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1 CURCEP PROFª Drª CAMILA M PASQUAL ALUNO(A) _______________________________________________________ CLARO ENIGMA, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro-MG, em 31 de outubro de 1902, de uma família de fazendeiros em decadência. As paisagens e cidades do estado natal, como também as lembranças de cenas de sua vida familiar servirão de inspiração para muitos de seus poemas. Passou sua primeira infância ao lado de seu pai, um pequeno fazendeiro, e de sua mãe que cuidava dos afazeres domésticos. Em diversos textos, ele lamenta o fim melancólico desse passado: OS URUBUS NO TELHADO E virá a companhia inglesa e por sua vez comprará tudo E por sua vez perderá tudo e tudo volverá a nada e secado o ouro escorrerá ferro, secos os morros de ferro taparão o vale sinistro onde não mais haverá privilégios, e se irão os últimos escravos, e virão os primeiros camaradas; e a besta Belisa renderá os arrogantes corcéis da monarquia, e a vaca Belisa dará leite no curral vazio para o menino doentio, e o menino crescerá sombrio, e os antepassados no cemitério se rirão se rirão porque os mortos não choram. Drummond estudou na cidade de Belo Horizonte e depois com os jesuítas, no Colégio Anchieta de Nova Friburgo, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De volta a Itabira, leciona Geografia e Português. Tempos depois, em Belo Horizonte, iniciou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro. Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em Farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925, mas não se sentia atraído pela profissão. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do Modernismo em Minas. Em 1928, incentivado por Mário de Andrade, publica na Revista de Antropofagia, "No meio do caminho", um dos poemas mais polêmicos da literatura brasileira, que ele relembra, ao afirmar que essa "pedra no meio do caminho" será a única herança que deixará como legado quando chegar a noite sem- fim: De tudo quanto foi meu passado caprichoso na vida restará, pois o resto se esfuma, uma pedra que havia em meio do caminho. Neste mesmo ano de 1928, nasce aquela que seria a grande paixão da sua vida, sua filha única, Maria Julieta, que lhe daria três netos. Em 1930, publica seu primeiro livro: Alguma poesia. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se par ao Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Drummond era um perito em imitar assinaturas alheias, habilidade que usava para poupar trabalho a seus chefes. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil. Durante todo esse tempo, Drummond dedicou-se intensamente à produção literária na qual destacou-se como grande poeta e também como excelente contista e cronista. Em 1987, foi homenageado pela escola de samba, Estação Primeira de Mangueira, campeã do carnaval, com o samba-enredo O reino das palavras. No dia 5 de agosto desse mesmo ano, morre-lhe a amada filha, vítima de câncer, o que abala terrivelmente o poeta, já idoso e doente. Ele revela aos amigos que não quer mais viver. Doze dias depois, morre o maior poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, aos 84 anos. OBRAS

CLARO ENIGMA, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE OS …...condição ausente, fruto da descoberta principal que lhe traz a madureza: a de que o mundo é pura ilusão." (Miguel Sanches Neto)

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CURCEP

PROFª Drª CAMILA M PASQUAL

ALUNO(A) _______________________________________________________

CLARO ENIGMA, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro-MG, em 31 de outubro de

1902, de uma família de fazendeiros em decadência. As paisagens e cidades do estado natal, como

também as lembranças de cenas de sua vida familiar servirão de inspiração para muitos de seus poemas.

Passou sua primeira infância ao lado de seu pai, um pequeno fazendeiro, e de sua mãe que

cuidava dos afazeres domésticos. Em diversos textos, ele lamenta o fim melancólico desse passado:

OS URUBUS NO TELHADO

E virá a companhia inglesa e por sua vez comprará tudo

E por sua vez perderá tudo e tudo volverá a nada

e secado o ouro escorrerá ferro, secos os morros de ferro

taparão o vale sinistro onde não mais haverá privilégios,

e se irão os últimos escravos, e virão os primeiros camaradas;

e a besta Belisa renderá os arrogantes corcéis da monarquia,

e a vaca Belisa dará leite no curral vazio para o menino doentio,

e o menino crescerá sombrio, e os antepassados no cemitério

se rirão se rirão porque os mortos não choram.

Drummond estudou na cidade de Belo Horizonte e depois com os jesuítas, no Colégio Anchieta

de Nova Friburgo, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De volta a Itabira, leciona Geografia

e Português. Tempos depois, em Belo Horizonte, iniciou a carreira de escritor como colaborador do

Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.

Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em Farmácia na cidade de

Ouro Preto em 1925, mas não se sentia atraído pela profissão. Fundou com outros escritores A Revista,

que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do Modernismo em Minas.

Em 1928, incentivado por Mário de Andrade, publica na Revista de Antropofagia, "No meio do

caminho", um dos poemas mais polêmicos da literatura brasileira, que ele relembra, ao afirmar que essa

"pedra no meio do caminho" será a única herança que deixará como legado quando chegar a noite sem-

fim:

De tudo quanto foi meu passado caprichoso

na vida restará, pois o resto se esfuma, uma pedra que havia em meio do caminho.

Neste mesmo ano de 1928, nasce aquela que seria a grande paixão da sua vida, sua filha única,

Maria Julieta, que lhe daria três netos. Em 1930, publica seu primeiro livro: Alguma poesia.

Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se par ao Rio de Janeiro, onde foi chefe de

gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945.

Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se

aposentou em 1962. Drummond era um perito em imitar assinaturas alheias, habilidade que usava para

poupar trabalho a seus chefes.

Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no

Jornal do Brasil.

Durante todo esse tempo, Drummond dedicou-se intensamente à produção literária na qual

destacou-se como grande poeta e também como excelente contista e cronista.

Em 1987, foi homenageado pela escola de samba, Estação Primeira de Mangueira, campeã do

carnaval, com o samba-enredo O reino das palavras. No dia 5 de agosto desse mesmo ano, morre-lhe a

amada filha, vítima de câncer, o que abala terrivelmente o poeta, já idoso e doente. Ele revela aos amigos

que não quer mais viver. Doze dias depois, morre o maior poeta brasileiro, Carlos Drummond de

Andrade, aos 84 anos.

OBRAS

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Dentre seus mais de sessenta livros publicados destacamos: Alguma poesia (1930); Brejo das

almas ; Sentimento do mundo; José; A rosa do povo; Claro enigma (1951); Boitempo I e II; A paixão

medida; Corpo; O amor natural.

Muitas obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco,

tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da

literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.

OBRA, ESTILO E TEMÁTICA

É na temática da poesia do pós-modernismo que se percebe uma nova postura artística dos

jovens autores como Drummond: passa-se a questionar a realidade com mais vigor e, fato extremamente

importante, o artista se questiona como indivíduo e como artista em sua tentativa de explorar e de

interpretar o estar-no-mundo. O resultado é uma literatura mais construtiva e politizada, que não quer e

não pode se afastar das profundas transformações ocorridas nesse período.

Temas em Destaque

1. Muitos poemas de Drummond funcionaram, na época, como denúncia da opressão que

marcou o período da Segunda Grande Guerra. A temática social, resultante de uma visão dolorosa e

penetrante da realidade, predomina em Sentimento do mundo (1940) e em A rosa do povo (1945). Nestas

obras, a consciência do tenso momento histórico produz a indagação filosófica sobre o sentido da vida

como se vê em:

A UM VARÃO QUE ACABA DE NASCER

Todos vêm tarde. A terra anda / morrendo sempre, /e a vida, se persiste, / passa descompassada,

/ e nosso andar é lento, / curto nosso respiro, / e logo repousamos / e renascemos logo. (Renascemos?

Talvez.) / Crepita uma fogueira / que não aquece. Longe. / Todos vêm cedo, todos / chegam fora do

tempo, / antes, depois. Durante, / quais os que aportam? Quem / respirou o momento, / vislumbrando a

paisagem / de coração presente? / Quem amou e viveu? / Quem sofreu de verdade? / Como saber que foi

/ nossa aventura, e não / outra, que nos legaram? / No escuro prosseguimos...

"Desistindo de qualquer tipo de participação, hipótese geradora de A rosa do povo, Carlos de

Drummond de Andrade chega ao seu livro mais depurado, Claro enigma (1951), afirmando uma

condição ausente, fruto da descoberta principal que lhe traz a madureza: a de que o mundo é pura ilusão."

(Miguel Sanches Neto)

2. "Les événements m'ennuient"1, a epígrafe que abre o livro, de autoria do poeta francês Paul

Valéry, prenuncia a temática que será dominante em Claro Enigma: a melancolia, a postura

desencantada de um eu lírico que precisa enfrentar a vida sem falseamentos, sem ilusões.

Os dois apenas, entre céu e terra,

sentimos o espetáculo do mundo,

feito de mar ausente e abstrata serra.

E calcamos em nós,

sob o profundo instinto de existir, outra mais pura

vontade de anular a criatura.

"Os acontecimentos me entediam" é a resposta do sujeito cansado do que é aparente, do

meramente visível. É a tentativa drummondiana de romper com a poesia factual, engajada que conhecera

em meados dos anos 40, em A Rosa do Povo. Entretanto, embora eloquente, a citação do poeta francês

não corresponde completamente à realidade, pois Drummond não foge totalmente dos temas mais

palpitantes da vida. A experiência do cotidiano aparece em cada verso do livro, ainda que escamoteada

por uma expressão que não se entrega ao lirismo fácil, graças a uma visão pessimista do tempo e dos

homens. Assim, o poeta vez ou outra abre espaço para o lirismo.

1"os acontecimentos me entediam".

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3. A lira romântica de Drummond está bem afinada neste livro, como pode ser comprovado

pela leitura de poemas como "Campo de flores", "Rapto", "Tarde de maio" entre outros.

Mas, porque me tocou um amor crepuscular,

há que amar diferente. De uma grave paciência

ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia

tenha dilacerado a melhor doação.

Há que amar e calar.

Para fora do tempo arrasto meus despojos

e estou vivo na luz que baixa e me confunde. (Campo de Flores)

O sentimento amoroso, nos primeiros livros de Drummond, recebia um tratamento irônico.

Mais tarde, o poeta procura capturar a essência desse sentimento e encontra nele — como Camões e

outros — as contradições, que se revelam no antagonismo entre o definitivo e o passageiro, o prazer

e a dor. No entanto, essas contradições não destituem o amor de sua condição de sentimento maior. A

ausência do amor é a negação da própria vida. O amor-desejo, a paixão, vai aparecer com mais

frequência nos últimos livros.

4. A mineiridade do poeta é apresentada em poemas vazados da nostalgia que contam

episódios antigos da terra natal do autor. Trata-se da série reunida na seção nomeada "Selo de Minas",

que, com os versos de "Morte das casas de Ouro Preto", "Museu da Inconfidência" ou "Os bens e o

sangue", registraram, a partir de diversos acontecimentos, algo muito específico: a percepção de feitos

que, na história de Minas, antes de entediarem, terminaram provocando o espanto diante da frágil

identidade entre o presente e o passado.

MORTE DAS CASAS DE OURO PRETO

Sobre o tempo, sobre a taipa,

a chuva escorre. As paredes

que viram morrer os homens,

que viram fugir o ouro,

que viram finar-se o reino,

que viram, reviram, viram,

já não veem. Também morrem.

5. O tempo, como tema poético e filosófico, é outro tema que confere unidade à poesia de

Drummond: o tempo passado, o presente e o futuro. O passado surge como uma antítese para a

realidade presente. A infância, a adolescência, a terra natal apresentam-se como referências da atmosfera

cultural e afetiva vivida pelo poeta. A ironia, que inicialmente predominava nas visões do passado, com o

tempo, vai-se transformando em impressões e recordações expressas em poemas que reinterpretam com

novos olhos o objeto de suas memórias.

Por fora do tempo arrasto meus despojos / e estou vivo na luz que baixa e me confunde.

Na verdade, toda a trajetória literária do poeta é marcada pela tentativa de conhecer-se a si

mesmo e aos outros homens, através da volta ao passado que renasce nas reminiscências da infância, da

adolescência e da terra natal; da adesão ao presente que se concretiza no comprometimento do poeta

com a sua realidade histórica (poesia social); e da projeção num mundo possível que aparece na

expectativa de um mundo melhor, resultante da cooperação entre todos os homens.

6. Da análise de sua experiência individual, da convivência com outros homens e do momento

histórico em que viveu, resulta a constatação de que o ser humano trava uma luta constante para sair do

isolamento, da solidão. Neste contexto, entre outros temas, o eu lírico questiona a existência de Deus.

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7. A metalinguagem, que consiste na reflexão sobre o próprio ato de escrever, é reiteradamente

tomada como objeto das preocupações do poeta como mostra o poema:

REMISSÃO

Tua memória, pasto de poesia,

tua poesia, pasto dos vulgares,

vão se engastando numa coisa fria

a que tu chamas: vida, e seus pesares.

Mas, pesares de quê? perguntaria,

se esse travo de angústia nos cantares,

se o que dorme na base da elegia

vai correndo e secando pelos ares,

e nada resta, mesmo, do que escreves

e te forçou ao exílio das palavras,

senão contentamento de escrever,

enquanto o tempo, em suas formas breves

ou longas, que sutil interpretavas,

se evapora no fundo de teu ser?

Linguagem

Todo Enigma se funda num mistério, no intuito de não ser claro.

O título do livro constitui um oximoro, uma contradição entre o adjetivo claro, que pressupõe

nitidez e facilidade de entendimento, e o substantivo enigma, que remete à ideia de mistério, obscuridade,

dificuldade de compreensão.

Como o título prenuncia, as contradições permeiam a obra: o eu poético ora aparece recluso,

fechado em si mesmo, ora se desnuda e se revela com ares mundanos.

Uma característica do estilo barroco, o fusionismo, ou seja, a tentativa de equilibrar as oposições

claro-escuro, encontro-desencontro, aceitação-negação é sugerida por este título, que nos remete a um eu

lírico de sentimentos indecifráveis, obscuros. Um enigma claro é um enigma esvaziado de sentido, morto,

um falso enigma, é a negação da semântica como recurso de definição do eu.

Em Claro Enigma, Drummond, mais reflexivo e filosófico, consolida sua estética vasculhando o

vazio dos sentimentos do mundo moderno e do homem contemporâneo. É um livro rigoroso no apuro da

versificação, no emprego das intertextualidades, nas citações, na revelação das raízes e ramificações de

sua lírica. Em boa parte da obra, Drummond se afasta do estilo livre e coloquial dos modernistas, afirma

seu amor pela poesia de Dante e Camões, e busca uma forma mais elaborada, sem abandonar o lirismo e a

agudeza de sua melhor poesia. O poeta se mostra mais atento à métrica e à forma dos versos, atitude que a

crítica da época interpretou como um retrocesso, mas logo revelou em Drummond a plena consciência

dos riscos de alienação existentes na arte pela arte. A releitura de formas antigas fortificou seus versos.

Com uma dicção mais tradicional, o poeta revisita formas clássicas como o soneto. Os tercetos e

dísticos; a intertextualidade com poetas clássicos e mitos greco-romanos; influências das poesias clássica

e simbolista. Entretanto, ele não abandona os recursos modernistas como o verso livre; os períodos

longos e prosaicos; a metapoesia; a metalinguagem; a influência do Surrealismo e seu universo onírico,

imaginativo.

(UFPR -2015)

Leia, atentamente, o seguinte poema:

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Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o áspero,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

O poema “Amar” integra a segunda parte, “Notícias Amorosas”, do livro Claro enigma, de Carlos

Drummond de Andrade. Sobre esse poema, assinale a alternativa correta.

a) As indagações repetitivas, nas duas primeiras estrofes, reiteram a inviabilidade do amor diante de um

mundo em que tudo é perecível.

b) O poeta estabelece uma intensidade da manifestação do amor com relação ao belo diferente da

intensidade do amor dispensado ao grotesco.

c) Para acentuar a condição inexorável de amar, o poema enumera coisas que, por sua concretude e

delicadeza naturais, justificam o amor que já recebem.

d) O poema postula uma condição universal, na qual se fundem o sujeito, a ação praticada e os

objetos a que essa ação se dirige.

e) A última estrofe é a chave explicativa desse soneto e reitera a ineficácia do amor diante de um mundo

caótico e insensível.

UFPR 2014

O poema “Legado” integra a primeira parte do livro Claro enigma (1951), a que o autor denominou

“Entre lobo e cão”.

LEGADO

Que lembrança darei ao país que me deu

tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?

Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu

minha incerta medalha, e a meu nome se ri.

E mereço esperar mais do que os outros, eu?

Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.

Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,

a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.

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Não deixarei de mim nenhum canto radioso,

uma voz matinal palpitando na bruma

e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.

De tudo quanto foi meu passo caprichoso

na vida, restará, pois o resto se esfuma,

uma pedra que havia em meio do caminho.

Considerando o poema, sua relação com o livro, e a poética de Carlos Drummond de Andrade, assinale a

alternativa correta.

a) O livro Claro enigma é considerado pela crítica como um marco na redefinição da poesia de

Drummond por instaurar diálogo com as poéticas clássicas.

b) Se anos antes Drummond havia escrito “no meio do caminho tinha uma pedra”, no verso final de

“Legado” observa-se a opção por uma expressão mais coloquial.

c) O poema “Legado” tematiza a identidade nacional, vinculando-se aos modelos e perspectivas próprios

do movimento Antropofágico.

d) O poema “Legado” tematiza a inconstância do eu do poeta e das coisas do mundo e inaugura a vertente

autobiográfica da poesia de Drummond.

e) O último terceto trai a norma clássica de um soneto, pois apresenta a síntese do poema, da biografia e

da trajetória poética de Carlos Drummond de Andrade.

Claro enigma, composto de 42 poemas marcados reiteradamente pela presença do conflito eu X

mundo , divide-se em seis partes: 1.Entre Lobo e Cão; 2.Notícias Amorosas; 3.O Menino e os Homens;

4.Selo de Minas; 5.Os Lábios Cerrados e 6. A Máquina do Mundo.

PARTE I

ENTRE LOBO E CÃO (18 poemas)

É a parte mais extensa do livro. O título deste conjunto de poemas remete para a oscilação do eu

poético entre dois extremos: a solidão e a companhia. O Lobo, animal predador, esquivo e voraz,

representa o lado do poeta avesso ao convívio social, que se orienta pela ordem do anjo do destino

determinando desde seu nascimento que ele fosse gauche, marginalizado, torto, solitário.

O Cão, o animal doméstico amigo do homem, é o apelo ao convívio, à solidariedade, às relações

de amizade e amor.

DISSOLUÇÃO

O primeiro poema do livro dá o tom de melancolia e conformismo que surgirá reiteradamente em

diversos textos da obra

Escurece, e não me seduz / tatear sequer uma lâmpada. / Pois que aprouve ao dia findar, /

aceito a noite.

REMISSÃO

Remissão significa clemência, perdão, mas também pode significar o ato de enviar, ou o ato de

abrandar-se. Nota-se, já no primeiro verso do texto a presença da metalinguagem: Tua memória, pasto de

poesia. Portanto, o poema é uma reflexão sobre o próprio ato de escrever, de fazer poesia, atividade que

foi o alimento, o pasto, da vida do autor. O poeta perdoa-se: o ato de escrever é a sua salvação.

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Drummond encara a si mesmo e a sua obra com autocrítica, vivencia a maturidade existencial e poética

com tranquilidade:

Tua memória, pasto de poesia,

tua poesia, pasto dos vulgares,

vão se engastando numa coisa fria

A que tu chamas: vida, e seus pesares.

Mas, pesares de quê? perguntaria,

se esse travo de angústia nos cantares

[...]

enquanto o tempo, em suas formas breves

ou longas, que sutil interpretavas,

se evapora no fundo de teu ser?

OFICINA IRRITADA

Neste poema metalinguístico, o poeta propõe-se a fazer poesia de impacto, não que deleite os

ouvidos, não que console os aflitos, não que acalme o espírito, ou que dê prazer ao leitor. O eu poético

quer que seu poema torture, assuste, perturbe e faça o leitor sofrer ao ser forçado a pensar, como um tiro

perdido num muro, e cause surpresa como um cão mijando, ou como um enigma que se desvenda.

Eu quero compor um soneto duro

como poeta algum ousara escrever.

Eu quero pintar um soneto escuro,

seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,

não desperte em ninguém nenhum prazer.

E que, no seu maligno ar imaturo,

ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro

há de pungir, há de fazer sofrer,

Tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,

Cão mijando no caos, enquanto Arcturo,

claro enigma, se deixa surpreender.

PARTE II

Notícias Amorosas (7 poemas)

Esta parte é constituída de sete poemas. Em Carlos Drummond de Andrade, a história não é

determinada por um sentido profético ou messiânico, mas pelo amor, pelo poder do amor. Principalmente

o amor maduro, real, baseado na racionalidade, na interpretação objetiva da existência num mundo real.

AMAR

O sentimento do amor pode modificar a história, recuperar o remorso histórico que a memória

nos traz. O homem é incapaz de fugir do sentimento amoroso, seja ele dirigido a quem ou ao que quer que

seja, seja ele de que forma for. A necessidade de amar gera uma busca incessante de mais e mais amor.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

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doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa,

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

ENTRE O SER E AS COISAS

O eu lírico busca um amor concreto, vivo, palpável, pois o amor espiritual é esquivo, vago e

corrosivo, causa sofrimentos. O amor real nasce numa praia, à vista das ondas do mar e deixa suas marcas

indeléveis como hieróglifos misteriosos gravados na rocha. Esse amor sofrido é como uma fogueira que

aquece o frio do fim da vida.

Onda e amor, onde amor, ando indagando

ao largo vento e à rocha imperativa,

e a tudo me arremesso, nesse quando

amanhece frescor de coisa viva.

Às almas, não, as almas vão pairando,

e, esquecendo a lição que já se esquiva,

tornam amor humor, e vago e brando

o que é de natureza corrosiva.

N’água e na pedra amor deixa gravados

seus hieróglifos e mensagens, suas

verdades mais secretas e mais nuas.

E nem os elementos encantados

sabem do amor que os punge e que é, pungindo,

uma fogueira a arder no dia findo.

PARTE III

O menino e os homens (4 poemas)

Esta parte é composta de quatro poemas em que Carlos Drummond de Andrade relembra e

homenageia alguns poetas e escritores que de uma forma ou de outra marcaram presença na sua vida e na

sua obra.

UM VARÃO QUE ACABA DE NASCER

O poema traz reflexões sobre o significado de viver, sobre a aventura de existir, de conviver com os

outros e amar, sobre os mistérios que envolvem o fato de que “a todos como a tudo estamos presos”. O

poema é dedicado a Pedro Nava, literato e amigo do poeta, que veio ao mundo “ para amar sem motivo/ e

motivar o amor/ na sua desrazão...”

Chegas, e um mundo vai-se / como animal ferido, /

arqueja. Nem aponta / uma forma sensível, / pois já

sabemos todos / que custa a modelar-se / uma raiz, um broto... /

No escuro prosseguimos. / Num vale de onde a luz /

se exilou, e no entanto / basta cerrar os olhos / para que nele trema, /

remoto e matinal, o crepúsculo. Sombra!... / É sonho, sonho. Ilhados,/ pendentes,

circunstantes, / na fome e na procura / de um eu imaginário / e que,

sendo outro, aplaque / todo este ser em ser, / adoramos aquilo /

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que é nossa perda./ E morte e evasão e vigília.

PARTE IV

Selo de Minas (5 poemas)

Nos cinco poemas desta parte, que se desdobram em dezesseis, Drummond passeia com a

memória pelo passado de Minas Gerais e de sua infância. Relembra e revê poeticamente o misticismo das

igrejas, as construções que o tempo vai destruindo, cenas que se misturam com as lembranças da infância,

as histórias da família e a vocação para a reflexão, a introspecção e a poesia.

EVOCAÇÃO MARIANA

A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes.

Havia poucas flores. Eram flores de horta.

Sob a luz fraca, na sombra esculpida

(quais as imagens e quais os fiéis?)

ficávamos.

Do padre cansado o murmúrio de reza

subia às tábuas do forro,

batia no púlpito seco,

entranhava-se na onda, minúscula e forte, de incenso,

perdia-se.

Não, não se perdia...

Desatava-se do coro a música deliciosa

(que esperas ouvir à hora da morte, ou depois da morte, nas campinas do ar)

e dessa música surgiam meninas – a alvura mesma –

cantando.

De seu peso terrestre a nave libertada,

como do tempo atroz imunes nossas almas,

flutuávamos

no canto matinal, sobre a treva do vale.

PARTE V

Os lábios cerrados (6 poemas)

Cerrar os lábios é fazer silêncio, pensar, lembrar. Os poemas trazem à mente do poeta imagens

dos familiares, especialmente do pai, que não estão mais entre os vivos, e faz reflexões sobre o tempo e a

morte.

Os lábios cerrados lembram os mortos, os que se calaram. "Cada dia que passa incorporo mais

esta verdade, de que eles não vivem senão em nós e por isso vivem tão pouco; tão intervalado; tão débil."

Os seis poemas que compõem esta parte abordam especificamente as lembranças familiares. O

eu poético dedica-se a ressuscitar os que se foram através da memória. E porque as lembranças são

rápidas, cada vez menos frequentes e mais passageiras, os que se foram vivem cada vez menos, cada vez

com menos intensidade na mente dos vivos.

CONVÍVIO

Viver pouco ou mal na lembrança de quem está vivo é, não obstante, uma espécie de vida.

... Ter e não ter em nós um vaso sagrado,

um depósito, uma presença contínua,

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esta é nossa condição, enquanto,

sem condição, transitamos

e julgamos amar

e calamo-nos.

Ou talvez existamos somente neles, que são omissos, e nossa existência,

apenas uma forma impura de silêncio, que preferiram.

PARTE VI

A Máquina do mundo (2 poemas)

Nesta última parte de Claro enigma, o poeta reflete sobre as tentativas, quase sempre frustradas,

que fez no passado, de entender o homem e sua presença no mundo. Agora, maduro e desencantado,

arrepende-se dessa procura pelo entendimento universal, e despreza a chance que tem de, finalmente,

compreender esses mistérios.

Os questionamentos que percorreram todo o livro concentram-se aqui em dois poemas: "A

máquina do mundo" e "Relógio do Rosário".

O poema A máquina do mundo é, ao mesmo tempo, uma meditação profunda e uma espécie de

épica íntima sobre a passagem do tempo e o conhecimento da vida como acontecimento breve e muitas

vezes fortuito.

Escrito em tercetos (estrofes de três versos), como a "Divina comédia", de Dante e em versos

decassilábicos brancos (sem rima), o poema faz uma releitura do Canto X, de "Os Lusíadas", de Camões:

na Ilha dos amores, a deusa Tétis, portando uma miniatura do planeta (a máquina do mundo), revela para

Vasco da Gama os segredos do tempo e do espaço e profetiza as futuras glórias portuguesas.

Esse poema que encerra Claro Enigma é considerado por grande parte da crítica um dos maiores

poemas de Drummond. Muitas foram as análises publicadas sobre ele desde que foi publicado em 1951. E

a grandiosidade do mesmo não está na cópia do topos da máquina do mundo, mas na ressignificação que

esse recebe no interior do poema drummondiano. A postura do eu lírico em relação a toda explicação

existencial e cósmica do universo que a máquina oferece: “Abriu-se majestosa e circunspecta” não

condiz com a postura do homem clássico, cuja concepção de mundo e de tempo era fechada conforme os

ciclos da natureza.

Estruturado em 32 estrofes de três versos, o poema de Drummond retoma a tradição no nível

formal, estabelecendo uma relação intertextual com a epopeia de Dante. A situação inicial de Dante na

selva escura é a mesma do eu lírico drummondiano: “E como eu palmilhasse vagamente/ uma estrada de

Minas, pedregosa,”. Contudo, em Claro Enigma, não se trata de uma repetição da tópica clássica. Alcides

Villaça (2006, p. 90) retoma a leitura de Alfredo Bosi que, para explicar o poema, divide o poema “A

máquina do mundo” em seis partes: “(a) o encontro no meio do caminho [1-12]; (b) a abertura da

máquina do mundo e o anúncio de sua fala [13-35]; (c) o discurso do mundo [36-48]; (d) a epifania do

Universo [49-69]; (e) a recusa do eu [70-90]; (f) o fechamento do mundo e a volta do eu à condição de

caminhante [91-96]”.

Primeiro momento — versos 1 a 12. Caminhando lenta e vagamente ao entardecer pela longa e

pedregosa estrada da vida, o homem se sente desiludido. O eu poético se arrepende de um dia ter

procurado, em vão, entender os mistérios da existência e do universo e já não se preocupa mais em

encontrar as respostas para as perguntas que já se fez, e para as quais sabe não haver respostas. Mesmo

contra a sua vontade, a máquina do tempo aparece e se propõe a revelar-lhe todos os mistérios.

Segundo momento− versos 13 a 35. Calma e discretamente, sem alarde, nem ruídos, nem pirotecnia,

para não perturbar a mente já cansada de pensar, a máquina do mundo se abre para o caminhante e, em

silêncio o convida a aplicar todos os sentidos na contemplação da natureza mítica das coisas. O universo,

abarcando a Natureza e a História, abre-se ao viajante e oferece-lhe o segredo de seu enigma, outrora

procurado em vão.

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Terceiro momento – versos 36 a 48. A máquina cósmica, aconselha, convida e quase ordena ao

caminhante, que desistira de procurar respostas e se desiludira e se trancara em si mesmo, que tente mais

uma vez olhar e sondar os sublimes e misteriosos segredos do mundo, para obter uma completa

explicação da vida.

Quarto momento – versos 49 a 69. Numa fantástica epifania, finalmente é oferecida para o viajante a

completa revelação da ordem universal, o esclarecimento de todos os enigmas, a explicação e o

significado do aparente caos. Coloca-se diante dele a possibilidade de saber a verdade sobre a vida e a

morte, e sobre tudo que existe.

Quinto momento− versos 70 a 90. Como não acreditava mais que as trevas do desconhecimento

pudessem ser iluminadas, como se sentia outro em relação ao que fora e ao em que acreditava

antigamente, como se fechara em si mesmo feito uma flor murcha, o viajante baixou os olhos e, cansado,

desprezou a oferta que fora feita à sua inteligência.

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CURCEP

PROFª Drª CAMILA M PASQUAL

ALUNO(A) _______________________________________________________

TESTES CLARO ENIGMA, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

01. É incorreto afirmar sobre a obra de Carlos Drummond de Andrade que:

a) seu posicionamento individualista o afasta da problemática do homem comum, do dia-a-dia;

b) uma de suas temáticas é a reflexão em torno da própria poesia;

c) a lembrança de Itabira aparece em parte de sua obra;

d) ocorre-lhe, algumas vezes, a mostragem de uma angústia proveniente de acreditar que não há saída

para a problemática existencial;

e) a ironia madura é uma das características marcantes de sua poesia.

02. Sobre Carlos Drummond de Andrade é correto afirmar que:

a) é o nome inquestionável na consolidação da poesia moderna no Brasil, pela síntese que logrou realizar

entre várias contradições históricas do país;

b) predomina, em seus poemas, uma linguagem erudita, com termos raros, compatível com os tópicos

existenciais, mas inadequada para os temas do cotidiano;

c) publicou uma série de livros de poesia e de crônicas que tratam predominantemente de temas

provincianos, o que localiza sua obra na vertente regionalista da literatura brasileira;

d) se dedicou à construção de uma linguagem objetiva e rigorosa, voltada para a expressão literária da

paisagem tropical;

e) sua poesia se caracteriza pelo lirismo de tom irônico e melancólico, registro de um inconformismo em

relação à escassez de leitores de poesia no Brasil.

03. Carlos Drummond de Andrade:

a) foi um poeta que tratou de assuntos brasileiros a regionais, dando-lhe um caráter exótico e folclórico;

b) versejou sempre de acordo com a poética tradicional, respeitando métrica e rima;

c) atingiu a maturidade poética através da precisão da linguagem e do aprofundamento da visão de

mundo;

d) tem como polos poéticos o eu e o mundo; no primeiro sobressaem os conflitos com a família e a

província; no segundo sobressai o amor, caracterizado pela carência;

e) sem explorar as profundezas do eu, preocupa-se com o social, canta a solidariedade e interroga sobre o

sentido da vida.

04. Carlos Drummond de Andrade:

a) dedicou-se, na sua carreira literária, exclusivamente à poesia;

b) sua obra poética fixou-se no passado e nas memórias, não acompanhando a evolução da poesia

moderna brasileira;

c) utiliza em muitos de seus poemas o verso livre, correspondendo aos ideais renovadores instaurados em

1922;

d) distancia-se do mundo revelando-se um poeta indiferente, frio e calculista frente às transformações que

o mundo apresenta;

e) despreocupa-se da realidade circunstante e valoriza apenas o sentimento, principal característica do ser

humano.

05. Carlos Drummond de Andrade:

a) ao utilizar a palavra "gauche", esquerda, revela sua militância política na poesia engajada e

participante, de esquerda;

b) questiona reiteradamente em seus poemas as oposições sujeito-sociedade e província-metrópole;

c) ao filiar-se ao movimento modernista do livro libertou-se das preocupações com a elaboração formal

dos poemas;

d) só produz textos metalinguísticos na primeira fase de sua obra;

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e) através da ironia e do humor evita que o eu-lírico se isole, proporcionando-lhe a comunhão com o

mundo exterior.

06. Avalie as seguintes afirmações:

01. A poesia de Carlos Drummond de Andrade já foi interpretada pelos críticos como um encontro entre a

timidez e o pessimismo irônico. O poeta mineiro lutou contra essas suas características pessoais,

buscando envolver-se social e politicamente com a grave situação internacional da década de 40.

02. Seu nascimento literário foi anunciado por um "anjo torto", que lhe determinou "ser gauche na vida",

sempre encontrar "uma pedra no meio do caminho", o que o faz perguntar-se: "E agora José?".

03. Carlos Drummond de Andrade insere-se ao lado de Cecília Meirelles, Jorge de Lima e Murilo

Mendes, na segunda geração modernista, que pode ser responsabilizada por uma alteração nos rumos da

poesia da fase heroica do Modernismo.

04. À liberdade temática, à opção pela expressão nova, ao antilirismo e ao antiacademismo dos jovens de

22, Drummond preferiu a lírica convencional, a poesia repetitiva, cuja temática marcou-se,

exclusivamente, pelo engajamento político.

05. A captação de dados e situações da realidade cotidiana, interiorizados para responder aos

questionamentos de Drummond sobre o "estar-no-mundo", em todas as fases de sua poesia, recusa a

poesia fácil e ingênua, feita só de emoções.

Estão corretas as assertivas:

a) 1, 2 e 3; b) 2, 3, 4 e 5; c) 3, 4 e 5;

d) 1, 2, 3 e 5; e) 1, 3 e 5.

07. Assinale a alternativa incorreta.

a) Drummond foi um mestre dos versos livres, em poemas longos, onde os versos se sucedem misturando

vozes e ritmos.

b) O autor mostra seu domínio da versificação tradicional, na composição também de estruturas rígidas

como os sonetos.

c) Carlos Drummond de Andrade tem na diversidade dos recursos uma das bases da riqueza de sua obra.

d) O poeta compõe poemas em prosa, registra 'ao vivo' diálogos, o que dá aos textos uma atmosfera de

teatro e produz outras rupturas no campo dos gêneros literários.

e) Genial na poesia, Drummond não alcançou o mesmo nível estilístico e temático nas crônicas e contos.

08. Analise as seguintes observações sobre a temática da poesia de Drummond, especialmente em Claro

enigma.

I. Voltado exclusivamente para dentro de si, curtindo suas amargas memórias, Drummond se mostra

indiferente ao que acontece ao seu redor e ao próprio ato da criação poética.

II. A temática dominante, embora não exclusiva, nos poemas de Claro enigma, é a individualidade do

autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias.

III. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e

por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico

e cético.

IV. Enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto,

entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.

Estão corretas somente:

a) 1, 2 e 3; b) 2, 3 e 4; c) 3 e 4;

d) 1, 3 e 4; e) 2 e 4.

09. Leia com atenção o texto a seguir, extraído de Claro enigma, de Carlos Drummond de Andrade.

DISSOLUÇÃO

Escurece, e não me seduz

tatear sequer uma lâmpada.

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Pois que aprouve ao dia findar,

aceito a noite.

E com ela aceito que brote

uma ordem outra de seres

e coisas não figuradas.

Braços cruzados.

Vazio de quanto amávamos,

mais vasto é o céu. Povoações

surgem do vácuo.

Habito alguma?

E nem destaco minha pele

da confluente escuridão.

Um fim unânime concentra-se

e pousa no ar. Hesitando.

E aquele agressivo espírito

que o dia carreia consigo

já não oprime. Assim a paz,

destroçada.

Vai durar mil anos, ou

extinguir-se na cor do galo?

Esta rosa é definitiva,

ainda que pobre.

Imaginação, falsa demente,

já te desprezo. E tu, palavra.

No mundo, perene trânsito,

calamo-nos.

E sem alma, corpo, és suave.

Segundo o texto, podemos afirmar que:

a) A poesia definiu-se na vida de Drummond, como uma espécie de companheira constante, a quem ele

recorria sempre que era preciso e possível tentar uma conversa com o mundo;

b) O poeta, diante das maravilhas da vida, não aceita passivamente as amarguras que as horas da noite lhe

trazem;

c) Vendo-se um corpo sem alma, o poeta tenta valorizar o sentimento para que a ascensão espiritual,

através da metafísica, torne o sofrimento mais suave e suportável;

d) A proposta de Drummond parece ser a de, através da poesia, escavar o real mediante um processo de

interrogações e negações que acaba revelando o vazio à espreita do homem;

e) O poeta apresenta-nos a família, situando-a no cenário de um Brasil rural, onde predominava ainda a

forte atmosfera patriarcal.

10. Ainda sobre o poema da questão anterior, assinale a única alternativa que não tem sustentação no

texto.

a) Neste texto estão expressas as coordenadas do mais relevante momento poético de Carlos Drummond

de Andrade: a imagem da noite, a decomposição, a desagregação.

b) O eu lírico está dominado pelo entusiasmo, julgando tudo de um ponto de vista presente, de quem

retornou do exílio, cansado, mas disposto a não se resignar ao sem-sentido de tudo.

c) Com imagens do vazio e do nada, que são constantes em Claro enigma, esse poema insere o leitor na

temática filosófica, existencial que permanecerá ao longo da obra.

d) o poeta aceita a noite sem esboçar o menor gesto de luta, colocando-se como habitante de povoações

do vácuo, recusando a esse território impreciso qualquer conotação metafísica

Leia com atenção o poema Oficina irritada, nas páginas anteriores, para responder às questões 11 a 13 a

seguir.

11. sobre o poema Oficina irritada, é correto afirmar que:

a) a temática do texto gira em torno do mau-humor, da irritação que o poeta sente por ter que escrever

poemas agradáveis;

b) apesar de se propor a fazer um poema rude, o eu poético se manifesta de forma delicada, sem utilizar

nenhuma expressão mais dura;

c) o texto é um soneto metalinguístico, em versos decassílabos, que trata do próprio fazer poético;

d) as rimas em todas as estrofes seguem a mesma disposição de alternância representadas por ABABAB,

embora as sílabas rimadas não sejam iguais em todos os versos;

e) o formato do poema não obedece às normas da composição poética tradicional, visto que o autor, como

poeta modernista se rebela contra a falta de liberdade criativa.

12. Ainda sobre o poema Oficina irritada, podemos afirmar que:

a) a unidade entre forma e conteúdo é observada já a partir do título e da enunciação motivacional

expressa pelo eu lírico no 1º e 3º versos;

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b) a proposta dos versos 3 e 4 é concretizada no próprio poema, hermético, ilógico, sem apresentar

nenhuma condição de ser compreendido;

c) o oxímoro, presente no último verso, título da obra de onde foi extraído o poema, deixa evidente a

intenção de nitidez proposta nos versos 1 e 3;

d) a proposta de fazer um poema seco se materializa na ausência total de figuras de linguagem, o que

torna o texto extremamente árido;

e) a oficina a que se refere o título tem eco na ironia bem humorada do penúltimo verso.

13. No poema Oficina irritada, o autor utiliza o recurso da intertextualidade:

a) com a Ilíada de Homero, ao se referir ao tendão de Vênus;

b) com a História da Inglaterra, ao citar o rei Artur;

c) com a mitologia clássica lembrando Cérbero, o cão guardião das portas do inferno;

d) com a obra “Um tiro no muro escuro”, de Ágatha Christie;

e) com a tragédia, Hamlet, de Shakespeare, lembrando a célebre frase “To be or not to be”.

14. Avalie as seguintes afirmações sobre a obra Claro enigma, de Carlos Drummond de Andrade:

01. O sombrio retrato da existência, que vem em Claro enigma, é feito do sentimento de culpa que

oprime o poeta e da visão crepuscular que dá o tom da obra: a noção da impossibilidade, estabelecida

entre o transitório e o definitivo, a essência das coisas e seu fracasso diante do tempo.

02. Na obra é também marcante o retorno de um tema fundamental: o amor, descrito como vivência

dolorosa. Amor que antes aparecia travestido de ironia, e que nesse momento cede lugar a recorrentes

imagens de violência e mutilação.

03. A negatividade, a abolição de toda a crença, o apagar-se de toda a esperança traduzem-se pela

expressão da dor, do vazio, da angústia, da consciência da queda que aprisiona todo ser vivo.

04. No aspecto formal, Claro enigma revela uma preocupação nunca antes demonstrada pelo poeta acerca

dos aspectos versificatórios do poema com relação ao aproveitamento de ritmos e métricas de caráter

clássico e parnasiano.

Podemos afirmar que estão corretas:

a) As afirmações 1,2 e 3, apenas; b) apenas as afirmações 2, 3 e 4;

c)as afirmações 1 e 2, somente; d) todas as afirmações;

e) somente as afirmações 1, 3 e 4.

Leia com atenção o poema a seguir para responder às questões.

SER

O filho que não fiz

hoje seria homem.

Ele corre na brisa,

sem carne, sem nome.

Às vezes o encontro

num encontro de nuvem.

Apoia em meu ombro

seu ombro nenhum.

Interrogo meu filho,

objeto de ar:

em que gruta ou concha

quedas abstrato?

Lá onde eu jazia,

responde-me o hálito,

não me percebeste

contudo chamava-te

como ainda te chamo

(além, além do amor)

onde nada, tudo

aspira a criar-se.

O filho que não fiz

faz-se por si mesmo.

15. Analise as seguintes assertivas sobre o poema SER.

01. Carlos Drummond relembra o filho que morreu logo após o nascimento, embora no texto não

apareçam explicitamente as circunstâncias em que ocorreu sua morte.

02. Nos dois primeiros versos o poeta apresenta a ideia fixa que o persegue: houve um filho que não foi

feito e que hoje seria homem. A expressão no condicional “hoje seria homem” revela a natureza aérea,

imaterial do filho que se manifesta no terceiro e quarto versos “corre na brisa, sem carne, sem nome”.

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03. O poema realiza-se em dois níveis: no nível das palavras que tomaram forma, e na manifestação desse

ser éreo2 que constitui o filho e que o poeta imagina existir em um reino diferenciado.

04. O poema é explicitamente social, pois Drummond investiga a realidade através de sua palavra que

desvela as aparências, em busca de uma saída, de um sentido para a vida.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) 1, 2 e 3; b) 2, 3 e 4; c) 1, 3 e 4; d) 1 e 4.; e) 2 e 3.

16. Ainda sobre o poema SER, avalie as afirmativas a seguir:

01. A relação chave do poema, o sentido profundo do texto é a manifestação desse filho que, na sua

fenomenologia, torna-se, de súbito, todas as coisas que aspiram a criar-se ou que, perdidas, exprimem a

eterna aspiração humana de permanecer como essência.

02.O poeta sabe que não vai se livrar da dor. A certeza de que o mundo está errado o massacra, sobretudo

porque ele não ignora que o erro está nele também.

03. O poema termina declarando que o mundo está torto e que o indivíduo se mostra insuficiente e

impotente para mudar as coisas e incapaz de aceitá-las

04. Na construção do estranho quadro da família, onde a invenção se cola ao real, o poema “ser”, fala de

um filho inexistente em que o sentido é o da falta e a ênfase dada ao vazio, modela o “eu retorcido” do

poeta.

Podemos afirmar que apenas estão corretas as afirmativas:

a) 1 e 2; b) 2 e 3; c) 1 e 4; d) 3 e 4.; e) 1 e 3.

TEXTO

AMAR

Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,3

e amar o inóspito4, o áspero,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas5 ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor à procura medrosa,

2 Que é de bronze ou cobre.

3 Expectante: que espera; que está na expectativa.

4 inóspito: áspero, rude.

5 Pérfido: desleal, traiçoeiro.

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paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,e na secura nossa

amar a água implícita6,e o beijo tácito

7, e a sede infinita.

17. A partir do poema AMAR, é correto afirmar que:

a) o tom da indagação que percorre o poema se desmancha na certeza de que o indivíduo deve resistir ao

amor, sentimento questionável, duvidoso, diante da grande certeza que é a vida;

b) o tema sugere otimismo, característica do autor dos versos, Carlos Drummond de Andrade que entre

tantas outras qualidades, possui uma certa malandragem. Isso significa que as certezas da vida traduzem

claramente uma ideia de conforto;

c) destaca-se no poema a importância da memória que se apresenta de um lado como constituinte

histórico, e, por outro, como memória pessoal do autor;

d) Segundo o texto, na relação amorosa, as contradições são, no mínimo, multiplicadas por dois. Às

aflições do indivíduo, às suas inquietações particulares vão somar-se a insegurança diante do outro e a

frustração que a ameaça do desencontro anuncia;

e) Rompendo com tantas convenções a respeito do amor, Drummond mostra várias de suas faces, mas,

quase sempre, quebrará no leitor a ilusão de que esse sentimento possa conduzir à paz.

18. Lendo o poema entre o SER E AS COISAS nas páginas anteriores e baseados nele, podemos afirmar

que:

a) o poema revela uma boa dose de crença na possibilidade do sentimento quando a experiência amorosa

está associada à maturidade;

b) Ao enfatizar o caráter doloroso do amor, o poema destaca toda a força corrosiva do sentimento: o ser

que ama, acima de tudo, sofre, e a dor é o sintoma que fica;

c) o poema externa maior serenidade no amor, ao constatar que o tempo, que nega muito ao homem,

parece um pouco mais condescendente quando essa relação surge na idade avançada;

d)a imagem do “amor crepuscular”, como é apresentado no texto, não é tão importante na poesia de

Drummond;

e) depois da derrapagem na “curva perigosa dos cinquenta”, quando a paixão assume o movimento de um

animal “a passear o peito de quem ama”, o amadurecimento, de algum modo, parece propiciar a

convivência num terreno menos acidentado.

19. Freud, retomando uma ideia-força de Schopenhauer, afirmou, em Além do princípio do prazer: "Se

como experiência, sem exceção alguma, temos de aceitar que todo ser vivo morre por fundamentos

internos, voltando ao inorgânico, poderemos dizer: o objetivo de toda a vida é a morte."

Com base nessa afirmação, assinale a alternativa quer NÃO apresente um fecho de poema escrito sob o

signo do não.

a) E calamos em nós, sob o profundo

instinto de existir, outra mais pura

vontade de anular a criatura.(Fraga e sombra)

b) Eis-me a dizer: assisto

além, nenhum, aqui,

mas não sou eu, nem isto.(Sonetilho do falso Fernando Pessoa)

c) De tudo quanto foi meu passo caprichoso

na vida, restará, pois o resto se esfuma,

uma pedra que havia em meio do caminho.(Legado)

d) O agudo olfato,

o agudo olhar, a mão, livre de encantos,

6 Implícito: que está envolvido em algo, mas não de maneira clara; subentendido.

7 Tácito: subentendido.

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se destroem no sonho da existência. (A ingaia ciência)

e) Mas as coisas lindas

muito mais que lindas

essas ficarão. (Memória)

GABARITO

1) A

2) A

3) C

4) C

5) E

6) D

7) E

8) B

9) D

10) B

11) C

12) A

13) E

14) D

15) A

16) C

17) E

18) B

19) E

20) B