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CIDADANIA EM CRISE: MODELOS E DISCURSOS CITIZENSHIP IN CRISIS: MODELS AND SPEECHES Marciele Berger Bernardes Santiago Artur Berger Sito RESUMO O presente ensaio visa apontar algumas diferenças entre os modelos teóricos clássicos de cidadania e a cidadania existente no Brasil. A tentativa de resgatar tal conceito passeia por um duto maior: o remontar próprio da ciência jurídica, em sua totalidade, regatando-se parte a parte de contexto contingentes. Compreender como a cidadania foi concebida e sua importância para absorver o que é como funciona e quem exerce o direito é crucial. Além disso, como poder e soberania tornam-se contrapontos a serem postos de frente com a cidadania, buscar-se-á, ainda, assinalar alguns obstáculos que, historicamente, impediram a implantação dos direitos de cidadania no Brasil. PALAVRAS-CHAVES: CIDADANIA NO BRASIL, CRISE, THOMAS MARSHALL, DIREITO PENAL DO INIMIGO. ABSTRACT This test is to point out some differences between the traditional theoretical models of citizenship and citizenship in the Brazil. The attempt to rescue this concept involves a more product: the back of legal science itself, in its entirety, the races are part of the quotas. Understand how citizenship is designed to absorb and importance that is how it works and who exercises the right is crucial. Moreover, as power and sovereignty become counterpoints to be put in front of the citizenship, it will get, still some obstacles noted that historically, prevented the implementation of citizenship rights in Brazil. KEYWORDS: CITIZENSHIP IN BRAZIL, CRISIS, THOMAS MARSHALL, CRIMINAL LAW OF THE ENEMY INTRODUÇÃO A palavra crise está começando a perder seu significado. Vivemos em uma constante crise do sistema democrático, crise do Estado, crise do sistema de representação, crise 628

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CIDADANIA EM CRISE: MODELOS E DISCURSOS

CITIZENSHIP IN CRISIS: MODELS AND SPEECHES

Marciele Berger Bernardes Santiago Artur Berger Sito

RESUMO

O presente ensaio visa apontar algumas diferenças entre os modelos teóricos clássicos de cidadania e a cidadania existente no Brasil. A tentativa de resgatar tal conceito passeia por um duto maior: o remontar próprio da ciência jurídica, em sua totalidade, regatando-se parte a parte de contexto contingentes. Compreender como a cidadania foi concebida e sua importância para absorver o que é como funciona e quem exerce o direito é crucial. Além disso, como poder e soberania tornam-se contrapontos a serem postos de frente com a cidadania, buscar-se-á, ainda, assinalar alguns obstáculos que, historicamente, impediram a implantação dos direitos de cidadania no Brasil.

PALAVRAS-CHAVES: CIDADANIA NO BRASIL, CRISE, THOMAS MARSHALL, DIREITO PENAL DO INIMIGO.

ABSTRACT

This test is to point out some differences between the traditional theoretical models of citizenship and citizenship in the Brazil. The attempt to rescue this concept involves a more product: the back of legal science itself, in its entirety, the races are part of the quotas. Understand how citizenship is designed to absorb and importance that is how it works and who exercises the right is crucial. Moreover, as power and sovereignty become counterpoints to be put in front of the citizenship, it will get, still some obstacles noted that historically, prevented the implementation of citizenship rights in Brazil.

KEYWORDS: CITIZENSHIP IN BRAZIL, CRISIS, THOMAS MARSHALL, CRIMINAL LAW OF THE ENEMY

INTRODUÇÃO

A palavra crise está começando a perder seu significado. Vivemos em uma constante crise do sistema democrático, crise do Estado, crise do sistema de representação, crise

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da cidadania, crise econômica e social. Alguns buscando retomar esse sentido distinguem as verdadeiras crises das situações “dramáticas, mas não sérias”.

No entanto, quando se trata da crise da cidadania, a necessidade de superá-la se torna impostergável, principalmente quando seus resultados revelam uma fragilidade dos modelos institucionais e põem em risco o Estado Democrático de Direito.

Embora não possa ser considerado um assunto original, a questão da cidadania, quando correlacionada a temas como sociedade civil, esfera pública e movimentos sociais, passa a ser (re)desenhada.

Dentro do contexto de crise e (re)emergência da cidadania, o objetivo principal no presente artigo é assinalar alguns contrastes entre os modelos clássicos de cidadania e o modelo vigente no Brasil, e, a partir disso apontar alguns fatores que, historicamente, impediram ou dificultaram a implantação dos direitos de cidadania no Brasil.

Algumas das dificuldades podem ser sentidas a partir da análise feita por Zaffaroni (2007, p.19) sobre o assunto:

(...) é inevitável que o Estado proceda dessa maneira, porque por trás da máscara acredita encontrar um inimigo, retira-lhe a máscara e com isso, automaticamente, elimina-o do seu teatro (ou de seu carnaval, conforme o caso). Certamente o Estado pode privá-lo de sua cidadania, porém isso não implica que esteja autorizado a privá-lo da condição de pessoa, ou seja, de sua qualidade de portador de todos os direitos que assistem a um ser humano pelo simples fato de sê-lo. O tratamento como coisa perigosa, por mais que isso seja ocultado, incorre nessa privação. (grifo nosso)

Para uma abordagem dos modelos clássicos de cidadania, utilizar-se-á , sobretudo, a Teoria de Thomas H. Marshall, autor que desenvolveu a distinção entre as várias dimensões da cidadania.

Ademais, buscar-se-á evidenciar que mais interessante que se tentar configurar, especificamente, a forma de cada uma dessas cidadanias é, justamente, perceber o quão amorfa e, por isso, complexa de ser compreendida dentro de um aspecto estático e definitivo. A partir dessas definições, percebe-se que delimitar cidadania como a qualidade de um sujeito dotado de direitos políticos e sociais obsta, em grande parte, a carga que “ser cidadão” tem consigo. A cada forma e processo de constituição, a cidadania constrói-se de maneira particular e carrega consigo toda carga ideológica que a fez emergir, a qual, em nenhum momento, pode ser desconsiderada.

1. Marshall: do resgate ao redimensionamento do conceito de cidadania

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Apesar da existência de uma multiplicidade de estudos sobre o tema da cidadania, com destaque para três vertentes teóricas: a teoria de Marshall sobre os direitos de cidadania; a abordagem de Tocqueville/Durkheim acerca da cultura cívica; e a teoria Marxista/Gramsciana sobre a sociedade civil, o presente ensaio trabalhará a análises feitas por Thomas H. Marshall que, em 1949, propôs a primeira teoria sociológica da cidadania, ressaltando que a concepção de cidadania é dada a partir do mínimo.

Marshall evidencia que a cidadania se insere dentro de uma sociedade e ela não se dispõe a regular a sociedade, mas sim equilibrá-la. Assim, ressalta que a desigualdade social até certo ponto é saudável. Dessa forma, ele pode ser situado de forma ambígua entre Estado Liberal e Social, mas é ideologicamente um Socialdemocrata com percepção da desigualdade social estrutural, discutindo um sistema político de cidadania como regulador dessa desigualdade de classe. Comunga os ideais de uma sociedade focada na infra estrutura (direitos sociais), por isso Marshall está além dos liberais e aquém dos socialistas, pois acredita que a liberdade, economia e política são o eixo chave para o desenvolvimento da cidadania. Apesar disso, reconhece como incorrigível a diferença de classes, segundo Marshall não são as condições que definirão o destino dos cidadãos, mas a capacidade de luta, é a luta de cada um por si e ninguém por todos.

Imperioso referir ainda que, em sua obra Cidadania, classe social e status, Marshall divide o conceito de cidadania em três partes ou elementos: civil, político e social ressaltando que a análise é, neste caso, ditada mais pela história do que pela lógica. Tendo em vista que se trata de uma tripartição clássica no pensamento jurídico e sociológico, convém citá-la na íntegra:

O elemento civil é composto dos direitos necessários à liberdade individual – liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, o direito à propriedade e de concluir contratos válidos e o direito à justiça. Este último difere dos outros porque é o direito de defender e afirmar todos os direitos em termos de igualdade com os outros e pelo devido encaminhamento processual. Isto nos mostra que as instituições mais intimamente associadas com os direitos civis são os tribunais de justiça. Por elemento político se deve entender o direito de participar no exercício do poder político, como um membro de um organismo investido da autoridade política ou como um eleitor dos membros de tal organismo. As instituições correspondentes são o parlamento e conselhos do Governo local. O elemento social se refere a tudo o que vai desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participar, por completo, na herança social e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. As instituições mais intimamente ligadas com ele são o sistema educacional e os serviços sociais (1967, p. 63-64) (grifo nosso).

Marshall (1967) explica que, inicialmente, esses três direitos estavam unidos e se confundiam, porque as instituições estavam amalgamadas.

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Quando os três elementos da cidadania se distanciaram uns dos outros, logo passaram a parecer elementos estranhos entre si. O divórcio entre eles era tão completo que é possível, sem distorcer os fatos históricos, atribuir o período de formação da vida de cada um a um século diferente – os direitos civis ao século XVIII, os políticos ao XIX e os sociais ao XX (1967, p.66).

Ligia Coelho (1990) em seu estudo sobre o conceito de cidadania diverge do modelo linear e evolucionista traçado por Marshall. A autora explica que, na verdade, a cidadania não é construída linearmente, mas sim de contradição, não é um “status”, mas sim resultado de um processo de luta, nas palavras da autora: “cidadania é algo que se conquista através de luta. Alguns já são cidadãos; cabe aos demais resgatar a parcela que lhes cabe nesse latifúndio” (COELHO,1990, p. 20) e, com isso, a autora traz a tona os sujeitos silenciados por Marshall, a história da cidadania é uma história de derramamento de suor sangue (...). Desse modo, a noção de sociedade que estava ausente no discurso de Marshall é reconstruída de nova maneira dando voz aos silenciados no discurso de Marshall.

José Murilo de Carvalho (2003), após fazer uma breve síntese da teoria de Marshall, observa que o surgimento seqüencial dos direitos sugere que a cidadania é um fenômeno histórico e que o ponto de chegada – ou seja, o ideal de cidadania plena – pode ser semelhante, pelo menos na tradição ocidental. Mas acrescenta que os caminhos são distintos e que nem sempre seguem linha reta. Ademais, podem existir desvios e retrocessos não previstos por Marshall. Carvalho explica que o percurso inglês – que serviu de base para a teoria de Marshall – foi apenas um entre outros, ressaltando que a França, a Alemanha e os Estados Unidos seguiram seus próprios caminhos.

Ao avaliar o caso específico da cidadania brasileira, o professor José Murilo explica que, no Brasil, também não é possível a aplicação do modelo inglês, que pode ser utilizado aqui apenas em uma perspectiva comparativa. Ele ressalta que existiriam ao menos duas diferenças importantes. A primeira refere-se a uma maior ênfase dos direitos sociais em detrimento dos dois outros. A segunda refere-se à alteração na seqüência em que os direitos foram adquiridos: o social precedeu os outros (CARVALHO, 2003).

Ao final do estudo, José Murilo de Carvalho acaba por concluir que, na história do Brasil, teria havido uma completa inversão da seqüência de Marshall:

Aqui, primeiro vieram os direitos sociais, implantados em período de supressão dos direitos políticos e de redução dos direitos civis por um ditador que se tornou popular. Depois vieram os direitos políticos, de maneira também bizarra. A maior expansão do direito do voto deu-se em outro período ditatorial, em que os órgãos de representação política foram transformados em peça decorativa do regime. Finalmente, ainda hoje muitos direitos civis, a base da seqüência de Marshall, continuam inacessíveis à maioria da população. A pirâmide de direitos foi colocada de cabeça para baixo (2003, p. 219-220).

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A história mostra que não existe apenas um caminho para a cidadania. No entanto, isso não desmerece a teoria de Marshall, principalmente pelo fato de que, ele fala da Inglaterra de seu tempo, na narratória inglesa, sendo que a sua fala não é universal e nem se pretende universal, pois não visa se adequar a todas as realidades.

Segundo Boaventura de Sousa Santos (1997), um dos principais méritos de sua análise consiste na articulação que ele opera entre cidadania e classe social e nas conseqüências que dela retira para caracterizar as relações entre cidadania e capitalismo.

Em seqüência será analisado sucintamente o modelo do direito penal do inimigo que pode ser apontado, como uma das dificuldades para a universalização e efetivação no Brasil dos direitos de cidadania, tais como teorizados por Marshall, sendo uma das principais causas de sua crise. Como visto na passagem acima, houve uma total inversão do modelo. O direito penal do inimigo, ou hostis, é apenas um dos temas possíveis de estudo.

2. Direito Penal do Inimigo no Brasil como um obstáculo à cidadania.

A teoria do doutrinador Günter Jakobs, denominada Direito Penal do Inimigo vem, há mais de 20 anos, tomando forma e sendo disseminada pelo mundo, conseguindo fazer adeptos e chamando a atenção de muitos.

Resumidamente, Jakobs pretende a prática de um Direito Penal que separaria os delinqüentes e criminosos em duas categorias: os primeiros continuariam a ter o status de cidadão e, uma vez que infringissem a lei, teriam ainda o direito ao julgamento dentro do ordenamento jurídico estabelecido e a voltar a ajustar-se à sociedade; os outros, no entanto, seriam chamados de inimigos do Estado e seriam adversários, representantes do mal, cabendo a estes um tratamento rígido e diferenciado.

Os inimigos perderiam o direito às garantias legais. Não sendo capazes de adaptar-se às regras da sociedade, deverão ser afastados, ficando sob a tutela do Estado, perdendo o status de cidadão.

Jakobs vale-se dos pensamentos de grandes filósofos como Rosseau, Hobbes, Kant, entre outros para sustentar suas teorias, buscando agregar valor e força aos seus argumentos.

Em poucas palavras, é inimigo quem se afasta de modo permanente do Direito e não oferece garantias de que vai continuar fiel à norma. O autor cita o fatídico 11 de setembro de 2001 como manifestação inequívoca de um ato típico de inimigo (JAKOBS; MELIÁ; 2003, p. 39).

E como devem ser tratados os inimigos? De acordo com essa teoria o indivíduo que não admite ingressar no estado de cidadania, não pode participar dos benefícios do conceito de pessoa. O inimigo, por conseguinte, não é um sujeito processual, logo, não pode contar com direitos processuais, como por exemplo, o de se comunicar com seu

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advogado constituído. Cabe ao Estado não reconhecer seus direitos, “ainda que de modo juridicamente ordenado” (JAKOBS; MELIÁ; 2003, p. 45).

Portanto, a partir dessa teoria o Estado pode proceder de dois modos contra os delinqüentes: pode vê-los como pessoas que delinqüem ou como indivíduos que apresentam perigo para o próprio Estado. Dois, portanto, seriam os Direitos Penais: um é o do cidadão, que deve ser respeitado e contar com todas as garantias penais e processuais; para ele vale na integralidade o devido processo legal, bem como toda a carga axiológica e histórica de construção de um órgão judicante apartado de um órgão acusatório; o outro é o direito penal do inimigo este deve ser tratado como fonte de perigo e, portanto, como meio para intimidar outras pessoas, sua simples condição de inimigo o exclui das esferas de titularidade jurídica, pois o sujeito é despido de qualquer garantia constitucional. Em termos mais diretos: ele passa a ser um locus de não-constituição.

Destarte, o Direito Penal do cidadão é um Direito Penal de todos; o Direito Penal do inimigo é contra aqueles que atentam permanentemente contra o Estado: é coação física, até chegar à guerra.

2.1 Reação de Zaffaroni ao Direito Penal do Inimigo

Em reação ao movimento do direito penal do inimigo Zaffaroni (2007) sublinha que:(a) para dominar, o poder dominante tem que ter estrutura e ser detentor do poder punitivo; (b) quando o poder não conta com limites, transforma-se em estado de polícia (que se opõe, claro, ao estado de direito); (c) o sistema penal, para que seja exercido permanentemente, sempre está procurando um inimigo (o poder político é o poder de defesa contra os inimigos); (d) seus primeiros inimigos foram os hereges, os feiticeiros, os curandeiros etc.;(e) quando a burguesia chega ao poder adota o racismo como novo Satã; (f) durante a Revolução Industrial não desaparece (ao contrário, incrementa-se); (g) na Idade Média o processo era secreto e o suplício do condenado era público; a partir da Revolução Francesa público é o processo, o castigo passa a ser secreto; (h) no princípio do século XX a fonte do inimigo passa a ser a degeneração da raça; (i) no final do século XX o centro do poder se consolida nas mãos dos EUA, até 1980 os EUA contava com estatísticas penais e penitenciárias iguais às de outros países; (j) com Reagan começa a indústria da prisionização; (k) o Direito Penal na atualidade é puro discurso, é promocional e emocional: fundamental sempre é projetar a dor da vítima (especialmente nos canais de TV); (l) das TVs é preciso “sair sangue” (com anúncios de guerras, mortos, cadáveres etc.).

Destarte, procura-se apartar a sociedade, excluindo o selecionado inimigo do contexto social, para considerá-lo “aberração”, dando aporte à maior das atrocidades possíveis em um Estado Democrático de Direito: a sua exceção. Neste cenário, a mídia ganha um importante papel, torna-se uma instância de triagem, que antecipa julgamentos, e incendeia os casos concretos conforme melhor lhe aprouver, valendo-se para tanto do senso comum.

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Pode-se observar, portanto, que, apesar de em alguns momentos o Estado esteja legitimado a privar o “inimigo” de sua cidadania, isso não implica que esteja autorizado a privá-lo da condição de pessoa, ou seja, de sua qualidade de portador de todos os direitos que assistem a um ser humano pelo simples fato de sê-lo. E o tratamento como coisa perigosa, por mais que isso seja ocultado, incorre nessa privação.

Disso depreende-se que a aceitação do termo cidadania, ainda nos dias de hoje, é muito precária v.g. o tratamento disposto pelo modelo penal que priva os inimigos da condição de pessoas que nada mais são que concessões do Estado Liberal ao Estado Absoluto que acaba por debilitar o modo orientador do Estado de Direito.

Analisando a teoria, percebe-se alguns fatos inegáveis: o direito penal do cidadão tem finalidades e mecanismos diferentes do direito penal do inimigo, o sujeito desviante não fornece garantias de seu comportamento – logo há uma autorização tácita para lhe suspender a condição de cidadão e de pessoa –, há uma incorporação das tendências polarizantes do direito penal no direito processual penal, mais vale delimitar bem um direito penal do inimigo do que aplicá-lo acidentalmente aos cidadãos, e por fim imperioso lembrar que os Tribunais Internacionais que julgam crimes que atentam contra os direitos humanos, não gozam de legitimidade pré concebida – e nem por isso são questionados como o Direito Penal do Inimigo.

Sobre este último ponto, Günter Jakobs se manifesta:

como é evidente, não me dirijo contra os direitos humanos com vigência universal, porém seu estabelecimento é algo distinto de sua garantia. Servindo ao estabelecimento de uma Constituição mundial “comunitário legal”, deverá castigar aos que vulneram os direitos humanos; porém, isso não é uma pena contra pessoas culpáveis, mas contra inimigos perigosos, e por isso deveria chamar-se a coisa por seu nome: Direito penal do inimigo (2007. p. 48).

No entanto, Manuel Cancio Meliá (2007) elenca uma série de críticas ao sistema do direito penal do inimigo. A primeira se encontra na própria definição. Direito penal do cidadão é um pleonasmo, pois todas as garantias constitucionais relativas ao direito penal são condizentes com um direito penal, que só pode ser do cidadão. Quem mais é titular de direitos? Melhor seria dizer: quem não é cidadão? Mutatis mutandis, o direito penal do inimigo é uma contradição em seus próprios termos. Se o termo “inimigo” for trazido, então o vocábulo “direito” precisa ser retirado, sob pena da expressão, como um todo, nada dizer.

Como pensar um ramo jurídico, um segmento da ciência direito, que não envolva direitos, ou que somente envolva a exclusão deles? Mesmo o código penal pátrio é repleto de garantias, prerrogativas, mandamentos que visam a proteção do indiciado-réu-condenado.

É absolutamente insensato considerar um direito penal que recorte sujeitos da sociedade civil, e pinçando-os, acabe por lançá-los numa ilha de não-direito, podendo o Estado

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exercer um ius puniendi desmedido e alucinado, sem reconhecer qualquer horizonte limítrofe.

Para além de uma crítica de bases epistemológicas, considerar-se-á um Estado com a vigência de um direito penal do inimigo, institucionalizado. O próximo efeito contraditório emergirá da necessidade de instrumentos para se identificar um inimigo no seio social. Jakobs traz Fitche para esclarecer que:

quem abandona o contrato cidadão em um ponto em que no contrato se contava com sua prudência, seja de modo voluntário ou por imprevisão, em sentido estrito perde todos os seus direitos como cidadão e como ser humano, e passa a um estado de ausência completa de direitos (2007. p. 26).

Resta compreender – se é que há possibilidade – que tipo de pacta sum servanda é tão severo ao ponto de retirar do sujeito todos os seus direitos, esvaziando sua cidadania, e o tornando num vazio jurídico. Dentro de uma mão que adere ao princípio da democracia, que constitui um baluarte em termos de defesa internacional dos direitos humanos, não há espaço para exceções ao Estado Democrático de Direito. Em outras palavras, não existe locais de não constituição. Negar-lhe eficácia é negar vigência, sendo que suprimir titularidade é estratégia própria de regimes tirânicos, alheios a qualquer valor jurídico. Institucionalizar tal conteúdo é flagrantemente inconstitucional.

Além do mais, estudos não faltam para comprovar a ineficácia dos regimes de recrudescimento dos mecanismos penais. Combater criminalidade não é, nem nunca foi, papel do direito penal. É sim da política criminal. O pormenorizado estudo de Loïc Wacquant (2001) faz um panorama completo, com dados estatísticos inclusive, de que sistemas da linha do Law and order estadunidense em nada contribuíram para a redução dos níveis de criminalidade.

Fatos como esse, que o próprio Wacquant exclama serem tentáculos de uma onda neoliberal global, reforçam o surgimento de teorias desta natureza: maximização da punitividade (direito penal máximo) em contraposição de um recuo máximo no setor produtivo (liberalismo econômico). Por certo o encaixe seria ainda mais eficiente em países de desigualdade sociais acirradas, onde a cidadania encontra-se em crise, pois carente de exercício.

Diante desse cenário, passa a ser defendido por diversos doutrinadores, tendo como um dos principais expoentes o professor Alessandro Baratta, que a criação de um direito penal terrorista e militarizado, não cumpre suas promessas de garantir a paz social, de evitar lesões de direitos fundamentais, antes pelo contrario, esse modelo reproduz o círculo da violência legitimando a opressão social, ao que Sabadell (2000) chamou de: “dupla violação dos direitos humanos”. E o pior, a criminologia crítica demonstra que o autoritarismo desse círculo vicioso é mantido e financiado por Estados supostamente “democráticos”. É a partir dessas constatações que se buscará apontar soluções, indicar novos caminhos, mas sob um novo olhar, que perpassa pela compreensão da

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complexidade desse fenômeno e pela desconstrução do senso comum. Essa é a abordagem do item seguinte.

3. Uma análise crítica sobre a questão: as alternativas possíveis

Em um Estado bem governado, há poucas punições, não porque haja muita tolerância e sim porque haja poucos criminosos.

- Jean Jacques Rousseau

Como se pode observar, a citação do filósofo guarda estreita relação com o cenário atual de inchaço do sistema penal, que passou a ser visto com o único meio de contenção contra os “maus” cidadãos. Assim, após a constatação da falência do sistema penal clássico em promover a segurança jurídica e assegurar o pleno exercício da cidadania, esse capítulo visa apresentar novos caminhos para a reversão desse processo.

Para tanto, faz-se necessário analisar, quais os novos caminhos que vem sendo apresentados para a solução dessa problemática. Segundo Andrade (2003), a saída perpassa pela mudança de paradigmas, pela desconstrução do senso comum, da criminalidade, da cidadania, bem como das falsas soluções.

O primeiro passo consiste na compreensão da complexidade desse fenômeno. Segundo Streck (1999, p. 85) passa pelo reconhecimento de que dois fatores contribuem para o agravamento dessa problemática: o excesso de individualismo e de formalismo. O individualismo “se traduz na convicção de que a parte precede o todo, ou seja, de que os direitos do indivíduo estão acima dos direitos da comunidade”, em contrapartida o formalismo “decorre do apego a um conjunto de ritos e procedimentos burocratizados e impessoais, justificados em norma de certeza jurídica e da ‘segurança do processo’”.

De acordo com Streck (1999) isso ocorre porque ainda prevalece como paradigma jurídico a tentativa hobbesiana de esquematizar um contexto jurídico legitimado subjetivamente – o contratualismo. Dito de outro modo, isso ocorre porque: “ao instituir a lei como uma técnica disciplinar exclusiva das relações sociais, concebe o direito como um instrumento de cessação da guerra ‘subjacente’ ao ‘Estado de natureza’ e de afirmação da paz civil típica do ‘Estado de Direito’ e de afirmação da paz civil” (STRECK, 1999, p. 86).

Por essa razão, é necessário ter em mente que a problemática da relação entre Direito e Sistema Penal devem ser examinados no contexto de crise do direito, Estado e cidadania e, no meio, a dogmática jurídica. Destaque-se que esse modelo não alcança apenas os “inimigos”, mas todos os demais setores oprimidos da sociedade.

Jürgen Habermas perpassa um caminho paralelo. Dentro de seu ideário para reconstruir um direito procedimental (ou seja, uma via evidentemente contrária à proposta de

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Streck – mas seguramente embrenhada em fortalecer processos participativos e as garantias constitucionais), o jurista alemão acaba por sentir a necessidade de um pilar firme de participação social, num sistema de razão comunicativa. Seu desiderato se vê cumprido quando ele formula o princípio da autolegislação.

Uma comunidade jurídica que é autora e destinatária de seu próprio conteúdo legislativo é um povo com pleno exercício de cidadania. Mas para se atingir tal desiderato, é imprescindível adimplir condições pelas quais se atingirá uma cooperação protegida, de fato. A primeira trata da reciprocidade. Os sujeitos precisariam compreender “a assumir a perspectiva de um outro e a considerar-se a si mesmos na perspectiva de uma segunda pessoa” (HABERMAS, 2003, p.124). Em segundo lugar, os contratos deveriam poder ser parciais, fechados entre sujeitos e partidos, para estes, num segundo momento, repassar liberalidades naturais. Ou seja, deveria haver espaço para a negação, isso é democracia.

Portanto, pode-se observar que a problemática não será resolvida somente pelo Direito, embora a questão passe necessariamente pelo direito. Streck trabalha com a idéia de que a legitimação do direito e do estado provêm de fora ou de baixo (1999, p. 102).

Segundo Andrade a mudança de paradigmas, e da ideologia penal, passa “não apenas na Ciência e na academia, mas no senso comum e na práxis do controle social informal e formal” (2003, p.29).

Além disso, ressalta a doutrina signatária da criminologia crítica que é necessária a desconstrução do senso comum, da criminalidade, da cidadania, bem como das falsas soluções. E o que é necessário desconstruir?

Exatamente o senso comum de que existem de um lado cidadãos e de outro lado os “não cidadãos” como bem observada Andrade:

Existe uma representação simbólica profunda, que acompanha a história da civilização e do controle social, e que subjaz a estruturas e organizações culturais do nosso tempo (como belicismo, capitalismo, patriarcalismo, racismo) e através delas se materializa, potencializando, com seu tecido bélico, específicas bipolaridades: esta representação é o maniqueísmo, uma visão de mundo e de sociedade dividida entre o bem e o mal, e talvez em nenhum outro senso comum, como aquele relativo à criminalidade e à cidadania, este maniqueísmo se expresse tão nítida e intensamente. (2003, p. 20).

A crise da cidadania reside exatamente nessa espécie de encontro de extremos, pois enquanto a cidadania defendida por Marshall simboliza a luta pela emancipação humana, pela construção de direitos, pela necessidade de inclusão e afirmação da igualdade; no âmbito do imaginário dos juristas, do “senso comum” e da sociedade como um todo, há uma tendência de fortalecimento de discursos e de técnicas de guerra contra o crime e da segurança pública e da ilusão (bem difundida pelos meios midiáticos) de que a solução para todos os males está no decadente sistema penal. Como se a solução estivesse em uma única instância – sistema penal – que nega a cidadania.

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Como bem assevera Andrade, a solução perpassa pela: “primazia do direito constitucional sobre o direito penal, da Constituição e seus potenciais simbólicos para a efetivação da cidadania sobre o código penal, da constitucionalização sobre a criminalização” (2003, p. 29).

Enfim, a reconceituação critica a cidadania que passa a ser uma dimensão política ambígua, que tem como fim a emancipação humana e no centro dessa luta está a luta dos Direitos Humanos (viés constitucional). Entra aqui a dimensão de participação e de inclusão na vida social e política e de responsabilização do sujeito pelo seu destino na sociedade.

4. Considerações Finais

O presente trabalho teve por escopo apresentar alguns modelos clássicos de cidadania, demonstrando que não é possível aplicá-los à realidade brasileira. Isso porque as singularidades da história do Brasil não permitem uma simples importação de teorias européias e norte-americanas.

No caso da teoria de Marshall, conforme foi observado, houve uma total inversão do modelo.

Outras formas marcantes desse desvio também são encontradas no momento de caracterizar o tipo de cidadania existente, dentro da tradicional Sistema Penal. Embora a Constituição de 1988 – muitas vezes chamada de “Constituição Cidadã” – tenha ampliado os direitos de cidadania, preocupando-se, por exemplo, em assegurar o Devido Processo Legal aos brasileiros, o que se evidenciou é que na prática não se segue o processo democrático, mas sim um verdadeiro procedimento de guerra (de intolerância, de “vale tudo” contra o inimigo) que não se coaduna com o Estado Constitucional Democrático de Direito.

Apesar dos avanços, inexiste no Brasil um modelo de cidadania como mecanismo de integração jurídico-política igualitária da população na sociedade dando margem a modelos como o Direito Penal do Inimigo que cria a figura dos cidadãos e dos “não cidadãos”.

Do lado dos “não cidadãos”, generalizam-se situações em que não têm acesso aos benefícios do ordenamento jurídico estatal, tais como: flexibilização do princípio da legalidade (descrição vaga dos crimes e das penas); inobservância de princípios básicos como o da ofensividade, da exteriorização do fato, da imputação objetiva etc.; aumento desproporcional de penas; criação artificial de novos delitos (delitos sem bens jurídicos definidos); endurecimento sem causa da execução penal; exagerada antecipação da tutela penal; corte de direitos e garantias processuais fundamentais; concessão de prêmios ao inimigo que se mostra fiel ao Direito (delação premiada, colaboração premiada etc.); flexibilização da prisão em flagrante (ação controlada); infiltração de agentes policiais; uso e abuso de medidas preventivas ou cautelares (interceptação telefônica sem justa causa, quebra de sigilos não fundamentados ou contra a lei).

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Portanto, os “não cidadãos” não estão inteiramente excluídos. Embora lhes faltem as condições reais de exercer os direitos fundamentais constitucionalmente declarados, não estão liberados dos deveres e responsabilidades impostas pelo aparelho coercitivo estatal, submetendo-se radicalmente às suas estruturas punitivas. Para os “não cidadãos”, os dispositivos constitucionais têm relevância quase exclusivamente em seus efeitos restritivos de liberdade.

Existem, portanto, dois problemas fundamentais ao que se denominou outrora de crise da cidadania no Brasil. Em primeiro lugar, o fato de que algumas pessoas são mais cidadãs do que outras. Em segundo, a existência de uma espécie de “meia cidadania”, que cobra dos indivíduos os deveres inerentes ao status de cidadão, mas, em contrapartida, não lhes atribui os direitos devidos, como é o caso do Sistema Penal que a pretexto de normatizar (no sentido de encapsular, contra “arbitrariedades”) chega ao absurdo de aceitar um ser humano seja tratado como não-pessoa.

A crise da cidadania não deixa de ser paradoxal, pois se revela no exato momento em que se obtiveram conquistas plausíveis, nunca na histórica da humanidade se conheceu uma extensão tão ampla de regras e mecanismos de representação plural, de participação, de garantias processuais (devido processo legal) que historicamente tem conformado o conceito de cidadania moderna. E, no entanto, continua existindo uma insatisfação crescente quanto ao seu funcionamento.

A incapacidade do sistema penal em ofertar respostas adequadas ao conflito em tela, aliada à falta de instâncias alternativas capacitadas para evitar esta escalada de violência é uma constatação decorrente da vários fatores elencados ao longo deste estudo.

A partir dessas constatações, emerge a necessidade de busca de caminhos alternativos e aptos a redimensionarem e resgatarem o conceito de cidadania. Significa, como afirmado no terceiro capítulo, a primazia do direito constitucional sobre o direito penal, e, portanto da Constituição e seus potenciais simbólicos para a efetivação da cidadania.

Nesse viés, alguns caminhos parecem oportunos para esse caso, trata-se da mudança de paradigmas, da desconstrução do senso comum: da criminalidade e da cidadania, bem como das falsas soluções.

Certamente essa não será uma conquista instantânea, antes se faz necessário atentar-se aos paradoxos dos processos de previsão da cidadania, visto que esses representam um caminho inverso ao que vem sendo trilhado pelo sistema penal que não promove segurança jurídica nem assegurar o pleno exercício da cidadania, mas sim reproduz o círculo da violência legitimando a opressão social.

Nesse sentido, a cidadania que academicamente atingiu um status inquestionável, precisa ganhar o reconhecimento jurídico constitucional de Direitos Humanos. A pauta de trabalho é intensa e muito longa e perpassa inclusive pelo reconhecimento da legitimidade da sociedade civil em acender o debate, num processo de transformação complexo que precisa ser operado em todas as frentes simultaneamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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O modelo linear aparece na obra de Marshall quando pressupõe uma relação de dependência no construir da cidadania em relação ao Estado dando a idéia de que a cidadania só emerge a partir dos direitos concedidos pelo Estado.

Pode-se citar, de pronto, os arts. 1º e 2º, que guarnecem princípios do direito penal.

Segundo Capra paradigma pode ser definido como: “uma constelação de concepções, de valores, de percepções e de práticas compartilhadas por uma comunidade, que dá forma a uma visão particular de realidade, a qual constitui a base da maneira como a comunidade se organiza" (2006,p.24;25).

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Vera Regina Pereira de Andrade chama esses oprimidos e minorias de: “os movimentos que vem de baixo” (2003).

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