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40 _ 47 túneis e outras obras geotécnicas execução de túneis e obras geotécnicas complexas – o que muda com o ccp revisto? O “NOVO” CÓDIGO No passado dia 31 de agosto foi publicado o Decreto-Lei n.º 111-B/2017, que procede à nona alteração ao CCP e que transpõe as diretivas europeias números 2014/23/UE, 2014/24/UE, 2014/25/UE e 2014/55/UE. Este decreto-lei entra em vigor no dia 1 de janeiro de 2018. As alterações introduzidas são significativas, e extensivas aos diversos ramos da contratação pública, no entanto neste texto apenas nos iremos centrar nas mudanças mais relevantes relacionadas com as obras públicas geotecni- camente complexas, de que os túneis são um exemplo paradigmático (mas não o único, pois as alterações também têm impacto noutras obras subterrâneas complexas). Destacamos em seguida as seguintes al- terações (não exaustivas nem por ordem sequencial de artigos, mas tendo em conta o seu impacto na forma de preparar, contratar e executar estas obras geotecnicamente complexas): i) Novo regime dos “trabalhos a mais” e “tra- balhos de suprimento de erros e omissões” (EO) na fase de formação do contrato, com a introdução dos “trabalhos complementa- res” (TC) [artigos 61.º e 370.º a 378.º]; ii) Modificação objetiva dos contratos, que agora pode ser realizada “com fundamento nas condições nele previstas...” [artigos 312.º a 315.º]; E ainda as seguintes, por alterarem a forma de preparação dos concursos públicos por parte das entidades adjudicantes e, conse- quentemente, alterarem também a resposta dos concorrentes na elaboração das suas propostas na fase procedimental e durante a execução do contrato: iii) Nova organização das fases de apresenta- ção das propostas [artigo 50.º]; iv) Possibilidade de o empreiteiro reclamar dos EO do caderno de encargos nos 60 dias subsequentes à consignação da obra [artigo 378.º, n.º 3]; v) Resolução alternativa de litígios através da promoção do recurso à arbitragem [artigo 476.º]; vi) O critério regra para adjudicação passa a ser o da proposta economicamente mais vantajosa, que tem por base o preço ou custo (incluindo os custos do ciclo de vida) e a melhor relação qualidade-preço [artigos 74.º e 75.º]; vii) A fixação do preço (ou custo) anormal- mente baixo deixa de estar indexado a um preço base para comparação, admitindo- se agora a possibilidade de se comparar o preço de um concorrente com a média dos preços das outras propostas a admitir [artigo 71.º]; viii) Possibilidade de o concorrente suprir as irregularidades da sua proposta causadas por formalidades não essenciais [artigo 72.º, n.º 3] Gonçalo Diniz Vieira Eng. Civil; MSc Geotecnia EPPGDL (Plano Geral de Drenagem de Lisboa)/CML Animador do GT2 da Comissão Portuguesa de Túneis e Obras Subterrâneas (CPT) [email protected] O artigo aborda a 9ª revisão do Código dos Contratos Públicos (CCP) que foi recentemente republicado através do Decreto-Lei n.º 111-B/2017, de 31 de agosto, e que entrará em vigor no dia 1 de janeiro de 2018. Ciente da importância desta revisão legislativa e do impacto que terá certamente para as obras públicas subterrâneas com grande complexidade geotécnica, pretende-se fazer um ponto de situação das alterações legislativas que são diretamente impactantes na preparação, contratação e execução destas obras específicas, em especial os túneis. Pretende-se também divulgar as melhores práticas contratuais internacionais já reconhe- cidas pela International Tunnelling Association (ITA), através das suas recomendações. Em resumo, pretende-se que os leitores fiquem um pouco mais esclarecidos no que diz respeito às recentes alterações legislativas em matéria de contratação pública que têm influência na execução das Obras Geotécnicas Complexas (OGC), e também (re)conheçam as melhores práticas concursais internacionais deste tipo de obras. 40 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 81 SETEMBRO/OUTUBRO 2017

CM81 40-4740_47 túneis e outras obras geotécnicas execução de túneis e obras geotécnicas complexas – o que muda com o ccp revisto? O “NOVO” CÓDIGO No passado dia 31 de

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40_47túneis e outras obras geotécnicas execução de túneis e obras geotécnicas complexas– o que muda com o ccp revisto?

O “NOVO” CÓDIGO

No passado dia 31 de agosto foi publicado o

Decreto-Lei n.º 111-B/2017, que procede

à nona alteração ao CCP e que transpõe as

diretivas europeias números 2014/23/UE,

2014/24/UE, 2014/25/UE e 2014/55/UE.

Este decreto-lei entra em vigor no dia 1 de

janeiro de 2018.

As alterações introduzidas são significativas, e

extensivas aos diversos ramos da contratação

pública, no entanto neste texto apenas nos

iremos centrar nas mudanças mais relevantes

relacionadas com as obras públicas geotecni-

camente complexas, de que os túneis são um

exemplo paradigmático (mas não o único, pois

as alterações também têm impacto noutras

obras subterrâneas complexas).

Destacamos em seguida as seguintes al-

terações (não exaustivas nem por ordem

sequencial de artigos, mas tendo em conta o

seu impacto na forma de preparar, contratar

e executar estas obras geotecnicamente

complexas):

i) Novo regime dos “trabalhos a mais” e “tra-

balhos de suprimento de erros e omissões”

(EO) na fase de formação do contrato, com

a introdução dos “trabalhos complementa-

res” (TC) [artigos 61.º e 370.º a 378.º];

ii) Modificação objetiva dos contratos, que

agora pode ser realizada “com fundamento

nas condições nele previstas...” [artigos

312.º a 315.º];

E ainda as seguintes, por alterarem a forma

de preparação dos concursos públicos por

parte das entidades adjudicantes e, conse-

quentemente, alterarem também a resposta

dos concorrentes na elaboração das suas

propostas na fase procedimental e durante

a execução do contrato:

iii) Nova organização das fases de apresenta-

ção das propostas [artigo 50.º];

iv) Possibilidade de o empreiteiro reclamar

dos EO do caderno de encargos nos 60

dias subsequentes à consignação da obra

[artigo 378.º, n.º 3];

v) Resolução alternativa de litígios através da

promoção do recurso à arbitragem [artigo

476.º];

vi) O critério regra para adjudicação passa a

ser o da proposta economicamente mais

vantajosa, que tem por base o preço ou

custo (incluindo os custos do ciclo de vida)

e a melhor relação qualidade-preço [artigos

74.º e 75.º];

vii) A fixação do preço (ou custo) anormal-

mente baixo deixa de estar indexado a um

preço base para comparação, admitindo-

se agora a possibilidade de se comparar

o preço de um concorrente com a média

dos preços das outras propostas a admitir

[artigo 71.º];

viii) Possibilidade de o concorrente suprir as

irregularidades da sua proposta causadas

por formalidades não essenciais [artigo

72.º, n.º 3]

Gonçalo Diniz Vieira

Eng. Civil; MSc Geotecnia

EPPGDL (Plano Geral de Drenagem de Lisboa)/CML

Animador do GT2 da Comissão Portuguesa de Túneis

e Obras Subterrâneas (CPT)

[email protected]

O artigo aborda a 9ª revisão do Código dos Contratos Públicos (CCP) que foi recentemente

republicado através do Decreto-Lei n.º 111-B/2017, de 31 de agosto, e que entrará em

vigor no dia 1 de janeiro de 2018.

Ciente da importância desta revisão legislativa e do impacto que terá certamente para

as obras públicas subterrâneas com grande complexidade geotécnica, pretende-se fazer

um ponto de situação das alterações legislativas que são diretamente impactantes na

preparação, contratação e execução destas obras específicas, em especial os túneis.

Pretende-se também divulgar as melhores práticas contratuais internacionais já reconhe-

cidas pela International Tunnelling Association (ITA), através das suas recomendações.

Em resumo, pretende-se que os leitores fiquem um pouco mais esclarecidos no que diz

respeito às recentes alterações legislativas em matéria de contratação pública que têm

influência na execução das Obras Geotécnicas Complexas (OGC), e também (re)conheçam

as melhores práticas concursais internacionais deste tipo de obras.

40 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 81 SETEMBRO/OUTUBRO 2017

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SETEMBRO/OUTUBRO 2017 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 81 41

IMPACTO DAS ALTERAÇÕES AO CCP

NA EXECUÇÃO DE OGC

Particularidades das OGC

A construção de Obras Geotécnicas Complexas,

em especial a construção de túneis subterrâ-

neos, é muito diferente de qualquer outro tipo

de construção “à vista”, pois as propriedades

do material de construção – o terreno – não po-

dem ser conhecidas com precisão a priori nas

fases de projeto e de preparação do contrato

de empreitada. As condições imprevistas, a

dependência relativamente aos meios e aos

métodos construtivos, o acompanhamento e

a análise dos resultados da monitorização e os

inevitáveis riscos de construção são fatores

indissociáveis da construção de OGC em geral,

e que ganham particular relevo na construção

de túneis (ITA-AITES, 2013).

As particularidades da construção subterrâ-

nea, que em muitos casos lida com situações

previsivelmente incertas, exige do engenheiro

e do legislador uma capacidade extraordinária

para criar as melhores condições contratuais,

técnicas e legais, por forma a poder capacitar

o projetista e/ou o construtor a adaptar em

tempo útil os métodos construtivos à realida-

de geológica-geotécnica e comportamental

observada em obra.

Mas a nossa legislação nacional não responde

eficazmente aos requisitos de adaptabilidade

tantas vezes necessária nas obras geotécni-

cas complexas, realizadas em condições de

elevada incerteza geotécnica (ou de outros

tipos de incerteza mas que não serão explora-

das neste texto). Em seguida iremos analisar

as alterações acima destacadas revistas no

“novo” código à luz desta necessária adapta-

bilidade contratual.

Novo regime dos “trabalhos a mais” e

“trabalhos de suprimento de erros e

omissões” (EO) na fase de formação do

contrato – introdução dos “trabalhos

complementares” (TC) [artigos 61.º e

370.º a 378.º]

Com a introdução de um novo tipo de traba-

lho, denominado “trabalho complementar”, o

legislador deixa cair o conceito de “trabalhos a

mais” (tipicamente associado a trabalhos não

previstos no contrato resultantes de circuns-

tância imprevista) e de “erros e omissões do

caderno de encargos” (tipicamente associados

a trabalhos i) resultantes de situações descon-

formes com a realidade mas que poderiam e

deveriam ter sido previstas, ou ii) resultantes

de situações associadas a condicionalismos

naturais com especiais características de

imprevisibilidade como é o caso de obras

geotécnicas complexas) e alarga o espetro de

circunstâncias associadas a estes novos TC:

i) “... quando resultem de circunstâncias não

previstas...”, o seu valor acumulado não

exceda 10% do preço contratual;

ii) “... quando... resultem de circunstâncias

imprevisíveis ou que uma entidade adjudi-

cante diligente não pudesse ter previsto...”,

o seu valor acumulado não exceda 40% do

preço contratual.

Deixa de existir, deste modo, qualquer refe-

rência excecional para os casos de obras cuja

execução seja afetada por condicionalismos

naturais com especiais características de

imprevisibilidade, nomeadamente as obras

marítimo-portuárias e as obras complexas

do ponto de vista geotécnico, em especial a

construção de túneis, bem como as obras de

reabilitação ou restauro de bens imóveis.

Estas alterações não vêm responder às cir-

cunstâncias de situações previsivelmente in-

certas, i.e., quando a entidade adjudicante (ou

o seu projetista) não pode prever com precisão

as situações em concreto que se irão encontrar

em obra (apesar de ter sido diligente na prepa-

ração do concurso), mas consegue prever que

poderão existir situações diferentes do que as

indicadas no projeto (que deverão ser as mais

prováveis de ocorrer).

Também não vêm responder às circunstâncias

de situações com uma probabilidade de ocor-

rência tão reduzida (muito pouco prováveis)

que, eventualmente, uma entidade adjudicante

diligente poderia ter previsto, mas que essa

mesma entidade adjudicante responsável

não deveria ter em conta como hipótese no

dimensionamento da obra, por não ter uma

relação custo-benefício proporcional e ade-

quada aos interesses da entidade adjudicante

(damos como exemplo o dimensionamento

de estruturas provisórias para um sismo

com um período de retorno de 50 anos, ou o

dimensionamento de um túnel para um cenário

geológico-geotécnico ultra-conservador em

toda a sua extensão).

Enquanto que a circunstância que acima iden-

tificamos como de situação previsivelmente

incer ta poderá ter uma resposta positiva

na análise que iremos fazer em seguida às

modificações objetivas ao contrato, já a cir-

cunstância resultante de uma probabilidade

de ocorrência reduzida deveria ser enquadrada

na redação existente (através de interpretação

extensiva): ... ” quando... resultem de circuns-

tâncias imprevisíveis ou que uma entidade ad-

judicante diligente e responsável não pudesse

ou não devesse ter previsto...”.

Fica desde já a proposta de extensão de inter-

pretação deste artigo.

Modificação objetiva dos contratos, que

agora pode ser realizada “com fundamento

nas condições nele previstas...” [artigos

312.º a 315.º]

A novidade na nova redação do artigo 312.º

aparece logo no início do artigo: “O contrato

pode ser modificado com fundamento nas

condições nele previstas e ainda...”

Esta nova justificação para a existência de

modificação objetiva do contrato durante o

seu período de vigência vem transpor para a

legislação nacional os pressupostos referi-

dos no artigo 72.º, n.º 1 alínea a) da diretiva

2014/24/UE que reconhece a importância da

flexibilidade contratual para conseguir atingir

os objetivos que presidem à celebração de

um contrato público ao admitir a hipótese de

existirem opções de modificação do contrato

desde que tenham sido devidamente indicadas

nas peças do procedimento.

Esta novidade vem abrir a possibilidade de se

adotar uma metodologia de projeto com base na

previsão de cenários de referência (mais prová-

veis) e outros alternativos (menos prováveis)

para a evolução da obra, capazes de dar uma

resposta mais abrangente e adaptável às situ-

ações encontradas em obra, seguindo as regras

da boa arte e de uma adequada gestão do risco.

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túneis e outras obras geotécnicas

Esta foi uma das medidas concretas que o Gru-

po de Trabalho N.º 2 da Comissão Portuguesa

de Túneis propôs ao governo, no âmbito da

reflexão que realizou entre 2015 e 2016 sobre

a legislação portuguesa de contratação pública

à luz das novas diretivas europeias e das me-

lhores práticas de construção subterrânea,

em particular os túneis, para dar resposta

às situações previsivelmente incertas que

ocorrem neste tipo de obras geotecnicamente

complexas e que exigem uma adaptação jus-

tificada do método construtivo decorrente da

existência de condições geotécnicas substan-

cialmente diferentes das previstas no cenário

base de referência (o mais provável) do projeto

lançado a concurso.

Valerá com certeza a pena explorar esta nova

redação do artigo 312.º, conjugando com os

restantes artigos que dizem respeito aos limi-

tes de aplicação (art. 313.º) e à consequente

reposição do equilíbrio financeiro do contrato

(art. 314.º).

Um aspeto também muito relevante neste

tipo de obras que tem de ser ponderado diz

respeito à repartição do risco entre as partes

(referido no n.º 3 do artigo 314.º), que deve

ser muito bem definido nas peças concursais.

Por exemplo, outra das propostas avançadas

pelo GT2 da CPT prende-se com a alocação do

risco hidrogeológico e geotécnico que deve

ser atribuído ao dono de obra, enquanto que

a componente do risco de desempenho para

as condições geotécnicas expectáveis (o

risco da geologia conhecida nas prospeções

efetuadas) deve ser atribuído ao construtor.

Consideramos que este artigo poderá trazer

alguns aspetos positivos para a construção

e gestão deste tipo de OGC, desde que seja

devidamente previsto nas peças concursais.

Nova organização das fases de

apresentação das propostas [artigo 50.º],

e abertura da possibilidade do empreiteiro

reclamar dos EO do caderno de encargos

nos 60 dias subsequentes à consignação da

obra [artigo 378.º, n.º 3]

O artigo 50.º foi profundamente revisto, juntan-

do agora no primeiro terço do prazo fixado para

a apresentação das propostas a i) solicitação

de esclarecimentos necessários à boa com-

preensão e interpretação das peças do proce-

dimento e, no mesmo prazo, a ii) apresentação

de uma lista na qual identifiquem, expressa e

inequivocamente, os erros e as omissões das

peças do procedimento por si detetados.

Consideramos que esta revisão não foi muito

feliz pois se, por um lado:

– “... A lista a apresentar ao órgão competente

para a decisão de contratar deve identificar,

expressa e inequivocamente, os erros ou

omissões do caderno de encargos deteta-

dos, com exceção dos referidos na alínea

d) do número anterior e daqueles que por

eles apenas pudessem ser detetados na

fase de execução do contrato, atuando com

a diligência objetivamente exigível em face

das circunstâncias concretas.” (conforme o

n.º 3 do art. 50.º),

então o incumprimento do dever acima referido

que lhe está associado não tem consequên-

cias, pois:

– “O empreiteiro deve, no prazo de 60 dias

contados da data da consignação total ou

da primeira consignação parcial, reclamar

sobre a existência de erros ou omissões do

caderno de encargos, salvo dos que só sejam

detetáveis durante a execução da obra, sob

pena de ser responsável por suportar meta-

de do valor dos trabalhos complementares

de suprimento desses erros e omissões.”

(conforme o n.º 3 do art. 378.º).

Da conjugação destas duas alterações resulta,

na prática, que os concorrentes deixarão de

ter incentivo para apresentar a lista de erros

e omissões passíveis de serem detetados na

fase de concurso, pois podem-no fazer apenas

após a consignação, tendo 60 dias para apre-

sentar os EO sem qualquer penalidade.

Uma outra consequência evidente destas duas

alterações será o aumento relativo dos poten-

ciais trabalhos complementares resultantes

de circunstâncias não previstas (que têm um

limite de 10% do preço contratual), quando

comparados com a situação atual, que incen-

tiva os concorrentes a apresentarem a lista

de erros e omissões cuja deteção era exigível

na fase de formação do contrato (até ao 5/6

do prazo de apresentação das propostas) sob

pena de serem responsáveis por suportar

metade do valor desses trabalhos.

Deixamos a nota de que o n.º 3 do artigo 378.º

foi modificado entre a versão do código que foi

para consulta pública em agosto de 2016 e a

versão final publicada em agosto de 2017, pois

a anterior versão da consulta pública estava

em linha com a legislação atual ao prever que

“... O empreiteiro suporta metade do valor dos

trabalhos de suprimento de erros ou omissões

cuja deteção era exigível na fase de formação

do contrato, no prazo referido no artigo 50.º,

exceto pelos que hajam sido identificados

pelos interessados na fase de formação do

contrato mas que não tenham sido expressa-

mente aceites pelo dono da obra.”

Consideramos que estas alterações retiram

algum rigor nas propostas efetuadas na fase

pré-contratual, deixando para o início da obra

a discussão sobre os eventuais EO do projeto

e do caderno de encargos, o que poderá difi-

cultar o início dos trabalhos e, no caso de os

EO detetados serem superiores a 10% do preço

contratual, deitar o procedimento abaixo e

obrigar ao lançamento de um novo concurso.

Resolução alternativa de litígios através da

promoção do recurso à arbitragem [artigo 476.º]

O novo artigo 476.º do CCP (e último) vem per-

mitir o recurso à arbitragem ou a outros meios

de resolução alternativa de litígios emergentes

de procedimentos ou contratos aos quais se

aplique o código.

No entanto, ainda falta bastante caminho a

percorrer nesta área, e certamente ajustes a

realizar ao código, na medida em que se prevê

que caso a entidade adjudicante opte pelo

recurso à arbitragem poderá escolher e impor

a jurisdição de um qualquer centro de arbitra-

gem institucionalizado (quando existirem),

que os concorrentes terão de aceitar. Ora isto

não parece aceitável, pois este centro irá ter

um papel relevante nos litígios contratuais e

pré-contratuais e deveria ser escolhido por

uma entidade independente de qualquer um

dos interessados (tanto o dono de obra como

o cocontratante).

Parece-nos que esta decisão de escolha do

centro de arbitragem poderia passar pela

42 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 81 SETEMBRO/OUTUBRO 2017

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túneis e outras obras geotécnicas

entidade reguladora, atualmente o IMPIC, mas

sobre esta matéria certamente correrá ainda

muita tinta.

O que realmente interessa reter, no que às

OGC diz respeito, é que uma resposta deste

tipo talvez não seja a mais adequada para

resolução expedita de conflitos durante a

fase de execução da obra. Como proposta,

julgamos que nas OGC que têm um potencial

de incerteza elevado quanto à realidade que

poderá ser encontrada durante a escavação

e execução dos trabalhos (incerteza muitas

vezes associada à qualidade do maciço e ao

zonamento geotécnico encontrado na frente

de obra), deverá ser criada uma Comissão de

Resolução de Conflitos com três membros

(um nomeado pelo Dono de Obra, o outro pelo

Construtor e um terceiro nomeado por esses

dois membros) capaz de analisar tecnicamente

as situações, para atuar rapidamente como de-

cisor nas situações de modificações objetivas

ao contrato por alteração das condições geo-

técnicas inicialmente previstas, respeitando

sempre o regime legal aplicável.

Fica a sugestão, que eventualmente poderá

ser enquadrada como “... outros meios de

resolução alternativa de litígios...”?

O critério regra para adjudicação passa a

ser o da proposta economicamente mais

vantajosa, que tem por base o preço ou

custo (incluindo os custos do ciclo de vida)

e a melhor relação qualidade-preço [artigos

74.º e 75.º]

As alterações efetuadas aos artigos 74.º e 75.º,

apesar de parecerem de monta, não vieram

alterar radicalmente a forma de adjudicar

atualmente pois o recurso à avaliação apenas

do preço enquanto único aspeto da execução

do contrato continua a ser possível.

As alterações vieram, isso sim, e bem em nosso

entender, chamar a atenção para a importância

do ciclo de vida (incluindo-se o custo da manu-

tenção e do funcionamento) da obra que deve

ser tido em consideração logo desde a fase

inicial de construção.

No entanto, interessa salientar a nova redação

do n.º 2 do artigo 75.º, que na sua alínea b) abre

a possibilidade de utilização de fatores e subfa-

tores de avaliação das propostas com base na

“...Organização, qualificações e experiência do

pessoal encarregado da execução do contrato

em questão, caso a qualidade do pessoal em-

pregue tenha um impacto significativo no nível

de execução do contrato, designadamente, em

contratos de serviços de natureza intelectual,

tais como a consultoria ou os serviços de projeto

de obras”, e também “...Serviço e assistência

técnica pós-venda e condições de entrega,

designadamente a data de entrega, o processo

de entrega, o prazo de entrega ou de execução e

o tempo de prestação de assistência...”.

I.e., é possível avaliar o currículo da pessoa

ou equipa que irá executar o contrato, no caso

de este ser um fator relevante para o nível de

execução exigido. No entanto, depois será

necessário assegurar que essa pessoa irá

realmente executar o contrato, caso contrá-

rio a entidade adjudicante estaria a incorrer

numa alteração que poderia afetar a decisão

de avaliação das propostas, nomeadamente

a sua ordenação e adjudicação.

Esta abertura é relevante em especial no caso

de túneis que possam exigir a execução do

projeto de execução por parte do construtor,

como acontece nos concursos de empreitada

lançados ao abrigo do n.º 3 do artigo 43.º

A fixação do preço (ou custo) anormalmente

baixo deixa de estar indexado a um preço

base para comparação, admitindo-se agora

a possibilidade de se comparar o preço de

um concorrente com a média dos preços das

outras propostas a admitir [artigo 71.º]

Com a nova redação do artigo 71.º volta a poder

ser utilizada como referência para preço ou

custo anormalmente baixo a média dos preços

das restantes propostas a admitir, uma situa-

ção que não é admitida atualmente.

Sobre este artigo consideramos que a defini-

ção do preço anormalmente baixo é sempre

uma tarefa difícil e, muito provavelmente, sem

uma única solução correta. O artigo, uma vez

mais, não elimina a possibilidade de indexação

do preço anormalmente baixo a uma percen-

tagem do preço base fixado no caderno de

encargos (na medida em que aceita a hipótese

de outros critérios considerados adequados)

mas abre a possibilidade de se utilizarem os

preços das outras propostas, ou o preço médio

obtido da consulta preliminar ao mercado, caso

tenha existido.

Possibilidade de o concorrente suprir as

irregularidades da sua proposta causadas por

formalidades não essenciais [artigo 72.º, n.º 3]

Esta é uma alteração ao artigo 72.º que consi-

deramos claramente positiva, na medida em

que sem se abdicar da transparência se está

a aumentar a concorrência, dando a possibili-

dade aos concorrentes que, por lapso, tenham

colocado uma assinatura não reconhecida ou

efetuado alguma troca num documento não

essencial, de corrigir a sua proposta e suprir

o seu erro formal.

Esta medida vem diminuir a burocracia e

melhorar o serviço prestado ao dono de obra,

sendo de louvar.

A revisão do código é muito extensa, mas de-

cidimos chamar a atenção para estes aspetos

mais relevantes para as obras geotécnicas

complexas, em especial os túneis, sabendo

que outras alterações também terão impacto

na contratação pública destas obras especiais.

RECOMENDAÇÕES RETIRADAS DA

EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL

Neste capítulo fazemos referência às melhores

práticas contratuais em países com grande

tradição neste tipo de obras geotécnicas

complexas, que promovem a adequação dos

métodos construtivos inicialmente previstos

às condições reais encontradas em obra (atra-

vés da utilização do método observacional,

conforme estabelecido no capítulo 2.7 da

Norma Europeia de Projeto Geotécnico – EC7:

Parte 1 Regras Gerais), promovendo desta

forma a redução do custo do risco geotécnico.

Fazem-no através de mecanismos contratuais

simultaneamente flexíveis e rigorosos, adap-

tando os métodos construtivos por aplicação

de regras sobre modificação dos contratos

para os cenários de projeto admissíveis, pre-

viamente analisados e previstos no concurso.

Em seguida apresentam-se algumas recomen-

44 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 81 SETEMBRO/OUTUBRO 2017

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SETEMBRO/OUTUBRO 2017 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 81 45

dações da ITA (International Tunneling Associa-

tion) que, em conjunto com a FIDIC (Internatio-

nal Federation of Consulting Engineers), está

presentemente a elaborar cláusulas especiais

que visam atender aos aspetos contratuais es-

pecíficos das obras subterrâneas complexas.

Gestão do risco

É sobejamente conhecida a definição de risco

(R), que resulta do produto da probabilidade de

ocorrência de um fenómeno adverso (P) pelo

seu impacto (I) em pessoas ou bens, ao nível

da segurança, do custo, do prazo, do ambiente,

ou outros:

R=P x I [1]

Um dos aspetos mais relevantes a gerir, quan-

do estamos em presença de obras geotécnicas

complexas que envolvem usualmente verbas

consideráveis, prende-se com a gestão do

risco geotécnico e contratual. Os riscos ge-

otécnicos são inevitáveis e indissociáveis da

construção subterrânea em geral, e ganham

particular relevo na construção de túneis. A

implementação de procedimentos formais de

gestão de risco em projetos subterrâneos é

fundamental para reduzir o “custo associado

ao risco”, em especial o geotécnico.

Aliás, a implementação de procedimentos

formais de gestão de risco em projetos

subterrâneos é altamente incentivada pela

ITA (International Tunneling Association) e

já é correntemente utilizada em projetos

internacionais com financiamento público/

comunitário, ou através de fundos de inves-

timento privados, usando registos de riscos

e melhorando a capacidade para identificar,

controlar, monitorar, comunicar e alocar os

riscos contratuais. Todas as partes envolvidas

no projeto devem participar neste processo

para gerir e mitigar os riscos identificados.

Em alguns países, os procedimentos formais

de gestão de risco tornaram-se obrigatórios

para a obtenção de seguros para os grandes

projetos de obras subterrâneas.

Os contratos que incluam um mecanismo de

adaptação das remunerações do construtor

de acordo com as condições encontradas em

fase de obra só vão pagar pelos riscos que re-

almente ocorram. No entanto, esses contratos

exigem vigilância contínua e especializada

para o exercício efetivo do mecanismo de re-

muneração. No cerne da gestão prudente do

risco geotécnico está o grau de compreensão

das particularidades do ambiente subterrâneo.

Os benefícios do projeto subterrâneo precisam

de ser equilibrados no contrato com os riscos

das incógnitas decorrentes do subsolo, resul-

tantes das inerentes incertezas geológicas,

geotécnicas, hidro-geológicas e de desempe-

nho estrutural do espaço subterrâneo.

O modelo adequado para o efeito é a institui-

ção do Plano de Gestão de Risco (PGR), o qual

deverá assegurar que todas as situações de

risco significativo ou de consequências muito

severas se encontram devidamente tratadas.

Com efeito, não sendo possível eliminar inteira-

mente o risco, é obrigação dos intervenientes

mantê-lo num nível que seja tolerado, quer do

ponto de vista técnico, quer pela sociedade no

seu conjunto ou, de outra forma, num nível “as

low as reasonably possible” (o chamado crité-

rio ALARP conforme exemplificado na Figura 1).

Recorrendo à experiência pessoal, a bases de

dados, a bibliografia ou reunindo especialistas,

deverão ser identificados todos os perigos

(acontecimentos com potencial para causar

danos), atribuir lhes uma probabilidade de

ocorrência e o impacto que eles possam ter.

Com base nesta análise deverá ser avaliado

cada um dos riscos, atribuindo-lhes uma clas-

sificação que permita decidir quais os riscos

que são aceitáveis e quais aqueles que têm que

ser mitigados ou eliminados. Este processo

encontra-se ilustrado na Figura 2.

Na celebração do contrato entre o Dono de Obra

e o Construtor, as cláusulas devem clarificar a

fronteira entre as obrigações de desempenho e

as especificações técnicas de metodologia de

trabalho, de modo a potenciar o equilíbrio entre

os interesses de cada um dos intervenientes

> 1

> Figura 1: Critério ALARP de aceitabilidade do risco (Cândido, 2010).

> Figura 2: Objetivo da gestão do risco (adaptado de Grasso et al., 2002).

> 2

Risco insignificante

Não é necessário considerar a redução do risco.Região aceitável

Região ALARP

Região inaceitável

Risco elevado

Risco é intolerável e deve ser reduzidoindependentemente dos custos.

Risco deve ser reduzido enquanto os custos forem razoáveis em comparação com a redução do risco realizada.

Probabilidade Probabilidade

Impa

cto/

Cons

equê

ncia

Impa

cto/

Cons

equê

ncia

Aceitável

Não aceitável

Potencialmenteaceitável

Risco inicial

Medidas mitigadoras

Risco ResidualCritério de aceitação. Ex: ALARP

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túneis e outras obras geotécnicas

e o risco assumido pelos mesmos.

Uma gestão de risco bem estruturada durante

todas as fases da obra, desde a conceção e es-

tudos de viabilidade, passando pelo concurso

público até à construção, monitorização e ex-

ploração, é necessária e deveria ser alargada

a muitas obras geotécnicas complexas que

lidam com elevados graus de incerteza.

Por fim, interessa reforçar que compensa uma

preparação cuidada da empreitada de constru-

ção subterrânea, com uma adequada campa-

nha de prospeção e um projeto suficientemen-

te abrangente para se poder adaptar às reais

condições encontradas durante a escavação.

O plano de gestão do risco deverá acompanhar

todas estas fases numa perspetiva de “olhar os

problemas de frente” e preveni-los, preparando

soluções de contingência de forma antecipada.

No fundo, e citando Laura Caldeira, “O risco

geotécnico poder ser gerido, minimizado,

partilhado, transferido ou aceite. Contudo, não

pode ser ignorado.” (Caldeira, 2015).

Resolução expedita de litígios

A ITA recomenda o recurso a processos es-

pecializados de resolução de litígios como

um meio de gestão de conflitos, incluindo o

recurso a peritos com experiência e conhece-

dores dos assuntos específicos da construção

subterrânea. Todos os procedimentos eficazes

de resolução de conflitos em empreitadas de

construção subterrânea dependem da identifi-

cação precoce dos problemas que necessitam

de resolução e da existência de procedimentos

claros e ágeis para a resolução dos litígios.

Esta associação internacional está a trabalhar

em conjunto com a FIDIC (International Fede-

ration of Consulting Engineers) na elaboração

de cláusulas contratuais particulares para

responder às especificidades das obras sub-

terrâneas, em especial os túneis.

Contratos FIDIC

Também a FIDIC (Fédération Internationale des

Ingénieurs Conseils / Federação Internacional

de Engenheiros Consultores) sentiu a neces-

sidade de adaptar os seus contratos (FIDIC,

2011), reconhecidos internacionalmente como

equilibrados do ponto de vista da gestão do

risco contratual, para implementar algumas

cláusulas contratuais específicas para túneis

e obras subterrâneas. O trabalho está a ser de-

senvolvido em parceria com a ITA (International

Tunneling Association) e os princípios que

justificaram a elaboração destas condições

contratuais específicas para obras subterrâ-

neas são resumidos em seguida:

a) A alocação do risco hidrogeológico e geo-

técnico deve ser atribuída ao proprietário

do terreno, o Dono de Obra, enquanto a

componente do risco de desempenho para

as condições geotécnicas expectáveis

deve ser atribuído ao construtor;

Os princípios de partilha de risco eliminam a

maioria das discussões acerca das diferenças

entre as condições geológicas previstas (as

de referência do projeto) e as encontradas em

obra. Na Figura 3 é ilustrado como a alocação

adequada do risco pode dar origem ao menor

custo possível, seguindo os princípios do

Norwegian Method of Tunneling.

b) Toda a informação geológica e geotécnica

disponível deve ser patenteada no concurso;

c) Os limites contratuais do concurso são

baseados num relatório geotécnico de

referência, que resume as condições

geotécnicas previstas (as mais prováveis)

que poderão ser encontradas durante a

construção;

d) Nas situações em que as condições reais

do terreno sejam diferentes das previstas

no projeto, deve ser incorporada uma

cláusula contratual de “condições físicas

imprevistas” (different site conditions),

que permita uma flexibilização contratual

para compensar o construtor por eventu-

ais sobrecustos ou para permitir eventuais

benefícios para o dono de obra;

e) Deve ser implementado um sistema de

classificação das condições do terreno

baseado nos trabalhos que o construtor

tem de executar para escavar e suportar

o terreno;

f) Devem ser reguladas as alterações no

pr azo de execução decorrentes das

diferenças nas condições geotécnicas

encontradas em obra;

g) Deve ser definido um mecanismo flexível

de remuneração de acordo com as con-

dições geotécnicas reais encontradas

durante a construção, através de um

sistema de pagamento por série de preços

unitários, organizados de modo a permitir

a distinção entre custos fixos, custos de-

vido ao prazo de execução, custo devido

ao valor dos trabalhos e custo devido às

quantidades realizadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo surge num período de transição e

de necessária análise e estudo da “nova” le-

gislação nacional de contratação pública para

> Figura 3: Princípios de alocação do risco (NFF, 2012).

> 3

Project’s costContractor’s cost100%

0%

Owner’s cost0%

100%

Norwegianpractice

Turnkey

Lump sum

Fixed priceLump sum

Price escalation

TargetCost reimbursement

46 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 81 SETEMBRO/OUTUBRO 2017

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SETEMBRO/OUTUBRO 2017 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 81 47

Rua Comandante Cousteau, 20DParque das Nações1990-067 Lisboa - PortugalTel: Fax: Email:

[+351] 210 505 150 / 51[+351] 218 962 [email protected]

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Tratamento de Terrenos Estudos Geológicos e Geotécnicos

Estabilidade de Taludes Estabilidade de Taludes

Reforço e Recalçamento de Fundações

Demolições

Fundações Especiais Túneis e Obras Subterrâneas

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Escavações e Contenções Periféricas Contenção de Fachadas

Tratamento de Terrenos Estudos Geológicos e Geotécnicos

Estabilidade de Taludes Estabilidade de Taludes

Reforço e Recalçamento de Fundações

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Fundações Especiais Túneis e Obras râneas

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The Ground is our ChallengeProjeto de escavação de 6 pisos enterrados do edifício FPM41 no centro de LisboaProjeto de Execução

� � � ����������Túnel do Marão Revisão de Projeto

Túnel de Montemor (CREL) Reabilitação conforme Directiva UE 2004/54/EC

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posterior adaptação das práticas concursais

deste tipo de obras geotécnicas complexas,

em especial os túneis.

Esperamos que o leitor identifique rapida-

mente os aspetos mais relevantes que foram

revistos no código de forma a poder utilizar

toda a abertura que a “nova” legislação permite

para preparar, contratar e executar este tipo

de OGC de forma adequada: preparando com

rigor e otimizando a construção em função da

realidade geotécnica encontrada, por forma

a reduzir o custo do risco geotécnico sempre

presente neste tipo de obras especiais, em

particular no caso dos túneis.

As melhores práticas internacionais aqui iden-

tificadas poderão servir de mote para algumas

sugestões de boas práticas a implementar

na gestão destas obras públicas, por forma a

permitir uma utilização mais eficiente (best

value for money) do dinheiro público.

É que, no fundo, para um engenheiro, projetar

e construir um túnel - ou uma obra geotécnica

complexa - é, em todas as situações e por força

das especiais condições que envolvem a cons-

trução subterrânea, um trabalho envolto numa

dose elevada de incerteza que, na maior parte

das situações, não é tecnicamente ultrapas-

sável – ainda que a lei possa dizer o contrário

(Diniz Vieira, G e Diniz Vieira, J., 2014).

AGRADECIMENTOS

O autor deseja agradecer a todos os colegas com

quem trabalhou nos últimos anos na análise e

debate da revisão do CCP com relevância nos

túneis, em especial aos membros do Grupo

de Trabalho N.º 2 da Comissão Portuguesa de

Túneis e Obras Subterrâneas.

A meu pai.”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

– Caldeira, L. (2015). Incerteza geotécnica e risco

contractual. Proceedings do Seminário sobre Obras

Subterrâneas Complexas, Riscos Contratuais e CCP:

Como Conviver?, realizado na Ordem dos Engenheiros,

Lisboa, dezembro.

– Cândido, Mário A. F. (2010). Contributo para a gestão

do risco geotécnico na construção de túneis. Tese de

mestrado apresentada na Faculdade de Ciências e

Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. run.unl.pt/

bitstream/10362/5132/1/Candido_2010.pdf , acedido

em 20/03/2016.

– CPT (2015). Contributos Iniciais para a Revisão do

Código dos Contratos Públicos à luz das novas Diretivas

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n.º2 da Comissão Portuguesa de Túneis, https://geogdv.

files.wordpress.com/2015/10/cpt_gt2_englaw_doc_rev_

ccp_20150530.pdf.

– CPT (2016). Contributo para a Revisão do Código dos

Contratos Públicos no âmbito da Consulta Pública ao

Anteprojeto de Revisão do CCP. Grupo de Trabalho n.º2

da Comissão Portuguesa de Túneis, https://geogdv.files.

wordpress.com/2016/09/contributos-da-cpt_consulta-

publica-revisao-do-ccp_set2016.pdf

– Diniz Vieira, G., Diniz Vieira, J. (2014). Trabalhos

adicionais ao contrato no caso de obras complexas do

ponto de vista geotécnico, em especial os túneis. 14.º

Congresso Nacional de Geotecnia, Covilhã (CD_ROM).

– Diniz Vieira, G. (2015). Caracterização do problema:

especificidade das obras subterrâneas complexas

e falta de flexibilidade legislativa. Proceedings do

Seminário sobre Obras Subterrâneas Complexas, Riscos

Contratuais e CCP: Como Conviver?, realizado na Ordem

dos Engenheiros, Lisboa, dezembro.

– Diniz Vieira, G., et al (2016). Aspetos Contratuais

Específicos da Construção Subterrânea, em especial

os Túneis. 15º Congresso Nacional de Geotecnia,

Porto (CD_ROM), https://geogdv.files.wordpress.

com/2016/06/15cng_art-abs-1334_gdv_f2.pdf

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para Trabalhos de Construção; “New Yellow Book”,

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Construção. Versão Portuguesa.

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– ITA-AITES (2011). Contractual Framework Checklist

for Subsurface Construction Contracts. Report Nº06

of ITA WG Nº3, april. www.ita-aites.org, acedido em

20/03/2016.

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Conventional Tunneling. Report Nº13 of ITA WG Nº19,

may. www.ita-aites.org, acedido em 20/03/2016.

– NFF (2012). Contracts in Norwegian Tunneling.

Publication N.º 21 Norwegian Tunneling Society. http://

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pdf , acedido a 20/03/2016.

– TC (2016). Relatório n.º 1/2016 – AUDIT.1.ª S., Processo

n.º 2/2012 “Evolução global dos trabalhos adicionais no

âmbito dos contratos de empreitada”. www.tcontas.pt,

acedido a 20/03/2016.