18
Revista de Administração FACES Journal ISSN: 1517-8900 [email protected] Universidade FUMEC Brasil Ikeda, Ana Akemi; Pires Giavina Bianchi, Eliane Maria CONSIDERAÇÕES SOBRE USOS E APLICAÇÕES DA GROUNDED THEORY EM ADMINISTRAÇÃO Revista de Administração FACES Journal, vol. 8, núm. 2, abril-junio, 2009, pp. 107-122 Universidade FUMEC Minas Gerais, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=194016886008 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Redalyc.CONSIDERAÇÕES SOBRE USOS E ... de pesquisa. O paradigma qualitativo sur-ge porque alguns cientistas sociais questionaram o paradigma quantitativo. Creswell (1994) o es-pecifica

  • Upload
    hahanh

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Revista de Administração FACES Journal

ISSN: 1517-8900

[email protected]

Universidade FUMEC

Brasil

Ikeda, Ana Akemi; Pires Giavina Bianchi, Eliane Maria

CONSIDERAÇÕES SOBRE USOS E APLICAÇÕES DA GROUNDED THEORY EM

ADMINISTRAÇÃO

Revista de Administração FACES Journal, vol. 8, núm. 2, abril-junio, 2009, pp. 107-122

Universidade FUMEC

Minas Gerais, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=194016886008

Como citar este artigo

Número completo

Mais artigos

Home da revista no Redalyc

Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009106

CUSTOMER DEFECTION: INSIGHTS FROM A MAJOR BRAZILIAN NEWSPAPER PUBLISHER

A GROUNDTEHEORY NAADMINISTRAÇÃO

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009 107

KARINE DE ALMEIDA KARAM . JORGE FERREIRA DA SILVA . FLÁVIA DE HOLANDA SCHMIDT . JORGE MANOEL TEIXEIRA CARNEIRO

A GROUND THEORY NA ADMINISTRAÇÃO

CONSIDERAÇÕES SOBRE USOS E APLICAÇÕES DAGROUNDED THEORY EM ADMINISTRAÇÃO

CONSIDERATIONS ON GROUNDED THEORY USES AND APPLICATIONS INBUSINESS

Ana Akemi IkedaUniversidade de São Paulo

Eliane Maria Pires Giavina BianchiUniversidade de São Paulo

RESUMO

O objetivo deste artigo é fazer algumas reflexões sobre usos e aplicações da groundedtheory (GT) na área de Administração. Sendo uma ferramenta de pesquisa sob o paradig-ma principalmente qualitativo, desde o início, em 1967, suscitou vários debates no fórumacadêmico. Seus autores originais desenvolveram, em suas trajetórias, pensamentos distin-tos a respeito do processo de coleta e análise de dados, da postura do pesquisador e daforma de obtenção do resultado da pesquisa: teoria fundamentada em dados empíricos.Em função disso, é feita uma pesquisa bibliográfica da história de sua evolução, a clarifica-ção do processo do trabalho e uma análise dos seus fundamentos na área de Administra-ção. A intenção do artigo é contribuir com pesquisadores, trazendo informações relevantesque suportem os processos de escolha e de execução dessa técnica de pesquisa. A conclu-são é que a GT é complexa, rica e poderosa, sendo bastante aplicável na administração, nocontexto social.

PALAVRAS-CHAVE

Pesquisa qualitativa. Administração. Metodologia. Teoria fundamentada.

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009108

CUSTOMER DEFECTION: INSIGHTS FROM A MAJOR BRAZILIAN NEWSPAPER PUBLISHER

ABSTRACT

The aim of this paper is to make some reflections on uses and applications of groundedtheory (GT) in Business. As a research tool, especially in the qualitative paradigm, since itsinception in 1967, prompted numerous debates in the academic forum. Original authorshave developed in their careers, different thoughts about the process of collecting andanalyzing data, the stance of the researcher and how to obtain the result of research: theorybased on empirical data. As a result, there is a bibliography of the history of its evolution, theclarification of the work process and a review of its foundations in the area of Administration.The intention of the article is to contribute to researchers, bringing relevant information tosupport the processes of choice and implementation of this research technique. Theconclusion is that the GT is complex, rich and powerful, and very applicable in theadministration, the social context.

KEYWORDS

Qualitative research. Administration. Methodology. Grounded theory.

INTRODUÇÃO

A utilização da pesquisa qualitativa vem au-mentando nos últimos anos nas Ciências Sociaise, em especial, na área de Administração. A Groun-ded Theory (GT) foi iniciada por Barney Glaser eAnselm Strauss, em 1967, sendo apontada pormuitos pesquisadores como uma das formas maispuras de pesquisa qualitativa. Evoluiu por aproxi-madamente 30 anos, enquanto esses autores tra-balharam juntos ou em outras parcerias para seudesenvolvimento e aprimoramento. Somente apartir dos anos 90 ela começou a ser utilizada emAdministração. A bibliografia desenvolvida nestetrabalho é, sobretudo, internacional, com diversosautores que se dedicaram e investiram tempo desuas carreiras de pesquisa ao estudo da GT. Sãoexemplos: Christina Goulding e Kathy Charmaz.No Brasil, poucos trabalhos de pesquisa ou mes-

mo artigos sobre o método vêm sendo desenvol-vidos na área de Administração, podendo-se citarentre eles o de Bacellar (2005) e Ichikawa e San-tos (2001). O seu uso é mais freqüente nas áreasde sociologia, psicologia e enfermagem.

Os objetivos deste artigo são analisar a GT noparadigma qualitativo de pesquisa: Glaser (2008),recentemente, introduziu o uso quantitativo datécnica; e discutir a evolução da teoria, o processode trabalho, as vantagens ou não de sua utiliza-ção, o papel do pesquisador, o desenvolvimentode trabalhos utilizando-a em Administração e suasperspectivas de futuro.

O QUE É A GROUNDED THEORY (GT)?

Segundo o Grounded Theory Institute (2008) to-

das as pesquisas são fundamentadas (grounded)

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009 109

KARINE DE ALMEIDA KARAM . JORGE FERREIRA DA SILVA . FLÁVIA DE HOLANDA SCHMIDT . JORGE MANOEL TEIXEIRA CARNEIRO

em dados, mas poucos estudos produzem uma

“teoria fundamentada”. A GT é uma metodologia

indutiva. É a geração sistemática de teoria a partir

de pesquisa sistemática. É um conjunto de proce-

dimentos de pesquisa rigoroso que leva à emer-

gência de categorias conceituais. Esses conceitos/

categorias são relacionados como explicação teó-

rica da(s) ação(ões) que continuamente

resolve(m) a principal preocupação dos participan-

tes na área substantiva. A GT pode ser usada tanto

com dados qualitativos quanto quantitativos.

Como a GT usada com dados quantitativosainda é recente e, portanto, ainda pouco desen-volvida e discutida, neste trabalho a discussão fo-cará a GT de cunho qualitativo. Glaser e Strauss(1967, p. 32-33) entendiam existir dois tipos bá-sicos de teorias: as formais e as substantivas. Oprimeiro tipo é composto do que os autores cha-mam as “grandes” teorias, conceituais e abrangen-tes, enquanto que o segundo tipo se refere a ex-plicações para situações cotidianas sendo, portan-to, mais simples e acessíveis. Para Glaser e Strauss(1967), o tipo de teoria a ser desenvolvido pelaGT se enquadra no segundo tipo, das teorias subs-tantivas, ou a que foi desenvolvida por uma áreade investigação empírica. Segundo Hutchinson(1988, p. 124), Glaser e Strauss acreditavam quea GT poderia ser usada para gerar teorias substan-tivas que, ao contrário das grandes teorias formais,explicariam melhor as áreas específicas da pes-quisa empírica, já que essas teorias nasceriam di-retamente de dados do mundo real. O termo GTé traduzido para o português como teoria funda-mentada, teoria fundamentada em dados ou teo-ria embasada. Para Goulding (2002, p. 43), a GTé um método qualitativo, tendo, portanto, muitas

semelhanças com os demais métodos qualitati-vos, tais como a etnografia (estudo descritivo einterpretativo da realidade do grupo) e a fenome-nologia, ou seja, quando há uma forte ênfase nasubjetividade da realidade construída pelos res-pondentes (HANNABUSS, 1996). Embora sua fi-nalidade seja a construção de teorias, sua utiliza-ção não precisa necessariamente ficar restrita aospesquisadores que têm esse objetivo de pesqui-sa. Para Strauss e Corbin (2000, p. 288), “o pes-quisador pode usar alguns, mas não todos os pro-cedimentos para satisfazer seus objetivos de pes-quisa”. A GT sofre forte influência do interacionis-mo simbólico, uma perspectiva metodológica fre-quentemente discutida na literatura de sociologiae de psicologia social, que compreende: observare entender o comportamento a partir do pontode vista dos participantes e aprender sobre omundo dos participantes, suas interpretações desi mesmos no contexto de determinadas intera-ções e sobre as propriedades dinâmicas das inte-rações (LOCKE, 2001, p. 25). Para Denzin (2001,p. 119), interpretar é “a tentativa de explicar ossignificados”. O Quadro 1 compara alguns pontosentre GT, fenomenologia, etnografia e o interacio-nismo simbólico, já que possuem bastantes simi-laridades e diferenças sutis. Eles têm em comum,por exemplo, a investigação qualitativa, interpreta-tiva e subjetiva da vida dos indivíduos e seus com-portamentos; a observação e o uso de dados nãoestruturados. Vale ressaltar que os campos de to-dos eles são vastos e difusos, sendo difícil defini-los de forma única e objetiva. Portanto, minimizá-los em apenas uma lista de suas principais carac-terísticas é violentar as complexidades da pesqui-sa e de seu desenvolvimento histórico (ATKINSONet al., 2001).

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009110

CUSTOMER DEFECTION: INSIGHTS FROM A MAJOR BRAZILIAN NEWSPAPER PUBLISHER

QU

AD

RO

1

Com

para

ções

ent

re g

roun

ded

theo

ry, f

enom

enol

ogia

, etn

ogra

fia

e in

tera

cion

ism

o si

mbó

lico

Font

e: B

asea

do e

m N

atas

an (

1973

), ap

ud G

ould

ing

(200

5); S

aran

tako

s (1

993)

; Par

ker,

Lee

D.;

Roff

ey (

1997

); M

arsh

all (

1998

); S

trau

ss; C

orbi

n(1

999)

; Gou

ldin

g (1

999)

; A

gafo

noff

(20

06),

apud

Pet

tigr

ew (

2000

); S

clen

ker

(198

0), a

pud

Men

donç

a (2

001)

.

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009 111

KARINE DE ALMEIDA KARAM . JORGE FERREIRA DA SILVA . FLÁVIA DE HOLANDA SCHMIDT . JORGE MANOEL TEIXEIRA CARNEIRO

Para contextualizar e desenvolver a definiçãode GT faz-se necessário discutir o paradigma qua-litativo de pesquisa. O paradigma qualitativo sur-ge porque alguns cientistas sociais questionaramo paradigma quantitativo. Creswell (1994) o es-pecifica como paradigma de uma realização cien-tífica reconhecida, que fornece o problema e so-lução-modelo para uma comunidade de profissi-onais. Baseando-se nisso, um pesquisador refletesuas crenças e forma de ver o mundo de acordocom a forma que projeta sua pesquisa, coleta eanalisa informações e até, de como redige seutrabalho. Já paradigma quantitativo vem das ciên-cias naturais, em que se estudam objetos e sechega a conclusões universais e experimentos re-petíveis. Esse processo tem também um caráterdualista, no qual existe uma pessoa observadorae um objeto de estudo (FERNANDES; MAIA,2001).

Com o interesse nas ciências sociais a partirdo século XIX, começaram a aparecer métodosde estudo com o pressuposto qualitativo (COLLIS;HUSSEY, 2005), apesar de a metodologia quanti-tativa ainda continuar a ser bastante utilizada, tal-vez por maior conhecimento das técnicas por par-te do pesquisador, ou pela universalidade de re-sultados proposta pelo uso das mesmas. Ademais,os métodos qualitativos sempre foram muito ques-tionados, em vários aspectos, especialmente ocontraponto ao citado anteriormente: processo detrabalho, não universalidade dos resultados e sub-jetividade de análise, tanto do ponto de vista doenvolvimento do pesquisador, quanto ao caráterqualitativo dos resultados. Independente das críti-cas ao processo qualitativo, Glaser e Strauss pro-curavam uma forma de aumentar a validade dasanálises em seus estudos, isto é, diminuir a faltade correspondência à realidade em seus traba-lhos sociológicos. Os dois estavam trabalhando naUniversidade da Califórnia, em São Francisco, es-tudando a morte de doentes terminais em con-texto hospitalar quando escreveram, em 1967, TheDiscovery of Grounded Theory: strategies for qua-

litative research (CHARMAZ, 2006). Alguns pres-supostos são assumidos por esses autores nodesenvolvimento e proposição da GT. O primeirodeles é que as relações pesquisador, realidade eteoria são contínuas e intrínsecas, isto é, o pesqui-sador interage com a realidade e formata a teoriade forma contínua ao longo do tempo e processo(FERNANDES; MAIA, 2001). O segundo é que ateoria evolui durante o processo de pesquisa e éo resultado de contínua interpolação de dados eanálise (GOULDING, 1998). Com o exposto, pode-se acrescentar que é um processo indutivo utiliza-do para gerar teoria pela coleta e análise de da-dos de forma sistemática e simultânea. Por reque-rer um contínuo questionamento, os autores fo-ram bastante específicos sobre os critérios a quea teoria final desenvolvida deveria obedecer: via-bilizar a predição e a explicação do comportamen-to, ser útil para o avanço teórico na área da socio-logia, ser aplicável na prática, manter uma pers-pectiva em comportamento, guiar e suportar umestilo de pesquisa para algumas áreas do com-portamento. Além disso, a teoria deveria contercategorias e hipóteses bem claramente desenvol-vidas que poderiam ser verificadas em estudosfuturos (GLASER; STRAUSS, 1967). No exercícioda GT, como em outras formas de pesquisa qua-litativa (a etnologia e a fenomenologia, por exem-plo), pode-se utilizar qualquer tipo de informação,vinda de qualquer fonte (entrevistas, observação,materiais escritos e relações envolvendo todasessas fontes). Recomenda-se a utilização da GTem situações em que se conhece pouco e não setêm referências sobre aquele assunto. Embora oobjetivo seja o desenvolvimento da teoria, não sepode dizer que seja um processo onde não seconsidera a teoria, pois um pesquisador traz con-sigo conhecimento de teorias e outros trabalhosempíricos e, durante o processo de trabalho, pode-se recorrer a fundamentos teóricos para auxiliar otratamento dos dados.

Como a descrição apresentada possa parecerárida e pouco operacional, faz-se necessário expli-

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009112

CUSTOMER DEFECTION: INSIGHTS FROM A MAJOR BRAZILIAN NEWSPAPER PUBLISHER

car a evolução e o processo de pesquisa, que se-rão objetos de discussão dos próximos itens.

A EVOLUÇÃO DA GT

Após o trabalho inicial, os autores continua-ram a trabalhar no método - inclusive com outrosparceiros - ao longo de aproximadamente 30 anos,até a morte de Strauss, em 1996. Eles evoluírama teoria com visões bem distintas. Hoje, pode-seutilizar qualquer das vertentes, ou mesmo umajunção destas. Talvez este tenha sido o grande“calcanhar de alquiles” para que a GT tenha sidopouco desenvolvida em termos de aplicação prá-tica com usos e resultados no campo da Adminis-tração.

Pode-se dizer que a GT já nasceu com ques-tões críticas e polêmicas. A primeira delas foi opróprio nome: que representava um desafio àabordagem tradicional - quantitativa - já que fugiaao processo de suporte teórico impondo regrasas coletas de dados e sua análise posterior (ICHI-KAWA; SANTOS, 2001). No livro The Discovery ofGrounded Theory, os autores foram cuidadososnos pressupostos e critérios, mas investiram pou-co na descrição de procedimentos de trabalho.Ao longo da vida, ao buscar detalhar um processode operacionalização de pesquisa, esses pesqui-sadores desenvolveram dois métodos distintosque, em consequência, criaram confusões e polê-micas. Isso possivelmente se deva às diferençasconceituais fundamentais entre os autores que,em um momento no tempo, trabalhando juntos,conseguiram se compor; mas, ao longo do tem-po, e com vários novos trabalhos, ressaltaram cadavez mais as diferenças.

Para explicar as diferenças conceituais, faz-senecessário traçar o perfil de cada autor. Glaser éformado em Colúmbia, “em filosofia analítica epesquisa quantitativa, mas estudou com Paul La-zarsfeld em métodos inovadores e qualitativos.Tem uma posição radical de que o pesquisadordeve ir ao campo sem uma teoria pré-determina-

da, para não enviesar sua interpretação” (STRUE-BING, 2000, apud ICHIKAWA; SANTOS, 2001). JáStrauss, estudou em Chicago “com Herbert Blu-mer e Everett C. Hugles e trabalhava no campo deforma pragmática. O seu pressuposto era de queo conhecimento prévio é um meio indispensávelpara que os dados empíricos tenham sentido”(STRUEBING, 2000, apud ICHIKAWA; SANTOS,2001). Essas diferenças básicas, no início nãoapareceram. O trabalho do primeiro livro foi bemelaborado e completo e até apresentava, entre osprincípios, condições explícitas que se apoiavamsobre uma ou outra das posturas mencionadasanteriormente, mas sem contradições. Por exem-plo, sobre o pesquisador, eles afirmavam que seo mesmo se comprometia como uma teoria es-pecífica pré-concebida pode-se não conseguir olharalém desta teoria (GLASER; STRAUSS, 1967).

Ao longo de suas carreiras, os autores desen-volveram trabalhos em áreas diversas e voltarama discutir e estudar a GT. Em 1990, Strauss, juntocom Juliet Corbin, escreveu Basics of QualitativeResearch: grounded theory procedures and tech-niques. Pelo título já se pode entender a intençãodesses autores. O objetivo foi sistematizar o mé-todo de campo e análise dos dados. Nesse livro,além de voltar às origens de Strauss, isto é, refor-çar que o conhecimento prévio aplicado ou umabase de literatura pode ser utilizado e é recomen-dável ao método, a nova dupla elaborou um pro-cesso sistemático de codificação que guiaria odesenvolvimento da pesquisa realizada sob ométodo grounded. Glaser reagiu ao livro escre-vendo, em 1992, Basics of grounded theory ana-lisys, que completa seu exemplar anterior, de 1978,Theoretical Sensitivity. No primeiro livro, ele escre-ve sobre a evolução da elaboração do problemade pesquisa, que pode acontecer ao longo dapesquisa e se posiciona com relação à groundedcomo um método bastante livre, baseado em ex-periências anteriores, habilidade de campo e ana-lítica do pesquisador e na busca da descoberta dateoria. No segundo, questiona o processo de co-

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009 113

KARINE DE ALMEIDA KARAM . JORGE FERREIRA DA SILVA . FLÁVIA DE HOLANDA SCHMIDT . JORGE MANOEL TEIXEIRA CARNEIRO

dificação proposto por Strauss e Corbin, argumen-tando que o método qualitativo proposto tinha porobjetivo quantificar descobertas. O debate entreeles continuou até a morte de Strauss, em 1996.Porém, muitos autores discutem esse debate emvários artigos e livros sobre a GT, sobretudo sobre

QUADRO 2

Uma comparação da metodologia grounded theory segundo orientação de Strauss eCorbin versus Glaser.

o perfil da cada autor, as controvérsias, as diferen-ças de postura e evolução do método. O dilemacentral e principal nesse debate é se a teoria com-pele à análise de dados ou emerge desta análise.O Quadro 2 mostra a visão, de Parker e Roffey(1997), das diferenças entre os autores do método.

Fonte: Adaptado de Parker, Roffey (1997, p. 221).

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009114

CUSTOMER DEFECTION: INSIGHTS FROM A MAJOR BRAZILIAN NEWSPAPER PUBLISHER

Em resumo, as maiores diferenças recaem em:(i) abordagem de geração do problema de pes-quisa em foco; (ii) grau de formalidade na estru-tura dos dados de codificação; (iii) o grau de for-malidade da geração de uma estrutura teórica.

Trazendo a questão para a aplicação nas ciên-cias sociais, o administrador pesquisador passa ater um dilema com o método. Primeiro, para en-tendê-lo, deve ler várias publicações, em algunscasos começando pelo primeiro livro, a base de1967, que é um livro aplicado à sociologia e nãoà administração. Locke ressalta que o método foiinicialmente desenvolvido como respostas à faltade teorias geradas na sociologia (LOCKE, 1996).Depois, deve-se fazer a evolução dos processos eoptar ou comungar as práticas explicitando suasescolhas. Não é à toa que o método ainda não éutilizado em plenitude. Além disso, talvez haja umapredileção pelo desenvolvimento de Strauss eCorbin, mais associável ao paradigma quantitati-vo, em função do papel representado pelas técni-cas quantitativas na pesquisa e pela maior facili-dade de se justificar procedimentos de trabalho.

O PROCESSO DE PESQUISA DA GT

Em função de este artigo ser direcionado paraa área de Administração dentro das Ciências Soci-ais, é necessário fazer uma opção sobre qual ver-tente de desenvolvimento dos autores um pes-quisador deve utilizar, e, nesse caso, enfocá-locomo suporte para a análise do método. Glaserpropõe um método que traz mais riscos e é me-nos focado, enquanto Strauss pode ser visto comomais mecanicista e com menos flexibilidade. Comoos adjetivos mencionados são utilizados de formaextremada por outros autores, opta-se aqui pordesenvolver e posicionar o método formulado porStrauss, com algumas menções ao posicionamentode Glaser. Essa licença de uso do método é base-ada nas análises dos debates existentes na litera-tura e por ser, também, um processo realizadopor outros pesquisadores. A explicação do méto-

do de pesquisa é necessária já que, em várias bi-bliografias, a descrição e explicação do processode trabalho são mantidas em segundo plano. Semo conhecimento do processo de trabalho e po-tenciais resultados, fica difícil fazer a escolha dautilização da GT.

Definindo-se a questão da pesquisa

A questão de pesquisa é um fenômeno, defi-nido para o estudo. Dentro da definição de fenô-meno revista anteriormente, no paradigma quali-tativo, para a utilização da grounded, está maisrelacionada a um comportamento do que a umaação humana.

Para a definição da questão de pesquisa, de-vem-se formular questões abertas que induzam àanálise do comportamento com toda a profundi-dade que se faz necessário no uso deste método.A questão também deve induzir à flexibilidade deopções de busca e análise de dados, já que a pro-posta do método é desenvolver teoria. Glaser po-siciona fortemente que o problema pode evoluirou até mesmo se configurar ao longo do proces-so de pesquisa, isto é, novas questões vão apare-cendo (GOULDING, 2001). Como o processo éindutivo, embora pareça desafiador e arriscadoentrar num processo de pesquisa dessa forma,não é de todo desfocado; cabe ao pesquisadorsaber conduzir o processo e entender o encami-nhamento do problema de pesquisa.

Uma questão aparece se um pesquisador re-solver utilizar a GT como método de pesquisa paratratar um problema numa área da ciência socialque já tem bibliografia extensa, sólida e com baseempírica. Goulding (2001) justifica que se pode irem frente com a utilização do método, porém,deve-se posicionar a pesquisa no tempo, de for-ma que o contato recente com a literatura, nãoinfluencie e traga viés ao pesquisador.

Definindo-se os elementos de estudo

A definição dos elementos de estudo é trata-da no método grounded como Theoretical Sam-

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009 115

KARINE DE ALMEIDA KARAM . JORGE FERREIRA DA SILVA . FLÁVIA DE HOLANDA SCHMIDT . JORGE MANOEL TEIXEIRA CARNEIRO

pling. Este termo traduzido para o português podetrazer uma série de questionamentos: como umaamostra pode ser teórica? Entretanto, não se tratade uma amostra em seu sentido estatístico: umsubgrupo de uma população que representa oprincipal interesse de estudo e se apresenta demodo representativo para viabilizar posterior con-dução de análises estatísticas (COLLIS; HUSSEY,2005); nem de uma teoria – conjunto de concei-tos, definições e proposições inter-relacionados eantecipados para explicar e prever fenômenos(COOPER; SCHINDLER, 2003), suportando umaamostra. Buscar a teoria é o objetivo do método.O theoretical sampling são indivíduos, situações,eventos idealizados para o processo de análise.Intencionalmente forma-se um grupo alvo para oestudo e, ao longo dos trabalhos, o grupo se torna‘teórico’ à medida que suporta a criação de hipó-teses e desenvolve teorias. Esse grupo pode ir seajustando intencionalmente ao longo do proces-so, isto é, novos grupos podem ser definidos eincorporados ao processo. Assim, pode-se questi-onar duas coisas: representatividade desses ele-mentos de estudo ou ética referente à escolha dogrupo de estudo. Estes dois temas são alinhadose interligados. O grupo de elementos de estudo,embora sem necessidade de simbolizar um gru-po representativo estatístico (requisito não neces-sário no paradigma qualitativo de pesquisa), deveconter a variação e representar as tipicidades ne-cessárias para a pesquisa. Por outro lado, já que ogrupo é escolhido propositadamente e transfor-mado/completado intencionalmente pelo pesqui-sador ao longo dos trabalhos, o pesquisador pre-cisa mostrar o comportamento ético com relaçãoao seu compromisso com conteúdo e resultadode seu trabalho. Uma tendência, uma escolha pre-meditada pode colocar viés no resultado espera-do. No caso da GT não se tem compromissos, esim uma expectativa com busca de uma teoriafundamentada em achados empíricos. Uma pre-meditação de escolha de elementos pode seranalisada como um comportamento amoral para

com a ciência social (NICHOLSON, 1994). Podeparecer muito forte a introdução desta questãoética na fase do detalhamento do processo detrabalho deste método de pesquisa. Mas ela sefaz necessária dada a crescente preocupação coma questão ética nas ciências sociais e no mundo,e também serve como uma introdução e pano defundo para o processo a ser detalhado a seguir.

Dada a questão de pesquisa e a definição doselementos de estudo, parte-se para a coleta eanálise de dados, processo este bastante vincula-do ao comportamento, propósito, intenção e pre-paro do pesquisador.

O trabalho – baseado em comparações contínuase sucessivas

A forma de coleta de dados sugerida pela GTé um apanhado de várias outras técnicas qualitati-vas: entrevistas, análise de discursos, estudo decasos, análise de memorandos e outros documen-tos já escritos. Glaser (1978) coloca que o mate-rial de suporte já redigido é muito útil, já que oprocesso de comparações se baseia na real esco-lha e explicitação das palavras por parte dos en-volvidos como elementos de estudo e com omaterial já escrito é minimizado o viés por partedo pesquisador. Os dados coletados são desmem-brados, analisados e comparados, sucessivamen-te. A comparação de diferenças e similaridadesentre incidentes observados nos dados coletadosé que promovem a diretriz para a busca de novosdados. Uma boa forma de entender a sistemáticado processo de comparação sucessiva e obten-ção da teoria está no procedimento proposto porStrauss e Corbin (1990).

Codificação Aberta

A codificação aberta é a primeira fase do pro-cesso de análise de dados. Vale a pena relembrarque a análise pode levar o pesquisador a realizarnovas coletas, se necessário. Todo o material co-letado é transcrito, as frases analisadas, sendoselecionadas palavras-chave. Nessa fase, centenas

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009116

CUSTOMER DEFECTION: INSIGHTS FROM A MAJOR BRAZILIAN NEWSPAPER PUBLISHER

de palavras-chave são selecionadas. As palavras-chave gerarão conceitos (progressão de uma des-crição para explicar o relacionamento entre os in-cidentes (GOULDING, 2001)). Os conceitos sãoabstraídos pelo observador através da análise daspalavras-chave. Em alguns casos, podem ser aspróprias palavras. Para um pesquisador realizaresse processo, precisa fazer perguntas estratégi-cas ao conteúdo selecionado, como: Que estraté-gica resulta daquele comportamento? Há condi-ções diferentes de incidência? Como aconteceu ocomportamento? Aos conceitos sugeridos sãodesignadas propriedades, sempre em um proces-so de pensamento indutivo.

Percebe-se que o processo é bastante traba-lhoso e, mais que isso, depende da experiência eintenção do pesquisador. Mesmo utilizando-se deum software como suporte, a interface e foco deanálise são direcionados pelo pesquisador.

Codificação Axial:

A codificação axial é a fase seguinte do pro-cesso. Ela se faz necessária em função do grandevolume de conceitos originados na fase anterior.Trata-se agora de analisar os conceitos seleciona-dos, fazer uma reorganização e, destes, extrair umaideia central e suas subordinações. Não se tratade condições estratégicas ou consequências. Oprocesso de trabalho segue sendo o de fazer per-guntas para suportar o processo de análise. Nestafase, pode-se voltar ao campo, aumentar os ele-mentos de análise e acessá-los, ou mesmo voltarao conjunto de elementos inicial e fazer uma novabusca por dados. Esta fase é um processo deduti-vo e indutivo, isto é, deduz-se a codificação e seabre novamente a busca para validá-la ou não.Para simplificar o entendimento, faz sentido re-portar ao processo esquemático da Figura 1, apre-

sentada a seguir. Strauss e Corbin (1990) argu-mentam que, nesta fase, o processo de desenvol-ver a análise, através das percepções de diferen-ças, acrescenta densidade e variação à análise.

Codificação Seletiva:

Esta fase do processo, em inglês, tem o nomede core categorization. É a fase mais abstrata. Nestafase, o processo chega ao seu final, quando ocor-re a saturação teórica, isto é, nenhum novo dadoacrescenta novas nuances ao processo de análisee categorização. É validada e assume-se um com-promisso com a categoria central definida. A cate-goria central é a que recorre mais desde a primei-ra fase de codificação e é a que mais tempo levapara ser saturada (GLASER, 1978). A categoriacentral estabelece o paradigma da teoria. Os doisautores do desenvolvimento inicial da groundedtambém discordam com relação à forma de ela-boração da teoria. Em sua primeira formatação,Glaser e Strauss (1967) colocam que não há umúnico formato para se escrever a teoria. Já Strausse Corbin (1990) propõem um formato de narrati-va da seguinte forma: (A) condições levam ao (B)fenômeno, que surge num (C) contexto que levaa (D) ações e depois a (E) consequências.

Pode-se concluir, da descrição e explicaçãoanterior sobre o processo de trabalho utilizado pelaGT, que se trata de um método bastante comple-xo. Esta complexidade é percebida mesmo com asistematização proposta por Strauss e Corbin(1990). Se a proposta não tivesse sido realizada,eventualmente, cada pesquisador além de definire estudar um problema de pesquisa, ao utilizar ométodo grounded , para justificar seus resultadosobtidos, teria que investir um esforço grande naexplicação e validação do método de trabalho uti-lizado.

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009 117

KARINE DE ALMEIDA KARAM . JORGE FERREIRA DA SILVA . FLÁVIA DE HOLANDA SCHMIDT . JORGE MANOEL TEIXEIRA CARNEIRO

Tratando este artigo da aplicação e utilizaçãoda GT na Administração, após a análise da evolu-ção e a própria descrição e explicação do proces-so de trabalho, cabem algumas reflexões.

A primeira delas é sobre a utilização do méto-do no contexto organizacional. Em função de setratar de um processo dedutivo, indutivo e longo,o método, embora possa levar à obtenção de re-sultados densos e ricos, pode causar muita ansie-dade e instabilidade. Os elementos de estudo se-rão colaboradores de um contexto que podem nãocompreender a dinâmica do processo de trabalhoe se sentir ansiosos por contínuos acessos, oumesmo não entender esse processo. Pode-seimaginar uma perseguição obsessiva de determi-nado dado, questionando-se a ética da pesquisa.

FIGURA 1 – Construção de teoria por meio do processo de pesquisa

Fonte: GOULDING, 2002, p. 115.

Outra reflexão é sobre o desenvolvimento dateoria. Por um lado, como a teoria emerge da co-leta e análise dos dados, pode acontecer de o pro-cesso acabar em nada, isto é, a teoria não emergire a melhor decisão passa a ser abandonar o pro-cesso de trabalho. Em um contexto acadêmico,com elementos de estudo bem alinhados e escla-recidos com relação ao processo de trabalho, ofoco é o pesquisador. Por um lado, ao parar oprocesso pode-se questionar o seu conhecimen-to do método e a sua competência de pesquisa.Por outro lado, forçar a emersão da teoria podetrazer um questionamento de postura ética dessepesquisador. A segunda reflexão sobre o desen-volvimento da teoria realizada no contexto organi-zacional tem perspectivas similares. Um movimen-

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009118

CUSTOMER DEFECTION: INSIGHTS FROM A MAJOR BRAZILIAN NEWSPAPER PUBLISHER

to de parar o processo de pesquisa pode afetar ossentimentos dos colaboradores com relação à cre-dibilidade organizacional, em última instância.

A terceira reflexão é sobre a dimensão tempo.Ao se decidir pela utilização do método groun-ded, sabe-se que se terá um trabalho longo, masnão se sabe ao certo quando se acabará o pro-cesso. Forçar um final pode invalidar o processotodo, já que eventualmente a saturação teóricapode não ser obtida. A dimensão tempo traz areboque a questão recurso, seja humano ou fi-nanceiro. É importante entender em qual contex-to está se utilizando a GT para que a questão tem-po não seja um fator de restrição.

A quarta reflexão é sobre a aplicabilidade dateoria. Embora esse termo se restrinja ao fenôme-no estudado, no mundo acadêmico, onde há maiorcompreensão de metodologias de pesquisa, pode-se mais facilmente entender o processo de traba-lho e validar os achados. No contexto organizacio-nal, o resultado será teoria específica a comporta-mento ou grupo de comportamentos observados.Portanto, acham-se teorias múltiplas e, eventual-mente, a comunicação intra e interorganizacionais,em alguns aspectos, será dificultada, já que a apli-cabilidade dependeria de uma pesquisa realizadacom múltiplas organizações.

Uma última reflexão é feita sobre o avanço datécnica. Por ser pouco utilizada em Administração,pode fazer sentido investir um esforço acadêmicoem análises de potencial, utilização ou mesmoexperimentação da GT para que mais trabalhossobre sua aplicação sejam desenvolvidos.

RISCOS E POTENCIALIDADES DA GT – UM DE-BATE CONSTANTE

Após as reflexões apresentadas, parte-se ago-ra para uma análise dos riscos e potencialidadesdebatidos ao longo dos 40 anos de existência daGT.

Glaser e Strauss apontam em seu primeiro tra-balho, The Discovery of Grounded Theory: stra-

tegies for qualitative research (1967), alguns pon-tos fortes da GT que são recursivamente citadospor outros pesquisadores: a fundamentação dedados empíricos traz mais aproximação com a re-alidade; como se trata de análise de comporta-mento, é um método bastante efetivo para o es-tudo do comportamento humano; a ida ao cam-po com um referencial teórico em formação per-mite olhar além das teorias existentes, trazendonovas perspectivas e contribuindo para o desen-volvimento da sensibilidade do pesquisador. Semdúvida, olhar a GT sob essa perspectiva faz destauma proposta bastante eficiente e efetiva para apesquisa nas Ciências Sociais e, especificamente,para a Administração.

Por outro lado, a sua própria evolução, comdebates calorosos entre os pesquisadores origi-nais e todos os demais pesquisadores que desen-volveram análises sobre o debate original, acaboupor gerar uma lista de riscos e senões bem maio-res do que as potencialidades. De forma sucinta,os pontos de crítica ao método grounded concen-tram-se: na difícil operacionalização do processo– desde a definição inicial dos elementos de estu-do até a formulação da teoria, e no papel e postu-ra do pesquisador. Esse papel merece destaquena análise do método de pesquisa GT.

O PESQUISADOR DA GT

Embora se demonstre que a GT seja bastantecomplexa e que o debate sobre as vertentes me-todológicas tenha feito dela um processo contro-verso, não se pode deixar de mencionar o pesqui-sador no processo. O pesquisador desempenhaum papel fundamental. Mesmo utilizando a siste-mática de codificação proposta por Strauss e Cor-bin (1990), o pesquisador é parte inerente aoprocesso, seja porque já traz um conhecimentoprévio aplicado, seja no processo de selecionar oselementos de estudo (theoretical sampling), sejano exercício da sensibilidade durante as análisese definição das categorias, seja na paciência e or-ganização aplicadas na execução do método.

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009 119

KARINE DE ALMEIDA KARAM . JORGE FERREIRA DA SILVA . FLÁVIA DE HOLANDA SCHMIDT . JORGE MANOEL TEIXEIRA CARNEIRO

Cada um dos papéis, posturas ou atividadesmencionadas pode ter decorrências sérias em fun-ção da credibilidade do uso do método e da con-clusão dos resultados. Retoma-se a discussão éti-ca na qual é necessário garantir que conhecimen-to, intenção, propósito e foco são colocados a fa-vor da ciência social, tornando o pesquisador umagente de transformação, de agregação do conhe-cimento.

O USO DA GT EM ADMINISTRAÇÃO

A GT é um método de pesquisa relativamentenovo em administração. Além disso, a polêmicaexistencial da teoria retardou sua utilização na área,que começou de forma mais efetiva a partir dosanos 90.

Ao buscar referências em outros ramos dasCiências Sociais, como a Sociologia, e mesmo naPsicologia, encontra-se um volume maior de bibli-ografia que apresenta a mesma discussão sobreos recursos e capacidade do método, mas sem-pre com exemplos práticos de utilização. Fernan-des e Maia (2001), psicólogos portugueses, sãoum exemplo disso. Um de seus trabalhos trata dométodo e cita algumas aplicações – o estudo demulheres que apanham dos cônjuges, uma análi-se da tristeza ou o papel de psicólogos em pro-cessos terapêuticos. Embora elucidativos e presen-tes nessas áreas de estudo, o trabalho pode pare-cer muito distante do mundo organizacional e daAdministração. Eventualmente, um pesquisadorpode não optar pelo método por achar que asaplicações não são relacionadas à Administraçãoe, portanto, o método não se aplica a esse ramode pesquisa (vale lembrar que o livro The Disco-very of grounded... tinha como público-foco ossociólogos).

Dessa forma, é importante avaliar sobre a uti-lização do método em Administração como fatorincentivador do pesquisador desta área. Ichikawae Santos (2001) fizeram uma análise da utiliza-ção de métodos de pesquisa do paradigma quali-

tativo em trabalhos acadêmicos. O trabalho dasautoras teve como linha de partida uma pesquisafeita por Martins (1997), que analisou 126 tesese dissertações no período de 1980 a 1993, dasescolas consideradas referência na área de Admi-nistração do Brasil. No trabalho, fica evidente apredominância de método focalizando o paradig-ma quantitativo e, na minoria de trabalhos queutilizam métodos qualitativos, a diversidade oucombinação de técnicas utilizadas é grande.

Partington (2000) faz uma análise sobre oestudo do comportamento gerencial. Sua aborda-gem principal parte do pressuposto de que o com-portamento é um resultado de acordo com omodelo S-O-R (stimulus, organism, response). Elecontrapõe o método grounded como método deestudo para entender o comportamento sob omodelo citado. Após uma descrição do método edebate, propõe um método S-O-R grounded (quedefine teoria de uma forma mais simplificada eutiliza os dados sem as mesmas premissas origi-nais). Em suma, Partington estuda a GT, vê valida-de como método de trabalho qualitativo, mas pro-põe simplificação e customização de sua aplica-ção.

Parry (1998) analisa que liderança é um pro-cesso de influência social, mudança e transforma-ção. O estudo da liderança se deu por métodosquantitativos ao longo do tempo e necessitava demétodos qualitativos, dada a sua essência. O au-tor cita um trabalho realizado em três empresasde transporte na Inglaterra com utilização parcialda GT. Segundo Parry, foi possível ir além dos acha-dos convencionais e focar temas intrínsecos à li-derança como liderança informal e transformacio-nal.

Fica evidente que a utilização de métodos depesquisa qualitativos ainda está em fase de con-solidação e, dentro desta perspectiva, a GT é umaboa opção. Porém, muitas análises teóricas vêmsendo desenvolvidas e as aplicações práticas ain-da são poucas. Em alguns casos, não utilizam ométodo de forma integral.

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009120

CUSTOMER DEFECTION: INSIGHTS FROM A MAJOR BRAZILIAN NEWSPAPER PUBLISHER

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A GT pode ser considerada como uma técnicade pesquisa ainda em desenvolvimento dentro daAdministração. Isso porque a bibliografia predo-minante é descritiva da sua essência e definição edo processo de trabalho, sem grandes incursõesno universo das aplicações práticas. Além do tem-po levado para sua utilização em pesquisas emAdministração, as divergências entre seus princi-pais autores contribuíram para que a bibliografiasobre o método seja um fórum de discussão dasdiferenças conceituais, sem uma preocupaçãomaior com a real utilização do método, principal-mente. Trata-se de uma forma rica e complexa dese fazer pesquisa, fortemente dependente do pes-quisador.

Mesmo com os exemplos e relatos de suces-so em questões de administração: liderança, com-portamento de gestão e ensino em marketing, al-gumas das reflexões levantadas ao longo desteartigo, com relação ao uso na Administração, po-dem fazer um pesquisador pensar na adequaçãoda utilização da GT. Goulding (2005) coloca que,como o método emergiu da Sociologia, uma áreade investigação focada na sociedade e no indiví-

duo, a aplicação parece bastante apropriada paraas pesquisas que tenha implicações de compor-tamento. Entretanto, Gummesson (2003) salien-ta que, apesar de bastante citado nas CiênciasSociais, ainda é subutilizado em Administração eMarketing. Geiger e Turley (2003) e Goulding(2000) corroboram com essa idéia, afirmando que,embora os métodos interpretativos de investiga-ção tenham crescente aceitação em Administra-ção, a GT tem se mantido à margem desse de-senvolvimento.

Espera-se que este trabalho sirva de estímuloe provocação a pesquisadores. Estímulo por posi-cionar e explicar seu processo de trabalho, contri-buindo assim no processo de incentivar sua utili-zação; e, provocação, por suscitar questões relaci-onadas com o mundo organizacional e utilizaçãoda GT na Administração, como um desafio para opesquisador. Espera-se que conhecimentos futu-ros, desenvolvidos sobre o método e suas futurasaplicações, tirem da GT o cunho polêmico,viabilizando e validando novas aplicaçõesespecíficas. >

Recebido em: set. 2008 · Aprovado em: mar. 2009

Eliane Maria Pires Giavina Bianchi

Mestranda em administração de empresas pela FEAUniversidade de São Paulo

EndereçoGrupo Ultra.

Av. Brigadeiro Luiz Antônio, 1343 - Bela Vista01317-910 - Sao Paulo, SP - Brasil

Telefone: (011) 31777052 Fax: (011) [email protected]

Ana Akemi Ikeda

Professora Doutora, livre docente na área de marketing da FEAUniversidade de São Paulo

EndereçoUniversidade de São Paulo, Faculdade de Economia Administra-

ção e Contabilidade, Departamento de Administração.Av. Professor Luciano Gualberto, 908 Sala E 104 - BUTANTA

05508-900 - Sao Paulo, SP - BrasilTelefone: (11) 30915817 Fax: (11) 38184038

[email protected]

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 9 · n. 2 · p. 107-121 · abr./jun. 2009 121

FRANCISCO JOSÉ COSTA . ALEXANDRE ARAÚJO CAVANTE SOARES

121

REFERÊNCIAS

AGAFONOFF, Nick. Adapting ethno-graphic research methods to ad hoccommercial marketing research. Qua-Qua-Qua-Qua-Qua-litative Market Research: An Inter-litative Market Research: An Inter-litative Market Research: An Inter-litative Market Research: An Inter-litative Market Research: An Inter-national Journalnational Journalnational Journalnational Journalnational Journal, [S. l.], v. 9, n. 2, p.115-125, 2006.

ATKINSON, Paul; COFFEY, Amanda;DELAMONT, Sara; LOFLAND, John;LOFLAND, Lyn. Handbook of Eth-Handbook of Eth-Handbook of Eth-Handbook of Eth-Handbook of Eth-nononononogragragragragraphyphyphyphyphy. London: Sage Publicati-ons, 2001.

CHARMAZ, Kathy. ConstructingConstructingConstructingConstructingConstructingGround TheoryGround TheoryGround TheoryGround TheoryGround Theory: a practical guidethrough qualitative analysis. Thou-sands Oaks: Sage, 2006.

COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. Pesqui-Pesqui-Pesqui-Pesqui-Pesqui-sa em Administraçãosa em Administraçãosa em Administraçãosa em Administraçãosa em Administração. São Paulo:Bookman, 2005.

COOPER, D. R.; SCHINDLER, P. S. Mé-Mé-Mé-Mé-Mé-todos de pesquisa em Administra-todos de pesquisa em Administra-todos de pesquisa em Administra-todos de pesquisa em Administra-todos de pesquisa em Administra-çãoçãoçãoçãoção. Porto Alegre: Bookman, 2003.

CRESWELL, John W. Research De-Research De-Research De-Research De-Research De-signsignsignsignsign: qualitative & quantitative ap-proaches. Thousand Oaks: Sage Pu-blications, 1994.

DENZIN, Norman K. Interpretive In-Interpretive In-Interpretive In-Interpretive In-Interpretive In-teractionismteractionismteractionismteractionismteractionism. 2nd. ed. Thousand Oaks:Sage, 2001.

FERNANDES, E.; MAIA, A. MétodosMétodosMétodosMétodosMétodose técnicas de avaliaçãoe técnicas de avaliaçãoe técnicas de avaliaçãoe técnicas de avaliaçãoe técnicas de avaliação: contribui-ções para a prática e investigação psi-cológicas. Braga: Universidade doMinho, 2001.

GEIGER, Susi; TURLEY, Darach.Grounded theory in sales research: aninvestigation of salespeople’s clientrelationship. Journal of Business &Journal of Business &Journal of Business &Journal of Business &Journal of Business &Industrial MarketingIndustrial MarketingIndustrial MarketingIndustrial MarketingIndustrial Marketing, [S. l.], v. 18,n. 6/7, p. 580-594, 2003.

GLASER, Barney G. Doing quantita-Doing quantita-Doing quantita-Doing quantita-Doing quantita-tive grounded theorytive grounded theorytive grounded theorytive grounded theorytive grounded theory. Mill Valley,CA: Sociology Press, 2008.

GLASER, Barney G. Theoretical ela-boration of quantitative data. TheTheTheTheTheGrounded Theory Review, Grounded Theory Review, Grounded Theory Review, Grounded Theory Review, Grounded Theory Review, [S. l.], v.6, n. 3, p. 1-37, 2007.

GLASER, Barney G.; STRAUSS, AnselmL. The Discovery of Grounded The-The Discovery of Grounded The-The Discovery of Grounded The-The Discovery of Grounded The-The Discovery of Grounded The-

oryoryoryoryory: strategies for qualitative rese-arch. New York: Aldine de Gruyter,1967.

GOULDING, Christina. Grounded The-ory: The missing methodology on theinterpretive agenda. Qualitative Ma-Qualitative Ma-Qualitative Ma-Qualitative Ma-Qualitative Ma-rket Research, rket Research, rket Research, rket Research, rket Research, [S. l.], v. 1, n. 1, p.50-60, 1998.

GOULDING, Christina. Consumer re-search, interpretative paradigms andmethodological ambiguities, Europe-Europe-Europe-Europe-Europe-an Journal of Marketingan Journal of Marketingan Journal of Marketingan Journal of Marketingan Journal of Marketing, [S. l.], v.33, n. 9/10, p. 859-873, 1999.

GOULDING, Christina. Grounded the-ory: a magical formula or a potenti-al nightmare. The Marketing Revi-The Marketing Revi-The Marketing Revi-The Marketing Revi-The Marketing Revi-ewewewewew, [S. l.], v. 2, n.1, p. 21- 34, 2001.

GOULDING, Christina. GroundedGroundedGroundedGroundedGroundedtheorytheorytheorytheorytheory: a practical guide for mana-gement, business and market resear-chers. London: Sage Publications,2002.

GOULDING, Christina. Grounded the-ory, ethnography and phenomeno-logy. European Journal of Marke-European Journal of Marke-European Journal of Marke-European Journal of Marke-European Journal of Marke-tingtingtingtingting, [S. l.], v. 39, n. 3-4, p. 294-308, 2005.

GUMMESSON, Evert. All research isinterpretative! Journal of BusinessJournal of BusinessJournal of BusinessJournal of BusinessJournal of Business& Industrial Marketing& Industrial Marketing& Industrial Marketing& Industrial Marketing& Industrial Marketing, [S. l.], v.18, n. 6-7, p. 482-492, 2003.

HUTCHINSON, Sally. Education andgrounded theory. In: SHERMAN, Ro-bert R.; WEBB, Rodman D. Qualita-Qualita-Qualita-Qualita-Qualita-tive research in education: focustive research in education: focustive research in education: focustive research in education: focustive research in education: focusand methodand methodand methodand methodand method. London: Falmer Press,1988, p. 123-140.

ICHIKAWA, E. Y. ; SANTOS, L. W.Apresentando a Grounded Theory:uma nova abordagem qualitativa napesquisa organizacional. In: ENCON-TRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DEPÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EMADMINISTRAÇÃO, 25., 2001, Cam-pinas. Anais…Anais…Anais…Anais…Anais… Campinas: ENAMPAD,2001. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/enanpad2001-trabs-apresentados- epa.html>.Acesso em: 17 mar. 2006.

HANNABUSS, Stuart. Research inter-views. New Library WordNew Library WordNew Library WordNew Library WordNew Library Word, [S. l.], v.97, n. 1129, p. 22-30, 1996.

LOCKE, Karen D. Grounded theoryGrounded theoryGrounded theoryGrounded theoryGrounded theoryin management research. in management research. in management research. in management research. in management research. London:Sage Publications, 2001.

MENDONÇA, José Ricardo Costa de.Interacionismo simbólico: uma suges-tão metodológica para a pesquisa emadministração, In: ENCONTRO DA AS-SOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRA-DUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINIS-TRAÇÃO, 25., 2001, Campinas.Anais…Anais…Anais…Anais…Anais… Campinas: ENAMPAD, 2001.Disponível em: <http://www.anpad.org.br/enanpad2001-trabs-apresentados- epa.html>.Acesso em: 17 mar. 2006.

NATASAN, M. Edmund Husserl: Edmund Husserl: Edmund Husserl: Edmund Husserl: Edmund Husserl: phi-losophy of infinite tasks. Evanston,IL: Northwestern University Press,1973.

NICHOLSON, N. Ethics in organizati-ons: a framework for theory and re-search. Journal of Business Ethics,Journal of Business Ethics,Journal of Business Ethics,Journal of Business Ethics,Journal of Business Ethics,[S. l.], v.13, n. 8, p. 581-596, Aug.1994.

PARKER, Lee D.; ROFFEY, Bet H. Backto the drawing board: revisitinggrounded theory and the everydayaccount’s and manager’s reality. Ac-Ac-Ac-Ac-Ac-counting, Auditing & Accountabi-counting, Auditing & Accountabi-counting, Auditing & Accountabi-counting, Auditing & Accountabi-counting, Auditing & Accountabi-lity Journallity Journallity Journallity Journallity Journal , [S. l.], v. 10, n. 2, p.212-247, 1997.

PARRY, W. Grounded theory and so-cial process: a new direction for lea-dership research. Leadership Quar-Leadership Quar-Leadership Quar-Leadership Quar-Leadership Quar-terlyterlyterlyterlyterly, [S. l.], v. 9, n. 1, p. 85-106,Spring 1998.

PARTINGTON, D. Building groundedtheories of management action. Bri-Bri-Bri-Bri-Bri-tish Journal of Managementtish Journal of Managementtish Journal of Managementtish Journal of Managementtish Journal of Management, [S. l.],v. 11, p. 91-102, 2000.

PETTIGREW, Simone F. Ethnographyand grounded theory: a happy mar-riage? Advances in Consumer Re-Advances in Consumer Re-Advances in Consumer Re-Advances in Consumer Re-Advances in Consumer Re-searchsearchsearchsearchsearch, [S. l.], v. 27, n. 1, p. 256-260, 2000.

FACES R. Adm. · Belo Horizonte · v. 8 · n. 2 · p. 107-122 · abr./jun. 2009122

CUSTOMER DEFECTION: INSIGHTS FROM A MAJOR BRAZILIAN NEWSPAPER PUBLISHER

SARANTAKOS, S. Social ResearchSocial ResearchSocial ResearchSocial ResearchSocial Research.South Melbourne: MacMillan, 1993.

SCHLENKER, Barry R. ImpressionImpressionImpressionImpressionImpressionManagementManagementManagementManagementManagement: the self-concept, so-cial identity, and interpersonal rela-

tions. Brooks, USA: Cole, 1980.

STRAUSS A.; CORBIN, J. Basics ofBasics ofBasics ofBasics ofBasics ofQualitative Research: Qualitative Research: Qualitative Research: Qualitative Research: Qualitative Research: grounded the-ory procedures and techniques. Lon-don: Sage Publications, 1990.

THE GROUNDED THEORY INSTITUTE. Dis-ponível em:<www.groundedtheory.com>. Acessoem: 04 set. 2008.