura na
China é usado para alcançar dois objetivos principais: um, para extrair confissões e
obtenção de provas para processos criminais, e a outra, para punir. Por exemplo, um
46 INDEX MUNDI. op cit. Acesso em 20 de março de 2016. 47 AMNESTY INTERNATIONAL. China: The Massacre of June 1989 and its Aftermath. 1990. Disponível em: <https://www.amnesty.org/en/documents/asa17/009/1990/en/> Acessado em: 21 de março de 2016. 48 AMNESTY INTERNATIONAL. People’s Republic of China: Death Penalty: Wan Bing, Gan Zaichun, He Jian. 1990. Disponível em:< https://www.amnesty.org/en/documents/asa17/070/1990/en/> Acessado em: 21 de março de 2016.
31
dos documentos49 relata detalhes da experiência de tortura de um homem chamado
Yang Mingyu, “tinha uma das mãos e os pés algemados a uma cama por três dias em
retaliação à sua queixa sobre a qualidade da comida que foi dado à ele em detenção.
Como resultado, ele tinha que comer, urinar e defecar, estando amarrado à cama. ”
A China também tem reprimido grupos religiosos e espirituais. De acordo com
Lisboa50, “o Estado chinês reprime e impede as pessoas de manifestarem livremente
a sua fé. Centenas de pessoas são presas, com alto risco de tortura. ” Relata que é
uma contradição, visto que a própria constituição chinesa tem liberdade religiosa.
Conforme documentos postados na Amnesty International, muitos cristãos
foram presos na China, pelo simples fato de exercerem a sua fé. Em um desses
documentos51, relata que 37 cristãos chineses de uma comunidade protestante
chamada a “família de Jesus” foram presos da cidade de Duigou, e condenados à
longas penas de prisão ou de reeducação através do trabalho por seu envolvimento
em atividades religiosas pacíficas.
Os trabalhadores chineses por sua vez, trabalham em situações que violam a
dignidade da pessoa humana também. O objetivo é sempre o lucro e as fábricas não
dão o mínimo de direitos que os trabalhadores precisam. Como a população é
numerosa e as pessoas precisam, sempre tem quem trabalhe nestas situações.
Conforme pesquisa feita pelo Amnesty International52, a vida de trabalho na
China é muito difícil. Existem muitos que trabalham horas extraordinárias e não são
pagos por isso. Organizações fora da China que trabalham em nome dos
trabalhadores chineses, relatam graves problemas enfrentados pelos trabalhadores
na China, que violam documentos internacionais e até mesmo a lei trabalhista na
China. As condições de saúde e segurança nas fábricas são deploráveis que podem
provocar graves lesões e até mesmo a morte.
Ainda conforme esta pesquisa, ativistas na China que tentam organizar uma
ação de trabalho independente, são sujeitos a detenção e prisão, incluindo
49 AMNESTY INTERNATIONAL. Torture in China: Who, What, Why, How. 2015 Disponível em: < https://www.amnesty.org/en/latest/campaigns/2015/11/torture-in-china-who-what-why-and-how/> Acessado em: 21 de março de 2016. 50 LISBOA, op. cit. Acessado em 21 de março de 2016. 51 AMNESTY INTERNATIONAL. Christians imprisoned in China: Appeal for member of “Jesus Family” jailed in Shandong Provinc. 1993. Disponível em: <https://www.amnesty.org/en/documents/asa17/031/1993/en/> Acessado em: 21 de março de 2016. 52 AMNESTY INTERNATIONAL. China: Stop the Repression of Workers Rights. 1999. Disponível em: <https://www.amnesty.org/en/documents/asa17/010/1999/en/>. Acessado em: 21 de março de 2016.
32
reeducação pelo trabalho com tratamento cruel, espancamento e negação de
cuidados médicos.
A liberdade de expressão no país, também é regrado pelo governo, pelo fato
da internet ser monitorada por eles. Uma notícia publicada em 2014 pelo Amnesty
International53, relata que “modelo de internet da China é um dos extremos controles
e repressão. As autoridades usam um exército de censores para alvejar indivíduos e
prender muitos ativistas apenas por exercer seu direito à livre expressão online."
A notícia relata também que as autoridades chinesas continuam a bloquear o
acesso a milhares de sites, incluindo Facebook, Instagram e Twitter e também os
principais sites de notícias internacionais, como a BBC e New York Times. Muitas
frases são censuradas na mídia social, e qualquer menção sobre 1989 e o Massacre
na Praça da Paz Celestial ou protestos de democracia também são censuradas.
Pesquisas realizadas pela Amenesty International, relatam as tensões e
repressões do governo ocorridas em qualquer mobilização em favor dos Direitos
Humanos, direitos das mulheres, direito do trabalhador, direito das crianças, etc.
Qualquer ativista em favor dos direitos dos trabalhadores é preso e colocado
sobre o risco de tortura. Duas pesquisas realizadas pela Amnesty International, em
dezembro de 2015, relatam as repressões que eles enfrentam. A primeira54, aborda
que sete ativistas poderiam enfrentar até 15 anos de prisão por suas atividades em
defesa dos direitos dos trabalhadores na China. A segunda55, afirma que quatro
ativistas dos direitos dos trabalhadores foram presos e outros quatro ativistas estão
com o paradeiro desconhecidos. A primeira, aborda também que eles não têm acesso
aos seus advogados e correm risco de tortura. A segunda, também afirma, que isso
está acontecendo por resultado de tensões de industrias da região.
Consoante com Alessandra Lisboa56, a China se submeteu a vários
procedimentos do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Estes funcionam como
mecanismos para notificar situações que violem os direitos nos países, e a China foi
53 AMNESTY INTERNATIONAL. Internet freedom faces new attack as China seeks to shape global web rules. 2014. Disponível em: < https://www.amnesty.org/en/latest/news/2014/11/internet-freedom-faces-new-attack-china-seeks-shape-global-web-rules/>. Acessado em: 21 de março de 2016.
54 AMNESTY INTERNATIONAL. Further Information: China: Fears Grow for Detained Labour Activists. 2015. Disponível em: <https://www.amnesty.org/en/documents/asa17/3089/2015/en/>. Acessado em: 22 de março de 2016. 55 AMNESTY INTERNATIONAL. China: Activists Held in Crackdown on Labour Rights. 2015. Disponível em: <https://www.amnesty.org/en/documents/asa17/3015/2015/en/>. Acessado em: 22 de março de 2016. 56 LISBOA. op. cit. Acesso em 22 de março de 2016.
33
notificada ao menos 4 vezes. O país foi notificado sobre a prisão arbitrária em 1998 e
2005, direitos à educação em 2004 e tortura em 2006.
Ainda de acordo com Alessandra, a 37ª Federação Internacional de Direitos
Humanos (FIDH), ocorrida em 2010, foram realizadas algumas recomendações para
que se transforme a realidade dos Direitos Humanos na China. Este sugeriu que a
comunidade internacional se reunisse e enfrentasse a China, pois o problema de
direitos humanos se tornou global. Sugere ainda que a comunidade internacional
avaliasse se era certo ou não manter relações econômicas e políticas com o país,
visto que violam desenfreadamente os Direitos Humanos.
Observa-se, que apesar de grandes esforços e algumas pressões
internacionais, a China continua a violar Direitos Humanos. Isso acontece porque o
maior interesse da China, está na economia, e dos grandes empresários, está no
lucro. A China desenvolve dia após dia, relações econômicas com muitos Estados do
mundo inteiro, e um dos seus principais parceiros comerciais é os EUA, que tem o
discurso dos Direitos Humanos como base da democracia, sendo na teoria, mas não
na prática.
3.3 - CHINA DESENVOLVE RELAÇÕES ECONÔMICAS COM EUA
Com base na Revista do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) 57, ao
fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo entra no período de Guerra Fria, e os EUA
e a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), buscavam ampliar seu poder
político por meio da competição militar, e ampliarem suas riquezas com relações
econômicas e complementares com outros Estados.
Diante deste cenário internacional, as duas potências buscavam ampliar suas
ideologias pelo mundo e, cada uma buscou suas zonas de influência. Foi neste
contexto que, de acordo com a Revista do BNDES, a China acabou por desempenhar
uma política externa por dinâmica pendular. Usufruiu de fatores externos favoráveis
para alcançar seu desenvolvimento econômico, aproveitando o contato com ambas
as potências. Primeiro, sua proximidade foi com a União Soviética, que forneciam
recursos dos quais a China era desprovida. Todavia, com ruptura desse
relacionamento, na década de 1960, a China e os EUA voltaram a se aproximar com
57 CARVALHO, Cecília; CATERMOL, Fabrício. As relações econômicas entre China e EUA: resgate histórico e implicações. Revista do BNDES, n. 31, jun. 2009, v. 1, n. 1, p. 215, 1994. p. 219.
34
o fim do embargo econômico em 1971 e a aceitação da China na ONU. Os EUA, por
sua vez, buscavam desse relacionamento, conter o avanço da influência e do domínio
da URSS na China.
Para Fiori, na leitura de Leão, Pinto, Acioly58, "hoje fica cada vez mais evidente
que este último eixo da estratégia americana, a parceria estratégica com a China,
construída sob a égide da derrota dos Estados Unidos no Vietnã, foi um importante
elemento que contribuiu para o fim da URSS."
A parceria dos EUA e a China se tornou estratégica, pois por um lado
possibilitou o desenvolvimento econômico chinês, com acesso a mercado de bens e
mercado de capitais do Estados Unidos, que deu uma guinada nas exportações
chinesas e acesso a financiamento internacional americano. Por outro lado,
possibilitou o crescimento do território econômico supranacional americano, pois
potencializou o poder dólar e os títulos públicos da dívida americana. "Em outras
palavras, o acesso da China ao mercado americano foi um dos importantes elementos
do processo de expansão da globalização financeira conduzida pelos Estados
Unidos”.59
Por meio da relação com a China, os EUA buscavam se beneficiarem das
fontes de mão de obra barata, redução nos custos de produtividade, importação de
manufaturas a baixo custo, e o grande mercado interno na China, como uma
estratégia de manter sua hegemonia. A China, por sua vez, se beneficiaria do fluxo
comercial entre os Estados, que resultaria em ganhos de conhecimento tecnológico,
por meio de intercâmbio para fomentar o desenvolvimento econômico chinês.60
Foram realizados encontros sigilosos para formalizar as relações entre os dois
países. A ida Henry Kissinger, assessor de Segurança-Nacional dos EUA, à China, foi
crucial para aproximação dos países. Logo, com a visita de Nixon e realização de
acordos comerciais e militares, em 1972, as relações foram oficializadas.61
De acordo com Arrighi, na leitura da revista do BNDES62, as modernizações
promovidas pelo Estado e a abertura comercial foram fatores para o crescimento
chinês. As vantagens que a China apresentava eram muito grandes, por isso atraiu
58 LEÃO, Rodrigo Pimentel Ferreira; PINTO, Eduardo Costa; ACIOLY, Luciana. A China na nova configuração global: impactos políticos e econômicos. 2011. p. 23. 59 Idem, p. 24. 60 CARVALHO; CATERMOL. op. cit., p. 231. 61 Ibidem. 62 Idem, p 233.
35
muito investimento estrangeiro, como por exemplo, os salários baixos e a mão de obra
boa e barata.
Dessa forma, a China se tornou grande exportadora de manufaturas, além de
receber muitas empresas de outros países para produzir em seu território, por conta
das suas vantagens, em sua maioria norte-americanas. Logo, os EUA passam a
importar, muito da China e a balança comercial americana começou apresentar
grandes déficits. Então, um fator crucial para o desenvolvimento econômico chinês,
foi um superávit com EUA (Tabela 3). A Revista do BNDES63 explica:
Com o estabelecimento efetivo das relações entre EUA e China, em 1972, percebe-se o avanço das trocas comerciais entre as nações. No decorrer da década de 1970, o fluxo comercial ampliou-se constantemente. Já no início da década de 1980, com o crescente volume de exportações chinesas, observa-se o aparecimento de déficit comercial dos EUA com a China, de US$ 426 milhões, em 1985. Em 1995, o déficit americano foi cerca de 26 vezes maior do que o constatado em 1985, apresentando o valor total de US$ 11,4 bilhões. Vale destacar que, de 1985 a 1995, as importações americanas com origem chinesa apresentaram um incremento de US$ 11,5 bilhões, alcançando em 1995 o valor total de US$ 48,5 bilhões. Não obstante, o déficit comercial americano apresentou incrementos significativos desde então, totalizando em 2008 o valor de US$ 266,3 bilhões.
Tabela 3 – Balança Comercial dos EUA com a China de 1975 a 2008 – Exportações e Importações.
Em 1989, com a repressão do governo chinês contra os manifestantes na
Praça da Paz Celestial, as relações dos EUA foram enfraquecidas, por meio de
embargos econômicos etc. Porém, essas tensões no plano político, não impediram o
avanço econômico da China.
Após os atentados de 11 de setembro de 2001, houve novamente a
reaproximação dos EUA e da China, pelo apoio chinês na empreitada americana de
combate ao terrorismo internacional que se perdurou até a crise de 2008. Desta forma,
George Bush, o presidente dos Estados Unidos, apoiou a entrada da China na OMC.
63 Idem, p.235.
36
Verificou-se fluxos comerciais e financeiros durante toda a década de 2000, que
integrou ainda mais as economias dos dois países, e a crise de 2008 acelerou ainda
mais o processo de integração econômica entre esses dois países, reforçando a
importância do eixo sino-americano em suas complementaridades econômicas –
comercial, produtiva e financeira.64
De acordo com Medeiros, na leitura da Revista de BNDES65, hoje em dia, a
China destaca-se como uma grande receptora de investimentos norte-americanos,
cerca de U$70 bilhões de investimentos das multinacionais americanas.
As exportações chinesas vêm crescendo desde a década de 1970. "Em 1985,
o valor das exportações foi cerca de cinco vezes maior do que em 1975, alcançando
um total de US$ 25,6 bilhões. As exportações provenientes da China já representavam
3% do total mundial em 1995, e desde então essa participação tem apresentado
incrementos significativos."66 (Tabela 4).
Tabela 4 – Participação das Exportações da China nas Exportações Mundiais de 1970 a 2007 – Exportações Mundiais e Exportações Chinesas:
Nas exportações chinesas, cerca de 20% tem destino os EUA e tem sido
grande parceiro comercial da China. Após o embargo comercial retirado da China, em
1972, o fluxo comercial aumentou extraordinariamente entre os dois países.67 A China
também é responsável por uns dos maiores déficits na balança comercial dos EUA
(Tabela 5).
64 LEÃO; PINTO; ACIOLY. op. cit., p. 33. 65 CARVALHO, Cecília; CATERMOL, Fabrício. op. cit., p. 238. 66 Idem, p. 238-239. 67 Idem, p. 239.
37
Tabela 5 – Déficit Comercial dos EUA com os 20 Principais Países – Anos de 1996 a 2008.
Observa-se a grande relação comercial e econômica entre os dois países,
desde o final da década de 1970. A relação sino-americana só tem se aprofundado
com o passar dos anos. Apesar das violações de direitos humanos ocorridas na China,
isso não tem interferido na relação.
O próprio site do Departamento de Estado dos Estados Unidos68, revela o
relacionamento com a China.
Os Estados Unidos buscam construir uma relação positiva, cooperativa e abrangente com a China, expandindo as áreas de cooperação e abordar áreas de desacordo, como os direitos humanos e segurança cibernética. Os Estados Unidos saúdam uma China forte, pacífica e próspera a desempenhar um papel maior nos assuntos mundiais e procura avançar a cooperação prática com a China.
Em outro tópico, o Departamento de Estado dos EUA69 aborda a relação
68 U.S Departament of State. U.S Relations with China. 2015. Disponível em: <http://www.state.gov/r/pa/ei/bgn/18902.htm>. Acessado em 25 de Março de 2016. 69 Ibidem.
38
econômica bilateral com China, revelando sua satisfação.
A abordagem dos EUA para as suas relações econômicas com a China tem dois elementos principais: a integração da China no sistema econômico e comercial global, baseado em regras e expandir o acesso exportadores norte-americanos e dos investidores para o mercado chinês. O comércio bilateral entre a China e os Estados Unidos cresceu de US $ 33 bilhões em 1992 para mais de US $ 562 bilhões em mercadorias em 2013. A China é atualmente o terceiro maior mercado de exportação para produtos norte-americanos (depois de Canadá e México), e os Estados Unidos é a China de maior mercado de exportação. O estoque de EUA de investimento estrangeiro direto (IED) na China foi de US $ 61 bilhões em 2013, acima dos US $ 54 bilhões em 2012, e manteve-se principalmente no sector da indústria transformadora. Durante a trilha econômica do julho 2014 S & ED, os dois países anunciaram medidas para reforçar a cooperação macroeconômica, promover o comércio aberto e o investimento, melhorar a cooperação global e regras internacionais, e promover a estabilidade financeira e reforma.
As relações entre EUA e a China são bem antigas e consideradas hoje
fundamental. O fluxo de comercio e a grandes empresas multinacionais americanas
produzindo na China, revela o forte laço entre eles. Diante desse fato, e das violações
de direitos humanos diariamente ocorridas na China, fica contraditório o discurso dos
direitos humanos dos EUA.
O próximo capítulo, abordará o conceito e a importância do desenvolvimento
e crescimento econômico, evidenciará o desenvolvimento da China como uma
importante parceira econômica para os Estados, em especial os EUA, com todas as
vantagens que a China oferece; e a retórica dos Direitos Humanos, frente a economia
como maior violadora destes, já que esta, se tornou o maior interesse no mundo.
39
4 - A RELEVÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO E DA ECONOMIA
O capítulo, abordará o conceito de desenvolvimento econômico, revelando a
importância e valor que Estados dão a economia; tratará sobre o desenvolvimento e
crescimento chinês, apresentando, como ela se torna um importante parceira para
economia e desenvolvimento dos Estados, devido ao seu grande desenvolvimento; e
por fim, evidenciará que os maiores violadores dos Direitos Humanos são a economia
e o desenvolvimento que os Estados tanto querem. Diante disso, expõe como os
Direitos Humanos ficam em segundo plano, frente a interesses maiores.
4.1 - O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
O desenvolvimento econômico, é um aspecto muito relevante no mundo nos
dias de hoje. Pereira70, conceitua esse aspecto, como um fenômeno histórico que
ocorre nos Estados, e se caracteriza pelo aumento da produtividade ou da renda. Uma
vez iniciado, o desenvolvimento econômico tende a permanecer, de acordo com os
incentivos dados, como aumento de estoque e de conhecimento.
Ainda conforme Pereira71, as taxas de crescimento dos Estados não são
iguais, elas variam e dependem da capacidade das nações promover o
desenvolvimento. Ele ressalta, que ao longo prazo dificilmente regride, “porque a
acumulação de capital em uma economia tecnologicamente dinâmica e competitiva,
como é a capitalista, passa a ser uma condição de sobrevivência das empresas, ”
porém, a sorte econômica dos estados-nação está longe de ser segura.
Furtado72, afirma que existem diferenças entre crescimento econômico e
desenvolvimento econômico. Enquanto, crescimento econômico envolve apenas
questões quantitativas, o desenvolvimento econômico remete também a uma melhora
na qualidade de vida, ou seja, qualitativa.
O desenvolvimento econômico, teve sua propagação com a Revolução
Industrial no século XVIII e com o surgimento de novas tecnologias, ressalta Furtado73.
Os Estados expandiram o desenvolvimento na agricultura, esporte, indústria, a partir
70 PEREIRA, Luís Carlos Bresser. O Conceito Histórico de Desenvolvimento Econômico. Fundação Getúlio Vargas. 2006. p. 79. 71 Idem, p. 80. 72 FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.p. 32. 73 Ibidem.
40
das revoluções industrias.
Adam Smith, na leitura de Furtado74, revela que os pontos importantes do
desenvolvimento econômico como o crescimento populacional e a produtividade da
mão-de-obra, e a acumulação do capital, não eram suficientes e que para a promoção
do desenvolvimento, era necessário a divisão de trabalho. Smith, também afirma que
para a progressão da economia, o Estado não deveria intervir, mas deixar o próprio
mercado/economia, controlar.
De acordo com Furtado75, muitos autores como, David Ricardo, Karl Marx e
Joseph Shumpeter, afirmam métodos para melhor desempenho do desenvolvimento
econômico. Eles ressaltam também, a importância das inovações e inovações
tecnológicas.
Na leitura de Furtado76, David Ricardo, em 1817, considerou a importância
das inovações tecnológicas. Karl Marx, em 1867, considerava que o desenvolvimento
econômico era possível, através das transformações de desenvolvimento nas
sociedades, por meio das ideias da sociedade, associado com novas tecnologias,
proporcionariam a evolução produtiva. Após as teorias de Marx, Shumpeter,
aperfeiçoa o conceito de desenvolvimento econômico e destaca a importância de dar
créditos aos empreendedores, pois haveria a possibilidade de inovar, e desta forma,
promovendo o desenvolvimento.
Em 1986, a ONU proclamou a existência do direito ao desenvolvimento e
assim, o desenvolvimento se tornou um direito humano. Segue o artigo 1º da
Declaração Sobre o Direito ao Desenvolvimento77:
1 O direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável, em virtude do qual toda pessoa e todos os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados.
2 O direito humano ao desenvolvimento também implica a plena realização do direito dos povos de autodeterminação que inclui, sujeito às disposições relevantes de ambos os Pactos Internacionais sobre Direitos Humanos, o exercício de seu direito inalienável de soberania plena sobre todas as sua riquezas e recursos naturais.
Isso ocorreu, como uma forma de ajuda para houvesse o desenvolvimento
74 Idem, p. 38. 75 Idem, p. 37. 76 Ibdem, passim. 77 DHNET. Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento 1986. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/spovos/lex170a.htm>. Acessado em 4 de abril de 2016.
41
dos países do Terceiro Mundo, para superar as profundas diferenças existentes no
desenvolvimento entre os países no mundo.
O desenvolvimento econômico, com o passar do tempo, cada vez mais veio
se aprofundando. Furtado78, aponta os métodos da promoção do desenvolvimento, e
que são as causas para que isso ocorra. A principal causa é as inovações
tecnológicas, que incluem os meios de comunicação e de transporte, que foram
desenvolvidas por meio delas. Assim, ocorre simultaneamente a globalização mundial
com o rompimento de alguns paradigmas socioculturais.
Todo esse avanço, proporciona muitas oportunidades para crescer no
mercado de trabalho e melhorar a oferta de qualquer produto. Porém, existem pontos
negativos também. A autor Furtado79, aponta os pontos positivos e negativos do
desenvolvimento econômico.
Referente aos pontos positivos, o autor ressalta a expansão econômica, de
novas empresas, de créditos e investimentos, de receitas, de emprego, de
competitividade entre mercados e a melhora na qualidade de vida das pessoas.
Em contrapartida, apesar desses benefícios que o desenvolvimento
econômico traz, os pontos negativos revelam grandes malefícios. Pois de acordo com
a autora, o desenvolvimento provoca danos em nível ambiental, social e cultural. A
exploração de novas matérias-primas, o aumento da população e a poluição,
evidencia o sério dano ambiental que pode causar. A desigualdade social, a
exploração da mão-de-obra barata, e o significativo aumento da pobreza, transparece
o dano social. Devido a ambição de crescerem economicamente, muitos países
deixam de preservar a sua cultura, para seguir tradições de países ricos, retrata o
dano cultural.
Contudo, mesmo que haja esses problemas e danos, a preocupação dos
Estados está apenas na economia e em ganhar dinheiro. Os países procuram sempre
em fazer um bom negócio, comprar o mais barato, e investir em um bom mercado
consumidor.
A China por sua vez, é um país que tem ofertas muito vantajosas que atraem
os Estados a terem relações econômicas com ela. Por exemplo, a China vende
milhares de produtos a preços competitivos, possui um grande mercado consumidor
e uma vasta mão de obra barata. Tudo isso, torna a China uma importante parceira
78 FURTADO. op. cit., p. 38. 79 Idem. p. 39.
42
econômica para qualquer um que queira obter desenvolvimento e crescimento
econômico, e os problemas com os Direitos Humanos existentes no país, não é um
impedimento para os Estados ambiciosos, interessados apenas na economia.
O próximo tópico, evidencia como a China é uma importante parceira
econômica, revelando aspectos cruciais para o sucesso do desenvolvimento.
4.2 - O DESENVOLVIMENTO DA CHINA COMO ÓTIMA PARCEIRA PARA ECONOMIA
O intenso desenvolvimento e crescimento da economia da China nas últimas
décadas de 1980, 1990 e 2000, é fato conhecido por todos. Igualmente, é conhecido
como as exportações de produtos manufaturados chineses, têm grande
competitividade no mercado, superando até mesmo países que são desenvolvidos.
Porém, existe algumas razões para a China ter alcançado esse nível de
desenvolvimento que faz com que ela seja uma ótima parceira econômica para os
Estados.
Levy, Nonnenberg e Negri80 sugerem que as causas para este processo,
destacam-se a atração de investimento externo direto, que a China recebe em sua
maioria voltados para exportação, as zonas econômicas especiais, o baixo custo da
mão de obra, a ausência de proteção à propriedade intelectual, a política cambial, a
poupança interna, entre outros.
A economia chinesa foi consolidada no final dos anos de 1980, com as
medidas liberalizantes e teve início da reforma do sistema de preços de produtos
agropecuários. De acordo com Levy, Nonnenberg e Negri81, o governo central
estabelecia uma cota de produção que cada comunidade deveria entregar e um preço
predeterminado, e o excedente da produção poderia ser negociado no mercado. Isso
fez com que a produtividade aumentasse na zona rural, e consequentemente, houve
um crescimento nos empregos, uma melhora na renda, e desenvolvimento.
Ainda conforme os autores, o desenvolvimento e o êxito das reformas foi
possível por duas razões. A primeira, é que Hong Kong, com o desenvolvimento do
comércio, finanças, indústria de brinquedos e vestuário, acumulou grande capital. A
segunda razão, foi que a China entrou como uma intermediária entre Ásia e Estados
80 LEVY, Paulo Mansur; NONNENBERG, Marcelo Braga; NEGRI, Fernanda de. O crescimento econômico e a competitividade chinesa. Boletim de Conjuntura. IPEA, 73, jun. 2006. p. 81. 81 Ibidem.
43
Unidos no mercado internacional. A China importava partes, peças e componentes da
Ásia e então, montavam e vendiam os produtos finais para o Estados Unidos.
O desenvolvimento de Hong Kong estava indo muito bem, entretanto, como o
território era pequeno, estava elevando os valores dos terrenos e dos salários, o que
fazia com que aumentasse o valor final do produto e perdia sua competitividade.
Diante disso, de acordo com Levy, Nonnenberg e Negri82, no governo de Deng
Xiaoping (1982 - 1987), a China criou a primeira Zona Econômica Especial (ZEE) em
Shenzhen, e toda a produção industrial foi deslocada pra lá, e permitiu que Hong Kong
migrasse para produtos superiores na escala tecnológica. Então, o governo criou ao
longo dos anos outras ZEEs no litoral, por causa do bom resultado. O principal objetivo
das zonas era alavancar o desenvolvimento e crescimento industrial da China, e essas
áreas eram especificamente destinadas para atividade industrial e oferecimento de
vantagens para atração de investimento externo.
Outro fator que contribuiu bastante para o desenvolvimento chinês, foi o baixo
custo da mão-de-obra. Na leitura de Levy, Nonnenberg e Negri83, afirma que a oferta
de mão-de-obra é quase infinitamente inelástica (se deve a gigantesca população),
com ou sem qualificação. Apesar do aumento da demanda dessa mão-de-obra, não
provocou aumento dos salários. Os trabalhadores chineses, além de possuírem
concepção de hierarquia e disciplina, que faz com que a possibilidade de exercer
pressões para aumento de salários, seja difícil, pois os direitos trabalhistas são quase
ausentes do país.
O investimento direto externo que a China recebe, é um dos fatores mais
importantes no seu desenvolvimento. A elasticidade na oferta de mão-de-obra, a taxa
de câmbio e o mercado consumidor, são umas das maiores razões para atração de
investimento. Esses são aspectos que atraem o investimento externo, como por
exemplo as Empresas Multinacionais (EMNs). De acordo com Levy, Nonnenberg e
Negri84, inicialmente as EMNs se dirigiam a ZEEs e recebiam diversos incentivos
como terrenos e edificações, onde se localizavam perto de outras industrias
semelhantes, centros de pesquisa, incubadoras de empresas, infraestrutura e energia
e transporte e laboratórios de ponta. Além dessas vantagens e incentivos que as
EMNs recebem, a China ainda tem o baixo custo da mão-de-obra, vindo de uma
82 Idem. p. 83. 83 Ibidem. 84 Idem. p. 84.
44
população gigantesca a oferta de mão-de-obra é inelástica, como já dito
anteriormente, sempre tem gente para trabalhar. A taxa de câmbio desvalorizada,
também propicia elevada rentabilidade a capital externo. Desta forma, os autores85 do
texto aponta que as "EMNs podem instalar, na China, a etapas finais da produção,
aproveitando as peças e componentes produzidos pelas filiais localizadas nos países
vizinhos." E isso tudo, é muito atrativo para as empresas.
Diante disso, as EMNs que se interessam em investir na China, são obrigadas
aceitar o sistema chinês, que até os dias de hoje, não garantem a propriedade
intelectual. Ou seja, a China oferece as vantagens e incentivos, e a empresa que
quiser investir deverá concordar com esse sistema. De acordo com os autores já
citados, a EMNs necessitava de um sócio local para produzir no país, e como não
havia proteção da propriedade intelectual, os sócios roubavam a ideia e tecnologia,
para montarem as empresas nacionais. Esse, foi instrumento que viabilizou a
transferência de conhecimentos e permitiu o desenvolvimento de várias esferas
industriais na China.
Segundo Levy, Nonnenberg e Negri86, a existência de economias de escala
em grande parte das industrias e as políticas macroeconômicas, também é um fator
fundamental para o desenvolvimento e crescimento econômico chinês. A economia
por escala, porque a produção é muito grande, tornando os custos menores. As
políticas macroeconômicas, pois a China tem mantido uma alta previsibilidade e
estabilidade, com governos que mantém políticas de estímulo de crescimento sem
deixar a inflação perder o controle, e isso é elemento que atrai muitos investidores
externos.
Um Estado economicamente bem, possui uma poupança interna alta. Quando
um país poupa, possivelmente as contas estarão equilibradas e sobrarão mais
recursos para investir, desta forma, maior será o desenvolvimento econômico. De
acordo com Levy, Nonnenberg e Negri87, a China tem apresentado elevadas taxas de
poupança, cerca de 35% a 37% do PIB nas 2 últimas décadas. Os responsáveis de
80% dessa poupança, são as famílias e empresas públicas e privadas, e o restante é
o governo. As famílias chinesas, têm o costume de pouparem dinheiro, para
assegurarem despesas com saúde, educação e previdência, já o que há uma
85 Ibidem. 86 Idem. p. 85. 87 Idem., p. 86.
45
ausência do estado de bem-estar-social pelo governo. Essas elevadas taxas de
poupança, possibilitam a realização de grandes investimentos, podendo investir cada
vez mais em infraestruturas e em outras esferas, para que continuem a atrair
investimentos e poderem exportar mais.
A política cambial na China, também é administrada pelo governo, como uma
forma de estratégia, para aumentar as exportações. A moeda é artificialmente
desvalorizada, para tornar os produtos chineses competitivos no mercado
internacional, sendo assim, a China apresenta elevado superávit comercial,
possibilitando o desenvolvimento.
De acordo com Levy, Nonnenberg e Negri88, a moeda foi desvalorizada cerca
de 400% artificialmente entre 1981 e 1995, permanecendo constante desde então (até
julho de 2005), mesmo com elevada poupança e reservas internacionais. Pois, este é
um artifício, que aumenta as exportações, e é um interesse da China. O mercado de
trabalho chinês, também apresenta salários nominais flexíveis, e esta é uma
explicação para entender porque a inflação é baixa, pois conforme os autores
mencionados, "não é necessário que a inflação se acelere para reduzir os salários
reais na eventualidade de choques."
Diante do que foi apresentado, a grande oferta e baixo custo de mão-de-obra,
as políticas industriais e tecnológicas, o mercado consumidor, a ausência de proteção
de propriedade intelectual, as políticas macroeconômicas, a moeda desvalorizada,
entre outros fatores, de acordo com os autores Levy, Nonnenberg e Negri, são
responsáveis pela grande competitividade dos produtos chineses e o seu elevado
desenvolvimento e crescimento econômico.
Todos esses aspectos apresentados, fazem como que a China seja uma
excelente parceira comercial. Os países querem, de fato, realizar bons negócios em
suas relações para obter desenvolvimento econômico, e a China oferece grandes
vantagens comerciais. A economia é o principal interesse dos Estados, e não lhes
importa que na esfera dos Direitos Humanos, a China apresente sérias complicações
com as violações. Então, por um lado, os Direitos Humanos são importantes para
Comunidade Internacional, mas por outro lado, eles ficam em segundo plano, quando
o assunto é economia e desenvolvimento econômico. Dito isso, a economia se revela
como a maior violadora dos Direitos Humanos.
88 Ibidem.
46
4.3 - A ECONOMIA COMO MAIOR VIOLADORA DOS DIREITOS HUMANOS
No primeiro capítulo deste trabalho, foi visto que os Direitos Humanos foram
acolhidos desde a muito tempo atrás, estendendo até os dias de hoje. De acordo com
Keil89, desde então, muitos Pactos, Declarações e Intenções sobre Direitos Humanos,
foram florescendo e sendo ou não aprovados e ratificados - fazendo parte dos
princípios constitucionais de alguns Estados, e por outros simplesmente ignorados
pelos interesses econômicos, políticos ou religiosos.
Apesar da existência dos Direitos Humanos, e o mundo ter consciência da
existência deles, eles ainda não são totalmente respeitados, ou seja, ainda não
passam de belas palavras.
Diante da globalização, Keil90 afirma que esse processo da modernização da
economia e da sociedade que busca taxas crescentes de lucros e desenvolvimento
econômico, os Direitos Humanos tornam-se apenas um discurso, pois eles são
propagados como valores e práticas éticas, mas não são realmente efetivados. As
violações de Direitos, tanto civis, como políticos e sociais, é um fato que acontece em
muitas partes do mundo, - como exemplo, as violações ocorridas na China, citadas no
capítulo 2 - tortura, tratamentos desumanos e degradantes, execuções e detenções
arbitrárias, racismo, intolerância religiosa e discriminação da mulher.
Desta forma, Keil91 salienta que mesmo que os Direitos Humanos tenham
contribuído para o aumento da participação dos cidadãos, respeito dos homens etc, e
toda evolução ocorrida no âmbito dos direitos, como uma conquista de lutas
populares, surgem novos obstáculos e desafios, diante do cenário atual.
Observa-se, que os Direitos Humanos se tornaram um discurso como
estratégia para intervenções em outros Estados, com interesse puramente
econômicos ou políticos. Conforme Keil92 explica, os direitos humanos são
mecanismos para alimentar a Mão Invisível do Mercado mundial.
Guilles Châtelet, na leitura de Keil93, trata das sociedades do Primeiro Mundo,
de democracias de mercado contemporâneas que sempre rogam por respeito pelos
89 Keil, I. L. M. O Paradoxo dos Direitos Humanos no Capitalismo Contemporâneo. In: Ivete Leocádia Manetzeder Keil; Solon Annes Viola; Paulo Albuquerque. (Org.). Direitos Humanos, Dignidade e Alternativa de Justiça Social na América Latina. 1 Ed. São Leopoldo: UNISINOS, 2002, v.1, p. 34-44. p. 34. 90 Ibidem. 91 Idem, p. 35. 92 Ibidem 93 Idem, p. 36.
47
Direitos Humanos, mas que na realidade vivem "comme des porcs"94, como diz o
autor, ou seja, vivem apenas com seus interesses. O autor, ainda fala que o homem
é simplesmente produtor-consumidor de bens e serviços, e vive apenas disso, pois
quando mais desenvolvimento, melhor.
A sociedade é completamente manipulada, segundo Keil95. O discurso clama
a proteção dos Direitos Humanos, mas na realidade, neste contexto capitalista, pós-
industrial, a maior importância está nos lucros, desenvolvimento e crescimento.
Conforme os capítulos anteriores, os Direitos Humanos hoje, foram fruto de
lutas e grandes desafios para a valorização da dignidade da pessoa humana. Dito
isso, nessa evolução dos Direitos Humanos, os países ocidentais, Europa e
principalmente os EUA, afirmava/afirma esses direitos, e tomavam/tomam a frente
desse propósito. Um exemplo disso, foi a criação da ONU, sobre a hegemonia dos
EUA, para que os Estados pudessem proteger os Direitos Humanos no mundo. Face
a isso, EUA tomou a frente de muitas Convenções e Congressos sobre tema,
clamando que os Estados respeitassem os Direitos Humanos.
A China por sua vez, se mostrou uma grande parceira comercial para
desenvolver, entre 1985 e 2015, com seu grande desenvolvimento e crescimento
econômico. Foi visto, que a China oferece muitas vantagens e incentivos, e por isso,
torna o negócio com ela, vantajoso. Em contrapartida, essa mesma China, é uma das
maiores violadoras dos Direitos Humanos, conforme a capítulo 2 deste trabalho, que
evidencia os tratamentos desumanos e degradantes com os trabalhadores chineses,
com altas horas de trabalho e salários precários; revela também, a discriminação com
as mulheres, a falta de liberdade de expressão, a repressões violentas contra
manifestantes, prisões e atos arbitrários, entre outras violações.
Frente à essa situação, os países ocidentais, e em destaque os EUA, mantém
relações econômicas e políticas, de forma amigável e bem-sucedida com a China.
Com todas as vantagens em relacionar com a China, os EUA, agem ou fingem que
não veem as violações dos Direitos Humanos na China. Como a mesma, é uma
excelente parceira, e faz com que os lucros sejam grandes, - instalando multinacionais
na China, usufruindo de uma mão-de-obra barata, e um vasto mercado consumidor,
entre outros motivos - optam por ignorar essas situações e manter contato com ela,
obtendo seus interesses – e possibilitando maiores desenvolvimento com isso.
94 A expressão significa "como porcos". 95 Ibidem.
48
Observa-se, que quando o assunto é economia, desenvolvimento e lucros, os
Direitos Humanos ficam em segundo plano. Conforme Keil96 fala, a economia torna-
se a maior violadora dos Direitos Humanos. Pois, diante de um mundo capitalista, o
discurso de Direitos Humanos é colocado de lado, no momento propício, e utilizado
quando bem lhes interessam.
Portanto, mesmo com toda a evolução e direitos obtidos para proteção da
dignidade da pessoa humana, há grandes desafios à serem conquistados. Pois, de
um lado, a retórica dos Direitos Humanos, clamando proteção da dignidade humana
e adesão à eles. Por outro, a dignidade do cidadão chinês que sofre violações de
direitos, é ignorada e esquecida, simplesmente por razão de interesse, e um interesse
maior – o desenvolvimento/economia.
96 Idem, passim.
49
5 – CONCLUSÃO
O avanço e as conquistas dos Direitos Humanos foram notoriamente grandes
frente o passado, pois muitas Convenções, Protocolos e Tratados foram realizados
com esta preocupação em mente. Grande maioria dos Estados no mundo como forma
de compromisso e respeito ao tema, assinaram a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, entre outros. A evolução dos Direitos Humanos é um elemento significativo
para a formação de um mundo mais justo e digno para o ser humano, legalizando e
legitimando os Direitos Humanos como direitos universais.
Porém apesar da formalização jurídica, inúmeras violações ainda acontecem,
pois, a formalização jurídica por si só, não tem contido as violações de acontecerem
em todo o mundo. O problema é que para a sua maior eficiência, os Direitos Humanos
deveriam ser o tema de maior interesse dos Estados, porém temas como a economia
ficam sempre em primeiro plano frente a eles.
Uma solução para essa problemática não foi identificada, pois os interesses
do mundo sempre foi economia, e os Direitos Humanos só é discursado quando existe
algum interesse por trás, mas que na realidade os motivos principais são outros. Para
este fato mudar, seria necessário a mudança de valores dos Estados que buscam
apenas o lucro e grandes economias.
Nesse sentido, classifica-se a hipótese levantada como verdadeira, pois ainda
existem muitos desafios à serem enfrentados para a maior efetivação dos Direitos
Humanos.
Os objetivos específicos deste trabalho foram: apresentar as violações de
direitos ocorridas sistematicamente na China foram atingidos. Além de salientar as
relações econômicas desenvolvidas por ela e o EUA, considerando que frente a
economia, os Direitos Humanos ficam em segundo plano, também foram alcançados.
Diante disso, o objetivo geral deste trabalho também foi alcançado e se deu
pela apresentação de dados dos objetivos específicos. Confirmando que os Direitos
Humanos ainda possuem desafios à serem enfrentados, pois os interesses de
desenvolvimento e crescimento econômico sobrepõe a proteção de direitos, revelando
que apesar da evolução que estes obtiveram, esta evolução está aquém do ideal.
De acordo com a pesquisadora, a luta pelos Direitos Humanos deve ser todos
os dias, pois sempre haverá fragilidades e lacunas à serem preenchidas, que por sua
vez, demanda fiscalização e atenção dos cidadãos para que haja maior efetividade.
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Espero, por fim, que este trabalho possa contribuir para maior entendimento do
assunto e que haja compreensão de que muitas vezes os discursos dos Direitos
Humanos pregado é falso, pois quando são dos interesses deles a última coisa que
vão se importar são os “direitos humanos”.
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6 - REFERÊNCIAS
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