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Um chamado, muitas vozes! Província La Salle Brasil-Chile ANO 6 Nº 09 MARÇO DE 2017

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Um chamado,

muitas vozes!

Província La Salle Brasil-Chile ANO 6 Nº 09 MARÇO DE 2017

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Oração da Comunidade

Obrigado, Senhor,

por nos convocar a ser homens de esperança, através do ministério apostólico da educação.

Fortalecei em nós a mística,

através da comunhão com Deus,

das nossas práticas de espiritualidade

pessoais e comunitárias,

da vivência do espírito de fé e zelo,

da meditação diária, da partilha da Palavra de Deus

e da Eucaristia.

Intensificai em nós as relações fraternas,

através da humanização

do nosso quotidiano,

da simplicidade, da acolhida,

da sensibilidade

e do cuidado do outro.

Iluminai-nos, Senhor,

para que possamos assumir

a nossa formação

como um itinerário existencial de fé

e de construção de sentido,

para toda a vida.

E comprometei-nos

no desenvolvimento da cultura vocacional,

como sinal de esperança.

Ajudai-nos a partilhar alegremente

o carisma com os colaboradores leigos,

e ser com eles e para eles coração, memória e garantia do carisma lassalista,

para responder com fidelidade criativa

às necessidades das novas gerações.

Amém.

Oración de la Comunidad

Gracias, Señor,

por convocarnos a ser hombres de esperanza, mediante el ministerio apostólico de la educación.

Fortalece en nosotros la mística

a través de la comunión con Dios,

de nuestras prácticas de piedad

personales y comunitarias,

de la vivencia del espíritu de fe y de celo,

de la oración mental diaria,

del compartir la Palabra de Dios y de la Eucaristía.

Intensifica en nosotros las relaciones fraternas

mediante la humanización

de nuestro cotidiano,

de la sencillez, de la acogida,

de la sensibilidad

y del cuidado del otro.

Ilumínanos, Señor,

para que podamos asumir

nuestra formación

como itinerario existencial de fe

y de construcción de sentido

para toda la vida.

Y comprométenos

en el desarrollo de la cultura vocacional,

como signo de esperanza.

Ayúdanos a compartir alegremente

el carisma con los colaboradores seglares,

y a ser con ellos y para ellos corazón, memoria y garantía del carisma lasaliano,

para responder con fidelidad creativa

a las necesidades de las nuevas generaciones.

Amén.

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3MARÇO 2017

VIDA RELIGIOSA APOSTÓLICA “Este Instituto é de grandíssima necessidade...” 5 Os Irmãos continuam sendo fonte de inspiração para todos os Lassalistas 9

Não nos deixemos roubar o dom da fraternidade: seguir Jesus Cristo, como Religioso Irmão 11

Projeto Reconfiguração da Formação Inicial 15SAUDADE

Falecimento de Irmãos na Província 19MATÉRIA CENTRAL Como ser Irmãos hoje enquanto sinal de alegria e esperança? 20REFLEXÃO E PARTILHA

Fraternidade: sinal profético para a Igreja e para o mundo 24

Ser Irmão nas fronteiras, desertos e periferias: partilha de experiência em São Vicente Ferrer 26

Irmãos além das fronteiras: Moçambique 28

Formação Continuada: um itinerário formativo para toda a vida 29

Associados para a missão: um compromisso de todos 33ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

Entrevista com Ir. Robert Schieler 34 Entrevista com Luiz Carlos Susin 40

Conclusões da Assembleia 44MEMÓRIA

Formação continuada 48EVENTOS Aniversário de presença lassalista 49 Dia da Província 2017 50 AGE 2016 (Horizonte e Prioridades para o Triênio) 51 Expedição Vocacional 52 Encontro de Formandos Maiores 53AGENDE-SE Cronograma de Atividades 54PASTORAL VOCACIONAL

Cultura Vocacional 56SUGESTÕES CULTURAIS

Dicas de Leituras 58

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4 REVISTA FRATERNITAS

O ano de 2017 iniciou com alegria na Província La Salle Brasil-Chile, em razão de três datas jubilares significativas para nossa Instituição e sua história. Celebramos 140 anos de presença lassalista no Chile, 110 no Brasil e 25 anos em Moçambique.

Importante realização também foi a Assembleia dos Irmãos no Cecrei que contou com a presença do Superior Geral do Instituto, Ir. Robert Schieler, que concedeu entrevista à Revista Fraternitas.

Com uma seção especial sobre o evento, a revista traz nesta edição um resumo da Assembleia e artigos relacionados à Regra dos Irmãos das Escolas Cristãs, analisados pelos autores na perspectiva do tema “Um Chamado, Muitas Vozes”.

Fraternitas compartilha textos, relatos e experiências vivenciadas pelos Irmãos na Província La Salle Brasil-

Chile e no Instituto. Compartilha ainda uma entrevista com o Frei Luiz Carlos Susin que contribuiu com importante momento de reflexão na Assembleia dos Irmãos.

Por fim, nossa publicação oferece uma variedade de reflexões, novidades e pensamentos sobre a Vida Consagrada e suas dinâmicas na Província. Além desses, outros temas são apresentados nesta edição, como Cultura Vocacional e a experiência lassalista em São Vicente Ferrer, Maranhão.

Uma boa leitura a todos! Viva Jesus em nossos corações!

Irmão Marcelo Cesar Salami Diretor Provincial de Formação

Capa:Setor de Comunicaçãoe Marketing

Provincial:Ir. Edgar Nicodem

Diretor de Missão:Ir. José Kolling

Diretor de Formação:Ir. Marcelo Cesar Salami

Diretor de Gestão e Ecônomo:Ir. Olavo José Dalvit

Secretário Provincial:Ir. Aldo Aedo Aliaga

Realização:Direção de Formação eSetor de Comunicação e Marketing da Rede La Salle

Edição e Reportagens:Gabriela Boni – Mtb 15441

Apoio em Traduções:Ir. Aldo Aedo AliagaIr. Alexandro MarxIr. Antônio CantelliIr. César MeurerIr. José Egon Kunrath

Ir. Marno ReichertIr. Paulo Petry

Revisão:Ir. Blásio HillebrandIr. Marcelo Misturini

Diagramação:Setor de Comunicação e Marketing

*Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores.

Revista Fraternitas – Nº 09 – Ano VI – Março de 2017

Estimado leitor:

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5MARÇO 2017

“Este Instituto é de grandíssima necessidade...”Irmão Marcos Corbellini Diretor Geral da Faculdade La Salle Estrela/RS e Coordenador do setor da Educação Superior da Rede La Salle

A última versão da Regra dos Irmãos das Escolas cristãs foi aprovada pelo 45º

Capítulo Geral, ocorrido em 2014. Na apresentação do documento, o Irmão Superior Geral Robert Schieler eleito naquela mesma assembleia, escreveu: “As revisões, projetadas pelo 43º Capítulo Geral, em 2000, são o resultado de um discernimento coletivo sobre as

mudanças e os progressos ocorridos em nossa Igreja, nosso Instituto e o mundo após a publicação da Regra de 1987. Vale a pena assinalar, em particular, dois avanços: a centralidade de nosso Voto de Associação e a missão educativa que partilhamos com nossos Colaboradores.

[...] Esta Regra, aprovada pela Congregação dos Institutos para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, entra em vigor no dia 8 de setembro de 2015, festa da Natividade da Virgem Maria. A partir dessa data, todos os textos da Regra aprovados pelo 41º, 42º, 43º e 44º Capítulos Gerais estão ab-rogados.

Nessa trajetória de elaboração do texto que expressa nossa identidade como organização e como indivíduos, deve-se destacar o fato de ter sido um “discernimento coletivo” que envolveu o conjunto da instituição e, com intensidades variadas, cada um dos seus membros. Ressalte-se também que foi preciso estar muito atentos às aceleradas mudanças ocorridas durante esse período, tanto no mundo quanto na Igreja. Sem detalhar exaustivamente, vale lembrar: a geopolítica mundial, as crises econômicas, a tecnologia, o avanço de novas ideologias e religiões, o crescente individualismo, as visões novas e antagônicas na Igreja. Essas mudanças afetaram significativamente o modo de ser Irmãos. Tanto que, também com intensidades variadas, estamos perplexos e com mais perguntas do que respostas.

Um detalhe curioso, embora sem maior relevância, é o tempo muito próximo entre esse percurso da nova Regra com a primeira: em torno de um quarto de século.

O Capítulo 10 manteve o mesmo título em todas as versões: A Vitalidade do Instituto. É um excelente texto

que fecha com chave de ouro o documento. Os dois primeiros artigos desse capítulo são:

152. Desde São João Batista de La Salle, “este Instituto é de grandíssima necessidade”. Os jovens, os pobres, o mundo e a Igreja necessitam do testemunho e do ministério dos Irmãos. Fazendo da gratuidade uma característica essencial de sua fundação, La Salle convidou os Irmãos a manifestar a gratuidade do amor de Deus. Seus discípulos, da mesma forma como ele, fazem a experiência de que o Senhor não abandona “sua obra”, mas “se compraz em fazê-la frutificar dia após dia”.

153. Hoje, os Irmãos desejam, com seus Colaboradores, responder criativamente às necessidades educativas e espirituais dos jovens, particularmente dos mais vulneráveis.

A versão mais antiga que se conhece da Regra dos Irmãos das Escolas Cristãs é um manuscrito datado de 1705.

Aquele ano marcava um quarto de século desde que, em 1680, João Batista de La Salle decidira deixar a casa da família, a fim de passar a viver com e como os professores recrutados por Adrian Nyel para as escolas dos quartiers de Reims. A trajetória de vinte e cinco anos, narrada pelos primeiros biógrafos de João Batista de La Salle, é extremamente densa e permeada de eventos mais ou menos marcantes para a criação do Instituto lassalista. Os relatos dos biógrafos têm, em comum, a perspectiva da ação da Providência Divina no estabelecimento daquela obra e o enfoque do protagonismo de La Salle, sendo os professores coadjuvantes. Hoje já se vê com outra ótica que enfatiza, com os necessários limites, o papel importante dos primeiros Irmãos na construção do projeto.

O trabalho de elaboração do texto da Regra é um exemplo desse envolvimento. Ele começou com um “regulamento diário”, proposto por La Salle ao grupo de professores, de modo a organizar as atividades diárias, contemplando com prioridade a tarefa escolar, o emprego como La Salle chamava. À rejeição inicial, inclusive com a desistência dos professores iniciantes, seguiram-se as negociações internas para ir aprimorando esse regulamento. Isso conduziu o grupo à uma percepção que precisavam muito mais do que apenas definir os horários e o que fazer em cada momento do dia.

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6 REVISTA FRATERNITAS

O percurso realizado teve, entre outras características, o de ser um processo de construção coletiva: de professores leigos com João Batista de La Salle, presbítero e cônego; de cidadãos oriundos, em sua maioria das classes populares, e um representante do mundo clerical; de pessoas com conhecimentos e horizontes limitados e de um doutor em Teologia; de gente com poucas ou nenhuma posse e um senhor de classe relativamente abastada. Esse processo engendrou choques e conflitos, nos quais cada uma das partes necessitou apropriar-se dos discursos, das práticas culturais, do sentido dos espaços e dos tempos da outra parte.

Ultrapassando as barreiras que delimitavam os horizontes próprios de suas origens, superando as resistências naturais ou intencionais, esses homens, de forma conjunta: construíram novos espaços e novos tempos de comunidade e de escola; elaboraram discursos específicos para sua realidade como professores e religiosos; determinaram e adotaram as práticas culturais próprias de seu estilo de vida pessoal e comunitário. O “novo” que vinha sendo construído

era de forma bem concreta: salas de aula pensadas para a finalidade exclusiva de ensinar; a organização do tempo diário (que se estendia “da manhã à noite”) era em função do aluno; a casa da comunidade se tornava um espaço próprio para professores religiosos; os textos atendiam às carências dos alunos e às necessidades dos Irmãos; as atitudes e comportamentos nas tarefas diárias se assumiam sob a ótica da fé e do zelo.

Era por meio dos discursos, falados ou escritos, que eram explicitadas as concepções de vida e as decisões tomadas, e descritos ou questionados os modos de viver. Em outras palavras, delineavam os traços identificadores do Irmão e da sociedade que constituíam. Esses discursos, impressos ou manuscritos, foram redigidos por João Batista de La Salle com finalidades diferentes, em tempos diferentes e seguindo processos também diferentes. Entre os discursos escritos se encontra a Regra dos Irmãos das Escolas cristãs.

Do artigo 1 da Regra original, a atual Regra, no artigo 152, resgata literalmente a citação: “este Instituto é de

Instituto: reconhecimento oficial por sua existência em dedicação à educação dos mais humildes

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7MARÇO 2017

grandíssima necessidade”. No texto das origens, o artigo continua apresentando a razão dessa necessidade: porque os pais, por diversas razões, não podem instruir seus filhos e dar-lhes educação honesta e cristã. Aqui deve-se entender “instruir” como ensino da doutrina cristã, “honesta” segundo as regras de boa educação da época, “cristã” como vivência das práticas do Evangelho.

A regra atual também justifica a “grandíssima necessidade” elencando os grupos e as realidades em que se manifesta essa necessidade ( jovens, pobres, mundo, Igreja), explicitando de que tipo de necessidade se trata: testemunho e ministério dos Irmãos.

Nas origens, a afirmação de “grandíssima necessidade” não foi resultado de uma intuição, seja da parte dos primeiros Irmãos, seja da parte de La Salle. Na medida em que a escola lassalista foi criando identidade própria e consolidando sua contribuição para a sociedade, La Salle e os primeiros Irmãos foram constatando que passaram a ser uma resposta bem concreta e inovadora a um problema, também concreto, embora antigo: as crianças pobres se encontravam “afastadas dos meios de salvação”. Na escola lassalista de então, as crianças aprendiam “a bem viver”, recebendo a educação que “lhes convinha”.

Essa constatação passava por uma dupla atitude de contemplação existencial: a do Deus que “quer a salvação de todo e que todos cheguem ao conhecimento da verdade” (conforme escrito na primeira Meditação para o Tempo de Retiro) e a das crianças pobres, alijadas desse projeto de Deus e poderiam encontrar na escola alguma esperança de uma vida mais digna e melhor. Atrás das crianças, os pais, impotentes para propiciar essa esperança aos filhos.

Essa constatação acabou por ser escrita tanto na Regra como nas Meditações para o Tempo do Retiro. No primeiro discurso, a definição de um aspecto essencial do Instituto que vinha surgindo. No segundo discurso, a proposta de reflexão durante o retiro anual, quando os Irmãos se reuniam para refletir sua história vivida no último ano, trazer ao coração de Deus os alunos e como os tinham tratado, pensar as atitudes a serem assumidas com maior fé e zelo mais ardoroso no ano que se aproximava.

Olhando a trajetória percorrida por aquele grupo de professores e daquele sacerdote, muito singular dentre os seus pares, percebe-se como esse processo de construção de uma resposta às necessidades que a sociedade manifestava foi doloroso, entremeado de resistências internas e externas, alvo da perseguição dos que percebiam nessa proposta um perigo de transtornar o modo de ser, o qual entendia que a cada um cabe o lugar que por nascença

(ou destino) lhe cabia. Era difícil admitir que os pobres mereciam aceder ao conhecimento, comportar-se com boa educação, respeitar espaços e pessoas, obedecer sem perder a dignidade, entender os significados da boa nova de Jesus na língua em que tinham nascido.

Isso os Irmãos e La Salle foram fazendo, avançando no ritmo possível para consolidar a obra que iniciara como um grupo de professores, passara a uma comunidade de escolas cristãs, avançara para ser uma Sociedade das Escolas cristãs, era um Instituto existindo para a educação dos pobres e, no devido tempo, receberia o reconhecimento oficial da Igreja e do Estado.

A determinação dos últimos Capítulos Gerais em manter no texto da Regra a mesma expressão quanto à necessidade, também não é fruto de uma intuição de algum ou de alguns capitulares. Nem questão de inspiração a partir de alguma iluminação. O fato de o Capítulo reunir representantes de todos os lugares onde está o Instituto, com os mais variados tipos de obras educativas e os mais diferentes tipos de enculturação, produz na mente e no coração desses Irmãos, a percepção de se estar preenchendo uma parte das carências existentes nas pessoas e nas comunidades. Reiteradamente os relatórios oficiais, assim como os relatos informais, dão conta dessa presença atuante e significativa do Instituto em lugares tão diversos entre si quanto são diversas as manifestações culturais de nosso tempo.

Do mesmo modo que nas origens, a convicção da “grandíssima necessidade” se fundamenta nas experiências vividas pelos Irmãos e comunidades dos Irmãos atentos e proativos com respeito às pessoas (crianças, jovens e adultos) que buscam a obra lassalista. Do mesmo modo que nas origens, há um outro fator fundamental: a fé, essa atitude existencial que leva os Irmãos a admitirem que essa continua sendo uma obra de Deus. Essa é uma dimensão herdada de La Salle e dos primeiros Irmãos que precisamos não deixar se esvair nesse contexto de mundo que se tem mostrado volátil, permeável, individualista e cético. Iluminados pela experiência da dupla contemplação que nossos iniciadores fizeram: Deus quer... as crianças (e jovens, e adultos) precisam...

Diferentemente dos começos, a atual Regra acrescenta, no artigo 153, a figura dos Colaboradores. A presença desses nas obras lassalistas tem uma história que ultrapassa meio século. Essa história viu o crescimento tanto numérico quanto qualitativo. Na origem deveu-se à falta de Irmãos para atender os compromissos sempre mais complexos nas escolas ou outras obras. Paulatinamente essa presença substitutiva foi se tornando participativa e mais e mais colaborativa.

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8 REVISTA FRATERNITAS

Já a Declaração “O Irmão das Escolas Cristãs no Mundo de Hoje” – documento basilar na evolução do Instituto – de 1966 trouxe à tona a situação com que a realidade lassalista se deparava. Ela já tocou no assunto da colaboração entre Irmãos e leigos, constando o que acontecia em todas as obras do Instituto. De lá para cá muitas reflexões e muito debates aconteceram em todas as latitudes e em todas as instâncias organizacionais, sem poder computar as reflexões e debates no interior de cada grupo lassalista.

Também não seria fácil mensurar o que se passou na cabeça de cada Irmão e de cada colaborador no exercício diário da tarefa que se tornava cada vez mais comum. A própria palavra para designar os lassalistas que não pertencem canonicamente ao Instituto sobre idas e vindas. Nem se tem certeza que a expressão ora utilizada (leia-se: Colaborador) terá longa duração.

Na verdade, há muito a avançar nessa reflexão e nas deliberações decorrentes. O Irmão tem sua identidade balizada por três dimensões constitutivas: missão, consagração, vida comunitária. Até onde se percebe, tem sido consistente a colaboração no que se refere à missão. Mais além, até, do que a simples colaboração, haja vista que os colaboradores assumem mais e mais funções, cargos, compromisso que antes eram exclusividade dos Irmãos. Quanto à consagração, sempre se pode pensar que a dos Irmãos, sendo uma extensão e um aprofundamento da consagração batismal, tem similitude com a do colaborador leigo. Mas isso quando se lida apenas com a fé católica. Ora, mais e mais vemos aderindo à missão lassalista, pessoas de outras crenças, de outras religiões, sem religião até. Sem excluir alguns que se manifestam como ateus, mas capazes de atitudes e posturas que não ferem os princípios humanos fundamentais. E quanto à vida comunitária? Tem havido experiências em alguns lugares do Instituto de “comunidades mistas”. Confesso que não

Ultrapassando barreiras, La Salle e os Primeiros Irmãos construíram novos espaços e tempos de comunidade e de escola

tenho informações sobre o modo como funcionam e se isso atende ao que corresponde tanto à dimensão da vida do Irmão quanto ao desejo do colaborador leigo.

Retomando o artigo 153 da Regra, veja-se o que ele expressa.

Em primeiro lugar, ela afirma tratar de um desejo dos Irmãos. A expressão máxima do Instituto diz que os Irmãos, no fundo de seu coração, alimentam essa perspectiva de tornar cada vez mais realidade essa parceria com os demais colaboradores. Um desejo é algo que se constrói com consciência e com vontade. É ato intencional, ao mesmo tempo racional e emocional. Não se nasce com desejos, nem foi descoberto o gene específico que desenvolve naturalmente algum tipo de desejo. A perspectiva referida nesse artigo da Regra quer dizer que o Irmão deve desenvolver a capacidade de desejar atuar junto com os Colaboradores para serem criativos nas respostas que devem dar enquanto indivíduos e enquanto grupo organizado, que na Província chamamos “comunidade educativa”, e na própria entidade provincial. Por sua vez, as respostas a serem buscadas devem ser “criativas” (palavra muito utilizada atualmente) que supõe algo novo a ser criado, que pressupõe a possibilidade de sair do que sempre se fez. (Podemos volver o olhar ao “novo” que os primeiros Irmãos e La Salle ofereceram em seu tempo). A Regra prossegue apontando dois direcionamentos, as necessidades educativas e espirituais dos jovens, e um foco em particular, os mais vulneráveis.

O Irmão Superior Geral destacou entre os dois avanços que se introduziram nas últimas versões da Regra “a missão educativa que partilhamos com nossos Colaboradores”. É nesse horizonte – partilha da missão entre Irmãos e Colaboradores – que se vislumbra a vitalidade do Instituto e seu futuro.

Se, nas origens, as “grandíssimas necessidades” do mundo e da Igreja (das pessoas que os constituem), era responsabilidade e compromisso dos Irmãos, hoje elas são partilhadas, de forma que a missão educativa, qualquer que seja a maneira como ela é exercida, deixa de ser propriedade dos primeiros (como foi, durante muito tempo, considerada) para não ser posse de ninguém. É plano de Deus ao qual, livremente, os lassalistas devem se inserir e abraçar.

Dito dessa forma, parece ser uma tarefa simples. Mas não é. Muito há que se avançar ainda, cada categoria com suas especificidades, e as duas juntas para efetivar o que dela se espera: que as necessidades sejam atendidas, que todos os envolvidos tenham “acesso aos meios de salvação”. Não é positivo que tenhamos tanto a fazer nesse percurso de manter vivo e atual o Instituto?

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9MARÇO 2017

La Salle inspirou e inspira muitos alunos e educadores. Por meio de sua vida e obra, mantemos viva sua missão. Essa ligação reforça um vínculo que nos impulsiona a

trabalhar pela educação e pela formação e que vem sendo fortalecido há mais de 300 anos nas inúmeras frentes que a missão lassalista assume na Província e no mundo.

Foi graças ao carisma que o legado pedagógico e espiritual lassalista não se manteve restrito a um grupo. Ao contrário, expandiu, chegou até nós, e mais educadores acabaram unindo-se a missão de educar que faz com que cristãos e não cristãos assumam o carisma e a espiritualidade lassalistas como estilo de vida, inspirando diferentes configurações de associação, em nível de Instituto e também na Província La Salle Brasil-Chile (cfe. Circular 461, de setembro de 2010, do Ir. Álvaro Rodríguez e seu Conselho).

Compreender isso faz com que possamos ampliar nossos horizontes dentro da missão educativa. Missão que se concretiza no serviço a crianças e jovens, em especial aos que mais necessitam da nossa atenção. Hoje vivemos em um mundo complexo, com avanços, facilidades, mas também com sinais de solidão, abandono, desesperança, exclusão, individualismo. Enfrentamos muitas e novas exigências para ser e fazer diferença na vida das pessoas e na sociedade. Mas essas exigências são fontes inspiradoras para a nossa missão...

Ao lidarmos com novos dinamismos, é o carisma que nos impulsiona a realizar bem nossa missão. Carisma é uma aproximação que fazemos do Evangelho. É o nosso serviço às pessoas, à sociedade, à Igreja, ao mundo. Como Lassalistas, estamos comprometidos com o carisma, direta

Os Irmãos continuam sendo fonte de inspiração para todos os LassalistasIrmão Valdir Leonardo da SilvaDiretor da Escola La Salle Pelotas/RSLiliane Dutra da SilvaPorto Alegre/RS

ou indiretamente, por meio da missão que realizamos nas mantenedoras, nas escolas da província ou nos demais distritos do mundo.

Conforme os dados do Instituto, estamos em meio a um decréscimo no número de Irmãos. Essa realidade ocorre também em outras congregações. Ao mesmo tempo em que a atuação de religiosos diminui, observamos que se abrem portas para a partilha de carisma. Nessa partilha, verificamos o crescimento do protagonismo dos leigos.

Na missão lassalista, assim como os religiosos, os leigos estão igualmente convidados a serem coração, memória e garantia do carisma, dentro de sua vocação específica. Com isso, percebemos que há espaço para todos na missão – Irmãos e leigos. E quanto mais o carisma estiver vivo, partilhado, aberto aos demais, mais irá crescer e produzir frutos em prol das pessoas, da sociedade, do mundo. Alguns movimentos, que já estamos vislumbrando, precisam ser estimulados dentro das instituições religiosas e de organismos da Igreja, favorecendo a partilha de carismas.

Nesse sentido, a CRB Nacional, para 2016-2019, delineou como sua 4ª prioridade a Intercongregacionalidade, ou seja, fomentar a partilha de Carismas dos(as) Consagrados(as)

A árvore representa a Igreja, na qual estão presentes as diversas formas de Vida Consagrada e a diversidade dos carismas, representados pelas folhas

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10 REVISTA FRATERNITAS

entre si e com leigos(as), numa eclesiologia sinodal de comunhão e de corresponsabilidade, incentivando ações intercongregacionais e em redes, o protagonismo das Novas Gerações e a promoção geracional.

A partir daí, a CRB/RS, dentre outras, assumiu como estratégia: Intensificar a partilha do carisma congregacional com os leigos. Isso envolve todas as congregações. Dentro desse espírito é que, desde 2001, ocorre o Seminário Partilha de Carisma, da CRB-Regional/RS, reunindo religiosos e leigos de diversas congregações religiosas. Esse Seminário é um convite concreto à união, à abertura, à expansão dos dons que as congregações recebem de seus fundadores. Nele, os religiosos e leigos, provenientes dos diversos carismas das congregações religiosas, partilham sua vida e missão.

Qual a missão do leigo nas congregações religiosas? É possível que o conhecimento do carisma institucional impulsione a atuação do leigo nas instituições? são

perguntas recorrentes nos encontros. O IX Seminário de 2015, que foi também o 1º Seminário Inter-regional (com a participação das regionais da CRB do RS, SC, PR), trouxe à reflexão o tema “A missão das Associações Laicais na vivência dos Carismas das Congregações Religiosas frente aos desafios atuais”, enfatizando justamente a importância de um itinerário formativo para os leigos nas congregações. A cada seminário, nos momentos de reflexão, os leigos expressam essa necessidade e também a de criar e reforçar laços de fé, amor, união. Em suma, querem encontrar espaço para viver a espiritualidade nas congregações com religiosos encantados com a missão que escolheram.

A partilha de carisma nas congregações se manifesta em um serviço. Isso acontece por meio de diversos níveis que abrangem desde a missão educativa, no sentido amplo, as participações em grupos eclesiais, até as comunidades lassalistas intencionais.

As comunidades intencionais é um movimento de participação livre que surge dentro das congregações como forma de dar continuidade ao sonho de tantos fundadores e fundadoras de congregações religiosas que atuaram em função do carisma. Na Província La Salle Brasil-Chile, essa vivência tem dado passos desde 2012, quando houve a criação de 04 grupos de associação para o carisma lassalista. No Chile, ocorre há mais tempo com as comunidades Signum Fidei. Inspirados no Projeto para organização da Comunidade Intencional, apresentado pelo Ir. Edgar Nicodem, percebemos que nossos desafios são ainda grandes, mas a fraternidade, a fé e o serviço nos ajudam a caminhar, a levar adiante o sonho de La Salle que também é o nosso sonho: através da educação construir uma sociedade mais humana, justa e solidária.

A formação, o acompanhamento, o apoio mútuo continuam sendo elementos essenciais para continuarmos sendo fonte de inspiração uns dos outros. Formação sistemática e orientada para a atuação nas transformações sociais. Dessa maneira, poderemos vislumbrar o crescimento de parcerias concretas entre Irmãos e leigos, de modo que possamos cumprir com mais leveza uma missão comum a todos: seguir Jesus Cristo, comprometendo-nos com o serviço do Reino.

Jesus, nos seus ensinamentos, não somente apontava caminhos para as pessoas, mas também caminhava com elas. E esta é a grande lição que Ele nos deixou e que pode ser aplicada para a pergunta acima. Com uma relação de parceira, de entreajuda entre Irmãos e leigos podemos dar respostas mais efetivas, abrindo espaços para o crescimento pessoal, profissional, emocional, desenvolvendo nossos potenciais para atuarmos em prol da missão.

Jesus, nos seus ensinamentos, não somente apontava caminhos para as pessoas, mas também caminhava com elas

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11MARÇO 2017

Em sociedades como as nossas, intoxicadas pelo individualismo e pela falta de solidariedade,

desgarradas por violências de todo tipo, fragmentadas por ideologias e sórdidos jogos de poder, necessitamos de um “ambiente ecológico” que possibilite oxigenar uma realidade profundamente contaminada e desconfiguradora da dignidade humana. É nesse contexto que emerge a importância de uma

fraternidade configuradora de relações verdadeiramente humanizadoras, por meio das quais se possam cultivar a amizade e sentir diariamente a acolhida, a solidariedade e a alegria de viver.

Um dos clamores que o Papa Francisco constantemente faz à Igreja é a necessidade de globalizar a fraternidade superando a indiferença. Aos Superiores Maiores da VRC da Itália, no dia 7 de novembro de 2014, Francisco afirma que “um sinal claro que a vida religiosa está chamada a dar hoje é a vida fraterna. Por favor, que entre vós não haja o terrorismo das bisbilhotices! Afastai-o! Que haja fraternidade”. Para fazer frente a esse terrorismo de intrigas, o Sumo Pontífice afirma que a Vida Consagrada pode ajudar a Igreja e a sociedade em seu conjunto, através do testemunho da fraternidade, a mostrar que é possível viver como irmãos em meio à indiferença, conflitos, tensões e exclusões da sociedade globalizada. Fazer circular a linfa da fraternidade, segundo o Sumo Pontífice, é a missão da Vida Religiosa Consagrada. Promover a fraternidade é um dos elementos constitutivos da nossa vocação de Religiosos Irmãos.

Na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, o Papa Francisco conclama os cristãos a “não se deixarem roubar o ideal do amor fraterno”1. Ele pede de modo especial um testemunho de comunhão fraterna que se torne fascinante e resplandecente2. O apelo do Papa Francisco dirigido a todos os cristãos é particularmente relevante para os Religiosos Irmãos que se comprometem por vocação e missão a testemunhar

o dom da fraternidade. Como o nosso testemunho pode ser fascinante e resplandecente para os pobres e jovens de hoje?

O documento Identidade e Missão do Religioso Irmão na Igreja, da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, oferece uma excelente oportunidade para aprofundar a dimensão fraterna da nossa vocação do religioso Irmão na Igreja e na sociedade. Considerando-se a questão apenas do ponto de vista quantitativo, tanto na Igreja quanto na sociedade, a nossa presença e relevância é realmente insignificante. Somos pouco mais de 50 mil Irmãos no mundo, segundo o Anuário Pontifício 2015. Por isso, o valor e a relevância de nossa vocação não podem depender da quantidade, mas precisam estar relacionados à qualidade do nosso testemunho e “modus operandi”. Caso contrário, corremos o risco de ser um dos tantos produtos, quem sabe inusitado, do mercado atual. A nossa relevância vai depender basicamente da qualidade evangélica do nosso testemunho e “modus operandi”.

Em nossas considerações e reflexões sobre a dimensão fraterna da vocação do Religioso Irmão, vamos procurar explicitar a relação entre fraternidade e missão, analisar o dom da fraternidade como nosso maior tesouro e, mesmo na fragilidade, destacar o poder transformador da fraternidade, colocar em evidência que a nossa vocação é uma vocação de fronteira e, finalmente, concluir com um chamado a sermos sentinelas de fraternidade.

Fraternidade e missão

Segundo o Ir. Donato Petti, o Religioso Irmão partilha o dom da fraternidade em comunidade que se explicita em relações harmônicas entre os Irmãos. Essas requerem conhecimento mútuo, aceitação, diálogo, estima, apoio recíproco, compreensão, perdão, discernimento comunitário da vontade de Deus, colaboração na missão apostólica, abertura às necessidades da Igreja e do mundo, especialmente aos mais necessitados3. Essa partilha do dom da fraternidade ocorre por meio de uma gama significativa de matizes que, por sua vez, enriquece a vivência fraterna e a missão.

Não nos deixemos roubar o dom da fraternidade: seguir Jesus Cristo, como Religioso Irmão Irmão Edgar Genuino NicodemProvincial da Província La Salle Brasil-Chile

1 Evangelii Gaudium, nº 101. 2 Cf. Evangelii Gaudium, nº 99.3 Cf. Petti, Donato, Identità e missione del religioso fratello nella Chiesa, in Rivista Lasalliana (2016) 2, p. 161.

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12 REVISTA FRATERNITAS

Considerando o relato do evangelista Marcos4, podemos constatar que Jesus sobe a montanha para constituir o grupo de apóstolos que o acompanhariam mais de perto, destacando duas dimensões fundamentais. Em primeiro lugar, para estar com ele, e em segundo lugar, para serem enviados em missão. Cada apóstolo é chamado pelo seu nome, suas relações, compromissos e limitações. Não são santos, mas homens dispostos a assumir um novo itinerário de vida, no qual vão comungar a mesma sorte e destino daquele que os chama. Por isso, “seguir Jesus significa ser chamado à intimidade com ele, a um relacionamento profundo de fé e contemplação, que leve a deixar-se cativar por sua pessoa e impregnar-se de seu modo de ser e realizar a missão do Reino encomendada pelo Pai. Mas, o seguimento não termina aí. Seguir é prosseguir, isto é, continuar seguindo, com ele e como ele, sua própria missão: Como o Pai me enviou, eu também vos envio” 5.

O dom da fraternidade: nosso maior tesouro e nossa maior fragilidade

Em diversas ocasiões, o Ir. Álvaro Rodriguez Echeverría, antigo presidente da União de Superiores Gerais, afirmava que a fraternidade é o maior tesouro que podemos oferecer à Igreja e à sociedade. Ele não se cansava de destacar boas experiências nas quais a vida fraterna, vivida em comunidade, constituía realmente um diferencial da presença dos Religiosos Irmãos, particularmente em contextos pobres, periféricos, interculturais e inter-religiosos. Para muitos jovens e mesmo pessoas de outras religiões, o contato com a Igreja se dará unicamente por intermédio da presença e testemunho dos Irmãos. Por isso, como Irmãos somos chamados a ser rosto humano da Igreja. Quem sabe, em uma realidade cada vez mais secularizada, como a nossa, o contato que as novas gerações podem ter com o cristianismo e com a comunidade eclesial será através do testemunho e das obras dos religiosos/as, entre eles, os Irmãos.

Contudo, também precisamos ter consciência de que a fraternidade pode ser uma das nossas maiores fragilidades ou pobrezas. A título de exemplo, podemos mencionar a famosa manifestação das novas gerações no Congresso da Vida Religiosa, realizado em 2004, em Roma. Uma das afirmações provocativas das novas gerações foi: “estamos fartos de vida em comum, mas sedentos de vida comunitária”. Continuando diziam os jovens: “Temos sede de vida comunitária como expressão de relações afetivas e fraternas, como lugar de partilha da fé e dos carismas, ou seja, partilhar o que somos, o que sentimos e o que sonhamos”6.

Talvez uma das nossas piores tentações quando abordamos o tema da fraternidade sejam as ilusões grupais. Segundo Carlos Dominguez Morano7, as ilusões grupais são fantasias criadas que alimentam o desejo de uma comunidade perfeita, plenamente harmônica, propondo eliminar toda e qualquer diferença. Provavelmente boa parte dos documentos institucionais sobre a fraternidade sejam desse tipo. Na realidade, não passam de construções idealistas mantidas através de moralismos que, na prática, geram mais frustração e desânimo do que confiança, compromisso e alegria. O caminho formativo viável é partir do mundo real para o ideal, buscando com a maior objetividade possível e empenho configurar itinerários que nos aproximam dos ideais do Evangelho. A perfeição não é um ideal cristão. No centro da vida cristã está o amor, como tão bem demonstrou o Papa Bento XVI na encíclica “Deus caritas est”.

O poder transformador da fraternidade

Vivemos em uma sociedade violenta, competitiva e marcada por toda sorte de inequidade social. Diante dos sórdidos jogos do poder econômico e da política atual, poderá a fraternidade continuar sendo relevante ou ter um poder transformador? Ou como Religiosos Irmãos integramos o grupo daqueles que apostam em processos de transformação que já não são mais eficazes e na prática irrelevantes? Essa questão não é nova na vida da Igreja. Um interessante caso podemos encontrar na carta de Paulo a Filemôn, em que ele intercede por Onésimo. O que está em jogo é a eficácia do cristianismo na transformação de relações sociais historicamente construídas, como é o caso da escravidão, porque segundo a carta aos Gálatas, “para liberdade foi que Cristo nos libertou, permanecei firmes e não vos submeteis de novo ao jugo da escravidão” 8.

Considerando o pedido de Paulo a Filemôn podemos constatar que ele pede por seu filho, gerado na prisão, e que agora o envia não mais como escravo, mas como seu próprio coração9. Paulo revela o desejo de mantê-lo, mas não quer fazer nada sem o consentimento do seu coirmão em Cristo. Por isso, pede a Filemôn que o receba “não mais como escravo..., mas como irmão querido”10. E continua Paulo: “Portanto, se me consideras teu amigo, recebe-o como se fosse a mim mesmo. E se ele te causou algum prejuízo ou te deve alguma coisa, põe na minha conta. Eu, Paulo, escrevo do meu próprio punho, eu pagarei”11 (Fil 17 – 19).

4 Cf. Mc 3, 13 – 19. 5 Rodriguez, Álvaro, Carta Pastoral 2003 – A Vocção do Irmão Hoje, p. 12. 6 Guerrero, José María, Ustedes tienen un gran historia que construir, en. Memorias Congreso CLAR 50 Años – Aportes de la Vida Religiosa a la Teología Latinoamericana y del Caribe. Hacia el Futuro, Ediciones CLAR, Bogotá, 2009, p. 379. 7 Cf. Morano, Carlos Domínguez, Afetividade, Espiritualidade e Mística, Publicações CRB, Rio de Janeiro, 2007, p. 51 – 60. 8 Gal 5,1. 9 Fil 12. 10 Fil 16. 11 Fil 17 – 19.

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13MARÇO 2017

Transparece claramente na Carta de Paulo a Filemôn o poder transformador da fraternidade. Paulo sente a necessidade de enviar Onésimo a Filemôn. A questão fundamental é encaminhá-lo na condição de escravo ou como irmão liberto em Cristo. Enviá-lo como escravo seria negar a eficácia do Evangelho. Paulo apela para a sua condição de amigo para mudar a condição de Onésimo. Revela-se um amigo que se compromete com Onésimo e assume os encargos gerados pela mudança. Compromete-se pessoalmente, escrevendo de seu próprio punho. Encontramos na atitude de Paulo um novo horizonte que revela o quanto os princípios evangélicos, no caso da relação liberdade/escravidão, são eficazes na transformação das relações sociais, instaurando novos horizontes e dinamismos de fraternidade.

Quem sabe, a metáfora das abelhas pode ser iluminadora para destacar o poder transformador da fraternidade na Igreja e na sociedade. As abelhas são insetos frágeis e sensíveis às mudanças climáticas, mas fundamentais para os ecossistemas. Como Religiosos Irmãos somos poucos e provavelmente no futuro seremos ainda menos. Entretanto, sem os Irmãos a Igreja provavelmente perderia uma de suas vocações mais características e a sociedade uma de suas manifestações mais sensíveis para recordar que a fraternidade é um valor fundamental e inegociável.

O dom da fraternidade nas prioridades da CRB Nacional

Uma das prioridades da CRB 2016 – 2019 são as “relações humanas e solidárias”. Concretamente a prioridade número 2 propõe “intensificar a cultura do encontro para que as relações comunitárias, intergeracionais, interculturais, intergeneracionais sejam circulares, afetivas, solidárias, vivendo os valores da comunhão, gratuidade, proximidade e misericórdia”. É importante destacar que a Assembleia Geral da CRB reconheceu a dimensão fraterna com um dos clamores da VRC a ser considerado prioritariamente. Isso significa, entre outros aspectos, que a VRC necessita da retomada e aprofundamento desse elemento fundamental da sua identidade para evitar uma das contradições performativas mais relevantes. Esse desafio afeta inevitavelmente os Religiosos Irmãos, tanto na sua identidade quanto na sua missão na Igreja e na sociedade.

Atualmente podemos identificar uma tensão entre o indivíduo e a comunidade. Nos casos mais extremos, o sentido de pertença praticamente desaparece. Para falar em sentido de pertença, é importante considerar uma “estabilidade minimamente suficiente” que implica cuidados recíprocos, partilha, acolhimento, reconhecimento e hospitalidade. Entrar em um grupo

é como entrar em um mundo novo, adquirindo um novo ser em uma nova comunidade12. Como Religiosos Irmãos, precisamos recuperar essa “estabilidade minimamente suficiente” para que as nossas comunidades sejam espaços significativas para cultivar e viver a fraternidade.

Uma vocação de fronteira

Há alguns anos, Jon Sobrino, ao analisar o tema da consagração e votos, afirmava que “os votos, por sua estrutura, permitem e exigem viver a radicalidade do seguimento em regiões que não são normais. Continuando com a metáfora geográfica, poderíamos dizer que os votos permitem e exigem que o religioso esteja presente no deserto, periferia e fronteira”13. Para Sobrino, estar no deserto significa estar aí onde não há ninguém, como foi, por exemplo, a presença dos religiosos Irmãos nas áreas de educação e saúde. Estar na periferia significa não estar no centro dos jogos de poder. E, finalmente, estar nas fronteiras é estar onde é mais necessário experimentar, imaginar, criar, onde o risco é maior e a atividade profética é fundamental para denunciar a infidelidade e evitar a predominância do instituído sobre o instituinte nas instituições.

Reiteradamente o Papa Francisco convoca a Igreja a caminhar em direções às periferias existenciais da humanidade, caracterizada pela urgência de curar feridas, animar corações e pela proximidade com os que são pobres, excluídos e vulneráveis. Como Religiosos Irmãos, estamos, assim como a Vida Religiosa Consagrada, no coração da Igreja, como um elemento decisivo para a sua vida e missão. Pelo fato de não estarmos nos centros de poder da sociedade nem nas estruturas hierárquicas, temos uma liberdade que nos permite estar nas periferias existências onde a vida mais clama e requer uma presença diferenciada.

Iluminador para a nossa vocação de fronteira pode ser a Carta a Diogneto:

“Os cristãos, segundo a Carta a Diogneto, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e à especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casas gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida

12 Cf. Conferencia de Frei Luís Carlos Susin proferida na durante a 24º Assembleia Geral Eletiva da CRB, disponível na página Web da CRB.13 Sobrino, Jon, Resurrección de la verdadera Iglesia – Los pobres lugar teológico de la Eclesiología, Sal Terrae, Santander, 1984, p. 335.

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14 REVISTA FRATERNITAS

admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, e cada pátria é estrangeira....Estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, mas com sua vida ultrapassam as leis; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida”.

Uma vocação de fronteira requer viver segundo o espírito, assumir a condição de forasteiro, ultrapassar com o testemunho de uma vida admirável o normativo e estar onde é mais necessário criar, inventar e correr riscos. Como Religiosos Irmãos, estamos livres de amarras institucionais para viver a liberdade para a qual Cristo nos libertou. A nossa missão nos permite evangelizar através da presença em lugares onde os métodos tradicionais encontram muita dificuldade. Através dos nossos serviços podemos ser uma porta de entrada da Igreja na construção do Reino de Deus.

Sentinelas de fraternidade

Há alguns anos o filósofo italiano Roberto Bobbio, falando da função da filosofia, dizia que a missão dela era humilde, muito simples, mas necessária. A função da Filosofia, dizia Bobbio, é “de ser sentinela, mais do que ser guia. A sentinela tem a missão de escutar o inimigo se aproximar, venha de onde vier, para dar o alarme, antes que seja tarde”14. Por analogia, podemos dizer que a missão do Religioso Irmão na Igreja e na sociedade é de ser sentinela de fraternidade. Temos um anúncio muito simples, mas fundamental para a Igreja e a sociedade. Sem a fraternidade, a sociedade se transforma em um caldeirão em que irão imperar a violência e a inequidade social, em que as principais vítimas serão os pobres excluídos e vulneráveis.

Se verdadeiramente assumirmos ser sentinelas, como Religiosos Irmãos, tanto na Igreja quanto na sociedade, podemos dizer que estamos vivendo um tempo de graça, um momento de transição para reencontrar o coração da nossa história carismática, centrada no Evangelho. É um tempo que nos impulsiona a retornar à liberdade, à audácia e à criatividade da experiência originária e considerá-la como uma oportunidade de conversão pessoal e

institucional, caminhando em direção ao mundo, aos mais pobres e mais vulneráveis.

Quem sabe, uma das nossas tentações mais frequentes seja buscar soluções individuais para questões que na realidade são comunitárias ou coletivas. Talvez nunca sintamos tanto a falta de comunidade ou de fraternidade quando nos estressamos em busca de soluções individuais para os problemas que na realidade são comunitários ou coletivos. Se existe um espaço para a fraternidade neste mundo marcado pelo individualismo, ele somente pode emergir de uma comunidade construída a partir da partilha e do cuidado recíproco. Uma comunidade que atenda e se responsabilize com a igualdade de direitos e se comprometa com a sua efetiva realização15.

Dom Pedro Casaldáliga, em uma de suas poesias afirma que “nós, aqui na Terra, vamos mal vivendo, que a cobiça é grande e o amor pequeno. O amor divino é mui pouco amado e é flor de uma noite o amor humano. Metade do mundo definha de fome e a outra metade de medo da morte. A sábia loucura do santo Evangelho tem poucos alunos que a levem a sério. Senhora pobreza, perfeita alegria, andam mais nos livros que nas nossas vidas”16. Assumir a fraternidade como opção e missão de vida é comprometer-se com a loucura do Evangelho para que o amor seja grande e encontre eco nos mais diversos âmbitos em que atuamos como Religiosos Irmãos. Para isso, será fundamental compreender a nossa opção de vida a partir da lógica do dom, partilhando o que somos, com a finalidade de enriquecer a Igreja e a sociedade, tornando-a mais bela, autêntica, verdadeira e atraente. O nosso futuro não será construído por soluções imediatas, aparentes ou mágicas, como, por exemplo, construir muros, difundir preconceitos ou buscar levar vantagem em tudo. Ele dependerá cada vez mais da nossa capacidade de diálogo, superação de preconceitos e construção com realismo e objetividade de uma fraternidade possível.

Conclusão

Após discorrer sobre a partilha do dom da fraternidade, como um elemento fundamental da vocação e missão do Religioso Irmão na Igreja e na sociedade, termino citando a invocação mariana de Dom Hélder Câmara, porque ela expressa bem o sentido e a missão de ser Irmão hoje: “Nada de escravo de hoje ser senhor de escravo de amanhã. Basta de escravos. Um mundo sem senhores e sem escravos. Um mundo de irmãos. De irmãos não só de nome e de mentira. De irmãos de verdade, Mariana”17.

14 Citado por Antiseri, Dario, Un mondo secolarizzato basta a se stesso? In Rivista Lasalliana (2016)2, p. 193. 15 Cf. Bauman, Zigmunt, Comunidad – En busca de seguridad en un mundo hostil, Siglo XXI Editores, Ma-drid, 2009, p. 146. 16 Casaldáliga, Dom Pedro, Orações da caminha, Verus, Campinas, 2005, p. 64-65. 17 Disponível em pensador.uol.com.br/frase/NTczMTcz (02/10/2016).

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15MARÇO 2017

Projeto Reconfiguração da Formação Inicial

As discussões sobre a necessidade de Reconfiguração da Formação Inicial iniciaram

em 2012, quando um grupo de Formadores participou do Programa de Atualização de Coordenadores da Pastoral Vocacional e Formadores, promovido pela RELAL. Esse programa teve a duração de três anos e um de seus principais objetivos foi a revisão dos Planos de Pastoral Vocacional e de Formação

dos Distritos da Região.

Todo o processo de repensar a formação culminou com a publicação do documento Perfil do Irmão Latino-Americano e Caribenho e do artigo Itinerários Formativos que também está disponível no site da RELAL. A partir dessas reflexões e da própria noção de itinerários formativos, a formação dos Irmãos na Província La Salle Brasil-Chile tem sido pauta de discussões e aprofundamentos em diversas ocasiões.

Em diversas reuniões da Equipe de Formadores da Província La Salle Brasil-Chile, houve a retomada e aprofundamento dos documentos da RELAL, do Instituto e da Igreja. Esses documentos forneceram muitos subsídios para a elaboração de documentos de orientação para a Formação na Província.

Com a revisão do Plano de Formação dos Irmãos, em 2013, foi compilada uma primeira versão dos programas formativos das etapas da Formação Inicial, em caráter ad experimentum.

Na sequência das atividades, o Projeto Provincial de 2015 incluiu como uma de suas áreas estratégicas a Vida Religiosa Apostólica, apresentando o seguinte objetivo: Revitalizar a mística de ser Irmão atualizando a síntese original e única da Vida Religiosa Apostólica, segundo a tradição lassalista. Esse objetivo é a inspiração maior para o processo de reconfiguração da formação inicial e de outras ações formativas tanto para Formandos quanto para Irmãos.

Ainda no ano de 2015, com o foco de aprofundar o debate, a Comissão de Formação e Vida Consagrada organizou três Painéis Formativos dentro das seguintes temáticas:

a) A Província como Agente Formador de Irmãos e Leigos;

b) A Mística de Ser Lassalista;

c) Partilha de Carisma.

Tais painéis contribuíram para a reflexão sobre a relevância da formação de Irmãos e Colaboradores, bem como para a necessidade de rever práticas e programas formativos, em nível de Província.

Além desses painéis formativos, um Grupo de Trabalho (GT) constituído basicamente pela Comissão de Formação e Vida Consagrada submeteu à aprovação do Conselho Provincial uma Política de Formação Acadêmica dos Irmãos. O documento teve como objetivo:

a) estabelecer critérios e normas para a formação acadêmica dos Irmãos;

b) integrar os projetos de estudos acadêmicos dos Irmãos e suas habilidades pessoais, com as necessidades da missão da Província e a fidelidade à missão do Instituto;

c) prever áreas de formação continuada dos Irmãos. Com essa Política, a Província reforçou seu compromisso de oportunizar uma formação que responda às atuais complexidades e às diferentes funções exercidas pelos Irmãos, como evangelizadores, educadores, supervisores, diretores, formadores e gestores.

No início de 2016, houve uma reflexão mais sistemática sobre a Formação Inicial, particularmente das Etapas do Postulantado e Noviciado. Sobre os estudos acadêmicos no Postulantado avaliou-se, dentre outras questões, que:

a) O curso de Teologia é inviável economicamente devido ao número insuficiente de alunos;

b) A titulação oferecida, de bacharel em Teologia não oferece habilitação ao Irmão para o exercício da docência em algumas regiões do Brasil;

c) Os Formandos chegam ao Postulantado em condições pouco adequadas para realizar o curso de Teologia;

d) O Curso favorece a desconstrução da fé ingênua dos Formandos, porém não logra a construção de novas sínteses para a vivência da fé cristã católica.

Essas reflexões sobre os estudos acadêmicos foram apresentadas em reunião do Conselho Provincial, em 10 de abril de 2016. Nessa ocasião, os Conselheiros solicitaram

Irmão Marcelo Cesar SalamiDiretor de Formação da Província La Salle Brasil-Chile

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16 REVISTA FRATERNITAS

que houvesse um processo de Reconfiguração de todas as Etapas da Formação Inicial até o Período de Votos Perpétuos. A partir da demanda elaborou-se um projeto com os seguintes objetivos:

a) Expressar uma leitura da identidade do Irmão a partir da vida da Igreja, do Instituto, da RELAL e da Província;

b) Fortalecer um horizonte comum de compreensão e ação para a Formação dos Irmãos;

c) Definir as matrizes de competências dos Trajetos Formativos;

d) Fortalecer, a partir da Formação Inicial, a mística do ser Irmão.

De abril a dezembro de 2016, foram realizadas inúmeras reuniões em vista do Projeto de Reconfiguração. Num primeiro momento, foram realizados estudos do cenário da Igreja, da Vida Religiosa Consagrada, do Instituto, da RELAL e da Província. Na continuidade dos estudos, buscou-se aprofundar o conceito de itinerários formativos, bem como clarificar um horizonte para a Formação do Irmão. Inspiraram as discussões o texto Indivíduo e Comunidade (CORREF); a Regra dos Irmãos das Escolas Cristãs; Retiro Provincial de 2016 (Regra: Nosso Itinerário de Vida); o Horizonte do Triênio 2016-2019 da CRB Nacional; Síntese do Congresso da Vida Religiosa Consagrada da CLAR, 2015 (Bogotá-Colômbia)

e publicações diversas sobre o tema das Habilidades e Competências. A reconfiguração dos processos formativos está sustentada nos seguintes critérios:

a) Itinerários Formativos;

b) Horizonte que sinalize a identidade e missão do Irmão;

c) Formação pedagógico-pastoral;

d) Espiritualidade integral e integradora;

e) Integração do itinerário pessoal e institucional;

f) Processos formativos e dinâmicas de acompanhamento mais existenciais;

g) Opção evangélica livre pelo Reino de Deus;

h) Desenvolvimento de competências e habilidades básicas para a vida em comunidade e o desenvolvimento da missão.

A Equipe de Formadores, com o apoio da Comissão de Vida Consagrada, elaborou os seguintes documentos:

a) Horizonte da Formação do Irmão (com base no Capítulo 1 da Regra dos Irmãos das Escolas Cristãs);

b) Referencial Conceitual da Formação (para consulta de Formandos e Formadores);

Na continuidade dos estudos, buscou-se aprofundar o conceito de itinerários formativos

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17MARÇO 2017

c) Matriz de Competências (habilidades, valores e atitudes);

d) Trajetos do Postulantado e do Noviciado (antigos programas formativos reformulados);

e) Instrumento para elaboração dos Itinerários Comunitário e Pessoal.

A partir de 2017, far-se-á, gradativamente, a implementação das mudanças e dos instrumentos elaborados para os Trajetos do Postulantado e Noviciado. Cabe salientar que os documentos supracitados ainda estão fase de elaboração.

Cabe salientar ainda que esse projeto continua em andamento, seguindo suas próximas fases em 2017 e 2018. Em 2017, a Equipe de Formadores e a Comissão de Formação e Vida Consagrada darão continuidade à elaboração dos trajetos (etapas) da Pastoral Vocacional, Aspirantado/Pré-Postulantado, Pré-Noviciado e Escolasticado que contempla uma matriz na qual estão expressas competências, habilidades, valores e atitudes. Como estrutura básica, o Trajeto está composto por ícone bíblico, horizonte, breve apresentação, marco

situacional, objetivo geral, objetivos específicos, matriz de competências, metodologia, acompanhamento, competências da comunidade formadora, avaliação, anexos e referências. Já no decorrer de 2018, o foco do Projeto estará direcionado ao período Pós-Escolasticado até o Período de Votos Perpétuos. Nessa fase, serão envolvidos diversos grupos de Irmãos, de modo que um enfoque participativo possa imprimir ainda maior consistência a esse Projeto de Província.

Até chegarmos a um PROJETO RECONFIGURAÇÃO DA FORMAÇÃO INICIAL, as diversas etapas de estudos e reflexões mostram que o maior desafio de todo o processo de construção não está na elaboração e divulgação de documentos. Mas sim na mudança em nossa forma de pensar e estruturar uma metodologia moldada por uma formação capaz de agregar maior sentido pessoal, comunitário e provincial.

Em um mundo em evolução constante e rápida, a formação se impõe como um imperativo categórico ante o qual cada Irmão, Comunidade e Província precisa assumir essa responsabilidade.

Nossa Regra recorda que “o Irmão deve, portanto, adquirir as competências necessárias em nível profissional e apostólico, desenvolver sua capacidade de viver em comunidade e de viver sua consagração” (Art. 99). Nesse sentido, a formação não deve ser vista somente como um processo individual. Ela diz respeito também ao grupo formado pela comunidade: “A comunidade estabelece plano efetivo e continuado para sua própria formação. Avalia-o como parte de seu projeto comunitário”. (R. 81.1). A comunidade é o lugar onde cada Irmão deve encontrar ajuda para seu crescimento humano e espiritual: “na comunidade, eles se ajudam a crescer humana e espiritualmente.” (R. 81). Em outras palavras, na comunidade ajudamos a formar e somos formados.

Horizonte sinaliza a identidade e a missão do Irmão

Referências

1º Capítulo Provincial da Província La Salle Brasil-Chile.

45º Capítulo Geral do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs.

Plano de Formação dos Irmãos.

Plano de Pastoral.

Plano de Pastoral Vocacional.

Política de Formação Acadêmica dos Irmãos.

Projeto Provincial.

Proposta Educativa Lassalista da Província La Salle Brasil-Chile.

Regra dos Irmãos das Escolas Cristãs.

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18 REVISTA FRATERNITAS

FLUXOGRAMA DAS PRINCIPAIS AÇÕES DO PROJETOReconfiguração da Formação Inicial

Instrumento para elaboração dos Itinerários

Comunitário e Pessoal

Elaboração dos trajetos nas

etapas seguintes

Matriz de Competências

Trajetos do Postulantado e

Noviciado

Horizonte da Formação dos Irmãos

Referencial Conceitual da

Formação

Itinerários Formativos

RELAL 2012/2014

Revisão do Plano de Formação dos

Irmãos 2013

Programas Formativos da

Formação Inicial 2013/2014

Mudanças na Formação inicial

Etapa:Postulantado

A Província como agente formador de

Irmãos e Leigos

Partilha de Carisma

A mística de ser Lassalista

Painéis Formativos2015

Projeto de Reconfiguração

das Estruturas da Formação Inicial

Itinerários Formativos Reflexões

apresentadas na Reunião do Conselho

Provincial

Reconfiguração em todas as etapas até

Votos Perpétuos

Curso de Teologia inviável

economicamente

Identidade do Curso está frágil

Formandos chegam com poucas condições

para o curso

Bacharel não habilita Irmão ao exercício

pedagógico

Curso faz uma dsconstrução da fé

ingênua

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SAUDADE

19MARÇO 2017

Com esperança e louvor a Deus pela convivência com Irmãos tão especiais, a Província La Salle Brasil-Chile despediu-se no 2º semestre de 2016 dos Irmãos

Beno Bonemberger (Arsênio João) e Silvino José Fritzen (Amadeu).

Irmão Beno Bonemberger partiu para a casa do Pai no dia 28 de novembro, com quase 100 anos de vida. Ele nasceu em Cerro Largo/RS, em 1917. Era considerado o decano da Província e irmão de sangue do Irmão Pedro Bohnemberger. Irmão Beno pertenceu ao grupo dos Irmãos pioneiros da entrada da Província Lassalista de Porto Alegre no movimento missionário no Norte e Nordeste do Brasil. Foi por vários anos diretor da Comunidade La Salle de Altamira, no estado do Pará.

Como professor, catequista e diretor de Casas de Formação, já antes de sua ida ao Norte do país, marcou muitas pessoas, impulsionando-as e ajudando na busca de uma opção vocacional e no seu crescimento humano e lassalista.

Iniciou sua vida profissional como professor no orfanato da Fundação O Pão dos Pobres de Santo Antônio em Porto Alegre. Durante cinco anos foi professor no Juvenato La Salle Fátima em Carazinho/RS, sendo diretor da casa por dois anos. Depois foi nomeado Recrutador e Promotor Vocacional quatro vezes, somando um total de mais de 20 anos nessa missão.

Merecem destaque seu zelo, seu amor ao Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, sua ânsia pela fraternidade vivenciada e a fidelidade à oração. Passou seus últimos 20 anos de vida em tratamento médico constante, acamado ou em cadeira de rodas, na Casa Nossa Senhora da Estrela em Porto Alegre.

Irmão Amadeu faleceu em 25 de dezembro. Silvino José Fritzen nasceu no dia 1º de novembro de 1920, em Montenegro/RS. Fez sua primeira profissão religiosa dia 3 de julho de 1938 e a profissão perpétua em 24 de janeiro de 1946. Ao todo foram 78 anos de doação, fidelidade e criatividade vividos como Irmão Lassalista. Foi professor, coordenador, diretor de Educação Básica e de Educação Superior, além de Provincial. Em todas as funções, Irmão Amadeu mostrou sua competência e dedicação, deixando marcas indeléveis por onde passou.

A atuação educativa do Irmão Amadeu foi especialmente marcante em Niterói/RJ, no Colégio La Salle ABEL e no Unilasalle Rio de Janeiro, sendo fundamental para o dinamismo dessas obras educativas. Também teve uma atuação destacada na Vida Religiosa Consagrada e na área da Educação. Atuou na Conferência de Religiosos do Brasil (CRB) e na CLAR (Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos).

Homem profundamente convicto da sua opção de vida, soube participar da vitalidade e do dinamismo da Vida Religiosa Consagrada no Brasil e na América Latina. No Brasil, ficou conhecido por meio de seus inúmeros escritos e participação em diversas instâncias educativas. Um educador no pleno sentido da palavra. Desde os pequenos gestos de acolhida até os processos educativos mais complexos sempre estiveram presentes em suas lides diárias.

A Província La Salle Brasil-Chile une-se em preces pelo descanso eterno desses dois Irmãos e pelo conforto dos seus familiares.

Trajetórias de perseverança

Ir. Beno Ir. Amadeu

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Como ser Irmãos hoje enquanto sinal de alegria e esperança?

O escrito a seguir está inspirado nesta epígrafe de nossa Regra: “Para os

Irmãos, são múltiplos os motivos de agradecer e de crescer na esperança” (R.156). Portanto, este é um texto de cunho reflexivo-existencial. Nele, apresento elementos que podem ajudar-nos a sermos Irmãos Hoje com um coração agradecido e com sinais de esperança.

Apesar de a lógica reflexiva sobressair-se à lógica científica-acadêmica, permito-me, de uma forma didática, discorrer sobre as palavras-chave: SER; SER IRMÃO; FAZER; SABER; CONVIVER e CUIDAR.

“Ser Irmão Hoje”

Sinto que o verbo ser merece atenção num modelo existencial que privilegia as narrativas de busca de reconhecimento pelo fazer, fazer, fazer. Nossos processos de identificação social, nosso reconhecimento profissional; nossa forma de sair do anonimato muitas vezes se dá por uma marca pessoal que registra uma identidade profissional em nosso fazer. Dizemo-nos e reconhecemo-nos enquanto seres fazedores de algo e fazemos tanto que gostamos de dizer que estamos reféns de um tempo que não nos garante tempo que queremos ou mesmo que não temos tempo para mais nada.

Mesmo em nossos feriados, fins de semana ou período de férias emerge em primeira instância a interrogação pelo “o que vamos fazer hoje..., no feriado, no domingo, nas férias?” Da mesma forma, Irmãos falam com “orgulho” (e creio que deveriam falar como conteúdo terapêutico) sobre os anos que já não fazem mais férias, como se os louros do reconhecimento, a santidade do século XXI estivessem pautados pelo deus Apolo que carrega, ininterruptamente, o mundo institucional em suas costas.

A ordem do “SER” se constitui cotidianamente também com os verbos que nos fazem crescer por dentro, como: silenciar; interiorizar; meditar; rezar; refletir, parar...

Muitas vezes me pego pensando de onde vem esta herança (maldita, a meu ver) de que somente somos amados,

reconhecidos, valorizados, se garantirmos o máximo da pontuação em nossas metas balizadas no indicador FAZER. Por outro lado, a neutralização do SER leva alguns Irmãos ao outro extremo dessa tendência, reconhecendo-se “vadios” ou em aposentadoria precoce, vivendo na dependência da “Mãe Província” que os sustentam como herdeiros de uma pensão vitalícia. A esses caberia o preceito bíblico de que “...não merece comer quem não quer trabalhar...”

Antes de “IRMÃOS” somos pessoas, cidadãos, aprendizes, educadores. Nessa condição, todos participarmos de um conceito de formação que comporta o verbo SABER. É importante, sim, também estruturarmos nosso projeto de vida na âncora do “SABER”. A dimensão técnica, o saber científico, intelectual, a resposta a uma especificidade em ao menos uma área do conhecimento nos ajuda na busca do reconhecimento de si e do outro para conosco, sobre algo que nos coloca na condição de autoridade, autoria.

Não é por acaso que, principalmente em momentos informais, nossos inconscientes recuperam falas e vivências de Irmãos que eram referência em alguma área do conhecimento. A título de lembrança, recupero aqui a memória do Irmão José Ignácio Reckziegel, o grande matemático. Alguém duvida dessa premissa? Do ícone das plantas medicinais do Irmão Cirilo Körbes?

Esse saber elaborado, diferenciado, carregado de autoria, registra um método próprio, um saber que passou da cabeça para se constituir num modo de proceder, de se mostrar no mundo, nas falas, nos processos de identificação profissional. Portanto, Ser Irmão hoje, exige-nos responder por uma peculiaridade do conhecimento, saindo do anonimato do senso comum, se de fato queremos fazer diferença na vida das pessoas que Deus coloca em nossos caminhos. Mais uma vez justifica-se aqui a pergunta pela qualidade do saber de cada Irmão para o crescimento, para o desenvolvimento e para o reconhecimento da Instituição como um diferencial em educação, cada qual em sua especificidade. Muito do choro saudosista de alguns Irmãos dizendo que já não somos mais referência na educação, não estaria diretamente relacionado com o desinvestimento em nós mesmos?

Na teia da vida, somos mais do que partes, isto é, nossa forma de ser pessoal-profissional apenas é separada por (uma) função didático-pedagógica. Somos um todo integrado,

Irmão Paulo FossattiReitor do Unilasalle Canoas e Diretor Presidente da Associação Nacional de Educação Católica (ANEC)

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desintegrado ou em processo de integração. Nesse mosaico existencial, a convivência, o “CONVIVER”, o “viver com” apresentam-se como outros elementos fundamentais para o bem-estar e qualidade de vida. Em nosso caso, a Vida Religiosa.

Não somos apenas amparados em um discurso das ciências humanas e sociais ao afirmamos a necessidade de o ser humano viver em sociedade, em grupo, em agremiações, em comunidade, em família. Nosso existir proclama constantemente a necessidade de nos reconhecermos diante do outro-pessoa, comunidade, instituição, desafio a cumprir, tarefa a realizar, sonho a conquistar, Deus a nos amar e sermos amados. Nessa lógica, somos seres de convivência. Portanto, considerando que passamos a maior parte do tempo diretamente com pessoas, a qualidade de nossa vida merece atenção.

Enquanto membros de um Instituto, enquanto partes de um todo em que uns interferem em outros constantemente, a qualidade de nossas relações apresenta-se como consequência da qualidade de nossos investimentos no crescimento humano, integral e integrador.

Ao falarmos em integral, todos nós somos unânimes em concordar com as premissas formativas do desenvolvimento físico, psíquico, racional-espiritual, identidade do carisma, etc. Contudo, isso não basta. Caso não consigamos integrar em nós os elementos constitutivos do ser pessoa, podemos viver fragmentados, dilacerados,

amargos, regressivos e despotencializados em nossa capacidade de amar, trabalhar e conviver.

Portanto, os processos de integração pessoal nos ajudam a recuperar nosso humano, nosso eixo central enquanto pessoas, no caminho para uma humanização que vai ao encontro do Cristo humano, tão humano que só podia ser um Deus, na linguagem de Leonardo Boff. Em outras palavras, é buscarmos nosso reconhecimento e nosso crescimento na lógica da compreensão humana suplantando a lógica do julgamento.

Entendo “Ser Irmão” como convite a acolher como Irmãos (maiores ou menores) os que Deus nos confia na Comunidade Religiosa, nas Comunidades Educativas, nas tessituras da missão.

Essa escolha por amar enquanto religiosos lassalistas nos leva a dar respostas significativas, a responder bem ao que Deus nos pede por meio das intuições do tempo presente. Precisamos agregar valor a esse momento peculiar, em que somos convidados a dar respostas significativas e esperançosas para as questões da história.

Tão importante quanto nossas respostas ao que a vida pede a cada um de nós, creio ser a qualidade dessa resposta. Enquanto Irmãos, nós não podemos nos furtar da pergunta existencial (e não racional): O que a vida pode esperar de mim? Ou seja, o que a Comunidade Religiosa, a educação, os pobres, os que eu sirvo ganham com a minha presença? A exemplo de Jesus que no contato com as pessoas as deixava numa condição melhor de integração pessoal e social, o que minha presença ou ausência provoca nas pessoas, nas instituições, nos meios por onde circulo ou deixo de circular?

Ser Irmão é convite a acolher os que Deus nos confia. Na foto, projeto Missões de Vida, do Chile

O que a comunidade e os pobres ganham com a nossa presença?

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Em nossa condição humana, muitas vezes os processos regressivos levam Irmãos a inverterem a pergunta: O que eu ganho com isso? – Tal pergunta pode mostrar (uma) atitude de fechamento diante da vida, na recusa ao processo da natureza humana de voltar-se para o crescimento num movimento para fora, sempre em direção ao outro diferente de si mesmo. Esse outro pode ser um projeto a realizar, uma pessoa a ajudar, uma missão a cumprir. Para dar evidência a processo, precisamos manifestar o amor em gestos ou, na linguagem teológica, nosso amor em obras.

Nesse contexto, cabe a reflexão sobre nosso modo de amar. Acredito que algumas perguntas podem nos ajudar nesta reflexão: O que a Comunidade Religiosa ganha, qualitativamente, com minha presença em termos de fé, fraternidade e serviço? A mesma interrogação pode se referir à Comunidade Educativa e aos demais grupos e pessoas com os quais convivemos. Qual é o (“) valor intangível que agrego com meu desenvolvimento humano, profissional e espiritual? Dito de outro modo, o que a Província, as comunidade e pessoas perderiam com minha ausência? Essas são perguntas existenciais que nos ajudam a realizar o movimento da autotranscedência enquanto movimento para fora de si mesmo.

Somente essa autotranscedência poderá nos manter no eixo dos valores e das experiências significativas. Somente ela poderá nos possibilitar uma vida criativa com os que amamos e uma atitude assertiva diante das adversidades que a vida nos apresenta. Tal autotranscedência também nos coloca questões básicas existenciais: Como amamos e trabalhamos? Qual é a qualidade de nossos relacionamentos? Qual é nossa atitude diante da dor, do sofrimento, da morte ou de qualquer adversidade?

Mais importante do que o fato, o acontecimento, a decisão adversa, é nossa atitude, nossa postura existencial assumida diante de tal fato ou acontecimento. Essa lógica de posicionamento diante da vida nos coloca no lugar de autoria, de cocriadores com o Criador e nos tira do eixo do vitimismo, do discurso da queixa e da decisão de terceiros sobre nossa existência. Ou seja, a Comunidade Religiosa, a Comunidade Educativa, as pessoas reais ou imaginárias podem influenciar, mas jamais determinar as escolhas de uma pessoa que se trabalha no eixo da maturidade humana.

Quem tem um bom projeto de vida para alinhar com o projeto institucional supera a queixa de que “O Provincial me enviou para tal comunidade, mas... Quando eu ia começar tal projeto, a transferência da Comunidade Religiosa (...) me desestabilizou...” Não acredito em autoritarismo institucional, nem em narcisismos pessoais. Creio que o equilíbrio se dá no diálogo entre duas propostas. Ao contrário, seremos, sim, ‘marionetes insignificantes” nas mãos de nossos superiores.

Seguindo a premissa da autoria, de escultores de nós mesmos, é que podemos vivenciar motivos de agradecimento e sermos sinais de esperança; não sinônimo de quem espera, mas do verbo esperançar! Sim, acredito que uma Instituição se faz com pessoas que conseguem alinhar o projeto institucional com o projeto pessoal. Esse último agrega valor na medida em que potencializa o carisma, a missão educativa, no caso de nós Lassalistas. Da mesma forma, garante a vitalidade, a unidade e a diversidade dos dons a serviço da Igreja.

Creio que somente aporta valor institucional quem tem um sólido projeto de vida que dialoga com o projeto institucional. De outra forma, pode-se fazer coro ao grupo dos que nada têm a oferecer, a não ser sua passividade e docilidade diante de uma proposta da instituição, por meio da designação de funções ou atribuições por parte de uma autoridade religiosa ou educativa. A esses faz ressonância a expressão de nossa Regra: “... sejam considerados membros mortos”.

As ciências humanas e da saúde confirmam a premissa de que um coração agradecido vive mais e melhor. Da mesma forma, a psicossomática atesta que sentimentos de ingratidão, de mágoa, de ressentimento metabolizam corpos hipocondríacos, sem senso de humor e com baixo indicador de bem-estar e qualidade de vida.

Ao recuperar a tese “Para os Irmãos, são múltiplos os motivos de agradecer e de crescer na esperança” (R.156), creio que ainda nos falta trazer para o diálogo a pedagogia do saber e do cuidar de si. O Papa Francisco, na Laudato Si faz um grande apelo à sensibilização para uma pedagogia do “CUIDADO”.

Nossa formação ocidental, racional, de influência positivista, deixa marcas em nosso modo de existir constantemente voltado para o saber dos outros e algumas vezes para o saber de si. Contudo, se voltarmos ao Alcebíades de Platão, vamos nos deparar com um modo grego de existir que procura juntar as peças do saber e do cuidar num todo integrado. Chamo atenção para o todo integrado, pois saber torna-se sinônimo de cuidar. Poderíamos chamar essa coerência de fidelidade criativa ao carisma específico de nosso Instituto? Como integramos os saberes teológicos, da Vida Religiosa, dos estudos psicológicos; das ciências que ocupam nossas leituras, textos, discussões? Às vezes, fico com a sensação de que em muitas situações e muitos de nós Irmãos sabem (os) muito e cuidam (os) pouco.

Um exemplo de nossos saberes racionais? Uma das fronteiras que precisamos ultrapassar hoje, certamente é essa esquizofrenia existencial que construiu teses. Teses sobre vida religiosa; vida comunitária; vida espiritual; missão; consagração; carisma (....) e tantos outros adjetivos

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quanto nossas elucubrações intelectuais, (...) mas não conseguiu integrar esses elementos num projeto de vida vivido (não racionalizado) na alegria e na esperança.

Acredito que o tempo presente nos convida à reconciliação com a pedagogia do cuidado, não apenas com a pedagogia do saber. Cuidado de si num processo permanente para efetivamente exercermos o cuidado do outro, recuperando a máxima do “Médico, cuida de ti mesmo”.

Enquanto Irmãos, cidadãos, pessoas comuns, seres existenciais, temos inúmeras razões para viver agradecidos. O sentimento de um Deus que nos ama e nos acompanha; uma família religiosa de sobrenome internacional; colaboradores Lassalistas que vivem o encantamento e o comprometimento com a causa da educação; dezenas, centenas e milhares de jovens que esperam nosso exemplo, nosso olhar, nossa ajuda, já são motivos mais que suficientes para vivermos alegres e gratos pelo bem que Deus opera em cada um de nós. Contudo, os motivos que nos fazem celebrar tornam-se incontáveis em nossas autobiografias.

Creio que uma vida vivida com sentido, que tenha a alegria como consequência do bem-viver, poderá ser fagulha de esperança para os que esperam de nós um modo de ser diferente e diferenciado. Sim, acredito firmemente que as pessoas nos querem Irmãos enquanto sinônimo de

acolhida, orientação, respeito, diálogo, fé em Deus, fé na educação, fé nas pessoas, enfim, presença que ampara, sustenta e aponta para uma vida que pode ser vivida com sentido na entrega e no serviço aos demais conforme nossa Proposta Educativa Lassalista.

Num mundo com tanta desesperança, com tanta falta de bons exemplos, com tanta necessidade de reumanizar o humano, somos mais que convidados, somos convocados a sermos sinais de esperança. Essa convocação vem acompanhada da alegria. Creio ser esse um bom indicador para a nossa pastoral vocacional. Os jovens e demais pessoas jamais buscarão seguir religiosos que não vibram por suas escolhas, que não se encantam com sua missão. Se o próprio Deus “vomita os mornos”, quem dirá aos jovens seguirem corpos sem alma? Pelo contrário, nossa juventude está sedenta de lideranças, de pessoas que as inspirem, de religiosos que demonstrem que estão satisfeitos com sua opção de vida, que fizeram a escolha certa e estão alegres com ela. Para tal, precisamos de uma formação que nos ajude a sermos “Irmãos por Inteiro”, que vivem sua consagração como uma permanente e renovada entrega de sua vida a serviço do Reino de Deus na educação. Creio ser essa a melhor oferta que podemos fazer ao Senhor, o melhor presente que podemos dar aos nossos coirmãos de Comunidade e aos que Ele nos confia e nos manda amar.

Irmãos da Província reunidos na Assembleia-Retiro

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Fraternidade: sinal profético para a Igreja e para o mundoIrmão Joneílton José Araújo Comunidade La Salle e Pré-Postulado La Salle Ananindeua/PA

Ao nos depararmos com a palavra fraternidade, percebemo-la como um

conceito polissêmico do qual ressalta imediatamente a ideia de consanguinidade, laços entre parentes, designando a qualidade que liga membros de uma mesma família. A palavra oriunda do latim frater que significa “irmão”, facilmente ganha sufixo e se apresenta como fraternidade, cujo significado é

parentesco entre irmãos ou confraternização entre povos.

Segundo Paul Harvey, fratria (G. Phratria, “irmandade”), nos tempos primitivos de Atenas, era um clã composto de uma família nobre e seus dependentes que realizavam em comum o culto familiar. Mais tarde, as phratríai passaram a ser organizações religiosas que perfaziam certos cultos e mantinham atualizado o rol dos cidadãos. Seu grande festival eram as Apatúrias, celebradas no mês Pianepsion (outubro) com sacrifícios. As crianças nascidas no ano precedente eram então apresentadas à phratria e a admissão ao círculo familiar conferia direitos cívicos às crianças.

Na Revolução Francesa, o termo fraternidade foi um conceito filosófico profundamente ligado às ideias de Liberdade e Igualdade. Juntas formaram o tripé que caracterizou grande parte do pensamento revolucionário francês. “Liberdade, Igualdade e fraternidade”. Nessa concepção, a fraternidade estabelece que o homem, como animal político, fez uma escolha consciente pela vida em sociedade e para tal estabelece com seus semelhantes uma relação de igualdade, visto que em essência não há nada que hierarquicamente os diferencie: são como irmãos (fraternos).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos traz a fraternidade logo em seu primeiro capítulo, afirmando que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidades e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.

Esse conceito é a peça-chave para a plena configuração da cidadania entre os homens, pois, por princípio, todos os homens são iguais. De certa forma, a fraternidade não é independente da liberdade e da igualdade, pois para que cada uma efetivamente se manifeste é preciso que as demais

sejam válidas. Assim, a fraternidade expressa a dignidade de todos os homens, considerados iguais e assegura-lhes plenos direitos (sociais, políticos e individuais).

Ao recebermos a missão de escrever este artigo sobre fraternidade: sinal profético para a Igreja e para o mundo, veio imediatamente em nossa mente um pequeno escrito de Tertuliano (160 - 220) em sua carta a Carta a Diogneto, quando ainda era pagão e desejava conhecer melhor a nova religião que se espalhava pelas províncias do Império Romano. Impressionado pela maneira como os cristãos desprezavam o mundo, a morte e os deuses pagãos, pelo amor com que se amavam, queria saber: que Deus era aquele em que confiavam e que gênero de culto lhe prestavam? De onde vinha aquela raça nova e por que razões apareceram na história tão tarde?

No capítulo IV e V de sua carta, ele escreve:

‘‘Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem por sua terra, nem por sua língua, nem por seus costumes. Eles não moram em cidades separadas, nem falam línguas estranhas. Sua doutrina não foi inventada por eles, nem se deve ao talento e à especulação de homens curiosos; eles não professam, como outros, nenhum ensinamento humano. Pelo contrário: mesmo vivendo em cidades gregas e bárbaras se adaptam aos costumes de cada lugar quanto à roupa, ao alimento e a todo o resto, eles testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como se fossem forasteiros. Toda pátria estrangeira é sua pátria, e cada pátria é para eles estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos.

Compartilham a mesa, vivem na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm a sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas, com a sua vida, superam todas as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são assassinados, e, deste modo, recebem a vida; são pobres, mas enriquecem a muitos; carecem de tudo, mas têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, recebem a glória; fazem o bem e são punidos como malfeitores; são condenados, mas se alegram como se recebessem a vida. Assim como a alma está no corpo, assim os cristãos estão no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo; os cristãos, por todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não pertencem ao mundo. A alma invisível está contida num corpo visível;

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os cristãos são visíveis no mundo, mas a sua religião é invisível. Os cristãos estão no mundo, como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo. A alma imortal habita em uma tenda mortal.”

Essa carta escrita a mais de mil anos traduz com fidelidade o idealismo do cristianismo nascente, o ideal de vida comunitária e fraterna descrita por São Lucas: “e na alma de cada pessoa havia pleno temor, e muitos feitos extraordinários e sinais maravilhosos eram realizados pelos apóstolos. Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum” (At 2, 43-45). A fé e o seguimento a Jesus Cristo na construção do Reino de Deus cresciam. Os cristãos se faziam novos homens e se lançavam ao mundo vivenciando o amor, a liberdade, o perdão e a fraternidade.

Ao lermos a Bíblia, percebemos que o termo fraternidade pode designar a boa relação entre os homens, em que se desenvolvem sentimentos de afeto próprios dos irmãos de sangue. Paulo em Gálatas anuncia que Deus enviou seu filho “Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. Assim, já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo” (Gl 4,5-7). Jesus em Mateus deixa claro ao anunciar que todo aquele que faz a vontade do Pai que está nos céus, esse é seu irmão e sua irmã (Mt 12, 50) e proclama que todos somos irmãos (Mt 23,8). Nesse sentido, ampliamos nossa compreensão de fraternidade e a tomamos como o laço de união entre os homens, fundado no respeito pela dignidade da pessoa humana e na igualdade de direitos entre todos os seres humanos.

Com o crescimento do cristianismo, desenvolve-se a ideia de que todos somos filhos de um mesmo Deus, rompendo o conceito de fraternidade às fronteiras da relação familiar e estendendo-o ao próximo e à totalidade da humanidade. A fraternidade é-nos, desta forma, apresentada como uma categoria relacional da humanidade, superando mesmo o conceito de amizade política, através do qual os cidadãos se unem, em consenso, para instituir uma determinada comunidade política. O termo fraternidade vem sendo adotado historicamente por diversos grupos que se unem, fundam-se ou se organizam em comunidades com objetivos materiais, religiosos, culturais, sociais e etc.

Nesse contexto, os Irmãos das Escolas Cristãs vivem em comunidade com os demais membros do Instituto e, por meio do Voto de Associação, todos se comprometem a trabalhar unidos pela manutenção adequada das escolas cristãs, especialmente para prestar serviço aos mais pobres, em qualquer lugar a que forem enviados.

Os Irmãos estão convencidos de que sua fraternidade, vivida em comunidade e no ministério educativo, como religiosos leigos, é sinal profético para a Igreja e para o mundo. Por isso, consideram seu compromisso com a pastoral das vocações

de Irmãos fonte de vitalidade e garantia de futuro. Os Irmãos, juntamente com os colaboradores, baseiam a Pastoral das Vocações Lassalistas na convicção de que hoje o Senhor continua chamando operários para trabalhar em sua vinha.

Ao falarmos em fraternidade como sinal profético para a Igreja e para o mundo, lembramos que em 2011 havia mais de 200 mil escolas católicas no planeta que contavam com um total de 57 milhões de estudantes. Esses dados são apresentados pelo Cardeal Zenon Grocholewski em seu relatório “Educar no diálogo na escola católica. Viver juntos por uma civilização de amor”. Naquele mesmo documento, o Cardeal ainda ressalva que segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em 2013, 70 milhões de crianças no mundo não tinham acesso à educação.

Ao analisarmos esses dados, temos certeza de que somente pela fraternidade, pela união e pelo diálogo conseguiremos superar as adversidades. A certeza de que somos todos irmãos e fazemos parte da mesma espécie: a humana e pertencemos a mesma casa comum, o planeta terra, como nos apresentou a Campanha da Fraternidade de 2016. É com esse entendimento que conseguiremos construir a civilização do amor.

Ao criarmos fraternidades, como partilha de carisma, ao nos solidarizarmos com o sofrimento do outro e ao nos pormos em movimento, com a certeza de que o outro é nosso irmão e que ao nos unirmos a ele podemos construir soluções para as problemáticas existentes, estamos sendo sinais proféticos. Em um mundo marcado pelo individualismo, pela liquidez das relações, pela globalização que nos torna vizinhos, mas não nos faz irmãos, como afirma Bento XVI em sua encíclica Caritas in Veritate, somente agindo de forma fraterna, partilhando o carisma com os demais leigos, podemos superar a pobreza, a desnutrição, a violência, o analfabetismo, as doenças e todos os males que afligem a humanidade.

Agindo assim, estaremos sendo profetas e sinais da Igreja no hoje porque a fraternidade é a certeza de que como filhos de Deus todos caminhamos juntos, catolicamente (universalmente) para a concretização do Amor, que se dá na comunhão da fé (“todos os crentes”), na comunhão humana ou de corações (“relação afetiva”) e na comunhão econômica: “entre eles não havia ninguém necessitado” (At 4,34).

Referências

Notícias Terra. Aumenta número de escolas católicas no mundo, principalmente na Ásia. In: https://noticias.terra.com.br/educacao/aumenta-numero-de-escolas-catolicas-no-mundo-principalmente-na-asia,47ccbae006d03410VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html

Mundo Católico. http://www.mundocatolico.org.br/mc/estatist.htm

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26 REVISTA FRATERNITAS

Ser Irmão nas fronteiras, desertos e periferias: partilha de experiência em São Vicente FerrerIrmão Cláudio Henrique Moreno Comunidade La Salle e Pré-Postulantado La Salle Ananindeua/PA

O projeto missionário dos Irmãos Lassalistas nesta região é um desafio muito impressionante

e ao mesmo tempo provocante. Ser Irmão aqui por estas terras é ser muito humano, além de revolucionário. São tantos desafios que se entrelaçam e formam um emaranhado de caminhos a se trilhar calmamente, ouvindo, sentindo e, como pequenas fagulhas na escuridão, tentando formar caminhos para que esta sociedade

obtenha rumos bons, seja ao promover educação, justiça popular e social seja na vivência do Evangelho de Jesus Cristo.

Falar de fronteiras é também falar de coragem e criatividade. Nosso Papa Francisco aponta certeiro para essa dinâmica de uma Igreja nova, cheia de coragem para aproximar-se ou chegar diretamente às fronteiras. É isso que nossa província tem feito nestes primeiros três anos de experiência missionária em São Vicente Ferrer. O trabalho na zona rural com a reativação das comunidades eclesiais, reorganização dos povos para a valorização da cultura, dos direitos e da cidadania tem sido um caminho nada fácil e, ao mesmo tempo, confortante e esperançoso para nós Irmãos.

É natural que se encontre por aqui comunidades extremamente inertes e frias, até porque a justiça e o direito lhes foram tomados, dando espaço a um vasto grupo de pessoas acomodadas e sem perspectivas de vida, dignidade e justiça. E o maior desafio é resgatar essas forças, abrir caminhos novos, dar dicas de como reagir às situações de abandono, para que o povo torne a sorrir e ser mais feliz com suas conquistas. Para isso, os Irmãos visitam constantemente as comunidades, dialogam com as famílias, buscando despertar o desejo de melhorias em todos os aspectos, dando-se a conhecer pelos caminhos e trilhas tão distantes do desenvolvimento.

Para isso acontecer, com bastante cuidado e respeito, os Irmãos trabalharam para que fosse instalado aqui em São Vicente o Fórum Maranhense de defesa da cidadania. O objetivo é promover a participação de vários grupos políticos e religiosos para discutir e reivindicar os direitos cidadãos na

área educacional, da saúde e, sobretudo, a acessibilidade durante o período chuvoso, tempo em que as comunidades ficam isoladas por até quatro meses. Em 2016, no período eleitoral, o Fórum, pela primeira vez na história do município, oportunizou uma semana de entrevista com os candidatos à prefeitura. Esse ato assegurou seriedade ao processo, bem como contribuiu para que o povo vicentino despertasse para o voto consciente e sem coação.

Dentre os desafios que temos presente, o baixíssimo IDH do município nos inquieta bastante. Segundo estatísticas do IBGE, quase 70% da população vicentina vive com menos de meio salário mínimo per capta. Isso motiva a migração para outros estados e regiões do país, em busca de trabalho e melhores condições de vida, fato que se retrata nas saídas semanais de ônibus lotados com jovens e adultos. Entretanto, a realidade nos aponta que essas pessoas acabam por desempenhar trabalhos pesados em condições pouco dignas, como é o caso de serviços em canaviais, carvoarias, garimpos entre outros.

Na sede do município, poucos estabelecimentos asseguram os direitos aos seus trabalhadores. Não há comprovação fiscal nas vendas e, dessa forma, o município deixa de arrecadar e garantir novas perspectivas de futuro. Já a educação sofre com a precariedade da infraestrutura, frequência reduzida de estudantes às aulas, ensino superficial. A alfabetização apresenta desempenho insatisfatório, resultando em nível cognitivo das crianças aquém do esperado.

Projeto missionário nesta região é um desafio emocionante

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27MARÇO 2017

A nossa missão desperta vários desejos e perspectivas, como a abertura de uma escola nos próximos anos, oferecendo um modelo de escola atuante na sociedade e sobretudo uma forma de responder aos desafios acima citados. Não há dúvidas de que o município necessita de um sistema educacional mais libertador que torne os estudantes mais curiosos, mais audaciosos, bem como um modelo de escola forte na vida do estudante. Para que isso aconteça, necessitaremos da ajuda dos Irmãos de La Salle. Outra situação é o sonho de um polo universitário, visto que o mais próximo está localizado no município de Pinheiro, a 71 quilômetros.

Por enquanto, estamos apontando os sinais de nossa disponibilidade com o atendimento no Instituto La Salle Dalva Costa com aulas de reforço no campo da alfabetização, além da colaboração nos conhecimentos básicos da linguagem matemática. Dentro do nosso carisma, estamos felizes em contribuir no aprendizado de crianças com idade e níveis de ensino diferentes.

Somos uma comunidade que está bem inserida na vida paroquial. Temos constantemente a presença de leigos, todos os dias vivendo e comungando com nossa missão. Os Irmãos colaboram com a presença forte e construtiva na formação das lideranças dos povoados, na formação para a liturgia popular, no incentivo aos cantadores e rezadores de ladainhas e benditos. Destacamos dois encontros bem marcantes debaixo das mangueiras do nosso quintal, onde reunimos grande número de senhores e senhoras que conduzem rezas antigas em latim, nas comunidades rurais.

Nossa presença e contribuição foi muito marcante na catequese, nos grandes e pequenos eventos paroquiais. Destacamos a missão assumida pela Comunidade Religiosa na catequese de crisma. Essa ação teve um destaque muito importante na vida da paróquia, porque foram aproximadamente sessenta jovens, adultos e idosos, que se prepararam-se para os diversos sacramentos da iniciação cristã, coordenados pelo Ir. Cláudio Moreno. Além dos movimentos e pastorais, muitos leigos se envolveram na preparação dos catequizandos.

Outra experiência marcante em nossa comunidade é a coordenação e preparação do curso de Teologia para leigos das quatro paróquias de nosso setor diocesano. Sob a coordenação dos Irmãos Deonizio e Nestor, assessorados pelos quatro párocos, o curso de teologia vem sendo um grande exemplo de ajuda aos leigos que nunca tiveram oportunidade de estudar e se aprofundar na fé e no catolicismo. Trata-se de um curso básico, voltado à formação de leigos, que já se estende para o terceiro ano e conta com a colaboração de vários padres, diáconos e voluntários.

Nossa colaboração tem sido boa, porém nos confrontamos com situações que poderiam estar bem melhores, como o caso da nossa participação e articulação da Pastoral da

Juventude, na qual nossa presença e força ainda não foi suficiente para se ver os grupos florescerem em nosso meio. Com a catequese de crisma e com as visitas e apoio dos formandos lassalistas de Zé Doca, pôde-se concretizar a criação de dois grupos em duas comunidades rurais, os quais são assistidos e motivados pela Comunidade dos Irmãos.

A presença dos Irmãos nestas fronteiras também se estende às atividades pastorais de nossa Diocese de Viana que é muito extensa e dividida em duas partes: região do Pindaré que segue do município de Conceição do Lago Açu, até Bom Jesus das Selvas, somando 432km, e a Região dos Lagos que segue de Vitória do Mearim a Bacurituba, somando 230 km, onde os Irmãos colaboram com duas das prioridades diocesanas na região dos lagos. As atividades são coordenadas pelos Irmãos Deonízio e Nestor, dando destaque para a formação do povo de Deus na cultura das comunidades de fé em sintonia com toda diocese.

Não há dúvidas de que a experiência e trabalho de busca por horizontes que nos foi delegado pela Província seja muito importante tanto para nossa missão, como para o povo que atendemos neste lugar. Acreditamos que nosso esforço já tenha tido muitos frutos, como a construção dos espaços religiosos de encontro das comunidades, a participação mais constante do povo de Deus nas Igrejas e sobretudo as vocações que começam a surgir por aqui. Temos forte esperança de que muitos jovens de São Vicente poderão discernir suas vocações e, quem sabe, estar conosco nesta luta e caminho de humanização popular.

Comunidade está bem inserida na vida paroquial, apoiando população vicentina

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28 REVISTA FRATERNITAS

Assim como o Nosso Santo Fundador foi atento aos apelos da Santíssima Trindade, nós também, seus herdeiros cá em África, devemos ter essa mesma

atitude dentro dessa realidade na qual vive este país, marcado por um grande descaso social e político por parte deste modelo neoliberal, causa principal da triste realidade do mundo empobrecido.

Realidade de fronteiras que interpela a nós, missionários em Moçambique: pobreza radical, fome, doenças endêmicas, ideologia que conserva a predestinação. Ou seja, práticas culturais que alimentam o sistema de colonização atual,

como machismo, preconceito étnico, violência doméstica, casamento precoce e exterminação da cultura.

Essas realidades nos fazem perceber que o nosso chamado a expandir o Evangelho no mundo da educação. O desejo de educar os mais pobres não só nos faz lembrar a nossa própria história de fundação, mas também nos faz reviver a nossa própria humanidade. Nossa humanidade frágil, magoada pelo sofrimento do povo. Um sofrimento baseado pela ignorância do saber e pela pobreza em seus diversos níveis. A experiência que colhemos no contato com os pobres é de um outro nível.

Aqui em Moçambique, o Irmão é chamado a ser aquele educador que conhecemos, pai de gente orfã de pais e de todo ter e ser. O nosso Fundador dizia que devemos “educar com a firmeza de um pai e a ternura de uma mãe”. Essa frase é o pão de cada dia do ser Irmão Lassalista em Moçambique, onde ele se dá inteiramente ao serviço do povo.

É nesse contato dos Irmãos com a realidade que conseguimos oferecer não somente uma ajuda aos que necessitam, mas também abrimos um sorriso e alegria do coração agradecido no rosto das crianças pobres.

“Educar com a firmeza de um pai e a ternura de uma mãe”: essa frase é o pão de cada dia do ser Irmão Lassalista em Moçambique

Irmãos além das fronteiras: MoçambiqueIrmãos Cristiano Mario e Reinaldo da Oliveira de SousaComunidade La Salle Beira – Moçambique – África

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29MARÇO 2017

Formação Continuada, um itinerário formativo para toda a vidaIr. Jardelino MenegatReitor do Centro Universitário La Salle – Unilasalle Rio de Janeiro – Niterói/RJ

Reflexões Introdutórias

Temos a convicção de que a formação para o consagrado deve ser contínua e durante

toda a vida. Para o consagrado, a formação somente termina no último instante de sua vida. A idade acumula sabedoria, mas há aspectos da nossa formação que não vêm de graça. Deus nos concede a capacidade, entretanto é

preciso dedicação e empenho de nossa parte.

Nos dias atuais, a formação é vista como um itinerário formativo, isto é, um caminho, um percurso de busca intencional, pessoal, comunitária, provincial e de congregação. Por sua vez, um itinerário formativo não se reduz a um somatório de cursos e atividades. Pelo contrário, opõe-se à uniformização e à formatação de etapas, programas fechados e previamente definidos. E também não se constitui em um processo somente intelectual, nem apenas afetivo e espiritual, mas sim é resultante do somatório de todos eles. Para o consagrado, um itinerário formativo tem que levar em conta as condições, intencionalidades, destinatários, etapas, processos, metodologias e conteúdo.

Pensar a formação em termos de trajetos e caminhos significa olhar com atenção as oportunidades, as possibilidades e alternativas que incluem encontros, desencontros, superação dos esquemas e procedimentos tradicionais. Por isso que é tão importante levar em consideração elementos como a flexibilidade, a pluralidade e a heterogeneidade nos processos formativos, visto que cada pessoa transita em seu itinerário de modo pessoal e intransferível.

Na formação, os caminhos e os trajetos precisam ser considerados, assim como o transcurso subjetivo dos destinatários e as exigências da Província e da Congregação. Os trajetos ou caminhos formativos impõem determinadas condições para serem construídos e percorridos. Demandam certos dispositivos para favorecer o assentamento de algumas pontes e interligações entre o pessoal e o institucional. As experiências cotidianas

são espaços privilegiados para a formação continuada do consagrado.

É importante que as instituições, como as comunidades religiosas, as províncias e a congregação favoreçam e valorizem a formação do dia a dia, mediante ambiente favorável e cultura institucional que possibilitem o seu desenvolvimento. No contexto institucional (comunidade religiosa, província e congregação), são importantes as revisões dos procedimentos e processos formativos que nutrem o pessoal e o institucional. Que haja “mãos” que acompanhem e ajudem, “gestos” que habilitem para o crescimento pessoal e institucional, “espaços” comunitários acolhedores, “escutas” que permitam que outros falem, “discursos” que facilitem a interação e que autorizem a livre expressão da palavra, que permitam perguntar e falar, e que auxiliem a busca do importante e do essencial para a Vida Religiosa Consagrada.

A formação continuada exige acompanhar as pessoas, e isso significa estar junto delas nos itinerários formativos de sua caminhada. Esse processo formativo significa estimular ou motivar espaços de encontros pessoais e institucionais para que sejam incrementadas as potencialidades na perspectiva de novas possibilidades formativas. A formação continuada necessita cuidado especial para o desenvolvimento positivo das potencialidades humanas que resultam na constituição de pessoas livres, autênticas e comprometidas com os valores do Reino de Deus.

Os itinerários formativos pressupõem o acompanhamento da pessoa por toda a vida, considerando-a em sua unidade, nos relacionamentos, na complexidade e integralidade, para resistir à fragmentação e desintegração dos processos lineares de formação que ainda persistem em nossas comunidades, províncias e congregações.

No acompanhamento pessoal, grupal e institucional é importante favorecer as experiências de apropriar-se de sua formação continuada, de configuração ou reconfiguração de novas possibilidades formativas, de mudanças criativas, de saltos qualitativos e de passagens que transcendem o comum e ordinário das etapas formativas em nossos planos de formação. Para isso, as trajetórias e os caminhos formativos deverão ser suficientemente flexíveis se quisermos que se concretizem essas experiências.

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30 REVISTA FRATERNITAS

A relevância dos processos formativos para as pessoas e para as comunidades, províncias e congregações, dentre outros fatores, depende de um bom planejamento, de acompanhamento efetivo e de avaliação sistemática. O acompanhamento efetivo está em consonância com um conjunto de estratégias que têm de ser claramente estabelecidas e periodicamente avaliadas.

O acompanhamento efetivo dos processos formativos exige, dentre outros elementos, atenção particular aos objetivos e estratégias estabelecidas pela província e congregação, à participação ativa dos consagrados, o maior número possível, e dos vocacionados que estão em processo de formação, à informação clara e partilhada, ao feedback sistemático e periódico, à revisão e atualização constantes dos processos, à capacitação dos animadores e ajudadores formativos (Diretor da Comunidade Religiosa, do Provincial e Superior Geral, do Conselho Provincial e Conselho Geral) e à possibilidade de intervir quando necessário.

As mudanças na sociedade, na Igreja e nas congregações impõem audácia e fidelidade ao carisma fundacional para possibilitar novas interrogações e novas respostas. É importante transpor os tradicionais programas lineares de formação para avançar rumo a trajetórias e caminhos mais flexíveis e integradores da vida pessoal, comunitária e provincial. Da mesma forma, para renovar os programas formativos das províncias e da congregação, e abri-los a novos caminhos e trajetórias formativas para configurar e/ou reconfigurar a formação adequada aos novos tempos.

A formação é para todos os integrantes da congregação, da província e da Comunidade Religiosa, e não somente para alguns “privilegiados” e escolhidos, pois ela favorece o crescimento humano, afetivo, espiritual e profissional do consagrado. Esse crescimento colabora para o avanço da congregação, da província e da Comunidade Religiosa. A formação ajuda para fortalecer o sentido de pertença, fazendo com que o consagrado se sinta parte do todo, e não à margem.

Além de contribuir para o crescimento pessoal em todas as dimensões da pessoa, a formação continuada ajuda para o crescimento institucional (Comunidade Religiosa, província e congregação) e para a realização da missão e da concretização do carisma que a Igreja nos confia. Como consagrados, somos convidados a disponibilizar as nossas capacidades, habilidades e competências para o serviço da missão apostólica e ao serviço da congregação, província e da Comunidade Religiosa.

Para o consagrado, a formação continuada é um processo de aperfeiçoamento que busca oportunizar o tempo necessário em vista do crescimento humano, afetivo, espiritual e profissional. É um tempo para consolidar e confirmar a vocação do consagrado. Por meio dela nos é possibilitado compreender melhor o mundo no qual estamos envoltos

e, com isso, compreender sempre de modo novo a nossa própria vocação de consagrados.

Durante toda a vida consagrada, é preciso cuidar e deixar-se cuidar em todas as etapas. Não somente cuidar e zelar das novas gerações de consagrados, pois todos somos frágeis, todos necessitamos de cuidado e atenção. O cuidado deve ser contínuo e permanente, em todas as dimensões da pessoa: física, psíquica, emocional, espiritual.

Os espaços de formação continuada são aqueles oferecidos pela vida ordinária e cotidiana da Comunidade Religiosa, da província e da congregação. No entanto, para continuar a nossa formação continuada, também são necessários tempos, espaços e momentos fortes vividos em outros contextos não ordinários, isto é, fora da Comunidade Religiosa, da província e da congregação.

Temos que nos considerar pessoas não autossuficientes, da mesma forma que não o são as pessoas que coordenam a Comunidade Religiosa, a província e a congregação. Por isso, é imprescindível buscar formas para continuar a nossa formação continuada, como, por exemplo, por meio de retiros intercongregacionais, encontros e seminários formativos e acadêmicos ou de vida consagrada etc. Sem dúvida, que a formação continuada favorece e nutre o consagrado no seu ser, conviver e fazer, e fortalece o sentido de pertença à Comunidade Religiosa, à província e à congregação. Juntos e associados somos consagrados e realizamos a missão. E, por sua vez, a avalição do ser, conviver e fazer do consagrado pela comunidade, na visita provincial e do Superior Geral, constitui-se oportunidade de revisão e de crescimento, e isso também precisa ser considerado como formação continuada dos consagrados.

Objetivos da formação continuada para o Consagrado

Sendo que a formação continuada do consagrado é uma caminhada que deve durar toda a vida, essa deve ter, entre outros, os seguintes objetivos:

1. Animar, nutrir e sustentar o consagrado para a fidelidade à sua própria vocação em todas as dimensões da sua vida (espiritual, física, psíquica, afetiva e intelectual), bem como motivá-lo para a razão mais profunda da sua consagração a Deus.

2. Capacitar e desenvolver nos consagrados as competências e habilidades para poderem assumir funções de liderança na Comunidade Religiosa, na província e na congregação. A formação não é para si, mas para possibilitar que os dons sejam postos a serviço. Hoje, mais do que nunca, percebemos e sentimos a falta de lideranças à disposição da comunidade, da província e da congregação.

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3. Incentivar o consagrado para qualificar cada vez mais a totalidade da sua vida (humana, espiritual, psíquica e física), mediante capacitação contínua, tendo em vista a vivência evangélica e a realização da missão apostólica que lhe foi confiada, isto é, seu ser, conviver e fazer.

4. Ajudar o consagrado a assumir uma atitude contemplativa, mediante autêntica vida de oração pessoal e comunitária, a fim de encontrar as reais motivações que dão sentido à sua consagração, vida fraterna e missão apostólica.

5. Levar o consagrado a um sábio confronto das inquietações frente ao mundo onde está inserido e que o provocam e desafiam, a fim de que, atento aos sinais dos tempos, qualitativamente se inculture e nele se encarne com a mesma paixão de Jesus Cristo, mediada pela paixão e pelo encantamento do seu/sua fundador/a.

6. Alimentar o consagrado no espírito de pertença a Deus, à congregação, à província, à Comunidade Religiosa, à Igreja e ao mundo e encorajá-lo para assumir a sua missão apostólica nessa realidade.

7. Auxiliar o consagrado a compreender que a formação continuada se realiza no contexto da sua vida cotidiana, sem necessariamente precisar de tempo específico e exclusivo para essa formação, pois todas as oportunidades são ocasião de formação.

Meios para desenvolver a formação continuada dos Consagrados

Cada consagrado é o primeiro responsável por sua formação continuada. Por isso, é necessário buscar continuamente

essa formação, tanto internamente, na congregação, como em outras instâncias.

Cada consagrado busca ser fiel à sua profissão religiosa, professada publicamente. Assim, ele é o primeiro responsável pela própria formação continuada, expressa no projeto pessoal de vida, em consonância com a sua missão, com o projeto e as instâncias de animação da congregação, da província, da Comunidade Religiosa e da comunidade onde está inserido.

A Comunidade Religiosa é o centro primordial da formação continuada do consagrado. Em espírito fraterno e de responsabilidade, a fim de que nenhum Irmão descuide da sua própria formação, cada Comunidade Religiosa deve cultivar o ambiente de confiança e de liberdade de expressão, e fazer com que

as atividades da vida consagrada cotidiana promovam ações formativas. A Comunidade Religiosa ajuda ainda, a cada consagrado no enfrentamento das dificuldades, das limitações pessoais e das contrariedades na vida fraterna e no serviço apostólico, como possibilidades para aperfeiçoar-se e conformar-se com a proposta de Jesus Cristo, integrada com a proposta do/a fundador/a.

O projeto pessoal de vida do consagrado é algo a ser considerado como formação continuada pela Comunidade Religiosa, concretizado pelas leituras formativas, os tempos de oração, os períodos de retiro, a direção espiritual e humana. O diretor da Comunidade Religiosa tem a missão de promover a formação humana e espiritual dos seus integrantes, bem como oportunizar retiros, cursos, partilha da Palavra de Deus, revisões

Comunidade Religiosa é centro primordial de formação continuada do consagrado

Irmãos do Chile com Irmão Superior Geral

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32 REVISTA FRATERNITAS

periódicas de vida, encontros comunitários e passeios comuns, diálogo com cada Irmão, etc. Nesse processo, a Comunidade Religiosa está atenta às necessidades particulares de cada consagrado, respeitando sua idade e saúde, seu próprio contexto de vida, sua missão e serviço à Igreja local, entre outros.

A formação continuada para a missão deve estar de acordo com as circunstâncias que o mundo em contínua mudança nos pede na condição de consagrados, preparando-nos para realizar a missão da melhor forma possível.

Considerações finais

A atual realidade em que vivemos impõe que se repense, em geral, a formação das pessoas consagradas, sem limitá-la a um único período da vida, e que se busque proporcionar formação para toda a vida. Assim entendida, a formação não é apenas um tempo pedagógico de preparação para os votos, mas representa um modo contínuo de formação,

isto é, uma formação jamais terminada, uma formação que dura por toda a vida. A figura que segue mostra alguns aspectos da formação continuada.

Perguntas para refletir pessoalmente e em comunidade:

1. Quais as razões da necessidade de oferecer formação continuada para os consagrados da sua Comunidade Religiosa, província e/ou congregação?

2. Que meios a sua Comunidade Religiosa, província e congregação utilizam para a formação continuada dos consagrados?

3. Quais são as limitações para oferecer formação continuada em sua Comunidade Religiosa, Província e Congregação, tendo presente as reflexões acima?

Atualização teológico-pastoral

Contínua qualificação profissional

Aprofundamento espiritual

Amadurecimento no encontro

consigo, com o outro e com

Deus

Amadurecimento nas relações

humanas

Contínuo crescimento:

oração, cursos, retiros

FORMAÇÃO CONTINUADA

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33MARÇO 2017

Associados para a missão: um compromisso de todosIrmão Junior SchnorrenbergerComunidade La Salle – Santiago – Chile

Desde as origens do Instituto, João Batista de La Salle ficou comovido com a

realidade da França do século XVII. Porém, não realizou nada só. Havia uma comunidade de Irmãos comprometidos com a missão de educar crianças e jovens, principalmente as que mais necessitavam, “juntos e por associação”. “De compromisso em compromisso”, com muito esforço

e fé em Deus, foi respondendo às inquietudes que se apresentavam ao longo do Itinerário.

Apesar disso, nem sempre o Voto de Associação foi tratado com destaque. A Vida Religiosa ao longo dos tempos se apoiou nos três votos principais: Pobreza, Castidade e Obediência. Esses três votos contemplam a Vida Religiosa de modo geral e abarcam a missão dos religiosos e religiosas para a Igreja e a Sociedade. Para o Instituto, o quarto voto, ou o Voto de Associação, está ligado diretamente ao carisma fundacional. Em 1691, São João Batista de La Salle e três Irmãos se consagraram a Deus e realizaram o que chamamos de Voto Heroico: “Nos consagramos inteiramente a Vos, para procurar com todas as nossas forças e com todos os nossos cuidados o estabelecimento da Sociedade das Escolas Cristãs, de modo que nos pareça mais agradáveis a Vós e mais vantajoso a tal Sociedade”. No primeiro parágrafo da Fórmula de Votos do Instituto, não fica evidente a que vão se dedicar, porém apresenta que o farão “com todas as nossas forças”, “com todos os nossos cuidados” e “de modo que nos pareça mais agradáveis a Vós e mais vantajoso a tal Sociedade”.

Já no segundo parágrafo explicita o compromisso mais concreto: “e para este fim, eu, João Batista de La Salle, sacerdote; Eu, Nicolás Vuyart; e eu, Gabriel Drolin, desde agora e para sempre, e até o último que sobreviva, ou até a completa consumação dessa Sociedade, fazemos voto de associação e de união, para procurar e manter este Estabelecimento, sem podermos marchar, inclusive se não ficarmos mais que nós três nessa Sociedade, ainda que víssemos obrigados a pedir esmola e a viver somente de pão”. A ideia aqui não é aprofundar todos os aspectos da fórmula, mas destacar “associação e união”. No decorrer da história sempre foi chamado o “quarto voto” e que hoje temos como o primeiro.

Referências

Regra dos Irmãos das Escolas Cristãs. 2015.

Irmão Álvaro Rodrigues ECHEVERRíA. Carta Pastoral - A Centralidade do Nosso Quarto Voto. 25 de dezembro de 2000.

Irmão Josean VILLALABEITIA. Consagração, Associação. La Salle - Distrito Antillas-México Sur. Navidad - 2015.

Irmão Josean VILLALABEITIA. Eixos transversais que recorrem toda a Regra. La Salle - Distrito Antillas-México Sur Navidad - 2015.

Retiro de Votos Perpétuos da RELAL, no Equador

A missão lassalista, como vimos, não se pode realizar de qualquer forma. “Juntos e por associação”, respondendo as necessidades no âmbito educacional, tendo confiança de que é uma obra de Deus. Por isso, a Fórmula dos Votos começa com a invocação do transcendente: “Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo”.

O Voto de Associação nos convida a realizarmos juntos a educação humana e cristã e a ver tudo com “os olhos da fé”. Em comunidades religiosas e educativas, o carisma lassalista nos convida a responder com criatividade aos apelos dos mais necessitados, colaborando na transformação de suas vidas. Uma espiritualidade encarnada na vida das pessoas, tendo o apoio de Irmãos e Leigos que se comprometem com a missão de educar crianças e jovens, principalmente os mais vulneráveis.

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34 REVISTA FRATERNITAS

ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

“Somos chamados a testemunhar os valores do Evangelho”, diz Ir. Robert Schieler durante Assembleia de Irmãos

De origem americana, o Superior Geral do Instituto dos Irmãos

das Escolas Cristãs, Ir. Robert Schieler, participou da Assembleia-Retiro da Província La Salle Brasil-Chile, em São Leopoldo/RS, e também do Dia da Província 2017, no mesmo local.

O Irmão, que atua em Roma, palestrou sobre Cultura Vocacional e Itinerários Formativos e Vida em Comunidade. “Foi um privilégio para mim estar aqui. Particularmente, fiquei inspirado nesta Assembleia de Irmãos. Pelo que vejo, a Província La Salle Brasil-Chile é dinâmica e muito criativa, respondendo ao que nos convida Papa Francisco, a fim de estarmos atentos aos chamados dos mais necessitados. Expresso meu agradecimento também aos colaboradores e a toda a família lassalista. Saúdo o comprometimento e a participação, e agradeço por contribuírem dando sentido à missão de São João Batista de La Salle”, disse Ir. Robert Shieler que concedeu entrevista à Revista Fraternitas.

R.F - Na Carta Pastoral de 2016, temos o lema “Um chamado, muitas vozes” como norteador. A que vozes os Irmãos deverão estar particularmente atentos?

Ir. Robert - Eles precisam estar atentos ao Espírito Santo. Além disso, na Carta Pastoral, eu falo em escutar o Evangelho, escutar nossos colaboradores, os nossos alunos e estar atentos ao clamor do pobre. Temos vários documentos, tais como a nossa Regra e a nossa Declaração que à sua própria maneira também são importantes vozes para nós. Mas para escutar consciente e intencionalmente, precisamos oportunizar a nós mesmos um espaço para escuta. Precisamos encontrar tempo para nos acalmar, nos desconectar das redes sociais, pôr-nos na presença

de Deus e perguntar o que Ele quer de nós para responder às necessidades dos vulneráveis e dos pobres das nossas periferias. Assim, para mim, como destaquei na Carta Pastoral, a voz do Espírito Santo, a voz do Evangelho, a voz do pobre e a voz de nossos colaboradores são as várias vozes às quais deveríamos estar atentos. E também lembrem que, quando vamos aos vulneráveis, quando vamos ao pobre, quando anunciamos a salvação para eles, nós podemos estar anunciando a Salvação ao pobre, mas é o pobre que nos traz a nossa Salvação.

R.F - No Projeto Provincial de nossa Província, temos o objetivo de revitalizar a mística de ser Irmão,

assunto abordado também em encontros, retiros e documentos. Que orientações o Sr. poderia dar aos Irmãos da Província?

Ir. Robert - Quando falamos em ser místicos, estamos falando de atitudes e de comportamentos. Isso é o que importa. Quais são as atitudes e comportamentos que nos ajudam a estar mais na presença de Deus e seguir Jesus Cristo de fato, tal como afirmamos fazê-lo? Eu penso que, em nossa Regra, no Capítulo 5, fizemos importantes revisões da Regra de 1987 para a de 2015. Naquele Capítulo 5 da Regra de 1987 se falava em “Vida e Oração”, mas na Regra atual falamos sobre a “Vida Espiritual dos Irmãos” como um todo. Eu acho que assim é muito mais apropriado.

Quando falamos sobre a vida espiritual dos Irmãos não estamos apenas falando da vida de oração dos Irmãos, também estamos falando sobre a profundidade do seu relacionamento com toda a Escritura e como partilhamos nossa experiência de fé com os Irmãos. E eu sei que isso é um desafio, porque requer um grau de confiança, mas

Superior Geral, Ir. Robert Schieler, esteve no Brasil

Entrevista concedida a Gabriela Boni, do setor de Comunicação e Marketing da Rede La Salle

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ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

MARÇO 2017

acho que, como Irmãos, somos chamados a partilhar nossa experiência de fé uns com os outros e também com nossos colaboradores. Se não conseguimos falar sobre nossa própria experiência de fé, é muito difícil orientar a vida de outras pessoas. Assim, eu queria encorajar nossos Irmãos a criar espaços e tempos nos quais tenhamos oportunidades de partilhar nossa fé uns com os outros. Esse é o meio de irmos em direção a uma vida mística. É uma questão de atitudes, é uma questão de comportamentos.

R.F - Quais são os desafios da formação continuada dos Irmãos, hoje?

Ir. Robert - A formação continuada é um modo de responder às sucessivas chamadas de Deus em nossa vida – um meio para aprofundar nosso compromisso. A formação nunca para. Por isso, precisamos estar atentos ao que Deus nos está chamando a ser e a fazer neste momento especial de nossas vidas. Por exemplo, voltando outra vez à Regra, no Artigo inicial do capítulo 2, sobre a Missão, ela dá aos Irmãos um novo papel e esse papel hoje é triplo. O Artigo 13 fala que os Irmãos “vivem sua missão como testemunho, serviço e comunhão”. Somos chamados a testemunhar os valores do Evangelho, temos a missão de servir os jovens distantes da Salvação e devemos estar em comunhão, primeiramente com nossos Irmãos, e também em comunhão com os Leigos em nossas escolas. Esse é um dos aspectos de nossa habilidade na formação continuada.

Outro aspecto que gostaria de enfatizar está no Capítulo 1, Artigo 12 de nossa Regra, que diz que cada Irmão assume a responsabilidade pessoal de integrar em sua

vida pessoal os elementos essenciais de nossa identidade ou nossa vocação: nossa consagração, nossa missão, nossa vida comunitária. Esses dois artigos - Capítulo I, Art. 12, e Capítulo 2, Artigo 13 -, são dois que eu acho úteis aos Irmãos, em termos do que significa ter formação continuada, do porquê nós temos formação continuada e para que ela serve.

R.F - Dentro da perspectiva de fomentar a Cultura Vocacional, temos em vista que 2019 será o Ano Vocacional para o Instituto. O que o senhor espera dos Irmãos e Leigos em relação à Cultura Vocacional e à promoção das vocações lassalistas?

Ir. Robert - A Família Lassalista global vai saber, em breve, que o tema para nosso ano de 2019 - o Ano Vocacional Lassalista -, é “Um Coração, um Compromisso, uma Vida”. Então, eu desejo que nossos Irmãos e colaboradores concretizem o tema, desenvolvendo atividades práticas em seus ministérios em nível local, como uma forma de unidade e colaboração com todos os lassalistas do mundo. Também espero que as províncias - e esta será umas das atividades que teremos - participem simultaneamente das cerimônias de abertura e encerramento ao redor do mundo. De igual modo, meu desejo é que cada província não somente participe desses momentos, mas faça uma boa preparação para as cerimônias. Isso vai se realizar simultaneamente em cerca de 80 países que contam com a presença lassalista. Eu, certamente, espero que possamos perceber e descobrir mais vocações para a vida dos Irmãos e espero que nos dois anos em preparação para esse evento, façamos uma excelente Pastoral Vocacional e consigamos promover a vocação do Irmão Lassalista.

“É uma grande satisfação trabalhar com os jovens”, disse o Superior Geral que, na foto, aparece com Jovens Irmãos da Província

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ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

Também insisto que façamos todo o possível para aprofundar a nossa compreensão em relação à vida dos colaboradores como uma vocação; e aprofundar com nossos colaboradores o sentido de sua própria vocação lassalista. Porque, como muitas vezes falamos em nossos documentos atuais, nós estamos numa missão partilhada, nós partilhamos nosso carisma com os colaboradores que estão conosco hoje em nossas escolas. Assim, eu vejo com esperança o crescimento da Pastoral Vocacional para Irmãos, mas também o aprofundamento do sentido da vocação batismal que nós todos recebemos.

R.F - Em um tempo de mudanças rápidas, fragilidades, necessidades ambientais e crises em âmbito mundial, como o Sr. vislumbra o significado do próximo eixo de reflexão a que o Instituto se dedicará em 2017-2018: “Lassalistas sem Fronteiras”?

Ir. Robert - Primeiro eu diria que “Lassalistas sem Fronteiras” é um modo específico de viver o Evangelho e pregá-lo à toda criação. Cada região é solicitada a desenvolver um plano concreto e torná-lo realidade. Também digo que ir além das fronteiras não é fácil. É complexo, difícil, um desafio, é chato, é perturbador..., mas é necessário. Porque indo além-fronteiras e deixando nossa zona de conforto, nós nos tornamos vulneráveis… por causa do Evangelho. E, novamente, quando alcançamos aqueles que achamos serem vulneráveis, eles nos revelam nossa própria vulnerabilidade. E isso nos ajuda a viver o Evangelho com maior fidelidade e ser a pessoa que dizemos ser.

R.F - O que diria aos vocacionados e Jovens Irmãos que estão iniciando seu itinerário formativo como religiosos lassalistas?

Ir. Robert - Primeiro eu gostaria de agradecer a eles, agradecer aos jovens que enxergam que aquilo que estamos fazendo é significativo e importante. Gostaria de lembrá-los de que estão ingressando em uma excelente aventura evangélica. É uma grande alegria ser Irmão. É uma grande satisfação trabalhar com os jovens. E, assim, obrigado por vocês refletirem sobre nossa vida, e creio que irão achar nossa forma de viver a vida de muito valor e recompensadora – não monetariamente. E acho esse é o caso de todos nós Irmãos: recebemos muito mais do que damos; aprendemos muito mais do que ensinamos. E essa é uma maneira maravilhosa de viver, mas precisamos ser sérios no desenvolvimento de uma vida de oração pessoal, porque essa é a única maneira de nos sustentar nesta vocação: um relacionamento com Jesus. Mais uma vez afirmo que é algo que não é fácil, e nós temos que os apoiar e necessitamos do apoio de todos os nossos Irmãos; e os Irmãos de mais idade precisam acompanhar e apoiar todos os nossos Jovens Irmãos, enquanto estamos avançando.

R.F - O Papa Francisco é um Religioso Jesuíta. Como o Instituto pode estar em sintonia com a proposta do Papa Francisco de Igreja “em saída”?

Ir. Robert - Eu diria que estamos em sintonia com a Igreja de várias maneiras e isso não é dito com qualquer orgulho ou presunção, mas acho que La Salle se antecipou ao Papa Francisco. Por exemplo, o Papa fala sobre “o cheiro da ovelha”. Uma das mais populares meditações de São João Batista de La Salle é sobre o Bom Pastor. Ele nos diz como agir e como relacionar-nos com nossos alunos. O próprio La Salle fez o êxodo de sua classe média e foi para as periferias do seu tempo. Assim, acho que La Salle não só antecipou o convite do Papa Francisco a nós hoje; acho que ele também antecipou algumas das decisões do Concílio Vaticano II.

Recordemos que, fundando os Irmãos das Escolas Cristãs, La Salle introduziu uma nova maneira de ser Igreja. Um grupo de Leigos, como professores, e não Sacerdotes, dedicaram sua vida inteira a esse ministério. Leigos, mas não Sacerdotes. E eles não fizeram os tradicionais votos da Vida Religiosa: pobreza, castidade e obediência. La Salle viu uma séria necessidade e, como resposta concreta, ele reuniu os professores locais que queriam fazer os votos de juntos e por associação, estabilidade e obediência. Ele introduziu uma nova maneira de estar na Igreja e convidou os Leigos daquele tempo a viver sua consagração batismal de maneira especial. E seguimos vendo isso hoje. No Concílio Vaticano II, a Igreja disse que todos nós somos chamados à santidade, todos nós temos uma vocação. Todos nós somos chamados a viver nossa Vocação Batismal. La Salle se antecipou ao Vaticano II e eu acho que estamos em grande sintonia como o que o Papa Francisco pediu a toda Igreja: ir às periferias, impregnar-nos com o cheiro das ovelhas; estamos fazendo isso por quase 350 anos.

R.F - Como as Comunidades Educativas Lassalistas podem conjugar a tarefa educacional com o anúncio do Evangelho e contribuir para a evangelização da cultura?

Ir. Robert - A Educação Lassalista e as Comunidades Lassalistas são comunidades acolhedoras. Elas são respeitosas, inclusivas, elas são diversas. É isso o que os alunos experimentam, é o que os professores e os Irmãos sentem. Acolhida, respeito, inclusão e diversidade: são os valores que os lassalistas deveriam levar e partilhar nas comunidades maiores, quando nos deixam para viver e morar em outro lugar. Acolhida, respeito, inclusão e reconhecendo que a diversidade não é uma escolha. Diversidade é um presente do Espírito.

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ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

MARÇO 2017

“Estamos llamados a dar testimonio de los valores del Evangelio”, dice el Hno. Robert Schieler durante la Asamblea de Hermanos

De origen americano, el Superior General del Instituto de los Hermanos de las Escuelas Cristianas, Hno. Robert Schieler, participó de la Asamblea-Retiro

del Distrito La Salle Brasil-Chile, en Sao Leopoldo/RS, y también del Día del Distrito, en el mismo lugar.

El Hermano, que trabaja en Roma, dio una charla sobre el tema de la Cultura Vocacional e Itinerarios Formativos y Vida en Comunidad. “Fue un privilegio para mí estar aquí. Particularmente, quedé muy inspirado con esta Asamblea de Hermanos. Por lo que veo, el Distrito La Salle Brasil-Chile es dinámico y muy creativo, respondiendo a los que el Papa Francisco nos invita, a estar atentos a los llamados de los más necesitados. Expreso mi agradecimiento también a los Colaboradores y a toda la Familia Lasallista. Saludo el compromiso y la participación, y agradezco por contribuir dando sentido a la misión de san Juan Bautista de La Salle”, dice el Hno. Robert Schieler que concedió esta entrevista a la Revista Fraternitas.

R.F - En la Carta Pastoral de 2016, tenemos el lema “Un llamado, muchas voces” como tema orientador ¿A qué voces los Hermanos deberán estar particularmente atentos?

Ir. Robert – Ellos necesitan estar atentos al Espíritu Santo. Fuera de eso, en la Carta Pastoral, yo hablo de escuchar el Evangelio. Escuchar a nuestros colaboradores, a nuestros alumnos y estar atentos al clamor del pobre. Tenemos varios documentos, tales como nuestra Regla y nuestra Declaración que en sus propios temas también son voces importantes para nosotros. Pero para escuchar consciente e intencionadamente, necesitamos darnos la oportunidad a nosotros mismos para un espacio de escucha atenta. Necesitamos encontrar tiempo para calmarnos, desconectarnos de las redes sociales, ponernos en la presencia de Dios y preguntarle a Él lo que quiere de nosotros para responder a las necesidades de los vulnerables y de los pobres de nuestras periferias. Así, para mí, como lo destaqué en la Carta pastoral, la voz del Espíritu Santo, la voz del Evangelio, la voz del pobre y la voz de nuestros Colaboradores son las diferentes voces a las que deberíamos estar atentos. Y también recuerden que, cuando vamos a los más vulnerables, cuando vamos

al pobre, cuando anunciamos la salvación para ellos, podemos estar anunciando la Salvación al pobre, pero es el pobre el que nos trae a nuestra Salvación.

R.F - En el Proyecto de Distrito de nuestro Distrito, tenemos el objetivo de revitalizar la mística de ser Hermano, asunto abordado también en encuentros, retiros y documentos. ¿Qué orientaciones usted podría dar a los Hermanos del Distrito?

Ir. Robert – Cuando hablamos de ser místicos, estamos hablando de actitudes y de comportamientos. Eso es lo que importa. ¿Cuáles son las actitudes y comportamientos que nos ayudan a estar más en la presencia de Dios y seguir a Jesucristo de hecho, tal como afirmamos hacerlo? Yo pienso que, en nuestra Regla, en el Capítulo 5, hicimos importantes revisiones de la Regla de 1987 para la del 2015. En aquel Capítulo 5 de la Regla de 1987 se hablaba de “Vida y Oración”, pero en la Regla actual hablamos sobre la “Vida Espiritual de los Hermanos” como un todo. Yo encuentro que esa fórmula es mucho más apropiada.

Cuando hablamos sobre la vida espiritual de los Hermanos no estamos hablamos sólo de la vida de oración de los Hermanos, sino que estamos hablando sobre la profundidad de su relación con toda la Escritura y cómo compartimos nuestra experiencia de fe con los Hermanos. Y yo sé que eso es un desafío, porque requiere un grado de confianza, pero encuentro que, como Hermanos, estamos llamados a compartir nuestra experiencia de fe los unos con los otros y también con nuestros Colaboradores. Si no conseguimos hablar sobre nuestra propia experiencia de fe, es muy difícil orientar la vida de otras personas. Así, yo quiero incitar a nuestros Hermanos a crear espacios y tiempos en los que tengamos oportunidades de compartir nuestra fe los unos con los otros. Ese es el medio de ir en dirección a una vida mística. Es una cuestión de actitudes, es una cuestión de comportamientos.

R.F - ¿Cuáles son los desafíos de la formación permanente de los Hermanos, hoy?

Ir. Robert – La formación permanente es un modo de responder a las sucesivas llamadas de Dios en nuestra vida –un medio para profundizar nuestro compromiso. La formación nunca para. Por eso, necesitamos estar

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ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

atentos a lo que Dios nos está llamando a ser y hacer en este momento especial de nuestras vidas. Por ejemplo, volviendo otra vez a la Regla, en el Artículo inicial del capítulo 2, sobre la misión, ella da a los Hermanos un nuevo papel y ese papel hoy es triple. El Artículo 13 habla que los Hermanos “viven su misión como testimonio, servicio y comunión”. Estamos llamados a testimoniar los valores del Evangelio, tenemos la misión de servir a los jóvenes alejados de la salvación y debemos estar en comunión, primeramente con nuestros Hermanos, y también en comunión con los Seglares en nuestras escuelas. Ese es uno de los aspectos de nuestra habilidad en la formación permanente.

Otro aspecto que me gustaría enfatizar está en el Capítulo 1, Artículo 12 de nuestra Regla, que dice que cada Hermano asume la responsabilidad personal de integrar en su vida personal los elementos esenciales de nuestra identidad o nuestra vocación: nuestra consagración, nuestra misión, nuestra vida comunitaria. Esos dos artículos – Capítulo 1, Art 12 y Capítulo 2, Art. 13-, son dos que encuentro útiles para los Hermanos, en términos de lo que significa tener formación permanente y del porqué tenemos formación permanente y para qué sirve.

R.F - Dentro de la perspectiva de fomentar la Cultura Vocacional, tenemos en vista que el año 2019 será el Año Vocacional para el Instituto. ¿Qué es lo que usted espera de los Hermanos y Seglares en relación a la Cultura Vocacional y a la promoción de las vocaciones lasallistas?

Ir. Robert – La Familia Lasallista global va a saber, en breve, que el tema para nuestro año de 2019 – el Año Vocacional Lasallista-, es “Un Corazón, un Compromiso, una Vida”. Entonces, es un deseo que nosotros los Hermanos y Colaboradores concreticemos el tema, desarrollando actividades prácticas en sus ministerios a nivel local, como una forma de unidad y colaboración con todos los lasallistas del mundo. También espero que los distritos –y esta será una de las actividades que tendremos- participen simultáneamente de las ceremonias de apertura y cierre alrededor del mundo. De igual modo, mi deseo es que cada Distrito no solamente participe de esos momentos, sino haga una buena preparación para esas ceremonias. Eso se va a realizar simultáneamente en cerca de 80 países que cuentan con la presencia lasallista. Yo, ciertamente, espero que podamos percibir y descubrir más vocaciones para la vida de Hermanos y espero que en los dos años de

preparación para este evento, hagamos una excelente Pastoral Vocacional y consigamos promover la vocación de Hermano Lasallista.

También insisto que hagamos todo lo posible para profundizar nuestra comprensión en relación a la vida de los Colaboradores como una vocación; y profundizar con nuestros Colaboradores el sentido de su propia vocación lasallista. Porque, como muchas veces hablamos en nuestros documentos actuales, nosotros estamos en una misión compartida, nosotros compartimos nuestro carisma con los Colaboradores que están con nosotros hoy en nuestras escuelas. Así, yo veo con esperanza el crecimiento de la Pastoral Vocacional para Hermanos, pero también la profundización de la vocación bautismal que todos nosotros hemos recibido.

R.F - En un tiempo de cambios rápidos, fragilidades, necesidades ambientales y crisis en el ámbito mundial, ¿cómo usted vislumbra el significado de próximo eje al que el Instituto se dedicará en los años 2017-2018: “Lasallistas sin Fronteras”?

Ir. Robert – En primer lugar yo diría que “Lasallistas sin Fronteras” es un modo específico de vivir el Evangelio y anunciarlo a toda la creación. A cada región se le solicita desarrollar un plan concreto y hacerlo realidad. También digo que ir más allá de las fronteras no es fácil. Es complejo, difícil, un desafío, es fastidioso, es perturbador…, pero es necesario. Porque ir más allá de las fronteras es dejar nuestra zona de confort, y hacernos vulnerables… por la causa del Evangelio. Y, nuevamente, cuando alcanzamos a aquellos que son los vulnerables,

Hno. Robert Schieler

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ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

MARÇO 2017

ellos nos revelan nuestra propia vulnerabilidad. Y eso nos ayuda a vivir el Evangelio con mayor fidelidad y ser aquella persona que decimos ser.

R.F - ¿Qué diría a los vocacionados y Hermanos Jóvenes que están iniciando su itinerario formativo como religiosos lasallistas?

Ir. Robert- En primer lugar yo gustaría de agradecerles, agradecer a los jóvenes que ven que aquello que estamos haciendo es significativo e importante. Me gustaría recordarles que están ingresando a una excelente aventura evangélica. Es una gran alegría ser Hermano. Es una gran satisfacción trabajar con los jóvenes. Y, así, gracias a ustedes jóvenes por reflexionar sobre nuestra vida, y creo que hallarán en nuestra forma de vivir una vida de mucho valor y compensadora, no monetariamente. Y pienso que ese es el caso de todos nosotros Hermanos: recibimos mucho más de lo que damos; aprendemos mucho más de los que enseñamos. Y esa es una manera maravillosa de vivir, pero necesitamos ser serios en el desarrollo de una vida de oración personal, porque esa es la única manera de sustentarnos en esta vocación; una relación con Jesús. Pero una vez más afirmo que es algo que no es fácil, y nosotros tenemos que apoyarnos y necesitamos del apoyo de todos nuestro Hermanos, y lo Hermanos de más edad necesitan acompañar y apoyar a nuestros Hermanos Jóvenes, mientras estamos avanzando.

R.F - El papa Francisco es un Religioso Jesuita. ¿Cómo el Instituto puede estar en sintonía con la propuesta del Papa Francisco de una Iglesia “en salida”?

Ir. Robert – Yo diría que estamos en sintonía con la Iglesia de varias maneras y eso no es dicho con orgullo o presunción, sino que encuentro que La Salle se anticipó al Papa Francisco. Por ejemplo, el Papa habla sobre “el olor a oveja”. Una de las más populares meditaciones de san Juan Bautista de La Salle es sobre el Buen Pastor, Él nos dice cómo actuar y como relacionarnos con nuestros alumnos. El propio La Salle hizo el éxodo de su clase media y fue hacia las periferias de su tiempo. Así, encuentro que La Salle no sólo se anticipó a la invitación del Papa Francisco a nosotros hoy; encuentro que también se anticipó a algunas decisiones del Concilio Vaticano II.

Recordemos que, fundando a los Hermanos de las Escuelas Cristianas, La Salle introdujo una nueva manera de ser Iglesia. Un grupo de laicos, como maestros, y no sacerdotes, dedicarán su vida entera a

ese ministerio. Laicos, pero no sacerdotes. Y ellos no hicieron los tradicionales votos de la Vida Religiosa: pobreza, castidad y obediencia. La Salle vio una seria necesidad y, como respuesta concreta, él reunió a los maestros locales que quería hacer los votos de juntos y por asociación, estabilidad y obediencia. Él introdujo una nueva manera de estar en la Iglesia e invitó a los Laicos de aquel tiempo a vivir su consagración bautismal de manera especial. Y seguimos viendo eso hoy. En el Concilio Vaticano II, la Iglesia dice que todos nosotros estamos llamados a la santidad, todos nosotros tenemos una vocación. Todos nosotros estamos llamados a vivir nuestra Vocación Bautismal. La Salle se anticipó al Vaticano II y yo encuentro que estamos en una gran sintonía con lo que el Papa Francisco pidió a toda la Iglesia: ir a las periferias, impregnarnos con el olor de las ovejas; estamos haciendo eso por casi 350 años.

R.F - ¿Cómo las Comunidades Educativas Lasallistas pueden conjugar la tarea educacional con el anuncio del Evangelio y contribuir a la evangelización de la cultura?

Ir. Robert- La Educación Lasallista y las Comunidades Lasallistas son comunidades acogedoras. Ellas son respetuosas, inclusivas, ellas son diferentes. Es eso lo que los alumnos experimentan, es lo que los profesores y los Hermanos sienten. Acogida, respeto, inclusión y diversidad: son los valores que los lasallistas deberían llevar y compartir en las comunidades mayores, cuando nos dejan para vivir y morar en otro lugar. Acogida, respeto, inclusión y reconociendo que la diversidad no es una opción. Diversidad es un presente del Espíritu.

Hno. Robert Schieler: “las Comunidades Lasallistas son comunidades acogedoras”

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ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

Mística, comunidade e missão

Licenciado em Filosofia e doutor em Teologia pela Universidade de Roma, o frei capuchinho Luiz Carlos Susin contribuiu com a Assembleia dos Irmãos 2017 a

partir do tema “Cenários e Sujeitos Emergentes”. O assunto foi refletido e aprofundado em 12 comunidades de partilha e oração. “Gostei muito da Assembleia porque, em primeiro lugar, reconheci Irmãos com quem eu já tinha tido contato, seja em alguma colaboração, em algum trabalho conjunto de outras épocas, então foi muito agradável nos reencontrar. Por outro lado, vi uma turma jovem, o que me parece muito significativo e sadio para a Instituição”, comentou.

Há cerca de 40 anos trabalhando com Teologia, Frei Susin leciona na PUC/RS, participa de conferências e de assessorias no Brasil e no exterior. Em entrevista à nossa Revista Fraternitas, ele analisa alguns aspectos da Vida Religiosa Consagrada.

R.F - Por que o Sr. recorre ao conceito de “clamor” para falar da mística, da comunidade e da missão?

Frei Susin – Falo do clamor como um “grito”, em uma forma mais educada ou mais disfarçada também, quando aparece através de outros sintomas. Esses clamores têm muito a ver com o estágio atual da espiritualidade, da vida comunitária, da postura missionária no mundo. Porém, o que acho importante é que esses três clamores ganham hoje contornos próprios. Houve um tempo em que eles estavam bastante institucionalizados em uma sociedade mais estável, com menos indivíduos transformadores e, por isso, com menos doses de caos, tanto positiva quanto negativamente falando. Hoje não é muito fácil nos “localizarmos”, tanto em termos de mística quanto de experiência espiritual e de vida comunitária. As instituições se sentem meio órfãs, e esses clamores se sentem desapoiados.

R.F - No texto “Religião e Igreja no emaranhado do tempo presente”, com o qual o Sr. contribuiu para a Assembleia Nacional da CRB, é feita uma comparação da Vida Religiosa Consagrada com a borboleta, no sentido de serem desencadeadoras de imensa energia criativa. Quais são as implicações que essa perspectiva traz para os religiosos hoje?

Frei Susin – A comparação com essa Lei da Física, que popularmente chama-se “efeito borboleta”, mostra uma possibilidade real, mas da qual não somos “donos”, e por isso não podemos manipular. O que podemos fazer é bater asas, como faz a borboleta. Agora, o que vai acontecer de transformação da sociedade, na ação, às vezes pequena

e pontual que se desencadeia, de fato, não depende de nós. Em um certo sentido, estamos em uma posição mais humilde, muito menor, mas isso não significa que tenha menos efeito. Pode ter até mais. Há também a questão da sensibilidade, porque tanto a borboleta como a abelha, que é o outro elemento ao qual comparo, são sensíveis àquilo que o contexto oferece de melhor para sua vida ou não: a mínima poluição no ambiente já é sentida por elas. Mas, por outro lado, sabem ir ao néctar, àquilo que há de melhor no ambiente. Então, penso que é uma metáfora interessante para pensarmos a Vida Religiosa.

R.F - Em seu texto, o Sr. menciona o fato de estarmos vivendo em um período permeado por crises e mudanças. De que forma a comunicação em rede pode favorecer uma resposta criativa aos desafios do contexto atual?

Frei Susin – O trabalho em rede se tornou um novo modelo de a gente se situar, seja na missão, na comunidade e até mesmo na mística, porque há estudos mostrando que Deus também habita o byte e a rede. Passa também por nossas mensagens, nossas palavras, por algumas imagens. E isso está sendo muito mais democratizado. Por outro lado, é exigido um discernimento novo. Por estarmos tão ligados

Frei Luiz Carlos Susin participou da Assembleia dos Irmãos no Cecrei

Entrevista concedida a Gabriela Boni, do setor de Comunicação e Marketing da Rede La Salle

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ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

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à rede, não sabemos todos os seus efeitos. Já se mostra que há grandes efeitos, como maior favorabilidade para a paz, para a solidariedade. Mas há também (a necessidade de) criar uma autossatisfação na própria rede, enquanto as pessoas não são somente a rede, são corpo, são pão, precisam de socorro físico. E isso pode ser desconhecido.

Além do mais, a rede tem um elemento que alguns chamam de grotesco, pois você pode, em um clique, mudar todo o contexto, passando de um contexto espiritual, místico e de uma boa palavra para um contexto de violência, de ódio contra as pessoas e seus direitos. É preciso entender essa lógica, que não é a mesma que tínhamos antes. Por ser digital, tem uma complexidade, mas ela veio para ficar.

R.F - Em que aspectos a passagem de Isaías pode iluminar a vida dos religiosos e religiosas hoje? “Não fiquem lembrando o passado, não pensem nas coisas antigas. Eis que estou fazendo uma coisa nova, ela está despontando agora, e vocês não percebem?” (Is 43, 18-19)

Frei Susin – Quando Isaías repreende que não estamos percebendo, essa repreensão cabe bem, mesmo porque, se nós estivéssemos percebendo, então a Bíblia estaria errada!

Ou seja, pelo fato de não percebermos algo novo que brota com uma grande fragilidade e muito pequeno, eu diria que tem uma explicação.

É lógico que temos dificuldade de perceber. E aceitar essa dificuldade de perceber os sinais de futuro e uma mudança tão grande não deveria nos assustar. É uma postura de fé e de esperança fundamental para quem crê na palavra de Deus, porque o problema da época de Isaías é que o povo no exílio não acreditava mais que teria futuro e ficava choramingando as lembranças do passado. Embora os profetas insistam que é bom lembrar o que Deus já tinha feito no passado, aqui no contexto dessa frase é dito “não lembrei mais”, “vamos esquecer o passado, mesmo que ele tenha sido glorioso, vamos ao futuro”.

Deus abre futuro, mas abre na fragilidade, e por isso precisamos cultivar os sinais com muito carinho e muito cuidado. São pequenos, são frágeis. E como percebemos que é um sinal de Deus? Exatamente quando lembramos também o passado e lembramos que esse é o modo normal de Deus agir, para que Ele não seja um Deus de força, um Deus que cometa violência. Ele sempre age na fragilidade.

Entrevistado utiliza metáfora da borboleta para refletir sobre a VRC

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ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

Licenciado en Filosofía y doctor en Teología por la Universidad de Roma, fray Luiz Carlos Susin, capuchino, hizo una contribución a la Asamblea

de los Hermanos 2017 a partir del tema “Escenarios y Sujetos Emergentes”. El asunto fue reflexionado y profundizado en 12 comunidades de diálogo y oración. “Me gustó mucho participar en la Asamblea porque, en primer lugar, reconocí a Hermanos con quienes ya había tenido contacto, sea en alguna colaboración, en algún trabajo conjunto en épocas pasadas, entonces fue muy agradable encontrarnos. Por otro lado, vi un grupo joven, lo que me parece muy significativo y sabio para la Institución, comentó.

Hace cerca de 40 años trabajando en Teología, Fray Susin da clases en la PUC/RS (pontificia Universidad Católica-RS), participa de conferencia y asesorías en Brasil y en el exterior. En la entrevista concedida a nuestra Revista Fraternitas, él analiza algunos aspectos de la Vida Religiosa Consagrada.

R.F - ¿Por qué usted. recurre al concepto de “clamor” para hablar de la mística, de la comunidad y de la misión?

Fray Susin – Hablo del clamor como un “grito”, en una forma más educada o más disfrazada también, cuando aparece a través de otros síntomas. Esos clamores tienen mucho que ver con el estado actual de la espiritualidad,

de la vida comunitaria, de la postura misionera en el mundo. Por eso, lo que encuentro importante es que esos tres clamores ganan hoy contornos propios. Hubo un tiempo en que ellos estaban bastante institucionalizados en una sociedad más estable, con menos individuos transformadores y, por eso, con menos dosis de caos, tanto positiva como negativamente hablando. Hoy no es muy fácil “ubicarnos”, tanto en términos de mística cuanto de experiencia espiritual y de vida comunitaria. Las instituciones se sienten menos huérfanas, y esos clamores se sienten despojados.

R.F - En el texto “religión e Iglesia en el enmarañado tiempo presente”, con el que hizo una contribución a la Asamblea Nacional de la CRB, usted hizo una comparación de la Vida Consagrada con la mariposa, en el sentido de ser desencadenadoras de una inmensa energía positiva. ¿Cuáles son las implicaciones que esa perspectiva trae para los religiosos de hoy?

Fray Susin – La comparación con esa Ley Física, que popularmente se llama “efecto mariposa”, muestra una posibilidad real, pero de la que no somos “dueños”, y por eso no la podemos manipular. Lo que podemos hacer es batir las alas, como lo hace la mariposa. Ahora, lo que va a suceder de transformación de la sociedad, en la acción, algunas veces lo que se desencadene será pequeño y puntual, pero no dependerá de nosotros. En un cierto sentido, estamos en una posición más humilde, mucho mejor, pero eso no significa que tenga menos efecto. Puede tener incluso más. Existe también la cuestión de la sensibilidad, porque tanto la mariposa como la abeja, que es el otro elemento con la cual lo comparo, son sensibles a aquello que el contexto ofrece de mejor para su vida o no: la mínima polución en el ambiente es sentida por ellas. Pero, por otro lado, saben ir al néctar adecuado, aquello que hay de mejor en el ambiente. Entonces, pienso que es una metáfora interesante para cuando pensamos la Vida Religiosa.

R.F - En su texto, Ud. menciona el hecho de que estamos viviendo un periodo permeado por crisis y cambios. ¿De qué forma la comunicación en red puede favorecer una respuesta creativa a los desafíos en el contexto actual?

Fray Susin – El trabajo en red se ha transformado en un nuevo modelo para que la gente se sitúe, sea en la

Mística, comunidad y misión

Fray Susin: 40 años trabajando en Teología

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ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

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misión, en la comunidad y hasta en la mística, porque hay estudios que muestran que Dios también habita en el byte y la red. Pasa también por nuestros mensajes, nuestras palabras, por algunas imágenes. Y eso está siendo mucho más democratizado. Por otro lado, se exige un discernimiento nuevo. Por estar ligados a la red, no sabemos todos sus efectos. Ya se demuestra que existen grandes efectos, como un medio favorable para la paz, para la solidaridad. Pero existen también (la necesidad de) crear una autosatisfacción en la propia red, en cuanto las personas no son solamente una red, son cuerpo, son pan, necesitan de socorro físico. Y eso puede ser desconocido.

Fuera de todo, la red tiene un elemento que algunos llaman de grotesco, pues Ud. puede, haciendo un clic, cambiar todo el contexto, pasando de un contexto espiritual, místico y de una buena palabra hacia un

texto de violencia, de odio contra las personas y sus derechos. Es necesario entender esa lógica, que no es la misma que teníamos antes. Por ser digital, tiene una complejidad, pero ella se vino a quedar.

R.F - ¿En qué aspectos el texto de Isaías puede iluminar la vida de los religiosos hoy? “No se quenes recordando el pasado, no piensen en las cosas antiguas. Miren que estoy haciendo una cosa nueva, ella está despuntando ahora, ¿y ustedes no lo perciben?” (Is 43, 18-19).

Fray Susin – Cuando Isaías nos reprende porque no estamos percibiendo, esa reprensión está bien, porque, ¡si nosotros estuviésemos percibiendo, entonces la Biblia estaría errada! O sea, por el hecho de no percibir algo nuevo que brota con una gran fragilidad y muy pequeño, yo diría que tiene una explicación.

Es lógico que tengamos dificultad de percibirlo. Y aceptar esa dificultad de percibir los signos de futuro es un cambio tan grande que no nos debería de asustar.

Es una postura de fe y de esperanza fundamental para quien cree en la Palabra de Dios, porque el problema de la época de Isaías es que el pueblo en el exilio no creía en el futuro y se quedaba lloriqueando los recuerdos del pasado. Ahora bien los profetas insistían que era bueno recordar lo que Dios ya había realizado en el pasado, aquí en el contexto de esa frase se dice “no recuerden más”, “vamos a olvidar el pasado, aunque él haya sido glorioso, vamos hacia el futuro”.

Dios abre el futuro, pero lo abre en la fragilidad, y por eso necesitamos cultivar los signos con mucho cariño y mucho cuidado. Son pequeños, son frágiles. ¿Y cómo percibimos que es una señal de Dios? Exactamente cuando recordamos el pasado y recordamos que es el modo normal de la acción de Dios, es porque Él no es un Dios de fuerza, un Dios que comete violencia. Él siempre actúa en la fragilidad.

Fray Luiz Carlos Susin hizo una contribución a la Asamblea 2017

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44 REVISTA FRATERNITAS

ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

Conclusões da Assembleia-Retiro de Irmãos

De 8 a 14 de janeiro aconteceu no CECREI, em São Leopoldo/RS, a Assembleia-Retiro dos Irmãos da Província La Salle Brasil-Chile. Participaram Irmãos

de diversas gerações e localidades do Brasil, do Chile e de Moçambique. A ocasião contou com momentos de partilha, oração e reflexão acerca dos temas relacionados à vida dos Irmãos e da Província. Um marco foi a presença do Superior Geral do Instituto, Ir. Robert Schieler, ministrando palestra, falando sobre Cultura Vocacional e Itinerários Formativos e Vida de Comunidade.

Irmãos Lassalistas reunidos em São Leopoldo/RS

CENÁRIOS E SUJEITOS EMERGENTES

1. A partilha do carisma com os Colaboradores Leigos e a necessidade de promoção da vocação do leigo para a missão educativa lassalista.

2. A identidade do Irmão: como ser Irmão nos dias de hoje e como fazer uma pastoral vocacional e uma formação adequada para o contexto atual, tendo em vista a realidade do empobrecido.

3. A qualidade da vida fraterna, como experiência de fé e de vida em comunidade.

4. A realidade de concorrência e de mercantilização da educação e a necessidade de investimento na profissionalização da gestão e da ação educativa.

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ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

MARÇO 2017

1. Consolidar o projeto educativo institucional, visando maior qualidade da ação educativa em todas as áreas de atuação da Província, com estruturas e investimentos necessários para tal.

2. Proporcionar aos Irmãos e Colaboradores Leigos formação continuada e qualificação permanente para a missão, sem perder de vista a mística e a identidade cristã e lassalista.

3. Oferecer respostas adequadas aos múltiplos apelos educacionais do mundo, com atenção especial aos mais empobrecidos e às periferias.

4. Planejar o processo de preparação acadêmica de Irmãos e Colaboradores Leigos a longo prazo e formar especialistas que sejam referência nas áreas de educação, pastoral, gestão...

5. Estimular Irmãos e Colaboradores Leigos para a pesquisa científica e a produção acadêmica, a partir da prática educacional.

MISSÃO

1. Qualificar a formação profissional e acadêmica dos Irmãos, através de cursos presenciais, educação a distância (EAD), ferramentas virtuais e experiências formativas.

2. Assumir a própria formação continuada como elemento integrante do projeto de vida.

3. Proporcionar aos Irmãos um acompanhamento sistemático nas dimensões constitutivas de sua vida, por parte da Direção Provincial, dos Diretores das Comunidades Religiosas e outras instâncias.

4. Reconfigurar os processos de formação pessoal, comunitária e provincial como itinerários formativos.

5. Implementar a Cultura Vocacional nas Comunidades Educativas, incluindo-a no Planejamento Estratégico.

CULTURA VOCACIONAL E ITINERÁRIOS FORMATIVOS

1. Fortalecer a vivência do Projeto Comunitário, elaborado e vivido a partir das condições concretas da Comunidade e garantindo a participação ativa de todos os Irmãos na gestão da Comunidade e na tomada de decisões.

2. Intensificar o relacionamento fraterno entre os Irmãos, fomentando a doação, o conhecimento, o apoio e o respeito mútuos; estimulando a partilha da vida e da missão, e criando momentos formais e informais de encontro e

convivência.

3. Dar atenção ao perfil e à formação do Irmão Diretor de Comunidade, com capacitação para acompanhar os Irmãos, organizar a vida comunitária e fomentar o clima fraterno e cordial.

COMUNIDADE

1. Reforçar o sentido de fraternidade e as práticas de convivência, através da humanização de nosso cotidiano, simplicidade das relações, cuidado, sensibilidade, acolhida do outro (amar-se, aceitar-se, respeitar-se),

discernimento comunitário..., em uma “mística da confiança”.

2. Fortalecer as práticas de espiritualidade pessoais e comunitárias: a vivência do espírito de fé; a comunhão com Deus; a meditação, contemplação e partilha da Sagrada Escritura; a vivência sacramental; o reavivamento dos

retiros comunitários...

3. Promover a formação continuada de Irmãos e Colaboradores Leigos para a mística lassalista e a consciência do “juntos e por associação”.

4. Assumir nossa missão juntos e por associação – missão entendida como experiência de fé e testemunho da relação com Deus -, resgatando a capacidade de nos comover com as realidades de hoje (pobres e excluídos).

5. Compreender o “ser Irmão” como um itinerário existencial de fé e uma construção de sentido para toda a vida.

MÍSTICA E ESPIRITUALIDADE

FOCOS

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46 REVISTA FRATERNITAS

ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

Del día 08 a 14 de enero se realizó en CECREI, Sao Leopoldo/RS, la Asamblea-Retiro de los Hermanos del Distrito La Salle Brasil-Chile.

Participaron Hermanos de diferentes generaciones y lugares de Brasil, Chile y Mozambique. La ocasión contó con momentos de diálogo, oración y reflexión acerca de los temas relacionados con la vida de los Hermanos del Distrito. Un hecho destacado fue la presencia del Superior General del Instituto, Hno. Robert Schieler, dando una conferencia, hablando sobre Cultura Vocacional e Itinerarios y Vida de Comunidad.

Conclusiones de la Asamblea-retiro de Hermanos

ESCENÁRIOS Y TEMAS EMERGENTES

1. El compartir del carisma con los Colaboradores seglares y la necesidad de promover la vocación del seglar para la misión educativa lasaliana.

2. La identidad del Hermano: cómo ser Hermano hoy y cómo hacer una pastoral vocacional y una formación adecuada para el contexto actual, teniendo en vista la realidad del empobrecido.

3. La calidad de la vida fraterna, como experiencia de fe y de vida en comunidad.

4. La realidad de la concurrencia y de la mercantilización de la educación y la necesidad de inversión en la profesionalización de la gestión y de la acción educativa.

Un hecho destacado fue la presencia del Superior General del Instituto, Hno. Robert Schieler

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ASSEMBLEIA DE IRMÃOS

MARÇO 2017

1. Consolidar el proyecto educativo institucional con la mira puesta en mayor calidad de la acción educativa en todas las áreas de actuación de la Provincia, con las estructuras e inversiones necesarias para ello.

2. Proporcionar a los Hermanos y Colaboradores seglares formación continua y calificación permanente para la misión, sin perder de vista la mística y la identidad cristiana y lasaliana.

3. Ofrecer respuestas adecuadas a los múltiplos llamados educacionales del mundo, con atención especial a los más empobrecidos y a las periferias.

4. Planear a largo plazo el proceso de preparación académica de los Hermanos y Colaboradores seglares y formar especialistas que sean referencia en las áreas de educación, pastoral, gestión...

5. Estimular a los Hermanos y Colaboradores seglares para la investigación científica y la producción académica, a partir de la práctica educacional.

MISIÓN

1. Dar calidad a la formación profesional y académica de los Hermanos mediante cursos presenciales, educación a distancia (EAD), instrumentos virtuales y experiencias formativas.

2. Asumir la propia formación continua como elemento integrante del proyecto de vida.

3. Proporcionar a los Hermanos acompañamiento sistemático en las dimensiones constitutivas de su vida, mediante la Dirección Provincial, los Directores de las Comunidades Religiosas y otras instancias.

4. Reconfigurar los procesos de formación personal, comunitaria y provincial como itinerarios formativos.

5. Incorporar la cultura vocacional en las Comunidades Educativas, incluyéndola en el Planeamiento Estratégico.

CULTURA VOCACIONAL E ITINERARIOS FORMATIVOS

1. Fortalecer la vivencia del Proyecto Comunitario, elaborado y vivido a partir de las condiciones concretas de la Comunidad y garantizando la participación activa de todos los Hermanos en la gestión de la Comunidad y

en la toma de decisiones.

2. Intensificar la relación fraterna entre los Hermanos, fomentando la donación, el conocimiento, el apoyo y el respeto mutuos; estimulando a compartir la vida y la misión, y creando momentos formales e informales de

encuentro y convivencia.

3. Atender al perfil y a la formación del Hermano Director de Comunidad: capacitación para acompañar a los Hermanos, organizar la vida comunitaria y fomentar el clima fraterno y cordial.

COMUNIDAD

1. Reforzar el sentido de fraternidad y las prácticas de convivencia a través de la humanización de nuestro cotidiano, la sencillez de las relaciones, el cuidado, la sensibilidad, la acogida al otro (amarse, aceptarse,

respetarse), el discernimiento comunitario..., en una “mística de la confianza”.

2. Fortalecer las prácticas de espiritualidad personales y comunitarias: la vivencia del espíritu de fe; la comunión con Dios; la meditación, la contemplación y el compartir de la Sagrada Escritura; la vivencia

sacramental; revivir los retiros comunitarios...

3. Promover la formación continua de los Hermanos y Colaboradores seglares en la mística lasaliana y en la consciencia del “juntos y por asociación…”.

4. Asumir nuestra misión juntos y por asociación – misión entendida como experiencia de fe y testimonio de la relación con Dios -, rescatando la capacidad de conmovernos con las realidades de hoy (pobres y excluidos).

5. Comprender el “ser Hermano” como itinerario existencial de fe y construcción de sentido para toda la vida.

MÍSTICA Y ESPIRITUALIDAD

FOCOS

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memória

REVISTA FRATERNITAS

Formação continuada

Na Província, a formação continuada é um dos princípios que norteiam a Instituição. Os Irmãos Lassalistas qualificam-se em estudos em áreas diversas. Nesta seção, a Revista Fraternitas notifica algumas das conclusões de cursos acadêmicos realizadas por Irmãos da Província entre 2015 e 2017.

Ir. Alessandro Batista MendesCurso: Especialização em Neuropedagogia.Instituição: Universidade do Interior Paulista – São Carlos/SP.Conclusão: 2016.

Ir. André MüllerCurso: Pós-Graduação em Formação Humana e Desenvolvimento de Pessoas - Curso de Formadores. Instituição: Unilasalle Canoas/RS.Conclusão: 2015.

Ir. Angelo Leubet Curso: Mestrado em Educação.Instituição: Unilasalle Canoas/RS.Conclusão: 2015.

Ir. César Meurer Curso: Doutorado em Filosofia Instituição: Unisinos – São Leopoldo/RS (desenvolvida em parte na Johns Hopkins University, EUA).Conclusão: 2015.

Ir. Claudio André DieringsCurso: Pós-Graduação em Formação Humana e Desenvolvimento de Pessoas - Curso de Formadores. Instituição: Unilasalle Canoas/RS.Conclusão: 2015.

Ir. Edenilson TatschCurso: Graduação em Medição e Avaliação de Aprendizajes. Instituição: Universidad Católica de Chile – Santiago - Chile.

Conclusão: 2016.

Ir. Francisco LucianoCurso: Graduação em Ciências de Educação e Formação.

Instituição: Instituto Superior de Ciências de Educação – Abidjã, Costa do Marfim.Conclusão: 2016.

Ir. Gerso Lopes PazCurso: Mestrado em Gestão Educacional.Instituição: Unisinos – São Leopoldo/RS.Conclusão: 2016.

Ir. Jardelino Menegat Curso: Doutorado em Educação.Instituição: Unilasalle Canoas/RS. Conclusão: 2016.

Ir. Jorge BieluczykCurso: MBA em Gestão Empresarial.Instituição: Fundação Getúlio Vargas – Porto Alegre/RS.Conclusão: 2016.

Curso: Mestrado em Educação.Instituição: Unilasalle Canoas/RS.Conclusão: 2016.

Ir. Leonardo Ortiz BravoCurso: Graduação em Gestão e Elaboração de Projetos Educativos. Instituição: Universidad Nacional Andrés Bello – Santiago – Chile. Conclusão: 2016.

Curso: Mestrado em Currículo e Avaliação de Projetos Educativos. Instituição: Universidad Nacional Andrés Bello – Santiago – Chile.Conclusão: 2016.

Ir. Marcelo MisturiniCurso: Pós-Graduação em Formação Humana e Desenvolvimento de Pessoas - Curso de Formadores.Instituição: Unilasalle Canoas/RS.Conclusão: 2015.

Ir. Marcos SantosCurso: Graduação em Teologia Pastoral.Instituição: Unilasalle Canoas/RS.Conclusão: 2017.

Ir. Miguel Teixeira de FreitasCurso: Especialização em Educação Global, Inteligências Humanas e Construção da Cidadania.Instituição: Faculdade de Ensino Superior do Nordeste - João Pessoa/PB. Conclusão: 2016.

Ir. Rafael Alexandre ZydeckCurso: Graduação em Administração.Instituição: Centro Universitário da Faculdade da Serra Gaúcha – Caxias do Sul/RS. Conclusão: 2016.

Ir. Roberto Carlos RamosCurso: Mestrado em Gestão Educacional.Instituição: Unisinos - Porto Alegre/RS. Conclusão: 2015.

Curso: MBA em Gestão de Pessoas e Liderança Coach.Instituição: Unilasalle Canoas/RS.Conclusão: 2015.

Ir. Samuel CastroCurso: Graduação em Teologia.Instituição: Unilasalle Canoas/RS.Conclusão: 2016.

Ir. Valdir Leonardo da SilvaCurso: Mestrado em Educação.Instituição: Unilasalle Canoas/RS.Conclusão: 2016.

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49MARÇO 2017

Aniversários da presença lassalista no

Chile, Brasil e Moçambique Gabriela BoniSetor de Comunicação e Marketing da Rede La Salle

O sonho de transformar a sociedade para torná-la mais justa, fraterna, solidária e sustentável acompanha a história da humanidade. Os

lassalistas participam desse ideal e são chamados a dar sua contribuição sendo fiéis e criativos.

Levando em conta essa motivação, em janeiro de 2012 foi consolidada a Província La Salle Brasil-Chile, fruto do diálogo e do desejo de fortalecer a vitalidade e a viabilidade da missão na América Latina. Sua origem se deu com a reestruturação das Províncias do Brasil e da Delegação do Chile, tendo como referência o processo de reestruturação das Províncias que vem ocorrendo no Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs. Sendo um grupo formado por Brasil, Chile e Moçambique, a Província prospera, ano após ano, renovando a esperança na educação do século XXI.

O ano de 2017 é especial, pois são celebrados 140 anos de presença lassalista no Chile, 110 no Brasil e 25 em Moçambique. Segundo o Ir. Provincial, Edgar Nicodem, celebrar esses períodos é “um convite para olhar o passado com gratidão e o futuro com esperança”.

Do Ensino Básico à Educação Superior, das Obras Assistenciais à Formação para a Vida Consagrada, a Província segue direcionamentos e objetivos do quadriênio 2015-2018. Ao partilharem diversos horizontes, Irmãos e Leigos levam adiante, nas instituições da Província, a missão de responder com fidelidade criativa às necessidades e urgências do mundo atual.

Conheça mais sobre os três países!

Brasil – Neste país, a Rede La Salle iniciou sua missão com a chegada de 12 Irmãos, em 1907, ao Rio Grande do Sul1. A Obra Lassalista foi se expandindo e, atualmente, engloba unidades de Educação Básica, Educação Superior e Centros de Assistência Social em 9 estados brasileiros e no Distrito Federal, além do trabalho em conjunto com as Fundações La Salle e O Pão dos Pobres de Santo Antônio. Também há o convênio com escolas estaduais que adotam a Proposta Educativa Lassalista, contribuindo com iniciativas socioeducativas em suas localidades.

Chile – Os Irmãos chegaram ao Chile em 1877, provenientes do Equador e da França. Inicialmente contribuíram com os mais necessitados em obras vinculadas à Igreja. Somente 30 anos depois, tendo fortalecido a formação de Irmãos chilenos, começaram a ter obras educativas próprias.

Moçambique – Apresenta um cenário em que crianças e jovens vivem em zonas de “fronteira, deserto e periferia”. É essa razão que motiva os Irmãos de La Salle a investirem na transformação de vidas pela educação nessa região da África desde 1992.

1 Cf. NERY, Irmão. A saga dos pioneiros Lassalistas no Brasil. Niterói, RJ: La Salle, 2007.

Selo comemorativo marca festejos

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50 REVISTA FRATERNITAS

Dia da Província 2017

Em 14 de janeiro foi celebrado o Dia da Província, encerrando a Assembleia-Retiro dos Irmãos.

A celebração aconteceu no CECREI, em São Leopoldo/RS, com missa presidida pelo arcebispo de Porto Alegre/RS, Dom Jaime Spengler. Oito Jovens Irmãos emitiram seus Votos Perpétuos na presença do Superior Geral; outros renovaram seus votos por mais um ano e cerca de dez Irmãos celebraram jubileu de 25, 50, 60 e 75 anos de Vida Religiosa Lassalista. Foi um momento marcante dando início aos festejos de 2017 pelos anos de presença lassalista no Chile, no Brasil e em Moçambique.

O Dia da Província, que acontece anualmente, reuniu Irmãos, Formandos, familiares e colaboradores da Rede La Salle, sendo concluído com um almoço de confraternização.

Irmãos que celebraram Aniversário de Profissão Religiosa:

25 anos de Vida Religiosa Consagrada

Alvimar D’Agostini

50 anos de Vida Religiosa Consagrada

Ivan José Migliorini

60 anos de Vida Religiosa Consagrada

José Ivo Ullerich

Israel José Nery

Jerônimo Rogério Brandelero

Laurentino José Flach

Lúcio Pauli

Rosalino Domingos Cogo

70 anos de Vida Religiosa Consagrada

José Arvedo Flach

Sergio Del Carmen Moreno Moreno

75 anos de Vida Religiosa Consagrada

Germano Rebellatto

Evento contou com presença do Superior Geral

Irmãos que realizaram Votos Perpétuos:

Abnaílson Moreira dos Santos, André Carlos dos Santos Oliveira, André Luís Müller, Cláudio André Dierings, Cláudio Pereira da Silva, Heriton de Souza Vilanova, Joneilton José Araújo, Junior Schnorrenberger.

Irmãos que renovaram Votos:

Acássio de Souza Ribeiro, Adriano Gomes Bezerra, Alberlan Martins Coelho, André Felipe Nawroski, André Luís Dellabetta Foralosso, Cristiano José Mário, Edenilson Tatsch, Elton Strehl, Fabrício Miguel Heinzmann, Heider dos Santos Lopes Costa, José Roberto dos Santos Oliveira, Marcos Antonio dos Santos, Nicolás Antonio Herrera Herrera, Rafael Alexandre Zydeck, Samuel Sampaio Castro, Sidinei Farias, Tiago Augusto Knapp e William Mallmann.

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51MARÇO 2017

XXIV AGE: Horizonte e Prioridades para o Triênio 2016-2019Irmão Marcos Antonio dos SantosComunidade La Salle e Postulado – Canoas/RS

De 11 a 15 de julho de 2016, no Colégio Madre Carmen Sallés, em Brasília/DF, foi realizada a

XXIV Assembleia Geral Eletiva da CRB Nacional que teve por principal objetivo escolher a nova Diretoria, o Horizonte e as Prioridades para o Triênio 2016-2019. A Assembleia reuniu 520 representantes de Institutos, Congregações e Ordens

associados à Conferência dos Religiosos do Brasil. O evento teve como tema “Vida Religiosa Consagrada em processo de transformação” e lema “Eis que estou fazendo uma coisa nova” (Is, 43,19). Contou com a participação do prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica do Vaticano, Dom João Braz, Cardeal de Aviz, que versou sobre o tema “Exigências e Tendências da Igreja e Vida Religiosa Consagrada”.

A logomarca da Assembleia representou bem as temáticas discutidas no evento:

• A árvore representa a Igreja, na qual estão presentes as diversas formas de Vida Consagrada e a diversidade dos carismas, representadas pelas folhas.

• Os três galhos nos remetem ao legado da Igreja para a Vida Consagrada no ano a ela dedicado: Evangelho, Profecia e Esperança, bem como nos recordam os três votos religiosos clássicos.

• A cruz, símbolo de Cristo por excelência, representa também o caráter missionário da Vida Consagrada, cujos braços se direcionam aos quatro cantos da Terra. Paira sobre ela o Espírito Santo que sempre a impulsiona a não desistir fazendo gerar novos frutos e frentes de apostolado.

Novo Triênio, novo Horizonte que assim está definido: Como VRC em processo de transformação, conscientes da crise política-ética-social-econômica no Brasil, cremos que “Deus está fazendo coisas novas” (cf. Is 43,19). Iluminados/as pela Trindade, em comunhão com a Igreja e em sintonia com a CLAR, sentimo-nos convocados/as a viver “em saída” e a tecer relações de misericórdia, com palavras, gestos e atitudes humanizadoras, priorizando os empobrecidos e vulneráveis, as juventudes e a ecologia integral. Pelas trilhas da mística e da profecia e da esperança criativa, visamos fidelidade ao projeto de Deus.

É significativa a oportunidade de socializar com nossas Comunidades Religiosas e Educativas as decisões da Assembleia Geral Eletiva. Que cada um, a seu modo, saiba acolher os seus apelos, vislumbrar o seu HORIZONTE e concretizar suas PRIORIDADES, de compromisso em compromisso, socorrer a vida onde ela mais clama.

Prioridades para o Triênio

Integrar Mística e Profecia - Fortalecer a integração entre mística e profecia, com o coração ardente e pés de peregrino/a, de olhos abertos e ouvidos atentos às novas fronteiras de missão, acolhendo os impulsos do Espírito, no seguimento missionário de Jesus.

Relações Humanizadoras e Solidárias - Intensificar a cultura do encontro consigo, com o/a outro/a, com a criação e com Deus, para que as relações comunitárias, intergeracionais, interculturais e intergeneracionais sejam circulares, afetivas, solidárias, vivendo os valores da comunhão, gratuidade, proximidade e misericórdia.

Missão com opção preferencial pelos pobres - Revigorar a opção preferencial pelos pobres, vulneráveis e excluídos, com um estilo de vida simples, assumindo a defesa da vida onde está mais ameaçada, em compromisso com os movimentos sociais, o processo democrático, a justiça social, as fronteiras existenciais, o diálogo intercultural e inter-religioso e a ecologia integral.

Intercongregacionalidade - Fomentar a partilha de Carismas dos/as Consagrados/as entre si e com leigos/as, numa eclesiologia sinodal de comunhão e de corresponsabilidade, incentivando ações intercongregacionais e em redes, o protagonismo das Novas Gerações e a promoção geracional.

Logotipo da Assembleia representou bem as temáticas discutidas no evento

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52 REVISTA FRATERNITAS

A Expedição Vocacional é um projeto do Serviço de Pastoral Vocacional que tem como

objetivos: conhecer as etapas e as casas de formação dos Irmãos Lassalistas; conviver com outros vocacionados e com os formandos a Irmão Lassalista; vivenciar experiências formativas e coletar informações que possam contribuir

para o projeto de vida e a escolha vocacional; participar de atividades voluntárias e partilhar experiências vocacionais.

Em sua 4ª edição, realizada entre os dias 9 e 18 de novembro de 2016, participaram 11 adolescentes e jovens oriundos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Realizaram durante estes dez dias, na Grande Porto Alegre/RS e Caxias do Sul/RS, experiência e vivência do carisma de um Irmão de La Salle.

Para La Salle, o Carisma Lassalista é um dom de Deus. E hoje todos os Irmãos e colaboradores são responsáveis pela vitalidade do carisma. Sobretudo porque todos somos chamados a ser sinal de comunhão e fraternidade no seio da Igreja.

Além dos vocacionados, participaram da expedição uma Irmã Guadalupana de La Salle, a mãe de um Irmão Lassalista (acompanhante de três jovens do Paraná), Irmãos e leigos que trabalham na Pastoral Vocacional. O grupo participou de momentos de formação e espiritualidade e também de passeios turísticos e reflexivos, como a Peregrinação ao Santuário de Caravaggio na cidade de Farroupilha/RS. Foram 7 Km de caminhada em clima de fraternidade, partilha de vida e fé.

Conforme consta no plano de Pastoral Vocacional que norteia todos nossos projetos, o Serviço de Pastoral Vocacional “visa contribuir com as pessoas na busca pelo sentido da vida, na realização dos seus sonhos, projetos e aspirações mais profundas de felicidade, sempre em conformidade com o chamado de Deus para cada ser humano”.

Assim sendo, tanto os Irmãos como toda a comunidade lassalista devem proporcionar aos jovens momentos de reflexão sobre seu projeto de vida e ajudar no itinerário de acompanhamento vocacional. Nessa perspectiva, a “Cultura Vocacional” consiste nessa consciência de responsabilidade coletiva em favor da opção vocacional

Expedição Vocacional 2016Irmão Sebastião L. Pereira Equipe de Pastoral da Província La Salle Brasil-Chile

Veja alguns depoimentos dos jovens participantes!

‘‘Foi uma experiência única, um estilo muito bom de viver, amei cada dia conhecer o Carisma Lassalista. A peregrinação com a reflexão para encontrar nosso propósito e a sintonia com Deus e a natureza foi muito especial para mim.” – Leonardo Kobachuk – Curitiba/PR.

‘‘Foi uma das melhores experiências que tive em minha caminhada vocacional. Nos momentos de reflexão e no trabalho com as crianças do La Salle Esmeralda, via meu projeto de vida se fortalecer. Um grande marco não só em minha vida, mas também na vida de meus futuros colegas. Aprendi e ensinei, e hoje estou firme sobre minhas ideias.” – João Colibaba – São Miguel do Oeste/SC.

‘‘Aprendi muito e tive boas experiências, agora terei um projeto de vida melhor.” – Guilherme Barbosa – Toledo/PR.

‘‘A Expedição Vocacional despertou mais ainda em todos os vocacionados a mística e sentido para seguir a missão de São João Batista de La Salle pela educação. A nossa bússola nos mostrou o caminho a seguir e pela qual temos um chamado!” – Rafael Vasconcelos – Canoas/RS.

A Expedição Vocacional é um projeto do Serviço de Pastoral da Província

acertada, do encantamento dos jovens por ela e de seu amadurecimento e sustentação ao longo do caminho e da fidelidade a ela (PLANO DE PASTORAL DA PROVíNCIA LA SALLE BRASIL-CHILE). Faz parte e integra a cultura vocacional o testemunho de vida do seguimento de Jesus, a oração intencional pelas vocações e o trabalho planejado e sistemático.

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53MARÇO 2017

A interação, a vivência e a comunhão entre os Formandos é um dos

principais objetivos da etapa de formação para se tornar um Irmão Lassalista. Entre as diversas atividades realizadas durante a formação inicial, o “Encontro de Formandos Maiores” obteve especial respaldo entre os Formandos e a

equipe de formação, por sua novidade na programação e organização e pela especial comunhão de ideais que gerou.

O encontro possui diversas dimensões, tanto missionária, como de vivência e estudo. Essa atividade, iniciada em 2012, proporcionou diversas experiências em várias comunidades do estado do Rio Grande do Sul. O encontro já foi realizado tanto em comunidades eclesiais de base, como em comunidades terapêuticas para dependentes químicos.

Durante o ano de 2016, o Encontro de Formandos Maiores teve duas edições, uma em cada semestre. A primeira edição teve um estilo mais missionário, realizado na Região Metropolitana de Porto Alegre/RS. Os Formandos realizaram atividades em obras assistenciais, tanto no asilo Padre Cacique como em instituições de educação comunitária como o IAPI (Instituto de Assistência e Apoio à Infância).

A segunda edição foi realizada em duas etapas. Primeiro, ocorreu o pré-encontro na comunidade do Noviciado em Porto Alegre, com o intuito de apresentar a proposta e dividir as equipes de competição. A segunda etapa dos Formandos Maiores foi realizada em Criúva, Caxias do Sul/RS, em outubro de 2016, e teve como foco a convivência entre os Formandos da etapa do Postulado e do Noviciado. Foram estudados também os documentos “Identidade e Missão do Irmão na Igreja” e a exortação “‘Amoris Laetitia’: a alegria do amor na família”, que ao longo do encontro foram apresentados de forma criativa entre os Formandos.

A proximidade da realização dos Jogos Olímpicos, realizados no Rio de Janeiro, motivou a equipe organizadora a utilizar esse grande evento como tema norteador para a segunda edição do Encontro dos Formandos Maiores, que foi denominado Religious Olympics.

Com o intuito de dinamizar o encontro e de promover a convivência entre os participantes, na tarde do segundo dia foram realizados jogos e dinâmicas de competição. No domingo pela manhã, além da avaliação, sugestões e novas ideias foram lançadas o encontro de 2017.

Comunhão e Formação: a experiência do Encontro de Formandos MaioresCleiton Kerber Comunidade La Salle e Noviciado – Porto Alegre/RS

Como testemunho, apresentamos o relato de participantes da segunda edição Encontro dos Formandos Maiores de 2016:

‘‘O Encontro foi medalha de ouro: proporcionou momentos de convivência, integração, partilha de vida e, o mais importante, a predominância do clima de descontração e alegria. Foi uma bela demonstração do espírito esportivo dos Formandos Lassalistas e do protagonismo que cada um encarna. Vale ressaltar a criatividade e a organização dos Formandos e dos Irmãos que estavam à frente desse evento.” - Taylon de Amorim Torres - Noviço Lassalista.

‘‘Cada um que ali estava expressou a vivência do carisma e da alegria, proporcionando a todos um proveitoso encontro. Percebo a grande importância desses momentos, fortalecendo a vocação e a missão que todos temos em comum pela educação através do tripé lassalista (fé, fraternidade e serviço) que move a congregação.” - Rafael Vasconcelos - Vocacionado Lassalista.

‘‘Foi um momento único, em que percebei novamente o exemplo da vivência irmã entre os Formandos. Encontros como esse mostram a nossa ligação com o outro, com a Igreja e com o propósito ao qual nos desafiamos diariamente - a Missão Lassalista - a educação.” - Renan Bieger da Silva – Postulante Lassalista.

Encontro fortaleceu a convivência entre os Formandos

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54 REVISTA FRATERNITAS

Cronograma de AtividadesA Revista Fraternitas divulga alguns dos próximos eventos da Província La Salle Brasil-Chile, momentos para fortalecer o sentimento de pertença a partir da convivência, reflexão, partilha e oração.

19 de março de 2017 – Rito de Ingresso no Aspirantado e Pré-Postulantado.Locais: São Miguel do Oeste/SC, Zé Doca/MA, Altamira/PA e Ananindeua/PA.Responsável: Direção de Formação.

20 a 23 de março de 2017 – XV Conferência Regional de Provinciais.Local: Bogotá – Colômbia.Responsável: CAR.

17 a 21 de abril de 2017 – Visita da Comunidade de Animação Regional ao Brasil.Local: Grande Porto Alegre/RS.Responsável: Direção Provincial CAR.

24 a 28 de abril 2017– Encontro Regional de Jovens Irmãos.Local: Zé Doca/MA.Responsável: CAR.

29 de abril a 1º de maio de 2017 – Encontro Novas Gerações: Região Sudeste.Local: Belo Horizonte/MG.Responsável: CRB.

5 a 7 de maio 2017– Encontro de Animadores Vocacionais: Regiões Sul e Sudeste.Local: Centro de Pastoral – Canoas/RS.Responsável: Coordenação de Pastoral Vocacional.

13 de maio de 2017 – Eucaristia: 140 anos de Presencia Lassalista no Chile.Local: Chile.Responsável: Representante do Ir. Provincial.

15 a 20 de maio de 2017 – Semana de La Salle.Local: Todas as Comunidades Educativas.Responsável: Equipe Provincial de Pastoral.

20 de maio de 2017 – Celebração dos 25 Anos dos Irmãos em Moçambique.Local: Beira – Moçambique. Responsável: Representante do Ir. Provincial.

21 a 27 de maio de 2017 – Retiro Provincial de Diretores das Comunidades Religiosas.Local: São Paulo/SP.Responsável: Direção Provincial.

26 a 28 de maio de 2017 – Encontro Novas Gerações: Região Norte.Local: Belém/PA.Responsável: CRB nacional.

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10 de junho de 2017 – Encontro de Irmãos por Regiões.Local: Diversos.Responsável: Direção Provincial 15 a 18 de junho de 2017 – Encontro das Novas Gerações da VRC: Região Sul.Local: Lages/SC.Responsável: CRB Nacional.

8 a 10 de julho de 2017 – Curso de Formação de Colaboradores Leigos.Local: Chile.Responsável: Representante do Ir. Provincial.

19 a 21 de julho de 2017 – IV Congresso Nacional de Educação Católica.Local: Belo Horizonte/MG.Responsável: ANEC.

26 a 30 de julho de 2017 – Encontro Provincial de Formadores.Local: Criúva/Caxias do Sul/RS.Responsável: Direção de Formação.

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Cultura VocacionalIrmão Éder Polido Coordenador Equipe de Pastoral da Província La Salle Brasil-Chile

O desenvolvimento da Cultura Vocacional é um elemento essencial dentro das

instituições religiosas para a continuidade da sua missão dentro da Igreja e, como tal, remete à coragem de propor um projeto de vida que permite descobrir a existência como dom de Deus e compromisso com as pessoas.

Dentro dessa perspectiva, a pessoa do Animador Vocacional é fundamental para a implantação e continuidade da Cultura Vocacional, como representante dessa nova cultura. O conceito de Animador Vocacional vem do termo Animação Vocacional – Anim – ação é a operação dar alma (animar, o dar a vida) para algo ou alguém; Voc – acional é um adjetivo que define em geral o estado normal do crente que, precisamente enquanto chamado, se situa dentro de uma comunidade em uma ação. Assim, pode se entender a Animação Vocacional como um chamado de Deus a dar/devolver a vida a alguém (Diccionario de Pastoral Vocacional, 2005).

Então, durante o acompanhamento vocacional é preciso ajudar o vocacionado a encontrar a sua vida e discernir a continuidade dela, esclarecendo os “como”, ou seja, os processos vitais e os “porquês” que são os sentidos da existência. É sobre esse processo que o Diccionario de Pastoral Vocacional se refere quando diz que a Animação Vocacional é uma dinâmica de devolver à vida a alguém. É fazer um trabalho de autoconhecimento, discernimento e criar possibilidades de escolhas.

Para isso, o Animador Vocacional precisa estar consciente desse processo e ter desenvolvido algumas competências básicas para empreender, descritas abaixo:

Capacidade para criar estratégias de acompanhamento – estabelecer para cada vocacionado uma estratégia de acompanhamento que permita o discernimento vocacional. Cada pessoa é única e por isso conhecê-la e criar junto com ela um itinerário individual é uma competência a ser desenvolvida.

Nessa estratégia, considerar que o acompanhamento vocacional acontece a partir da cultura institucional, nesse caso a lassalista. O acompanhamento individualizado precisa estar em sintonia com a instituição, principalmente

com sua cultura. Essa conexão permite resultados positivos na formação, posteriormente, evita contradições e desistências.

Lidar com a dinâmica da transferência e resistência – O Animador Vocacional será o mediador no processo de discernimento e para tal é necessário estar preparado para receber as consequências da relação de acompanhamento, bem como devolver ao vocacionado o que é dele. Por isso, a relação que se estabelece entre acompanhante e acompanhado é uma relação de identificações, projeções, resistências e transferências. A neutralidade em sua totalidade não é possível. Outro ponto importante é não confundir as relações durante o Acompanhamento Vocacional para evitar sobre posicionamentos.

O Animador Vocacional, além de representar a instituição como o todo, é um dos referenciais para o vocacionado que com ele, o Animador, se identifica positiva ou negativamente. É importante dar-se conta de que as dinâmicas inconscientes, as relações sentimentais, as resistências e outras estarão presentes durante todo o processo. Assim, o Animador Vocacional precisa estar atento ao seu próprio processo vocacional e não confundir o que é seu do que é do vocacionado.

No acompanhamento vocacional, o acompanhante torna-se um representante imaginário de alguém que fez o discernimento vocacional e agora pode ajudar outro a fazê-lo. A consciência de que o Animador Vocacional necessita ter é a de que o caminho será percorrido pelo vocacionado e que seu papel é ajudá-lo nessa travessia, encorajando-o a acreditar nessa possibilidade.

Um dos riscos dessa relação é quando o Animador Vocacional passa a ser o protagonista e não abre espaço para o vocacionado. Assim, há elevação das expectativas por parte do acompanhante que não correspondem mais ao que o vocacionado deseja e esse, por sua vez, apenas continua nessa relação por causa das expectativas, e não mais pelo discernimento.

Por isso, uma das tarefas do Animador Vocacional é ajudar a clarificar as suas expectativas e as do vocacionado, principalmente as de níveis inconscientes que se articulam antes e durante o acompanhamento vocacional. É uma tarefa árdua que exige entrevistas, diálogos, conhecimento humano, reflexão e interpretação.

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Abrir a mente – ficar atento àquilo que muda e estar sempre disposto a aprender. Em um contexto de rápidas mudanças e conectividade, mas ao mesmo tempo de complexidades e paradoxos, faz-se necessário uma abertura para acolher o novo e responder criativamente aos desafios das realidades vocacionais.

Inovar a obra – capacidade de se reinventar, de buscar novos métodos e soluções. A novidade faz parte do mundo atual e principalmente das realidades juvenis. Ser criativo é responder de modo diferente e eficaz aos problemas encontrados e com isso envolver pessoas que possam abraçar juntos os objetivos.

Empreender o futuro – desenvolver a capacidade de projeção. No acompanhamento vocacional, é importante ajudar o vocacionado a ver-se no futuro. Além disso, o Animador Vocacional precisa visualizar a instituição/congregação no futuro e lançar-se em direção ao futuro que é incerto, mas que aponta horizontes e perspectivas.

Ética do acompanhamento – o acompanhamento vocacional requer ética. Essa é a ética do esforço e da dedicação. É um

compromisso estabelecido entre um acompanhante, um acompanhado e uma instituição. Não se pode esquecer que são histórias pessoais e institucionais que estão envolvidas e tudo isso para uma missão dada por Jesus Cristo. Por isso, o esforço será mútuo e espera-se que seja recíproco para que ambos percorram um caminho de descobertas e comprometimento.

Por fim, na missão de animação vocacional serão necessários os encontros de tu a tu, em que Animador Vocacional e vocacionado se escutem e gerem discernimentos que produzam capacidades de escolha e continuidade dos itinerários.

Referências

BORILE, E; CABBIA, L; MAGNO, V; RUBIO, L. Diccionario de Pastoral Vocacional. Salamanca: Ediciones Sígueme, 2005.

CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2007.

Expedição Vocacional 2016; grupo em visita a Caxias do Sul/RS

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“Todo texto é uma partitura musical” (Rubem Alves)

Veja as dicas culturais que a Revista Fraternitas apresenta nesta edição:

Sem fins lucrativos: por que a democracia precisa das humanidades (WMF Martins Fontes, 2015) - A célebre filósofa Martha Nussbaum defende que é preciso resistir às tentativas de reduzir o ensino a uma ferramenta do Produto Interno Bruto. Fala do esforço em conectar novamente a educação às humanidades, a fim de dar aos estudantes a capacidade de ser verdadeiros cidadãos democráticos de seu país e do mundo. Valendo-se do relato de eventos educacionais perturbadores de todo o mundo, a filósofa apresenta um manifesto que deve soar como um brado de alerta para todos aqueles que se preocupam com os objetivos mais profundos da educação.

A Verdade é sinfônica: aspectos do pluralismo cristão (Paulus, 2016) - Qualidade de execução de uma orquestra depende do fato de cada músico executar bem sua parte individual e, ao mesmo tempo, inseri-la na unidade orgânica da composição. Com a metáfora sinfônica, Hans Urs von Balthasar ajuda a perceber que a riqueza de variedade e pluralidade de carismas e ministérios eclesiais não é incompatível com sua unidade. Ao contrário, não é necessário se afastar um milímetro sequer do centro do mistério de Cristo. É através dele que se descortina um imenso espaço de liberdade e pluralidade na unidade da Igreja católica, garantido pelo Espírito Santo.

Práticas e perspectivas de democracia na gestão educacional (Paulus, 2013) - O livro de Carlos Betlinski traz uma contribuição para pensarmos os processos de formação política, por meio de análises e problematizações das práticas de gestão da educação pública, baseando-se na experiência do exercício da democracia participativa e visando à formação de uma cultura política com princípios, valores e convicções.

DOCAT: Como agir? (Paulus, 2016) - Dando continuidade ao projeto do YOUCAT, o presente livro apresenta a Doutrina Social da Igreja numa linguagem jovem. Esta obra conta ainda com prefácio do Papa Francisco que manifesta o sonho de ter um milhão de jovens leitores da Doutrina Social da Igreja, convidando-os a ser Doutrina Social em movimento.

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2017, UM ANO DE CELEBRAÇÕES!

A Província La Salle Brasil-Chile, formada por Brasil, Chile e Moçambique, comemora datas especiais. São 140 anos de presença lassalista no Chile, 110 no Brasil e 25 em Moçambique.

Essas celebrações marcam a história de dedicação à educação humana e cristã,e o sonho de São João Batista de La Salle!

Rua Honório Silveira Dias, 636 - Porto Alegre/RS - Brasil

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Um chamado,

muitas vozes!

Província La Salle Brasil-Chile ANO 6 Nº 09 MARÇO DE 2017