Upload
vutruc
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Cinqenta Anosde Jurisprudncia do
Tribunal ConstitucionalFederal Alemo
Cinqenta Anosde Jurisprudncia do
Tribunal ConstitucionalFederal Alemo
Traduo:Beatriz Hennig
Leonardo MartinsMariana Bigelli de Carvalho
Tereza Maria de CastroVivianne Geraldes Ferreira
Prefcio:Jan Woischnik
Coletnea original:
Organizao e introduoLEONARDO MARTINS
JRGEN SCHWABE
Konraddenauer--Stiftung
Programa Estado de Derecho para Sudamrica
66666
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
2005 KONRAD-ADENAUER-STIFTUNG E.V.
KONRAD-ADENAUER-STIFTUNG E. V.Tiergartenstrasse 35D-10785 BerlinRepblica Federal de AlemaniaTel.: (#49-30) 269 96 453Fax: (#49-30) 269 96 555
FUNDACIN KONRAD-ADENAUER, OFICINA URUGUAYPlaza de Cagancha 1356, Oficina 80411100, MontevideoUruguayTel.: (#598-2) 902 0943/ -3974Fax: (#598-2) 908 6781e-mail: [email protected]
Editor ResponsableJan Woischnik
OrganizadorLeonardo Martins
Asistentes de RedaccinRosario NavarroManfred Steffen
CorrectorPaulo A. Baptista
Impreso en MastergrafGral. Pagola 1727 - Tel. 203 47 60*11800 Montevideo, Uruguaye-mail: [email protected]
Depsito legal 337.301 - Comisin del PapelEdicin amparada al Decreto 218/96
ISBN 9974-7942-1-8
Impreso en Uruguay Printed in Uruguay
La presente publicacin se distribuye exclusivamente en forma gratuita, en el marco de la cooperacin
internacional de la Fundacin Konrad Adenauer
Los textos que se publican son de la exclusiva responsabilidad de sus autores y no expresan necesaria-mente el pensamiento de los editores. Se autoriza la reproduccin total o parcial del contenido citandola fuente.
77777
Abreviaturas
Nota Preliminar 1:
Os dispositivos da Grundgesetz (A Lei Fundamental, que representa a
Constituio alem) e das leis citadas na presente obra, seguiram o modo de citao
usado na literatura jurdica especializada (doutrina) e na jurisprudncia da Alemanha, de
acordo com o modelo inerente aos seguintes exemplos:
Art. 14 III 2 GG Artikel 14, Absatz 3, Satz 2 Grundgesetz (ou Art. 14,
Abs. 3, Satz 2 GG) Artigo 14, pargrafo 3, Perodo
2 da Grundgesetz
Art. 5 I 1, 2 sub-perodo GG Artikel 5, Absatz 1, Satz 1, 2. Halbsatz Grundgesetz
(ou Art. 5, Abs. 1, Satz 1, 2. HbS. GG) = Artigo 5,
pargrafo 3, Perodo 2 da Grundgesetz
Art. 93 I, n 4a GG Artikel 93, Absatz I, Nummer 4a Grundgesetz (ou Art.
93, Abs. 1, Nr. 4a GG) = Artigo 93, pargrafo 1,
nmero 4a da Grundgesetz
30 II 2 BVerfGG 30, Absatz 2, Satz 2 BVerfGG (ou 30, Abs. 2, Satz 2
BVerfGG) = 30, pargrafo 2, Perodo 2 da BVerfGG
ABREVIATURAS
88888
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
Nota Preliminar 2:
As siglas 1 BvA at 1 BvT e 2 BvA at 2 BvT designam dados sobre o
processo movido junto ao TCF. O nmero indica qual dos dois Senados do TCF prolatou
a deciso e a letra indica o tipo de processo.
a. F. alte Fassung Redao anterior (revogada)
AFG Arbeitsfrderungsgesetz Lei de fomento ao trabalho
AFP Archiv fr Presserecht Arquivo do Direito de Imprensa (Revista Jurdica)
AktG Aktiengesetz Lei das sociedades annimas
AR Archiv des ffentlichen Rechts Revista Arquivo do Direito Pblico
ApothekenG Apothekengesetz Lei para o setor farmacutico
Ass. Assinatura
AsylVfG / AsylVG Gesetz ber das Asylverfahren (Asylverfahrensgesetz) - Lei do processo
de asilo
AtomG / AtG Gesetz ber die friedliche Verwendung der Kernenergie und den
Schutz gegen ihre Gefahren (Atomgesetz) Lei do uso pacfico
da energia nuclear e proteo contra seus riscos
AuslG Gesetz ber die Einreise und den Aufenthalt von Auslndern im
Bundesgebiet (Auslndergesetz) Lei da entrada e permanncia de
estrangeiros no territrio federal (Lei de estrangeiros)
BAG Bundesarbeitsgericht Tribunal Federal do Trabalho
Bay VfGH Bayerischer Verfassungsgerichtshof Tribunal Constitucional da Baviera
BayApothekenG Bayerisches Apothekengesetz-Lei do setor farmacutico da
Baviera de 16 de junho de 1952
BayObLG Bayerisches Oberstes Landesgericht Supremo Tribunal Estadual da
Baviera
BBG Bundesbeamtengesetz Lei dos servidores pblicos federais
BEG Bundesgesetz zur Entschdigung fr Opfer der nationalsozialistischen
Verfolgung (Bundesentschdigungsgesetz) Lei federal para a
indenizao de vtimas da perseguio nacional-socialista
BetrVG Betriebsverfassungsgesetz Lei de constituio da empresa.
BFH Bundesfinanzhof Tribunal Financeiro Federal
BGB Brgerliches Gesetzbuch Cdigo Civil
BGBl Bundesgesetzbltter Dirio (oficial) das Leis Federais
BGH Bundesgerichtshof Tribunal Federal
ABREVIATURAS
99999
BGH NJW Jurisprudncia do Tribunal Federal publicada na NJW ( NJW)
BGHSt Entscheidungen des Bundesgerichtshofs in Strafsachen Decises do
Tribunal Federal em matria criminal
BGHZ Entscheidungen des Bundesgerichtshofs in Zivilsachen Decises do
Tribunal Federal em matria civil
BNatSchG Gesetz ber Naturschutz und Landschaftspflege Lei de proteo da
natureza e cuidado da paisagem
BRDrucks. Bundesratdrucksachen - Registro das discusses parlamentares/anais
dos trabalhos legislativos do Bundesrat (Conselho Federal Senado)
BSHG Bundessozialhilfegesetz Lei da ajuda social sederal
BstatG Gesetz ber die Statistik fr Bundeszwecke (Bundesstatistikgesetz)
Lei de estatstica para propsitos federais (Lei de estatstica federal)
BTDrucks Bundestagdrucksachen - Registro das discusses parlamentares/anais
dos trabalhos legislativos do Bundestag
BtMG Betubungsmittelgesetz Lei de entorpecentes
BVerfG Bundesverfassungsgericht - Tribunal Constitucional Federal
BVerfGE Entscheidungen des Bundesverfassungsgerichts, amtliche Sammlung
Decises do Tribunal Constitucional Federal, Coletnea Oficial
BVerwG Bundesverwaltungsgericht - Tribunal Administrativo Federal
BVerwGE Entscheidungen des Bundesverwaltungsgerichts, amtliche Sammlung
Decises do Tribunal Administrativo Federal, Coletnea Oficial
BVFG Gesetz ber die Angelegenheiten der Vertriebenen und Flchtlinge
(Bundesvertriebenengesetz) Lei dos interesses de desterrados e
refugiados
BWaldG Bundeswaldgesetz Lei florestal federal
c. c. Combinado com
CDU Christlich Demokratische Union Unio Democrtico-Crist (Partido
Poltico)
cf. Confira
CSU Christlich Soziale Union Unio Social-Crist (Partido Poltico)
DRiZ Deutsche Richterzeitung Jornal dos Juzes Alemes
DSchPflG Denkmalschutzpflegegesetz - Lei de proteo e manuteno do
patrimnio arquitetnico histrico e cultural de Rheinland-Pfalz
DVBl Deutsches Verwaltungsblatt Jornal da Administrao Alem
(Revista Jurdica)
e. V. eingetragener Verein Associao Registrada
ABREVIATURAS
1010101010
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
EinzelHG Einzelhandelsgesetz - Lei do setor econmico varejista
EMRK Europische Menschenrechtskonvention - Conveno para a proteo
dos direitos humanos e liberdades fundamentais (Conveno Europia
para os Direitos Humanos) de 4 de novembro de 1950
EStG Einkommensteuergesetz - Lei do imposto de renda
FDP Freie Demokratische Partei Partido Democrtico Livre
G 10 Gesetz zur Beschrnkung des Brief, Post- und Fernmeldegeheimnisses
(Gesetz zu Art. 10 Grundgesetz) Lei de limitao do sigilo de
correspondncia, postal e telefnico (Lei para o Art. 10 GG)
GewO Gewerbeordnung - Cdigo do Setor Industrial
GFK Genfer Flchtlingskonvention Conveno relativa ao status jurdico
dos refugiados (Conveno de Genebra sobre Refugiados), de 28 de
julho de 1951
GG Grundgesetz Lei Fundamental (Constituio da Repblica da
Alemanha)
GmbHG Gesetz betreffend die Gesellschaften mit beschrnkter Haftung
Lei das sociedades limitadas
GrdstVG Grundstckverkehrsgesetz - Lei de alienao imobiliria
GRUR Gewerblicher Rechtsschutz und Urheberrecht Direito da Proteo
Jurdica Industrial e Autoral
GVBl Gesetz- und Verordnungsblatt Dirio (Oficial) de Leis e Decretos.
GVG Gerichtsverfassungsgesetz Lei de organizao judiciria
HdwO Handwerkordnung - Cdigo de Regulamentao da Profisso do
Mestre de Ofcio
IRG Gesetz ber internationale Rechtshilfe in Strafsachen Lei da
cooperao jurdica internacional em matria criminal
JR Jahrbuch des ffentlichen Rechts der Gegenwart Anurio do Direito
Pblico (1 vol., 1907-25 vol., 1938)
JZ Juristenzeitung Jornal dos Juristas (revista jurdica quinzenal)
LMBG Gesetz ber den Verkehr mit Lebensmitteln, Tabakerzeugnissen,
kosmetischen Mitteln und sonstigen Bedarfsgegenstnden
(Lebensmittel- und Bedarfsgegenstndegesetz) Lei de trnsito de
alimentos, produtos tabagsticos, cosmticos e demais objetos de
necessidade
LVG Landesverwaltungsgericht Tribunal Estadual Administrativo
MitbestG Mitbestimmungsgesetz - Lei de co-gesto dos empregados na empresa
ABREVIATURAS
1111111111
n. F. Neue Fassung Nova Redao
NJW Neue Juristische Wochenschrift Nova Revista Semanal Jurdica
NStZ Neue Zeitschrift fr Strafrecht Nova Revista para o Direito Penal
NVwZ Neue Zeitschrift fr Verwaltungsrecht Nova Revista para o Direito
Administrativo
op. cit. Opere citato
OVG Oberverwaltungsgericht Superior Tribunal Administrativo
p. Pgina
p. ex. Por exemplo
PatG Patentgesetz Lei de Patentes
PBefG Personenbefrderungsgesetz Lei do transporte de pessoas de 21
de maro de 1961
RdA Recht der Arbeit Direito do Trabalho (revista jurdica)
RGZ Entscheidungen des Reichsgerichts in Zivilsachen Decises do Tribunal
do Reich em Matria Civil
RVO Rechtsverordnung Decreto
S. Seite(n), Satz pgina(s), perodo
SGB III Sozialgesetzbuch - Cdigo de Direito Social
SO Sachverstndigenordnung - Cdigo dos Peritos
SPD Sozialdemokratische Partei Deutschlands Partido Social-Democrata Alemo
StGB Strafgesetzbuch Cdigo Penal
StPO Strafprozessordnung - Cdigo de Processo Penal
StREG Gesetz ber die Entschdigung fr Strafverfolgungsmanahmen Lei
de indenizao para Medidas de Persecuo Penal
StVG Straenverkehrsgesetz Lei de trnsito virio
StVollZG Strafvollzugsgesetz Lei de execues penais
TCF Tribunal Constitucional Federal
UrhG Gesetz ber Urheberrecht und verwandte Schutzrechte
(Urheberrechtsgesetz) - Lei sobre o direito autoral e direitos de proteo
relacionados (lei do direito autoral)
VersG Versammlungsgesetz Lei de reunio
VersR Versicherungsrecht Direito da Seguridade
VGH Verwaltungsgerichtshof Tribunal Administrativo
VStG Vermgenssteuergesetz Lei do imposto sobre o patrimnio
VVDStRL Verffentlichungen der Vereinigung der Deutschen Staatsrechtslehrer
Publicaes da Associao dos Professores Alemes de Direito do Estado
ABREVIATURAS
1212121212
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
VwGO Verwaltungsgerichtsordnung-Cdigo Jurisdicional Administrativo
WHG Wasserhaushaltsgesetz - Lei de gesto de guas
WissR Wissenschaftsrecht, Wissenschaftsverwaltung, Wissenschaftsfrderung
- Zeitschrift fr Recht und Verwaltung der wissenschaftlichen
Hochschulen und der wissenschaftspflegenden und -frdernden
Organisationen und Stiftungen Direito da Cincia, Administrao
da Cincia, Fomento da Cincia Revista de Direito e Administrao
das Universidades e Organizaes e Fundaes de Fomento Cientfico
ZPO Zivilprozessordnung - Cdigo de Processo Civil
ZRP Zeitschrift fr Rechtspolitik Revista para Poltica Jurdica
ABREVIATURAS
1313131313
ABREVIATURAS .................................................................................. 7
PREFCIOJAN WOISCHNIK ....................................................................... 27
INTRODUO JURISPRUDNCIA DO TRIBUNAL CONSTITUCIONALFEDERAL ALEMO
LEONARDO MARTINS ................................................................ 33
1 Parte:
PRELIMINARES CONCEITUAIS E DOGMTICAS
1. Quanto interpretao ............................................................................ 129
2. Quanto ao exame da interpretao e aplicao
do direito ordinrio pelo Tribunal Constitucional Federal ........................... 141
3. Quanto aos efeitos da inconstitucionalidade de normas ............................ 151
4. Quanto ordem econmica constitucional ............................................... 155
5. Quanto eficcia dos direitos fundamentais em relaes
especiais de sujeio do titular autoridade investida
de poder pblico ..................................................................................... 161
6. Quanto titularidade de direitos fundamentais
por pessoas jurdicas (Art. 19 III GG) ........................................................ 169
Sumrio
SUMRIO
1414141414
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
2 Parte:
DIREITO CONSTITUCIONAL MATERIAL I
(Direitos Fundamentais Art. 1 19 GG)
7. Dignidade da pessoa humana (Art. 1 I GG) .............................................. 177
8. Livre desenvolvimento da personalidade (Art. 2 I GG) ............................... 187
9. Direto vida e incolumidade fsica,
liberdade da pessoa (Art. 2 II GG) ............................................................ 265
10. Mandamento de igualdade: igualdade
de aplicao da lei e por intermdio da lei (Art. 3 GG) ............................. 319
11. Liberdade de crena, conscincia e confessional;
Recusa da prestao do servio militar de guerra (Art. 4 GG) .................... 349
12. Liberdade de expresso do pensamento, de informao,
de imprensa, de radiodifuso e de cinematografia (Art. 5 I GG) ................ 379
13. Liberdade artstica (Art. 5 III GG) .............................................................. 495
14. Proteo do casamento e da famlia (Art. 6 GG) ....................................... 501
15. Direitos fundamentais escolares e liberdade
de estabelecimento escolar privado (Art. 7 GG) ........................................ 513
16. Liberdade de reunio (Art. 8 I GG) ........................................................... 523
17. Liberdade (geral) de associao e de criao
de associaes profissionais (Art. 9 GG) ................................................... 557
18. Sigilo da correspondncia, postal
e da comunicao telefnica (Art. 10 GG) ................................................ 589
19. Liberdade de locomoo (Art. 11 GG) ...................................................... 591
20. Liberdade profissional (Art. 12 GG) .......................................................... 593
21. Inviolabilidade do domiclio (Art. 13 GG) ................................................. 673
22. Garantia do instituto da propriedade privada e direito
fundamental propriedade (Art. 14 e 15 GG) .......................................... 719
23. Proteo contra a retirada da cidadania e extradio,
e direito ao asilo poltico (Art. 16 e 16a GG) ............................................ 781
24. Direito de petio (Art. 17 GG) ................................................................ 799
25. Garantia da via judicial (Art. 19 IV GG) .................................................... 801
SUMRIO
1515151515
3 Parte:
DIREITO CONSTITUCIONAL MATERIAL II
(Direito de Organizao do Estado)
26. Princpios constitucionais do Estado I: Ordem federativa (Art. 20 I GG) ...... 821
27. Princpios constitucionais do Estado II: Estado social (Art. 20 I GG) ............ 827
28. Princpios constitucionais do Estado III: Estado democrtico
(Art. 20 I e II GG) ..................................................................................... 837
29. Princpios constitucionais do Estado IV: Estado de direito
(Art. 20 II 2 e III GG) ................................................................................ 845
30. Direitos adquiridos do funcionalismo pblico (Art. 33 V GG) ..................... 875
4 Parte:
DIREITO CONSTITUCIONAL PROCESSUAL
E GARANTIAS PROCESSUAIS CONSTITUCIONAIS
31. Controle concreto da constitucionalidade das normas
(Art. 100 I GG) ........................................................................................ 893
32. Direito ao juiz legal (Art. 101 I 2 GG) ....................................................... 899
33. Extino da pena capital (Art. 102 GG) .................................................... 907
34. Direito ao contraditrio em processo judicial (Art. 103 I GG) ..................... 913
35. Nulla poena sine lege e proibio da retroatividade
das leis penais (Art. 103 II GG) ................................................................ 925
36. Ne bis in idem (Art. 103 III GG) ................................................................ 941
37. Garantias do preso (Art. 104 GG) ............................................................ 945
ANEXOS
I. Excertos da Grundgesetz (GG) e da Lei Orgnica do TCF (BVerfGG) ................ 953
II. Quadro sintico das Decises apresentadas .................................................... 977
1. Ordem dos assuntos e aplicao
dos dispositivos constitucionais ................................................................. 977
2. Ordem cronolgica ................................................................................. 982
III. Index Remissivo Conceitual ............................................................................. 987
IV. Bibliografia .................................................................................................... 991
SUMRIO
1616161616
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
SUMARIO
1717171717
ndice
ABREVIATURAS .................................................................................. 7
PREFCIOJAN WOISCHNIK ....................................................................... 27
INTRODUO JURISPRUDNCIA DO TRIBUNAL CONSTITUCIONALFEDERAL ALEMO
LEONARDO MARTINS ................................................................ 33
I. Para entender a responsabilidade e autoridade do Tribunal Constitucional
Federal Alemo no sistema concentrado do controle de constitucionalidade..... 35
II. Fundamentos processuais e organizacionais .................................................... 40
1. Da competncia ...................................................................................... 40
2. Da organizao e escolha dos juzes ........................................................ 41
3. Do processo ............................................................................................ 43
a) Objeto e parmetro de deciso nos processos de controlede constitucionalidade ....................................................................... 43
b) Processo de controle abstrato das normas(abstraktes Normenkontrollverfahren) .................................................. 45
c) Processo de controle concreto das normas(konkretes Normenkontrollverfahren) ................................................... 48
d) Processos de verificao e qualificao das normas(Normverifikationsverfahren / Normqualifikationsverfahren) ................. 55
NDICE
1818181818
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
e) Reclamao Constitucional (Verfassungsbeschwerde) .......................... 59
aa) Papel e alcance da Reclamao Constitucional ........................... 59
bb) Pressupostos, condies e procedimento
de admisso (Annahmeverfahren) ............................................... 60
cc) Problema da delimitao da extenso da competncia
do TCF no julgamento de Reclamaes Constitucionais
contra deciso judicial (Urteilsverfassungsbeschwerde) ................ 66
f) Processos contenciosos entre rgos constitucionais
(Organstreitverfahren) ........................................................................ 68
g) Processos contenciosos federativos (Bund-Lnder-, Bund-Land-,
Zwischenlnder- und Binnenlnderstreitverfahren) ................................ 71
h) Processos de Defesa da Constituio: proibio de partido poltico,
destituio de direito fundamental, denncia contra o Presidente Federal
ou juiz de direito ............................................................................... 73
i) Demais procedimentos: Reclamao eleitoral e apresentao
de divergncia jurisprudencial ........................................................... 75
j) Procedimento da medida liminar (Einstweilige Anordnung) .................. 75
III. Direito constitucional material aplicvel ........................................................... 76
1. Direito de organizao estatal .................................................................. 77
2. Direitos fundamentais .............................................................................. 78
a) Teoria geral: conceito, funes, vnculo, eficcia, limites, etc. ........... 78
b) Sistema dos direitos fundamentais da Grundgesetz e sua
interpretao pelo TCF ...................................................................... 89
3. O problema da constitucionalizao do ordenamento jurdico .................. 95
IV. A deciso ....................................................................................................... 96
1. Estrutura .................................................................................................. 97
2. Variantes de dispositivo ............................................................................ 107
3. Efeitos ..................................................................................................... 113
a) Coisa julgada ................................................................................... 113
b) Vnculo de todos os rgos estatais ( 31 I BVerfGG) .......................... 117
c) Fora de lei ( 31 II BVerfGG) ............................................................ 124
BIBLIOGRAFIA ................................................................................... 125
NDICE
1919191919
1 Parte:
PRELIMINARES CONCEITUAIS E DOGMTICAS
1. Quanto interpretao .................................................................. 1291. BVerfGE 11, 126 (Nachkonstitutioneller Besttigungswille) ............... 130
2. BVerfGE 8, 28 (Besoldungsrecht) .................................................... 133
3. BVerfGE 40, 88 (Fhrerschein) ........................................................ 136
2. Quanto ao exame da interpretao e aplicao do direitoordinrio pelo Tribunal Constitucional Federal .................................... 141
4. BVerfGE 18, 85 (Spezifisches Verfassungsrecht) ............................... 142
5. BVerfGE 43, 130 (Flugblatt) ........................................................... 145
3. Quanto aos efeitos da inconstitucionalidade de normas ............. 1516. BVerfGE 1 , 14 (Sdweststaat) ......................................................... 152
7. BVerfGE 21, 12 (Allphasenumsatzsteuer) ......................................... 153
4. Quanto ordem econmica constitucional .................................... 1558. BVerfGE 50, 290 (Mitbestimmungsgesetz) ....................................... 156
5. Quanto eficcia dos direitos fundamentais em relaes especiaisde sujeio do titular autoridade investida de poder pblico . 1619. BVerfGE 33, 1 (Strafgefangene) ...................................................... 162
6. Quanto titularidade de direitos fundamentais por pessoas jurdicas(Art. 19 III GG) .................................................................................. 16910. BVerfGE 21, 362 (Sozialversicherungstrger) ................................... 170
11. BVerfGE 31, 314 (2. Rundfunkentscheidung) ................................... 173
2 Parte:
DIREITO CONSTITUCIONAL MATERIAL I
(Direitos Fundamentais Art. 1 19 GG)
7. Dignidade da pessoa humana (Art. 1 I GG) .................................. 17712. BVerfGE 30, 1 (Abhrurteil) ............................................................ 179
13. BVerfGE 45, 187 (Lebenslange Freiheitsstrafe) ................................. 182
8. Livre desenvolvimento da personalidade (Art. 2 I GG) ................ 18714. BVerfGE 6, 32 (Elfes) ...................................................................... 190
NDICE
2020202020
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
15. BVerfGE 34, 238 (Tonband) ............................................................ 195
16. BVerfGE 99, 185 (Scientology) ........................................................ 198
17. BVerfGE 96, 56 (Vaterschaftsauskunft) ............................................ 207
18. BVerfGE 27, 1 (Mikrozensus) .......................................................... 215
19. BVerfGE 80, 137 (Reiten im Walde) ................................................. 218
20. BVerfGE 65, 1 (Volkszhlung) ......................................................... 233
21. BVerfGE 38, 281 (Arbeitnehmerkammern) ...................................... 245
22. BVerfGE 90, 145 (Cannabis) .......................................................... 248
9. Direito vida e incolumidade fsica, liberdade da pessoa(Art. 2 II GG) ..................................................................................... 26523. BVerfGE 39, 1 (Schwangerschaftsabbruch I) .................................... 266
24. BVerfGE 88, 203 (Schwangerschaftsabbruch II) ............................... 273
25. BVerfGE 16, 194 (Liquorentnahme) ................................................ 294
26. BVerfGE 52, 214 (Vollstreckungsschutz) ........................................... 296
27. BVerfGE 53, 30 (Mlheim-Krlich) .................................................. 299
28. BVerfGE 77, 170 (Lagerung chemischer Waffen) ............................. 307
29. BVerfGE 19, 342 (Wencker) ............................................................ 309
30. BVerfGE 20, 45 (Kommando 1005) ................................................ 315
10. Mandamento de igualdade: Igualdade de aplicao da leie por intermdio da lei (Art. 3 GG) ................................................ 31931. BVerfGE 26, 302 (Einkommensteuergesetz) ..................................... 321
32. BVerfGE 10, 234 (Platow-Amnestie) ................................................ 323
33. BVerfGE 9, 338 (Hebammenaltersgrenze) ....................................... 325
34. BVerfGE 39, 196 (Beamtenpension) ................................................ 329
35. BVerfGE 48, 327 (Familiennamen) .................................................. 332
36. BVerfGE 84, 9 (Ehenamen) ............................................................. 335
37. BVerfGE 52, 369 (Hausarbeitstag) .................................................. 336
38. BVerfGE 39, 334 (Extremistenbeschluss) .......................................... 340
39. BVerfGE 8, 28 (Besoldungsrecht) .................................................... 344
11. Liberdade de crena, conscincia e confessional;recusa da prestao do servio militar de guerra (Art. 4 GG) .... 34940. BVerfGE 32, 98 (Gesundbeter) ....................................................... 349
41. BVerfGE 24, 236 (Aktion Rumpelkammer) ....................................... 355
42. BVerfGE 33, 23 (Eidesverweigerung aus Glaubensgrnden) ............ 359
43. BVerfGE 93, 1 (Kruzifix) .................................................................. 366
NDICE
2121212121
12. Liberdade de expresso do pensamento, de informao, de imprensa,de radiodifuso e de cinematografia (Art. 5 I GG) ....................... 37944. BVerfGE 7, 198 (Lth-Urteil) ........................................................... 381
45. BVerfGE 12, 113 (Schmid-Spiegel) .................................................. 395
46. BVerfGE 25, 256 (Blinkfer) ............................................................ 400
47. BVerfGE 44, 197 (Solidarittsadresse) ............................................. 409
48. BVerfGE 93, 266 (Soldaten sind Mrder) ..................................... 414
49. BVerfGE 90, 27 (Parabolantenne) ................................................... 427
50. BVerfGE 20, 162 (Spiegel-Urteil) ..................................................... 438
51. BVerfGE 102, 347 (Benetton / Schockwerbung) ............................... 451
52. BVerfGE 52, 283 (Tendenzbetrieb) .................................................. 461
53. BVerfGE 12, 205 (1. Rundfunkentscheidung) ................................... 471
54. BVerfGE 57, 295 (3. Rundfunkentscheidung) ................................... 475
55. BVerfGE 73, 118 (4. Rundfunkentscheidung) ................................... 484
56. BVerfGE 35, 202 (Lebach) .............................................................. 486
13. Liberdade artstica (Art. 5 III GG) .................................................. 49557. BVerfGE 30, 173 (Mephisto) ........................................................... 495
14. Proteo do casamento e da famlia (Art. 6 GG) .......................... 50158. BVerfGE 6, 55 (Steuersplitting) ........................................................ 502
59. BVerfGE 47, 46 (Sexualkundeunterricht) .......................................... 505
15. Direitos fundamentais escolares e liberdade de estabelecimentoescolar privado (Art. 7 GG) ............................................................. 51360. BVerfGE 52, 223 (Schulgebet) ........................................................ 514
16. Liberdade de reunio (Art. 8 I GG) ................................................ 52361. BVerfGE 69, 315 (Brokdorf) ............................................................ 523
62. BVerfGE 92, 1 (Sitzblockaden II) ..................................................... 543
63. BVerfGE 85, 69 (Eilversammlung) ................................................... 552
17. Liberdade (geral) de associao e de criao de associaesprofissionais (Art. 9 GG) .................................................................. 55764. BVerfGE 19, 303 (Dortmunder Hauptbahnhof) ................................ 557
65. BVerfGE 42, 133 (Wahlwerbung) .................................................... 563
66. BVerfGE 28, 295 (Mitgliederwerbung I) ........................................... 566
67. BVerfGE 50, 290 (Mitbestimmungsgesetz) ....................................... 567
68. BVerfGE 84, 212 (Aussperrung) ...................................................... 574
69. BVerfGE 92, 365 (Kurzarbeitergeld) ................................................ 582
NDICE
2222222222
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
18. Sigilo da correspondncia, postale da comunicao telefnica (Art. 10 GG) ..................................... 589
19. Liberdade de locomoo (Art. 11 GG) ........................................... 591
20. Liberdade profissional (Art. 12 GG) ............................................... 59370. BVerfGE 7, 377 (Apothekenurteil) ................................................... 593
71. BVerfGE 41, 378 (Rechtsberatungsgesetz) ....................................... 616
72. BVerfGE 39, 210 (Mhlenstrukturgesetz) ......................................... 618
73. BVerfGE 11, 30 (Kassenarzt-Urteil) .................................................. 620
74. BVerfGE 13, 97 (Handwerksordnung) ............................................. 623
75. BVerfGE 19, 330 (Sachkundenachweis) ........................................... 633
76. BVerfGE 86, 28 (Sachverstndigenbestellung) ................................. 638
77. BVerfGE 53, 135 (Puffreisschokolade) ............................................. 646
78. BVerfGE 95, 173 (Tabakwarnhinweise) ............................................ 649
79. BVerfGE 33, 303 (Numerus Clausus) .............................................. 656
80. BVerfGE 98, 169 (Arbeitspflicht) ...................................................... 667
21. Inviolabilidade do domiclio (Art. 13 GG) ...................................... 67381. BVerfGE 32, 54 (Betriebsbetretungsrecht) ........................................ 676
82. BVerfGE 51, 97 (Zwangsvollstreckung I) .......................................... 683
83. BVerfGE 109, 279 (Lauschangriff) .................................................. 688
22. Garantia do instituto da propriedade privadae direito fundamental propriedade (Art. 14 e 15 GG) .............. 71984. BVerfGE 38, 348 (Zweckentfremdung von Wohnraum) .................... 721
85. BVerfGE 14, 263 (Feldmhle-Urteil) ................................................ 725
86. BVerfGE 21, 73 (Grundstckverkehrsgesetz) .................................... 729
87. BVerfGE 25, 112 (Niederschsisches Gesetz) .................................. 734
88. BVerfGE 31, 229 (Schulbuchprivileg) .............................................. 738
89. BVerfGE 46, 325 (Zwangsversteigerung) ......................................... 743
90. BVerfGE 52, 1 (Kleingarten) ............................................................ 745
91. BVerfGE 58, 300 (Nassauskiesung) ................................................. 755
92. BVerfGE 68, 361 (Eigenbedarf I) ..................................................... 760
93. BVerfGE 100, 226 (Denkmalschutz) ................................................ 765
94. BVerfGE 93, 121 (Einheitswerte II) ................................................... 775
NDICE
2323232323
23. Proteo contra a retirada da cidadania e extradio,e direito ao asilo poltico (Art. 16 e 16a GG) ................................ 78195. BVerfGE 74, 51 (Nachfluchttatbestnde) ......................................... 783
96. BVerfGE 80, 315 (Tamilen) ............................................................. 787
97. BVerfGE 81, 142 (Terroristische Bettigung im Exil) ......................... 789
98. BVerfGE 94, 49 (Sichere Drittstaaten) .............................................. 793
24. Direito de petio (Art. 17 GG) ....................................................... 799
25. Garantia da via judicial (Art. 19 IV GG) ........................................ 80199. BVerfGE 10, 264 (Vorschuss fr Gerichtskosten) .............................. 801
100. BVerfGE 24, 33 (AKU-Urteil) ........................................................... 803
101. BVerfGE 35, 382 (Auslnderausweisung) ........................................ 805
102. BVerfGE 37, 150 (Sofortiger Strafvollzug) ........................................ 812
103. BVerfGE 84, 34 (Gerichtliche Prfungskontrolle) .............................. 813
3 Parte:
DIREITO CONSTITUCIONAL MATERIAL II
(Direito de Organizao do Estado)
26. Princpios constitucionais do Estado I:Ordem federativa (Art. 20 I GG) ....................................................... 821104. BVerfGE 12, 205 (1. Rundfunkentscheidung) ................................... 821
27. Princpios constitucionais do Estado II:Estado social (Art. 20 I GG) ............................................................. 827105. BVerfGE 40, 121 (Waisenrente II) .................................................... 827
106. BVerfGE 59, 231 (Freie Mitarbeiter) ................................................ 829
107. BVerfGE 100, 271 (Lohnabstandsklausel) ........................................ 831
28. Princpios constitucionais do Estado III:Estado democrtico (Art. 20 I e II GG) ........................................... 837108. BVerfGE 44, 125 (ffentlichkeitsarbeit) ........................................... 837
NDICE
2424242424
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
29. Princpios constitucionais do Estado IV:Estado de direito (Art. 20 II 2 e III GG) .......................................... 845109. BVerfGE 8, 274 (Preisgesetz) ........................................................... 845
110. BVerfGE 9, 137 (Einfuhrgenehmigung) ........................................... 848
111. BVerfGE 17, 306 (Mitfahrzentrale) .................................................. 852
112. BVerfGE 48, 210 (Auslndische Einknfte) ...................................... 855
113. BVerfGE 49, 89 (Kalkar I) ............................................................... 859
114. BVerfGE 34, 269 (Soraya) .............................................................. 865
115. BVerfGE 30, 367 (Bundesentschdigungsgesetz) ............................. 869
30. Direitos adquiridos do funcionalismopblico (Art. 33 V GG) ..................................................................... 875116. BVerfGE 8, 1 (Teuerungszulage) ...................................................... 875
117. BVerfGE 44, 249 (Alimentationsprinzip) .......................................... 880
118. BVerfGE 39, 334 (Extremistenbeschluss) .......................................... 885
4 Parte:
DIREITO CONSTITUCIONAL PROCESSUAL
E GARANTIAS PROCESSUAIS CONSTITUCIONAIS
31. Controle concreto da constitucionalidade das normas(Art. 100 I GG) .................................................................................. 893119. BVerfGE 1, 184 (Normenkontrolle I) ............................................... 893
120. BVerfGE 2, 124 (Normenkontrolle II) ............................................... 897
32. Direito ao juiz legal (Art. 101 I 2 GG) ............................................ 899121. BVerfGE 4, 412 (Gesetzlicher Richter) .............................................. 899
122. BVerfGE 42, 237 (Vorlagepflicht) .................................................... 903
33. Extino da pena capital (Art. 102 GG) ......................................... 907123. BVerfGE 18, 112 (Auslieferung I) .................................................... 907
34. Direito ao contraditrio em processojudicial (Art. 103 I GG) .................................................................... 913124. BVerfGE 9, 89 (Gehr bei Haftbefehl) ............................................. 913
125. BVerfGE 41, 246 (Baader-Meinhof) ................................................. 917
126. BVerfGE 25, 158 (Rechtliches Gehr bei Versumnisurteilen) ........... 920
NDICE
2525252525NDICE
35. Nulla poena sine lege e proibio da retroatividade das leis penais(Art. 103 II GG) ................................................................................ 925127. BVerfGE 14, 174 (Gesetzgebundenheit im Strafrecht) ...................... 925
128. BVerfGE 32, 346 (Strafbestimmungen in Gemeindesatzungen) ........ 929
129. BVerfGE 26, 41 (Grober Unfug) ...................................................... 931
130. BVerfGE 25, 269 (Verfolgungsverjhrung) ....................................... 934
36. Ne bis in idem (Art. 103 III GG) ...................................................... 941131. BVerfGE 23, 191 (Dienstflucht) ....................................................... 941
37. Garantias do preso (Art. 104 GG) .................................................. 945132. BVerfGE 10, 302 (Vormundschaft) .................................................. 945
ANEXOS ............................................................................................. 951
I. Excertos da Grundgesetz (GG) e da Lei Orgnica do TCF (BVerfGG) ................ 953
II. Quadro sintico das Decises apresentadas .................................................... 977
1. Ordem de assuntos e aplicao dos dispositivos constitucionais ................ 977
2. Ordem cronolgica ................................................................................. 982
III. Index Remissivo Conceitual ............................................................................. 987
IV. Bibliografa .................................................................................................... 991
2626262626
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
2727272727
A idia deste livro surgiu de inmeras conversas que mantive, como Diretor do
Programa Estado de Direito da Fundao Konrad Adenauer, com juzes e professores de
diferentes pases sul-americanos, que enfatizaram o quanto seria importante dispor de
uma coletnea das principais decises do Tribunal Constitucional Federal alemo. Custou-
me acreditar que ainda no existia uma traduo deste tipo.
As sentenas aqui traduzidas e publicadas foram colhidas no livro Entscheidungen
des Bundesverfassungsgerichts (Decises do Tribunal Constitucional Federal), de autoria
do constitucionalista hamburgus Prof. Dr. Jrgen Schwabe, que professor efetivo da
Universidade de Hamburgo desde 1979. Trata-se de uma compilao dos trechos mais
importantes das principais sentenas proferidas por este tribunal nos ltimos 50 anos.
Seu trabalho no somente de leitura obrigatria nas faculdades de direito da Alemanha
como se encontra invariavelmente em toda boa biblioteca jurdica. Schwabe limita-se s
mais importantes das mais ou menos 116.000 sentenas e decises do Tribunal
Constitucional Federal existentes at agora, oferecendo, assim, um instrumento
irrenuncivel a quem pretende situar-se na intensa produo jurisprudencial do Tribunal
Constitucional Federal alemo. O Professor Leonardo Martins, da Universidade Federal
do Mato Grosso do sul (UFMS), organizou a presente obra, acrescentando coletnea
original do Professor Jrgen Schwabe, alm de algumas decises e demais excertos por
aquele no contemplados, um captulo bastante minucioso de introduo aos aspectos
jurdico-processuais e jurdico-materiais da jurisprudncia do Tribunal Constitucional
Federal, snteses da respectiva matria das 132 decises por ele trabalhadas, notas de
Prefcio
PREFCIO
2828282828
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
introduo a vrios captulos e notas explicativas de diversos excertos, alm de ampla
referncia doutrinria e sistematizao da jurisprudncia. Para a traduo, formou uma
equipe composta por ele e por Beatriz Henning, Mariana Bigelli de Carvalho, Tereza
Maria de Castro e Vivianne Geraldes Ferreira.
Por ocasio do qinquagsimo aniversrio do Tribunal Constitucional Federal, a
publicao tem por objeto facilitar o trabalho de juzes federais, magistrados da Justia
comum e funcionrios do Poder Judicirio, professores de direito, pesquisadores e
estudantes do Brasil, graas ao acesso s decises desse compndio, j que, como observei,
elas so citadas de modo recorrente, embora ainda no exista uma traduo completa
para a lngua portuguesa.
Indubitavelmente, a jurisprudncia alem no pode ser aplicada em uma relao
1:1 nos ordenamentos jurdicos dos pases latino-americanos. Neste diapaso, deve-se
ter cuidado ao verter para uma lngua estrangeira certos pronunciamentos de um tribunal
alemo sem conhecer muito bem o contexto especfico em que a sentena foi proferida.
No obstante, acredito que, em muitas ocasies, a jurisprudncia alem, com sua
profundidade dogmtica e sua riqueza de detalhes, possa constituir ao menos um auxlio
na interpretao das normas constitucionais estrangeiras.
Nossas constituies baseiam-se, em grande medida, nos mesmos princpios, e
garantem os mesmos direitos; em alguns casos, at no seu teor so idnticas. Isto porque
as constituies latino-americanas foram, de modo geral, concebidas consoante o modelo
das constituies europias e norte-americana. Entretanto, na realizao dos direitos
fundamentais no foi atingido em todos os lugares idntico padro. O traslado das
liberdades e direitos garantidos para a realidade social requer uma instituio independente,
cuja funo seja a de vigiar esse processo. Enquanto o Tribunal Constitucional Federal
alemo teve 50 anos para desenvolver sua jurisprudncia constitucional, nos pases latino-
americanos os tribunais constitucionais e as salas constitucionais so criaes relativamente
recentes ou ainda por realizar-se.
A funo da jurisdio constitucional no apenas a de exercer interveno restritiva
e reguladora, mas de vincular os direitos fundamentais ao permanente processo de
transformao social. Devido ao crescente nmero de inovaes tcnicas e cientficas,
afloram sempre inditas, e at ento inimaginveis, questes ticas. Aqui se assinala que
a funo de um defensor da constituio, institucionalizado por meio do Estado, , antes
de mais nada, a de interpretao. Tenta-se analisar luz da Constituio os novos
desenvolvimentos e integrar as concepes existentes aos novos processos sociais. Em
2929292929
forma breve: os artigos constitucionais formulados concisamente requerem uma
concretizao. Na Alemanha, esta funo tem sido cumprida de forma decisiva pelo
Tribunal Constitucional Federal com sede em Karlsruhe (Baden-Wrttemberg),
reconhecido hodiernamente como verdadeiro defensor da Constituio. Em seus mais
de cinqenta anos de existncia, essa instituio tornou-se, em solo alemo, o fundamento
bsico de uma democracia e de um Estado de Direito estveis.
A que circunstncias se deve, ento, que o Tribunal Constitucional Federal alemo
cumpra este importante papel? Eu diria que, primeiramente, hierarquia de sua posio
no Estado e, em seguida, sua organizao e estrutura. Segundo a Lei Fundamental, isto
, a Constituio alem, o Tribunal Constitucional Federal um rgo constitucional
(Verfassungsorgan) equiparado ao governo federal, ao parlamento federal, cmara federal
dos Estados ou ao presidente federal. Os juzes constitucionais tm a ltima palavra em
todas as questes concernentes interpretao da Lei Fundamental. Decidem com fora
constitucional como se deve responder a uma questo constitucional em caso de opinies
divergentes e de conflitos de competncia entre os rgos constitucionais. Nesta medida,
o Tribunal Constitucional Federal, como rgo mximo de soluo de controvrsias,
encontra-se acima de todas as instncias estatais. Dispe de poder de controle
constitucional ilimitado perante os trs rgos do poder estatal. Suas decises vinculam
os trs poderes, so inimpugnveis e possuem, nos casos particulares, fora de lei objetiva.
A organizao do Tribunal de todo compatvel com essa posio. Compe-se de
duas salas, cada uma com oito juzes. Estes so escolhidos pelo parlamento federal e pela
cmara federal dos Estados por maioria de dois teros, para um perodo de doze anos,
excluda a possibilidade de reeleio. Em matria administrativa, o Tribunal Constitucional
Federal no est submetido superviso de um ministrio, mas se auto-administra e
decide sobre o montante de seu oramento, que inserido no oramento nacional. Est
separado em todos os aspectos dos demais rgos constitucionais; tem os mesmos direitos
que eles e dispe de independncia constitucional ilimitada. Somente como rgo
constitucional autnomo, formal e institucionalmente, possvel que o Tribunal
Constitucional Federal possa zelar pela conservao e pelo respeito do ordenamento
constitucional alemo pelos outros poderes estatais, especialmente o legislativo.
A funo do Tribunal Constitucional a concretizao da Constituio por meio
de sua interpretao. Deste modo, sua tarefa desenvolvida, zno apenas no campo do
conhecimento do direito, mas tambm no da criao. Da decorre que no centro de sua
jurisprudncia se encontre a proteo dos direitos fundamentais. O Tribunal determina
PREFCIO
3030303030
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
as diferentes funes de um direito fundamental, e d sempre prevalncia quela
interpretao que expressa com maior vigor a efetividade jurdica da norma respectiva.
O Tribunal Constitucional Federal tem entendido e estruturado os direitos
fundamentais, no apenas como um direito de defesa subjetivo determinado do cidado
perante o poder pblico, mas tambm como uma ordem objetiva de valores. Esta ordem
reconhece a proteo da liberdade e da dignidade humanas como o fim supremo do direito,
e permeia jurdica e objetivamente a totalidade do ordenamento legal. Da que o Tribunal
Constitucional Federal no somente tenha interpretado, estruturado e ocasionalmente
ampliado os direitos fundamentais em sua forma individual, mas tambm estruturado a
totalidade do sistema de direitos fundamentais em um complexo fechado de valores e garantias.
Todas as instituies estatais esto obrigadas a respeitar a Lei Fundamental alem.
Em caso de controvrsia, pode-se recorrer ao Tribunal Constitucional Federal. Cabe a
este, juntamente com a soluo das controvrsias de carter legal e organizacional,
sobretudo a proteo constitucional do cidado.
Toda pessoa que sentir que seus direitos fundamentais foram violados pelo poder
pblico pode interpor uma Reclamao Constitucional. Este pode ser dirigido contra a medida
de uma autoridade, contra uma sentena de um tribunal ou contra uma lei. Todavia, nem
todas as peties elevadas anualmente cerca de 5.000, em mdia so recebidas para a
deciso dos juzes constitucionais. pressuposto de sua admissibilidade que a petio traga
implcito um significado constitucional fundamental, quer porque a violao do direito
fundamental invocada tenha peso significativo, quer porque o recorrente se veja ameaado
por prejuzos expressivos. Estes quesitos s foram cumpridos, at o momento, por 2,5% das
peties. Em minha opinio, a fortaleza e o reconhecimento do Tribunal Constitucional
Federal baseiam-se tambm no fato de que no se pronuncia sobre qualquer petio mas, ao
contrrio, mantm uma seleo bastante criteriosa.
preciso diferenciar a deciso sobre a aceitao da petio, da admissibilidade da
Reclamao Constitucional. Esta representa o segundo obstculo antes que o juiz
constitucional se ocupe diretamente do assunto. A Reclamao Constitucional geralmente
admissvel somente depois de o recorrente ter recorrido aos tribunais competentes sem
qualquer sucesso. Deve ser impetrado por escrito e estar fundamentado. No se requer
procurador judicial. As custas processuais so suportadas pelo Estado.
Os efeitos polticos do Tribunal Constitucional Federal se tornam evidentes quando
se declara a inconstitucionalidade de uma lei, decidem-se os conflitos de competncia
entre o executivo e o legislativo, ou se dissolve um partido poltico inconstitucional (o
3131313131
que tem ocorrido muito raramente nos ltimos 50 anos). Mas tambm a tarefa
interpretativa do juiz constitucional influi inevitavelmente na esfera poltica. A respeito,
pergunta-se qual a legitimidade do tribunal na vida do ordenamento poltico e, portanto,
para intervir, regulando a tarefa do legislador democrtico.
A competncia do tribunal se esclarece na prpria idia do sistema constitucional
alemo, fundado na absoluta prevalncia da Constituio. O juiz constitucional est
afastado da luta poltica diria. Sua independncia, garantida pessoal e materialmente na
Lei Fundamental, oferece-lhe garantias e o torna imune perante os processos polticos, a
respeito dos quais tem o direito de se pronunciar. Na Alemanha, a deciso a respeito da
realizao tima do bem comum se mantm sempre como tema poltico.
Por outra parte, uma instituio que est dotada de competncia to ampla deve
sempre levar em conta os limites do prprio poder de deciso. O princpio da separao
de poderes requer moderao no uso do poder. Neste sentido, o Tribunal est pensado
com base na autolimitao judiciria e no respeito aos demais rgos constitucionais.
Segundo as peculiaridades do campo temtico, as possibilidades de conhecimento e a
importncia do respectivo bem jurdico exigem reserva. Isto vlido especialmente no
caso de decises prognsticas, de decises sobre a condio necessria e no caso do controle
de atos do legislativo e do executivo no mbito da poltica externa e econmica. Alm
disso, o Tribunal no pode intervir por iniciativa prpria, mas somente sob petio.
Desta forma, est limitado reao e ao controle.
Devo especial agradecimento ao Prof. Dr. Jrgen Schwabe, que generosamente
permitiu ao Programa Estado de Direito da Fundao Konrad Adenauer a traduo de seu
trabalho para o portugus para que fosse acessvel aos leitores brasileiros. Por seu trabalho
de organizao agradeo ao Professor Leonardo Martins; pela traduo sua competente
equipe composta por ele e por Beatriz Hennig, Mariana Bigelli de Carvalho, Tereza
Maria de Castro e Vivianne Geraldes Ferreira. Espero que a coletnea que estou
apresentando seja til.
Dr. iur. JAN WOISCHNIK
Diretor do Programa Estado de Direito
para a Amrica do Sul
Fundacin Konrad Adenauer
Montevideo, Uruguay
PREFCIO
3333333333
INTRODUO JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
A presente coletnea, em lngua portuguesa, de decises do Tribunal Constitucional
Federal Alemo tem por escopo, no somente apresentar ao leitor lusfono a jurisprudncia
constitucional alem, como tambm seus pressupostos jurdico-dogmticos. Tais
pressupostos se devem prpria atividade intensa do tribunal, que serve hoje, na Alemanha,
sem dvida, de fonte primria da cincia jurdico-constitucional dogmtica.
Assim, o captulo de introduo, de autoria do organizador, procura introduzir o
leitor nos pressupostos processuais e materiais da jurisprudncia desse tribunal
constitucional. Para tanto, desiste da adaptao de figuras processuais processualstica
brasileira ou lusfona, mesmo porque no raro no h correspondncias, sobretudo entre
o sistema processual constitucional brasileiro e o alemo.
A escolha das decises se baseou, em grande parte, na coletnea de Jrgen Schwabe,
em sua 7 edio, publicada em 2000. Porm, algumas alteraes foram perpetradas,
como principalmente o acrscimo de algumas decises novas e de poucas outras no
contempladas por aquele autor. So 132 decises distribudas em 4 partes e 37 captulos.
Cada deciso se inicia com uma sntese da matria, redigida pelo organizador e de sua
responsabilidade, que rene as informaes relevantes sobre o processo originrio, o tipo
de processo, a sntese das razes de sua admisso ou no e do julgamento de seu mrito.
Os captulos da 1 Parte, que trata de preliminares conceituais e dogmticas, comeam
com uma pequena introduo, que tambm da redao e responsabilidade do
organizador. Ao cabo de alguns captulos da parte especial, foram trazidas referncias
bibliogrficas da literatura especializada, sobretudo da literatura alem e do restante da
Preliminares:Sobre o propsito, mtodos e estruturada obra e agradecimentos
Prof. Dr. iur. Leonardo Martins, LL.M.Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)
Introduo Jurisprudncia do TribunalConstitucional Federal Alemo
PRELIMINARES: SOBRE O PROPSITO, MTODOS E ESTRUTURA DA OBRA ...
3434343434
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
jurisprudncia do TCF sobre o dispositivo constitucional apresentado no respectivo
captulo.
Procurou-se, em todas as tradues dos excertos selecionados, deixar clara ao leitor
a estrutura da respectiva deciso, caracterizando-se as partes no reproduzidas com (...),
que designa parte de um pargrafo, um pargrafo completo, e, s vezes, vrios pargrafos,
no caso do texto excludo seguir at o fim do respectivo sub-tpico. Quando se trata de
excluso de todo um subtpico, isso foi caracterizado com a letra ou cifra relativa parte
do texto excluda, seguida igualmente de (...). Note-se que se seguiu aproximadamente
a lgica de uma rvore de diretrios, usada na informtica: se o/s excerto/s excludo/s
corresponde/m a um tpico hierarquicamente superior (normalmente: A., I.), ento (...)
designa todo/s o/s tpico/s superior/es, no contemplando os tpicos inferiores. Quanto
mais o/s excerto/s utilizado/s fizer/em parte de um subtpico que seja cada vez especfico
(normalmente: 1., a), aa), (1), (a) etc.), mais especfica tambm se torna a demonstrao
do/s sub-tpico/s excludo/s: ex.: aa) cc) (...). Com isso, o leitor no s pode
compreender a estrutura da deciso, como tambm tem uma idia bastante concreta de
sua extenso e se familiariza com o modus operandi do TCF. Em geral, as estruturas das
decises so bastante coerentes, recebendo to somente em casos isolados crticas da
literatura especializada. A reproduo da estrutura foi perseguida com toda a conseqncia,
porque ela demonstra tambm a acuidade dogmtica do Tribunal Constitucional Federal
Alemo, que, neste mister, exemplar.
* * * *
Um outro propsito da obra fomentar o estudo do direito constitucional
alemo. Para tanto, a disposio para o aprendizado da lngua alem fundamental.
O leitor interessado entrar em contato, na presente obra, com os institutos em
lngua alem. A obra tem, nesse sentido, o propsito de despertar o interesse de
aprofundamento, a busca da confrontao autnoma com o original. Por isso tambm
o leitor encontrar alguns termos de cuja traduo o organizador desistiu, como
sobretudo Grundgesetz.
O texto das tradues foi acompanhado de notas de rodap, que procuram explicitar
alguns conceitos e sistematizar a compreenso do todo. Por isso, sero l encontradas
muitas referncias ao captulo de introduo. No mais, o texto procura, alm da j referida
no traduo de alguns termos, ser o mais fiel possvel ao original: todas as intervenes
INTRODUO
3535353535
INTRODUO JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
do organizador no texto original foram colocadas entre colchetes: [ ]. Textos entre
parnteses, ( ), fazem parte do original.
A designao de dispositivos legais e constitucionais seguiu tambm a sistemtica
alem, explicitada na nota preliminar s abreviaturas.
* * * *
O organizador agradece ao Programa Estado de Derecho para Sudamrica, da
Fundao Konrad Adenauer (Konrad Adenauer Stiftung), na pessoa de seu diretor, Dr.
Jan Woischnik, pelo convite para realizar essa obra e por t-la viabilizado financeira e
cordialmente. Agradeo, tambm, s competentes tradutoras, que apresentaram uma
primeira verso de boa parte da traduo e, em especial, a Vivianne Geraldes Ferreira e
Mariana Bigelli de Carvalho que, nas ltimas semanas, e apesar de seus muitos afazeres
acadmicos e profissionais, colaboraram com a leitura crtica de algumas snteses e decises
e com a composio de parte da lista de abreviaturas. Meu aluno da Universidade Federal
do Mato Grosso do Sul (UFMS), Fernando Gallina, foi bastante generoso ao prestar,
voluntariamente, consultoria no mbito da TI. A ele meu muito obrigado. Ao ex-
coordenador do curso de direito da UFMS, Prof. Luis Antonio Safraider, e atual
coordenadora, Prof. Dra. Ynes da Silva Flix, agradeo imensamente pela tolerncia em
face do meu pequeno engajamento em nossa faculdade, neste incio de semestre. Destarte,
eles muito colaboram, ainda que indiretamente. Finalmente, agradeo aos meus pais,
Luiz Luciano e Nair, minha querida Daniela Jaime Smith, e aos meus queridos amigos,
que me perdoaram a ausncia nestes ltimos meses. Ao meu grande e fiel amigo, Martin
Kader, advogado militante em Berlim, agradeo muito pelas muitas horas de discusso
sobre o direito comparado e a prxis processual alem.
I.PARA ENTENDER A RESPONSABILIDADE E AUTORIDADE DO TRIBUNAL
CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO NO SISTEMA CONCENTRADO DOCONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
ROMAN HERZOG, ex-presidente do Tribunal Constitucional Federal alemo (a
seguir: TCF) e depois Presidente da Repblica Federal da Alemanha, afirmou, no ano de
1993, que o direito constitucional alemo era constitudo, com a entrada em vigor da
PARA ENTENDER A RESPONSABILIDADE E AUTORIDADE DO TCF...
I
3636363636
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
Grundgesetz em 1949, por [seus] 146 artigos; hoje, 40 anos depois, ele constitui-se de
aproximadamente 15 a 16.000 pginas publicadas de decises jurisdicionais
constitucionais.
Direito constitucional formado por decises judiciais do tribunal constitucional?,
certamente se perguntar, perplexo, o leitor brasileiro. No seria, na Alemanha, assim
como no Brasil, a lei a fonte imediata do direito? Teriam os alemes adotado, depois da
entrada em vigor da Grundgesetz, o sistema de fontes caracterstico da common law?
A assero de ROMAN HERZOG s pode ser compreendida em sua plenitude quando
se conhece bem o sistema organizacional constitucional da Grundgesetz e sua interpretao
pelo TCF:
Em primeiro lugar, h de se ressaltar que, ao contrrio do que ocorre na tradio
brasileira, o sistema de controle de constitucionalidade concentrado, ou seja, da
competncia exclusiva do TCF realizar o controle vinculante, ainda que este seja ensejado
por um caso particular ou concreto (controle concreto). Isso significa que o juiz do feito
no poder ignorar ou denegar aplicao norma ainda no declarada inconstitucional
por entender que uma tal norma fere a Constituio, como ainda ocorre no direito
brasileiro, onde se adotou o assim denominado sistema difuso. Abaixo se ver que, na
Alemanha, todo juiz tem o dever de verificar a inconstitucionalidade da norma que
decide o caso, independentemente de provocao da parte processual interessada, mas
no lhe pode negar a aplicabilidade quando ainda no declarada inconstitucional pelo
tribunal que tem a competncia exclusiva para tanto, o TCF.
Em segundo lugar, ainda que a Grundgesetz tenha conferido ao TCF, em seu Art.
92, literalmente somente o status de tribunal, o prprio tribunal e a opinio dominante
na literatura especializada e no por ltimo a sua lei orgnica ( 1 I BVerfGG)
conferem-lhe a dignidade de rgo constitucional. idia de rgo constitucional
no est somente ligada idia de mais um rgo constitucional ao lado dos demais, mas
de um rgo sobreposto no que tange interpretao e aplicao de normas
constitucionais, alguns outorgando-lhe at mesmo o polmico status de intrprete
autntico da Grundgesetz1 .
1 Essa tese, defendida por BCKENFRDE (1999: 12 s.), que alm de reconhecido professor de direito pblico foi juizdo TCF, concede ao TCF quase um poder absoluto de conformao do direito constitucional e at de participao noprocesso constituinte (aperfeioamento do direito constitucional positivo!), sendo recusada mesmo entre aqueles adep-tos de um TCF forte em face do legislador. Cf. a respeito BENDA / KLEIN (2001: 542 et seq.). Essa tese tem, como boaparte do pensamento jus-filosfico de Bckenfrde, suas razes em Carl Schmitt. Cf. SCHMITT (1931: 45).
INTRODUO
3737373737
INTRODUO JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
O status de rgo constitucional em si resulta2 da interpretao sistemtica dos
dispositivos especficos da Grundgesetz e da Lei Orgnica do TCF (BVerfGG), quais
sejam: Art. 92 GG c.c. 1 I BVerfGG, que fazem a oposio do TCF em relao aos
demais rgos do Poder Judicirio (Art. 92 GG) e a todos os rgos constitucionais
( 1 I BVerfGG). Assim, o TCF no seria to somente independente em relao aos
demais rgos constitucionais (Presidncia Federal, Chanceler Federal, Cmara Federal
e Conselho Federal), como, de resto, todo tribunal , mas tambm teria autonomia para
decidir questes sobre a interpretao da Constituio em ltima instncia, como defensor
mximo da Constituio3 .
Em seu auto-entendimento, j firmado em 1952, o TCF seria, segundo o teor e
sentido da Grundgesetz e da Lei Orgnica do TCF, tambm um rgo constitucional,
municiado com a mais alta autoridade, chegando a um nvel muito diferente de todos os
demais tribunais e juzos4 . Apesar disso e do tom crtico ressoante na literatura
especializada, segundo o qual o tribunal pretenderia realizar sua transmutao de defensor
a senhor da Constituio5 , cuja interpretao constitucional teria fora vinculante, o
TCF continua sendo um tribunal para o qual valem todos os princpios constitucionais
processuais, como o da persuaso motivada, o da imparcialidade e o da inrcia da atividade
jurisdicional6 . Neste ponto, revelam-se, graas ao carter sui generis do TCF, problemas
quanto aos limites formais e principalmente materiais da coisa julgada7 . Fala-se, tambm
com tom crtico, que o TCF tem a pretenso de ser o senhor do processo8 , ou seja, de
2 HILLGRUBER / COOS (2004: 4).3 Idem.4 Essa passagem, bastante citada na literatura especializada, faz parte da Status-Denkschrift (uma espcie de paperpublicado pelo TCF, onde ele revela o referido auto-entendimento) e foi publicada na Revista Anurio de DireitoPblico: JR 6 (1957), p. 144 et seq. Cf. a respeito: BENDA / KLEIN (2001: 45 s.). Nela, foram elencadas algumasconseqncias, hoje unanimemente derivadas dos dispositivos legais e constitucionais aplicveis: Os membros do TCF(mais sobre eles abaixo) no seriam funcionrios pblicos; para eles no valem, portanto, nem as leis gerais do funcionalismo,nem todos os dispositivos da Lei dos Juzes Alemes; no se submetem ao Ministrio da Justia, sendo nomeados,promovidos e aposentados pelo presidente do TCF. O tribunal tem plena autonomia oramentria, podendo apresentarsuas pretenses diretamente ao parlamento, a despeito da previso oramentria do governo federal, etc.5 Crtica exarada com toda conseqncia sobretudo por HILLGRUBER / COOS (2004: 5 et seq.), mas tambm, entreoutros, por SCHLAICH/ KORIOTH (2004: 23 et seq.), com o sugestivo ttulo de tpico rgo constitucional: um ttulopara a superao dos limites da atividade jurisdicional? (ibid.).6 Alguns autores como SCHLAICH/ KORIOTH (2004: 21 et seq.), enfatizam-no. Outros, como Hberle e Ebsen (cf. todasas referncias em SCHLAICH/ KORIOTH (2004: 27 s.), preferem encarar o TCF como uma espcie de rgo regulador: oTCF se transformaria em um medium de auto-regulao social. Como bem notado por SCHLAICH/ KORIOTH (2004:28), essa interpretao pluralista (Haltern) da jurisdio constitucional desconhece e sobrecarrega a instituio TCF.Tambm a caracterizao como Quarto Poder (Doehring e Roellecke) deve ser recusada.7 Cf. BENDA / KLEIN (2001: 75 et seq., 537 et seq., 550 et seq.). Cf. tambm no presente texto, abaixo, sob IV. 3. a).8 HILLGRUBER / COOS (2004: 9 s.), citando expressamente BVerfGE 13, 54 (94); 36, 342 (357) e 60, 175 (213),onde a pretenso foi expressa com toda a clareza.
PARA ENTENDER A RESPONSABILIDADE E AUTORIDADE DO TCF...
I
3838383838
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
livre dispor, com base em seu regimento interno, dos diversos procedimentos. HILLGRUBER
e GOOS lembram que, desde a deciso publicada em BVerfGE 60, 175 (213), o TCF se
auto-intitula senhor do processo nos limites de vnculos legais9 . O problema seria que
o TCF avoca para si especificamente a competncia de fechar lacunas deixadas pelos
dispositivos processuais aplicveis da Grundgesetz, da Lei Orgnica (BVerfGG) e do seu
Regimento Interno (GeschO). Ao contrrio do que acontece com o direito administrativo
a partir do 173 VwGO, a ZPO [Cdigo de Processo Civil] no tem aplicao
subsidiria10 . Tal problema foi bastante intensificado com a tese da autonomia do direito
processual constitucional como um todo, ligada por Hberle aos seus conceitos de
Constituio como processo pblico, Constituio do pluralismo ou at de sociedade
aberta dos intrpretes constitucionais11 . Muito mais grave do que os eventuais problemas
processuais que possam surgir com essas lacunas, a questo do relacionamento do TCF
com o legislador. Antes de defini-lo, porm, h de se fixar, j nesse momento, que a um
tal arcabouo normativo e assuno generosa de competncias para a defesa da
Constituio, a despeito das crticas jurdicas e poltico-sociais que no cessam12 ,
corresponde uma autoridade13 , derivada de sua, em geral, clara e consistente
jurisprudncia. No raro foram os casos polmicos, alguns dos quais sero aqui
apresentados. No obstante, o TCF pronunciou-se at aqui sobre quase todos os problemas
hermenuticos que surgiram neste pouco mais de meio sculo de histria. E foi
principalmente ativo quando a instncia poltica parecia querer lavar as mos,
9 Ibid.10 Cf. a respeito: BENDA / KLEIN (2001: 75), que trabalham com o conceito de autonomia processual do TCF.11 Referncias em BENDA / KLEIN (2001: 78 s.).12 Cf., por exemplo, a imediata reao de parlamentares deciso sobre a execuo de mandado de priso europeu e aconseqente extradio negada pelo TCF em face do Art. 16 II GG. Cf. M. GEBAUER, Europischer Haftbefehl verstsstgegen das Grundgesetz, in: Spiegel Online, http://www.spiegel.de/panorama/0,1518,365623,00.html. Cf. a deciso 2BvR 2236/04 de 18/07/2005, publicada em http://www.bverfg.de/entscheidungen/rs20050718_2bvr223604.html(Europischer Haftbefehl)13 Vrios autores, incluindo os mais crticos, fazem questo de frisar essa autoridade, conquistada junto aos demaisrgos constitucionais, tribunais, cientistas do direito e, principalmente, aos cidados. Segundo os mais crticos, comoSCHLINK (1989: 161 et seq.), os professores de direito pblico se limitariam (o que segundo ele no se deveria saudar) acomentar e analisar as decises do TCF, prevendo tendncias. Para HILLGRUBER / COOS (2004: 19 s.), a autoridade sebaseia na dignidade do tribunal, conseguida graas sua distncia e carter sigiloso das sesses de julgamento (cf. abaixo:IV. 1.). SCHLAICH/ KORIOTH enxergam, pelo contrrio, algo bastante positivo nessa autoridade: fora normativa daConstituio e efetividade da proteo dos direitos fundamentais, uniformidade da jurisprudncia etc. Encerram, porm,sua obra intitulada justamente Bundesverfassungsgericht (TCF) citando (ibid., p. 384) a ex-presidente Jutta Limbach que,ao lado de render homenagens histria de sucesso do tribunal e destacar a relativamente grande confiana dos cidadosno TCF (popularidade bem acima dos demais rgos constitucionais), expressou a seguinte preocupao: No indica agrande e inabalvel confiana na jurisdio constitucional talvez uma desconfiana poltica em face da democracia?
INTRODUO
3939393939
INTRODUO JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
transferindo questes polticas incmodas ao crivo do controle de constitucionalidade,
antes mesmo de haver aperfeioado o momento eminentemente poltico da conformao
legislativa14 .
Assim, mesmo em um sistema parlamentarista de governo, como o alemo,
muito se fala no relacionamento entre o legislador e o TCF, no somente no sentido de
limitar o poder deste (de desconstituio do ato normativo) em face daquele, mas tambm
devido aludida transferncia problemtica do nus da deciso eminentemente poltica
para a esfera da competncia do tribunal, como forma de compensao de dficits de
decises parlamentares pelo TCF15 . Neste contexto, fala-se no risco do Estado
jurisdicional (Jurisdiktionsstaat)16 e da juridicizao da poltica (Verrechtlichung,
Juridifizierung oder Justizialisierung der Politik)17 , um problema tpico de uma sociedade
cujo sistema jurdico alcanou um tal grau de diferenciao (Ausdifferenzierung des
Rechtssystems) que a ameaa aqui a hipertrofia sufocante do sistema jurdico sobre o
sistema poltico e no o contrrio, como acontece em boa parte dos Estados
contemporneos, mesmo em Estados desenvolvidos.
A conseqncia talvez que o TCF tenha avocado, sim, muita responsabilidade
para si, invadindo a esfera do legislador de uma forma positiva, ou seja, no por meio do
tradicional instrumento da cassao, mas da criao de pautas positivas18 da atividade
legiferante. Nesse caso, o TCF eventualmente extrapola sua funo constitucional, ainda
que nem sempre por ato volitivo seu, mas, pelo contrrio, em face das mencionadas
expectativas formadas pela autoridade auferida nesse meio sculo de existncia.
14 o que ocorre quando nem a situao, nem a oposio querem assumir o nus poltico-eleitoral de uma mudanalegislativa impopular, mas necessria, como a legislao do direito de aposentadoria (cf. nota seguinte).15 Cf., entre outros, SCHLAICH / KORIOTH (2004: 379 s.). o que se observou nos ltimos anos, por exemplo, no casodo direito aposentadoria em face do controle baseado no parmetro do Art. 14 I GG.16 Um Estado onde os rumos sociais so definidos crucialmente pela instncia jurdica, devendo a instncia poltica selimitar a conformar aquilo que foi tradicionalmente, ou com base na autoridade moral (autoritativ), estabelecido pelainstncia jurdica.17 HILLGRUBER / COOS (2004: 18) vem a juridicizao da poltica fundada na aludida auto-desautorizao do legisla-tivo em face de decises polticas problemticas.18 Um caso extremo a segunda deciso sobre a constitucionalidade da criminalizao do aborto. Cf. BVerfGE 88,203 (Schwangerschaftsabbruch II) e abaixo: Deciso 24.
PARA ENTENDER A RESPONSABILIDADE E AUTORIDADE DO TCF...
I
4040404040
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
II.FUNDAMENTOS PROCESSUAIS E ORGANIZACIONAIS
1. Da competncia
A competncia do TCF est definida, em termos gerais, no Art. 93 GG, cujo
2 pargrafo (Art. 93 II GG) abriu a possibilidade do Tribunal Constitucional
Federal decidir, alm disso, em casos tambm a ele confiados por lei federal. Outros
dispositivos da Grundgesetz tambm definem competncias especficas de julgamento
(sobretudo: Art. 100 I, Art. 100 II e 21 II GG). O 13 BVerfGG, sistematizou, em
seus 15 nmeros, todos os procedimentos julgados pelo TCF, de tal sorte que os
procedimentos so citados, em regra, com a combinao, entre outros, dos
dispositivos dos Art. 21 II, 93, 100 I ou 100 II GG com um dos nmeros do 13
BVerfGG. Assim, dos dispositivos em pauta resulta a competncia do TCF,
principalmente, para os seguintes procedimentos:
Controle Abstrato das Normas (Art. 93 I, n 2 e 2a GG c.c. 13, n 6 e 6a
BVerfGG) [abstraktes Normkontrollverfahren]
Controle Concreto das Normas (Art. 100 I GG c.c. 13, n 11 BVerfGG)
[konkretes Normkontrollverfahren]
Verificao Normativa (Normverifikationsverfahren)
Reclamao Constitucional (Art. 93 I, n 4a GG c.c. 13, n 8a BVerfGG)
[Verfassungsbeschwerde]
Lides entre rgos Estatais (Organstreitverfahren)
Litgio entre a Unio e os Estados-membros (Bund-Lnderstreitverfahren)
Proibio de Partido Poltico (Parteiverbotsverfahren)
Os trs primeiros procedimentos acima arrolados constituem-se em processo
objetivo, ou seja, no h partes processuais propriamente ditas, ao passo que os trs
ltimos desenvolvem-se na forma de processos contraditrios. A Reclamao
Constitucional tem, neste ponto, carter sui generis: em suas duas modalidades
(diretamente contra ato normativo ou contra deciso judicial), ela no se desenvolve
contraditoriamente e no h que se falar em partes processuais propriamente ditas. Por
outro lado, resiste-se idia de que ela seja mais um instrumento de controle objetivo da
INTRODUO
4141414141
INTRODUO JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
constitucionalidade de normas19 , pois sua razo de ser residiria, segundo boa parte da
literatura especializada, to somente na defesa dos direitos fundamentais do indivduo,
sendo o controle normativo, por sua vez, s mais uma conseqncia do exame da
constitucionalidade do ato do Poder Pblico em face de um direito fundamental, cuja
violao seu titular afirma pela Reclamao Constitucional. Todavia, a tendncia da
jurisprudncia do TCF a interpretao do 13, n 8a BVerfGG no sentido de aproveitar
o ensejo oferecido por uma Reclamao Constitucional para realizar um controle objetivo
da constitucionalidade das normas, de tal sorte que a grande quantidade de reclamaes
constitucionais contribua decisivamente para o desenvolvimento do direito constitucional
positivo20 .
2. Da organizao e escolha dos juzes
A organizao do TCF foi definida pelos Art. 94 e 1 et seq. BVerfGG.
O TCF , como sua ex-presidente JUTTA LIMBACH certa vez formulou, um tribunal
de gmeos (Zwillingsgericht)21 . constitudo por dois senados22 , cada qual com oito
juzes ( 2 BVerfGG). Vale, neste contexto, o princpio senatorial (Senatsprinzip), ou
seja: aquilo que um dos dois senados decidir vale como deciso do TCF. O Primeiro
Senado decide, precipuamente, sobre direitos fundamentais. O Segundo Senado, por
sua vez, decide, precipuamente, em matria de organizao estatal. No obstante, o
Segundo Senado adquiriu nas ltimas dcadas algumas competncias do Primeiro Senado
(para aliviar a sobrecarga do Primeiro Senado, sobretudo em matria de direito de asilo
poltico, direito dos estrangeiros e direitos de cidadania). No caso de uma divergncia da
jurisprudncia de um Senado em relao jurisprudncia do outro, o pleno decide ( 16
I BVerfGG). Todavia, seguindo uma regra tica, os juzes cuidam de no comentar ou
criticar em pblico decises do outro Senado23 . Alm dos Senados, existem cmaras
(cada uma com trs juzes: 15a BVerfGG) periodicamente reconstitudas com juzes
19 Entre os crticos, cf. sobretudo SCHLINK (1984: 89 et seq.).20 Cf. PESTALOZZA (1991: 164).21 Cf. LIMBACH (2001: 20).22 Preferiu-se, aqui, a traduo de Senat como Senado e no Turma ou mesmo Cmara, porque a estrutura eorganizao desses rgos jurisdicionais colegiados dos dois pases so bem diversas entre si. Cf. a respeito MARTINS(2004: 205 et seq.).23 LIMBACH (2000: 21).
FUNDAMENTOS PROCESSUAIS E ORGANIZACIONAIS
II
4242424242
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
diferentes (uma espcie de sistema de rodzio), que podem decidir atualmente sozinhas
(ao contrrio do que ocorria at os anos oitenta) sobre a admisso e, dados alguns
pressupostos, at sobre o deferimento de uma Reclamao Constitucional ( 93b 1;
93c 93d I e III BVerfGG).
O processo de escolha das juzas e dos juzes do TCF bastante complexo. Quatro
aspectos devem ser abaixo sucintamente apresentados:
a) Pressupostos subjetivos: qualquer pessoa que possa ser eleita para a Cmara
Federal (Bundestag) pode ser escolhida como juiz ou juza do TCF, se ela
completou o 40 aniversrio e adquiriu a capacitao para a investidura
de juiz por meio dos dois examina de Estado (concluso nica da
formao jurdica na RFA). Alm disso, os/as candidato/as no podem
pertencer nem Cmara Federal (Bundestag), nem ao Conselho (Senado)
Federal (Bundesrat), ou ao Governo Federal ou a rgos correspondentes
nos Estados-membros. Excetuando-se uma ctedra jurdica alem (ensino
do direito em uma universidade alem), todas as demais atividades
profissionais so incompatveis com a investidura de juiz do TCF ( 3
BVerfGG).
b) O tempo de investidura de doze anos. Uma reeleio no possvel. Com a
concluso do 68 ano de vida, os juzes aposentam-se compulsoriamente
( 4 BVerfGG).
c) Quanto qualificao objetiva (quotas) para ser juiz do TCF, note-se que trs
juzes de cada Senado so escolhidos entre os juzes federais dos demais
tribunais federais (Art. 94 I 1 GG, 2 III BVerfGG).
d) No que tange ao processo de eleio, tem-se, em sntese, que a metade dos
juzes escolhida pela Cmara Federal (Bundestag), sendo a outra metade
pelo Conselho (Senado) Federal Bundesrat (Art. 94 I 2 GG, 5 I BVerfGG).
A Lei Orgnica do TCF (BVerfGG) fixou para a eleio a necessidade de
uma maioria qualificada de 2/3 nos dois grmios ( 6 V e 7 BVerfGG). A
escolha do Conselho (Senado) Federal (Bundesrat) d-se no seu Pleno; a
escolha da Cmara Federal (Bundestag) d-se de forma indireta por meio de
comisso eletiva que se compe de doze deputados, os quais, por sua vez, so
escolhidos pelo Pleno do Bundestag segundo as regras do sistema proporcional
de eleio.
INTRODUO
4343434343
INTRODUO JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
3. Do processo
Preliminarmente, h de se lembrar, conforme j salientado, que grande parte do
processo constitucional na Alemanha, movido exclusivamente junto ao TCF, tem carter
objetivo e no necessariamente contraditrio.
Isto posto, o sistema do controle concentrado conhece trs procedimentos centrais,
que cobrem toda possibilidade de inconstitucionalidade cometida pelo Estado: o controle
abstrato das normas, o seu controle concreto e a reclamao constitucional. Um quarto
procedimento tpico de processo constitucional objetivo a verificao da
constitucionalidade das normas, procedimento bastante coerente com o sistema
concentrado alemo, que no tem nenhuma familiaridade com a bastante polmica no
Brasil Ao Declaratria de Constitucionalidade, inserida na Constituio Federal
brasileira pela EC 3/1993 (Art. 102, 2 CF), alterada pela ltima vez pela EC 45/2004.
Porm, h de se lembrar que, alm de realizar o controle normativo, o TCF decide
tambm sobre contenciosos constitucionais em sentido estrito (entre rgos
constitucionais), defesa da Constituio e, no mais, sobre outras matrias de difcil
classificao, como a reclamao eleitoral ou procedimento de exame de uma eleio e a
apresentao de divergncia24 .
a) Objeto e parmetro de deciso nos processos
de controle de constitucionalidade
O controle da constitucionalidade recai sobre um ato do poder pblico lato sensu,
ou seja, ato de um rgo estatal, titular de uma das trs funes estatais por excelncia: da
legiferante, executivo-administrativa ou jurisdicional. Objeto material (Prfungsgegenstand)
imediato so, em regra, o ato administrativo executrio e as eventuais decises judiciais
que o confirmaram. A norma infraconstitucional que o embasou ter tambm sua
constitucionalidade sempre questionada. Como a possibilidade de os titulares de direitos
e garantias fundamentais ensejarem o procedimento da Reclamao Constitucional
j em sede preliminar (requisito de sua admissibilidade), em regra (h, como se ver,
uma exceo) limitada pela necessidade do anterior esgotamento da via judicial ordinria,
24 Cf. a sistematizao de BENDA / KLEIN (2001: 145 s.).
FUNDAMENTOS PROCESSUAIS E ORGANIZACIONAIS
II
4444444444
CINQENTA ANOS DE JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
revelando seu carter subsidirio, torna-se primordial a tarefa de se fixar precisamente o
objeto (imediato) do exame. Este, portanto, poder ser:
Somente o ato normativo (Controle Abstrato, Controle Concreto,
Reclamao Constitucional Direta contra Ato Normativo);
O ato administrativo e o ato normativo que o embasaramou, alm de eventuais
decises judiciais que os corroboraram (Reclamao Constitucional contra
deciso judicial);
Somente a interpretao e aplicao de norma que em si em tese ou
abstratamente considerada no inconstitucional por deciso judicial
(Reclamao Constitucional contra deciso judicial).
O segundo elemento crucial a ser definido antes do incio do exame a fixao do
parmetro do controle (Prfungsmastab), entendido como tal o dispositivo constitucional
potencialmente violado pelo ato objeto do exame. claro que pode haver mais de um
parmetro do controle, quando forem mais de um os dispositivos potencialmente violados.
A literatura constitucional alem enfatiza essa determinao do parmetro no
somente em face de sua bvia necessidade para a aferio de uma inconstitucionalidade
(o ato inconstitucional em face de, ou fere, qual/quais norma/s constitucional/is?), mas
tambm em face do fenmeno da concorrncia normativa, o qual no deve ser confundido
com o problema da coliso normativa. Uma concorrncia estar presente quando mais
de uma norma disciplinar o mesmo caso25 . Em se tratando da (freqente) concorrncia
de direitos fundamentais, o mesmo titular pode se valer de mais de um direito fundamental
para resistir a uma interveno estatal em sua liberdade ou para fazer valer, concretamente,
o direito a uma prestao estatal. A concorrncia pode ser, segundo a lio de STERN26 ,
muito citada neste contexto, ideal (na acepo de real tpica) ou aparente. A concorrncia
aparente ser aquela que se dirime sobretudo pela regra lex specialis derrogat lex generalis,
ou seja, o direito fundamental que, em face da matria julgada, for mais especfico afastar
a aplicao do direito fundamental mais genrico como parmetro do exame.
No mais, a fixao do parmetro relevante para o juzo de admissibilidade da
Reclamao Constitucional, pois nele se perquire, preliminarmente, se uma violao a
um dispositivo especfico , em tese, possvel. Ao realizar esse exame preliminar, o operador
25 Cf. por exemplo STERN: (1994: 1365 et seq.).26 Ibid.
INTRODUO
4545454545
INTRODUO JURISPRUDNCIA DOTRIBUNAL CONSTITUCIONAL FEDERAL ALEMO
do direito encontra, no raro, principalmente porque os mbitos ou reas da liberdade
individual protegidos se intersecionam, vrios dispositivos constitucionais que viriam
pauta. Cabe a ele, portanto, j na fase preliminar, esclarecer se se trata de uma concorrncia
ideal ou meramente aparente, habilitando para o exame de mrito somente o parmetro
especfico, no caso da concorrncia aparente, ou ambos os parmetros, no caso da
concorrncia ideal. Em se tratando de uma concorrncia ideal, a interveno estatal dever
tambm, e principalmente, ser justificada em face do direito fundamental com uma
proteo eventualmente mais intensa (caso dos direitos fundamentais sem reserva ou
outorgados sem limites especficos)27 .
b) Processo de controle abstrato das normas
(abstraktes Normenkontrollverfahren)
A funo do controle abstrato das normas expurgar do ordenamento jurdico a
norma inconstitucional antes que surja um conflito interindividual e/ou social que a
concretize, ou seja, que seja por ela regido, exigindo sua aplicao. Fala-se, destarte,
unanimemente em integridade do ordenamento jurdico e proteo da supremacia da
Constituio e da superior