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Luiz André Magno Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB Hospital Israelita Albert Einstein Hospital e Maternidade São Luiz Divisão de Experimentação - Incor CHOQUE E DISFUNÇÃO DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS

CHOQUE E DISFUNÇÃO DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS · Hospital Israelita Albert Einstein Hospital e Maternidade São Luiz Divisão de Experimentação - Incor CHOQUE E DISFUNÇÃO DE MÚLTIPLOS

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Luiz André MagnoEspecialista em Medicina Intensiva pela AMIB

Hospital Israelita Albert EinsteinHospital e Maternidade São Luiz

Divisão de Experimentação - Incor

CHOQUE E DISFUNÇÃO DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS

OBJETIVO

Discutir o choque hemodinâmico no paciente cirúrgico, basedo em conceitos atuais de perfusão tecidual, reperfusão e inflamação sistêmica.

• Trauma – Causa mais comum de óbito entre 5 –

50 anos de idade.

• 3 picos de mortalidade no trauma – No 2o e 3o

picos podemos intervir e mudar mortalidade.

• Sepse - Causa mais comum de óbito em UTI’s

não coronarianas

• A principal causa de óbito no mundo é a doença

cardiovascular – Doenças coronarianas

INTRODUÇÃO

• HIPOTENSÃO ?

• TAQUICARDIA?

• NECESSIDADE DE DVA?

• SINAIS CLÍNICOS DE HIPOPERFUSÃO: Pele fria e pegajosa, sudorese ?

Inadequação entre e oferta e consumo tecidual de oxigênio

INTRODUÇÃO

CONCEITO

Desequilíbrio entre a oferta e consumo de oxigênio

que resulta em sofrimento celular caracterizado por

grave alteração do metabolismo

AERÓBIO ANAERÓBIO

ATS/ESICM, 1996

FISIOPATOLOGIA

pré-carga contratilidade pós-carga

volumesistólico

freqüênciacardíaca

débitocardíaco

resistênciavascular

pressão arterial

RESPOSTA METABÓLICA AO TRAUMA E DISFUNÇÃO DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS

A CIRURGIA FOI TECNICAMENTE

IMPECÁVEL! O QUE

PODERIA CAUSAR A MORTE DESTE

PACIENTE?

� A inflamação?

� A infecção?

A EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS

• 1743 – H.F. Ledran – Termo “Choque” como termo médico – Soldados vítimas de arma de fogo –Associado a energia cinética

• 1815 – GJ Guthrier – Associa “Choque”a instabilidade hemodinâmica – Vítimas de arma de fogo.

• 1899 – GH Crile – Modelo experimental de choque hemorrágico – Conceitos de retorno venoso, reposição volêmica, maior sobrevida com ressuscitação

DDÉÉCADA DE 20CADA DE 20

�� W. B.W. B. CannonCannon -- o choque no trauma o choque no trauma foi atribufoi atribuíído a um fator tdo a um fator tóóxico xico resultante dos tecidos lesados e resultante dos tecidos lesados e mortos mortos ((wound shockwound shock))..

““Parece não haver diferenParece não haver diferençça entre os a entre os efeitos das toxinas oriundas dos efeitos das toxinas oriundas dos

tecidos lesados e aquelas resultantes tecidos lesados e aquelas resultantes da atividade bacterianada atividade bacteriana””W.B. Cannon

1871 - 1914

A EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS

DDÉÉCADA DE 40CADA DE 40�� C.J. WiggersC.J. Wiggers -- o conceito de o conceito de

choque irreverschoque irreversíível.vel.

””A reduA reduçção do volume sangão do volume sangüíüíneo, neo, com PAM 30com PAM 30--40mmHg por um 40mmHg por um

tempo de 45tempo de 45--60min, torna o 60min, torna o choque irreverschoque irreversíívelvel””..

C. J. Wiggers1883 - 1963

Wiggers CJ. Experimental hemorrhagic shock.Wiggers CJ. Experimental hemorrhagic shock.

Physiology of Shock. New York, Commonwealth Physiology of Shock. New York, Commonwealth Fund, 1950:121Fund, 1950:121--46.46.

A EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS

DDÉÉCADAS DE 70 CADAS DE 70 -- 8080

� “Falência seqüencial de órgãos e sistemas em casos de AAoA roto”. Tilney NL et al. Ann Surg 1973; 178:117.

� “Falência de Múltiplos Órgãos”Eisman B et al. SGO 1977; 144 : 323.

� “Falência de Múltiplos Órgãos e Sistemas”. Fry DE et al. Arch Surg 1980;

115:136.

A EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS

DDÉÉCADAS DE 80 CADAS DE 80 -- 9090

�� MicrocirculaMicrocirculaçção e o choque ão e o choque

�� Marcadores metabMarcadores metabóólicoslicos

�� MonitorizaMonitorizaçção hemodinâmica, ão hemodinâmica,

ffáármacos vasoativos, DOrmacos vasoativos, DO22mmááxx

�� Biologia molecular / Biologia molecular /

mediadores inflamatmediadores inflamatóóriosrios

A EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS

Hemodinâmica não otimizadaHemodinâmica não otimizada

Baixo fluxo / InflamaBaixo fluxo / Inflamaççãoão

Hipoperfusão Hipoperfusão tecidualtecidual

Reperfusão / Isquemia Reperfusão / Isquemia tecidualtecidual

Hipermeabilidade Hipermeabilidade intestinalintestinal

TranslocaTranslocaçção ão bacteriana e/ou bacteriana e/ou

endotoxinasendotoxinas

Lesão de Lesão de óórgãos rgãos ààdistânciadistância SDMOSDMO

NeutrNeutróófilos (Ofilos (O22))

11ºº insultoinsulto

22ºº insultoinsulto

FISIOPATOLOGIA

FFÍÍGADO/TGIGADO/TGI

PELEPELE

MUSC. MUSC. ESQUELESQUELÉÉTICATICACORACORAÇÇÃOÃO

CCÉÉREBROREBRO

OUTROSOUTROS

RINSRINS

FFÍÍGADO/TGIGADO/TGI

PELEPELE

MUSC. MUSC. ESQUELESQUELÉÉTICATICACORACORAÇÇÃOÃO

CCÉÉREBROREBRO

OUTROSOUTROS

RINSRINS

Distribuição do

débito cardíaco

Distribuição do

consumo de oxigênio

FISIOPATOLOGIA

70%70%

MucosaMucosa

Submucosa

30%

Submucosa

30%

MuscularMuscular

40

60

80

100PaO2

Silva E, Poli de Figueiredo LF.The sepsis text, 2002.

� Atividade metabólica

Comprometimento precoce (redistribuição do fluxo)

Extensa microcirculação

Peculiaridades da microcirculação intestinal

HIPOVOLEMIA FALÊNCIA CARDÍACA

VASOCONSTRICTORES ENDVASOCONSTRICTORES ENDÓÓGENOSGENOS

VASOCONSTRICTORES VASOCONSTRICTORES EXEXÓÓGENOSGENOS

Hipoperfusão esplâncnica

Hipoperfusão da mucosa intestinal

Disfunção da barreira mucosa

↑Permeabilidade da mucosaBACTÉRIAS / ENDOTOXINA

INFLAMAÇÃO

Ackland G et al. Crit Care 2000, 4:269-281.

perfusão tecidual inadequada

hipóxia celular

redistribuiçãocirculatória

isquemia/reperfusão

disfunção celular

metabolismoanaeróbio

acidose

síndrome da resposta inflamatória sistêmica

disfunção de múltiplos órgãos e sistemasdisfunção de múltiplos órgãos e sistemas

mediadoresinflamatórios

FISIOPATOLOGIA

DDÉÉCADAS DE 1990 CADAS DE 1990 -- 20002000

�� Biologia molecularBiologia molecular

�� Mediadores inflamatMediadores inflamatóóriosrios

�� SIRS / SDMOSIRS / SDMO

�� Papel da genPapel da genééticatica

�� Melhor compreensão, Melhor compreensão, prevenprevençção e reversão dos ão e reversão dos estados caestados caóóticosticos

A EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS

Annane D et al. Lancet 2005:365:63-78

RESPOSTA METABÓLICA AO TRAUMA

TRAUMA

VIAS AFERENTES

SNC / HIPOTÁLAMO

RESPOSTA NEUROLÓGICA

RESPOSTA ENDÓCRINA

RESPOSTA INFLAMATÓRI

A

INTEGRAÇÃO

ALTERAALTERAÇÇÕES PRIMÕES PRIMÁÁRIASRIAS

ALTERAALTERAÇÇÕES METABÕES METABÓÓLICASLICAS

Inflamação Exacerbada

Anti-inflammatory mediators

Pro-inflammatory mediators

Anti-inflammatory mediators

Pro-inflammatory mediators

PGD2

PGE2

TXA2

LTB4

IL-1

IL-6

IL-8

LTE4

TNFα

PGI2

IL-10

IL-1β

Mais de 200 Mediadores Inflamatórios Identificados

Pomposelli et al, JPEN, 1988

0

10

20

30

40

50

60

SemSIRS

SIRS 2 SIRS 3 SIRS 4 Sepse SepseGrave

ChoqueSéptico

Mortalidade (%)

Mortalidade (%)

The Natural History of the Systemic Inflammatory Response Syndrome (SIRS) - A Prospective Study

Rangel-Frausto MS et al. JAMA 1993;273:117-123

0

10

20

30

40

50

60

S/SIRSS/SEPSE

SIRS SEPSE SEPSEGRAVE

CHOQUESÉPTICO

Overall mortalityOverall mortalityrate (%)rate (%)

SepsisSepsis--relatedrelatedmortality rate (%)mortality rate (%)

Total de Mortes e mortalidade relacionada a Total de Mortes e mortalidade relacionada a sepse de acordo com ACCP/SCCM Consensus sepse de acordo com ACCP/SCCM Consensus Conference DefinitionsConference Definitions

Brazilian Sepsis Epidemiological StudyBrazilian Sepsis Epidemiological StudyBASES StudyBASES Study

Silva, E, et al. Critical Care 2004, 8:R251-R260

Meta-analysis of hemodynamic

optimization in high-risk patients*

Jack W. Kern, PharmD; William C. Shoemaker,

MD

Crit Care Med 2002; 30:1686 –1692

Resuscitation of the critically ill in the ED: responses of blood pressure, heart rate, shock index, central venous oxygen saturation, and lactate.

• Fase 1 – Triagem

• Fase 2 – Após SV

estabilizados, 31 dos 36

pacientes apresentavam

– ScvO2 < 65%

– Lactato > 2 mM/L

• Fase 3 – Corrigir a hipóxia

tecidual oculta

Rady and Rivers, Rady and Rivers, Am J Emerg Med. 1996 Mar;14(2):218Am J Emerg Med. 1996 Mar;14(2):218--2525

Hipóxia tecidual oculta

Relação oferta X consumo O2

DO2DO2

VO2VO2

TEO2TEO2

DO2

CRÍTICO

DO2 CRDO2 CRÍÍTICO TICO

PATLPATLÓÓGICOGICO

Relógio da lesão celular

CCéérebro: 10rebro: 10--15 min15 min

CoraCoraçção: 15ão: 15--20 min20 min

Intestino: 20Intestino: 20--30 min30 min

FFíígado: 60 mingado: 60 min

Rim: 6 horasRim: 6 horas

MMúúsculo: 8 horassculo: 8 horas

Morte Morte CelularCelular

Lesão Lesão DiscretaDiscreta

Lesão Lesão ModeradaModeradaLesão Lesão

GraveGrave

Schlichtig R. In Critical Care, third edition, JM Civetta, RW TaSchlichtig R. In Critical Care, third edition, JM Civetta, RW Taylor and ylor and RR Kirby RR Kirby ––LippincottLippincott--Raven Raven -- PhiladelphiaPhiladelphia–– 19971997

REANIMAÇÃO PRECOCE NA SEPSE GRAVE E CHOQUE SÉPTICO

Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368-77

Early Goal-Directed Therapy in the Treatment of Severe Sepsis and Septic Shock

Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368--7777

Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368-77

Early Goal-Directed Therapy in the Treatment of Severe Sepsis and Septic Shock

46,5

30,5

49,2

33,3

56,9

44,3

0

10

20

30

40

50

60

Mortalidade hospitalar 28 dias mortalidade 60 dias mortalidade

ST

EGDT

p=0.009p=0.01

p=0.03

Early Goal-Directed Therapy in the Treatment of Severe Sepsis and Septic Shock

Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368--7777

Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368-77

Early Goal-Directed Therapy in the Treatment of Severe Sepsis and Septic Shock

Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368-77

Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368--7777

Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368Rivers E et al. N Engl J Med 2001;345:1368--7777

TRATAMENTO

TRATAMENTO DEFINITIVO

CIRURGIA

TRATAMENTO DEFINITIVO

CIRURGIA

RESSUSCITAÇÃO CONTÍNUA GUIADA POR METAS NÃO APENAS MACRO-

HEMODINÂMICAS

TRATAMENTO INTENSIVO

EM UTI

INJÚRIA TECIDUAL (Hipovolemia, Isquemia) – FASE TARDIA

MONITORIZAÇÃO PRECOCEHIPOVOLEMIA??????

JAMA 2005

DESTAQUES

� O conceito de choque evoluiu, passando de conceitos apenas hemodinâmicos para compreensão de fenômenos inflamatórios e imunológicos.

�A SIRS deve ser evitada com reposição volêmica adequada, técnica operatória correta associada a controle peri e pós-operatório.

�O choque deve ser tratado precocemente para evitar a SDOS