354
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO SESSÃO: 153.1.55.O DATA: 15/06/15 TURNO: Vespertino TIPO DA SESSÃO: Não Deliberativa de Debates - CD LOCAL: Plenário Principal - CD INÍCIO: 14h10min TÉRMINO: 18h22min DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR PARA REVISÃO Hora Fase Orador 16:24 GE PAES LANDIM 17:42 CP PAES LANDIM Obs.: Inexistência de quórum.

 · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

SESSÃO: 153.1.55.O

DATA: 15/06/15

TURNO: Vespertino

TIPO DA SESSÃO: Não Deliberativa de

Debates - CD

LOCAL: Plenário Principal - CD

INÍCIO: 14h10min

TÉRMINO: 18h22min

DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR PARA REVISÃO

Hora Fase Orador

16:24 GE PAES LANDIM

17:42 CP PAES LANDIM

Obs.: Inexistência de quórum.

Page 2:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

Ata da 153ª Sessão da Câmara dos Deputados, Não Deliberativa de

Debates, da 1ª Sessão Legislativa Ordinária, da 55ª Legislatura, em 15 de

junho de 2015.

Presidência dos Srs.:

Gonzaga Patriota, Luiz Couto, Izalci, JHC,

Mauro Pereira, nos termos do § 2º do artigo 18

do Regimento Interno.

Page 3:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

3

O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Não havendo quórum regimental

para abertura da sessão, nos termos do § 3° do art. 79 do Regimento Interno,

aguardaremos até meia hora para que ele se complete.

Page 4:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

4

I - ABERTURA DA SESSÃO

(Às 14 horas e 10 minutos)

O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Declaro aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos

trabalhos.

O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior.

II - LEITURA DA ATA

O SR. LUIZ COUTO, servindo como 2° Secretário, procede à leitura da ata da

sessão antecedente, a qual é, sem observações, aprovada.

III - EXPEDIENTE

(Não há expediente a ser lido)

Page 5:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

5

O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Passa-se ao

IV - PEQUENO EXPEDIENTE

A Presidência dá início aos trabalhos para que os Srs. Deputados possam dar

como lidos os seus pronunciamentos.

Concedo a palavra ao Sr. Deputado Luiz Couto.

Page 6:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

6

O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras.

e Srs. Deputados, gostaria de dar como lido meu pronunciamento e registrar nos

Anais da Casa matérias publicadas na revista CartaCapital desta semana. A

primeira, de Marcos Coimbra, sob o título O tamanho do ódio:

“Pesquisa recente do Vox Populi aponta: o

eleitorado que diz detestar o PT representa 12% do total.

Não é pouco, mas menos do que muitos imaginam.”

Ele fala dos resultados que não são publicados pela mídia, mas com posição

diferente.

A outra é o editorial de CartaCapital assinado por Mino Carta, intitulado O

suicídio dos filisteus, do qual leio pequeno trecho:

“A tentativa de incriminar Lula prova somente a sua

condição de único líder popular brasileiro reconhecido

mundo afora, como se deu na Itália dias atrás.”

Ele faz o reconhecimento do trabalho de Lula. E refere-se ao fato de o

Instituto Lula ter recebido recursos, dos quais prestou as devidas contas, bastante

inferiores aos que recebeu o Instituto Fernando Henrique Cardoso, mas no caso

deste a mídia não fez estardalhaço.

A terceira vem sob o título O povo não é bobo, de Maurício Dias. Trata-se de

uma pesquisa IBOPE escondida pela mídia que revela que muitos brasileiros veem

o jornalismo empenhado em aderir ao “quanto pior, melhor”. A imprensa brasileira

mostra o País em uma situação econômica mais negativa do que percebe no dia a

dia a população.

Page 7:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

7

Sr. Presidente, gostaria de dar como lido pronunciamento que faço

homenageando o Sargento Pereira, que me encaminhou um discurso sobre o tema,

ao qual dá o título: Querem entregar o Brasil ao capital estrangeiro, do qual

transcrevo alguns trechos. Peço que o meu pronunciamento seja divulgado nos

meios de comunicação da Casa e no programa A Voz do Brasil.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Eminente Deputado Luiz Couto,

V.Exa. será atendido nos termos regimentais.

PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, já dizia, em seu texto, o policial e

amigo Astronadc Pereira: “Querem entregar o Brasil ao capital estrangeiro”. Isso é

fato! Diversas vezes tentaram o golpe contra a nossa Presidenta.

Pereira relata que “nos últimos meses podemos verificar os ataques

incessantes contra o partido dos trabalhadores e contra a presidenta Dilma, contudo,

a lista de acusados apresentada pelo Ministério Público Federal tinha 28 políticos, 8

do PT; 32 do PP; 10 do PMDB e 1 do PSB, mas a oposição só fala dos deputados

petistas e da presidenta. A presidenta Dilma não foi denunciada e não consta na

lista do MPF. Então por que a oposição fala tanto em impeachment?”

Pereira ainda afirma que “a corrupção não é um episódio recente ela está

presente desde a formação histórica do Brasil. Curioso é que quando querem dar

um golpe apostam no mote da Corrupção política, basta lembrar-se de Getúlio

Vargas e Jânio Quadros. Em 1989 o jornalista Boechat da TV Bandeirante venceu o

premio ESSO com denúncias de corrupção na Petrobrás.”

Page 8:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

8

Pereira relata que “a oposição tenta esquecer que o Partido dos

Trabalhadores chegou à presidência da República por um processo legítimo e

incontestável. Não foi através de um golpe. A oposição governou o Brasil por muito

tempo e não combateu a corrupção e nem tampouco fortaleceu as estruturas do

estado para tal fim”.

Em seu discurso ele afirma que “há diferenças imensuráveis entre o governo

petista e o governo do PSDB. No governo da presidenta Dilma os mecanismos de

controle investigam livremente e os mecanismos de repressão policial prendem os

acusados sem interferências do Planalto. Muito diferentemente do governo do PSDB

que escondia para baixo do tapete as denuncias, a polícia Federal era sucateada e

havia interferência”.

Na opinião de Pereira, “inegavelmente a corrupção agora é revelada, tendo

em vista os mecanismos e órgãos de repressão e investigação não sofrerem

interferências para realizar seus trabalhos, o que não ocorria em governos

anteriores. No governo do PSDB, políticos corruptos não foram responsabilizados,

sem falar na ditadura militar onde os assuntos de governo eram secretos”.

Segundo Pereira, “evidentemente os interesses escusos da oposição, estão

alinhados com a banca mundial do capitalismo liderada pelos Estados Unidos. É a

tentativa do desmantelamento do projeto popular no poder do Brasil e na América do

Sul”.

Em seu texto afirma que “a banca mundial capitalista, juntamente com a

oposição liderada pelo PSDB sabe da importância da Petrobrás para o Brasil e para

o mundo. Os EUA, que lideram a banca mundial do capitalismo, sempre estiveram

de olhos arregalados para a Petrobrás, para o território continental que é o Brasil, e

Page 9:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

9

para nossas riquezas e recursos naturais que temos. Tal fato ajuda a explicar tanto

interesse de partidos e políticos em defender o financiamento privado de

campanhas. Nesta lógica as eleições são financiadas pelo capital e o poder fica nas

mãos do capital nacional e estrangeiro, através de políticos descompromissados

com as questões sociais, mas comprometidos com seus próprios interesses”.

Sua posição contempla a seguinte historia: “Não é a toa que os políticos do

‘alto clero’ no Congresso Nacional não aceitam o financiamento público de

campanha, pois se assim ocorresse, as campanhas seriam realizadas de igual modo

para todos. Neste caso o cenário político mudaria sua lógica e o povo passaria a

ocupar os espaços de poder através de suas representatividades, mas também de

sua participação”.

Na sua opinião “os EUA em sua violenta política expansionista conseguiram

destruir suas riquezas naturais e seu petróleo. É de conhecimento público a situação

perigosa dos EUA na questão do petróleo. Ainda segundo os pesquisadores os EUA

só teriam petróleo por no máximo 50 anos e agora querem o nosso a todo custo.

Mas querem muito mais, querem também as riquezas e recursos naturais do

Amazonas e do Nordeste brasileiro. Às vezes esquecemos que o Brasil têm reservas

estratégicas de água no subsolo nordestino além de tantas outras riquezas

imensuráveis. Estas riquezas são dos brasileiros”.

Historicamente, pereira relata que “foi esta política internacional liderada pelos

EUA que em 1964 apoiou e viabilizou o golpe Militar contra o Brasil. Na época eles

já estavam de olho no nosso petróleo e não queriam a construção da Petrobrás. Não

podemos esquecer que recentemente a presidenta Dilma estava sendo espionada

por agentes do serviço secreto americano, fato público e notório na imprensa

Page 10:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

10

nacional e estrangeira, o que causou a indignação do planalto e uma forte reação da

presidenta”.

Em seu artigo pereira se expressa: “Portanto, não podemos permitir que

espionem, desqualifiquem, encurralem e tentem sangrar um governo eleito

democraticamente. A intenção da oposição é entregar o Brasil à banca mundial do

capitalismo, e isto seria uma ameaça à democracia e à soberania nacional. Não

podemos deixar que promovam o desmantelamento do projeto popular democrático

e as políticas sociais conquistadas pelo povo brasileiro nos governos Lula e Dilma”.

Sua opinião é de que “devemos lutar bravamente pela nossa democracia. A

democracia não pode ser tida como um conjunto de regras, ela é, acima de tudo,

uma relação de convivência política e um ato civilizatório. É preciso entender que a

democracia de inspiração deve servir de forma atuante e prática para as relações

humanas. Portanto, a democracia é igualitária e oportuniza novas possibilidades”.

Segundo Pereira “a democracia, bandeira histórica do PT, tem irritado setores

reacionários da política e produzido parte desse ódio ao Partido dos trabalhadores –

A luta desses setores antidemocráticos é exatamente contra o que o partido dos

trabalhadores fez pelo Brasil, mas não é mostrada à sociedade pela grande mídia!

Uma mídia golpista e oportunista que está a serviço do capital. No entanto não

precisamos acabar com a mídia, mas precisamos reinventar uma mídia verdadeira,

séria e comprometida com a verdade”.

Segundo o Sargento Pereira “o PT tem uma tarefa muito discutida, a

reaproximação com as bases sociais. E para isso deve, acima de tudo, continuar a

defender os trabalhadores do Brasil. Para isso o PT precisa reafirmar uma grande

aliança com a sociedade e com os trabalhadores”.

Page 11:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

11

Em sua apreciação diante da sistemática histórica de governo, diz: “É verdade

que a Banca Mundial do Capitalismo delibera um ódio contra este governo, contra o

partido dos trabalhadores e contra a esquerda na América latina. No Brasil tentam a

todo custo impedir as reformas que o Brasil tanto precisa para se tornar um país

moderno. Isso tudo demonstra bem a nossa importância no processo e na evolução

transformadora na região latina e global. É por isso que a Petrobras foi o alvo inicial,

eles, os capitalistas, não suportam que o pré-sal possa impulsionar o

desenvolvimento da sociedade, e o Brasil vir a ser um país independente

economicamente. Para os capitalistas o que não pode ser vendido não pode dar

lucro. Assistimos todos os dias à demonização da política, o ódio ao PT e à

Democracia, e ainda mais, temos um Congresso Nacional (poder legislativo), mais

conservador que o próprio Poder Executivo.”

Em seu questionamento, Pereira pergunta: “Eles potencializam a crise

econômica que o país vive atualmente e eu insisto em perguntar: alguém quer voltar

a viver no Brasil das últimas 3 décadas, com toda a exclusão social, fome e misera

que havia no Brasil, inflação alta e instabilidade? A partir dessa pergunta a minha

fala cai no território psíquico de cada leitor, que de forma diferente, com significados

e significantes diferentes, captam fragmentos na construção da verdade que não é

minha e nem sua, mas é histórica. A meu ver, a crise atual é o impasse entre dois

projetos distintos, de um lado o pacto redistributivo, um projeto socialista

democrático e popular, a luta contra a pobreza, de outro lado as políticas de

crescimento econômico seletivo e excludente”.

Segundo o Sargento Pereira, “evidentemente há o recrudescimento da direita

sobre o projeto petista. Uma direita reacionária e com a grande mídia a sua

Page 12:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

12

disposição e aos seus interesses. É através dos meios de comunicação, de partidos

e instituições mais conservadoras da sociedade controladas pelo capital que querem

desconstruir a vitória e a soberania popular nas urnas. É o recrudescimento do

projeto neoliberal, mais vivo e forte do que nunca, um perigoso alinhamento da

direita e de setores reacionários”.

Sr. Presidente, como disse Pereira em diversos momentos “temos a

percepção da tentativa desses setores reacionários de reintegrar de forma

subalterna o Brasil e suas riquezas, a começar pela Petrobrás, ao domínio do

imperialismo liderado pelo capital financeiro, e pela banca mundial do capitalismo

excludente.”

Contemplo o que disse Pereira: “O Partido dos Trabalhadores precisa mudar,

o governo e a esquerda brasileira precisam sair da defensiva e mudar esta lógica.”

Os brasileiros precisam relembrar como era este País nas últimas três

décadas e fazer uma profunda reflexão sobre como é o Brasil de hoje e como

poderá ser o Brasil de amanhã.

É necessária e urgente a formação de uma ampla frente de esquerda

brasileira com os mais diversos campos ideológicos: socialistas, democratas e

progressistas; partidos, instituições, segmentos sociais e movimentos sociais que

protejam a democracia e as nossas riquezas; e que defendam verdadeiramente as

reformas necessárias para o Brasil se tornar um país desenvolvido e igualitário. A

primeira e a mais importante reforma é a reforma política.

Ponto principal de mudança hoje, a meu ver, é uma reforma política profunda

e consistente. Devemos mudar democraticamente e idealizar agora a defesa dos

interesses dos brasileiros. Precisamos enfrentar, sim, as investidas das forças

Page 13:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

13

conservadoras e reacionárias, não só para evitar retrocessos no Brasil, mas também

para levar a luta a outro patamar de organização, mobilização e conquista de direitos

e oportunidades para os brasileiros.

Portanto, concordo plenamente com o posicionamento do policial e militante

político Sargento Pereira quando afirma, ao finalizar seu discurso: “Só através da

mobilização e pressão da sociedade poderá haver uma convocação de uma

Assembleia Constituinte exclusiva e soberana para fazer a reforma política. E dentro

dessa oportuna reforma é preciso taxar as grandes fortunas, ou seja, quem tem mais

paga mais e quem tem menos paga menos, bem como instituir o financiamento

público exclusivo de campanhas políticas.”

O Brasil de hoje não pode ser taxado como o Brasil de 12 anos atrás.

Vivemos uma revolução cultural jamais vista. Estamos vivendo uma luta de classe. A

crise atual é o impasse entre dois projetos distintos: de um lado, o pacto

redistributivo; de outro, as políticas de crescimento econômico seletivo e excludente.

Devemos impedir o retrocesso nesta Casa e em setores conservadores.

Ouvimos várias manifestações até do Judiciário em desfavor de leis que “andam”

para trás. Os Poderes têm que ser independentes e harmônicos entre si. Sem essa

ideologia, nada será feito em prol da sociedade.

Vamos, Brasil, vamos caminhar em tom de igualdade e em busca da

fraternidade!

Era o que tinha dizer.

ARTIGOS A QUE SE REFERE O ORADOR

O tamanho do ódio

Page 14:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

14

por Marcos Coimbra

Pesquisa recente do Vox Populi aponta: o eleitorado que diz detestar o PT

representa 12% do total. Não é pouco, mas menos do que muitos imaginam

Nestes tempos em que a intolerância, o preconceito e o ódio se tornaram

parte de nosso cotidiano político, é fácil se assustar. É mesmo tão grande quanto

parece a onda autoritária em formação?

Quem se expõe aos meios de comunicação corre o risco de nada entender,

pois só toma contato com o que pensa um lado. Será majoritária a parcela da

opinião pública que se regozija ao ouvir os líderes conservadores e assistir aos

comentaristas da televisão despejar seu ódio?

Recente pesquisa do Instituto Vox Populi permite responder a algumas

dessas perguntas. E seus resultados ensejam otimismo: o ódio na política atinge um

segmento menor do que se poderia imaginar. O Diabo talvez não seja tão feio como

se pinta.

Em vez de perguntar a respeito de simpatias ou antipatias partidárias, na

pesquisa foi pedido aos entrevistados que dissessem se “detestavam o PT”, “não

gostavam do PT, mas sem detestá-lo”, “eram indiferentes ao partido”, “gostavam do

PT, sem se sentir petistas” ou “sentiam-se petistas”.

Os resultados indicam: permanecem fundamentalmente inalteradas as

proporções de “petistas” (em graus diversos), “antipetistas” (mais ou menos hostis

ao partido) e “indiferentes” (os que não são uma coisa ou outra), cada qual com

cerca de um terço do eleitorado. Vinte e cinco anos depois de o PT firmar-se

nacionalmente e apesar de tudo o que aconteceu de lá para cá, pouca coisa mudou

nesse aspecto.

Nessa análise, interessam-nos aqueles que “detestam o PT”. São 12% do

total dos entrevistados. Esse contingente tem, claro, tamanho significativo. A

existência de cerca de 10% do eleitorado que diz “detestar” um partido político não é

pouco, mas é um número bem menor do que seria esperado se levarmos em conta

a intensidade e a duração da campanha contra a legenda.

A contraparte dos 12% a detestar o PT são os quase 90% que não o

detestam. Passada quase uma década de “denúncias” (o “mensalão” como pontapé

inicial) e após três anos de bombardeio antipetista ininterrupto (do “julgamento do

Page 15:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

15

mensalão” a este momento), a vasta maioria da população não parece haver sido

contagiada pelo ódio ao partido.

A pesquisa não perguntou há quanto tempo quem detesta o PT se sente

assim. Mas é razoável supor que muitos são antipetistas de carteirinha. A proporção

de entrevistados com aversão ao partido é maior entre indivíduos mais velhos, outro

sinal de que é modesto o impacto na sociedade da militância antipetista da mídia.

Como seria de esperar, o ódio ao PT não se distribui de maneira homogênea.

Em termos regionais, atinge o ápice no Sul (onde alcança 17%) e o mínimo no

Nordeste (onde é de 8%). É maior nas capitais (no patamar de 17%) que no interior

(4% em áreas rurais). É ligeiramente mais comum entre homens (14%) que

mulheres (10%). Detestam a legenda 20% dos entrevistados com renda familiar

maior que cinco salários mínimos, quase três vezes mais que entre quem ganha até

dois salários. É a diferença mais dilatada apontada pela pesquisa, o que sugere que

esse ódio tem um real componente de classe.

Na pesquisa, o recorte mais antipetista é formado pelo eleitorado de renda

elevada das capitais do Sudeste. E o que menos odeia o PT é o dos eleitores de

renda baixa de municípios menores do Nordeste. No primeiro, 21% dos

entrevistados, em média, detestam o PT. No segundo, a proporção cai para 6%.

Não vamos de 0 a 100% em nenhuma parte. A sociologia, portanto, não

explica tudo: não há lugares onde todos detestam o PT ou lugares onde todos são

petistas, por mais determinantes que possam ser as condições socioeconômicas. Há

um significativo componente propriamente político na explicação desses fenômenos.

O principal: mesmo no ambiente mais propício, o ódio ao PT é minoritário e

contamina apenas um quinto da população. Daí se extraem duas consequências.

Erra a oposição ao fincar sua bandeira na minoria visceralmente antipetista. Querer

representá-la pode até ser legítimo, mas é burro, se o projeto for vencer eleições

majoritárias.

Erra o petismo ao se amedrontar e supor ter de enfrentar a imaginária maioria

do antipetismo radical. Só um desinformado ignora os problemas atuais da legenda.

Mas superestimá-los é um equívoco igualmente grave.

O suicídio dos filisteus

Page 16:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

16

por Mino Carta

A tentativa de incriminar Lula prova somente a sua condição de único líder

popular brasileiro reconhecido mundo afora, como se deu na Itália dias atrás

Quando Fernando Henrique Cardoso deixou a Presidência da República, o

Banco Itaú forneceu-lhe de graça a sede do Instituto que acabava de criar e lhe

doou 2 milhões de reais. Outras importantes empresas cuidaram de atapetar

suavemente o futuro do ex-presidente, entre elas, Camargo Corrêa (doação de 7

milhões) Odebrecht, Klabin e Gerdau. Sem contar a Sabesp, empresa pública em

mãos tucanas (500 mil).

As primeiras páginas dos jornalões negaram-se então a noticiar algo que, de

verdade, só ofendia a lei por causa da Sabesp. Ao contrário do que aconteceu na

manhã de quarta-feira passada para insinuar a suspeita em relação à doação feita

há tempo pela Camargo Corrêa ao Instituto Lula, bem como o pagamento de

conferências do mesmo Lula, o qual na atividade de palestrante segue o exemplo do

seu antecessor.

Recorde-se que durante a ditadura, no seu respeitável Cebrap, FHC contou

com o apoio financeiro da Fundação Ford, quem sabe a provar a teoria da

dependência. Não é complicado, contudo, entender as razões da diferença de

tratamento reservado ao ex-presidente sociólogo e ao ex-presidente metalúrgico.

Entram na receita a classe social de um e outro, está claro, bem como seus

desempenhos na Presidência. FHC implantou um governo de extremo agrado da

casa-grande. Lula, sem deixar de fazer concessões aos graúdos, voltou seus olhos

também para a senzala. Por isso, aliás, goza do reconhecimento do mundo, como

se deu na sua recente visita à Itália, encerrada dia 8 desta semana.

O Brasil vive em profundo tormento: recessão, desemprego em aumento,

criminalidade de proporções bélicas, empresariado frustrado, inquietação política,

empreiteiras a risco, mercado prepotente, e assim por diante. Fermentam os

temores da minoria privilegiada enquanto a maioria sofre por ora sem a nítida noção

de quanto acontece. Às vezes parece surgir em cena uma espécie de sanha suicida,

forma aguda de fanatismo do Apocalipse, como se os filisteus tivessem decidido não

esperar por Sansão.

Page 17:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

17

Algo mais, de todo modo, precipita pesos e medidas diversos na atenção

midiática dedicada a Lula na comparação com outras figuras nacionais, algumas

francamente negativas. Discrepância escancarada, provocada, em primeiro lugar,

por uma razão do conhecimento até do mundo mineral. O que mais apavora os

privilegiados é o retorno de Lula em 2018.

Preocupação dominante, avassaladora. Antes de mirar em Dilma e no PT,

visa-se o vencedor de 2002 e 2006, sem atentar para o fato de que o destino de Lula

está nas mãos do governo da presidenta e do partido que ele fundou faz 35 anos. E

da própria, célebre mosca azul, se as coisas tiverem funcionado a contento antes da

hora da decisão.

Apesar de alvejado incansavelmente, Lula é o único, autêntico líder popular

brasileiro. Na Itália, onde visitou a Exposição de Milão, conversou com o premier

Renzi e com o ex-presidente da República Napolitano, palestrou na prefeitura de

Roma aos pés da estátua de Júlio César, e na reunião da FAO, a contar com a

presença de 30 chefes de Estado, surgiu como personagem principal, saudado

campeão da luta contra a miséria e a fome. Não houve retórica nas manifestações

das autoridades e muito menos nos aplausos recebidos pelas ruas.

Nestes dias realiza-se em Salvador o Congresso do PT, o partido que,

chegado ao poder, distanciou-se dos propósitos iniciais e se portou igual aos demais

em todos os tempos da história republicana. E ali, Lula aparece como o líder

habilitado a redesenhar-lhe as feições. Cabe perguntar aos nossos botões, em todo

caso, se a chamada democracia partidária ainda se coaduna com as circunstâncias,

nem digo da política nacional, mundial é a palavra adequada.

Em Roma, Lula centrou sua fala na prefeitura na democracia participativa, no

“diálogo com o povo”, enquanto na FAO acentuou as dificuldade de um governo

obrigado a concessões variadas na falta de maioria parlamentar absoluta, forçado,

portanto, a alianças nem sempre desejáveis. As ideias expostas pelo ex-presidente

são de fato bastante atuais nos debates acadêmicos europeus. O chamado Velho

Mundo ainda é o lugar onde vingam ideias novas e percepções mais precisas da

realidade, ou menos anacrônicas. Discute-se em torno de uma fórmula batizada

“democracia do líder”, encarada como solução possível do problema da

governabilidade, a pressionar em todas as latitudes.

Page 18:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

18

Proposta em gestação, CartaCapital ainda falará dela em profundidade,

como, entre outras interpretações possíveis, sistema de governo de unidade e

salvação nacionais, reunido em torno de uma liderança incontestável. Certo é que

Lula continua a desempenhar um papel determinante, como se não bastasse a

prova irrefutável de sua importância, representada pela obsessiva tentativa dos

porta-vozes da casa-grande de incriminá-lo de alguma forma, de envolvê-lo em

tramoias, conchavos e corrupção.

Vibra nos ataques a Lula, a aposta na ignorância, na parvoíce, na ausência

de espírito crítico de quem lê e ouve, a fomentar a paroxística situação de extremo

maniqueísmo em que nos mergulha o atentado diuturno à razão dos iluministas.

Resulta disso tudo a intolerância irremediável, a impossibilidade de diálogo, de

qualquer tentativa de entendimento, ao sabor de uma navegação oposta àquela

desejável para o bem do País.

O povo não é bobo

por Mauricio Dias

Uma pesquisa Ibope, escondida pela mídia, revela que muitos brasileiros

veem o jornalismo empenhado em aderir ao “quanto pior melhor”

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, fora das quatro linhas onde

conquistou, por méritos, o título de rei do futebol, pisa na bola com frequência. Ainda

agora se meteu no escândalo da Fifa e manifestou apoio a Joseph Blatter,

presidente renunciatário daquela entidade internacional corroída pela corrupção.

Nem de longe, no entanto, essa foi a pior interferência do jogador nas

questões políticas. Durante a ditadura no Brasil, o Rei Pelé lançou um édito: “O povo

brasileiro não está preparado para votar”.

Pelé fez um golaço. Daquela vez, já fora de campo, um golaço contra.

O eleitor brasileiro, ao contrário do que pensa Pelé, tem muito mais acertos

do que erros, levando em consideração, por exemplo, as 11 eleições presidenciais

diretas ocorridas ao longo dos últimos 70 anos da República. Sobre isso ele nada

sabe e, para opinar, deveria saber. A afirmação de Pelé reflete a posição daqueles

observadores movidos, em geral, pela ignorância ou pelo preconceito.

Page 19:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

19

O povo não é bobo. A mais recente comprovação da correta percepção

popular está nos números de uma pesquisa Ibope, feita em maio, sobre temas

políticos e administrativos. A mídia silenciou sobre o assunto quando bateu de frente

com a resposta dada à seguinte questão proposta ao entrevistado:

“A imprensa brasileira mostra o País numa situação econômica mais negativa

do que a que percebo no meu dia a dia”.

O Ibope admite a influência da mídia “no sentimento de pessimismo dos

brasileiros”. O instituto apoia-se no expressivo número de 41% dos entrevistados

que acreditam nisso. Ou seja, “a imprensa mostra uma situação econômica mais

negativa” do que parece ser.

Existe uma crise econômica inegável e o jornalismo não é por natureza

mensageiro da bem-aventurança. É de Rubem Braga, o grande cronista, uma

afirmação radical sobre isso: felicidade não dá manchete.

Apesar do bombardeio diário contra o governo, muitas vezes sem

comprometimento com os fatos, desponta na resposta da maioria da população a

restrição ao papel da mídia. Ela parece torcer contra e jogar na posição do quanto

pior melhor.

Os entrevistados reconhecem isso. Por outro lado, andam, porém,

mergulhados na descrença sobre o futuro do País porque vê e sente o desemprego

em crescimento e a inflação em alta.

Entretanto, o problema neste caso não está contaminado pelo viés político-

ideológico.

A mídia tem o direito de ser conservadora, reacionária ou o que mais quiser.

Só não pode ser desonesta e esconder do leitor um fato, como o agora relatado, no

fundo da gaveta.

Page 20:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

20

O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Convidamos o Deputado Luis

Carlos Heinze para fazer o uso da palavra pelo tempo regimental.

O SR. LUIS CARLOS HEINZE (Bloco/PP-RS. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, colegas Parlamentares, juntamente com a FARSUL — Federação de

Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, com a Federação das Associações de

Arrozeiros, cujo Presidente é Henrique Dornelles, com o Presidente Sperotto, da

FARSUL, com o Presidente Carlos Joel, da Federação dos Trabalhadores na

Agricultura no Rio Grande do Sul e também com a Presidência do Instituto Rio

Grandense do Arroz — IRGA, nós estamos buscando a equiparação e a correção do

preço mínimo por meio de uma discussão.

Há uma divergência entre as entidades de classe, os órgãos que fazem o

custo de produção e a Companhia Nacional de Abastecimento — CONAB, Deputado

Mauro, do Rio Grande do Sul, em relação ao custo que está sendo apresentado. A

CONAB participou, em várias regiões da metade sul do Estado, e agora chegou a

um custo de R$29,70. Esse é o valor a que a CONAB chegou, mas o custo das

entidades e do IRGA, que é um órgão oficial ligado ao Governo do Estado do Rio

Grande do Sul, chegou em quase 34 reais.

Estamos conversando sobre essa divergência com a Ministra Kátia Abreu,

com o próprio Secretário André Nassar e vamos encaminhar ao Dr. Rabelo, no

Ministério da Fazenda. Antes da divulgação do custo, nós temos que ajustar isso. O

preço último era 27 reais, muito aquém do custo. O custo final hoje está em 38, 39

reais, e os produtores estão reclamando dessa ação. Isso vale também para Santa

Catarina, porque hoje Santa Catarina também possui uma boa parcela de arroz

irrigado.

Page 21:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

21

Então, Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm hoje em torno de 75% do

arroz irrigado produzido no Brasil. Quase todo o arroz do Brasil é produzido nesses

dois Estados. Portanto, é extremamente importante e esse é o alerta que nós

fazemos ao Ministério da Fazenda, Dr. Rabelo vai receber essas informações, assim

como o André Nassar, o Zé Maria, a turma da Secretaria da Política Agrícola da

Ministra Kátia Abreu, que vai nos receber por volta das 16 horas. Então, nós já

estamos discutindo essa questão com o amparo das nossas entidades de classe lá

do Rio Grande do Sul: a Federação de Agricultura, a Federação dos Arrozeiros, a

Federação dos Trabalhadores da Agricultura e também o Instituto Rio Grandense do

Arroz.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - O pronunciamento de V.Exa. será

encaminhado nos termos regimentais para divulgação.

Page 22:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

22

O SR. PRESIDENTE (Gonzaga Patriota) - Convidamos o Deputado Mauro

Pereira para encaminhar seu pronunciamento.

Convido o Deputado Luiz Couto para presidir a sessão.

O SR. MAURO PEREIRA (Bloco/PMDB-RS. Sem revisão do orador.) -

Deputado Gonzaga Patriota, eu gostaria de comentar sobre esse final de semana,

no sábado. Iniciou-se no Município de Caxias do Sul um comitê contra a redução da

maioridade penal. Esse comitê é composto por diversas entidades, inclusive estava

presente no sábado, durante toda a tarde, o Ministro Pepe Vargas, o nosso Dr.

Leoberto Brancher, que é o juiz que está instaurando a justiça restaurativa no País.

É importante o debate, mas eu gostaria de dizer, deixar bem claro — e eu já

deixei bem claro — que eu sou a favor da redução da maioridade penal. Quem leu a

revista Veja deste final de semana viu o retrato do que significa hoje os jovens que

não foram bem educados e o que está acontecendo com a bandidagem.

Então, eu sou a favor da redução da maioridade penal, o povo clama por leis,

precisa ter leis mais severas para que, desde crianças, os pais e as mães, os tios, os

primos, os parentes procurem educar melhor os jovens, porque eles vão ficar

sabendo que, caso eles aprontem depois dos 16 anos, poderão ser presos. É isso o

que precisa. O Brasil precisa ser um País que tenha leis rígidas, leis que possam ser

cumpridas, porque o que não pode é o que está acontecendo no dia de hoje: as

pessoas de bem, as pessoas que trabalham, as pessoas que lutam no seu dia a dia

não têm mais sossego, não têm mais paz.

Nós políticos, Deputados Federais e Estaduais e Senadores temos obrigação

de dar uma resposta à nossa sociedade. Essa resposta é a existência de leis mais

Page 23:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

23

severas e que realmente incriminem aqueles que são bandidos. É por isso que

votarei a favor da redução da maioridade penal.

Sou a favor da redução da maioridade penal porque lugar de bandido é na

cadeia. Não importa a idade da pessoa, se ela agiu errado, cometeu um crime, tem

de pagar por ele. Não tenho dúvida nenhuma de que esta Casa vai atender ao

clamor da população brasileira, que pede e que clama por justiça, fazendo com que

as pessoas de bem vivam em paz e que as pessoas que praticam o mal e crimes

sejam responsabilizadas.

Muito obrigado.

O Sr. Gonzaga Patriota, nos termos do § 2º do art.

18 do Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência,

que é ocupada pelo Sr. Luiz Couto, nos termos do § 2º do

art. 18 do Regimento Interno.

Page 24:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

24

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Concedo a palavra ao Deputado Gonzaga

Patriota, que disporá do tempo regimental.

O SR. GONZAGA PATRIOTA (PSB-PE. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, vou falar logo mais no Grande Expediente e

aproveitei o final de semana — comecei na sexta-feira e continuei no sábado — para

escrever aproximadamente 150 páginas para o discurso do Grande Expediente.

Como sei que o tempo não será suficiente, farei de improviso.

Obviamente, preciso de V.Exa. e de outros Deputados, mas não apenas do

Nordeste. Vejo aqui dois gaúchos que poderão nos ajudar.

Não é possível que após 500 e tantos anos do descobrimento do nosso País

a nossa Região continue abandonada. Conseguimos, depois de muita luta, de

muitas políticas, de muitos órgãos que lá estão instalados, ações... A CODEVASF —

Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, por

exemplo, poderia fazer um trabalho de desenvolvimento, se tivesse condições de

fazê-lo. A EMBRAPA — Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, através dos

seus cientistas, levanta tim-tim por tim-tim do que a Região Nordeste precisa para

conviver com essas estiagens, com essas secas, mas lamentavelmente nada se faz.

O Nordeste precisa de tudo.

Eu vou falar sobre a mobilidade de que o Nordeste precisa. Não apenas da

mobilidade intermunicipal, da interestadual, mas da mobilidade urbana. Na cidade

onde moro, Petrolina, uma cidade pequena, de aproximadamente 300 mil habitantes

— nasci em Sertânia —, não temos mais para onde andar. Quando se chega perto

ao horário do final das aulas ou do começo das aulas, não há mais como caminhar.

Page 25:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

25

De Petrolina para Lagoa Grande, para Santa Maria da Boa Vista ou para onde

for não tem como ir por essas rodovias apertadas, pequenas. Um país que, em 20

anos, aumentou em 10 vezes o número dos seus veículos também não tem para

onde ir!

Portanto, Sr. Presidente, eu gostaria de — logo mais, quando terminar aqui o

Pequeno Expediente — fazer esse pronunciamento. Não venho aqui falar como um

Deputado de oposição. Eu venho aqui, humildemente, pedir ao Governo da

Presidente Dilma que dê uma olhada para o Nordeste.

Não é possível que essas obras estejam paradas, obras importantíssimas

como essa da integração de bacias. Mas o meu discurso principal vai ser um pedido

à Presidente. É por isso que eu venho aqui bem mansinho hoje, para que ela possa

fazer essa interligação. O projeto está pronto, foi feito pelo então Vice-Presidente

José Alencar. Que ela possa colocar no seu Governo o que é necessário! Não

podemos esperar, se não vier água do Tocantins para o Rio São Francisco.

Neste instante, o meu caseiro lá de Petrolina me ligou e disse: “Gonzaga, as

plantas vão morrer todas de sede aqui, porque a gente não tem como tirar água do

rio”. O rio está seco! Um rio de 2.700 metros cúbicos de água por segundo está com

700 metros cúbicos. Quer dizer, o Lago de Sobradinho tem menos de 20%. Cerca

de 100 mil — e olhe que há muitos gaúchos lá — trabalhadores vão ficar

desempregados só em Petrolina quando não tivermos mais como tirar água ainda

neste ano.

Eu volto daqui a pouco, Sr. Presidente.

Page 26:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

26

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Dando continuidade ao Pequeno

Expediente, concedo a palavra ao Deputado Luis Carlos Heinze, do Bloco

Parlamentar PMDB/PP/PTB/PSC/PHS/PEN. S.Exa. disporá de até 5 minutos.

O SR. LUIS CARLOS HEINZE (Bloco/PP-RS. Pela ordem. Sem revisão do

orador.) - Sr. Presidente, Deputado Luiz Couto, colegas Parlamentares e

telespectadores que estão nos assistindo pela TV Câmara, na semana passada,

recebemos aqui o Sr. Alexandre Guerra, Presidente do Sindicato da Indústria de

Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul. O Deputado

Mauro o conhece de Nova Petrópolis, da cooperativa Piá, uma das grandes

cooperativas do Brasil, orgulho do nosso Estado, Rio Grande do Sul. Recebemos

também o Sr. Arno Kopereck, Presidente da cooperativa Cosulati, de Pelotas, e, da

mesma forma, Gilberto Pìccinini, Presidente da cooperativa Cosuel, de Encantado.

Acho que estão simbolizadas nessas três cooperativas não só as

cooperativas de leite, mas as próprias indústrias de leite. Isso não vale apenas para

o Rio Grande do Sul. É um alerta.

Nós já estivemos com a Ministra Kátia Abreu. Estamos fazendo um

documento, encaminhado pela Comissão de Agricultura da Câmara, para ter mais

peso, em nome dos colegas Parlamentares de todas as bancadas. Oposição e

situação — não interessa — estão juntas para que a Ministra Kátia Abreu, o Ministro

Armando Monteiro, da Indústria e Comércio, e também o próprio Itamaraty

participem dessa discussão.

Vejam que isso repercute no leite em todo o Brasil, não apenas no Rio

Grande do Sul. O que o Rio Grande do Sul está trazendo é que, no ano passado,

em 2014, nos primeiros 4 meses, nós exportamos 141 milhões de litros de leite. Nos

Page 27:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

27

primeiros 4 meses deste ano, foram 102 milhões de litros, isto é, 40 milhões a

menos. E não é apenas isso, Deputado Mauro: o pior são as importações. Nós

importamos 277 milhões de litros nos primeiros 4 meses do ano passado e

importamos agora 438 milhões, muito disso do MERCOSUL.

Isso prejudica a produção nacional de leite. O Rio Grande do Sul está

crescendo. Hoje já é o segundo maior produtor do Brasil. E esse é um problema que

afeta o Brasil inteiro. Hoje existem mais de 1 milhão de produtores de leite em todo o

Brasil. É a atividade que mais emprega produtores — e a grande maioria são

pequenos produtores.

Então, nós estamos chamando a atenção para isso. O Presidente do

Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande

do Sul, Sr. Alexandre Guerra, da cooperativa Piá, está trazendo esse alerta ao

Governo. Nós temos que nos antenar.

Eu queria ver se fosse o inverso, se a Argentina fosse, ao contrário, a

demandadora do que nós estamos apresentando aqui. Logicamente, eles já teriam

trancado essa importação. Agora, no Brasil...

Quem é que paga por isso? É o produtor. Isso está acontecendo com o leite;

acontece também com o arroz. O Rio Grande do Sul é o maior produtor do Brasil.

Está sendo duramente afetado pela importação que vem da Argentina, do Uruguai e

um pouco também do Paraguai. Isso prejudica a produção brasileira — vale para

Santa Catarina, que também é produtora de arroz, e vale para o Rio Grande do Sul.

Então, esse alerta que o leite nos traz é do que nós estamos falando para que

possa ser feito.

Page 28:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

28

No mais, Sr. Presidente, colegas Parlamentares, Deputado Luiz Couto, aqui

não há uma questão político-partidária. Eu quero chamar a atenção para o que vi no

jornal Folha de S.Paulo no último sábado. O ex-Ministro de Segurança Pública

chinês Zhou Yongkang foi condenado à prisão perpétua. E à prisão perpétua

sucedeu a pena de morte. Antes era pena de morte, Deputado Mauro Pereira, e hoje

é prisão perpétua.

Ele foi acusado de receber uma propina de 65 milhões de reais.

Transformando a moeda chinesa para a moeda brasileira, são 65 milhões de reais.

O atual Presidente da China, num programa de combate à corrupção, está exigindo

a punição de seus Ministros ou de quem quer que seja. Esse exemplo tem que vir

para o Brasil.

Vimos aqui, Deputado Luiz Couto, o exemplo do Pedro Barusco. Quem era

Pedro Barusco? Não era Ministro, não era grande autoridade. Era do quinto ou sexto

escalão da PETROBRAS e devolveu 100 milhões de dólares. Veja: são 300 milhões

de reais e não os 65 milhões pelos quais uma grande autoridade chinesa agora está

sendo condenada à prisão perpétua.

Da mesma forma, chamo atenção para o fato de, há pouco tempo, 4 ou 5

anos atrás, a esposa do grande líder chinês Mao Tsé-Tung, o qual revolucionou a

China, a sua última esposa, também ter sido condenada à prisão perpétua e acabou

se suicidando, porque aconteceu isso. O pessoal tem vergonha na cara. Aqui parece

que não tem.

Isso que acontece não é questão político-partidária. Não interessa. O que nós

temos que fazer, nós Parlamentares, as pessoas de bem, de qualquer partido que

seja, é combater. Tenho certeza de que a Presidenta Dilma também pactua com

Page 29:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

29

isso e que muitas vezes está amordaçada por esses arranjos políticos, inclusive do

meu partido e do seu partido, Deputado. Mas não interessa o partido, interessa que

as pessoas de bem não podem ficar sangrando, como é o meu caso, sendo

acusadas levianamente por um corrupto, um ladrão, como esse Alberto Youssef,

que joga com o nosso nome como se fôssemos quaisquer pessoas. Não somos,

vamos demonstrar na Justiça. Inclusive, há algum tempo nós já o estamos

chamando. Eu quero fazer uma acareação com ele. Não devo nada, Deputado Pe.

Luiz Couto. V.Exa. já nos conhece há quantos anos? Nunca nos envolvemos com

esse tipo de falcatrua para ter agora o nosso nome jogado na lama.

Por isso faço menção ao que está acontecendo na China. Deve servir de

exemplo para o Brasil o que acontece lá com o Presidente chinês, que está

aplicando à risca um programa de combate à corrupção. Está aí uma das maiores

autoridades do Partido Comunista Chinês, nesse instante, sendo condenada à

prisão perpétua. Esse exemplo tem que vingar, Deputado Luiz Couto, para o Brasil.

Vimos agora o Deputado Vaccari envolvido nesses processos, sendo

ovacionado num congresso lá na Bahia. Não interessa o partido. Pode ser do meu

partido, não me interessa. Quem quer que seja tem que pagar pelo crime que

cometeu.

Portanto, aqui está o exemplo que lá da China nos vem.

Para complementar, estamos aguardando, agora, no final, ainda, desta tarde,

a conversa com a Ministra Kátia Abreu sobre a questão do preço mínimo do arroz,

que estamos discutindo, e alguns mecanismos também para a comercialização do

arroz. O Banco do Brasil deve soltar nota prorrogando as parcelas de EGF —

Empréstimo do Governo Federal que vencem em julho, agosto, setembro e outubro,

Page 30:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

30

jogando-as para outubro, novembro, lá para o final do ano. Da mesma forma, uma

cobrança para os bancos particulares — Bradesco, Itaú, Santander, HSBC, Banco

SICREDI e a própria Caixa Federal: que também façam o mesmo procedimento do

Banco do Brasil, para ajudar os arrozeiros do Rio Grande do Sul e também de Santa

Catarina.

Muito obrigado.

Page 31:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

31

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Com a palavra o Deputado Mauro

Pereira, do Bloco PMDB.

V.Exa. disporá de até 5 minutos.

O SR. MAURO PEREIRA (Bloco/PMDB-RS. Pela ordem. Sem revisão do

orador.) - Sr. Presidente, Deputado Luiz Couto, quero, primeiramente, parabenizar

meu amigo Luis Carlos Heinze, Deputado do PP do Rio Grande do Sul. Uma coisa é

certa: todo o povo rio-grandense sabe muito bem do seu trabalho, da sua postura e

do seu interesse em defesa do setor primário, dos nossos agricultores, da nossa

indústria. Então, com um passado, com um trabalho como o que V.Exa. tem

realizado no nosso Estado, com certeza, não são palavras que vão atrapalhar seu

mandato. V.Exa. está trabalhando, e trabalhando firme, inclusive na segunda-feira.

Sr. Presidente, Deputado Izalci, eu gostaria de dizer que nós Deputados e

Deputadas estamos tendo mais uma oportunidade — quando digo nós, eu me refiro

à equipe econômica da Presidente Dilma Rousseff — de dar uma resposta ao País

nesta semana. Já votamos diversas propostas do ajuste fiscal, já demonstramos

para nosso Ministro Joaquim Levy que esta Casa está pronta para colaborar, como

vem colaborando, aprovando diversas propostas do ajuste.

Nosso povo, a sociedade clama por iniciativas. Nossos empreendedores e

trabalhadores vêm fazendo a parte deles, trabalhando, dedicando-se. Os

empresários estão tentando manter os empregos. Só que já estamos em junho,

chegando a julho, e as coisas precisam acontecer.

Nós já solicitamos ao Ministro Joaquim Levy — estivemos reunidos com o

Vice-Presidente Michel Temer, uma pessoa fantástica — que o BNDES, o nosso

banco nacional do desenvolvimento, faça imediatamente um plano para que aquilo

Page 32:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

32

que é produzido pelas indústrias — caminhões, tratores, ônibus, implementos

agrícolas — tenha financiamento de no mínimo 90% do bem, para que ela possa

caminhar, fazer com que os empregos que ainda restam sejam mantidos.

A cada semana nós chegamos a nossa base, visitamos empresas, andamos

nas ruas, conversamos com pessoas desempregadas, que nos perguntam:

“Deputado Mauro, vai acontecer alguma coisa?” Eu digo: “Olha, se Deus quiser, esta

semana as coisas tendem a melhorar.” Essa tendência a melhorar depende da

Presidente Dilma Rousseff, do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, do Ministro do

Planejamento, Nelson Barbosa, dos Presidentes do BNDES, do Banco do Brasil, da

Caixa Econômica Federal.

Nós não podemos e não devemos deixar que o povo perca a esperança. O

Brasil é um país bom, enorme, consumidor. O povo quer ajudar o País. E nós

Deputados, Deputadas, Senadores temos que ajudá-lo a fazer isso, Deputado Izalci.

Os desmandos, assaltos e roubos na PETROBRAS e em outros órgãos, na minha

opinião, acabaram. Acabou a roubalheira. Agora é preciso de fato fazer com que as

coisas aconteçam no País. E nós estamos aqui prontos para ajudar. É preciso fazer

algo. É preciso dar uma palavra de esperança para os nossos empreendedores.

Já foi divulgado o Plano Safra 2015/2016, que vai disponibilizar 188 bilhões;

já foi divulgada na semana passada a concessão de rodovias, aeroportos e portos. A

Presidente Dilma sinalizou que vai ter sim parceria público-privada. Isso já ajudou, já

foi um sinal positivo. Só que é preciso que as instituições financeiras estatais,

estaduais, que cuidam do nosso patrimônio não virem as costas para aqueles que

querem trabalhar. As pequenas e microempresas estão tocando o dia a dia mais

Page 33:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

33

com orgulho e raça do que com razão. Ministros, por favor, vamos dar uma notícia

positiva para nosso povo.

Por outro lado, quero parabenizar o Presidente Eduardo Cunha pelo trabalho.

Foi matéria na revista Veja desta semana que já fizemos em 5 meses o que não foi

feito nos últimos 4 anos, em termos de votações de projetos importantes para o

País. Isso valoriza esta Casa, valoriza os Deputados, as Deputadas e seus

servidores públicos. A pior coisa que um ser humano pode ter é fama de vadio e

ladrão. Isso é horrível! Hoje nós podemos andar de cabeça erguida, porque nesta

Casa as coisas estão acontecendo e projetos engavetados há 11, 12 anos estão

entrando na pauta de votação. Eu quero parabenizar o Presidente Eduardo Cunha.

Em minha opinião, no Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores, o

Presidente Lula foi elogiado e também o Presidente Eduardo Cunha. No momento

em que vemos pessoas aplaudindo João Vaccari, aplaudindo quem roubou dinheiro

do País e vaiando o Presidente Eduardo Cunha, é sinal de que ele está no caminho

certo, porque é preciso analisar quem fez a crítica. Se quem fez são pessoas do

bem, então tem que ficar preocupado. Mas a mesma pessoa que elogiou Vaccari,

que elogiou outro que roubou dinheiro público, que saqueou os cofres públicos, vaia

o Presidente Eduardo Cunha. Em minha opinião, o Presidente Eduardo Cunha está

no caminho certo.

Nós temos que trabalhar, que procurar fazer com que o que é bom seja

separado do que é ruim. É para isso que nós temos a obrigação de fazer nosso

trabalho com muita seriedade e respeito à população.

Durante o discurso do Sr. Mauro Pereira, o Sr. Luiz

Couto, nos termos do § 2º do art. 18 do Regimento

Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada

pelo Sr. Izalci, nos termos do § 2º do art. 18 do Regimento

Interno.

Page 34:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

34

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra ao próximo orador do

Pequeno Expediente, o Deputado Luiz Couto.

O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero compartilhar a opinião do professor,

teólogo e militante, pastor da Igreja Batista do Caminho, eleito Vereador de Niterói

pelo PSOL, na primeira candidatura, para cumprir um mandato como instrumento

das lutas populares, Pastor Henrique Vieira.

Diz o texto do Pastor e Vereador do Rio de Janeiro pelo PSOL: “Uma mulher

trans crucificada na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo.” Aí ele faz

interrogações: “Escândalo? Ofensa? Ataque mesquinho?”.

E ele chama a atenção para o problema do diálogo. Ele diz que “em primeiro

lugar, é lamentável que não exista a possibilidade do diálogo com os

fundamentalistas religiosos. Diálogo pressupõe falar e ouvir, se colocar e se abrir,

estabelecer o encontro, a troca de olhar e de palavras. Diálogo pressupõe

reconhecimento da dignidade do outro, curiosidade e abertura. Diálogo não significa

supressão de identidade, mas a possibilidade de colocar a identidade em encontro

com outras vozes. Diálogo indica respeito, tolerância e solidariedade. O

fundamentalismo religioso não dialoga”.

Gostaria que todo o pronunciamento, em que transcrevo todo o texto do

Pastor Henrique Vieira, fosse dado como lido e publicado nos meios de

comunicação desta Casa e no programa A Voz do Brasil.

Mas, Sr. Presidente, quero felicitar os fundadores e os trabalhadores

voluntários ou não da Comissão Pastoral da Terra, que em 1971, no dia de sua

ordenação episcopal como bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato

Page 35:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

35

Grosso, Dom Pedro Casaldáliga lançou a Carta Pastoral Uma Igreja da Amazônia

em Conflito com o Latifúndio e a Marginalização Social.

Essa carta denunciava a realidade dos indígenas, posseiros e peões numa

porção da Amazônia, novo palco da expansão colonial do Brasil.

Neste ano de 2015 a CPT completa 40 anos de luta por direitos humanos no

campo. Um homem de coragem e cheio da graça de Deus, Dom Pedro fez historia

quando uniu forças com o povo do campo e exauriu toda energia em meio à ditadura

militar. Na época ouviram-se três gritos doloridos que clamavam por justiça — Ouvi

os Clamores do meu Povo; Marginalização de um Povo – Grito das Igrejas; e Y-

Juca-Pirama – o Índio, aquele que deve morrer —, que desnudavam a situação em

que viviam os trabalhadores no Nordeste, no Centro-Oeste e a espoliação dos povos

indígenas.

No período da ditadura, o reconhecimento do vínculo com a Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ajudou a CPT a realizar o seu trabalho e a se

manter. Mas já nos primeiros anos a entidade adquiriu um caráter ecumênico, tanto

no sentido dos trabalhadores que eram apoiados, quanto na incorporação de

agentes de outras igrejas cristãs, destacadamente da Igreja Evangélica de

Confissão Luterana no Brasil — IECLB.

Os posseiros da Amazônia foram os primeiros a receber atenção da

Comissão Pastoral da Terra. Rapidamente, porém, a entidade estendeu sua ação

para todo o Brasil, pois os lavradores, onde quer que estivessem, enfrentavam

sérios problemas. Assim, a Comissão Pastoral da Terra se envolveu com os

atingidos pelos grandes projetos de barragens e, mais tarde, com os sem-terra.

Terra garantida ou conquistada, o desafio era o de nela sobreviver. Por isso, a

Page 36:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

36

agricultura familiar mereceu um destaque especial no trabalho da entidade, tanto na

organização da produção, quanto da comercialização. A Comissão Pastoral da

Terra, junto com seus parceiros, foi descobrindo que essa produção precisava ser

saudável, que o meio ambiente tinha que ser respeitado, que a água é um bem

finito. As atenções, então, se voltaram para a ecologia.

A Comissão Pastoral da Terra tem um papel extremamente fundamental junto

aos trabalhadores assalariados e boias-frias, que conseguiram, por algum tempo,

ganhar a cena, mas que enfrentam dificuldade de organização e articulação. Além

desses, há ainda os peões, que são submetidos, muitas vezes, a condições

análogas às da escravidão.

Quero então elogiar os trabalhos da Comissão Pastoral da Terra, que, ao

longo do tempo, adquiriu uma tonalidade diferente, de acordo com os desafios que a

realidade apresentava, sem, contudo, perder de vista o objetivo maior de sua

existência: ser um serviço à causa dos trabalhadores rurais, sendo um suporte para

a sua organização.

O homem do campo é que define os rumos que quer seguir, seus objetivos e

metas. A Comissão Pastoral da Terra o acompanha, não cegamente, mas com

espírito crítico. É por isso que a Comissão Pastoral da Terra conseguiu, desde seu

início, manter a clareza de que os protagonistas desta história são os trabalhadores

e trabalhadoras rurais.

Assim, os direitos humanos, defendidos pela Comissão Pastoral da Terra,

permeiam todo o seu trabalho. Em sua ação, explícita ou implicitamente, o que

sempre esteve em jogo foi o direito do trabalhador, em suas diferentes realidades.

Page 37:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

37

Creio que existem vários segmentos que defendem, com unhas e dentes, os

direitos dos trabalhadores através do direito humano, mas gostaria de afirmar que

essa Comissão foi e é, até o momento, o diferencial da ideologia da dignidade do

trabalhador.

Por isso, quero parabenizá-la pela fidelidade à luta pela vida do trabalhador e

da trabalhadora no campo por todos esses anos, pois em toda sua história vejo a

espiritualidade que Jesus já nos dizia: “Bem-aventurados os pobres de espírito,

porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que choram, porque eles

serão consolados; bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; bem-

aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; bem-

aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; bem-

aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; bem-aventurados os

pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; bem-aventurados os que

sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; bem-

aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem

todo o mal contra vós por minha causa”.

Sr. Presidente, eu gostaria que este pronunciamento fosse divulgado nos

meios de comunicação da Casa e no programa A Voz do Brasil.

PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero compartilhar a opinião do

professor, teólogo e militante, pastor da Igreja Batista do Caminho, eleito Vereador

de Niterói pelo PSOL, na primeira candidatura, para cumprir um mandato como

instrumento das lutas populares, Pastor Henrique Vieira.

Page 38:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

38

Diz o texto do Pastor e Vereador no Rio de Janeiro pelo PSOL:

“Uma mulher trans crucificada na Parada do

Orgulho LGBT de São Paulo. Escândalo? Ofensa?

Ataque mesquinho?

Em primeiro lugar, é lamentável que não exista a

possibilidade do diálogo com os fundamentalistas

religiosos. Diálogo pressupõe falar e ouvir, se colocar e se

abrir, estabelecer o encontro, a troca de olhar e de

palavras. Diálogo pressupõe reconhecimento da

dignidade do outro, curiosidade e abertura. Diálogo não

significa supressão de identidade, mas a possibilidade de

colocar a identidade em encontro com outras vozes.

Diálogo indica respeito, tolerância e solidariedade. O

fundamentalismo religioso não dialoga.

Isto significa que não existem imagens

pedagógicas que possam abrir uma conversa com o

mesmo. O fundamentalismo ama mais a doutrina que o

próprio Deus porque acredita que sua doutrina é

exatamente igual a Deus. Assim, nega qualquer

possibilidade de ouvir e discernir Deus em outras

expressões culturais e religiosas; não aceita dúvidas e

questionamentos, pois tais posturas revelam falta de

maturidade espiritual; nega qualquer diferença

enquadrando o pensamento diferente como heresia a ser

Page 39:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

39

extirpada. O fundamentalismo religioso considerou Jesus

um escândalo e o matou, assim fazendo em nome de

Deus. Afirmar que a imagem da mulher trans crucificada

impossibilita o diálogo, tomando como referência o

fundamentalismo religioso cristão, não procede. Razão

simples: não há imagem que possa provocar esta

abertura. Só Deus mesmo.

Em segundo lugar, quero registrar que existe uma

multiplicidade de cristãos que não são fundamentalistas e

desejam entender melhor as pautas libertárias e das

minorias. Inclusive, milhares de cristãos que se sentem

envergonhados com a brutal e perversa mercantilização,

privatização e banalização televisiva, midiática,

empresarial e fundamentalista da fé cristã. São cristãos

que choram diante do ódio destilado por pastores

sensacionalistas; sofrem por ver uma mensagem

libertadora sendo usada para enriquecer poucos

explorando a muitos, brincando com o sofrimento do

povo. São cristãos que desejam converter continuamente

sua fé ao amor. São cristãos que querem aprender e

ouvir, querem amar e acolher. Com este universo religioso

existe a possibilidade de diálogo e de demonstração

concreta do quanto os preconceitos estigmatizam,

impõem sofrimento e matam. É possível, em um confronto

Page 40:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

40

pedagógico com a realidade, evidenciar que o preconceito

contra gays, lésbicas, transexuais, bissexuais e travestis é

algo brutal, perverso, que realmente mata e que os

símbolos cristãos estão lamentavelmente mais

associados ao preconceito do que ao amor; à imposição

do medo do que ao acolhimento fraterno. Nesse aspecto,

poderia até considerar um equívoco metodológico e tático

o uso da imagem de uma mulher trans crucificada como

forma de transformação da realidade. Isto por causa da

dificuldade ainda apresentada pelos cristãos, de forma

geral, em entender a contundência da denúncia ali

revelada.

Contudo, cabe entender a dinâmica do espaço,

pois era uma Parada LGBT em que diversas denúncias

estavam sendo colocadas, na busca por dar visibilidade a

esta importante luta. Em outras palavras, cabe aos

cristãos que se sentem incomodados com o

fundamentalismo e que desejam romper com a barreira

do preconceito, buscar as imagens mais pedagógicas

para dialogar com a sociedade e com seu campo

religioso. Considero que precisamos articular princípios e

métodos para que pedagogicamente possamos vencer os

preconceitos e abrir canais de diálogo. A luta é sempre

pedagógica.

Page 41:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

41

Portanto, em terceiro e mais importante lugar,

quero afirmar que não julgo, não condeno e não me

ofendo com a imagem da mulher trans crucificada. Almejo

uma espiritualidade que contempla e comporta símbolos,

mas que essencialmente vê a natureza essencial dos

símbolos e do Deus que vai para além deles. Em outras

palavras. Como seria lindo (em meu modo de ver e sentir)

se os cristãos percebessem tal imagem não como uma

ofensa ou um ataque, mas como uma denúncia visceral,

radical e profundamente espiritual. Como seria lindo se os

cristãos não se preocupassem em defender a pureza do

símbolo, mas conseguissem ir ao encontro da dor ali

manifesta, do grito ali colocado para fora. Como seria

lindo se os cristãos vissem aquela imagem como um

pedido de socorro e um grito de afirmação de dignidade,

de humanidade e de igualdade.

O incômodo não deveria ser com a imagem, mas

com a realidade que ela denuncia. Meu Deus, o Brasil é

um país com taxas absurdas de assassinatos motivados

pelo ódio a LGBTs. As pessoas perdem casa, família,

empregos, círculos afetivos por conta de sua orientação

sexual não heteronormativa e de sua identidade de

gênero. As pessoas sofrem violências psicológicas, físicas

e fatais por conta desse preconceito. Meu Deus, as

Page 42:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

42

pessoas são assassinadas por conta deste ambiente de

ódio. Olho para Jesus de Nazaré e vejo nele gestos de

acolhimento, de rompimento de barreiras étnicas,

culturais, religiosas. Vejo que Jesus de Nazaré forçou a

readequação da Tradição para que ela se convertesse à

vida, ao amor e à dignidade humana. Olho para Jesus de

Nazaré e percebo que ele foi perseguido, ameaçado, visto

como escandaloso e herege e que ofereceram a ele uma

vida peregrina, fugitiva e no final uma cruz. Olho para

Jesus de Nazaré na Cruz e com Ele todas as vítimas da

terra. Olho para Jesus de Nazaré e vejo o amor de Deus

derramado pela humanidade, oferecendo perdão, Graça e

um caminho onde a espiritualidade é definida pela

verdade absoluta e justa do amor. Jesus sempre

conseguiu ver manifestações de Deus nos lugares mais

diferentes e tidos como avessos à sua própria Tradição.

Curiosamente Jesus teve dificuldade de ver Deus tantas

vezes no próprio Templo.

Quero terminar este texto fazendo uma intencional

correção. Durante toda argumentação eu usei a

expressão uma mulher trans crucificada na parada gay

em São Paulo. Percebem nisso uma certa distância e

impessoalidade? Eu percebo. Por isso quero dar nome,

quero chegar perto, quero olhar nos olhos, quero dar um

Page 43:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

43

abraço muito forte, um abraço de iguais. Viviany Beleboni,

quero dizer que respeito sua identidade, sua forma de ser,

sua dor e sua luta. Viviany Beleboni, quero pedir perdão

se os símbolos da minha fé provocam em você medo e

rejeição. Viviany Beloboni, quero dizer que fazemos parte

da mesma bela e dramática humanidade e que somos

alvos de um Amor incondicional. Viviany Beleboni, quero

agradecer por sua mensagem que me ensina, me

convence, me converte. Viviany Beleboni, se um dia tiver

chance eu olharei em seus olhos, abrirei meus braços

para dar um grande abraço. Viviany Beleboni, sou cristão,

tenho Jesus como Salvador e Amigo, sou pastor e

estamos juntos. Que venham as pedras, pois já estamos

armados com flores nas mãos. Viviany Beleboni, que seu

grito ecoe e ajude a corrigir o mundo!”

Sr. Presidente, esse texto mostra a diferença do caminhar cristão. Aí deve-se

perguntar: por quê? Porque o que está ligado ao comportamento de Cristo é saber

diferenciar os falsos mestres e as ovelhas do Senhor. O que o Vereador e cristão

aponta é a necessidade de diálogo, expressão que muitos fundamentalistas excluem

de seus dicionários.

Com toda certeza, não só aplaudo as palavras do Pastor, como afirmo que

nosso Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior; o Senhor, o

coração.

Parabéns ao Pastor e Vereador do PSOL Henrique Vieira.

Era o que tinha a dizer.

Page 44:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

44

O SR. LUIS CARLOS HEINZE - Peço a palavra para fazer um registro, Sr.

Presidente Izalci.

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Pois não.

O SR. LUIS CARLOS HEINZE (Bloco/PP-RS. Pela ordem. Sem revisão do

orador.) - Está presente aqui conosco o Prefeito do Município de Estação, do PSDB

— uma aliança que há lá com o Partido Progressista. Vieram ele, a esposa, filhos e

os pais, que estão de férias. Estavam eles num casamento em Goiânia e, agora,

estão passando aqui por Brasília para mostrar a cidade aos familiares.

Então, quero só registrar a presença de Geverson Zimmermann, Prefeito do

Município de Estação, no Rio Grande do Sul.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Seja bem-vindo a esta Casa.

Page 45:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

45

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Concedo a palavra, no Pequeno Expediente, ao

Deputado Paes Landim.

O SR. PAES LANDIM (Bloco/PTB-PI. Com revisão do orador.) - Sr.

Presidente, há uma semana, no dia 7 do corrente mês, a agência do Banco do Brasil

na cidade de Itaueira, no Piauí, foi destruída na madrugada — totalmente destruída.

Invadiram o banco e, depois de invadirem-no, destruíram-no. Antes passaram pela

polícia, balearam e tornaram sem efeito o carro da polícia local.

É o enésimo assalto, Sr. Presidente, de bandidos, criminosos às agências

bancárias do meu Estado. Itaueira é a cidade em que está instalada a empresa

Civilport Engenharia, que atua na Transnordestina e tem 2.500 empregados. É o

único setor do Estado em que a Transnordestina realmente está funcionando. Agora

há dificuldades de pagamento dos próprios empregados. Ainda bem que lá há uma

agência pequena do banco Bradesco. O Bradesco já foi vítima também de vários

assaltos em todo o Estado.

Já reclamei desta tribuna várias vezes, Sr. Presidente, há mais de 2 anos. Já

fiz inclusive uma carta ao Ministro da Justiça, fazendo um apelo para que a

Secretaria Nacional de Segurança Pública proteja os bancos de todo o País, os

públicos e os privados, até porque a Nação paga um custo pesado por esses

assaltos bancários, posto que, através de seguro, essas agências são devidamente

indenizadas.

Portanto, reitero aqui o apelo ao Ministro José Eduardo Cardozo: mande a

Secretaria Nacional de Segurança Pública estudar seriamente o problema dos

assaltos aos bancos no País, sobretudo no Nordeste — no meu Estado, em

particular, onde a polícia tem pequeno suporte físico e técnico para combater tais

Page 46:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

46

crimes. Entregue ao honrado, competente e apaixonado pela sua profissão que é o

Capitão Fábio Abreu, nosso colega, Secretário de Segurança do Governo Wellington

Dias, que se encontra de mãos atadas, com falta de recursos.

Ainda ontem eu conversava, durante o voo que me trazia de Teresina a

Brasília, com esse homem nobre por excelência que é Hugo Napoleão, ex-

Governador do meu Estado, ex-Senador, ex-Ministro de Estado, e ele me dizia,

conversando sobre a insegurança que reina no meu Estado do Piauí — meu caro

Padre Couto, exemplo de Parlamentar desta Casa —, que, quando foi Governador,

em 1983, o número de policiais no Piauí era o mesmo de hoje: 8 mil soldados.

Apenas foram substituídos os que se aposentaram e os que morreram.

Segurança pública, meu caro Padre Couto, tem que ser uma prioridade de

todos os Governadores do Nordeste, prioridade nº 1. É até mais importante do que a

educação porque, neste momento, é fundamental a tranquilidade da sociedade, a

tranquilidade dos cidadãos, das instituições públicas e privadas, das escolas, dos

bancos, das empresas.

Os assaltos ocorrem em todos os quadrantes do Estado, todos os dias. Eu já

noticiei vários assaltos daqui, desta Casa. E o de Itaueira foi fantástico. Ficou em

cinzas o prédio do Banco do Brasil. Graças a sua diligência, o Prefeito, o meu

querido e dileto amigo Quirino Avelino, pôs à disposição uma parte da Prefeitura

para que pelo menos o banco atue burocraticamente, até que seja encontrada uma

solução: ou construção ou aquisição de nova agência.

O certo, Sr. Presidente, é que esse assalto em Itaueira, a destruição total do

Banco do Brasil de Itaueira, é demonstração cabal da impotência do aparelhamento

de segurança do Estado. Não basta um homem da seriedade, da competência do

Page 47:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

47

Capitão Fábio Abreu dirigir a Secretaria de Segurança, se o Estado não tem

recursos e se a União, sobretudo, não dá aporte material e logístico pela Secretaria

Nacional de Segurança Pública, para que instituições bancárias sejam devidamente

protegidas pela polícia, até porque estabelecimentos bancários deste País, públicos

e privados, todos pertencem ao Sistema Financeiro Nacional, todos são

subordinados a diretrizes do Banco Central, da autoridade monetária governamental,

e, portanto, merecem a proteção governamental dos seus prédios, dos seus

institutos, das suas pessoas, das suas instalações.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Page 48:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

48

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Vamos conceder a palavra à oradora que já foi

chamada e que naquele momento não estava presente, mas que agora já está

presente, a Deputada Josi Nunes, do Bloco Parlamentar

PMDB/PP/PTB/PSC/PHS/PEN. S.Exa. terá até 5 minutos.

Depois nós iremos conceder a palavra ao Deputado Zé Geraldo, para uma

Comunicação de Liderança, pelo PT, e, depois, ao Deputado Alberto Fraga.

O Sr. Izalci, nos termos do § 2º do art. 18 do

Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é

ocupada pelo Sr. Luiz Couto, nos termos do § 2º do art.

18 do Regimento Interno.

Page 49:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

49

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Concedo a palavra à Deputada Josi

Nunes. V.Exa. dispõe de até 5 minutos.

A SRA. JOSI NUNES (Bloco/PMDB-TO. Sem revisão da oradora.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, imprensa e servidores deste Poder, antes de

falar sobre o tema que nos traz a esta tribuna, eu quero aqui também deixar o nosso

abraço a toda a comunidade do Município de Taguatinga, no Estado do Tocantins,

que completou, no último dia 10 de junho, 143 anos. E faço isso em nome dos

Vereadores JP e Paulo Baré, daquele Município.

Uso esta tribuna para falar sobre algo que nos preocupa muito: os dados

divulgados pelo Tribunal de Contas da União sobre a divisão do Fundo de

Participação dos Estados para o ano de 2016.

Um dos mecanismos de sustentação dos Estados brasileiros, talvez para

muitos o mais importante, são as transferências constitucionais feitas por meio do

Fundo de Participação dos Estados — FPE.

De acordo com os índices divulgados, 13 Estados serão prejudicados em

suas receitas provenientes do FPE. E isso me preocupa muito, Sr. Presidente.

Somente no Tocantins, se esse índice for mesmo aplicado, teremos, no ano de

2016, uma perda na ordem de 18,6% em comparação com as transferências que

estão sendo realizadas neste ano de 2015.

Esse índice compromete ainda mais a situação enfrentada pelos

Governadores, em especial o nosso Estado, o Estado do Tocantins. O Governador

Marcelo Miranda vem envidando esforços em todos os sentidos para cumprir com as

obrigações com os servidores, com os investimentos públicos, buscando promover o

equilíbrio fiscal, diminuindo despesas e aumentando receitas.

Page 50:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

50

As transferências do Fundo de Participação dos Estados são regulamentadas

pela Lei Complementar nº 143, de 2013. Essa lei estabelece que, a partir de junho

de 2016, os coeficientes serão calculados com base na população e na renda

domiciliar per capita de cada Unidade da Federação, sendo esses dados obtidos

junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE.

Em termos gerais, Sr. Presidente, neste ano de 2015, o Tocantins obteve o

coeficiente de 4,34% do FPE, e, para o ano de 2016, a previsão diminui ao invés de

aumentar, caindo para 3,53%, de acordo com os cálculos feitos pelo Tribunal de

Contas da União.

Fazendo cálculos com a Lei Orçamentária de 2015, o Tocantins recebe neste

ano em torno de 2,82 bilhões de reais. Com a redução, esse valor ficaria em torno

de 2,3 bilhões de reais, ou seja, uma diferença de aproximadamente 500 milhões de

reais.

Não podemos deixar isso acontecer, Sr. Presidente! É inadmissível uma

redução como essa nas atuais circunstâncias que enfrentamos no Estado do

Tocantins.

Precisamos do apoio dos Deputados para que possamos rever a Lei

Complementar nº 143 e não permitir que essa injustiça seja levada adiante,

prejudicando o equilíbrio socioeconômico do Estado do Tocantins e de mais 12

Estados da Federação.

Vou propor uma reunião da bancada do Tocantins com a bancada que

representa os outros 12 Estados nos quais está prevista essa diminuição; vamos ao

Tribunal de Contas da União, vamos mobilizar as forças políticas e buscar uma

alternativa para essa drástica redução dos repasses constitucionais.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Muito obrigado, Deputada Josi Nunes.

Page 51:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

51

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Concedo a palavra ao nobre

Deputado Zé Geraldo, para uma Comunicação de Liderança, pelo Partido dos

Trabalhadores. S.Exa. disporá de até 10 minutos.

O SR. ZÉ GERALDO (PT-PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, todos aqueles que me acompanham pelos

veículos de comunicação desta Casa, vou aproveitar o tempo da Liderança para

fazer alguns comentários sobre o Congresso Nacional do Partido dos

Trabalhadores, realizado com muito sucesso, em Salvador, neste final de semana.

Foi um sucesso pela participação de todas as autoridades do nosso partido:

Ministros, Deputados Federais e Estaduais, Governadores, Prefeitos e Vereadores.

E as autoridades maiores neste congresso, os delegados, deliberaram sobre um

documento apresentado pelo nosso partido que foi aprovado na íntegra, apesar de

um longo debate, inclusive, abordando o fato de se manter ou não a eleição direta

para os diretórios municipal, estadual e nacional.

No final de um grande debate, com cinco defesas a favor e cinco defesas

contra, a maioria dos delegados optou por manter o nosso chamado PED —

Processo de Eleição de Delegados, sugerindo ao partido um seminário nacional

para que possamos aperfeiçoar o mecanismo de eleições diretas no Partido dos

Trabalhadores. Vale registrar que é o único partido no Brasil em que os filiados

elegem os seus diretórios municipal, estadual e nacional.

Sr. Presidente, quero continuar, até encerrar os meus 10 minutos,

parabenizando todos os delegados e delegadas, que fizeram um esforço muito

grande de deixar regiões longínquas deste País para se juntarem, em Salvador, na

Page 52:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

52

Bahia, em nesse grande congresso para o debate sobre a conjuntura, sobre os

rumos do nosso partido.

Naturalmente, três dias são pouco para um grande número de delegados

poderem aprofundar cada tema. Deveremos aprofundar o debate em outro

momento, para, cada vez mais, organizar o nosso partido e fazer com que o PT, que

já é o partido mais democrático deste País, também continue sendo um dos maiores

do Brasil e do mundo.

Tive a felicidade de participar desse Congresso. Quero dizer que não me

amedronto com as análises pessimistas feitas em um momento de ajuste

econômico. É natural que um governo, depois de 12 anos, depois de ter lançado

vários programas muito importantes — como o Minha Casa, Minha Vida, o Programa

Nacional de Habitação Rural, o Luz para Todos e outros programas sociais, enfim,

as grandes obras deste País —, precise fazer alguns ajustes, porque pretendemos

governar por muito mais tempo.

O Brasil precisa de partidos que se aliem a um projeto de desenvolvimento

social que visa a infraestrutura, a geração de empregos e a consolidação da

agricultura familiar — que ainda está no campo neste País, porque temos uma

tendência mundial de urbanização, e no Brasil não é diferente; daqui a pouco, nós

teremos apenas 10% da população deste País morando no campo e o restante

estará morando na cidade.

Então, são grandes os desafios que tem o Governo da Presidenta Dilma e

são grandes os desafios que tem o Partido dos Trabalhadores.

Era isso o que eu queria deixar registrado neste horário de Liderança. Mais

uma vez, parabenizo o meu partido, o Partido dos Trabalhadores deste País!

Page 53:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

53

Sr. Presidente, eu quero dar como lido meu pronunciamento. Peço que ele

fique registrado nos Anais desta Casa e seja divulgado pelos meios de

comunicação, inclusive no programa A Voz do Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Obrigado, Deputado Zé Geraldo.

PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o PT está vivo, de cabeça erguida, e

continuará vivo, apesar do desejo da direita de aniquilá-lo. Essa afirmação, feita pelo

nosso ex-Presidente Lula em seu pronunciamento de abertura do 5º Congresso do

PT, em Salvador, na Bahia, nessa quinta-feira, dia 11 de junho, pode ser

comprovada pelo sucesso que foi a participação da militância no evento e pela

constatação de recente pesquisa do Vox Populi, que demonstra que quase 90% da

população brasileira não nutre ódio à legenda, apesar do bombardeio midiático

diário sofrido pelo partido, que há mais de uma década anima nossos opositores e

desenterra defuntos do passado.

Nessa pesquisa inédita feita para medir o tamanho do ódio ao Partido dos

Trabalhadores, apenas 12% da população diz odiar o PT. Isso não é nenhuma

novidade, afinal, desde a sua criação, o partido sempre foi hostilizado por essa

parcela da população. Primeiro, pelo medo de o partido chegar ao poder e, depois,

pelo ódio por ele ter conseguido esse feito — estamos indo para um quarto mandato

executivo em uma democracia. Tal feito é acompanhado de intervenções na

sociedade, que está sendo capaz de mudar a deletéria lógica da casa grande e

senzala que sempre guiou as tomadas de decisões de outros governos.

Page 54:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

54

Portanto, os gritos de “Fora PT” ecoam fortemente em uma parcela da

população, que, convenhamos, nunca simpatizou com a nossa estrela, ou seja, são

antipetista de carteirinha — pessoas, que na maioria recebem razoável renda

mensal. Com isso podemos concluir que o ódio ao PT também é um ódio de classe.

A tal conclusão também chegou o sociólogo Marcos Coimbra, Presidente do Vox

Populi.

Concordo, dessa forma, com Coimbra, que vê um erro grave da Oposição ao

fincar sua bandeira na minoria visceralmente antipetista, avisando que querer

representá-la pode até ser legítimo, mas é burro, se o projeto for vencer eleições

majoritárias.

Nessa mesma, linha deixo aqui minha crítica àquela parte da base aliada que,

no acotovelamento inicial da corrida presidencial atropela uma aliança que até aqui

deu certo. Aliar-se à Oposição para derrotar o PT não me parece uma estratégia

inteligente para quem quer chegar à chefia do Executivo Federal em 2018.

Concordo também com o sociólogo, que vê um erro do petismo ao se

amedrontar e supor ter de enfrentar a imaginária maioria do antipetismo radical.

Creio, felizmente, que depois dessa pesquisa e do sucesso da participação da

nossa militância no 5º Congresso do PT, apesar dos problemas enfrentados pela

legenda, saberemos enfrentar esses fantasmas projetados em nossas cavernas,

pois que no mundo real essas alegorias criadas pela Mídia não logram efeito

desejado.

O PT está vivo e é dos trabalhadores!

Page 55:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

55

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Concedo a palavra ao Deputado Alberto

Fraga, para uma Comunicação de Liderança, pelo Democratas. S.Exa. disporá de 5

minutos.

O SR. ALBERTO FRAGA (DEM-DF. Como Líder. Sem revisão do orador.) -

Sr. Presidente, venho à tribuna para externar o meu repúdio, a minha insatisfação

com relação à última entrevista que o jornalista Jô Soares fez com a Presidente

Dilma Rousseff. Primeiro, causa-me estranheza alguém tão dono de si, alguém

sempre dono da verdade, sempre com posicionamentos independentes, deslocar-se

de São Paulo até o Palácio do Planalto e se prestar àquele papel. Ele se prestou a

um papel de fazer perguntas ensaiadas, perguntas encomendadas pelos assessores

da Presidência da República, evidentemente, deixando todos os telespectadores

decepcionados por sua postura submissa.

Eh, Jô Soares! Quem te viu e quem te vê! Eu espero que depois dessa

entrevista, com a qual está mais do que claro que o marqueteiro do Palácio do

Planalto tenta humanizar a figura da Presidente Dilma Rousseff... Ela agora deu

para andar de bicicleta. Deve ser para simbolizar as pedaladas que ela deu para

cobrir os inúmeros rombos nas estatais do nosso País. Esse marketing pode até

parecer que vai funcionar, porque o povo brasileiro demorou a descobrir que estava

sendo enganado.

Eu espero que, depois dessa famigerada entrevista do Jô Soares com a

Presidente Dilma Rousseff, não apareça uma verba milionária daquelas de 1 milhão,

de 2 milhões, porque aí eu quero ver como é que ele vai se explicar. Essas verbas

funcionariam até mesmo para peças de teatro e outras coisas mais. Como diz a

Globo: “Estamos de olho! Estamos de olho!”

Page 56:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

56

Agora, Sr. Presidente, nessa mesma toada da humanização da Presidente

Dilma Rousseff, há uma prova de fogo. Ela está na iminência, prezado amigo

Deputado Mauro, de vetar ou não a alteração do fator previdenciário. Eu quero ver o

que a Presidente Dilma Rousseff vai fazer, porque, se ela vetar a alteração do fator

previdenciário, Sr. Presidente, haja Jô Soares para tentar limpar a sua barra.

Acho que o povo brasileiro, principalmente os aposentados, não vai suportar

isso. E, pelo que eu conheço, muitos Parlamentares do PT, que sempre defenderam

os aposentados, não vão aceitar esse veto.

Portanto, Presidente Dilma, talvez V.Exa. devesse ter aguardado esta

semana, que será o dia D para todos nós que estamos aguardando essa posição da

senhora.

O que mais chamou a atenção também, amigo Deputado Gonzaga Patriota,

foi ver a Presidente Dilma Rousseff defender a PETROBRAS! Defendeu com

palavras. Por que não teve atitudes? Ela é Presidente do Brasil! Por que não

colocou na cadeia quem dilapidou o patrimônio do povo brasileiro? Agora,

patrocinada pelo Jô Soares, sem audiência pública, vem com uma conversa fiada

daquela.

Falou também em ajuste fiscal. Ora, ela promoveu o ajuste fiscal, mas

promoveu o ajuste fiscal necessário com o sacrifício do trabalhador, massacrando o

trabalhador brasileiro, que já trabalha 5 meses para pagar os seus impostos.

Sr. Presidente, eu mais uma vez espero que nas redes sociais, que são a

nossa única esperança, o povo do WhatsApp, o povo do Twitter, que não se cala,

que não sofre censura, que não pode ser calado, continue falando sobre essas

Page 57:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

57

estratégias que o grande marqueteiro do Palácio do Planalto vem implementando,

para humanizar a Presidente Dilma Rousseff.

Lá na minha terra, no Nordeste, em Sergipe, dizem que para o pau que nasce

torto não há jeito: morre torto. Presidente Dilma, a senhora recebeu um Governo

falido do Presidente Lula, não teve competência para fazer uma gestão digna do

povo brasileiro e, agora, no seu segundo mandato, a coisa está pior.

Portanto, aqui fica o meu repúdio ao trabalho de subserviência do Jô Soares,

porque o povo brasileiro não engoliu aquela mentira.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Page 58:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

58

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Com a palavra o último orador inscrito no

Pequeno Expediente, o Deputado Izalci, do PSDB do Distrito Federal. S.Exa. disporá

do tempo regimental de 5 minutos.

O SR. IZALCI (PSDB-DF. Sem revisão do orado.) - Sr. Presidente, Sras. e

Srs. Parlamentares, Deputado Mauro Pereira, eu achei muito estranho o ex-

Presidente Lula chamando a atenção agora do Presidente do partido de V.Exa.,

Michel Temer, pelo fato de termos convocado na CPI o Sr. Okamotto, Presidente do

Instituto Lula, o grande mentor, popularmente chamado de testa de ferro, que é

quem responde por tudo, não só do Instituto Lula mas também da nova empresa

Luiz Inácio Lula da Silva Palestras Eventos e Publicidade, que recebeu da Camargo

Corrêa 1 milhão e meio e mais 3 milhões para o Instituto Lula.

Mas o fato de ter recebido esse dinheiro não chama tanto a atenção porque

isso virou rotina. Empresas de consultoria, empresas fantasmas, empresas que não

prestam serviço, mas emitem faturas, tudo isso é normal. O que chamou atenção, no

caso dos documentos apreendidos na empresa Camargo Corrêa, foi a discriminação

na contabilidade da empresa. Foram três parcelas de 1 milhão para o Instituto Lula

feitas pela Camargo Corrêa. No histórico do lançamento contábil constavam

doações, mas uma lá havia falando de contribuição eleitoral — bônus eleitoral.

Por que o Instituto Lula recebe bônus eleitoral? Isso nos chamou a atenção.

Mas para quem é membro da CPI, como nós, que estamos acompanhando e vendo

no dia a dia, isso é natural, porque o PT passou a receber as propinas com recibo

eleitoral e elas viraram doações oficiais, mas na conta corrente da propina eles

abatem os valores.

Page 59:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

59

Como funciona? Existe a conta corrente da propina das empreiteiras,

Camargo Corrêa e outras. Aí há a conta corrente da propina. Emitem a nota fiscal lá,

por exemplo, da JD, a empresa do José Dirceu, eles então abatem da propina, da

conta corrente. Fazem uma doação para o Partido dos Trabalhadores, vão lá e

abatem da propina. Pagam com a emissão de notas fiscais fantasmas — são

centenas —, abatem da propina. Mas o Instituto Lula recebeu também bônus

eleitoral e na hora da contabilidade se esqueceram. Abatem da propina também.

Então, nós aprovamos 140 requerimentos, dos quais alguns são de

acareação, de fundamental importância. Nós queremos ouvir novamente o Paulo

Roberto Costa, mas agora não isoladamente. Nós queremos fazer a acareação com

Vaccari, Renato Duque, Alberto Youssef, para ver quem está mentindo nessa

história.

A última de que participei foi a de Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró.

Paulo Roberto Costa foi firme e manteve as acusações que fez na delação

premiada. Nestor Cerveró negou tudo, disse que nunca fez nada, que não sabe de

nada, que não tem dinheiro no exterior, que não tem conta em lugar nenhum. E

agora nós descobrimos as contas milionárias do Nestor Cerveró!

Portanto, as acareações que faremos vão contribuir muito. Queremos receber

aqui para as explicações necessárias o Sr. Paulo Okamotto, Presidente do Instituto

Lula. Ele que também é o mentor da empresa LILS Palestras Eventos e Publicidade.

Eu estou acompanhando, Deputado Mauro Pereira, essa questão da CPI.

Quando eu estive em Curitiba, uma das pessoas que está presa lá, a doleira Nelma

Kodama, estava revoltada porque foi condenada a 18 anos de prisão e ela só fez

Page 60:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

60

entre 90 a 100 operações de importação e exportação, enquanto só o Laboratório

Labogen fez mais de 4 mil operações de importação e exportação fictícias.

Eu não sei se vocês acompanharam na semana passada o esquema

descoberto pela Polícia Federal que movimentou 3 bilhões de reais, envolvendo o

ex-Vice-Presidente do Banco do Brasil. E agora, para nossa surpresa, quem é

recebido aqui com todas as honras? O grande amigo de Lula, Diosdado Cabello,

traficante de drogas das FARC. Ele foi recebido pelo Sr. Luiz Inácio Lula da Silva.

Coincidentemente, esse senhor está envolvido nessas operações de importações e

exportações fictícias.

Isso precisa mudar. Esta Casa precisa urgentemente verificar toda a

legislação que trata da importação e da exportação, para coibir desvios de bilhões

de reais, já constatados na CPI da PETROBRAS e, agora, nessa operação do

Banco do Brasil.

Peço a V.Exa. que divulgue este pronunciamento nos meios de comunicação

da Casa e no programa A Voz do Brasil, em especial.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - V.Exa. será atendido nos termos

regimentais.

Page 61:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

61

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Passa-se ao

V - GRANDE EXPEDIENTE

O primeiro orador inscrito é o Deputado Gonzaga Patriota. S.Exa. disporá de

até 25 minutos.

Page 62:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

62

O SR. GONZAGA PATRIOTA (PSB-PE e como Líder. Sem revisão do

orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, como eu mostrei aqui no Pequeno

Expediente, eu escrevi mais de 150 páginas neste discurso. Obviamente não vai dar

para ler tudo isto aqui. Eu gostaria de ler apenas a introdução e fazer uma fala de

improviso sobre este discurso, cujo teor solicito a V.Exa. autorize a transcrição nos

Anais na íntegra.

Este discurso, como eu disse aqui na sexta-feira, trata dos problemas

causados pela seca no Nordeste, além de outras coisas que faltam na nossa

Região, a minha Região e a Região de V.Exa., Sr. Presidente.

Há poucos instantes, eu vi aqui a Deputada Josi, do Tocantins. Eu já

conversei com ela, que me deu uma aula sobre o Rio Tocantins. E é exatamente

sobre isto que eu quero falar: o que vamos fazer, urgentemente, para levar água do

Tocantins para o Nordeste, através do Rio São Francisco? Então, passo a ler a

introdução do que escrevi:

“Senhor Presidente, Senhoras e Senhores

Deputados, o Nordeste só com águas do Rio Tocantins

abastecendo o São Francisco.

Quem como eu que se engajou na luta por

mudanças no Brasil desde a adolescência e,

principalmente, a partir do dia em que me filiei ao velho

MDB — Movimento Democrático Brasileiro, no final dos

anos sessenta, isso significa, em termos bem claros, que

não falo como adversário do Governo da Presidente

Dilma Rousseff, pelo contrário, venho contribuindo, ao

Page 63:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

63

longo desses mais de trinta anos consecutivos, para dar

sustentação à administração federal nesta Casa do

Congresso Nacional.

Mas o meu compromisso maior é com a população

brasileira e, de modo particular, com o meu querido

Estado de Pernambuco e de um Nordeste que continua

sendo tratado como ‘o patinho feio’ do Brasil.

Lá, tudo que tem que ser feito hoje pelo governo

fica para depois, ou nunca acontece. Antes de refletir

sobre tudo isso, fiz várias visitas ao sertão

pernambucano, onde acompanhei de perto o sofrimento

dos meus conterrâneos que estão enfrentando a pior seca

das últimas cinco décadas. (...).”

Sr. Presidente, este pronunciamento está sendo transmitido por muitas

emissoras de rádio, entre elas a Petrolina FM, a Lagoa Grande FM, a Santa Maria

FM, a Cultura FM de Santa Cruz, a Salgueiro FM, a Sertânia FM, a rádio de

Monteiro, na Paraíba de V.Exa., e uma rádio de Campina Grande que fazem

conexão com a nossa. Além disso, muitos amigos estão também assistindo ao

discurso, copiando, anotando e gravando o que eu estou falando aqui, para tentar

ajudar.

Eu disse aqui que, antes de refletir sobre tudo isso, eu fiz várias visitas ao

Sertão. Na semana passada, estive em várias cidades de Pernambuco. Acompanhei

de perto a vida dos pernambucanos que estão enfrentando, Deputado Zé Geraldo —

Page 64:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

64

e V.Exa. é de lá do Norte, da Amazônia —, uma das piores, uma das mais terríveis

secas no Nordeste brasileiro. Há 5 anos não chove!

Eu falei aqui outro dia, e alguém achou que não era verdade, que uma

sobrinha minha, com 5 anos, veio aqui para minha casa, lá no prédio em que V.Exa.

mora, onde eu faço caminhada, e V.Exa. arrodeia o bloco. A menininha saiu comigo

de manhã. Na hora em que saímos, caiu uma chuva. Eu não apercebi. Ela saiu

chorando e gritando. Eu disse: “O que é isso?” E a menina: “O céu furou! O céu

furou!” Foi aí que eu percebi que a menina nunca tinha visto chuva.

Nada justifica que o Nordeste esteja sofrendo tanto. O Nordeste, Deputado Zé

Geraldo, tem o Rio São Francisco. Infelizmente, nunca se viram políticas, ou pelo

menos uma política para salvar o Rio São Francisco — nunca! E o Rio São

Francisco tem limites. Eu me lembro de quando o Presidente Lula lançou o projeto

de transposição de águas do Rio São Francisco. O meu querido Bispo D. Cappio, do

futuro Estado do Rio São Francisco, em Barreiras, foi lá, fez uma greve de fome e

tal. E eu, já pensando no meu projeto, que interligará o Rio Tocantins ao Rio São

Francisco, disse: “Não, deixa para lá. Essa transposição não vai acontecer logo.

Vamos ter, antes dela, água do Rio Tocantins aqui no São Francisco”.

Antes de passar a palavra a V.Exa., Deputado Zé Geraldo — e eu gostaria

também de depois conceder o aparte solicitado pelo Deputado e padre Luiz Couto,

porque onde há um padre e um pastor, como S.Exa. diz, as coisas são facilitadas —,

quero esclarecer esse ponto.

O que acontece? É que o levantamento que se tinha, Deputado Zé Geraldo,

para fazer a transposição de águas do Rio Tocantins era uma coisa muito grande,

de 15 bilhões a 20 bilhões de reais, um projeto de 1.500 quilômetros, para sair de

Page 65:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

65

Tocantins, passar pelo Maranhão — o Maranhão não precisa de água; lá chove

muito —, pelo Piauí, que precisa um pouco, e chegar depois a Pernambuco, Ceará e

Rio Grande do Norte.

O Presidente Lula e o então Vice-Presidente da República, Dr. José Alencar,

encontraram outro projeto, sobre o qual logo mais falarei.

Tem V.Exa. a palavra para um aparte.

O Sr. Zé Geraldo - Deputado Gonzaga Patriota, V.Exa. é um Deputado

sempre muito sintonizado com os problemas do seu Estado, da sua Região.

Realmente, essa questão da seca e das chuvas é interessante, porque é um

contraste. Enquanto na sua Região passam-se até 5 anos sem chover, na

Amazônia, nesses 5 anos, choveu por quase 4 anos. Tanto é que lá, em algumas

obras rodoviárias, só se trabalha durante 6 meses, porque os outros 6 meses são de

chuva. Eu penso que essas grandes obras são só uma questão de tempo. A partir

do Presidente Lula, nós estamos fazendo obras que estavam anunciadas há

centenas de anos e outras iniciadas há meio século, como é o caso do asfaltamento

da Cuiabá-Santarém e da Transamazônica, no Pará. Mas também há a construção

da Usina de Belo Monte e a obra para transmissão da energia de Tucuruí para

Manaus, um linhão que passa por cima da Floresta Amazônica e foi para Manaus e

Macapá. A transposição de águas do Rio São Francisco, mesmo com as obras

estando com atraso, obras que deverão terminar nesses próximos 4 anos... Mas

acredito que outras grandes obras virão para ajudar este País, como a

Transoceânica, ferrovia que a Presidenta Dilma acaba de lançar. E nós temos

regiões deste País em que realmente temos muita água. O Pará, para que V.Exa.

tenha uma ideia, tem grandes rios. Só na região oeste do Pará, hoje, que representa

Page 66:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

66

a metade do Estado do Pará, territorialmente, nós temos três grandes rios, e são dos

maiores: o Rio Amazonas, o Rio Tapajós e o Rio Xingu, grandes rios que banham

essa região. E lá nós temos também problemas de falta de água nos assentamentos

— falta perfurar poços —, porque mesmo tendo esses rios, em um assentamento

próximo desses rios é preciso furar poço artesiano com 150 metros, 160 metros de

profundidade, para poder fazer o abastecimento de uma vila. Então, V.Exa. tem

razão de pautar essas obras integradoras, porque nós teremos condições, sim,

nesses próximos anos, de terminar as que já foram iniciadas e iniciar outras que são

muito benéficas ao Brasil e às regiões. Muito obrigado por ter me concedido o

aparte.

O SR. GONZAGA PATRIOTA - Deputado Zé Geraldo, eu agradeço a V.Exa.,

que é do partido da Presidente Dilma Rousseff e que com certeza vai nos ajudar.

V.Exa. é de uma região em que chove demais, que tem chuvas em excesso. Nós

precisamos exatamente desse apoio.

Antes de conceder um aparte a V.Exa., eminente Deputado Luiz Couto, é

importante dizer — V.Exa., que tem uns aninhos a mais do que eu, sabe muito bem

disso — que o Nordeste teve desenvolvimentos, através do trabalho, quando se

construiu o DNOCS, há mais de 100 anos.

Foi o DNOCS que fez com que tivéssemos pelo menos vida na Região

Nordeste, com a construção de poços, com a construção de muitos açudes. Depois,

veio a SUDENE, que foi muito importante para o Nordeste, principalmente para o

desenvolvimento industrial e comercial.

Na Constituinte — e eu tive a honra de ajudar nesse processo —, criamos o

Fundo Constitucional do Nordeste. Esse Fundo leva 1,5% da arrecadação da União

Page 67:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

67

para a nossa região. E o Banco do Nordeste tem feito um trabalho extraordinário

com esses recursos na agricultura, na pecuária, no comércio, na indústria. E faltam

duas coisas, como eu falei aqui na última reunião: uma, que possamos aprovar, se

Deus quiser, ainda neste ano, a zona franca do Semiárido brasileiro. Estamos

tentando, de maneira democrática, fazer essa zona franca, para não ficar como a de

Manaus, uma zona franca em uma cidade. Queremos que a zona franca na região

do Semiárido possa se espalhar por todos os Estados.

E a outra, não tem para onde correr. Eu quero aproveitar, Deputado Luiz

Couto, e pedir apoio a V.Exa. Vou ver se formamos aqui uma comissão — os

Deputados Estaduais de Pernambuco já o fizeram — para olharmos como está o Rio

São Francisco. A Barragem de Sobradinho tem menos de 20% da sua capacidade,

Deputado Luiz Couto. A adutora que tira água do centro da Barragem de

Sobradinho, o maior lago artificial do mundo, não está mais tirando água. Neste ano,

se não houver uma mudança, como se pediu aqui ao Sr. Ministro da Integração

Nacional, que tem dado toda a atenção à região, mas infelizmente ainda não teve os

recursos para fazer isso, não vamos ter safra de fruticultura em Petrolina, nem,

talvez, em Juazeiro. Não dá para ficar assim.

Hoje o meu caseiro me ligou e disse: “Olha, Gonzaga, pelo amor de Deus,

manda um trator aqui para a gente fazer um canal para trazer água, senão as

plantinhas morrem”. E eu só tenho 1 hectare e meio de plantações. E quem tem 100

hectares como fica?

Chegou aqui agora o Deputado Mauro Pereira, gaúcho. Os gaúchos de

Petrolina estão dizendo a mim: “Pede, pelo amor de Deus, para a Presidente Dilma

mandar realocar essa adutora para o fundo da Barragem de Sobradinho, para

Page 68:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

68

colhermos as frutas que estão plantadas”. Não é apenas porque se vai desempregar

100 mil pessoas. Vamos ter plantinhas morrendo, porque a uva, a manga não

aguentam 1 ano de seca.

Quero ouvir, com muita atenção e respeito, o meu querido Deputado Luiz

Couto.

O Sr. Luiz Couto - Deputado Gonzaga Patriota, parabenizo V.Exa. pelo seu

pronunciamento. A situação de Pernambuco não é diferente da situação da Paraíba,

do Ceará, da maior parte dos Estados do Nordeste brasileiro. Mas há uma diferença

muito grande. Sabemos que a estiagem é uma questão climática. Ou seja, já

sabemos os anos em que houve chuva e aqueles em que não houve chuva. Na

Paraíba, este ano, até hoje só tivemos 1.730 milímetros de chuva, a pior situação

nesses 5 anos. No ano passado, foram 2.880 milímetros. A situação está

desesperadora. São 27 Municípios em situação de emergência decretada e mais 64

cidades na Paraíba com racionamentos. A seca é uma questão política.

Infelizmente, não conseguimos ainda enfrentar essa questão política da seca no

Semiárido nordestino. Como V.Exa. disse, além de políticas de convivência com o

Semiárido, e V.Exa. já sugeriu algumas dessas políticas públicas, temos que fazer

aquela outra proposta de V.Exa. — o Rio São Francisco já não é mais o Velho

Chico, é um Chiquinho, já está seco e perdendo muito da sua capacidade —, fazer a

transposição de águas do Tocantins para o leito do Rio São Francisco, a fim de que

o Nordeste possa ter água para o consumo humano, para a criação dos animais e

para a agricultura, porque é fundamental a questão da irrigação. V.Exa. tem toda a

minha solidariedade. O Ministério da Integração Nacional precisa responder a essas

demandas. A Secretaria de Defesa Civil precisa de agilidade, porque não é possível

Page 69:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

69

deixar a população sem ter água para consumir e sem ter água para criar os seus

animais. Nesse sentido, parabéns a V.Exa., na certeza de que o pronunciamento

que V.Exa. faz hoje deverá ser ouvido pelo Governo, pelos Ministérios, que darão

respostas urgentes e profundas para o enfrentamento dessa questão. Parabéns pelo

pronunciamento e pela defesa que V.Exa. faz da Região Nordeste, do Semiárido,

daquele povo sofrido que, se não tiver água, com certeza, não vai resistir.

O SR. GONZAGA PATRIOTA - Deputado Luiz Couto, antes de ouvir o

eminente Deputado Mauro Pereira, eu gostaria de fazer um pedido a V.Exa. em

nome do seu partido, o Partido dos Trabalhadores, o Partido da Presidente Dilma:

por favor, leve este pronunciamento que faço aqui com todos os dados, com os

números, para a Presidente e o seu Governo, através do Ministro da Integração

Nacional, tomem conhecimento do que eu estou falando aqui.

O Sr. Luiz Couto - V.Exa., com certeza, pode encaminhar que nós faremos

chegar à Presidente da República.

O SR. GONZAGA PATRIOTA - Vou mandar deixar no seu gabinete.

Eu pergunto: como é que se fazem, Deputado Luiz Couto, dois eixos? Ouviu,

Deputado Mauro Pereira? Preste atenção 1 minuto, antes de V.Exa. falar. Dois eixos

estão sendo construídos, nos quais possivelmente se gastem de 8 bilhões a 10

bilhões de reais, para fazer — não querem chamar de transposição, e eu não estou

aqui para dizer que é uma transposição, mas vão tirar água daqui e levar para lá —

uma interligação do Rio São Francisco com Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio

Grande do Norte, além de uma adutora que vai atender a mais de 60 Municípios que

estão sem água no Agreste pernambucano e no paraibano também — ali há 1 dia

com água e 30 dias sem água.

Page 70:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

70

Eu tenho um filho, o Gonzaguinha, que eu acho que gostaria de morar lá,

porque, para tomar banho, ele vai meio amarrado. Ele gostaria de morar nesse

Agreste pernambucano. Então, eu pergunto: por que continuam as obras desses

dois canais, o Eixo Norte e o Eixo Leste? Ambos passam nas minhas cidades. O

Eixo Leste passa por Sertânia, o lugar em que eu nasci, e o Eixo Norte sai de

Cabrobó. Há poucos instantes eu falei com um amigo, que me disse que a água não

saiu ainda porque não tem como tirar. Não vai ter como tirar água do rio, porque o

rio está com menos de 20% de sua capacidade, está lá com um pouquinho de água.

Então tem que pegar um pouquinho desse dinheiro — 1 bilhão de reais, 1

bilhão e pouco de reais — e fazer urgentemente esse pequeno canal do projeto que

foi estudado pelo Vice-Presidente da República José Alencar, a pedido do

Presidente Lula.

Eu vou ouvir V.Exa., Deputado Mauro Pereira, até porque, lá em Petrolina, há

muitos gaúchos que nos têm ajudado com tecnologia. Eles só não têm vinho melhor

do que o de Petrolina. O Papa, quando veio ao Brasil, escolheu um vinho lá de

Lagoa Grande, na Grande Petrolina, o Rio Sol. Mas os gaúchos — isso é brincadeira

— têm nos ajudado muito, e vou ouvir com atenção o meu querido Deputado Mauro

Pereira.

O Sr. Mauro Pereira - Primeiramente, Deputado Gonzaga Patriota, eu

gostaria de dizer que, antes do teu pronunciamento, eu estava analisando os

documentos que V.Exa. tem em mãos e a tua preocupação, quando estava dizendo:

“Mauro, eu vou fazer um pronunciamento que eu não gostaria de ter de fazer, para

falar sobre o que está acontecendo no meu Estado, na Região Nordeste”.

Realmente, a seca é uma coisa muito triste e não acontece... Nós também,

Page 71:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

71

ultimamente, estamos tendo seca na Região Sul. No Rio Grande do Sul, nós já

tivemos seca em 2004, 2005 e 2013. É desesperadora a seca. As pessoas veem as

criações morrendo, as lavouras morrendo. Agora, no Nordeste, quando o nordestino

fala que a seca aumentou é porque a coisa está brava mesmo, é porque a coisa

está feia. Eu, Deputado Gonzaga Patriota, não tenho dúvida nenhuma de que os

Deputados da Região Sul, os Deputados da Região Sudeste, os Deputados da

Região Norte, todos vão apoiar essa demanda de V.Exa. Se nós formos analisar o

Estado de São Paulo, os Estados mais desenvolvidos do nosso País, nós veremos

que temos lá o povo nordestino, os irmãos do Nordeste que ajudaram a desenvolver

também esses Estados, com mão de obra pesada, com mão de obra culta, enfim, o

povo nordestino é composto de pessoas que são nossos verdadeiros irmãos. Eu não

tenho dúvida nenhuma de que o Governo Federal, a Presidente Dilma, não só deve

atender a essas solicitações como tem obrigação de atender a elas, porque se há

um povo que sempre foi fiel ao Presidente Lula e à Presidente Dilma é o povo do

Nordeste. É um povo que sempre respeitou, que sempre, politicamente, foi alinhado

com eles, em sua maioria. Agora chegou o momento de salvar vidas, de salvar

plantas, de salvar lavouras, como estava dizendo, dos nossos amigos, dos nossos

irmãos do Rio Grande do Sul que estão na região de Petrolina, uma das regiões que

produz uma das melhores uvas, as melhores frutas. Um avião cargueiro sai uma vez

por semana para a Europa levando os produtos que são produzidos ali. Então, eu

espero que a tua demanda, apesar de hoje ser uma segunda-feira e de termos

poucos Parlamentares nesta Casa, Deputado Gonzaga Patriota, tenha eco e seja

atendida, porque V.Exa. não está pedindo nada para si próprio, está pedindo para o

povo do Nordeste, que é um povo bom, um povo trabalhador. Todos merecem o

Page 72:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

72

respeito e a consideração desta Casa. Era o que tinha a dizer. Parabéns pelo seu

trabalho!

O SR. GONZAGA PATRIOTA - Eu agradeço o aparte a V.Exa., Deputado

Mauro Pereira. Peço até ao Presidente Izalci que insira neste nosso pronunciamento

todos os apartes, o aparte do Deputado Zé Geraldo, o do Deputado Luiz Couto e o

do Deputado Mauro Pereira. Vejo ali o Deputado Paes Landim, que é nordestino, do

Piauí. Lá existe uma região onde chove um pouco, por isso o Deputado Marcelo

Castro foge mais para o lado sul do Piauí.

Presidente, não está difícil fazer isso. Esse nosso projeto de lei de 1995,

reapresentado em 2013, está pronto. Bastou faltar água no Cantareira para jornal O

Globo publicar uma matéria grande. O jornal O Globo ligou para mim e perguntou:

“Como é que existe esse seu projeto e não se faz essa interligação do Rio Tocantins

com o São Francisco?” Agora faltou água no Cantareira. Eles estão precisando

desse seu projeto, que é exatamente para fazer uma parceria entre Rio de Janeiro,

Minas Gerais e São Paulo, para fazer aquela interligação de Bacias do Sudeste.

Então, eu quero saber se não vão fazer. Eu quero saber se não vão dar uma

olhadinha. Eu quero saber se o Ministro da Integração Nacional, que está sabendo

que eu vou fazer este pronunciamento, e o meu querido Presidente da Companhia

de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba — CODEVASF, o

Felipe Mendes, que é lá do Piauí e conhece de perto esse problema do Rio São

Francisco, não vão mandar lá, amanhã ou depois, alguém dar uma olhada, ver este

projeto que está aqui. Eu vou pedir ao Presidente Eduardo Cunha para colocá-lo

logo em votação aqui, para transformarmos isso em lei.

Page 73:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

73

Hoje, ao conversar com a Deputada Mariana, ela me disse: “Isso aqui é muito

importante, porque vamos ter a interligação hidroviária”. Os navios vão voltar a

circular no Rio São Francisco e, através de um canal de 200 quilômetros, vão entrar

no Rio Tocantins, levando o gesso do Araripe para a Amazônia, trazendo a madeira

da Amazônia para o Porto de Suape, para o Porto do Pecém.

Presidente Izalci, eu gostaria de pedir a V.Exa. o tempo da Liderança do meu

partido, acho que mais uns 10 minutos, para tirar a paciência de quem já está me

ouvindo há 25 minutos.

Não há como parar esse trabalho que estamos fazendo aqui, porque, da

maneira como está, se não se investir 20 e poucos milhões de reais lá em Petrolina,

no Lago de Sobradinho, a produção vai deixar de acontecer. Não há como essa

produção continuar. Além de outras coisas que precisamos na Região Nordeste, há

que se ver que, se aprovado esse nosso projeto...

Como disse, eu estava conversando hoje com a Deputada Mariana. Ela iria

apartear o meu discurso, mas teve que dar uma saidinha. O primeiro projeto, de

1.500 quilômetros, indo lá pelo Maranhão, é de 15 bilhões, 20 bilhões de reais. Este

aqui é um projeto de 1 bilhão, 1 bilhão e pouco de reais. Por que não fazer isso?

Então, eu quero, Sr. Presidente, fazer aqui um apelo, em nome de todos os

nordestinos. E não é em nome de Pernambuco, que está cortado pelo rio, ou no da

Bahia, de Sergipe ou de Alagoas, mas em nome da Paraíba, porque, Deputado Luiz

Couto, a transposição do Eixo Leste já está prontinha para sair de Floresta e já

chega a Sertânia; de Sertânia, vai a Monteiro e, de lá, não é mais necessário canal.

Ela vai por gravidade até Campina Grande abastecer todos aqueles mananciais. De

Monteiro, sai um canal para Arcoverde — há pouco a Prefeita Madalena ligou para

Page 74:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

74

mim —; de Arcoverde, a água chega até a Adutora do Agreste, para atender a 60 e

tantos Municípios. De Monteiro também sai um canal para Itapetim, para perenizar o

Rio Pajeú — uma perenização econômica, em que a água segue descendo,

diferente da do Rio São Francisco, que tem de subir. Ele nasce aqui no Sudeste, em

Minas Gerais, e vai lá para o Nordeste. Deus fez a parte dele. Falta o homem, que

Deus criou, fazer a sua parte, que não é apenas trazer a água do Rio Tocantins, é

fazer a interligação e cuidar do rio, cuidar da hidrovia, cuidar das margens do rio.

Temos um grande programa, feito inclusive pela CODEVASF, pelo qual todos

os Municípios da área da CODEVASF estão sendo saneados. São obras

importantes para Municípios como Salgueiro e Santa Cruz. Estive esta semana em

Inajá, em Tacaratu, com o Vereador Sarto, que está nos vendo também agora.

Precisamos trazer a vida de volta para o Rio Moxotó. O Lago de Ibimirim está seco.

Se for colocada água ali, vamos ver a riqueza daqueles projetos.

Sr. Presidente, eu quero, nesses minutos que me restam, referir-me aqui à

última página do discurso. Li a primeira; quero me referir à última. Eu acredito que

dê para se fazer a transcrição dele todo.

Digo no final do discurso que, desse ponto a jusante, lá na hidrovia, queremos

fazer a transposição anual de 16 mil metros cúbicos de água do Rio Tocantins para

o Rio São Francisco. Além de minimizar os impactos das variações climáticas que

prejudicam a vazão desse último, isso permitirá — eu escrevi aqui “permitiria”, mas

não é “permitiria”, é “permitirá”, porque isso vai acontecer — a ampliação e a

geração de energia elétrica, principalmente em Sobradinho e Xingó, onde já temos

as barragens prontas, e aumentará a área agrícola irrigada.

Page 75:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

75

Uma proposta complementar a essa seria a redução de 1 metro cúbico da

atual cota de operação do Lago de Sobradinho, o que reduziria em 120 metros

cúbicos por segundo a perda de água por evaporação. Assim, a perda atual de 450

metros cúbicos por segundo diminuiria para 330 metros cúbicos por segundo —

igual a minha moto, que era de 450 quilos, e agora eu troquei por uma de mesmo

tamanho com 330 quilos.

A redução da cota de operação não comprometeria as atividades

econômicas. Apenas a transposição de vazão, porém, não resolveria ou resolverá

esse problema.

Portanto, eminentes Deputados Luiz Couto, Zé Geraldo e outros

Parlamentares do Partido dos Trabalhadores que estão aqui, precisamos,

urgentemente, não de uma Frente Parlamentar, porque já existem demais, mas de

uma reunião da bancada do Nordeste — vamos conversar com o nosso querido

coordenador da bancada, o Deputado Júlio Cesar, sobre isso —, para tratarmos

somente desse problema. Precisamos trazer, Deputado Luiz Couto, a essa reunião,

o Governo, como, na semana passada, trouxemos aqui o Ministro da Integração

Nacional e Presidentes de determinados órgãos, para tratarmos desses assuntos.

Eu até levantei essa questão da transposição. O Ministro ficou interessado em ver

isso aí.

Por isso, eu quero fazer, aqui, esse apelo. Peço ao Presidente Izalci que, por

favor, dê total divulgação a este pronunciamento.

Vou escrever, aqui, um livro. Eu escrevi, há quase 30 anos, aqui, em 1987,

um livro: O rio São Francisco está morrendo.

Page 76:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

76

Em 1994, Fernando Henrique e o então Ministro da Integração — tinha outro

nome —, Gustavo Krause, foram à nascente do rio e deram uma olhada. O Rio São

Francisco está morrendo há 30 anos. Ele é muito bom de vida, e agora não dá mais

para segurar. Eu nunca o vi tão seco como está agora.

Eu não quero mais abusar do tempo que V.Exa. me deu.

Quero agradecer, primeiro, a Deus e, depois, aos homens e às mulheres

desta terra. Que a gente possa resolver esse problema!

Não dá para ficar aqui, falando, pedindo, às vezes até xingando. Isso é uma

coisa pequena, minha querida Presidente Dilma. É uma coisa pequena fazer um

canal de 200 quilômetros de Tocantins para a Bahia. Lá, ele vai sair em Santa Maria

da Vitória, vai sair no São Francisco, e aí vamos ter, se Deus quiser, o Rio São

Francisco regularizado, com 2.200, 2.500 metros cúbicos de vazão por segundo, o

Lago de Sobradinho cheio, e a riqueza correndo no meu querido Nordeste.

Muito obrigado, Presidente.

Fiquem todos com Deus!

PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quem como eu que se engajou na luta

por mudanças no Brasil desde a adolescência e, principalmente, a partir do dia em

que me filiei ao velho MDB — Movimento Democrático Brasileiro, no final dos anos

sessenta, isso significa, em termos bem claros, que não falo como adversário do

Governo da Presidente Dilma Rousseff, pelo contrário, venho contribuindo, ao logo

de mais de trinta anos consecutivos, para dar sustentação à administração federal

nesta Casa do Congresso Nacional.

Page 77:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

77

Mas o meu compromisso maior é com a população brasileira e de modo

particular, com meu querido Estado de Pernambuco e de um Nordeste que continua

sendo tratado como “o patinho feio” do Brasil.

Lá, tudo que tem que ser feito hoje pelo governo, fica para depois, ou nunca

acontece. Antes de refletir sobre tudo isso, fiz várias visitas ao sertão

pernambucano, onde acompanhei de perto o sofrimento dos meus conterrâneos que

estão enfrentando a pior seca das últimas cinco décadas.

Nada justifica o que o Nordeste está sofrendo. É como se a seca fosse um

fenômeno desconhecido, ou algo que chegou sem que ninguém tivesse

conhecimento desse fenômeno natural que mata os animais e atormenta milhões de

homens, mulheres, idosos e crianças.

O tratamento que o Governo Federal vem dando à seca nos últimas cinquenta

anos depõe contra os princípios morais e os direitos humanos, tamanha as

atrocidades enfrentadas por milhões de nordestinos. Faz algumas décadas que

saímos do anacronismo dos governos militares e o País passou a ser administrado

por nordestinos como José Sarney, Fernando Collor de Melo, Lula e o mineiro

Itamar Franco.

Também se esperava que a nossa região avançasse a partir do governo de

Fernando Henrique Cardoso que pregou, como sociólogo, ter sensibilidade e uma

visão ampla sobre os problemas regionais do nosso País, notadamente do Nordeste

que o mundo conhece muito mais, devido ao estado de miséria que enfrenta desde

o tempo do Império.

Os governos a que me refiro, não tiveram a mínima vontade de implementar

programas que permitissem ao povo nordestino conviver com a seca com o mínimo

Page 78:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

78

de dignidade. Sarney, que tem origem no Maranhão, um Estado nordestino, mas

costuma chover razoavelmente, prometeu implantar um projeto para irrigar um

milhão de hectares. O projeto não passou de um projeto.

Esses governos perderam a noção de que “o mal se corta pela raiz” e, mesmo

depois da chamada reeleição, eles nada fizeram durante oito anos para criar uma

estrutura hídrica para permitir que o nordestino tivesse ter uma plena convivência

com a seca.

Todos eles foram probos em fazer promessas mirabolantes e o Nordeste

nunca deixou enfrentar crises e mais crises e ter como saída emergencial o

famigerado carro pipa para o abastecimento humano.

Eu dizia que as coisas do Nordeste sempre ficam para depois, como se não

existisse a necessidade de execução de ações urgentes, consistente e perenes. O

presidente Lula surgiu como o melhor Presidente para o Brasil e melhor ainda para o

Nordeste, até porque é pernambucano de nascimento.

Fez boas ações nas áreas sociais e da educação, mas na hora de implantar

projetos estruturadores para o Nordeste, as coisas desandaram.

Nosso querido ex-presidente que de forma apressada e nada inteligente

defendeu a reeleição da presidente Dilma, depois de um desastroso primeiro

mandato, mas foi ele que, como presidente, lançou grandes projetos estruturadores

em Pernambuco, como a Transposição e a Ferrovia Transnordestina, mas ficaram

inacabados e, mais de quatro anos depois de Dilma, ainda andam a passos de

tartaruga.

Lula prometeu que inauguraria a Transnordestina em 2012 e a Presidente

Dilma entregaria a Transposição no ano seguinte, ou seja, agora em 2013.

Page 79:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

79

Lamentavelmente, o projeto da Transnordestina - que é bancado pelo BNDES, está

sofrendo uma considerável desaceleração: dos 8 mil trabalhadores contratados, não

resta mais ninguém. E olhe que ainda existe um embaraço contratual que deve

demandar um bom tempo para que o projeto retome o seu ritmo normal. Por tudo

isso, fica difícil (e até impossível) prevermos quando a Transnordestina vai entrar

nos trilhos.

A Transposição, vendida por Lula como sendo a redenção dos Estados de

Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte — historicamente os mais

atingidos pela seca, virou um verdadeiro “samba do crioulo doido”, só que muito caro

e quem está dançando é o povo da região Nordeste.

O projeto inicial da transposição do Rio São Francisco custaria R$ 4 bilhões,

teve seu custo dobrado para mais de R$ 8 bilhões e entramos nos estágio fantástico

do “ninguém sabe ninguém viu” — quando se trata de informações sobre sua a

conclusão.

De acordo com informações oficiais e extraoficiais, as obras não atingiram

ainda 60 por cento. O Ministro da Integração Nacional, Gilberto Magalhães Occhi, na

última quinta feira dia 11, na Comissão de Secas, previu, esta semana, que o projeto

será concluído em 2016, ou seja, mais dois anos pela frente.

Enquanto isso, o grau de precariedade, consequência do descaso

governamental, chegou a tal ponto que há lugares onde nem o carro pipa é capaz de

levar água das às famílias flageladas, simplesmente porque não existem mais

mananciais em condições de atender, porque a água desapareceu, ficando o chão

está esturricado.

Page 80:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

80

Em vez de colaborar para que os nordestinos tivessem melhores meios para

sobreviver ao eterno flagelo da seca, esses governos contribuíram para o aumento

das mazelas, da imoralidade administrativa, da indústria da seca e engordaram a

chamada literatura da miséria que é praticada às vezes de foram irresponsável por

parte da imprensa.

Imagine o que é um pequeno agropecuarista de 70 anos de idade perder suas

dez vaquinhas que serviam para dar leite aos seus netos. Ele não tem mais sono e

teve que aumentar a dose de remédio controlado que é obrigado a tomar para se

manter vivo.

Os cercados e os velhos currais se transformaram em peças de museu da

desolação, do descaso e da miséria. Até o mandacaru, que “quando flora na seca é

sinal que a chuva chega ao sertão”, está em extinção porque foi quase todo

queimado, anos seguidos, para servir como alimento para as poucas reses que

ainda restam e estão ameaçadas de morrer de sede e fome.

Levantamento feito sobre os prejuízos causados pela seca em Pernambuco

até o mês de março último mostra números assustadores, como se o Agreste e o

Sertão do Estado tivessem sido devastados por uma tragédia anunciada há muito

tempo e que só agora começa a ser avaliada.

A violência com que a seca se estende sobre o território nordestino é

impressionante em relação aos registros de anos anteriores. Em Pernambuco, por

exemplo, 126 dos 184 municípios estão em situação de emergência, muitos em

calamidade pública. A escassez de água já chegou a muitas cidades do Agreste e

região da mata, delas que nunca sofreram nenhum problema de abastecimento

d'água.

Page 81:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

81

No que pese os economistas e os números que pouca gente

considera importantes no seu dia-a-dia, segundo os quais o PIB do Nordeste não

caiu e esta é a região que mais tem crescido nos últimos anos, além da arrecadação

do ICM não ter sofrido com a seca, o resultado do abalo na economia de

Pernambuco representa uma verdadeira catástrofe para os pequenos e médios

criadores do Sertão à região do Agreste pernambucano:

* No Agreste e Sertão do Estado morreram 150 mil bovinos.

* A queda da produção de leite foi de 72% em todo o Estado.

* 17% dos criadores de gado abandonaram a atividade.

* O abate aumentou em 230 mil bovinos, isto é, os criadores levam os animais

para o abate antes do tempo, para o animal não morrer de fome (abate precoce).

* 330 mil bovinos saíram de Pernambuco para outros Estados. Só o

Maranhão recebeu 100 mil bovinos, sobretudo fêmeas.

* O rebanho de Pernambuco diminuiu em 710 mil animais.

Pois bem, Sras. e Srs. Deputados, os municípios estão amargando uma

terrível queda nas na arrecadação do Fundo de Participação dos Municípios - FPM

que representa para a maioria deles os recursos mais importante para pagamento

de pessoal.

Os Prefeitos se queixam que a queda do FPM tem a ver com a redução do IPI

à indústria automobilística, significando que o Governo Federal dá com uma mão

aos nordestinos e com duas aos empresários, ou em palavras, cobre um santo e

descobre dois ampliando as desigualdades no país dos coitadinhos.

Por este motivo, a Associação Municipalista de Pernambuco — AMUPE, cujo

Presidente, o Prefeito de Afogados da Ingazeira, meu primo, José Patriota, ficou

Page 82:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

82

desapontada com o presente que a presidente Dilma deu aos adquirentes de

automóveis, até o final do ano passado, prejudicando os repasses aos municípios.

A AMUPE também ficou apreensiva com o anúncio feito pelo chamado pacote

de bondades apresentado pela presidente Dilma durante a reunião da SUDENE com

os governadores do Nordeste, realizada em Fortaleza. Sobre isso, o jornalista

Magno Martins, com origem no sertão, disse no seu blog, com bastante propriedade:

“O valor de R$ 9 bilhões, mas quando dissecado vira quase um castelo de areia”.

Vou ler na integra o que escreveu Magno Martins: “Em termos de

investimentos, pode se subtrair de imediato R$ 3,147 bilhões referentes a dívidas

renegociadas e não perdoadas, como queriam os governadores. Mais R$ 2,1 bilhões

são de equipamentos agrícolas, máquinas destinadas aos municípios. São

importantes, são! Mas, na realidade, essas máquinas são produzidas no Rio Grande

do Sul, deixando assim a riqueza gerada dos impostos por lá. Quando entregues

aos municípios, os equipamentos — retroescavadeiras, motoniveladoras,

caminhões-caçambas, caminhões pipa e pás-carregadeiras — geram mais

despesas e muitos municípios não podem manter, porque falta dinheiro até para o

combustível.

Nenhum governador, portanto, terá dinheiro na conta de imediato para

aumentar parcerias com os municípios, gerar mais empregos e, consequentemente,

minimizar os efeitos da estiagem, a maior dos últimos 50 anos. Mas pela forma

midiática das medidas a impressão que ficou é que Dilma está de fato preocupada e

envolvida com a temática da seca no Nordeste.

Não é verdade. Governo chega atrasado. Há municípios em que não há mais

água sequer para o consumo humano e o rebanho bovino está sendo dizimado.

Page 83:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

83

Pernambuco, por exemplo, já perdeu metade das suas 2,1 milhões de cabeças de

gado. Se a União realmente tivesse priorizado a seca, essa tragédia, certamente,

poderia ter sido evitada.

Para os municípios, a reunião de Fortaleza foi uma tremenda frustração. Na

prática, os prefeitos só ganharam mais um carro-pipa e uma pá-escavadeira.

Presidente da AMUPE, José patriota, Prefeito de Afogados da Ingazeira, não teve

sequer o direito a falar nessa reunião, mas levou o inconformismo da Federação

Nacional dos Municípios, entidade que representou a própria presidente Dilma, tão

logo acabou o encontro.

Isso não é novidade, todos esses governos foram probos em fazer promessas

mirabolantes e o Nordeste nunca deixou de enfrentar crises e mais crises e ter como

saída emergencial o famigerado carro- pipa para o abastecimento humano. Eu dizia

que as coisas do Nordeste sempre ficam para depois como se não existisse a

necessidade de execução de ações urgentes, consistente e perenes. Lula surgiu

como o melhor presidente para o Brasil e melhor ainda para o Nordeste, até porque

é pernambucano de nascimento. Isso é inegável, não tenhamos dúvida, tão ruins

foram seus antecessores, com raríssimas exceções.

O ex-líder sindical fez boas ações nas áreas sociais e na educação, mas na

hora de implantar projetos estruturadores para o Nordeste, as coisas desandaram,

foram medidas tímidas e ineficientes, não passando de uma gota d’água no oceano.

Enquanto isso, o grau de precariedade, consequência do descaso

governamental, chegou a tal ponto que há lugares onde nem o carro-pipa é capaz

de levar água às famílias flageladas, simplesmente porque não existem mais

Page 84:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

84

mananciais em condições de atender, porque a água desapareceu, ficando o chão

esturricado.

Em vez de colaborar para que os nordestinos tivessem melhores meios para

sobreviver ao eterno flagelo da seca, contribuíram para o aumento das mazelas, da

imoralidade administrativa, da indústria da seca e engordaram a chamada literatura

da miséria, que é praticada às vezes de forma irresponsável por parte da imprensa.

Os cercados e os velhos currais se transformaram em peças de museu da

desolação, do descaso e da miséria. Até o mandacaru, que “quando flora na seca é

sinal que a chuva chega no sertão”, como dizia o poeta, está em extinção porque foi

quase todo queimado, anos seguidos, para servir como alimento para as poucas

reses que estão ameaçadas de morrer de sede e fome e sede nos próximos dias.

A escassez de água já chegou a muitas cidades do Agreste e região da Mata,

delas que nunca sofreram antes nenhum problema de abastecimento d'água. No

que pese os economistas e os números que pouca gente considera importantes no

sua dia-a-dia, segundo os quais o PIB do Nordeste não caiu e esta é a região que

mais tem crescido nos últimos anos, além da arrecadação do ICM não ter sofrido

com a seca, o resultado do abalo na economia de Pernambuco representa uma

verdadeira catástrofe para os pequenos e médios criadores do Sertão e Agreste

pernambucanos.

No Agreste e Sertão do Estado morreram 150 mil bovinos. A queda da

produção de leite foi de 72% em todo o Estado. 17% dos criadores de gado

abandonaram a atividade. O abate aumentou em 230 mil bovinos, isto é, os

criadores levam os animais para o abate antes do tempo, para o animal não morrer

de fome (abate precoce), 330 mil bovinos saíram de Pernambuco para outros

Page 85:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

85

Estados. Só o Maranhão recebeu 100 mil bovinos, sobretudo fêmeas. O rebanho de

Pernambuco diminuiu em 710 mil animais.

Aliás, antes de FHC a situação era ainda pior. As chamadas Frentes de

Emergência no Governo de João dos Cavalos, João Batista Figueiredo eram nada

mais do que a escravidão de homens e mulheres, negros e brancos, trabalhando

nas pequenas obras hídricas nas caatingas, durante o mês inteiro, para receberem

meio salário mínimo que, há época, correspondia a 40 dólares, isto é: o

correspondente a R$ 40 por mês.

O Programa Bolsa Renda começou pagando 85 reais, em seguida, esse valor

foi diminuído para 60 reais e nesse momento, encontra-se em um ridículo valor que

não resolve os problemas das famílias que o recebe. Em outro caso concreto,

especificamente no município de Dormentes, em Pernambuco, o número de

alistados nesse Programa é de quase três mil e quinhentas pessoas. No entanto, o

programa Bolsa Renda contempla apenas mil e duzentas pessoas. Isso quer dizer

que mais de duas mil famílias dessa cidade, ficam sem ajuda governamental e na

total miséria.

O Governo Federal já gastou muitos bilhões de reais em ações emergenciais

durante as últimas secas ocorridas entre 82/84; 1993/1994; 1998/ 2000 e a atual que

perdura desde 2011. Esses recursos foram empregados em ações como a

Distribuição de Cestas Básicas e outras ações assistenciais; Água em Carros-Pipa;

subsídio em rações animais e pequenos créditos bancários. Só agora, começaram

as ações do Programa Água Para Todos, com a instalação de cisternas e

construção de pequenas adutoras, poços e açudes.

Page 86:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

86

Um Projeto tão importante como a Integração da Bacia do Rio São Francisco

com outras bacias da região nordeste, vem se arrastando há cinco anos e, ainda

não tirou uma gota d’água desse Gigante Rio, para atenuar a sede dos nordestinos.

A chamada Transposição das Águas do Rio São Francisco vai beneficiar quase

todos os Estados nordestinos e terá um caráter de permanência muito mais

importante para a população nordestina do que essas “emergências” em anos sem

chuva.

Na última visita que fiz recentemente a região sertaneja do meu Estado, pude

constatar os danosos efeitos da seca sobre aquele sofrido povo. Estive no Pajeú, no

Sertão Central, no Araripe e na região de Petrolina, nenhum agricultor colheu um

grão de milho, feijão ou outra cultura para se alimentar. Aliás, em todo o Estado de

Pernambuco, houve uma perda total nas lavouras, incluindo o algodão, devido à

irregularidade das chuvas.

A ineficiência do Governo Federal para combater os efeitos da estiagem é

estarrecedora. Se gasta muito dinheiro, com ações ineficazes e temporárias.

Todos os municípios do sertão e do agreste pernambucano se encontram em

estado de emergência em consequência dessa seca. Seus Prefeitos decretaram a

emergência, o Estado absorveu e reconheceu. Igualmente o Governo Federal, mas,

as ações são anunciadas, mas, na prática, não chegam aos necessitados.

A seca, uma das mais rigorosas dos últimos 60 anos, tem trazido grandes

transtornos para a população sertaneja. O problema que se arrasta ao longo dos

anos e expõe a ineficiência do Poder Público já atinge mais de três milhões de

pessoas em Pernambuco, segundo estatísticas do Governo.

Page 87:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

87

Em pleno século 21, uma legião magra de miseráveis ainda depende das

esmolas institucionais. Carros-pipa e cartões-alimentação diminuem o sofrimento e

aumentam a humilhação de um povo que só precisa de água para ser feliz.

Há muito tempo o povo nordestino se angustia com as secas, que flagelam

terrivelmente as populações mais pobres, o agricultor, o homem da roça, forçando

inclusive a abandonarem suas terras e procurarem as cidades para não ver suas

famílias sofrendo e passando fome. O que lamentamos é que isso vem acontecendo

há séculos, desde as primeiras secas que se tem conhecimento de 1827/1830 e,

particularmente a de 1875/1877, que até hoje está na cabeça dos nordestinos, como

a maior seca da nossa história, elas que marcaram o início da açudagem no

semiárido brasileiro e desde então são discutidas providências para atender as

secas e socorrer os sertanejos, mas nada se resolve.

Venho denunciando e defendendo o povo nordestino, cobrando ações para o

combate aos efeitos da seca, desde que entrei na vida pública há mais de 40 anos,

dos quais, 33 como deputado. Lembrei que em 1982, há mais trinta anos, quando

nos elegemos Deputado pela primeira vez, o governador do Estado de Pernambuco

era Roberto Magalhães e o Ministro do Interior, Mario Andreazza. Naquele tempo a

seca era terrível, castigava de forma cruel o povo nordestino. Morreu muita gente de

fome e de sede, e aqueles que sobreviveram, foi graças à criação das frentes de

emergência do governo federal.

Adutora de Salgueiro

Mesmo com dificuldades financeiras, atendendo a um Projeto de minha

autoria, o então governador de Pernambuco, Roberto Magalhães, construiu no início

dos anos oitenta, a chamada adutora de Salgueiro, permitindo o abastecimento

Page 88:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

88

d’água do Rio São Francisco para as cidades de Salgueiro, Terra Nova, Parnamirim,

Serrita e Verdejantes, que matou a sede do povo dessas cidades.

Quero falar de um dos discursos que fiz naquela época, na Assembleia

Legislativa do Estado de Pernambuco, sobre “Soluções Emergenciais para Seca”,

sobre um documento elaborado durante a 19ª Assembleia do Conselho Pastoral da

Regional da CNBB. O Seminário foi realizado em Olinda, coordenado por Dom

Helder Câmara e contou com a participação de bispos de todo o Brasil, que

discutiram sobre as medidas que deveriam ser adaptadas para minimizar os

seculares problemas do semiárido, a seca.

Já naquela época, os bispos ofereceram no documento o caminho que

deveria ser seguido para se ter à redução desses problemas da seca, por meio de

formas simples, desembaraçadas, lógicas e, sobretudo humanas.

As propostas contidas no “decálogo” elaborado com a participação de leigos e

religiosos vindos dos pontos mais distantes do nordeste constituíam o anseio da

maioria do povo. Aquele documento não exigia o impossível nem o irracional.

Sugeria pelo contrário, uma tomada de consciência por parte dos poderes públicos,

a partir de uma reforma agrária. Dentre os signatários desse importante documento

estavam figuras como Dom Helder Câmara, Dom Francisco Austregésilo Mesquita,

Dom Gerardo de Andrade Pontes, então Bispo da Diocese de Petrolina, e o Bispo

Diocesano de Juazeiro/BA, Dom José Rodrigues, todos hoje de saudosa memória.

É porque os bispos na sua ação pastoral que acompanhavam mais de perto a

vida dos nordestinos eram eles os verdadeiros pastores daquele imenso rebanho

humano que não queria sobreviver à custa de projetos sofisticados, que não

Page 89:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

89

custavam caro e não eram executados para beneficiar os mais necessitados, mas

resultavam em medidas paliativas.

Quando os bispos nordestinos naquela época disseram que “somente

mudanças estruturais poderiam resolver o problema da seca”, eles estavam

firmando posições plenamente defendidas pela sociedade regional, pela sociedade

civil, por políticos, intelectuais e trabalhadores comprometidos com as condições de

vida do povo nordestino.

No início dos anos oitenta, ainda como Deputado Estadual, fiz esse relato e,

como se pode observar, o povo nordestino, principalmente o homem do campo,

continua sofrendo com a seca, porque as políticas públicas implementadas para

combater a seca ainda não solucionaram o problema.

Para quem vive no interior desse imenso nordeste, a frase “o que Deus

quiser” soa sempre como uma dor profunda que sai do coração do sertanejo.

Quantas lutas perdidas, quantos sofrimentos, quantas decepções com as promessas

de alguns políticos. A frase muitas vezes tem a conotação de um íntimo desespero,

mas, ao mesmo tempo, de confiança naquele Deus em que o sertanejo sempre

repõe sua última esperança, guardada no fundo, no cantinho mais escondido.

Resignação, mas não desistência.

E desta vez, a mesma história se repete. Recebi de algumas lideranças

comunitárias de Pernambuco, apelo dolorido de quem ainda confia em Deus, mas

perdeu toda a confiança nos homens, especialmente em alguns políticos do lugar

onde moram e, não é para menos. Quantos sofrimentos, quantas caminhadas para

ter uma lata de água barrenta que dão cólicas e disenterias, que não mata a sede,

quando na mesma caatinga esturricada pelo sol, a mansão do rico tem piscina até

Page 90:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

90

de água mineral, plantas vicejantes regadas pela antiga SUDENE, porque a

SUDENE de hoje não está regando mais nada, rezes bem alimentadas (como a

mesma TV mostrou em muitas outras secas).

Fora dali, crianças sedentas, famintas e com verminose, mulheres

ressequidas, sertanejos enrugados pela inclemência do sol e desesperados, em

busca de uma gota de água para aliviar a sede, sua, da família e dos animais que

ainda restam e que deveriam providenciar sua subsistência.

Estamos em junho, todos os açudes estão secos, o sertanejo está vivendo o

enésimo drama da seca nordestina que dura há séculos. Tenta sobreviver de

qualquer maneira, esperando o socorro dos carros-pipa: quando chegam (se é que

chegam) é como festa de Natal que, aliás, no ano passado não tiveram.

Tenho que reconhecer que algumas prefeituras estão tentando algo como

carros-pipa, algumas adutoras, mas tudo insuficiente para atender a demanda dos

flagelados, alguns açudes, ainda inacabados, cujo resto de água podre nem serve

para matar a sede dos animais, quanto mais das pessoas.

Na longa história dessas secas, algumas coisas foram feitas, mas poucas,

pelo muito dinheiro que se perdeu nos caudais dos administradores públicos e da

burocracia sem limites, mas o povo continua sofrendo muito. A seca dos anos 70

durou 5 anos, depois veio a de 1981, que durou mais 5 anos, as de 1992/1993 e

1998/2000, que foram as maiores, pelo sofrimento e pelo descaso das autoridades.

O povo diz que, apesar do pouco que tinha os flagelados, tudo dividiam entre si,

ajudando em particular as mulheres e as crianças, enquanto muitas vezes os

homens fugiam do campo para a cidade, em busca de nova vida, mas,

frequentemente, esqueciam os que tinham deixado para trás.

Page 91:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

91

Adutora do Oeste

Em 1990, apresentei Projeto de Lei para a construção da Adutora do Oeste,

do Rio São Francisco ao Araripe, no Estado de Pernambuco. A construção dessa

Adutora destinou-se ao abastecimento d’água dos municípios de Araripina,

Trindade, Ipubi, Ouricuri, Bodocó, Granito, Santa Cruz da Venerada, Santa Filomena

e Sítio dos Moreiras, no Estado de Pernambuco. A Adutora do Oeste beneficia hoje

mais de 300 mil pessoas em 43 localidades da região. A obra contempla 37

comunidades pernambucanas.

Para ser efetivada a construção dessa tão importante obra, tivemos até que

bloquear rodovias na região do Araripe, como ocorrera no dia 18 de maio de 2000,

quando cerca de dois mil moradores do município de Araripina, no sertão do Araripe

pernambucano, bloquearam o quilômetro 22 da BR-316, que liga Pernambuco aos

Estados do Piauí, Maranhão e Pará, protestando pela paralisação das obras da

Adutora do Oeste. Esse protesto do dia 18 de maio de 2000, durou mais de cinco

horas de bloqueio da BR-316, o que deu uma clara ideia da insatisfação daquele

povo com o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.

A seca, além de ser um grande problema climático, é uma situação que gera

dificuldades sociais para as pessoas que habitam a região. Com a falta de água,

torna-se difícil o desenvolvimento da agricultura e a criação de animais. Desta forma,

a seca provoca a falta de recursos econômicos, gerando fome e miséria no sertão

nordestino. Muitas vezes, as pessoas precisam andar durante horas sob o sol e

calor forte, para pegar uma lata de água, muitas vezes suja e contaminada. Com

uma alimentação precária e consumo de água de péssima qualidade, os habitantes

do sertão nordestino acabam vítimas de muitas doenças.

Page 92:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

92

O desemprego nessas regiões também é muito elevado, provocando o êxodo

rural (saída das pessoas do campo em direção as cidades). Muitos habitantes fogem

da seca em busca de melhores condições de vida nas cidades. É este o medo do

líder político e Vereador, Luciano Nunes, de Santa Cruz da Venerada, no sertão

pernambucano, que se lamenta dizendo que a população da zona rural daquele

município está sofrendo com a seca. “Ela ainda estava sobrevivendo com a água

que era abastecida com carros pipa, mas nem isso esses agricultores têm mais, a

maioria dos carros-pipa foi cortada. As plantações estão todas perdidas, não existe

mais nenhuma alternativa, o jeito é ir embora, procurar outro lugar para alimentar as

nossas famílias”.

Em razão do apelo de tantas lideranças políticas e comunitárias do interior do

município de Petrolina, recentemente marquei uma audiência com o Secretário de

Agricultura e Recursos Hídricos do Estado de Pernambuco, Nilton Mota, a quem

levei além de alguns Presidentes de Associações Rurais, pleitos de obras em suas

comunidades, como adutoras, poços artesianos, barragens e, principalmente, que

aumente o numero de carros pipa para distribuição água para a população, no

sentido de ajudar o homem do campo que já não suporta mais o sofrimento, pela

falta de água. O Secretário de Agricultura Nilton Mota, como sempre, além de

sensível aos pleitos, autorizou a perfuração de poços artesianos e ainda outros

pedidos dessas lideranças.

Sei que os problemas causados pelas constantes secas na região nordeste

não vão acabar nunca, se não forem tomadas providências definitivas para

convivência com esse fenômeno, sei também que a presidente Dilma está sensível

ao que está acontecendo na região, e que apesar dos programas do Governo

Page 93:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

93

Federal, em parceria com os Governos Estaduais e Municipais, para minimizar os

efeitos da seca, como a construção de cisternas; Programa Água Para Todos; a

transposição do Rio São Francisco para levar água do rio São Francisco para as

regiões do semiárido do nordeste, desta forma, diminuindo, o impacto da seca sobre

a sofrida população, são ações estruturadoras e muito importantes, mas ainda é

pouco. O nordestino está morrendo de sede, sofrendo com a seca e é agora que

eles precisam ser atendidos.

Sei que o problema da seca no nordeste não vai acabar nunca, sei também

que a Presidente Dilma Rousseff e o Governador Paulo Câmara, estão sensíveis ao

que está acontecendo, e que apesar dos programas do governo Federal para

minimizar os efeitos da seca, como a construção de cisternas; programa água para

todos; a transposição do Rio São Francisco para levar água do rio São Francisco

para as regiões do semiárido do nordeste, desta forma, diminuindo, o impacto da

seca sobre a sofrida população, são ações estruturadoras e muito importante, mas

ainda é pouco.

O nordestino está morrendo de sede, sofrendo com a seca e é agora que eles

precisam ser atendidos. Portanto, faço uma apelo em nome dessa população sofrida

que não tem a quem recorrer que o Governo Federal libere mais recursos para que

o programa dos carros-pipa possa voltar a funcionar, e distribuir água para aqueles

que têm sede.

A questão da estiagem, mais uma vez, deixa o povo nordestino em

desespero. A situação é muito mais grave do que imagina o governo federal.

Page 94:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

94

Até o momento, as ações do governo têm sido insuficientes para diminuir o

sofrimento da população. A distribuição de cestas básicas e água tem atingido um

número aquém do necessário para o povo.

Outro grave problema é que milhares de famílias de agricultores, assentados

nas regiões do agreste e do sertão já perderam toda a sua produção. O caso é muito

grave, também, nos 16 assentamentos localizados entre os municípios de Cabrobó

e Petrolina. Com o fechamento das comportas ao longo do Rio São Francisco, os

assentamentos estão ficando sem água para irrigação e 70% da produção já está

perdida. Nas propriedades rurais de Sequeiro, localizadas no sertão do Pajeú,

Moxotó, Central e Araripe e incluindo a área seca do Sertão do São Francisco, a

produção foi totalmente perdida.

Não posso conceber que o governo, através das instruções normativas dos

Bancos do Brasil e do Nordeste, continue pressionando pobres agricultores da

região nordestina, para quitarem parcelas de empréstimos rurais vencidos, quando a

região encontra-se em estado de emergência e até, em parte, decretada de

calamidade pública.

Seria no mínimo um contrassenso do governo, reconhecendo a calamidade

pública e, ao mesmo tempo, permitindo que os seus Bancos continuem cobrando as

dívidas, quando os grandes agricultores foram beneficiados com essas

prorrogações, através da Medida Provisória nº 2.196-02/2001, e ainda tiveram suas

dívidas transferidas para o Tesouro Nacional, o que pedimos sejam incluídos,

também, os pequenos e médios produtores rurais que tiveram alguns benefícios,

mas, a última lei dessas ações, se acaba em 31 de dezembro deste ano de 2015,

ainda sem uma regulamentação satisfatória.

Page 95:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

95

Dessas andanças que fiz na região sertaneja de Pernambuco, semana

passada, me reuni com agricultores e seus representantes dos Sindicatos dos

Trabalhadores Rurais, entidades religiosas, clubes de serviços, instituições não

governamentais, enfim, com a classe mais excluída desse processo neoliberal, em

vários municípios sertanejos, dentre eles: Dormentes, Afrânio, Petrolina, Lagoa

Grande, Santa Cruz, Ouricuri, Bodocó, Exú, Moreilândia, Serrita, Salgueiro, Santa

Maria da Boa Vista, Orocó, Cabrobó, Belém do São Francisco, Carnaubeira da

Penha, Floresta, Petrolândia, Serra Talhada, Triunfo, Carnaíba, Iguaraci, Custódia e

minha cidade natal, Sertânia.

Em todas elas, o pleito dos agricultores é no sentido de se mobilizar as

bancadas de todos os Partidos Políticos da região Nordeste, para conseguir que o

governo da Presidente Dilma edite uma Medida Provisória para anistiar as dívidas

dos pequenos agricultores, inclusive, as que foram transferidas ao Tesouro

Nacional, porque essa lei que aí está não resolve os problemas junto aos bancos.

Feitas estas considerações, gostaria de sugerir ao governo federal que na

edição dessa Medida Provisória inclua a anistia de todos os débitos contraídos para

agricultura e pecuária, por pequenos e médios agropecuaristas, em todos os

Estados do Nordeste, através dos Bancos oficiais, isto é: Caixa Econômica Federal,

Banco do Brasil e Banco do Nordeste, até a presente data.

Pleiteio, ainda, do Governo Federal, a abertura de créditos com recursos a

fundo perdidos, do Programa Emergencial de Combate aos Efeitos da Seca, em

valores compatíveis com os investimentos projetados, para melhoramento e

emprego de mão de obra nas áreas rurais dessa região, desconsiderando qualquer

tipo de inadimplência dos proponentes, pequenos e médios produtores rurais.

Page 96:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

96

Desejo conclamar a todos os senhores Deputados e Deputadas da região

Nordeste, independentemente de ideologia ou cor partidária, para me apoiarem

neste apelo veemente e dramático, objetivando socorrer os nossos irmãozinhos que

tanto sofrem, no dia a dia, enfrentando o causticante sol nordestino, em busca de

sobrevivência e, que, lamentavelmente já perdem suas forças e a esperança de

viver.

A questão da seca no Nordeste brasileiro, não tem tido por parte dos

governantes nacionais, a devida preocupação.

A quantidade de chuvas caídas nessas localidades foi mínima, e nada o

homem do campo lucrou, para a mínima sobrevivência de sua família. Os

mananciais existentes não recuperaram suas capacidades, carecendo outra vez, do

envio de carros-pipa para essas localidades.

A situação mais uma vez, é muito grave. A seca já deixou em situação de

colapso pelo menos seis açudes no interior do Estado, até o momento. O quadro

mais assustador é no sertão, mas a oferta de água no agreste também já está

comprometida. O monitoramento de açudes, realizado pela Secretaria Estadual de

Recursos Hídricos, mostra que as cidades de Parnamirim, Ouricuri, Sertânia,

Custódia (no sertão), além de Pesqueira e Santa Cruz do Capibaribe (no agreste),

estão com seus respectivos açudes completamente secos, dificultando o

abastecimento de água para consumo humano e a produção de alimentos.

Com o agravamento da seca, pelo menos mais cinco outros reservatórios

devem engrossar a lista de açudes em colapso, especialmente no sertão. O Açude

de Rosário, que abastece o município de Iguaraci, no sertão do Pajeú, encontra-se

com apenas 2% de sua capacidade de 34 milhões de metros cúbicos. Na mesma

Page 97:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

97

situação, encontram-se os açudes que abastecem as cidades de Pedra, Ouricuri e

Floresta.

No sertão do Moxotó, a cidade de Ibimirim é uma das áreas mais atingidas

pela estiagem prolongada. O Açude de Poço da Cruz, com capacidade para 514

milhões de metros cúbicos, encontra-se hoje em situação crítica, com apenas 3% do

seu volume total. O pior de tudo, é que o Açude de Poço da Cruz é a mola-mestra

da economia local. Cerca de 800 famílias dependem de sua água para produzir

banana, tomate, milho, acerola e outros produtos.

Segundo os relatórios oficiais disponíveis, colhidos por satélite, a situação

tende a se agravar, para infelicidade do sertanejo. No agreste, na Bacia do

Capibaribe, o Açude de Pão de Açúcar, com 54,6 milhões de metros cúbicos, na

cidade de Pesqueira, perdeu completamente sua capacidade de acumulação. Já o

Açude de Poço Fundo, com 28 milhões de metros cúbicos, em Santa Cruz do

Capibaribe, já não faz jus ao nome, estando em situação de colapso desde a

primeira quinzena de maio.

Apesar desse quadro caótico, a meteorologia descarta chuvas este ano no

sertão pernambucano, até o final do ano.

Pois bem, como anunciei anteriormente, só em Pernambuco, 126 municípios

já estão em estado de emergência, decretados pelo Governador Eduardo Campos e

reconhecidos pelo Ministério da Integração Nacional. Desses municípios, 27

anunciaram que vivem hoje em situação ainda pior, chegando à calamidade pública.

Na última semana, o Presidente da AMUPE — Associação Municipalista de

Pernambuco — Prefeito de Afogados da Ingazeira, José Patriota, esteve no Palácio

do Campo das Princesas e entregou ao Governador Paulo Câmara, um documento

Page 98:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

98

destacando a real condição de emergência de dezenas de municípios

pernambucanos, do sertão e do agreste, que carecem urgentemente de ações

governamentais.

Segundo José Patriota, Presidente da AMUPE, o Estado de o Estado de

Emergência foi decretado em razão da situação que é muitíssima dramática e,

pedindo que as autoridades governamentais do Estado de Pernambuco e federais,

acelerem as providências para socorrerem esses municípios envolvidos.

A seca é uma coisa terrível. Muita gente morre, outros têm sua vida encurtada

pela fome. Nunca se fez um estudo para medir o custo humano real de uma seca.

Geralmente, isso é ignorado, ocultado. A realidade é que nessa seca, tudo,

aparentemente, foi decidido com muito desleixo. Como já disse, há a indústria da

seca, gente que ganha com a seca, porque ela significa muito dinheiro do governo

chegando para o comércio, para financiar as frentes de trabalho, os carros pipa, etc.

A seca é um negócio.

Se os governos já que não implementaram uma política de Reforma Agrária,

tivessem, pelo menos, apoiado os movimentos sociais com essas finalidades, a

exemplo das Ligas Camponesas, Movimento Eclesiais de Bases Rurais, Grito da

Terra, MST e outros, com certeza não tínhamos mais tanta gente passando fome no

Brasil.

O MST é um movimento legítimo, que é respeitado e já demonstrou que tem

grande responsabilidade, não improvisa nada. O MST partiu de uma situação de

desleixo do governo. É um movimento da sociedade civil, organizado

espontaneamente, preocupado com a educação, e alcançando todo o Brasil. É muito

positivo.

Page 99:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

99

O Brasil é um país felizardo por ter um movimento dessa ordem, que suscita

no povo, nos mais pobres, o desejo de ficar na agricultura. Em nenhuma parte do

mundo existe um movimento igual. É sempre o inverso: todos querem deixar a

agricultura, emigrar do campo. E o MST educa o pessoal para mostrar que, num

país onde não há criação de emprego urbano, onde se passa fome nas cidades,

existe a chance de ficar no campo, trabalhando.

Como é que se pode industrializar uma região sem fomentar a produção de

alimentos? O grande problema do nordeste é a fome. Em segundo lugar, é a

escassez de alimentos, porque todas as áreas do nordeste são dependentes de

importação de alimentos. Portanto, o grande problema é baratear a produção própria

de alimentos. Para isso precisaria de ajuda e ação pública.

São muitos os problemas do nordeste. Uma das possibilidades de ação é a

irrigação. A irrigação tem de ser feita dentro de um contexto maior, porque sabemos

que, se você faz irrigação para concentrar renda, o problema social fica de pé. A

irrigação teria de vir com o controle de uso do solo que permitisse uma divisão de

renda. Esse é o sistema do mundo inteiro. Você chega a Israel e vê pequenas áreas

de terra que são irrigadas. Pode-se ter uma boa renda com um hectare irrigado. Por

outro lado, precisa-se ter uma visão de conjunto da região, uma política global.

Resta saber se a irrigação está ajudando a resolver o problema da produção

de alimentos. Ela parece orientada para a fruticultura de exportação, a produção de

vinhos. O grande problema do nordeste é social, não é econômico; é a falta de

emprego para o povo. Emprego não é somente uma questão de renda; é também

uma condição de sobrevivência da população. O nordeste cresceu economicamente,

mas o seu drama social continua igual ou até pior.

Page 100:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

100

Esse é o modelo de irrigação de Petrolina, onde poucos produzem o que

comer, pois, as taxas de água, luz e administração da CODEVASF, levam tudo que

os coitados colonos produzem, não sobrando nada para sobreviverem. Os

empresários ricos, nada sofrem, pois, além dos fortes financiamentos com juros

subsidiados, não produzem alimentos, produzem frutas para o consumo europeu,

cuja exportação é feita em dólar.

Tudo termina na falta de uma Política Agrária com a desapropriação de terras

por interesse social e sua distribuição com os trabalhadores organizados pelos seus

Sindicatos, Federações, Confederações, Igrejas e pelo próprio MST, também

preparado para isto.

Se houvesse uma Reforma Agrária, já seria uma maneira de desconcentrar a

propriedade e a renda. Outro caminho seria facilitar a criação de indústrias

pequenas, que empregam muita gente. Se você conseguir empregar muito mais

gente, vai elevar os salários. E essa elevação corrige a tendência à concentração

excessiva de renda.

Num país como o Brasil, é possível atacar o problema da concentração de

renda pelo lado fiscal. É uma vergonha o que se desperdiça neste país em consumo

supérfluo, sem pagar imposto, praticamente. A evasão de imposto aqui é

absurdamente alta. No mundo inteiro começou-se por uma reforma fiscal para

modificar a distribuição de renda. No Brasil só quem paga imposto de renda é o

assalariado, 27,5%. Coitado, sete anos sem aumento e uma perda salarial superior

a 75%.

Entendo que só uma política consistente para o nordeste pode-se, de uma

vez por todas, resolver os seus graves problemas.

Page 101:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

101

Uma política global e não apenas esses paliativos de Frentes de Emergência

em cada seca registrada. Cito em primeiro lugar a reforma agrária começando pela

região nordeste, utilizando-se da irrigação com a integração do Rio Tocantins para o

São Francisco e desse, as transposições para os rios secos da Bahia, Pernambuco,

Sergipe e Alagoas, depois, após aprovados os projetos técnicos, econômicos e de

impactos sociais, para o Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí.

Conclusão dos Portos de Suape, em Pernambuco e Pecém, no Ceará. Da

Ferrovia Transnordestina; da Transposição do Rio São Francisco; do Canal do

Sertão e da Construção do Gasoduto e Termelétrica da região do Araripe

pernambucano.

O Estado de Pernambuco contando com a perenização dos rios Pontal,

Garças, São Pedro, Brígida, Boa Vista, Terra Nova, Navio, Pajeú, Moxotó e Ipojuca,

se transformará no maior polo de assentamento rural do mundo, pois, todas as

margens desses rios são prósperas, a agricultura irrigada far-se-á grande parte por

gravidade, começando pela Serra das Marrecas, próximo a Sobradinho, maior lago

artificial do mundo.

Canal do Sertão

Desejo incluir neste projeto, a agilização da concorrência para início das

obras de uma das mais importantes ações que Pernambuco poderá receber do

Governo federal e, que nunca saiu do papel, que é o Canal do Sertão que deveria

ter partido da Barragem de Sobradinho, maior lago artificial do mundo, em Casa

Nova, Bahia, mas, até o momento, só promessas.

Esse Canal vai cortar o município de Casa Nova, Bahia, até a Serra das

Marrecas, 20 quilômetros de distância da tomada d’água, de onde levará esse

Page 102:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

102

precioso líquido, a água, por gravidade para irrigar as terras secas dos municípios

de Petrolina; Afrânio; Dormentes; Santa Filomena; Lagoa Grande; Santa Maria da

Boa Vista; Santa Cruz; Trindade; Araripina; Ipubi; Ouricuri; Parnamirim; Terra Nova;

Serrita e Salgueiro, pelo talude das serras Dois Irmãos; Santo Inácio e Chapada do

Araripe, integrando as bacias do Pontal, Garças, São Pedro, Brígida e do Rio Terra

Nova.

Vale salientar que existe uma grande Bacia Hidráulica no Araripe, formada

pelas Barragens do Avelino, Lagoa do Barro, Algodões Entremontes, Tamboril,

Lopes Dois, Chapéu e Cachimbo, que juntas têm a capacidade de maior

armazenamento d´água das microrregiões do Estado de Pernambuco. Essas

Barragens serão todas abastecidas por gravidade, pelo Canal do Sertão, o que

representará menor gasto com energia e manutenção, pois o único trecho que não

utiliza a força da gravidade é apenas da barragem de Sobradinho para a Serra das

Marrecas (única estação de bombeamento, com apenas 20 quilômetros de distância

do Lago de Sobradinho).

O Canal do Sertão não necessitará que seja perene, haja vista que estando

às barragens alimentadas é o suficiente para perenização de todas as bacias

citadas.

Segundo José Walder Farias, o Dadinho de Ouricuri, profundo estudioso do

Canal do Sertão, esse percurso teria sido o ideal para a tomada d’água dessa

badalada Transposição de Águas do Rio São Francisco, porque beneficiava o

Estado de Pernambuco como um todo e não como está sendo feito, do município de

Cabrobó, haja vista que a transposição nos moldes atuais, tem como único critério

Page 103:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

103

técnico adotado, a menor distancia entre o Rio S. Francisco e o Estado do Ceará,

sem que se olhe para o Estado doador, Pernambuco.

Nota Técnica da CODEVASF sobre o projeto

Esta nota tem por objetivo justificar a necessidade de atualização dos estudos

e projetos referentes ao Canal Sertão de Pernambuco.

Em 2002, a CODEVASF contratou os Estudos de Viabilidade do Projeto

Sertão Pernambucano, analisando diversas alternativas de engenharia para seu

sistema adutor, visando ao atendimento das diversas manchas de terras irrigáveis

identificadas. O sistema adutor foi, então, projetado com um comprimento da ordem

de 578 quilômetros, estendendo-se desde a captação no reservatório da barragem

de Sobradinho, no município de Casa Nova, Estado da Bahia, até o município de

Serrita, no Estado de Pernambuco, cruzando outros onze municípios

pernambucanos em seu percurso. A vazão projetada foi de 139,5m3/s.

Os Estudos previam o atendimento de 139.728 ha de terras irrigáveis

agrupadas em 10 perímetros, incluindo o Projeto Cruz das Almas, com 27.740 ha,

situado no Estado da Bahia. Em função da topografia da região, o sistema adutor

principal foi projetado com quatro estações de bombeamento para o recalque da

água, determinando quatro patamares de área. Em face da extensão e dimensão

das estruturas hidráulicas envolvidas, o sistema adutor foi então subdividido em três

trechos: inicial, intermediário e final.

Em 2004 a CODEVASF contratou a complementação dos estudos ambientais

e o Projeto Básico do Trecho Inicial que se estende desde a captação, no

reservatório da barragem de Sobradinho, até o reservatório da barragem Rajada,

Page 104:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

104

situado no Estado de Pernambuco, próximo à divisa do Estado da Bahia, o qual

determinou, também, a nova vazão de projeto de 71,4m3/s.

Em 2005, o Governo Federal iniciou a implantação do Projeto de

Transposição do rio São Francisco, o qual contempla o atendimento de área

irrigáveis na região Oeste do Estado de Pernambuco, através do denominado Ramal

de Entremontes, sendo algumas dessas áreas as mesmas previstas anteriormente

para serem abastecidas pelo Projeto Terra Nova e outras através do Canal do

Sertão Pernambucano.

Em função dessa ocorrência de áreas que podem ser atendidas por mais de

um sistema adutor, foi necessária a reavaliação dos atendimentos a essas áreas e a

redefinição dos limites de cada empreendimento. Dessa forma, em 2005 a

CODEVASF elaborou o Estudo de Alternativas para Integração dos Projetos de

Infraestrutura Hídrica para o Oeste Pernambucano, para conciliação dos três

sistemas adutores citados, através de aditivo ao contrato de pré-viabilidade do

projeto Terra Nova, maximizando o efeito sinérgico e a integração entre estes, de

modo a aproveitar de forma eficiente às terras irrigáveis disponíveis.

Os estudos desenvolvidos possibilitaram analisar de forma integrada e

abrangente todas as variáveis e propostas existentes para o Oeste Pernambucano

em termos de obras de infraestrutura hídrica. A alternativa selecionada representava

o melhor arranjo para racionalizar e otimizar os diversos atendimentos vislumbrados

dentro de uma proposta consistente de desenvolvimento sustentável à região. Essa

alternativa foi validada e consensuada, na época, pelas entidades diretamente

envolvidas no processo de planejamento: Ministério da Integração Nacional,

CODEVASF e Governo do Estado de Pernambuco.

Page 105:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

105

Em 2006, o Governo do Estado da Bahia decretou a criação da Área de

Proteção Ambiental (APA) do Lago de Sobradinho. A APA inclui uma grande parte

das terras previstas para o Projeto Cruz das Almas, sobretudo daquelas situadas a

leste do perímetro projetado, geograficamente mais próximas ao Canal do Sertão

Pernambucano. Com a impossibilidade de exploração intensiva irrigada dessas

terras, descartou-se o atendimento do Cruz das Almas a partir do Canal do Sertão

Pernambucano.

Em 2010, a CODEVASF contratou os estudos pedológicos no município de

Casa Nova - BA, tendo sido identificados cerca de 8.000 ha irrigáveis a serem

incluídos e atendidos também pelo Canal do Sertão Pernambucano.

A seca que atinge o semiárido nordestino está dizimando a produção local de

milho e feijão, prejudicar seriamente a colheita de outras culturas e inviabilizar as

cadeias produtivas do mel e do leite. Um levantamento feito pelo Valor com os

governos de sete Estados do Nordeste aponta perdas superiores a 70% nas safras e

preocupação com a economia de uma série de microrregiões com o agravamento da

estiagem, que promete ser a pior dos últimos 30 anos.

De acordo com o secretário de Agricultura de Pernambuco, entre 2014 e este

ano, já foi contabilizado um prejuízo de quase R$ 550 milhões na produção agrícola

de 53 municípios. Cerca de 370 mil toneladas de milho, feijão e mandioca deixaram

de ser colhidos.

“Uma tragédia total”. É assim que o ex-secretário de Agricultura do Piauí,

Rubens Martins, classificou a situação de 150 municípios do Estado, onde está

prevista uma perda média de 80% na produção de milho, feijão e arroz, naquele

Estado, o ano passado. Ele lembrou que a seca só não atingiu as lavouras do

Page 106:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

106

Cerrado. Situação semelhante é vista na Bahia, que tem na fronteira agrícola do

oeste um regime de chuvas diferenciado e que torna o momento menos dramático.

O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, participou de audiências nos

ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, e na véspera estiveram em

Brasília os governadores do Sergipe e do Rio Grande do Norte. “Há a perspectiva de

que no prazo de um ano possa ser destruído tudo o que se levantou em dez anos”,

afirmou Sobral, de Sergipe.

De acordo com ele, muitos Estados já enfrentam problemas em suas bacias

leiteiras, por conta da falta de água e de ração para os animais. Ele também apontou

dificuldades na produção de mel, com a ausência de flores para as abelhas.

Reforma agrária séria.

Estou aqui clamando por uma política séria de reforma agrária, infelizmente, é

uma só voz que se junta a menos de um terço dos membros do Congresso

Nacional, cuja maioria é comprometida com os latifundiários e concentradores de

terras para especulação.

Diante da dramática situação da estiagem que atinge Pernambuco, as

lideranças políticas do Estado estão se movimentando em busca de alternativas

para minimizar o drama das famílias. Até porque a cobrança tem sido grande.

Participamos no final do ano passado de uma reunião coordenada pelo Consórcio

dos Municípios do Pajeú (CIMPAJEÚ), cujo Presidente é o Prefeito de Serra

Talhada, companheiro Luciano Duque, com a presença de vários prefeitos da

região, lá discutimos os graves efeitos da seca no interior pernambucano.

O governo federal anunciou recentemente uma série de medidas para reduzir

as consequências da seca que atinge os Estados do Nordeste e o norte de Minas

Page 107:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

107

Gerais. A previsão é que a estiagem se agrave nos próximos meses, o que levou o

governo a antecipar ações para ampliar o fornecimento de água e o apoio ao

agricultor. No total, as medidas somam alguns bilhões de reais e devem beneficiar

os mais de mil (1.000) municípios que sofrem as consequências da estiagem.

Para atender aos agricultores familiares que tiveram prejuízos com a

estiagem, o Programa Garantia Safra vai disponibilizar R$ 500 milhões. O benefício

é de R$ 680,00, em cinco parcelas. Outros R$ 200 milhões serão disponibilizados

por meio do Bolsa Estiagem, que disponibiliza R$ 400,00, dividido em cinco vezes.

O governo federal se propôs a investir R$ 17,1 bilhões em ações

estruturantes até 2015, em obras que iriam garantir a segurança hídrica para

brasileiros que vivem no semiárido, como Projeto de Integração do Rio São

Francisco, Eixão das Águas (CE), Vertente Litorânea (PB), Ramal e Adutora do

Agreste (PE) e Canal do Sertão Alagoano (AL). A infraestrutura no abastecimento de

água também está sendo ampliada e melhorada com a conclusão de cerca de 30

barragens, adutoras e sistemas, como o Tucano (BA), Seridó (RN) e Norte (MG), só

que desses 17 bi, menos de quatro, foram liberados.

A maior parte do dinheiro (R$ 400 milhões) ficaria com o Ministério da

Integração Nacional, responsável pela ajuda às vítimas das chuvas e inundações

nas regiões Sul e Sudeste e da seca no Nordeste. Estava prevista a distribuição de

cestas básicas, agasalhos e água (em carros-pipa) nas áreas de estiagem. Também

haverá abrigos para as vítimas. Além disso, o ministério vai recuperar estruturas

físicas, desobstruir vias urbanas e remover escombros, nada disso aconteceu até o

momento.

Page 108:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

108

Para o Ministério dos Transportes, R$ 230 milhões destinam-se a obras de

emergência em rodovias federais afetadas pelas chuvas. Os recursos do Ministério

da Agricultura (R$ 50 milhões) devem ser usados para apoiar municípios na

reconstrução de estradas vicinais danificadas pelas chuvas e pela inundação — que

impediram o acesso a áreas rurais.

No Ministério da Educação, o crédito de R$ 12 milhões servirá para

reestruturar escolas de educação básica e substituir seus equipamentos danificados

pela chuva. Já o Ministério da Saúde contará com R$ 50 milhões para adequar a

estrutura física e logística de unidades em regiões atingidas pelo excesso de

chuvas. Os recursos também deverão ser usados para monitorar e avaliar as ações

relativas a essas emergências.

A oposição votou contra a MP por considerar que ela é o resultado da “falta

de planejamento” do governo. A MP é importante pelo fato de enfrentar calamidades

em diversas partes do País. De acordo com ele, por mais planejamento que exista

não há como prever a ocorrência de catástrofes naturais.

A expectativa dos governadores da região é de que seja desenvolvida uma

política nacional para ajudar a economia do semiárido a enfrentar a forte seca. “É

preciso evitar um retrocesso econômico das microrregiões nordestinas e dar

condições ao agricultor de continuar produzindo em situações como esta. Caso

contrário, ele será excluído do processo produtivo toda vez que a seca for cruel”,

completou o secretário.

Os agricultores familiares enquadrados no Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e afetados pela seca ou estiagem na

área de atuação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)

Page 109:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

109

contam, a partir de hoje (8), com uma linha de crédito especial. Resolução do Banco

Central publicada no Diário Oficial da União abrange os municípios que tiveram

decretada situação de emergência ou estado de calamidade pública, pelo Ministério

da Integração Nacional, desde dezembro de 2011.

O crédito vale para os agricultores familiares adimplentes que desejam

realizar operações de investimento. O limite de crédito por agricultor é R$ 12 mil,

com prazo de pagamento até dez anos, com três anos de carência, e taxa de juros

de 1% ao ano. O agricultor conta ainda com um bônus de desconto de 40% sobre as

parcelas de financiamento pagas em dia.

Para os agricultores enquadrados no grupo B do Pronaf, cuja renda familiar

anual é até R$ 6 mil, o limite de crédito é R$ 2,5 mil, com as mesmas condições. O

Pronaf B é uma linha de microcrédito rural voltada para a produção e geração de

renda das famílias agricultoras de baixa renda do meio rural. São atendidos famílias

agricultores, pescadores, extrativistas, ribeirinhos, quilombolas e indígenas que

desenvolvam atividades produtivas no meio rural.

Os agricultores que quiserem acessar o crédito têm até o dia 30 de dezembro

de 2012 para solicitá-lo. Ele deve procurar uma empresa de assistência técnica e

extensão rural no seu município para obter orientações sobre como acessar a linha

de crédito e a melhor forma de empregar os recursos.

Os financiamentos priorizam projetos de convivência com a estiagem ou seca,

focados na sustentabilidade dos agro ecossistemas, priorizando ações de

infraestrutura hídrica e implantação, ampliação, recuperação ou modernização das

demais infraestruturas, inclusive as relacionadas a projetos de produção e serviços

agropecuários e não agropecuários, de acordo com a realidade da unidade familiar.

Page 110:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

110

Ações para convivência com as secas

O Nordeste ocupa uma região equivalente a 18% do território nacional, com

cerca de 1.500.000 quilômetros quadrados. Aqui vivem mais de 40 milhões de

pessoas, ou 28% da população do país. Somos, também, a região mais afetada pela

seca no Brasil. Nos últimos anos, o Nordeste tem sido marcado por mudanças

drásticas no clima.

Tivemos enchentes, secas e até registro de tremores de terra no Rio Grande

do Norte. Porém, um dos principais problemas da região está relacionado à

desertificação que tem, cada vez mais, avançado sobre as áreas urbanas.

Os dados impressionam: de acordo com o Programa de Ação Nacional de

Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, PAN, ligado Ministério

do Meio Ambiente, 1.482 municípios estão em área suscetível à desertificação em

nove Estados, sendo oito deles nordestinos - Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,

Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Uma área que corresponde a

15,7% do território nacional e onde vivem cerca de 31,6 milhões de pessoas.

Alguns especialistas indicam que o aumento do período de estiagem se deve

ao fenômeno “La Niña” e a mudanças climáticas no oceano. Além destes, fala-se

também em erros envolvendo a transposição do São Francisco. Em contrapartida e

aliado a essas mudanças climáticas, a justificativa para o aumento da desertificação

está no extrativismo, no desmatamento desordenado, nas queimadas e uso

intensivo do solo na agricultura.

O fato é que, independente das causas, a população é que vem sofrendo as

consequências. Diante de um quadro como este, cabe, mais uma vez,

Page 111:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

111

perguntarmos: por mais quanto tempo a população irá sofrer com a falta de medidas

preventivas para fenômenos previsíveis?

O Brasil precisa ter a consciência e criar o hábito de que prevenir é muito

melhor do que criar pacotes e ações emergenciais para as consequências dos

fenômenos naturais e previsíveis aos quais o território brasileiro está sujeito.

Mais de 1.100 municípios decretaram estado de emergência por conta da

seca prolongada no Nordeste. O nível dos açudes está baixo, sendo que alguns já

secaram. Plantações se perderam.

Quem tem cisterna ou reservatório na propriedade está conseguindo garantir

qualidade de vida para a família e as criações. Dilma Rousseff se reuniu com

governadores do Nordeste para tratar da seca e de medidas que serão tomadas

pelo governo federal para ajudar a mitigar seus efeitos.

Por mais que haja evaporação e açudes sequem, a região possui uma grande

quantidade de água, suficiente para abastecer sua gente. O problema continua não

sendo de falta de recursos naturais, mas de sua distribuição.

O Nordeste brasileiro é detentor do maior volume de água represado em

regiões semiáridas do mundo. São 37 bilhões de metros cúbicos, estocados em

cerca de 70 mil represas. A água existe, todavia o que falta aos nordestinos é uma

política coerente de distribuição desses volumes, para ao atendimento de suas

necessidades básicas.

O projeto do governo, remanescente de uma ideia que surgiu na época do

Império, visa ao abastecimento de cerca de 12 milhões de pessoas no Nordeste

Setentrional, com as águas do Rio São Francisco. Ele foi idealizado para retirar as

águas do rio através de dois eixos (Norte e Leste), abastecer as principais represas

Page 112:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

112

nordestinas e, a partir delas, as populações. Hoje, as obras estão praticamente

paralisadas, com alguns trechos dos canais se estragando com o tempo,

apresentando rachaduras.

A solução do abastecimento urbano foi anunciada pelo próprio governo

federal, através da Agência Nacional de Águas (ANA), ao editar, em dezembro de

2006, o Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano de água. Nesse trabalho é

possível, com menos da metade dos recursos previstos na transposição, o beneficio

de um número bem maior de pessoas. Ou seja, os projetos apontados pelo Atlas,

com custo de cerca de R$ 3,6 bilhões, têm a real possibilidade de beneficiar 34

milhões de pessoas, em municípios com mais de cinco mil habitantes.

O meio rural principalmente para o abastecimento das populações difusas —

aquelas mais carentes em termos de acesso a água, poderá se valer das

tecnologias que estão sendo difundidas pela ASA (Articulação do Semiárido), com o

uso de cisternas rurais, barragens subterrâneas, barreiros, trincheiras, programa

duas águas e uma terra, mandalas, etc.

Enquanto isso, o orçamento do projeto de Transposição não para de crescer.

No governo Sarney, ele foi dimensionado com um único eixo e tinha um orçamento

estimado em cerca de R$ 2,5 bilhões. Na gestão Fernando Henrique, ganhou mais

um eixo e o orçamento pulou para R$ 4,5 bilhões. No governo Lula, saltou para R$

6,6 bilhões. E, agora, no governo Dilma, chegou à casa dos R$ 8,3 bilhões. Como se

trata de um projeto de médio a longo prazo, essa conta chegará facilmente à cifra

dos R$ 20 bilhões nos próximos 25 a 30 anos.

O governo Dilma mudou a política de apoio à construção de cisternas que

vinha sendo tocada pela ASA com o projeto “Um Milhão de Cisternas para o

Page 113:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

113

Semiárido”. Para acelerar a produção de cisternas (gigantes caixas d’água que

guardam a água da chuva), as placas de cimento foram trocadas por pré-moldados

de polietileno — que podem deformar com o calor, custa mais que o dobro que os

feitos com a matéria-prima anterior, não utilizam mão de obra local na sua confecção

(não gerando renda) e têm manutenção mais complexa do que se fossem feitos de

alvenaria. As organizações sociais criticaram a tomada de decisão centralizada, sem

questionar quem vem executando e se beneficiando da política pública na base.

Para o representante nacional da sociedade civil na Convenção de Combate

à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca da ONU, Paulo Pedro de Carvalho,

a estiagem é um prato cheio para grupos políticos e econômicos. “Sem medidas

permanentes de enfrentamento à falta de chuva, as ações emergenciais fazem

funcionar a indústria da seca. Os grupos políticos ganham votos e os grupos

econômicos ganham dinheiro. Em ano de eleição, a seca é explorada por candidatos

que não têm compromisso com o desenvolvimento sustentável”, lamenta.

Só na semana passada, o governador Paulo Câmara, de Pernambuco,

anunciou a liberação de mais de cem (100) milhões de reais para ações

emergenciais. Quase um terço desse valor vai direto para contratação de carros-

pipa, uma antiga e recorrente fonte de denúncias de uso político da máquina pública.

Pensada pela primeira vez no Brasil de Dom Pedro II, em 1847, a

transposição se arrasta, sem fim, assim como os relatos do flagelo sertanejo. Na

década de 50, custaria cerca de US$ 300 milhões. Décadas se passaram, o projeto

foi refeito, ampliado, e hoje, a conta já chega a R$ 8,2 bilhões. O sociólogo Antônio

Barbosa, coordenador de um dos programas da entidade Articulação para o

Semiárido (ASA), que reúne ONGs que atuam na região, diz que a primeira notícia

Page 114:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

114

de estiagem remonta aos tempos do descobrimento do Brasil, em 1559, no território

que atualmente é ocupado pelo Estado da Bahia. De lá para cá, ele afirma que já

foram registradas nada menos do que 72 secas. Algumas entraram para a história

como as de 1877, 1915, 1952 e, mais recentemente, a de 1982 e 1998.

A seca deste ano foi a maior deste século, a primeira grande estiagem do

período pós-ditadura. Não há desculpa para o governo não ter se preparado com

ações estruturadoras, que se antecipassem ao período da estiagem, Como as ações

novamente não vieram, o cortejo da calamidade reproduz os velhos retratos de

sempre. Na estrada do Sítio Boa Rama, zona rural de Bodocó, no Sertão do Araripe,

a carroça carrega os baldes de água tirada do açude barrento e distante. Quem guia

o cavalo é Leandro, um garoto, meio tímido meio desconfiado, de apenas 12 anos.

Ele não gosta de foto. O pai, Edmilson Rodrigues de Freitas, 40, vai sentado atrás,

pendurado na carroça. Pai e filho engolidos pelo monstro da seca, um flagelo que

atravessou os séculos sem nunca ter sido domado.

Seca histórica gera guerra por água no sertão do Nordeste. Estiagem já

atinge população de mais de 1.100 municípios da região, que já teve furtos e até

morte. Considerada a pior dos últimos 50 anos em alguns Estados do Nordeste, a

seca está provocando um confronto que só se imaginaria no futuro: a guerra pela

água. Em Pernambuco, essa luta já começou com tiros, morte e exploração da

miséria. Protestos desesperados são registrados não só lá, mas em várias regiões

do semiárido, onde a estiagem já se alastra por 1.100 municípios. A população pede

providências imediatas dos governos para amenizar os efeitos devastadores. A

situação só não é pior já que as famílias contam com os programas sociais, como o

Page 115:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

115

Bolsa Família. Como observam agricultores, a preocupação no momento é maior

com os animais, que estão morrendo de sede e fome, do que com as pessoas.

Na beira das estradas que conduzem ao sertão, o verde não mais existe. Ao

longo das BRs 232 e 110, em Pernambuco, carroças puxadas a jumentos magros

tomam conta das margens em busca de água. Nos 100 quilômetros de extensão da

PE 360, que liga os municípios sertanejos de Ibimirim e Floresta, há 28 pontilhões

sob os quais os córregos corriam fortes. Hoje, estão todos secos. Até mesmo o leito

do Riacho do Navio — que ganhou fama na voz do cantor Luiz Gonzaga —

esturricou. Na última quinta-feira, bois magros tentavam em vão matar a sede e tudo

que encontravam era uma poça de lama escura naquele conhecido afluente do rio

Pajeú.

Em Pernambuco, 126 municípios do sertão e do agreste estão em estado de

emergência reconhecido. O quadro tende a se agravar já que a temporada de chuva

está encerrada e os conflitos aumentam.

Projeto de Integração do Rio São Francisco

Em razão disso, o Governo Federal em parceria com os Governos de

Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, diante desta realidade e, tendo

por base a disponibilidade hídrica de 1.500m3/hab/ano, estabelecida pela ONU como

sendo a mínima necessária para garantir a uma sociedade o suprimento de água

para os seus diversos usos, implantaram o Projeto de Integração do Rio São

Francisco, a chamada Transposição do Rio São Francisco, com outras bacias

hidrográficas, que estabelece a interligação da bacia hidrográfica do rio São

Francisco, que apresenta relativa abundância de água (1850 m³ por segundo de

vazão garantida pelo reservatório de Sobradinho), com bacias inseridas no Nordeste

Page 116:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

116

Setentrional e quantidade de água disponível que estabelece limitações ao

desenvolvimento socioeconômico da região.

O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do

Nordeste Setentrional é a mais importante ação estruturante, no âmbito da política

nacional de recursos hídricos, tendo por objetivo a garantia de água para o

desenvolvimento socioeconômico dos Estados mais vulneráveis às secas (Ceará,

Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco).

Neste sentido, ao mesmo tempo em que garante o abastecimento por longo

prazo de grandes centros urbanos da região (Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato,

Mossoró, Campina Grande, Caruaru, João Pessoa) e de centenas de pequenas e

médias cidades inseridas no Semiárido, o projeto beneficiará áreas do interior do

Nordeste com razoável potencial econômico, estratégicas no âmbito de uma política

de desconcentração do desenvolvimento, polarizado até hoje, quase

exclusivamente, pelas capitais dos Estados.

As bacias que receberão a água do rio São Francisco são: Brígida, Terra

Nova, Pajeú, Moxotó e Bacias do Agreste em Pernambuco; Jaguaribe e

Metropolitanas no Ceará; Apodi e Piranhas-Açu no Rio Grande do Norte; Paraíba e

Piranhas na Paraíba.

O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do

Nordeste Setentrional prevê a construção de dois canais: o Eixo Norte que levará

água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte e o

Eixo Leste que beneficiará parte do sertão e as regiões agrestes de Pernambuco e

da Paraíba.

Page 117:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

117

O Eixo Norte, a partir da captação no rio São Francisco próximo à cidade de

Cabrobó, em Pernambuco, percorrerá cerca de 400 quilômetros, conduzindo água

aos rios Salgado e Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-

Açu, na Paraíba e Rio Grande do Norte. Ao cruzar o Estado de Pernambuco este

eixo disponibilizará água para atender as demandas de municípios inseridos em três

sub-bacias do rio São Francisco: Brígida, Terra Nova e Pajeú. Para atender a região

do Brígida, no oeste de Pernambuco, foi concebido um ramal de 110 quilômetros de

comprimento que derivará parte da vazão do Eixo Norte para os açudes Entre

Montes e Chapéu.

Projetado para uma capacidade máxima de 99 m³/s, o Eixo Norte operará

com uma vazão contínua de 16,4 m³/s, destinados ao consumo humano. Em

períodos recorrentes de escassez de água nas bacias receptoras e de abundância

na bacia do São Francisco (Sobradinho vertendo), as vazões transferidas poderão

atingir a capacidade máxima estabelecida. Os volumes excedentes transferidos

serão armazenados em reservatórios estratégicos existentes nas bacias receptoras:

Atalho e Castanhão, no Ceará; Armando Ribeiro Gonçalves, Santa Cruz e Pau dos

Ferros, no Rio Grande do Norte; Engenheiro Ávidos e São Gonçalo, na Paraíba; e

Chapéu e Entre Montes, em Pernambuco.

O Eixo Leste que terá sua captação no lago da barragem de Itaparica, no

município de Floresta-PE, se desenvolverá por um caminhamento de 220

quilômetros até o rio Paraíba-PB, após deixar parte da vazão transferida nas bacias

do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Para o atendimento das

demandas da região agreste de Pernambuco, o projeto prevê a construção de um

ramal de 70 quilômetros que interligará o Eixo Leste à bacia do rio Ipojuca.

Page 118:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

118

Previsto para uma capacidade máxima de 28 m³/s, o Eixo Leste funcionará

com uma vazão contínua de 10 m³/s, disponibilizados para consumo humano.

Periodicamente, em caso de sobras de água em Sobradinho e de necessidade nas

regiões beneficiadas, o canal poderá funcionar com a vazão máxima, transferindo

este excedente hídrico para reservatórios existentes nas bacias receptoras: Poço da

Cruz, em Pernambuco, e Epitácio Pessoa (Boqueirão), na Paraíba.

Os eixos de integração foram concebidos na forma de canais de terra, com

seção trapezoidal, revestidos internamente por membrana plástica impermeável,

com recobrimento de concreto. Nos trechos de travessia de rios e riachos serão

construídos aquedutos, sendo previstos túneis para a ultrapassagem de áreas com

altitude mais elevada.

Para vencer o desnível do terreno entre os pontos mais altos do relevo, ao

longo dos percursos dos canais, e os locais de captação no rio São Francisco, serão

implantadas nove estações de bombeamento: três no Eixo Norte, com elevação total

de 180 metros, e seis no Eixo Leste, elevando a uma altura total de 300 metros. Ao

longo dos eixos principais e de seus ramais, serão construídas 30 barragens para

desempenharem a função de reservatórios de compensação, permitindo o fluxo de

água nos canais mesmo durante as horas do dia em que as estações de

bombeamento estejam desligadas (as bombas ficarão de 3 a 4 horas por dia,

desligadas para reduzir os custos com energia).

Com o Projeto de Integração do Rio São Francisco, os grandes açudes

(Castanhão-CE, Armando Ribeiro Gonçalves-RN, Epitácio Pessoa-PB, Poço da

Cruz-PE e outros) do Nordeste Setentrional passarão a oferecer uma maior garantia

para o fornecimento de água aos diversos usos das populações. Nos Estados

Page 119:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

119

beneficiados com o projeto, vários sistemas de distribuição estão operando,

encontram-se em obras ou estão em fase de estudos, com o objetivo de levar água

destes reservatórios estratégicos para suprir cidades e perímetros de irrigação.

No Estado do Ceará, o sistema de reservatórios que abastece a Região

Metropolitana de Fortaleza — RMF (açudes Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião) já

está interligado ao rio Jaguaribe através do Canal do Trabalhador (capacidade de 5

m³/s). Em função da necessidade de se levar mais água da bacia do Jaguaribe para

a RMF, o Governo do Estado está construindo o Canal da Integração (capacidade

de 22 m³/s), interligando o açude Castanhão às bacias do Banabuiú (maior afluente

do rio Jaguaribe) e Metropolitanas.

No Estado do Rio Grande do Norte, o açude Armando Ribeiro Gonçalves é

responsável pelo abastecimento de uma grande quantidade de municípios das

bacias do Piranhas-Açu, Apodi e Ceará-Mirim através de 4 grandes sistemas

adutores que estão em operação: Adutora de Mossoró, Adutora Sertão

Central/Cabugi, Adutora Serra de Santana, Adutora do Médio Oeste. Encontra-se

em fase de projeto, a Adutora do Alto Oeste que atenderá a maior parte dos

municípios da bacia do Apodi, captando água no açude Santa Cruz, outro

reservatório de recepção das transferências hídricas do Projeto São Francisco.

No Estado da Paraíba, o Eixo Leste do Projeto São Francisco permitirá o

aumento da garantia da oferta de água para os vários municípios da bacia do

Paraíba, atendidos pelas adutoras do Congo, do Cariri, Boqueirão e Acauã. O Eixo

Norte possibilitará o abastecimento seguro de diversos municípios da bacia do

Piranhas, atendidos por sistemas adutores tais como Adutora Coremas/Sabugi e

Canal Coremas/Souza.

Page 120:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

120

No Estado de Pernambuco, os Eixos Norte e Leste, ao atravessarem o seu

território, servirão de fonte hídrica para sistemas adutores existentes ou em projeto,

responsáveis pelo abastecimento de populações do Sertão e do Agreste: Adutora do

Oeste, Adutora do Pajeú, Adutora Frei Damião e Adutora de Salgueiro.

O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do

Nordeste Setentrional é a mais importante ação estruturante, no âmbito da política

nacional de recursos hídricos, tendo por objetivo a garantia de água para o

desenvolvimento socioeconômico dos Estados mais vulneráveis às secas (Ceará,

Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco). Neste sentido, ao mesmo tempo em

que garante o abastecimento por longo prazo de grandes centros urbanos da região

(Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato, Mossoró, Campina Grande, Caruaru, João

Pessoa) e de centenas de pequenas e médias cidades inseridas no Semiárido, o

projeto beneficia áreas do interior do Nordeste com razoável potencial econômico,

estratégicas no âmbito de uma política de desconcentração do desenvolvimento,

polarizado até hoje, quase exclusivamente, pelas capitais dos Estados.

Adutora do Pajeú

Além desse grande e importante Projeto de Integração da Bacia do Rio São

Francisco com outras bacias, existe, também a Adutora do Pajeú que levará água

para todos os municípios do Pajeú pernambucano e, na sua segunda etapa, a

municípios da Paraíba, projeto autorizado pelo Ministério da Integração Nacional no

último mês de maio do ano passado, inclusive com a abertura de licitação para

contratação de empresa que ficará responsável pela execução do Sistema Adutor do

Pajeú II, está igual á chamada Transposição de águas do Rio São Francisco,

iniciada com tanta pompa no segundo governo do ex-presidente Lula e ainda sem

Page 121:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

121

levar uma gota de água aos sertanejos de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio

Grande do Norte, Estados arrasados por mais esta seca.

A canalização chama a atenção pela extensão e pelo complexo das obras.

Com mais de quatrocentos quilômetros de tubulação a Adutora do Pajeú terá ainda

12 estações elevatórias. A água está sendo captada do lago de Itaparica nesta

primeira fase, tendo chegado a Serra Talhada no final de março, com pomposa

inauguração pela Presidente Dilma e pelo Governador Eduardo Campos. Sua 1ª

etapa está sendo captada do Eixo Leste do Projeto de Integração do Rio São

Francisco.

Nessa segunda etapa no Estado de Pernambuco, serão beneficiados os

municípios de Carnaubeira da Penha, Betânia, Brejinho, Iguaraci, Ingazeira,

Itapetim, Quixaba, Santa Cruz da Baixa Verde, Triunfo, Santa Teresinha, São José

do Egito, Solidão, Tabira, Triunfo e Tuparetama, além dos distritos de Riacho do

Meio (em São José do Egito) e Tupanaci (em Mirandiba). Total: 169 mil pessoas.

Na Paraíba serão beneficiados os municípios de Princesa Isabel, Imaculada,

Desterro, Teixeira, Cacimbas, Livramento, São José dos Cordeiros e Taperoá. Total:

61 mil pessoas.

A Adutora do Pajeú vai beneficiar no total, após sua conclusão, 400 mil

pessoas. É uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),

coordenada pelo Ministério da Integração Nacional e executada pelo Departamento

Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS). O investimento na 2ª etapa do

sistema será de R$ 338 milhões, incluindo obras civis, fornecimento de materiais e

desapropriações. O sistema é formado por 402 quilômetros de adutoras, 11

reservatórios, duas unidades de captação e 12 estações elevatórias.

Page 122:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

122

Feito esse relato e depois de ter liderado a Bancada do Nordeste e promovido

dezenas de reuniões para tratar de um fenômeno tão comum no mundo, que é a

seca e, como conviver com ela, desejo, neste discurso, registrar a preocupação do

querido amigo Padre Luizinho, de São José do Egito, pessoa que conheço e, desde

a sua adolescência, ainda seminarista, já se pronunciava com sugestões às

autoridades brasileiras, objetivando ações que viessem a ajudar os sertanejos do

semiárido brasileiro a conviverem com esse milenar fenômeno.

O Padre Luizinho reuniu Prefeitos do Pajeú para pedir que pressionassem as

autoridades dos governos, a providenciarem a conclusão da Adutora do Pajeú.

Com o intuito de discutir estratégias e ações de convivência com a seca, o

sacerdote da Paróquia de Ingazeira, reuniu-se no final do ano passado com alguns

prefeitos do Sertão do Pajeú, dentre eles, o prefeito anfitrião, Luciano Torres (PSB),

o prefeito eleito de Tuparetama, Dêva Pessoa (PSD), o futuro gestor de São José do

Egito, Dr. Romério Guimarães (PT), e o presidente da Cooperativa de Crédito do

Pajeú, José Evaldo Campos.

Na reunião, os participantes falaram sobre uma viagem dos prefeitos a

Brasília-DF, para cobrarem do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra,

mais agilidade na construção da Adutora do Pajeú, que será a única salvação para a

região que há tempo sofre com colapsos de abastecimento de água.

Além dos municípios do alto Pajeú, como Itapetim, Brejinho, Santa Terezinha,

Tuparetama, Ingazeira, Iguaraci, Afogados, Tabira, Solidão, Carnaíba, Quixaba,

Flores, Triunfo, Calumbi, estão prestes a sofrer também colapso, por falta de água,

excluindo-se apenas Serra Talhada que recebeu esse precioso líquido, em março

passado.

Page 123:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

123

A forte seca que atinge todo o Sertão e parte do Agreste pernambucano

continua causando sérios prejuízos aos agricultores de Pernambuco. No município

de Floresta onde nasce a Adutora do Pajeú, segundo informações de um dos seus

filhos ilustres, Euclides Ferraz, já secaram todas as barragens que estão localizadas

as margens da PE-390, que liga Floresta a Serra Talhada. Estão praticamente secas

as barragens de Juá, Lagartixa, Nazaré, Poço Negro, Acampamento, Três

Umbuzeiros, Redentor dos Montes, Nestor, Olho de Água, Barra Forquilha,

Damázio, Frazão, Manoel Domingos, Mãe de Água e Manoel Teles.

Independente disso, os agricultores pernambucanos vão cobrar as promessas

feitas pela Presidente Dilma, com toda pompa, na reunião da SUDENE, que

aconteceu em Recife, no final de 2013, como a distribuição de alimentos para

animais - o tal milho que não chega nunca, em razão da burra burocracia da CONAB

e a regularização do abastecimento d’água feito por carros-pipa, principalmente pelo

Exército. O fato é que nem Chapéu de Palha nem reuniões na esfera estadual ou

federal amenizam, em curto prazo, as necessidades imediatas de água para o

consumo humano e animal, que os agricultores estão sentindo hoje.

O prefeito de Serra Talhada, Luciano Duque, mesmo agradecido pela

inauguração da Adutora do Pajeú, em seu município, se preocupa com o

assoreamento das margens e do fundo do açude Cachoeira II, o acúmulo de terras

que diminui sua capacidade, é enorme, informa Luciano Duque. O chefe da Unidade

de Campo do DNOCS de Serra Talhada, Ionaldo Araújo, lembra que em 1999, Serra

Talhada passou por uma situação ainda pior, quando esse açude Cachoeira II

chegou a ficar com menos de um milhão de metros cúbicos de água, suprimindo o

abastecimento da cidade.

Page 124:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

124

Para salvar essa precária situação dos municípios acima de Serra Talhada,

só concluindo as obras da Adutora do Pajeú, cuja canalização chama a atenção pela

extensão e pelo complexo de obras. Sua primeira etapa com mais de quatrocentos

quilômetros de tubulação têm ainda 12 estações elevatórias. A água estava para ser

captada do lago de Itaparica nesta primeira fase, até Serra Talhada somente foi

inaugurada no mês passado, em razão do excesso de burocracia que acarretou o

atraso dessa importante obra.

Ninguém pode negar, o esforço do saudoso governador Eduardo Campos e

do seu governo e, agora, de Paulo Câmara, em envidar esforços para atender com o

que tem os nossos queridos agricultores e o que ainda resta de seus animais, mas,

o que aqui me refiro são as ações do Governo Federal para minimizar o sofrimento

dos moradores do semiárido nordestino. São grandes, boas, mais não caminham.

Não andam. No orçamento da união tem dinheiro para tudo, menos para concluir o

Projeto de Integração da Bacia do Rio São Francisco com outras bacias da região

Nordeste ou mesmo, a Adutora do Pajeú, obras que salvarão os nordestinos

atingidos, quase que anualmente, pelas constantes secas que arrasar a região.

Abram os olhos, Presidente Dilma Rousseff e seus Ministros da Fazenda; do

Planejamento e da Integração Nacional, os investimentos realizados nestas duas

importantes obras aqui citadas, Transposição do São Francisco e Adutora do Pajeú,

serão menores que os gastos vergonhosos com carros-pipa que não resolvem os

problemas dos atingidos pelas constes secas no nordeste brasileiro.

Fiz uma análise de alguns programas do Ministério da Integração Nacional e

pude constatar que, apesar de existirem recursos no Orçamento Geral da União,

aprovados pelo Congresso Nacional para ações de convivência com a seca, dentre

Page 125:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

125

eles, do Programa Água para Todos; Integração da Bacia do Rio São Francisco com

outras bacias e para a Adutora do Pajeú, as liberações dos recursos destas rubricas

foram poucas nos últimos dois anos.

Para o Projeto de Integração das Bacias Hidrográficas, apenas 7,51% do

previsto foi aplicado; Infraestrutura Hídrica - 31,12% do previsto; Desenvolvimento

Macrorregional sustentável - 0,49% do previsto; Desenvolvimento da Agricultura

Irrigada - 2,20% do previsto, não dá para ficar calado com uma coisa dessas.

Dona Dilma para uma coisa é boa. Para tirar dinheiro dos fundos de Estados

e municípios — FPE e FPM, isentando IPI e IOF para veículos e eletrodomésticos,

mas para concluir as obras iniciadas por Lula, não é.

O Programa Água Para Todos tem atendido milhões de nordestinos com

obras que farão parte do Processo de Infraestrutura Hídrica do Nordeste Brasileiro.

Esse programa está em plena ação e financiando, com recursos do PAC, a

construção de milhares de cisternas; poços artesianos; açudes; barragens e tantas

outras obras hídricas, a exemplo da Integração da Bacia do Rio São Francisco com

outras bacias dos Estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.

Essas ações vão implantar Sistemas de Abastecimento de água Domiciliar

com a construção de 119 cisternas no valor de R$ 4,3 milhões, para atender 4,8 mil

famílias; perfuração de 255 poços artesianos no valor de R$ 5,1 milhões, para

atender 5,1 mil famílias; construção de 68 barragens de parede no valor de R$ 3,2

milhões, para atender 3,4 mil famílias e, construção de 100 barragens subterrâneas

no valor de R$ 1,6 milhões, para atender 1.000 famílias.

Assim, faço como faziam Dona Elisa e Seu Sebastião, meus pais, batiam,

mas depois alisavam. Que a Presidente Dilma Rousseff e seu governo abram os

Page 126:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

126

cofres do dinheiro do povo brasileiro, para efetivação de obras que ajudem os

nordestinos a conviver com as constantes secas que ocorrem na região, a exemplo

da Integração da Bacia do Rio São Francisco, com outras bacias; conclusão da

Adutora do Pajeú; implantação de cisternas e adutoras para atender o

abastecimento de todas as casas da zona rural; construção do Canal do Sertão, do

Lago de Sobradinho para atender Casa Nova-BA e mais 17 municípios

pernambucanos, dentre muitas outras.

Aproveito esta oportunidade para transcrever a Carta do Araripe que recebi

do Vereador Luciano Nunes, de Santa Cruz-PE

Carta do Araripe — Terra de Povo Forte

No último dia 18 de março de 2013, os

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, através dos seus

Sindicatos, juntamente com os vereadores/as e

representantes dos conselhos municipais de

desenvolvimento rural, dos 10 municípios do Sertão do

Araripe mais o município de Parnamirim, realizaram um

encontro para discutir a situação que seus respectivos

municípios se encontravam, principalmente as famílias

agricultoras, em relação à seca. As pessoas presentes

falaram também de como estavam acontecendo às ações

emergências dos governos municipais, estadual e federal,

de enfrentamento aos efeitos da seca. O resultado do

encontro é esse documento com as reivindicações do

Page 127:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

127

povo da região, que está sendo chamado de “Carta do

Araripe”.

É fato conhecido por todas as pessoas, que o povo

do Semiárido Nordestino está vivendo a maior seca dos

últimos 40 anos. Uma realidade de calamidade pública,

principalmente para as Famílias Agricultoras, Campesinos

e Campesinas, que só não é mais grave devido ao Bolsa

Família - programa de transferência de renda e a

aposentadoria dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Também é de conhecimento de todos também que

além estarmos vivendo um período de grande “seca

climática - escassez de água”, a população sertaneja está

vivendo uma “seca política - escassez de ações

estruturantes ou de convivência com o semiárido”. As

“secas climáticas” são cíclicas e muitas vezes anunciadas

com certa antecedência, mas as ações estruturantes, que

poderiam contribuir para uma convivência com o

semiárido, a exemplo de: construção de cisternas -

consumo familiar e produção; construção de pequenos

ramais de abastecimento de água (adutoras) a partir de

açudes e/ou poços para a população difusa; entre outras

tantas ações, simplesmente não acontecem ou quando

acontecem são: inadequadas; de difícil acesso pelas

famílias mais carentes; tardias - em descompasso entre a

Page 128:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

128

necessidade imediata e a chegada/concretude da ação a

quem realmente está precisando; quando não ficam

somente no discurso.

Porém como muitas das ações estruturantes que

poderiam possibilitar a convivência com o semiárido, não

aconteceram ou estão se dando de forma muito tímida,

estamos - o Povo do Sertão, vivendo mais uma vez, as

agruras da seca climática e política, e dependentes de

“ações emergenciais” que: saciem nossa sede e fome e

ajudem-nos a manter nossos rebanhos.

Para nosso Sertão, muitas foram às ações

alardeadas com pompa, em discursos, e divulgadas na

imprensa, mas repetindo os equívocos do passado elas

'padeceram como os cultivos na terra quente'.

As ações dos prefeitos até esse momento foram

tímidas. Muitos, assumindo o poder executivo pela

primeira vez, não conseguiram até o momento,

implementar ações que atendessem as necessidades da

população do seu município. Praticamente as ações tem

se resumido a contratação de carros pipa e

perfuração/instalações de poços - diga-se: em

quantidades irrisórias, com relação às necessidades das

famílias. Outros prefeitos se limitaram, somente, a cobrar

ações do Governo do Estado e/ou da União.

Page 129:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

129

O Governo do Estado por sua vez, vem divulgando

diversas ações emergenciais: carros pipa em quantidade,

alimentos para os animais (forragens) e

perfurações/instalações de poços. Além de programas de

indenização financeira por perda de safra, como o

Chapéu de Palha e o Garantia Safra, sendo este último

um programa do governo federal, com aportes do Estado,

do Município e das Famílias Agricultoras. Porém essas

ações, que competem ao Governo do Estado, estão se

dando tardiamente e/ou de forma demorada e,

principalmente em quantidade que não atende as reais

necessidades do povo do Sertão do Araripe. Um exemplo

claro de ações subdimensionadas é a liberação

(contratação) de 10 carros pipa para o município de

Ouricuri, quando este precisa de no mínimo 90.

Quanto ao Governo Federal, suas ações, como:

leilão de milho pela CONAB; distribuição de água por

carros pipa através do exército; crédito especial para

agricultores afetados pela seca, Bolsa Estiagem e

Garantia Safra, também não conseguem atender ao Povo

Sertanejo nesse momento de seca que requer ações

imediatas. Os motivos para as ações não chegarem a

quem realmente precisa são velhos conhecidos:

burocracia exagerada - que leva a dificuldades de acesso,

Page 130:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

130

lentidão na operacionalização, além da quantidade

insuficiente.

Diante do exposto, reivindicamos com a máxima

urgência:

Água/Carros Pipa - Prefeituras, Governo do Estado e

Governo Federal.

Disponibilizar em quantidade suficiente (1 carro pipa para

cada 40 famílias).

Mapear e Monitorar no município o abastecimento

de água com os carros pipa, ação quê deverá ser

realizada em parceria com os Conselhos Municipais de

Desenvolvimento-Rural Sustentável.

Analisar periodicamente as águas utilizadas para

abastecimento com os carros pipa.

Liberar água da COMPESA de forma imediata, em

se verificando a escassez ou inadequação das fontes de

água para abastecimento por carros pipa.

Poços - Prefeituras, Governo do Estado e Governo

Federal.

Recuperar e instalar os poços, principalmente os já

listados pelo Governo do Estado (SARA/IPA) e/ou pelo

Governo Federal- Essa lista deverá ser atualizada junto

aos CMDRS.

Page 131:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

131

Consertar imediatamente as Máquinas

Perfuratrizes danificadas (quebradas).

Instalar imediatamente dessalinizadores, mediante

critérios de vazão e nº de famílias atendidas.

Locar máquinas perfuratrizes — preferencialmente

as capazes de perfurar poços mais profundos.

Chafarizes — Prefeituras e Governo do Estado.

Construir Chafarizes ao longo dos Ramais da

Adutora do Oeste.

Ramais adutoras — Prefeituras, Governo do

Estado e Governo Federal.

Construir pequenos ramais e pequenas adutoras a

partir de poços e pequenos açudes, para atendimento da

população difusa, principalmente pequenas comunidades

rurais.

Alimentos para os Animais/ Milho - Governo Federal.

Disponibilizar em quantidade suficiente e para

todos os animais, para no mínimo 30 dias.

Formar um comitê com representantes do STR,

Câmara de Vereadores, Prefeitura e do Governo do

Estado para monitoramento dessa ação em cada

município — maior transparência.

Atender primeiramente Famílias Agricultoras do

PRONAF enquadradas como “B”, “A” e “V”. Atendidas

Page 132:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

132

essas famílias naquele período, seriam repassados para

os demais criadores/as.

Volumoso — Prefeituras e Governo do Estado.

Disponibilizar em quantidade suficiente e para

todos os animais, para no mínimo 60 dias.

Formar um comitê com representantes do Sindicato

dos Trabalhadores/as Rurais, Prefeitura e do Governo do

Estado para monitoramento dessa ação em cada

município. maior transparência.

Programas de Transferência de Renda e de Indenização:

Garantia Safra, Bolsa Estiagem e Chapéu de Palha —

Prefeituras, Governo do Estado e Governo Federal.

Retomar imediatamente os referidos programas,

procurando atender a demanda real.

Antecipar e corrigir os valores — devido,

principalmente a inflação dos alimentos.

Crédito

Perdoar as dívidas das Famílias Agricultoras.

Aumentar o teto do valor disponibilizado no Crédito

Especial para as famílias agricultoras afetadas pela seca.

Possibilitar que as Famílias Agricultoras, que já

acessaram esse crédito possam acessar um novo

financiamento para aquisição de ração.

Page 133:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

133

Além das ações pautadas acima, reivindicamos também

que as reuniões do Comitê Integrado de enfrentamento a

Estiagem se deem onde os problemas estão

acontecendo, nos sertões, rompendo assim com a cultura

da época imperial, em que as decisões e a definição de

ações a serem tomadas, se davam na corte, longe das

pessoas que vivem as consequências dessas ações.

As pessoas do Sertão do Araripe expressam a

esperança de que as reivindicações apresentadas nesse

documento, cobrando ações concretas e emergenciais

ainda nesse primeiro trimestre de 2013 por parte dos

governos municipais, estadual e federal, saiam do

discurso ou do mero “faz de conta”, que podem até

preencher espaços na mídia, mas que não atendem as

reais necessidades da população nessa hora de aflição.

A sede, a fome e a visão de ver seus sonhos se

dissiparem, com a produção minguando, e o sentimento

na pele, de que as ações políticas não chegam como

deveriam, são temperos substanciosos para uma grande

“Tensão Social” na região. Por isso cobramos em caráter

de máxima urgência uma resposta.

Assinam esse documento:

Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais de: Araripina, Bodocó, Exu, lpubi, Moreilândia,

Page 134:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

134

Ouricuri, Parnamirim, Santa Cruz, Santa Filomena, e

Trindade.

Câmaras de Vereadores de: Araripina, Bodocó,

Exu, Ipubi, Moreilândia, Ouricuri, Parnamirim, Santa Cruz,

Santa Filomena, e Trindade.

Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural

de: Araripina, Bodocó, Exu, Ipubi, Moreilândia, Ouricuri,

Parnamirim, Santa Cruz, Santa Filomena, e Trindade.”

Mais uma vez, desejo chamar a atenção dos brasileiros, de matéria publicada

no jornal O Globo, em sua edição de 27 de setembro de 2014, sob o título “Águas do

Rio Tocantins podem ser usadas para abastecer o São Francisco”, que, para minha

surpresa, relata a intenção do Governo Federal de buscar essa saída para

incrementar o grandioso projeto de transposição do Velho Chico.

Explico minha reação ao texto, convidando-os a voltar quase duas décadas

no tempo, mais precisamente a março de 1995, quando apresentei essa ideia por

meio do Projeto de Lei nº 250, que incluía, no Plano Nacional de Viação, aprovado

pela Lei nº 5.917, de 10 de setembro de 1973, a implantação de bacia hidrográfica

que interligasse o Rio Preto, no Estado da Bahia, ao Rio Tocantins, no então Estado

de Goiás, de maneira a assegurar a navegação desde o Rio São Francisco até o Rio

Amazonas.

Depois de muita insistência, em audiências com o então Presidente Lula.

Naquele tempo deputado falava com o Presidente da República, consegui que o

projeto fosse analisado por uma comissão presidida pelo saudoso vice-presidente da

república, José Alencar que, mostra insensatez dos governos em não terem, há

Page 135:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

135

tempo, feito a interligação desses dois gigantes hídricos, os rios Tocantins com o Rio

São Francisco.

Segundo os estudos de Zé Alencar, com a construção da barragem de

Palmas, no Rio Tocantins, basta apenas a construção de um pequeno canal de 200

quilômetros para a interligação dessas duas importantes bacias, através do Rio

Coíbe, passando por Santa Maria da Vitória, na Bahia, ao rio São Francisco.

Com a morte de Zé Alencar e a saída de Lula do governo essa minha

proposição ficou esquecida, sem que se lhe desse a devida importância. O Projeto

foi arquivado e, somente em setembro de 2013, o reapresentei com o mesmo texto

anterior, agora denominado Projeto de Lei nº 6.569/13, na esperança de que a ele

seja dado a atenção que o grave assunto merece.

Causa-me espécie, pois, segundo relata O Globo, o fato de o Governo

“coincidentemente” considerar a adoção de saída que propus não uma, mas duas

vezes, uma delas há praticamente vinte anos!

Foi ainda nessa época que publiquei o livro intitulado O Rio São Francisco

está morrendo, obra em que eu conclamei toda a sociedade brasileira a empreender

esforço conjunto no sentido de salvar o Rio da Integração Nacional.

Como se vê, a destruição ambiental já vem deixando suas marcas desde

longa data. Infelizmente, parece que todas as instâncias da sociedade continuam em

estado de anestesia tal que as poucas vozes que insistem em denunciar o óbvio

simplesmente não são consideradas.

A situação do Rio São Francisco, em nossos dias, é catastrófica. À patente

redução das águas em toda a Bacia soma-se a seca verificada na própria nascente,

localizada no Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais. Tão grave

Page 136:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

136

fato, é verdade, se deve à sucessão de secas nos últimos três anos, mas a

devastação do curso do rio ocorre há tempos...

A ideia de realizar a transposição do São Francisco, é preciso que se diga,

também não é recente. A intenção de fazer do Rio o meio de conexão entre o

Nordeste e outras regiões do País surgiu ainda nos tempos da colonização, mas

nunca havia saído do papel.

Mas como é o Projeto de Transposição do Rio São Francisco?

O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do

Nordeste Setentrional é um empreendimento do Governo Federal, sob a

responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, destinado a assegurar a

oferta de água, em 2025, a cerca de 12 milhões de habitantes de pequenas, médias

e grandes cidades da região semiárida dos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba

e Rio Grande do Norte.

A integração do rio São Francisco às bacias dos rios temporários do

Semiárido será possível com a retirada contínua de 26,4 m³/s de água, o equivalente

a 1,4% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho (1850 m³/s) no trecho do

rio onde se dará a captação.

Este montante hídrico será destinado ao consumo da população urbana de

390 municípios do Agreste e do Sertão dos quatro Estados do Nordeste

Setentrional. Nos anos em que o reservatório de Sobradinho estiver vertendo, o

volume captado poderá ser ampliado para até 127 m³/s, contribuindo para o

aumento da garantia da oferta de água para múltiplos usos.

A Região Nordeste que possui apenas 3% da disponibilidade de água e 28%

da população brasileiras apresenta internamente uma grande irregularidade na

Page 137:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

137

distribuição dos seus recursos hídricos, uma vez que o rio São Francisco representa

70% de toda a oferta regional.

Esta irregularidade na distribuição interna dos recursos hídricos, associada a

uma discrepância nas densidades demográficas (cerca de 10 hab/km2 na maior

parte da bacia do rio São Francisco e aproximadamente 50 hab/km2 no Nordeste

Setentrional) faz com que, do ponto de vista da sua oferta hídrica, o Semiárido

Brasileiro seja dividido em dois: o Semiárido da Bacia do São Francisco, com 2.000

a 10.000m3/hab/ano de água disponível em rio permanente, e o Semiárido do

Nordeste Setentrional, compreendendo parte do Estado de Pernambuco e os

Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, com pouco mais de

400m3/hab/ano disponibilizados através de açudes construídos em rios intermitentes

e em aquíferos com limitações quanto à qualidade e/ou quanto à quantidade de suas

águas.

Diante desta realidade, tendo por base a disponibilidade hídrica de

1.500m3/hab/ano, estabelecida pela ONU como sendo a mínima necessária para

garantir a uma sociedade o suprimento de água para os seus diversos usos, o

Projeto de Integração estabelece a interligação da bacia hidrográfica do rio São

Francisco, que apresenta relativa abundância de água (1850 m³/s de vazão

garantida pelo reservatório de Sobradinho), com bacias inseridas no Nordeste

Setentrional com quantidades de água disponível que estabelecem limitações ao

desenvolvimento socioeconômico da região.

As bacias que receberão a água do rio São Francisco são: Brígida, Terra

Nova, Pajeú, Moxotó e Bacias do Agreste em Pernambuco; Jaguaribe e

Page 138:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

138

Metropolitanas no Ceará; Apodi e Piranhas-Açu no Rio Grande do Norte; Paraíba e

Piranhas na Paraíba.

O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do

Nordeste Setentrional prevê a construção de dois canais: o Eixo Norte que levará

água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte e o

Eixo Leste que beneficiará parte do sertão e as regiões agreste de Pernambuco e da

Paraíba.

O Eixo Norte, a partir da captação no rio São Francisco próximo à cidade de

Cabrobó-PE, percorrerá cerca de 400 quilômetros, conduzindo água aos rios

Salgado e Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-Açu, na

Paraíba e Rio Grande do Norte.

Ao cruzar o Estado de Pernambuco este eixo disponibilizará água para

atender as demandas de municípios inseridos em 3 sub-bacias do rio São Francisco:

Brígida, Terra Nova e Pajeú. Para atender a região do Brígida, no oeste de

Pernambuco, foi concebido um ramal de 110 quilômetros de comprimento que

derivará parte da vazão do Eixo Norte para os açudes Entre Montes e Chapéu.

Projetado para uma capacidade máxima de 99 m³/s, o Eixo Norte operará

com uma vazão contínua de 16,4 m³/s, destinados ao consumo humano. Em

períodos recorrentes de escassez de água nas bacias receptoras e de abundância

na bacia do São Francisco (Sobradinho vertendo), as vazões transferidas poderão

atingir a capacidade máxima estabelecida.

Os volumes excedentes transferidos serão armazenados em reservatórios

estratégicos existentes nas bacias receptoras: Atalho e Castanhão, no Ceará;

Armando Ribeiro Gonçalves, Santa Cruz e Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte;

Page 139:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

139

Engenheiro Ávidos e São Gonçalo, na Paraíba; e Chapéu e Entre Montes, em

Pernambuco.

O Eixo Leste que terá sua captação no lago da barragem de Itaparica, no

município de Floresta-PE, se desenvolverá por um caminhamento de 220

quilômetros até o rio Paraíba-PB, após deixar parte da vazão transferida nas bacias

do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Para o atendimento das

demandas da região agreste de Pernambuco, o projeto prevê a construção de um

ramal de 70 quilômetros que interligará o Eixo Leste à bacia do rio Ipojuca.

Previsto para uma capacidade máxima de 28 m³/s, o Eixo Leste funcionará

com uma vazão contínua de 10 m³/s, disponibilizados para consumo humano.

Periodicamente, em caso de sobras de água em Sobradinho e de necessidade nas

regiões beneficiadas, o canal poderá funcionar com a vazão máxima, transferindo

este excedente hídrico para reservatórios existentes nas bacias receptoras: Poço da

Cruz, em Pernambuco, e Epitácio Pessoa (Boqueirão), na Paraíba.

Os eixos de integração foram concebidos na forma de canais de terra, com

seção trapezoidal, revestidos internamente por membrana plástica impermeável,

com recobrimento de concreto. Nos trechos de travessia de rios e riachos serão

construídos aquedutos, sendo previstos túneis para a ultrapassagem de áreas com

altitude mais elevada. Para vencer o desnível do terreno entre os pontos mais altos

do relevo, ao longo dos percursos dos canais, e os locais de captação no rio São

Francisco, serão implantadas 9 estações de bombeamento: 3 no Eixo Norte, com

elevação total de 180 metros, e 6 no Eixo Leste, elevando a uma altura total de 300

metros.

Page 140:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

140

Ao longo dos eixos principais e de seus ramais, serão construídas 30

barragens para desempenharem a função de reservatórios de compensação,

permitindo o fluxo de água nos canais mesmo durante as horas do dia em que as

estações de bombeamento estejam desligadas (as bombas ficarão de 3 a 4 horas

por dia desligadas para reduzir os custos com energia).

Com o Projeto de Integração do Rio São Francisco, os grandes açudes

(Castanhão-CE, Armando Ribeiro Gonçalves-RN, Epitácio Pessoa-PB, Poço da

Cruz-PE e outros) do Nordeste Setentrional passarão a oferecer uma maior garantia

para o fornecimento de água aos diversos usos das populações. Nos Estados

beneficiados com o projeto, vários sistemas de distribuição estão operando,

encontram-se em obras ou estão em fase de estudos, com o objetivo de levar água

destes reservatórios estratégicos para suprir cidades e perímetros de irrigação.

No Estado do Ceará, o sistema de reservatórios que abastece a Região

Metropolitana de Fortaleza — RMF (açudes Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião) já

está interligado ao rio Jaguaribe através do Canal do Trabalhador (capacidade de 5

m³/s). Em função da necessidade de se levar mais água da bacia do Jaguaribe para

a RMF, o Governo do Estado está construindo o Canal da Integração (capacidade

de 22 m³/s), interligando o açude Castanhão às bacias do Banabuiú (maior afluente

do rio Jaguaribe) e Metropolitanas.

No Estado do Rio Grande do Norte, o açude Armando Ribeiro Gonçalves é

responsável pelo abastecimento de uma grande quantidade de municípios das

bacias do Piranhas-Açu, Apodi e Ceará-mirim através de 4 grandes sistemas

adutores que estão em operação: Adutora de Mossoró, Adutora Sertão Central /

Cabugi, Adutora Serra de Santana, Adutora do Médio Oeste. Encontra-se em fase

Page 141:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

141

de projeto, a Adutora do Alto Oeste que atenderá a maior parte dos municípios da

bacia do Apodi, captando água no açude Santa Cruz, outro reservatório de recepção

das transferências hídricas do Projeto São Francisco.

No Estado da Paraíba, o Eixo Leste do Projeto São Francisco permitirá o

aumento da garantia da oferta de água para os vários municípios da bacia do

Paraíba, atendidos pelas adutoras do Congo, do Cariri, Boqueirão e Acauã. O Eixo

Norte possibilitará o abastecimento seguro de diversos municípios da bacia do

Piranhas, atendidos por sistemas adutores tais como Adutora Coremas/Sabugi e

Canal Coremas/Souza.

No Estado de Pernambuco, os Eixos Norte e Leste, ao atravessarem o seu

território, servirão de fonte hídrica para sistemas adutores existentes ou em projeto,

responsáveis pelo abastecimento de populações do Sertão e do Agreste: Adutora do

Oeste, Adutora do Pajeú, Adutora Frei Damião e Adutora de Salgueiro.

O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do

Nordeste Setentrional é a mais importante ação estruturante, no âmbito da política

nacional de recursos hídricos, tendo por objetivo a garantia de água para o

desenvolvimento socioeconômico dos Estados mais vulneráveis às secas (Ceará,

Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco). Neste sentido, ao mesmo tempo em

que garante o abastecimento por longo prazo de grandes centros urbanos da região

(Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato, Mossoró, Campina Grande, Caruaru, João

Pessoa) e de centenas de pequenas e médias cidades inseridas no Semiárido, o

projeto beneficia áreas do interior do Nordeste com razoável potencial econômico,

estratégicas no âmbito de uma política de desconcentração do desenvolvimento,

polarizado até hoje, quase exclusivamente, pelas capitais dos Estados.

Page 142:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

142

Ao interligar os açudes estratégicos do Nordeste Setentrional com o rio São

Francisco, o projeto irá permitir:

No Estado do Ceará

O aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada pelos maiores

reservatórios estaduais (Castanhão, Orós e Banabuiú) que operados de forma

integrada com os açudes Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião fornecem água para os

diversos usos da maior parte da população das bacias do Jaguaribe e

Metropolitanas (5 milhões de habitantes de 56 municípios, em 2025);

A redução do conflito existente entre a bacia do Jaguaribe e as bacias

Metropolitanas, em função do progressivo aumento das transferências de água para

o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza que possui uma

disponibilidade hídrica per capita de apenas 90m3/hab/ano;

Uma melhor e mais justa distribuição espacial da água ofertada pelos açudes

Orós e Banabuiú, beneficiando populações do Sertão Cearense, uma vez que com o

Projeto de Integração do São Francisco estes reservatórios estariam aliviados do

atendimento de parte das demandas do Médio e Baixo Jaguaribe e da Região

Metropolitana de Fortaleza;

A perenização do rio Salgado, estabelecendo uma fonte hídrica permanente

para o abastecimento da segunda região mais povoada do Estado, o Cariri

Cearense (cerca de 500 mil habitantes).

No Estado do Rio Grande do Norte;

O aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada pelos dois maiores

reservatórios estaduais (Santa Cruz e Armando Ribeiro Gonçalves) responsáveis

Page 143:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

143

pelo suprimento de água para os diversos usos da maior parte da população das

bacias do Apodi, Piranhas-Açu, Ceará-mirim e Faixa Litorânea Norte;

A redução dos conflitos existentes na Bacia do Piranhas-Açu, entre usuários

de água deste Estado e do Estado da Paraíba e entre os usos internos do próprio

Estado;

A perenização dos maiores trechos dos rios Apodi e Piranhas-Açu, situados a

montante dos açudes Santa Cruz e Armando Ribeiro Gonçalves, estabelecendo uma

fonte hídrica permanente para as populações de mais de 60 municípios localizados

nestas duas bacias hidrográficas;

O abastecimento seguro para 95 municípios (1,2 milhões de habitantes em

2025), através do aumento da garantia da oferta de água dos açudes Santa Cruz e

Armando Ribeiro Gonçalves, da perenização permanente de todos os trechos dos

rios Apodi e Piranhas-Açu, em associação com uma rede de adutoras que vem

sendo implantada há alguns anos (mais de 1.000 quilômetros implantados).

No Estado da Paraíba

O aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada pelos maiores

reservatórios estaduais (Epitácio Pessoa, Acauã, Engenheiros Ávidos, Coremas e

Mãe D’água) responsáveis pelo suprimento de água para os diversos usos da maior

parte da população das bacias do Paraíba e Piranhas;

A redução dos conflitos existentes na Bacia do Piranhas-Açu, entre usuários

de água deste Estado e do Estado do Rio Grande do Norte e entre os usos internos

do próprio Estado;

A redução dos conflitos existentes na Bacia do Paraíba, fundamentalmente

sobre as águas do Açude Epitácio Pessoa, insuficientes para os seus diversos usos

Page 144:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

144

e tendo como umas das consequências o estrangulamento do desenvolvimento

socioeconômico de Campina Grande, um dos maiores centros urbanos do interior do

Nordeste (cerca de 400 mil habitantes);

Uma melhor e mais justa distribuição espacial da água ofertada pelos açudes

Coremas e Mãe D’Água, beneficiando populações da região do Piancó, uma vez que

com o Projeto de Integração do São Francisco estes reservatórios estariam aliviados

do atendimento de demandas dos trechos do rio Piranhas, situados a jusante destes

reservatórios;

O abastecimento seguro para 127 municípios (2,5 milhões de pessoas em

2025), através do aumento da garantia da oferta de água dos açudes Epitácio

Pessoa, Acauã, Engenheiros Ávidos, Coremas e Mãe D’água, da perenização

permanente de todos os trechos dos rios Paraíba e Piranhas, em associação com

uma rede de adutoras que vem sendo implantada há alguns anos (mais de 600

quilômetros implantados).

No meu Estado, Pernambuco

Uma melhor distribuição espacial dos seus recursos hídricos, pois além da

disponibilidade de água do rio São Francisco em cerca de metade da sua fronteira

sul, o Estado contará com dois grandes canais (Eixo Norte e Eixo Leste), cortando

transversalmente o seu território, a partir dos quais uma rede de adutoras e/ou

canais irá, de forma sustentável, garantir o abastecimento das regiões do Agreste e

do Sertão, situadas em cotas elevadas e distantes daquele rio;

A divisão, com os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, de parte

dos custos de oferta hídrica para as regiões do Agreste e do Sertão, tornando a

água, distribuída a partir dos canais do Projeto de Integração, mais barata do que

Page 145:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

145

aquela captada diretamente do rio São Francisco por meio de adutoras isoladas (os

custos de operação e manutenção da infraestrutura dos Eixos Norte e Leste serão

rateados entre os Estados beneficiados, gerando uma economia de escala);

O aumento da garantia da oferta hídrica proporcionada por dois dos maiores

reservatórios do Estado (Entre Montes e Poço da Cruz), estrategicamente situados

para permitir o atendimento de demandas atuais e futuras das bacias dos rios

Brígida e Moxotó;

O abastecimento seguro para 113 municípios (2,9 milhões de pessoas em

2025) do Sertão (bacias do Brígida, Terra Nova, Pajeú e Moxotó) e do Agreste,

através da disponibilidade hídrica proporcionada diretamente pelos Eixos Norte e

Leste, pelos seus ramais (Ramal de Entre Montes e Ramal do Agreste), pelos

Açudes Entre Montes e Poço da Cruz, pelos leitos de rios perenizados, em

associação com uma rede de adutoras que poderá ser conectada aos canais do

Projeto de Integração.

O Projeto de Integração, também, terá um grande alcance no abastecimento

da população rural, quer seja através de centenas de quilômetros de canais e de

leitos de rios perenizados, quer seja por intermédio de adutoras para o atendimento

de um conjunto de localidades.

O Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

(PRSF) é coordenado pela Secretaria-Executiva do Ministério do Meio Ambiente, em

parceria com o Ministério da Integração Nacional. Com prazo de execução de 20

anos, suas ações estão inseridas no Programa de revitalização de bacias

hidrográficas com vulnerabilidade ambiental do Plano Plurianual (PPA 2004/2007) e

será complementado por outras ações previstas em vários programas federais do

Page 146:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

146

PPA. As ações de revitalização são executadas de acordo com a Política Nacional

de Meio Ambiente — Lei nº 6.938/81, Política Nacional de Recursos Hídricos — Lei

nº 9.433/97 e a Política Nacional de Saneamento — Lei nº 11.445/07.

Divide-se em cinco linhas de ações, em conformidade como Plano de

Atividades e Metas 2004-2007 — PAM: Gestão e Monitoramento; Agenda

Socioambiental; Proteção e uso sustentável de recursos naturais; Qualidade de

saneamento ambiental e economias sustentáveis.

No período de 2004-2006, o Programa executou ações cujo montante de

recursos atingiu R$194.692.520,00, constando de obras de revitalização e

recuperação do rio São Francisco; monitoramento da qualidade da água;

reflorestamento de nascentes, margens e áreas degradadas; e controle de

processos erosivos para conservação de água e do solo, nos Estados de Sergipe,

Alagoas, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais.

O PRSF terá parte da sua continuidade assegurada com recursos do

Programa de Aceleração do Crescimento — PAC (2007-2010) na ordem de

R$1.274.700.000,00. As ações previstas consistiam em obras de saneamento

básico (resíduos sólidos, esgoto), contenção de barrancos e de controle de

processos erosivos, melhoria da navegabilidade e recuperação de matas ciliares. As

ações de esgotamento sanitário, inicialmente, envolverão os 102 municípios da

calha do rio São Francisco.

Este programa representa um esforço comum de articulação e integração

entre os vários órgãos de governos em todas as esferas e da sociedade civil, todos

imbuídos do propósito único que é promover a revitalização da bacia e o

desenvolvimento em base sustentável e alcançar a governabilidade desejada,

Page 147:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

147

reconhecida como chave para a gestão mais equitativa, eficiente e sustentável dos

recursos naturais.

Rio da Integração Nacional, o São Francisco, descoberto em 1502, tem esse

título por ser o caminho de ligação do Sudeste e do Centro-Oeste com o Nordeste.

Desde as suas nascentes, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até sua foz, na

divisa de Sergipe e Alagoas, ele percorre 2.700 quilômetros.

Ao longo desse percurso, que banha cinco Estados, o rio se divide em quatro

trechos: o Alto São Francisco, que vai de suas cabeceiras até Pirapora, em Minas

Gerais; o Médio, de Pirapora, onde começa o trecho navegável, até Remanso, na

Bahia; o Submédio, de Remanso até Paulo Afonso, também na Bahia; e o Baixo, de

Paulo Afonso até a foz.

O Rio São Francisco recebe água de 168 afluentes, dos quais 99 são

perenes, 90 estão na sua margem direita e 78 na esquerda. A produção de água de

sua Bacia concentra-se nos cerrados do Brasil Central e em Minas Gerais e a

grande variação do porte dos seus afluentes é consequência das diferenças

climáticas entre as regiões drenadas. O Velho Chico, como carinhosamente o rio

também é chamado, banha os Estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco,

Sergipe e Alagoas. Sua Bacia hidrográfica também envolve parte do Estado de

Goiás e o Distrito Federal.

Os índices pluviais da Bacia do São Francisco variam entre sua nascente e

sua foz. A pluviometria média vai de 1.900 milímetros na área da Serra da Canastra

a 350 milímetros no semiárido nordestino. Por sua vez, os índices relativos à

evaporação mudam inversamente e crescem de acordo com a distância das

Page 148:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

148

nascentes: vão de 500 milímetros anuais, na cabeceira, a 2.200 milímetros anuais

em Petrolina (PE).

Embora o maior volume de água do rio seja ofertado pelos cerrados do Brasil

Central e pelo Estado de Minas Gerais, é a represa de Sobradinho que garante a

regularidade de vazão do São Francisco, mesmo durante a estação seca, de maio a

outubro. Essa barragem, que é citada como o pulmão do rio, foi planejada para

garantir o fluxo de água regular e contínuo à geração de energia elétrica da cascata

de usinas operadas pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) —

Paulo Afonso, Itaparica, Moxotó, Xingó e Sobradinho. É assim que ela opera.

Depois de movimentarem os gigantescos geradores daquelas cinco

hidrelétricas, as águas do São Francisco correm para o mar. Atualmente, 95% do

volume médio liberado pela barragem de Sobradinho — 1.850 metros cúbicos por

segundo — são despejados na foz e apenas 5% são consumidos no Vale. Nos anos

chuvosos, a vazão de Sobradinho chega a ultrapassar 15 mil metros cúbicos por

segundo, e todo esse excedente também vai para o mar.

A irrigação no Vale do São Francisco, especialmente no semiárido é uma

atividade social e econômica dinâmica, geradora de emprego e renda na região e de

divisas para o País — suas frutas são exportadas para os EUA e Europa. A área

irrigada poderá ser expandida para até 800 mil hectares, nos próximos anos, o que

será possível pela participação crescente da iniciativa privada.

O Programa de Revitalização do São Francisco, cujas ações já se iniciaram,

contempla, no curto prazo, a melhoria da navegação no rio, providência que

permitirá a otimização do transporte de grãos (soja, algodão e milho,

Page 149:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

149

essencialmente) do Oeste da Bahia para o porto de Juazeiro (BA) e daí, por ferrovia,

para os principais portos nordestinos.

Números do Rio:

- Extensão: 2.700 quilômetros — desde a Serra da Canastra, no município

mineiro de São Roque de Minas, onde nasce, até a sua foz, entre os Estados de

Sergipe e Alagoas.

- Área da Bacia: 634 mil km2

- Está dividido em quatro trechos:

a) Alto São Francisco — das nascentes até a cidade de Pirapora (MG), com

100.076 km2, ou 16% da área da Bacia, e 702 quilômetros de extensão. Sua

população é de 6,247 milhões de habitantes

b) Médio São Francisco — de Pirapora (MG) até Remanso (BA) com 402.531

km2, ou 53% da área da Bacia, e 1.230 quilômetros de extensão. Sua população é

de 3,232 milhões de habitantes

c) Submédio São Francisco — de Remanso (BA) até Paulo Afonso (BA), com

110.446 km2, ou 17% da área da Bacia, e 440 quilômetros de extensão. Sua

população é de 1,944 milhões de habitantes

d) Baixo São Francisco — de Paulo Afonso (BA) até a foz, entre Sergipe e

Alagoas, com 25.523 km2, ou 4% da área da Bacia, e 214 quilômetros de extensão.

Sua população é de 1,373 milhões de habitantes

- O Rio S. Francisco banha cinco Estados: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco,

Alagoas e Sergipe, mas sua Bacia alcança também Goiás e o Distrito Federal. A

Bacia do rio abrange 504 de municípios, ou 9% do total de municípios do país.

Desse total, 48,2% estão na Bahia, 36,8% em Minas Gerais, 10,9% em

Page 150:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

150

Pernambuco, 2,2% em Alagoas, 1,2% em Sergipe, 0,5% em Goiás e 0,2% no

Distrito Federal.

- Cerca de 13 milhões de pessoas (Censo de 2000) habitam a área da Bacia

do São Francisco

- Consumo atual de água da Bacia do rio São Francisco: 91 m³/s

- Vazão firme na foz (garantia de 100%): 1.850 m³/s

- Vazão média na foz: 2.700m3/s

- Vazão disponibilizada para consumos variados: 360 m³/s

- Vazão mínima fixada após Sobradinho: 1.300 m³/s

- Vazão firme para a integração das bacias: 26 m³/s (1,4% de 1.850 m³/s).

Perguntas e Respostas sobre a Integração do Rio São Francisco às Bacias

Hidrográficas do Nordeste Setentrional.

É verdade que o Rio São Francisco está morrendo?

Ainda não. Em que pese o Rio São Francisco ainda ser um rio muito saudável

e pujante, em razão do desprezo por parte das autoridades, ele tem sido muito

ameaçado pelos impactos da ação do homem, de que são exemplos a poluição por

esgotos, as barragens construídas ao longo do seu leito para a geração de energia

elétrica, o assoreamento causado pelo desmatamento crescente dos cerrados em

benefício da agropecuária, e a agressão às suas matas ciliares. Apesar disto, o rio

segue resistindo bravamente. Ele é e será uma fonte de sustentação econômica

para os habitantes de sua bacia hidrográfica, porque continua a receber, na média, a

mesma quantidade de chuva de antes, mantendo, sem alteração, há mais de duas

décadas, o suprimento de energia elétrica ao Nordeste, beneficiando por igual todos

os Estados da região. A quantidade de suas águas não está comprometida e o São

Page 151:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

151

Francisco está em melhor situação qualitativa do que muitos rios do Sudeste.

Portanto, o rio não está morrendo.

Mas o Velho Chico tem problemas?

Sim, o Velho Chico precisa ser mais bem cuidado, principalmente nos

afluentes mais degradados pela ação humana, como tantos outros rios do país. Em

alguns trechos, a derrubada das matas, que cobriam suas margens e encostas,

provocou o assoreamento do leito do rio, que é a formação anormal de bancos de

areia, o que prejudica a navegação e o habitat dos peixes. Em outros lugares, a falta

de tratamento de esgoto das cidades ribeirinhas provocou a poluição das águas. De

fato, é preciso cuidar melhor do Rio São Francisco.

O rio precisa ser revitalizado?

Sim, e isso já está acontecendo. A revitalização hidroambiental da bacia do

São Francisco é um programa coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, com a

participação do Ministério da Integração Nacional e da sociedade sanfranciscana. O

programa de revitalização do São Francisco contempla ações voltadas para o

reflorestamento de áreas críticas, a construção de barragens em rios afluentes, a

melhoria da calha navegável do seu curso médio, o tratamento de esgotos das

cidades e vilas localizadas nas suas margens, o controle da irrigação e a educação

ambiental. Há também ações para a melhoria das condições de vida das

comunidades ribeirinhas. O Governo Federal investiu, em 2004, R$ 26 milhões

nessas ações de revitalização do rio. Em 2005, esses investimentos para a

revitalização do rio serão de R$ 100 milhões, só na área dos Ministérios da

Integração Nacional e do Meio Ambiente. Há outros recursos: desde 1988, a Chesf

repassa, diretamente para os Estados e os municípios da Bacia do São Francisco,

Page 152:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

152

6% do seu faturamento bruto, o equivalente a R$ 90 milhões por ano. É um dinheiro

que, segundo a Lei, deve ser obrigatoriamente aplicado em ações de revitalização

do rio. De 1988 até agora, a Chesf já repassou R$ 1,350 bilhão para os municípios

sanfranciscanos. O Ministério das Cidades, por sua vez, está aplicando R$ 620

milhões em projetos de saneamento básico e/ou de abastecimento d’água em 86

municípios da Bacia. A degradação do rio, que já dura mais de 100 anos, não é uma

ação de curto prazo e nem é responsabilidade somente do Governo Federal, mas

também dos governos estaduais e municipais, que devem trabalhar juntos para o

enfrentamento do problema.

É verdade que o Rio São Francisco vai ser desviado?

Absolutamente não. Não é nada disso. O Velho Chico vai continuar no

mesmo curso que sempre teve. Só uma pequena parte do seu volume — ou seja,

apenas 1% da água que ele joga no mar — vai ser captada para garantir o consumo

humano e animal na região do semiárido nordestino, onde vivem 12 milhões de

pessoas. Não haverá nenhum problema ambiental para o São Francisco ou para

qualquer atividade econômica que hoje se desenvolve ao longo de seus 2.700

quilômetros de extensão. A quantidade de água a ser retirada é, realmente, muito

pequena.

Ainda assim, a retirada de água para perenizar outros rios não é prejudicial ao

Rio São Francisco?

Não, por várias razões. Em primeiro lugar, há disponibilidade de água no Rio

São Francisco para utilização no desenvolvimento do Polígono das Secas, assim

como se tem feito com a sua energia hidrelétrica. Em segundo lugar, e é importante

que se repita isto, a quantidade de água a ser retirada é muito pequena. A terceira

Page 153:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

153

razão é que essa captação vai ocorrer apenas em dois pontos e em locais onde a

vazão do rio já está regularizada pelas barragens, não afetando as atividades

econômicas nem a navegação. A quarta razão, é que a água a ser retirada vai ser

usada principalmente para o consumo humano, para matar a sede de milhões de

nordestinos que habitam o Polígono das Secas. Tudo isso será feito sem prejudicar

o Rio São Francisco e em clima de concórdia, pois cabe ao Governo Federal zelar

pela distribuição das oportunidades de desenvolvimento entre os irmãos brasileiros.

Os usuários do São Francisco terão prejuízos?

Não, pelo contrário, a construção desses dois canais vão fazer com que este

meu Projeto de Lei seja aprovado e implantado e, ainda porque o curso do rio não

será alterado e muito menos serão afetadas as condições hídricas e ambientais.

Com esse projeto, vai acontecer o mesmo que já acontece em centenas de outros

pontos do rio: haverá captação de água para abastecimento humano. O que muda é

a quantidade de água, um pouco maior do que é captado em cidades de médio

porte. Mas, ainda assim, a quantidade de água a ser retirada equivale a somente um

por cento do que o rio joga no mar. Além disso, há milhões de pessoas vivendo no

semiárido com muito pouca água. Quando chega a seca, muitos não têm água nem

para beber. Seria desumano ignorar essa situação dramática que aflige o Nordeste

há séculos.

Então, é uma questão de solidariedade humana?

É sim. A pequena quantidade de água que será captada do Rio São

Francisco não causará qualquer prejuízo aos seus usuários, mas terá importância

vital para milhões de nordestinos que, com suas famílias, vivem na parte mais seca

do Nordeste. A vida dessas pessoas, certamente, melhorará. Vale lembrar que a

Page 154:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

154

seca não só maltrata as pessoas e os animais, como também dilacera as famílias,

por causa da migração forçada. Os mais jovens e mais fortes vão para outras

regiões, procurar emprego para garantir a sua sobrevivência e dos seus parentes.

Ficam no sertão as mulheres, as crianças e os velhos, muitos deles tão doentes e

fracos que não têm como garantir comida e água até que chegue a ajuda dos que

foram embora, empurrados pela seca. Alguns dos que migram não voltam mais, nem

mandam notícias e suas famílias ficam destroçadas para sempre. Outros mandam

buscar os parentes e vão morar em favelas na periferia das grandes cidades, com

problemas diferentes (violência, desemprego, más condições de moradia, fome etc.),

porém até mais graves do que os que enfrentavam no sertão nordestino.

A migração por causa da seca é tão dramática assim?

É um drama pessoal e familiar que atinge centenas de milhares de

nordestinos, principalmente. A migração forçada também causa sérios problemas

para o governo federal, os governos estaduais e as prefeituras das grandes cidades,

como o inchaço das regiões metropolitanas, a proliferação de favelas, o déficit de

moradias, a insuficiência da infraestrutura básica (transporte coletivo, saneamento,

abastecimento de água, rede elétrica, escolas e hospitais), o desemprego e o

aumento da criminalidade. Ou seja, a falta de água no semiárido afeta não só quem

está lá: acaba prejudicando até quem nunca passou pelo sertão nordestino.

Há quanto tempo ocorre à migração por causa da seca?

Há mais de 150 anos. A migração do Nordeste em direção a outras regiões

do país é um movimento populacional constante e antigo, dos mais importantes no

mundo moderno. Também é volumoso, atingindo o auge nas secas prolongadas.

Dezenas de milhões de nordestinos fugiram da seca em direção ao Norte, ao litoral,

Page 155:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

155

ao Centro Oeste e ao Sudeste. Pelo menos um terço dos habitantes da Grande São

Paulo é composto por nordestinos ou descendentes de retirantes da região. Até o

presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foi obrigado a sair de sua terra

natal com parte da família, migrando para São Paulo. Em resumo, a falta de água no

semiárido dificulta a criação de empregos e a sustentação de suas populações.

É possível impedir a migração para as grandes cidades?

Num país democrático, as pessoas têm o direito de ir e vir para onde e

quando quiserem. O que tem que ser combatida é a causa da migração forçada, que

é a falta de condições de vida digna no semiárido por escassez de água. Havendo

água, as famílias vão continuar unidas na sua terra natal, porque estará garantido o

que beber e o que comer e haverá atividade econômica, com renda e empregos.

Esse é o objetivo do projeto de integração da bacia do Rio São Francisco com as

bacias dos rios intermitentes do chamado Nordeste Setentrional, que envolve o

agreste e os sertões de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do

Ceará. A água vai permitir o desenvolvimento sustentável naquela região e só quem

quiser vai precisar ganhar a vida em outros lugares.

O que impediu, até agora, o desenvolvimento econômico do semiárido?

Foi principalmente a escassez de água, seja das chuvas, dos rios ou de

outras fontes. E sem abastecimento assegurado de água, nada vai mudar no

semiárido nordestino. O desenvolvimento de grande parte da região Nordeste está

comprometido pela escassez de água nas bacias dos rios intermitentes, o que leva a

uma condição crítica de vida humana. O Ceará, o Rio Grande do Norte e a Paraíba

não dispõem de uma fonte permanente de água, isto é, eles não têm rios perenes,

como é o São Francisco, que beneficia Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas e

Page 156:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

156

Pernambuco, e como é o Parnaíba, que beneficia o Piauí. Assim, o sertanejo fica à

espera de uma chuva que por vezes vem, permitindo-lhe garantir comida e renda

precária em alguns anos, mas nunca em quantidade suficiente para garantir

reservas para os anos secos. É um jogo de loteria com a natureza, que raramente

permite capitalizar o pequeno produtor, melhorar sua tecnologia e viabilizar a saída

da indigência. A pobreza rural perpetua-se, aumenta a dependência dos políticos e

gera contínua migração. É, ainda, uma das chagas expostas do Brasil.

Mas é legal tirar água de um rio para colocar em outro?

A Lei de Recursos Hídricos (9.433/97) determina que o Estado deve garantir

a necessária disponibilidade de água para a população, onde ela reside. Além disso,

a gestão dos recursos hídricos, embora realizada por bacias hidrográficas isoladas,

não determina os direitos de quem pode ter acesso à água, especialmente nos rios

federais, cuja água pertence a toda sociedade brasileira.

O governo entende que a integração da bacia do São Francisco às do

Nordeste Setentrional é essencial para promover a igualdade de oportunidades para

todos os brasileiros, evitando que uns sejam prejudicados, sem necessariamente

beneficiar os outros, pois existirá água para todos, ainda durante muitas décadas,

sem a necessidade de trazer água de rios de outras regiões para o Nordeste.

Como é a distribuição de água no Brasil?

A distribuição das fontes de água no país é desigual. Enquanto a Amazônia,

com cerca de 10% da população brasileira, detém 70% da disponibilidade da água

doce do País, o Nordeste, com 30% da população nacional, dispõe de apenas 3%

de toda a água doce do Brasil. Essa desigualdade é também flagrante no próprio

Nordeste. Repare: a bacia do São Francisco concentra 63% da disponibilidade de

Page 157:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

157

água da região nordestina, sendo que 95% de sua vazão vai para o mar; a bacia do

rio Parnaíba (Piauí/Maranhão) detém 15% da água disponível no Nordeste.

Portanto, essas duas bacias dispõem de 78% das disponibilidades de água

da região. Por sua vez, as bacias dos rios intermitentes nordestinos detêm apenas

22% da água disponível, os quais se concentram em alguns açudes estratégicos de

grande porte e em aquíferos profundos próximos à Zona Costeira. Em

compensação, 2/3 da população residente estimada para 2025 vivem justamente

nessas bacias deficitárias.

Qual é a gravidade desse problema?

Essa concentração de população em uma área com pouca água cria sérios

problemas econômicos e sociais. A disponibilidade hídrica per capita é inferior ao

índice crítico de 1.000 m³/hab/ano, indicado pelas Nações Unidas como o mínimo

para garantir a vida humana e a preservação ambiental. Nas bacias do São

Francisco e do Parnaíba, esse índice é da ordem de 2.000 m³/hab/ano para a

população estimada para o ano 2025. Nas bacias dos rios intermitentes, o índice já

é, hoje, inferior a 1.000 m³/hab/ano, e tende para 500 m³/hab/ano ou menos, no ano

2025. Para que haja desenvolvimento sustentável equilibrado e harmônico na

Região do Polígono das Secas, será necessário distribuir melhor a água local entre

a população, integrando as bacias superavitárias às bacias deficitárias, além de

construir os projetos de distribuição interna da água em cada sub-região. A situação

hídrica do Nordeste Setentrional é agravada, ainda, pela maior probabilidade de

ocorrência de secas, levando a crises sociais e econômicas periódicas, que

acarretam pobreza, migrações e falta de competitividade econômica.

O que é o Nordeste Setentrional?

Page 158:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

158

O Nordeste Setentrional, situado ao norte da bacia do São Francisco, engloba

os Estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, parte de Pernambuco (Agreste

e Sertão) e parte de Alagoas.

Em média, quanta água uma pessoa consome por ano?

Para viver plenamente em todos os aspectos, as Nações Unidas recomendam

um consumo de no mínimo 1.000 m³ por habitante/ano, aí considerando a água não

só para beber, mas para todos os usos sociais e econômicos que podem

proporcionar uma vida digna ao homem. Só para produzir uma tonelada de

alimentos são necessários, em média, 1.000 m³ de água. Atualmente, milhões de

pessoas no semiárido Nordestino sobrevivem com quantidades bem menores de

água, mas isso impede que as atividades econômicas se desenvolvam

normalmente, perpetuando a pobreza. Por essa razão, o semiárido nordestino é uma

das regiões mais pobres do Brasil e do mundo. Estima-se que cerca de 17,5 milhões

de nordestinos vão ter 500 metros cúbicos ao ano — ou menos — à sua disposição,

nos próximos 20 anos. Isso é menos da metade do mínimo recomendado pela ONU.

Mas uma pessoa bebe no máximo uns três litros de água por dia, não é?

É verdade, mas a água não é só para beber. Todo mundo precisa tomar

banho, cozinhar, lavar pratos, lavar roupa, dar descarga no banheiro, e assim por

diante. Quando se faz a conta, o número é bem maior do que o necessário para

beber. Além disso, na conta feita pelas Nações Unidas está incluída a água para o

cultivo dos alimentos que cada pessoa vai consumir e para a produção de todos os

itens que consome (roupas, livros, artigos industriais etc.) individualmente ou,

indiretamente, de forma coletiva.

Não existe outra solução técnica mais econômica, como os açudes?

Page 159:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

159

A água dos rios intermitentes do semiárido setentrional já é armazenada em

grandes açudes, mas investe-se muito nessas obras para disponibilizar

relativamente pouca água. Para cada m³ de água disponibilizado, perdem-se 3 m³

por evaporação e vertimento (sangramento) nos açudes. Ou seja: é preciso represar

4 m³ para usar apenas um. Além disso, não há mais a possibilidade de guardar água

nas bacias com novos açudes. O que poderá ocorrer, em muitas bacias, é que a

construção de novos açudes necessários para distribuir água no território acabará

causando mais perdas de água por evaporação, reduzindo a água disponível no

conjunto da bacia.

E os poços?

A opção pela captação de água em lençóis subterrâneos por meio de poços é

viável, mas limitada ao volume renovável e só pode ser feita basicamente nos

terrenos sedimentares permeáveis, que ocorrem em apenas cerca de 30% do

Polígono das Secas, e de forma concentrada na zona costeira e no Estado do Piauí.

Setenta por cento do semiárido, portanto, não contam com essa opção, pois o

terreno é pedregoso e não permite a infiltração de água. Há outras limitações, entre

as quais a qualidade da água, muitas vezes com alto teor de sais e outros minerais,

o que a torna imprópria para o consumo humano ou mesmo para irrigação.

E as cisternas?

A coleta de água da chuva em cisternas garante água para beber no meio

rural, para a população dispersa, para a qual, em geral, não se viabilizam longas

adutoras, de alto custo, para atender a poucas pessoas. As cisternas, entretanto,

não produzem modificações estruturais nem a inserção econômica da população

rural nas condições modernas de vida.

Page 160:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

160

O uso de cisternas é válido numa conjuntura emergencial, mas muito precário

se for a única fonte de água permanente. Para abastecer uma cisterna, é preciso

uma área adequada de telhado, onde se faz a captação da água. Em muitos

lugares, nem sempre existem áreas telhadas suficientes para manter as cisternas

cheias, porque chove pouco. E nas secas prolongadas, a cisterna é um recurso que

pode esgotar-se. Em resumo, apenas construir cisternas não resolve a questão

principal, embora alivie a vida dos pobres dispersos no meio rural do sertão.

Pesquisas feitas no semiárido mostram também outro problema grave: a

contaminação das cisternas por coliformes fecais e outras fontes de poluição.

O nordestino da região semiárida depende mesmo do Velho Chico?

Também. E muito. A solução dos problemas crônicos do semiárido depende

de fato de seu principal manancial hídrico, que é o Rio São Francisco, embora

outras fontes de água possam ajudar. Ainda assim, essas fontes não substituem o

Velho Chico, que deve ser o manancial complementar da região, na medida das

necessidades de cada área, porque é a fonte hídrica mais próxima e de grande

volume.

A solução, então, é fazer mesmo a integração do Rio São Francisco com as

bacias hidrográficas do semiárido nordestino?

Sim, mas, concomitantemente a isto, a integração do Rio Tocantins ao Rio

São Francisco, de acordo com o meu Projeto de Lei já aprovado pela Comissão

Especial presidida pelo vice-presidente José Alencar, coisa que ainda está

demorando muito. Isso ocorrendo, o Rio São Francisco suportará todos os

problemas de falta de água na região nordeste. Outra coisa é que há um grande

desequilíbrio entre a oferta de água e a população residente no Polígono das Secas:

Page 161:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

161

a bacia do São Francisco tem 70% da água e 21% da população do Polígono; já as

bacias dos rios intermitentes nos diferentes Estados oferecem apenas 20% da água,

mas concentram 70% da população da região.

Para resolver esse desequilíbrio no Polígono das Secas, a melhor alternativa

é fazer a integração do São Francisco com os rios intermitentes existentes nos

limites de sua bacia hidrográfica, situada próxima e equidistante dos principais rios

do semiárido. Se, de um lado, existe um grande rio a ser cuidado para manter-se

saudável, de outro existem rios que nem vivos são só existem como fantasmas,

quando e onde chove de forma imprevisível no semiárido. Eles ressuscitam, por

pouco tempo, nas estações das chuvas, mas logo, com a chegada do período de

estio, seus leitos se tornam secos, de novo.

O que mudou no projeto atual em relação às propostas anteriores?

Mudou muita coisa. Em 1985, o projeto de transposição apresentado pelo

DNOS previa a captação, em um único canal, de 300 m³/s destinados à irrigação.

Esse projeto não previa a revitalização do Rio São Francisco, mas apenas a sua

integração com os açudes Castanhão, no Ceará, e Armando Ribeiro Gonçalves, no

Rio Grande do Norte. Em 1994, outra proposta, do então Ministério da Integração

Regional, previa a captação de 150 m³/s, também para a irrigação e em um único

canal, sem revitalização do Velho Chico, integrando os açudes Castanhão, Armando

Ribeiro Gonçalves e Santa Cruz. No ano de 2000, o Ministério da Integração

Nacional apresentou uma proposta de captação de 48 m³/s em dois canais, para uso

múltiplo, também sem prever a revitalização do Rio São Francisco e integrando os

açudes Castanhão, Armando Ribeiro Gonçalves, Santa Cruz, Epitácio Pessoa,

Engenheiros Ávidos, Poço da Cruz e Entremontes, e beneficiando uma população

Page 162:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

162

50% maior do que a dos projetos anteriores. Outros 15 m³/s seriam destinados à

irrigação no próprio vale do São Francisco. O atual projeto vai captar apenas 26

m³/s, de forma contínua, e excedentes quando houver vertimento da barragem de

Sobradinho. O projeto beneficiará até 12 milhões de pessoas em seis bacias

hidrográficas, integrando os mesmos açudes constantes da proposta anterior.

Haverá, também, e ao mesmo tempo, a revitalização do Rio São Francisco, cujas

ações já começaram. Como se vê, diminuiu substancialmente a quantidade de água

a ser agora captada, e o governo já está investindo na revitalização do Velho Chico,

o que é muito importante.

A integração de bacias hidrográficas já foi testada em outros países?

Ela tem sido adotada em inúmeros países como África do Sul/Lesoto, Egito,

Equador, Peru, China, Espanha e EUA, interligando bacias superavitárias às bacias

deficitárias. No Brasil, essa mesma tecnologia é usada em grandes sistemas de

abastecimento de água em regiões metropolitanas (exemplos: São Paulo, Rio de

Janeiro, Fortaleza e Brasília).

Como é usada a água nos países que fizeram a integração de bacias?

Nessas regiões e países, o padrão típico de uso da água é de 70% na

agricultura irrigada e 30% em outros usos (urbanos, industriais). Esse padrão típico

é recomendável também para o desenvolvimento sustentável do Nordeste, porque

viabiliza a geração de emprego e renda no interior, dando sustentabilidade

econômica e social à população residente.

A retirada da água do rio pode trazer prejuízos econômicos para os Estados

de Minas Gerais, Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco, como se alega

frequentemente?

Page 163:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

163

Não haverá prejuízos econômicos ou ambientais para os Estados banhados

pelo Rio São Francisco, ressalvando uma pequena redução da geração de energia

nas usinas da Chesf, o que não causará o menor problema, uma vez que o Nordeste

está interligado ao sistema nacional de distribuição de energia. No caso de Minas

Gerais, por exemplo, a captação de água ocorrerá centenas de quilômetros depois

de o rio ter deixado o território mineiro. A primeira captação será feita após a

barragem de Sobradinho, na divisa entre a Bahia e Pernambuco, num trecho cuja

vazão já está regularizada por essa represa, o que também afasta o risco de afetar a

navegação, os projetos de irrigação ou o abastecimento das cidades ribeirinhas dos

dois Estados.

A segunda captação será feita no lago de Itaparica, também na divisa entre

Bahia e Pernambuco, onde não causará qualquer impacto econômico ou ambiental.

Os Estados de Alagoas e Sergipe não serão afetados, porque a vazão do rio nesses

Estados é plenamente regulada pelas represas da Chesf, que alterou as condições

originais do rio próximo da foz. É importante destacar um aspecto relevante: as duas

captações representarão apenas 26 m³/s.

Quantas pessoas serão diretamente beneficiadas pela integração das bacias?

A população residente na área beneficiada pelos dois eixos da transposição é

de 12 milhões de habitantes, sendo cerca de 5,5 milhões no Eixo Norte e 3,5

milhões no Eixo Leste. O total representa 30% da população do Polígono das Secas,

sendo 50% maior que a população residente na bacia do São Francisco dentro do

Polígono.

Existe um plano de gestão para o Rio São Francisco?

Page 164:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

164

O Plano Plurianual do Governo Federal 2004/2007 priorizou inúmeras ações

no setor hídrico para a Região Nordeste, com extensão prevista até o ano 2015. O

Plano é composto de quatro grandes ações: (1) a Integração de Bacias do Nordeste;

(2) a Revitalização Ambiental da Bacia do São Francisco; (3) os Projetos de

Irrigação na Região; e (4) o Proágua, que visa o suprimento urbano.

Como será feita a integração das bacias?

Dois canais serão construídos — um na direção Norte, que demandará ao

Ceará e o Rio Grande do Norte, outro na direção Leste, que levará água para

Pernambuco e Paraíba, beneficiando as áreas mais carentes do agreste e dos

sertões desses quatro Estados. Essas áreas têm como característica geológica a

predominância de terrenos cristalinos (70% de área), onde não é possível

armazenar água subterrânea de forma permanente nem desenvolver a açudagem

intensiva, uma vez que poucos novos açudes de porte significativo podem ser ainda

viabilizados. Nessas áreas, a potencialidade hídrica dos rios intermitentes já foi

transformada em disponibilidade garantida, ao longo do último século, o que permitiu

a vida, embora precária, de uma população de 14,6 milhões de habitantes no

Polígono das Secas (censo de 2000). Significa também que o Nordeste Setentrional

detém mais de 50% da população do Polígono. Em contrapartida, a soma das

vazões regularizadas garantidas por todos os açudes significativos do Nordeste

Setentrional representa apenas cerca 5% da vazão garantida no rio São Francisco

pela barragem de Sobradinho.

Onde vão ser feitas as obras de integração?

Os eixos de obras de integração de bacias planejados são: o Eixo Leste, que

integrará o lago da Barragem de Itaparica, no rio São Francisco, com os rios Paraíba

Page 165:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

165

(PB) e Ipojuca (PE), beneficiando regiões populosas e com baixa disponibilidade

hídrica; e o Eixo Norte, que sairá do rio São Francisco, próximo à cidade de Cabrobó

(PE), e levará água até as bacias dos rios Jaguaribe (CE), Piranhas-Açu (PB/RN) e

Apodi (RN).

Por que vão ser construídos canais e não adutoras?

O volume de água variável a ser transportado é inadequado para o uso de

adutoras. Nesse projeto, a construção de canais é melhor, tanto do ponto de vista

técnico, quanto do econômico.

Mas nos canais não ocorre maior evaporação da água?

A evaporação da água durante seu transporte até o local onde será

armazenada e distribuída é pouco relevante, não justificando a opção pelo uso de

adutoras. A evaporação preocupa, apenas, quando a água fica armazenada em

grandes superfícies, por largos períodos. Aí sim, ocorrem perdas expressivas. Com

a integração, essas perdas que hoje ocorrem nos açudes serão minimizadas em até

50%, porque os açudes vão operar menos cheios, não precisando guardar tanta

água à espera de uma seca prolongada, frequente e imprevisível. Havendo água do

Rio São Francisco para assegurar o suprimento dos usos prioritários, as águas

armazenadas nos açudes poderão ser gastas com maior liberdade no suprimento

das demandas econômicas, como as agrícolas, gerando emprego e renda na

produção.

Então a água do rio vai abastecer açudes do semiárido?

A integração do São Francisco com os açudes estratégicos do Nordeste

Setentrional viabilizará uma nova regra operacional para essas barragens, que

poderão operar de forma mais planejada. Ou seja, em vez de guardar água para um

Page 166:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

166

futuro distante, esperando uma seca prolongada (que ocorre com frequência na

área), poderá disponibilizar mais água para o uso social e econômico. Isso porque,

em caso de seca, haverá sempre transposição de parte do volume retido em

Sobradinho para os açudes, garantindo os usos mais prioritários da água. O projeto

de integração de bacias significa um novo sistema de gestão da água no semiárido,

com economia futura significativa de águas locais dos rios intermitentes.

Quanta água será retirada do rio São Francisco?

Será retirada uma vazão constante de 26 m³/s, correspondente ao consumo

humano e animal, mais um excedente médio de 63 m³/s sempre que Sobradinho

estiver cheio ou vertendo.

A que altura que a água será bombeada?

No Eixo Norte, o bombeamento da água vencerá uma altura de 160 metros.

Uma vez atingido o divisor topográfico de águas entre bacias, o canal seguirá por

gravidade (sem bombeamento), gerando energia elétrica no percurso até a calha

dos rios intermitentes. Como resultado, o bombeamento equivalente será similar ao

bombeamento dos projetos de irrigação do Vale do São Francisco. O custo da água

no Eixo Norte, em termos operacionais, será inferior ao do Eixo Leste e, com o

ganho de água decorrente da economia de parte das perdas por evaporação nos

açudes receptores, haverá viabilidade do uso múltiplo da água.

E no Eixo Leste?

No Eixo Leste, a altura de bombeamento é mais elevada (300 metros para a

Paraíba e 500 metros para o Agreste Pernambucano). A água terá utilização no

setor urbano, onde a capacidade de pagamento viabiliza a sua transferência.

Page 167:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

167

E entre a proposta e sua efetivação muitas intercorrências têm contribuído

para que a busca por concretizá-la tenha ganhado corpo de tempos em tempos.

Assoreamento, desmatamento ciliar, represamento das águas em barragens

e hidrelétricas, recepção de toneladas de dejetos de esgotos das cidades ribeirinhas,

desvalorização das técnicas de preservação ambiental são fatores altamente

contraproducentes.

Da nascente à foz, o Rio São Francisco percorre 2.700 quilômetros, cortando

cinco Estados da Federação (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e

Alagoas). Sua Bacia engloba área de 634 mil quilômetros quadrados, abrangendo

também parte do Estado de Goiás e o Distrito Federal.

Quarto maior rio da América do Sul, recebe águas de 168 afluentes, variáveis

em largura e que secam de acordo com a época do ano, e serve às populações de

504 municípios ribeirinhos, grandemente responsáveis pelos problemas ambientais

enfrentados.

Da grandiosa obra de transposição, iniciada em 2007, ainda não há o que

comemorar. A previsão de entrega já foi alterada de 2012 para 2015 sob várias

justificativas: diferenças entre os contratos firmados, adaptações do projeto em

razão da ausência de projetos executivos, sendo que o custo inicial total, de 4,8

bilhões de reais, saltou para 8,2 bilhões.

De acordo com O Globo, apenas dois terços de todo o projeto estão prontos,

e a água, efetivamente, circulou em menos de dez quilômetros dos ramais, não

tendo avançado das estações de bombeamento.

Essas as razões para o Governo Federal considerar outras formas de

“garantir segurança hídrica aos moradores do semiárido, entre elas a de integrar a

Page 168:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

168

Bacia do Tocantins à Bacia do Rio São Francisco”, na forma do declarado pelo

Ministério da Integração Nacional (MI) e relatado pelo jornal carioca.

Prevê-se a intervenção no município tocantinense de Palmeirante, levando-se

as águas dali, pelo Maranhão, até o reservatório baiano de Sobradinho. A próxima

etapa é o reservatório de Itaparica, onde se inicia propriamente a transposição para

o semiárido.

Ora, a ideia do Governo Federal não é a mesma baseadora do meu projeto,

que propõe interligação capaz de garantir a navegabilidade e a regularização do

nível das águas do São Francisco?

A construção de um canal de duzentos quilômetros de extensão entre o Rio

Tocantins e o Rio Preto, na Bahia, dará suporte ao tráfego hidroviário no São

Francisco, permitindo o escoamento das cargas da Ferrovia Norte-Sul para o Porto

de Suape, no Recife, e Pecém, no Ceará.

É preciso lembrar que tal modalidade de transporte também deverá

contemplar a produção das populações ribeirinhas do Velho Chico, sob pena de, em

caso contrário, relegar-se grande quantidade de brasileiras e brasileiros, ao

abandono e à miséria.

Lamentavelmente, há hoje trechos do Velho Chico que podem ser

atravessados a pé. Faz-se urgente, pois, que as bacias nordestinas sejam

abastecidas com água em abundância, e não há que esperar apenas pelas chuvas,

nada amigáveis nos últimos tempos.

Nesse contexto, a integração entre os rios São Francisco e Tocantins não se

pode mais fazer esperar, em especial se compararmos a vazão média deles que é,

respectivamente, de 2.800 e 11.000m³/segundo! Só que o Rio Tocantins sempre

Page 169:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

169

mantém essa vazão de 11.000m3/segundo, enquanto o Rio São Francisco, em razão

das constantes secas na sua cabeceira, varia para baixo. Agora está com menos de

1.000m3/segundo.

Como consta da justificativa do projeto de lei por mim apresentado, a

proposta não configura apenas uma tarefa parlamentar, mas contempla questão que

deve ser resolvida, a fim de se oferecer sentido à fecundidade da terra, do trabalho

para a riqueza do homem, para o Nordeste, dádiva primeira do Rio São Francisco.

Em cenário de escassez crescente de recursos energéticos e de necessidade

de aproveitamento racional das vias navegáveis no interior do País, a proposta

certamente fortalecerá o equilíbrio no desenvolvimento socioeconômico local, com

repercussão nas condições de competitividade do mercado.

Voltando à matéria de O Globo, Sras. e Srs. Parlamentares, que resume a

grave situação em que se encontra o Velho Chico, de acordo com o Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio São Francisco, 146 municípios já decretaram situação de

emergência e calamidade pública em razão da seca em Minas Gerais. Mencionou-

se, inclusive, propor a redução da vazão no reservatório de Três Marias, a fim de

evitar o atingimento do volume morto.

A transposição das águas que correm em Pernambuco para os Estados da

Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, de acordo com o cronograma inicial, já

deveria estar levando o precioso líquido pelo menos às cidades do interior cearense,

o que ainda não ocorreu.

A estimativa do Governo Federal de beneficiar doze milhões de pessoas, em

390 municípios dos Estados diretamente envolvidos, mediante o término das obras,

Page 170:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

170

só acresce a urgência de sua conclusão, uma vez que a crise hídrica no Nordeste é

problema de natureza crônica a castigar a população há muito tempo.

Parte integrante da Política Nacional de Recursos Hídricos com o pomposo

título de Projeto de Integração do Rio São Francisco, a transposição do Opará —

“rio-mar” em linguagem indígena — engloba a construção de quatro túneis, catorze

aquedutos, nove estações de bombeamento e 27 reservatórios.

É mesmo grandioso!

Contudo, neste momento de escassez das águas, meu projeto de interligação

do Rio Tocantins não pode ser desprezado, tampouco executado sem que se

mencione a ação legislativa em sua direção.

Sras. e Srs. Deputados, os Poderes da República não foram constituídos para

a competição, mas para conviver de maneira interdependente.

Como discursei desta Tribuna, logo após o resultado das eleições

presidenciais de 2014 e, integro a bancada de oposição ao governo, contudo, jamais

me posicionarei de forma inconsequente, porque quero o bem do meu País.

Minha oposição será consistente, ativa, permanente, mas em benefício da

discussão absolutamente democrática de ideias e da busca de soluções que

contemplem a inclusão social, a geração de emprego e renda, enfim, a felicidade

dos brasileiros.

A transposição do Rio São Francisco é empreitada gigantesca, é verdade.

Mas não é a primeira a ser realizada no mundo. Não à toa que Índia, China e Antigo

Egito eram chamadas civilizações hidráulicas, dadas as obras que realizaram na

forma de captação das águas, seja pelo represamento, seja pelo traslado entre rios.

Page 171:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

171

Na verdade, trata-se da maior obra de infraestrutura hídrica do Brasil, uma

entre as cinquenta maiores construções de infraestrutura em execução no mundo,

como consta da página eletrônica do Ministério da Integração Nacional.

Quando está em jogo a sobrevivência do homem, as técnicas de resgate

devem ser aprimoradas e colocadas a seu serviço, com respeito ao princípio da

sustentabilidade, é claro.

A garantia de oferta de água é decisiva para o desenvolvimento dos Estados

brasileiros tradicionalmente mais vulneráveis à seca, e a interconexão entre as

bacias existentes no Nordeste e o São Francisco devem, e merecem, contar com o

aporte desse bem tão precioso, e que o Tocantins pode lhes prover.

Quem sabe assim o Velho Chico, de maneira inequívoca, finalmente cumpra

a missão que lhe valeu a alcunha de Rio da Integração Nacional.

Não sou profeta da catástrofe, muito menos do pessimismo. A transposição

do Rio São Francisco é tarefa das mais árduas e pode ser surpreendente.

Trabalhemos, Poder Executivo e Legislativo, juntos, pelo desenvolvimento desta

Nação.

Defendo esse posicionamento há muito tempo. Quero apenas o melhor, para

o Rio São Francisco, e para o Brasil!

Como citado anteriormente, registrado nos anais desta Casa Legislativa o

Projeto de Lei nº 250/1995, para incluía no Plano Nacional de Viação, aprovado pela

lei nº 5.917, de 10 de setembro de 1973, a implantação de Bacias, interligando o Rio

Preto, na Bahia e o Rio Tocantins, destinada a assegurar a navegação desde o Rio

São Francisco ao Rio Amazonas, faltando água no Rio São Francisco, até para a

Page 172:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

172

irrigação de projetos em suas margens, nenhuma autoridade de preocupou em

agilizar a sua aprovação e implantação.

Durante todos esses anos esse projeto ficou esquecido e a Mesa Diretora

desta Casa Legislativa não deu a importância que ele merecia e merece.

Não foi minha surpresa quando na edição do dia 27 de setembro, o jornal O

Globo, trouxe uma matéria intitulada: “Águas do Rio Tocantins podem ser usadas

para abastecer o São Francisco”, inclusive comunicando a intenção do governo

federal de estudar e executar esse meu projeto.

A referida matéria explicita:

Águas do rio Tocantins podem ser usadas para

abastecer o São Francisco. Governo estuda projeto;

nascentes estão secas por conta da falta de chuva na

região.

Com a redução de águas em praticamente toda a

Bacia do São Francisco, agravada pela seca severa nas

nascentes em Minas Gerais, o governo já estuda levar

águas do rio Tocantins para ajudar a abastecer o

megaprojeto de transposição para o semiárido. As obras

de transposição do São Francisco, que deveriam ter

terminado em 2012, já custam R$ 8,2 bilhões e ainda falta

cerca de um terço (64,6% estão prontas). A água correu

menos de 10 km em cada canal e não passou das

estações de bombeamento.

Page 173:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

173

O Ministério da Integração Nacional confirmou ao

GLOBO que analisa, no Programa Nacional de Segurança

Hídrica, “alternativas para garantir ainda mais segurança

hídrica aos moradores do semiárido, entre elas a de

integrar a Bacia do Tocantins à Bacia do Rio São

Francisco”, mas não deu detalhes.

O principal projeto prevê a retirada da água na

altura do município de Palmeirante (TO). A água sairia

pelo Maranhão até o reservatório de Sobradinho (BA),

onde estão as principais barragens do Velho Chico. É

perto dali, no reservatório de Itaparica, que começa a

transposição para o semiárido. O trajeto evita a região do

Jalapão, cujo projeto já foi considerado ambientalmente

inviável, por atingir as nascentes do Tocantins.

Em setembro passado, começou a tramitar na

Câmara dos Deputados como parte do “Plano Nacional de

Viação” um projeto do deputado Gonzaga Patriota (PSB-

PE). Procurado pelo GLOBO, Patriota afirmou que não

tem outra alternativa para concretizar a transposição das

águas do Rio São Francisco senão usando águas do

Tocantins e que foi chamado pelo Ministério da Integração

para discutir o tema. O objetivo do projeto era fazer uma

hidrovia, mas o texto diz que “no caso de escassez de

água no rio São Francisco, teremos condições de reserva

Page 174:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

174

de parte das águas do rio Tocantins, para o rio São

Francisco”.

— A nascente secou e isso fez cair a ficha de

todos, mas a Bacia do São Francisco está castigada. É

preciso repensar os usos das águas do Rio São Francisco

— afirma o vice-presidente do Comitê, Wagner Soares

Costa.

Segundo Costa, 146 municípios da Bacia do São

Francisco já decretaram situação de emergência e

calamidade pública devido à seca em Minas. O Comitê vai

pedir redução da vazão no reservatório de Três Marias,

para evitar que ele atinja o volume morto em outubro. Os

municípios terão que alterar sistemas de captação de

água e o custo deverá ser arcado pela Defesa Civil.

A seca tornou urgente a discussão sobre o rio São

Francisco. Com os eventos climáticos, a tendência é que

o semiárido fique ainda mais seco. O governo federal já

iniciou estudos para mapear e acompanhar áreas de

desertificação no Nordeste. O rio já perdeu de 30% a 40%

de seu caudal.

Demanda por água ampliada

A Articulação São Francisco Vivo ressalta que “a

crise hídrica se deve também e principalmente aos

múltiplos, crescentes e conflitantes usos de suas águas,

Page 175:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

175

matas, solos e subsolos, decorrentes do modelo

econômico predatório; agravou-se de tal forma que os

danos e riscos aumentam e assustam”. Na semana que

vem, a entidade pedirá moratória para o rio São Francisco

aos ministérios públicos dos estados cortados por ele. O

objetivo é rever usos antes que seja iniciada outra

megaobra.

— Temos que evitar uma obra em cima da outra.

Todos os programas do governo só ampliam a demanda

de água do rio, mas sem pensar na conservação e na

equação de uso — diz Roberto Malvezzi, da Articulação

São Francisco Vivo.

Fico muito feliz que as autoridades do governo federal enfim atentaram para a

importância desse meu projeto que garantirá a navegabilidade e a regularização do

nível das águas do São Francisco. A execução desse projeto é indispensável. Não

se pode falar em transposição do São Francisco sem garantir a regularização do

nível do rio. A proposta aguarda, atualmente, a designação de relator na Comissão

de Viação e Transportes (CVT).

Estimado em aproximadamente R$ 1 bilhão, o projeto prevê a construção de

um canal, com cerca de 200 quilômetros de extensão, entre o rio Tocantins, no

Centro-Oeste, e o rio Preto, que corta os municípios a Oeste da Bahia. O tráfego

hidroviário do Rio São Francisco será feito pelo canal dos rios Preto, Tocantins e

Amazonas, facilitando, inclusive, o transporte das cargas da Ferrovia Norte-Sul para

o Porto de Suape, no Recife.

Page 176:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

176

Gostaria de lembrar que essa proposta foi entregue ao relator do Grupo de

Trabalho de Transposição do São Francisco, então deputado Marcondes Gadelha

(PFL/PB). Em 1987, a ideia foi apresentada à Câmara Federal. O plano ficou

engavetado e só no ano de 1995 chegou a receber pareceres favoráveis das

Comissões de Viação e Transporte e de Constituição e Justiça.

Há que se reconhecer à viabilidade deste projeto desde que, no livro clássico

de Geraldo Rocha “O Rio São Francisco, precípuo para o desenvolvimento do

Brasil”, publicado em 1940, numa antevisão genial, já aventava com a possibilidade

da abertura de um canal para o rio São Francisco, vindo do rio Tocantins.

Acredito que sem transporte hidroviário e água suficiente capazes de

estabelecer o fluxo de produção dos ribeirinhos são franciscanos, teremos uma

pletora de homens inertes por culpa única e exclusiva dos poderes públicos que não

zelam pela realidade socioeconômica e cultural do povo nordestino.

Este Projeto de Lei é mais do que uma tarefa parlamentar, é uma questão que

deve ser resolvida para dar sentido à fecundidade da terra, do trabalho para a

riqueza do homem, para o Nordeste, dádiva primeira do rio São Francisco.

Os 61 reservatórios localizados no Semiárido estão com apenas 14,6% da

sua capacidade de armazenamento. O açude de Poço da Cruz (em Ibimirim, no

Sertão) - o maior do Estado - está operando com apenas 10,8% do seu volume total.

Vem sucumbindo ao longo dos últimos anos. Entre 2012 e 2014 o volume

armazenado caiu pela metade. A situação se repete com a Barragem de Jucazinho,

maior reservatório do Agreste. “É necessário um volume de chuvas significativo para

recompor a capacidade dos açudes”, afirma o analista de Recursos Hídricos da

Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC), Rony Melo.

Page 177:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

177

Ainda que o horizonte para 2016 seja menos perverso, o caminho de

recuperação da agropecuária é longo. A participação do setor no Produto Interno

Bruto (PIB) do Estado despencou por conta da seca. Em 2011 (primeiro ano da

estiagem), ainda manteve taxa de crescimento de 3,7%. No ano seguinte,

entretanto, houve um baque de 15%. Seguido de mais uma retração forte, de 7,2%,

em 2013; 9,3%, em 2014 e, 14,65, neste ano de 2015. Segundo os dados mais

recentes compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os

números dão a dimensão do desafio.

A estiagem se prolonga, mas as ações emergenciais arrefeceram e os

projetos de obras estruturantes estão longe de alcançar as metas projetadas. O

governo federal se comprometeu a investir R$ 16,6 bilhões no enfrentamento à

estiagem e garante já ter aplicado R$ 12 bilhões (72%), nos últimos dois anos.

Desse total, Pernambuco teria recebido R$ 2,3 bilhões (19%).

Em abril do ano passado, ano de eleição, a presidente Dilma Rousseff

anunciou, na presença dos governadores nordestinos, a ampliação de medidas no

combate à seca. O reforço previa expansão dos programas Bolsa Estiagem,

Garantia-Safra e Operação Carros-Pipa, além de aumento das linhas emergenciais

de crédito, renegociação de dívidas agrícolas e venda de milho subsidiada.

Algumas ações emperraram e ficaram muito aquém das metas. O aumento de

30% na oferta de carros-pipa não foi alcançado. A previsão era chegar a 10.916

veículos, mas o número não passou de 8.215 (um déficit de 2.701). Hoje, esse

número está distante de ser uma realidade. Os agricultores reclamam que os carros

com a logomarca do Exército e do governo do Estado escassearam. Indagado, o

Ministério da Integração Nacional informou dados gerais de contratação, mas não

Page 178:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

178

atualizou o montante de veículos em operação, nem respondeu os questionamentos

sobre uma suposta redução da frota.

Outras importantes obras ainda se arrastam, a exemplo da Adutora do

Agreste que têm o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população do

semiárido nordestino. Quando concluídas, elas ampliarão o alcance de

abastecimento do Projeto de Integração do Rio São Francisco, no agreste de

Pernambuco. O chamado Ramal do Agreste levará água do reservatório de Barro

Branco até o reservatório Ipojuca para a Adutora do Agreste pernambucano. A

adutora garantirá água potável a mais de dois milhões de habitantes de 68

municípios.

Outra obra hídrica do Nordeste que merece destaque é a construção do

Sistema Pirapama que abastecerá a capital pernambucana. O sistema Pirapama se

torna realidade 23 anos depois da apresentação de seu projeto executivo. Quando

estiver em plena operação, será responsável por um incremento de 48% na oferta

de água tratada da Região Metropolitana do Recife, onde vive 40% da população de

Pernambuco. Será o fim de duas décadas de rodízio no fornecimento de água nos

domicílios, beneficiando 3,5 milhões de moradores.

O Grande Recife conta hoje com uma oferta de água de 11m3/s. Depois de

Pirapama, essa oferta passará a ser de 16,13m³/s. O volume de recursos investidos,

de empregos gerados e de intervenções de engenharia civil executadas, credenciam

Pirapama como uma das maiores intervenções hídricas no País.

Entre dinheiro federal e estadual, foram investidos R$ 570 milhões e criados

aproximadamente 10 mil empregos diretos e indiretos em três anos e meio de

trabalho intenso. Há seis meses, no auge do ritmo da construção, a obra contava

Page 179:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

179

com dois mil trabalhadores diretos. Hoje, faltando pouco menos de 5% do projeto a

ser executado, conta com 600 trabalhadores.

A construção foi tocada em 13 frentes diferentes. Inclui a edificação de nova

captação na Barragem de Pirapama − que armazena 62 milhões de metros cúbicos;

uma estação elevatória de água bruta; uma adutora de água bruta de 3,5

quilômetros de extensão e uma Estação de Tratamento de Água (ETA) com vazão

de 5,13 m³/s.

Também está em construção uma adutora de água tratada com extensão de

19,3 quilômetros, três subadutoras com 4,8 quilômetros e três reservatórios no

município do Cabo de Santo Agostinho, na comunidade de Ponte dos Carvalho —

distrito do Cabo — e no bairro do Jordão, zona Sul do Recife. Juntos, eles têm

capacidade de armazenar de 120.500m3.

O coração do sistema Pirapama fica no Cabo de Santo Agostinho − município

distante 39 quilômetros do Recife, ainda nos limites da Região Metropolitana − onde

estão o reservatório, a estação elevatória e a ETA. O ponto final do eixo principal é o

reservatório do Jordão, de onde a água é distribuída para o sistema de

abastecimento público.

De 1988, quando se deu a apresentação do projeto, até hoje, a obra foi

executada a conta-gotas. A escassez de recursos para investimento em projetos

hídricos fez com que a primeira etapa do sistema Pirapama, a barragem, ficasse

pronta só em 2001 ao custo de R$ 20 milhões. Mas faltava toda a estrutura de

tratamento, adutoras e reservatórios orçados em R$ 550 milhões.

Esta etapa só começou a sair do papel em 2007, quando o governo de

Pernambuco assinou um convênio com o Ministério da Integração Nacional e o

Page 180:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

180

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assegurando R$

284 milhões para investimentos em obras hídricas no Estado. Desse total, R$ 273

milhões foram para Pirapama. Os R$ 277 milhões restantes saíram dos cofres

estaduais e da Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA), empresa

pública estadual responsável pelo abastecimento de água, a quem coube licitar,

acompanhar e fiscalizar a execução da obra.

Tão logo foi concluída a licitação, vencida pelo consórcio Queiroz

Galvão/Norberto Odebrecht/OAS, os trabalhos iniciaram-se pela construção da

estação elevatória. Em seguida vieram à estação de tratamento e a adutora. Uma

das primeiras preocupações dos engenheiros da COMPESA foi atingir o nível zero

de perda d'água na adutora e subadutoras, e conseguir o máximo de durabilidade

das tubulações. “Os níveis de perda no nosso sistema sempre foram acima de 50%.

Não queríamos repeti-lo nesse novo projeto”, afirma o secretário estadual de

Recursos Hídricos, o engenheiro João Bosco de Almeida.

Para enfrentar o problema, ficou estipulado no edital de licitação que a

empresa vencedora deveria verificar as soldagens dos tubos das adutoras com um

aparelho de ultrassom. “O aparelho verificava no final da soldagem se havia alguma

falha. Podia ser uma bolha provocada pela entrada de ar durante a soldagem ou

mesmo algum ponto de resistência à passagem da água que provocaria desgaste

futuro na tubulação. Quando o problema era detectado, todo o trabalho era refeito”,

explica João Bosco. “Hoje temos 95% do sistema Pirapama pronto, uma parte em

funcionamento, e nosso nível de perda é zero”, acrescenta.

Já quanto à resistência das tubulações, a COMPESA optou por exigir do

consórcio construtor que o revestimento interno e externo dos tubos fossem

Page 181:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

181

executados com o esmalte Coaltar-enamel. “Além disso, em alguns pontos da

tubulação é injetada corrente elétrica para minimizar a ação corrosiva do oxigênio”,

informa o superintendente de obras da COMPESA, o engenheiro Judas Tadeu Alves

de Souza, responsável pelo acompanhamento da execução do projeto.

Feita a opção pela técnica de soldagem e o tipo de revestimento, a

COMPESA se deparou com um impasse com o Tribunal de Contas da União (TCU)

e o Tribunal de Conta do Estado (TCE). A estatal optou por entregar à empresa

vencedora da licitação a responsabilidade pela compra da tubulação e pelo serviço

de soldagem das conexões. Mas os dois órgãos de controle entendiam que deveria

haver duas licitações, uma para compra do material e outra para a prestação do

serviço.

“Se fosse assim, a obra demoraria muito. Porque a cada falha encontrada, a

construtora colocaria a culpa na fornecedora de material e vice-versa. Haveria uma

discussão em torno de responsabilidade que paralisaria o trabalho até se apontar o

responsável”, justifica João Bosco de Almeida. TCU e TCE liberaram a construção

acatando os argumentos do secretário.

Nos 22,8 quilômetros de adutora foram utilizados 1,9 mil tubos de aço com 12

metros de extensão. Segundo o secretário de Recursos Hídricos, João Bosco de

Almeida, eles foram adquiridos no interior de São Paulo e transportados em

caminhões até o canteiro de obras. “Foram quase mil viagens de carreta

percorrendo uma distância de 2 mil quilômetros (São Paulo-Pernambuco), porque

cada uma trazia no máximo dois tubos”, diz.

Com a obra em andamento, todo o trabalho de soldagem foi realizado nas

margens das valas escavadas para abrigar a adutora, próximas do acostamento da

Page 182:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

182

BR-101. Dois guindastes ficavam de prontidão para colocá-los no local, tão logo a

soldagem fosse concluída e aprovada por uma equipe da COMPESA. Os tubos

eram suspensos e colocados de dois em dois.

Praticamente todo o trajeto da água oriunda da barragem de Pirapama para

reforçar o sistema de abastecimento do Grande Recife é feito por gravidade, graças

à topografia da região. Apenas na primeira fase dessa viagem, da estação elevatória

à ETA, é necessário impulso de motores. Para dar vazão a 5,13m3/s, a estação

elevatória foi dotada de seis conjuntos de motores de 1,6 mil cavalos de potência

cada. A previsão, quando o sistema estiver em pleno funcionamento, é que cinco

deles funcionem e um fique de reserva, como garantia caso haja alguma falha no

sistema.

Os motores são fabricados pela empresa KSB, de origem alemã, e custaram

R$ 400 mil cada um. A COMPESA prevê um gasto de R$ 680 mil por mês com

energia elétrica consumida pelos motores e instalou uma subestação de energia ao

lado da estação elevatória com capacidade de transmitir 10 mil kVA, suficiente para

alimentar uma cidade de 80 mil habitantes.

Depois de passar pela ETA, a água segue por gravidade. O eixo principal da

adutora tem 19,3 quilômetros de extensão com tubulação de 1,88 metro de

diâmetro, que suporta a passagem de 5,13 m³/s. Essa tubulação conduz a água até

o reservatório do Jordão.

No meio do caminho, a água da adutora alimenta três subadutoras. Ao

percorrer os primeiros 6,5 quilômetros, parte dela é desviada por uma tubulação com

500 mm de diâmetro e segue para reforçar o abastecimento no Cabo de Santo

Agostinho; 1.110 quilômetros adiante está a segunda subadutora, com 800 mm de

Page 183:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

183

diâmetro, cujo objetivo é abastecer a comunidade de Pontes dos Carvalhos. E no

final da linha, há a subadutora para o bairro do Jordão, com 1,8 metro de diâmetro.

Grande parte da adutora segue pelas margens da BR-101 Sul, aproveitando a

faixa de servidão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT).

Quem deixa o Recife em direção à badalada praia de Porto de Galinhas (litoral Sul)

não precisará de muito esforço para visualizá-la. Praticamente em 80% do seu

percurso a tubulação segue paralelo ao acostamento da rodovia.

Esse procedimento facilitou a construção. “Aproveitar a faixa de servidão nos

poupou de alguns problemas com desapropriações”, explica o superintendente de

obras da COMPESA, Judas Tadeu Alves de Souza. No entanto, esta opção trouxe

um desafio adicional ao consórcio construtor. Em alguns trechos, era preciso que a

tubulação cruzasse a rodovia, o que só seria possível por passagens subterrâneas.

“Não tínhamos como realizar a passagem pelo alto, porque significaria paralisar a

BR-101, a principal estrada que corta a Região Metropolitana − seria um caos,

prejudicando inclusive a economia do Estado”, explica Judas Tadeu.

Ao todo foram construídos quatro túneis com 100 metros de extensão cada

um e profundidade entre 1,5 metro e 4 metros em relação à pista de rolamento.

Noutro trecho foi necessário a construção de uma ponte de 700 metros de extensão

sobre o Rio Jaboatão, para possibilitar que o trajeto da adutora acompanhasse o da

BR-101.

Dois Maracanãs lado a lado. É assim que os engenheiros e funcionários da

COMPESA definem os dois reservatórios construídos no bairro do Jordão, algumas

centenas de metros por trás do Aeroporto Internacional dos Guararapes — Gilberto

Freyre. Com capacidade de armazenar 90.000m3 de água, eles significam o fim da

Page 184:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

184

linha da adutora de Pirapama. A partir desses dois reservatórios, a água passa a

efetivamente reforçar o sistema de abastecimento da Região Metropolitana

chegando às torneiras dos imóveis. Os dois reservatórios impressionam pelo

tamanho. São 39.000m2 de área construída que consumiram 13.000m3 de concreto.

Os reservatórios do Jordão são os dois maiores do sistema Pirapama. Mas

outros dois bem menores foram construídos para receber a água das subadutoras.

Um deles é no Cabo de Santo Agostinho, com capacidade de armazenar 13.500m3.

O outro é em Ponte dos Carvalhos, com 17.000m3.

A obra do sistema de Pirapama, iniciada em janeiro de 2008, será entregue

com atraso de oito meses. Seu termo inicial era dezembro de 2010, passou para

maio deste ano e agora a promessa é que ela seja completada em julho. Apesar

disso, o governo de Pernambuco entende como “justificável” o tempo excedente.

“Foram feitos ajustes no projeto no decorrer da obra e tivemos problemas com

chuvas”, justifica João Bosco de Almeida.

Hoje, só restam duas pequenas intervenções para a conclusão dos trabalhos:

a instalação de 500 metros de tubulação na subadutora do Cabo de Santo Agostinho

e 360 metros de tubulação para ligar o reservatório do Jordão à rede de distribuição

do Grande Recife. Para o secretário de Recursos Hídricos, a grande responsável

pelo atraso na obra foram às chuvas. “Pernambuco teve no ano passado um inverno

muito rigoroso, com muita chuva. E neste ano, as chuvas previstas para junho e

julho caíram em abril”, explica.

Em Pernambuco, tradicionalmente o período chuvoso vai de maio a agosto,

quando não é possível preparar as valas para tubulações e muito menos realizar

Page 185:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

185

soldagem. “Nessa época, só dá para fazer o trabalho de concretagem”, afirma Judas

Tadeu, da COMPESA.

Mesmo com o atraso na conclusão da obra, há um ano, os efeitos de

Pirapama no fornecimento d'água já são sentidos. Isso porque a COMPESA optou

por colocar o sistema em funcionamento por etapas. Em junho de 2010, um terço do

sistema de Pirapama entrou em funcionamento. Significou um acréscimo de 1,5m3/s

de água na rede de abastecimento. Quatro meses depois, outro 1m3/s foi

acrescentado, somando 2,5m3/s. E quando o sistema estiver finalizado, em julho

próximo, serão mais 2,63m3, totalizando os 5,13m3/s.

Apesar de todo o esforço dos órgãos governamentais, a seca ainda causa

muitos problemas à população nordestina. O nordeste brasileiro enfrentou nos anos

de 2013 a 2015, as maiores secas dos últimos 50 anos, com mais de 1.400

municípios afetados. A seca deste ano já é pior do que as dos anos anteriores que

também foram recordes. Essa realidade, no entanto, não é isolada. A previsão das

Nações Unidas, por exemplo, é de que até 2030 quase metade da população

mundial estará vivendo em áreas com grande escassez de água. E esse é um

problema que ocorre em todos os lugares, sejam países pobres ou ricos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, 2012 foi considerado o ano mais quente já

registrado, enquanto na região do Sahel, na África, repetidas secas causam a

escassez de alimentos. Para o caso brasileiro, o consenso básico que existe sobre a

maneira de enfrentar esse fenômeno climático inevitável é que a convivência com a

seca só será possível através de obras hídricas estruturadoras: barragens,

interligação de bacias a partir do São Francisco, infraestrutura para a agricultura

irrigada e gestão permanente da água.

Page 186:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

186

Quando se olha para o retrospecto dos últimos dez anos, vê-se que nenhuma

barragem importante foi construída na região nordeste. As últimas foram a de

Serrinha e a de Jucazinho, ainda no Governo de Fernando Henrique Cardoso. A

transposição do rio São Francisco, que foi prometida como a redenção do semiárido,

anda a passos lentos com interrupção da obra e degradação do que já foi

construído. A retomada dos trabalhos só se deu após denúncias feitas pela

Imprensa com grande repercussão no País.

Quanto ao socorro prometido pela presidente da República, anunciado com

grande alarde, a maior parte dos recursos é para reescalonamento da dívida, não

para a anistia, como também para a compra de máquinas e equipamentos, recursos

que não se vê chegar aos municípios afetados. O ambiente no Nordeste é de

desolação e de indignação.

Os Estados nordestinos divulgaram um levantamento realizado pelas suas

companhias de abastecimento e saneamento que evidenciam a gravidade da

situação, como se pode ver a seguir:

Pernambuco é o Estado com maior número de municípios atingidos. Segundo

a COMPESA (Companhia Pernambucana de Saneamento), dos 184 municípios do

Estado, 151 estão com algum tipo de déficit no abastecimento. Desses, 16 estão em

colapso, sendo abastecidos por carros-pipa. O prolongamento da estiagem fez com

que Recife e Jaboatão dos Guararapes (região metropolitana da capital) entrassem

em sistema de racionamento desde o dia 1º de março, assim como outras cidades

próximas à capital. De acordo com a Associação Municipalista de Pernambuco

(AMUPE), a seca já provoca prejuízos da ordem de R$ 1,5 bilhão na pecuária, com

Page 187:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

187

72% de queda na produção de leite devido à mortalidade de mais de 168 mil animais

afetando sobremaneira a economia da região.

A Bahia enfrenta uma grande diminuição do nível dos mananciais utilizados

para abastecimento, o que fez a Embasa (Empresa Baiana de Águas e

Saneamento) adotar um racionamento em 53 municípios. A empresa lançou

campanha recomendando que sejam instaladas caixas d'água com capacidade

suficiente para atender as necessidades diárias de consumo.

Alagoas, dos 102 municípios, 30 estão enfrentando rodízio por conta da seca.

Entre eles a capital Maceió, onde cinco bairros da parte alta enfrentam rodízio desde

novembro de 2012. Segundo a Casal (Companhia de Saneamento de Alagoas), a

situação mais crítica é na cidade Paulo Jacinto onde a barragem que abastece a

cidade secou e toda população está sendo abastecida por carro-pipa. A empresa

informou que, além da seca, problemas como furto de água e vandalismo também

cooperam para que o problema seja agravado. A Companhia informou que já

forneceu um bilhão de litros de água para os caminhões da Operação Pipa, com

investimentos superiores a R$ 3 milhões. O Estado tem um histórico de desastres

naturais ligados à estiagem e à seca. As estiagens, se comparadas às secas, são

menos intensas e caracterizam-se pela menor intensidade e por menores períodos

de tempo. Já a seca, é caracterizada por longos períodos sem chuva e

consequências severas para a região Nordeste. A seca que aflige dezenas de

municípios alagoanos, matando animais e ameaçando a sobrevivência de milhares

de famílias, é o problema mais grave que vem afetando a região e, por isso, objeto

deste estudo da CNM.

Page 188:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

188

Segundo informações do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, entre os

anos de 1991 a 2010, constatou-se uma quantidade de 2.655.501 pessoas afetadas

em Alagoas, 2.371 pessoas enfermas e 38 desalojadas. Estes eventos adversos não

acontecem de maneira bem distribuída, mas concentrada em determinadas áreas. A

estiagem e a seca favorecem a considerável diminuição da carga d’água dos rios e o

aumento de problemas na agricultura, gerando assim, sede e fome; favorece,

também, de modo negativo, na dinâmica ambiental.

O Rio Grande do Norte, segundo a CAERN (Companhia de Águas e Esgoto

do Rio Grande do Norte), 14 cidades enfrentam colapso no Estado, todas ligadas à

adutora Monsenhor Expedito. Segundo a empresa, a área urbana dessas cidades

está sendo atendida por carros-pipa da CAERN, da Defesa Civil e do Exército. Em

Carnaúba dos Dantas, os moradores estão sendo atendidos por chafarizes

instalados. Existem, ainda, 18 cidades que passam por algum tipo de dificuldade e

enfrentam rodízio. Segundo a CAERN, o rodízio foi iniciado em janeiro, com a

chegada do verão, quando a Lagoa do Bonfim diminuiu a capacidade de

armazenamento. A previsão é que o rodízio só termine quando a lagoa voltar à

capacidade normal de vazão.

No Ceará, a CAGECE (Companhia de Água e Esgoto do Ceará) afirma que

seis cidades passam por rodízio ou são abastecidas por carro-pipa nos municípios

de Itatira, Caridade, Quiterianópolis, Beberibe, Crateús e Pacoti. Uma cidade está

em colapso: Beberibe, que fica no litoral cearense. Segundo a companhia, o

abastecimento a partir da Lagoa da Uberaba está suspenso. Em Pacoti, uma área

da cidade também está sem qualquer abastecimento. Até a entrega de faturas

mensais foi suspenso. A CAGECE informou que está perfurando poços para

Page 189:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

189

minimizar a situação. A companhia disse que está perfurando poços, construindo

adutoras, trazendo a água de mananciais alternativos, disponibilizando carros-pipa.

Segundo informações da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece),

14 municípios do Estado do Ceará já se encontram em situação de colapso no que

refere ao abastecimento nas sedes municipais.

Outros 21 municípios entrarão em colapso até setembro deste ano de 2015,

caso se confirme a ausência de chuvas. Dos 500 quilômetros de adutoras

necessários, o Governo do Estado só garantiu 98 quilômetros (para junho) para

atender 9 municípios. O Exército Brasileiro atende 105 municípios com 756 carros-

pipa. Nenhum dos 226 carros-pipa anunciados pelo Governo Federal em abril

chegou até agora. A Coordenadoria Estadual da Defesa Civil no Ceará (CEDEC) é

responsável pelo atendimento de outros 73 municípios. Atualmente, atende 47

municípios com 105 carros-pipa (oferta insuficiente). A qualidade da água distribuída

pela Operação Carro-pipa está em muitos casos contaminada conforme estudo

realizado pela Secretaria da Saúde do Estado, reforçando a necessidade de adquirir

as estações móveis de tratamento de água já propostas pela Aprece junto ao Comitê

Integrado de Combate à Seca. Em 13 dos 20 municípios monitorados, se confirmou

a contaminação da água.

Na Paraíba a CAGEPA (Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba)

informou que nove cidades estão em racionamento e 22 em colapso total, sendo

abastecidas por carros-pipa. Não há problema com os mananciais que abastecem

João Pessoa e cidades litorâneas.

No Piauí a AGEPISA (Águas e Esgotos do Piauí) disse que passa por

problemas de abastecimento pelo baixo nível dos poços ou açudes, de onde é feito

Page 190:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

190

o abastecimento. Por conta da seca, quatro cidades estão com dificuldade de

abastecimento. Na cidade de Fartura, o açude que abastecia os moradores secou e

a AGEPISA perfurou dois poços que ainda serão equipados e ligados à rede de

abastecimento. No momento, o abastecimento é feito com dois poços perfurados

pela prefeitura.

Em Sergipe a DESO (Companhia de Saneamento do Sergipe) disse que as

três cidades abastecidas pelo Sistema Integrado Piautinga enfrentam rodízio de 24

horas. As cidades com situação mais crítica são Boquim, Poço Redondo,

Itabaianinha e Santo Amaro das Brotas, onde o nível dos rios está baixíssimo. Como

forma de amenizar a situação, a DESO tem perfurado poços profundos e colocado

carros-pipa a disposição dos moradores. Em uma análise geral, a seca na região

nordeste atinge 38% da população do semiárido, abrangendo em torno de 9 milhões

de habitantes.

As políticas públicas emergenciais do Governo Federal amenizam, mas não

resolvem o problema. Auxílios como o bolsa-estiagem atendem em torno de 1,5

milhão de sertanejos o que, na análise de especialistas, tem evitado um grande

êxodo rural como se viu na grande seca dos anos 80. O ideal seria a aplicação de

políticas de longo prazo para se resolver o problema da seca, com investimentos em

infraestrutura, como construção de barragens e cisternas, sendo que as que estão

em andamento nos dias de hoje são insuficientes. Com isso, buscam-se alternativas

para o abastecimento de água. Há, por exemplo, em torno de 7 mil carros-pipa

mantidos pelas prefeituras que muitas vezes arcam com custos que não seriam de

sua responsabilidade, e sim do Estado ou da União.

Page 191:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

191

Além desse contingente populacional atingido pela seca, a economia da

região que já é frágil por conta da estiagem e que depende basicamente da

atividade agrícola, vem sendo duramente afetada por essa seca prolongada. Com a

morte do gado e a quebra da safra há perdas na produção e consequente aumento

nos preços, gerando a inflação de preços dos produtos básicos, como milho, feijão,

mandioca e leite. Com isso, a população vê minguar sua renda e seu poder de

compra. Deve-se salientar que além da inflação de preços dos produtos básicos, há

o abuso de preço de serviços essenciais, como o do carro-pipa, cujo valor tem tido

mais de 100% de aumento. Assim, o que se constata, é que mesmo nesse cenário

de desolação e colapso, há aqueles que querem lucrar e acabam por criar a

“indústria da seca”, explorando de forma impiedosa os mais necessitados e afetados

pelo problema.

Quando a análise recai sobre a esfera municipal, tem-se uma situação bem

mais dramática do que se pode imaginar, pois os municípios do Nordeste são em

sua grande maioria mais dependentes das transferências federais, pois têm pouca

base econômica para tributar seus impostos próprios. Assim, suas receitas são

fortemente influenciadas pelas políticas macroeconômicas adotadas pelo Governo

Federal para enfrentar a Crise Mundial; as desonerações de impostos fazem com

que o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) tenha retração e provocam

quedas significativas na arrecadação destes entes.

No ano de 2012 as desonerações de Imposto de Produtos Industrializados

(IPI) para vários setores da economia chegaram à soma de R$ 7,1 bilhões, com um

impacto no FPM de R$ 1,6 bilhão. Nos nove Estados do Nordeste este valor chegou

a R$ 597 milhões. Em 2013, as mesmas políticas foram prorrogadas e outros

Page 192:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

192

setores foram agregados, com uma estimativa de R$ 4,3 bilhões e um impacto no

FPM de pouco mais de R$ 1 bilhão; nos municípios do nordeste o impacto é de R$

355 milhões. O Governo Federal adotou a política salutar e meritória de aumentos

reais do Salário Mínimo, o que causou uma grande transferência de renda e ajudou

a mitigar um pouco as desigualdades regionais, mas os municípios nordestinos são

em sua grande maioria os grandes empregadores em suas cidades.

Há um contingente de 4.845.017 servidores nos municípios nordestinos

(2011) sendo que, destes, 1.523.800 recebem até 1,5 salário mínimo, uma

proporção de 31,45% do total. A cada aumento real do SM o impacto nas folhas de

pagamento é enorme, influenciando fortemente as finanças municipais. Nos últimos

anos o valor foi de R$ 2,6 bilhões. Outro problema que aflige os gestores municipais

são as obras de convênios com o Governo Federal que estão paradas e/ou

pendentes de pagamento. No Nordeste, em 2012, havia o montante de R$ 8,8

bilhões referentes a 20.553 empenhos inscritos nos ‘restos a pagar do Orçamento

Geral da União (OGU).

Há algumas legislações aprovadas pelo Congresso Nacional que impactaram

muito na administração municipal, sobretudo a Lei do Piso Nacional do Magistério,

que somente em 2012 acarretou um impacto de R$ 2,3 bilhões nas folhas de

pagamento dos municípios nordestinos. Em quatro anos esta lei fez crescer o piso

em 52,29%, comprometendo quase todos os recursos do FUNDEB somente com o

pagamento de salários. Os municípios do Nordeste nos últimos dez anos (2003 a

2013) tiveram homologadas 9.260 portarias pelo Ministério da Integração Nacional

de Estado de Calamidade Pública ou Situação de Emergência, sendo que 7.356 são

relacionadas à seca.

Page 193:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

193

Das 7.356 portarias relacionadas à seca, três Estados, a saber, Bahia, Ceará

e Paraíba se destacam com números expressivos de portarias. Esses dados

demonstram que desde 2003 os Estados do Nordeste vêm sofrendo cada vez mais

com os danos causados pela seca prolongada e que as soluções não chegam à

mesma proporção dos estragos provocados.

Em resumo, esta série de fatores expostos aqui demonstra a fragilidade

financeira dos municípios nordestinos para enfrentar o problema da seca. Por isso, é

imperioso que os Governos Estaduais e o Governo Federal possam prestar ajuda

mais efetiva a este ente que está na ponta e que tem que atender ao anseio e às

demandas de que a população precisa, sobretudo, no que se refere à água e

condições mínimas para produzir riquezas. Procura-se avaliar como os recursos

federais são utilizados para fazer frente às diversas calamidades que

constantemente assolam o Brasil. No período de janeiro de 2003 a abril de 2013

foram gastos R$ 9,7 bilhões em ações de defesa civil, em valores de março de 2013,

corrigidos pelo IPCA. Sendo que a maior parte foi aplicada nos últimos três anos. Só

em 2010, ano de maior gasto, a União desembolsou cerca R$ 2,8 bilhões.

Considerando os anos de 2005 a 2014 (até abril), os recursos com resposta a

desastres foram mais eficientes nos anos de 2009 a 2011, onde foram observados

os maiores repasses aos municípios. Já o gasto com prevenção vem sofrendo

oscilações ao longo dos anos, mostrando que o governo central concentra mais os

seus gastos em resposta a desastres do que com prevenção.

Em resumo, esta série de fatores expostos demonstra a fragilidade financeira

dos municípios nordestinos para enfrentar o problema da seca. Por isso, é imperioso

que os Governos Estaduais e o Governo Federal possam prestar ajuda mais efetiva

Page 194:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

194

a este ente que está na ponta e que tem que atender ao anseio e às demandas de

que a população precisa, sobretudo, no que se refere à água e condições mínimas

para produzir riquezas.

A Confederação Nacional de Municípios (CNM) realizou pesquisa junto aos

gestores municipais para obter informações sobre os problemas que as secas

prolongadas estão acarretando aos municípios da região nordeste. A pesquisa foi

realizada no período de 08/04 a 02/05 de 2014, junto aos 1.793 municípios do

Nordeste brasileiro, dos quais se obteve respostas de 1.164 (65%) distribuídos nos

nove Estados nordestinos.

A seguir, serão apresentados os resultados da pesquisa e pode-se perceber

que as respostas obtidas estão sempre acima de 50% em cada um dos Estados,

com exceção do Estado do Maranhão onde houve grandes problemas de contato

com os gestores municipais.

Questões:

A pesquisa inicia mostrando que 86% dos gestores municipais entrevistados

indicaram que seu município enfrenta o problema da seca, com todas as suas

consequências e mazelas. Percebe-se o grande alcance dos prejudicados pela falta

de chuva, gerando uma situação de desolação para a população, com consequentes

reflexos para a economia local.

Seu município enfrenta problemas com a seca?

998 Sim....................................................................... 86%

166 Não....................................................................... 14%

Além da falta de recursos causada pela queda na arrecadação dos impostos

federais, dos municípios que estão com problemas relacionados à seca nada menos

Page 195:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

195

que 73,3% têm gastos mensais com compra de água, sendo que 43% despendem

até R$ 50 mil, 25% de R$ 50 mil a R$ 100 mil, 10% gastam acima de R$ 100 mil

mensais.

Devido ao problema da seca, qual o gasto mensal da Prefeitura com a

compra de água?

407

Abaixo de R$ 50.000,00............................................... 43%

235

De R$ 50.000,00 até R$ 100.000,00........................... 25%

90

Acima de R$ 100.000,00............................................ 10%

215

Não compra água........................................................ 23%

947 Total

O Exército Brasileiro é parceiro do Governo Federal na distribuição de água

aos municípios afetados pela seca. A questão abaixo mostra essa realidade, sendo

que os entrevistados na pesquisa indicam que 40% de seus municípios são

atendidos pelo Exército na distribuição de água e, por conseguinte, 32% são

atendidos por serviços terceirizados.

A distribuição da água é feita por/pelo:

378

Serviço terceirizado.................................................... 32%

485

Exército....................................................................... 40%

Page 196:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

196

336

Outro........................................................................... 28%

Nome do outro distribuidor

1.199 Total

Como equipamento na distribuição de água, o caminhão-pipa é fundamental

nessa logística e é o que indica o resultado da questão abaixo, onde 85% dos

entrevistados mostraram que seus municípios são atendidos por eles para se ter o

acesso à água, totalizando 38.814 de unidades no atendimento aos municípios.

Como é feita a distribuição da água?

826

Caminhão-pipa........................................................... 85%

146

Adutora.........................................................................15%

972 Total 38.814

Chama muito a atenção que 55% da água distribuída é exclusivamente para o

consumo humano; em 30% dos pesquisados 75% são para o consumo humano e

25% para o consumo de animais; em 13% a água é distribuída meio a meio e para

3% a água é mais direcionada para o consumo animal.

Qual o percentual distribuído para o consumo?

515 100%

Humano................................................................ 55%

280 75%

Humano, 25% animal............................................ 30%

120 50%

Page 197:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

197

Humano, 50% animal............................................ 13%

17 25%

Humano, 75% animal............................................ 2%

5 100%

animal................................................................... 1%

937 Total

O Governo Federal tem prometido, ao longo dos anos, a oferta de cisternas

ou condições para a construção das mesmas. O que se percebe na pesquisa, é que

21% dos entrevistados indicam que em seus municípios não há cisternas, o que

para o entendimento da CNM é um percentual alto e que mostra a carência dos

municípios nordestinos. Há, no total dos pesquisados, 762 mil cisternas.

Seu município possui cisternas para enfrentar o problema?

761

Sim.............................................................................. 79%

200

Não............................................................................. 21%

961

Total 762.873

Uma das principais consequências da seca é a fome que a população tem

que enfrentar. Com isso, as prefeituras muitas vezes têm que arcar com o

fornecimento de alimentos para a população. Desta forma, a pesquisa mostra que

33% dos entrevistados indicam que suas prefeituras são responsáveis pela

distribuição de cestas básicas à população e, assim, amenizar a fome e a penúria. A

Page 198:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

198

maioria dos entrevistados, 67%, indica que as prefeituras distribuem até 500 cestas

básicas por mês, conforme mostrado abaixo:

Há a distribuição de cestas básicas com recursos da Prefeitura para a

população atingida pela seca?

307

Sim............................................................................ 33%

635

Não........................................................................... 67%

942 Total

Quantas cestas básicas, com recursos da prefeitura, são distribuídas por mês

no seu município?

99

0 a 100......................................................................... 34%

108 101 a 500............................................................... 38%

43 501 a 1000.............................................................. 15%

19 1001 a 2000......................................... .................. 7%

18 Acima de 2000...................................... ................ 6%

287 Total

A seca tem devastado as frágeis economias dos municípios do semiárido que

convivem com a estiagem e, um dos setores mais sensíveis, é o agropecuário.

Assim, observou-se que 91,8% dos municípios declararam que perderam cabeças

de gado, ovinos e caprinos, sendo que 24% indicaram que as perdas foram até 50

cabeças, 24% até 100 cabeças e 52% acima de 100 cabeças, demonstrando o

grande prejuízo que a seca traz as comunidades.

Page 199:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

199

Qual a estimativa de perdas com relação ao rebanho de bois, cabras e outros

animais (em cabeças)?

224

0 a 50.......................................................................... 24%

217

51 a 100.................................................... ............ 24%

476

Acima de 100......................................... ............. 52%

917 Total

Nos pequenos municípios a população tem em suas prefeituras o único ponto

de contato para apresentar suas demandas. Nesse caso de devastação em

decorrência da falta de chuvas, a pesquisa mostra que, em média, 55 mil pessoas

procuram as prefeituras para apresentar alguma necessidade e buscar ali alguma

solução para seus problemas.

Qual a quantidade média de moradores que procuram a Prefeitura

diariamente, por conta da seca? 55.358 Moradores, em média, que procuram a

prefeitura diariamente.

Enquanto no Brasil a taxa média de desemprego estava em 5,6% em

fevereiro de 2013 e 7,8, em abril de 2014, em municípios do Nordeste esses

números ultrapassaram os 20%, como mostram os dados fornecidos pela maioria

dos pesquisados. Esse dado é extremamente relevante, pois reflete os danos

sociais provocados pela seca. Com o rebanho minguando e a produção agrícola

praticamente inexistente, os trabalhadores não têm o que fazer e, muitas vezes, têm

que sair de suas terras em busca de oportunidades.

Page 200:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

200

Qual a taxa de desemprego no município?

53

Abaixo de 5%.................................................................. 6%

177

De 5% a 20%.......................................................... .. 19%

695

Acima de 20%............................................................... 75%

925 Total

Quando há um longo período de seca uma consequência marcante é o êxodo

rural. Por isso, a CNM, através desta pesquisa, quis mensurar essa situação. Assim,

percebe-se que a grande maioria, 80% dos entrevistados, indicou que está havendo

a migração de sua população para outras localidades em virtude da seca, em busca

de melhores condições de vida.

Existe a migração de moradores para outros municípios e/ou Estados por

causa da situação atual?

754 Sim.............................................................................. 80%

192 Não...............................................................................20%

946 Total

Sobre a questão de assistência à saúde, 70% dos municípios pesquisados

indicam que recebem medicamentos por parte de outros entes para distribuir á

população e 30% indicam que não recebem. Mais uma vez, esse indicador mostra a

carência de apoio por que passam esses municípios. Desses, 60% indicam que os

medicamentos não chegam em quantidade suficiente para atender à demanda da

população de suas cidades, como indicam as tabelas abaixo:

Page 201:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

201

A Prefeitura recebe medicamentos para distribuir à população?

647 Sim......................................................................... 70%

274 Não......................................................................... 30%

921 Total

Chegam em quantidade suficiente?

256 Sim.............................................................................. 40%

384 Não.............................................................................. 60%

640 Total

Como é sabido, os municípios têm tido perdas significativas com a seca. Para

91,5% dos municípios pesquisados, há perdas mensais importantes. Destes, 12%

indicam uma perda de até R$ 50 mil; 33% indicam uma perda de R$ 50 mil até R$

100 mil e 55% mostram prejuízos acima de R$ 100 mil mensais.

Qual o prejuízo mensal estimado com a seca no seu município?

112

Abaixo de R$ 50.000,00............................................... 12%

298

De R$ 50.000,00 até R$ 100.000,00............................ 33%

503

Acima de R$ 100.000,00.............................................. 55%

913 Total

Em muitas situações, os municípios não têm o apoio dos governos federal e

estadual, embora seja divulgado que existem projetos e programas de auxílio. Como

visto na tabela abaixo, 57% dos gestores pesquisados indicam que não estão

Page 202:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

202

recebendo auxílio dos seus governos estaduais para enfrentar o problema e 43%

indicam que recebem.

O município recebeu ou está recebendo auxilio do Governo Estadual para

enfrentar o problema?

404

Sim............................................................................... 43%

534

Não............................................................................... 57%

938 Total

Observa-se que 57% dos gestores indicam não receber auxílio do Governo

Federal para enfrentar o problema e 43% indicam que estar recebendo.

O município recebeu ou está recebendo auxílio do Governo Federal para

enfrentar o problema?

393

Sim............................................................................... 43%

525

Não............................................................................... 57%

918 Total

Neste caso, somente 11% relatam que recebem auxílio de outros órgãos para

enfrentar o problema e 89% não recebem nenhum outro auxílio.

O município recebeu ou está recebendo auxílio de outros órgãos para

enfrentar o problema?

99

Sim............................................................................... 11%

Page 203:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

203

825

Não.............................................................................. 89%

924 Total

Em abril deste ano o Governo Federal apresentou projeto de fornecimento de

equipamentos para os municípios do Nordeste para amenizar os problemas com a

seca, porém, conforme mostrado na pesquisa da CNM, 58% ainda não recebeu os

equipamentos prometidos, quais sejam: motoniveladoras, retroescavadeiras,

caminhão-caçamba e caminhão-pipa.

Seu município recebeu recursos do PAC Equipamentos?

387

Sim............................................................................... 42%

536

Não.............................................................................. 58%

923 Total

Sobre os programas de assistência oferecidos pelo Governo Federal, 52%

dos entrevistados indicam que mais de 200 pessoas recebem o Bolsa-estiagem em

seus municípios.

Quantos habitantes são beneficiados pela Bolsa Estiagem?

218

De 0 a 50..................................................................... 26%

82

De 51 a 100................................................................... 10%

114

De 101 a 200................................................................. 13%

Page 204:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

204

440

Acima de 200............................................................... 52%

854 Total

Observa-se, abaixo, que somente em 5% dos municípios havia a indicação de

frentes de trabalho promovidas pelo governo estadual para movimentar a economia

local.

Em seu município existe alguma frente de trabalho promovida pelo Governo

Estadual?

46

Sim................................................................................. 5%

885

Não...............................................................................95%

931 Total

Finalizando a pesquisa e em relação à oferta dos programas do Governo

Federal, somente 4% dos municípios nordestinos pesquisados indicaram que há

frentes de trabalho promovidas para enfrentamento dos problemas relacionados à

seca, evidenciando, mais uma vez, que muitas das promessas dos governos

estadual e federal não chegam na ponta, ou seja, no município que é o ente mais

necessitado de recursos da administração pública e onde vivem os cidadãos.

Em seu município existe alguma frente de trabalho promovida pelo Governo

Federal?

35

Sim................................................................................ 4%

886

Page 205:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

205

Não.............................................................................. 96%

921 Total

Conclusão. O que esta pesquisa realizada pela CNM indica é que a situação

é extremamente grave nos municípios do nordeste brasileiro, assim como já vem

sendo noticiado, e muito pouco está se fazendo por parte dos outros entes da

federação para auxiliar os já combalidos municípios que tem que dar conta sozinhos

das demandas e anseios de sua população, como também de seus agentes

econômicos.

Deve-se buscar, especificamente, o fim da burocracia que envolve o

atendimento de municípios em situações de emergência, como também a

descentralização dos recursos da União. Medidas como a ampliação do período de

renúncia fiscal do IPI, por exemplo, que vai até o final de 2013, prejudicam

sobremaneira os municípios em geral e, principalmente, os afetados pela seca.

Já não se admite mais que haja tanta demora em solucionar um problema

que já deveria ter sido resolvido com prioridade. A seguir, é apresentada a Carta de

Maceió, documento elaborado pelas associações municipalistas do Nordeste que

estão mobilizadas em buscar soluções para essa situação de calamidade.

Carta de Maceió

Os presidentes das Entidades Municipalistas do Nordeste, diante do quadro

duríssimo por que passa a população nordestina, que enfrenta a pior seca dos

últimos 50 anos, reconhecem as ações implementadas até agora, entretanto

lamentam a não inclusão dos municípios como agentes executores e demonstram

sua insatisfação diante da falta de respostas do Governo Federal a reivindicações já

Page 206:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

206

feitas e que, se implementadas, já poderiam ter mudando a triste e cruel realidade

por que passam quase 10 milhões de pessoas de forma direta.

Atualmente mais de 1.400 municípios de nove Estados já declararam situação

de emergência em 2013, representando 22% das cidades brasileiras. O cenário de

miséria, fome e perdas na agropecuária continua inalterado, impactando

negativamente em todo o país, pressionando o índice inflacionário e provocando o

desabastecimento de produtos da cesta básica, mesmo com as chuvas ocasionais

que têm caído em parte no Nordeste. Além dos prejuízos nas lavouras e criações, a

demanda assistencial tem aumentado sem contrapartida financeira. Pelo contrário, o

Fundo de participação dos Municípios- FPM, já é menor que o mesmo período de

2012, em contraponto ao aumento constante dos compulsórios.

Os presidentes das Entidades reivindicam mais desburocratização, ações

emergenciais e estruturantes, em parceria com os municípios, para que os mesmos

passem de meros expectadores a agentes ativos desse processo e possam devolver

ao Nordeste e sua brava gente, opções de vida, trabalho e a oportunidade de

contribuir com o desenvolvimento da Nação.

Nas ações emergenciais os municípios reivindicam:

Liberação imediata de recursos financeiros, correspondente a, no mínimo,

uma cota média do FPM de 2012, via cartão de pagamento da Defesa Civil;

Liberação de recursos de todos os convênios e contratos de repasse já

celebrados entre o governo federal com os municípios nordestinos e que se

encontram bloqueados e/ou inscritos em restos a pagar desconsiderando a inscrição

no CAUC;

Suspensão imediata das execuções judiciais de produtores;

Page 207:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

207

Contratação de carro pipa pelo município com a disponibilização de estação

móvel de tratamento de água para cumprimento da portaria interministerial nº

1/2012/mi/md.

Perfuração, instalação e recuperação de poços artesianos;

Compra de ração animal;

Contratação de horas máquina para desassoreamento, construção e

ampliação de açudes;

Representação dos municípios na força nacional de emergência/seca.

Nas ações estruturantes, implantação de uma política pública de convivência

com os efeitos da seca priorizando:

Apreciação dos planos de trabalho a serem apresentados pelos municípios

para ações hídricas e de manutenção do rebanho;

Consignação permanente de recursos do orçamento da união por município,

durante cinco anos, par a ações de convivência com a seca;

Criação de um programa federal para o cultivo de forragens de forma

estratégica para servir como reserva alimentar;

Destinação de parte dos recursos do PAC/seca sejam contratados

diretamente com os municípios.

Apesar da seca ser um fenômeno climático que se repete no Nordeste

brasileiro, nossas autoridades criaram vários órgãos para melhor convivência do

homem com a seca. Cito dois de muita importância: a SUDENE - Superintendência

de Desenvolvimento do Nordeste e o DNOCS - Departamento Nacional de Obras

Contra as Secas.

Page 208:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

208

Mas mesmo esses órgãos foram abandonados pelo poder público. A criação

da SUDENE em 15/12/1959 representou uma das conquistas mais importantes do

povo brasileiro, na história recente de nosso país, porque deu início a uma nova era,

marcada pela incorporação progressiva da Região Nordeste e, logo em seguida, da

Amazônia, ao processo de desenvolvimento nacional conduzido pelo governo

federal, que até àquela data se concentrava nos estreitos limites das Regiões

Sudeste e Sul.

A principal força motriz dessa conquista foi a conscientização e mobilização

da sociedade brasileira, conduzida sob a liderança legítima de suas forças sociais e

políticas mais representativas, quanto à situação de abandono secular em que se

encontrava a Região, em relação às políticas nacionais de promoção do

desenvolvimento, o que vinha resultando no seu atraso crescente, diante dos

avanços realizados nas áreas mais desenvolvidas do País.

Graças ao perfil democrático e a visão estratégica de estadista do Presidente

Juscelino Kubitschek, associados aos profundos conhecimentos científicos de Celso

Furtado, o maior economista brasileiro de todos os tempos, as ideias inovadoras

surgidas nesse autêntico processo de mobilização social puderam ser aproveitadas,

após devidamente avaliadas e aperfeiçoadas, para a instituição da SUDENE pela

Lei n° 3692 de 15/12/1959. Foi decisiva a contribuição ofertada no documento

intitulado “Uma Política de Desenvolvimento Econômico para o Nordeste”,

construída sob o comando de Celso Furtado à frente do Grupo de Trabalho para o

Desenvolvimento do Nordeste — GTDN, que originou os quatro sucessivos Planos

Diretores que balizaram a ação desenvolvimentista da SUDENE iniciada na década

de 1960.

Page 209:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

209

O crescimento excepcional alcançado pela economia brasileira no período de

1960/1980 foi devido, em grande parte, à integração do Nordeste, no processo de

desenvolvimento nacional, em consequência do êxito extraordinário dos trabalhos

realizados pela SUDENE a partir de 1960, no contexto da Região. Entretanto,

cumpre salientar que a obtenção de sucesso tão expressivo só foi possível mediante

a observância, na organização estrutural assim como nos instrumentos e processos

de atuação da SUDENE, dos seguintes requisitos fundamentais: Garantia de

sinergia e complementaridade entre os instrumentos, políticas e programas de ação

relativos ao desenvolvimento da Região Nordeste, com as diretrizes, estratégicas,

instrumentos, políticas e programas globais e setoriais estabelecidos pela União

para vigorar em todo o território nacional;

Participação direta da Região, através de suas legítimas representações

sociais, políticas, econômicas e administrativas, frente às autoridades

representativas da cúpula dirigente do Governo da União, no âmbito do seu

Conselho Deliberativo, nos processos de formulação, adaptação, implementação,

execução e avaliação dos programas e políticas públicas federais de interesse para

o desenvolvimento Regional;

Dotação de recursos organizacionais e materiais assim como de quadro de

pessoal qualificado para o desenvolvimento de suas competências

institucionais e;

Alocação e disponibilização de recursos orçamentários e financeiros

suficientes para o cumprimento de suas atribuições.

Ao viabilizar, através de medidas administrativas, o atendimento a esses

quatro requisitos fundamentais, o governo federal garantiu o extraordinário sucesso

Page 210:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

210

da contribuição da SUDENE, nos 25 anos iniciais, de sua atuação, ao

desenvolvimento da Região Nordeste, com evidentes repercussões positivas na

aceleração do Desenvolvimento Econômico do Brasil. Em consequência da atuação

da SUDENE a economia nordestina, após um longo período de estagnação,

experimentou no período de 1960/1970, um crescimento médio anual de seu

Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5%, enquanto a economia brasileira, nela incluída a

do Nordeste, pode crescer, no mesmo período, à elevada taxa média anual de 6,1%.

Já no período de 1970/1980, época do chamado “milagre brasileiro” o

crescimento médio anual de 8,7% do PIB do Nordeste contribuiu para o incremento

médio anual da economia brasileira estimado em 8,6%, conforme registrado no

documento “Desempenho Econômico da Região Nordeste do Brasil”. Essa relevante

mudança veio desacreditar em definitivo a ideia preconceituosa de que o Nordeste

constituiria um sumidouro de recursos públicos, representando apenas um custo

onerando as populações das demais regiões brasileiras.

O crescimento significativo do PIB Nordestino registrado no período em

análise serve para explicitar sinteticamente os resultados da atuação estratégica da

SUDENE na Região, abrangendo, entre outros, os seguintes setores:

Expansão e modernização da infraestrutura de transportes, energia e

saneamento básico;

Montagem e fortalecimento das estruturas globais e setoriais de planejamento

e execução nos Estados;

Capacitação das Universidades Federais do Nordeste, através de

diversificados programas de formação de mestres e doutores;

Page 211:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

211

Desenvolvimento através do FINOR de uma base industrial moderna e

competitiva;

Implantação, ampliação e modernização de empreendimentos competitivos

com base na concessão de incentivos de isenção total ou parcial do imposto

de renda; e

Implantação de sistema de desenvolvimento das pequenas e médias

empresas para completar as cadeias produtivas regionais.

A extinção da antiga SUDENE e a criação da ADENE resultou de iniciativa do

Governo Federal concretizada na edição da Medida Provisória nº 2.146-1, de 4 de

maio de 2001. Essa decisão foi tomada sob a influência marcante da grande

recessão que afetou o País a partir da década de 1980, tendo como causa remota

os dois choques do petróleo ocorridos na década anterior, culminando com a

cessação dos financiamentos externos e com a decretação da moratória em 1987.

No rastro da recessão veio o ressurgimento do modelo de globalização

liberalizante que havia sido abandonado após a grande depressão de 1929/1930

que deu origem às políticas de redução do tamanho e do poder de intervenção do

Estado na economia, justificando a execução acelerada de amplo programa de

privatização das empresas estatais e também, de modo complementar, a extinção

das Superintendências de Desenvolvimento Macrorregional, que permaneciam como

redutos das políticas desenvolvimentistas.

No entanto, a criação da ADENE, sem a mínima condição de levar adiante a

política de desenvolvimento que havia sido iniciada com sucesso pela SUDENE,

sofreu severa rejeição da sociedade nordestina abrindo espaço para a discussão de

propostas alternativas quanto à política de desenvolvimento regional.

Page 212:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

212

A instituição da Nova SUDENE por meio da Lei Complementar nº 125/2007,

veio em resposta aos anseios da população nordestina, manifestos no amplo

processo de mobilização das forças sociais, políticas e econômicas da Região,

ocorrido no período 2001/2003, onde se tornou evidente a inadequada configuração

institucional da ADENE e a necessidade de implantação de uma nova instituição de

desenvolvimento regional legalmente aparelhada e administrativamente dotada de

organização e recursos suficientes para por em marcha uma nova sistemática de

articulação interfederativa e planejamento participativo capaz de promover a

necessária aceleração do processo de incorporação da Região na expectativa da

retomada do desenvolvimento nacional interrompido com a recessão de 1980.

Acolhendo os reclamos e sugestões nascidas da mobilização da sociedade, o

governo federal constituiu um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) presidido e

tecnicamente coordenado pelo Ministério da Integração Nacional que, após 6 meses

de intensas atividades, incluindo a realização de consultas públicas e fóruns

qualificados em todos os Estados da Região Nordeste e em Brasília, elaborou

Projeto de Lei para criação da nova autarquia que foi encaminhado à apreciação do

Congresso Nacional.

Após seguir a tramitação rotineira no Legislativo onde foi enriquecida e

aperfeiçoada, a proposta encaminhada pelo Poder Executivo Federal foi aprovada e,

após a devida sanção presidencial foi transformado na Lei Complementar nº 125 de

03 de janeiro de 2007 que instituiu a SUDENE, como órgão de “natureza autárquica

especial, administrativa e financeiramente autônoma, integrante do Sistema de

Planejamento e de Orçamento Federal, com sede na cidade de Recife, Estado de

Pernambuco, e vinculada ao Ministério da Integração Nacional”.

Page 213:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

213

Apesar das dificuldades enfrentadas em sua trajetória executiva, a antiga

SUDENE conseguiu plantar em sua área de atuação, com decisivo apoio

administrativo do núcleo dirigente do governo federal, as bases institucionais

produtivas e sociopolíticas que viabilizam o novo ciclo de desenvolvimento que se

inicia na atualidade, com mais pujança na referida área que no território brasileiro

em sua totalidade, puxado pelas exitosas políticas compensatórias de distribuição de

renda e pela incipiente retomada dos investimentos em infraestrutura econômica.

No entanto, recentes experiências relativas à implementação de novos

empreendimentos produtivos de grandes ou médios portes no Nordeste, vêm

demonstrando que a consolidação de um novo ciclo de desenvolvimento includente

e sustentável na Região poderá ser retardada pela presença ainda marcante de

fatores restritivos tais como: baixos níveis de educação e capacitação da força de

trabalho; infraestrutura econômica deficiente, incompleta ou tecnicamente defasada;

condições de saúde insatisfatórias; desenvolvimento científico e inovações

tecnológicas insuficientes; baixa produtividade do trabalho e limitada capacidade

empreendedora. Além disso, recente pesquisa realizada pelo IPEA revela que os

resultados das políticas destinadas a melhoria das condições de educação e saúde

da população, são menos efetivos na Região Nordeste que em outras áreas do País,

em consequência da ainda muito reduzida capacidade administrativa da grande

maioria dos municípios da Região.

A nova SUDENE deverá participar decisivamente na superação dos

mencionados problemas bem como na remoção de outros entraves que venham a

ser identificados, dando apoio técnico operativo complementar a realização dos

investimentos necessários, mediante a formação de parcerias com os órgãos

Page 214:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

214

integrantes das estruturas executivas setoriais da União, Estados e Municípios de

sua área de atuação, corresponsáveis pelas políticas públicas correspondentes,

cumprindo a sua competência estabelecida no inciso VIII, do Art. 4º, da Lei

Complementar nº 125/2007, criando condições favoráveis ao desenvolvimento

sustentável da Região Nordeste e no Brasil.

Contudo a possibilidade da nova SUDENE exercer plenamente as suas

competências institucionais, particularmente daquela estabelecida no dispositivo

legal acima citado, dando novo impulso ao desenvolvimento nacional includente e

sustentável, permanece drasticamente limitada até a conclusão definitiva de seu

processo de implantação, que deverá ocorrer em breve com base nas propostas que

tramitam no âmbito da administração federal. Até lá a Autarquia continuará

funcionando com estrutura organizacional provisória e incompleta, com deficiência

de recursos financeiros e materiais e, principalmente, com um quadro de recursos

humanos absurdamente inadequados, em termos quantitativos e qualitativos, para o

cumprimento de sua missão e competências institucionais.

O outro órgão também muito importante é o DNOCS que nesse mês

completou 106 anos. Vou aproveitar a oportunidade para falar sobre a origem do

DNOCS.

Um dos mais importantes órgãos da administração pública está completando

106 anos. Trata-se do DNOCS — Departamento Nacional de Obras Contra a Seca

que apesar de todos os problemas tem desempenhado bravamente sua função em

nosso sofrido país.

Aproveito a ocasião para fazer um breve histórico do órgão e de sua atuação

durante esses anos:

Page 215:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

215

“A peculiar condição climática do Nordeste

brasileiro, sobretudo a da zona semiárida, estabeleceu

nesta vasta área de caatingas uma civilização em

constante luta pela sobrevivência, buscando transpor os

obstáculos em busca de uma vida melhor. Quando em

1909 foi criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas, o

que se vislumbrava era uma débil economia sob a tutela

do coronelismo oligarca, a extrema pobreza do sertanejo

assolado pelas disparidades climáticas, um regime

desigual das chuvas durante o ano e a escassez da água,

fatores esses que causavam uma grande vulnerabilidade

no seio das populações que habitavam a região.

O flagelo antecedia a fome, que antecedia a morte.

O precário processo de desenvolvimento econômico,

político e social, aliado a falta de atendimento às doenças

adquiridas e a impraticidade dos caminhos, foram fatores

que contribuíram severamente para incrementar essas

situações de penúria.

Nesse cenário, a Inspetoria surgiu, elegendo o

homem como objetivo central de seu trabalho,

inicialmente, numa fase paternalista como o braço maior

da intervenção federal no Nordeste e posteriormente em

bases mais científicas, trazendo para a região

capacitados técnicos e cientistas de diversas áreas que,

Page 216:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

216

através de seu trabalho, modernizaram os instrumentos

de combate ao flagelo, com o estabelecimento de

infraestrutura conveniente à ação do poder público.

Os benefícios científicos advindos da intervenção

do DNOCS na região mudaram a formação da

mentalidade do homem que se inseriu neste contexto de

permanente luta, iniciando-se, a partir daí, um processo

lento, porém progressivo, de resistência aos efeitos das

intempéries. Graças ao trabalho do DNOCS — antes

IOCS e, posteriormente IFOCS — foram-se descortinando

nos sertões do semiárido, as estradas, os açudes, as

linhas de transmissão de energia, os sistemas de

abastecimento de água e, em tempos mais recentes, a

irrigação e a introdução e incremento de espécies

piscícolas, oferecendo a esse homem outras opções

alimentares.

O homem, transformando-se em cidadão, em

decorrência do trabalho da Instituição. O homem não mais

apenas uma figura incluída na paisagem árida do

Nordeste, mas o sujeito das mudanças, da escolha das

alternativas mais viáveis. A Instituição, como fator do

planejamento e da operacionalidade dessas mudanças.

Assim, o homem e o DNOCS, ao longo de 90 anos

atuando em conjunto no semiárido, vão transformando a

Page 217:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

217

inércia dos tempos mais remotos em opção de vidas

melhores.

Dentre os órgãos regionais, o Departamento

Nacional de Obras Contra as Secas — DNOCS se

constitui na mais antiga instituição federal com atuação no

Nordeste. Criado sob o nome de Inspetoria de Obras

Contra as Secas — IOCS através do Decreto 7.619 de 21

de outubro de 1909 editado pelo então Presidente Nilo

Peçanha, foi o primeiro órgão a estudar a problemática do

semiárido. O DNOCS recebeu ainda em 1919 (Decreto

13.687), o nome de Inspetoria Federal de Obras Contra

as Secas — IFOCS antes de assumir sua denominação

atual, que lhe foi conferida em 1945 (Decreto-Lei nº 8.846,

de 28/12/1945), vindo a ser transformado em autarquia

federal, através da Lei n° 4229, de 01/06/1963.

Sendo, de 1909 até por volta de 1959,

praticamente, a única agência governamental federal

executora de obras de engenharia na região, fez de tudo.

Construiu açudes, estradas, pontes, portos, ferrovias,

hospitais e campos de pouso, implantou redes de energia

elétrica e telegráficas, usinas hidrelétricas e foi, até a

criação da SUDENE, o responsável único pelo socorro às

populações flageladas pelas cíclicas secas que assolam a

região.

Page 218:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

218

Chegou a se constituir na maior “empreiteira” da

América Latina na época em que o Governo Federal

construía, no Nordeste, suas obras por administração

direta tendo marcado com a sua presença, praticamente,

todo o solo nordestino. Além de grandes açudes, como

Orós, Banabuiú, Araras, podemos registrar a construção

da rodovia Fortaleza-Brasília e o início da construção da

barragem de Boa Esperança.

Com a criação de órgãos especializados, o acervo

de obras construídas pelo Departamento vinculado a

ações “não hídricas”, como rodovias, linhas de

transmissão, ferrovias, portos, etc., foram àqueles

transferidos. Posteriormente, transferiram-se aos Estados

as redes de abastecimento urbano e à SUVALE, hoje

CODEVASF, os Projetos públicos de Irrigação situados no

vale do Rio São Francisco.

O DNOCS, conforme dispõe a sua legislação

básica, tem por finalidade executar a política do Governo

Federal, no que se refere a:

a) beneficiamento de áreas e obras de proteção

contra as secas e inundações;

b) irrigação;

Page 219:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

219

c) radicação de população em comunidades de

irrigantes ou em áreas especiais, abrangidas por seus

projetos;

d) subsidiariamente, outros assuntos que lhe sejam

cometidos pelo Governo Federal, nos campos do

saneamento básico, assistência às populações atingidas

por calamidades públicas e cooperação com os

Municípios.

Os primeiros passos da inspetoria:

Tomemos por empréstimo, sobre este tema, o que

escreveu o ilustre Eng. Agr. Paulo de Brito Guerra, em

seu livro “A Civilização da Seca”: “Para ocupar a Direção

da Inspetoria de Obras Contra as Secas foi designado o

Eng. Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa, homem de visão

excepcional, que soube promover os estudos básicos

sobre a área, de modo amplo, estudos ainda hoje

valiosos, realizados na época em que o automóvel, raro

nas capitais, transformava-se na “besta fera” quando, a

muito custo, conseguia penetrar os sertões bravios, sem

estradas.

Arrojado sabia que John Casper Branner, Reitor da

Leland Stanford Junior University, em Palo Alto, Califórnia

(“os ventos da liberdade sopram”, é seu lema), havia feito

estudos no Brasil, terra que o entusiasmara

Page 220:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

220

profundamente. Escreveu-lhe pedindo para indicar

geólogos a trabalhar na Inspetoria de Obras Contra as

Secas.

Branner enviou Ralf H. Sopper, de 21 anos de

idade, Gerald A. Warring e Horace L. Small. Também de

Stanford vem Roderic Crandall que em 1910, aos 24 anos

de idade, escreveu notável relatório, reeditado em 1923,

[...].

Outros técnicos estudaram, na época, o Nordeste,

entre os quais Lofgren e Luetzelburg, botânicos, Luciano

Jacques de Moraes, geólogo, apresentando relatórios

importantes.

“Todos esses trabalhos”, dizia o Inspetor,

“permitirão abranger, em conjunto, as condições

diferentes das regiões flageladas, sob os seus vários

aspectos, geográfico, geológico, climatérico, botânico,

social e econômico, e assim poderá a Inspetoria traçar o

programa dos seus serviços apoiada em fatos de pura e

real observação no terreno”.

A IOCS adquiriu caráter permanente como

Repartição, graças ao decreto 9.256, de 28 de dezembro

de 1911. Desde cedo, passou a sofrer alterações através

dos decretos no. 11.474, de 03 de fevereiro de 1915, no.

12.330, de 27 de dezembro de 1916 e no. 13.687, de 09

Page 221:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

221

de julho de 1919, que ampliou o nome para Inspetoria

Federal de Obras Contra as Secas — IFOCS.

Até 1915 a Repartição deu grande ênfase a

estudos cartográficos, tendo feito mapas de vários

Estados. E procurou ativar a perfuração de poços, a

construção de estradas de rodagem e carroçáveis, a de

açudes públicos e incentivar a de açudes particulares,

concedendo-lhes “prêmios” (subsídios) de até 50% do

orçamento. Alguns reservatórios surgiram aqui e ali.

O Ceará, por exemplo, além do Cedro em Quixadá,

já contava com açudes construídos antes da criação da

IOCS, como Acaraú Mirim, Mocambinho, São Gabriel,

Breguedofe, Lagoa das Pombas, e outros em construção.

O Piauí tinha Aldeia e Bonfim; e o Rio Grande do Norte,

Currais, Corredor, Santa Cruz, Mundo Novo, Santana de

Pau dos Ferros e Santo Antonio.

Dois fatores de alta importância caracterizaram

este período “pré-Epitaciano”: os estudos já citados, a

cargo de cientistas pátrios e estrangeiros, que

desvendavam os mistérios dos solos e clima da região

nordeste, e a criação, durante a seca do 15, das “Obras

Novas”, que dinamizaram os trabalhos da Inspetoria”.

Recordemos que Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa

encetou uma programação de pesquisas sobre a

Page 222:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

222

realidade concreta do meio e sobre aspectos sociais da

região assolada pelas secas, visando a adquirir dados

confiáveis para nortear um programa de ação ao combate

aos efeitos das secas.

De pronto, ficaram patentes abusivas e

impertinentes intromissões de segmentos políticos da

sociedade, na orientação científica dos trabalhos, o que

obrigou Arrojado a organizar novo Regulamento,

aprovado em 20/12/1911, já no Governo de Marechal

Hermes da Fonseca.

Foi por decorrência deste Decreto que se iniciaram

a instalação e funcionamento de postos de observação

plúvio-fluviométricos e que foram adotadas medidas para

promover a piscicultura nos açudes e nos rios

intermitentes do semiárido, segundo refere o Eng. Tomás

Pompeu Sobrinho, em artigo publicado na Revista do

Instituto do Ceará - Tomo LXXII - 1958.

O alto custo dos serviços de natureza científica,

que não são compreendidos pelos não interessados em

resultados mediatos, e que somente preconizam

aplicações financeiras a obras de interesse da “política”,

determinaram a demissão de Arrojado.

O primeiro Inspetor de Secas, diante da

insuficiência do número de profissionais, qualificados e

Page 223:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

223

habilitados, nos diversos ramos da ciência, fez contratar

topógrafos, fisiógrafos, geólogos, engenheiros hidráulicos,

botânicos, hidrólogos, sociólogos, etc., que acumularam

enorme acervo de conhecimento sobre o meio.

Com a exoneração de Arrojado, do cargo de

Inspetor, os trabalhos de natureza científica, foram

drasticamente reduzidos, subjacendo num plano inferior.

Retornando ao posto de Inspetor, na Presidência

Epitácio Pessoa, não conseguiu Arrojado, embora tivesse

se esforçado, restaurar os trabalhos de pesquisa. A tônica

era construir obras!

Com a eleição de Artur Bernardes a IFOCS quase

desaparece, possibilidade quase concretizada nos

Governos de José Sarney, Collor de Melo e Itamar

Franco. No atual, busca-se o processo de modernização

que se faz mister implantar.

Logo que deixou de estar presente, na Inspetoria, o

espírito científico de Arrojado, a nortear a conduta da elite

dirigente do órgão, o Departamento passou a adotar

providências lastreadas em empirismo vulgar, por

consequência da visão imediatista da classe política.

Como há pouco se mencionou, as providências

para a coleta sistemática de dados de natureza plúvio-

fluviométrica foi iniciativa de Arrojado Ribeiro Lisboa,

Page 224:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

224

ativada a partir de 1911, quando já era Presidente o

Marechal Hermes da Fonseca.

Antes, anotações mais confiáveis, só existiam

aquelas colhidas em Quixeramobim e Fortaleza.

A partir de 1911, foram instalados numerosos

postos pluviométricos, disseminados na vasta extensão

territorial nordestina com uma densidade próxima das

recomendadas pelos padrões internacionais então

vigentes.

As anotações sistemáticas foram devidamente

enfeixadas em publicações cuidadosas, inicialmente, sob

a orientação de Horace Williams e Roderic Crandall e,

posteriormente, por engenheiros nacionais, pertencentes

aos quadro da Inspetoria.

As medidas das descargas, em estações

fluviométricas, foram cuidadosamente efetuadas,

orientadas inicialmente por G.A. Warring e depois por

C.M. Delgado, e utilizados pelo notável Eng° Francisco

Gonçalves Aguiar.

De posse do acervo de dados coletados entre 1911

e 1930, o Eng° Gonçalves Aguiar conseguiu realizar

notável síntese hidrológica de cunho determinístico,

consubstaciando na chamada “Curva de Rendimentos” da

região nordestina, calcada nos dados das bacias do

Page 225:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

225

Quixeramobim e do Jaguaribe, e nos de outras bacias,

que bem se adequa às condições do semi-árido, estudos

hoje, talvez, carentes de retoques, dado o nefasto

desmatamento indiscriminado no “facies” nordestino e de

outras agressões ao meio.

Aguiar deixou publicado um notável trabalho,

intitulado “Estudo Hidrométrico do Nordeste” que, com

sua “Curva”, é adequado às condições nordestinas.

O Eng° Vinícius Berredo, com base naqueles

dados coletados pela IOCS/IFOCS, escreveu outro

notável trabalho sobre o “ Aproveitamento dos grandes

Açudes Nordestinos”, infelizmente, de curso restrito às

salas técnicas do DNOCS.

As formulações da IFOCS, produto da “inteligência”

técnica nordestina foi inquinada de ultrapassada pela elite

dirigente da SUDENE dos primeiros dias, tendo dado,

como resultado, a transferência do controle dos postos e

das anotações sistemáticas, pelo DNOCS, para a

Superintendência, que pouco tempo após, deixaram de

ter a continuidade e abrangência, desejáveis.

Entretanto, na linha de Aguiar, técnicos franceses,

a trabalhar para a SUDENE, como Molle e Cartier,

procuraram modernizar os preceitos do sábio Aguiar,

atualizando-os.

Page 226:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

226

A inspetoria, no período de Getúlio Vargas:

Profundas modificações experimentou o mundo

após o término da primeira guerra mundial. Em primeiro

lugar, a Inglaterra perdeu o comando economia, cujo

centro se deslocou da “City”, em Londres, para Wall-

Street, em Nova York. A economia brasileira orbitava em

torno da economia inglesa, e passa a se vincular à norte-

americana.

O fortalecimento dos laços econômicos entre o

Brasil e os EUA, refletiu-se na vida brasileira. O “american

way of life” contamina a sociedade brasileira. A política

brasileira se conturba por sucessivos movimentos de

tendência modernizadora, que deságuam na vitoriosa

Revolução de Trinta, assumindo o poder o Presidente

Getúlio Vargas.

Vargas nomeia o paraibano José Américo de

Almeida para o cargo de Ministro de Viação Obras

Públicas, e o cearense Juarez Távora, para a pasta da

Agricultura.

José Américo faz do Engenheiro Artur Fragoso de

Lima Campos o novo Inspetor de Secas, que dá nova

organização à IFOCS, denominação com a qual, a partir

de 1919, ficou sendo conhecida a primitiva IOCS.

Lamentável acidente aviatório ceifa a vida de Lima

Page 227:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

227

Campos, cabendo ao Eng° Luiz Augusto da Silva Vieira,

substituí-lo no posto de Inspetor.

Persuadido de que, a acumulação d'água era

essencial à sustentabilidade da vida social e econômica

no Nordeste, Vieira deu o maior apoio às tarefas de

açudagem e promoveu, com grande ímpeto, à

implantação rodoviária. Por outro lado, daquela época em

diante, descem a um segundo plano, no seio da

Inspetoria, os estudos hidrológicos, até porque a síntese

hidrológica de Aguiar, logrando notável adequação ao

meio, perduraria válida por muitas décadas posteriores.

Também, a Inspetoria, segundo alguns analistas,

como Thomás Pompeu Sobrinho e Celso Furtado,

demorou-se em demasia, na execução de obras de

acumulação, deixando de lado a modernização da

agricultura e a promoção da irrigação.

Ora, as sucessivas secas demonstraram, até à

última delas, a validade da orientação de se contar com

águas açudadas. E mais, a modernização da agricultura

competia, não à IFOCS, e sim, ao Ministério da

Agricultura, ou, alternativamente, às forças do mercado,

isto é, à iniciativa privada.

José Américo constatando a inapetência do

Ministério da Agricultura para atuar na peculiar zona semi-

Page 228:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

228

árida do Nordeste (atuou com desenvoltura na faixa

litorânea nordestina) criou diretamente subordinadas a

seu Ministério, as Comissões Técnicas: de

Reflorestamento e de Postos Agrícolas no Nordeste,

sediada em João Pessoa, e de Piscicultura, sediada em

Fortaleza.

A primeira ficou sob a chefia do notável agrônomo

José Augusto Trindade e a segunda, sob o comando do

eminente cientista Rodolpho von Ihering. Foram opimos

os frutos colhidos por tais Comissões, mas, aos olhos dos

burocratas, deveriam ser extintas, quando promulgada a

Constituição de 1934 porque não ficavam bem

posicionadas no organograma do MVOP.

Entretanto, o Inspetor Luiz Vieira criou a Comissão

de Serviços Complementares da IFOCS, dando abrigo

aos profissionais de alto gabarito símiles aos dos

dirigentes citados como: José Guimarães Duque, Paulo

de Brito Guerra, Jairo Padilha e outros, na Piscicultura,

Pedro Menezes, Ruy Simões de Menezes, Osmar

Fontenele, e outros.

A IFOCS criou o Instituto Agronômico de Área

Seca, depois nominado Instituto José Augusto Trindade,

até que, no Governo Castelo Branco, foi extinto.

Page 229:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

229

Pioneiro na divulgação dos preceitos da ecologia

foi o ilustre agrônomo Carlos Bastos Tigre, que estimulou

o reflorestamento, a defesa da vegetação da caatinga e

das matas ciliares aos cursos intermitentes.

Pena é que a exiguidade de recursos haja

impedido o desenvolvimento destas tarefas e que, hoje,

se denuncie não haver os Inspetores dado maior

importância a essas ações, que corroboram para o

desenvolvimento e a elevação do padrão de vida, e que

complementam o essencial: a acumulação de águas

superficiais, sem a qual retornaria o dilema d'antanho:

água ou morte!

Quanto à promoção da irrigação, que aqueles dois

eminentes vultos citados, Thomas Pompeu e Celso

Furtado, imputaram à Inspetoria, de ter dado mais ênfase

à açudagem do que à irrigação, e esqueceram o fato de

que se não fora a existência de açudes, não haveria, no

semiárido, irrigação. Até porque, escreveu o egípcio por

adoção e russo de nascimento, Serge Leliavski, que até o

século XIX, “Irrigação” era uma forma adiantada de

agricultar, mas que do ponto de vista da engenharia civil,

a palavra Irrigação traduz o conjunto de obras hidráulicas

que permitem a captação d'água dos mananciais naturais

ou dos construídos pela ação humana, como os açudes, e

Page 230:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

230

de seu transporte, por canais ou tubulações, aos locais

onde será utilizada.

Do ponto de vista agronômico aquele termo

significa as diferentes maneiras de espargir água sobre os

terrenos em cultivo, quando a natureza lh'a nega a certa

altura do ciclo vegetativo das espécies cultivadas.

Além desses dois significados, os norte-

americanos, entre estes, Israelsen e Ivan Houk, usam o

termo para significar a ciência agronômica envolvida na

produção agrícola.

O conceito de irrigação, como um dos ramos da

engenharia civil, é, pois relativamente recente,

remontando ao começo deste século, dos dias em que o

notável engenheiro inglês Bligh publicou sua obra

intitulada “Practical Design of Irrigation Works”, a tratar

com exclusividade dos projetos de captação d'água e de

sua condução, sem nele inserir quaisquer informações

sobre como devam os agricultores aplicar água às

culturas, em benefício da produção agrícola.

A IOCS, depois IFOCS, hoje DNOCS sempre

dominou os conhecimentos do projeto e da implantação

das obras civis (hidráulicas) de irrigação, não

conseguindo obter resultados mais expressivos na

irrigação do ponto de vista agronômico, apesar de ter

Page 231:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

231

alcançando êxito pioneiro nos aspectos científicos das

ciências agrológicas, no IAJAT.

É que somente na década de trinta, ou seja, uma

vintena de anos após criada a IOCS, a Inspetoria se

aproximou da irrigação do ponto de vista agronômico e

das pesquisas agrológicas, como se mencionará adiante.

A Inspetoria de Obras Contra as Secas — IOCS foi

criada com a precípua finalidade de construir açudes e

barragens para acumular água, nos anos de pluviosidade

normal ou mais acentuada, para ser consumida pelas

populações e pelos rebanhos, nos anos secos.

A versão, hoje dominante, porém falaciosa, de que

a Inspetoria tivera por incumbência a promoção do

fomento da agricultura irrigada, do ponto de vista

agronômico, ou do ponto de vista científico de ciência

agrológica, não encontra respaldo na realidade: primeiro,

porque o senhor da produção, àquela época, era deixado

à iniciativa particular e não atribuição de agências

governamentais e, segundo, porque o moderno arsenal

científico em que hoje se arrima a produção agrícola,

ainda não havia sido criado.

É conveniente destacar os condicionamentos

sociais e econômicos que se antepunham ao

desenvolvimento autossustentado nordestino, entre os

Page 232:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

232

quais a exiguidade dos recursos hídricos agravada pela

ocorrência cíclica, mas de periodicidade até hoje

desconhecida, das secas.

A Inspetoria foi encarregada de acumular água aos

sertões, e nisso, foi eficiente e eficaz. Mas, não tinha por

obrigação fomentar o desenvolvimento da agricultura (do

ponto de vista agronômico).

As mais fortes raízes do subdesenvolvimento

nordestino não são aquelas condicionadas pelo fenômeno

das secas, e sim, aquelas alimentadas pelo regime feudal,

que esteve presente por 300 anos na metrópole lusa, e

que foi transplantado ao Brasil pelos colonizadores

portugueses.

Em dezembro de 1945, o Presidente José Linhares

e o Ministro Maurício Joppert da Silva, promovem a

reformulação da IFOCS, transformando-a em DNOCS,

inserindo em sua nova estrutura, o Serviço Agroindustrial

e o Serviço de Piscicultura, evolução das antigas

comissões técnicas criadas em 1932.

A exiguidade de recursos deferidos ao DNOCS

aplicados, quase exclusivamente, nos setores hidráulicos

de acumulação, impediram a aceleração das obras de

irrigação e dos serviços de piscicultura.

Page 233:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

233

As áreas irrigadas, dominadas pelos canais,

permaneceram às mãos de proprietários desprovidos de

mentalidade e de capacitação gerencial, desassistidos de

crédito e a contar com a ajuda de rurícolas não

afeiçoados à irrigação.

É que o caráter paraindustrial de que se reveste a

irrigação do ponto de vista agronômico, não dispensava a

orientação e de ajuda governamentais.

Não houve um esforço paralelo, antes de 1968, no

sentido da reorganização fundiária nas áreas dominadas

pelos canais e no de alfabetizar e instruir o campesinato;

no de financiar a mecanização das lavouras; no sentido

da difusão de insumos — fertilizantes, pesticidas e outros;

de criar estruturas de estocagem; de industrializar os

produtos agrícolas; de monetarizar o mercado interiorano,

que funcionava à base do escambo; de elastecer o crédito

etc., cuidados que escapavam às atribuições da IFOCS,

depois, DNOCS.

Não havia, ainda, o aproveitamento da energia

gerada na calha sanfranciscana, apesar da IFOCS haver

iniciado os estudos básicos para o aproveitamento dos

potenciais energético, com criação no seio da Inspetoria,

da Comissão do Vale do São Francisco, antecessora da

CHESF e da SUVALE (hoje CODEVASF).

Page 234:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

234

O Governo não forneceu meios suficientes para

que o DNOCS promovesse e ampliasse e modernizasse

seus setores encarregados de estudos hidrológicos em

escala regional, inclusive os de meteorologia, apesar do

Departamento ter logrado notável êxito na formulação de

uma síntese hidrológica, de cunho determinístico, com

base nos dados coletados nas duas primeiras décadas de

sua existência.

Por volta de 1956, o Governo Federal criou o

Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste -

GTDN - que trazia em seu bojo a ideia de desenvolver o

Nordeste com base na industrialização.

Este Grupo de Trabalho produziu um famoso

Relatório, fundamentado nas análises realizadas sobre a

problemática regional, pelo qual era sugerida a adoção

das seguintes medidas:

Intensificação dos investimentos industriais,

visando a criar no Nordeste um centro autônomo de

expansão manufatureira; Transformação da economia

agrícola da faixa úmida com vistas a proporcionar uma

oferta adequada de alimentos aos centros urbanos;

Transformação progressiva das zonas semiáridas no

sentido de elevar sua produtividade e torná-las resistentes

ao impacto das secas; Deslocamento da fronteira agrícola

Page 235:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

235

do Nordeste com o fito de incorporar à economia da

região as terras úmidas do “hinterland” maranhense. A

reorganização da economia da zona semiárida liberaria os

contingentes de mão de obra, parte dos quais seriam

absorvidos pelas frentes de colonização.

Logo depois é criada a SUDENE, que concorreu

para a veiculação da versão, só em parte verdadeira, de

que a capacidade dos açudes então existentes, já era

suficiente para atender a demanda d'água na zona

semiárida e que era chegada a hora de ser fomentada a

irrigação.

Divulgou a ideia de que construir novos açudes era

exigência dos chamados “industriais das secas”, apodo

perspegado aos que advogavam o aumento da

capacidade de acumulação, por ocasião da organização

da Carta Constitucional de 1946, perversamente,

estendido à elite dirigente do DNOCS.

Os mentores da Superintendência não deram o

devido valor ao que havia sido feito pela Inspetoria,

estabelecendo-se nos primeiros dias da SUDENE, forte

animadversão entre ela e o DNOCS, com prejuízos para

ambos e, para o Nordeste.

A SUDENE divulga uma versão desfavorável ao

DNOCS ao veicular que o órgão descuidara da agricultura

Page 236:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

236

nordestina que, como se mostrou linhas acima, não era

atribuição do Departamento, se não e parcialmente,

depois de 1934.

Foi obstaculizada a política de açudagem até que

as secas ocorridas nos primeiros anos da década de 80,

demonstraram o erro dessa obstaculização.

A SUDENE inicialmente preconizava o emprego

das águas açudadas na irrigação, pensando até em ser a

agência executora da implantação das obras primárias do

cometimento, entretanto, prevalecendo o bom senso, as

mesmas continuaram a cargo do Departamento.

No presente item deste retrospecto histórico se

procura por em evidência a evolução histórica dos fatores

que concorrem para o subdesenvolvimento da agricultura

nordestina, chamando-se a atenção para o fato de que,

sobre a Inspetoria, não pesou responsabilidades por seu

descuro, que lhe não dizia respeito, procurando-se

mostrar como o DNOCS foi sendo paulatinamente

empurrado em direção à irrigação (com sentido

agronômico), sendo que na seara das obras primárias,

sempre atuou de forma eficaz. Mostrou-se, “ en passant”,

como o DNOCS iniciou as pesquisas agronômicas do

semiárido, tendo sido levado a delas se afastar, com a

extinção do IAJAT no Governo Castelo Branco.

Page 237:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

237

A irrigação e o “modelo” criado pelo

MINTER/SUDENE para o DNOCS implantar:

Dissemos, há pouco, que a Inspetoria, de 1909 a

1945, e o DNOCS de 1945 até agora, se dedicaram com

o maior empenho, na implantação de açudes e estradas,

sendo que estas escaparam às competências do DNOCS,

ao serem criados o DNER, os Departamentos Estaduais

de Estradas de Rodagem e o Departamento Nacional de

Estradas de Ferro — DNEF, no período Presidencial do

cearense José Linhares.

Os resultados obtidos no tocante à construção de

açudes foram revestidos de êxito, assim como os relativos

à implantação de estradas.

Entretanto, as atividades concernentes à

implantação das obras primárias de irrigação e as de

implantação de adutoras, para condução de águas dos

açudes aos núcleos urbanizados, não alcançaram os

mesmos êxito e vultos que o das obras de açudagem e de

viação, menos por dificuldades de cunho tecnológico, mas

pelas decorrentes da exiguidade de verbas.

Basta lembrar que a IFOCS esteve presente aos

trabalhos de implantação da adutora Acarape do Meio —

Fortaleza e, depois, aos de sua reformulação, na segunda

metade da década de trinta; na implantação da adutora,

Page 238:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

238

do Açude Público Epitácio Pessoa — Campina Grande,

na Paraíba, no Governo Juscelino.

Com as águas estocadas aos açudes que

construíra, a Inspetoria ou o DNOCS poderiam ter levado

a cabo, com maior celeridade, a implantação de canais

para irrigar, o que se deixou de fazer entre 1945 e 1964,

pela exiguidade de recursos alocados pelo Governo

Federal ao cometimento.

À época, a IFOCS era repartição subordinada ao

MVOP.

Mesmo assim, foram beneficiados 16.055 hectares,

desde 1909 até 1958, assim distribuídos:

Às bacias hidráulicas dos açudes; Na faixa seca

6.602 hectares Nas vazantes 4.337 hectares. Subtotal

10.939 hectares. Às bacias de irrigação: Nos postos

agrícolas 655 hectares. Por particulares, a partir de canais

construídos pela IFOCS 4.461 hectares subtotal 5.116

hectares. Total, 16.055 hectares.

Conforme levantamentos publicados no Boletim do

DNOCS, n° 6, vol. 20, de novembro de 1959, às páginas

248.

Devemos recordar que a Segunda Guerra Mundial

contribuiu para postergar a construção dos grandes

Page 239:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

239

açudes que restavam por implantar e para impedir a

implantação de canais e drenos, com vistas à irrigação.

Não havia, porém, dúvida quanto a conveniência

de irrigar as terras da zona semiárida, porque o sol nos

possibilita cultivar durante os doze meses do ano, não

fosse a irregularidade ou ausência, às vezes total, das

chuvas.

Todavia, não foi somente a curteza de recursos

financeiros que tolheu o florescimento da agricultura por

via irrigada. A tal óbice devemos agregar outros, como a

pequena rentabilidade do capital aplicado na agricultura, a

incapacidade gerencial dos donos de terras, a inexistência

de energia elétrica no meio rural, a mão de obra

campesina não qualificada e não afeiçoada à faina

agrícola; a inexistência de estruturas para estocar, as

dificuldades de crédito e a inexistência de agroindústrias,

e a fragilidade do mercado etc.

Com a criação da CHESF, alargam-se as

perspectivas da aceleração do desenvolvimento

nordestino, ampliadas com a criação do BNB e da

SUVALE, hoje CODEVASF.

A ascensão de Juscelino Kubitschek à Presidência

da República trouxe com ela um rol de metas a serem

concretizadas, e para serem atingidas em seu período

Page 240:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

240

presidencial, destacando-se, entre várias, a implantação

de usinas hidroelétricas nos rios da região sudeste, a

implantação da indústria automobilística, o refino de

petróleo, a química fina, a construção de estradas de

rodagem e a “meta-síntese” — a construção de Brasília.

As obras de açudagem, no semiárido nordestino,

foram retomadas, em número e porte expressivos, em

ritmo acelerado.

Entretanto, os investimentos aplicados no Sudeste,

foram muito maiores e muito mais diversificados do que

aqueles deferidos ao Nordeste, assim aumentado o

desnível do desenvolvimento entre tais regiões.

Se bem que a região semiárida nordestina tivesse

sido bem contemplada, em comparação com o que os

Governos anteriores nela aplicaram, os do Nordeste

Oriental se queixavam, afirmando que a área delimitada

pelo Polígono das Secas, estava recebendo melhor

tratamento da parte de Governo Federal.

O Governo Jânio Quadros interrompeu a

concessão de subsídios à implantação de açudes

particulares pelo regime de cooperação, desacelerada

também a construção de açudes públicos.

Com a renúncia de Jânio, instala-se, por pequeno

intervalo de tempo, o regime parlamentarista, sucedido

Page 241:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

241

pela Presidência João Goulart, durante a qual o DNOCS é

transformado em Autarquia, pela Lei 4.229, de 01.06.63.

Oito meses após, assiste o país a Revolução de 31

de março de 1964, e logo após a instalação do Governo

Castelo Branco, sucedendo-se na Direção Geral do

DNOCS, as figuras de vários militares ilustres, mas,

infelizmente não suficientemente versados sobre a

problemática nordestina.

A antiga modalidade empregada pelo DNOCS de

construir obras por administração direta foi abolida e, de

uma hora para outra, o grosso do efetivo dos servidores

especializados pertencentes aos quadros do órgão,

mergulhou em ociosidade, aproveitada a oportunidade

para ser divulgado que o contingente ficara ocioso não

pela intempestiva mudança do tipo de execução por

administração direta, mas atribuída a conluio de políticos

clientelistas, com dirigentes do Departamento.

A ideia central de promover a irrigação consistia no

DNOCS desapropriar as terras das bacias de irrigação,

onde seriam implantados os “perímetros irrigados”, e

dividi-las em pequenos lotes, onde seriam assentados os

“colonos”, em parte recrutados entre os antigos

“moradores” dos estabelecimentos rurais particulares

desapropriados.

Page 242:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

242

A implantação de tal modelo, idealizada pelo

MINTER e pela SUDENE, foi atribuída ao DNOCS, o que

gerou forte antipatia para com o Departamento, da parte

dos proprietários expropriados, e de seus representantes,

com assento nas casas legislativas, oriunda mormente

dos preços deprimidos com os quais se compuseram os

custos das desapropriações e, da parte dos “moradores”

excluídos do processo de assentamento, que se viram

expulsos e desassistidos de apoio para recomposição de

suas moradias.

Ao DNOCS restou, também, a atribuição de

orientar as tarefas de instituir estratégias coerentes, com

o objetivo de desenvolver a produção agrícola, no âmbito

dos perímetros irrigados.

Para tanto, coube ao Departamento instalar, em

cada pequeno lote, o colono e sua família, encarados

como uma “empresa familiar”, prover o conjunto das

estruturas habitacionais e de serviços públicos, além de

montar uma estrutura administrativa no local e exercer o

papel de uma espécie de “holding”, as gerências de

perímetros, para gerir o empreendimento, uma vez que as

cooperativas de irrigantes criadas para congregar os

colonos eram extremamente frágeis e apenas cumpriam

as determinações dos prepostos do DNOCS.

Page 243:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

243

A prática consagrou a concessão de subsídios aos

colonos sob as mais diversas formas, tais como:

pagamento de energia elétrica consumida, fornecimento

d'água sem cobrança de tarifa, e de insumos agrícolas os

mais diversos, despesas de conservação gerais etc., cuja

concessão, em escala crescente e indisciplinada, se

revestiram de caráter paternalista.

O paternalismo e a inadequação da escolha da

clientela a que se destinavam os perímetros públicos de

irrigação, tão criticados no “modelo” adotado a partir dos

anos 70, não tiveram, na verdade, origem no

Departamento, e sim no GEIDA — Grupo Executivo de

Irrigação e Desenvolvimento Agrário, do MINTER.

“Modelo” este transferido à própria SUDENE, e

materializado nas experiências pioneiras de Bebedouro,

projetado e implantado por aquela Superintendência,

posteriormente transferido à CODEVASF, e Morada Nova,

cujo projeto foi transferido pela SUDENE ao DNOCS, a

quem coube a sua implantação.

Não se pode deixar de fazer referência, em

respeito à história, do assessoramento dado àqueles

órgãos por parte das missões técnicas dos governos de

Israel, da Espanha e da França, bem como das

consultorias de empresas desses países e de Portugal

Page 244:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

244

que aqui aportaram através de consórcios com nascentes

empresas brasileiras. Esse assessoramento,

desenvolvido sob a égide da transferência de tecnologia,

encontrou terreno fértil para a transposição de modelos

por força da, então incipiente, experiência nacional neste

setor.

Por outro lado, a excepcionalidade do regime

vigente, favorecia a verticalidade das ações de

implementação do modelo de assentamento definido para

a região e inibia possíveis iniciativas de contestação do

mesmo. Concebido sob a égide do amortecimento de

tensões sociais no campo, viria este modelo a se

transformar, com a liberalização do regime, em um

verdadeiro libelo, unilateralmente lançado contra o

DNOCS, identificado, inicialmente em teses acadêmicas

e, posteriormente, introduzido no discurso de setores do

próprio governo, como repositório de todos os ranços do

autoritarismo, do paternalismo, e da concepção, hoje por

todos apontada como nefasta, do chamado “Estado-

produtor”.

Neste emaranhado de críticas de todos os matizes

ideológicos, obscureceu-se, sempre, o fato de que,

equivocada ou não, esta era uma política de governo, e

ao DNOCS, como órgão de governo cabia executá-la. As

Page 245:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

245

críticas, algumas fundadas, outras não, cuidaram,

sempre, de omitir que, ao estruturar o aparelho de

governo de acordo com concepções, tidas à época como

“modernizantes”, separaram-se as funções de

planejamento e de execução, ficando a cargo do DNOCS,

no que lhe competia, esta última.

Registre-se o fato histórico de que o GEIDA —

Grupo Executivo de Irrigação para o Desenvolvimento

Agrícola, já mencionado, criado pelo MINTER em 1968,

contando com representantes dos Ministérios da

Agricultura, Fazenda, Minas e Energia, Planejamento e

Saúde, definiu no documento intitulado Programa

Plurianual de Irrigação — PPI, não só o escopo dos

projetos, como, também relacionou as áreas objeto de

intervenção nominando, inclusive, os perímetros que

seriam implantados. A própria Portaria 001/70, do

MINTER, define as responsabilidades no campo da

irrigação no Nordeste:

*GEIDA: formulação de políticas

*SUDENE: supervisão e coordenação

*SUVALE, DNOCS e DNOS: execução, operação e

manutenção dos projetos.

Embora creiamos que devam ser esses fatos do

conhecimento daqueles que estudam e se dedicam à

Page 246:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

246

problemática da irrigação no Nordeste semiárido,

entendemos ser este registro histórico necessário,

primeiro, para que não se continue a atribuir ao DNOCS

um contencioso maior do que ele já detém, segundo,

porque a identificação das raízes dos problemas que hoje

enfrentamos é fundamental para que não se incorram nos

mesmos erros do passado, embora com isso não

queiramos subtrair do DNOCS a sua parcela de culpa, ao

analisar os fatos históricos aqui relatados.

É meridianamente claro, que, de tudo isso também

afloram, evidentes acertos, dentre os quais o mais

importante é, sem dúvida, a introdução definitiva da

tecnologia da irrigação nos sertões semiáridos e a sua

irreversibilidade como fator de modernização agrícola,

além da geração de externalidades que se incorporaram

ao processo socioeconômico das regiões em que os

projetos foram implantados.

Considerações finais:

O que pretendemos aqui, deixar registrado, mesmo

resumidamente, foi o papel relevante desempenhado pela

mais antiga agência governamental com atuação no

Nordeste brasileiro - o DNOCS.

Esta instituição, apesar do desgaste de seu

reconhecimento perante a opinião pública, decorre, em

Page 247:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

247

grande parte de motivos que lhe foram alheios, tem a sua

marca impressa em cada palmo de chão dessa sofrida

região.

A nossa história, e dela muito nos orgulhamos, se

confunde com a história da ocupação do semiárido pelo

homem e se expressa por um acervo material e

tecnológico que nos foi legado pelos que nos

antecederam, tenham sido eles engenheiros de larga

visão, como Arrojado Lisboa, cientistas do porte de Von

Ihering, de Francisco Aguiar, pesquisadores do nível de

Guimarães Duque, ou simples “cassacos” que, com as

mãos, transformaram a rocha e a terra estéreis, nas

barragens que reservam a água, mitigam a sede de

homens, animais e de plantas e que pintaram de verde as

manchas cinzentas da caatinga adusta.

Ultrapassados os momentos difíceis que a

instituição tem vivido, um fenômeno tão cíclico como o

das secas que assolam a nossa região, eis que, mais uma

vez, reagrupamos forças e nos aprestamos para o

cumprimento de novas tarefas, com mais entusiasmo, se

por acaso não se reinstalarem as práticas malsãs de

içarem os cargos de chefia, de pessoal despreparado

para o desempenho de suas missões”.

O momento é de cuidar e proteger o DNOCS e seus funcionários.

Page 248:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

248

Vida longa ao “DNOCS”.

Como pode se observar, a questão da seca continua muito grave no

Nordeste. O Déficit hídrico se agrava. As companhias estaduais de abastecimento

de água do Nordeste monitoram e divulgam continuamente o nível das reservas

hídricas existentes em sua rede de reservatórios distribuídos pelos Estados de toda

a região. Todas as companhias têm alertado a população sobre as dificuldades que

vão enfrentar nos próximos meses, pois, pelo segundo ano consecutivo, as chuvas

no Semiárido não foram bastante para fazerem a recarga de água em volume

suficiente para atender a demanda normal.

Há, portanto, um déficit hídrico que exige, em centenas de municípios, ações

de intervenção emergencial na rede de infraestrutura hídrica para adequá-la às

disponibilidades existentes, bem como medidas de contenção ou racionamento por

parte da população.

Em visita à cidade de Patos/PB, dia 24 de julho, o diretor de operações da

Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraíba alertou a

população sobre os riscos de um possível colapso no abastecimento de água, em

consequência do longo período de estiagem que atinge a região Nordeste. Segundo

aquele Diretor, a situação de crise no abastecimento de água abrange toda a região

do Sertão, principalmente as comunidades rurais. “A grita por água atinge todo o

Sertão, toda a área do Semiárido. Estamos com vários projetos de atendimento com

prioridade para as comunidades rurais, em especial naquelas cidades onde o

colapso no abastecimento de água já é realidade”, afirmou.

Em algumas regiões da Bahia, com o longo período de estiagem e a

consequente diminuição dos níveis dos mananciais utilizados para abastecimento, a

Page 249:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

249

Empresa Baiana de Águas e Saneamento — EMBASA vem adotando, em alguns

municípios, a medida preventiva de distribuir água em regime de racionamento. A

distribuição de água tratada nesse regime é a única forma de garantir a continuidade

do serviço até que os mananciais recuperem o nível normal. Na prática, significa que

com menos água para distribuir os imóveis atendidos terão água nas torneiras em

menos dias da semana. Para ter acesso à água nos períodos de desabastecimento,

a população deve fazer o consumo racional, evitando desperdício e usos menos

importantes, como irrigação de jardins, lavagem de carros, de calçadas, de áreas

externas, entre outros.

Nos municípios onde há racionamento, a empresa está promovendo

campanhas nos meios de comunicação para alertar a população, por meio da

distribuição de calendário com dias em que haverá fornecimento e mobilizando a

comunidade para consumir o mínimo possível de água. No Ceará apenas três

reservatórios estão com mais de 90% da capacidade. O volume de chuvas entre

janeiro e março de 2013 em relação ao mesmo período de 2012 teve queda de 36%.

A esperança para algumas comunidades são obras emergenciais e a distribuição de

água pelos carros-pipa, já que o segundo semestre costuma ser de poucas chuvas.

Atualmente, os reservatórios contêm 41,3% da capacidade total, tendo

apenas 7,7 bilhões de metros cúbicos dos 18,3 bilhões que podem armazenar. O

volume das águas atingia 69,8% da capacidade em março de 2012, ano também de

seca. Já em março de 2013, o volume armazenado havia caído para 44%.

Mais de 80% dos açudes públicos do Ceará estão com volume de água

inferior a 30%. O cálculo leva em conta os 144 açudes construídos pelos governos

Estadual e Federal e monitorados diariamente pela Companhia de Gestão dos

Page 250:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

250

Recursos Hídricos (COGERH) e pelo Departamento Nacional de Obras Contra as

Secas (DNOCS).

O Nordeste vive a pior seca das últimas décadas. Em parceria com o Governo

federal, os Estados vêm desenvolvendo ações emergenciais nos sistemas de

abastecimento de água de centenas de municípios que estão em situação mais

crítica. As ações totalizam bilhões de reais, sendo uma parcela de recursos próprios

das companhias estaduais e outra parte oriunda dos diversos ministérios que atuam

diretamente com intuito de reverter à situação.

Entre as ações existem: a integração entre sistemas de abastecimento de

água que se encontram ameaçados de colapso com outros que tenham

disponibilidade hídrica; o abastecimento alternativo por meio de carros-pipa; poços

cavados onde for tecnicamente viável e a implantação de cisternas.

Para exemplificar ações estaduais existentes cita-se uma do Governo do

Ceará que concluiu a construção de adutora emergencial de engate rápido no

município de Crateús. Trata-se de infraestrutura hídrica de 13 quilômetros que levará

água do açude Carnaubal até a estação de tratamento de água do município,

beneficiando 70 mil habitantes. Esse é um dos exemplos de operação desenvolvida

pela COGERH para garantir segurança hídrica a vários municípios da região. As

ações daquela Companhia incluem, ainda, a construção de adutoras emergenciais,

a limpeza e desobstrução de leito de rios e a transferência da água de açudes com

boa capacidade hídrica para aqueles com grande deficiência.

Toda a região do polígono das secas não tem medido esforços para contornar

a situação promovida por este longo período de estiagem. Não só a Embasa, mas

também outras companhias responsáveis pelo fornecimento de água vêm adotando

Page 251:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

251

medidas preventivas e até emergenciais de distribuição de água em regime de

racionamento. Nos lugares onde há racionamento há a promoção de campanhas

nos meios de comunicação a fim de alertar a população sobre o uso racional da

água; distribuem-se calendários dos dias em que haverá fornecimento e promove-se

a mobilização da comunidade para que esta consuma o mínimo possível de água.

O Governo Federal, parceiro dos Estados nas ações de atenuar os efeitos

causados pela seca prolongada, vai repassar recursos para a construção de obras

hídricas aos municípios da região Nordeste e de Minas Gerais, declarados pela

Defesa Civil em estado de emergência. Por meio do programa Água para Todos, a

população do Semiárido brasileiro é beneficiada com a instalação de reservatórios

de água da chuva para o consumo humano e para a produção. Esses reservatórios

captam a água da chuva por meio de um sistema de calhas e canos.

Desde 2011, foram construídas cerca de 270.611 cisternas. A meta é instalar

750 mil em todo o País. A determinação da presidente Dilma é de que todas as

casas da zona rural no Semiárido nordestino tenham uma cisterna. Em 2013, o ritmo

de construção foi intensificado. Até julho foram entregues 130 mil novas cisternas

para consumo; a previsão é que serão 240 mil até dezembro e 750 mil até 2014. O

DNOCS anunciou a descentralização imediata de R$ 66,31 milhões para a

instalação de 533 sistemas simplificados de abastecimento de água e 385 barragens

subterrâneas. Com intuito de agilizar o atendimento às comunidades carentes de

água, as coordenadorias do DNOCS em Alagoas, Ceará, Bahia, Minas Gerais,

Paraíba, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Rio Grande do Norte irão contratar as

empresas com dispensa de licitação. O diretor geral do DNOCS recomendou

atender de modo prioritário aos municípios mais carentes.

Page 252:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

252

Os coordenadores nos Estados vão receber da Administração Central uma

orientação unificada da procuradoria do órgão sobre como devem proceder na

dispensa de licitação com base na portaria e decreto que reconhece a situação de

emergência de cada município. Conforme a lei, as obras terão de ser executadas

dentro de 180 dias. O DNOCS vai fornecer projeto base e termo de referência para

que as coordenadorias estaduais possam implantar as obras de modo mais rápido.

A contratação será fiscalizada por pessoal do DNOCS nos Estados e da

Administração Central.

Se a execução se der da forma mais rápida, há possibilidade de se conseguir

mais recursos. Para isso o DNOCS deverá receber mais recursos do Ministério da

Integração Nacional vislumbrando a recuperação de 800 sistemas simplificados de

água, com a instalação de poços públicos tubulares e de mais 600 sistemas

simplificados de abastecimento de água que incluem a perfuração e instalação de

novos poços tubulares.

Tão logo os recursos cheguem serão descentralizados para as coordenações

nos Estados. Conforme a realidade de cada um. Existe por parte do Governo

Federal um Plano Nacional de Segurança Hídrica que tenciona ouvir Estados e

Municípios sobre suas maiores carências.

O Ministério da Integração Nacional e a Agência Nacional de Águas (ANA)

vão percorrer os Estados, a começar pelo Nordeste, para identificar, em interlocução

com o DNOCS, CODEVASF e as secretarias estaduais, as obras prioritárias a serem

incluídas no Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH). O secretário Nacional de

Infraestrutura Hídrica, Francisco José Coelho Teixeira, do MI, disse em reunião no

Page 253:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

253

DNOCS que a visita às autoridades estaduais tem por objetivo conhecer a realidade

hídrica do Estado sem perder uma visão de bacia hidrográfica.

“Não adianta fazer planos nacionais aqui em Brasília se não for aos Estados

discutir com os órgãos e técnicos que têm coisas pensadas”, disse Sérgio Soares,

superintendente adjunto da ANA. Existe conhecimento produzido pelos Estados e

órgãos como o DNOCS e CODEVASF, segundo ele, mas está disperso. Francisco

Teixeira observou que foi adotado pelo DNOCS o trabalho com Plano Diretor

introduzido pela SUDENE. Como exemplos, citou o Plano Diretor do Baixo

Jaguaribe, de 50 anos atrás e outro dos anos 80 que inclui as barragens no rio

Macacos, Jucurutu e na bacia do rio Coreaú. “Precisamos resgatar esses projetos

de maneira organizada e aperfeiçoar com as novas tecnologias”, disse.

O secretário estima em meia dúzia o número de grandes barragens a serem

construídas no Ceará, Estado que, segundo ele, “foi o único que assumiu a seca

como um problema”. O diretor-geral do DNOCS, Emerson Fernandes, por sua vez,

acrescentou que são 15 as grandes barragens incluídas em plano diretor para serem

construídas no Ceará. O órgão na atualidade tem a preocupação de trabalhar com a

área de projeto para identificar necessidades e prioridades no que considerou a

mesma trilha do Plano Nacional de Segurança Hídrica.

Provavelmente o primeiro Estado a ser visitado será a Bahia, considerado por

Francisco Teixeira um dos Estados onde o problema de água é sério e mais precisa

de apoio federal, como também o Rio Grande do Sul. O diretor-geral do DNOCS

informou que já esteve com o governador da Bahia, Jaques Wagner, para discutir as

necessidades de obras hídricas no Estado. A lista preliminar de projetos para a

Page 254:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

254

Bahia já está pronta no DNOCS, informou o coordenador de Obras da Diretoria de

Infraestrutura Hídrica, Glauco Mendes.

Com a ANA e MI, participarão dos encontros nos Estados um dos dois

membros da Diretoria de Infraestrutura Hídrica do DNOCS indicados para o grupo

de trabalho do PNSH, o coordenador do Departamento no Estado visitado e um

membro da CODEVASF. A elaboração do PNSH visa identificar as áreas críticas e

as principais intervenções estruturantes do País, de natureza estratégica e

relevância regional, necessárias para garantir oferta de água para o abastecimento

humano, para o uso em atividades produtivas e para reduzir os riscos associados a

eventos críticos — secas e inundações.

Vão ser incluídas no PNSH obras do tipo eixos de integração de bacias,

barragens e sistemas adutores, que atendam a requisitos como a visão da bacia

hidrográfica e que possuam abrangência interestadual ou estadual. É necessário

que a escolha se configure em solução integrada ou estratégica, uma vez que o

Plano não contempla soluções tipicamente locais.

Outro requisito é que a obra ofereça solução “estruturante” que garanta

resultados duradouros - e não limitado a soluções de caráter emergencial ou

paliativo. Também são requisitos a sustentabilidade hídrica e operacional, nos

moldes do Certificado de Avaliação da Sustentabilidade da Obra Hídrica (CERTOH)

da ANA, foco no atendimento a demandas efetivas, otimização de excedentes

hídricos e ênfase em obras complementares. Como intervenções estruturantes,

tanto para obras como gestão, o PNSH adota um foco em barragens para o controle

de cheias e regularização da oferta de água para usos múltiplos e infraestrutura de

Page 255:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

255

condução e derivação de água para abastecimento urbano ou usos múltiplos, o que

inclui sistemas adutores, canais e eixos de integração.

Francisco Teixeira disse que o Plano não terá mais de 100 páginas e será um

documento que precisa ter sustentabilidade técnica, econômica e política. Antes da

contratação da empresa que fará os estudos do PNSH, prevista para ocorrer ainda

no primeiro semestre deste ano, Francisco Teixeira disse que o plano é acelerar as

visitas nos próximos quatro meses. O estudo tem previsão para ser concluído em 18

meses.

Outra obra muito importante é a Transposição do Rio São Francisco. O

projeto de integração do Rio São Francisco vai garantir a segurança hídrica do

Nordeste com 220 quilômetros de extensão no eixo leste e 260 quilômetros no eixo

norte. Já em 2014 estarão disponíveis 100 quilômetros de transposição em cada

trecho e todo o empreendimento estará pronto no final de 2015. A obra da

transposição inaugura um novo momento na política de infraestrutura hídrica do

Nordeste. É um primeiro grande passo. E a obra da transposição, sim, vai assegurar

aquilo que a gente sonhou por tantas gerações que é legar ao Nordeste a segurança

hídrica que o Nordeste precisa para conviver melhor com períodos de estiagem.

Sobre a retomada de toda a obra do São Francisco, Fernando Bezerra disse

que está sendo concluído o processo licitatório das últimas frentes de serviço.

“Nós vamos estar com toda a obra da transposição

plenamente remobilizada. (...) Temos hoje mais de 5,8 mil

pessoas trabalhando nas obras de transposição, quase 2

mil equipamentos. E até o final de setembro nós

deveremos alcançar 8 mil pessoas trabalhando na

Page 256:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

256

transposição. (...) Já temos diversas frentes de serviço

trabalhando em dois turnos, nós temos trabalho noturno.

A orientação da presidenta Dilma é não faltar dinheiro pra

essa obra e a gente poder de fato já ver a obra

funcionando a partir do próximo ano.”

O ministro também falou sobre investimentos do PAC 2, que durante o

governo da presidenta Dilma, investiu na construção de barragens no Nordeste, o

que deve elevar em quase 7 bilhões de m³ a capacidade de reserva de água na

região. Bezerra falou também sobre o Plano Safra do Semiárido, que cria condições

diferenciadas de crédito para apoiar pequenos agricultores e criadores, e sobre o

programa Mais Irrigação. Este último está distribuindo inicialmente 20 mil kits de

irrigação comunitários no interior do Nordeste visando geração de emprego e renda.

O ministro destacou ainda, a criação de cultura de prevenção e investimentos

em estruturação da Defesa Civil nos municípios, em todo o país, que são alvos

recorrentes de desastres naturais. Desde o ano passado foram priorizados mais de

R$ 16 bilhões em recursos para essas comunidades, ampliando investimentos em

macrodrenagem, canais extravasores e diques de contenção de cheias. Por meio da

Secretaria Nacional de Defesa Civil (SEDEC), estão sendo entregues kits de defesa

civil como parte desse esforço para melhorar a cultura da prevenção.

Cada kit contém uma viatura e equipamentos como máquina fotográfica

digital, aparelho de GPS e tablet, para que os municípios possam organizar

estruturas de Defesa Civil. A SEDEC também tem promovido, em parceria com as

defesas civis estaduais e municipais, simulados com o objetivo de ensinar a

população que vive em áreas de risco a agir em situações de desastres.

Page 257:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

257

“Nessa primeira etapa, estamos entregando o kit para 102 municípios. Esse é

um esforço para melhorar a cultura da prevenção. Ao lado dos kits estamos

realizando diversos simulados, mais de 19 Estados já foram contemplados. Mais de

5 mil pessoas participaram desses simulados,” declarou o ministro.

Em um dos seus piores anos desde que começou a sair do papel, as obras de

transposição das águas do Rio São Francisco receberam de janeiro até julho só

4,2% do orçado para 2015, R$ 1,246 bilhão. O fraco ritmo de pagamentos não

aparece somente no desembolso efetivo do governo federal. Quando se considera o

total de dinheiro empenhado, a “garantia formal” de que as construtoras serão

pagas, o governo atingiu apenas 15,5% do orçamento. O ritmo de 2015 é melhor

apenas do que 2007 e 2008, quando a transposição dava seus primeiros passos.

A transposição do São Francisco foi a grande promessa do ex-presidente Luiz

Inácio Lula da Silva e também serviu de plataforma política para a presidenta Dilma

Rousseff no Nordeste. A obra é composta por dois grandes canais que somam mais

de 700 quilômetros e vão retirar água do São Francisco para beneficiar 12 milhões

de pessoas em Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.

Sempre é bom lembrar que o Projeto de Transposição do Rio São Francisco

não é uma ideia nova. Ampliado no governo Lula, ele existe há décadas. O plano

básico é construir dois imensos canais ligando o rio São Francisco a bacias

hidrográficas menores do Nordeste, bem como aos seus açudes. A seguir, seriam

construídas adutoras, com o objetivo de efetivar a distribuição da água.

De acordo com o governo federal, o projeto seria a solução para o grave

problema da seca no Nordeste, pois distribuiria água a 390 municípios dos Estados

de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte — uma população de 12

Page 258:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

258

milhões de nordestinos. O prazo para realização do projeto é de 20 anos, a um custo

total estimado, até meados de 2009, em R$ 4,5 bilhões.

A transposição, contudo, tem sido criticada por ambientalistas e

representantes de outros setores da sociedade, incluindo a Igreja Católica. A

resposta do governo é de que o número de empregos criados, direta e

indiretamente, graças ao projeto, bem como a solução do problema da seca derruba

toda e qualquer crítica.

Além da interligação das bacias, o governo também pretende executar um

projeto de recuperação do rio São Francisco e de seus afluentes, pois vários desses

rios sofrem problemas de assoreamento, decorrentes do desmatamento para

agricultura.

O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do

Nordeste Setentrional é um empreendimento destinado a assegurar a oferta de

água, em 2025, a cerca de 12 milhões de habitantes de pequenas, médias e

grandes cidades da região semiárida dos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e

Rio Grande do Norte.

A integração do rio São Francisco às bacias dos rios temporários do

Semiárido será possível com a retirada contínua de 26,4 m³/s de água, o equivalente

a 1,4% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho (1850 m³/s) no trecho do

rio onde se dará a captação. Este montante hídrico será destinado ao consumo da

população urbana de 390 municípios do Agreste e do Sertão dos quatro Estados do

Nordeste Setentrional. Nos anos em que o reservatório de Sobradinho estiver

vertendo, o volume captado poderá ser ampliado para até 127 m³/s, contribuindo

para o aumento da garantia da oferta de água para múltiplos usos.

Page 259:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

259

A Região Nordeste que possui apenas 3% da disponibilidade de água e 28%

da população brasileiras apresenta internamente uma grande irregularidade na

distribuição dos seus recursos hídricos, uma vez que o rio São Francisco representa

70% de toda a oferta regional.

Esta irregularidade na distribuição interna dos recursos hídricos, associada a

uma discrepância nas densidades demográficas (cerca de 10 hab/km2 na maior

parte da bacia do rio São Francisco e aproximadamente 50 hab/km2 no Nordeste

Setentrional) faz com que, do ponto de vista da sua oferta hídrica, o Semiárido

Brasileiro seja dividido em dois: o Semiárido da Bacia do São Francisco, com 2.000

a 10.000m3/hab/ano de água disponível em rio permanente, e o Semiárido do

Nordeste Setentrional, compreendendo parte do Estado de Pernambuco e os

Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, com pouco mais de

400m3/hab/ano disponibilizados através de açudes construídos em rios intermitentes

e em aquíferos com limitações quanto à qualidade e/ou quanto à quantidade de suas

águas.

Diante desta realidade, tendo por base a disponibilidade hídrica de

1.500m3/hab/ano, estabelecida pela ONU como sendo a mínima necessária para

garantir a uma sociedade o suprimento de água para os seus diversos usos, o

Projeto de Integração estabelece a interligação da bacia hidrográfica do rio São

Francisco, que apresenta relativa abundância de água (1.850 m³/s de vazão

garantida pelo reservatório de Sobradinho), com bacias inseridas no Nordeste

Setentrional com quantidades de água disponível que estabelecem limitações ao

desenvolvimento socioeconômico da região.

Page 260:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

260

As bacias que receberão a água do rio São Francisco são: Brígida,

Terra Nova, Pajeú, Moxotó e Bacias do Agreste em Pernambuco; Jaguaribe e

Metropolitanas no Ceará; Apodi e Piranhas-Açu no Rio Grande do Norte; Paraíba e

Piranhas na Paraíba.

O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do

Nordeste Setentrional prevê a construção de dois canais: o Eixo Norte que levará

água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte e o

Eixo Leste que beneficiará parte do sertão e a região do agreste de Pernambuco e

da Paraíba.

O Eixo Norte, a partir da captação no rio São Francisco próximo à cidade de

Cabrobó-PE percorrerá cerca de 400 quilômetros, conduzindo água aos rios

Salgado e Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-Açu, na

Paraíba e Rio Grande do Norte.

Projetado para uma capacidade máxima de 99 m³/s, o Eixo Norte operará

com uma vazão contínua de 16,4 m³/s, destinados ao consumo humano. Em

períodos recorrentes de escassez de água nas bacias receptoras e de abundância

na bacia do São Francisco (Sobradinho vertendo), as vazões transferidas poderão

atingir a capacidade máxima estabelecida. Os volumes excedentes transferidos

serão armazenados em reservatórios estratégicos existentes nas bacias receptoras.

O Eixo Leste que terá sua captação no lago da barragem de Itaparica, no

município de Floresta-PE, se desenvolverá por um caminhamento de 220

quilômetros até o rio Paraíba-PB, após deixar parte da vazão transferida nas bacias

do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Para o atendimento das

Page 261:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

261

demandas da região agreste de Pernambuco, o projeto prevê a construção de um

ramal de 70 quilômetros que interligará o Eixo Leste à bacia do rio Ipojuca.

Previsto para uma capacidade máxima de 28 m³/s, o Eixo Leste funcionará

com uma vazão contínua de 10 m³/s, disponibilizados para consumo humano.

Periodicamente, em caso de sobras de água em Sobradinho e de necessidade nas

regiões beneficiadas, o canal poderá funcionar com a vazão máxima, transferindo

este excedente hídrico para reservatórios existentes nas bacias receptoras.

Resultado de Termo de Cooperação firmado entre o Exército Brasileiro e o

Ministério de Integração/Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São

Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), coube ao 2º Batalhão de Engenharia de

Construção (2º BEC — Batalhão Heróis de Jenipapo — Teresina-PI), a

responsabilidade pela implantação das obras do Canal de Aproximação à estação

de Bombeamento EBI-01 e da Barragem de Tucutu, pertencentes ao Eixo Norte e ao

3º Batalhão de Engenharia de Construção (3º BEC — Batalhão Visconde Parnaíba

— Picos-PI), a responsabilidade pela implantação das obras do Canal de

Aproximação à estação de Bombeamento EBV-01 e da Barragem de Areias,

pertencentes ao Eixo Leste.

No Eixo Norte o Canal de Aproximação possuirá uma extensão de 2.080

metros, desde a captação no Rio São Francisco até a montante da EBI-01. Já a

Barragem de Tucutu contará com maciço de comprimento total de 1.790 metros e

altura máxima de 22 metros.

No Eixo Leste o Canal de Aproximação possuirá uma extensão de 5.973

metros desde a captação no Interior do Reservatório de Itaparica até o montante da

Page 262:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

262

EBV-01, e profundidade de 35 metros, enquanto que o maciço da Barragem de

Areias terá o comprimento total de 1000 metros.

Outra obra a se destacar é o Canal do Sertão. Iniciada em 1992, o Canal do

Sertão teve sua obra paralisada por pelo menos 10 anos por falta de estudos

técnicos que garantissem sua viabilidade. Somente em 2002 após a execução de

um amplo estudo técnico que envolveu ministérios, órgãos federais e estaduais, e a

partir de um convênio com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São

Francisco e Parnaíba (CODEVASF), Alagoas pode comprovar a viabilidade do

canal.

Para isso, foram apontadas as alternativas socioeconômicas de engenharia e

os impactos ambientais. Tudo levando em conta o aproveitamento da água de parte

da bacia hidrográfica do Rio São Francisco, desde o lago do Moxotó, no município

de Delmiro Gouveia, próximo à Usina Apolônio Sales, até as imediações de

Arapiraca, numa extensão de 250 quilômetros. Em 2004, o custo total da obra era

estimado em R$ 531,4 milhões, hoje o projeto está orçado em mais de R$ 600

milhões.

Inicialmente as obras do canal do sertão estavam previstas para serem

concluídas até 2010, porém, por motivo de paralisação esta expectativa não foi

concretizada. O Canal do Sertão encontra-se ainda em sua primeira fase, que

compreende a infraestrutura de captação, com a construção da estação de

bombeamento, 45 quilômetros do canal adutor e os projetos de irrigação de dois mil

hectares. Quando for concluído, o canal vai beneficiar mais de 40 municípios, que

correspondem quase à metade do território alagoano em mais de 13 mil quilômetros

Page 263:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

263

quadrados. O projeto já está sendo considerado uma das maiores e mais modernas

obras de engenharia hídrica do mundo.

O Canal do Sertão garantirá a mais de um milhão de pessoas água tratada

para o consumo humano, irrigação, produção de alimentos, pecuária e a piscicultura.

Este empreendimento é considerado o maior de todos os projetos para o

desenvolvimento sustentável do semiárido alagoano e vai beneficiar quase metade

dos municípios alagoanos.

Até a conclusão da obra, mais de dois mil trabalhadores serão inseridos na

execução do empreendimento que já é considerado o maior do Estado. Segundo a

Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Renda — SETER. A obra já

comemora 40 quilômetros de execução. O Canal do Sertão hoje integra o Programa

de Aceleração do Crescimento (PAC).

Desde o início da década passada ouvimos falar no projeto do Canal do

Sertão, um canal que custaria a 1,2 bilhão de reais; que sairia do lago de

Sobradinho levando água para irrigar 115 mil hectares de 16 municípios de

Pernambuco. Num piscar de olhos, um projeto foi rapidamente articulado pela

agroindústria canavieira pernambucana com a Petrobras e a japonesa Itochu

Corporation para que a área produzisse cana-de-açúcar, com safras estimadas de

10 milhões de toneladas anuais e produção de etanol toda exportada para o Japão.

Agora, com a aparente paralisação do projeto é uma ótima oportunidade para

reavaliá-lo sob, pelo menos, dois aspectos.

Sem considerar as restrições à cana-de-açúcar impostas pelo zoneamento

agro ecológico, o primeiro aspecto a ser reavaliado seria o risco implícito da

monocultura pela sua capacidade de exaustão do solo e da biodiversidade e de

Page 264:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

264

redução da mão de obra no campo, sem esquecer, ainda, o risco econômico de

concorrência com outras regiões de custos operacionais mais baixos pela não

necessidade de irrigação.

O segundo aspecto seria a aparente injustiça com as populações locais que

sobrevivem nessas áreas há décadas, sempre encarando a pobreza, as dificuldades

com as secas recorrentes, sem ou com um apoio muito precário em educação,

saúde, crédito, assistência técnica, e outros fatores essenciais de produção.

Finalmente, quando o governo resolve investir em obras realmente capazes de

mudar a situação, chegam as grandes empresas, ocupam essas terras e reduzem

essas populações a uma condição de ator secundário do processo de mudança ao

invés de serem vistas como objeto principal do projeto. Evidentemente que este

alijamento das pessoas não é justo e precisa e pode ser repensado, sem,

necessariamente, excluir a grande empresa.

O instrumento que pode contribuir na solução do problema é a reformulação

na concepção dos novos projetos públicos de irrigação, visando integrar as áreas

irrigadas com as áreas de sequeiro (dependentes de chuva).

A categorização do produtor no acesso à água é um procedimento que

permitirá multiplicar expressivamente as áreas beneficiadas pelos projetos públicos

de irrigação, hoje limitadas a verdadeiros “guetos” de uso intensivo de capital e

tecnologia, rodeados de “favelas” de pobreza e de subdesenvolvimento.

A proposta tem por base o estabelecimento de anéis diferenciados de oferta

de água, permitindo incorporar áreas mais extensas e contemplar um maior número

de famílias. O Canal do Sertão oferece o palco perfeito para começar a implantar

essa nova concepção. A integração das atividades agropecuárias exercidas nas

Page 265:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

265

áreas de sequeiro com as das áreas irrigadas já existe e representa um formidável

potencial de benefícios econômicos e sociais ainda hoje subvalorizado nos projetos

públicos e privados direcionados separadamente para essas duas áreas.

Na prática, a integração se manifesta nos fluxos de insumos e serviços entre

os dois espaços. O esterco caprino e ovino é o principal exemplo. Com demanda

efetiva estimada acima de um milhão de toneladas anuais do produto, consolida-se

uma forte dependência da agricultura irrigada desse insumo largamente disponível

na área de sequeiro. Seria até engraçado vislumbrar o desastre que causaria uma

greve dos bodes deixando os pomares de manga e uva sem acesso à matéria

orgânica.

A ideia a ser analisada é a expansão da área beneficiada pelo Canal do

Sertão incorporando áreas de sequeiro do chamado “território de concessão” em

mais duas faixas (anéis) diferenciadas de acesso à água. Isso poderia resultar em

vantagens como o aumento substancial da área física beneficiada do projeto em

0,75 a 1,5 milhão de hectares, e o incremento de 15 a 30 mil produtores no total de

beneficiários. Isto sem considerar a redução substancial nos custos por hectare

incorporado, já que não envolve despesas com indenizações de terras e

deslocamentos de famílias, considerando que esses produtores são os mesmos que

já vivem na área.

Há de se considerar também o fortalecimento dos empreendimentos irrigados

com base no fato de o sequeiro poder se constituir no seu maior provedor de mão de

obra diversificada e qualificada, de esterco, de serviços agrícolas especializados, de

parcerias em empreendimentos agropecuários e turísticos (terminações de animais,

Page 266:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

266

condomínios de leite, ecocapriturismo, etc.), bem como, sua maior fonte provedora

de alimentos básicos.

Não podemos incorrer no mesmo equívoco do Vale do São Francisco. O

potencial econômico da agricultura irrigada lá praticada é muito grande e sua

relevância social representada pela geração de milhares de empregos permanentes

é tremenda para ficar quase que totalmente dependente apenas da oferta de um par

de produtos in natura a um mercado predominantemente externo e estacional.

A região de sequeiro não é só agricultura irrigada. A caprino-ovinocultura é

um exemplo disso e apresenta condições excepcionais de integrar de forma

ambientalmente harmônica as duas áreas. Para se ter uma ideia, um recente estudo

da Markestrat/SEBRAE/Banco do Brasil, ainda não publicado, apontou uma

movimentação financeira de quase 300 milhões de reais anuais da caprino-

ovinocultura, apenas em cinco municípios baianos do Vale. Isto pode ser

considerado excepcional, se considerarmos tratar-se de uma atividade que vive

quase toda na informalidade, ou seja, é inexistente do ponto de vista oficial. É

inexistente, mas representa R$ 300 milhões, em cálculo, por baixo. Pode ser muito

mais, principalmente se forem admitidas cifras mais realistas para os quantitativos

de rebanhos.

A busca da dinamização da economia das populações do Semiárido deve

evitar a visão reducionista de desenvolvimento que enxerga duas coisas díspares,

como se fossem estratégias de desenvolvimento excludentes:

1) Uma oposição entre a “maximização da competitividade” do chamado

agronegócio;

2) A “diversificação das economias locais” propiciada pela agricultura familiar.

Page 267:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

267

O projeto Canal do Sertão pernambucano pode representar um primeiro

passo concreto em direção a uma nova forma de enxergar mais objetivamente as

coisas do Semiárido, se conseguir chegar ao fim, de forma coerente, visando a

autossustentabilidade, sem se perder nos meandros das politiquices que abundam

qualquer projeto com grandiosos cifrões, como é este caso.

Quando ainda menino, morando em Salgueiro, eu ouvia falar em duas coisas

que me enchiam os olhos de alegria e o coração de esperança. Uma era a chamada

Universidade Federal de Petrolina, e a outra, o Canal do Sertão, que traria água do

Rio São Francisco para irrigar as terras de Casa Nova, na Bahia e, de mais de uma

dúzia de municípios do sertão pernambucano, até chegar a Salgueiro, terra que me

adotou e que amo.

O tempo passou, e somente depois da virada do século XX, depois de muita

luta, discussões e negociações com os Estados da Bahia, do Piauí e de

Pernambuco, é que, no Congresso Nacional, conseguimos aprovar essa tão

importante Universidade, apenas mudando o seu nome para Universidade do Vale

do São Francisco — UNIVASF.

O combate à pobreza, a geração de empregos e a distribuição de renda de

uma região, não podem prescindir das ações ligadas à agricultura. A irrigação é uma

das mais efetivas ações desse processo, e, ainda, o aumento da oferta de alimentos

e preços menores daqueles produzidos nas áreas não irrigadas, bem como o

aumento substancial da produtividade dos fatores, terra e trabalho.

Mesmo com essas vantagens, a área irrigada per capta do Brasil ainda é uma

das mais baixas do mundo.

Page 268:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

268

Detentor do mais alto índice de água do planeta, e, mesmo com

pouquíssimas áreas irrigadas, o Brasil emprega mais de 500 mil trabalhadores e

arrecada meio milhão de reais de impostos todos os anos, nesse setor.

Com a vinda da Presidente Dilma Rousseff ao Submédio São Francisco

(Juazeiro e Petrolina), o então Ministro da Integração Nacional, hoje Senador da

República, Fernando Bezerra Coelho, conhecedor dos problemas da região,

conseguiu incluir no PAC — Programa de Aceleração do crescimento II, os recursos

para a construção de 750 mil cisternas para os pequenos agricultores em áreas de

sequeiro e, ainda, a elaboração do projeto e construção desse velho Canal do

Sertão de Pernambuco que poderá se arrastar ainda por mais de 10 anos.

O Canal do Sertão vai contemplar atividades estruturadoras em 16 municípios

pernambucanos — Petrolina, Afrânio, Dormentes, Santa Filomena, Santa Cruz,

Ouricuri, Trindade, Araripina, Bodocó Ipubi, Granito, Exu, Moreilândia, Serrita, Cedro

e Parnamirim e ainda podendo atender Verdejante e Salgueiro a pedido deste

jornalista e político.

É sempre bom lembrar que o meu Projeto de Lei da interligação do Rio

Tocantins com o Rio São Francisco para a regularização das águas do rio da

Integração Nacional e para a navegação fluvial desse gigante rio nordestino que

corresponde a um dos mais econômicos meios de transportes, desde que

efetivamente exista um sistema hidroviário implantado e uma administração de

tráfego eficiente.

Essencialmente para um país como o Brasil, e num cenário cada vez mais

próximo de escasseamento de recursos energéticos e aproveitamento racional das

vias navegáveis interiores, representa condição inarredável para o desenvolvimento

Page 269:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

269

econômico e social equilibrado e melhoria de suas condições de competitividade no

intercâmbio internacional.

Retorna mais uma vez o binômio desenvolvimento e comunicações para o

Vale do São Francisco. Queremos expor, aqui, que o setor transporte é uma

problemática constante para mim, desde a concepção e implantação das obras para

a Ferrovia Transporte, culminando agora com a navegação fluvial a partir do médio

São Francisco, precisamente no trecho navegável do Rio Preto, afluente do Rio

Grande, para estabelecer conexão com o Rio Tocantins.

O médio São Francisco conta com várias barcas com plena capacidade para

o transporte hidroviário: o Rio Corrente e o Rio Preto que, banhando as cidades de

Santa Rita de Cássia e Formosa do Rio Preto, grandes centros produtores de soja,

tendo Barreiras como epicentro das micro regiões 131, 132, 133 e 134, de soja,

asseguram para aquela região na margem esquerda do Rio São Francisco.

Este projeto tem o mérito de restabelecer a navegação fluvial para o fluxo de

produção dos ribeirinhos que fizeram dela o seu meio de comunicação com as

cidades do Estado de Goiás, totalizadas na margem direita ao rio Tocantins. As

embarcações, já atualmente projetadas pelo IPT — Instituto de Pesquisas Técnicas

de São Paulo, para a navegação fluvial no Rio São Francisco e afluentes, poderão

sangrar o Rio Preto até o Rio São Marcelo, fronteira com Goiás, que, para atingir o

Rio Tocantins pelo Rio do Sono, necessita apenas algumas dezenas de quilômetros.

Esta é a nossa realidade: não temos combustível, temos poucas fábricas de

caminhões, não temos rodovias e nem temos ferrovias, mas temos enormes

distâncias a serem vencidas. Gostaria de solicitar a cada um dos pares desta Casa,

apoio para este projeto, pois a superação dos nossos problemas no setor de

Page 270:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

270

transporte só terá saída com o aproveitamento do Rio São Francisco e afluentes

como meio de transporte, porque é mais barato e em termos de tarifas é mais eficaz

para o transporte de cargas e passageiros.

A nossa preocupação, com transporte de carga para aquela região são

franciscana, provém de uma tentativa para restabelecer o papel histórico que o Rio

São Francisco desempenhou no passado como traço de união entre o Norte e o Sul

e também como condensados de gente que, atenta às condições de pastoreio, que

lá implantaram grandes criatórios de gado vacum, a exemplo dos bandeirantes e

pioneiros como Garcia D’Ávila, senhor da Casa da Torre e Antônio Guedes de Brito

da Casa da Ponte.

Chamamos atenção à navegação do Vale do São Francisco, especialmente o

Rio Preto, alerto para a possibilidade de reversão das águas do Tocantins para a

bacia do Rio São Francisco, que já tem projeto em estudos de viabilidade voltado

para este assunto. Preocupa-nos também o uso múltiplo dos nossos recursos

hídricos, atualmente só utilizados para a geração de energia elétrica e irrigação.

Repito que há de se reconhecer a viabilidade deste projeto desde que, no

livro clássico de Geraldo Rocha “o Rio São Francisco, precípuo para o

desenvolvimento do Brasil”, publicado em 1940, numa antevisão genial, aventa com

a possibilidade da abertura de um canal para o Rio São Francisco com o Rio

Tocantins.

Sem transporte hidroviário capaz de estabelecer o fluxo de produção dos

ribeirinhos são franciscanos, teremos uma pletora de homens inertes por culpa única

e exclusiva dos poderes públicos que não zelam pela realidade socioeconômica e

cultural do povo nordestino.

Page 271:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

271

Este projeto, mais do que uma tarefa parlamentar, é uma questão que deve

ser resolvida para dar sentido à fecundidade da terra, do trabalho para a riqueza do

homem, para o nordeste, dádiva primeira do rio São Francisco.

Insisto em dizer que, aprovado este meu Projeto de Lei, teremos o tráfego

hidroviário do Rio São Francisco, pelo canal do Rio Preto, Rio Tocantins e Rio

Amazonas, facilitando, inclusive, o transporte das cargas da Ferrovia Norte-Sul para

o Porto de Suape, em Recife, por essa hidrovia, em conexão com a Ferrovia

Transnordestina, e também no caso de escassez de água no rio São Francisco,

teremos condições de reserva de parte das águas do Rio Tocantins, para o Rio São

Francisco.

Por estas razões, defendemos a construção de um canal que interligue,

através de seus afluentes, os rios Tocantins e São Francisco, de modo a assegurar

a continuidade de navegação interior entre o Nordeste e a Amazônia.

Assim, apresentamos Projeto de Lei que acrescenta esta às interligações de

bacias previstas no Plano Nacional de Viação. Pelo elevado alcance da medida,

esperamos que a proposição seja aprovada, com o apoio dos nobres pares.

Gostaria ainda de fazer referência a um brilhante artigo escrito pelo

competente Engenheiro Civil Cássio Borges, profundo conhecedor dos problemas

causados pelas estiagens na região nordeste, defensor intransigente do

fortalecimento do DNOCS e especialista em recursos hídricos e barragens, intitulado

“Castanhão e o Parque do Cocó”, que trata sobre obras e meio ambiente:

“Castanhão e o Parque do Cocó.

Não se pode, em sã consciência, estabelecer um paralelo

entre a discussão da questão envolvendo a construção de

Page 272:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

272

dois viadutos no Parque do Cocó e o Açude Castanhão

como alguns, menos avisados, quiseram fazer. No Parque

do Cocó, o cerne da discussão foi o corte de 19

castanholeiras (plantas que nem nativas são daquela

região) restritas a uma pequena área de 0,7 hectares,

enquanto a do Açude Castanhão, envolvendo seres

humanos, se discutia o destino incerto de 15.000 pessoas

residentes na região jaguaribana. Para os viadutos, o

recurso financeiro necessário para a sua construção é de

R$ 17 milhões. O daquele reservatório girava em torno de

R$ 600 milhões. Uma diferença abismal.

No caso dos viadutos não vou entrar no mérito se havia

ou não outras alternativas, pois fiquei à margem desta

discussão, mas concordei com a tese da inviabilidade da

construção de túneis, visto que aquela área, em cota

quase ao nível do mar, é sujeita à periódicas inundações.

Em relação ao Açude Castanhão havia sim alternativas

que beneficiavam todo o Estado do Ceará, evitando a

condenação e o consequente desaparecimento da cidade

de Jaguaribara, seus distritos e parte de Jaguaretama.

Um erro de engenharia inominável que o tempo está se

encarregando de mostrar.

Se tivesse havido bom senso, e melhor conhecimento da

Ciência Hidrológica nos meios técnicos cearenses, o

Page 273:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

273

planejamento do DNOCS para o vale do Rio Jaguaribe,

elaborado na década de 50, com 10 a 12 barragens de

porte médio, espacialmente distribuídas em toda a sua

bacia hidrográfica, teria sido, obviamente, considerada

com a inclusão do Açude Castanhão, porém com 1,2

bilhão de metros cúbicos de acumulação d água, em vez

de 6,7 bilhões como foi construído. Era o que eu

chamava, à época dos 14 anos de discussão, de a

“democratização da água”.

Com isto, a população de Jaguaribara teria sido poupada

e, certamente, as demais cidades que se localizam ao

lado ou acima daquela megabarragem não estariam

sofrendo os efeitos danosos da estiagem como estamos

assistindo agora e o mais grave, com a perspectiva ainda

mais sombria se não chover no próximo ano. Entretanto, a

Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará

negou-se a considerar esta alternativa optando pela

construção (pontual) de uma obra faraônica próxima do

litoral e, até mesmo, manipulou dados de cartografia,

topografia, hidrologia e evaporação para descartar esta

lógica e legítima solução. Além do mais, por trás desta

discussão estava o interesse de uma portentosa

empreiteira nacional que ganhou uma licitação duvidosa

lançada apelo DNOCS que contrariava a Resolução

Page 274:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

274

001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente-

CONAMA.

Ressalte-se que tal planejamento, já incluindo os Açudes

Orós e Banabuiú, obviamente atenderiam à Região

Metropolitana de Fortaleza e as necessidades do

Complexo do Porto do Pecém e tudo mais que viesse a

ser construído do Estado do Ceará nas próximas

décadas.

O clima das discussões tornou-se mais tenso porque na

primeira audiência no Conselho Estadual do Meio

Ambiente, realizada no dia 27/07/92, os promotores e

defensores daquele empreendimento foram derrotados

naquele colegiado por 12 votos contra e 4 a favor. Não

conformados com este resultado, um grupo de oito

conselheiros requereu à SEMACE-Superintendência

Estadual do Meio Ambiente a convocação de nova

audiência que foi realizada vinte dias depois da primeira,

no dia 17/10/92. Para tristeza dos defensores daquele

empreendimento, mais uma vez ele foi derrotado no

COEMA, desta vez por 10 votos contra e 9 a favor. Uma

espécie de casuísmo vergonhoso no intuito de reverter

uma votação altamente desfavorável aos interesses dos

que defendiam aquela obra.

Page 275:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

275

O COEMA ainda iria se reunir mais uma vez para discutir

a viabilidade ou não da construção da Barragem do

Castanhão. Para isso foram contratados pela SEMACE

dois especialistas brasileiros nesta área de recursos

hídricos e meio ambiente, os professores Theóphilo

Benedicto Ottoni Netto e Aristides de Almeida Rocha,

respectivamente da Universidade Federal do Rio de

Janeiro-UFRJ e Universidade de São Paulo-USP.

Em resumo, o parecer do professor Aristides dizia o

seguinte: “De um ponto de vista conceitual, o melhor

sempre seria procurar alternativas para a construção de

pequenas barragens por serem menos impactantes,

exigindo menores gastos” e criticou o procedimento de

como estava sendo conduzido o processo de

licenciamento (EIA/RIMA) do açude “quanto ao

comportamento dos nossos políticos, os mais pertinazes

defensores da obra”.

O parecer do professor Theóphilo Ottoni foi longo e

detalhado, constando de quase 100 páginas entre textos,

quadros, tabelas e gráficos apresentados. O renomado

professor demonstrou ser um profundo conhecedor das

características geológicas, geomorfológicas e hidrológicas

do Vale do Jaguaribe.

Page 276:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

276

Transcrevo, a seguir, pequeno trecho do referido parecer

ao se referir que o Açude Castanhão iria cobrir cerca de

70 quilômetros das ricas margens do próprio Rio

Jaguaribe e cerca de 50 quilômetros da perenização já

promovida pelo Açude Riacho do Sangue, em

Jaguaretama: “ …O Baixo Jaguaribe é um verdadeiro

cadinho de progresso e atividades produtivas que vêm

usufruindo minifúndios e conhecidos latifúndios dos

benefícios da água permanente graças às regularizações

promovidas, há mais de 10 anos, pelos açudes públicos

Orós e Arrojado Lisboa(Banabuiú)”. (O grifo é meu). Ou

seja, a exagerada acumulação do Açude Castanhão

lamentavelmente acabou, de fato, anulando ou melhor

dizendo, inutilizando uma significativa área já perenizada

pelos Açudes Orós e Banabuiú. Este parecer é de

dezembro de 1992.

Os referidos professores, em suma, demonstraram, com

clareza e seriedade, a inviabilidade técnica, econômica,

ambiental e social do EIA/RIMA do Açude Castanhão.

Será que os promotores e defensores daquele

empreendimento tomaram conhecimento dos pareceres,

pagos pelos cofres públicos, desses ilustres e

conceituados professores contratados pela SEMACE

Page 277:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

277

para, de “per si”, emitirem suas conclusões sobre o

empreendimento?

Finalmente, depois de muita controvérsia houve mais uma

audiência no COEMA, realizada no dia 22/12/92. Após

três audiências, em seis meses, finalmente a Barragem

do Castanhão foi aprovada, por 12 votos a 8, graças à

avassaladora propaganda oficial veiculada na mídia e

agressivo lobby nos bastidores da votação.

Já numa edição do Tribunal da Água, realizado em

Florianópolis, Santa Catarina, no período de 25 a 30 de

abril de 1993, com a mesma credibilidade do Tribunal

Internacional da Água, com sede em Copenhague, esta

mesma Barragem do Castanhão foi condenada por 7

votos a zero, embora esta decisão não tenha caráter

judicial ou arbitral, sendo julgado não por artistas

despreparados para debater um assunto da mais alta

complexidade técnica, mas por profissionais dos mais

respeitados e conceituados do País. Assisti

manifestações desta natureza por leigos como no caso do

projeto da Transposição do Rio São Francisco e da Usina

de Belo Monte, no Rio Xingu.”

No entanto, é imperiosa a aprovação do meu projeto de lei. Mas, para que

isso ocorra é necessário conhecermos melhor as características do Rio Tocantins.

Page 278:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

278

O Rio Tocantins é um rio brasileiro que nasce no Estado de Goiás, passando

logo após pelos Estados do Tocantins, Maranhão e Pará, até a sua foz no Golfo

Amazônico, próximo a Belém, onde se localiza a ilha de Marajó.

Após a união do Rio das Almas, Rio Maranhão e Rio Paranã, entre os

municípios de Paranã e São Salvador do Tocantins (ambos localizados no Estado

do Tocantins), o rio passa a ser chamado definitivamente de Rio Tocantins. Durante

a época das cheias, seu trecho navegável é de aproximadamente 2 000 quilômetros,

entre as cidades de Belém, no Pará, e Lajeado, Tocantins.

O Rio Tocantins é o segundo maior rio totalmente brasileiro (perde apenas

para o Rio São Francisco), e também pode ser chamado de Tocantins-Araguaia,

após juntar-se ao Rio Araguaia na região do “Bico do Papagaio”, que fica localizada

entre o Tocantins, o Maranhão e o Pará. É no vale do médio e baixo Rio Tocantins

que se encontrava a maior concentração de castanheiras da Amazônia.

Tocantins” é um termo com origem na língua tupi: significa “bico de tucano”,

através da junção de tukana (tucano) e tim (bico), e também nomeou o Estado

brasileiro mais recente surgido Tocantins.

A nascente mais longínqua do Rio Tocantins fica localizada na divisa entre os

municípios de Ouro Verde de Goiás-GO e Petrolina de Goiás-GO, bem próximo à

divisa de ambos com o município de Anápolis-GO. A partir deste ponto, o rio surge

com o nome de Rio Padre Souza no município de Pirenópolis - GO . A maior vazão

registrada no rio Tocantins foi em 3 de março de 1980, atingindo aproximadamente

70 000 metros cúbicos por segundo nas proximidades de Tucuruí. A maior cheia no

rio Tocantins foi em março de 1980, período na qual o nível do rio em Tucuruí

Page 279:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

279

aumentou cerca de 20 metros. Em 8 de março desse ano, Marabá ficou

praticamente submersa.

Ocupando uma área de 803 250 quilômetros quadrados, é a maior bacia

hidrográfica inteiramente brasileira. Além de apresentar-se navegável em muitos

trechos, é a terceira do País em potencial hidrelétrico, encontrando-se nela a Usina

Hidrelétrica de Tucuruí.

O Tocantins, principal rio dessa bacia, nasce no norte de Goiás e deságua no

Oceano Atlântico. Em seu percurso, recebe o rio Araguaia, que se divide em dois

braços, formando a Ilha do Bananal; situada no Estado de Tocantins, é considerada

a maior ilha fluvial interior do mundo.

Nessa região, ocorrem rios de regime austral, ao sul, e equatorial, ao norte.

Usinas Hidrelétricas

O potencial energético instalado no Rio Tocantins é superior a 10 500

megawatts, através de suas três usinas hidrelétricas:

Usina de Tucuruí

Usina Hidrelétrica de Cana Brava no município de Minaçu, Goiás, com

potência instalada de 456 MW.

Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa no alto Tocantins em Goiás, com

potência instalada de 1 275 MW;

Usina Hidrelétrica de São Salvador, localizada entre os municípios de São

Salvador do Tocantins (TO) e Paranã (TO), com potência instalada de 243,2 MW;

Usina Hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães, localizada entre os municípios de

Miracema do Tocantins (TO) e Lajeado (TO), com potência instalada de 902 MW;

Page 280:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

280

Usina Hidrelétrica de Estreito, localizada na divisa entre o Tocantins e o

Maranhão, com potência instalada de 1 087 MW.

Usina Hidrelétrica de Tucuruí localizada no sul do Pará, é a segunda maior do

Brasil, com doze turbinas e potência instalada de 8 370 MW.

O Prefeito de Aracaju defende transposição do Rio Tocantins para salvar Rio

São Francisco

João Alves Filho (DEM) participa de audiência pública na manhã desta

quarta-feira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, convidado pela Comissão

de Minas e Energia.

Rio São Francisco, no Norte de Minas Gerais.

Especialista em rios há 50 anos, o prefeito de Aracaju (SE), João Alves Filho

(DEM), defende a transposição de água do Rio Tocantins, no Estado de mesmo

nome, para salvar o Rio São Francisco. Ele participa de audiência pública na manhã

desta quarta-feira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, convidado pela

Comissão de Minas e Energia.

As obras, segundo o prefeito, durariam 10 meses e dependem do governo

federal. Segundo ele, o grande problema hoje do Velho Chico é receber água. “Só

existe um lugar que tem água abundante para levar água para o Rio São Francisco,

que são os rios Tocantins e Araguaia, no Estado do Tocantins. Já existe um projeto

de transposição feito pelo governador Siqueira Campos para levar água até o São

Francisco. O Tocantins faz divisa com vários Estados e existe um afluente. O

afluente levaria 500 metros cúbicos de água do Tocantins para o Velho Chico”, disse

o prefeito.

Page 281:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

281

Segundo o prefeito, há 15 anos, quando o governo FHC falou em

transposição do São Francisco, projeto abraçado pelo presidente Lula, o rio já

apresentava sinais de morte. Alves Filho conta que, no passado, o rio avançava 30

quilômetros dentro do mar e era onde as caravelas eram abastecidas de água doce.

Hoje, povoados foram engolidos pelo mar porque o Velho Chico perdeu força e o

oceano avança.

No rio, é possível pescar peixes que somente sobrevivem em água salgada, a

145 quilômetros da foz, devido a salinização. Durante a audiência, o prefeito citou o

robalo, como um dos mais pescados. “A água do oceano está claramente

avançando no rio”, alerta. A preocupação de Alves Filho é que Aracaju e várias

cidades de Alagoas são abastecidas pela água do Velho Chico, assim como toda a

área de seca do sertão. A salinização da água é uma ameaça, também para a

irrigação. Conforme o prefeito, a adutora de Aracaju no São Francisco fica a 200

quilômetros da foz e com a salinização, 60% da população da capital sergipana

ficaria sem água.

Tocantins era o nome de uma tribo indígena que habitou as margens do rio.

Significa em tupi, grafado tu’ ka tim, ‘bico de tucano, nariz de tucano’, em referência

ao nariz aquilino dos indígenas dessa tribo.

Rio brasileiro com 2.416 quilômetros de extensão; corre no sentido de Sul

para Norte, ligando a Amazônia ao Planalto Central, onde nascem os seus dois

formadores: O Rio das Almas, oriundo da serra dos Pirineus (Goiás), e Maranhão,

da Serra Geral do Panará.

O Tocantins atravessa os Estados de Goiás e de Tocantins, separando este

último, no extremo norte, do Maranhão.

Page 282:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

282

Ao receber pela esquerda o Araguaia, penetra em terras paraenses, onde

desemboca num amplo estuário, a que dão o nome de rio Pará.

A bacia do Tocantins-Araguaia mede uns 700 a 800 mil km², abrangendo

áreas dos Estados referidos, mais as de uma parte a leste de Mato Grosso.

Alguns autores consideram o Tocantins um afluente do Amazonas. “Não é,

nem nunca foi”, afirmou Matias Roxo.

A ligação entre as duas embocaduras se faz por uma rede de furos, dos quais

o principal é o de Tajapuru.

Nascentes

Quando, no passado, águas do Amazonas se ligaram diretamente ao rio

Pará, não existia ainda o arquipélago marajoara, mas, em seu lugar, um vasto golfo.

Os afluentes mais importantes do Tocantins, pela margem direita, são:

Paraná (que corre numa imensa depressão em anfiteatro: o vão do Paraná), Manuel

Soares, Sono, Manuel Alves Grande (na divisa TO-MA) e Farinha. Pela esquerda

sobressaem o Araguaia (nos limites de GO com MS e MT e de TO com MT e PA) e

o Itacaiúnas.

O Araguaia tem as nascentes (na serra Caiapó) mais recuadas que as do

Tocantins e o perfil longitudinal mais rebaixado. Recebe dois grandes afluentes, pela

direita: o Garças e o rio das Mortes. Em seu curso médio, atravessa uma ampla

depressão quaternária, alagada durante as enchentes. Aí está Bananal, a maior ilha

fluvial do mundo.

Regime

O Tocantins-Araguaia é um típico rio de planalto: as corredeiras de Itaboca,

no sudeste do Pará, separavam o trecho navegável do baixo Tocantins, dos dois

Page 283:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

283

trechos planálticos, ligando Marabá a Porto Nacional e a Registro do Araguaia. A

antiga Estrada de Ferro Tocantins, de Jatobal a Tucuruí, contornava as corredeiras.

Seus trilhos foram arrancados com a construção da Usina de Tucuruí.

O regime fluvial do Tocantins-Araguaia é francamente tropical. No curso

superior, o auge das enchentes ocorre em março, o mínimo das vazantes, em

setembro. Abaixo da confluência Tocantins-Araguaia, o máximo das cheias é

retardado para abril, e as águas

Transposição envolve política e meio ambiente

Desde os tempos do imperador Dom Pedro II, a transposição das águas do

São Francisco para “molhar terras mais ao norte” é um tema que desperta muitas

discussões e poucas conclusões. Com aplausos de um lado e vaias de outro, o

governo Lula deu mostras - nem sempre muito claras, é verdade - de que tomou

uma decisão: a de tocar a obra.

Para seus opositores, o desvio da água pode acabar com o Velho Chico e

criar problemas mais do que resolvê-los. Para a Fundação Nacional de Ciências,

Aplicações e Tecnologia Espacial (FUNCAT, a instituição que desde 1997 estuda

esse assunto para o governo), o São Francisco pode doar quase sem sentir os 65

metros cúbicos de água (65 mil litros) por segundo necessários para o

abastecimento dos canais de transposição.

Licitação

“A vazão média do rio abaixo da represa de Sobradinho, onde o projeto prevê

a captação da água, é de 2.030 metros cúbicos por segundo. A retirada de 65

metros cúbicos teria pouco impacto”, diz o coordenador do projeto na FUNCAT,

brigadeiro José Armando Varão Monteiro.

Page 284:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

284

O militar diz que os estudos de impacto ambiental já foram enviados ao

Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e que

o pedido de liberação da água está nas mãos da Agência Nacional de Águas (ANA).

“Resolvidas essas questões, podemos fazer uma licitação. A primeira fase pode ficar

pronta em dois anos, e a obra toda, que envolve 700 quilômetros de canais,

demoraria cinco anos.”

O brigadeiro não fala em orçamento — “Custaria menos do que o metrô de

São Paulo” —, mas cifras extraoficiais preveem um gasto de cerca de US$ 6 bilhões

(R$ 18 milhões).

Enchentes

Mas, para os críticos do projeto, o Velho Chico já foi muito alterado pelo

intenso uso de suas águas, e isso agora poderia acabar com o rio de vez. Às

margens do rio, o que mais se ouve é que o Velho Chico perdeu sua histórica

capacidade de ter cheias e assim molhar as terras e encher lagoas em suas

várzeas.

“Muitas barragens foram feitas no rio para a construção de usinas

hidrelétricas que acabaram com as cheias do São Francisco. Uma das primeiras

consequências disso é a redução do número de peixes”, conta o biólogo da

Universidade Federal de Minas Gerais Alexandre Godinho. O pesquisador explica

que, em geral, as cheias carregam os filhotes de peixes para um crescimento mais

seguro nas lagoas marginais do rio, para que, mais desenvolvidos, eles possam

voltar depois à calha principal na enchente do ano seguinte. “Com enchentes

artificiais poderíamos tentar recuperar a fauna fluvial”, diz Godinho, levantando mais

um possível uso para as disputadas águas do São Francisco.

Page 285:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

285

Revitalização

O brigadeiro Monteiro concorda que, mais para o lado da nascente - o

chamado Alto São Francisco -, há problemas de falta de água. “Mas o meu projeto

prevê a captação de água perto das cidades de Cabrobó (PE) e Itaparica (BA), onde

já não há mais desse problema”, garante o militar. “A represa de Sobradinho é um

enorme lago artificial que, faça chuva ou faça sol, despeja em média 2.030 metros

cúbicos de água na calha do rio.”

E o militar diz que o atual plano do governo não trata só da transposição, mas

também da revitalização do rio. “Desde que esse plano é discutido, há mais de cem

anos, sempre se fala do transporte de água do São Francisco para o chamado

coração da seca, no norte do semiárido brasileiro”, explica.

“A diferença agora é que o governo também está preocupado com a

revitalização do rio através da recuperação da mata ciliar, de obras de saneamento

básico nas grandes cidades das margens e da construção de barragens em Minas

Gerais para regularizar o curso do rio”.

Tocantins

O brigadeiro diz que está no fundo da gaveta o projeto de captar águas da

bacia do rio Tocantins para abastecer a bacia do São Francisco. “Por enquanto

temos água suficiente no rio São Francisco para tudo o que precisamos, mas, se for

necessário dar uma reforço hídrico, à medida que os anos avançarem, já temos o

projeto pronto”, explica.

Para outros, no entanto, despejar água do Tocantins no São Francisco é

essencial para que a transposição seja feita e o Velho Chico sobreviva. Há até no

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um cálculo que

Page 286:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

286

prevê um orçamento de R$ 24 bilhões para obra, que, por sinal, enfrenta a oposição

dos políticos dos Estados da Bacia Amazônica.

Desastre ambiental

Para o biólogo do Projeto Manuelzão - uma ONG focada em questões

socioambientais da bacia dos rios das Velhas e São Francisco -, Carlos Alves, tirar

água do Tocantins ou de alguma outra fonte seria essencial para que se pudesse

captar algo depois. Mas Alves adverte que, se usar o rio Tocantins pode, por um

lado, resolver o problema de falta de água, também pode, por outro, causar um

desastre ambiental”.

Tirar água do Tocantins significa criar grandes canais e túneis por aonde

também viriam muitos peixes. Misturar peixes de duas bacias diferentes pode ter um

efeito desastroso para a fauna”, diz. O biólogo também têm dúvidas a respeito dos

efeitos sociais positivos da transposição no longo prazo. “Se construirmos 700

quilômetros de canais pelo Sertão brasileiro, onde há pouca água, a tendência das

populações vai ser se aglomerar em torno do canal, usar a água de maneira pouco

eficiente e até poluir o canal”, teme.

Evaporação

Já o agrônomo da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)

Luiz Bassoi acredita que o risco é outro: a água ser usada apenas nas pontas do

canal e não em toda a sua extensão. “Se esses canais forem construídos, temos de

ver se as terras em seu caminho são irrigáveis porque, se o uso acontecer só na

ponta, muito vai ser perdido com a evaporação”, disse.

Mas o agrônomo, mesmo sendo especialista em água e irrigação, reclama

que tem dificuldades para definir sua opinião sobre a obra. “Cada estudo técnico

Page 287:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

287

vem com uma visão diferente, de acordo com os interesses de quem está fazendo o

estudo. A discussão sobre a transposição das águas do São Francisco é um tema

muito mais político do que técnico”, diz o agrônomo, que trocou o interior de São

Paulo pelo desafio de fazer o semiárido produzir na cidade pernambucana de

Petrolina.

“Irrigação e água são instrumentos de justiça social que têm de ser muito bem

usados. Só espero que este governo estude bem a questão em todos os seus

aspectos técnicos, não se deixe levar por interesses políticos menores e faça o que

for melhor para a população tão necessitada do Sertão”.

O Brasil é dotado de uma vasta e densa rede hidrográfica, sendo que muitos

de seus rios destacam-se pela extensão, largura e profundidade. Em decorrência da

natureza do relevo, predominam os rios de planalto que apresentam em seu leito

rupturas de declive, vales encaixados, entre outras características, que lhes

conferem um alto potencial para a geração de energia elétrica.

Quanto à navegabilidade, esses rios, dado o seu perfil não regularizado, ficam

um tanto prejudicados. Dentre os grandes rios nacionais, apenas o Amazonas e o

Paraguai são predominantemente de planície e largamente utilizados para a

navegação. Os rios São Francisco e Paraná são os principais rios de planalto.

De maneira geral, os rios têm origem em regiões não muito elevadas, exceto

o rio Amazonas e alguns de seus afluentes que nascem na cordilheira andina.

Em termos gerais, pode-se dividir a rede hidrográfica brasileira em sete

principais bacias, a saber: a bacia do rio Amazonas; a do Tocantins - Araguaia; a

bacia do Atlântico Sul - trechos norte e nordeste; a do rio São Francisco; a do

Page 288:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

288

Atlântico Sul - trecho leste; a bacia Platina, composta pelas sub-bacias dos rios

Paraná e Uruguai; e a do Atlântico Sul — trechos sudeste e sul.

A bacia do rio Tocantins-Araguaia com uma área superior a 800.000 km2 se

constitui na maior bacia hidrográfica inteiramente situada em território brasileiro. Seu

principal rio formador é o Tocantins, cuja nascente localiza-se no Estado de Goiás,

ao norte da cidade de Brasília. Dentre os principais afluentes da bacia Tocantins —

Araguaia destacam-se os rios do Sono, Palma e Melo Alves, todos localizados na

margem direita do rio Araguaia.

O rio Tocantins desemboca no delta amazônico e embora possua, ao longo

do seu curso, vários rápidos e cascatas, também permite alguma navegação fluvial

no seu trecho desde a cidade de Belém, capital do Estado do Pará, até a localidade

de Peine, em Goiás, por cerca de 1.900 quilômetros, em épocas de vazões altas.

Todavia, considerando-se os perigosos obstáculos oriundos das corredeiras e

bancos de areia durante as secas, só pode ser considerado utilizável, por todo o

ano, de Miracema do Norte (Tocantins) para jusante.

O rio Araguaia nasce na serra das Araras, no Estado de Mato Grosso, possui

cerca de 2.600 quilômetros, e desemboca no rio Tocantins na localidade de São

João do Araguaia, logo antes de Marabá. No extremo nordeste do Estado de Mato

Grosso, o rio divide-se em dois braços, rio Araguaia, pela margem esquerda, e rio

Javaés, pela margem direita, por aproximadamente 320 quilômetros, formando

assim a ilha de Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. O rio Araguaia, é navegável

cerca de 1.160 quilômetros, entre São João do Araguaia e Beleza, porém não possui

neste trecho qualquer centro urbano de grande destaque.

Page 289:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

289

Agora torna-se vital a aprovação do projeto de minha iniciativa que concretiza

a ajuda das águas do Rio Tocantins para o Rio São Francisco. O governo federal

enfim atentou para a viabilidade do projeto e diante disso, engenheiros de Furnas

Centrais Elétricas elaboraram um estudo para levar ao semiárido nordestino a água

de um dos mais importantes rios do País, por meio de um canal de 1,6 mil

quilômetros de extensão, beneficiando a população de cinco Estados.

Para o engenheiro Walton Pacelli de Andrade, um dos autores do estudo, não

há outra saída para o problema da escassez de água no semiárido que não seja a

transposição. Mais cedo ou mais tarde o governo vai ter que se debruçar sobre o

projeto para analisar sua viabilidade técnica e econômica, afirmou Walton Andrade.

O projeto prevê a transferência para o Nordeste de aproximadamente um

quarto (26%) da vazão do Tocantins. Além da adutora, seriam construídos 18

reservatórios ao longo do desvio, nos Estados do Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará

e Rio Grande do Norte. O primeiro seria no município de Carolina, no Maranhão, e o

último em Governador Dix Sept Rosado, no Rio Grande do Norte. Os reservatórios

teriam uma dupla finalidade: perenizar cursos d água e gerar energia elétrica.

Walton Pacelli admite que a proposta é polêmica. Entretanto, em relação ao

São Francisco, ele afirma que o Tocantins oferece melhores condições para ser

transposto, pelo fato de suas águas estarem mais disponíveis. Segundo ele, o

número de usinas hidrelétricas e projetos de irrigação existentes em sua bacia é

menor do que na do São Francisco, além de sua vazão ser maior.

Quando o projeto de transposição do São Francisco estava sendo discutido,

há dois anos, o do Tocantins chegou a ser proposto como alternativa mais viável e

Page 290:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

290

de menor risco ambiental. Entretanto, como engavetamento da transposição do São

Francisco, a do Tocantins também deixou de ser discutida.

O engenheiro admite que as dificuldades técnicas e os custos de ordem

financeira e ambiental seriam elevados demais, no caso do São Francisco. Em

relação ao Tocantins, ele também destaca, como fator positivo, o fato de a

distribuição de chuvas sobre a bacia ser homogênea durante todo o ano.

O rio Tocantins tem 2,5 mil quilômetros de extensão. Nasce no Planalto de

Goiás, a partir da junção dos rios Almas e Maranhão. No extremo norte de

Tocantins, recebe seu afluente mais importante: o Araguaia, antes de desaguar no

Amazonas.

Estudos preliminares indicam que o projeto de transposição do Tocantins

custaria entre US$ 15 bilhões e US$ 18 bilhões (algo entre R$ 52 bilhões e R$ 63

bilhões). O estudo prevê que tal investimento seria amortizado em 21 anos. O

retorno do capital investido viria com a venda do excedente de energia produzido

pelos 18 reservatórios a serem construídos ao longo da adutora. A previsão é de

que os 18 reservatórios gerem 2,7 mil megawatts de energia excedente.

Além disso, o estudo aponta, como benefício adicional da transposição, a

possibilidade de os reservatórios serem utilizados para suprir a demanda de rios de

pouca vazão que cortam o sertão nordestino e poderiam ser perenizados.

Para ser aprovado, qualquer projeto de transposição de rio federal, como o

Tocantins, tem que passar pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, que

determinará a realização dos estudos de impacto ambiental necessários. Se tivesse

um comitê de bacia, como é o caso do São Francisco, o projeto teria que passar

pelo comitê.

Page 291:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

291

Entretanto, segundo a Secretaria Nacional de Recursos Hídricos, ainda é

embrionária a mobilização da comunidade para que seja instalado o comitê do

Tocantins.

A bacia do rio Tocantins possui uma vazão média anual de 10.900m3/s,

volume médio anual de 344km3 e uma área de drenagem de 767.000km2, que

representa 7,5% do território nacional; onde 83% da área da bacia distribuem-se nos

Estados de Tocantins e Goiás (58%), Mato Grosso (24%); Pará (13%) e Maranhão

(4%), além do Distrito Federal (1%).

Limita-se com bacias de alguns do maiores rios do Brasil, ou seja, ao Sul com

a do Paraná, a Oeste, com a do Xingu e a leste, com a do São Francisco. Grande

parte de sua área está na região Centro Oeste, desde as nascentes do rios Araguaia

e Tocantins até sua confluência, na divisa dos Estados de Goiás, Maranhão e Pará.

Desse ponto para jusante a bacia hidrográfica entra na região Norte e se

restringe a apenas um corredor formado pelas áreas marginais do rio Tocantins.

Assim, a transposição anual de 16.000m3 de água do rio Tocantins para o

São Francisco, além de minimizar os impactos das variações climáticas que

prejudicam a vazão deste último, permitiria ampliar a geração de energia elétrica em

Sobradinho e Xingó e aumentar a área agrícola irrigada. Uma proposta

complementar a essa seria a redução — em 1 metro — da atual cota de operação

do lago de Sobradinho, o que reduziria em 120m3/s a perda de água por

evaporação. Assim, a perda atual, de 450m3/s, somados os lagos de Sobradinho e

Itaparica, cairia para 330m3/s.

A redução da cota de operação não comprometeria as atividades

econômicas, já que a disponibilidade hídrica estaria garantida pela adução das

Page 292:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

292

águas do Tocantins. A maior disponibilidade de água possibilitaria ainda o

estabelecimento de agricultura de alto retorno, como fruticultura irrigada durante

parte do ano, em cerca de 3 milhões de ha do vale do São Francisco, o que poderia

gerar uma renda bruta anual de US$ 60 bilhões e uma oferta de cerca de 10 milhões

de empregos diretos. Nessas circunstâncias, também seria possível pôr em prática

os planos de levar água do rio São Francisco (cerca de 70m3/s) para amenizar a

deficiência hídrica de outros Estados da região, como Ceará, Paraíba, Piauí e Rio

Grande do Norte, sem afetar a geração de energia elétrica ou a agricultura irrigada.

Apenas a transposição de vazão, porém, não resolveria os problemas do rio

São Francisco, pois o seu vale vem sofrendo impactos ambientais severos, em

função das atividades humanas desregradas, ao longo de 500 anos. É necessário

adotar medidas complementares, como recuperação do ambiente e dos

ecossistemas, particularmente das matas ciliares, fundamentais no controle da

erosão e do assoreamento da calha do rio. Se adotada essa proposta de

transposição, é claro que, em qualquer momento futuro, o volume transposto poderá

ser redimensionado segundo as necessidades.

Acredito que dessa vez meu projeto é enfim respeitado e estudado como

merece. Tenho certeza que o Rio Tocantins é a melhor saída para salvar o Rio São

Francisco e a população do semiárido do nosso país.

O Sr. Luiz Couto, nos termos do § 2º do art. 18 do

Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é

ocupada pelo Sr. Izalci, nos termos do § 2º do art. 18 do

Regimento Interno.

Page 293:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

293

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - O próximo orador do Grande Expediente é o

Deputado Luiz Couto. Antes, concedo 1 minuto ao Deputado Wadson Ribeiro, do

PCdoB de Minas Gerais.

O SR. WADSON RIBEIRO (PCdoB-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.)

- Obrigado, Presidente Izalci.

Sr. Presidente, nobres colegas Deputados, eu venho aqui, nessas breves

comunicações, dizer que a música brasileira, em especial a música mineira, está de

luto pela morte do jornalista, escritor, letrista e poeta Fernando Brant, ocorrida na

última sexta-feira, 12 de junho.

Há quase 5 décadas, as letras de Fernando Brant fazem parte do imaginário

do povo brasileiro, especialmente do povo mineiro. Sua poesia influenciou gerações

de mineiros que reconhecem, em cada palavra escrita por Brant, um pouco de sua

própria cultura e história.

Ao lado dos músicos mineiros Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes,

Toninho Horta, Tavinho Moura, entre outros, Fernando Brant foi um dos criadores do

movimento cultural, musical, conhecido como Clube da Esquina. Em 1967, a pedido

de Milton Nascimento, Fernando Brant escreveu sua primeira letra: Travessia. A

estreia da parceria de Brant e Milton rendeu a ambos o segundo lugar no II Festival

Internacional da Canção, no Rio de Janeiro.

A genialidade e sensibilidade do poeta Fernando Brant também está

imortalizada em clássicos da música mineira, como San Vicente, Saudade dos

Aviões da Panair, Ponta de Areia, Maria, Maria, Para Lennon e McCartney, Canção

da América e Nos Bailes da Vida, entre tantas outras músicas.

Page 294:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

294

Aproveito a oportunidade, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, para

expressar a minha solidariedade à família de Fernando Brant. Registro aqui também

o meu pesar por essa imensurável perda para a música brasileira.

Eu gostaria, Sr. Presidente, que este breve pronunciamento fosse divulgado

nos veículos de comunicação da Casa.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Acato o pedido de V.Exa. e faço nossas as

palavras de V.Exa.

Page 295:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

295

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Com a palavra o Deputado Luiz Couto.

O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, em

primeiro lugar, eu queria agradecer ao Deputado Glauber Braga, do PSB do Rio de

Janeiro, a concessão do tempo reservado para seu pronunciamento. S.Exa. é um

Deputado combativo, referência nesta Casa e no Estado onde milita pela coerência

entre seu discurso e sua prática.

Eu também queria me associar ao pronunciamento do Deputado Wadson

Ribeiro e manifestar minhas condolências ao povo brasileiro, em particular ao povo

mineiro, que perdeu uma figura importante. Canção da América sempre foi uma

referência, Coração de Estudante foi símbolo na luta pelas Diretas Já. Ele sempre

estava presente. Nossa solidariedade por esta grande perda! Mas agora Fernando

Brant vai se associar a outros autores e cantores e tocadores de sanfona no céu e

com certeza compor muitos hinos de louvor a Deus e à Trindade Santa!

Sr. Presidente, eu tenho posição clara contrária à redução da maioridade

penal e hoje vou falar tomando como referência um conjunto de ações da Psicologia.

Vários psicólogos colocam dez razões para a não redução da maioridade penal.

A redução da maioridade penal está sendo oxigenada por um

fundamentalismo exaurido de inverdades, cortinas de fumaças e exageros radicais

como se fosse um grupo terrorista que destina seu extermínio a uma falsa resolução

de problemas derivados da chamada violência, especialmente do aumento da

criminalidade.

A emenda que deu origem a essa situação é a Emenda nº 171, número do

artigo do Código Penal que tipifica o crime de estelionato. Ou seja, é uma

enganação achar que, reduzindo a maioridade penal, vamos resolver o problema da

Page 296:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

296

criminalidade, da violência. O problema da violência é o mau exemplo dado pelos

adultos, é o crime organizado, que está aliciando, recrutando crianças e

adolescentes, é a ação das quadrilhas, das organizações criminosas, é a violência

praticada contra esses adolescentes, que na sua infância foram estuprados,

sofreram violência, maus-tratos, tratamentos cruéis e desumanos.

Querem reduzir a maioridade penal porque o ato infracional cometido por

esses adolescentes atinge o patrimônio. Quarenta e seis por cento daqueles que

estão internados em centros de recuperação praticaram roubos. Essa é a razão do

ódio, da ira daqueles que possuem propriedade, porque estão se sentindo

ameaçados.

O que seria dos adolescentes e jovens se todos alcançassem disciplinas

educadoras, se todos tivessem educação — mas não têm —, se todos tivessem

políticas públicas, se todos fossem evangelizados pela educação social, se todos

tivessem suas necessidades básicas supridas em seus lares, se todos tivessem

direito a políticas sociais, se todos fossem tratados sem distinção de raça, cor e

etnias? O que seria dos adolescentes e jovens brasileiros se tudo isso fosse o

mundo real? Mas não é, é um mundo imaginário. É a velha história: quem leva a

culpa pelo que está errado na casa é sempre o menor. Vamos colocar a culpa, a

máscara naqueles que defendem a redução da maioridade penal, que não foram

capazes de estabelecer políticas para enfrentar a violência contra jovens, crianças e

adolescentes.

É exatamente isso, senhores e senhoras, as medidas de redução de direitos,

principalmente no que se refere à redução da maioridade penal e do aumento do

período de internação, atingem principalmente os adolescentes e jovens

Page 297:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

297

marginalizados, negros, aqueles que moram na periferia, que já tiveram todos os

seus direitos de sobrevivência negados previamente. As violências cometidas não

têm sua origem em nenhum desvio humano dos adolescentes, e sim de uma

realidade brutal e de negação de direitos que levam esses adolescentes a cometer

tais atos. Por isso, devemos maltratá-los, jogando-os em presídios desumanos ou

devemos de fato resolver os problemas sociais, educacionais e psicológicos deles?

Segundo psicólogos brasileiros, há um aumento exorbitante de jovens e

adolescentes procurando consultórios psicológicos no Brasil. Há também pais e

mães que os levam para resolver problemas que eles não conseguiram tratar. Os

principais motivos são diversos: problemas com a família, desilusões amorosas,

dificuldade de se expressar ou de fazer amigos. Os jovens estão pondo em xeque o

famoso “é só uma fase” para firmar seus problemas perante a sociedade e tratá-los

tão seriamente quanto acreditam ser necessário.

Resgatando o pensamento do sociólogo, falecido em 1997, Herbert de Souza,

o Betinho, do IBASE — Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas: “Se

não vejo, na criança, uma criança é porque alguém a violentou antes; e o que vejo é

o que sobrou de tudo o que lhe foi tirado”. Isso demonstra que os adolescentes e os

jovens são violentados quando não possuem os direitos necessários ao seu

crescimento, e ainda querem violentá-los e transformá-los em operadores do crime e

jogá-los nos presídios junto com os adultos. Vão sair de lá, se não morrerem, com

doutorado em crime porque cometeram infrações. Colocar adolescentes nas

masmorras que são as prisões brasileiras é dizer: “Agora vamos eliminá-los”. Não

bastar reduzir a maioridade.

Page 298:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

298

Sr. Presidente, uma entidade de psicologia do Rio Grande do Sul separou dez

razões psicológicas contra a redução da maioridade penal. Mas antes de falar sobre

elas, concedo aparte ao Deputado Zé Geraldo.

O Sr. Zé Geraldo - Deputado Luiz Couto, parabéns por trazer este debate

para o seu grande pronunciamento. No final de semana próximo passado eu fui a

Havana, Cuba, e conversei com várias autoridades cubanas — os Ministros do

Esporte, que lá não se chama Ministro, mas Presidente, da Saúde, da Educação, do

Partido Comunista —, e com pessoas nas ruas. Lá, Deputado Luiz Couto, pode-se

sair pela cidade — e Havana não é uma capital com pouca gente — às 3, 4, 5 horas

da manhã sem medo de ser assaltado. Em qualquer cidade brasileira, de São Paulo

a menor cidade do Pará ou do Rio Grande do Sul, todos têm medo de sair às ruas. E

nós sabemos que uma das grandes desgraças do nosso País são as drogas, drogas

violentas. Mas lá a juventude estuda, e estuda ideologia. Aqui qual é a ideologia

para nossos jovens? Consumo! Ligam a televisão ou o rádio dia e noite: consumo,

consumo, consumo, consumo. E os jovens muitas vezes não têm recursos para

comprar aquilo que se incentiva comprar. V.Exa. tem razão: a juventude vive um

momento difícil. Lá, Deputado Luiz Couto, tomando um pouquinho mais do seu

pronunciamento, o jovem serve ao Exército durante 3 anos. Aqui, 1 ano. Ou seja, já

fica 2 anos a mais em uma organização de disciplina. Eu penso que nós precisamos

cada vez mais investir na educação, para que nossa juventude possa realmente

aprender outros valores — e que nossa educação possa também ensinar outros

valores, não só Matemática, Português, História, Inglês — e pare de pensar que

para ser feliz precisa de um bom celular, de uma boa moto ou de um bom carro. É

isso que os meios de comunicação, a nossa televisão, passam para a cabeça da

Page 299:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

299

nossa juventude todos os dias. Diminuir a maioridade penal não vai diminuir os

crimes no País.

O SR. LUIZ COUTO - Muito obrigado, Deputado Zé Geraldo. Gostaria que o

aparte de V.Exa. constasse do meu pronunciamento.

Primeira razão apresentada pelos psicólogos do Rio Grande do Sul: a

adolescência é uma das fases do desenvolvimento dos indivíduos e, por ser um

período de grandes transformações, deve ser pensada pela perspectiva educativa.

O desafio da sociedade é educar seus jovens, adolescentes e crianças, permitindo

um desenvolvimento adequado tanto do ponto de vista emocional e social quanto

físico. Por isso, investir em educação, em esporte, em políticas públicas é

fundamental para fazer com que o jovem possa aprender uma arte e estar associado

à luta pela cultura.

Segunda: é urgente garantir o tempo social de infância e juventude com

escola de qualidade, visando dar condições aos jovens para o exercício e a vivência

da cidadania, que permitirão a construção dos papéis sociais para a constituição da

própria sociedade.

Terceira razão: a adolescência é momento de passagem da infância para a

vida adulta. A inserção do jovem no mundo adulto prevê em nossa sociedade ações

que assegurem seu ingresso, de modo a oferecer-lhe as condições sociais e legais,

bem como as capacidades educacionais e emocionais necessárias. É preciso

garantir essas condições para todos os adolescentes.

Quarta: a adolescência é momento importante na construção de um projeto

de vida adulta. Toda atuação da sociedade voltada para essa fase deve ser guiada

pela perspectiva da orientação. Um projeto de vida não se constrói com segregação,

Page 300:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

300

e sim pela orientação escolar e profissional ao longo da vida, no sistema de

educação e trabalho.

Quinta razão: o Estatuto da Criança e do Adolescente propõe

responsabilização do adolescente que comete ato infracional com aplicação de

medidas socioeducativas. O ECA não propõe impunidade, como muitos querem

dizer. É adequando, do ponto de vista da Psicologia, uma sociedade buscar corrigir

a conduta dos seus cidadãos a partir de uma perspectiva educacional,

principalmente em se tratando de adolescentes.

Sexta: o critério de fixação da maioridade penal é social, cultural e político,

sendo expressão da forma como uma sociedade lida com os conflitos e questões

que caracterizam a juventude; implica a eleição de uma lógica que pode ser

repressiva ou educativa. Os psicólogos sabem que a repressão não é uma forma

adequada de conduta para a construção de sujeitos sadios. Reduzir a idade penal

reduz a igualdade social, e não a violência. Ameaça não previne e punição não

corrige.

Sétima razão: as decisões da sociedade em todos os âmbitos não devem

jamais desviar a atenção daqueles que nela vivem, das causas reais de seus

problemas. Uma das causas da violência está na imensa desigualdade social e,

consequentemente, nas péssimas condições de vida a que estão submetidos alguns

cidadãos. É por isso que as infrações maiores são de roubos; a segunda, de tráfico

de drogas, o recrutamento feito pelo crime organizado, pelo narcotráfico. A taxa de

homicídios é de 0,01%, segundo os dados do Conselho Nacional de Justiça. O

debate sobre a redução da maioridade penal é um recorte dos problemas sociais

brasileiros que reduz e simplifica a questão.

Page 301:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

301

Oitava: a violência não é solucionada pela culpabilização e pela punição,

antes, pela ação nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que a

produzem. Agir punindo e sem se preocupar em revelar os mecanismos produtores

e mantenedores da violência tem como um de seus defeitos principais aumentar a

violência.

Nona razão: reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, não a causa; é

encarcerar mais cedo a população pobre jovem, apostando que ela não tem outro

destino ou possibilidade.

Só para V.Exa. ter um dado, Deputado: nos últimos 10 anos, a faixa etária em

que mais cresceu o número de mortes, de homicídios por armas de fogo, foi de 10 a

14 anos. O Mapa da Violência coloca que são os adolescentes e os jovens as

maiores vítimas da violência por arma de fogo. São jovens pobres, negros, que

moram nas periferias, afrodescendentes.

Nesse sentido, sem possibilidade, sem acolhimento, sem condição de viver

plenamente na relação familiar — com a desintegração também da família —, como

exigir que um adolescente, vítima da violência, de estupros, de exploração sexual,

de maus-tratos, de tortura, de espancamentos, de todo tipo de violência, sem ter

educação, espiritualidade, família que o integre, como exigir dele outra coisa senão

cometer infrações? Mas é importante destacar que, mesmo quando comete

infrações, tem o internamento, que muitas vezes é maior do que o de alguns presos

que conseguem redução da pena e logo são soltos. Se tiver uma boa banca de

advogados, logo se solta.

Décima e última razão: reduzir a maioridade penal isenta o Estado do

compromisso com a construção de políticas educativas e de atenção para com a

Page 302:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

302

juventude. Nossa posição é de reforço a políticas públicas que tenham a

adolescência sadia como meta.

Essas são as dez razões colocadas por pessoas que estudaram o ser

humano, psicólogos, sob o ponto de vista da Psicologia, do porquê de não se dever

reduzir a maioridade penal.

Concedo aparte ao Deputado Gonzaga Patriota.

O Sr. Gonzaga Patriota - Eu serei breve, Deputado Luiz Couto, e V.Exa. há

pouco fez aparte ao meu pronunciamento de apoio à interligação do Rio Tocantins

com o Rio São Francisco. Eu tenho uma proposta de emenda à Constituição sobre a

maioridade geral. Eu penso também como V.Exa.: por que só a maioridade penal?

Por que não a maioridade geral? Os tempos mudaram. Esse negócio de meninos

com 18 anos tem 60 anos. Os meninos eram abestalhados, hoje estão danados.

Minha proposta de emenda à Constituição é para o rapaz com 16 anos ser homem:

fazer concurso, vestibular, sem esse problema que está aí, candidatar-se a

Vereador. Nessa semana a gente aprovou abaixar a maioridade para candidatos a

Prefeito, Governador e Presidente da República. Os tempos mudaram. As crianças

são outras. Não dá mais para ter maioridade só a partir de 18 anos no geral: menino

com 16 anos fazer concurso público; menino com 16 anos tirar habilitação, casar,

virar homem. Ora, se ele fizer alguma coisa errada, vai pagar, como pagam os

outros. Não dá para continuar como está: essa meninada matando a mando de

outro. Nós temos que fazer as duas coisas aqui: a maioridade geral e, ao mesmo

tempo, dar condições para que os adolescentes de 14 ou 15 anos não venham a

fazer o que estão fazendo agora os que têm menos de 18 anos. Portanto, quero me

associar ao pronunciamento de V.Exa., dizendo que minha PEC é mais ampla,

Page 303:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

303

propõe a maioridade geral e não apenas a maioridade penal, como V.Exa. mostra

nesses dez pontos.

O SR. LUIZ COUTO - Nós temos, Deputado Gonzaga Patriota, que investir na

educação: educação para todos, educação de qualidade, educação para a

cidadania. Aí sim você terá escola de tempo integral, dará oportunidade ao

adolescente de aprender uma profissão, uma arte, um esporte. O esporte qualifica.

A gente sabe de muitos que poderiam estar num espaço onde a violência seria a

máxima, mas foram integrados numa escola da música, das artes, do esporte, enfim,

trabalhando aquilo que é fundamental na vida do ser humano, o seu espírito, o sopro

que Deus coloca sobre cada um de nós para que possamos viver com dignidade.

Está assegurada na Constituição que todas as ações do Estado são para assegurar

a dignidade da pessoa humana. Infelizmente, essa dignidade não está sendo

respeitada, está sendo roubada. Precisamos fazer o nosso papel.

O que acontece? A grande maioria desses adolescentes é recrutada e

aliciada pelo crime organizado. Então, a gente pune o adolescente, mas o cara está

solto, traficando armas, cometendo uma série de ações criminosas. Enquanto isso,

nosso adolescente está sendo vítima de acusações. Na realidade, ele é internado

porque o juiz determina, e pode determinar, como fez agora em São Paulo, que o

adolescente fique mais tempo na cadeia. Por quê? Porque tem um desvio de

personalidade. E o juiz não vai liberar enquanto não for mostrado que ele pode ser

recuperado através de um trabalho interdisciplinar, que é fundamental. O SINASE —

Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo coloca isso, mas infelizmente

essa situação não acontece.

Page 304:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

304

Concluindo, afirmo ser um erro reduzir a maioridade penal no Brasil. Não

temos estrutura psicológica para suportar tal exagero cometido pelos conceitos

distorcidos da violência. A delinquência juvenil é, portanto, um indicador de que o

Estado, a sociedade e a família não têm cumprido adequadamente seu dever de

assegurar com absoluta prioridade os direitos da criança e do adolescente.

Do ponto de vista da Psicologia, enquanto ciência, a tese do ser humano em

desenvolvimento observa a correlação entre as práticas parentais e a manifestação

do comportamento antissocial. Constata-se, entre os adolescentes em conflito com a

lei, a ausência de práticas parentais positivas, aquelas em que o afeto e o

acompanhamento dos pais estão presentes, sobretudo nas famílias em risco social.

Esse fato afasta a informação simplista da existência de sujeitos biologicamente

predispostos a cometer delitos.

Sr. Presidente, solicito que seja dada a devida publicidade a este

pronunciamento nos meios de comunicação desta Casa, inclusive no programa A

Voz do Brasil.

Page 305:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

305

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Com a palavra o Deputado Paes Landim,

próximo orador do Grande Expediente.

O SR. PAES LANDIM (Bloco/PTB-PI. Sem revisão do orador.) -

DISCURSO DO SR. DEPUTADO PAES LANDIM QUE, ENTREGUE AO ORADOR

PARA REVISÃO, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.

(Discurso a ser publicado na Sessão nº 206, de 16/07/15.)

Page 306:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

306

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Vai-se passar ao horário de

VI - COMUNICAÇÕES PARLAMENTARES

Tem a palavra o primeiro orador inscrito, Deputado Luiz Couto, pelo PT.

Page 307:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

307

O SR. LUIZ COUTO (PT-PB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs.

Deputados, Sras. Deputadas, o ex-Governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro,

também ex-Ministro da Justiça, escreveu artigo publicado no portal Carta Maior cujo

título é Os Cidadãos Servos e o Congresso do PT.

Passo a ler o referido artigo:

“Os cidadãos servos e o Congresso do PT — se o

fascismo financeiro não for brecado, fará desaparecer as

liberdades políticas democráticas e todo o sistema de

direitos individuais e coletivos

Depois de um formidável massacre a que foi

submetido nos últimos anos, tanto por motivos justos como

injustos, tanto pela direita conservadora como pelo neo-

udenismo renovado, massacre este que transitou de

maneira sistêmica pela grande mídia, toda ela, como se

sabe, boa pagadora de impostos e isenta de qualquer

mácula moral ou interesses subalternos — depois de ser

tratado, por mais de dez anos, como inventor da corrupção

no Brasil —, o Congresso do Partido dos Trabalhadores em

Salvador, se é verdade que não resolveu nenhuma das

questões de fundo que o PT ainda precisa encarar, também

demonstrou que o partido tem uma capacidade de

resistência extraordinária, uma militância séria e dedicada e

quadros dirigentes, em todas as correntes de opinião,

dispostos a reinventar a utopia e a não se entregar para as

Page 308:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

308

fatalidades burocráticas e para a espontaneidade do

cansaço.

A minha análise parte de alguns pressupostos que

certamente não são majoritários no PT, e isso ficou refletido

na aprovação das teses da maioria e na rejeição das

principais emendas do bloco minoritário, interno ao Partido,

composto pela Mensagem e outros grupos internos do PT.

Primeiro, entendo que o partido deveria recuperar a

sua posição clara de sujeito político dirigente e proponente,

e não apenas manter-se como ‘partido-suporte’ do Governo,

mero ‘ordenador’ de custos políticos, sem deixar de dar

sustentação para que o Governo governe com estabilidade.

Segundo, entendo que o partido deveria lançar-se

numa política de reconstrução, que não é apenas de

‘retomar’ relações com os ‘movimentos sociais’, mas é

estabelecer relações com a nova inteligência política do

país, restabelecer relações com a academia, com os

centros de produção cultural- científica e artística, com os

novos setores do mundo do trabalho, emergentes das

revoluções tecnológicas em curso, o que só poderia ser feito

com o arejamento do grupo dirigente atual, formando um

novo grupo de direção, que incorporasse novos quadros,

sem deixar de aproveitar a experiência e a qualidade dos

Page 309:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

309

quadros dirigentes atuais, bem como com um novo sistema

de eleição das suas direções.

Terceiro, o Congresso deveria tratar da ‘nova

questão do Estado’, que ainda não foi abordada de

maneira convincente e profunda pelas gerações atuais da

esquerda mundial e que, aqui no Brasil, estando ainda o

PT no governo, é um tema que poderia avançar de

maneira significativa, com os nossos acertos e erros, ao

longo desta década, que resultaram em extraordinários

avanços na inclusão social e na redução da miséria, que

hoje estão sendo colocados em xeque.

Esta terceira questão é a mais importante de todas.

Ela remete para as duas anteriores e também porque

traduz uma questão concreta, na política imediata, que

tem uma enorme consequência estratégica. Ela parte de

um pressuposto, que, se estiver correto, inverte a lógica

da ação política da esquerda, para fortalecer o Estado e

para responder à crise da democracia e a quase

inocuidade dos processos eleitorais. Seu resumo é o

seguinte: o Estado, em geral, e particularmente os

Estados sufocados pela dívida pública, foram capturados

pelo capital financeiro — ordenado pelas agências

privadas de risco e agências estatais dos países ricos,

dos quais os bancos são intermediários — captura, esta,

Page 310:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

310

que determina que estes Estados só se tornem

‘determinantes da vida social’, para responder às

necessidades do capital financeiro. Tornam-se os

Estados, assim, cada vez mais ineptos e insensíveis,

politicamente, para responder até mesmo aos chamados

direitos naturais do Século XVIII, sem falar nas respostas

econômicas e sociais decorrentes das lutas por mais

igualdade.

As políticas que estes Estados precisam realizar,

independentemente de quem está no Governo, passam a

ser destinadas fundamentalmente a responder aos

pagamentos da dívida pública, parte dela legítima e

responsavelmente assumida pelos governos precedentes

e grande parte dela decorrente do jogo especulativo do

mercado financeiros mundial, que financia as políticas dos

ricos nos países ricos, os investimentos bélicos de caráter

colonial-imperial, sem falar na vida luxuosa de uma

pequena elite, interna e externa ao país, ligada aos

grandes negócios globais.

Os Estados, submetidos à chantagem permanente

da dívida — vejam a Grécia — não só têm dificuldades de

desenvolver políticas alternativas para o seu projeto

nacional de caráter democrático e social, como também

transformam a sua cidadania em uma cidadania ‘sem

Page 311:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

311

direitos’, uma cidadania mais próxima da condição de

servos, reforçando o ‘estatismo’ só naquilo que lhe torna

apto para a aplicação de políticas financeiras

determinadas de ‘fora para dentro’. Assim, ao mesmo

tempo em que se enfraquece o papel regulatório e social

do Estado, se fortalece — como sua força principal para

subordinar a política e os governos — seus Bancos

Centrais, que se tornam mais fortes que os parlamentos e

os partidos.

A força normativa do Estado e suas principais

decisões que moldam a vida política vêm das

determinações que ele, Estado, ordena na vida social,

através dos Bancos Centrais. E isso não se faz sem

autoritarismo e sem corrupção, que se espalha como uma

gigantesca metástase no Estado e na sociedade civil: as

reformas neoliberais, que agridem os direitos da cidadania

não se fazem sem alianças fisiológicas e sem uma boa

dose de corrupção na estrutura estatal, porque a

‘dinheirização’ passa a ser o elemento central da política,

em substituição a programas de governo capazes de

atrair e mobilizar os cidadãos.

Independentemente da honestidade da maioria dos

políticos de todos os partidos, dos Presidentes, dos

Ministros de Estado, dos servidores públicos, a política

Page 312:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

312

que se fortalece, vinga e que tem o apoio dos setores

mais privilegiados no país e da ampla maioria da mídia

tradicional é esta: a política que substitui as decisões

políticas de Estado, para imprimir um projeto econômico e

social, é transformada em decisões de gestão financeira

da dívida, como política de Estado mais ‘universal’ e

fatalmente obrigatória.

Ao recusar a fazer um exame profundo do ‘ajuste’ e

das suas consequências para o conjunto da sociedade, o

Congresso deixou a militância e a nossa base social

desarmada, para enfrentar um debate sobre o futuro.

Sequer se tratava de exigir da Presidenta uma mudança

de rumo agora, porque as escolhas que foram feitas pelo

Governo, supostamente ‘para sair da crise’, neste

momento são irrevogáveis. Não só porque quaisquer

outras exigiriam um grau de mobilização social e uma

unidade política, baseada em determinados princípios

(que parte do nosso Partido e os nossos aliados atuais

não estão em condições de absorver), mas também

porque não teriam maioria parlamentar para serem

aplicadas. Mas do profundo exame crítico do ‘ajuste’ e da

crítica à forma despolitizada e tecnicista com que ele foi

proposto e está sendo aplicado é que o PT recuperaria a

credibilidade para dizer a natureza da política econômica

Page 313:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

313

do futuro, para um novo ciclo de governos progressistas

no Brasil.

A absorção, pela maioria, da necessidade de uma

Frente orgânica, à esquerda, para o futuro, e o

reconhecimento, ainda que formal, da necessidade de

uma nova política econômica desenvolvimentista e social,

dentro do atual Governo, foram sinalizações positivas do

Congresso. Mas seu elemento político mais importante,

do ponto de vista da minoria que eu integro, foi o

manifesto unitário da maioria dos parlamentares do PT,

senadores e deputados (que gerou ao final a ‘Carta do

Rio Vermelho’ da minoria), que exigia que mudanças mais

profundas fossem pautadas pelo Congresso. Na verdade,

não se trata, como quer a grande mídia, de sermos ‘mais’

ou ‘menos’ radicais. Trata-se de sermos apenas mais

consequentes com a nossa história, não só não aceitando

que não existem outras alternativas, mas propondo-as de

forma clara, mesmo ‘contra a corrente’ formada por uma

opinião pública manipulada pela grande mídia.

Togliatti, em 1935, num texto (‘A propósito do

fascismo’) em que criticava o tipo de aparato estatal

proposto pelo fascismo, ‘no qual o cidadão não tem

direitos (...) diante do Estado, porque a origem de cada

direito está no próprio Estado’, também, de forma

Page 314:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

314

profética, adiantava uma crítica do Estado

‘bancocentralizado’ dos tempos atuais. É o Estado

necessário ao capital financeiro, para controlar a

sociedade: o Estado dos ‘cidadãos-servos’, que não têm

direito nem de discutir nem de propor ‘ajustes’, para

saírem de uma crise porque, afinal, ‘não têm alternativas’.

Este fascismo financeiro, que toma conta do mundo

e agora se prepara para esmagar a Grécia, se não for

brecado em países mais fortes, como é o nosso, fara

desaparecer não só as liberdades políticas democráticas,

porque tornará irrelevantes os partidos e os governos,

mas também fará desaparecer, como disse Togliatti, ‘todo

o sistema de direitos individuais e coletivos’. A questão

democrática em curso, hoje, integra de maneira

incontornável a crise da democracia com a crise

financeira do Estado. Isso o nosso Congresso não

respondeu, e é nosso dever compartilhar com os demais

setores da esquerda e com o centro progressista e

democrático a busca de saídas fora das alternativas da

ortodoxia.”

Esse é o texto que foi publicado no portal Carta Maior. O texto é de Tarso

Genro, Sr. Presidente, e eu concordo plenamente com o seu teor. Por isso gostaria

que fosse dada a devida publicidade a ele nos meios de comunicação desta Casa e

também no programa A Voz do Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Acato o pedido de V.Exa.

Page 315:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

315

O SR. PRESIDENTE (Izalci) - Tem a palavra o Deputado Ademir Camilo, pelo

prazo de 1 minuto.

O SR. ADEMIR CAMILO (PROS-MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) -

Sr. Presidente Izalci, eu queria comunicar a todos, ao povo brasileiro, que, na

condição de Vice-Presidente Nacional da UGT — União Geral dos Trabalhadores,

representando nosso Presidente Ricardo Patah, acabo de participar de reunião,

coordenada pelo Ministro Miguel Rossetto, a que estiveram presentes os Ministros

Eduardo Gabas, Ricardo Berzoini e Nelson Barbosa e cinco centrais sindicais.

Nós saímos com a impressão de que o Governo vai vetar a fórmula 85/95.

Mostraram-se alguns números, algumas preocupações, principalmente com relação

à demografia. Mas pela própria lâmina que o Governo nos coloca, só em 2027

teríamos impacto negativo na Previdência.

Sr. Presidente, nós que tivemos a responsabilidade de fazer a inclusão dessa

nova regra 85/95, precisamos conversar com o Governo. É importante que cada

Deputado, cada Senador converse com os órgãos do Governo a partir de hoje,

principalmente amanhã e na quarta-feira, quando vence o prazo para a aposição do

veto. É importante conversar para demonstrar o momento de afirmação e de sintonia

com o Congresso e com o povo brasileiro e dar um alento aos trabalhadores que

estão prestes a se aposentar e àqueles que já passaram do tempo de aposentar, e

ainda não se aposentaram.

Esse fator, inclusive da lavra do Deputado, hoje Ministro, Pepe Vargas, vai

fazer com que a gente tenha alguns dias melhores.

Sr. Presidente, para encerrar, eu conclamo todos os Deputados que votaram

pela inclusão dessa nova regra do fator previdenciário, a fórmula 85/95, para nestes

Page 316:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

316

próximos 2 dias falar ao microfone e demonstrar ao povo brasileiro que esse é o

segundo tema mais importante, mais demandado a esta Casa — se todos virem as

demandas da sociedade. Nós temos a possibilidade de, se a Presidenta vetar,

derrubar o veto, para manter a coerência, a justiça e dar aos aposentados um salário

digno por tudo que fizeram, por tudo que produziram.

Muito obrigado.

O Sr. Izalci, nos termos do § 2º do art. 18 do

Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é

ocupada pelo Sr. Luiz Couto, nos termos do § 2º do art.

18 do Regimento Interno.

Page 317:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

317

O SR. PRESIDENTE (Luiz Couto) - Concedo a palavra ao Deputado Izalci,

para uma comunicação parlamentar associada à Comunicação de Liderança pela

Minoria, por 19 minutos.

O SR. IZALCI (PSDB-DF e como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, o tema que vou levantar agora é muito

importante e merece, por parte desta Casa, atenção especial. Eu já vinha estudando

isso há algum tempo, mas ontem fui surpreendido com uma matéria do Fantástico

sobre o Sindicato dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro que trata

exatamente dessa matéria que vou comentar agora, na qual já venho trabalhando há

alguns meses no sentido de buscar uma solução.

Na gestão passada, como auditor que sou, fiz aqui uma auditoria do

Programa Segundo Tempo do Ministério dos Esportes — e nunca se roubou tanto

quanto neste programa, e não se roubava 10, 20%, 30%, não; era 100%! Um dos

convênios do Segundo Tempo que eu auditei aqui, e eu espero que um dia haja uma

resposta para essa auditoria que fiz, foi entre o Ministério do Esporte e a Federação

dos Sindicatos dos Trabalhadores do Comércio.

Pois só ali desviaram quase 2 milhões, 100% de desvio! A empresa que

faturou, que emitiu a nota de transporte, uma nota de quase 800 mil reais na

contabilidade da Federação, não existe; na contabilidade da empresa, não existe

nenhum registro de ônibus e nem do pagamento de serviço prestado por ônibus, e

ela emite uma nota de 800 mil reais, para sacar no banco, através do Programa

Segundo Tempo.

Ontem, nós vimos que, no Sindicato dos Empregados no Comercio do Rio de

Janeiro, a diretoria, que é formada por 4 ou 5 diretores que ganham na faixa de 50,

Page 318:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

318

60 mil reais cada um, e uns 15 funcionários, que faturavam entre 15 mil reais e 20

mil reais por mês, quase todos eram parentes do Presidente, tinham o mesmo

sobrenome. Inclusive, chegamos a ver um clube, conhecido pela comunidade como

um clube privado, da família que domina o Sindicato. Pois aqui em Brasília não é

diferente! A Federação dos Trabalhadores do Comércio precisa ser auditada.

Mas o assunto que eu trago é este: nós não podemos admitir a transferência

de dinheiro público para essas entidades que viraram sindicato pelego, chapa

branca.

Foi aprovado nesta Casa, e vetado pelo Presidente Lula, o artigo de uma lei

que possibilitava fiscalizar as centrais sindicais. Não se pode fiscalizar nenhuma

prestação de contas, porque esse artigo foi vetado!

Temos é que proibir o repasse de dinheiro público para essas entidades

chapa branca e que desviam recurso público. A proposta que apresentei é que não

se possa transferir recurso público para qualquer entidade onde não haja

democracia, onde não haja eleição, ou onde se admitam várias reeleições.

Nós aprovamos aqui uma lei que determinava que, para receber repasse de

recurso público, as ONGs tinham que comprovar, através das suas atas e estatutos,

a possibilidade de apenas uma reeleição — parece que isso foi vetado; eu não sabia

que tinha sido vetado.

Uma das exigências da medida provisória que trata do parcelamento das

dívidas dos clubes de futebol é esta: todo clube tem que permitir no máximo uma

reeleição. Isso é para não acontecer o que acontece hoje neste País: diretores

permanecem 20, 30 anos a frente de federações, confederações, sindicatos e

clubes. Isso tem que acabar.

Page 319:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

319

O que se vê agora é uma banalização da greve, e só é prejudicado o

paciente, o estudante ou aquele que usa o transporte público. Só há preocupação

com a atividade-meio; a atividade-fim, o consumidor, aquele que paga o imposto,

não é levado em consideração.

Esse negócio de reposição de aula é conversa fiada. Não existe isso. Não

recuperam nunca! Da mesma forma acontece com os hospitais: depois que morreu

um monte de gente, não adianta mais.

A minha proposta é que façamos uma modificação na legislação, proibindo

aqueles que querem receber contribuição sindical, o chamado imposto sindical...

Porque não é contribuição. O nome está dizendo: a contribuição tem que ser

espontânea. Não existe contribuição obrigatória.

No Brasil, é assim: há os impostos — o nome está dizendo: é imposto, não há

opção. Aí, o Governo, para fugir da distribuição para Estados e Municípios, engrossa

as contribuições sociais, as contribuições previdenciárias; chama de “contribuição”

aquilo que é obrigatório, que é compulsório.

Então, nós temos que rever essa questão dos sindicatos, das centrais

sindicais, das federações e confederações, seja de trabalhador, seja de empresário.

Nós temos presidentes de federações, de sindicatos, de confederações há 40, 50

anos no poder. Isso é um absurdo! Nós temos que acabar com isso, a não ser que a

federação, o sindicato, a confederação ou a central sobreviva de contribuições

espontâneas dos seus associados. Mas nós não podemos continuar admitindo essa

prática de pegar dinheiro público e não querer ser fiscalizado; esse peleguismo

chapa-branca, como estão fazendo agora inclusive a UNE e outras entidades. É

Page 320:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

320

tudo chapa-branca, porque o Governo patrocina, cobra, paga pelo silêncio ou pela

mobilização através de causas de interesse do Governo.

Portanto, nós precisamos rever toda essa legislação. Não podemos, não há

mais a mínima condição de governança com essa forma de se exercer a greve:

primeiro se faz a greve para depois discutir. É o contrário, pelo que me lembro: tem-

se que esgotar todas as negociações e, em último caso, vem a greve. Agora, não:

primeiro entram em greve para depois discutir as demandas. E aí o paciente, o

aluno, o usuário do sistema é que são, de fato, prejudicados. Então, eu quero propor

a esta Casa que se faça uma discussão nesse sentido.

Temos que ver inclusive que a Justiça virou chacota. Ela multa em função do

não cumprimento da lei de greve. Aí, no acordo coletivo, a primeira exigência é o

perdão das multas. Com isso, a Justiça fica totalmente desmoralizada!

Nós temos que rever não só a questão dos trabalhadores, mas dos

empresários também. O sistema S, a confederação, as federações hoje estão

perdendo credibilidade. As empresas sérias não participam mais das direções,

porque de fato se instalou um peleguismo total as confederações, federações e

sindicatos.

Então, a nossa proposta é, primeiro, estabelecer na lei que, para receber

qualquer recurso, seja contribuição sindical, seja taxa de contribuição de acordos

coletivos ou convenções coletivas, é necessário a prestação de contas.

Inclusive os trabalhadores não filiados, não associados também são

obrigados a contribuir. E, se eles são obrigados a contribuir, é preciso haver

prestação de contas.

Page 321:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

321

O trabalhador tem que ter a opção de descontar ou não, mas isso não

significa dificultar a vida dele. Se ele quiser, ele é que deveria ir lá e contribuir. Hoje,

não é assim. Primeiro, se é obrigado a contribuir, esse valor é descontado em folha,

e, depois, se for o caso, é preciso ir ao sindicato para que eles devolvam aquilo que

foi descontado.

O que eu quero dizer, e vamos propor isso agora, nessa discussão, é

exatamente proibir qualquer repasse para instituições que não estejam enquadradas

no regime democrático do rodízio, aquelas onde há uma perpetuação no poder,

como nós temos visto na maioria dessas centrais sindicais e também nas

confederações e federações de trabalhadores e de empresários. Não podemos

deixar que se transfira recursos do FAT.

A própria contribuição sindical, que corresponde a 1 dia de trabalho por ano,

ou acaba definitivamente, que era o ideal, porque viraram máquinas... Inclusive, o

ex-Ministro do Trabalho e ex-Presidente do Tribunal Superior do Trabalho Almir

Pazzianotto, que advogou para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do

Campo e Diadema na gestão do ex-Presidente Lula, disse que é favorável, sim, a

que se acabe com a contribuição sindical, esse imposto que é cobrado de todos os

trabalhadores.

Da mesma forma, no caso das contribuições das empresas, elas precisam

participar das decisões. Tem que haver fiscalização, tem que haver auditoria, tem

que haver rodízio no poder. Hoje, não existe nenhuma mudança nos quadros das

confederações, até porque quem as dirige quer se perpetuar no poder, o que

dificulta a competição das empresas ou dos próprios funcionários.

Page 322:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

322

Nós temos que rever, inclusive, essa disponibilização de servidores —

servidores públicos, inclusive — para os sindicatos. Temos que ter bom senso e

disponibilizar apenas, no caso aqui, com essas exigências.

Não dá para admitir mais esses sindicatos pelegos que, normalmente, não

defendem, de fato, a sua categoria e só pensam numa coisa: arrecadar, arrecadar,

arrecadar e desviar recursos públicos.

Essa matéria de ontem comprova que há muitos sindicatos pelegos, que

estão desviando dinheiro público em benefício dos seus diretores, dos seus

familiares.

Nós temos hoje no Brasil um excesso de sindicatos. O próprio ex-Ministro

Pazzianoto disse que só na cidade dele, com 50 mil habitantes, há mais de

sindicatos que em toda a Alemanha — e olhem que, no Brasil, nós trabalhamos com

a unicidade sindical, ao contrário da Alemanha, que trabalha com o pluralismo

sindical e, portanto, deveria ter muito mais sindicatos.

Portanto, essa é uma discussão que precisa se feita imediatamente para o

bem do País, para que haja realmente a continuidade e a melhoria do serviço

público, principalmente nas áreas da educação, da saúde e da segurança pública.

Basicamente são essas as áreas cuja qualidade o Governo precisa urgentemente

restabelecer, mas, para isso, é preciso haver uma melhoria na legislação brasileira,

principalmente na Lei de Greve. Vamos regulamentar, se for o caso, a greve do

servidor público, prevista na Constituição. Nós temos que estabelecer regras claras

para que o usuário não seja prejudicado, para que o aluno não seja prejudicado,

para que o paciente nos hospitais não seja prejudicado.

Page 323:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

323

Sr. Presidente, peço a V.Exa. que divulgue este pronunciamento nos meios

de comunicação da Casa e, especialmente, no programa A Voz do Brasil.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (JHC) - O pedido de V.Exa. será acatado por esta

Presidência.

Durante o discurso do Sr. Izalci, o Sr. Luiz Couto,

nos termos do § 2º do art. 18 do Regimento Interno, deixa

a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. JHC,

nos termos do § 2º do art. 18 do Regimento Interno.

Page 324:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

324

O SR. PRESIDENTE (JHC) - Como vou me dirigir à tribuna, convido o

Deputado Mauro Pereira a assumir a Presidência dos trabalhos para dar seguimento

a esta sessão de debates.

O Sr. JHC, nos termos do § 2º do art. 18 do

Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é

ocupada pelo Sr. Mauro Pereira, nos termos do § 2º do

art. 18 do Regimento Interno.

Page 325:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

325

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Continuando o período das

Comunicações Parlamentares, concedo a palavra ao nobre Deputado JHC, pelo

Solidariedade, que fará também uma Comunicação de Liderança.

O SR. JHC (SD-AL e como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,

ocupo a tribuna para fazer um convite especial a todos os Congressistas: o

lançamento da Frente Parlamentar pelo Fortalecimento dos Fundos de Pensão,

Regime Próprio de Previdência Social e Previdência Aberta, na quarta-feira, às 18

horas.

Por que minha preocupação? Nós estamos vivenciando, nessas últimas

semanas e meses, uma discussão profunda sobre os fundos de pensão no País,

mas eu queria aqui destacar, de forma toda especial, sua importância. É

interessante que nós façamos uma fiscalização rigorosa e que os mecanismos de

fiscalização e controle sejam cada vez mais aperfeiçoados, para que, junto com esta

Casa, dar resposta à sociedade.

Há muito chamam os que são donos daqueles recursos de patrocinadores ou

assistidos. Na verdade, são eles, quase 3 milhões de trabalhadores, especialmente

das estatais, que depositam todos os meses sua poupança, sua garantia para ter,

pelo menos é a natureza do fundo, aposentadoria que possa lhe dar o conforto

necessário após tantos anos de contribuição. E isso está temerário neste exato

momento, porque estamos vivenciando um rombo, um déficit no cálculo atuarial dos

fundos de pensão.

Além dos fundos de pensão, existe o Regime Próprio de Previdência Social —

RPPS nos Municípios e Estados brasileiros, uma forma de alternativa ao Regime

Geral da Previdência. Além do mais, existe também o Regime de Previdência

Page 326:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

326

Complementar aberto, uma alternativa de rendimento futuro para aqueles que

depositam ali sua poupança todos os meses possam viver com dignidade ao final da

sua carreira ou resgatar esse valor para fazer outro tipo de investimento.

Na edição de hoje da Folha de S.Paulo, há manchete muito interessante:

“Plano de previdência permite bancar curso universitário sem pagar IR”. A matéria

diz que a previdência privada é a opção por benefício fiscal para pais fazerem

poupança e custearem a universidade do filho, ou seja, uma alternativa:

“Um pai assalariado pode fazer uma poupança

usando os benefícios fiscais da previdência privada a fim

de custear a universidade do filho sem pagar imposto de

renda tanto no momento das contribuições quanto nos

resgastes.”

Eu quero novamente deixar aqui bem claro que o fundo de pensão, o RPPS e

o regime complementar aberto são malas propulsoras do desenvolvimento social e

econômico. A partir desse pressuposto, como em outros países, trago alguns dados

bastante interessantes.

O sistema de previdência próprio complementar representa algo em torno de

20% do PIB nacional. Um cidadão e uma cidadã que contribuem durante toda a sua

vida, quando se aposentam, não esperam mais do que o seu merecido conforto.

Para se ter ideia, a população brasileira triplicou nos últimos 50 anos,

passando de 70 milhões, em 1960, para 190 milhões, em 2010. O crescimento do

número de idosos, no entanto, foi ainda maior: em 1960, 3,3 milhões de brasileiros

tinham 60 anos ou mais e representavam 4,7% da população; em 2000, 14,5

milhões, ou seja, 8,5% dos brasileiros estavam nessa faixa etária. Na última década,

Page 327:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

327

o salto foi grande e, em 2010, a representação passou para 18,8% da população,

20,5 milhões. Este é o momento de debater o futuro.

As maiores economias do mundo possuem como força motriz justamente o

segmento de fundos de pensão. Estudo divulgado pela consultoria Watson Wyatt,

assessoria previdenciária respeitada internacionalmente, mostrou que, ao final de

2006, os 300 maiores fundos de pensão do mundo ultrapassaram o patamar de 10

trilhões de dólares em patrimônio líquido. A maior concentração está nos Estados

Unidos, 43%, seguidos de Japão, 15%, Reino Unido, 7%, Holanda, 6%, e Canadá,

5%. Nos Estados Unidos, os maiores fundos de pensão de empregados somados

aos 35 grandes fundos de pensão setoriais já possuem o controle de praticamente

todas as mil maiores empresas industriais.

O Brasil possui o maior sistema de previdência complementar da América

Latina e um dos dez maiores do mundo em termos absolutos. O setor consolidou-se

no País como grande investidor. As 371 entidades fechadas são responsáveis por

165 bilhões de dólares em investimentos, o que coloca o País no oitavo lugar no

ranking mundial dos que têm maior volume de recursos administrados pelos fundos

de pensão, que investem nos principais setores da economia: energia elétrica,

siderúrgica, telecomunicações, petroquímica, indústria de alimentos, produção de

aviões e mineração. São 131 bilhões de reais investidos diretamente no capital

social das empresas, contribuição inestimável ao desenvolvimento econômico

nacional.

Portanto, eu gostaria de convidar para a solenidade de lançamento da Frente

Parlamentar pelo Fortalecimento dos Fundos de Pensão, Regime Próprio de

Page 328:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

328

Previdência Social e Previdência Aberta a realizar-se na quarta-feira, dia 17 de

junho, às 18 horas, no Salão Nobre da Casa.

Eu, como jovem, tenho que discutir o fortalecimento de tudo que venha a

produzir efeitos duradouros. Nós tínhamos que ter uma discussão perene e não

pontual. Como é que assunto tão importante, que significa desenvolvimento social e

econômico no País, corre à margem das discussões na Câmara dos Deputados?

Nós não podemos deixar só aos órgãos de fiscalização e controle, só a cargo de

outros órgãos do Executivo todas essas entidades. Precisamos ter avanços.

Nesta Casa de Leis, vamos ter que propor a modernização da legislação,

maior rigor na fiscalização. Fala-se em CPI, nós temos que continuar o combate à

corrupção, mas, paralelo a isso, temos que ter um modelo muito eficaz, para trazer

para cá alternativas e soluções para implementar, em relação ao conceito básico de

poupança e fomento para todas essas áreas.

Então, convido todos os Parlamentares para estarem presentes nesta quarta-

feira, às 18 horas, ao Salão Nobre e participar do lançamento da Frente

Parlamentar. Conto com o apoio de todos os nobres colegas.

Gostaria, Sr. Presidente, que meu pronunciamento fosse registrado nos meios

de comunicação desta Casa e no programa A Voz do Brasil.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Muito obrigado, Deputado JHC, do

Solidariedade de Alagoas, um jovem dinâmico que vem fazendo a diferença.

Page 329:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

329

PRONUNCIAMENTO ENCAMINHADO PELO ORADOR

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, todos que nos acompanham pela

Rádio Câmara e TV Câmara, venho hoje a esta tribuna reforçar o convite feito ao

longo dessas últimas semanas para a solenidade de lançamento da Frente

Parlamentar pelo Fortalecimento dos Fundos de Pensão, Regime Próprio de

Previdência Social e Previdência Aberta, ou seja, uma frente que possui o objetivo

de fortalecer o sistema próprio e complementar previdenciário.

No Brasil, temos o Regime Geral, representado pelo INSS, mas temos

também o chamado sistema complementar, representado pelos fundos de pensão e

previdência aberta, e ainda os regimes próprios, que são os entes previdenciários

municipais e estaduais.

Em nosso País, o sistema de previdência própria e complementar representa

algo em torno de 20% do PIB nacional. É um segmento que possui grande robustez

econômica. Porém, uma faceta sua é muitas vezes colocada em segundo plano,

diante da imponência econômica. Estou falando do aspecto social desse sistema.

Não podemos nos esquecer de que na ponta de todos esses segmentos

existe um cidadão e uma cidadã que contribuíram durante toda a sua vida e que,

quando da aposentadoria, não esperam muito além do merecido conforto. Esse

conforto, porém, muitas vezes é substituído por incerteza e frustração, o que cria um

paradoxo: não invisto em minha previdência porque não confio, não confio porque

não invisto. Essa situação deve ser substituída por um círculo virtuoso em que as

pessoas tenham a confiança de que, investindo em sua aposentadoria, terão,

quando necessário, a cobertura pela qual pagaram.

Page 330:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

330

Para se ter ideia, a população brasileira triplicou nos últimos 50 anos,

passando de 70 milhões, em 1960, para 190 milhões, em 2010. O crescimento do

número de idosos, no entanto, foi ainda maior: em 1960, 3,3 milhões de brasileiros

tinham 60 anos ou mais e representavam 4,7% da população; em 2000, 14,5

milhões, ou 8,5% dos brasileiros, estavam nessa faixa etária. Na última década, o

salto foi grande e, em 2010, a representação passou para 10,8% da população, 20,5

milhões. Ou seja, este é o momento de debater o futuro, e o futuro passa pelo

sistema previdenciário.

As maiores economias do mundo possuem como força motriz justamente o

segmento de fundos de pensão. Estudo divulgado pela Consultoria Watson Wyatt,

assessoria previdenciária respeitada internacionalmente, mostrou que, ao final de

2006, os 300 maiores fundos de pensão do mundo ultrapassaram o patamar de US$

10 trilhões em patrimônio líquido. A maior concentração está nos EUA, 43%,

seguidos de Japão, 15%, Reino Unido, 7%, Holanda, 6% e Canadá, 5%. O Brasil

tem três representantes nessa lista. Nos Estados Unidos, os maiores fundos de

pensão de empregados, somados aos 35 grandes fundos de pensão setoriais, já

possuem o controle de praticamente todas as mil maiores empresas industriais. Isso

demonstra a importância mundial da previdência complementar para a economia

dos países.

O Brasil possui o maior sistema de previdência complementar da América

Latina e um dos dez maiores do mundo em termos absolutos. O setor consolidou-se

no País como grande investidor. As 371 entidades fechadas são responsáveis por

US$ 165,94 bilhões em investimentos, o que coloca o País no oitavo lugar no

ranking mundial dos que têm maior volume de recursos administrados pelos fundos

Page 331:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

331

de pensão, que investem nos principais setores da economia: energia elétrica,

siderurgia, telecomunicações, petroquímica, indústria de alimentos, produção de

aviões e mineração. São R$ 131 bilhões investidos diretamente no capital social das

empresas, contribuição inestimável ao desenvolvimento econômico nacional. A

importância econômica desse segmento é, portanto, absolutamente inegável. O

Estado brasileiro, no entanto, não tem agido de forma adequada.

Pesquisa realizada em 2012 apontou que o quesito burocracia atingiu 29,40%

como possível causa que dificulta a criação de plano de benefícios. A mesma

pesquisa apontou que a diminuição da burocracia e dos entraves governamentais

atingiu 38,1% como ponto relevante para o crescimento da previdência

complementar, ficando na frente de aspectos importantes como qualidade da gestão

do plano, 14,3%, e flexibilidade dos produtos e planos oferecidos, 33,3%.

Como se vê, mais uma vez, o peso do Estado se faz sentir economicamente.

Nessa seara, o estabelecimento de regras objetivas, claras, constantes e o

distanciamento de debates políticos são medidas absolutamente necessárias e

urgentes para que haja um fortalecimento do setor.

Assim, reforço o convite para que V.Exas., além daqueles que têm interesse

pelo assunto, compareçam na próxima quarta-feira, dia 17 de junho, às 18 horas, no

Salão Nobre da Casa, à solenidade de lançamento da Frente Parlamentar Pelo

Fortalecimento dos Fundos de Pensão, Regime Próprio de Previdência Social e

Previdência Aberta.

Essa é uma luta de todos, inclusive das próximas gerações.

Muito obrigado.

Page 332:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

332

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Concedo a palavra ao Deputado

Juscelino Filho, para uma Comunicação de Liderança, pelo PRP.

O SR. JUSCELINO FILHO (Bloco/PRP-MA. Como Líder. Sem revisão do

orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta Casa hoje para falar

de um tema que talvez tenha sido pouco debatido nos últimos meses aqui, mas que

eu considero de suma importância para a saúde pública do nosso País.

A Organização Mundial da Saúde divulgou estudos recentes cujos resultados

são chocantes, mas exibem uma das faces mais cruéis da realidade de uma parcela

expressiva da população de muitos países, principalmente do continente africano e

da América Latina. Só em 2010, foram quase 600 milhões de pessoas afetadas por

mais de 200 tipos de enfermidades contraídas pela ingestão de águas e comidas

contaminadas, as quais matam hoje mais 2 milhões de pessoas ao ano em todo o

mundo.

Essa é uma situação muito grave, e devemos abrir os olhos. Se no continente

africano estão os indicadores mais alarmantes, no Brasil os números são, no

mínimo, desconfortáveis.

Por lado, o Instituto Nacional de Câncer alerta para o uso excessivo de

agrotóxicos no Brasil, uma taxa de mais de 5 quilos de veneno agrícola por

habitante, quantidade que foi duplicada nos últimos 8 anos, segundo dados recentes

do IBGE, o que demonstra uma forte tendência ao crescimento. Com isso crescem

assustadoramente os riscos para a saúde dos consumidores.

De fato, vários diagnósticos cancerígenos podem estar associados à

inadequação dos alimentos, tanto in natura quanto os produtos processados

artesanalmente ou industrializados em larga escala. Esse raciocínio também é

Page 333:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

333

respaldado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária — ANVISA, que revela

nível insatisfatório de agrotóxico em 36% dos alimentos brasileiros.

Entretanto, o maior drama é a inexistência, a insuficiência ou a má qualidade

das redes de abastecimento de água e de saneamento básico do nosso País porque

atinge, sobretudo, crianças, muitas das quais são impedidas definitivamente de

terem qualquer chance de futuro já nos primeiros anos de vida. Isso não é uma

perversidade do destino; mortes prematuras são resultados principalmente da

prioridade desfocada nas ações do Governo.

Por isso, Sr. Presidente, no Maranhão, meu Estado, apesar de avanços

pontuais, ainda convivemos com um vergonhoso índice de mortalidade infantil, um

dos mais altos do Brasil, infelizmente.

Lá, igual ao País inteiro, dentre as causas de baixa expectativa de vida,

certamente estão a insegurança alimentar e o baixo consumo proteico, o que causa

subnutrição não só em crianças, mas em jovens e, às vezes, até em comunidades

inteiras. As doenças entéricas, diarreicas, de veiculação hídrica estão entre as que

adoecem todos e as que mais matam crianças hoje em dia.

Como médico, eu não me conformo com essa situação, e vou fazer do meu

mandato uma arma na guerra a favor de investimentos em políticas públicas

adequadas contra a injusta distribuição de recursos.

Dias atrás estive em Cuba, na Comissão de Saúde do Parlamento Latino-

Americano, onde sugeri que esse tema fosse por ela adotado e discutido, porque em

todo o nosso hemisfério há uma nítida relação de causa e efeito da mortalidade

infantil e da curta expectativa de vida com a qualidade da água, da comida e do

Page 334:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

334

saneamento básico. Esse é um grave problema de saúde pública que merece a

nossa atenção.

No mês passado, requeri à Comissão de Seguridade Social e Família, da qual

sou membro, a realização de uma audiência pública para aprofundarmos a

compreensão desse problema e a busca por soluções, através inclusive de

proposições legislativas.

Gostaria de solicitar, Sr. Presidente, que o meu pronunciamento seja

divulgado pelos nos meios de comunicação desta Casa.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Muito obrigado, Deputado Juscelino

Filho, do PRP do Maranhão.

Page 335:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

335

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Passo agora a palavra ao Deputado

Sóstenes Cavalcante, do PSD do Rio de Janeiro.

O SR. SÓSTENES CAVALCANTE (PSD-RJ. Pela ordem. Sem revisão do

orador.) - Sr. Presidente, nobres colegas Parlamentares, venho aqui nesta segunda-

feira para deixar o meu registro de preocupação. Ontem todos nós que pudemos

assistir ao programa Fantástico vimos uma denúncia que já era conhecida de muitos

de nós.

Esta Casa, na semana passada, de maneira muito autônoma, tomou uma

decisão importante para o País, que foi o fim da reeleição para cargos executivos.

Isso traz pluralidade à democracia, isso traz oportunidade a novos entes políticos e

personalidades que possam contribuir com o Executivo deste País em todas as suas

esferas, quer seja no Município, no Estado ou na União.

O que nós precisamos entender é que a democracia tem um detergente

capaz de diminuir a corrupção deste País, que é chamada de alternância no Poder.

Isso é salutar. Isso faz bem à democracia.

E o que nós temos visto — e a matéria ontem no Fantástico mostrou uma

grande preocupação, nossa, já de algum tempo — é que a democracia e a

alternância no poder parece que servem para os outros. Quando se trata de

sindicatos, parece que este é um conluio de família, é um ajuntamento de interesses

pessoais, e isso acontece há muitos anos neste País. Nós precisamos colocar o

dedo nessa chaga.

Eu venho a esta tribuna para dizer que nós, de maneira urgente, esta Casa

precisa dar uma resposta a esses grupos que vêm ocupando de maneira até

Page 336:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

336

nepotista, passando de pai para filho esses sindicatos. E as taxas sindicais deste

País, tanto do trabalhador como do empregador, são pagas de maneira obrigatória.

Eu pedi hoje a minha assessoria parlamentar que faça um levantamento,

porque sou Parlamentar de primeiro mandato, mas tenho certeza de que vários

colegas já têm projetos de lei tramitando para que seja revista a obrigatoriedade

dessas taxas.

É impossível nós convivermos com a obrigatoriedade de pagarmos taxas a

sindicalistas, a verdadeiros donos de sindicatos. Vemos aqui sindicatos até sendo

presididos e dirigidos por personalidades bandidas; recentemente uma eleição foi

decidida a bala no Estado de São Paulo. E eu com vergonha, como Parlamentar do

Estado do Rio de Janeiro, tenho que encarar a realidade de que com os Sindicatos

dos Comerciários, hoje, através da Justiça, coloca-se o dedo na chaga.

Mas eu venho aqui, como Parlamentar do Estado do Rio de Janeiro, para

dizer que não é só no Sindicato dos Comerciários que esta bagunça está

acontecendo. Há pagamentos de altas cifras para esposas, filhos, viagens — é uma

vergonha o que está acontecendo.

Eu venho aqui denunciar e dizer que minha assessoria está fazendo o

levantamento. Eu quero me somar a projetos que talvez já existam nesta Casa e, se

eles não existirem, saibam que este Parlamentar vai apresentar projetos de lei para

tirar a obrigatoriedade de pagamento de taxas a esses sindicatos, que envergonham

— que envergonham — a classe trabalhadora deste País. Envergonham, inclusive,

alguns sindicalistas sérios que eu sei que existem neste País. Nós precisamos punir

os maus sindicalistas, para dar oportunidade a novas gerações de pessoas que

querem contribuir para com os sindicatos.

Page 337:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

337

Eu venho a esta tribuna para deixar aqui o meu repúdio a esses sindicalistas

e dizer que medidas enérgicas nós precisamos tomar.

População e trabalhadores do Rio de Janeiro: saibam que este Parlamentar

vai lutar para que vocês não sejam mais obrigados a pagar taxa sindical para essa

turma de bandidos que vem envergonhando a classe trabalhadora deste País.

De igual forma, nós não podemos obrigar taxas patronais. Aqui não há briga

contra sindicato porque a maioria é de uma origem ideológica ou partidária. Não. É

uma briga pela democracia, pela liberdade de, como trabalhadores e empregadores,

pagar ou não pagar a taxa sindical. Isso sim é democrático. E é por isso que eu vou

lutar.

Quero agradecer ao Presidente pela oportunidade de estar me expressando e

pedir que o nosso repúdio seja registrado nos Anais da Casa e que o nosso

pronunciamento seja publicado em todos os meios de comunicação, inclusive no

programa A Voz do Brasil.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Muito obrigado, Deputado Sóstenes

Cavalcante, do PSD do Rio de Janeiro.

Page 338:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

338

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Concedo a palavra ao nobre Deputado

Paes Landim, para uma Comunicação de Liderança, pelo PTB.

O SR. PAES LANDIM (Bloco/PTB-PI e como Líder. Sem revisão do orador.) -

DISCURSO DO SR. DEPUTADO PAES LANDIM QUE, ENTREGUE À REVISÃO

DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.

(Discurso a ser publicado na Sessão nº 195, de 10/07/15.)

Page 339:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

339

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Eu convido agora para fazer uso da

palavra o meu amigo Deputado Sergio Souza, do Paraná, que falará pelo PMDB.

O SR. SERGIO SOUZA (Bloco/PMDB-PR. Como Líder. Sem revisão do

orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, uma boa tarde a todos. Não é

normal estar em Brasília em uma segunda-feira, mas estou vindo da cidade de

Goiânia, onde, como Vice-Presidente da Comissão Especial do Pacto Federativo,

tivemos um belíssimo seminário na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás.

O Presidente da Comissão, o nosso querido amigo e irmão Deputado Danilo

Forte, por um compromisso no seu Estado, não pôde estar hoje em Goiás e pediu

para que nós fôssemos lá com outros companheiros, como o Deputado Daniel

Vilela, que é do PMDB de Goiás; o Deputado Hildo Rocha, que estará chegando

daqui a pouco, do PMDB do Maranhão; o companheiro Deputado Alexandre Baldy,

que foi quem idealizou toda a reunião; o Deputado Pedro Chaves, o Deputado João

Campos, o Deputado Delegado Waldir. Além dos Deputados Federais, lá estiveram

inúmeros Prefeitos, Vereadores, Deputados Estaduais e membros da sociedade

organizada de Goiás.

Eu pedi ao Líder, o Deputado Leonardo Picciani, para usar o tempo da

Liderança, na condição de Vice-Líder do PMDB, para falar um pouco sobre a

questão do pacto federativo, para começarmos a entender um pouco o que é isso.

A sociedade brasileira está vendo, a todo momento, a discussão no

Parlamento, a reclamação dos Prefeitos, o envolvimento das Assembleias

Legislativas; nas reportagens de revista, de jornal, de televisão se aborda a questão

da reforma do pacto federativo. Mas o que é esse tal pacto federativo? Como ele

começou?

Page 340:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

340

Nós precisamos entender, Sr. Presidente, meu amigo Deputado Mauro

Pereira, que o Estado, em dado momento, se organizou. O Brasil é um país jovem,

principalmente do ponto de vista da redemocratização. Ele tem uma Constituição

recente (27 anos), que vive sofrendo mudanças — e estamos promovendo várias

delas neste exato momento no que diz respeito à reforma política. E aí vem o pacto

federativo.

Em 1988, o Constituinte deu autonomia financeira e administrativa aos

Municípios. Até então, os Municípios não tinham autonomia administrativa, por mais

que tivessem uma boa base de arrecadação. Foi-se discutir essa questão do pacto

para dizer o seguinte: que o Estado absorveu para si o direito de cobrar impostos e

devolvê-los à sociedade na forma da prestação de serviços.

O cidadão paga hoje, em impostos, em torno de 40% do PIB brasileiro, de

tudo o que se produz. Esses impostos estão distribuídos em impostos federais,

estaduais e municipais. União, Estados e Municípios são os entes federados. O

pacto federativo diz qual é a competência arrecadatória de cada um, de quem é a

obrigação de prestação de serviços à sociedade e quais tipos de serviços devem ser

devolvidos à sociedade com esses recursos.

O Constituinte, em 1988, chamou os Municípios e disse assim: “Vocês,

Municípios, serão os primos ricos da Federação. Vocês vão ser aqueles que mais

vão ter dinheiro”. Criou ali os impostos e disse de quem era cada um desses

impostos: impostos federais, impostos estaduais e impostos municipais; que os

impostos municipais serão 100% dos Municípios brasileiros — 100%!; que, dos

impostos estaduais e também dos impostos federais, alguns serão 50% do

Município e 50% do Estado; outros, 50% dos Municípios e 50% da União.

Page 341:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

341

O Município disse: “Nossa, vou ser um cara rico!” Mas quais são esses

impostos? O IPVA — Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automores, no caso

do Estado, e ITR — Imposto Territorial Rural, no caso da União. “Ótimo, 50% do

imposto de natureza estadual será meu, e também alguns de natureza federal”. E os

demais impostos? O ICMS, do Estado, 25% é do Município. No caso do IPI e do

Imposto de Renda, que são da União, criou-se o Fundo Constitucional, hoje

conhecido popularmente por FPM — Fundo de Participação dos Municípios— e o

FPE — Fundo de Participação dos Estados —, e em torno de 20% da arrecadação

desses impostos federais serão dos Municípios. Ótimo, os Municípios ficaram então

como os primos ricos da Federação.

Mas aí vem a parte da obrigação. Disseram assim aos Municípios: “Você será

o responsável pela mobilidade urbana e pelo cuidado da sua cidade por completo.

Pavimento, galerias, meio-fio, calçada, iluminação pública; saneamento básico como

um todo — abastecimento de água e esgoto. Tudo isso é de sua obrigação,

Município, e um pouco mais. Toda a saúde básica é de sua obrigação, e se o Estado

e a União não fizerem o restante da saúde, você será também o responsável.” E

disseram mais: “A educação fundamental também é de sua obrigação. No cuido da

área rural, 100% das estradas serão municipais. Teremos também rodovias

municipais interligando municípios.” Para o Estado — no meu caso, o Paraná; ou o

Rio Grande do Sul, do nosso Presidente Mauro Pereira — fica: segurança pública,

ensino médio, fica também uma parte das rodovias. Vejam que já é alguma coisa

considerável. E para a União, o que ficou? As rodovias federais — e quantas são as

rodovias federais em comparação às rodovias municipais e estaduais neste País?;

Page 342:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

342

os portos — como estão os nossos portos?; e os aeroportos, que tiveram que ser

privatizados?

Com o tempo, aquilo que era 100% se transformou em 40% no que diz

respeito à arrecadação, porque quase a totalidade dos impostos que havia neste

País lá em 1988, virou o quê? Contribuições. Hoje, 60% de tudo o que o Governo

Federal arrecada no Brasil são contribuições. E, dessas contribuições, nada, 1

centavo sequer, é partilhado com os Municípios ou com os Estados. Os Municípios,

que eram para ser o primo rico da sociedade, se tornaram o primo pobre.

Hoje, um Município de pequeno ou médio porte, em qualquer lugar deste

Brasil — pode ser no Sul deste País, nos Estados tidos como mais desenvolvidos;

em São Paulo, um dos Estados mais ricos da Federação, ou em Estados do Norte,

Nordeste, Centro-Oeste —, não faz investimento se não for por transferência

voluntária, que é outro instrumento da Constituição, criado para que um ente

federado possa fazer investimentos da competência de outro ente federado. As

emendas parlamentares, os programas de Governo, seja Federal ou Estadual,

viraram a maior forma de investimento nos Municípios.

Um Município pequeno do meu Estado, o Paraná, não consegue comprar

uma máquina, uma patrola, uma retroescavadeira, uma escavadeira hidráulica, uma

pá carregadeira, um caminhão grande, porque não tem dinheiro para isso!

Juntamente com o Deputado Hildo Rocha, hoje discutimos isso lá em Goiânia,

no seminário sobre o pacto federativo, e fizemos as contas de quanto que é o FPM

de um Município 0.6, que é a maioria dos Municípios brasileiros — o índice do FPM,

0.6 é o menor coeficiente de todos, mas é onde começa. Há uma diferenciação entre

Page 343:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

343

Estados, mas a média por mês, Sr. Presidente, é de em torno de 600 mil reais, em

torno de 7 milhões por ano.

Sete milhões por ano é a maior parte da arrecadação de um Município, isso

para pagar saúde, educação; manter as vias urbanas e rurais; saneamento,

iluminação pública, transporte escolar, transporte de pacientes, e por aí vai. Não

sobra dinheiro para se investir. Como é que ele vai gastar 500, 600 mil reais numa

patrola, numa motoniveladora? Não tem dinheiro! Isso é quase que 100% da sua

arrecadação mensal!

O que faz o Município, então? Corre para o Deputado Estadual, para ele ser o

interveniente junto ao Governo do Estado; até o Deputado Federal, para que ele

apresente uma emenda — e até outro dia, a emenda não era impositiva.

Mesmo a emenda parlamentar sendo impositiva, Deputado Mauro, olhe que

questão curiosa: eu, pessoalmente, acho que nós não deveríamos tê-la. Nós

deveríamos dar autonomia financeira para os nossos entes federados não

precisarem ficar pedindo, implorando. Quantas vezes um prefeito sai do Rio Grande

do Sul, do Rio Grande do Norte, do Paraná, da Paraíba, de tantos Estados, para vir

a Brasília pedir um recurso que, às vezes, demora 3 a 4 anos para se efetivar?

Nós somos agora Deputados de primeiro mandato, e teremos a prerrogativa,

ao final do ano, de emendar o orçamento da União — somente podemos apresentar

emenda quando houver o projeto de lei aqui no Congresso, e no ano passado não

estávamos aqui.

Nós vamos emendar. No ano de 2016, o Governo tem a prerrogativa,

impositiva agora, de empenhar, de promover o empenho dessa emenda. Ele tem até

Page 344:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

344

31 de dezembro para empenhar e, normalmente, é no final do ano que se empenha

esse recurso.

Vamos dizer que lá para a sua cidade, Deputado Mauro, Caxias do Sul.

V.Exa. deu um recurso de 500 mil reais. Pois este ano, no orçamento para o ano

que vem, isso vai ser empenhado no final do ano, em dezembro de 2016, pago em

2017, e como tem processo licitatório, é demorado, tem todo o problema da

burocracia, provavelmente V.Exa. terá oportunidade de participar da entrega da obra

em 2018 — chegamos aqui em 2015, e talvez o recurso do primeiro ano seja

executado em 2018. Olhem o tamanho do desgaste para um Prefeito, o custo, e

para nós aqui Parlamentares!

Então, Sr. Presidente, venho à tribuna para dizer o seguinte. Tivemos a

reforma política, que, para mim, deixou muito a desejar. Eu esperava muito mais,

mas não saio surpreendido, porque, enquanto estive Senador da República, lá

também tentamos fazer uma reforma política e saí igualmente decepcionado. Então,

aqui eu já estava um pouco mais preparado, mas alguma coisa ainda conseguimos

votar aqui. Depois da reforma política, neste momento, o pacto federativo é o que há

de mais importante para ser discutido no Congresso Nacional.

O pacto federativo, minha gente, vai dizer o seguinte: se vai ter saúde de

melhor qualidade, educação de melhor qualidade, obras no seu Município; se a sua

rua vai ser de melhor qualidade, se seu transporte escolar vai ser melhor ou pior. Vai

dizer também o seguinte: se seu Município vai ser independente, do ponto de vista

financeiro, ou se o seu Prefeito vai ficar a vida toda dependendo de um Deputado

Estadual ou Federal — sem menosprezar a competência desse Parlamentar, que

acaba tendo que negociar, a todo momento, com o Governo do Estado ou o

Page 345:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

345

Governo Federal para conseguir fazer aquilo que é de obrigação do Município, mas

este não tem recurso suficiente. Por conta disso, muitas vezes o Parlamentar deixa

de ter sua independência legislativa, que é muito importante para todos nós

brasileiros.

O Parlamentar tem duas prerrogativas inerentes ao mandato, ao cargo, e

ninguém tira dele: direito a voto e direito a palavra. Normalmente, a Situação usa

muito bem o voto, porque há toda uma influência do Poder Executivo sobre o

Legislativo para fazer com que sua base aliada vote e aprove os seus projetos —

que na maioria são bons, mas, talvez, nem todos sejam a salvação. A Oposição

sempre usou muito bem a palavra: sobe à tribuna, articula, diz os desmandos desse

ou daquele governo, não tem medo de falar.

Agora, Sr. Presidente, por que eu estou me referindo, neste momento, à

análise do pacto federativo? Pelo seguinte: o Parlamento vive um momento de

independência. O orçamento impositivo deu ao Parlamento brasileiro essa

independência; o fim do voto secreto deu ao Parlamento brasileiro essa

independência; a análise de vetos, o que há décadas não se fazia nesta Casa, deu

ao Parlamento brasileiro essa independência. E, com a independência que temos

hoje, podemos discutir redistribuição de receitas entre os entes federados e

podemos rediscutir redistribuição de obrigações. É disso que estamos falando.

Deputado Hildo Rocha, seja bem-vindo.

Não é justo haver uma concentração de riquezas, de receitas, de impostos

em um único ente federado. É justa a redistribuição. E nós hoje, Parlamento

brasileiro, estamos independentes e vamos votar essa proposta de emenda à

Constituição.

Page 346:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

346

Aqui, Sr. Presidente, Deputado Mauro Pereira, Deputado Hildo Rocha, que

acaba de chegar, as propostas de emenda à Constituição nascem, tramitam em

duas votações em cada uma das Casas e, ao final da sua aprovação, são

promulgadas pelas Mesas das Casas do Congresso Nacional. É assim que funciona.

E, como nós estamos independentes, nós vamos votar, vamos aprovar e vamos

fazer valer o novo pacto federativo.

Mais uma vez aqui saúdo e agradeço a todos os membros da Comissão

Especial do Pacto Federativo; ao Deputado Danilo Forte, que esteve junto comigo

na cidade de Londrina, no meu Estado, o Paraná, recentemente. Reitero que hoje

estivemos na cidade de Goiânia, juntamente com os companheiros dessa Comissão.

Muito obrigado, Sr. Presidente, e uma boa tarde a todos.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Muito obrigado, Deputado Sergio

Souza, do PMDB do Paraná.

Page 347:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

347

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Concedo a palavra ao Deputado Hildo

Rocha, do PMDB do Maranhão, pelo tempo regulamentar.

O SR. HILDO ROCHA (Bloco/PMDB-MA. Pela ordem. Sem revisão do

orador.) - Sr. Presidente, Deputado Mauro Pereira, que preside a sessão desta tarde

de segunda-feira; caros colegas Deputados e Deputadas, os que acompanham a

programação da TV Câmara e da Rádio Câmara; internautas e imprensa aqui

presente, estamos chegando da cidade de Goiânia, onde estivemos acompanhando

o seminário promovido pela Comissão Especial do Pacto Federativo na Assembleia

Legislativa do Estado de Goiás. O seminário foi presidido pelo Deputado Sergio

Souza, que administrou com bastante maestria aquele evento importante para a

municipalidade goiana e também para o Estado de Goiás. Estiveram lá presentes

vários Deputados Estaduais e, Deputados Federais da bancada de Goiás.

Aqui eu quero ressaltar a presença do Deputado Alexandre Baldy, autor do

requerimento que deu origem ao seminário, que, assim como os Deputados Hildo

Rocha e Sergio Souza, integram a Comissão Especial que está construindo este

novo pacto federativo.

A questão do pacto federativo é muito complexa, Sr. Presidente. Trata-se das

competências legislativas, das competências administrativas, das competências

executivas. No momento, a Comissão Especial trata mais das competências

administrativas e da distribuição dos recursos arrecadados pela União, Estados e

Municípios para que se possa dar melhores condições a estes últimos de oferecer

serviços públicos de qualidade. Mas nós também temos que ver a questão do art. 23

da Constituição Federal, que trata das competências comuns da União, Estados es

Municípios. Ali é tratada a questão da saúde, da cultura, da educação, do meio

Page 348:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

348

ambiente. Enfim, temos que dar a César o que é de César, ou seja, estabelecer a

quem cabe de fato a saúde pública.

Nós sabemos que a saúde pública é muito complexa. Nós temos uma saúde

de atenção básica, que cabe ao Município, e daremos os recursos necessários para

que eles possam arcar com esse serviço. Mas, e a alta complexidade? A quem cabe

a alta complexidade? Até hoje ninguém sabe se é competência do Município, do

Estado ou se é da União, e o povo fica sofrendo na porta dos hospitais quando

quebra uma perna, quando tem um acidente, quando tem um problema de coração.

Fica-se dessa forma, sem se saber quem é o responsável, quando, na verdade,

todos são.

Como o cidadão está mais próximo das autoridades municipais — o cidadão

vive é no Município —, é lá que eles buscam o atendimento à saúde, e nem sempre

o Município dispõe de recurso suficiente para atendê-lo.

Mas, Sr. Presidente, eu estive no Maranhão na quinta-feira, sexta-feira,

sábado e domingo, e pude perceber, indo para o aeroporto no domingo, que o ramo

de negócios que mais cresce no Maranhão, infelizmente — V.Exas. não vão

acreditar — é o das funerárias.

Na passagem da minha residência até o aeroporto de São Luís, o Aeroporto

do Tirirical, cruzei com cinco funerárias; cinco carros funerários se deslocando da

cidade para o interior. E por quê? Porque as pessoas deixaram de ter direito a

hospital público nas cidades onde moram.

O Governador Flávio Dino, não sei se por perversidade ou por perseguição

aos Prefeitos que não votaram nele, deixou de repassar os recursos do Fundo

Estadual para o Fundo Municipal, apenas 100 mil reais por mês para cada

Page 349:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

349

Município, que a Governadora Roseana Sarney repassava e ele já está no sexto

mês sem repassar. Isso faz com que haja uma demanda muito grande concentrada

na Capital do Estado, na cidade de São Luís.

Isso é muito ruim, é terrível! Estamos voltando ao passado. A Governadora

Roseana lançou esse programa para que todos os Municípios do Maranhão

tivessem pelo menos um atendimento básico para os seus cidadãos, e hoje estamos

vendo os hospitais fechando por inanição. E como é que se fecha por inanição? É

não dar comida, é não dar remédio, é não dar o dinheiro, é não dar o oxigênio, é não

dar o soro, é não dar o remédio, é não deixar o médico trabalhar, assim está

fazendo o Governador Flávio Dino com os hospitais municipais.

Mas, ainda mais grave, e o que também contribui muito para essa

mortalidade: eu vejo aqui no Gazeta da Ilha que, neste final de semana, houve 14

homicídios na Grande São Luís — 14 homicídios!

Na sexta-feira foi embora Geovani Ferreira Costa, de 17 anos, assassinado a

tiros no bairro do Maiobão; Leandro Santos Gaspar, de 30 anos, foi morto no bairro

do Anjo da Guarda; João Mariano da Silva Costa foi assassinado com golpes de

arma branca na Vila Maranhão; Walison Martins Lisboa, de 27 anos, foi morto a tiros

na Vila Isabel Cafeteira. No sábado, Moisés Fonseca, de 28 anos, foi assassinado a

tiros no bairro do Filipinho; Odair Cistrino Pereira Santos, de 36 anos, foi morto a

facadas no centro de São Luís; Tiara Maria Rodrigues, de 24 anos, foi morta a tiros

no Jardim Tropical; Jean Cláudio Miranda de Oliveira, de 21 anos, foi morto na Vila

Vitória, em São José de Ribamar; Magno de Jesus Aires Silva, de 35 anos, foi morto

a tiros no Coroadinho; Airton Luís Viana Cavalcante, de 28 anos, foi morto na Vila

Maranhão. No domingo, houve outros homicídios: Jeferson Alves Silva, de 19 anos,

Page 350:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

350

foi assassinado a tiros no Bairro do Maracanã; Guilherme Pereira Oliveira Costa, de

19 anos, foi morto a tiros no Bairro da Coreia; Evandro Mendonça Ferreira, de 19

anos, foi morto na região da Vila Vitória; Leandro dos Santos Pinheiro, de 21 anos,

foi assassinado no Bairro João Paulo.

Há ainda o caso Irialdo, que até agora é um caso muito grave de violação dos

direitos humanos que ocorreu no Maranhão. Numa ação policial na cidade de Vitória

do Mearim, estava lá infiltrada uma pessoa que não era da polícia e que assassinou

fria, covardemente, um homem que já estava no chão agonizando, Irialdo. Foi um

crime bárbaro, praticado pelas mãos do Estado, que deveria proteger. Ou seja, as

mãos que deveriam proteger, que eram do Estado, foram as que mataram Irialdo.

Até agora, o Governador Flávio Dino não foi aos meios de comunicação

perder desculpas, à família de Irialdo e nem tampouco à sociedade maranhense,

pelo bárbaro crime cometido pelas mãos do Estado do qual ele é comandante maior.

O Governador, inclusive, é o responsável maior pelas Forças Armadas do Estado do

Maranhão, comandante supremo da Polícia Militar, e a ele cabe ir às redes de

televisão, ao blog e ao Twitter — de que ele gosta tanto de fazer uso — para pedir

desculpas à família do Irialdo Batalha e também à sociedade maranhense pelo erro

cometido pelo seu Governo, por essa grave violação dos direitos humanos no

Maranhão.

Muito obrigado, Sr. Presidente, pela paciência.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Muito obrigado, Deputado Hildo

Rocha, do PMDB do Maranhão.

Page 351:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

351

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Concedo a palavra ao Sr. Deputado

Zé Geraldo, do PT do Pará, por 3 minutos.

O SR. ZÉ GERALDO (PT-PA. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados e todos aqueles que me ouvem neste momento,

estou dedicando esta segunda-feira a contatos com vários Ministérios para que eles

possam, na próxima semana, receber Prefeitos, Vereadores e dirigentes do

movimento social da região oeste do Pará.

A região oeste do Pará envolve 27 Municípios. Nessa região estão os dois

maiores Municípios do mundo. No Município de Altamira, como referência, e no

Município de Itaituba estão duas grandes rodovias abertas nos anos 70: a Cuiabá-

Santarém e a Transamazônica. Ali está sendo construída a maior hidrelétrica do

Brasil, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, e outra no Tapajós, em

Itaituba. É uma região que tem 82% da floresta em pé; representa a metade do

território paraense e tem três grandes rios: Amazonas, Tapajós e Xingu.

O Governo tem alguns passivos para com essa região como, por exemplo, a

regularização fundiária, os projetos de assentamentos, o Terra Legal. A maioria das

terras ali não tem documento; os projetos de assentamentos foram paralisados.

Então, na próxima semana virá uma delegação — representantes dos

Prefeitos, das Câmaras de Vereadores, do movimento social, da sociedade civil —

pedir ao Governo Federal, ao Governo da Presidente Dilma Rousseff, aos

Ministérios, para que deem uma atenção especial a essa região. Lá as demandas

são grandes, e depende dos recursos e da estrutura do Governo que não haja

descompasso entre as obras integradoras, que são importantes as grandes obras, e

as reivindicações do povo daquela região.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Deputado Zé Geraldo, muito obrigado.

Page 352:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

352

VII - ENCERRAMENTO

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Nada mais havendo a tratar, vou

encerrar a sessão.

Lembro que haverá Sessão Não Deliberativa Solene amanhã, terça-feira, dia

16 de junho, às 9 horas, em homenagem aos 300 anos do Município de Pitangui,

Estado de Minas Gerais.

Lembro também que haverá Sessão Não Deliberativa Solene, às 10h30min,

em homenagem ao primeiro ano da promulgação da Lei nº 12.994, de 2014, que

instituiu o piso salarial profissional nacional e as diretrizes para o plano de carreira

dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias.

Lembro ainda que haverá Sessão do Congresso Nacional, às 19 horas, no

Plenário da Câmara dos Deputados, com Ordem do Dia já divulgada.

Page 353:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

353

O SR. PRESIDENTE (Mauro Pereira) - Encerro a sessão, convocando

Sessão Deliberativa Extraordinária para amanhã, terça-feira, dia 16 de junho, às 13

horas, com a seguinte

ORDEM DO DIA

Page 354:  · CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185 4 I - ABERTURA DA SESSÃO (Às

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 153.1.55.O Tipo: Não Deliberativa de Debates - CD Data: 15/06/2015 Montagem: 5185

354

(Encerra-se a sessão às 18 horas e 22 minutos.)