Chapter 4 Mastery

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IVVeja as pessoas como realmente so: Inteligncia socialm geral, os maiores obstculos busca da maestria decorrem do desgaste emocional que experimentamos ao lidar com a resistncia e com as manipulaes a que estamos sujeitos por parte das pessoas ao nosso redor. Se no somos cuidadosos, nossa mente absorvida por intrigas e batalhas polticas sem fim. O principal problema que enfrentamos na arena social nossa tendncia ingnua de projetar nos outros nossas necessidades e desejos emocionais. Interpretamos equivocadamente as intenes deles e nossas reaes provocam confuso e conflito. Inteligncia social a capacidade de ver aqueles que nos cercam da maneira mais realista possvel. Ao superarmos nosso egocentrismo, podemos aprender a focar nos outros, compreendendo seus comportamentos em tempo real, interpretando de modo correto suas motivaes e discernindo possveis tendncias manipuladoras. Se navegarmos com destreza pelo ambiente social, teremos mais tempo e energia para nos concentrarmos no aprendizado e no desenvolvimento de habilidades. O sucesso alcanado sem inteligncia social no decorre da verdadeira maestria e no serduradouro. PENSAR DENTROEm 1718, Benjamin Franklin (1706-1790) foi trabalhar como aprendiz na grfica de seu irmo James, em Boston. O sonho dele era se tornar um grande escritor. Na grfica, aprenderia no s a operar as mquinas, mas tambm a editar manuscritos. Cercado de livros e jornais, poderia estudar e aprender com muitos exemplos de textos bem-redigidos. Seria a posio perfeita para ele. medida que a aprendizagem progredia, tambm se desenvolvia a educao literria que ele imaginara, e suas habilidades como escritor melhoravam substancialmente. At que, em1722, parecia que enfim teria a oportunidade perfeita como produtor de textos o irmo se preparava para lanar seu prprio grande jornal, intitulado e New-England Courant. Benjamin procurou James com vrias ideias interessantes sobre histrias que ele prprio poderia escrever, mas, para sua grande decepo, o irmo no estava interessado em suas contribuies para o novo jornal. Aquele era um empreendimento srio, e o trabalho de Benjamin era muito imaturo para The Courant.Benjamin sabia que seria intil discutir com James, um jovem muito obstinado. Mas, ao refletir sobre a situao, teve uma ideia: e se ele criasse um personagem fictcio que escreveria cartas para e Courant? Se as redigisse bem, James nunca suspeitaria que elas eram dele, e as publicaria. Depois de pensar muito, imaginou o personagem perfeito: uma jovem viva chamada Silence Dogood, que tinha opinies fortes sobre a vida em Boston, muitas das quais um tanto absurdas. Para garantir a verossimilhana, Benjamin passou longas horas imaginando um passado detalhado para ela. E concebeu to profundamente a personagem que ela comeou a ganhar vida dentro dele. Conseguia captar o pensamento da jovem e, em breve, despontava nele uma voz inspiradora muito realista, com caractersticas e experincias prprias.Ele ento enviou a primeira carta ao The Courant e se divertiu ao observar o irmo publicar a carta da leitora, com uma nota do redator pedindo-lhe que escrevesse mais. James provavelmente suspeitava que se tratava do trabalho de algum escritor talentoso da cidade sob pseudnimo a carta era muito sagaz e satrica para um leitor comum , mas, sem dvida, no tinha ideia de que o autor era Benjamin. James continuou a publicar as cartas subsequentes, que logo se tornaram a parte mais popular do The Courant.As atribuies de Benjamin na grfica comearam a se ampliar, e ele tambm se revelou um excelente editor para o jornal. Sentindo-se orgulhoso de todas as suas realizaes precoces, um dia no se conteve e confessou a James que era o autor das cartas de Silence Dogood. Esperando algum tipo de elogio, ficou surpreso com a m reao de James o irmo no gostava que mentissem para ele. Para piorar a situao, nos meses seguintes passou a tratar Benjamin de maneira cada vez mais fria e abusiva. Logo, Benjamin percebeu que j no tinha condies de trabalhar com o irmo, e, no outono de 1723, sentindo-se desesperado, resolveu deixar Boston, dando as costas para o irmo e para a famlia.Depois de vaguear por vrias semanas, chegou Filadlfia, decidido a se estabelecer por l. Com apenas 17 anos, praticamente no tinha dinheiro e no conhecia ningum, mas, por alguma razo, sentia-se cheio de esperana. Nos cinco anos em que trabalhou para o irmo, aprendera mais sobre o negcio do que homens com duas vezes a sua idade. Era muito disciplinado e acalentava grandes ambies. E, para completar, era um escritor talentoso e bem-sucedido. Sem restries sua liberdade, a Filadlfia seria sua prxima conquista.Passou os primeiros dias na cidade estudando o ambiente e sua confiana s fez aumentar. As duas grficas locais na poca estavam bem abaixo do nvel de suas congneres em Boston, e a qualidade dos textos nos jornais locais era desastrosa. Tudo isso indicava oportunidades sem fim para preencher lacunas e desbravar caminhos.Em duas semanas conseguiu emprego em uma dessas grficas, cujo proprietrio era um homem chamado Samuel Keimer. Na poca, a Filadlfia ainda era relativamente pequena e provinciana, e logo se difundiram notcias sobre o forasteiro e suas habilidades literrias.O governador da colnia da Pensilvnia, William Keith, tinha ambies de transformar a Filadlfia em centro cultural, e no estava satisfeito com as duas grficas tradicionais. Ao ouvir falar em Benjamin Franklin e em seu talento como escritor, mandou cham-lo. Impressionado com a inteligncia do jovem, estimulou-o a constituir sua prpria grfica, prometendo emprestar-lhe o capital inicial necessrio para dar a partida no negcio. As mquinas e os materiais teriam que vir de Londres, e Keith o aconselhou a ir Inglaterra pessoalmente para supervisionar a aquisio. O governador tinha contatos por l e arcaria com todas as despesas.Franklin mal acreditava na sua sorte. Apenas poucos meses antes, era um simples aprendiz do irmo. Agora, graas ao empreendedorismo e generosidade do governador, em breve teria sua prpria grfica e, com ela, poderia fundar um jornal e tornar-se uma voz influente na cidade, tudo antes de chegar aos 20 anos. Ao planejar a viagem a Londres, o dinheiro que Keith prometera no chegava; mas, depois de escrever-lhe algumas vezes, finalmente recebeu notcias do gabinete do governador, dizendo que no se preocupasse cartas de crdito estariam sua espera quando desembarcasse na Inglaterra. E, assim, sem explicar a Keimer o que pretendia fazer, deixou o emprego e comprou a passagem para a viagem transatlntica.Quando chegou Inglaterra, no encontrou nenhum documento sua espera. Receando que tivesse ocorrido algum problema de comunicao, procurou em Londres um representante do governador, a quem pudesse explicar o acordo. Durante a busca, veio a conhecer um comerciante rico da Filadlfia, que, ao ouvir sua histria, revelou-lhe a verdade o governador Keith era falastro notrio. Sempre prometia tudo a todos na tentativa de impressionar as pessoas com seu poder. O entusiasmo dele raramente durava mais que uma semana. No tinha dinheiro para emprestar, e seu carter valia tanto quanto suas promessas.Depois de escutar tudo isso e de refletir sobre sua situao, o que mais o transtornava no era o fato de agora se encontrar longe de casa, sozinho e sem dinheiro. No havia lugar mais estimulante para um jovem do que Londres, e, de alguma forma, ele se arranjaria por l. O que mais o chateava era a maneira como interpretara mal as intenes de Keith e como fora ingnuo.Felizmente, Londres estava apinhada de grficas enormes e, poucas semanas depois, conseguiu emprego em uma delas. Para esquecer o fiasco com Keith, atirou-se ao trabalho, impressionando o empregador com sua destreza em vrias mquinas e com suas habilidades de edio. Deu-se bem com os colegas, mas logo deparou com um estranho costume ingls: cinco vezes por dia, seus colegas tipgrafos faziam uma pausa para beber um pouco de cerveja. Aquilo os fortalecia para o trabalho, ou ao menos assim diziam. Todas as semanas Franklin deveria contribuir para o fundo da cerveja, que era compartilhado por todos na sala, mas ele se recusava a pagar no gostava de beber durante a jornada de trabalho e a ideia de que deveria abrir mo de parte do dinheiro conquistado a duras penas para que os outros arruinassem a sade deixava-o com raiva. Exps honestamente seus princpios, e os colegas aceitaram a deciso.Nas semanas seguintes, porm, coisas estranhas comearam a acontecer: erros passaram a pipocar nos textos que ele j havia corrigido e quase todo dia descobria novas falhas pelas quais era responsabilizado. Percebeu que estava a ponto de perder a pacincia. Se aquela situao perdurasse por mais tempo, com certeza seria demitido. Sem dvida algum estava sabotando seu trabalho. Quando se queixou com os colegas tipgrafos, atriburam tudo aquilo a um fantasma maldoso que assombrava a grfica. Por fim, dando-se conta do que estava ocorrendo, renunciou aos princpios e passou a contribuir para o fundo da cerveja. Os erros de repente desapareceram, assim como o fantasma.Depois desse incidente e de vrias outras mancadas em Londres, Franklin comeou a pensar com seriedade sobre sua situao. Ele parecia irremediavelmente ingnuo, sempre interpretando mal as intenes das pessoas ao redor. Ao refletir sobre seu problema, deparou com um paradoxo: quando se tratava de trabalho, ele era racional e realista, sempre procurando melhorar. Em seus escritos, por exemplo, reconhecia com nitidez suas deficincias e praticava com afinco para super-las. Porm, em relao s pessoas, acontecia quase o oposto: sempre se deixava levar pelas emoes e perdia o contato com a realidade. Com o irmo, quis impression-lo, revelando a autoria das cartas, desprevenido quanto inveja e malevolncia que desencadearia; com Keith, estava to envolvido pelos prprios sonhos que no prestou ateno aos sinais bvios de que o governador era s um falastro; com os tipgrafos, sua ira o cegara para o fato de que eles se ressentiriam de suas tentativas de reforma. E pior, ele parecia incapaz de mudar essa dinmica.Determinado a romper esse padro e a mudar seu estilo, concluiu que havia apenas uma soluo: em todas as suas futuras interaes com pessoas, ele se foraria a dar um passo para trs e controlar suas emoes. Distanciando-se ele conseguiria se concentrar totalmente na pessoa com quem estava lidando, eliminando da equao as prprias inseguranas e anseios. Ao exercitar a mente dessa maneira, a atitude se converteria em hbito. Imaginando como seria o processo, ele teve uma sensao estranha. Lembrou-se das experincias por que passara ao inventar as cartas de Silence Dogood pensando dentro da personagem que criara, entrando em seu mundo e dando-lhe vida em sua mente. E resolveu que aplicaria essa habilidade literria em tudo na vida. Posicionando-se dentro das cabeas das pessoas, vislumbraria como vencer a resistncia delas e frustrar seus planos maldosos.Para aumentar a eficcia do processo, concluiu que teria que adotar uma nova filosofia: a aceitao completa e radical da natureza humana. As pessoas possuem qualidades e atributos arraigados. Algumas so frvolas, como Keith, ou vingativas, como seu irmo James, ou rgidas, como os tipgrafos. Indivduos como esses esto em todos os lugares. Aborrecer-se com eles ou tentar mud-los intil apenas os tornar amargos e ressentidos. melhor aceitar essas pessoas como se admitem os espinhos de uma rosa e acumular conhecimentos sobre a natureza humana como se faz com as cincias. Se ele pudesse seguir esse caminho na vida, se libertaria de sua terrvel ingenuidade e traria alguma racionalidade para suas relaes sociais.Depois de mais de um ano e meio de trabalho em Londres, Franklin finalmente economizou dinheiro suficiente para a viagem de retorno, e, em 1727, estava de volta Filadlfia, mais uma vez procura de trabalho. Em meio a essa busca, seu ex-empregador, Samuel Keimer, surpreendeu-o ao oferecer-lhe uma boa posio na grfica ele seria responsvel pelo pessoal e pelo treinamento dos novos trabalhadores que Keimer havia admitido recentemente, em consequncia da expanso do negcio. Para tanto, receberia um timo salrio anual. Franklin aceitou, mas, quase desde o comeo, sentia que algo no estava certo. Por isso, conforme prometera a si mesmo, deu um passo para trs e refletiu com calma sobre os fatos.Sua funo era treinar cinco homens, mas, depois de concluir a tarefa, restaria pouco trabalho para ele. O prprio Keimer vinha agindo de maneira estranha, com muito mais cordialidade que o habitual. Como, em geral, era inseguro e irritadio, aquele jeito amistoso no combinava com ele. Imaginando a situao sob a perspectiva de Keimer, no era difcil perceber que ele devia ter ficado muito ressentido com sua partida sbita para Londres, deixando-o em dificuldade. Provavelmente o via como um rapaz presunoso, que precisava de uma lio. Franklin no era do tipo que conversaria sobre seus receios com algum, mas os remoeria por dentro e elaboraria seus prprios planos. Pensando dessa maneira, as intenes de Keimer ficaram claras: o patro queria que Franklin transmitisse seus amplos conhecimentos sobre o negcio aos novos empregados, para, depois, despedi-lo. Essa seria sua vingana.Convencido de que sua interpretao estava certa, Franklin decidiu virar a mesa. Explorou sua nova posio gerencial para se relacionar com os clientes e para fazer contatos com comerciantes de sucesso na rea. Experimentou novos mtodos de impresso que havia aprendido na Inglaterra. Quando Keimer se ausentava da grfica, desenvolvia novas habilidades tipogrficas, como gravura e fabricao de tintas. Tambm prestava grande ateno nos aprendizes e, em segredo, preparava um deles como um possvel assistente. Quando comeou a suspeitar que chegara a hora de Keimer mand-lo embora, pediu demisso e abriu a prpria grfica com apoio financeiro, maior conhecimento do negcio, uma slida base de clientes que o seguiria para onde fosse e um assistente de primeira categoria, que ele havia treinado. Ao executar essa estratgia, Franklin se deu conta de como o no nutria sentimentos de amargura ou raiva em relao a Keimer. Tudo se resumia a manobras em um tabuleiro de xadrez, e, ao pensar como Keimer, foi capaz de participar do jogo como um adversrio altura do oponente, com a cabea arejada e equilibrada.Nos anos seguintes, a grfica de Franklin prosperou. Ele se tornou um editor de jornais altamente bem-sucedido, autor de best-sellers, cientista renomado por seus experimentos com eletricidade e inventor de coisas como o aquecedor de ambientes (e, mais tarde, o para- raios, as lentes bifocais e outras). Como membro cada vez mais destacado da comunidade da Filadlfia, concluiu, em 1736, que era hora de levar sua carreira um passo adiante e entrar na poltica, tornando-se membro da legislatura colonial da Pensilvnia. Em poucos meses, foi escolhido por unanimidade pelos colegas para exercer as funes de secretrio da assembleia, posio de alguma influncia. No entanto, na hora de ser reconduzido a um novo mandato, um novo membro da legislatura, Isaac Norris, expressou veemente oposio iniciativa, apoiando outro candidato. Depois de um debate muito acalorado, Franklin ganhou a eleio, mas, ao refletir sobre a situao, avistou perigo no horizonte.Norris era um negociante rico, bem-educado e carismtico. Tambm era ambicioso e, certamente, subiria na hierarquia. Caso Franklin se desentendesse com o adversrio, como seria de esperar, depois do que acontecera na batalha pelo secretariado, apenas estaria confirmando qualquer impresso desagradvel que o outro tivesse dele, convertendo-o em inimigo implacvel. Por outro lado, se o ignorasse, Norris poderia interpretar a atitude como uma nova manifestao de insolncia e passar a odi-lo ainda mais. Para muita gente, a atitude corajosa seria partir para o ataque e revidar a agresso, deixando claro que o melhor era no se meter com ele. Mas ser que no seria mais eficaz no corresponder s expectativas de Norris, surpreendendo-o e, sutilmente, convertendo-o em aliado?Assim, Franklin partiu para a ao. Observou o homem de perto na legislatura, reuniu informaes e refletiu profundamente, como se fosse Norris. Chegou concluso de que Norris era um jovem um tanto orgulhoso e emocional, que tambm ocultava algumas inseguranas. Parecia ansioso por ateno, por estima e por admirao; talvez at invejasse a popularidade e as realizaes de Franklin. Por meio de seus informantes, soube que Norris tinha uma obsesso um tanto diferente sua grande biblioteca pessoal, contendo muitos livros raros, inclusive um especialmente valioso, que ele estimava acima de todos os outros. Essas obras pareciam representar para ele os prprios sentimentos de distino e nobreza.Sabendo de tudo isso, Franklin decidiu optar pela seguinte estratgia: escreveu para Norris uma nota muito refinada, expressando admirao por sua coleo. Ele tambm era apaixonado por livros e, tendo ouvido tantos elogios a certa obra rara de Norris, ficaria muito feliz se pudesse estud-la. Caso Norris pudesse emprestar-lhe o exemplar por uns poucos dias, ele tomaria o maior cuidado e o devolveria sem atraso.Encantado com a demonstrao de interesse, Norris enviou-lhe o livro de imediato e Franklin o devolveu conforme o prometido, com outra nota expressando sua gratido pelo favor. Na reunio seguinte da legislatura, Norris procurou Franklin e puxou uma conversa amistosa, algo que nunca tinha feito antes. Conforme previra, Franklin semeara dvida na mente de Norris. Em vez de confirmar suas suspeitas a respeito dele, Franklin se comportara como um perfeito cavalheiro, demonstrara que ambos tinham o mesmo interesse por livros raros e cumprira sua palavra. Como Norris continuaria alimentando a m impresso que tinha de Franklin depois de descobrirem tanta coisa em comum? Jogando com a natureza emocional do adversrio, conseguiu converter seu sentimento de antipatia em simpatia. Tornaram-se bons amigos e aliados polticos leais durante o restante de suas carreiras. (Franklin continuaria praticando a mesma mgica com muitos de seus inimigos polticos futuros).Na Filadlfia, Benjamin Franklin era considerado o maior exemplo de comerciante e cidado confivel. Como seus concidados, vestia-se com simplicidade, trabalhava com mais afinco que qualquer outro, nunca frequentava bares ou casas de jogo e cultivava maneiras e hbitos cordiais, at humildes. Sua popularidade era quase universal. Mas, no ltimo captulo de sua vida pblica, suas atitudes pareciam indicar que ele havia mudado e perdido a sensibilidade.Em 1776, um ano depois da ecloso da Guerra da Independncia, Benjamin Franklin agora poltico emrito foi despachado para a Frana como comissrio especial com a incumbncia de obter armas, financiamento e apoio. Em pouco tempo, espalharam-se rumores por todas as colnias americanas de seus casos com cortess francesas e de sua assiduidade em festas e jantares extravagantes. Polticos eminentes, como John Adams, o acusaram de ter sido corrompido pelos parisienses. Sua popularidade entre os americanos despencou. No entanto, o que os crticos e o pblico no perceberam foi que, aonde quer que fosse, ele assumia ostensivamente as feies, a moral e os comportamentos da cultura local, para que pudesse realizar melhor seus objetivos. Desesperado para conquistar os franceses para a causa americana e compreendendo muito bem a natureza deles, ele se transformara no que queriam ver em sua pessoa uma verso americana do esprito e do estilo francs. Estava apelando para o narcisismo notrio deles.Tudo isso funcionou perfeio Franklin tornou-se uma figura amada dos franceses e homem de influncia no governo. Por fim, forjou uma importante aliana militar e conseguiu um financiamento que ningum mais conseguiria arrancar do sovina rei francs. Este ltimo ato de sua vida pblica no foi uma aberrao, mas a expresso mxa de sua racionalidade social.CAMINHOS PARA A MAESTRIA preciso reconhecer o direito de cada um de viver de acordo com o prprio carter, qualquer que seja ele: o importante que todos se empenhem em fazer uso do carter alheio de maneira compatvel com sua natureza, em vez de tentar mud-lo e de conden- lo pelo que . Esse o verdadeiro sentido da mxima Viva e deixe viver( ...). Indignar-se com a conduta do outro to tolo quanto se zangar com uma pedra que rola em seu caminho. ARTHUR SCHOPENHAUER, filsofo alemoNs, seres humanos, somos o mais superior animal social. Centenas de milhares de anos atrs, nossos ancestrais primitivos construram complexos grupamentos sociais. Para se adaptarem a esse contexto, nossos antepassados evoluram, formando neurnios-espelho (ver Introduo) mais refinados e sensveis que os de outros primatas. Com os neurnios- espelho, eram capazes no s de imitar os indivduos ao seu redor, mas tambm de imaginar o que os outros poderiam estar pensando e sentindo, tudo em nvel pr-verbal. Essa capacidade de empatia possibilitou um grau de cooperao mais elevado.Com o desenvolvimento da racionalidade e da linguagem, nossos ancestrais podiam levar mais longe a capacidade de empatia identificando padres nos comportamentos alheios e descobrindo suas motivaes. Com o passar do tempo, o raciocnio humano se tornou infinitamente mais poderoso e sofisticado. Em tese, todos ns hoje possumos as ferramentas naturais empatia e racionalidade para compreender em profundidade outros seres humanos. Na prtica, porm, essas ferramentas continuam em grande parte subaproveitadas, e a explicao para essa deficincia pode ser encontrada na natureza peculiar da infncia e na dependncia prolongada da prole.Em comparao com outros animais, ns, humanos, comeamos a vida bastante fracos e impotentes. Continuamos relativamente dbeis durante muitos anos, antes de sermos capazes de viver por conta prpria. Esse longo perodo de imaturidade, com a durao de 12 a 18 anos, exerce uma funo valiosa: possibilita que nos concentremos no desenvolvimento do crebro de longe a arma mais poderosa do arsenal humano. Porm, essa infncia duradoura tem um preo. Durante essa fase de debilidade e dependncia, temos a necessidade de idealizar os pais. Nossa sobrevivncia depende da fora e da confiabilidade deles. Reconhecer as fragilidades dos pais nos traria uma ansiedade insuportvel. Portanto, vemos esses indivduos to importantes para ns como sendo mais fortes, mais capazes e mais altrustas do que so na realidade. Interpretamos as aes deles luz de nossas necessidades, e, assim, eles se tornam extenses de ns mesmos.Nessa longa fase de imaturidade, em geral transferimos essas idealizaes e distores aos professores e amigos, projetando neles o que queremos e precisamos ver. Nossa viso das pessoas se impregna de vrias emoes adorao, admirao, amor, necessidade, raiAt que, inevitavelmente, quase sempre na adolescncia, comeamos a vislumbrar o lado menos nobre das pessoas, inclusive dos prprios pais, e no podemos deixar de nos sentir transtornados pela disparidade entre a imaginao e a realidade. Decepcionados, tendemos a exagerar seus defeitos, da mesma maneira como no passado exagervamos suas qualidades. Se tivssemos sido forados a encarar a realidade mais cedo na vida, as necessidades prticas teriam dominado nosso pensamento e teramos desenvolvido mais objetividade e realismo. Mas, sendo como , os muitos anos em que vemos as pessoas atravs das lentes de nossas necessidades emocionais enrazam o hbito a ponto de mal podermos control-lo.Denominemos esse fenmeno de perspectiva ingnua. Embora seja natural assumir essa posio em razo da singularidade de nossa infncia, ela tambm perigosa, pois nos envolve em iluses infantis sobre as pessoas, distorcendo a maneira como as vemos. Trazemos essa perspectiva conosco para a idade adulta durante a fase de aprendizagem. No ambiente de trabalho, os padres de repente aumentam. As pessoas j no esto lutando por boas notas nem por aprovao social, mas, sim, por sobrevivncia. Sob tais presses, elas revelam atributos de carter que normalmente tentam esconder. Manipulam, competem e, antes de tudo, pensam em si mesmas. Como que cegos para esses comportamentos e com as emoes ainda mais ativas que antes, trancamo-nos na perspectiva ingnua.A perspectiva ingnua, por sua vez, intensifica nossa sensibilidade e vulnerabilidade. Ao refletirmos sobre como as palavras e as aes alheias nos envolvem, continuamos a interpretar equivocadamente suas intenes. Projetamos nossos prprios sentimentos nas outras pessoas. No temos um senso real de suas ideias e de suas motivaes. Com os colegas no ambiente de trabalho, no vemos a fonte de sua inveja nem a razo de suas manipulaes; nossas tentativas de influenci-los se baseiam na suposio de que querem o mesmo que ns. Com os mentores e chefes, projetamos neles nossas fantasias da infncia, passando a adorar ou a temer as figuras de autoridade, e com elas desenvolvendo relaes conturbadas e instveis. Achamos que compreendemos as pessoas, mas as vemos com lentes distorcidas. Nessas condies, todos os nossos poderes de empatia se tornam inteis.Por causa dos erros inevitveis que cometemos, ns nos envolvemos em batalhas e dramas que nos consomem e nos distraem no processo de aprendizado. Nosso senso de prioridade fica distorcido e acabamos atribuindo uma importncia excessiva s questes sociais e polticas por no estarmos lidando da maneira adequada com elas. Se no formos cuidadosos, levamos esses padres para a fase seguinte da vida: a fase criativa-ativa, em que ficamos mais expostos ao pblico. Nesse nvel, a falta de inteligncia social pode se revelar embaraosa, at fatal para a carreira. As pessoas que ainda mantm atitudes infantis raramente so capazes de preservar o sucesso que talvez alcancem com seu talento.Inteligncia social nada mais que o processo de descartar a perspectiva ingnua e adotar atitudes mais realistas. Envolve convergir a ateno mais para fora que para dentro, cultivando a capacidade natural de observao e de empatia. Significa superar nossa tendncia de idealizar ou de demonizar as pessoas, passando a v-las e a aceit-las como realmente so. uma maneira de pensar que deve ser fomentada o mais cedo possvel, durante a fase de aprendizagem. Mas, antes de comearmos a desenvolver essa inteligncia social, devemos primeiro superar a perspectiva ingnua em si.Veja o caso de Benjamin Franklin, o cone da inteligncia social e exemplo mais claro do papel que esse atributo desempenha na maestria. Como o segundo filho mais novo de uma grande famlia, ele aprendeu a abrir caminhos usando o charme. medida que crescia, passou a acreditar, como muitos jovens, que relacionar-se com os outros comportar-se de forma cativante, conquistando-os com um estilo amistoso e simptico. No entanto, ao se envolver com o mundo real, ele comeou a encarar o prprio charme como fonte de problemas. Ser fascinante foi a estratgia que desenvolvera por necessidades infantis; essa tendncia era reflexo de seu narcisismo, do amor que nutria pelas prprias palavras e sagacidade. No tinha nada a ver com os outros e com as necessidades deles. No impedia que o explorassem e o atacassem. Para ser realmente cativante e eficaz do ponto de vista social, preciso compreender as pessoas, e, para isso, deve-se sair de si mesmo e mergulhar mentalmente no mundo delas.S quando percebeu como fora profundamente ingnuo, deu os primeiros passos para superar a ingenuidade. O empenho em desenvolver a inteligncia social foi o ponto de virada de sua carreira transformando-o em observador contumaz da natureza humana, algum com a capacidade mgica de ver dentro das pessoas. Tambm o converteu na companhia social perfeita. Em todos os lugares, homens e mulheres se rendiam ao seu fascnio, em razo de sua capacidade de se sintonizar com os interlocutores. Com tranquilidade e explorando relaes sociais produtivas, dedicou-se aos seus escritos, s questes das cincias e s suas inmeras invenes enfim, maestria.Seria possvel deduzir, a partir da histria de Benjamin Franklin, que a inteligncia social exige uma abordagem distante e no emocional s pessoas, o que tornaria a vida um tanto montona, mas esse no de modo algum o caso. O prprio Franklin era, por natureza, um homem que dava importncia ao aspecto emocional. Ele no reprimiu a prpria ndole, mas, sim, reverteu as emoes para o sentido oposto. Em vez de ficar obcecado consigo mesmo e com o que as pessoas no lhe davam, pensava profundamente em como elas percebiam o mundo, no que sentiam e do que careciam. As emoes, vistas sob o ponto de vista alheio, geram empatia e proporcionam uma compreenso profunda do que mexe com elas. Para Franklin, esse foco fora de si mesmo lhe dava a sensao agradvel de leveza e espontaneidade; sua vida no era de modo algum montona, apenas livre de batalhas desnecessrias. Voc continuar tendo dificuldade em desenvolver a inteligncia social enquanto no perceber que sua viso das pessoas dominada pela perspectiva ingnua. Seguindo o exemplo de Franklin, voc pode alcanar esse nvel de conscientizao revendo o seu passado, prestando especial ateno nas batalhas, nos erros, nas tenses e nas decepes na vida social. Se encarar esses eventos sob as lentes da perspectiva ingnua, ver apenas o que as outras pessoas lhe fizeram os maus-tratos que suportou delas, as grosserias e injrias de que foi vtima. Em vez disso, voc precisa dar a virada e partir de si mesmo como voc viu em outras pessoas qualidades inexistentes, ou como voc ignorou sinais do lado negativo da natureza delas. Ao agir assim, perceber com clareza a discrepncia entre suas iluses e a realidade sobre quem so, e o papel que voc desempenhou na criao dessa disparidade. Se analisar bem de perto, voc identificar muitas vezes em suas relaes com os chefes e superiores hierrquicos alguns remanescentes da dinmica familiar da infncia a idealizao ou a demonizao habitual.Ao se conscientizar do processo deturpador da perspectiva ingnua, voc naturalmente se sentir menos confortvel com ele. Concluir que est operando no escuro, cego s motivaes e s intenes das pessoas, vulnervel aos mesmos erros e padres que ocreram no passado. Voc sentir a falta de conexo real com outras pessoas. E, de seu interior, surgir o desejo natural de mudar essa dinmica de comear a olhar para fora, em vez de se voltar apenas para os prprios sentimentos. E, acima de tudo, voc cultivar o hbito de observar antes de reagir.Essa nova clareza sobre sua perspectiva deve ser acompanhada de um ajuste em seu comportamento. Voc deve evitar a tentao de se tornar cnico em sua abordagem, como uma reao exagerada ingenuidade anterior. A atitude mais eficaz a adotar a de aceitao suprema. O mundo est cheio de pessoas com diferentes personalidades e temperamentos. Todos temos um lado negativo, em que predominam tendncias manipuladoras e desejos agressivos. Os tipos mais perigosos so os que reprimem seus desejos ou negam a existncia deles, geralmente os manifestando das maneiras mais dissimuladas. Algumas pessoas tm atributos negativos bastante pronunciados. No h como mudar os outros, mas preciso no se tornar vtima deles. Voc observador da comdia humana e, ao ser o mais tolerante possvel, desenvolve uma capacidade muito maior de compreender as pessoas e de influenciar o comportamento delas quando necessrio.Com essa nova conscientizao e essa nova atitude, voc pode comear a desenvolver a aprendizagem em inteligncia social. Essa forma de inteligncia tem dois componentes, ambos igualmente importantes de dominar. Primeiro, h o que denominamos conhecimento especco da natureza humana ou a capacidade de interpretar as pessoas, de sentir como elas veem o mundo e de compreender sua individualidade. Segundo, h o conhecimento genrico da natureza humana, que significa acumular a compreenso dos padres gerais do comportamento humano que nos transcende como indivduos, inclusive alguns dos atributos mais negativos que costumamos desconsiderar. Como quase sempre somos uma mistura de atributos singulares e de traos comuns da espcie, s o domnio de ambas as formas de conhecimento pode lhe oferecer um panorama completo das pessoas ao seu redor. Pratique ambas as formas de conhecimento e elas lhe rendero habilidades inestimveis essenciais na busca da maestria.Conhecimento especfico Interpretando as pessoasQuase todos ns, em algum momento da vida, j tivemos a sensao de experimentar uma estranha ligao com outra pessoa; chegamos a nos sentir capazes de adivinhar os pensamentos dela. Em tais situaes, alcanamos um nvel de compreenso difcil de expressar em palavras. Esse grau de comunicao costuma ocorrer com grandes amigos e parceiros, pessoas em quem confiamos e com as quais nos sentimos sintonizados em muitos nveis. Como confiamos nelas, abrimo-nos sua influncia, e vice-versa. Em condies normais, geralmente nos sentimos nervosos, na defensiva e autocentrados, e nossa mente se volta para dentro. Mas, nesses momentos de conexo, o monlogo interno se interrompe e captamos mais pistas e sinais do outro que de hbito.Isso significa que, quando no estamos imersos na introspeco, mas, sim, focados em outra pessoa, conquistamos o acesso a formas de comunicao em grande parte no verbais, mas muito eficazes sua maneira. Podemos imaginar que nossos ancestrais primitivos, precisando cooperar em alto nvel mas no experimentando o tipo de monlogo interior que se desenvolve com a linguagem, se caracterizavam por uma sensibilidade extremamente apurada em relao aos humores e sentimentos dos outros membros do grupo, chegando s raias da telepatia. Seria algo semelhante s faculdades de outros animais sociais; mas, nesse caso, a sensibilidade teria sido intensificada pela capacidade dos ancestrais de se colocarem na cabea do outro.A intensa conexo no verbal que experimentamos com aqueles indivduos com quem temos mais afinidade certamente inadequada no ambiente de trabalho, mas, na medida em que nos abrimos para outras pessoas, podemos recuperar parte da sensibilidade tpica de nossos ancestrais e nos tornarmos muito mais eficazes na interpretao dos outros.Para iniciar esse processo, preciso treinar-se para prestar menos ateno nas palavras alheias e dar mais importncia ao tom de voz, ao olhar, linguagem corporal sinais que podem revelar certo estado de esprito que no se expressa verbalmente. Quando as emoes dos interlocutores so despertadas, eles revelam muito mais. Ao interromper o monlogo interior e ao observar com mais profundidade as pessoas ao redor, passa-se a captar pistas emitidas por elas, sob a forma de sentimentos e sensaes. Confie nesses indcios eles dizem algo que, em geral, tendemos a ignorar, pois no so fceis de verbalizar. Mais tarde, at possvel tentar identificar um padro nesses sinais e procurar analisar seu significado.Nesse nvel no verbal, interessante observar como as pessoas se comportam em relao aos detentores de poder e autoridade. Elas tendero a revelar uma ansiedade, um ressentimento ou uma falsidade que trai algo essencial sobre sua compleio psicolgica, alguma coisa que remonta infncia delas e que se manifesta em sua linguagem corporal.Quando voc suspender os mecanismos de defesa e prestar uma ateno profunda nos outros, tambm ser necessrio baixar a guarda e se abrir influncia alheia. No entanto, desde que suas emoes e sua empatia estejam voltadas para fora, voc ser capaz de se distanciar quando necessrio e analisar o que foi coletado. Resista tentao de interpretar o que dizem ou fazem como algo que implicitamente o envolve isso o levar a se voltar para dentro e a se desligar do imediatismo da conexo.Como exerccio, depois de se familiarizar com as pessoas durante algum tempo, tente se imaginar percebendo o mundo sob o ponto de vista delas, colocando-se no lugar desses interlocutores. Procure experincias emocionais comuns suas traumas ou dificuldades do passado, por exemplo, que, de alguma forma, se assemelhem s experincias ou situaes alheias. Liberar parte dessas emoes pode ajud-lo a iniciar o processo de identificao. O objetivo praticar a capacidade de empatia e avaliar com mais realismo a viso de mundo alheia. Ser capaz de, com maior ou menor extenso, pensar com a cabea do outro um modo brilhante de ampliar os prprios processos mentais, que tendem a se limitar a certas maneiras de encarar a realidade. Sua capacidade de empatia se relaciona com o processo criativo de sentir o caminho para dentro do tema que se est estudando.Essa forma intuitiva de interpretar as pessoas torna-se mais eficaz e mais exata na medida em que voc a explora, mas melhor combin-la com outra forma mais consciente de observao. Por exemplo, preciso prestar especial ateno nas aes e nas decises alias. Seu objetivo descobrir os motivos ocultos por trs delas, que, geralmente, giraro em torno do poder. As pessoas diro todo tipo de coisas sobre seus motivos e intenes; esto acostumadas a enfeitar a realidade com palavras. Suas aes, porm, dizem muito mais sobre seu carter, sobre o que est ocorrendo abaixo da superfcie. Se apresentarem uma fachada inofensiva mas tiverem agido com agressividade em vrias ocasies, atribua agresso muito mais peso que superfcie que expem. Do mesmo modo, preciso observar com todo o cuidado a maneira como os outros reagem a situaes estressantes em geral, no calor do momento deixam cair a mscara que usam em pblico.Ao buscar pistas para observar, necessrio atentar para qualquer tipo de comportamento extremo por exemplo, se uma pessoa se mostra espalhafatosa demais, se simptica demais ou se faz piadas com tudo. Voc perceber que, em geral, as pessoas adotam esse estilo como uma espcie de mscara para ocultar o oposto, a fim de distrair os observadores em relao verdade. So espalhafatosas porque, por dentro, so muito inseguras; so simpticas demais porque, no ntimo, so ambiciosas e agressivas; ou fazem piadas para esconder a prpria mesquinharia e perversidade.Voc deve identificar e decodificar todos os sinais possveis inclusive as roupas que usam e a organizao ou desorganizao de seu local de trabalho. A escolha do cnjuge ou parceiro tambm pode ser muito eloquente, sobretudo se parecer um tanto incompatvel com o carter que tentam projetar. Nessa escolha, podem revelar necessidades frustradas da infncia, o desejo de poder e controle, a baixa autoestima e outros atributos que procuram disfarar. O que pode parecer irrelevante atrasos crnicos, ateno insuficiente aos detalhes, no retribuio de favores so indcios de algo mais profundo em seu carter. So padres em que se deve prestar ateno, e nada pequeno demais para ser desprezado. preciso evitar o erro de julgar com base nas primeiras impresses. As percepes iniciais por vezes podem dizer algo, mas, com frequncia, so enganosas. Vrias so as razes para isso. No primeiro encontro, voc tende a ficar nervoso, menos aberto e mais introvertido. Na verdade, voc no est atento. Alm disso, os interlocutores se condicionaram a passar determinada imagem; cultivam uma persona que usam em pblico, que atua como uma segunda pele protetora. A no ser que voc seja extremamente observador, o mais comum confundir a mscara com a realidade. Por exemplo, a pessoa que, primeira vista, parece to poderosa e assertiva talvez esteja apenas ocultando seus temores e tenha muito menos poder do que se imagina de incio. Em geral, os discretos, os menos ostensivos primeira vista, so os que ocultam mais recursos, os que secretamente exercem mais poder.O que se quer um retrato do carter da pessoa ao longo do tempo, o que proporciona uma ideia bem mais exata de sua verdadeira personalidade, muito alm de qualquer impresso imediata. Portanto, contenha a propenso natural de formular juzos apressados e deixe que o passar dos meses revele cada vez mais sobre as pessoas, medida que as interpreta melhor.No final das contas, o objetivo identificar o que torna nico cada indivduo, compreender o carter e os valores que se escondem em seu interior. Quanto mais se investiga o passado das pessoas e sua forma de pensar, mais profundamente se mergulha em seu mago. Dessa maneira, voc ser capaz de compreender as motivaes alheias, prever suas aes e reconhecer como melhor coopt-las para seu lado. Voc no mais atuar no escuro.Voc encontrar milhares de diferentes indivduos em sua vida, e a capacidade de v-los como so se revelar inestimvel. Lembre-se, porm, de que as pessoas se encontram em estado de fluxo contnuo. No deixe que suas ideias sobre elas se enrijeam em uma impresso estabelecida. preciso observ-las continuamente e sempre atualizar sua maneira de interpret-las.Conhecimento genrico As Sete Realidades FataisQuando analisamos o comportamento humano ao longo da histria, podemos identificar padres que transcendem as culturas e os sculos, indicando certos atributos universais tpicos da prpria espcie. Alguns desses traos so muito positivos por exemplo, nossa capacidade de cooperar mutuamente no grupo , ao passo que outros so negativos e podem se revelar destrutivos. A maioria de ns tem estas qualidades negativas inveja, conformismo, rigidez, egocentrismo, preguia, inconstncia, agresso passiva em doses relativamente brandas. No entanto, no contexto social, algumas pessoas apresentaro um ou mais desses defeitos em grau to elevado que se tornaro nocivas. Denominaremos essas sete qualidades negativas de Sete Realidades Fatais.O problema que as pessoas no gostam de exibir esses traos em pblico, pois no querem ser vistas como perniciosas e indesejveis. Portanto, os portadores desses defeitos tendem a disfar-los primeira vista, mas acabam revelando a realidade por meio de alguma ao prejudicial. Surpreendidos, tendemos a reagir emocionalmente, aumentando os danos, cujos efeitos podemos carregar conosco pelo resto da vida. Mas saiba que, por meio de estudo e de observao, somos capazes de compreender a natureza dessas Sete Realidades Fatais, de modo a detectar sua presena e evitar deflagr-las. Considere os comentrios a seguir como conhecimento essencial para o desenvolvimento da inteligncia social.Inveja: da nossa natureza nos comparar o tempo todo com os outros em termos de dinheiro, aparncia, simpatia, inteligncia, popularidade e outras qualidades. Se percebemos que algum de nossas relaes mais bem-sucedido que ns, experimentamos, naturalmente, um pouco de inveja, mas, em geral, descobrimos maneiras de minimiz-la, por se tratar de uma emoo desagradvel. Convencemo-nos de que o sucesso do outro questo de sorte ou que decorre de seus relacionamentos e que no ser duradouro. Mas, para algumas pessoas, o sentimento muito mais profundo, quase sempre em consequncia de seu nvel de insegurana. Quando se fica verde de inveja, a nica maneira de liber-la encontrar formas de obstruir ou sabotar aquele que despertou essa emoo. E, ao faz-lo, nunca se diz que foi por inveja, procurando-se outra explicao mais aceitvel no contexto social. Nem para si mesmas as pessoas admitem que sentem inveja, por isso to difcil perceb-la nos outros. Alguns indcios, porm, so reveladores. As pessoas que o elogiam demais ou se tornam muito amistosas logo no comeo do relacionamento geralmente esto com inveja de voc e se aproximam para prejudic-lo. preciso estar atento a esses comportamentos. Alm disso, saiba que os indivduos em que se detectam nveis de insegurana incomuns so certamente os mais propensos inveja.Em geral, porm, muito difcil discernir esse sentimento, e o curso de ao mais prudente se esforar para que seus prprios comportamentos, inadvertidamente, no despertem inveja. Se voc tiver algum dom, bom fazer questo de, vez por outra, exibir deficincias em outras reas, evitando o grande perigo de parecer perfeito demais, talentoso demais. Se estiver lidando com tipos inseguros, talvez seja o caso de demonstrar grande interesse pelo trabalho deles e at lhes pedir conselhos. Tambm necessrio tomar cuidado para no se gabar de qualquer sucesso, e, se necessrio, atribuir o xito boa sorte. prudente s vezes revelar suas prprias inseguranas, atitude que o humanizar aos olhos alheios. O humor autodepreciativo tambm far maravilhas. E sempre tenha o cuidado de nunca fazer com que as pessoas se sintam estpidas na sua presena. A inteligncia o gatilho mais sensvel da inveja. Em geral, ao se destacar demais que voc despertar essa emoo execrvel; portanto, melhor cultivar uma aparncia nomeaadora para se entrosar bem com o grupo, pelo menos at alcanar tamanho sucesso a ponto de se tornar incomparvel e, por conseguinte, acima de qualquer inveja para a maioria das pessoas. Conformismo: Quando se constituem grupos de qualquer espcie, estabelece-se necessariamente certo tipo de mentalidade organizacional. Ainda que os membros do grupo alardeiem o reconhecimento e a tolerncia das diferenas, a realidade que os participantes muito diferentes deixam os outros desconfortveis e inseguros, questionando os valores da cultura dominante. Essa cultura ter normas no escritas do que correto, que mudam com o tempo. Em alguns contextos, a aparncia fsica importante. Mas, em geral, os critrios da correo so mais profundos. Muitas vezes, ajustando-se inconscientemente ao esprito da pessoa no topo, os membros compartilharo os mesmos valores sobre moral e poltica. Percebe-se esse esprito de grupo ao observar quanto os membros sentem a necessidade de exibir certas opinies ou ideias compatveis com os padres. Alguns deles sempre sero os fiscais do politicamente correto, o que pode torn-los muito perigosos.Se voc tiver caractersticas rebeldes ou naturalmente excntricas, como costuma ser o caso de quem almeja a maestria, evite exibir de maneira muito aberta suas diferenas, em especial na fase de aprendizagem. Deixe que seu trabalho demonstre de maneira sutil sua individualidade; mas quando se tratar de questes de poltica, moral e valores, mostre a observncia dos padres predominantes no contexto. Encare o local de trabalho como uma espcie de teatro em que todos sempre usam uma mscara. (Reserve suas ideias mais interessantes e exuberantes para os amigos e para aqueles em quem voc pode confiar fora do contexto profissional). Cuidado com o que diz no corra o risco de expressar livremente suas opinies. Se voc pecar contra essa Realidade Fatal, ningum reconhecer a verdadeira causa da prpria insatisfao, pois no h quem queira admitir o prprio conformismo. Assim, encontraro outras razes para exclu-lo ou sabot-lo. No lhes d munio para esse tipo de ataque. Mais tarde, ao desenvolver a maestria, no lhe faltaro oportunidades para ostentar o brilho de sua individualidade e para demonstrar seu desprezo pela mesmice.Rigidez: Sob muitos aspectos, o mundo est ficando cada vez mais complexo, e sempre que ns, humanos, nos defrontamos com situaes que parecem demasiado complicadas, nossa reao recorrer a algum tipo de simplicidade artificial, criar hbitos e rotinas que nos proporcionem a sensao de controle. Preferimos o que familiar ideias, rostos, procedimentos porque reconfortante. Essas condies se estendem ao grupo em geral. As pessoas seguem procedimentos sem realmente saber por que, apenas pelo fato de esses procedimentos terem funcionado no passado, e ficam na defensiva quando sua forma de agir questionada. Apegam-se a determinadas ideias e persistem em defend-las, mesmo que elas se revelem reiteradamente equivocadas. Basta observar a histria da cincia: sempre que surge uma nova ideia ou outra viso de mundo, por mais que se demonstre sua veracidade ou validade, os que se agarram s velhas concepes lutam at a morte para preserv-las. Em geral contra nossa ndole, sobretudo conforme envelhecemos, considerar outras maneiras de pensar ou de fazer as coisas.As pessoas no anunciam a prpria rigidez. S quando se tenta introduzir uma nova ideia ou procedimento que a resistncia mostra sua cara. Alguns membros do grupo os hiper- rgidos se mostram irritados e at entram em pnico ao imaginarem qualquer espcie de mudana. Na hiptese de voc insistir em seus argumentos, com lgica e bons fundamentos, provvel que esses indivduos fiquem ainda mais na defensiva. Se voc tem a mente aberta, seu prprio estilo ser interpretado como algo desestabilizador e destrutivo. Caso no esteja consciente dos perigos de investir contra este medo do novo, voc criar todos os tipos de inimigos ocultos, que recorrero a qualquer coisa para manter a velha ordem. intil lutar contra a inflexibilidade e contestar conceitos irracionais. A melhor estratgia simplesmente aceitar a rigidez nos outros, demonstrando, para todos os efeitos, respeito pela necessidade de ordem deles. Entretanto, preciso se empenhar para preservar a prpria abertura e flexibilidade, abandonando os velhos hbitos e cultivando novas ideias.Egocentrismo: No ambiente de trabalho, quase sempre pensamos primeiro e acima de tudo em ns mesmos. O mundo implacvel e competitivo, e precisamos cuidar de nossos prprios interesses. Mesmo quando lutamos por um bem maior, com frequncia somos motivados de modo inconsciente pelo desejo de sermos estimados pelos outros e de, ao mesmo tempo, melhorarmos nossa imagem. No h vergonha nisso. Porm, como demonstrar interesse prprio no nos faz parecer nobres, muita gente se esfora para disfar-lo. Em geral, os mais egocntricos cercam suas aes com uma aura de moralidade e santidade ou ostentam seu apoio a todas as causas consideradas justas. Iludido pelas aparncias, na hora que precisa pedir ajuda, voc apela ao senso de gratido, natureza aparentemente compassiva ou aos sentimentos de solidariedade que essas pessoas parecem cultivar. Ento, voc se frustra e se decepciona quando elas se recusam a ajud-lo ou demoram tanto a dar uma resposta que voc acaba desistindo. claro que elas nunca revelam a verdadeira razo desse comportamento o fato de nada poderem extrair da situao para si mesmas.Em vez de se deixar enganar, voc precisa compreender e aceitar essa Realidade Fatal. Na hora de pedir ajuda, necessrio apelar primeiro, de algum modo, para o interesse das pessoas. (Essa recomendao se aplica a todos, no importa o nvel de egocentrismo.) Voc deve ver o mundo com os olhos dos outros, perceber as necessidades deles. O fundamental oferecer-lhes algo valioso em troca da ajuda retribuindo com um favor que lhes poupe tempo, com um contato de que precisem, e assim por diante. s vezes, a oportunidade de passar uma boa imagem prestando favores ou apoiando causas suficiente, mas, em geral, melhor descobrir algo mais convincente algum benefcio concreto que se espere receber no futuro. De modo geral, em suas interaes com as pessoas, descubra uma maneira de fazer as conversas girarem em torno delas e de seus interesses, at o ponto de conquist-las para o seu lado.Preguia: Todos temos a tendncia de seguir o caminho mais rpido e mais fcil para a realizao de nossos objetivos; mas, em geral, conseguimos controlar nossa impacincia; compreendemos o valor superior de alcanar o que queremos por meio do trabalho duro. Para algumas pessoas, porm, esse trao de preguia poderoso demais. Desmotivadas pela ideia de que talvez levem meses ou anos para conseguir algo, elas esto sempre procura de atalhos.A preguia delas assumir muitas formas traioeiras. Por exemplo, se voc no for cuidadoso e falar demais, elas roubaro suas melhores ideias e se apropriaro delas, poupando-se de todo o esforo mental necessrio para conceb-las. Vo se meter no meio de seu projeto e dar um jeito de incluir o prprio nome nele, ficando com parte do crdito pelo trabalho. Tambm o envolvero em atividades colaborativas, em que voc far o grosso do trabalho pesado, mas compartilhar com elas as recompensas em igualdade de condies.Sua melhor defesa a prudncia. No divulgue suas ideias, expondo-as apenas a pessoas de absoluta confiana que precisam conhec-las, ou oculte certos detalhes, para que no seja possvel roub-las. Se voc estiver fazendo um trabalho para um superior hierrquico, prepare-se para que o chefe fique com todos os crditos e no faa referncia ao seu nome (isso faz parte da aprendizagem de todos e deve ser aceito como tal), mas no permita que os colegas ajam da mesma maneira. Garanta seus crditos antecipadamente, como parte das condies do trabalho conjunto. Se as pessoas quiserem que voc trabalhe para elas, para depois adotar o rtulo do esforo colaborativo, sempre avalie se esse trabalho contribuir para o seu repertrio de habilidades e examine os antecedentes delas, para avaliar o nvel de sua tica de trabalho. De modo geral, tenha cuidado com os pseudocolaboradores quase sempre apenas esto tentando encontrar algum que faa a parte mais rdua para eles.Inconstncia: Gostamos de demonstrar como nossas decises se baseiam em consideraes racionais, mas a verdade que, em grande parte, somos governados por nossas emoes, que, frequentemente, influenciam nossas percepes. Isso significa que as pessoas ao seu redor, sempre sob a presso das prprias emoes, mudam de ideia a cada dia ou a cada hora, dependendo do humor. Nunca se deve supor que o que dizem ou fazem em determinado momento a manifestao de seus desejos permanentes. Ontem, estavam apaixonadas por sua ideia; hoje, parecem indiferentes. Isso pode confundi-lo e, se voc no for cuidadoso, desperdiar um valioso espao mental tentando descobrir os verdadeiros sentimentos, o humor do momento e as motivaes fugazes das pessoas. melhor manter no apenas certa distncia, mas tambm alguma indiferena em relao s emoeis das pessoas, para no se envolver no processo. Concentre-se nas aes delas que, em geral, so mais consistentes , no nas palavras. No leve to a srio as promessas de ajuda nem as manifestaes de solidariedade. Se elas forem coerentes, timo, mas esteja preparado para suas mudanas frequentes de nimo. Conte apenas consigo mesmo para fazer as coisas acontecerem e voc no se decepcionar.Agresso passiva: A causa bsica de toda agresso passiva o medo do confronto direto as emoes que um conflito pode despertar e a perda de controle da decorrente. E, assim, por causa desse medo, algumas pessoas buscam meios indiretos de conseguir o que querem, tornando seus ataques bastante sutis para que seja difcil descobrir o que est acontecendo, ao mesmo tempo que passam a controlar a dinmica. Todos somos, at certo ponto, passivo- agressivos. Postergar projetos, chegar atrasado e fazer comentrios negativos, com o objetivo de perturbar as pessoas, so formas comuns de agresso passiva de baixo nvel. Ao lidar com essas manifestaes mesquinhas por parte de outras pessoas, voc pode reclamar desses comportamentos e conscientiz-las de suas atitudes, o que em geral funciona. Ou, se for algo inofensivo, simplesmente ignore-as. Saiba, porm, que existem pessoas por a, transbordando de insegurana, que so verdadeiros guerrilheiros passivo-agressivos, capazes de arruinar sua vida.A ttica mais eficaz reconhecer esses tipos antes de se envolver na batalha e evit-los a todo custo. As pistas mais bvias so seus prprios antecedentes eles tm certa reputao e voc j ouviu histrias de problemas no passado. D uma olhada nas pessoas ao redor deles, como seus assistentes elas agem com um cuidado e um terror incomuns na presena deles? s vezes, voc fica confuso, porque suspeita de sabotagem ou obstruo mas ao mesmo tempo iludido pela aparncia amigvel que os passivo-agressivos expem. Descarte o exterior e foque exclusivamente nas aes e atitudes deles, e o panorama ficar mais claro. Se eles o evitarem e postergarem aes importantes para voc, se o fizerem se sentir culpado e o deixarem inseguro sobre os motivos, ou se o prejudicarem, dando a impresso de que foi por acaso, voc com toda a probabilidade est sob um ataque passivo-agressivo. Nesse caso, existem duas opes: ou voc sai do caminho deles e vai embora ou rebate o ataque com alguma indireta, sinalizando de maneira sutil que se meter com voc ter consequncias. Essa reao, em geral, os desencorajar e os levar a procurar outra vtima. Faa de tudo para evitar se envolver emocionalmente nos dramas e batalhas. Os passivo-agressivos so mestres em controlar a dinmica, e voc quase sempre sair perdendo. O desenvolvimento da inteligncia social no se limitar a ajud-lo a administrar as relaes com outras pessoas tambm produzir efeitos extremamente benficos em sua maneira de pensar e em sua criatividade em geral. Veja o exemplo de Benjamin Franklin. Em relao s pessoas, ele cultivou a habilidade de se concentrar nos detalhes que as tornam nicas e de se relacionar com as experincias e motivaes delas. Cultivou um alto grau de sensibilidade s sutilezas da natureza humana, evitando a tendncia comum de mistur-las todas no mesmo saco. Tornou-se paciente e aberto no trato com gente de culturas e de antecedentes muito diferentes. E integrou por completo a inteligncia social a suas capacidades intelectuais a acuidade para detalhes nos trabalhos cientficos, a fluidez no modo de pensar e a abordagem paciente na soluo de problemas, alm de sua habilidade extraordinria de penetrar nas mentes dos vrios personagens que criou em suas obras, dando-lhes uma voz realista.Compreenda que o crebro humano um rgo interconectado, que, por sua vez, se interconecta com nosso corpo. Nosso crebro se desenvolveu em paralelo aos nossos poderes crescentes como primatas sociais. O refinamento dos neurnios-espelho, com o propsito de melhorar a comunicao com as pessoas, aplicou-se igualmente a outras formas de raciocnio. A capacidade de pensar dentro dos objetos e fenmenos parte integrante da criatividade cientfica desde a sensibilidade de Faraday em relao eletricidade at os experimentos mentais de Einstein.De modo geral, os grandes Mestres da histria Da Vinci, Mozart, Darwin e outros demonstravam uma forma de pensar sensvel e fluida, que desenvolveram com a expanso da inteligncia social. As pessoas mais rigidamente intelectualizadas e introspectivas podem ir mais longe em seus campos de atuao, mas o trabalho delas em geral acaba carecendo de criatividade, de abertura e de sensibilidade aos detalhes, deficincias que se intensificam com o tempo. No final das contas, a capacidade de pensar dentro de outras pessoas no diferente do sentimento intuitivo que os Mestres cultivam em relao s suas reas. Desenvolver a capacidade intelectual s custas do social retardar o prprio progresso para a maestria e limitar o amplo escopo de sua capacidade criativa.ESTRATGIAS PARA A AQUISIO DE INTELIGNCIA SOCIALPrecisamos, contudo, reconhecer que o homem, com todas as suas qualidades nobres, com a simpatia que nutre pelos mais desprivilegiados, com a benevolncia que estende no s a outros seres humanos mas tambm s mais humildes criaturas vivas, com seu intelecto quase divino que desvendou os movimentos e a constituio do sistema solar com todos esses poderes enaltecidos , o homem ainda carrega em sua carcaa as marcas indelveis de suas origens modestas. CHARLES DARWINAo lidar com as pessoas, voc vai deparar com problemas que tendero a extrair de voc reaes emocionais e a tranc-lo na perspectiva ingnua. Esses problemas incluem batalhas polticas inesperadas, julgamentos superficiais sobre seu carter ou crticas mesquinhas ao seu trabalho. As quatro estratgias essenciais a seguir, desenvolvidas pelos Mestres do passado e do presente, o ajudaro a enfrentar esses desafios inevitveis e a manter a mentalidade racional necessria inteligncia social.1. Fale por meio de seu trabalhoA. Em 1846, o mdico hngaro de 28 anos Ignaz Semmelweis comeou a trabalhar como assistente no departamento de obstetrcia da Universidade de Viena. A principal doena que flagelava as enfermarias de maternidade na Europa, na poca, era a febre puerperal. No hospital onde o jovem Semmelweis trabalhava, uma a cada seis mes morriam da doena pouco depois do parto. Ao dissecarem os cadveres, os mdicos descobriam o mesmo pus esbranquiado, terrivelmente ftido, e uma quantidade inusitada de carne ptrida. Vendo os efeitos da doena quase todos os dias, Semmelweis no conseguia pensar em outra coisa. E, da em diante, dedicaria todo o seu tempo soluo do enigma das origens daquele mal.Na poca, a explicao mais comum para a causa da doena girava em torno da ideia de que partculas suspensas no ar, absorvidas pelos pulmes, provocavam a febre. No entanto, para Semmelweis, a explicao no fazia sentido. A epidemia de febre puerperal no parecia depender do clima, das condies atmosfricas ou de qualquer coisa no ar. Ele observou, como alguns outros, que a incidncia era muito mais alta entre mulheres que haviam dado luz com a ajuda de um mdico, em vez de uma parteira. Ningum conseguia explicar a razo dessa diferena, e poucos pareciam impressionados com o fato.Depois de muito refletir e de estudar exaustivamente a literatura sobre o assunto, Semmelweis chegou concluso espantosa de que era o contato direto entre mdico e paciente que provocava a molstia um conceito revolucionrio na poca. Enquanto ele desenvolvia sua teoria, ocorreu algo que pareceu comprov-la de maneira conclusiva: um mdico importante do departamento cortou o dedo com uma faca, por acidente, ao fazer autpsia numa mulher que morrera de febre puerperal. Em poucos dias, o mdico morreu com infeco generalizada. Ao dissecarem seu corpo, constataram que ele apresentava o mesmo pus esbranquiado e ftido das mulheres.Agora parecia claro para Semmelweis que, na sala de autpsia, as mos dos mdicos ficavam infectadas e, ao examinar as parturientes e conduzir o parto, eles transmitiam a doena para o sangue delas por meio de vrias feridas abertas. Os mdicos estavam envenenando as pacientes com a febre puerperal. Se essa era a causa, a soluo seria simples os mdicos teriam que lavar e desinfetar as mos antes de lidar com quaisquer pacientes, prtica que ningum seguia em nenhum hospital na poca. Assim, ele instituiu o hbito em sua enfermaria, e a taxa de mortalidade instantaneamente caiu pela metade.Prestes a fazer, talvez, uma grande descoberta cientfica a conexo entre germes e doenas contagiosas , Semmelweis parecia estar a caminho de uma ilustre carreira. Mas havia um problema. O chefe do departamento, Johann Klein, era extremamente conservador, fazendo questo que seus mdicos seguissem a mais estrita ortodoxia e observassem com rigor as prticas vigentes. Para ele, Semmelweis era um mdico inexperiente e radical que queria reverter o establishment e conquistar a fama.Semmelweis discutia com ele o tempo todo sobre a questo da febre puerperal, e, quando o jovem finalmente divulgou sua teoria, Klein ficou furioso. A implicao era que os mdicos, inclusive o prprio Klein, vinham matando as pacientes, e isso era inadmissvel. (Klein atribua a taxa de mortalidade mais baixa na enfermaria de Semmelweis a um novo sistema de ventilao que ele havia instalado.) Quando, em 1849, o contrato de Semmelweis com o hospital estava chegando ao fim, Klein se recusou a renov-lo, deixando o jovem sem emprego.quela altura, porm, Semmelweis j havia conquistado vrios aliados no departamento mdico, principalmente entre os mais jovens. Eles o incentivaram a conduzir alguns experimentos controlados para reforar seus argumentos, e, ento, publicar suas descobertas em um livro que difundiria a teoria em toda a Europa. Semmelweis, porm, no conseguia desviar a ateno da batalha com Klein. A cada dia se sentia mais irado. A adeso de Klein a uma teoria ridcula e desmentida sobre a febre puerperal era criminosa. Essa cegueira verdade fazia seu sangue ferver. Por que Semmelweis teria que dedicar tanto tempo a experimentos e publicao de um livro quando a verdade j era evidente? Decidiu, ento, promover uma srie de palestras sobre o tema, em que tambm expressaria seu desprezo pelo hermetismo de muitos profissionais.Mdicos de toda a Europa participaram das palestras de Semmelweis. Embora alguns continuassem cticos, ele conquistou mais adeptos para a causa. Seus aliados na universidade insistiam em que ele mantivesse o impulso, fazendo mais pesquisas e escrevendo um livro. No entanto, depois de alguns meses de palestras, e por motivos que ningum compreendeu, Semmelweis de repente deixou a cidade e voltou para a sua Budapeste natal, onde encontrou a academia e a clnica que lhe foram negadas em Viena. Parecia que ele no podia mais conviver na mesma cidade com Klein e que precisava de total liberdade para atuar por conta prpria embora Budapeste, na poca, ainda estivesse um tanto atrasada em medicina. Os amigos se sentiram trados. Tinham arriscado sua reputao ao apoi-lo, e, agora, ele os havia deixado na mo.Nos hospitais de Budapeste, onde agora trabalhava, Semmelweis instituiu normas de desinfeco to rigorosas e tirnicas que reduziu em muito as taxas de mortalidade, mas afastou de si quase todos os mdicos e enfermeiros com quem trabalhava. Cada vez mais pessoas se voltavam contra ele. O mdico impusera a todos suas novas concepes sobre desinfeco, mas, sem livros ou experimentos adequados para demonstr-las, parecia que ele simplesmente buscava autopromoo ou ficara obcecado com algumas ideias bizarras de sua prpria criao. A veemncia com que pregava a sua verdade apenas chamava a ateno para a falta de rigor acadmico. Os mdicos tambm especulavam sobre outras possveis causas do sucesso dele na reduo da incidncia de febre puerperal.Em 1860, ainda sob presso dos colegas, decidiu enfim escrever o livro que explicaria sua teoria. O que deveria ter sido um volume relativamente pequeno se converteu em um calhamao de 600 pginas, quase impossvel de ler, repetitivo e complicado. Seus argumentos se tornaram polmicos, pois enumeraram os mdicos que se opuseram a ele e que, portanto, eram assassinos. Nesses trechos, o tom tornava-se quase apocalptico.Seus adversrios resolveram, ento, sair da obscuridade. Semmelweis se comprometera a escrever, mas trabalhara to mal que descobriam furos em seus argumentos ou apenas denunciavam seu tom violento, o que j era muito destrutivo. Os ex-aliados no aderiram sua causa. Na verdade, passaram a odi-lo. Seu comportamento se tornou cada vez mais pretensioso e inconstante, at ser demitido do hospital. Praticamente sem um tosto e abandonado por todos, adoeceu e morreu em 1865, aos 47 anos.B. Como estudante de medicina na Universidade de Pdua, Itlia, em 1602, o ingls William Harvey (1578-1657) comeou a levantar dvidas sobre todo o conceito relativo ao corao e sua funo como rgo. O que ele havia aprendido se baseava nas teorias do mdico grego Galeno, do sculo II d.C., para o qual parte do sangue era produzida no fgado e outra parte no corao, de onde era transportado pelas veias e absorvido pelo corpo, fornecendo nutrientes. De acordo com a teoria, o sangue flua lentamente do fgado e do corao para as vrias partes do corpo a serem irrigadas, mas no retornava era simplesmente consumido. A grande dvida de Harvey era a quantidade de sangue no corpo. Como o organismo podia produzir e consumir tanto lquido?Nos anos seguintes, sua carreira prosperou, culminando com sua nomeao como mdico do rei Jaime I. Durante esse perodo, ele continuou refletindo sobre as mesmas questes referentes ao sangue e ao papel do corao. At que, em 1618, lanou uma teoria: o sangue flui pelo corpo rapidamente, com o corao atuando como bomba. No produzido e consumido; em vez disso, circula de forma contnua.O problema em sua teoria que no havia como verific-la diretamente. O nico meio disponvel era a vivisseco de animais e a dissecao de cadveres humanos. No entanto, quando se abria o corao de animais, o rgo se comportava de maneira errtica e bombeava com muita rapidez. Os mecanismos do corao eram complexos e, para Harvey, s seria possvel deduzi-los por meio de experimentos controlados como o uso de elaborados torniquetes nas veias humanas e jamais seriam observveis a olho nu.Depois de muitos experimentos controlados, Harvey sentiu que estava certo, mas sabia que teria que desenvolver com cuidado a estratgia do prximo passo. Sua teoria era radical. Derrubava muitos conceitos de anatomia que eram aceitos havia sculos. Ele sabia que publicar os resultados a que chegara at ento apenas despertaria antipatias e criaria muitos inimigos para si prprio. Ento, refletindo sobre a relutncia natural das pessoas em aceitar novas ideias, decidiu fazer o seguinte: postergaria a divulgao dos resultados de suas descobertas at comprovar sua teoria e reunir mais evidncias. Enquanto isso, envolveria seus pares em novos experimentos e dissecaes, sempre pedindo a opinio deles. Cada vez mais, os colegas acatavam e apoiavam a teoria. Aos poucos, convenceu a maioria deles. Em1627, foi nomeado para a mais alta posio no Colgio de Mdicos, praticamente garantindo emprego para o resto da vida e libertando-se da preocupao de que a teoria comprometesse seu sustento.Como mdico da corte, a princpio de Jaime I e depois de Carlos I, que ascendeu ao trono em 1625, Harvey trabalhou com diligncia para conquistar a simpatia real. Atuava como diplomata na corte e evitava se alinhar a qualquer faco ou se envolver em qualquer intriga. Trabalhava com humildade. Expunha previamente suas descobertas ao rei, para conquistar sua confiana e seu apoio. Na rea rural, descobriu um jovem que havia fraturado as costelas no lado esquerdo do peito, deixando uma cavidade pela qual era possvel observar e tocar o corao. Levou o jovem para a corte e o usou para demonstrar a Charles a natureza das contraes e expanses do corao, e como o corao funcionava como uma bomba de sangue.Em 1628, publicou os resultados de vrios anos de trabalho, abrindo o livro com uma dedicatria muito inteligente a Carlos I:Ao mais sereno dos reis! O corao animal a base da vida, seu principal rgo, o sol de seu microcosmo; do corao dependem todas as suas atividades, do corao emerge toda a sua vivacidade e fora. Da mesma maneira, o rei a base do reino, o sol de seu microcosmo, o corao do Estado; dele ascende todo o poder e dele brota toda a graa.O livro provocou agitao, sobretudo no Continente, onde Harvey era menos conhecido. A contestao principal partiu de mdicos mais velhos, que no conseguiam aceitar uma teoria que revirava to intensamente seus conceitos sobre anatomia. Em relao s numerosas publicaes lanadas para desacreditar suas ideias, Harvey quase sempre manteve silncio. Ataques espordicos de mdicos eminentes o levavam a enviar-lhes cartas pessoais em que, com muita educao, refutava a contestao com argumentos convincentes.Como ele havia previsto, com a fora de sua posio na profisso mdica e na corte e graas grande quantidade de evidncias que acumulara ao longo dos anos, que foram descritas com clareza no livro, a nova teoria lentamente conquistou aceitao. Na poca de sua morte, em 1657, seu trabalho j havia sido acolhido como parte da doutrina e da prtica mdica. Como seu amigo omas Hobbes depois escreveria: Harvey foi o nico homem que conheo que, despertando a inveja, estabeleceu uma nova doutrina durante a vida. Os relatos histricos de Semmelweis e Harvey revelam nossa tendncia de ignorar o papel crtico da inteligncia social em nossa rea de atuao, inclusive na cincia. Por exemplo, a maioria das verses da histria de Semmelweis enfatiza a miopia trgica de homens como Klein, que pressionou o jovem hngaro alm dos limites de sua resistncia. J o caso de Harvey salienta o brilho terico como principal causa de seu sucesso. Mas, em ambos os exemplos, a inteligncia social desempenhou um papel crucial. Semmelweis a ignorou por completo; irritava-se com qualquer referncia ao relacionamento humano; tudo o que importava para ele era a verdade. Porm, em seu zelo, alienou desnecessariamente Klein, que j havia enfrentado outros conflitos com estudantes, mas nunca com tanta intensidade. Em consequncia de sucessivos questionamentos, Semmelweis criou uma situao insustentvel que obrigou Klein a demiti-lo, o que, para o jovem, significou perder uma posio importante na universidade, por meio da qual podia difundir suas ideias. Desgastado pela batalha com Klein, ele no exps sua teoria de forma clara e razovel, demonstrando espantoso pouco caso pela importncia de convencer os outros. Se ao menos tivesse dedicado algum tempo a expor seus argumentos por escrito, teria salvado ainda mais vidas no longo prazo. O sucesso de Harvey, por outro lado, deveu-se em grande parte sua habilidade social. Ele sabia que mesmo os cientistas precisam conquistar a simpatia das autoridades. Alm disso, envolveu outras pessoas em seu trabalho, engajando-as emocionalmente em sua teoria. Publicou seus resultados em um livro bem-fundamentado e fcil de ler. Em seguida, deixou que sua obra falasse por si mesmo, consciente de que, caso tentasse se promover depois da publicao, apenas chamaria a ateno para si, desviando-a do seu trabalho. Tampouco alimentou a mesquinharia alheia, no se envolvendo em batalhas irrelevantes e deixando que qualquer contestao s suas teorias se desgatassem sozinhas.Compreenda que o seu trabalho o meio mais poderoso sua disposio para expressar sua inteligncia social. Ao ser eficiente e detalhista no que faz, voc demonstra que pensa no grupo e promove a causa dele. Ao tornar o que faz ou o que prope claro e fcil de seguir, voc mostra que se preocupa com a audincia ou com o pblico mais amplo. Ao envolver outras pessoas em seus projetos e aceitar com elegncia o feedback que elas lhe do, voc revela que est vontade com a dinmica de grupo. A boa qualidade do trabalho tambm o protege das conspiraes e das hostilidades difcil ter o que questionar diante de resultados positivos. Se estiver sofrendo presses de manobras polticas dentro do grupo, no perca a cabea e no se desgaste com a mediocridade. Mantendo-se concentrado no trabalho e cultivando os relacionamentos sociais, voc continuar a aumentar seu nvel de habilidades e se destacar entre todos os outros que fazem muito barulho mas no produzem nada.2. Elabore a persona apropriadaDesde cedo na vida, Teresita Fernndez (nascida em 1968) tinha a sensao de que espiava o mundo ao redor distncia, como um voyeur. Durante a infncia passada em Miami, ela ficava observando os adultos, entreouvindo suas conversas, tentando desvendar os segredos de seu estranho universo. J mais velha, aplicava suas habilidades de observadora aos colegas de turma. Na escola de ensino mdio, os alunos deviam se enquadrar em uma das vrias tribos. Ela percebia com clareza as regras e convenes a serem cumpridas pelos participantes desses grupos, assim como os comportamentos que eram considerados corretos. Sentia-se alienada de todas essas diferentes tribos, e, por isso, permaneceu de fora.Teresita tinha uma experincia semelhante em relao prpria cidade de Miami. Embora sentisse afinidade com a cultura cubana, como integrante da primeira gerao de cubano- americanos, no conseguia se identificar com o estilo feliz e praiano l predominante. Seu esprito era mais sombrio e irascvel. Tudo isso acentuava a autopercepo de forasteira, de uma pessoa que no se encaixava em lugar algum. Existiam colegas assim na escola, que tendiam a se voltar para o teatro ou para outras artes reas em que ser pouco convencional era mais aceito. Teresita sempre gostara de fazer coisas com as prprias mos e, dessa forma, comeou a frequentar aulas de artes. Mas a arte que ela produzia na escola de ensino mdio no parecia se conectar com o lado mais resoluto de seu carter. Era fcil demais. O trabalho lhe parecia muito superficial; ela sentia que faltava alguma coisa.Em 1986, ainda incerta sobre o rumo de sua vida, matriculou-se numa universidade pblica de Miami. Seguindo suas inclinaes na escola, fez um curso de escultura. Mas o trabalho em cermica, com sua maciez e maleabilidade, despertou-lhe o mesmo sentimento que j se manifestara anos atrs, em suas primeiras experincias com arte, ao fazer coisas meramente decorativas. At que um dia, passeando pelo prdio, ela observou alguns artistas trabalhando com metal, construindo peas de tamanho considervel. Aquelas placas de ao produziram-lhe um efeito visceral, diferente do impacto de qualquer trabalho de arte que ela j tinha visto. Sentiu, na hora, que, de alguma forma, aquele era o material certo para ela. Acinzentado, pesado e resistente, exigia grande esforo para ser moldado. As propriedades do ao correspondiam resilincia e persistncia que trazia em si mesma e que sempre quisera expressar.Assim, comeou a se dedicar com fervor ao material recm-descoberto. Trabalhar com metal exigia acessar a fundio e usar maaricos. O calor tropical de Miami podia tornar a tarefa bastante desconfortvel durante o dia, por isso ela passou a trabalhar em suas esculturas somente noite. O hbito a levou a adotar uma jornada de trabalho inusitada comeava s nove horas da noite, prosseguia at as duas ou trs horas da madrugada e depois dormia durante boa parte do dia seguinte. Alm do ar mais fresco, trabalhar noite tinha outras vantagens: com poucas pessoas por perto, o estdio ficava muito tranquilo e propcio ao trabalho srio. Nessas condies, conseguia se concentrar profundamente, fazendo experincias e cometendo erros que ningum via. Em outras palavras, podia ousar e assumir riscos.Aos poucos, Teresita comeou a dominar o material. Ao fazer suas esculturas, tinha a sensao de estar forjando e transformando a si mesma. Estava interessada em criar peas grandiosas e imponentes, mas, para tanto, precisava desenvolver o prprio mtodo. Primeiro, desenhava as peas no papel; depois, trabalhava com pequenas sees que podia manusear sozinha. Ento, na quietude do estdio, montava o conjunto da escultura. Em pouco tempo, suas obras comearam a ser exibidas dentro do departamento e no campus.Quase todos ficavam muito impressionados com o trabalho dela. Despontando sob o sol radiante de Miami, suas enormes esculturas de ao transmitiam aquele senso de poder que ela sempre sentira em seu mago. Porm, em breve, outras reaes s suas obras a surpreenderam. Como poucas pessoas a tinham visto no trabalho, parecia que as esculturas emergiam sem esforo como se ela tivesse algum dom especial. Essa impresso chamou a ateno para a personalidade dela. A escultura era em grande parte de domnio masculino. Como ela era uma das poucas mulheres que trabalhavam com ao pesado, os espectadores projetavam nela todos os tipos de preconceitos e fantasias. O contraste entre a fragilidade de sua aparncia feminina e a grandiosidade de seus trabalhos gigantescos era gritante, e todos se perguntavam como ela conseguia produzir aquelas obras e queriam saber quem ela realmente era. Intrigados por sua personalidade e pela maneira como produzia as belas esculturas, que pareciam emergir do nada, os admiradores a consideravam misteriosamente atraente, uma mistura de ridigez e maciez, uma anomalia, a mgica dos metais.Sob todo esse escrutnio, Teresita de repente se conscientizou de que j no era o voyeur de antes, que s observava os outros distncia. Convertera-se em centro das atenes. O mundo das artes a acolhera. Pela primeira vez na vida sentia que se encaixava, e queria preservar o interesse que os outros demonstravam por seu trabalho. Agora que fora levada a se expor, seria natural que quisesse conversar sobre si mesma e sobre suas experincias, mas ela intuiu que seria um erro esvaziar o efeito poderoso que o trabalho dela exercia sobre o pblico revelando quantas horas dedicava s esculturas e como as obras eram, na verdade, resultado de muito trabalho e disciplina. s vezes, ela raciocinava, o que no se desvenda ainda mais eloquente e contundente. Por isso, decidiu alimentar a imagem que os outros tinham dela e de seu trabalho. Para tanto, criaria um ar de mistrio ao seu redor, recusando- se a falar sobre seu processo de trabalho, no compartilhando os detalhes de sua vida e permitindo que as pessoas projetassem nela as prprias fantasias. medida que prosseguia na carreira, porm, algo sobre a persona que criara nos anos de universidade no parecia mais adequado. Ela percebeu um elemento em sua personalidade pblica que poderia se voltar contra si se no fosse cuidadosa, o pblico a julgaria por sua aparncia fsica, como uma jovem mulher atraente. Deixariam de v-la como artista sria. Esse distanciamento poderia parecer um disfarce para a falta de inteligncia, como se ela simplesmente estivesse tateando seu caminho s cegas, em vez de percorr-lo em igualdade de condies com os melhores representantes de sua rea. Esse era um preconceito que as mulheres tinham que enfrentar no campo das artes. Qualquer hesitao ou vacilao na hora de falar sobre seu trabalho envolvia o perigo de alimentar o preconceito de que ela era frvola, que apenas titubeava nas artes. Portanto, aos poucos, desenvolveu um novo estilo, que lhe parecia mais adequado tornou-se assertiva e passou a falar com autoridade sobre o contedo da sua obra, embora ainda cultivasse certo mistrio sobre seus mtodos. Ela no era fraca nem vulnervel, tendo pleno domnio do tema. Se os artistas homens precisam parecer srios e articulados, ela, como mulher, teria que parecer ainda mais sria e articulada. Seu tom confiante era sempre educado e respeitoso, mas ela deixava claro que tinha contedo.Com o passar do tempo, Teresita Fernndez tornou-se famosa no mundo inteiro como artista conceitual que trabalhava com todos os tipos de materiais, e continuou a jogar com a aparncia, ajustando-a mudana das circunstncias. O artistas carregam o esteretipo de que so desorganizados e que se interessam apenas pelo que est acontecendo no mundo das artes. Ela combateria essas expectativas. Assim, transformou-se em uma palestrante eloquente, expondo seu trabalho e suas ideias ao grande pblico. As plateias ficavam intrigadas com a discrepncia entre as superfcies bem-compostas e agradveis de seus trabalhos e o contedo complexo e desafiador de seu discurso. Ela se tornou conhecedora de muitas outras reas fora das artes, combinando esses interesses em seu trabalho, e, no processo, exps-se a uma ampla variedade de pessoas fora de seu contexto especfico. Aprendeu a se misturar igualmente bem com os trabalhadores que produziam o grafite para suas peas e com os marchands que expunham e comercializavam suas obras uma flexibilidade que tornava sua vida de artista muito mais fcil. Em resumo, sua persona pblica se converteu em outra forma de arte: um material que ela podia moldar e transformar de acordo com suas necessidades e desejos. De modo geral, no se reconhece nem se discute essa realidade, mas a personalidade que projetamos para o mundo desempenha papel fundamental em nosso sucesso e em nossa ascenso para a maestria. Veja a histria de Teresita Fernndez. Caso apenas se fechasse em si mesma e se concentrasse em seu trabalho, ela permitiria que os outros a definissem de uma maneira que poderia ter retardado seu avano. Se, depois dos primeiros xitos, tivesse alardeado as horas de prtica dedicadas ao trabalho com metalurgia, as pessoas passariam a v-la como mera artes. Inevitavelmente a teriam rotulado de artista que usa o metal como estratagema para se promover e chamar ateno. Poderiam ter encontrado falhas de carter a serem exploradas. A arena pblica, nas artes ou em qualquer outro empreendimento, pode ser impiedosa. Capaz de olhar para si mesma e para o mundo das artes com um mnimo de distanciamento e objetividade, Fernndez intuiu o poder de que se investiria ao se tornar consciente de sua persona e ao assumir o controle da dinmica de sua aparncia.Entenda o seguinte: as pessoas tendem a julg-lo com base em sua aparncia visvel. Se voc no for cuidadoso e apenas presumir que melhor ser voc mesmo, comearo a lhe atribuir todos os tipos de qualidades que em nada refletem o que voc , mas que correspondem ao que querem ou esperam ver. Tudo isso pode confundi-lo, deix-lo inseguro e roubar sua ateno. Ao internalizar esses julgamentos, voc ter dificuldade para se concentrar no seu trabalho. Sua nica proteo ser reverter essa dinmica e moldar de modo consciente sua aparncia, criando uma imagem que lhe seja adequada e controlando as avaliaes das pessoas a seu respeito. Vez por outra, talvez seja adequado dar um passo para trs e criar algum mistrio ao seu redor, reforando sua presena. Outras vezes, talvez seja prefervel ser mais direto e impor uma aparncia mais especfica. O ideal nunca se fixar numa nica imagem nem se tornar totalmente previsvel. Assim, sempre estar um passo frente do pblico.Voc deve encarar a criao da persona como um elemento fundamental da inteligncia social, no como algo perverso ou demonaco. Todos usamos mscaras na arena social, desempenhando diferentes papis para nos ajustar aos diversos ambientes que frequentamos. Nesse caso, voc est apenas consciente do processo. Encare-o como um teatro. Ao criar uma persona misteriosa, instigante e magistral, voc estar atuando para o pblico, oferecendo-lhe algo interessante e prazeroso. Permitir que projetem suas fantasias no seu personagem ou que concentrem a ateno em outras qualidades cnicas. Na vida privada, voc pode tirar a mscara. Neste mundo diversificado e multicultural, melhor aprender a se integrar e a se misturar em todos os tipos de ambientes, desenvolvendo o mximo de flexibilidade. preciso ter prazer na criao dessas personas isso ir ajud-lo a atuar melhor na arena pblica.3. Veja a si mesmo como os outros o veemTemple Grandin (ver Captulo 1, para mais informaes) recebeu cedo o diagnstico de autismo, e tinha muito a superar na vida. No entanto, ao terminar o ensino mdio, conseguiu se transformar pelo desejo intenso e pela disciplina frrea em uma estudante talentosa, com um futuro promissor em cincias. Ela compreendeu que suas maiores deficincias estavam no mbito social. Tinha a capacidade quase teleptica de captar os humores e necessidades dos animais, mas, no tocante aos humanos, ocorria quase o oposto. As pessoas eram traioeiras demais para ela; geralmente pareciam se comunicar umas com as outras por meio de pistas sutis, no verbais. Ela se sentia uma aliengena ao observar as interaes dessas estranhas criaturas.Parecia-lhe que no havia nada que pudesse fazer em relao sua falta de sensibilidade com os outros. No entanto, era capaz de controlar o prprio trabalho. E resolveu que seria to eficiente em qualquer trabalho que sua desvantagem social se tornaria irrelevante. No entanto, depois de se formar no ensino superior, com graduao em comportamento animal, e comear a trabalhar como consultora em instalaes para alimentao e manuseio de gado, ela se deu conta, aps cometer uma srie de erros, de que essa sua percepo no era nem um pouco realista.Em certa ocasio, Temple foi contratada pelo gerente de uma fbrica para melhorar o design geral das instalaes. Fez um excelente trabalho, mas logo comeou a perceber que as mquinas apresentavam problemas a toda hora, como se fossem consequncias de falhas no design que ela projetara. Sabia que aquele mau funcionamento no decorria de nenhuma deficincia em seu trabalho, e, com investigaes mais profundas, descobriu que as mquinas apresentavam problemas apenas quando determinado operador estava trabalhando. A nica concluso plausvel era que ele estava sabotando o equipamento para prejudic-la. Isso no fazia sentido para ela por que ele trabalharia de propsito contra os interesses de quem o empregava? No se tratava de um problema de design, que ela poderia resolver intelectualmente. Ela simplesmente teve que desistir e deixar o emprego.Em outro momento, um engenheiro a contratou para resolver certo problema em uma fbrica, mas, depois de algumas semanas no trabalho, ela percebeu que outras reas da fbrica haviam sido muito mal projetadas e, sem dvida, eram bastante perigosas. Ento escreveu ao presidente da empresa chamando a ateno para o fato. O tom da carta foi um pouco duro, pois ela no compreendia como as pessoas podiam ser to negligentes com relao s questes de projeto. Poucos dias depois, foi despedida. Embora no tenha recebido explicaes, no havia dvida de que a causa fora a carta ao presidente. Ao remoer esse e outros incidentes semelhantes que entravavam sua carreira, ela sentiu que a fonte do problema era ela mesma. Sabia havia anos que frequentemente irritava as pessoas com suas aes, razo por que a evitavam. No passado, tentara ignorar essa realidade dolorosa, mas, agora, suas deficincias sociais estavam ameaando sua capacidade de ganhar a vida.Desde criana, Temple tinha a aptido peculiar de ver a si mesma como observadora externa, como se estivesse olhando para outra pessoa. Era uma situao passageira e intermitente, mas, como adulta, percebeu que podia usar esse dom para efeitos prticos, vendo seus erros passados como se estivesse observando outra pessoa.No caso do homem que sabotara suas mquinas, por exemplo, ela se lembrava com nitidez de que pouco interagira com ele e com outros engenheiros e de como se empenhara em fazer tudo sozinha. Recordava-se das reunies em que apresentara suas ideias para o projeto com lgica rigorosa, sem abri-las para discusso. Quanto carta para o presidente, lembrava-se de como tinha criticado com rispidez algumas pessoas na frente dos colegas e de como nem sequer tentara interagir com o homem que a demitira. Ao visualizar esses momentos com tanta clareza, finalmente compreendeu o problema: ela fazia os colegas se sentirem inseguros, inteis e inferiores. Ela ferira seus egos e pagara o preo.A constatao do que fizera de errado no decorria de empatia,