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Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Centro de Ciências Biológicas – CCB Bacharelado em Ciências Biológicas – Modalidade Ambientais Disciplina: Política e Gestão Ambiental Prof.: Paulo Andrade Equipe: Hellen C. P. Oliveira José J. S. Neto Marcela R. Teixeira Marciel T. Oliveira Valmir P. Campos Gestão de Matas Ciliares Charles C. Mueller As áreas de mata ciliar vêm sendo cada vez mais reduzidas devido a vários fatores sendo os principais: a conversão destas áreas para agricultura, extração madeireira, expansão urbana desregrada, atividades de mineração, atividades industriais, sendo alcançados níveis críticos em Minas Gerais e Bahia. A legislação existente não tem sido suficiente para impedir esse processo de degradação. Essa destruição tem causado relevantes custos sociais e ambientais. A legislação tem restringido a exploração econômica das matas ciliares já que essa recuperação elimina os ganhos econômicos futuros para esses proprietários. Esses dois estados brasileiros introduziram projetos com a cooperação de diferentes seguimentos da sociedade: administração pública, sindicato dos trabalhadores rurais, ONG’s e empresas privadas afetadas pela degradação das matas ciliares. Na tentativa de se criar instrumentos de normatização e controle, após a constatação dos danos ambientais oriundos da degradação das matas ciliares, foi aprovado o código florestal (lei nº 4.7771, de 15-09-1965), que permanece em vigor. O código começa estabelecendo no art. 1º: “As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem”. Quanto às penalidades o art. 26 estabelece: 3 meses a 1 ano de prisão ou multa de uma a cem vezes o salário mínimo local e data da infração ou ambas as penas cumulativamente. No que diz respeito ao monitoramento e fiscalização o art. 22 estabelece: cabe a União, diretamente através do órgão executivo específico, ou em convênio com os Estados e Municípios. Apesar de ter sido criado desde 1965 e possuir dispositivos severos, o código florestal não tem sido bem aplicado para frear a degradação das matas ciliares, pelo contrário, o processo tem se intensificado cada vez mais. Muitas dificuldades como: grande extensão territorial, monitoramento em zonas remotas, capacidade física, recursos financeiros e de pessoal, etc, têm dificultado o cumprimento e a aplicação do que está estabelecido na constituição federal.

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Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Centro de Ciências Biológicas – CCB Bacharelado em Ciências Biológicas – Modalidade Ambientais Disciplina: Política e Gestão Ambiental Prof.: Paulo Andrade Equipe: Hellen C. P. Oliveira José J. S. Neto Marcela R. Teixeira Marciel T. Oliveira Valmir P. Campos

Gestão de Matas Ciliares

Charles C. Mueller

As áreas de mata ciliar vêm sendo cada vez mais reduzidas devido a vários fatores sendo os principais: a conversão destas áreas para agricultura, extração madeireira, expansão urbana desregrada, atividades de mineração, atividades industriais, sendo alcançados níveis críticos em Minas Gerais e Bahia. A legislação existente não tem sido suficiente para impedir esse processo de degradação. Essa destruição tem causado relevantes custos sociais e ambientais. A legislação tem restringido a exploração econômica das matas ciliares já que essa recuperação elimina os ganhos econômicos futuros para esses proprietários. Esses dois estados brasileiros introduziram projetos com a cooperação de diferentes seguimentos da sociedade: administração pública, sindicato dos trabalhadores rurais, ONG’s e empresas privadas afetadas pela degradação das matas ciliares. Na tentativa de se criar instrumentos de normatização e controle, após a constatação dos danos ambientais oriundos da degradação das matas ciliares, foi aprovado o código florestal (lei nº 4.7771, de 15-09-1965), que permanece em vigor. O código começa estabelecendo no art. 1º: “As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem”. Quanto às penalidades o art. 26 estabelece: 3 meses a 1 ano de prisão ou multa de uma a cem vezes o salário mínimo local e data da infração ou ambas as penas cumulativamente. No que diz respeito ao monitoramento e fiscalização o art. 22 estabelece: cabe a União, diretamente através do órgão executivo específico, ou em convênio com os Estados e Municípios.

Apesar de ter sido criado desde 1965 e possuir dispositivos severos, o código florestal não tem sido bem aplicado para frear a degradação das matas ciliares, pelo contrário, o processo tem se intensificado cada vez mais. Muitas dificuldades como: grande extensão territorial, monitoramento em zonas remotas, capacidade física, recursos financeiros e de pessoal, etc, têm dificultado o cumprimento e a aplicação do que está estabelecido na constituição federal.

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• A experiência de Minas Gerais

A implantação do Projeto de Recuperação de Matas Ciliares (PRMC) do Instituto Estadual de Florestas (IEF) – uma autarquia do Governo de Minas Gerais - iniciou-se em julho de 1994. O projeto surgiu no bojo do Pró-floresta, resultando de um acordo entre o governo e o Banco Mundial. Este projeto teve um horizonte de 5 anos, a partir de Julho de 1994. O Objetivo geral do projeto era: “De forma participativa e através de um processo educativo, (...) promover a proteção e a recuperação das matas ciliares em Minas Gerais, bem como provocar mudanças de mentalidade nos produtores rurais em relação às necessidades de práticas conservacionistas e de preservação dos recursos naturais ao longo dos diversos cursos d’água...” , ou seja, substituir a repressão pela persuasão. Para isso contou com a colaboração de outros órgãos estaduais, prefeituras municipais e estaduais, sindicatos rurais, ONG’s, universidades e empresas públicas e privadas afetadas pelo assoreamento e degradação das matas ciliares. Após um levantamento da situação das principais bacias hidrográficas, se estabeleceram 22 pólos de atuação em bacias e sub-bacias, englobando 156 municípios. As metas a serem atingidas pelo projeto foram:

1994/1995 : Replantio de 1.200 há em 1.200 estabelecimentos rurais e estimular a regeneração de 200ha sendo 1.200 mudas doadas aos produtores (p/ cumprimento da meta);

1995/1996 : Replantio de 2.951ha e regeneração de 970ha com produção de mudas (3,1 milhões de unidades). O orçamento do projeto é de R$ 1,2 milhão para 1994/95 e R$ 4,2 milhões para

1995/96. De acordo com o artigo 51 da lei florestal de Minas Gerais (lei 10.561, de 27/12/1991) os recursos do projeto provêm da receita de taxas e multas cobradas pelo IEF dos agentes que “utilizam, comerciam ou consomem produtos ou subprodutos florestais”. A metodologia do projeto baseia-se na conscientização das comunidades das áreas mais degradadas ou ameaçadas, na persuasão dos agentes que degradam, na distribuição gratuita de mudas e de insumos para os interessados em recuperar as áreas degradadas e na assistência técnica, Sempre enfocam que a lei só será aplicada em última instância. A produção de mudas é feita em escritórios regionais do IEF e no Parque Estadual do Rio Doce. E essa capacidade de produzir e distribuir as mudas se tornou um elemento limitativo para o maior crescimento do projeto, pois a área recuperada poderia ser maior caso houvesse um crescimento dessa capacidade. Talvez uma boa forma para se corrigir esse problema seria terceirizar produção de mudas.

A avaliação do projeto enfoca a importância de algumas mudanças na metodologia do projeto, tanto na área técnica quanto na estratégia de persuasão. Na área técnica tem o problema de produção de mudas, falta avaliação de eficiência e custos de produção de mudas pelo IEF e racionalização dos processos de produção de mudas. Um aspecto positivo desse projeto é a parceria com outras entidades, principalmente com as mais interessadas como empresa de fornecimento de energia e água. Na área estratégica, o enfoque central é na forma de persuasão. Quando se trata das vítimas das conseqüências da destruição das matas ciliares, o projeto é bem sucedido em conquistar esse tipo de adesão e até mesmo a participação no projeto. No entanto, tem problemas quando se trata de convencer proprietários que utilizam a área de recuperação de mata ciliar para produção. Alguns modelos para se transformar as áreas de replantio em geradoras de renda são apresentadas pelos técnicos do IEF. No entanto, mesmo que surjam condições técnicas viáveis para se promover o replantio e obter um retorno financeiro, essa idéia é dificultada pelo Código Florestal e da Lei Florestal de Minas Gerais, que privilegiam a preservação, dificultando a exploração.

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• A experiência da Bahia

O problema da destruição das Matas Ciliares no estado da Bahia é antigo. Apesar disso, foi só no início da década de 90 que o Governo do Estado começou a tomar providências mais concretas em relação à preservação ambiental. Só em 1992, junto ao Banco Mundial, é que ele decidiu estabelecer uma instituição dedicada à proteção e ao desenvolvimento florestal, criando a Lei Florestal do Estado da Bahia (Lei n° 6.565, de 17-1-1994). Essa lei instituiu na secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária o Departamento de Desenvolvimento Florestal (DDF), que tem como objetivos: Estimular o desenvolvimento florestal e promover a conservação dos recursos florestais e faunísticos. Além disso ela é responsável pelo controle, fiscalização, repressão e administração das Unidades de Preservação e Conservação do Estado. O projeto tem algumas prioridades como: Programa de estímulo ao suprimento de recursos florestais e que diz respeito à produção de florestas sustentáveis; Ação de proteção e recomposição de Matas Ciliares, sendo para esta elaborado o Programa de Recomposição Florestal de Matas Ciliares (PRFMC). Quem coordena esse programa é o DDF, que conta com a parceria da Superintendência de Recursos Hídricos e a colaboração da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agropecuário, do Centro de Recursos Ambientais da FEEMA, do Ibama e eventualmente do CEPLAC, além de contar com as prefeituras municipais e Organizações Não-Governamentais.

O DDF indicou algumas áreas onde o problema da destruição das Matas Ciliares é mais agudo e onde há alguma mobilização social e de autoridades em favor da recuperação. Dessa forma foram escolhidas as seguintes bacias para iniciar o projeto: Rio Itapicuru, Rio Paraguaçu, Rio de Contas (bacia em que a CHESF tem uma usina, mas mesmo assim não participa do projeto) e Rio Grande. Para o conjunto dessas quatro bacias a meta de reflorestamento era de 100ha, para o primeiro ano, mas até junho de 1998, essa meta ainda não havia sido cumprida (o projeto teve inicio em 1995). A metodologia de atuação do PRFMC e muito parecida com a do PRMC de Minas Gerais, que consiste em: seleção inicial das zonas de atuação; vistoria técnica detalhada. Para determinar os pontos que necessitam de mais atenção; e reuniões locais para divulgação do programa.

O público alvo do PRFMC são os pequenos e médios agricultores ou aqueles que desenvolvem atividades agrossilvopastoris nas imediações ou nas bordas dos corpos d’água, e cabe a esses a execução do plantio, os tratos culturais e o controle fitossanitário das áreas plantadas. É também de responsabilidade do DDF o fornecimento de mudas, insumos, defensivos agrícola além de prestação de assistência técnica e acompanhamento do desenvolvimento da área reflorestada. Como no Caso de Minas Gerais, o PRFMC apóia-se principalmente na educação e persuasão, deixando de lado no inicio a repressão, mas não descarta a possibilidade de usá-la. Segundo o DDF, um maior esforço tem que ser feito na: produção de mudas, que inicialmente o DDR pretende adquiri-las de terceiros, mas procurando obter recursos para criar capacidade própria de produção; assistência técnica, a equipe do DDR é muito pequena, o que levou a organização a estabelecer parcerias com outros órgãos do governo estadual; recursos financeiros, como a meta de reflorestamento era só de 100ha (para o primeiro ano), os recursos necessários estimados em 190mil reais, foram conseguidos junto a Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária.

Futuramente quando a área do projeto for ampliada, o DDR pretende ampliar os recursos, mas ainda não se tem certeza quanto ao futuro da base de recursos para o PRFMC. Em relação à mobilização para a participação do projeto, o DDR vem procurando ativamente envolver prefeituras e instituições da sociedade organizada nas

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áreas ampliadas de seu projeto, mas esta encontrando algumas barreiras políticas, como prefeituras que são oposição ao Governo do Estado, mas há forte interesse de outras entidades na regeneração dos rios degradados, o que garante um certo apoio mesmo nesses casos de oposição. Como incentivo aos produtores que aderem ao projeto o DDR está oferecendo o plantio intercalado nas áreas em recuperação de espécies que possam ser extraídas.

• Lições a serem consideradas dos dois projetos

As duas experiências aqui apresentadas basicamente têm dois aspectos positivos: a metodologia participativa em lugar da repressão e uma melhor participação dos que sofrem os efeitos.

As organizações responsáveis por esses tipos de programa devem desenvolver estudos apropriados a cada caso em função das características gerais diversas regionais. Os responsáveis pela implantação dos programas não demonstraram interesses para a exploração da mata. É importante considerar que esse tipo de exploração esbarra em restrições da legislação para projetos de exploração em matas ciliares. Foi identificado também que, em alguns casos, haverá a necessidade de se fazer pressão, utilizando-se da lei, já que os argumentos de conscientização sobre a preservação da mata podem ir de encontro aos interesses econômicos dos proprietários. Nas matas ciliares nativas há uma forte pressão pelo desmatamento e, neste caso, só resta a repressão e monitoramento.

A abordagem mais correta e adequada seria a de utilizar o princípio do agente degradador pagador. A alternativa do “segundo ótimo”, onde os responsáveis pelas áreas degradadas pagariam aos proprietários das áreas poluidoras como “suborno”, trata-se de uma alternativa de difícil implementação. Foi ressaltada a importância da assistência técnica principalmente no plantio e cuidados com a mata e quando necessária uma exploração sustentável. É importante considerar, fortemente, a racionalização dos processos de produção de mudas com o objetivo de melhorar a eficiência. O valor unitário de produção que, geralmente são baixos, e.g., US$ 0,50 em média, dependendo da quantidade de mudas utilizadas no período, podem acarretar redução de custos altamente significativos ao projeto.

O artigo em análise não apresenta informações técnicas suficientes para uma melhor avaliação. Alguns aspectos não foram suficientemente avaliados e explicitados no que diz respeito à implementação ou avaliação desse projeto, como por exemplo: estudo ecológico das espécies: ciclo de vida, interação; escolha das espécies; modelo de plantio; estudo de paisagem; interação planta-animal, etc. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Lopes, I. V., Bastos Filho, G. S., Biller,D., Bale, M. Gestão ambiental no Brasil: experiência e sucesso. Ed. Fundação Getúlio Vargas, 2ª ed., Rio de Janeiro, 1998. p. 185-214.