Upload
letruc
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Cinegritude: reflexões sobre a invisibilidade da produção cinematográfica afro-
brasileira contemporânea.
Ana Carolina da Silva Andrade
Nathiele Montovanelli Carvalho
Graduandas do curso de história da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – Faculdade de Formação de Professores. Projeto financiado pelo Instituto Federal de Ciência e Tecnologia – IFRJ- CNPQ
Abstract:
Key words: Education, Carioca center afro of Cinema, Law 10.639/2003
With the creation of Law 10.639/2003, becoming obligator the teaching History
of Africa and African cultures and Afro-Brazilians in basic education became a quest
for higher qualification professional. The Project search to collaborate with the
qualification of the professionals of education through one of a reflection on the African
cinematographic production and afro-Brazilian contemporary searching to cooperate
with the law enforcement 10639/2003 in classroom beyond disseminating and
preserving the memory African-Brazilian cultural. With this objective, the activities
carried through throughout the year in Carioca Center Afro of the cinema were studied.
Resumo:
Palavras Chave: Educação, Centro Afro Carioca de Cinema, Lei 10.639/2003.
Com a criação da Lei 10.639/2003, tornando obrigatório o ensino de História da
África e culturas Africanas e Afro-brasileiras na educação básica tornou-se uma busca
de maior qualificação profissional. O projeto busca colaborar com a qualificação dos
profissionais da educação através de uma de uma reflexão sobre a produção
cinematográfica Africana e afro-brasileira contemporânea procura cooperar com a
aplicação da lei 10639/2003 em sala de aula além de divulgar e preservar a memória
cultural Afro-brasileira. Com esse objetivo, as atividades realizadas durante todo o ano
em Centro Afro Carioca de Cinema foram estudadas.
Fatores Históricos:
Os Processos de ocupação territorial, exploração econômica e domínio político do continente africano por potências européias tiveram início em meados do século XV e estenderam-se até a metade do século XX. Ligada à expansão marítima européia, a primeira fase do colonialismo africano surgiu da necessidade de encontrar rotas alternativas para o Oriente e novos mercados produtores e consumidores. Quando da chegada desses primeiros europeus a política dos Estados africanos já tinha um alto nível de aperfeiçoamento, porém seu desenvolvimento técnico era pouco avançado.1
Os portugueses iniciaram o processo de ocupação da África na primeira metade
do século XV, estabelecendo feitorias, portos e enclaves na costa africana. Não existia
nenhuma organização política nas colônias portuguesas, exceto em algumas áreas
portuárias onde haviam tratados destinados a assegurar os direitos dos traficantes de
escravos. A obtenção de pedras, metais preciosos e especiarias eram feitas pelos
sistemas de captura, de pilhagem e de escambo. O método predador de exploração
provocou o abandono da agricultura e o atraso no desenvolvimento manufatureiro dos
países africanos. Também no século XV a América foi descoberta, necessitava-se de
mão de obra barata e essa mão de obra foi levada da África. A captura e o tráfico de
escravos dividiram tribos e etnias e causaram desorganização na vida econômica e
social dos africanos. Milhões de pessoas foram mandadas à força para as Américas, e
grande parte morreu durante as viagens. A partir de meados do século XVI, os ingleses,
os franceses e os holandeses expulsam os portugueses das melhores zonas costeiras para
o comércio de escravos. Segundo o autor Kabengele Munanga: “a dominação colonial
na África resultou da expansão de dois imperialismos: o do mercado, que se apropriou
da terra, dos recursos e dos homens; o da história, que se apossou de um espaço
conceitual novo: o homem não histórico, sem referências nos documentos escritos”.2
A desculpa dada pelos colonizadores para a dominação da África se baseava no
fato do povo africano (negro) ser considerado inferior em comparação ao povo europeu
*Graduandas do curso de história da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – Faculdade de Formação de Professores. Projeto financiado pelo Instituto Federal de Ciência e Tecnologia – IFRJ- CNPQ 1 MUNANGA, Kabangele. Negritude: Usos e Sentidos/ Kabengele Munanga. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. – (Coleção Cultura Negra e Identidades). P. 23. 2 Idem p.27.
(branco). A missão colonizadora tiraria os africanos da condição de selvagens, atrasados
e bárbaros. O não branco passou a ser definido como não civilizado, necessitando então
passar por um longo processo civilizatório, e o papel do colonizador (branco superior)
era o de levar a civilização a esse povo considerado como semianimal. Dessa forma a
colonização tem seu intuito comercial encoberto e sobressai o intuito de civilizar os
negros.
No fim do século XIX e início do século XX, com a expansão do capitalismo
industrial, começou a segunda fase do colonialismo africano chamada também de
necolonialismo do continente africano. Entre outras características, esse
neocolonialismo foi marcado pelo aparecimento de novas potências concorrentes, como
a Alemanha, a Bélgica e a Itália. A partir de 1880, a competição entre as metrópoles
pelo domínio dos territórios africanos intensificou-se. A partilha da África teve início,
de fato, com a Conferência de Berlim (1884), que instituiu normas para a ocupação. No
início da I Guerra Mundial, 90% das terras já estavam sob domínio da Europa. A
partilha foi feita de maneira arbitrária, atendendo os interesses das potências coloniais,
não respeitando as características étnicas e culturais de cada povo, fazendo divisões
entre muitas etnias pacíficas e unindo outras não tão pacíficas assim. O colonizador
dividiu territórios e humilhou chefes religiosos, a minoria dominou a maioria.3 Essas
divisões étnicas contribuíram para muitos dos conflitos atuais no continente africano. A
partilha continuou com os franceses instalando-se no noroeste, na região central e na
ilha de Madagáscar. Os ingleses estabelecendo territórios coloniais em alguns países da
África Ocidental, no nordeste e no sul do continente. A Alemanha conquistando as
regiões correspondentes aos atuais Togo, Camarões, Tanzânia, Ruanda, Burundi e
Namíbia. Portugal e Espanha conservaram as suas antigas colônias. Os portugueses
continuaram com Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e
Moçambique, enquanto os espanhóis mantiveram as posses coloniais de parte do
Marrocos e da Guiné Equatorial. A Bélgica ficou com o Congo (ex-Zaire) e a Itália
conquistou a Líbia, a Eritréia e parte da Somália.
3 Idem. p.26.
Após a partilha ocorreram movimentos de resistência. Muitas manifestações
foram reprimidas com violência pelos colonizadores. Também foram exploradas as
rivalidades entre os próprios grupos africanos para facilitar a dominação. A colonização,
à medida que ocidentalizou o mundo africano, apesar da forte tradição africana reprimiu
as suas práticas locais e deixou um vazio cultural de difícil reversão.
O novo ser: o negro:
Com a conquista do continente africano o europeu se deparou com um povo com
características físicas diferentes das suas: cor da pele, cabelos, nariz, boca; e o diferente
causou estranheza. O negro tem suas aptidões intelectuais contestadas e comprovadas
como inferiores em relação aos dos brancos. Viam-se os africanos como um povo sem
cultura e história, já que ela não estava comprovada por documentos, convencidos de
que eram superiores os europeus desprezavam a cultura existente na África e impunha a
sua, dessa forma desfigurando e descaracterizando a personalidade moral do negro e sua
cultura.
O negro passa a ser considerado como um ser com mentalidade infantil e inapto
a atividades intelectuais. Muitas são as teorias desenvolvidas pelos europeus para
justificar o desrespeito com a cultura alheia, uma das teorias desenvolvidas foi a teoria
climas. Essa teoria prega que as temperaturas muito baixas ou muito altas tornam o
homem bárbaro, enquanto as zonas temperadas favorecem o desenvolvimento das
civilizações.4 Os relatos dos viajantes portugueses de meados do século XV
caracterizavam os africanos como seres animalescos, semi-homes, com chifres ou sem
cabeça e esses relatos mentirosos persistiram até pelo menos o século XVII.
Também se tentou provar a diferença cientificamente com teorias do tipo que
diziam que o negro era um branco degenerado, religiosamente tentavam explicar que os
negros eram descendentes de Can, filho de Noé, amaldiçoado no mito hebraico. Ao
contrário do que esperava os pensadores iluministas do século XVII afirmaram a
inferioridade do negro, eles diziam que os negros não seguiam o caminho do
4 Idem. p. 28.
desenvolvimento. As características ligadas aos negros encontradas na literatura da
época eram as de sexualidade, nudez, feiúra, preguiça e indolência.5
As explicações que tentavam comprovar a inferioridade do negro prosseguiram
no século XIX. A teoria evolucionista baseava-se no predomínio exercido pelo meio
ambiente, a racista dizia que o destino do homem era determinado pela raça à qual
pertenciam. Dizia-se que os negros viviam em um baixo grau de civilização porque
biologicamente são inferiores aos brancos (Saint-Simon). A Sociedade Etnológica
também tentava comprovar cientificamente a dita inferioridade do negro. Eram feitos
estudos com as diferenças físicas dos negros: tamanho da cabeça e volume do cérebro.
A pele escura e o cabelo crespo eram associados à inferioridade e a pele clara e cabelo
liso eram associados à superioridade (Paul Broca). Todas essas tentativas de provar que
o negro era um ser inferior eram feitas para justificar a colonização do continente
africano e também para demarcar o papel do colonizador: o de ser superior.
A exploração da mão-de-obra africana no Brasil:
Durante o Brasil Colonial, a mão-de-obra escrava foi de suma importância para a
exploração das riquezas. Portugal, pretendendo dar sustentação ao seu modelo de
colonização através da colônia de exploração, buscou na exploração da força de
trabalho dos negros uma rentável alternativa. Ao longo de todo nosso processo de
colonização, o tráfico negreiro foi responsável pela introdução de aproximadamente 4
milhões de africanos, pertencentes a diferentes culturas e etnias. Depois de capturados,
esses negros eram jogados no porão de um navio negreiro onde passavam por situações
degradantes. Muitos dos capturados acabavam falecendo no interior do navio devido à
falta de mantimentos ou a superlotação.
Os escravos foram utilizados principalmente em atividades relacionadas à
agricultura, com destaque para a atividade açucareira e na mineração, sendo assim
essenciais para a manutenção da economia. Alguns deles desempenhavam também
vários tipos de serviços domésticos e/ou urbanos. Na colônia esses negros passavam por
todos os tipos de sofrimento. Os poucos grupos étnicos que conseguiram se manter 5 Idem.p 29.
formados eram desorganizados por parte dos senhores, para que não houvesse a
articulação de rebeliões. Castigos físicos eram praticados por todos os motivos, as
negras eram abusadas sexualmente por seu senhores, famílias eram separadas, não era
permitido professar a religião de matriz africana. Não existia nenhum respeito pelo ser
humano, já que o negro não era considerado gente.
A escravidão só foi oficialmente abolida no Brasil com a assinatura da Lei
Áurea, em 13 de maio de 1888. No entanto, nenhuma atitude foi tomada para que os
libertos se inserissem no mercado de trabalho, dessa forma eles passaram da condição
de escravos para a condição de desempregados ou vagabundos.
A escravidão separou etnias, destruiu famílias e reduziu o negro à condição de
coisa. O sistema escravista brasileiro devastou socialmente a vida de muitos negros e
negras e se hoje há um abismo social entre brancos e negros esse abismo é reflexo da
escravidão, que não deixou que negros e brancos tivessem o mesmo acesso às
oportunidades. Se a séculos atrás os negros eram limitados às senzalas hoje eles são
limitados às favelas.
Identidade:
A identidade negra é um dos temas mais discutidos quando o assunto é relações
raciais, porém, apesar de todos os estudos empenhados ainda não temos uma resposta
definida à pergunta: o que é identidade?
O autor Kabengele Munanga fala de dois tipos de identidade, a identidade
subjetiva e a identidade objetiva. A identidade subjetiva é a forma como o próprio
indivíduo se define ou é definido pelos outros. A identidade objetiva está ligada às
características culturais e lingüísticas do indivíduo.6 O processo de construção da
identidade depende do reconhecimento que o homem tem de si mesmo. A autora Nilma
Lino Gomes, diz que a identidade se refere a um modo de ser no mundo e que ela é um
fator importante nas relações sociais de diferentes grupos. A identidade vai indicar
traços culturais, lingüísticos, comportamentais que vão diferenciar esses grupos, e a
6 Idem.p 11.
discussão sobre identidade não deve ficar somente no campo cultural, mas também no
campo sócio-político e histórico. 7
Assim como todos os processos identitários, a identidade negra é construída
gradativamente, seja pelo contato familiar ou pelo contato social e também pelo
reconhecimento dos demais, já que obtendo reconhecimento o negro obtêm auto-estima,
o que contribui para o processo de formação da sua identidade. Essa construção é uma
construção social e histórica, que depende do olhar do grupo étnico sobre si mesmo.
Mas como construir uma identidade negra positiva em uma sociedade que
historicamente ensina o negro a se negar, ensina desde muito cedo que a aparência física
correta é a do branco, que as atitudes corretas são as do branco? O negro vem perdendo
sua identidade desde a diáspora africana. Ele perdeu suas características lingüísticas,
suas representações religiosas, suas tradições e sua história. A comunidade negra
precisa ter acesso à sua cultura, à cultura de seus ancestrais, que não é a cultura
européia, as culturas africana e afro brasileira tem tanta importância quanto a cultura
européia e por esse motivo merecem respeito e visibilidade.
Raça:
Raça é uma idéia que cientistas europeus do passado utilizaram para categorizar
as diferenças de aparência dos povos que viviam em partes do mundo distantes da sua.
Hoje em dia o uso do termo “raça” para se referir ao negro, frequentemente é carregado
de alguma polêmica. Algumas pessoas não reagem de forma positiva à pergunta: qual é
sua raça? Essa reação dependerá, sobretudo da forma como foi construída sua
identidade étnico racial. O termo raça quando é usado por militantes da causa negra não
é usado como referência biológica, o termo deixou de existir do ponto de vista biológico
e passou a existir no ponto de vista sociológico. Na nossa sociedade sempre se evitou
falar em raça, acredita-se que não falar em raça, não fazer a classificação de negro e
branco é o suficiente para evitar qualquer problema racial.
O mito da democracia racial de Perdigão Malheiro firmou raízes em nossa
cultura. Este mito difundiu a crença de que a raça não tem importância na definição das 7 GOMES, Nilma Lino. In: Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal n° 10.639/03. Secretaria de Educação Continuada. Alfabetização e Diversidade, 2005. P.41.
oportunidades de cada indivíduo, sobretudo no que diz respeito à mobilidade social.
Três argumentos são desenvolvidos a favor do mito da democracia racial: o primeiro diz
que não conhecemos fortes hostilidades entre os grupos raciais no Brasil, sendo essas
relações baseadas na cordialidade; o segundo diz que o mito da democracia racial está
apoiado na crença de que não é a raça, mas a classe social que explica o status e as
oportunidades de vida de cada indivíduo; o terceiro argumento a favor da democracia
racial, que é o mais difundido diz que o Brasil é um país miscigenado, portanto é
irrelevante distinguir quem é negro e quem é branco.8 Algumas análises sociológicas
vêem o mito como uma narrativa construída com a intenção de falsear a realidade.
Segundo Souza quando falamos do conteúdo ideológico do mito estamos nos referindo
a sua capacidade de :
Escamotear o real, produzir o ilusório, negar a história e transformá-la em “natureza”. Instrumento formal da ideologia um mito é um efeito social que pode entender-se como resultante da convergência de determinações econômico político ideológicas e psíquicas. Enquanto produto ideológico, o mito é um conjunto de representações que expressa e oculta uma ordem de produção de bens de dominação e doutrinação.9
Podemos debater o mito da democracia racial com o fato de que no Brasil o
sistema racial se baseia na aparência (cor), o termo cor é mais utilizado do que o termo
raça. Sabemos que quanto mais perto do negro (em termos de cor), maior é a
discriminação sofrida por essa pessoa, devido a essa discriminação novas categorias
classificatórias foram criadas, como o popular moreno, mulato, escuro. Em suma,
ironicamente ninguém quer ser negro em um país onde supostamente não existe
discriminação racial.
Quando se discute a situação do negro o termo raça ainda é o mais usado e o
termo está ligado ao racismo sofrido pelos negros na nossa sociedade. A discriminação
racial e o racismo existentes no Brasil se dão em muitas esferas, na esfera cultural, na
social, na política, na física, dentre outras. Nega-se de qualquer forma a cultura do
8 BERNARDINO, Joaze. In:Levando a raça a sério:ação afirmativa e universidade / Joaze Bernardino, Daniela Galdino (orgs). – Rio de Janeiro: DP&A, 2004. P. 16. 9 SOUZA, Santos. In: Levando a raça a sério:ação afirmativa e universidade / Joaze Bernardino, Daniela Galdino (orgs). – Rio de Janeiro: DP&A, 2004. P. 16.
negro, sua música não agrada os ouvidos, sua dança é imoral, sua religião cultua deuses
do mal, etc. Na esfera política há o racismo institucional, que se dá na forma de práticas
discriminatórias por parte do Estado ou com seu apoio direto. Essas práticas se
manifestam sob a forma de isolamento dos negros em determinados bairros, em
determinadas escolas e empregos, se manifestam também nos livros didáticos, tanto
com a presença de personagens negros esteriotipados quanto na ausência da história
positiva do povo negro e de seus descendentes africanos. Manifestam-se também na
mídia, que sempre retrata o negro inferior em relação ao branco.10 Na esfera física o
racismo se manifesta quando aprendemos que a aparência física do negro é inferior a do
branco. A mídia propaga que ser bonito é ter cabelo liso, ter olhos claros, rosto fino, em
fim a aparência europeizada. Desde criança aprende-se a ridicularizar o cabelo, a cor de
pele, o formato do rosto do negro, nunca exaltando sua beleza, mas sim procurando seus
defeitos.
Não há dúvida alguma que existe racismo no Brasil, lamentavelmente ele se dá
por forma da negação, quanto mais o racismo for negado, mais ele irá se propagar nas
mentalidades afetando as condições sociais dos negros. Sabemos que existe um enorme
abismo social entre negros e brancos, se compararmos as condições de vida, emprego,
saúde, escolaridade e outros índices de desenvolvimento humano do negro e do branco
ficará comprovada a grande desigualdade social existente no nosso país. Essa
desigualdade é resultado do sistema escravista colonial, que foi abolido sem nenhuma
política de inserção do negro. Os negros hoje em sua grande maioria ocupam cargos
subalternos, a presença do negro nas universidades ainda é muito pequena. O tão
propagado mito da democracia racial não tem validade quando analisamos o acesso dos
negros aos cargos de prestígio econômico e social.
Há um senso comum que atribui à própria vítima, o negro, a responsabilidade
por sua condição social. Em nosso país existem diferentes causas da pobreza e exclusão
social, mais uma vez afirmo que a principal causa da situação econômica e social do
negro é a matriz escravista da nossa economia, que até hoje estigmatiza os negros. A
10GOMES, Nilma Lino. In: Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal n° 10.639/03. Secretaria de Educação Continuada. Alfabetização e Diversidade, 2005. P.53.
continuidade do preconceito racial em nosso país revela a existência de um sistema
social racista, que tem o poder de gerar as desigualdades raciais dentro da esfera social.
Por isso se faz necessário discutirmos a superação do preconceito, e da discriminação
racial.
Refletir sobre a questão racial brasileira não deve ser um assunto de interesse
particular somente das pessoas quer pertencem ao grupo étnico negro. Essa é uma
questão social, política e cultural de todos os brasileiros. Esse tipo de discussão deve
estar presente não só nas reuniões de militância, mas dentro do espaço acadêmico,
escolar e social. Não devemos deixar que o mito da democracia racial continue se
perpetuando.
Centro Afro Carioca de Cinema.
Em meio a um contexto de efervescência e tensões políticas, que marcaram os
anos de 1960, surge um jovem ator negro no ambiente cinematográfico. Como grande
parte dos jovens da sua geração durante este período esteve envolvido, com
organizações culturais e políticas de esquerda11. Fato este que com certeza foi de
extrema importância para que a sua vida passasse mais tarde a confundir-se não só com
a história do cinema nacional, mas também com a história da militância negra.
É em meio a uma história de lutas contra o preconceito racial, resistência negra,
busca pela identidade cultural e reafirmação de uma negritude12 que Jorge da Silva
deixa de ser mais um da Silva neste país e torna-se Jorge Zózimo e mais tarde Zózimo
Bulbul13.
Zózimo Bulbul foi o primeiro cineasta a colocar a questão da identidade nos
mesmos termos com que ela foi posta pela luta constante do movimento negro14.O
trabalho realizado ao longo da carreira sobre a questão da identidade e como trabalhar a
11 CARVALHO, Noel dos Santos. Cinema e representação racial: o cinema negro de Zózimo Bulbul. Tese de Doutorado. São Paulo: Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Faculdade de São Paulo, FFLCH-USP, 2006. p174. 12 Conceito estudado a partir do Antropólogo Kabengele Munanga em seu livro. MUNANGA, Kabenguele.Negritude : Usos e sentidos. Ed.Autêntica 3° edição . Coleção Cultura Negra e Identidades. 13 BULBUL,Zózimo.Zózimo Bulbul. O Público.Rio de Janeiro , fev.2002, p24. Entrevista concedida a Lena Brasil . (Entrevista encontra-se em anexo. Anexo 1.) 14 CARVALHO, Noel dos Santos. p 242.
Identidade Negra15, deu a ele reconhecimento mundial por seus trabalhos de valorização
e preservação da cultura negra, tendo como conseqüência deste trabalho a premiação de
muito de seus filmes em festivais de cinema ao longo do mundo.
Atualmente aos 73 anos de idade, Bulbul dedicou mais da metade destes anos
para a sua carreira. No cinema trabalhou como ator em mais de 30 filmes além de ter
sido produtor, roteirista e diretor. Na televisão trabalhou como ator em algumas novelas,
porém sua vida sempre esteve ligada à militância negra dedicando-se a luta contra o
preconceito racial e a desvalorização da cultura de matriz Africana.
Zózimo Bulbul encontra-se envolvido com um projeto que é fruto de um sonho
de anos: O Centro Afro Carioca de Cinema. O sonho de possuir um local para a
exibição de filmes que mostrassem o negro com o olhar do negro existia desde a
primeira vez que Bulbul foi a Burkina Faso no continente africano para o FESPACO em
1997.
O Festival Pan Africano de Cinema de Ouagadogou, realizado em Burkina Faso,
bienalmente foi criado em 1969 por um grupo de cinéfilos tendo sido institucionalizado
em 1972. O FESPACO é o maior festival de cinema da África, reunindo toda a
inteligência artística do continente africano, numa apresentação ampla e diversificada de
todas as matrizes de suas culturas ancestrais e atuais, tendo como objetivo os saberes
dos seus povos.
No primeiro ano de participação de Zózimo Bulbul, o ano de 1997, o Festival
reuniu cerca de 20 mil pessoas na cerimônia de abertura realizada em um campo de
atletismo, fato que deixou Zózimo muito emocionado16. Dez anos após o FESPACO,
Zózimo Bulbul foi convidado junto com outros cineastas e atores Afro-brasileiros a ir
ao Encontro de cinema latino-americano de Toulouse, na França.
A ida de Zózimo Bulbul ao Encontro de cinema latino-americano de Toulouse,
na França, foi de extrema importância para a idealização e criação do Centro Afro 15 Para Nilma Lino Gomes, a Identidade Negra se constrói gradativamente, e pode ser entendida como uma construção social, histórica, cultural e plural. Trata-se, portanto de um olhar de um grupo ou sujeito étnico/racial sobre si mesmo a partir de sua relação com o outro.GOMES, Nilma Lino. In: Educação anti-racista: Caminhos abertos pela Lei Federal n° 10.639/03.Brasília.2005. 16 Ver anexo 4. Relato de Zózimo Bulbul para o site do Centro Afro Carioca de Cinema (http://www.afrocariocadecinema.org.br/).
Carioca de Cinema. Por ser uma cidade pequena, o Encontro foi realizado em salas de
cinema pequenas como relata o próprio Bulbul “Uma cidade pequena, com muita gente
de diversos países, e não tinha os “palácios”, que a gente encontra nos grandes festivais
lá tudo é pequeno, na medida certa, salas de cinema lindíssimas com 80 lugares, por
exemplo. Isso me influenciou muito”17. Foi exatamente essa influencia que resultou na
criação do Centro Afro Carioca de Cinema, Bulbul pode perceber que não precisaria de
um local grande para passar seus filmes e de outros cineastas “pretos e pretas do Brasil e
da África”18.
O centro Afro Carioca de Cinema é fundado logo após a volta de seu
idealizador e fundador, Zózimo Bulbul do Encontro de cinema latino-americano de
Toulouse. Fundado no ano de 2007, o Centro Afro Carioca de Cinema, possui como
sede um sobrado histórico localizado no coração da boemia carioca, o bairro da Lapa,
região central do Rio de Janeiro19.O Centro Afro Carioca surge assim para valorizar
ainda mais a região da Lapa como Local destinado à preservação de memória e
valorização da cultura popular brasileira.
A Criação do Centro Afro Carioca de Cinema surge como um projeto inovador
tanto para o contexto cultural, quanto para o contexto histórico e cinematográfico.
Tendo como um de seus principais objetivos a valorização e a preservação da cultura
Afro, Afro-brasileira e as suas vertentes algumas vezes ocultados ou censurados pela
população e pela elite brasileira.
O Centro Afro Carioca de Cinema funciona como um local destinado a
Resistência negra20 e a valorização da negritude21, dando suporte a novos cineastas,
17 Idem. 18 Idem. 19 O Centro Afro Carioca de Cinema fica localizado na Rua Joaquim Silva nº40. Lapa - Rio de Janeiro. 20 Noel dos Santos Carvalho, nos que existe uma situação de opressão, à qual os negros estão submetidos constantemente (escravidão, preconceito, racismo, pobreza), porém a resistência negra surge para combater e ir contra essa opressão. (CARVALHO, Noel dos Santos. Cinema e representação racial: o cinema negro de Zózimo Bulbul. Tese de Doutorado. São Paulo: Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Faculdade de São Paulo, FFLCH-USP, 2006. p227)
21 Para Kabengele Munanga , a Negritude pode ser compreendida como um instrumento de combate que serve para garantir a todos o direito a dignidade humana e o respeito as culturas.Além de servir como afirmação e construção de uma solidariedade entre as vitimas de interiorização e negação.Por conseqüência a negritude nada mais é que a luta constante para reconstruir a identidade de que teve os
além de levar ao público a proximidade de um cinema feito de maneira diferente, sob
um olhar diferente.
Possui uma rotina de funcionamento regular onde pessoas interessadas podem
ter acesso ao acervo de Filmes de ficção e documentários, dos mais variados temas
relacionados à cultura Africana, cultura Afro-brasileira e suas vertentes.
O Centro afro carioca de Cinema realiza ao longo do ano diferentes atividades,
desde oficinas, seminários e mostras de filmes. Tendo como o mais aguardado evento o
Encontro de Cinema Negro. Até o dado momento já foram realizadas três edições do
Encontro, realizado frequentemente no mês de novembro.
Para Zózimo Bulbul “a importância desse encontro se dá entre outras coisas para
dar visibilidade aos cineastas negros e negras do Brasil e aos seus filmes.”22.Os
Encontros de Cinema Negro, passam a ser uma bandeira clara contra as representações
estereotipadas23 do negro no cinema e contra sua invisibilidade no meio
cinematográfico.
A Primeira Edição do Encontro de Cinema Negro chamou-se: I Encontro de
Cinema Negro Brasil África, onde estiveram presentes cineastas Africanos, e seus
filmes premiados, para isso foi necessário o apoio financeiro do consulado Francês. 24 O
Encontro homenageou o Cineasta Ousmane Sembène, “o pai do cinema africano”. Foi
realizado no Rio de Janeiro e posteriormente em Salvador durante o período de 29 de
novembro a 04 de dezembro de 2007.
Na segunda edição do Encontro de Cinema Negro participam não só mais
cineastas africanos e brasileiros, mas houve também a inclusão de cineastas Afro
Latinos, buscando assim uma integração com os países vizinhos e com a sua cultura.
Este segundo Encontro passa a se chamar: II Encontro de Cinema Negro Brasil África e
América Latina. O encontro aconteceu no ano de 2008 entre de 13 a 24 de novembro e
valores de suas civilizações destruídas e suas culturas negada. (MUNANGA, Kabenguele.Negritude : Usos e sentidos. Ed.Autêntica 3° edição . Coleção Cultura Negra e Identidades. p 19-21). 22 Idem. 23 CARVALHO, 2006. p152. O autor nos diz da resistência por parte do movimento negro as formas de representações estereotipadas do negro. 24 Ver anexo 5.
homenageou Solano Trindade. Para a homenagem foi realizado um curta sobre o
Centenário do poeta, chamando: Um poema para Solano Trindade.25
Durante a terceira edição do Encontro de Cinema realizada em 2009, o
homenageado foi Sant Clair Bourne, ícone do cinema americano. Esta edição do
encontro que foi realizado entre 09 a 18 de novembro,contou com a com a presença de
diretores afros americanos, cineastas Africanos, e caribenhos além de cineastas
brasileiros veteranos e os novos realizadores. A terceira edição do encontro chamou-se
assim: III Encontro de Cinema Negro Brasil África e Américas
Os Encontros de Cinema, assim como o Centro Afro Carioca de Cinema são
marcados pela diversidade de seu público que atinge diferentes faixas etárias,e pela
“glamuralização”26 da figura do negro. Durante o Encontro de Cinema, colégios são
convidados a levar seus alunos a participar do evento, tendo muitas vezes o transporte
gratuito até o local onde acontece a exibição dos filmes27. Por ser um evento aberto a
população os demais freqüentadores são profissionais de diferentes áreas. Porém o
mesmo não ocorre com o Centro Afro Carioca de Cinema, possuindo um público muito
mais voltado aos assuntos referentes às causas negras e pessoas que possuem uma
ligação diferente com o cinema e com a maneira de se ter contato com o cinema.
O Centro Afro Carioca de Cinema surge assim como uma referência clara da
luta contra a discriminação racial, o preconceito com a cultura negra e contra o
silenciamento das idéias de muitos cineastas. Idéias essas, muitas vezes forçadas ao
esquecimento por não possuírem cunho comercial para a indústria cinematográfica
brasileira.
O fator que realmente fez toda a diferença, para a idealização e criação do
Centro Afro Carioca de Cinema foi à falta de espaço para exibição de seus filmes dentro
de seu próprio país, encontrada pelo cineasta e ator Zózimo Bulbul. Com a idéia de um
lugar destinado ao cinema afro veio também a possibilidade de apoiar os cineastas
25 Ver anexo 6. 26 Ver anexo 7. Depoimento de um participante do III Encontro de Cinema Negro Brasil África e Américas. 27 O III Encontro de Cinema Negro Brasil África e Américas,foi realizado no Cine Odeon BR, Centro Federal de Justiça Federal, Tenda na Lapa e Espaço Tom Jobim.
negros e que assim como ele tinham seus filmes muitas vezes esquecidos ou negados
dentro do parâmetro nacional.
Pode - se dizer então que o Centro Afro Carioca é sim um local destinado à
valorização da cultura e também a preservação da memória, já que sua luta é constante
em relação a essas questões tão engajadas na identidade negra e na negritude.
A resistência negra tão presente na idéia de construção do Centro Afro Carioca
de Cinema, se dá pela constante afirmação da identidade negra que é marcada pela luta
contra a discriminação racial.
Para o antropólogo Kabengele Munanga, no Brasil apenas o fato de ser negro já
é considerado uma forma de exclusão28. É justamente essa luta contra a exclusão que
podemos associar ao Centro Afro Carioca de Cinema. A exclusão de cineastas negros
do direito de falar sobre temas que eles realmente conhecem e que faz parte do
cotidiano, fazendo assim uma leitura diferente e sob um olhar diferente.
Rara são as vezes que produções que tratam de assuntos do cotidiano da
população negra brasileira ganham as telas de cinema num âmbito nacional, ficando
restrito apenas aos Festivais de cinema ou a Encontros de Cinema. Muitas das vezes os
longas metragens para serem produzidos em escala industrial e para ganhar as telas de
cinema nacionais e muitas vezes internacionais, retratam os negros e a cultura negra em
seus filmes de forma estereotipada29, sendo o negro contemporâneo na maioria das
vezes pobre, ou ladrão e sempre morador de favelas ou periferias distantes. Para os
filmes que tem um viés histórico ao negro resta apenas o personagem de escravo ou
servo fiel. Passamos à imagem de um país não só desigual socialmente, mas desigual
racialmente nas telas de cinema.
Em diferentes formas do cotidiano podemos perceber a discriminação racial e o
preconceito, fazendo assim a imagem de um país racista, porém a existência do racismo
ainda é uma pergunta constante para a população brasileira. Dividindo assim o Brasil
em duas vertentes. Uma que acredita que exista racismo no Brasil, pois já viveu a
28 “No Brasil ser negro é ser excluído”. MUNANGA, Kabenguele.Negritude : Usos e sentidos. Ed.Autêntica 3° edição . Coleção Cultura Negra e Identidades. p16. 29 CARVALHO, 2006. p71.
experiência do racismo e a outra que continua pregando , divulgando e aceitando o mito
democracia racial e a mestiçagem, atrapalhando assim o debate para as “ações
afirmativas” e a luta contra o racismo e a discriminação30.
A luta contra a discriminação e o racismo é a luta constante vivida ao longo dos
anos pelo cineasta Zózimo Bulbul, luta esta que o faz fundar o Centro Afro Carioca de
Cinema, marcando assim sua vida, a sua história por lutas e resistência contra a
exclusão, o racismo e a negação de sua cultura e de sua memória como negro e
brasileiro.
O Centro Afro Carioca de Cinema torna-se assim uma inovação porque além de
realizações importantes marcadas ao longo de sua curta história de vida como
seminários, mostras de filmes, lançamentos de livros e exposições fotográficas e
Encontros de cinema, tem um compromisso com o público de mostrar a cultura afro
brasileira e africana de forma verdadeira e não por meio de estereótipos, mostrar a
África de forma real e não como um continente misterioso povoada por pessoas que não
são civilizadas , como ficamos acostumados a ver com a indústria cinematográfica
Hollywoodiana , que teve um papel central nessa difusão da imagem da África e dos
africanos como um povo sem cultura, um povo bárbaro e imóvel e incompetente para a
civilização31. É justamente essa quebra de estereótipos o trabalho constante do Centro
Afro Carioca de Cinema.
O Centro Afro Carioca de Cinema acaba sendo um parceiro na implementação
da Lei 10.639/2003, Lei que torna obrigatório o ensino de história da África e culturas
afro brasileiras em todos os anos das escolas públicas e privadas. Nos Encontros de
Cinema há grande participação de escolas públicas, ONG’s e projetos sociais. O Centro
se encarrega de fazer o contato com todas as escolas e também de fazer o transporte de
muitas delas. Os alunos dos ensinos fundamental e médio – assim como o público em
30 “No Brasil o mito da democracia racial bloqueou durante muitos anos o debate nacional sobre as políticas de “ações afirmativas” e, paralelamente, o mito do sincretismo cultural ou da cultura mestiça (nacional) atrasou o debate nacional sobre a implementação do multiculturalismo no sistema educacional brasileiro”(MUNANGA, Kabengele . Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia.In: BRANDÃO, André Augusto. Programa de Educação sobre o negro na sociedade Brasileira. Editora da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro. 2004.) 31 SILVA.Francisco Carlos Teixeira.Conquista e colonização da América Portuguesa : O Brsail Colônia 1500-1750. In:LINHARES, Maria Yedda. História Geral e do Brasil.(org). 9° Edição. Editora Elsevier , Rio de Janeiro, 1990.
geral - estão acostumados a ver o negro retratado apenas em situações degradantes, seja
no livro didático, na televisão e no cinema de grande difusão. Participando dos
Encontros de Cinema esses estudantes têm a oportunidade de ver outra realidade do
negro, onde ele produz cinema, onde o ator negro não ocupa só o papel subalterno, além
de ter contato com a cultura africana que não é divulgada em outros lugares. Nas
palavras de uma professora da rede estadual do Rio de Janeiro “esse encontro veio
abrilhantar nossa lei”.32
Os filmes e os seminários assistidos nos Encontros atuam como material
paradidático que são multiplicadores de uma velha e desconhecida cultura. Os
benefícios não ficam só para os alunos, eles se estendem também para os educadores,
que como sabemos estão em busca de qualificação para por em prática a Lei 10.639.
Esses educadores interagem com a cosmovisão do africano, com a arte cinematográfica
como linguagem.
A escola age subjetivamente na construção da identidade dos seus alunos e para
ajudar na formação da identidade do alunado negro os educadores precisam conhecer a
história dos seus descendentes, porém sabemos que há uma grande dificuldade de
acesso às literaturas africanas, não há preparação dos educadores por parte do governo
para a implementação da Lei 10.639/2003. Os educadores estão cada vez mais buscando
qualificação fora do âmbito escolar.
Anexos.
Anexo 1.
“Nasci Jorge da Silva, mas cresci Zózimo. No início dos anos 1960, minha mãe ofereceu uma feijoada para o embaixador da Etiópia em Washington, de passagem pelo Brasil. Ele falava, entre outras línguas, o swahili, que é um idioma comum a toda a África. Foi ele quem, nesse dia, me ‘batizou’ Bulbul, que em swahili quer dizer rouxinol. Gostei: Zózimo Bulbul. Deu sorte!”
32 Ver anexo 7
BULBUL, Zózimo. Zózimo Bulbul. O Público, Rio de Janeiro, fev. 2002, p. 24. Entrevista concedida a Lena Brasil.
Anexo 2
Prêmios:
• Prêmio de melhor documentário Jornada da Bahia – Alma no Olho - 1977
• Prêmio de melhor roteiro e fotografia - Abolição Festival Brasília -1988
• Prêmio de melhor Cartaz - Abolição Festival Nuevo Cine Latino Americano /
Havana -Cuba - 1989
• Prêmio de melhor Documentário - Abolição Festival Latino de Cinema – Nova
York - 1990
• Prêmio Pro - Cine (Longa Metragem) - Abolição Roteiro: “O Cantor das
Multidões” - 2001
• Prêmio ProCine – ( Curta Metragem ) - Abolição Roteiro e Direção: “Pequena
África – 2001.
OUTRAS PARTICIPAÇÕES INTERNACIONAIS EM FESTIVAIS Debates e mesas redondas.
• The Third Anual Contemporary African Diaspora Film N.York -1995.
• XV Festival Pan-Africano de Cinema e Televisão de Ouagadougou Burkina
Faso África -1997.
• 9° Festival de Cinema Africano em Milão -1999.
• Black Movie Festival Génevè Suisse -1999.
• Fórum d’Images Paris – 1999.
• 2º Festival Cinema Africano Cabo Verde – 2000.
• África em Foco - Buenos Aires – 2006.
• 19º Encontro de Cinema Latino Americano - Tolousse – 2007.
• XX - Festival Pan-Africano de Cinema de Ouagadougou - FESPACO - Burkina
Faso – África - 2007.
• XXI – FESPACO - 2009.
Fonte: http://www.afrocariocadecinema.org.br/ - Acessado em 05 de maio de 2010. As
12:05.
Anexo 3
Pessoas importantes na formação do Afro Carioca:
• Ruth Pinheiro
• Raquel Carolina
• Wanda Ribeiro
• Fernando Barcellos
• Júlio Vitor
• Ierê Ferreira
• Naira Fernandes
• Tadeu Alexandre
• Carlos Renato
• Clara Sória
• Zulu Araújo
• Edson Santos
• Abdias Nascimento
• Elisa Larkin
• Mãe Maidé de Oyá
• Benedita da Silva
• Maria Ceiça
• Léa Garcia
Fonte: http://www.afrocariocadecinema.org.br/ - Acessado em 05 de maio de 2010. As
12:05.
Anexo 4.
“Dez anos depois, em 2007, fui convidado juntamente com outros cineastas e atores
Afro-brasileiros, para o Encontro de cinema latino-americano de Toulouse, na França.
Cheguei na cidade e fiquei surpreso. Uma cidade pequena, com muita gente de diversos
países, e não tinha os “palácios”, que a gente encontra nos grandes festivais,lá tudo é
pequeno, na medida certa, salas de cinema lindíssimas com 80 lugares,por exemplo.
Isso me influenciou muito. Aquela idéia de fazer algo voltado para o cinema negro ia
tomando forma, então eu percebi que não precisava de um lugar imenso, para fazer uma
sala de cinema, e voltei com a idéia de colocar em prática a realização de um espaço
destinado a exibir os nossos filmes, filmes de cineastas pretos e pretas do Brasil e da
África.
Foi aí que, em um espaço onde havia uma carpintaria, em plena Lapa, achei o
lugar certo para criar o Centro Afro Carioca de Cinema. Uma das coisas mais
gratificantes da minha vida, quando eu saía de casa e ia pra lá acompanhar as obras,com
um imenso “tesão” eu ia todos os dias. Derrubávamos paredes, pintávamos, assim
reformamos a casa toda. Biza e eu acompanhamos tudo, eu ainda não estava muito bem
de saúde, não estava andando bem, mas o processo de criação do Centro Afro Carioca
me deu motivação para eu me recuperar. Uma grande inspiração para a criação do
Centro Afro Carioca de cinema, foi o nosso mestre Candeia e o Grêmio Recreativo Arte
Negra Quilombo. O que essa escola de samba representava em nível de revolução e
inovação em relação ao carnaval, e a questão do rompimento com o que estava
estabelecido.”
Entrevista de Zózimo Bulbul, para o Site do Centro Afro Carioca de Cinema.
Fonte: http://www.afrocariocadecinema.org.br/ - Acessado em 05 de maio de 2010. As
12:05.
Anexo 5.
“(...)I Encontro de Cinema Negro Brasil África. Trouxemos cineastas Africanos, e seus
filmes premiados, com o apoio do consulado da França. A importância desse encontro
se dá entre outras coisas para dar visibilidade aos cineastas negros e negras do Brasil e
aos seus filmes (...) O II Encontro de Cinema Negro e a inclusão dos Cineastas Afro
Latinos, me veio à cabeça lembrando de um evento cultural, chamado Afro em foco que
aconteceu em 2006, na Argentina, um país com menos de 2% de população negra e que
não tem a menor tradição em cultura africana, e nesse encontro tinham negros do Peru,
do Uruguai, do Paraguai, de Cuba entre outros países. Cheguei a conclusão que a gente
não sabe nada a respeito dos nossos vizinhos, nossos irmãos negros que estão nos países
da América Latina.(...)”.
Entrevista de Zózimo Bulbul, para o Site do Centro Afro Carioca de Cinema.
Fonte: http://www.afrocariocadecinema.org.br/ - Acessado em 05 de maio de 2010. As
12:05.
Anexo 6.
“(...)II Encontro de Cinema Negro Brasil África e América Latina que aconteceu de
13 a 24 de novembro e homenageou Solano Trindade realizando um curta em
homenagem ao Centenário do poeta - Um poema para Solano Trindade.(...)”.
Entrevista de Zózimo Bulbul, para o Site do Centro Afro Carioca de Cinema.
Fonte: http://www.afrocariocadecinema.org.br/ - Acessado em 05 de maio de 2010. As
12:05.
Anexo 7
Depoimento de Luiz Santos, publicitário, entrevistado durante o III Encontro de Cinema
Negro Brasil África e Américas.
Maria Helena, professora de história da rede estadual do Rio de Janeiro, entrevistada
durante o III Encontro de Cinema Negro Brasil África e Américas.
Referências Bibliográficas:
BERNARDINO, Joaze. In:Levando a raça a sério:ação afirmativa e universidade / Joaze Bernardino, Daniela Galdino (orgs). – Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
CARVALHO, Noel dos Santos. Cinema e representação racial: o cinema negro de
Zózimo Bulbul. Tese de Doutorado. São Paulo: Faculdade de Filosofia Letras e Ciências
Humanas da Faculdade de São Paulo, FFLCH-USP, 2006.
GOMES, Nilma Lino . Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações
raciais no Brasil:Uma breve discussão. In: Educação anti-racista: Caminhos abertos
pela Lei Federal n° 10.639/03.Brasília.2005
MUNANGA, Kabenguele.Negritude : Usos e sentidos. Ed.Autêntica 3° edição. Coleção
Cultura Negra e Identidades.
______________ . Superando o racismo na escola. 2ª edição. Brasília: MEC-SECAD,
2005.
_______________ . Rediscutindo a mestiçagem no Brasil. Identidade nacional versus
identidade negra. Petrópolis, Rio de Janeiro: 1999.
________________. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo,
identidade e etnia. In: BRANDÃO, André Augusto. Programa de Educação sobre o
negro na sociedade Brasileira. Editora da Universidade Federal Fluminense, Rio de
Janeiro. 2004.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. In: Raça e Diversidade/ Lilia Moritz Schawarcz, Renato da Silva (orgs). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Estação Ciência: Edusp, 1996. SILVA, Eduardo. Negociação e Conflito: a resistência negra no Brasil escravista / Eduardo Silva, João José Reis. – São Paulo: Companhia das letras. 1989. SILVA.Francisco Carlos Teixeira.Conquista e colonização da América Portuguesa : O
Brsail Colônia 1500-1750. In:LINHARES, Maria Yedda. História Geral e do
Brasil.(org). 9° Edição. Editora Elsevier , Rio de Janeiro, 1990
SOUZA, Edileuza Penha (org.). Negritude, cinema e educação. Caminhos para a
implementação da Lei 10.639/2003. Volumes1 e 2. Belo Horizonte: Edições Mazza,
2006.