CIA Aereas - Restituicao Qdo Houver Pedido de Cancelamento

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  • ASSEMBLIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

    EXCELENTSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ____ VARA

    EMPRESARIAL DA COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

    CONTRA-F

    COMISSO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLIA LEGISLATIVA DO ESTADO

    DO RIO DE JANEIRO - CODECON, rgo vinculado Assemblia Legislativa do Estado do Rio

    de Janeiro, sem personalidade jurdica, especialmente constituda para defesa dos interesses e

    direitos dos consumidores, estabelecida Rua Dom Manoel, s/n, Praa XV, Rio de Janeiro RJ,

    por intermdio de seus procuradores in fine assinado, vem, respeitosamente, perante Vossa

    Excelncia, com fulcro na CRFB/88 c/c artigo 740 da Lei 10406/02 c/c Lei n. 8078/90 propor a

    presente:

    AO COLETIVA DE CONSUMO COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

    pelo rito ordinrio, em face de 1) AZUL LINHAS AREAS BRASILEIRAS S.A., inscrita no

    C.N.P.J. sob o n. 09.296.295/0001-60, com sede AL. Surubiju, n. 2010-E, 2050, bloco C,

    Centro Industrial e Empresarial, Barueri SP, CEP.: 06.455-040; 2) GOL LINHAS AREAS

    INTELIGENTES S.A., inscrita no C.N.P.J. sob o n. 06.164.253/0001-87, com sede Rua

    Tamoios, n 246, Trreo, Jardim Aeroporto, So Paulo SP, CEP.: 04.630-000; 3) TAM

    LINHAS AREAS S.A., inscrita no C.N.P.J. sob o n. 02.012.862/0001-60, com sede Avenida

    Jurandir, n. 856, lote 4, 1 andar, Jardim CECI, So Paulo - SP, CEP.: 04.072-000; 4) TRIP

    LINHAS AREAS S.A., inscrita no C.N.P.J. sob o n. 02.428.624/0001-30, com sede Av.

    Cambacicas, n. 1200, Parque Imperador, Campinas SP, CEP.: 13.097-104; 5) WEBJET

    LINHAS AREAS S.A., inscrita no C.N.P.J. sob o n. 05.730.375/0001-20, com sede Av. vinte

    de janeiro, S/N, anexo prdio da UAC, Ilha do Governador, Rio de Janeiro RJ, CEP.: 21.941-

    570, pelos fatos e fundamentos de direito que passa a expor:

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    I - DOS FATOS

    A autora percebeu que ao longo dos ltimos anos inmeros consumidores vm reclamando de

    cobranas de multas oriundas do contrato de transporte de pessoas realizados com as

    companhias rs que muitas vezes ultrapassam 50% (cinquenta por cento) do valor das

    passagens areas quando pretendem cancelar, desistir ou alterar a data de suas viagens, seja

    por motivo de doena, ou caso fortuito.

    Da leitura das reclamaes extradas do banco de dados da comisso autora, e do stio

    eletrnico do Reclame Aqui (www.reclameaqui.com.br) especializado em receber e divulgar

    reclamaes de consumidores insatisfeitos com a oferta de produtos e servios, e da anlise de

    casos concretos apresentados, concluiu haver irregularidade na forma como estas empresas

    esto sendo realizadas.

    As companhias areas, ora rs, que atuam no mercado nacional e internacional de transporte

    areo de cargas e pessoas em conflito com a legislao ptria cobram dos consumidores

    quantias exorbitantes inviabilizando o equilbrio contratual, principalmente por se tratar de

    contrato de adeso.

    Dentre os servios ofertados inerentes ao transporte de passageiros, as companhias areas

    cobram e repassam inmeras tarifas para emisso de passagens areas, especialmente,

    pedidos de reembolso dos valores pagos em casos de cancelamento ou desistncia.

    Conforme previso da ANAC fica a critrio das companhias areas a tarifa cobrada nos casos

    de desistncia, cancelamento, ou alterao do bilhete de passagem adotado o regime de

    liberdade tarifria para linhas areas domsticas e internacionais com origem em nosso territrio

    regulamentadas pela Lei Federal n. 11.182/2005, Resoluo ANAC n. 140/2010 e pela Portaria

    ANAC n. 804/SER/2010.

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    A Lei Federal n. 11.182/2005, que criou a ANAC conforme acima esposado concedeu a

    liberdade tarifria, e a Resoluo ANAC n. 140/2010 regulamentou o registro de tarifas

    referentes aos servios de transporte areo regular, e a Portaria ANAC n. 804/SER/2010

    estabeleceu os procedimentos para o registro das tarifas areas comercializadas

    correspondentes aos servios de transporte areo domstico regular de passageiros.

    Desta forma, as companhias areas rs, em razo da permisso de liberdade tarifria para as

    linhas areas domsticas, e internacionais com origem em nosso territrio, cobram livremente

    valores tarifrios que podem, inclusive, dependendo do caso em superar 50% do valor da

    passagem area conforme acima esposado.

    O consumidor ao acessar o site da ANAC, poder verificar algumas dicas fornecidas por

    assunto, nos casos de desistncia de viagem o consumidor que quiser cancelar sua viagem

    orientado a verificar as regras inseridas no contrato de transporte, pois essa alterao poder

    gerar custos adicionais (em caso de remarcao) ou reteno de uma porcentagem do valor

    pago, no especificando o limite mximo, tendo em vista a liberdade tarifria.

    Apenas para ilustrar e ratificar a disposio inserta no art. 49 da Lei n. 11.182/2005, que criou a

    ANAC, e dispe sobre a liberdade tarifria, as condies impostas ao consumidor por parte das

    empresas areas variam de R$75,00 a R$200,00 mais 30% sobre o valor residual a ser

    restitudo por bilhete.

    Todos esses fatos demonstram que a conduta das companhias rs no se coadunam com as

    regras e princpios insculpidos no CDC, em nosso Cdigo Civil, e, principalmente, na

    Constituio Federal, uma vez que, frisa-se, o valor abusivo e as cobranas indevidas efetuadas

    geram enriquecimento sem causa por parte das rs o qual o consumidor, vulnervel, no tem o

    poder de mudar, portanto inadmissvel, assim como os imensurveis transtornos que

    suplantam obviamente os inconvenientes e aborrecimentos do cotidiano.

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    Diante do exposto, entende a autora haver, nos contratos analisados, distoro dos institutos

    jurdicos e de suas formas de resciso, no lhe restou alternativa que no propor a presente

    ao coletiva de consumo, a fim de impor as rs modificao em tais clusulas contratuais, pois,

    de outra maneira, estaro os consumidores sendo cobrados por vantagens manifestamente

    excessivas (art. 39, V, do CDC), proporcionando as rs, em contrapartida, enriquecimento sem

    causa (art. 884, do C.C.).

    II - DO DIREITO

    A) DA APLICAO DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DA APLICAO

    SUBSIDIRIA DO CDIGO CIVIL

    Como j dito previamente, o consumidor, seja ele usurio ou cliente, trava uma relao de

    consumo ao utilizar os servios prestados pelas companhias rs, uma vez que estabelece,

    atravs de um ato subjetivo bilateral, um contrato de prestao de servios.

    Em outras palavras, as companhias rs enquadram-se no conceito de fornecedoras, pelo que

    devem ser aplicadas hiptese dos autos, as regras inseridas no Cdigo de Defesa do

    Consumidor, que neste sentido, estabelece no art. 3, e em seu pargrafo 2 da lei 8.078/90:

    Art. 3 - Fornecedor toda pessoa fsica ou jurdica, pblica ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produo, montagem, criao, construo, transformao, importao, exportao, distribuio ou comercializao de produtos ou prestao de servios.

    Pargrafo 2. - Servio qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remunerao, inclusive as de natureza bancria, financeira, de crdito e securitria, salvo as decorrentes das relaes de carter trabalhistas.

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    Em suma, pelo fato da questo aqui discutida tratar da prestao de um servio ofertado, no

    resta dvida de que a Lei n 8.078/90, Cdigo de Defesa do Consumidor, tem plena

    aplicabilidade ao caso ora em discusso.

    O Cdigo de Defesa do Consumidor atravs de seu artigo 7 estendeu o campo de sua

    abrangncia para aplicar de forma subsidiria norma mais favorvel ao consumidor.

    Cludia Lima Marques explica de forma brilhante a aplicabilidade deste dispositivo quando

    defende a Teoria do Dilogo das Fontes, nesta teoria as leis pertinentes relao de consumo

    devem ser analisadas para aplicar qual ser a norma mais favorvel para o consumidor, in casu,

    artigo 740 do Cdigo Civil.

    Neste diapaso cumpre transcrever o artigo 7 da Lei 8078/90:

    Art. 7 Os direitos previstos neste cdigo no excluem outros decorrentes de tratados ou convenes internacionais de que o Brasil seja signatrio, da legislao interna ordinria, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princpios gerais do direito, analogia, costumes e eqidade.

    Pargrafo nico. Tendo mais de um autor a ofensa, todos respondero solidariamente pela reparao dos danos previstos nas normas de consumo.(grifou-se)

    Portanto, no h que se falar em aplicabilidade de legislaes desfavorveis e de Convenes

    Internacionais em detrimento do Cdigo de Defesa do Consumidor, posto que a jurisprudncia j

    se posicionou sobre a matria em casos de falha na prestao de servios de transporte areo

    por se tratar de relao de consumo.

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    Ademais, o artigo 7 do CDC defende a aplicao da norma mais favorvel ao consumidor, e no

    caso concreto, o Cdigo Civil de forma subsidiria, haja vista nossa Constituio Federal de

    1988 elevar a defesa do consumidor ao patamar constitucional.

    B) DO CONTRATO DE TRANSPORTE E DA PRTICA ABUSIVA PERPETRADA PELAS RS

    Segundo Caio Mrio da Silva Pereira, em sua obra, Instituies de Direito Civil, o contrato de

    transporte aquele pelo qual algum mediante retribuio se obriga a receber pessoas ou

    coisas (animadas ou inanimadas) e lev-las at o lugar de destino, com segurana, presteza e

    conforto (Cdigo Civil, art. 730).

    Para Cludia Lima Marques, em sua obra, Contratos no Cdigo de Defesa do Consumidor, O

    contrato de transporte de passageiros um contrato de prestao de servios, uma obrigao

    de resultado. Neste caso a caracterizao do profissional transportador como fornecedor no

    difcil, nem a do usurio do servio, seja qual for o fim que pretende com o deslocamento, com

    consumidor.

    O contrato de transporte em geral, seja ele de carga ou de pessoas, deve seguir seu objetivo

    principal, que o de levar o consumidor ou a carga do ponto de origem at o ponto de destino

    inclumes, o princpio da incolumidade presente nos contratos de transporte.

    No entanto, a modalidade de contrato questionado o contrato de transporte de pessoas e suas

    tarifas praticadas pelas companhias areas rs que atuam no mercado nacional e internacional.

    Conforme o relatrio de tarifas areas da Agencia Nacional de Aviao Civil de 2 de fevereiro de

    2011, 11 edio, o regime tarifrio adotado livre, ou seja, as empresas areas estabelecem

    livremente os valores das tarifas aplicveis no mercado interno fulcrada pelo artigo 49 da Lei n.

    11.182/2005, in verbis:

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    Art. 49. Na prestao de servios areos regulares, prevalecer o regime de liberdade tarifria.

    1o No regime de liberdade tarifria, as concessionrias ou permissionrias podero determinar suas prprias tarifas, devendo comunic-las ANAC, em prazo por esta definido.

    2o (VETADO)

    3o A ANAC estabelecer os mecanismos para assegurar a fiscalizao e a publicidade das tarifas.

    (grifamos)

    A resoluo ANAC n. 140/2010 regulamentou o registro de tarifas referentes aos servios de

    transporte areo regular.

    Art. 2 As empresas que exploram os servios de transporte areo domstico regular de passageiros devero registrar na ANAC, at o ltimo til do ms subseqente, os dados das tarifas areas comercializadas, de acordo com as instrues a serem expedidas pela Superintendncia de Regulao Econmica e Acompanhamento de Mercado da ANAC.

    Art. 4 As condies de aplicao, incluindo as regras e restries de cada base tarifria vigente e disponvel para comercializao, devero ser disponibilizadas e mantidas atualizadas pelas empresas e seus prepostos em todos os seus pontos de venda e de atendimento e, se houver, em sua pgina na internet, para fins de livre acesso e consulta pelo pblico em geral.

    A Portaria ANAC n. 804/SER/2010 estabeleceu os procedimentos para o registro das tarifas

    areas comercializadas correspondentes aos servios de transporte areo domstico regular de

    passageiros.

    Art. 2 So objeto de registro os dados das tarifas areas comercializadas em todas as linhas regulares domsticas de passageiros, correspondentes aos bilhetes de passagem emitidos.

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    Art. 3 O registro das tarifas areas domsticas comercializadas composto dos seguintes dados:

    III valor da tarifa do servio de transporte areo de passageiro constante do bilhete de passagem; e

    Isto quer dizer que as empresas areas tm liberdade e autonomia para cobrar as tarifas areas

    dentro do territrio nacional conforme sua determinao, e em relao s tarifas aplicadas aos

    pedidos de desistncias e cancelamento de passagens areas no diferente.

    A propsito, cumpre-nos reproduzir a prtica adotada pelas empresas areas, ora rs, que

    atuam na contramo do que dispe o cdigo de defesa do consumidor, especificamente o artigo

    740, 3 do Cdigo Civil:

    A AZUL, ora 1 r, em sua pgina de informaes que trata sobre remarcao/cancelamento tambm depende da modalidade de tarifa escolhida: Flex Plus e Promo, que pode variar de R$75,00 R$100,00.

    A GOL, ora 2 r, traz expressamente no seu stio eletrnico as condies para os consumidores desistirem ou cancelarem os bilhetes de passagem, sendo que os valores podem variar de R$70,00 a R$100,00, mais o percentual de 30% sobre o saldo residual, ou seja, o consumidor penalizado 2 vezes pelo mesmo fato.

    A TAM, ora 3 r, em seu regulamento que tambm trata reembolso em caso de cancelamento ou desistncia, neste caso, a companhia r somente devolve o valor da passagem area quando a falha for de sua responsabilidade da prpria companhia, mas quando se trata de iniciativa do consumidor, somente ser efetuado de acordo com as restries das regras da base tarifria informadas na confirmao da compra. E quando houver a utilizao parcial do bilhete o reembolso estar sujeito ao desconto do valor de uma tarifa conforme o cumprimento da resoluo IATA 737 R.A.M.

    A TRIP, ora 4 r, em seu Contrato de Transporte Areo de Passageiro Trip Linhas Areas, no item 9.7, expressa que: Todas as solicitaes de reembolso so passveis de multas administrativas de acordo com a(s) regras(s) da(s) tarifa(s) adquirida(s).

    A WEB JET, ora 5 r, em seu perfil de tarifas, o consumidor pode escolher dentre trs modalidades: Superpromo; Econmica; Livre, que pode variar de R$100,00 R$200,00 por bilhete, independente do que determina a lei.

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    O artigo 7 do Cdigo de Defesa do Consumidor expressamente dispe que os direitos previstos

    no CDC no excluem outros decorrentes de legislao ordinria interna, alis, vale ressaltar a

    posio defendida por uma das mais brilhantes doutrinadoras de nosso pas, Prof. Cludia Lima

    Marques:

    O art. 7 do CDC uma interface permevel do CDC com o sistema geral do direito civil. uma clusula de abertura deste microssistema, que no deseja ser exaustivo. O mandamento constitucional de proteo do consumidor (art. 5, XXXII, da CF/1988) deve ser cumprido por todo o sistema, em dilogo de fontes, e no somente atravs do Cdigo de Defesa do Consumidor, mandado elaborar pelo art. 48 do ADCT. O chamado direito do consumidor tem muitas fontes legislativas, tantas quantas assegurarem as leis ordinrias, os tratados, os princpios gerais e os costumes. Em resumo, sempre que uma lei assegure algum direito (no um dever!) para o consumidor, esta lei pode se somar ao CDC, ser incorporada na tutela especial, ser recebida pelo microssistema do CDC e ter a mesma preferncia no trato das relaes de consumo que o CDC (MARQUES, Cludia Lima. Comentrios ao Cdigo de Defesa do Consumidor. So Paulo: RT, 2006, p. 220)

    (grifamos)

    O direito do consumidor, ora passageiro, de rescindir o contrato, segundo os ditames do artigo

    740, 3 do CC 2002, dispositivo que no encontra correspondente direto no CDC, seja

    convergindo seja contrariando, e que por isso deve ser aplicado por fora de um necessrio

    dilogo de fontes, prescreve que o transportador ter direito de reter at 5% da importncia a

    ser restituda ao passageiro, a ttulo de multa compensatria.

    Art. 740. O passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituio do valor da passagem, desde que feita a comunicao ao transportador em tempo de ser renegociada.

    1o Ao passageiro facultado desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituio do valor correspondente ao trecho no utilizado, desde que provado que outra pessoa haja sido transportada em seu lugar.

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    2o No ter direito ao reembolso do valor da passagem o usurio que deixar de embarcar, salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe ser restitudo o valor do bilhete no utilizado. 3o Nas hipteses previstas neste artigo, o transportador ter direito de reter at cinco por cento da importncia a ser restituda ao passageiro, a ttulo de multa compensatria.(grifou-se)

    Na verdade o que o legislador pretendeu com a edio do referido dispositivo foi evitar o abuso

    e desequilbrio das relaes negociais no mercado de consumo, bem como de criar parmetros

    dentro da legalidade para que o consumidor vulnervel e hipossuficiente no seja lesado por

    atos administrativos contrrios a lei e que fatos supervenientes levem ao desequilbrio contratual

    e consequentemente onerosidade excessiva.

    Caio Mrio sobre o artigo 740 do Cdigo Civil, explica que o valor mximo de reteno em que o

    consumidor perder a ttulo de multa compensatria dever ser de at 5% do valor da

    passagem, neste sentido:

    O Cdigo concede ao passageiro o direito potestativo de rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a viagem, tendo direito restituio do preo da passagem desde que comunicada a desistncia ao transportador em tempo de ser renegociada (art. 740). A regra de difcil aplicabilidade, diante da dificuldade de o passageiro comprovar que suficiente o tempo que deu ao transportador para renegociar o bilhete.

    O Cdigo tambm concede ao passageiro o direito de desistir do contrato durante a sua execuo, com direito restituio do valor referente ao trecho no percorrido, desde que ele comprove que outro passageiro assumiu o seu lugar. Ter direito tambm restituio do valor do bilhete o passageiro que, apesar de no ter comparecido ao embarque, comprovar que outra pessoa assumiu o seu lugar.

    Em todas as hipteses de resciso unilateral acima referidas, no entanto, o Cdigo d ao transportador o direito de reteno do valor correspondente a at 5% (cinco por cento) do valor da passagem a ttulo de multa compensatria (3 do artigo 740 do Cdigo Civil). (Instituies de Direito Civil. Contratos. Vol. 3, 15 edio, pgs. 292/293, Ed. Forense. Caio Mrio da Silva Pereira)(grifamos)

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    Os nossos Tribunais seguem os ditames do artigo 740, pargrafo 3 do Cdigo Civil para

    pedidos de desistncia e de cancelamento, aceitando como multa mxima a ser aplicada nestes

    casos o percentual de at 5% do valor total da passagem, conforme arestos abaixo

    transcritos:

    AO ORDINRIA. DIREITO DO CONSUMIDOR. PACOTE TURSTICO. CONTRATO DE ADESO. RESCISO UNILATERAL DE CONTRATO PELO CONSUMIDOR. CLUSULA CONTRATUAL QUE PREV, EM CASO DE CANCELAMENTO DOS SERVIOS CONTRATADOS, A PERDA INTEGRAL DO VALOR PAGO. CLUSULA ABUSIVA. ILEGALIDADE. RESTITUIO DOS VALORES COMPROVADAMENTE PAGOS. DECISO CORRETA, QUE INTEGRALMENTE SE MANTM. A jurisprudncia j pacificou o entendimento de que nula a clusula contratual que subtraia ao consumidor a opo de reembolso das quantias pagas, nos termos do art. 51, inciso II, do Cdigo de Defesa do Consumidor. Nesse contexto, se, por um lado, reconhece-se a possibilidade de resciso unilateral do contrato pelo consumidor, seja qual for o motivo, por outro, no h que se falar em perda de todo o valor pago, no sendo vedado, contudo, estipulao de reteno de parte da quantia j paga, diante da ausncia real de proveito econmico aps o descumprimento do contrato pela parte aderente, ou seja, a no recolocao para venda das passagens, diante do cancelamento operado. Logo, necessrio se faz a prova de que, diante do cancelamento, no foi possvel a venda das acomodaes destinadas aos consumidores no embarcados no dia, horrio e local aprazados. Uma vez comprovado, por um lado, o cancelamento antes da data prevista para o embarque, deixou a r de comprovar, por outro, a impossibilidade de renegociao do pacote com terceiros, hiptese capaz de justificar a reteno de parte do valor do contrato. notrio o fato de que as empresas que atuam nesse seguimento manterem "lista de espera", exatamente para suprir eventuais ausncias, justificadas ou no, evitando com isto prejuzo econmico. No havendo, pois, prova de qualquer prejuzo, por acertada se mostra a deciso recorrida ao condenar a r a restituir as autoras os valores por elas comprovadamente pagos, devidamente corrigidos. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 0146396-89.2010.8.19.0001 APELACAO DES. MALDONADO DE CARVALHO - Julgamento: 06/03/2012 - PRIMEIRA CAMARA CIVEL(grifamos)

    PASSAGEM AREA. GOL TRANSPORTES AREOS. DESISTNCIA DO SERVIO. RESTITUIO DO VALOR PAGO. TAXA ADMINISTRATIVA DE 20% CONTRRIA LIMITAO DE 5% IMPOSTA PELO ART. 740, 3, DO NCCB. DEVOLUO PARCIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR INFORMAO CONSOANTE NORMA DO ART. 31 DO CDC. RECURSO PROVIDO EM PARTE. 31 CDC (71000630699 RS, Relator: Maria Jos Schmitt Sant Anna, Data de Julgamento: 07/06/2005, Terceira Turma Recursal Cvel, Data de Publicao: Dirio da Justia do dia 17/06/2005)(grifamos)

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    A cobrana de tarifas a ttulo de pedido de desistncia e de cancelamento de passagens areas

    acima do permissivo legal resulta claramente no enriquecimento sem causa por parte das

    empresas areas o que tambm vedado.

    A ilegalidade da conduta das companhias rs ferem de morte os princpios basilares e

    norteadores que vicejam tanto no campo da Constituio Federal, princpios fundamentais da

    dignidade da pessoa humana (art. 1, III, CRFB/1988), da construo de uma sociedade livre,

    justa e solidria (art.3, I, CRFB/1988), como no campo da defesa do consumidor, os princpios

    da confiana, transparncia, harmonia ou equilbrio, da vulnerabilidade do consumidor (art. 4,

    caput, I, CDC), e da boa-f objetiva (4, III, CDC), e da vedao ao enriquecimento sem causa

    (art. 884, NCCB).

    Tratando-se de relao de consumo, como ocorre no presente caso, deve o fornecedor de

    produtos e servios comportar-se de acordo com os ditames da Lei Consumerista na busca da

    concretizao dos objetivos da Poltica Nacional de Relaes de Consumo, dentre os quais

    destaca-se o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor nas relaes de consumo

    (art.4, inciso I do C.D.C.).

    De acordo com o caput e inciso III, do artigo 4, do Cdigo de Defesa do Consumidor, as

    relaes de consumo devem ser norteadas pelos princpios da proteo dos interesses

    econmicos, boa f, eqidade e transparncia.

    Por boa f objetiva deve-se entender um comportamento leal, que visa no prejudicar a outra

    parte (dever de proteo), para atender a legitima expectativa que levou o parceiro contratual a

    contratar.

    Este dever varia de acordo com as caractersticas do parceiro contratual, em obedincia ao

    princpio da eqidade.

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    Pelo princpio da harmonia ou equilbrio, busca-se tutelar os interesses dos contratantes de

    tal forma que no ocorra uma vantagem exagerada para um, em detrimento dos interesses do

    outro. As partes devem, a nvel contratual, tratar dos seus interesses de modo a preservar o

    equilbrio do contrato.

    Ainda sobre tal princpio, Rizzato Nunes em uma de suas obras, Curso de Direito do

    Consumidor. 4a ed. So Paulo, Saraiva, 2004, p. 125 e 126, nos ensina que:

    Outro princpio do caput do art. 4o aparece tambm no inciso III deste mesmo artigo. A harmonia das relaes de consumo nasce dos princpios constitucionais da isonomia, da solidariedade e dos princpios gerais da atividade econmica.

    O princpio da confiana fora tratado por CLUDIA LIMA MARQUES nos seguintes termos:

    A teoria da confiana, como j mencionamos anteriormente, pretende proteger prioritariamente as expectativas legtimas que nasceram no outro contratante, o qual confiou na postura, nas obrigaes assumidas e no vnculo criado atravs da declarao do parceiro. (...) O CDC instituiu no Brasil o princpio da proteo da confiana do consumidor. Este princpio abrange dois aspectos: 1) a proteo da confiana no vnculo contratual, que dar origem s normas cogentes do CDC, que procuram assegurar o equilbrio do contrato de consumo, isto , o equilbrio das obrigaes e deveres de cada parte, atravs da proibio do uso de clusulas abusivas e de uma interpretao sempre pr-consumidor; 2) a proteo da confiana na prestao contratual, que dar origem s normas cogentes do CDC, que procuram garantir ao consumidor a adequao do produto ou servio adquirido, assim como evitar riscos e prejuzos oriundos destes produtos e servios. (Contratos no Cdigo de Defesa do Consumidor, RT, 3a ed., 1999, p. 126 e 127).(grifamos)

    O princpio do enriquecimento sem causa presente em nosso ordenamento jurdico, e ressaltado

    de forma brilhante por Slvio de Salvo Venosa, em Dicionrio de Princpios Jurdicos, Ed.

    Elsevier, conclui que existe enriquecimento injusto sempre que houver uma vantagem de cunho

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    econmico em detrimento de outrem, sem justa causa. Esse o sentido do artigo 884 do atual

    Cdigo: Aquele que, sem justa causa, se enriquecer causa de outrem, ser obrigado a

    restituir o indevidamente auferido, feita a atualizao dos valores monetrios.

    Aplicando o princpio do enriquecimento sem causa ao caso concreto a vantagem obtida em

    detrimento do consumidor, sem justa causa, retrata a prtica atual das companhias areas que

    no restituem o valor integral das passagens, bem como no aplicam o disposto no artigo 740,

    3 do Cdigo Civil, frisa-se, que est completamente em sintonia com os dispositivos e

    princpios insculpidos no Cdigo de Defesa do Consumidor e na Constituio Federal de 1988.

    No entanto, quando o consumidor faz o requerimento de desistncia ou de cancelamento do

    bilhete de passagem area, dependendo da companhia area, este valor pode variar de

    R$70,00 R$200,00 mais o percentual de 30% do saldo residual a ser devolvido conforme

    disposio contratual, logo, as companhias areas que cobram qualquer valor acima do

    percentual previsto no artigo 740, 3 do Cdigo Civil de 5% caracteriza o locupletamento ilcito,

    o que deve ser rechaado por nossos tribunais.

    A cobrana de quantia indevida tambm est prevista no artigo 42, nico da Lei 8078/90, e

    desta vez a penalidade dos fornecedores de produtos e servios que cobram quantias indevidas

    ao consumidor devem ser restitudas em dobro por aquele que pagou, matria j pacificada em

    nossos tribunais.

    O Cdigo de Defesa do Consumidor elencou no artigo 6, os direitos bsicos do consumidor,

    dentre eles o direito de ter a informao adequada sobre os diferentes produtos e servios (6,

    III), a proteo contra prtica abusiva (6, IV), a modificao de clusulas que desequilibrem a

    relao contratual (6, V), e o direito a reparao pelos danos materiais e morais sofridos (6,

    VI).

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    Configura-se como prtica abusiva os incisos exemplificativos inseridos no artigo 39 da Lei

    8078/90, precisamente o que veda a exigncia de cobrar do consumidor vantagem

    manifestamente excessiva (39, V), elevar o preo de produtos e servios sem justa causa (39,

    X).

    Ainda neste diapaso, o artigo 51 da mesma lei, tratou das clusulas abusivas e das nulidades

    que delas resultam, como por exemplo clusulas que exoneram e isentam o fornecedor de

    responsabilidade (51, I), subtraiam do consumidor a opo de reembolso (51, II), que transfiram

    responsabilidades a terceiros (51, III), que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada

    (51, IV c/c 1), que permitam a variao unilateral do preo (51, X), e por fim estejam em

    desacordo com o sistema nacional de proteo ao consumidor (51, XV).

    A clusula abusiva prevista pelo artigo 51, inciso II, j est pacificada por nossa jurisprudncia

    que entendeu a nulidade da clusula contratual que subtraia ao consumidor a opo de

    reembolso das quantias pagas, alis, nesse mesmo sentido, o que dispe o artigo 740 do

    Cdigo Civil. Ainda que os consumidores tenham a opo de escolher entre os tipos de tarifas,

    ainda assim, so ilegais, pois a lei fala em reteno de at 5% do valor a ser restitudo a ttulo

    de multa compensatria

    No h que se falar em perda total do valor pago, mesmo que a empresa no tenha obtido lucro

    com a vaga disponibilizada pelo descumprimento contratual do consumidor, ou seja, a no

    recolocao para a venda das passagens, diante do cancelamento feito.

    Se a empresa quiser cobrar algum tipo de multa compensatria dever provar que em razo do

    cancelamento, no foi possvel a venda das acomodaes destinadas ao consumidor que no

    embarcou no dia, hora e local combinados.

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    Desta forma, se o consumidor comprovar que seu pedido de cancelamento foi requerido antes

    da data prevista para o embarque, e a empresa no comprovar a impossibilidade de

    renegociao do pacote com terceiros, logo no poder cobrar a multa de 5%.

    No ramo da aviao, principalmente do transporte de passageiros em vos domsticos ou

    internacionais, desde que originados em nosso territrio, em razo do alto nmeros de

    passageiros transportados diariamente, as empresas certamente mantm uma lista de espera

    exatamente para suprir eventuais ausncias, justificadas ou no, evitando com isto prejuzo

    econmico, por outro lado se no comprovarem o eventual prejuzo, o ressarcimento do valor

    pago pela passagem deve ser integral.

    A assertiva de que as empresas areas dificilmente sofrem prejuzos por conta de

    cancelamento, desistncia e alterao de datas encontra respaldo em prticas por elas

    adotadas diariamente e que inclusive so casos de assoberbamento de nosso judicirio, qual

    seja overbooking, modalidade esta em que a empresa vende uma assento no avio para mais

    de um passageiro, cancelamento de vos, preterio de passageiros, etc.

    O possvel argumento de que as empresas areas esto apenas cumprindo determinao do

    artigo 49 da Lei n. 11.182/2005, que criou a ANAC, esta no merece prosperar, pois se tratando

    de relao de consumo aplica-se o CDC e subsidiariamente normas e princpios mais favorveis

    ao consumidor.

    Por fim, as prticas aqui narradas violam princpios e normas que emergem dos arts. 4o, caput e

    incisos I e III; 6o, III, IV, V, VI e VIII; 7; art. 39, inciso V e X; 51, I, II , III, IV, X, XV, 1 todos da

    Lei 8.078/90, dos artigos 740 e 884 do Cdigo Civil, art. 170, inciso V da Constituio da

    Repblica, caracterizando-se, desta feita, o desrespeito a um dos fundamentos da Repblica

    Federativa do Brasil; o da dignidade da pessoa humana (art. 1o, inciso III; 3, I, da CRFB/88).

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    C) DO ALCANCE TERRITORIAL DA COISA JULGADA

    Destarte, o CDC, norma especial de ordem pblica, posterior Lei 7.347/85, regula em seu

    Ttulo III Da Defesa do Consumidor em Juzo amplamente a tutela dos interesses de

    consumidores, inclusive, com sistemtica prpria para as matrias de consumo.

    A fim de evitar qualquer dvida, previu expressamente, no artigo 90, a prioridade de aplicao

    do Diploma de Defesa do Consumidor com relao Lei 7.347/85 e ao Cdigo de Processo

    Civil.

    Art. 90. CDC. Aplicam-se s aes previstas neste Ttulo as normas do Cdigo de Processo Civil e da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inqurito civil, naquilo que no contrariar as suas disposies.

    Fredie Didier Jr e Hermes Zaneti Jr. listam seis motivos, com base na idia de devido processo

    legal substantivo (substantive due process of law), para sustentar a inconstitucionalidade do

    dispositivo do artigo 16 da Lei 7.347/1985:

    a) ocorre prejuzo a economia processual e fomento ao conflito lgico e prtico de julgados;

    b) representa ofensa aos princpios de igualdade e do acesso jurisdio, criando diferena no tratamento processual dado aos brasileiros e dificultando a proteo dos direitos coletivos em juzo;

    c) existe indivisibilidade ontolgica do objeto da tutela jurisdicional coletiva, ou seja, da natureza dos direitos coletivos lato sensu sua no separatividade no curso da demanda coletiva, sendo legalmente indivisveis (art. 81, pargrafo nico do CDC);

    d) h, ainda, equvoco na tcnica legislativa, que acaba por confundir competncia, como critrio legislativo para repartio da jurisdio, com a imperatividade decorrente do comando jurisdicional, esta ltima elemento do conceito de jurisdio que una em todo o territrio nacional;

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    e) por fim, existe a ineficcia da prpria regra de competncia em si, vez que o legislador estabeleceu expressamente no art. 93 do CDC (lembre-se, aplicvel a todo o sistema das aes coletivas) que a competncia para julgamento de ilcito de mbito regional ou nacional do juzo da capital dos Estados ou no Distrito Federal, portanto, nos termos da Lei em comento, ampliou a jurisdio do rgo prolator. (DIDIER JR, Fredie e ZANETI JR, Hermes. Curso de Direito Processual Civil processo coletivo. 6 Ed. Vol. IV Salvador: Editora Jus Podivm, 2011. pg. 148 e 149)

    E citando Nelson Nery Jr., o dispositivo levaria a uma situao inusitada: a sentena brasileira

    pode produzir efeito em qualquer lugar do planeta, desde que submetida ao procedimento de

    homologao perante o tribunal estrangeiro competente, do mesmo modo, uma sentena

    estrangeira pode produzir efeito em todo territrio nacional, desde que submetida ao

    procedimento de homologao da sentena estrangeira perante o STJ (conforme a EC n 45,

    que lhe deu esta nova competncia originria, anteriormente do STF: art. 105, I, i), No entanto,

    uma sentena brasileira coletiva somente poderia produzir efeitos nos limites territoriais do juzo

    prolator.

    Nelson Nery Jr. acrescenta interessante exemplo discusso:

    ... o Presidente da Repblica confundiu limites subjetivos da coisa julgada, matria tratada na norma, com jurisdio e competncia, como se v.g., a sentena de divrcio proferida por juiz de So Paulo no pudesse valer no Rio de Janeiro e nesta ltima comarca o casal continuasse casado! (...) Portanto, se o juiz que proferiu a sentena na ao coletiva tout court, que verse sobre direitos difusos, que coletivos ou individuais homogneos, for competente, sua sentena produzir efeitos erga omnes ou ultra partes, conforme o caso (v. CDC 103), em todo territrio nacional e tambm no exterior , independentemente da ilgica e inconstitucional redao dada....

    Desta forma, no h que se desconsiderar o fato de que a doutrina e nesse aspecto

    importante considerar a origem romano-germnica de nosso Direito entende pela

    inconstitucionalidade de qualquer interpretao do artigo 16 da Lei 7.347/1985 que limite a

    eficcia do provimento jurisdicional ao mbito de atuao do rgo prolator.

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    Reforando os argumentos mais difundidos, vale apresentar outros trs pontos de vista sobre a

    matria, para que no paire quaisquer dvidas quanto inconstitucionalidade da interpretao

    do artigo 16 da Lei 7347/1985:

    1) a interpretao, no caso em anlise, tender a provocar uma flagrante violao ao pacto

    federativo (art. 1 c/c 60, 4, I da CRFB);

    2) no que se refere s obrigaes de fazer ou no fazer (direitos difusos e coletivos) a

    interpretao capaz de modificar totalmente os limites subjetivos da coisa julgada, afinal, o

    dispositivo (art. 16 da LACP) no limita os efeitos da deciso no que se refere ao plo passivo

    da demanda, apenas tenta faz-lo no que se refere ao plo ativo;

    3) o CDC, que norma de ordem pblica (art. 1), tem disciplina especfica para as aes

    coletivas de consumo e visa garantir que as sentenas coletivas possam ser executadas em

    qualquer juzo (art. 98, 2, I), inclusive no domiclio do autor (art. 101, I), como forma de

    facilitar a defesa de seus direitos (art. 6, VIII).

    Da inconstitucionalidade do dispositivo frente ao artigo 1 c/c 60, 4, I da CRFB

    Dispe a constituio em seu artigo 60, 4, I que: A constituio poder ser emendada

    mediante proposta: ( 4) No ser objeto de deliberao a proposta de emenda tendente a

    abolir: (I) a forma federativa de Estado.

    Mantendo a interpretao do dispositivo (art. 16, da LACP), muito embora os consumidores do

    Estado do Rio de Janeiro venham a ser beneficiados em caso de procedncia da ao, o prprio

    estado estar sofrendo discriminao por ato de um dos poderes (judicirio) tendente a

    comprometer o pacto federativo.

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    Por outro lado, certo que alguns fatores determinam, de forma geral, o local de implantao da

    atividade produtiva e seu desenvolvimento, por exemplo: a carga tributria, os benefcios fiscais,

    o parque industrial disponvel, etc.

    Por esses e outros motivos, veda a Constituio todas as formas de guerra fiscal e concesso

    de benefcios que possam importar no favorecimento de determinados estados da federao em

    detrimento de outros.

    Art. 150, 6. Qualquer subsdio ou iseno, reduo de base de clculo, concesso de crdito presumido, anistia ou remisso, relativas a impostos, taxas ou contribuies, s poder ser concedida mediante lei especfica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matrias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuio, sem prejuzo do disposto no art. 155, 2, XII, g.

    Art. 151. vedado Unio: I Instituir tributo que no seja uniforme em todo o territrio nacional ou que implique distino ou preferncia em relao a Estado, ao Distrito Federal ou a Municpio, em detrimento de outro, admitida a concesso de incentivos fiscais destinados a promover o equilbrio do desenvolvimento scio-econmico entre as diferentes regies do Pas.

    Art. 155, 2, IV. Resoluo do Senado Federal, de iniciativa da Presidente da Repblica ou de um tero dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros, estabelecer as alquotas aplicveis s operaes e prestaes, interestaduais e de exportao.

    Art. 155 2, XII, g. Cabe a lei complementar: (g) regular a forma como, mediante deliberao dos Estados e do Distrito Federal, isenes, incentivos e benefcios fiscais sero concedidos e revogados;

    AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE INEXISTNCIA DE PRAZO DECADENCIAL ICMS CONCESSO DE ISENO E DE OUTROS BENEFCIOS FISCAIS, INDEPENDENTEMENTE DE PREVIA DELIBERAO DOS DEMAIS ESTADOS-MEMBROS E DO DISTRITO FEDERAL LIMITAES CONSTITUCIONAIS AO PODER DO ESTADO-MEMBRO EM TEMA DE ICMS (CF, ART. 155, 2., XII, G) NORMA LEGAL QUE VEICULA INADMISSVEL DELEGAO LEGISLATIVA EXTERNA AO GOVERNADOR DO ESTADO PRECEDENTES DO STF MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA EM PARTE. AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE E PRAZO DECADENCIAL: O ajuizamento da ao direta de inconstitucionalidade no esta sujeito a observncia de qualquer prazo de natureza prescricional ou de carter decadencial, eis que atos inconstitucionais jamais se convalidam pelo mero decurso do tempo. Smula 360.

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    Precedentes do STF. DIREITO DE PETIO E AO DIRETA: O direito de petio, presente em todas as Constituies brasileiras, qualifica-se como importante prerrogativa de carter democrtico. Trata-se de instrumento jurdico-constitucional posto a disposio de qualquer interessado mesmo daqueles destitudos de personalidade jurdica -, com a explicita finalidade de viabilizar a defesa, perante as instituies estatais, de direitos ou valores revestidos tanto de natureza pessoal quanto de significao coletiva. Entidade sindical que pede ao Procurador-Geral da Repblica o ajuizamento de ao direta perante o STF. Provocatio ad agendum. Pleito que traduz o exerccio concreto do direito de petio. Legitimidade desse comportamento. ICMS E REPULSA CONSTITUCIONAL A GUERRA TRIBUTRIA ENTRE OS ESTADOS-MEMBROS: O legislador constituinte republicano, com o propsito de impedir a guerra tributria entre os Estados-membros, enunciou postulados e prescreveu diretrizes gerais de carter subordinante destinados a compor o estatuto constitucional do ICMS. Os princpios fundamentais consagrados pela Constituio da Repblica, em tema de ICMS, (a) realam o perfil nacional de que se reveste esse tributo, (b) legitimam a instituio, pelo poder central, de regramento normativo unitrio destinado a disciplinar, de modo uniforme, essa espcie tributria, notadamente em face de seu carter no-cumulativo, (c) justificam a edio de lei complementar nacional vocacionada a regular o modo e a forma como os Estados-membros e o Distrito Federal, sempre aps deliberao conjunta, podero, por ato prprio, conceder e/ou revogar isenes, incentivos e benefcios fiscais. CONVNIOS E CONCESSO DE ISENO, INCENTIVOS E BENEFCIOS FISCAIS EM TEMA DE ICMS: A celebrao dos convnios interestaduais constitui pressuposto essencial a valida concesso, pelos Estados-membros ou Distrito Federal, de isenes, incentivos ou benefcios fiscais em tema de ICMS. Esses convnios enquanto instrumentos de exteriorizao formal do prvio consenso institucional entre as unidades federadas investidas de competncia tributria em matria de ICMS destinam-se a compor os conflitos de interesses que necessariamente resultariam, uma vez ausente essa deliberao intergovernamental, da concesso, pelos Estados-membros ou Distrito Federal, de isenes, incentivos e benefcios fiscais pertinentes ao imposto em questo. O pacto federativo, sustentando-se na harmonia que deve presidir as relaes institucionais entre as comunidades polticas que compem o Estado Federal, legtima as restries de ordem constitucional que afetam o exerccio, pelos Estados-membros e Distrito Federal, de sua competncia normativa em tema de exonerao tributria pertinente ao ICMS. MATRIA TRIBUTRIA E DELEGAO LEGISLATIVA: A outorga de qualquer subsdio, iseno ou crdito presumido, a reduo da base de calculo e a concesso de anistia ou remisso em matria tributria s podem ser deferidas mediante lei especfica, sendo vedado ao Poder Legislativo conferir ao Chefe do Executivo a prerrogativa extraordinria de dispor, normativamente, sobre tais categorias temticas, sob pena de ofensa ao postulado nuclear da separao de poderes e de transgresso ao princpio da reserva constitucional de competncia legislativa. Precedentes: ADIn 1.296-PE, Rel. Min. CELSO DE MELO. (STF ADI 1247 MC / PA Medida cautelar na ao direta de inconstitucionalidade Pleno Relator: Min. Celso de Mello Julgamento em: 17/08/1995).

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    O mesmo se dar em prevalecendo a tese de que o dispositivo do artigo 16 da LACP limita a

    eficcia da sentena ao mbito de competncia do rgo prolator.

    No dado ao Poder Judicirio como no ao Legislativo ou ao Executivo (art. 60, 4, I, da

    CRFB) emitir ato que possa comprometer o desenvolvimento nacional, a erradicao da

    pobreza e principalmente que possa fomentar as desigualdades entre os entes federativos (art.

    3 da CRFB), pois isso viola a estrutura bsica do prprio estado brasileiro.

    Sendo a sentena proferida limitada ao mbito de atuao do rgo prolator, poder-se-o criar

    barreiras no isonmicas ao ingresso de determinadas atividades do segmento produtivo a

    alguns estados. Aqueles que estejam sob a gide do mandamento judicial.

    E no h que se falar que nesse caso a deciso, de no ingressar em determinado ente da

    federao, seja meramente uma deciso comercial, pois na verdade, o piv da deciso

    comercial ter sido uma barreira criada pelo prprio Estado no exerccio da jurisdio.

    Nesse ponto surge a grande questo a ser enfrentada por esse juzo. Ou bem o Estado Juiz

    nega jurisdio (art. 5, XXXV) e julga improcedentes os pedidos formulados em aes coletivas

    de consumo por mero temor de ferir o pacto federativo (art. 1, da CRFB), prejudicando

    determinados estados em detrimento de outros; ou julga procedente garantindo a jurisdio e

    limita os efeitos da deciso sabendo que nesse caso estar promovendo medida tendente a

    violar o pacto federativo; ou garante a jurisdio julgando conforme o seu convencimento, e,

    para no incorrer em medida que tenda a violar o pacto federativo, estende os seus efeitos a

    todos os estados da federao.

    No caso trazido a baila, a ltima hiptese a mais razovel, eis que o consumidor ter

    resguardado o amplo acesso a justia e a facilitao da defesa de seus direitos.

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    Dos limites subjetivos, objetivos e da execuo nos processos coletivos juzo competente

    Recentemente, o Superior Tribunal de Justia fixou interpretao para a regra de competncia

    na execuo individual.

    Dispe o Cdigo de Defesa do Consumidor em seu artigo 98, 2, I, que: A execuo poder

    ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vtimas

    cujas indenizaes j tiverem sido fixadas em sentena de liquidao, sem prejuzo do

    ajuizamento de outras execues.

    2 competente para a execuo o juzo:

    I da liquidao da sentena ou da ao condenatria, no caso de execuo individual;

    Segundo entendeu a Terceira Turma em posicionamento que vem sendo reiterado pela corte:

    RECURSO ESPECIAL. CONFLITO DE COMPETNCIA NEGATIVO. EXECUO INDIVIDUAL DE SENTENA PROFERIDA NO JULGAMENTO DE AO COLETIVA. FORO DO DOMICLIO DO CONSUMIDOR. INEXISTNCIA DE PREVENO DO JUZO QUE EXAMINOU O MRITO DA AO COLETIVA. TELEOLOGIA DOS ARTS 98, 2, II E 101, I, D CDC.1. A execuo individual de sentena condenatria proferida no julgamento de ao coletiva no segue a regra dos arts. 475-A e 575, II, do CPC, pois inexiste interesse apto a justificar a preveno do Juzo que examinou o mrito da ao coletiva para o processamento e julgamento das execues individuais desse ttulo judicial. 2. A analogia com o art. 101, I, do CDC e a integrao desta regra com a contida no art. 98, 2, I, do mesmo diploma legal garantem ao consumidor a prerrogativa processual do ajuizamento da execuo individual derivada de deciso proferida no julgamento de ao coletiva no foro de seu domiclio . 3. Recurso especial provido. (STJ Resp 1098242/GO Terceira Turma Relator (a): Min. Nancy Andrighi Julgamento em: 28/10/2010)(grifamos)

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    Mais esse entendimento demonstra o desacerto da interpretao dada ao artigo 16 da LACP

    quando limita os efeitos da sentena competncia territorial do rgo prolator.

    Segundo entendeu o Superior Tribunal de Justia, uma prerrogativa do consumidor (art. 101, I)

    optar pelo foro do seu domiclio para a execuo de sentenas em aes coletivas para a

    defesa de interesses individuais homogneos. Tal concluso pode gerar um outro sem nmero

    de hipteses em que a interpretao dada ao dispositivo do artigo 16 da LACP violaria direitos

    bsicos do consumidor, mormente a facilitao da defesa de seus direitos em juzo (art. 6, VIII,

    do CDC).

    A regra do artigo 16 da LACP no se aplica s aes coletivas para a defesa de interesses

    individuais homogneos, pois incompatvel com a sistemtica do Cdigo de Defesa do

    Consumidor, que tem aplicao prioritria sobre aquela lei geral de aes civis pblicas (art. 90,

    do CDC).

    Atual posicionamento do Superior Tribunal de Justia Recursos Repetitivos

    Os entendimentos acima expostos foram os que fixaram, na Corte Especial do Superior Tribunal

    de Justia, o entendimento acerca da matria, pondo fim a qualquer controvrsia sobre a

    aplicao do artigo 16 da LACP.

    DIREITO PROCESSUAL. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVRSIA (ART. 543-C, CPC). DIREITOS METAINDIVIDUAIS. AO CIVIL PBLICA. APADECO X BANESTADO. EXPURGOS INFLACIONRIOS. EXECUO/LIQUIDAO INDIVIDUAL. FORO COMPETENTE. ALCANCE OBJETIVO E SUBJETIVO DOS EFEITOS DA SENTENA COLETIVA. LIMITAO TERRITORIAL. IMPROPRIEDADE. REVISO JURISPRUDENCIAL. LIMITAO AOS ASSOCIADOS. INVIABILIDADE. OFENSA COISA JULGADA.Para efeitos do art. 543-C do CPC: 1.1. A liquidao e a execuo individual de sentena genrica proferida em ao civil coletiva pode ser ajuizada no foro do domiclio do beneficirio, porquanto os efeitos e a eficcia da sentena no esto circunscritos a lindes geogrficos, mas aos limites objetivos e

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    subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extenso do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juzo (arts. 468, 472 e 474, CPC e 93 e 103, CDC). 1.2. A sentena genrica proferida na ao civil coletiva ajuizada pela Apadeco, que condenou o Banestado ao pagamento dos chamados expurgos inflacionrios sobre cadernetas de poupana, disps que seus efeitos alcanariam todos os poupadores da instituio financeira do Estado do Paran. Por isso descabe a alterao do seu alcance em sede de liquidao/execuo individual, sob pena de vulnerao da coisa julgada. Assim, no se aplica ao caso a limitao contida no art. 2-A, caput, da Lei n. 9.494/97. 2. Ressalva de fundamentao do Ministro Teori Albino Zavascki. Jurisprudncia/STJ Acrdos. 3. Recurso especial parcialmente conhecido e no provido. (grifos nossos)

    Vale transcrever trecho do julgamento para que no restem dvidas sobre os limites territoriais

    da coisa julgada em aes coletivas de consumo.

    possvel o ajuizamento no foro do domiclio do consumidor de liquidao e execuo individual de sentena proferida em ao coletiva porque o alcance da coisa julgada no se limita comarca no qual tramitou a ao, mas sim a determinados sujeitos e questes ftico-jurdicas, de modo que o artigo 16 da LACP mistura conceitos heterogneos de coisa julgada e competncia territorial, induzindo a interpretao de que os efeitos da sentena podem ser limitados territorialmente, quando se sabe que coisa julgada, a despeito da atecnia do artigo 467 do CPC, no efeito da sentena, mas qualidade que a ela se agrega de modo a torn-la imutvel e indiscutvel.

    III- CONCLUSO

    direito do passageiro de rescindir o contrato antes de iniciar a viagem, desde que comunicado

    o fato em tempo hbil para a companhia area de renegoci-la (art. 740, caput, CC/2002).

    Tambm direito do passageiro de desistir do contrato em execuo, ou daquele passageiro

    que no embarcou receber o valor do trecho no utilizado, desde que outra pessoa utilize-o em

    seu lugar (art. 740, 1, 2, CC/2002).

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    Em todas as hipteses do artigo 740 do Cdigo Civil, mesmo que o passageiro no comprove

    que outra pessoa viajou em seu lugar, ou que no deu tempo da empresa renegociar a

    passagem, as companhias areas somente podero cobrar, a ttulo de multa compensatria, o

    valor mximo de 5% (art. 740, 3, CC/2002).

    Desta forma, a empresa dever provar que em razo do cancelamento ou da desistncia, no

    foi possvel renegociar os assentos ou acomodaes, pois notrio que as companhias areas

    possuem uma lista de espera ou mantm reservas justamente para evitar prejuzos financeiros

    desta natureza, valendo ressaltar que neste caso a regra ser de difcil aplicao uma vez que o

    consumidor sujeito vulnervel e hipossuficiente (art. 6, VIII, CDC) para provar que a empresa

    no renegociou a passagem.

    Por tudo at aqui exposto, resta claro que existem irregularidades nas clusulas contratuais que

    prevem a resciso dos contratos de transporte de pessoas fornecidos pelas rs (art. 740, do

    C.C.), j que, segundo possvel constatar nos instrumentos anexo, os consumidores vm

    sendo cobrados de valores indevidos (art. 39, V, do CDC), permitindo que as rs recebam, em

    contrapartida, remunerao sem justo motivo (art. 884, do CC/2002).

    IV - OS PRESSUPOSTOS PARA O DEFERIMENTO DA LIMINAR

    No caso em anlise, necessrio se faz a concesso de medida liminar para que seja suspensa a

    eficcia de todas as clusulas contratuais que estabeleam a cobrana, a ttulo de multa

    compensatria, valores acima do permissivo legal (art. 740, 3, C.C/2002), sempre que, uma

    vez rescindido o contrato por pedido de desistncia, cancelamento ou alterao da data a

    requerimento do consumidor.

    A medida, caso deferida, no ser capaz de causar danos irreversveis as rs, pelo menos no

    injustos, tendo em vista que a obrigao que se pretende ver imposta antecipadamente

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    encontra-se no circulo de responsabilidade das rs por fora da atividade econmica que estas

    resolveram desenvolver para obter lucro. Ressalte-se que, o acolhimento da noo de dano no

    injusto de extrema importncia para a questo, tendo em vista que, se assim no fosse, a

    gama de situaes que reclamam antecipao dos efeitos da tutela seria radicalmente

    comprometida, pois normal que tais medidas causem danos na parte prejudicada.

    Essa noo normativa justifica a adjetivao do dano juridicamente tutelado como dano injusto, o que, no dizer de Alpa et alii, no uma qualificao que possa ser tida como descontada de intil e repetitiva do carter j de per si ilcito do ato que o gera. Pelo contrrio, uma expresso que sublinha a extrema relevncia que tem, para o Direito civil, a situao subjetiva prejudicada. (MARTINS-COSTA, Judith. Comentrios ao Novo Cdigo Civil, volume V, tomo II: do inadimplemento das obrigaes. FIGUEREDO TEIXEIRA, Slvio coord. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 170)

    O mesmo pode ser dito quando a reversibilidade da medida pleiteada (art. 273, 2). Como

    possvel extrair da prtica forense, a grande maioria dos casos em que o direito encontra-se em

    situao que justifica a concesso de tutelas antecipadas, ou seja, em estado de perigo

    iminente, no possibilita a reverso da medida concedida; uma vez efetivada. No entanto,

    mesmo nessas hipteses, permitir que diante da possvel irreversibilidade o direito perea, o

    mesmo que admitir, de logo (no inicio do processo), que ao final, seja qual for a posio adotada

    no mrito, o jurisdicionado no alcanar o direito pretendido, pois este inevitavelmente

    sucumbir pela demora.

    O ativismo judicial que hoje se apregoa faz da lei nova um diploma recheado de vetustez e covardia, sem prejuzo de afastar-se dos mais modernos postulados da efetividade do processo. Esse acanhamento do legislador foi to longe que retirou praticamente com a outra mo a sedutora idia da tutela antecipada, ao dispor no 2 do art. 273, que, verbis : No se conceder a antecipao da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. que no se atentou para o fato de que, na grande maioria dos casos da prtica judiciria, as situaes de urgncia que reclamam a

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    antecipao da tutela geram, inexoravelmente, situaes irreversveis, porque encerram casos em que a satisfao deve ser imediata, como, v.g. , aquela em que autorizada uma viagem, uma cirurgia, uma inscrio imediata em concurso, etc.Desta sorte, a redao, como esta, serve de instrumento para os que no reconhecem o que denominamos de dever geral de segurana. E, para tanto, basta que se justifique ou motive a deciso, como quer o 1 do art. 273, sob o argumento de que a concesso implicar irreverso.A regra ora in foco melhor disporia se, obedecendo mesma margem de discricionariedade que inseriu para a concesso, a mantivesse mesmo nos casos de irreversibilidade, que representam grande parte das demandas de urgncia. (FUX, Luiz. A tutela antecipada nos Tribunais Superiores. In Revista de Direito da Associao dos Procuradores do Novo Estado do Rio de Janeiro Vol. X Rio de Janeiro: Lmen Jris, 2002. pg. 109)

    No entanto, no caso em anlise, a medida preventiva (suspensiva), ao contrrio do que

    ordinariamente ocorre, evitar que as clusulas impugnadas continuem causando danos de

    duvidosa legitimidade aos consumidores, ao menos at que o judicirio sobre elas se manifeste,

    e, ao mesmo tempo, no ser capaz de produzi-los (danos) para as rs.

    Assim, ao final do processo, sem que danos intercorrentes ocorram, ou que seja adotada uma

    poltica do solve et repete, ser possvel apurar qual a justa medida da remunerao devida as

    rs na resciso dos contratos de transporte de pessoas quando o consumidor rescinde

    unilateralmente o contrato por motivo de desistncia ou cancelamento momento em que,

    incontestavelmente, qualquer valor cobrado a ttulo de resciso no poder ser considerado

    injusto.

    Como boa medida inibitria, a suspenso de eficcia ser capaz, a um s tempo, de evitar a

    antecipao de danos aos consumidores e permitir, ao final do processo, que as rs cobrem

    tudo aquilo que for considerado legitimo em razo da resciso contratual.

    Nas antecipaes de tutela como nas cautelares indispensvel sopesar os males que o demandante poder razoavelmente sofrer em caso de denegao da medida, no confronto com aqueles que a concesso desta

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    poder causar ao demandado (CNDINDO DINAMARCO, A instrumentalidade do Processo, 3 ed. 1993, SP, Malheiros, p. 262, citado pelo Desembargador Federal NEWTON DE LUCCA, Ag-SP 97.03.055740-6, 54449 (97.0015945-0), DJU de 31.10.97, p. 91947, 91947). Parece claro que (d) o periculum in mora, em regra, atinge mais intensamente o devedor do que o credor, como est a ressumbrar no s da jurisprudncia do Egrgio Tribunal Regional Federal da 3 Regio, ao afastar em qualquer hiptese solve et repete, como do Excelso Pretrio, ao suspender provisoriamente a exigibilidade do pagamento de vantagens aos servidores pblicos (ADIN n 4-6, DJU de 18.02.98), ou negar proteo a repasse de recursos devidos a Estado da federao, retidos pela Unio Federal a pretexto de inadimplncia. (NEVES, Jos Eduardo Santos. Sentena Antecipao de Tutela em face da Fazenda Pblica. In Revista de Direito da Associao dos Procuradores do Novo Estado do Rio de Janeiro Vol. X Rio de Janeiro: Lmen Jris, 2002. pg. 153)

    O indeferimento da tutela requerida permitir, a contrario sensu, que danos irreversveis

    continuem afligindo a um sem nmero de consumidores atingidos pelas situaes descritas

    nesta inicial. Neste caso, a demora no provimento jurisdicional impor aos consumidores no

    apenas o pagamento de obrigao manifestamente excessiva (art. 39, V, do CDC), mas

    tambm, tantas outras conseqncias naturais (negativas) que disso possam advir;

    desdobramentos que, dependendo da demora na resoluo deste processo, jamais podero ser

    compensados ao final deste processo.

    Imagine-se a situao de um passageiro, vitima de um infarto ou qualquer acidente grave, tenha

    que amargar, logo aps a compra da passagem, com o pagamento imediato que pode alcanar

    R$200,00 mais 30% de todo valor residual a ser restitudo. Nestes casos, inegvel que o seu

    dano decorrente do pagamento ser muito superior ao sofrido pelas rs, que possuem lista

    de espera, justamente para evitar prejuzos econmicos, caso tenham que aguardar o

    provimento final deste processo para ento, com base na certeza de legitimidade das clusulas

    de resciso, retomar suas polticas tarifrias.

    Ou seja, j que o dano, no pedido de tutela satisfativa, sempre inevitvel, quer para a parte

    requerente (no indeferimento), quer para requerida (quando do deferimento), a melhor soluo

    sempre ser aquela que prestigie a efetividade do processo como instrumento de realizao

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    substancial do direito, ou seja, que no permita o perecimento do direito no aguardo do

    pronunciamento.

    Dano irreparvel, nesse sentido, manifesta-se na impossibilidade de cumprimento posterior da obrigao ou na prpria inutilidade da concesso da providncia, salvo antecipadamente. O esvaziamento da utilidade da deciso vitoriosa revela um dano irreparvel que deve ser analisado em plano muito anterior ao da visualizao da possibilidade de se converter em perdas e danos a no-satisfao voluntria pelo devedor. (FUX, Luiz. A tutela antecipada nos Tribunais Superiores. In Revista de Direito da Associao dos Procuradores do Novo Estado do Rio de Janeiro Vol. X Rio de Janeiro: Lmen Jris, 2002. pg. 112 e 113)

    Dispe o pargrafo 3 do artigo 84 do CDC (repetido no artigo 461, 1 do CPC) que, sendo

    relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficcia do provimento

    final, lcito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou aps justificao prvia, citado o ru.

    O dispositivo supramencionado cuida da concesso de tutela liminar para garantir a total

    satisfao do direito do consumidor nos casos em que a espera pelo provimento final da

    demanda interfere de forma negativa.

    Trata-se, portanto, de verdadeira antecipao de tutela, logo, deve o dispositivo ora em comento

    ser interpretado em harmonia com o artigo 273 do Cdigo de Processo Civil, que trata do

    assunto de forma geral.

    O artigo 273 do CPC exige, para que seja concedida a antecipao parcial ou total da tutela

    pretendida, que exista prova inequvoca que convena o juiz sobre a verossimilhana das

    alegaes do autor, e que haja fundado receio de dano irreparvel ou de difcil reparao.

    A doutrina e a jurisprudncia j se manifestaram sobre a contradio existente nas expresses

    prova inequvoca e que convena da verossimilhana da alegao, contidas no artigo 273 do

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    CPC, concluindo que, havendo uma prova inequvoca haver certeza, e no simples

    verossimilhana, cujo real significado parecer ser verdadeiro o alegado, logo, a melhor

    interpretao para o dispositivo haver probabilidade da existncia do direito alegado, para que

    possa ser concedida a antecipao da tutela.

    O artigo 273 condiciona a antecipao da tutela existncia de prova inequvoca suficiente para que o juiz se convena da verossimilhana da alegao. A dar peso ao sentido literal do texto, seria difcil interpret-lo satisfatoriamente porque prova inequvoca prova to robusta que no permite equvocos ou dvidas, infundindo no esprito do juiz o sentimento de certeza e no mera verossimilhana. Convencer-se da verossimilhana, ao contrrio, no poderia significar mais do que imbuir-se do sentimento de que a realidade ftica pode ser como a descreve o autor.

    Aproximadas as duas locues formalmente contraditrias contidas no artigo 273 do Cdigo de Processo Civil (prova inequvoca e convencer-se da verossimilhana), chega-se ao conceito de probabilidade, portador de maior segurana do que a mera verossimilhana. (DINAMARCO, Cndido Rangel. A reforma do Cdigo de Processo Civil. So Paulo: Malheiros, 1995, p.143) (grifos nossos)

    RESPONSABILIDADE CIVIL DO FABRICANTE. ANTICONCEPCIONAL INERTE. DEFEITO DO PRODUTO RECONHECIDO. INGESTO PELA AUTORA NO PROVADA. IMPOSIO DO PAGAMENTO DE DESPESAS DO PARTO EM ANTECIPAO DE TUTELA. A prova inequvoca, para efeito de antecipao da tutela, quando se trata de relao de consumo, de ser interpretada sem rigorismo, pois, nessa matria, mesmo em sede de cognio plena, dispensa-se juzo de certeza, bastante a probabilidade extrada de provas artificiais da razo. DECISO MANTIDA (TJRS, AI 599374303, 9 CmCv., Rel. Desa. Mara Larsen Chechi, j. 25-8-1999).

    Portanto, para que a antecipao de tutela possa ser concedida necessrio que haja prova (ou

    mesmo indcios) demonstrando que h probabilidade de ser verdadeira a alegao do autor da

    demanda e o fundado receio de dano irreparvel ou de difcil reparao.

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    Diante das respostas apresentadas pelas rs as notificaes encaminhadas pela autora (anexo),

    verdadeiras confisses das circunstncias descritas neste processo, inegvel a presena dos

    pressupostos necessrios (fumus boni iuris e periculum in mora) para a concesso da medida

    antecipatria.

    A tutela antecipada reclama prova inequvoca da verossimilhana da alegao e periclitao do direito ou direito evidente caracterizado pelo abuso do direito de defesa ou manifesto propsito protelatrio do ru. (...)Observa-se que, em princpio, nessa hiptese de tutela antecipada do direito evidente, o juzo necessita conhecer a defesa do ru para concluir pela inconsistncia desta frente ao direito do autor. Entretanto no se pode afastar a possibilidade de o juiz verificar a ausncia de oposio sria a luz de comunicaes formais trocadas entre os contendores antes mesmo da ao proposta como cartas, notificaes etc., possibilitando a concesso da antecipao initio litis . (FUX, Luiz. A tutela antecipada nos Tribunais Superiores. In Revista de Direito da Associao dos Procuradores do Novo Estado do Rio de Janeiro Vol. X Rio de Janeiro: Lmen Jris, 2002. pg. 113 e 114)

    Por outro lado, como medida pleiteada apenas estabelecer suspenso do suposto direito de

    cobrar os valores a ttulos de multa compensatria enquanto as clusulas que prevem tal

    cobrana esto pendentes de anlise sem, contudo, reneg-lo, nunca haver irreversibilidade

    da medida. Nesta hiptese, tanto os direitos dos consumidores quanto os supostos direitos das

    rs restaro preservados, embora diferidos no tempo.

    Para que a medida possa surtir os efeitos desejados (caso seja concedida), e assim evitar mais

    danos aos consumidores, necessrio se faz a fixao de multa para o caso de descumprimento

    da ordem judicial, conforme previsto nos artigos 461, 1, do CPC, e 84, 4, do CDC.

    V - DO PEDIDO LIMINAR

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    Ante o exposto a COMISSO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLIA

    LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO requer LIMINARMENTE E SEM A OITIVA

    DA PARTE CONTRRIA que seja determinado initio litis s rs:

    1 - Em antecipao dos efeitos da tutela, a suspenso das clusulas contratuais e sua

    divulgao nos stios eletrnicos das companhias rs, que permitem a cobrana de quaisquer

    valores a ttulo de multa compensatria dos contratos de transporte de pessoas em discordncia

    do permissivo legal previsto no artigo 740, 3 do Cdigo Civil, sob pena de multa diria de

    R$50.000,00 (cinquenta mil reais) ou por cada evento danoso que se tiver conhecimento a partir

    da deciso que deferir a liminar.

    VI - DO PEDIDO

    Requer ainda a V. Exa.:

    1 a citao da rs para querendo responder a presente, sob pena de sofrer as sanes legais

    pertinentes;

    2 que, aps apreciado liminarmente e deferido, seja julgado procedente o pedido formulado

    em carter liminar;

    3 a condenao definitiva e confirmada por sentena condenatria das rs na obrigao de

    fazer para cumprir com o disposto no artigo 740, pargrafos 1. 2 e 3 do Cdigo Civil de modo

    que o consumidor no seja tarifado indevidamente, sob pena de multa diria no valor de

    R$50.000,00 at a persistncia do vcio, ou por cada evento danoso que se tiver conhecimento;

    4 a condenao das rs para exclurem de seus contratos e, por conseguinte de seus stios

    eletrnicos da rede mundial de computadores as clusulas abusivas que oneram o consumidor

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    acima do permissivo legal, de modo que atenda o artigo 740 do Cdigo Civil para casos de

    pedido de desistncia ou cancelamento das passagens areas;

    5 a condenao das rs a indenizar, da forma mais ampla e completa possvel devidamente

    apurados em fase de liquidao de sentena, os danos materiais e morais causados aos

    consumidores individualmente considerados, como estabelece o art. 6, VI c/c art. 95 do CDC,

    em virtude da prtica aqui tratada;

    6 a condenao das rs em ressarcir em dobro os consumidores de todos os valores pagos

    indevidamente com fulcro no artigo 42, pargrafo nico do CDC;

    7 - a inverso do nus da prova nos termos do artigo 6, inciso VIII para que as rs provem que

    em razo do cancelamento ou da desistncia, no foi possvel renegociar os assentos ou

    acomodaes, valendo ressaltar que o consumidor vulnervel e hipossuficiente para provar

    que a empresa no renegociou a passagem;

    8 em caso de procedncia do pedido a extrao e expedio de cpias da inicial e da

    sentena para os rgos ministeriais de todo territrio nacional, com a finalidade de possibilitar

    aos consumidores a execuo individual restritiva aos liames subjetivos e objetivos do julgado

    com base no artigo 93 e 103 do CDC;

    9 a publicao do edital previsto no artigo 94 da Lei n. 8.078/90;

    10 a condenao das rs na obrigao de publicar, s suas custas, em dois jornais de grande

    circulao desta Capital, bem como em seus stios virtuais na internet em seus respectivos

    endereos, em quatro dias intercalados, sem excluso do domingo, em tamanho mnimo de 20

    cm x 20 cm, a parte dispositiva de eventual procedncia, para que os consumidores dela tomem

    cincia, oportunizando, assim, a efetiva proteo de direitos lesados;

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    11 a intimao do Ministrio Pblico;

    12 a condenao das rs ao pagamento dos nus sucumbenciais;

    13 a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde logo, em face

    do previsto art. 87 da Lei n 8.078/90;

    VII - DAS PROVAS

    Requer a pela produo de todas as provas em direito admissveis em direito, nos termos do art.

    332 do Cdigo de Processo Civil.

    VIII - DO VALOR DA CAUSA

    Para efeitos meramente fiscais, d-se a esta causa, por fora do disposto no art. 258 do Cdigo

    de Processo Civil, o valor de R$100.000,00 (cem mil reais).

    Nestes termos,

    Pede deferimento.

    Rio de Janeiro, 23 de maio de 2012.

    Rafael Ferreira Couto

    OAB/RJ n. 147.063

    MAT. 416.249-1

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    ROL DE DOCUMENTOS APRESENTADOS

    Doc. I - REPRESENTAO PROCESSUAL;

    Doc. II - PRTICA TARIFRIA ADOTADA PELAS EMPRESAS RS;

    Doc. III - RECLAMAES FORMULADAS NA CODECON ALERJ;

    Doc. IV - RECLAMAES FORMULADAS NO STIO ELETRNICO DO RECLAME AQUI

    (www.reclameaqui.com.br);

    Doc. V - RECLAMAES FORMULADAS NA CODECON ALERJ E NO STIO ELETRNICO

    DO RECLAME AQUI (www.reclameaqui.com.br) POR OUTRAS EMPRESAS COMPROVANDO

    A ILEGALIDADE CONTUMAZ PRATICADA NO MERCADO

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    DOC. I

    REPRESENTAO PROCESSUAL

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    DOC. II

    PRTICA TARIFRIA ADOTADA

    PELAS EMPRESAS RS

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    DOC. III

    RECLAMAES FORMULADAS NA

    CODECON ALERJ

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    DOC. V

    RECLAMAES FORMULADAS NA

    CODECON ALERJ E NO STIO

    ELETRNICO DO RECLAME AQUI

    (www.reclameaqui.com.br) POR OUTRAS

    EMPRESAS COMPROVANDO A

    ILEGALIDADE CONTUMAZ PRATICADA

    NO MERCADO

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