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1 INFLUÊNCIAS E A COMPENSAÇÃO DAS CORRENTES CAPACITIVAS EM LINHAS DE TRANSMISSÃO NO DESEMPENHO DE SUA PROTEÇÃO DIFERENCIAL João Marcondes Corrêa Guimarães Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Rossi Co-Orientador: Prof. Dr. Paulo Márcio da Silveira Instituto de Sistemas Elétricos e Energia (ISEE) Resumo Este trabalho apresenta um estudo sobre a proteção diferencial de linhas de transmissão e o efeito das correntes capacitivas nesta. Apresenta-se uma análise das características de proteção diferencial percentual e sua representação no plano alfa, as vantagens impostas são analisadas. Um esquema de hardware-in-the-loop foi montado em laboratório, onde se testou a referida proteção em relés reais. Palavras-Chave: Proteção Diferencial, Correntes Capacitivas, Linhas de Transmissão, Hardware-in-the- loop. I INTRODUÇÃO Teorias clássicas pertinentes à conceituação da operação de linhas de transmissão (LT) mostram que na utilização do modelo de parâmetros distribuídos destas em Alta e Extra Alta Tensão (AT/EAT), o efeito das capacitâncias shunt existentes ao longo desse circuito se torna acumulativo e assume valores significativos influenciando assim, a análise das relações entre as tensões e correntes existentes entre os terminais do emissor e do receptor dessa LT. Diversos modelos matemáticos são apresentados na literatura clássica [1]-[3] de operação de LTs e que são então, usados para estabelecer relações que retratam de forma mais realista o comportamento operacional dessa LT operando em regimes permanente e transitório. Em regime permanente tem-se presente, os compromissos de observância dos níveis de tensões operativas da LT nos terminais do emissor e do receptor, associado ao valor da corrente definida pela geometria da rede e calculada pelo fluxo de potência circulante pelos cabos de transmissão, em busca de um atendimento contínuo e confiável às cargas atendidas por esse sistema. Em regime transitório, notadamente quando da presença de faltas nessa LT, tem-se então uma relação entre a tensão e a corrente definida em função do tipo de falta, cujo conhecimento assume extrema importância nos processos de parametrização dos dispositivos de proteção e controle associados a essa. Além disso, é de fundamental importância o seu conhecimento para fins de especificação dos componentes desse sistema, que conduzem e manobram esses fluxos de corrente suportando tais variações de tensão [3]. Esse trabalho se propõe a examinar as influências das correntes capacitivas existentes em linhas de transmissão de AT/EAT, no desempenho da proteção diferencial aplicada nesta. Para tanto, admitiu-se a hipótese de uma LT de 120 [km] de comprimento e que opera sob tensão nominal de 230 [kV]. Esta faz a interligação de dois sistemas robustos, A e B, de alimentação de um sistema de transmissão, conforme mostrado na Figura 1, contendo várias cargas conectadas em quatro barras (A B C D) desse sistema e tendo os cabos condutores sido devidamente dimensionados em função das cargas presentes e de seus diferentes regimes operacionais, permanente e transitório [3]. Para o desenvolvimento desse trabalho foi adotado o uso de dois Relés Diferenciais Digitais de fabricação SEL, modelo SEL-411L, e demais modelagens desse sistema realizadas no simulador RTDS disponível no Laboratório de Proteção existente no centro de pesquisas CERIn localizado na UNIFEI. Sistema A Sistema B 120 Km 50 Km 30 Km A B C D Fig.1 Sistema Simulado. TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO JUNHO/2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ ENGENHARIA ELÉTRICA

Co-Orientador: Prof. Dr. Paulo Márcio da Silveirasaturno.unifei.edu.br/bim/20150039.pdf · de parametrização dos dispositivos de proteção e controle associados a essa. Além

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INFLUÊNCIAS E A COMPENSAÇÃO DAS CORRENTES CAPACITIVAS EM

LINHAS DE TRANSMISSÃO NO DESEMPENHO DE SUA PROTEÇÃO

DIFERENCIAL

João Marcondes Corrêa Guimarães

Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Rossi

Co-Orientador: Prof. Dr. Paulo Márcio da Silveira Instituto de Sistemas Elétricos e Energia (ISEE)

Resumo – Este trabalho apresenta um estudo sobre a

proteção diferencial de linhas de transmissão e o efeito

das correntes capacitivas nesta. Apresenta-se uma

análise das características de proteção diferencial

percentual e sua representação no plano alfa, as

vantagens impostas são analisadas. Um esquema de

hardware-in-the-loop foi montado em laboratório, onde

se testou a referida proteção em relés reais.

Palavras-Chave: Proteção Diferencial, Correntes

Capacitivas, Linhas de Transmissão, Hardware-in-the-

loop.

I – INTRODUÇÃO

Teorias clássicas pertinentes à conceituação da operação

de linhas de transmissão (LT) mostram que na utilização

do modelo de parâmetros distribuídos destas em Alta e

Extra Alta Tensão (AT/EAT), o efeito das capacitâncias

shunt existentes ao longo desse circuito se torna

acumulativo e assume valores significativos influenciando

assim, a análise das relações entre as tensões e correntes

existentes entre os terminais do emissor e do receptor dessa

LT.

Diversos modelos matemáticos são apresentados na

literatura clássica [1]-[3] de operação de LTs e que são

então, usados para estabelecer relações que retratam de

forma mais realista o comportamento operacional dessa

LT operando em regimes permanente e transitório.

Em regime permanente tem-se presente, os compromissos

de observância dos níveis de tensões operativas da LT nos

terminais do emissor e do receptor, associado ao valor da

corrente definida pela geometria da rede e calculada pelo

fluxo de potência circulante pelos cabos de transmissão,

em busca de um atendimento contínuo e confiável às

cargas atendidas por esse sistema.

Em regime transitório, notadamente quando da presença

de faltas nessa LT, tem-se então uma relação entre a tensão

e a corrente definida em função do tipo de falta, cujo

conhecimento assume extrema importância nos processos

de parametrização dos dispositivos de proteção e controle

associados a essa. Além disso, é de fundamental

importância o seu conhecimento para fins de especificação

dos componentes desse sistema, que conduzem e

manobram esses fluxos de corrente suportando tais

variações de tensão [3].

Esse trabalho se propõe a examinar as influências das

correntes capacitivas existentes em linhas de transmissão

de AT/EAT, no desempenho da proteção diferencial

aplicada nesta. Para tanto, admitiu-se a hipótese de uma

LT de 120 [km] de comprimento e que opera sob tensão

nominal de 230 [kV]. Esta faz a interligação de dois

sistemas robustos, A e B, de alimentação de um sistema de

transmissão, conforme mostrado na Figura 1, contendo

várias cargas conectadas em quatro barras (A B C D) desse

sistema e tendo os cabos condutores sido devidamente

dimensionados em função das cargas presentes e de seus

diferentes regimes operacionais, permanente e transitório

[3].

Para o desenvolvimento desse trabalho foi adotado o uso

de dois Relés Diferenciais Digitais de fabricação SEL,

modelo SEL-411L, e demais modelagens desse sistema

realizadas no simulador RTDS disponível no Laboratório

de Proteção existente no centro de pesquisas CERIn

localizado na UNIFEI.

Sistema A Sistema B

120 Km 50 Km30 KmA B C D

Fig.1 – Sistema Simulado.

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

JUNHO/2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ

ENGENHARIA ELÉTRICA

2

II – FUNDAMENTOS DA PROTEÇÃO DIFERENCIAL

DE LINHAS DE TRANSMISSÃO

Com o desenvolvimento dos sistemas de comunicação,

esquemas de proteções antes impraticáveis tomam uma

nova importância e estudo no sistema elétrico. A aplicação

de relés diferenciais na proteção de linhas de transmissão

em AT/EAT se constitui hoje como uma alternativa

eficiente, segura, confiável e largamente usada como

proteção principal (primária) ou retaguarda (secundária)

em LTs de AT [4]. Relés diferenciais são largamente

utilizados na filosofia geral de proteção, sendo então,

aplicados a componentes de um sistema elétrico, onde se

exige alta velocidade de desligamento quando da presença

de faltas e com operação de forma estritamente seletiva.

Em [5] os autores propõem um método para estimar os

parâmetros de linhas de transmissões usando sincrofasores

utilizando PMUs, também propõem um método para

estimar incertezas nestes. Por fim, apresenta um esquema

de proteção diferencial utilizando medições sincronizadas

e investiga os efeitos das incertezas dos parâmetros neste

esquema de proteção.

Mesmo o foco deste estudo sendo o impacto das correntes

capacitivas na proteção 87L, mostra-se em [6] que estas

também afetam elementos de distância (21). Estas

correntes causam harmônicos que afetam a medição da

impedância neste esquema de proteção, um algoritmo é

proposto para compensação destas.

Um estudo foi realizado em [7] onde a função 87 foi

utilizada como proteção principal e 21 como retaguarda. O

sistema multi-terminal estudado, localizado na Suécia,

utilizou sincronização através de sistemas de

posicionamento (GPS). Devido a topologia do sistema, a

compensação de correntes capacitivas através dos sinais de

tensão torna-se impraticável. Portanto, um algoritmo

baseado somente nos sinais de corrente é proposto para

esta tarefa.

Os autores de [8] realizaram um estudo da proteção

diferencial aplicada em linhas de transmissão com

compensação série. Dois algoritmos foram

implementados, proteção no plano cartesiano e alfa, e suas

trajetórias analisadas. Também salientam que a proteção

diferencial é preferível pois apresenta uma clara definição

da região protegida, isto permite com que esta seja

instantânea, não necessitando de coordenações.

No estudo sobre procedimentos de teste para função

diferencial [9] os autores apresentam dados estatísticos

sobre operações indevidas dos relés. A taxa de atuações

indevidas em reles numéricos é extremamente baixa, na

ordem de 0,0333% por ano. Em comparação atuações

indevidas devido a erros humanos estão na ordem de 0,1%

por ano. Para função 87L esta taxa é ainda menor 0,016%

ao ano, e devido a erros nos canais de comunicação na

ordem de 0,002% ao ano.

Relés diferenciais operados por correntes possuem seu

princípio de operação baseado na comparação vetorial

dessas grandezas, medidas em dois ou mais pontos

distintos do componente a ser protegido. Dessa forma,

através de uma lógica de comparação e balanço vetorial

entre essas grandezas devidamente informadas pelos

transformadores de correntes (TCs) instalados nesse

sistema, pode-se concluir se há ou não a presença de uma

falta estabelecida no citado componente. A zona

diferencial que define a região protegida fica então

definida em função da posição da instalação desses dois

conjuntos de TCs. A Figura 2 exemplifica

esquematicamente tal princípio.

IA IB

Ie

e1

IR

Idif

IL

e1

Ie

S1 S2

P1 P2 P1P2

S1S2

LT

Relé - 87

Fig.2 – Conexão de um Relé Diferencial.

II.1 – Característica Percentual

Durante operação normal do sistema protegido, por

exemplo, a LT mostrada na Figura 2, as correntes IL e IR

provenientes dos TCs que alimentam o relé diferencial

permitem a combinação de duas outras, sendo uma

chamada corrente diferencial, ou operação (IDIF, IOP)

definida por (1).

𝐼𝐷𝐼𝐹 = |𝐼𝐿 + 𝐼𝑅 | (1)

Onde 𝐼𝐿 e 𝐼𝑅 representam as correntes locais e remotas,

respectivamente.

E outra corrente de controle, denominada corrente de

restrição (IRT), ou estabilização, que pode ser definida de

várias formas conforme equações (2) a (5), sendo a mais

usual, obtida pela equação (3):

𝐼𝑅𝑇 = 𝐾|𝐼𝐿 − 𝐼𝑅 | (2)

𝐼𝑅𝑇 = 𝐾(|𝐼𝐿 | + |𝐼𝑅 |) (3)

𝐼𝑅𝑇 = 𝑀𝑎𝑥 (|𝐼𝐿| , |𝐼𝑅 |) (4)

𝐼𝑅𝑇 = √|𝐼𝐿| . |𝐼𝑅 |. 𝑐𝑜𝑠Ѳ

(5)

Onde K é uma constante, normalmente 1/2, e Ѳ o ângulo

entre a corrente local e remota.

Deve-se observar que o ajuste do relé diferencial é uma

função dessas correntes IDIF e IRT e independe da corrente

nominal, ou de carga, do circuito de transmissão ou da

3

corrente de curto-circuito passante pelo componente

protegido. Porém, como essa corrente diferencial IDIF

depende das informações provenientes dos TCs que o

alimenta, isso implica em se fazer uma detalhada análise

dos comportamentos da rede em função dos estudos de

fluxo de carga e de curtos-circuitos nela estabelecidos, os

quais serão de extrema importância para a escolha

adequada dos TCs que irão alimentar esse relé diferencial.

Pode-se mostrar que a corrente diferencial no circuito de

operação do relé é definida pela equação (6) que mostra

claramente a dependência da corrente operativa em função

dos valores das relações de transformação dos TCs e de

suas respectivas correntes de excitação.

𝐼𝐷𝐼𝐹 = (

𝐼𝐴𝑅𝑇𝐶𝐿

−𝐼𝐵

𝑅𝑇𝐶𝑅) + (𝐼𝑒𝑇𝐶𝑅

− 𝐼𝑒𝑇𝐶𝐿)

(6)

Onde 𝑅𝑇𝐶𝐿 e 𝑅𝑇𝐶𝑅 representam as relações de

transformação dos TCs locais e remotos, respectivamente,

e 𝐼𝑒𝑇𝐶𝑅 e 𝐼𝑒𝑇𝐶𝐿

são as correntes de excitação dos TCs locais

e remotos.

Durante o processo de parametrização de um relé

diferencial há a necessidade de se estabelecer uma relação

de dependência entre esses valores de IDIF e IRT além de se

definir um valor mínimo de corrente de atuação (IPICKUP)

para esse relé de acordo com a sensibilidade desejada.

Independentemente do tipo construtivo desses relés

diferenciais, sua característica operativa, em geral

relaciona-se sempre a corrente diferencial com a de

restrição, segundo uma relação de proporcionalidade

percentual “K”. Assim pode-se analisar sob forma gráfica

linear, num plano cartesiano, essa relação que pode ser

feita de várias maneiras.

Essa relação de proporcionalidade percentual “K” é

conhecida na prática com o nome de “SLOPE”, que de

certa forma mostra a sensibilidade de operação ajustada.

Relés Diferenciais Digitais podem apresentar uma

característica de slope dual, obtendo-se uma maior

segurança para situações onde ocorrem saturações,

assimetria nos canais de comunicação ou erro de TCs. A

escolha por uma dessas opções é uma função do tipo da

aplicação e da natureza do equipamento protegido.

Para faltas onde as correntes são de baixo valor os TCs

possuem um comportamento linear, mas para altas

correntes ocorre saturação e seu comportamento deixa de

ser linear causando um aumento fictício da corrente

diferencial. Isto levou a aplicação de uma característica de

inclinação variável. Relés modernos possuem um controle

adaptativo desta inclinação, aumentando-a ou diminuindo-

a ao detectar condições que requeiram uma mudança de

sensibilidade. A Figura 3 exemplifica os vários tipos

possíveis na característica percentual, conforme as

equações (7) e (8) onde K representa o slope escolhido e

𝑘0 o pickup.

𝐼𝐷𝐼𝐹 ≥ 𝐾 𝐼𝑅𝑇 (7)

𝐼𝐷𝐼𝐹 ≥ 𝐾 𝐼𝑅𝑇 + 𝑘0 (8)

Com base no que foi exposto, pode-se concluir que o ajuste

de tal tipo de relé diferencial percentual deverá ser baseado

em pelo menos dois fatores: corrente mínima de atuação

ou de pick-up e escolha adequada do slope, o qual

determina a sensibilidade do esquema de proteção.

IRT

IDIF

IRT

IDIF

Região de

Operação

RegiãoDe

Restrição

Região de

Operação

RegiãoDe

Restrição

IRT

IDIF

IRT

IDIF

Região de

Operação

RegiãoDe

Restrição Característica Normal

Característica de Segurança

Fig.3 – Configurações da Característica Percentual.

É importante observar ainda que, nas aplicações da

proteção diferencial, faltas externas à zona protegida não

devem sensibilizar o relé, caso contrário, este não seria

seletivo. Isso exige um perfeito dimensionamento dos TCs

que o alimentam, principalmente do ponto de vista de sua

saturação e erros de trabalho. Além disso, por norma é

recomendado que esses TCs possuam a polaridade

subtrativa aplicada em seus enrolamentos. Isso posto, é de

fundamental importância se trabalhar de forma correta e

coerente com as marcas de polaridades dos TCs a fim de

se evitar operações indevidas do relé diferencial.

Em particular nas aplicações da proteção diferencial em

linhas de transmissão de AT, é importante lembrar que as

correntes capacitivas de carregamento da LT também

devem ser compensadas no relé diferencial. A maneira

tradicional de lidar com este problema é ajustar o valor da

corrente mínima do relé superior ao valor da corrente

capacitiva. Porém, como esta pode assumir a ordem de

algumas dezenas de ampères, esse critério poderá

dessensibilizar a proteção diferencial. Portanto, outros

critérios devem ser utilizados. Uma alternativa para

mitigar os efeitos destas correntes é a utilização de

esquemas de proteção diferencial de sequência [10], uma

vez que estas correntes são predominantemente de

sequência positiva. No entanto, estas proteções são mais

susceptíveis a operações indevidas para faltas externas e

podem não atuar durante faltas balanceadas.

4

Linhas de transmissão se estendem por quilômetros ou até

centenas de quilômetros. Como os relés trocam

informações, e estão sujeitos a esta distância, um canal de

comunicação é necessário, conforme mostra a Figura 4.

Este canal causa um atraso na comunicação, portanto os

dados devem ser sincronizados para proteção adequada.

Quando utilizando canais de comunicação simétricos,

atrasos idênticos na transmissão e recepção, esquemas de

proteção 87 podem utilizar o método padronizado

conhecido como ping-pong. Uma alternativa moderna se

apresenta ao utilizar como referência de tempo através dos

sistemas globais de posicionamento (GPS).

Essa comunicação atualmente se faz através de fibras

ópticas suportadas por cabos guarda da LT (OPGW-

Optical Phiber Ground Wire). O intervalo de tempo

aplicado nessa comunicação assume a sua importância,

uma vez que, num sistema que opera sob a frequência de

60 Hz, para cada milissegundo de assincronismo entre os

canais de comunicação se tem um desvio de fase fictício

entre as correntes comparadas da ordem de 21,6 graus,

valor esse que certamente poderá sensibilizar a unidade

operativa do relé diferencial. De acordo com [11], a

assimetria apresentada por estes canais é inferior a 2

milissegundos. Em geral, o tempo médio de operação

desses relés diferenciais percentuais é da ordem de 2 ciclos

de 60 Hz e o valor mínimo de sua corrente operativa é a

partir de 100 [mA].

ICarga

LT

ReléLocal

ReléRemoto

TX

RX

TX

RX

Fibra Óptica

IL IR

Fig.4 – Exemplificação do Canal de Comunicação

II.2 – Plano Alfa

Tendo em vista que a limitação do plano percentual se dá

pelo fato que nesta característica sensibilidade e segurança

são inversamente proporcionais surge o plano-α [10]-[13].

Este é uma outra forma de se verificar as condições e as

zonas de operação e de restrição no desempenho de um

dado relé diferencial.

A maneira convencional, mostrada anteriormente, usa um

plano cartesiano onde as correntes de operação e restrição

são apresentadas em módulo. Porém, relés digitais são

capazes de processar números complexos, componentes

reais e imaginárias. Assim pode-se representar a

característica de operação em um plano complexo, onde o

resultado da relação entre a corrente remota e local é um

número imaginário que define o ponto de operação do

sistema, de acordo com a equação (9).

𝐼𝑅

𝐼𝐿 = 𝑎 + 𝑗𝑏

(9)

Onde a e b são dados pela projeção do ponto de operação

sobre os eixos reais e imaginários, respectivamente.

O termo plano alpha foi introduzido por Warrington para

designar a relação 𝐼𝑅

𝐼𝐿 e plano beta para a relação inversa. A

seguir demonstra-se a transferência da característica

percentual para o plano alfa baseando-se nas equações (7)

para corrente diferencial, assumindo k=1, e como restrição

(2):

𝐼𝑂𝑃 ≥ 𝐼𝑅𝑇

|𝐼𝐿 + 𝐼𝑅 | ≥ 𝐾|𝐼𝐿 − 𝐼𝑅 |

Como mencionado, a nova característica é dada em um

plano polar onde a relação da corrente local e remota é

dada em um número complexo, portanto divide-se os

termos da equação obtida por 𝐼𝐿 :

|1 +

𝐼𝑅

𝐼𝐿

| ≥ 𝐾 |1 −

𝐼𝑅

𝐼𝐿

|

(10)

Ao substituir (9) em (10), e fazendo a expansão:

|1 + 𝑎 + 𝑗𝑏| ≥ 𝐾|1 − (𝑎 + 𝑗𝑏)|

√(1 + 𝑎)2 + 𝑏2 ≥ 𝐾√(1 − 𝑎)2 + 𝑏2

𝑎2 + 𝑏2 + 2𝑎

1 + 𝐾2

1 − 𝐾2+ 1 ≥ 0

(11)

A equação (11) pode ser manipulada para obter-se um

círculo com centro deslocado:

(𝑎 +1 + 𝐾2

1 − 𝐾2)

2

+ (𝑏 + 0)2 + 1 − (1 + 𝐾2

1 − 𝐾2)

2

≥ 0

(𝑎 +

1 + 𝐾2

1 − 𝐾2)

2

+ 𝑏2 ≥4𝐾2

(1 − 𝐾2)2

(12)

Esta equação (12) representa uma circunferência com:

𝐶𝑒𝑛𝑡𝑟𝑜 = −

1 + 𝐾2

1 − 𝐾2+ 𝑗0

(13)

𝑅𝑎𝑖𝑜 = √4𝐾2

(1 − 𝐾2)2=

2𝐾

1 − 𝐾2

(14)

A igualdade da equação (12) nos indica o limiar de

operação. A região de bloqueio é dada pelo seu interior, e

região de operação dada pela região externa a

circunferência. A Figura 5 ilustra o processo realizado.

5

IRT

IOP

K=0.8

K=0.5

K=0.3

K=0.8

K=0.5K=0.3

Fig.5 – Característica Percentual Representada no

Plano Alfa.

Ressalta-se que estes desenvolvimentos se deram através

das equações (7) e (2) para as correntes de operação e

restrição respectivamente. Em [12] são apresentados os

resultados para os demais desenvolvimentos.

II.2.1 – Trajetórias no Plano Alfa

O método para analisar a operação do relé basicamente

consiste em sobrepor a característica deste e a trajetória da

relação de correntes resultante de uma falta. Note que este

método se assemelha a análise da função 21 no plano de

impedância.

Para condições ideais de operação as magnitudes de 𝐼𝐿 e 𝐼𝑅 são iguais e defasadas em 180 graus, portanto a divisão

destas resulta em 1|180. Para condições de falta interna

com alimentação em ambos os extremos a > 0. Para faltas

internas com alimentação em somente um extremo a < 0.

Em geral para faltas internas onde não ocorre contribuição

remota, as correntes 𝐼𝐿 e 𝐼𝑅 , não estão em fase. Portanto a

região de faltas, sem contribuição externa, deve ser

ampliada para cobrir estas defasagens. A Figura 6

representa estas regiões:

-1

Faltas Internas

ContribuiçãoExterna

RL

Fig.6 – Regiões do Plano Alfa

Atrasos de comunicação causam uma rotação ao redor da

origem no plano. A magnitude da relação não se altera. O

ângulo desta rotação é determinado pela assimetria no

canal de comunicação e erros nos TCs. Por exemplo, um

atraso de 1 milissegundo rotaciona a relação de correntes

em 21,6 graus para um sistema operando a 60 Hz. A Figura

7 exemplifica este efeito:

-1

Faltas Internas

ContribuiçãoExterna

RL

Fig.7 – Efeito de Assimetrias

Quando ocorre saturação no TC, a corrente no seu

secundário diminui em magnitude e seu ângulo tende a

aumentar. Caso o TC local sature e o remoto não, a relação

das correntes aumenta em módulo e diminui em ângulo,

desta maneira o ponto de operação se distancia do ponto

ideal. Para saturação do TC remoto o ponto de operação

tende a deslocar-se na direção da origem. Relés modernos

possuem algoritmos que percebem situações indevidas

como estas saturações ou faltas externas e expandem a

região de bloqueio para modo seguro, como apresentado

na Figura 8:

Fig.8 – Modo Seguro

Correntes capacitivas, conforme ilustrado na Figura 9,

fluem pela linha de transmissão e criam uma corrente

diferencial ilusória dada por (15):

𝐼𝐿 = 𝐼𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 + 𝐼𝐶

6

𝐼𝑅 = −𝐼𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 + 𝐼𝐶

𝐼𝑅

𝐼𝐿 =

−𝐼𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 + 𝐼𝐶

𝐼𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 + 𝐼𝐶

(15)

Onde 𝐼𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 representa a corrente de carga, ou operação,

do sistema e 𝐼𝐶 a corrente capacitiva.

ICarga

ICapacitiva

IL IR

ICapacitiva

Fig.9 – Corrente Capacitiva

Esta corrente causa um deslocamento do ponto ideal de

operação, caso a corrente capacitiva seja insignificante em

relação a corrente de carga o ponto de operação será

próximo do ponto ideal e caso seja predominante em

relação a carga aproxima-se de 1|0, sendo a Figura 10 uma

aproximação desta trajetória.

-1 1

Fig.10 – Trajetória do ponto de Operação Devido a

Corrente Capacitiva

Tendo visto esses efeitos, da proteção de linhas de

transmissão, no plano diferencial percebe-se a necessidade

de considerar alguns fatores na proteção como correntes

capacitivas, diferenças de fase nas correntes locais e

remotas durante faltas, erros de TCs, assimetria nos canais

de comunicação, etc. Uma característica modificada foi

inicialmente proposta por Tziouvaras. Essa é definida por

três parâmetros um ângulo alfa, raio R e um pickup. Desta

forma, obtém-se um maior controle sobre a região de

restrição tendo em vista as necessidades da proteção de

linhas de transmissão. O ângulo alfa fornece a abertura

necessária para adaptação aos piores casos de erros de

comunicação e o ajuste de R prove o espaço para acomodar

as mais variadas situações como saturações nos TCs. A

Figura 11 mostra esta nova característica.

-1

1R

Região de

Restrição

Região de

Operação

Fig.11 – Região de Bloqueio no Plano Alfa

Ao sobrepor a nova característica com a convencional

verifica-se as vantagens obtidas. Uma comparação para o

mesmo nível de tolerância a contribuições remotas é

mostrada na Figura 12. Verifica-se que a nova

característica apresenta vantagem para assimetrias na

comunicação.

Vantagem para Assimetrias na Comunicação

Fig.12 – Vantagem da Nova Característica em

Relação a Assimetrias

Ao aumentar a tolerância, da característica convencional,

para assimetrias percebe-se na Figura 13 uma perda de

sensibilidade para contribuições remotas.

7

SEL411-L

SEL411-L

IA IB IC VA VB VC

Term

inal

Loca

l

IA IB IC VA VB VC

Term

inal

Rem

oto

Fibra Óptica

TRIP

TRIP

Estado do Disjuntor

Estado do Disjuntor

OMICRONCMC – 256 - 6

125V DC

GTFPI

GTAO

GTAO

OM

ICR

ON

CM

S -

156

OM

ICR

ON

CM

S -

156

0 115 V0 5 A

0 115 V0 5 A

Sinais Analógicos

Sinais Analógicos

Sinais Digitais

Sinais Analógicos

Sinais Analógicos

Fig.14 – Esquema de Simulação

Vantagem para contribuições

externas

Fig.13 – Vantagem da Nova Característica em

Relação a Realimentações

III – SISTEMA MODELADO

Nos itens seguintes apresenta-se a modelagem do sistema

de potência no simulador digital em tempo real e a

parametrização do rele SEL-411L. A Figura 14 apresenta

a montagem em laboratório, nota-se o esquema de

hardware-in-the-loop, onde os relés foram conectados ao

RTDS.

III.1 – RTDS

O RTDS [14]-[15], Figura 14, é um equipamento

desenvolvido para estudos de sistemas elétricos de

potência, sendo uma ótima ferramenta para investigação

de fenômenos de transitórios eletromagnéticos devido a

sua capacidade de realizar processamentos com um passo

de integração na ordem de microssegundos, sendo esta

última característica responsável pelo termo simulação em

tempo real.

O algoritmo de solução utilizado em suas simulações são

os mesmos implementados em outros softwares

tradicionais. O RTDS além de permitir ao usuário modelar

e simular grandes sistemas possibilita testes de sistemas de

controle, estudos envolvendo PMUs, norma IEC 61850,

eletrônica de potência, testes de esquemas de proteção,

simulações envolvendo hardware-in-the-loop, entre

outros.

Para atingir a velocidade de processamento necessária para

estas aplicações o RTDS utiliza processamento paralelo.

Portanto, sua estrutura constitui-se de hardware e software.

Outros cartões são necessários para realizar a comunicação

com os dispositivos externos e em aplicações de hardware-

in-the-loop envolvendo relés, por exemplo, sinais de

tensão e ou corrente devem ser fornecidos para estes IEDs,

para isto utilizam-se cartões adicionais.

SWITCH

Processador PB5

GTAIOCartão de

Saída/Entrada de Sinais

Analógicos GTDIOCartão de Saída/Entrada de Sinais

Digitais

GTFPICartão de

Interface Frontal

GTWIFCartão de

Interface com Equipamentos

IEDSEL – 411L

Comunicação com

Dispositivos Externos

IED SEL – 2407

GTNETCartao de Interface

com a Rede

GPS

Fig.15 – Estrutura do Hardware do RTDS

8

Na Figura 15 ilustra-se a estrutura operacional do

hardware do RTDS. Nesta, pode-se observar que só os

cartões GTWIF e GTNET estabelecem a interface de

comunicação entre o RTDS e os dispositivos externos

ligados na rede LAN. O cartão GTWIF troca informações

unicamente com o computador de Interface Homem –

Máquina – IHM onde o programa RSCAD está sendo

utilizado. Por outro lado, o cartão GTNET pode

estabelecer uma comunicação peer-to-peer com um ou

vários IEDs ligados na rede LAN através de protocolos

abertos de comunicação [14].

O software do RTDS está organizado em três níveis

hierárquicos, sendo o de maior deles a interface gráfica

com o usuário através do software RSCAD, para o nível

intermediário designa-se o sistema operacional e

compilador por fim o nível inferior onde estão localizados

os componentes da biblioteca. Observa-se que o usuário

tem acesso a esta hierarquia indiretamente através do

software RSCAD.

III.2 – Sistema Simulado

O sistema elétrico a ser analisado é constituído de dois

terminais A e B, providos de fontes de suprimento de

energia capazes de atender à demanda imposta pelas

cargas conectadas em quatro barras (A B C D) do tipo PQ

mostradas no diagrama unifilar da Figura 16. Pretende-se

aplicar a proteção diferencial para a linha de transmissão

de 120 [km], que interliga as barras B e C. Os dados do

sistema são apresentados na tabela 1 e o ambiente de

simulação na Figura 17:

30 km 120 km 50 km

Região Para Aplicação de Faltas

Região Para Aplicação de Faltas

Região Para Aplicação de Faltas

Barra A

Barra B

Barra C

Barra D

SistemaA

SistemaB

Fig.16 – Sistema Modelado no Ambiente Draft

TABELA 1 – DADOS DO SISTEMA MODELADO

Fontes

Sistema 𝑆𝐶𝐶 𝑋 / 𝑅 𝑍0/ 𝑍1 𝑉𝑁

A 10 𝐺𝑉𝐴 8 3 230𝐾𝑉

B 12 𝐺𝑉𝐴 8 3 230𝐾𝑉

Cargas

Barra 𝑆 𝑉𝑁 𝐹𝑃 𝑇𝑖𝑝𝑜

A 50 MVA 230𝐾𝑉 0.9 𝑃 𝐶𝑡𝑒

B 100 MVA 230𝐾𝑉 0.9 𝑃 𝐶𝑡𝑒

C 150 MVA 230𝐾𝑉 0.9 𝑃 𝐶𝑡𝑒

D 150 MVA 230𝐾𝑉 0.9 𝑃 𝐶𝑡𝑒

Utiliza-se o modelo π para modelagem das linhas de

transmissão no ambiente T-LINE (Transmission Line) de

modelagem de linhas do software RSCAD. A barra C é

escolhida como referência e seu valor é de 1 pu. A linha

que liga as barras B e C foi dimensionada para um

carregamento máximo de aproximadamente 900 [A]. O

fluxo máximo na linha ocorre quando o sistema A alimenta

todas as cargas, seu valor é na ordem de 800 [A].

Fig.17 – Ambiente de Simulação RunTime.

O cabo escolhido para todas as linhas [17] foi do tipo

ACSR, 266,8 MCM, 26/7, Código “Partridge”, 2

condutores por fase e possuem os valores apresentados na

tabela 2.

TABELA 2 – CARACTERÍSTICA DOS CONDUTORES

Característica dos Condutores

𝑅1 0.1277 Ω/𝐾𝑚

𝑋𝐿1 0.1892 Ω/𝐾𝑚

𝑋𝐶1 0.2296 𝑀Ω/𝐾𝑚

A aplicação da teoria dos quadripolos em LTs, sustentada

pelo modelo “π-nominal”, permite calcular o valor da

intensidade da corrente capacitiva. Para a sua

determinação, de acordo com a Teoria de Linhas, basta

realizar o produto da sua susceptância, BC, pelo valor

operativo de sua tensão nominal por fase. Para os

parâmetros apresentados nesse sistema encontrou-se um

valor teórico dessa corrente igual a 70 [A], o obtido nas

simulações confere até a primeira casa decimal.

𝐼𝐶𝑎𝑝𝑎𝑐𝑖𝑡𝑖𝑣𝑎 = 𝐵𝐶 𝑉𝑁 (16)

Onde BC representa a susceptância da linha e 𝑉𝑁 a tensão

de operação do sistema.

A tensão e corrente na barra B, emissora, se relacionam

com a tensão e corrente na barra C, receptora, através dos

parâmetros constantes dos quadripolos A, B, C e D da LT,

ou seja:

9

[𝑉𝐵

𝐼𝐵] = [

𝐴 𝐵𝐶 𝐷

] [𝑉𝐶

𝐼𝐶]

(17)

Ao substituir os valores de 1 pu para barra C e 376 [A] que

corresponde a corrente na linha quando o sistema B

alimenta todas as cargas, obtém-se a corrente mencionada

acima:

[𝑉𝐵

𝐼𝐵] = [

1 27.39𝑒𝑗56

𝑗 5 10−4 1] [

230

√3103𝑒𝑗0

376𝑒−𝑗25.6

]

Essa corrente não depende do valor da carga a ser atendida,

pois é função da tensão do sistema e admitância da LT.

Portanto, na condição de carga máxima e consequente

fluxo máximo pela LT o valor esperado de Ic será o

mesmo.

IV – RELÉ

Neste estudo foram utilizados dois relés numéricos SEL

(Schweitzer Engineering Laboratories) modelo 411L [16],

Figura 18, sua principal função é proteção diferencial de

linhas de transmissão. Estas podem ser multi-terminais e

compensadas ou não. São capazes de atuações mono ou

tripolares. Possuem localização de faltas pelo método de

ondas viajantes. Além destas características e outras,

possui lógica de compensação de corrente capacitiva

sendo este o foco deste estudo.

Fig.18 – Relé SEL-411L

Além da proteção mencionada são apresentadas abaixo

outras funções disponíveis no modelo: 87LP, 87LQ, 50/51,

50/51G, 50/51Q, 51V/C, 21, 21G, 67G, 67P, 67Q, 85,

78/68, 79, 25, 27/59, 59G, 59Q, 50/62BF, 60, 81, 49 e 49T.

V.1 – PARAMETRIZAÇÃO

O relé parametrizado, utilizando o software AcSELerator

QuickSet, para função 87L, acionamento tripolar dos

disjuntores, ajustes padrões do plano alfa para operação

normal e modo seguro exceto o valor de pickup que foi

ajustado para o mínimo 10%, ajuste da corrente capacitiva

através dos canais de tensão, TCs com relação 1000/5 A,

TPs com relação 230 KV/ 115 V e informações de

impedância da linha.

Para remoção da corrente capacitiva primeiro deve-se

informar a capacitância total da linha em valores

secundários, número de terminais a compensar e

localização dos TPs em relação aos TCs. O cálculo da

corrente capacitiva total é feito através da média da tensão

na linha e de sua capacitância, considera-se que exista um

capacitor em cada terminal da linha e que a contribuição

em cada terminal seja igual. Estas parcelas não

correspondem a uma situação real, mas quando somadas

fornecem uma boa aproximação.

𝑖𝑐𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙

= 𝐶𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙

𝑑𝑣𝑚𝑒𝑑

𝑑𝑡

(18)

𝑖𝑐𝑛 =

1

𝑁𝑇𝑒𝑟𝑚𝑖𝑛𝑎𝑖𝑠𝐶𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙

𝑑𝑣𝑛

𝑑𝑡

(19)

Onde 𝑖𝑐𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 representa a corrente capacitiva total da linha,

𝐶𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 sua capacitância e 𝑣𝑚𝑒𝑑 a tensão dos terminais.

Cada relé envia pelo canal de comunicação a corrente

compensada 𝑖𝑇𝑋:

𝑖𝑇𝑋 = 𝑖𝑁 − 𝑖𝑐,𝑛 (20)

Em (20) 𝑖𝑇𝑋 representa a corrente transmitida para o rele

remoto, 𝑖𝑁 a corrente medida e 𝑖𝑐,𝑛 a corrente compensada

no terminal local. É importante uma avaliação prévia da

necessidade desta compensação, uma vez que ao fazê-la

abre-se mão de uma das maiores vantagens da proteção

diferencial que é a dependência exclusiva de correntes.

V – RESULTADOS

Várias simulações foram realizadas, aqui serão

apresentados três casos, falta trifásicas externas em 50%

da linha que liga as barras A e B, falta semelhante para a

linha que ligam as barras C e D, e também para 50% da

linha protegida. Os resultados apresentados serão com o

algoritmo de compensação da corrente capacitiva

desabilitados. Com o auxílio do software Matlab, as

Figuras 19 e 20 apresentam o ponto de operação do sistema

no plano alfa e no software no relé, respectivamente.

Fig.19 – Ponto de Operação do Sistema no Plano Alfa

10

Fig.20 – Ponto de Operação do Sistema no Software

do Relé

As Figuras 21 a 29 apresentam os gráficos de tensões,

correntes e também se apresenta as trajetórias no plano alfa

para fase A, uma vez que os casos mostrados são de faltas

trifásicas.

Fig.21 – Tensões e Correntes - Barra B Para Falta em

50% da Linha A-B

Fig.22 – Tensões e Correntes - Barra C Para Falta em

50% da Linha A-B

Fig.23 – Trajetória no Plano Alfa Falta em 50% da

Linha A-B

Fig.24 – Tensões e Correntes - Barra B Para Falta em

50% da Linha C-D

Fig.25 – Tensões e Correntes - Barra C Para Falta em

50% da Linha C-D

0 0.03333 0.06667 0.1 0.13333 0.16667 0.2

-4.14987

-2.82526

-1.50064

-0.17603

1.14858

2.47319

3.7978

kA

I552A I552B I552C

-186.41966

-124.2798

-62.1399

0

62.1399

124.2798

186.41972

kV

S1) N4 S1) N5 S1) N6

0 0.03333 0.06667 0.1 0.13333 0.16667 0.2

-3.77273

-2.45639

-1.14006

0.17628

1.49261

2.80895

4.12529

kA

I652A I652B I652C

-185.50531

-123.6969

-61.8884

-0.08

61.7285

123.5369

185.34538

kV

S1) N10 S1) N11 S1) N12

0 0.03333 0.06667 0.1 0.13333 0.16667 0.2

-4.20011

-2.74105

-1.28199

0.17707

1.63613

3.0952

4.55426

kA

I552A I552B I552C

-186.44446

-124.3004

-62.1564

-0.0124

62.1317

124.2757

186.41974

kV

S1) N4 S1) N5 S1) N6

0 0.03333 0.06667 0.1 0.13333 0.16667 0.2

-4.58389

-3.11567

-1.64744

-0.17922

1.28901

2.75723

4.22545

kA

I652A I652B I652C

-185.8475

-123.6899

-61.5323

0.6252

62.7828

124.9404

187.09796

kV

S1) N10 S1) N11 S1) N12

11

Fig.26 – Trajetória no Plano Alfa Falta em 50% da

Linha A-B

Fig.27 – Tensões e Correntes - Barra B Para Falta em

50% da Linha Protegida

Fig.28 – Tensões e Correntes - Barra C Para Falta em

50% da Linha Protegida

Fig.29 – Trajetória no Plano Alfa Falta em 50% da

Linha Protegida

Conforme esperado o esquema de proteção não atua para

faltas externas e ao verificar uma falta interna isola o

elemento protegido. A linha protegida possui 120 [km],

para esta uma corrente capacitiva na ordem de 70 [A] é

esperada como demonstrado nos itens anteriores. Caso o

valor de pickup ajustado no relé seja menor que esta

corrente, atuações indevidas podem ocorrer. Em linhas

longas este ajuste pode causar perda de sensibilidade,

sendo que os fabricantes possuem algoritmos em seus relés

numéricos capazes de compensar estas correntes. A Figura

30 apresenta as correntes do elemento diferencial ao

habilitarmos este algoritmo, note na seção do plano alfa

que este algoritmo arrasta o ponto de operação novamente

para o ponto ideal.

Fig.30 – Ponto de Operação do Sistema Com

Compensação no Software do Relé

VI – CONCLUSÕES

Com a evolução das tecnologias de comunicação

esquemas de proteção antes considerados impraticáveis

voltam a tornar-se objeto de estudo.

Proteção diferencial para linhas de transmissão possui

peculiaridades quanto aos ajustes necessários. Neste

cenário surge a característica de proteção no plano alfa,

sendo esta mais ajustável a estes aspectos.

0 0.03333 0.06667 0.1 0.13333 0.16667 0.2

-6.90126

-4.51294

-2.12461

0.26371

2.65203

5.04036

7.42868

kA

I552A I552B I552C

-186.41963

-124.2135

-62.0074

0.1987

62.4048

124.6109

186.81703

kV

S1) N4 S1) N5 S1) N6

0 0.03333 0.06667 0.1 0.13333 0.16667 0.2

-6.55677

-4.27827

-1.99976

0.27875

2.55725

4.83576

7.11427

kA

I652A I652B I652C

-185.3101

-123.5401

-61.77

0

61.77

123.5401

185.31012

kV

S1) N10 S1) N11 S1) N12

12

O experimento montado em laboratório apresentou as

características necessárias do elemento 87L.

Fica evidente que a influência das correntes capacitivas é

fundamental no ajuste dos relés. Principalmente para

linhas longas, onde estas podem assumir valores

expressivos. Neste caso a solução tradicional, ajustar o

pickup acima do valor desta corrente, pode afetar

bruscamente a sensibilidade do esquema, desta forma

algoritmos para remoção destas correntes são essenciais.

VII – AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu pai, Rodolfo F C Guimarães, pelo

carinho, apoio e pelo conhecimento que me passou. A

minha namorada, Ligia Cintra Pereira, pelos cinco anos de

faculdade juntos. Aos professores, Ronaldo Rossi e Paulo

Marcio, pela orientação. Ao professor, Antônio Eduardo

Hermeto, pelas oportunidades dadas dentro da

universidade. E por fim, aos professores e alunos de

doutorado do CERIn, em especial Carlos Villegas.

VIII – REFERÊNCIAS

[1] W. A. Elmore, “Protective Relaying – Theory and

Application”, Ed. Marcel Dekker 2nd. Edition, NY/USA-

2003.

[2] W. D. Jr Stevenson, “Elements of Power System

Analysis”, Ed.Mc.Graw-Hill 3rd. Edition, NY – USA.

[3] R. Rossi, “Proteção de Sistemas Elétricos”, FUPAI,

Itajubá/MG, 2014.

[4] Y. L. Ren, Z. Q. Bo, J. H. He, A. Klimek, “An

Integrated Relay For Differential Protection Of

Transmission Lines”, International Conference on Power

System Technology and IEEE Power India Conference,

2008.

[5] G. Sivanagaraju, S. Chakrabarti, S. C. Srivastava,

“Uncertainty In Transmission Line Parameters: Estimation

And Impact On Line Current Differential Protection”,

IEEE Transactions on Instrumentation and Measurement,

2013.

[6] T. Kase, Y. Kurosawa, H. Amo, “Charging Current

Compensation For Distance Protection”, IEEE Power

Engineering Society General Meeting, 2005.

[7] Z. Gajic, I. Brncic, F. Rios, “Multi-Terminal Line

Differential Protection With Innovative Charging Current

Compensation Algorithm”, International Conference on

Developments in Power System Protection, 2010.

[8] L.F. Santos, P.M. Silveira, “Evaluation of Numerical

Current Differential Protection Algorithms for Series

Compensated Transmission Lines”, IEEE/PES

Transmission & Distribution Conference and Exposition,

2006.

[9] K. Zimmerman, D. Costello, “A Practical Approach to

Line Current Differential Testing” Annual Conference for

Protective Relay Engineers, 2013.

[10] B. Kasztenny, G. Benmouyal, H. J. Altuve, N.

Fischer, “Tutorial on operating characteristics of

microprocessor-based multiterminal line current

differential relays”, Annual Western Protective Relay

Conference, 2011.

[11] H. J. A. Ferrer, E. O. Schweitzer III, “Modern

Solutions For Protection, Control, And Monitoring Of

Eletric Power Systems” Schweitzer Engineering

Laboratories, 2010.

[12] J. Roberts, D Tziouvaras, G Benmouyal, H. J.

Altuve, “The Effect of Multi-Principle Line Protection on

Dependability and Security”, Conference for Protective

Relay Engineers, 2001.

[13] E. C. Molas, “Fundamentação Teórica Da Proteção

Diferencial De Linhas De Transmissão”, Dissertação de

Mestrado, UNB-2011.

[14] C. A. V. Guerrero, “Uso Do RTDS Em Testes De

Esquemas De Teleproteção O Padrão IEC 61850”,

Dissertação de Mestrado, UNIFEI-2011.

[15] Manual RTDS, Laboratório CERIn UNIFEI, 2015.

[16] Manual RELE SEL 411L, Schweitzer Engineering

Laboratories, Inc, Pullman Washington, 2015.

[17] Catalogo Nexans Cabos de Aluminio, Nexans Brasil

SA, 2015.

BIOGRAFIA:

João M Corrêa Guimarães Nasceu em Santos (SP), em 1990.

Ingressante na UNIFEI em 2011, curso

de Engenharia Elétrica. Realizou

pesquisas no Centro de Excelência em

Eficiência Energética – Excen e Centro

de Excelência em Redes Elétricas

Inteligentes – CERIn onde também foi

estagiário. Foi monitor de ELE506, ELE402 e EEL621.

Possui interesses em Proteção de Sistemas Elétricos,

Transitórios Eletromagnéticos e Maquinas Elétricas.