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CÉSAR EDUARDO LAVOURA ROMÃO Circunstâncias Atenuantes Genéricas BACHARELANDO EM DIREITO

Circunstâncias Atenuantes Genéricas · 2005-02-22 · outros. Código penal e sua Interpretação Jurisprudencial. 1995. p. 803). “As atenuantes são circunstâncias de caráter

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CÉSAR EDUARDO LAVOURA ROMÃO

Circunstâncias Atenuantes Genéricas

BACHARELANDO EM DIREITO

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UniFMU

Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas

São Paulo

Março 2004

CÉSAR EDUARDO LAVOURA ROMÃO

Circunstâncias Atenuantes Genéricas

Monografia apresentada à bancaexaminadora do Centro Universitáriodas Faculdades MetropolitanasUnidas, como requisito parcial paraobtenção de grau de Bacharel emDireito, sob a orientação do ProfessorEvanir Ferreira Castilho.

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UniFMUCentro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas

São Paulo

Março 2004

UniFMUCENTRO UNIVERSITÁRIO

DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDASFACULDADE DE DIREITO

Circunstâncias Atenuantes Genéricas

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Orientador: Prof. Evanir Ferreira Castilho

Orientando: César Eduardo Lavoura Romão

RA: 440.762-5

Tel. 9444-5070 / 6163-0132

[email protected]

São Paulo

Março 2004

BANCA EXAMINADORA:

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Professor Orientador:___________________________

Evanir Ferreira Castilho

Professor Avaliador:____________________________

Professor Avaliador:____________________________

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“A ciência do Direito é a mais democrática de todas,

porque em nenhuma outra a opinião da maioria tem tanto peso.

Se a jurisprudência e a doutrina majoritárias disserem, algum dia, que a lei da gravidade éinconstitucional, quase todos os bacharéis em Direito acreditarão que podem voar.”

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(Alberto Marques)

SINÓPSE

Nosso trabalho visa analisar as circunstâncias atenuantes genéricas do

Código Penal Brasileiro e seus reflexos na aplicação da pena, contribuindo com o

entendimento do sistema trifásico da dosimetria.

Após a reforma do Código Penal, em 1984, o legislador adotou

expressamente o sistema trifásico de dosimetria, acabando assim com a discussão

etérea travada entre Roberto Lyra, defensor do sistema bifásico, e Nélson Hungria,

defensor do sistema trifásico.

Como dito, a nova sistemática legislativa acabou com algumas

controvérsias, mas, em contra partida, gerou outras discussões, dentre as quais

destacamos a seguinte indagação:

A valoração das circunstâncias atenuantes pode reduzir a pena aquém

do mínimo legal abstrato?

Na tentativa de contribuir com acadêmicos e profissionais do Direito

tentaremos responder esta e outras indagações que envolvem as circunstâncias

atenuantes genéricas.

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SUMÁRIO

Introdução 01

1. Conceito de Circunstância Atenuante Genérica 03

2. Circunstâncias Atenuantes Genéricas

no Sistema Dosimetria da Pena 06

3. O Valor das Atenuantes Genéricas na Dosimetria da Pena 12

4. Hipóteses de Atenuantes Genéricas 14

4.1. Menoridade e Senilidade (art. 65, I) 16

4.1.1. Menoridade 16

4.1.2. Senilidade 21

4.2. Desconhecimento da Lei (art. 65, II) 22

4.3. Motivo de Relevante Valor Social ou Moral (art. 65, III, a) 25

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4.4. Arrependimento ou Reparação do Dano (art. 65, III, b) 27

4.4.1. Arrependimento 28

4.4.2. Reparação do Dano 31

4.5. Coação Resistível, Cumprimento de Ordem Superior e

Influência de Violenta Emoção (art.65,III,c) 34

4.5.1. Coação Resistível 35

4.5.2. Cumprimento de Ordem de Autoridade Superior 38

4.5.3. Influência de Violenta Emoção 39

4.6. Confissão Espontânea (art. 65, III, d) 41

4.7. Influência de Multidão em Tumulto (art. 65, III, e) 47

4.8. Pena Cumprida no Estrangeiro (art. 8º) 51

4.9. Atenuantes Inominadas (art. 66) 53

5. Concurso de Circunstâncias Agravantes e Atenuantes 56

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6. Circunstâncias Atenuantes Genéricas

no Tribunal do Júri 59

7. Fixação da Pena Aquém do Mínimo Legal 63

8. Considerações Finais 87

Bibliografia 94

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Introdução

Com este trabalho pretendemos aprofundar o estudo sobre as

circunstâncias atenuantes genéricas e sua valoração no contexto da dosimetria da

pena.

De uma forma simples e clara tentaremos trazer alguns pontos mais

importantes e polêmicos que podem envolver estas minorantes.

No contexto do sistema trifásico de fixação da pena, efetuamos um

corte metodológico, extraindo a segunda fase da dosimetria, para uma maior

compreensão das circunstâncias, em especial as atenuantes genéricas.

No decorrer do estudo, tentaremos encontrar a resposta a seguinte

indagação:

A valoração das circunstâncias atenuantes pode reduzir a pena aquém

do mínimo legal abstrato?

Tentar responder esta indagação é um grande desafio, pois se trata do

tema mais polêmico que envolve as circunstâncias legais, contando com

entendimentos diversos tanto na doutrina como na jurisprudência.

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Nossa motivação surgiu no momento em que nos deparamos com um

caso verídico, no qual não foi reconhecida uma atenuante ao réu, que obteve as

circunstâncias judiciais a seu favor e teve a pena-base fixada no mínimo legal.

Compulsando estes autos e realizando uma pesquisa verificamos que

estava consolidada em nosso sistema uma verdadeira injustiça, uma vez que, já

existe até súmula no STJ, embora não vinculante, que retira o direito do réu de ter

sua pena reduzida por uma atenuante, e de receber uma pena adequada à sua

culpabilidade e corretamente individualizada.

No processo citado o réu teve a pena fixada no mínimo legal, mas a

atenuante que tinha direito não foi valorada, ferindo o princípio da isonomia e da

individualização da pena.

O Poder Judiciário pátrio está sofrendo com a síndrome da pena

mínima, pois a persecução penal é insuficiente para provar as circunstâncias

judiciais e legais que envolvem o fato criminoso.

E, com isso, criou uma maneira de facilitar seu trabalho, prejudicando

o réu.

Não podemos deixar que a análise das atenuantes sirva somente para

trabalhos teóricos; temos que mudar o entendimento de muitos magistrados que

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fixam a pena-base no mínimo legal, para no segundo momento da dosimetria

basearem-se, tão somente, na súmula do STJ, chegando ao terceiro momento sem a

valoração adequada das circunstâncias atenuantes, ocorrendo assim uma alteração

significativa que altera o resultado da fixação da pena.

Também é nossa missão a análise isolada das circunstâncias

atenuantes genéricas, o que passamos a fazer.

1. Conceito de Circunstância Atenuante Genérica

Antes de verificar quais as circunstâncias atenuantes genéricas temos

que compreender seu verdadeiro significado.

No dicionário a palavra circunstância significa a particularidade que

acompanha um fato, sendo causa ou condição que atenua ou agrava esse fato. Já a

atenuante denota suavidade, minora, o que torna tênue ou é menos forte1.

Sendo assim, numa leitura leiga, circunstância atenuante é aquela que

acompanha o fato, que está ao seu redor, e que acarreta uma suavização na

interpretação deste fato.

1 Ruth Rocha. Minidicionário. 1996

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Nas lições de Nélson Hungria2 “as circunstâncias são as modalidades

da ação criminosa, particularmente no que respeita à sua natureza, à espécie dos

meios empregados, ao objeto, ao tempo, ao lugar, à atitude ou ao estado de ânimo

do réu antes, durante ou após o crime.”

Estas recebem a denominação “genéricas”, pois nossa análise recai

somente sobre as circunstâncias previstas na Parte Geral do Código Penal.

“Não são elas as circunstâncias legais, há outras que são especiais,

assim denominadas por se referirem a certos e determinados crimes e definidas na

Parte Especial do Código, ao passo que as dos arts. 61 e 65 são genéricas, referem-

se aos crimes em geral3.”

Adentrado ao campo técnico e jurídico temos o conceito trazido pela

Enciclopédia Saraiva do Direito: “Atenuantes são as circunstâncias previstas na lei

como capazes de diminuir o quantum da pena, seja esta pecuniária ou de restrição

de liberdade.4”

De forma mais técnica e precisa os doutrinadores conceituam as

circunstâncias atenuantes da seguinte forma:

2 Comentários ao Código Penal. Vol. V. 1958. p. 476.3 E. Magalhões Noronha. Direito Penal. 1987. p. 241.4 Enciclopédia Saraiva do Direito. Vol 1. 1978

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“Circunstâncias são elementos que não integram o tipo, por serem

acessórios e acidentes, influindo sobre a pena, para agravá-la ou atenuá-la.

Distinguiam já os práticos os elementos constitutivos do crime (essentialia delicti)

dos elementos acidentais (acidentalia delicti), hoje tidos como elementos

circunstâncias ou circunstâncias.

O crime poderá apresentar-se despido

de circunstâncias, nu em seu modelo

legal, circunscrito a seus elementos

essenciais. Poderá também surgir

circundado por uma constelação de

elementos acessórios que, sem alterar

o seu aspecto qualitativo, intensifica

ou abranda sua quantidade.

Circunstâncias legais atenuantes são

aquelas que atuam diminuindo a

reprovabilidade da ação e

conseqüentemente a culpabilidade

pelo crime praticado.” (Paulo José da

Costa. Direito Penal. Curso

Completo. Saraiva. 2000).

“São circunstâncias atenuantes

àquelas que expressam uma

diminuição da culpabilidade do

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agente em relação ao crime por ele

praticado” (Alberto Silva Franco e

outros. Código penal e sua

Interpretação Jurisprudencial. 1995.

p. 803).

“As atenuantes são circunstâncias de caráter objetivo ou subjetivo, que

servem para expressar uma menor culpabilidade e atenuar a pena, sem qualquer

ligação com a tipicidade.” (Guilherme de Souza Nucci. Código Penal Comentado.

Revista dos Tribunais. 2000)

Diante do exposto, entendemos que a circunstância atenuante é o

elemento que acompanha o crime sem necessariamente ser pressuposto para sua

existência e que conseqüentemente demonstra a menor culpabilidade sobre a

conduta do agente.

2. Circunstâncias Atenuantes Genéricas no Sistema

Dosimetria da Pena

Após conhecermos o conceito de atenuantes, devemos saber em qual

momento do cálculo da pena ele será utilizado.

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Este capítulo visa apenas esclarecer o leitor o momento em que são

consideradas as circunstâncias atenuantes.

De forma bem sintética mostraremos como se faz a dosimetria da pena

no sistema trifásico, pois não é nosso escopo esgotar o tema.

Como dito, após a reforma da Parte Geral do nosso Código Penal, o

legislador adotou o sistema de trifásico (ou de Nelson Hungria) de fixação da pena,

afastando completamente o sistema bifásico, defendido por Roberto Lyra.

E assim foi justificado pelo expositor: “Decorridos quarenta anos da

entrada em vigor do Código Penal, remanescem as divergências suscitadas sobre as

etapas da aplicação da pena. O Projeto opta claramente pelo critério das três faces,

predominante na jurisprudência do Supremo Tribunal de Federal”. (Exposição de

Motivos do Código Penal, item nº 51).

O art. 68 do CP é bem didático ao estabelecer as três fases para o

cálculo da pena.

No primeiro momento, será fixada a pena-base atendendo-se ao

disposto no art. 59 do CP.

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O citado artigo enumera algumas circunstâncias, chamadas judiciais,

que servem para o juiz fixar a pena necessária e suficiente para a reprovação e

prevenção do crime.

“Alguns autores entendem que tecnicamente tais dados não constituem

circunstâncias, mas critérios ou diretivas para a aplicação da pena pelo juiz. Em

nossa doutrina, porém, é tradicional a consideração desses dados como

circunstâncias judiciais. Denominam-se judiciais porque seu reconhecimento é

deixado ao poder discricionário do juiz5.”

As circunstâncias arroladas no art 59 do CP são: a culpabilidade, os

antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, os motivos, às

circunstâncias e conseqüências do crime, bem como o comportamento da vítima.

“Convém assinalar que tais circunstâncias são taxativas e não

meramente exemplificativas, vedando-se ao juiz adotar circunstâncias de medida de

pena além dessa órbita, sendo, contudo, conforme lembra Hungria, difícil imaginar-

se um elemento informativo que não esteja compreendido no texto acima transcrito,

mas ainda que a versatilidade dos casos concretos apresente algum outro, o juiz terá

de abstraí-lo6.”

5 Damásio Evangelista de Jesus. Direito Penal- Parte Geral. 2002. p. 556.6 Nélson Ferraz. Dosimetria da Pena. RT 680/319.

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No momento em que o magistrado

analisa estas circunstâncias, deverá o

mesmo efetuar um raciocínio sobre

as próximas fases para verificar se as

circunstâncias, ora analisadas, não

serão utilizadas em momento

posterior. A regra é que as

circunstâncias do momento posterior

prevalecem sobre as do momento

anterior.

“Quando a mesma circunstância for comum a mais de uma fase da

dosimetria, deverá ser utilizada uma só vez, e na última fase em que couber. Assim,

em se tratando de réu reincidente, esta circunstância não poderá incidir a título de

antecedentes, da primeira fase da dosimetria, mas tão-somente como circunstância

legal da segunda fase - art. 61, I, do CP7.”

Explicamos com outro exemplo: o motivo fútil é ao mesmo tempo

agravante (art. 61 do CP) e motivação para o crime (art. 59 do CP). Sendo assim, o

motivo fútil será considerado no segundo momento da fixação e não no primeiro.

Analisando as circunstâncias judiciais o magistrado chegará a uma

pena-base, com a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos (art.

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59, inc. II). Essa quantidade será fixada pela discricionariedade do juiz, uma vez

que, a lei não traz o quantum de cada circunstância.

Essa regra é brilhantemente explicada pelo Mestre Ivan Carlos de

Araújo8: “Não existe qualquer referência legal sobre o “quanto” deve “valer” cada

circunstância judicial do art. 59 do Código Penal. Dessa forma, os limites existentes

para se fixar a pena-base são aqueles referidos no tipo penal infringido.”

Chegando ao cálculo da pena-base, o magistrado passará para a

segunda fase da dosimetria, na qual analisará as circunstâncias agravantes e

atenuantes, objeto de nosso estudo.

Nesse momento serão analisadas todas as circunstâncias que

envolveram o crime, sejam elas para piorar ou amenizar a pena do réu.

As circunstâncias agravantes estão previstas, de forma taxativa, nos

artigos 61 e 62 do CP. Dentre elas podemos citar a reincidência, o motivo fútil, a

traição, a embriaguez preordenada, paga ou promessa de recompensa etc.

A previsão das agravantes deve ser necessariamente taxativa, para que

não haja ofensa ao princípio da reserva legal.

7Idem.8 Apostila do Curso de Fixação da Pena ministrado no UniFMU, em novembro de 2002.

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Também temos previsão legal para algumas circunstâncias atenuantes,

nos art. 65 e 66 do CP.

Como veremos no decorrer no trabalho estas circunstâncias não tem

previsão taxativa, pois em benefício do réu o juiz pode considerar qualquer

circunstância do crime, desde que relevante.

Observa-se que somente no primeiro

momento da fixação da pena há

vedação legal para o rompimento dos

limites previstos no preceito

secundário do tipo (art. 59, II), nas

demais fases, como veremos, não

ocorre vedação legal mencionada.

O terceiro e último momento do

cálculo leva em conta as causas de

aumento e de diminuição da pena,

previstas em diversos dispositivos,

tanto da parte geral (artigos 14, 16,

21, 70 etc), quanto da parte especial

(art. 121 § 1º, 129 § 4º, 334 § 3º etc).

“Causas de aumento e diminuição

são fatores de acréscimo ou redução

da pena, assinalados em quantidades

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fixas (dobro, metade etc.) ou em

limites (um a dois terços etc),

previstos na Parte Geral ou

Especial9.”

Após estes três momentos, o juiz chega a um quantum da pena

determinada.

Este procedimento é sinteticamente explicado na Exposição de

Motivos da Nova Parte Geral do Código: “Fixa-se, inicialmente, a pena-base,

obedecido o disposto no art. 59; consideram-se, em seguida, as circunstâncias

atenuantes e agravantes; incorporam-se ao cálculo, finalmente as causas de

diminuição e aumento.” (Item nº 51).

As noções apresentadas sobre a dosimetria da pena não pretendem

esgotar o tema, mas bastam para que se tenha uma melhor compreensão dos

capítulos que seguirão.

9 Celso Delmanto e outros. Código penal Comentado. 2000. p. 127.

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3. O Valor das Atenuantes Genéricas na Dosimetria da Pena

O valor das circunstâncias não está fixado em lei como ocorre com as

causas de aumento e diminuição.

Seu valor depende, exclusivamente, da discricionariedade do juiz, o

qual deverá estabelecer o quantum por meio de decisão fundamentada, consoante o

disposto no art. 93 inc. IX da Constituição Federal.

“Convém esclarecer que poder discricionário não se confunde com

poder arbitrário. Discricionariedade e arbítrio são atitudes inteiramente diversas.

Discricionariedade é liberdade de ação administrativa, dentro dos limites

permitidos em lei; arbítrio é ação contrária ou excedente a lei. Ato discricionário,

quando autorizado pelo Direito, é legal e válido ato arbitrário é sempre ilegítimo e

inválido10.”

Nesse sentido explica Sérgio Salomão Shecaira11: “Na consideração

das circunstâncias legais e judiciais, confere o Código ao juiz um amplo poder

discricionário. Essa discricionariedade não pode ser confundida com arbitrariedade.

10 Hely Lopes Meirelles. Direito Administrativo Brasileiro. 2002. p. 115.11 Circunstância do Crime. Revista do IBCCrim. Ano 6 nº23. 1998

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Por isso, o tem obrigação de motivar o exercício do poder discricionário que lhe foi

conferido. É de mister que o julgador deixe dito como e porque chegou à fixação

ou dosagem das penas que impôs na sentença; como e porque reduziu certa

quantidade de pena e não outra; como e porque segue este caminho ou o outro

distinto.”

“A circunstâncias atenuantes são de aplicação em regra obrigatória, e

o quantum da atenuação fica a critério do juiz.12”

“A exata motivação do quantum da pena aplicada é um elemento de

garantia do condenado. A defesa e a acusação têm o direito de saber por quais

caminhos e com quais fundamentos o juiz chegou à fixação da pena13.”

Em alguns, momentos nossa jurisprudência chegou a tabelar o valor

das atenuantes, utilizando critérios variáveis, para considerar cada circunstância,

ora como 1/6, ora 1/5.

Há na doutrina quem defenda uma quantificação para as atenuantes ou

apenas um limite para sua valoração.

Nesse diapasão é o ensinamento de Cezar Roberto Bitencourt14: “O

Código não estabelece a quantidade de aumento ou de diminuição das agravantes e

12 Damásio de Jesus. Direito Penal. Parte Geral. 2002. p. 576.13 Sérgio Salomão Shecaria. Cálculo de Pena e o Dever de Motivar. Revista do IBCCrim. Nº6, p. 164.

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atenuantes legais genéricas, deixando ao prudente arbítrio do juiz. No entanto,

sustentamos que a variação destas circunstâncias não deve ir muito além do limite

mínimo das majorantes e minorantes, que é fixado em um sexto. Caso contrário, as

agravantes e as atenuantes se equiparariam àquelas causas modificadoras da pena

que, a nosso juízo, apresentam maior intensidade, situando-se pouco abaixo das

qualificadoras (no caso das majorantes).”

Contudo, hodiernamente prevalece o entendimento da liberdade de

apreciação do magistrado, desde que seja fundamentada adequadamente.

4. Hipóteses de Atenuantes Genéricas

Com o objetivo de facilitar nosso trabalho, separamos as hipóteses de

circunstâncias atenuantes genéricas em capítulos específicos, para que, através

desta análise isolada, de cada instituto, pudéssemos ter uma maior compreensão do

todo.

O art. 65 do CP traz as seguintes atenuantes: I- ser o agente menor de

vinte e um anos na data do fato ou maior de setenta da sentença; II- o

desconhecimento da lei; III- ter o agente: a) cometido o crime por motivo de

14 Manual de Direito Penal- Parte Geral. 2000. p. 519

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relevante valor social ou moral; b) procurado, por sua espontânea vontade e com

eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter,

antes do julgamento, reparado o dano; c) cometido o crime sob coação a que podia

resistir, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da

vítima; d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; e)

cometido o crime sob a influência da multidão em tumulto, se, lícita a reunião, não

provocou o tumulto.

Poderemos ter ainda, a pena atenuada pelo cumprimento de sentença

estrangeira, consoante o disposto no art. 8º do Código Penal.

Não obstante a previsão destas circunstâncias, o legislador no art 66 do

CP, possibilitou, ao juiz, considerar qualquer circunstância relevante anterior ou

posterior ao crime, mesmo que não prevista em lei.

Passemos então a análise das circunstâncias atenuantes genéricas.

4.1. Menoridade e Senilidade (art. 65, I)

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Artigo 65, I. “Ser o agente menor de 21 (vinte e um) anos, na

data do fato, ou maior de 70(setenta) anos, na data da

sentença”.

Quando se considera como circunstância atenuante, a idade do agente,

a lei oferece elementos objetivos para análise do magistrado no momento de

fixação da pena.

4.1.1. Menoridade

“A menoridade foi introduzida como atenuante no sistema penal a

partir do Código Criminal do Império, de 1830, fixando-se, desde então, como

preponderante no confronto com eventuais agravantes. Atualmente, continua sendo

a principal das atenuantes, por tradição, entendendo–se que o menor, nessa idade,

ainda não se encontra totalmente amadurecido, merecendo a benevolência do juiz

no momento da fixação da pena15.”

15 Guilherme de Souza Nucci .Apostila do Curso CPC. 2002.p.84.

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Andou bem o legislador de 1984 ao se posicionar, de forma adequada

e aceitável, quando determinou objetivamente os marcos para a consideração

dessas atenuantes, ou seja, na data do fato para o menor de vinte e um anos e na

data da sentença para o maior de setenta anos.

“Tornou-se expresso, para evitar polêmicas, que a atenuante da

menoridade será aferida na data do fato; a da velhice, na data da sentença16.”

O sistema anterior, do Decerto de 1840, artigo 48, I, somente

mencionava “ ser o agente menor de vinte e um anos ou maior de setenta anos”. O

que gerava uma grande controvérsia, pois não se tinha claramente a data para se

valorar a atenuante.

Com a reforma mencionada, o julgador passou a ter maior segurança

ao considerar as datas para a valoração destas atenuantes.

Como dito, o texto do artigo 65, inc. I do Código Peal traz a atenuante

para o menor de vinte e um anos, mas, não é todo menor de vinte e um anos que

receberá esta atenuante.

Para receber a atenuação de pena, o menor de vinte e um anos deve ser

imputável, ou seja, não ser menor de dezoito anos. Neste momento, cabe esclarecer

16 Exposição de Motivos do Código Penal. Lei 7. 209/ 84. item 55.

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que ficaremos restritos somente à imputabilidade pela idade para não fugir de nosso

tema.

Por expressa disposição constitucional (artigo 228) são penalmente

inimputáveis os menores de dezoito anos, regra esta confirmada pelo artigo 27 do

Código Penal.

Como os menores de dezoito anos são inimputáveis, esta atenuante só

se aplicará ao agente que, na data do fato, for maior de dezoito anos e menor de

vinte e um anos.

A atenuante tem como fundamentos: o fato de o agente não ter

adquirido plena maturidade; por ainda não ter obtido uma formação completa; por

não ter atingido o estágio adulto; e devido sua imaturidade para suportar os rigores

da condenação penal, em igualdade de condições de um adulto.

Para Julio Mirabete17, “as razões que levam à diminuição da pena são

a imaturidade do agente, que não completou ainda seu desenvolvimento mental e

moral, sendo fortemente influenciável.”

Explica Celso Delmanto18 que “o menor, por sua própria

personalidade e caráter não totalmente formados, deve merecer tratamento distinto

17 Código Penal Interpretado. 1999. p 36918 Código Penal Comentado. 2000. p 123

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do que recebem os adultos, não só pela menor censurabilidade de seu

comportamento imaturo, como pela desnecessidade de sofrer sanções mais

severas.”

E assim também é a jurisprudência:“A menoridade determina atenuação da pena pela dupla consideração de

que, de um lado, é inferior a imputação do agente, em virtude de sua imaturidade, e de

outro, porque o delinqüente menor não está em condições iguais ao delinqüente adulto

para suportar o rigor da condenação.” (RT 601/348).

“A diminuição da pena em favor do réu menor de 21 anos, portanto,

faz parte do processo de individualização da pena, exigido pela Constituição

Federal (art. 5º, inc. XLVI), que concebe que os menores de 21 anos devem ficar

separador dos demais condenados, que a pena deve ser menor, que sua

influenciabilidade frente aos adultos é mais intensa etc19.”

Com a promulgação da Lei 10.406 de

2002, Novo Código Civil, surgiu uma

corrente que defendia a alteração dos

dispositivos penais, considerando a

mudança na menoridade civil trazida

pela referida lei.

19 Luiz Flávio Gomes. A nova maioridade civil e sus repercussões penais. Revista do Consultor Jurídico. 16/01/2003.

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Essa nova lei concedeu plena capacidade civil para os maiores de

dezoito anos, coincidindo com a maioridade penal.

Como na legislação anterior, Código Civil de 1916, a capacidade civil

só era adquirida aos vinte e um anos, entenderam alguns juristas que com a nova

lei, estaria se reduzindo a idade para a valoração da atenuante ora analisada.

Discordamos completamente de tal posicionamento, entendemos que o

Novo Código Civil, não trouxe qualquer modificação na lei penal.

E justificamos nossa posição, baseados primeiramente no fundamento

da atenuação, que como dito assenta-se na imaturidade do agente e não em sua

incapacidade civil.

Ademais, se considerarmos que a

atenuante tem como fundamento a

capacidade civil, como querem os

que defendem a mudança, o

entendimento ainda continua

prejudicado, pois a nova lei, em seu

artigo 2.043 reza que:

“ Art. 2.043. Até que por outra forma se disciplinem,

continuam em vigor as disposições de natureza processual,

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administrativa ou penal, constantes de leis cujos preceitos de

natureza civil hajam sido incorporados a este Código.”

Sendo assim, entendemos que o Novo Código Civil, não modificou o

art. 65, I do Código Penal.

A maioria da doutrina e

jurisprudência entende que esta

atenuante prepondera sobre qualquer

outra circunstância, inclusive sobre a

reincidência. Mas, este tema será

abordado em capítulo específico.

(Capítulo 5).

4.1.2. Senilidade

O benefício decorrente da senilidade tem como marco os 70 anos, pois

o legislador entendeu que após esta idade o agente tem suas faculdades mentais

reduzidas e sua condição física merece receber uma pena menor do que um adulto,

baseado também na individualização da pena.

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“As razões que levam a diminuição da pena são a decadência ou

degenerescência provocada pena senilidade, em que o raciocínio é mais lento, a

memória mais fraca, o índice de sugestionabilidade e desconfiança maior, sendo

menor a periculosidade20.”

Não traz muita divergência o entendimento da atenuação em virtude

da senilidade, mas o fato de ter-se escolhido a idade de 70 anos, gerou uma

pequena polêmica entre os especialistas como menciona Pedro Vergara21: “Não

esqueçamos a lição dos psiquiatras em geral, quando ensinam que a decadência das

faculdades intelectuais, principalmente da memória, própria da velhice, se faz

perceptível em cada indivíduo, nas idades mais diversas.”

4.2. Desconhecimento da Lei (art. 65, II)

Artigo 65, II. “O desconhecimento da lei”.

20 Julio Mirabete. Manual de Direito Penal. 2003.p. 306.21 Pedro Vergara. Das circunstâncias atenuantes no Direito Peal Vigente. 1948. p. 69

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O dispositivo penal supra-mencionado prevê a atenuação para o agente

que ignorar a lei. A atenuação ocorre, pois, o legislador entendeu que há uma

redução na reprovabilidade da ação.

Somente a atenuação é que pode ser feita pelo julgador, pois diante do

princípio do direito romano error juris nocet, qual seja, o princípio da

inescusabilidade da norma, não se pode isentar o agente de pena, uma vez que a

ignorância não exclui a culpabilidade.

Dispõe o artigo 21 do Código Penal em seu caput que: “ O

desconhecimento da lei é inescusável...”

“O art. 21 é bastante explícito ao estatuir que o desconhecimento da lei

da lei é inescusável. A validade da norma penal em relação a todos os seus

destinatários é matéria que não demanda discussão, não sendo, por isso, admissível

que um só desses destinatários a ela se furte sobre o pretexto de desconhecê-la. O

erro de vigência é, portanto, indesculpável. Não se pode, no entanto afastar a

consideração de que a existência de um grande número de leis penais protetoras de

bens e interesses, por vezes bem particularizados, dá margem ao seu

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desconhecimento que, se não é suficiente para excluir a culpabilidade do agente,

serve, contudo, para provocar um juízo de reprovabilidade mais brando22.”

Quando a doutrina analisa o erro sobre a ilicitude do fato, também

chamado de erro de proibição, do artigo 21, tece inúmeras considerações sobre suas

diferentes classificações, os quais não nos cabe analisar neste momento.

Para nossa compreensão, basta saber que o erro sobre a ilicitude do

fato se for inevitável, invencível, escusável há isenção de pena, porém se for

evitável, vencível, escusável a pena será diminuída de um sexto a um terço.

“Enquanto o erro sobre a ilicitude do fato exclui a culpabilidade, o

simples desconhecimento da lei não a elimina. Entretanto, dispõe o Código que é

ele circunstância atenuante, seja ou não justificado o erro23.”

O importante é esclarecer a diferença entre a ignorância da lei e a

ignorância do ilícito.

Para tanto, trazemos as lições do Prof. Francisco de Assis Toledo24:

“Parece-nos elementar, contudo, que sendo, a “lei” uma coisa e a “ilicitude” de um

fato outra bem diferente, só mesmo por meio de uma imperdoável confusão a

respeito do verdadeiro sentido desses dois conceitos se poderá chegar à falsa

22 Alberto Silva Franco, Código Penal e sua Interpretação Jurisprudencial. 1995.p. 806.23 Julio Fabbrini Mirabete, Código Penal Interpretado. 1999. p. 370.

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conclusão de que ignorância da lei é igual a ignorância da ilicitude de um fato da

vida real. Fixemos isto: lei, em sentido jurídico estrito, é norma escrita editada

pelos órgãos competentes do Estado. Ilicitude de um fato é a correlação de

contrariedade que se estabelece entre esse fato e a totalidade do ordenamento

jurídico vigente. Se tomarmos, de um lado, a totalidade das leis vigentes e, de

outro, um fato da vida real, não será preciso muito esforço para perceber que a

eventual ilicitude desse fato não está em si, nem nas leis, mas entre ambos, isto é,

na mútua contrariedade que se estabeleceu entre o fato concreto, real, e o

ordenamento jurídico no seu todo. Assim pode-se conhecer perfeitamente a lei e

não a ilicitude de um fato, o que bem revela a nítida distinção dos conceito em

exame.”

Diante do exposto, fica clara a distinção que o julgador deve fazer no

momento de valorar esta atenuante.

4.3.Motivo de Relevante Valor Social ou Moral (art. 65,III, a)

Artigo 65, III, a. “Cometido o crime por motivo de relevante

valor social ou moral”.

24 Princípios Básicos de Direito Penal. 5.ed. 2001. pp. 262.

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O motivo de relevante valor social consiste no valor que envolve o

interesse coletivo.

Já o motivo de relevante valor moral refere-se ao interesse pessoal,

particular.

E assim explica a doutrina:

“Motivo de valor social é o que atende aos interesses da vida coletiva.

De valor moral será o motivo que está de acordo com a moralidade e os princípios

éticos dominantes25.”

“Dá-se um tratamento benéfico a condutas que, apesar de ilícitas, estão

ligadas a um sentimento que não é anti-social por se referirem a honra ou a

liberdade individual (caráter moral) ou à pátria, à comunidade e a outros bens

jurídicos socialmente relevantes (caráter social)26.”

“O motivo de relevante valor social ocorre quando a causa do delito

diz respeito a um interesse coletivo. A motivação é ditada em face de um interesse

25 Heleno Cláudio Fragoso.Lições de Direito Penal, parte geral.1994 . p. 34026 Julio Mirabete. Manual de Direito Penal. 2003.p. 307.

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que diz respeito a todos os cidadãos de uma coletividade. O motivo de relevante

valor moral já diz respeito a um interesse particular27.”

Quando observamos o artigo 59 do CP, para a fixação da pena-base,

verificamos que dentre as circunstâncias judiciais, está incluída a motivação.

O motivo de relevante valor social ou

moral, não será considerado no

primeiro momento da fixação da

pena, pois é uma circunstância legal

considerada em momento posterior.

A regra é que esta circunstância seja considerada no segundo

momento, o de atenuação, pois é mais específica sua previsão e assim evita-se o ne

bis in idem.

Pelo mesmo princípio, quando o

motivo de relevante valor social ou

moral for na prática do homicídio

(art. 121 parágrafo 1º) ou na de lesão

corporal (art. 129 parágrafo 4º), será

considerado como figura

privilegiada, assim prevalecendo

sobre a atenuante, sendo que esta

27 Damásio Evangelista de Jesus. Código Penal Anotado. 2002. p. 239/240

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causa de diminuição de pena será

considerada no terceiro momento de

fixação da pena.

4.4. Arrependimento ou Reparação do Dano (art. 65, III, b)

Artigo 65, III, b. “Procurado, por sua espontânea vontade e com

eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter,

antes do julgamento, reparado o dano”.

O dispositivo supra, traz duas circunstâncias legais que podem atenuar

a pena.

Para a melhor compreensão da matéria analisaremos separadamente as

minorantes do dispositivo.

Primeiramente estudaremos só o arrependimento (art. 65, II, b, 1ª

parte) e depois a reparação do dano (art. 65, II, b, 2ª parte).

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4.4.1. Arrependimento

O arrependimento do artigo mencionado tem como pressupostos: a

espontaneidade do agente e a eficiência na procura de evitar, ou minorar as

conseqüências do delito, para tanto estas duas hipóteses devem ocorrer logo após o

crime.

Passemos a analisar cada um dos pressupostos separadamente.

Para receber o benefício desta minorante o ato deve ser praticado logo

após o crime, ou seja, em seguida, sem demora.

E assim ensina Heleno Fragoso28: “Deve o arrependimento ocorrer

logo após, ou seja, num lapso de tempo que não pode ser exatamente quantificado e

que se deve aferir pelos fundamentos da atenuação.”

A espontaneidade do agente também é indispensável para o

reconhecimento da atenuante.

Sendo assim, o agente não pode ter sofrido qualquer coerção para se

arrepender, este arrependimento deve ser sincero e espontâneo.

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O Professor Enio Luiz Rossetto29 ensina que espontaneidade é estar

livre de coação física, psicológica ou moral que perturbe a livre vontade de agir.

Como se vê, não é necessária a voluntariedade, mas apenas e tão

somente a espontaneidade do agente.

E estes comportamentos são diferentes como explica o Professor

Damásio de Jesus30 ao analisar o arrependimento do art. 15 do CP.

“Segundo se depreende do art. 15, tanto a desistência quanto a

resipiscência precisam ser voluntárias para a produção de efeitos jurídicos. Não se

exige que o abandono da empreitada criminosa seja espontâneo, bastando a

voluntariedade. Isso significa que a renúncia pode não ser espontânea, mas mesmo

assim aproveita o agente... O importante é que a conduta seja voluntária, não

determinada por circunstância alheia à sua vontade. De acordo com a lição de

Frank, a desistência é voluntária quando a agente pode dizer: “não quero

prosseguir, embora pudesse fazê-lo”, e é involuntária quando pode dizer: “não

posso prosseguir, ainda que quisesse”.

O último requisito trazido pela norma é a eficiência.

28 Lições de Direito Penal, parte geral. 1994 . p. 34029 A confissão no processo penal. 2001. p.11330 Direito Penal. Parte Geral. vol. 1. 2002. p. 344.

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Quando a lei menciona a eficiência do agente, está se referindo aos

meios utilizados para evitar ou minorar as conseqüências do crime e não o crime

propriamente dito, um vez que, a lei já pressupõe sua existência ao dizer: “logo

após o crime”.

Nesse ponto temos mais uma diferença entre o previsto no art. 65 e o

disposto na 2ª parte do art. 15 do Código Penal.

O art. 15, 2ª parte prevê a hipótese de arrependimento eficaz, pelo qual

o agente nem chega a obter o resultado do delito.

“A eficiência de que a lei fala deve referir-se ao esforço feito pelo

agente para minorar as conseqüências e não o resultado efetivo da tentativa. Ao

contrário do arrependimento eficaz (CP, art. 15, 2ª parte), para a atenuante deste

inciso III, b, não precisa haver eficácia em seu resultado31.”

Diante do exposto concluímos que a atenuante só será reconhecida se

o agente espontaneamente arrepender-se, mesmo que não voluntariamente, agindo

com eficiência, logo após a pratica do delito.

31 Celso Delmanto.Código Penal Comentado. 2000. p 123

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4.4.2. Reparação do Dano

Outra hipótese de atenuação da pena contida na alínea “b” do inciso III

do artigo 65 é a reparação do dano antes do julgamento.

Entendemos que a reparação do dano consiste na recomposição dos

prejuízos sofridos em decorrência do fato criminoso.

“É claro que nem todos os danos são reparáveis, e, embora todos

possam ser indenizáveis, mesmo os danos morais, para que se dê a atenuante em

questão, é necessário que o dano tenha sido reparado. Reparar, no caso, significa

restabelecer, restaurar, e só se dá a reparação quando o próprio bem danificado

tenha sido restabelecido ou restaurado. No caso de furto, por exemplo, a reparação

consiste na devolução ou reposição do objeto furtado, no de calúnia ou difamação

consiste na retratação; mas já no caso de injúria bem como de homicídio e outros,

embora possa dar-se a indenização, não há propriamente reparação32.”

Para a reparação do dano o agente deve estar imbuído de

espontaneidade, como explica Heleno Fragoso33: “Para a aplicação da atenuante

32 F. A. Gomes Neto. Novo Código Peal Brasileiro Comentado. Vol. 2. p. 14733 Lições de Direito Penal, parte geral. 1994 . p. 341

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exige-se que a reparação do dano seja completa e que o agente não tenha sido

obrigado a realizá-la. Se a reparação se efetua em conseqüência de sentença judicial

que, no cível, tenha condenado o agente, nenhuma razão existe para atenuar a

pena.”

Assim é também o entendimento Jurisprudencial:

“O ressarcimento do prejuízo causado pelo agente, para que se possa

ter reflexo diminutivo nas penas, por força do art. 65, III, b, do CP, deve ser

espontâneo, não podendo ser reconhecida tal atenuante se a vítima apenas logra o

recebimento do referido valor 3 anos após os fatos, e ainda, de modo coercitivo,

mediante ação executiva. ” (RJDTACRIM 32/484)

“ Com efeito, a reparação doa danos patrimoniais, após a descoberta

do crime- incluída a identificação de seu autor- também não é ato voluntário.”

(RT 663/300)

Sendo completa e espontânea a reparação do dano torna-se obrigatória

a valoração da atenuante mesmo que haja renúncia ou desistência da vítima.

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“Ainda que o ofendido renuncie ou recuse a reparação, a atenuante

será considerada, pois a sensibilidade moral e o sentimento de justiça do agente

ficaram evidenciados34.”

O preceito legal em estudo indica que a reparação deve ser feita antes

do julgamento.

Deve-se entender que o momento indicado é o julgamento em primeira

instância (ou da instância originária), a qual é competente para proferir os atos

decisórios, que não necessitam ter transitado em julgado.

Algumas exceções cabem à regra acima.

Uma delas está no art. 16, o qual traz o arrependimento posterior, pois

se houver reparação do dano antes do recebimento da denúncia ou da queixa, nos

crimes sem violência ou grave ameaça, incidirá sobre a pena uma causa de

diminuição e não uma atenuante.

Outra exceção está no art. 312 § 3 que prevê que a reparação do dano

no peculato culposo pode servir como causa de extinção da punibilidade, se ocorrer

antes da sentença, ou se posterior a esta, a pena pode ser reduzida.

34 Paulo José da Costa Jr, Direito Penal Curso Completo,. 2000. p174.

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4.5. Coação Resistível, Cumprimento de Ordem Superior e

Influência de Violenta Emoção (art. 65, III, c).

Artigo 65, III , c. “Cometido o crime sob coação a que podia

resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior,

ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato

injusto da vítima”.

O dispositivo supra, enumera três circunstâncias atenuantes a serem

valoradas na dosimetria da pena.

Como feito no capítulo anterior, estudaremos separadamente cada uma

das atenuantes previstas nesta alínea do art. 65 do Código Penal.

4.5.1. Coação Resistível

A coação classifica-se na doutrina como física e moral, que pode se

caracterizar como resistível ou irresistível.

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A coação física irresistível exclui a ação do agente, posto que não há

consciência e nem vontade para a prática do delito. Já a coação moral irresistível,

prevista no artigo 22 do Código Penal, é uma excludente da culpabilidade.

“Não constituem conduta os movimentos executados sob coação de

uma força exterior, irresistível e absoluta. A ação (ou omissão) perpetrada sob tal

coação não configura sequer uma conduta. Quem a pratica, longa manu, através da

vis absoluta, cui resistere non potest (à qual não pode resistir), é o coator. O coacto,

por seu turno, non agit, sed agit, sed agitur. O ato não é seu, mas de quem dele se

serviu como instrumento. A violência moral, pelo contrário, não elide a conduta. Aí

se vislumbra a vontade, embora viciada pela violência. Coactus, sed voluit

(coagido, mas quis). Embora não anulando a conduta, a vis compulsiva torna-a

inculpável35.”

“Costuma-se distinguir a coação física ( vis absoluta) da coação moral

(vis compulsiva). Na primeira, aquele que é coagido não realiza uma verdadeira

ação ou omissão, apresentando-se como simples objeto ou instrumento de

violência, pelo que só se deve considerar autor do crime o agente da coação, não o

coagido, paciente dessa mesma coação. A coação física denominada por Soler

“ violência física”, exclui, se irresistível, o coagido de qualquer cogitação de autoria

ou de co-autoria, visto que non agit sed agitur. A responsabilidade pelo fato é, pois,

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exclusiva do agente coator, figura indispensável na definição de qualquer

ocorrência reputada coativa. Na segunda - a coação moral - o coagido tem suas

possibilidades de opção bastante restringidas pelo temor de sofrer algum mal, mas

não obstante age ou se omite, impelido pelo medo, valendo-se de suas próprias

forças. Se essa última forma de coação – a vis compulsiva – for igualmente

irresistível, exclui-se a culpabilidade do coagido, por não lhe ser exigida, nas

circunstâncias, conduta diversa da que realizou36.”

Analisadas estas formas de coação irresistível passaremos ao estudo da

coação resistível, a qual pode ser física ou moral, possibilitando a atenuação da

pena.

Estaremos diante de uma coação física ou moral resistível, quando a

força exercida, ou o mal injusto prometido pelo coator puder de alguma forma ser

resistido, refutado, ou vencido, e o coagido não o fizer, por alguma fraqueza.

Como ensina a doutrina cabe ao magistrado analisando o caso

concreto, verificar se a coação foi resistível ou irresistível.

35 Paulo José da Costa Jr, Direito Penal- Curso Completo,. 2000. p. 4436 Francisco de Assis Toledo. Princípios Básicos de Direito Penal. 2001. p. 338.

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“Como parâmetro para decidir se o constrangimento era ou não

vencível, serve-se o julgador do agente concreto, nas condições em que realizou a

conduta37.”

“Para se saber se a coação era ou não resistível, não se considera aqui

um abstrato modelo, ou homo medius, mas sim a capacidade do agente concreto,

nas condições em que atuou38.”

Como vimos, a coação física irresistível exclui a conduta, embora

haja divergência na doutrina, que não é objeto deste trabalho. A coação moral

irresistível exclui a culpabilidade, como visto no art. 22 do CP. A coação física

resistível é uma circunstância que possibilita a atenuação da pena, assim como a

coação moral resistível.

4.5.2. Cumprimento de Ordem de Autoridade Superior

A ordem de superior hierárquico no regime de direito público pode

ocorrer de três formas: legal; não manifestamente ilegal; e manifestamente ilegal.

37 Paulo José da Costa Jr, Direito Penal- Curso Completo,. 2000. p. 174.38 Heleno Cláudio Fragoso.Lições de Direito Penal, parte geral.1994 . pp. 341

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Se a ordem emanada do superior for legal haverá a exclusão da

antijuridicidade do fato, por estrito cumprimento do dever legal, conforme o art. 23,

inc. III do CP.

A ordem não manifestamente ilegal terá como conseqüência a

exclusão da culpabilidade (art. 22, 2ª parte), desde que haja estrita observância da

ordem dada.

Se, a ordem for manifestamente ilegal, o agente terá condições de

verificar sua ilegalidade e inclusive questioná-la perante seu superior. Caso o

mesmo realize a conduta ordenada terá somente a atenuação da pena.

4.5.3. Influência de Violenta Emoção

Para ser considerada esta circunstância atenuante o agente deve

praticar o crime sob a influência de violenta emoção, provocada por um ato injusto

da vítima.

A análise desta atenuante depende da conceituação de emoção, para

tanto, trazemos as seguintes considerações doutrinárias:

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“Emoção é um movimento psíquico de forte e repentina comoção ou

excitação, que pode acometer numa pessoa, à vista de alguém ou pela percepção de

algo bom ou ruim. Exemplos: raiva, alegria, medo, coragem, etc39.”

“Para o direito penal, que trabalha sobre o agir humano, os estados

emocionais adquirem espacial relevância, por razões óbvias, desde que apresentam

grau de intensidade capaz de interferir nos processos de inibição e controle. Não se

lhes atribui, entretanto, como regra o papel decisivo na área de exclusão da

culpabilidade, a não ser em casos especiais, quando traduzam situações de

inexigibilidade (exemplo: o medo da coação moral irresistível), ou sintomas de

estados patológicos. Na primeira hipótese, o legislador reservou para si a

regulamentação dos mencionados casos especiais, considerados, o mais das vezes,

componentes ou fatores motivacionais do comportamento, para efeito tão-somente

de atenuação da pena ou do grau da culpa. Na última hipótese, a solução se desloca

para a área do art. 26 e seu parágrafo do Código Penal40.”

“Emoção é um estado afetivo que produz momentânea perturbação da

personalidade. Afeta o equilíbrio psíquico, ou seja, o processo ideativo, acarretando

39 Celso Delmanto.Código Penal Comentado. 2000. p 55.40 Francisco de Assis Toledo. Princípios Básicos de Direito Penal. 2001. p. 337.

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alterações somáticas, com fenômenos neurovegetativos (respiratórios, vasomotores,

secretores etc.) e motores (expressões e mímicas)41.”

Este estado psíquico alterado deve ter

sido provocado por um ato da vítima

e este ato deve ser necessariamente

injusto, ilícito, contrário ao

ordenamento jurídico.

Contudo esclarece Paulo José da Costa42: Esse ato injusto não precisa

configurar um crime. Até o ato emulativo (pintar o muro da casa alheia) poderá

constituir a provocação injusta. Mesmo que a provocação se volte contra terceiro,

ligado ao agente por relações de amizade ou afeto, poderá ele emocionar-se

comprando briga.”

Quando o agente é acometido por esta alteração de seu estado

psíquico, devido a uma injusta provocação da vítima, entende o legislador que o

abalo é tão grande na estrutura do ser humano, que este deve ter um abrandamento

de sua pena, e esta circunstância será valorada pelo magistrado, conforme os autos,

aferindo-se a provocação efetuada e a comoção ocorrida.

41 Heleno Cláudio Fragoso.Lições de Direito Penal, parte geral.1994 . p. 202.42 Direito Penal Objetivo. 2003.p.123.

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4.6. Confissão Espontânea (art. 65, III, d)

Artigo 65, III, d. “confessado espontaneamente, perante

autoridade, a autoria do crime”.

Há outra hipótese de atenuação da pena que consiste na confissão

espontânea, prevista no artigo 65, III, alínea “d” do Código Penal.

“Nota-se na doutrina que a definição de confissão varia, ora no sentido

de declaração ou declaração que alguém faz admitindo como verdadeiro os fatos

afirmados pelo adversário e que lhe são desfavoráveis, ora como testemunho dado

pela pessoa reconhecendo fatos que lhe prejudicam43.”

Após uma profunda análise sobre o conceito de confissão o ilustre

professor Enio Luiz Rossetto44, chega a conclusão que no processo penal a

confissão pode ser conceituada, sinteticamente, como a expressão designativa pelo

autor da prática criminosa, da realidade da imputação que lhe é feita.

43 Enio Luiz Rosseto. A Confissão no Processo Penal. 2001. p 58.44 Idem. p. 61.

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A confissão, ato de grande importância para o processo penal na busca

da verdade, tem relevância para o direito penal, uma vez que se constitui

circunstância atenuante genérica.

São fundamentos desta circunstância: a colaboração do réu para a

instrução processual; a utilidade pública do ato; o indício de que o confesso tem

menor culpabilidade; e a renúncia ao direito do silêncio.

Todos estes fundamentos são bem defendidos pela doutrina e

jurisprudência.

“Para Carrara a utilidade política da confissão, - deixado ao livre

convencimento do juiz, o julgamento da sua importância, - está nisto: dada a

certeza de que, por falta de prova, se deveria absolver, é melhor que se puna,

embora com menos rigor, do que não punir, absolvendo-se um culpado.

Armando Raggi y Ageu vê nas atenuantes do arrependimento critérios

objetivos e subjetivos. Nos primeiros, o arrependimento é indício de menor culpa

ou sintoma de menor culpabilidade; nos outros, a base das atenuantes é a utilidade e

a conveniência pública do ato, e suas conseqüências favoráveis para a vítima e para

o Estado.

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O nosso legislador seguiu este duplo critério no apreciar do

arrependimento. Adotou um ponto de vista utilitário, na parte especial, quando

isenta de pena a testemunha e o perito, que retratam, antes da sentença, o

depoimento ou o laudo falsos; mas, o ponto de vista moral ou psicológico e o fim

utilitário aparecem equiparados no conceito legal da atenuante.

O legislador encara a confissão como um serviço à justiça, quando se

verifica antes da autoria ser conhecida; e a encara, subjetivamente, quando a

imputação já recaiu sobre um inocente; no primeiro caso, perece que a pena é

atenuada, porque o imputado concorreu para a punição do crime, denunciando-se;

no segundo caso, a pena é atenuada, segundo parece também, porque a natureza

moral do imputado se mostrou menos perversa, evitando que um inocente fosse

condenado45.”

Entendemos que a atenuante deve ser conferida ao confesso, pois este

abre mão do seu direito constitucional de permanecer em silêncio e constitui prova

contra si mesmo.

Este ato do réu é brilhantemente explicado pelo professor Marco

Antonio de Barros46: “Como corolário natural da autodefesa, a lei faculta ao

acusado o direito de optar entre confessar ou não, entre colaborar ou não para a

45 Pedro Vergara. Das circunstâncias atenuantes no Direito Peal Vigente. 1948. p. 222 e 223.

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revelação da verdade, pois entre nós vige o princípio de que ninguém é obrigado a

declarar a verdade se assumir, com essa declaração, o risco de ser incriminado.

Trata-se de uma faculdade que corresponde ao exercício de um direito sagrado do

réu, mediante o qual este fica dispensado de prestar juramento de dizer a verdade,

selando um sistema que impõe respeito aos órgãos incumbidos de investigá-la.”

Esta circunstância legal pressupõe dois requisitos para sua a valoração,

quais sejam, que seja feita de forma espontânea e perante uma autoridade.

“Não basta, porém, a simples confissão para que se configure a

atenuante, exige a lei que seja ela espontânea, de iniciativa do autor do crime, e que

seja completa e movida por um motivo moral, altruístico, demonstrando

arrependimento47.”

Até a reforma de 1984, exigia-se mais um requisito para esta

atenuante, de que a confissão fosse de crime cuja autoria era ignorada ou imputada

a outrem, como se observa no texto da lei:

Artigo 48, IV, d. “confessado espontaneamente, perante

autoridade, a autoria do crime, ignorada ou imputada a

outrem”.

46 A busca da Verdade no processo penal. 2002. p. 169 e 170.47 Julio Mirabete, Código Penal Interpretado. 1999. p 372.

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Essa alteração foi indicada pelo expositor do Código Penal,

“Beneficia-se, como estímulo a verdade processual, o agente que confessa

espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime, sem a exigência, em

vigor, de ser a autoria ignorada ou imputada a outrem.” (Exposição de Motivos do

Código Penal. Lei 7.209/84. Item nº 55).

O dispositivo refere-se a autoridade policial ou judiciária, não sendo

considerada a atenuante se houver a confissão na fase do inquérito policial e a

retratação ou negativa em juízo. Ressalte-se que não é necessária a ratificação da

confissão extrajudicial na fase processual.

A atenuante deve ser considerada mesmo que haja revelia, neste caso

se considerará a confissão feita no inquérito.

Esse entendimento acima, não é unânime, como se vê pelo julgado do

Supremo Tribunal Federal:

“O acusado que, embora na fase policial tenha confessado a autoria

do delito, não a confirma em juízo, esquivando-se em virtude de embriaguez, não

pode ser beneficiado com a atenuante do art. 65, III, d, do Código Penal.” (HC

70.376- SP- DJU de 22-10-93, p. 22.254).

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Conforme explicado alhures, a espontaneidade da confissão pressupõe

requisito para sua valoração, sendo condição necessária para seu fim, consistindo

em um ato livre de qualquer coação, seja ela física ou moral, diferenciando-se da

voluntariedade, como já explanado no Capítulo 4.4.1.

Surge uma divergência em relação ao motivo da confissão, ou seja,

parte da doutrina entende que apenas a confissão pura não atenua a pena,

simplesmente pelo fato da mesma ter que vir, necessariamente, acompanhada de

um arrependimento sincero, ou outro motivo relevante.

Compreendemos que a confissão, por si só, basta para o

reconhecimento da atenuante, vez que a lei não traz e não exige, nem tão pouco

coloca como condição necessária o motivo da confissão.

Nesse sentido explica Luiz Carlos Betanho: 48 “A lei não exige que o

réu demonstre arrependimento, quando está confessando, para que ele faça jus à

mitigação da pena. Esse acréscimo, feito pela doutrina há muitos anos, com todo

respeito, é despropositado na situação atual da Parte Geral do Código Penal.”

Sendo assim, se o réu confessar espontaneamente, perante a autoridade

(policial ou judiciária) a autoria do crime, terá de ter sua pena reduzida com base

no art. 65, III, “d”.

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4.7. Influência de Multidão em Tumulto (art. 65, III, e)

Artigo 65, III , c. “Cometido o crime sob a influencia de

multidão em tumulto, se não o provocou”.

O legislador estabelece uma hipótese de atenuação da pena, para tanto,

o sujeito ativo deve cometer o crime influenciado por multidão em tumulto, desde

que não tenha sido o provocador da perturbação referida.

Esta atenuante funda-se em aspectos subjetivos, vez que em momentos

de tumulto, o barulho, a discórdia e a agitação moral levam o indivíduo a perder

sua consciência individual, ficando sob a influência do coletivo desordenado.

Assim fundamenta ilustre jurista Aníbal Bruno “Quando uma multidão

se toma de um desses movimentos paroxísticos, inflamada pelo ódio, pela cólera,

pelo desespero, forma-se por assim dizer uma alma nova, que não é a simples soma

das almas que a constituem, mas, sobretudo do que nelas existe de subterrâneo e

primário, e esse novo espírito é que entra a influir e orientar as decisões do grupo,

conduzindo-o muitas vezes a manifestações de tão inaudita violência e crueldade

48 A Atenuante da Confissão espontânea na Prática Judiciária. RT 683/ 277.

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que espantarão mais tarde aqueles menos que dele faziam parte. Nesses momentos

decisivos do destino das multidões surgem inesperadamente seres que se podem

dizer mais próximos da animalidade primitiva e tomam a dianteira, fazendo-se os

arautos e inspiradores da multidão em tumulto. O homem subterrâneo, que se

esconde no mais profundo do psiquismo, desperta a esse apelo, para inspirar as

façanhas mais imprevistas de força e ferocidade. É uma arrancada de animais

enfurecidos, levados pelos “meneurs”, mas estes mesmos arrastados por esse

espírito da multidão amotinada, já então difícil de dominar. Cria-se uma moral de

agressão, que sufoca a habitual hierarquia de valores e subverte a vigilância da

consciência ético-jurídica-comum e que contamina por sugestão todos os que se

encontram em presença do tumulto. É claro que, em tais circunstâncias, a

capacidade de ponderar e decidir moderada e conscientemente, em que se apóia a

responsabilidade penal, perturba-se e enfraquece. Nos próprios “meneurs”, o que se

tem de tomar em consideração é mais o perigo que eles representam como

instigadores de motins49.”

“É conhecida a influência notável exercida pela multidão sobre o

estado psicológico se seus participantes. As pessoas são capazes de fazer, em

multidão, o que jamais fariam isoladamente. Cria-se na turba em tumulto uma

49 Apud: Esther de Figueiredo Ferraz. A co-delinqüência no direito penal brasileiro. 1976. p. 82/83.

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espécie de alma coletiva, que termina por agir sobre os próprios organizadores e

instigadores50”.

Extraímos dos autores citados que o sujeito quando age em tumulto

perde parcialmente, em função desta perda sua culpabilidade é reduzida.

Na legislação em vigor, facilmente percebemos os requisitos para esta

atenuação. A redação anterior à reforma da parte geral exigia outros requisitos para

a atenuação, a saber:

Artigo 48, IV, e . “Cometido o crime sob a influência de

multidão em tumulto, se, lícita a reunião, não provocou o

tumulto, nem é reincidente”.

Além da influência da multidão em tumulto não provocada pelo

sujeito ativo, este não poderia ser reincidente e a reunião não poderia ser ilícita.

Com a reforma de 1984, o dispositivo passou a exigir somente a

influência de multidão não provocada pelo agente.

50 Heleno Cláudio Fragoso.Lições de Direito Penal, parte geral.1994 . p. 342.

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“Não se exige mais, como na lei anterior, que a reunião seja lícita ou

que o agente não seja reincidente, sendo suficiente que o agente não tenha

provocado o tumulto51.”

“O Código aboliu a exigência da velha Parte Geral, que requeria, para

apresentar-se a atenuante, não fosse o agente reincidente. Contentou-se com o

cometimento do crime sob a influência de multidão em tumulto não provocado pelo

agente52.”

Atualmente para a atenuação basta a existência de dois requisitos,

quais sejam: que o agente tenha cometido o crime sob a influência de multidão em

tumulto, e que não tenha sido ele o provocador do tumulto.

4.8. Pena Cumprida no Estrangeiro (art. 8º)

51 Julio Fabbrini Mirabete, Código Penal Interpretado. 1999. p. 37852 Paulo José da Costa Jr, Direito Penal Curso Completo,. 2000. p175

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Artigo 8º. “A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena

imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou

nela é computada, quando idênticas”.

Os doutrinadores, quando falam das atenuantes, olvidam-se dos

comentários sobre a atenuante prevista no art. 8º do CP.

O dispositivo traz duas possibilidades de benefícios para o agente,

acolhendo a regra do non bis in idem, com o objetivo de evitar a dupla punição.

“A presente norma procura atenuar o rigorismo do § 1º do art. 7º, pelo

qual o agente será punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou

condenado no estrangeiro53.”

A doutrina define as hipóteses de beneficio considerando a diversidade

qualitativa e a diversidade quantitativa.

O objeto de nosso estudo envolve apenas a diversidade qualitativa,

sendo a única que gera a atenuação da pena.

A diversidade quantitativa, não será por nós estudada, bastando saber

apenas que, se forem idênticas as penas, a pena cumprida no estrangeiro pela

53 Paulo José da Costa Jr. Direito Penal Objetivo. 1989.pp 12.

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prática do mesmo crime será computada na pena a ser imposta pelo magistrado

brasileiro, ou seja, o juiz efetuará uma conta de subtração.

Esse mecanismo não pode ser utilizado quando o magistrado analisa

uma diversidade qualitativa, uma vez que as penas são de natureza diversa.

A atenuação decorrente da diversidade qualitativa é obrigatória, e o

julgador utilizará o prudente arbítrio para valorar, considerando para tanto, o fato

de o agente já ter cumprido um outro tipo de pena no estrangeiro, estabelecendo

assim o quantum reduzir.

E assim explica Damásio de Jesus:

“O fato de ter o sujeito cumprido

pena imposta pelo julgado

estrangeiro influi, no Brasil, na

determinação da pena concreta,

atenuando-a, se a pena já cumprida

for diversa em qualidade da que a lei

brasileira comina ao mesmo crime

(pena de multa cumprida no

estrangeiro e privativa de liberdade a

ser imposta no Brasil)54.”

54 Direito Penal- Parte Geral. vol. 1. 2002. p 137.

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E o mestre ainda traz um exemplo: “um sujeito, no estrangeiro, pratica

crime contra a fé pública da União (brasileira), incidindo a extraterritorialidade

incondicional de nossa lei penal (art. 7º, I, b). É condenado nos dois países (art. 7º §

1º ): multa no estrangeiro e reclusão no Brasil. Satisfeita a multa no estrangeiro,

fica atenuada a pena imposta no Brasil55.”

4.9. Atenuante Inominada (art. 66)

Artigo 66. “A pena poderá ser ainda atenuada em razão de

circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime,

embora não prevista expressamente em lei”.

Com este dispositivo o legislador permite que o juiz, utilizando-se de sua

discricionariedade, considere qualquer circunstância anterior ou posterior ao crime,

que de acordo com seu entendimento possa mitigar a pena do réu.

Esta circunstância, conteúdo variável, define-se de acordo com o

entendimento do magistrado.

55 Idem.

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“Alguns a chamam de atenuante da clemência, pois o magistrado

pode, especialmente o juiz leigo no Tribunal do Júri, levar em consideração a

indulgência para acolhê-la56.”

O art. 66 foi introduzido pela reforma de 1984, em razão do reflexo

das críticas da doutrina e jurisprudência, pois a legislação antiga só contemplava

um rol taxativo.

Mesmo com o novo texto de Lei as críticas não diminuíram, uma vez

que a Exposição de Motivos do Código Penal (nº 55) tem a seguinte redação:

“Instituiu-se, finalmente, no art. 66, circunstância atenuante genérica e

facultativa, que permitirá ao juiz considerar circunstância relevante, ocorrida antes,

durante ou após o crime, para a fixação da pena.”

Ao indicar que a circunstância pode ter ocorrido durante o crime,

olvidou-se o expositor que esta expressão não contém no texto do art. 66 do Código

Penal.

“O dispositivo faz referência, apenas, a circunstância anterior ou

posterior ao crime. Silencia acerca da circunstância concomitante, que poderá

apresentar-se na realidade fática57.”

56 Guilherme de Souza Nucci .Apostila do Curso CPC. 2002.p.89.57 Paulo José da Costa. Comentários ao Código Penal. 2002. p. 229.

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Mesmo sem expressa disposição legal, fazendo-se uma interpretação

mais benéfica para o réu, entendemos que o juiz também pode considerar a

circunstância concomitante ao crime.

“O legislador não se referiu à circunstância concomitante ao fato

delituoso, mas tal omissão não obsta o seu reconhecimento, cuidando-se, na

espécie, de um caso de integração analógica perfeitamente admissível58.”

Mesmo com essa falha andou bem o legislador em acolher as

circunstâncias indefinidas, uma vez que, nenhuma lei seria capaz de prever, os

fenômenos que podem influenciar a prática de um crime.

Esta atenuante não afasta a certeza do direito, e muito menos ofende o

princípio da reserva legal, pois vem para beneficiar o réu e para garantir uma

correta individualização da pena.

São inúmeras as hipóteses que podem ser consideradas por este artigo,

mas para facilitar nosso estudo, buscaremos no Prof. Damásio de Jesus alguns

exemplos.

“Exemplos: Ser o réu portador de doença incurável, influência

religiosa, ser portador de defeito físico relevante, ter sofrido em face do crime um

dano físico, fisiológico ou psíquico etc.59”

58 Alberto Silva Franco. Código Penal e sua Interpretação. 1995. p. 813.59 Código Penal Anotado. 2002. p. 242.

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Além destes exemplos, poderemos ter casos em que o juiz, analisando

uma determinada circunstância, verifica que ela não preencheu os requisitos de

uma das hipóteses do art. 65, logo poderá considerá-la com base no art. 66.

Explico: suponhamos que o réu tenha reparado parcialmente o dano

sofrido pela vítima. Vimos que o art. 65, inc. III, alínea “b”, prevê a reparação

integral do dano, diante deste fato o juiz, verificando que não cabe a circunstância

nominada (art. 65), pode se utilizar do art. 66 do CP para efetuar a redução da pena.

Como dito, nosso sistema permite essa atenuação inclusive no

Tribunal do Júri, com se vê pelo art. 484, parágrafo único, inciso IV do CPP.

Tal disposição obriga o juiz a valorar qualquer circunstância que o

corpo de sentença tenha entendido como atenuante, independentemente de sua

previsão legal.

5. Concurso de Circunstâncias Agravantes e Atenuantes

Artigo 67. “No concurso de agravantes e atenuantes, a pena

deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias

preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos

motivos determinantes do crime, da personalidade do agente

e da reincidência.”

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Pode ocorrer que um mesmo fato delituoso seja acompanhado por

circunstâncias agravantes e atenuantes.

Quando isto ocorrer, o julgador terá seu trabalho facilitado pelo

disposto no art. 67, o qual estabelece alguns critérios para a resolução deste

concurso.

Como visto no dispositivo acima transcrito, o magistrado deve se

apegar “as circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam

dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.”

“O critério legal demonstra que o legislador penal emprestou maior

relevo às circunstâncias de natureza subjetiva, para mostrar-se coerente com o

moderno direito penal da culpa60.”

Nas lições do Prof. Damásio de Jesus61: “O juiz deve dar

preponderância às circunstâncias de natureza subjetiva, calcadas na personalidade

do agente e nos motivos determinantes da prática da infração. Se as circunstâncias

se equivalem, uma neutraliza o efeito agravador ou atenuador da outra.”

“São prevalentes as de caráter subjetivo. São objetivas as

circunstâncias relativas à natureza, espécie, meios, ao objeto, ao lugar, à

modalidade e à forma de execução. As circunstâncias subjetivas são aquelas que

60 Paulo José da Costa Jr. Comentários ao Código Penal. 2002. p. 230.61 Direito Penal. Parte Geral. p. 591.

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decorrem dos motivos determinantes dos crimes, da personalidade do agente, e da

reincidência62.”

Dentre as circunstâncias preponderantes a de maior relevo é a

menoridade, pois é um importante dado biopsíquico que compõe a personalidade

do agente.

“Sempre foi tradição em nosso direito que a menoridade tem maior

peso do que qualquer outra circunstância. Ela também é preponderante neste art.

67, pois a personalidade (característica do menor) vem indicada antes da

reincidência.63”

Esse entendimento tradicionalencontra divergência.

“Tal orientação, todavia, contrasta flagrantemente com a lei que não

inclui a menoridade como circunstância preponderante64.”

Não obstante a divergência apresentada, entendemos que a

menoridade é elemento da personalidade do agente e assim circunstância

preponderante.

Para facilitar o entendimento desta regra o Prof. Damásio65 traz o

seguinte exemplo”:

62 Sérgio Salomão Shecaria. Cálculo de Pena e o Dever de Motivar. Revista do IBCCrim. Nº6, p. 168.63 Celso Delmanto. Código Penal Comentado. 2000. p.127.64 Julio Mirabete. Manual de Direito Penal. 2003. p. 307.65 ob. cit. P. 593

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“O agente comete um crime de roubo próprio com emprego de arma

(art. 157, caput, e § 2º, I, 2.ª figura), em ocasião de incêndio (art. 61, II, j, 1.ª

figura); após confessa a autoria (art. 65, III, d). Operações:

a) fixação da pena-base diante das circunstâncias judiciais;

b) preponderância da atenuante da confissão espontânea sobre a

agravante ocasional (por ocasião de incêndio), diminuindo a pena.

c) Incidência da causa de aumento de pena (art. 157, § 2.º, I última

figura).

Com este exemplo, é fácil perceber

que o magistrado terá que analisar em

cada caso quais circunstâncias que

irão preponderar sobre as outras.

“Havendo uma circunstância

agravante subjetiva e outra atenuante

subjetiva elas se anulam, posto que

ambas têm a mesma natureza. Só

haverá prevalência de uma sobre a

outra quando tiverem natureza

distinta. Resumindo a ordem de

importância: menoridade,

reincidência, circunstâncias

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subjetivas e, por derradeiro,

agravantes/ atenuantes objetivas66.”

6. Circunstâncias Atenuantes Genéricas no Tribunal do Júri

Um dos mais belos institutos de

nosso ordenamento jurídico trata-se

do Tribunal do Júri.

Garantia de um regime democrático,

a instituição do Júri assegura um

julgamento eqüitativo pela sociedade,

pois seu veredicto é proferido por

representantes de diversas camadas

que a compõe.

A norma suprema de nosso

ordenamento consagra tal relevância

da instituição do Júri como garantia

fundamental do cidadão (artigo 5º,

inciso XXXVIII).

Em virtude disso, há de se ressaltar

quão importante se torna a valoração

e o reconhecimento das atenuantes

66 Sérgio Salomão Shecaria. Cálculo de Pena e o Dever de Motivar. Revista do IBCCrim. Nº6, p. 168.

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nos julgamentos de competência do

Tribunal do Júri.

Esta importância foi reconhecida pelo

legislador infra-constitucional que

determinou a quesitação obrigatória

sobre a existência das atenuantes,

conforme o artigo 484, parágrafo

único, incisos III e IV do CPP.

“É muito comum nos julgamentos

realizados pelo Tribunal do Júri que

os jurados, após responderem

positivamente aos quesitos que

indagam sobre a responsabilidade

penal, declararem a existência de

circunstância atenuante ainda que não

tenha sido objeto de debates. Ao

perceber que inexiste qualquer

atenuante indicada pelo art.65 do CP,

o juiz sugere uma delas que melhor

possa reduzir a pena do réu já

condenado, é uma das causas

inspiradoras do art. 66 do CP que tem

como fonte legislativa o disposto

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pelo inc. III do parágrafo único do

art. 484 do CPP67.”

Não só no momento da quesitação,

mas também na lavratura da

sentença, o legislador remete o

Presidente do Tribunal do Júri à

obrigatoriedade da valoração das

atenuantes e agravantes, conforme o

artigo 492, inciso I do CPP.

Grande divergência há na doutrina e

na jurisprudência quanto a quesitação

destas circunstâncias atenuantes.

Uma corrente defende que o juiz -

Presidente do Júri deve formular um

quesito genérico sobre as atenuantes,

e somente se a resposta do conselho

de sentença for afirmativa, é que este

fará uma quesitação específica.

Outra corrente argumenta que basta a

quesitação genérica, se a resposta for

positiva, quanto à existência da

atenuante cabe ao juiz – presidente

67 René Ariel Dotti. Curso de Direito Penal- Parte Geral. 2002. p. 532.

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enquadra-la dentre as hipóteses

trazidas pela lei.

O importante para os adeptos desta

corrente é que haja a efetiva

valoração das circunstâncias, assim

acarretando a redução da pena, não

gerando prejuízos ao réu.

Como o objeto de nosso trabalho, não

envolve questões procedimentais, não

nos aprofundaremos nesta

divergência.

Cabe ao nosso estudo apenas

ressaltar a obrigatoriedade da

quesitação sobre a existência das

circunstâncias atenuantes, vez que

essas devem ser consideradas por

tratar-se de expresso mandamento

legal.

A ausência desta quesitação gera a

nulidade da sentença. Inúmeros

julgados existem neste sentido, o que

permitiu ao Supremo Tribunal

Federal, a edição da Súmula nº 156:

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“É absoluta a nulidade do

julgamento, pelo júri, por falta de

quesito obrigatório.”

A Carta Magna de 1988 assegura a

soberania dos veredictos do Conselho

de Sentença.

Nesse sentido, ensina Hermínio

Marques Porto68: “A soberania do

júri deve ser entendida como a

impossibilidade de os juizes togados

se substituírem aos jurados na

decisão da causa, e, por isso, o

Código de processo Penal, regulando

a apelação formulada em oposição à

decisão dos jurados manifestamente

contrária à prova dos autos (letra “d”

do inciso III do artigo 593),

estabelece que o Tribunal ad quem,

dando provimento, sujeitará o réu a

novo julgamento (§ 3º do artigo 593)

perante o Tribunal do Júri).”

“Obviamente para o nosso CPP, não

significa, nem traduz, uma

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onipotência desenfreada e

desconhecida... Sendo assim, a

expressão foi empregada no sentido

de que nenhum Órgão Jurisdicional

pode sobrepor-se às decisões do Júri

para exercer, simultaneamente, o

judicium rescindens e o judicium

rescisorium69.”

Tal cautela tomou a Constituição ao

considerar que pode haver a real

influência do Juiz - presidente nas

decisões da sociedade, posto que o

mesmo efetuaria friamente a

subsunção, causando o afastamento

da influência do meio social das

decisões dos jurados.

7. Fixação da Pena Aquém do Mínimo Legal

Chegamos ao capítulo que polemiza nosso trabalho.

68 Júri: Procedimentos e aspectos do julgamento. 1998. p. 46.69 Fernando da Costa Tourinho Filho. Processo Penal. Vol. 4. 2002. p. 85.

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A doutrina e a jurisprudência dividem-se paradoxalmente, ao analisar

se uma atenuante pode trazer a pena abaixo do mínimo legal.

Muitos dos doutrinadores defendem que as atenuantes não podem ser

utilizadas para extrapolar os limites legais, dentre eles estão:

DAMÁSIO E. DE JESUS – “A s atenuantes, não atuando na cominação

abstrata, não podem extrapolar os limites legais, sob risco de inconstitucionalidade,

uma vez que os princípios da individualização e da pena determinada, nos termos

da Constituição Federal (art. 5º XXXIX e XLVI), encontram limitação na

legislação ordinária.” ( O juiz pode, em face das circunstâncias atenuantes

genéricas, fixar a pena aquém do mínimo legal abstrato? - Boletim do IBCCrim –

Ano 6 – nº 73 – dezembro de 1998. p. 3).

HELENO CLÁUDIO FRAGOSO - “ As circunstâncias legais atenuantes

são de aplicação obrigatória. Elas atuam diminuindo a reprovabilidade da ação e

pois, a culpabilidade. Não pode, porém, a pena ser diminuída abaixo da escala

legal.” (Lições de Direito Penal- Parte Geral.1994 . p. 338 e 339).

RENÉ ARIEL DOTTI - “Parece-me que a orientação mais adequada ao

sistema positivo e ao espírito do texto do art. 65 do CP é de que a circunstância

atenuante não faz baixar a pena aquém do mínimo legal.” ( Curso de Direito Penal:

Parte Geral. 2002. p. 515).

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PAULO JOSÉ DA COSTA JR. – “A segunda etapa do processo de

individualizador da pena compreende a apreciação e a quantificação das

circunstâncias legais, agravantes e atenuantes. A aplicação de tais circunstâncias

haverá de respeitar sempre os limites punitivos expressos no tipo. A adoção de

posicionamento diverso equivaleria a trocar a certeza do direito pelo arbítrio

judicial.” (Direito Penal-Curso Completo. 2000. p. 176).

Após a analise destas opiniões não poderia deixar de citar o professor

James Tubenchlak70: “Trata-se, como se observa das transcrições acima, de um

ponto de vista desacompanhado de qualquer fundamentação, seja de ordem jurídica

ou legal. Diga-se mais, aceito sem reservas e também imotivadamente pelos

Tribunais, tal qual ocorria antes da vigência da nova Parte Geral.”

Na jurisprudência verificamos que são inúmeros os casos em que se

utilizou desta tese infundada e comodista. (RT, 541:367, 566:344, 644:378,

662:288, 707:354, 737:551, 740:647, 746:522 etc).

Se não bastassem os acórdãos citados encontramos ementas em alguns

Tribunais, como por exemplo, a Ementa nº 3 do Ementário n. 27/87, da

Jurisprudência do Tribunal de Justiça do estado do Rio de Janeiro, do seguinte teor:

“ Os limites máximo e mínimo da cominação legal só podem ser ultrapassados por

força de causa de especial aumento ou diminuição de pena, não por força de

70 Atenuantes – Pena Abaixo do Mínimo. Revista Forense. Vol. 312. 1990. p. 15.

Page 80: Circunstâncias Atenuantes Genéricas · 2005-02-22 · outros. Código penal e sua Interpretação Jurisprudencial. 1995. p. 803). “As atenuantes são circunstâncias de caráter

simples agravante ou atenuantes.” (D.O. de 24.9.1987, pp. 127). E, se não bastasse,

foi editada pelo Superior Tribunal de Justiça, em 22/09/1999, a súmula nº 231 com

o seguinte teor: “ A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à

redução da pena abaixo do mínimo legal.”

Diante desta situação, verificamos que foi estabelecido um “pacto de

mediocridade”, uma vez que, todos aceitam a tese da não redução sem discutir, e

nem sequer analisar, seus fundamentos.

O Professor Alberto Marques71 parte da premissa que essa corrente

majoritária forma um argumento de autoridade. “O problema com o argumento de

autoridade está em que muitos o consideram como um alvará-para-não-pensar, um

salvo-conduto para acreditar, defender e adotar teses com base apenas no prestígio

ou número dos seus defensores, sem indagar se essas teses resistem a uma analise

racional.”

Esperamos que uma nova geração de magistrados resista a esta

“síndrome da pena mínima” e que passe a analisar profundamente cada caso, de sua

mesa ou de sua vida, deixando de escorar-se no formalismo exacerbado, somente

para eliminar mais um número de processo que compõe a enorme pilha em seu

gabinete. Não podemos ter magistrados negando a Justiça.

71 Atenuantes e Pena Mínima. Revista Jurídica. Nº 288, p. 75.

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Sem menos pudor, James Tubenchlak72 rebate a tese dominante:

“Estamos, em suma, digladiando-nos com um posicionamento doutrinário e

jurisprudencial carente de supedâneos jurídicos e legais, arcaico, preconceituoso e

defasado, na medida em que vem restringir, in malan partem, o que a nova Parte

Geral não restringe. Por não dizer respeito, como se viu, a nenhum fato notório ou

evidente, deve ser combatido, na teoria e na prática, até sua expulsão.”

A nosso ver, tal posicionamento, só poderia ser acolhido cegamente,

como vem ocorrendo, se houvesse norma expressa vedando a valoração da

atenuante quando a pena-base fosse estabelecida no mínimo legal.

A tese que acolhemos está baseada na interpretação da norma vigente

e longe dos vícios de interpretação da norma anterior, que expressamente vedava a

redução aquém do mínimo.

Estamos fundados na reforma do Código Penal que ocorreu em 1984,

o qual trouxe os seguintes dispositivos:

Artigo 68. “A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59

deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias

72 Idem.

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atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de

aumento.”

Artigo 59. “O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à

conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às

circunstâncias e as conseqüências do crime, bem como ao

comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e

suficiente para a reprovação e prevenção do crime.”

Artigo 65. “São circunstâncias que sempre atenuam a pena:”

Com a análise destes dispositivos podemos extrair os seguintes

fundamentos para a defesa da possibilidade de uma atenuante trazer a pena aquém

do mínimo legal:

1. Como afirmado anteriormente, a

legislação atual não proíbe a redução.

Se fosse da vontade do legislador que

a pena não fosse reduzida aquém do

mínimo legal abstrato, manteria a

proibição existente na legislação

anterior.

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Não há como negar ao réu, o que a lei não proíbe.

“Na segunda fase de fixação da pena, quando serão consideradas as

atenuantes e as agravantes, a restrição quanto ao limite mínimo desaparece, ou

melhor, não aparece em nenhum dispositivo do Código73.”

Ademais, o legislador estabeleceu expressamente uma restrição quanto

aos limites (art. 59, II) no momento em que o magistrado analisa as circunstâncias

judiciais, o mesmo não ocorreu quando se está analisando as circunstâncias legais.

Nesse sentido é a lição do Mestre Julio Mirabete74: “Enquanto para a

fixação da pena base se determina que devem ser obedecidos os limites previstos da

pena aplicável, o art. 68 não apresenta essa restrição ao dispor que, após essa

fixação, serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes, liberando-se

o julgador para a aplicação de pena superior ao máximo ou inferior ao mínimo.”

No mesmo diapasão ensina Luiz Regis Prado75: “Se na determinação

da quantidade da pena-base aplicável o juiz deve ater-se aos limites traçados no

tipo legal de delito (art. 59, II), uma vez fixada aquela, passa-se à consideração das

circunstâncias atenuantes e das agravantes, em uma segunda fase, conferindo-se ao

73 Miguel Loebmann. As circunstâncias atenuantes podem sim fazer descer a pena abaixo do mínimo legal. RT

676/390.74 Manual de Direito Penal. 2003. p. 311.75 Comentários ao Código Penal. 2003. p. 333.

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juiz a possibilidade de aplicar pena inferior ao limite mínimo, já que o art. 68 não

consigna qualquer restrição.”

Se a lei não repetiu a proibição para a

segunda fase da dosimetria é porque

não quis que houvesse tal vedação.

2. O art. 68 estabelece que na segunda fase da dosimetria da pena,

deverão ser analisadas as circunstâncias atenuantes e agravantes. O art. 65 do CP

elenca as atenuantes, cria a obrigatoriedade da utilização ao trazer a palavra

“sempre” em seu caput.

Ora, se a lei cria a obrigatoriedade de valoração de uma atenuante na

segunda fase do sistema de fixação da pena, não pode o julgador passar por esta

fase sem considerar a atenuante, mesmo que a pena base já tenha sido fixada no

mínimo legal.

O sistema previsto no art. 68 estabelece que a pena base será fixada

atendendo-se aos critérios do art. 59, o qual enumera as circunstâncias judiciais e

possibilita que seja estabelecida a pena mínima. Em seguida, serão consideradas as

atenuantes.

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Diante disto, “forçoso convir que, uma vez estabelecida a pena

mínima, e reconhecida uma atenuante, não se faculta, mas se impõe ao juiz, a

atenuação correspondente. A lei, nesse passo, é inegavelmente imperativa76.”

Se assim não fosse, só seria beneficiado com a atenuante o agente que

tenha atuado com dolo intenso, que ostente maus antecedentes, ou, ainda, que tenha

agravantes em concurso com atenuantes77.

Para maior elucidação do exposto, trazemos o seguinte exemplo:

“Imagine-se o caso de dois sujeitos que cometem um crime. O

primeiro, com 20 anos, nega o fato, prejudica a instrução criminal ameaçando

testemunhas, tendo que ser preso preventivamente. Este não tem uma boa conduta

social e tem sua pena-base aplicada acima do mínimo legal, mas não num patamar

muito elevado, e, em face da atenuante, responderá pela pena mínima cominada ao

crime. O segundo, com 20 anos, confessa o crime e ajuda na elucidação do caso,

apresentando provas que venham a ser base da condenação de ambos os

criminosos, sendo que, sem a sua colaboração, seria praticamente impossível a

condenação. Este tem boa conduta social, bons antecedentes, é primário, e tem sua

pena-base aplicada no mínimo legal78.”

76 James Tubenchlak - Atenuantes – Pena Abaixo do Mínimo. Revista Forense. Vol. 312. 199077 Dyrceu Aguiar Dias Cintra Junior. Atenuação da pena abaixo do mínimo. Boletim do IBCCrim. Nº 20 - 1994.78 José Campos do Amaral. Atenuação da Pena Abaixo do Mínimo Legal.

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Para a corrente majoritária esta situação é perfeitamente normal, mas

para aqueles que tem bom senso, que conhecem os mandamentos constitucionais e

que buscam efetivamente a realização da justiça, não podem admitir que isto ocorra

em nossos Tribunais.

Não se pode silenciar enquanto os magistrados retiram os direitos do

réu sem embasamento legal.

3. Com uma análise mais abrangente

e sistemática do ordenamento

jurídico penal vemos que o juiz pode

deixar de aplicar a pena ao réu,

concedendo-lhe o perdão judicial.

“O perdão judicial é a providência de

caráter jurisdicional com que o juiz

deixa de aplicar ao autor de uma

infração penal, nas hipóteses

taxativamente previstas em lei, o

preceito sancionador cabível79.”

E não é de hoje que nossa

jurisprudência consagra o princípio

da insignificância ou da bagatela (RT

79 Frederico Marques. Tratado de Direito Penal.Vol III p. 336

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569/338, 582/387, RJTJRS 116/131,

JTAPR 2/320).

Este princípio “é um instrumento de

interpretação restritiva, por

intermédio do qual se alcança a

proposição político-criminal da

necessidade de descriminalização de

condutas que, embora formalmente

típicas, não atingem de forma

relevante os bens jurídicos protegidos

pelo direito penal80.”

Se o juiz pode deixar de aplicar a

pena ao réu nestas hipóteses, é

incoerente afirmar que o juiz não

pode reduzir a pena do réu aquém do

mínimo, só porque ele não tem o

quantum reduzir. Se o juiz pode o

mais (absolver ou deixar de aplicar a

pena), pode também, o menos, que é

fixar a pena aquém do mínimo legal

abstrato.

80 Celso Delmanto.Código Penal Comentado. 2000. pp 19

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4. Ademais, não podemos afastar a aplicação do critério do non bis in idem quando

o réu cumpriu pena no estrangeiro, ou seja, não pode o réu ser punido duas vezes

pelo mesmo fato.

“Essa proibição de dupla valoração fática sustenta-se no próprio

princípio da legalidade, que trazendo em seu conteúdo também a finalidade de

garantir uma segurança jurídica concreta, não pode conviver com formulações

normativas que levem em conta, por mais de uma vez, um mesmo pressuposto

fático81.”

Explicamos tal argumento com o seguinte exemplo, supondo que o

magistrado está realizando o cálculo da pena e ao passar pela primeira fase da

dosimetria manteve a pena-base no mínimo, considerando que o réu tem todas as

circunstâncias judiciais (art. 59) a seu favor.

Ao passar para o segundo momento, o das circunstâncias legais, o

magistrado verifica que o réu não tem nenhuma agravante, mas já cumpriu pena em

outro Estado pelo mesmo crime que está sendo apenado.

Esta pena já cumprida foi diversa qualitativamente da que vai ser

aplicada no Brasil, diante de tal situação o magistrado não pode passar para a

terceira fase sem valorar este fato (art. 8º do Código Penal).

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A única possibilidade é que a pena seja reduzida abaixo do mínimo

legal, para se efetuar uma correta individualização da pena no Brasil, pesando o

fato de o réu já ter cumprido pena no estrangeiro.

Negar esta possibilidade é deixar de

aplicar o critério do non bis in idem,

o qual é basilar para o Direito Penal

Moderno.

5. Em Capítulo específico tratamos

das circunstâncias atenuantes no

Tribunal do Júri.

Vimos que além de possuir a

quesitação obrigatória, é

constitucionalmente garantida a

soberania dos veredictos do Conselho

de Sentença (artigo 5º, inciso

XXXVIII CF).

Sendo assim, se o Conselho de

Sentença reconhecer a existência de

uma circunstância atenuante, o juiz-

presidente está obrigado a valorá-la

na dosimetria da pena, mesmo que a

81 Aplicação da Pena: por uma nova atuação da justiça criminal. Revista do IBCCrim. Nº 6, p. 127.

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pena–base já tenha sido fixada no

mínimo legal.

E assim ensina René Ariel Dotti82:

“Em tal não se aplica a regra do art.

492, parágrafo primeiro, do CPP,

pois o juiz togado não pode ignorar o

veredicto dos jurados que tem

competência constitucional para

decidir quanto a esta matéria.”

Neste sentido, o julgado abaixo:

PENA – Redução – Ocorrência – Menoridade relativa e

circunstâncias atenuantes em favor do réu – Recurso

parcialmente provido. Sendo reconhecida pelos jurados a

existência de circunstâncias atenuantes em favor do réu, deve-se

reduzir a pena. (Apelação Criminal nº 158.003-3 – São Paulo – Rel.

Des. Poças Leitão – CCRIM 5 – V.U. – 15.09.1994).

Defender a impossibilidade da pena

aquém do mínimo legal desrespeita

claramente a soberania dos

veredictos, mandamento

constitucional, artigo 5º, inciso

XXXVIII, alínea c, da CF.

82 Curso de Direito Penal- Parte Geral. 2002. p. 515.

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6. A Constituição Federal ao tratar

dos direitos fundamentais, traz

diversos princípios que, se aplicados

corretamente, indicam a possibilidade

de redução da pena abaixo do

mínimo.

O primeiro princípio é o da isonomia,

pelo qual deve-se tratar os iguais

igualmente e os desiguais

desigualmente, na medida de suas

desigualdades.

Nélson Hungria83 ensina que: “como

não há dois criminosos iguais, a pena

não deve ser predeterminada pelo

legislador, mas individualizada pelo

juiz, pois só este é que tem diante de

si, na sua realidade viva e palpitante,

o autor do crime, o elemento humano

dos casos concretos.”

Para vermos sua aplicação no caso

concreto, trazemos a baila o exemplo

dado por Agapito Machado84:

83 Comentários ao Código Penal. Vol. V. 1958. p. 459.84 As atenuantes podem fazer descer a pena abaixo do mínimo legal. RT 647/380

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“Suponhamos, num mesmo processo

por contrabando/descaminho (art.

334), que os dois acusados sejam

primários e de bons antecedentes,

mas que um, à época dos fatos, fosse

menor de 21 anos. Duas alternativas,

para a escolha de uma, afloram ao

magistrado de primeiro grau.

A-) Ou não lhes aplica (aos réus) a

pena-base no mínimo legal,

contrariando a jurisprudência atual,

para poder, então, considerar a

atenuante daquele que era menor e

aplicar em definitivo as penas em

quantidades diferentes, tratando

destarte, desigualmente pessoas

desiguais, vale dizer, apenando em

definitivo aquele que era menor em

um ano de reclusão e o outro em um

ano e dois meses.

B-) Ou, considerando a

jurisprudência do STF e TRF, aplica

a ambos a pena-base no mínimo legal

(um ano) e, em seguida, baixa em

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dois meses a do que era menor,

levando em conta a atenuante, sob

pena de, não o fazendo, tratar

igualmente pessoas desiguais, ou

seja, pena de ambos serem punidos

igualmente e de modo definitivo com

um ano de reclusão. É que se assim

não proceder em relação ao acusado

que era menor na data do fato, estará

o juiz solapando-lhe direito conferido

pela lei em vigor.”

Esse exemplo deixa claro que se o

magistrado não valorar

adequadamente as atenuantes,

independente do mínimo legal, mais

uma vez estará ferindo mandamento

constitucional, preceito legal e

efetuando uma grande injustiça.

Outro princípio que fundamenta

nossa posição é o da individualização

da pena.

Este princípio foi acolhido por nossa

Constituição Federal e está elencado

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dentre os direitos fundamentais (art.

5º inc. XLVI).

“O princípio da individualização da

pena é garantia constitucional, que

consolidada direito fundamental do

cidadão, relacionando-se com tutela

da liberdade individual85.”

“A individualização é uma das

chamadas garantias criminais

repressivas, constituindo postulado

básico da justiça86.”

Nas lições do Prof. Damásio de

Jesus87 a individualização da pena é

princípio fundamental do Direito

Penal Moderno.

Ademais, nosso sistema penal busca

assegurar a individualização da pena

sob critérios mais abrangentes e

precisos, oferecendo ao juiz variada

gama de opções (Exposição de

Motivos do Código Penal, nº 49).

85 Aplicação da Pena: por uma nova atuação da justiça criminal. Revista do IBCCrim. Nº 6, p. 129.86 Julio Mirabete. Manual de Direito Penal. 2003. p. 310.87 Direito Penal. Parte Geral. p. 588

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“A finalidade da individualização

está esclarecida na parte final do art.

59: importa em optar, dentre as penas

cominadas, pela que for aplicável,

com a respectiva quantidade, à vista

de sua necessidade e eficácia para

reprovação e prevenção do crime.”

(Exposição de Motivos do Código

Penal, nº 50).

Nosso sistema permite que o juiz

possa realizar a efetiva

individualização da pena ao

estabelecer diversos critérios para

isso.

Tais critérios aparecem

primeiramente nas circunstâncias

judiciais do art. 59, posteriormente,

consubstanciam nas agravantes e

atenuantes e ainda nosso Código traz

inúmeras causas de aumento e

diminuição.

Diante disso “o desprezo de

circunstância atenuante reconhecida

implicaria em ofensa ao princípio da

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individualização da pena e do

disposto no art. 59 do Código

Penal88.”

Dentre os elementos elencados pelo

art. 59 do CP, recebe grande

importância a análise da

culpabilidade.

Nas lições da Professora Maria Lúcia

Karam89 o princípio da culpabilidade

está vinculado à dignidade da pessoa

humana, fundamento de nossa

República, consagrado no art. 1º, inc.

III da Constituição Federal.

“Nesse sentido, a culpabilidade,

como juízo de reprovação que se faz

ao autor pela prática do injusto, juízo

este fundamentado na possibilidade

exigível de motivação pela norma,

ainda deve ser erigida como critério

básico para a determinação da pena

no caso concreto, determinação esta

que envolve o trabalho jurisdicional

88 Carmen Silvia de Moraes Barros. A fixação da pena abaixo do mínimo legal: corolário da princípio da

culpabilidade. Revista do IBCCrim. Nº 26, p. 293.

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de eleição da espécie de pena

(quando se têm cominações

alternativas), de sua graduação dentro

dos limites legais e dos mecanismos

de sua execução90.”

Diante de um sistema de fixação da

pena como este, é inegável a intenção

de se ter uma correta aplicação de

pena sem ignorar fatos ou

circunstâncias que compõe o delito.

“Pois bem. Se reconhecermos que o

magistrado possa vir com a pena

abaixo do mínimo legal, em

homenagem a circunstâncias

relevantes favoráveis ao acusado,

estaremos conferindo-lhe mais um

voto de credibilidade, de confiança,

quanto à sua atuação prudente, sábia,

cautelosa, oportuna, e ensejando que

a individualização da pena –

89 Aplicação da Pena: por uma nova atuação da justiça criminal. Revista do IBCCrim. Nº 6, p. 124.90 Idem.

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mandamento de ordem constitucional

- seja por certo melhor efetivada91.”

Também há quem entenda que a

individualização da pena deva ser

feita de acordo com o princípio da

proporcionalidade.

E assim ensina Paulo Queiroz92: “Já o

princípio da proporcionalidade que

compreende os subprincípios da

necessidade, adequação e

proporcionalidade em sentido estrito

(sentido tradicional), exige que a

pena seja, a um tempo necessária,

adequada e compatível com o grau de

ofensividade do delito cometido.”

Esses três elementos, necessidade,

adequação e compatibilidade, só

poderão ser aferidos no instante em

que se analisar as circunstâncias

judiciais, legais e causas de aumento

e diminuição da pena. Com essa

análise, o julgador poderá chegar a

91 James Tubenchlak - Atenuantes – Pena Abaixo do Mínimo. Revista Forense. Vol. 312. 1990.92 Pode o juiz fixar pena abaixo do mínimo legal? – Boletim do IBCCrim – ano 10 – nº 112 - 2002

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uma pena justa que pode até ser

menor que o mínimo cominado

abstratamente.

Outro princípio a ser observado é o

da reserva legal, que permite a

analogia somente em benefício do

réu.

A doutrina que defende a

impossibilidade de redução da pena

aquém do mínimo apega-se ao

mesmo princípio, só que na valoração

das agravantes, para tentar expurgar

nosso posicionamento.

Quando se analisa o contexto das circunstâncias agravantes o

raciocínio não é valido, uma vez que para punir o cidadão que vive em um Estado

Democrático de Direito, as normas devem ser claras e com os limites da punição

delimitados.

Algumas vozes afirmam que, se as atenuantes podem extrapolar o

mínimo legal, as agravantes também poderiam, pois são circunstâncias legais

consideradas no mesmo momento da dosimetria da pena. E sendo isso possível

cairíamos na insegurança jurídica.

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E assim diz Damásio de Jesus93: “A permitir-se que as atenuantes

reduzam a pena a limites inferiores ao mínimo legal, de admitir-se também, por

coerência, que as agravantes a elevem acima do limite máximo abstrato, o que

consistiria “ golpe mortal” ao princípio da legalidade das penas.”

Essa afirmação não procede, pois

esbarra no próprio principio da

reserva legal, uma vez que, este

princípio defende o cidadão contra a

arbitrariedade do Estado.

E assim explica o jurista Francisco de Assis Toledo94: “O princípio da

legalidade constitui uma real limitação ao poder estatal de interferir na esfera das

liberdades individuais.”

Sendo tal princípio uma garantia do cidadão contra a arbitrariedade do

Estado, por razões óbvias, não pode ser utilizado no sentido inverso, ou seja, como

fundamento para o Estado que pretende punir o cidadão.

Diante do exposto, é inegável que a valoração da atenuante pode

reduzir a pena abaixo do mínimo.

93 O juiz pode, em face das circunstâncias atenuantes genéricas, fixar a pena aquém do mínimo legal abstrato?

Boletim do IBCrim. Ano 6. nº 73.94 Princípios Básicos de Direito Penal. 2001. p. 21.

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Essa redução será feita pelo magistrado que recebe da lei esse poder

discricionário, o qual deve ser utilizado com sabedoria e prudência, para não se

transformar em poder arbitrário, como estudado no Capítulo 3.

Não defender a utilização desse poder discricionário do julgador, por

falta de confiança em sua decisão é no mínimo imaturo.

Como não confiar na decisão daquele que se formou em Direito, fez

concurso para o cargo, enfrentou psicoteste, fez curso de preparação para a

magistratura, teve que demonstrar ser pessoa de conduta ilibada, teve que atestar

sua idoneidade, enfrentou tudo isso, suportou e venceu todas as barreiras antepostas

para chegar a ser juiz criminal95.

Para não se pensar que o posicionamento por nós defendido esta

somente no plano teórico, transcrevemos alguns julgados que efetivamente

utilizaram-se desse entendimento na prática, demonstrando que é possível uma

verdadeira aplicação dos preceitos constitucionais, para uma justa fixação da pena.

RESP – PENAL- INDIVUDUALIZAÇÃO DA PENA –

ATENUANTE – FIXAÇÃO ABIXO DO MÍNIMO LEGAL –

O princípio da individualização da pena (Constituição, art. 5º, XLVI)

95 Edson O’Dwyer. Se eu fosse um juiz criminal. Boletim do IBCCRIM. Ano 7 n. 86. pp.8

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materialmente, significa que a sanção deve corresponder às

características do fato, do agente e da vítima, enfim, considerar todas

as circunstâncias do delito. A cominação, estabelecendo o grau mínimo

e grau máximo, visa a esse fim, conferindo ao juiz, conforme o critério

do art. 68 do C.P., fixar a pena in concreto. A lei trabalha como gênero.

Da espécie, cuida o magistrado. Só assim, ter-se-á Direito dinâmico e

sensível à realidade, impossível de, formalmente, ser descrita em todos

os pormenores. Imposição ainda da justiça do caso concreto, buscado

realizar o direito justo. Na espécie sub judice, a pena-base foi fixada no

mínimo legal. Reconhecida ainda a atenuante da confissão espontânea

(C. P., art. 65, III, d). Todavia, desconsiderada porque não poderá ser

reduzida. Essa conclusão significaria desprezar a circunstância. Em

outros termos, não repercutir na sanção aplicada. Ofensa ao princípio e

ao disposto no art. 59, CP, que determina ponderar todas as

circunstâncias do crime. (STJ Resp. MG nº68120- 0. Rel. Min. Luiz

Vicente Cernicchiaro. DJ 09/12/1996, p. 49.296 RSTJ 90:384).

PENAL – FIXAÇÃO DA PENA – SISTEMA TRIFÁSICO –

CIRCUNSTÂNCIA ATENUANTE – “1. Após a fixação da pena-

base, devem ser consideradas as circunstâncias atenuantes e

agravantes e, em seguida, as causas de aumento e diminuição (CP art.

68). 2. Tendo o agente confessado espontaneamente a autoria do

crime, impõe-se a aplicação da atenuante prevista no art. 65, III, d, do

CP, ainda que leve a pena abaixo do mínimo legal. 3. Apelação

parcialmente provida.” (TRF 2ª R. 3ª T. – AC 2000.02.01.047860-3-RJ

– Rel. Paulo Barata – DJU 01.03.2001).

INEXISTÊNCIA DE CRIME CONTINUADO. Caracterização do

crime do art. 334, parágrafo 1º, c, do CP. (...)Ressalvado o exagero

legal na equiparação de fato da espécie ao próprio crime de

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contrabando ou descaminho, é de ser mantida a condenação, mas a

pena diminuída, por incid6encia de atenuantes do art. 65 do CP, sobre a

pena-base, transformada no primeiro grau, em definitiva (arts. 61 e 68

do CP). Considerando que os limites máximo e mínimo da

cominação legal somente balizam a fixação da pena-base, e que a

influência das circunstâncias atenuantes legais é obrigatória

(sempre atenuam quando não qualificam o crime), o

reconhecimento, no regime da atual Parte Geral do CP, da

existência dessas atenuantes pode, tal como sempre ocorreu com as

causas de aumento e diminuição de pena, fazer com que o

resultado final extrapole tais limites...(grifamos). (TRF 2ª R., Ap.

2.072, DJU 11.01.90, p. 154. R Trib. Reg. Fed.- 2ª Reg. V.1 Nº 1, p.

267).

PENA- Fixação- Circunstâncias atenuantes e agravantes obrigatórias-

Incidência sobre a reprimenda básica- Inexistência de restrição pelos

limites máximo e mínimo da cominação em abstrato- Inteligência do

art. 68 do CP. As circunstâncias agravantes e atenuantes previstas nos

arts. 61, 62 e 65, todos do CP, sempre incidirão sobre as penas

básicas, por força do disposto no art. 68 do mesmo diploma legal,

ainda quando essas se encontrem já nos limites máximo e mínimo da

cominação em abstrato. (TJSP Ap. 140.380-3/6- 3ª C.- J. 25.10.93- rel.

Des. Luiz Pantaleão. RT 702/329).

PENA – DOSIMETRIA – PRESENÇA DE ATENUANTES –

FIXAÇÃO AQUÉM DO MÍNIMO. POSSIBILIDADE – É possível

a fixação da pena em patamar abaixo do mínimo legal, estabelecido

pela lei penal. Se as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP

determinam uma punição no mínimo e se reconhece em favor do

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acusado, atenuantes do art. 65 do mesmo diploma legal. Este

posicionamento encontra guarida nos citados artigos 59 (não faz

nenhuma menção a limites) e 65 (expressamente, declara que aquelas

circunstâncias sempre atenuam a pena). Se o interesse do legislador

fosse estabelecer limites para essa atenuação, teria colocado a

expressão “sempre” na companhia de outras do tipo ‘dentro dos

limites da lei” etc. (TJRS – Apelação Crime nº 70001689199- Porto

Alegre. Rel. Des. Sylvio Baptista).

Os julgados acima transcritos só reforçam a tese de que a súmula nº

231 do STJ contém entendimento equivocado e deve ser modificada de acordo com

estes precedentes.

Enfim, diante de todo o alegado fica demonstrada a possibilidade de

redução da pena abaixo do mínimo legal, ao se valorar um atenuante.

Negar tal possibilidade, como vimos, desrespeita mandamentos

constitucionais, ferindo dispositivos legais e violando direitos do réu acarretando

uma verdadeira injustiça.

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8. Considerações Finais

Diante de todo o exposto, chegamos ao derradeiro capítulo, o qual nos

permite trazer as seguintes conclusões:

Este trabalho nos possibilitou uma compreensão melhor do tema

porque nos preocupamos em analisar isoladamente cada circunstância atenuante

genérica, sendo esta um fator de redução da culpabilidade, sempre será considerada

na dosimetria da pena.

Primeiramente, estudamos as hipóteses previstas no art. 65 do CP

começando pela menoridade na data do fato e senilidade no momento da sentença.

Seu fundamento nos convenceu que a imaturidade e a debilidade são

critérios utilizados para a individualização da pena, considerando que a aprovação

do Novo Código Civil não trouxe nenhuma alteração à atenuante da menoridade.

Tratamos do desconhecimento da lei, afirmando que este é

inescusável, mas diante dos inúmeros tipos penais existentes em nosso

ordenamento jurídico o legislador entendeu por bem beneficiar o agente que ignora

a tipificação, pois pelo princípio da inescusabilidade o magistrado não pode isentar

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o agente de pena, mas pode considerar a ignorância como fator redutor da

culpabilidade.

Conceituamos e diferenciamos o motivo de relevante valor social do

motivo de relevante valor moral, entendendo que aquele envolve o interesse

coletivo e este o interesse pessoal, particular.

As condutas praticadas com tais motivações recebem tratamento

benéfico da lei, pois, apesar de ilícitas, não são anti-sociais.

As atenuantes contidas no art. 65, inc. II, alínea b do Código Penal

foram estudadas separadamente:

O arrependimento, que deve ser espontâneo, eficiente e logo após o

crime.

Em seguida, tratamos da reparação do dano antes do julgamento,

destacando que o ato de recompor integralmente os prejuízos sofridos em

decorrência do ato criminoso também deve ser espontâneo, e realizado após a

denúncia ou queixa crime, desde que ocorra antes do julgamento.

No estudo do art. 65, inc. III, alínea c, também efetuamos uma análise

separada das hipóteses nele contida, quais sejam, coação resistível, cumprimento de

ordem superior e influência de violenta emoção.

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Por coação resistível entende-se o constrangimento exercido sobre

uma pessoa que de alguma forma poderia resistir, vencer ou refutar o ato.

A coação irresistível pode excluir a conduta, se for física, ou a

culpabilidade, se for moral. Já a coação resistível, seja ela física ou moral, diminui

a culpabilidade que recai sobre o ato praticado.

A segunda circunstância prevista no art. 65, III, c, é o cumprimento de

ordem de autoridade superior.

Terá a pena atenuada e não excluída o agente que cumprir uma ordem

manifestamente ilegal de seu superior hierárquico.

A derradeira hipótese do dispositivo supra citado é a influência de

violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima.

Um ato injusto é capaz de provocar uma alteração psíquica no ser

humano, diante de tal abalo o legislador entendeu que a pena deveria se minorada.

A confissão espontânea do réu teve seus diversos fundamentos

avaliados, inclusive o fato de esta ser uma forma de colaboração do réu para a

busca da verdade, e conseqüentemente a realização da justiça.

A ultima hipótese de atenuação da pena do art. 65 do Código Penal,

também foi por nós comentada.

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É causa de diminuição da culpabilidade a influência de multidão em

tumulto, pois no momento de confusão o indivíduo tem sua consciência individual

diminuída, pois diante da influência psicológica coletiva o mesmo perde seu auto-

controle.

A atenuação da pena por qualquer circunstância relevante não prevista

em lei veio com a reforma de 1984, atendendo aos reclamos da doutrina e

jurisprudência.

Sua previsão confere ao magistrado o poder de considerar elementos

do crime não previstos em lei para beneficiar o réu. Foi um avanço este dispositivo,

pois o legislador não consegue prever todas as circunstâncias que poderiam rodear

um delito.

Assim, é importante que o magistrado utilize seu poder discricionário

para considerar as circunstâncias relevantes ocorridas antes, durante ou depois do

crime e efetuar a justa individualização da pena.

Vimos, também, que no concurso de circunstâncias atenuantes e

agravantes devem preponderar as de caráter subjetivo, consoante disposto no artigo

67 do Código Penal.

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Também foi dito que a pena cumprida no estrangeiro, qualitativamente

diferente, pode atenuar a sanção penal no Brasil.

Enfim, tivemos como objeto de nosso estudo todas as atenuantes

genéricas nominadas, e também traçamos considerações sobre a atenuante

inominada prevista no art. 66 do CP.

Em capítulo específico foi abordado o tema mais polêmico de nosso

trabalho, o qual envolve o mínimo legal abstrato.

Acredito que a indagação anteriormente proposta foi respondida

satisfatoriamente no sentido de ser possível a atenuação da pena aquém do mínimo

legal, sendo que as atenuantes genéricas, como fatores de redução da culpabilidade,

sempre serão consideradas na dosimetria da pena.

Essa possibilidade foi defendida pelos seguintes fundamentos:

1. Não há previsão e nem vedação legal para essa redução.

2. A redação do art. 68 deixa clara a

obrigatoriedade de se considerar as

atenuantes, pois traz a palavra

“ sempre”, com isto a lei torna

imprescindível a valoração de uma

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atenuante, mesmo que a pena-base

esteja fixada no mínimo legal.

3. Se o julgador tem o poder discricionário para deixar de aplicar a

pena ao réu, utilizando-se do perdão judicial ou do princípio da insignificância, é

incoerente afirmar que o magistrado, não pode utilizar este mesmo poder, para fixar

a pena aquém do mínimo legal. Ora, quem pode mais, pode menos.

4. A possibilidade da redução

também atende ao critério do non bis

in idem, pois se o agente já cumpriu

pena no estrangeiro pelo mesmo

crime e esta foi diversa

qualitativamente (art. 8º do CP),

merece a atenuação mesmo que a

pena-base tenha sido fixada no

mínimo. Não pode o magistrado

brasileiro ignorar o fato de o réu já

ter cumprido pena pelo mesmo delito

em outro Estado.

5. Outro argumento pode ser

utilizado quando tratarmos dos

crimes de competência do Tribunal

do Júri.

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No procedimento desta instituição é

obrigatória a quesitação sobre as

circunstâncias atenuantes e

reconhecida a soberania do veredicto

dos jurados.

Se o júri reconhece a existência de

uma das atenuantes, o juiz é obrigado

a valorá-la, pois o juiz-presidente não

pode simplesmente ignorar o

veredictos dos jurados.

A redução deverá ocorrer, mesmo

que a pena-base já tenha sido fixada

no mínimo legal.

6. O entendimento garante a

aplicação correta dos princípios da

reserva legal, da isonomia, da

individualização da pena consagrados

em nossa Constituição.

Por isso é que defendemos o poder discricionário do juiz em reduzir a

pena aquém do mínimo.

Tendo o juiz o poder discricionário e os fundamentos para a redução,

nada pode impedir que ele realize a individualização da pena, obedecendo ao

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mandamento constitucional (art. 5º, inc. XLVI), praticando assim a efetiva

JUSTIÇA.

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