Coleção Aplauso - Perfil de Ney Latorraca

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  • 1Ney Latorraca

    Uma Celebrao

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  • 2Geraldo AlckminArnaldo Madeira

    Diretor-presidente

    Diretor Vice-presidenteDiretor Industrial

    Diretor Financeiro eAdministrativo

    Ncleo de ProjetosInstitucionais

    Hubert Alqures

    Luiz Carlos FrigerioTeiji Tomioka

    Alexandre Alves Schneider

    Vera Lucia Wey

    Fundao Padre Anchieta

    PresidenteProjetos Especiais

    Diretor de Programao

    Marcos MendonaAdlia LombardiRita Okamura

    Rubens Ewald Filho

    Marcelo Pestana

    Carlos CirneAndressa VeronesiHeleusa Angelica Teixeira

    Coleo Aplauso Especial

    Coordenador-GeralCoordenador Operacional

    e Pesquisa IconogrficaProjeto Grfico

    e EditoraoAssistente Operacional

    Reviso Ortogrfica

    GovernadorSecretrio Chefe da Casa Civil

    Untitled-3 8/9/2008, 20:452

  • 3Ney LatorracaUma Celebrao

    por Tania Carvalho

    So Paulo, 2004

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  • 4Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Foi feito o depsito legal na Biblioteca Nacional (Lei n 1.825, de 20/12/1907).

    ndices para catlogo sistemtico:

    Imprensa Oficial do Estado de So Paulo

    Rua da Mooca, 1921 - Mooca03103-902 - So Paulo - SP - BrasilTel.: (0xx11) 6099-9800Fax: (0xx11) 6099-9674www.imprensaoficial.com.bre-mail: [email protected] 0800-123401

    1. Atores brasileiros : Biografia :Representaes pblicas : Artes 791.092

    Carvalho, TaniaNey Latorraca : uma celebrao / por Tania Carvalho. So Paulo :

    Imprensa Oficial do Estado de So Paulo : Cultura - Fundao PadreAnchieta,2004. 136p.: il. - (Coleo Aplauso. Srie Especial / coordenador-geral RubensEwald Filho)

    ISBN 85-7060-233-2 (obra completa) (Imprensa Oficial)ISBN 85-7060- (Imprensa Oficial)

    1. Atores e atrizes de teatro - Biografia 2. Atores e atrizes de televiso- Biografia 3. Latorraca, Ney I. Ewald Filho, Rubens. I. Ttulo. III. Srie.

    04-5927 CDD-791.092

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  • 5Ney, uma introduo

    difcil escrever sobre um amigo de toda a vida. Mas, por vezes, necessrio.

    Uma das filosofias da Coleo Aplauso, que a Imprensa Oficial est publicando,

    fazer justia, sempre que possvel em vida, ao trabalho de nossos grandes

    artistas e profissionais, reconhecendo a herana que eles nos deixam. E que

    no tem preo. Cada edio nossa tambm um agradecimento a tantos mo-

    mentos de alegria, emoo e informao que eles nos deram. E tambm um

    registro histrico de momentos marcantes de nossa cultura e poca.

    Embora j tenha havido um livro biogrfico de Ney Latorraca, este no conse-

    guiu captar um elemento fundamental no personagem: o senso de humor.

    Qualquer pessoa que tenha tido a sorte de trabalhar ou conviver com Ney sabe

    disso: ele uma das pessoas mais engraadas e divertidas que conheo. Tem

    expresses prprias, caretas, gestos, que so to comunicativos que em pouco

    tempo todo o grupo o est imitando, sem se dar conta. Viramos todos pequenos

    Neys.

    Quem viu Irma Vap (e quem no viu?) sabe bem como ele pegou um papel de

    coadjuvante e o transformou, com improviso, num duelo entre dois grandes

    atores como pouco se viu nos palcos brasileiros. No incio dos anos 70, tive um

    projeto de fazer um filme chamado Cordo Umbilical, justamente com Ney,

    Marco Nanini, Marlia Pra e Dbora Duarte (com quem Ney fez o grande xito

    Anarquistas, Graas a Deus, que confessa ser seu papel preferido). O filme nunca

    saiu, mas minha intuio estava certa, eles todos combinavam.

    Ney est presente em minha vida desde Santos, no comeo dos anos 60. Quando

    o conheci fiquei assustado com aquela vitalidade, aquele despudoramento,

    aquele talento to bvio e evidente. E que no pedia desculpas. Ao contrrio,

    se assumia. Dizia que ia ser o maior ator do Brasil. E pronto.

    Foi justamente por ser to assumido que o aceitei como amigo (porque ele fez

    uma grande campanha para me conquistar. Quando algum no gosta dele

    primeira vista, ele faz tudo para desfazer essa impresso). Mas, ao contrrio do

    que possa parecer, no difcil ser seu amigo.

    Sempre bem informado, pode parecer egocntrico, mas nunca deixou de fre-

    qentar minha famlia, ser amigo prximo de minha me Elza (com quem manti-

    nha longas conversas telefnicas, at o fim de sua vida). Nunca deixou, tambm,

    de me ouvir e apoiar. Foi ele quem fez a narrao do nico curta-metragem

    que dirigi (quando ainda no era famoso). E que vi muitas vezes comprar brigas

    por mim, quando sabia eu ser injustiado. No s por mim.

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  • 6Ney odeia injustias e capaz de ir ao presidente da Repblica, ao papa, na

    tentativa de corrigi-las. Ainda mais se a vtima for seu amigo. Pelos amigos ele

    at mente, acentuando qualidades que infelizmente no temos, contatos que

    estamos longe de exercer (durante anos, ele garantiu a todos, com a maior

    convico, que eu era ntimo de Elizabeth Taylor).

    Tambm foi o melhor filho que conheci. Nena, ou Dona Nena, era uma mulher

    muito especial. Com Ney, formava uma dupla imbatvel. Um comeava uma

    frase que o outro completava. Eram unha e carne, o mesmo esprito, talvez a

    mesma pessoa. Por isso o seu falecimento foi de tal forma marcante e, porque

    no confessar, traumatizante. Ney parecia ter perdido o rumo, ficado sem bali-

    zas. E posso entender porqu. Ainda hoje, mesmo eu, me vejo repetindo frases,

    idias que a Nena me passou.

    De qualquer forma, o pior j passou. Ns j temos de volta o Ney no esplendor

    de sua melhor forma, de sua quase maturidade. Digo quase, porque acho que

    ele nunca vai perder esse jeito moleque, matreiro, cmplice, entusiasta, que a

    nossa amiga mtua Tania Carvalho to bem captou neste livro. Que como

    afirma, uma celebrao. Do talento, da amizade, da alegria. De termos Ney em

    nossas vidas.

    Rubens Ewald Filho

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  • 7Em primeiro lugar, parabns a todos pela iniciativa da Coleo Aplauso. Este

    livro realmente uma celebrao feito com o maior carinho e amor por Tania

    Carvalho, em encontros todas as quartas-feiras, s 3 horas da tarde na minha

    casa, resultou em um trabalho que gostaria de dedicar aos realizadores desse

    pequeno jovem senhor Ney Latorraca. A meus pais, Alfredo Latorraca e Tomasa

    Josephina Latorraca, Nena.

    Ney Latorraca

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  • 8Untitled-3 8/9/2008, 20:458

  • 9Apresentao

    Ney Latorraca nico. Quem tem o privilgio de ser seu amigo sabe disso. Seu

    pblico fiel, tambm. Dono de um senso de humor inacreditvel, capaz de

    contar qualquer histria com uma graa jamais imaginada: do velrio de um

    parente querido a um de seus fracassos.

    Foram poucos, mas existiram. E ensinaram-lhe muito. Uma pessoa vaidosa,

    regateira como eu, precisa levar umas chapuletadas de vez em quando, garan-

    te.

    Digamos que vaidoso, sim, mas sincero tambm, porque difcil achar algum

    ator que comente com tanto humor seus insucessos. Estrela, com certeza,

    mas capaz de ser amado pelas camareiras, motoristas, tcnicos, o primeiro

    grande termmetro do sucesso dos seus personagens.

    Neste ano de 2004, Ney Latorraca est completando 60 anos de vida e 40 anos

    de profisso. Nada mais justo que ele comemore com muitos esta data.

    Celebremos, ento, nos embrenhando na sua histria, vendo juntos o lbum

    de fotos de sua vida.

    Brindemos.

    Tintim!

    Tania Carvalho

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  • 10

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    lbum de Famlia

    Minha me

    mais fcil falar da minha me hoje,

    pois j se passaram dez anos que ela

    faleceu morreu uma palavra to

    feia! Tomasa Josephina Palhares

    Escudero, Nena, era uma mulher

    batalhadora, que jamais conheceu

    a palavra medo. Aos 14 anos fugiu

    de casa, acabou sendo girl nos shows

    de cassino e fazendo dupla com

    Grande Otelo. Era uma pessoa para

    cima, que achava a vida um espet-

    culo. Sem fazer gnero, ela falava

    assim para mim: Neyzinho, obser-

    va a quantidade de tons de verde

    que existem na natureza e voc vai

    entender como a vida genial.

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  • 12

    O pai

    Meu pai, Alfredo Simonim

    Latorraca, tinha um gnio terr-

    vel, no fazia mdia com nin-

    gum, achava tudo muito cha-

    to, um horror, e era de uma sin-

    ceridade quase ferina. Quando

    eu dizia que ia ser algum na

    vida, ele deixava claro: Voc

    no vai ser nada, ns nunca

    seremos nada, ningum

    nada. Um visionrio, digamos

    assim. Durante muitos anos fa-

    lei mal dele, mas hoje no falo

    mais. Muita coisa dele est em

    mim.

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    O pai com Ilona Massey

    Meu pai era crooner e apresen-

    tou um espetculo da Ilona

    Massey, do filme Balalaika, na

    Pampulha, em Belo Horizonte.

    Ela comeou a dar em cima

    dele; minha me, grvida, co-

    meou a xing-la e acabaram os

    dois meu pai e ela na cadeia,

    por culpa da gringa.

    Ns trs

    Minha me fez vrios abortos

    antes de decidir ter um filho.

    Quando nasci, no havia nin-

    gum para tomar conta de

    mim. Um dia minha me me

    deixou com uma tia e me en-

    controu todo pretinho, decidiu

    parar tudo e se dedicar casa.

    Meu pai sempre achou que eu

    tinha vindo para atrapalhar a

    relao dos dois e nunca me

    escondeu isso. Acho bacana a

    sua sinceridade; Ele me dizia:

    Voc um elemento que veio

    para detonar, porque ela gosta

    mais de voc do que de mim.

    Ele tinha as suas razes. Mesmo

    assim ramos um trio. Um trio

    de hienas, meio Exrcito Bran-

    caleone, morando em quartos

    de penso, com pouco dinhei-

    ro, mas, nossa maneira, feli-

    zes.

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    Eu, nenm

    Eu ia nascer em Belo Horizonte,

    mas minha me foi a Santos e aca-

    bei nascendo l, na casa da minha

    av paterna, na Rua Paissandu, 23,

    pelas mos de uma parteira cha-

    mada Maria.

    Retratos da infncia

    Tive uma infncia cheia de regras,

    o que era necessrio para a nossa

    sobrevivncia. Meus pais aluga-

    vam quartos em penses para ca-

    sais sem filhos. Sem filhos era

    eu, que no dava um pio. S quan-

    do eles se mudavam as pessoas

    sabiam que havia uma criana.

    Como no tinha condies de

    comprar gibis, minha me me deu

    um s que devia ler para o resto

    da vida. Meu sapato Tanque Cole-

    gial durava cinco anos. Meus brin-

    quedos eram poucos e os tenho

    at hoje. Nestas fotos em que es-

    tou mais arrumadinho, pode ter

    certeza, foi presente de algum,

    de alguma tia, do Manoel da

    Nbrega. No tinha esta histria

    de tnis Nike, video game e ter

    ataque por tudo. Alis, no havia

    reclamao. Uma vez fiz um mu-

    xoxo porque havia picadinho de

    novo na mesa e minha me me

    avisou - e cumpriu - que eu ia co-

    mer picadinho por um ano para

    no reclamar. Papai era mais rgi-

    do. Mame conseguia manter

    uma ternura. No fiquei com trau-

    ma, nem amargurado, pelo con-

    trrio, acho que foram anos lindos

    da minha vida, porque eram cheio

    de sonhos.

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  • 15

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    Eu, me e pai na praia

    Como ciganos, moramos em Minas, em Santos e no Rio de Janeiro, na Rua

    Ronald de Carvalho. Aqui, estamos os trs na praia, pouco tempo antes de eles

    se separarem.

    Para compensar a rigidez em casa eu era um demnio no colgio. Foi assim

    desde o pr-primrio at o cientfico. Quando estava morando no Rio de Janeiro

    estudei no Colgio So Fernando, colgio de gente bem, l estudaram a Maria

    Cludia, a Renata Sorrah e o Luiz Carlos Lacerda. Eu estou no meio Claro! na

    fila de cima, bem orelhudo.

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  • 17

    Meus 15 anos

    Meus pais tiveram uma briga e passei o

    meu aniversrio de 15 anos com os pais

    do meu amigo Luiz Fernando Batalha:

    Tia Nieta e Seu Lindolfo. Com eles, fui

    para a Europa um ano depois.

    Nena e Papi

    Fui passar as frias em Mato Grosso por-

    que uma prima estava se preparando

    para ser Miss e eu estava interessadssimo

    neste assunto, quando vi o Boanerges no

    circo. Pedi que ele procurasse a minha

    me em Campo Grande e eles acabaram

    se casando. Foi seu grande companhei-

    ro, era uma pessoa totalmente do bem e

    uma grande figura na minha vida. Era

    um homem enorme, um Hulk, um ndio.

    Nas minhas estrias ele puxava os aplau-

    sos e dava nas pessoas que no estavam

    gostando.

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    Minha primeira vez na Europa

    Est escrito atrs. Itlia, Roma. Estou na Fonte dos

    Desejos, famosa pelas suas lendas. L joguei minha

    moeda e fiz trs pedidos. Dizem que quem joga

    uma moeda ali, voltar algum dia, vamos ver se

    verdade. Europa, 17/7/62.

    Minha turma na Associao Crist de Moos, em

    1965. No lembro mais o nome de quase ningum,

    s do Ademir Fontana, o ltimo direita.

    A primeira plstica da Nena

    Entrou um dinheiro e ela fez plstica.

    Olha como est pssima na foto! Pare-

    ce feita de borracha. Ela ficou com dio

    de mim, porque entrou para fazer um

    lifting e eu mandei aproveitar e fazer

    tambm as orelhas. Ela me xingou de-

    mais, porque doeu pra caramba.

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  • 19

    Nena no Natal

    Aqui ela est bonita, foi em um Natal na casa do

    Srgio Britto com o elenco todo do Rei Lear. a foto

    em que ela est mais com a cara dela.

    Ns na Espanha

    Aqui foi a consagrao da sua vida. Fomos comemo-

    rar os seus 70 anos na Espanha. Minha av, quando

    saiu de Soria, uma cidade perto de Madri, havia le-

    vado um leno com um pouco de terra prometendo

    que um dia iria voltar. Minha me colocou de volta a

    terra em Soria. E foi recebida como uma estrela, por-

    que era uma Escudero, tem braso e tudo da famlia

    na cidade. Fomos embora sem que ela olhasse para

    trs, porque tinha feito o que precisava ser feito.

    Tomamos muita sangria, comemos puchero, a Espa-

    nha voltou toda, Almodvar ficou cool.

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  • 2020

    Meus amigos de Santos

    Aqui esto o lvaro (Amaral), o Luiz (Alca de Santana) e o Rubens (Ewald Filho), o Rubinho, que

    sempre me deu muita fora. A turma de Santos. O Rubinho, a Jandira Martini, a Neyde Veneziano

    eram do TEFF, Teatro da Faculdade de Filosofia de Santos, e eu fui chamado para entrar no

    grupo. Tirei um pouco os papis do Rubinho na poca... um grande amigo mesmo, daqueles

    que voc sabe que pode ligar a qualquer hora e com quem me encontro cada vez que estou

    virando uma dcada para uma longa conversa. Quando fiz 40, a conversa, horas, foi na porta do

    Gallery; depois, aos 50, e j temos marcada a dos 60. Acho o mximo ser amigo da pessoa que

    mais entende de cinema no Pas. Em determinada poca todo o cinema brasileiro queria mat-

    lo, mas, graas a Deus, todos viraram amigos. No agentava mais ficar no meio: defendendo o

    cinema para ele e defendendo-o do cinema brasileiro. Ambos somos uma mistura maluca. Ele

    meio espanhol e meio alemo, uma coisa Fassbinder misturado com La Violetera, que tambm

    tenho. Enfim, somos amigos de toda uma vida.

    Na festa do Walter Clark

    Nesta foto estou com pessoas que amo muito: Maria Augusta Barbosa Mattos, a Guta, Snia

    Braga e Walter Avancini na festa de uma pessoa que tambm amei demais, Walter Clark, naquele

    clube que d bola preta e bola branca, o Country do Rio.

    Na casa da Guta

    Aqui estamos na casa da Guta, que fazia almoo todo sbado e era uma festa. Ins Galvo, que

    foi minha mulher por quatro anos, Therezinha Sodr, Nestor de Montemar e Edney Giovenazzy.

    Eu estou discreto, no? Imagina que estou num momento em que j estava virando cool. Que

    estampado esse?

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  • 21

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  • 22

    Momentos com pessoas que amo: La Raia, uma menina na foto; Leina Krespi;

    Lcia Verssimo, linda; e Mait Proena, a quem admiro muito. uma pessoa

    que sempre me surpreende sempre pelo carter. Alm da beleza e do talento,

    ela uma pessoa solidria, que representa bem a generosidade da classe arts-

    tica brasileira.

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  • 23

    Carnaval

    Esta a embriaguez do sucesso. Desfilei no Imprio Serrano em 1977 cantando

    O mar/misterioso mar... e quem me fotografou foi a minha amiga Regina

    Rito. Eu tinha certeza que, mesmo cheio de purpurina, camuflado, a platia

    no deixaria de gritar o meu nome. E ela, claro, gritou, porque eu fiquei man-

    dando beijo, provocando...

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  • 24

    Eu, em vrios

    momentos.

    Amo tirar

    fotografia.

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  • 25

    Santinhos

    Mandei fazer 5 mil santinhos como esses acima

    e os distribuo quando as pessoas me pedem

    autgrafos. Quando no pedem, ofereo, pre-

    ciso me livrar desta quantidade enorme. Quem

    sabe na poca das eleies...

    Tintim!

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  • 26

    A Carreira

    EAD

    A Escola de Arte Dramtica no uma lembrana, permanece viva at hoje. Foi

    l que aprendi disciplina e precisava disto, pois me achava pronto , esgrima,

    a sentar direito no palco, dico, a decupar um texto, maquiagem, estudei os

    grandes clssicos, descobri que um personagem comea ainda no camarim,

    que ele tem voz, postura e um cheiro prprio.

    Tudo isso e mais, com professores maravilhosos como Sbato Magaldi, Dorothy

    Leiner, Paulo Mendona, Milene Pacheco, Timochenko Whebi, Maria Jos de

    Camargo, Leila Cury e, em especial, o Dr. Alfredo Mesquita.

    Foi na EAD que descobri o verdadeiro sentido de ser ator! Nada do que fao

    desde ento gratuito, tudo tem a ver com meus anos de escola. Por isso ela

    sempre est presente na minha vida.

    Hamlet

    Esta foi uma montagem no segundo ano da Escola de Arte Dramtica. No era

    o Hamlet completo, mas vrios trechos. Neste momento, era o Monlogo da

    Carne: Oh, se esta carne muito poluda pudesse derreter-se, transformar-se em

    gua. E eu estava todo pintado de azul, uma maquiagem linda, criada pelo

    Timochenko Whebi.

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  • 27

    Jandira Martini, Ney e Terezinha Teller

    Para fazer O Mistrio de Irma Vap tantas dcadas depois, precisei passar por O

    Relicrio, de Arthur Azevedo, peas de Martins Pena, comdias quiproqu, de

    entra-e-sai do guarda-roupa, todas nascidas de Feydeau. Esta foi uma montagem

    tambm de fim de ano, teatro puro, com telo desenhado, muita troca de

    roupa, s faltava o ponto.

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  • 28

    Balada de Manhattan

    Esta pea de Lo Gilson Ribeiro, com direo de Paulo Hesse, foi baseada em

    um fato que havia acontecido em Nova York e estarrecido todos: diversas pes-

    soas presenciaram um assassinato em um ptio, para onde davam vrios prdios,

    e ningum fez nada. Quem diria que iramos ficar assim tambm, coniventes

    com a violncia! Ela foi encenada no ptio da EAD, onde todo o elenco posou

    para esta foto.

    Olha que clima 60! Estou a cara do Ney Matogrosso!

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  • 29

    Tem uma cara de poca... meio hippie, as pessoas acreditando no poder da

    flor, uma coisa ingnua. O volume do cabelo d a dimenso da revolta.

    Aluno de escola adora fazer Sartre. Huis Clos uma pea muito difcil que

    devia ser feita somente por profissionais, precisa vivncia para discutir o inferno

    so os outros. Mas fazia parte da poca montar Sartre, mostrar que era existen-

    cialista de carteirinha.

    Era uma poca difcil, estudantes estavam sendo mortos, passeatas, a EAD ia na

    frente dos movimentos de protesto. E levvamos sempre o pior: as balas, as

    bolinhas de gude, as patas dos cavalos. Quantas vezes eu estava andando pela

    7 de Abril e ouvia uma voz: Sai da, Neyzinho, sai da, isso no vai dar certo.

    Era minha me atrs de mim, uma coisa triste, e eu seguia adiante, firme.

    Huis Clos Entre Quatro Paredes

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  • 30

    Marie Claire Brant, linda, tinha um cabelo enorme... mas estava de peruca.

    Era a grande promessa da escola, mas no seguiu carreira.

    Momentos Bonjour, Tristesse, Franoise Sagan misturada com Joo Gilberto.

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  • 31

    Exerccios Americanos

    Em 1969 houve um levante para tirar o Dr. Alfredo Mesquita. Os alunos acha-

    vam que a EAD era careta demais, s montava clssicos, e queriam uma nova

    escola. Eu fiquei do lado do Dr. Alfredo e ficaria sempre! Dormi na escola,

    quando ameaaram invadi-la, impedi que levassem os figurinos, fiz o que pude.

    O Dr. Alfredo decidiu passar a escola para a USP, chamar um diretor de fora

    para fazer a montagem do terceiro ano Ademar Guerra, que dirigiu Exercci-

    os Americanos.

    No elenco de Exerccios Americanos, que de um autor belga, Jean Claude

    Italie, estavam o Carlos Alberto Ricelli, a Jandira Martini, a Clo Ventura, a Ana

    Maria Barreto na foto comigo. Na verdade esta pea foi um laboratrio para

    o Hair.

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  • 32

    A Formatura

    Eu dirigi a nossa formatura. Nossa turma foi a maior da EAD 11 alunos. Eu

    inventei que entraramos por ordem alfabtica ... ao contrrio. S para eu entrar

    por ltimo: Antnio Ney Latorraca. Graas a Deus a Ana Barreto no participou,

    seno ela seria a ltima.

    Cada um de ns tinha um padrinho, que fez um juramento diante da platia

    de proteger o afilhado para sempre, seno teria um fim trgico, morreria com

    a boca cheia de formiga, uma bobagem que criei. Minha madrinha foi a Marlia

    Pra.

    Untitled-4 8/9/2008, 20:5132

  • 33

    O Teatro Profissional

    Sou uma pessoa over. Adoro uma platia.

    Quanto mais gente, melhor. Casa cheia,

    sempre. Ento, posso dizer que nasci para

    estar no palco. Alm disso, atravs do tea-

    tro conheci gente maravilhosa, e isso

    mais importante at do que as prprias

    peas de que participei: Victor Garcia, Raul

    Cortez, Clia Helena, Ruth Escobar, Straz-

    zer, at mesmo o Gerald Thomas, que ser-

    via cafezinho, esperto, em O Balco; Sba-

    to Magaldi, que fez crticas maravilhosas

    sobre mim, sempre; Aracy Balabanian,

    Dina Sfat que mulher linda, no dia em

    que ela morreu, fui internado com uma

    hemorragia que quase me matou tambm,

    paixo , Paulo Jos, Marlia Pra, a minha

    madrinha que me deu sbios conselhos,

    dentre eles nunca largar uma temporada

    no meio, ir at o fim com a pea, o que

    nem sempre fiz; Walmor Chagas e Cacilda

    Becker, que nos deixou de herana a Ruth

    Escobar, tambm muito minha amiga,

    Nanini, Antunes Filho, enfim, tanta gente

    bacana, e muitos nomes no falei aqui,

    que quis muito estar junto, desde Santos,

    e consegui.

    O Balco

    Quando sa da EAD todos esperavam que

    eu fizesse um protagonista, mas senti que

    precisava ir por outro caminho, mais alter-

    nativo mesmo que fosse um off-luxo co-

    0mo O Balco para, de certa forma, re-

    comear tudo. Victor Garcia fez, realmen-

    te, um espetculo. Meu personagem era

    a Lgrima tinha o Sangue e o Suor fa-

    lava pouqussimo e ficava pendurado, ves-

    tindo s um tapa-sexo, em um cabo de ao.

    Um dia minha me foi ver o espetculo e

    me avisou que eu estava preso s por uma

    madeirinha e, se algum mexesse nela, eu

    cairia l de cima. Ela tinha razo e larguei

    a pea.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0233

  • 3434

    Hair

    Fiz diversos personagens em Hair: era um dos membros da tribo e tambm o substituto do

    Bgus, que vivia o Claude, e do Laerte Morrone no nmero de platia, como uma mulher ameri-

    cana horrorosa, magra, eu pesava 55 quilos. O elenco da pea era enorme e todos ficavam nus

    em determinado momento. Vou confessar uma coisa: a ordem de entrada no era pelo talento,

    mas sim pelo tamanho do pinto. Pitanga, claro, vinha na frente. Depois, o Ricardo Petraglia,

    Nuno Leal Maia, Antonio Fagundes, Dennis Carvalho, Carlos Alberto Riccelli. Eu vinha l pela

    quinta fila. Depois de mim, s os msicos.

    Elenco completo de Hair. Eu sou o dcimo, da direita para a esquerda.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0234

  • 35

    Ns ensaivamos todos os dias. Eu morria de raiva do diretor Ademar Guerra e da coregrafa

    Mrika Gidali. Imagina sair da praia para 1... 2... 3... descansa. Descanso? Diariamente passva-

    mos as coreografias e as msicas, para que de noite o espetculo estivesse tinindo. O clima era

    de Era de Aquarius, todo mundo acreditava mesmo que estava em tempo de amor e flor. Eu

    vivia falando que aquilo ia acabar, que era uma pea, um emprego, com carteira assinada e

    tudo, mas ningum nem me ouvia. Para me garantir, comecei a vender uns bonequinhos que

    fazia. Era poca do Mug do Simonal e tambm queria o meu: colava umas pedras, botava um

    cabelo feito de l e pintava uns olhos com esmalte. Com certeza, a coisa mais horrorosa que j

    vi em minha vida. E vendia bem. Ganhei mais dinheiro vendendo o boneco no saguo, at tocar

    o terceiro sinal, do que como ator.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0235

  • 36

    O Cavalinho Azul

    Sempre tive a maior implicncia com teatro infantil, mas resolvi entrar nesta

    montagem de O Cavalinho Azul porque era um texto da Maria Clara Machado,

    maravilhosa, a direo, da Terezinha Aguiar, que tinha sido da EAD na mesma

    poca do Ademar. Alm do mais, a Maria Alice Vergueiro, que era a produtora,

    me pagava muito bem. Os deuses do teatro, que existem, resolveram me castigar

    por eu sempre falar mal de uma coisa to importante: ganhei meu primeiro

    prmio por esta montagem. Fui considerado o melhor ator de teatro infantil

    pela Folha de So Paulo e saiu uma foto bem grande. Nunca fui receber.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0236

  • 37

    Quanto Mais Louco, Melhor

    Esta pea de Joe Orton foi assim anunciada: A maior comdia de todos os tempos

    com o maior elenco de todos os tempos. A Ruth Escobar fazia a minha me, a

    Lilian Lemmertz era a minha irm gmea ns usvamos as mesmas roupas no

    palco. No elenco estavam ainda o Rubens Teixeira, o Freddy Kleeman e o Walmor

    Chagas, que dirigia a pea. Foi um fracasso. Para mim deu certo, a crtica falou

    muito bem do meu trabalho e o Walmor assinou a minha carteira com um

    salrio maior, para que eu comprasse meu apartamento financiado. Ficamos

    mais amigos ainda. J tinha relao com a Cacilda, que havia me conhecido na

    escola e me chamara para trabalhar com ela na Secretaria de Cultura, cuidando

    do teatro amador e universitrio. Depois da pea me aproximei mais ainda do

    Walmor, que at hoje meu amigo e me telefona, com seu inconfundvel sota-

    que gacho.

    Jesus Cristo Superstar

    Fiz o teste para Jesus, mas quem ganhou foi

    o meu querido Eduardo Conde. E era ele que

    devia fazer mesmo, tinha mais figura e mais

    voz. Fiquei sendo o Pilatos. Tudo deu certo,

    parecia feito para mim. Em sua crtica Sbato

    Magaldi colocou o seguinte ttulo: Pilatos

    Superstar.

    Um clima! Fiquei s uma semana na pea. Sa

    no dia em que olhei para a orquestra e no

    estava mais o Paulo Herculano. O Altair Lima

    estava regendo. Era hora de ir embora. No

    meu lugar, entrou o Stnio Garcia.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0237

  • 38

    Eu em dois momentos da pea, que era a preferida de minha me.

    O Estranho Caso de Mr. Morgan

    O Estranho Caso de Mr. Morgan era a pea Sleuth, que no cinema foi prota-

    gonizada por Michael Caine e Laurence Olivier. No Rio de Janeiro se chamou O

    Jogo do Crime e foi montada com o Paulo Gracindo e o Gracindo Jr. Em So

    Paulo, o Antunes Filho preferiu o ttulo O Estranho Caso de Mr. Morgan e meu

    companheiro foi o Srgio Viotti. So dois homens que fazem um jogo, quase

    sensual, se transfigurando em muitos personagens. No anncio apareciam nossos

    nomes e mais um: Renato Azevedo. Eu morria no primeiro ato e, no segundo,

    surgia um velho que investigava a minha morte, papel do Renato, que era eu

    mesmo. Renato Azevedo foi elogiadssimo.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0238

  • 39

    No meu primeiro encontro com o Antunes fiquei nervosssimo, ia encontrar

    com um dos meus dolos, que ainda e vai ser para sempre. Ele me tratou de

    uma maneira inacreditvel. Avisou que se eu no quisesse havia gente muito

    melhor do que eu para o papel, o Zanoni Ferrite, o Antonio Fagundes, que na

    hora iriam aceitar. E ainda: Para voc vou pagar menos completou. Estou

    te chamando porque voc mais barato, pegar ou largar. Eu peguei. E ele

    continuou me tratando de uma maneira.... como eu gosto de ser tratado...

    ali... firme ... porque sou muito rebelde e adoro um chicote. Gosto de papai,

    castigo, lio para casa. Ele me dava montanhas de livros para ler. Na minha

    primeira fala, eu respondia a uma pergunta: Voc judeu? Eu fazia uma

    pausa e devia dizer: Sou. Para dizer isso eu li TODA a histria dos judeus,

    desde o primeiro que foi morto at o Holocausto. Sabia tudo, podia at respon-

    der no Cu o Limite.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0239

  • 40

    Bodas de Sangue

    Quando me chamou para fazer Bodas de Sangue, Antunes olhou para a minha

    mo e constatou que ela no era a de um campesino rstico. Fiquei seis meses

    quebrando paraleleppedo com machado todas as manhs, acabei um trapinho,

    para conseguir as mos que ele queria. Ele no gostou muito quando pedi para

    cantar e danar no espetculo, mas acabou deixando. Peguei uma msica e um

    sapateado da minha famlia e coloquei antes da entrada da noiva. Para alguns

    crticos, era a melhor coisa da pea. O Antunes odiava o da-le da-le, o sapateado

    do Latorraca.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0240

  • 41

    Maria Della Costa, que maravilha! Quando ela fez

    a pea estava completando 25 anos de carreira e

    50 de vida. O Dcio de Almeida Prado escreveu,

    em uma de suas ltimas crticas, que ela em cena

    parecia ter a idade de sua carreira.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0241

  • 42

    O Que Voc Vai Ser Quando Crescer

    Ns somos os infelizes da noite profunda / Ns somos atores / Sabemos cantar e

    danar de acordo com o seu paladar / De frente, de costas, de lado / A gente

    quer arrasar...

    (letra e msica de Paulo Herculano)

    Nossa idia era colocar seis atores desconhecidos para fazer um trabalho em

    que todos escrevessem. Quando comeou, o grupo era eu, Jandira Martini,

    Francarlos Reis, Eliana Rocha, Vicente Tuttoilmondo e a Esther Ges. Ns nos

    reunamos na casa da Jandira e cada um escrevia o seu sonho de ator, o que

    gostaria de fazer em cena: um prncipe, um suicida, um rei. Da nasceu esta

    colcha de retalhos, O Que Voc Vai Ser Quando Crescer. A Esther saiu do projeto

    e em seu lugar entrou a Ileana Kwasinsky, a Qu Qu, a nica que no escreveu

    nada. Para dirigir, a gente chamou o Silney Siqueira, um maravilhoso diretor

    de conjunto e ele foi amado por todos. Estreamos num esquema meio o palco

    est vazio, tragam o que tiverem em casa, s mandamos fazer uma roupa

    base mais e sungas que ns mesmos bordamos; um dos meus personagens

    andava de cadeira de rodas e improvisamos com um carrinho de geladeira,

    uma pobreza! A pea, no entanto, foi SUCESSO absoluto e, de certa forma, foi

    para o teatro paulista o que o Asdrbal foi para o teatro carioca.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0242

  • 43

    Jandira vivia a Libertad Lamarque e seus cinco filhos: um da Cruz Vermelha;

    outro, jurado do Slvio Santos; o paraltico eu que morava na casinha atrs;

    a filha prostituta; e um que ela reencontrava em uma noite de Natal. At neva-

    va no palco. Uma verdadeira loucura. O Srgio Britto quis comprar os direitos

    da pea e quando foi na SBAT descobriu que s havia duas folhas de texto.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0243

  • 44

    Orquetra de Senhoritas

    Nesta pea tive oportunidade de trabalhar com um diretor genial, o Luis Srgio

    Person, em quem j estava de olho h muito tempo, desde que tinha visto seus

    dois filmes O Caso dos Irmos Naves e So Paulo S/A. Fizemos Orquestra de

    Senhoritas em um espao chiqurrimo, que havia acabado de inaugurar, o Teatro

    Augusta. Todos os atores estavam vestidos de mulher, com exceo do Joo

    Jos Pompeu (na foto comigo), que vivia o pianista, de quem eu, Suzane Delicia,

    estava grvida e acabava me suicidando, ao saber que ele estava tendo um

    caso com Madame Hortense, a chefe da orquestra. Uma tragicomdia genial!

    Durante um tempo eu me dividi, no mesmo espao, fazendo Orquestra de

    Senhoritas e O Que Voc Vai Ser Quando Crescer. Fui forte candidato ao Molire

    de melhor ator, mas o Paulo Goulart estava completando 25 anos de carreira e

    deram para ele. Uma raiva do Paulo! Foi absolutamente merecido. E se eu

    tivesse ganhado iria ficar intragvel, ia virar um busto. Sabe ator que vira busto?

    Fica somente da cintura para cima, parado, imobilizado, como se fosse uma

    esttua de bronze em uma praa. Graas a Deus, continuo soltinho.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0244

  • 45

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0245

  • 46

    A Mandrgora

    Nesta pea conheci uma pessoa genial, e no sei por que falo pouco dele: Paulo

    Jos, que foi muito importante para mim. Ele um diretor na mesma linha do

    Antunes, s que mais suave. Ao lado dele no existe a burrice, voc fica mais

    inteligente perto do Paulo. Ele chega de mansinho e pede: Guri, tu pode ler

    estes 400 livros? E eu achava timo. Fui tratado como um prncipe nesta produ-

    o. No cartaz estava escrito: Sfat Produes Artsticas apresenta Ney Latorraca

    em A Mandrgora. Eu j era apaixonado pela Dina, e acho que foi uma forma

    de ela me dizer que gostava de mim como ator.

    Estou bonito nesta foto!!! Inventei uma coisa nesta pea, uma bobagem, uma

    mala falsa para ficar mais sensual. Como vestia uma malha o tempo todo e

    era muito magro, achei que precisava realar alguma coisa. Ento enrolava

    umas duas meias muita gente faz isso, mas s eu confesso e as pessoas

    comentavam: Nossa, como ele forte, j que no ficava bem dizer outro

    adjetivo. Usava logo meias bem grandes, pretas, de jogador de futebol, um

    kit Pitanga, digamos assim. Coisas do teatro.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0246

  • 47

    Lola Moreno

    Fiquei muitos anos sem fazer teatro. Deixei de ser o ator da EAD para me tornar

    o arroz-de-festa, a figurinha fcil do Rio de Janeiro. Um dia me levantei, olhei

    no espelho e tive a certeza de que estava errado. Apaguei, fiquei ali mesmo,

    sentei e no andei mais. Se voc no toma uma atitude, o corpo padece e toma

    a deciso por voc. Foi neste momento que a Luclia Santos, a produtora, o

    Brulio Pedroso, o autor, e o diretor Antnio Pedro me chamaram para fazer

    Lola Moreno. Juro que no entendo a cabea deles: chamar para ser protago-

    nista de um musical, cantando e danando, algum que estava de cama. Eles

    me salvaram. Fui para os primeiros ensaios de cadeira de rodas, inchado de

    tanta cortisona, e na estria ainda usava uma bengala. Um pouco depois j

    estava a mil, maravilhoso, de volta s minhas origens, ao palco, madeira, de

    onde jamais deveria ter me afastado.

    Grande Otelo trabalhou com a minha me no Cassino da Urca e meu padri-

    nho de batismo. Era uma honra dividir o palco com ele. Quando contei para a

    minha me, ela fez somente um gesto com a mo, que significava: Espera...

    espera. Uma semana depois eu queria matar o Otelo, porque ele improvisava,

    brincava, era impossvel contracenar com ele, um dos maiores atores do planeta,

    um er maravilhoso, um smbolo para todos ns. Mame me perguntou quantas

    cenas eu tinha com ele. Ento ela me aconselhou: Nas oito cenas voc fica de

    costas e deixa que ele faa o que quiser. Afinal, ele Grande Otelo. Deu tudo

    certo.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0247

  • 48

    Havia uma rata enorme no Teatro Ginstico, quase do tamanho da Luclia,

    que atrapalhava demais o espetculo. Eu e o Diogo Vilela chegvamos cedinho

    no teatro, amarrvamos, costurvamos, grudvamos coisas nas roupas da Luclia

    e deixvamos um bilhete: No adianta, querida, este papel meu. Assinado:

    A Rata. A Luclia ficava enlouquecida, horas para desfazer os ns, as costuras,

    tirar as coisas grudadas. E eu aconselhava que ela no devia investigar muito,

    porque s podia ser coisa da rata mesmo. Ah, foram momentos muito felizes

    da minha vida! Acho que a Luclia s vai descobrir agora, vendo este livro. A

    rata? Acho que ainda mora l, ficou amiga da Luclia e faz at campanha para

    o Partido Verde.

    Era um elenco enorme, mais de 30 pessoas. O maior nvel: Dona Elza Gomes,

    Louzadinha, Diogo Vilela, Guilherme Karan, Betina Vianny e muito amigos.

    Para mim foi muito importante voltar para a minha praia, para o palco, para a

    cena, o meu lugar. E vou parar, seno fico repetitivo, vou falar do ator, o palco,

    a madeira.

    Untitled-5 8/9/2008, 21:0248

  • 49

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  • 5050

    Afinal, uma Mulher de Negcios

    Esta foi a primeira montagem do Fassbinder no Brasil. Veio um diretor alemo,

    jovem, Walter Scholiers, e tive a oportunidade maravilhosa, tanto de trabalhar

    com ele, quanto com a Renata Sorrah, uma colega genial! Eu fazia quatro

    personagens, trs maridos e o irmo daquela mulher alucinada que mata 57

    pessoas, as enterra em sua casa, e acaba a pea como uma mulher de negcios.

    Eu tinha tempo de me preparar fora de cena, j a Renata se transformava na

    frente do pblico, em um trabalho realmente impressionante. O Srgio Britto

    vivia dizendo que eu ia ganhar o Molire, mas quem ganhou foi a Renata,

    merecidamente.

    A pea foi um grande sucesso em sua temporada carioca. Aconteceu, porm,

    uma coisa muito desagradvel no meio da temporada. Tive uma recada, um

    ataque de loucura. Recebi um convite para fazer um filme em Hollywood e

    acreditei. Larguei a pea, me demiti da Globo, fiz as malas e j estava me vendo

    andando pelo tapete vermelho na entrega do Oscar. No dia seguinte recebi um

    telefonema me avisando para no ir, tentei voltar atrs, pedi desculpas pelo

    meu comportamento pssimo, mas no deu: o Tonico Pereira j estava no meu

    lugar. Fechei as portas do Teatro dos Quatro Srgio Britto, Mimina Roveda e

    Paulo Mamede que s fui abrir muito tempo adiante. Mas este outro cap-

    tulo!

    Untitled-6 8/9/2008, 21:0950

  • 51

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  • 52

    Othelo

    Sempre me haviam dito que eu faria Iago muito bem, talvez pelo bitipo, no

    sei. Quando o Juca de Oliveira me convidou para fazer Othelo, que iria

    reinaugurar o Teatro Cultura Artstica, adorei. Nunca havia trabalhado com ele

    e fiquei absolutamente apaixonado. O Juca daquela turma que come, dor-

    me, respira teatro. Tipo Paulo Jos, s que mais espaoso. Se ele te convidar

    para nadar, desista, ele vai ficar falando sobre teatro dentro dgua. Ir para a

    fazenda significa discutir teatro. A gente pescava ouvindo pera e lendo livro

    ao mesmo tempo. Que maravilha que ele existe!

    Eu no tinha muita noo do que estava fazendo no momento, confesso, embo-

    ra tenha estudado muito, muito mesmo. Criei uma imagem e conversei com o

    Juca sobre isso (a direo do espetculo era coletiva, mas quem dirigia era ele

    mesmo): eu achava que se o Iago usasse terno, o forro seria todo de pregos.

    Ningum veria, mas ele estaria sendo constantemente ferido, espetado. Um

    personagem em carne viva. Afundei-me tanto nesta imagem que tive clculo

    renal e sentia todos os pregos em mim. Esqueci o palet, aquela imagem horrvel,

    e passei a rezar todos os dias quando voltava do ensaio. At hoje sou elogiado

    por este personagem. O Iago me deu prestgio.

    No programa todos escreveram textos enormes. Eu peguei somente uma frase

    do personagem, que resume o Iago: No sou quem pareo.

    Rei Lear

    Logo depois de Othelo, fiz outro Shakespeare: Rei Lear. Conversei com Ademar

    Guerra, que estava com um problema grave com a turma do Teatro dos Quatro.

    Ele me avisou que iriam produzir o Rei Lear, com direo do Celso Nunes, meu

    amigo. O Celso me garantiu que, por ele, no havia problema algum, havia

    papel para mim, mas eu tinha que convencer o rei, o Srgio Britto, que eu

    havia abandonado. Fui humildemente, pedi para fazer a pea, ele concordou e

    pouco a pouco fui reconquistando todos: chegava mais cedo, fazia gracinha,

    arrumava o camarim do Srgio, varria o cho, at um jornalzinho eu inventei.

    Eu fazia o Edgar, marido de uma das filhas do Lear, da mesma turma do Iago,

    malvado, intrigante. Eu entrava no palco com uma capa enorme, quase voando.

    Perguntei ao Celso se no estava demais, muito over, mas ele me garantiu que

    eu estava no caminho certo. Saram as crticas e todas falavam mal de mim.

    Com 35 pessoas no palco, consegui este feito. Castigo!

    Untitled-6 8/9/2008, 21:0952

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    O Mistrio de Irma Vap

    Que momento este! O Mistrio de Irma Vap representa 1/3 da minha vida arts-

    tica. Onze anos em cartaz com um sucesso estrondoso. Carregamos um pouco

    de culpa por causa disso. Todos os dias, eu e o Nanini falvamos: Amanh vai

    cair. E quando, em vez de 1.200 espectadores, havia 1.180, tnhamos certeza.

    Viu, no disse? E por 11 anos repetimos esta ladainha.

    Muitos anos antes eu havia dito para uma jornalista que o dia em que Marlia

    Pra, Marco Nanini e eu nos juntssemos seria um sucesso no teatro brasileiro.

    Mas foi s uma frase solta. Nunca poderia imaginar o SUCESSO que foi. Por que

    os deuses abenoaram a gente? Ora, porque ns temos talento. Nanini um

    ator maravilhoso, tmido, srio, humilde em relao aos seus personagens

    diferente de mim, que sempre acho que posso e devo colaborar com o perso-

    nagem. Marlia uma diretora esplndida, rigorosa, rgida, que em poucos

    dias colocou a pea de p. Tudo estava predestinado a dar certo, desde a pri-

    meira leitura que foi feita na minha casa.

    Se somos diferentes como atores, eu e Nanini temos em comum o grande amor

    pela nossa profisso. Onze anos depois ainda chegvamos cedo no teatro, pass-

    vamos o texto, ele verificava a luz e o som, eu me metia na divulgao, inventava

    fotos. Aconteceram muitas perdas no meio da temporada: Bogus, Guta, minha

    me. Quando o pano abria, porm, tudo mudava, nada interferia. Uns dias

    eram meus, outros do Nanini. Em muitos, os dois funcionavam. Sempre houve

    uma ligao impressionante entre ns dois. Nada precisa ser combinado, de

    costas eu sabia que ele estava com o olhar no lugar certo. Que ator! Nanini

    jamais mudou uma marca. Eu sempre fui mais rebelde, puxava aplauso no meio,

    aumentava os cacos a Marlia ODIAVA.

    Untitled-6 8/9/2008, 21:0954

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    Em uma cena o Nicodemo um dos personagens do Nanini entrava e pergunta-

    va se estava tudo bem. Eu devia responder com um simples resmungo. Pois bem,

    eu desandava a falar como se fosse em japons e s via a cara do Nanini parado,

    entre os dentes, me dizendo: Filho da puta, diminui este japons pelo amor de

    Deus. A que eu falava mais coisas absolutamente incompreensveis.

    Ns envelhecemos, engordamos, emagrecemos na frente do pblico. Geraes

    viram a pea: gente que comemorou a primeira comunho, o casamento e o

    nascimento da filha vendo Irma Vap. Fazamos duas sesses de quinta a domin-

    go e nas segundas, teras e quartas viajvamos com outro cenrio. E pblico

    no faltava nunca. Um dia cansamos, descobrimos que precisvamos parar.

    Estvamos nos apresentando em uma enorme casa de shows e o Nanini chegou

    concluso que havamos virado dois copos de chope, de to pequenininhos

    que estvamos no palco. Era o momento de dizer adeus.

    Untitled-6 8/9/2008, 21:0962

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    Cartas de Mozart

    Este foi um espetculo dific-

    limo, dirigido pela Nitis

    Jacon: eram 12 cartas de

    Mozart inditas, completa-

    mente escatolgicas, que

    interpretava no palco. Em

    seguida entravam aquelas

    msicas maravilhosas. Esta-

    va fazendo a Irma Vap e,

    para ficar mais cansado um

    pouco, resolvi entrar neste

    espetculo, que era apre-

    sentado s segundas e ter-

    as-feiras. Uma loucura.

    Loucura boa.

    Untitled-6 8/9/2008, 21:0963

  • 64

    O Mdico e o Monstro

    Minha me morreu no dia 2 de janeiro de 1994. Eu morri um pouco junto com

    ela. Emagreci muito, no conseguia me alimentar s comia figo, caqui, coisas

    que escorregavam para dentro. O Nanini resolveu montar O Mdico e o Monstro

    para me manter vivo. Fomos a Nova York, vimos o espetculo com a mesma

    companhia que havia feito o Irma Vap, ele decidiu comprar os direitos, produ-

    zir junto comigo e com o Fernando Libonatti e dirigir o espetculo. Foi um

    jeito de ele me segurar aqui, pois sabia que eu ia embora mesmo. A obrigao

    de estudar, decorar, ensaiar me manteve vivo, embora a minha tristeza fosse

    evidente at mesmo nas fotos do espetculo. Sou muito grato a ele por isso, e

    serei por toda a minha vida. Ele fez o que a Luclia Santos havia feito anterior-

    mente: me salvou, me puxou do fundo do poo.

    Eu fazia um nmero sapateando com um chinelo de Mickey na frente da cortina

    vermelha. Um dia vejo um casal com uma cara... No tive dvida, virei para os

    dois e disse: Que cara essa? Vocs no tm o direito de ficar com essa cara de

    bunda, quando estou aqui, sofrendo, morrendo de dor, mas me desdobrando

    para que vocs riam. Foi um aplauso s. Depois que aprendi esse nmero do

    carente, uso-o sempre. Ou, ento, quando a platia est muito fria, invento

    que dia do ator e todos aplaudem de p. bom que os espectadores saibam:

    eu vejo tudo. Quem est de cara feia, dormindo Nossa, como tem gente que

    dorme de babar! e at aqueles que vo s para vuduzar o espetculo.

    Untitled-6 8/9/2008, 21:0964

  • 65

    Essas fotos, produzidas originalmente em

    saturadas cores e intencional desfoque,

    traduzem bem o clima do espetculo.

    Untitled-7 8/9/2008, 21:1965

  • 6666

    Don Juan

    Um ms antes de minha me morrer ela me incentivou a trabalhar com o ho-

    mem da fumaa, como chamava: Gerald Thomas. Eu tinha sido apresentado a

    ele pela Fernandinha Torres e adorei: ele uma pessoa deliciosa de se conviver,

    simptica, bem-humorada, inteligente, engraada. Ele gostava do meu traba-

    lho, em especial o japons do Irma Vap ele adorava aquela bobagem! e eu

    admirava muito as peas que ele dirigira. O casamento foi inevitvel, ainda

    mais apadrinhado pela Bete Coelho, que namorava o Luiz Frias. L fui eu fazer

    o Don Juan, do Otvio Frias Filho, com direo do Gerald, junto com a Compa-

    nhia de pera Seca, no TUCA. Na primeira noite, fiquei impressionado com a

    ovao. Agradecia e acenava como uma miss na hora dos cumprimentos, at

    algum me avisar: Ney, eles esto vaiando. Segundo o Otavinho conta em

    seu livro, depois que fui arrancado do palco, me tranquei no camarim e perma-

    neci monossilbico. Como pode uma pessoa to bacana, to generosa ter que

    pagar um preo to alto por ser to metido?

    Untitled-7 8/9/2008, 21:1966

  • 67

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  • 70

    Mame estava certa! Quando cheguei ali vi que havia uma gente feliz. Depois

    de 11 anos s com Nanini, eu voltei a ter uma turma. Uma gente animada,

    todos se arrumavam, saam muito... Sempre de preto. Comecei a me animar

    tambm, a melhorar. Nunca vou esquecer as palavras da Ruth Escobar: O palha-

    o trincado comeou a recolher os cacos.

    Untitled-7 8/9/2008, 21:1970

  • 71

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  • 72

    Quartett

    Queria muito fazer coisas novas, experimentais, exercitar o meu lado de ator e

    trabalhar com o Didi (di Botelho). O Gerald me sugeriu a pea Quartett, do

    Heiner Muller, e adorei a idia. Fazamos diversos personagens e a ao era

    toda em um aougue: muito sangue, facas, carnes cortadas. No era um espet-

    culo popular. A primeira pessoa que me cumprimentou quando desci do palco

    na estria foi o Rodrigo Santiago, que tinha uma garrafa de champanhe na

    outra mo. Que nvel! Foi muito bom ter feito.

    Untitled-7 8/9/2008, 21:1972

  • 73

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  • 74

    O Martelo

    Conheci este texto do Renato Modesto em 1992, mas somente alguns anos

    depois pude encen-lo. Foi uma oportunidade muito boa de trabalhar com o

    Aderbal Freire Filho, que considero um dos melhores diretores do Brasil, e com

    a Brbara Bruno Goulart, uma excelente atriz. Era um policial bem interessan-

    te, que gostei de fazer.

    Untitled-7 8/9/2008, 21:1974

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  • 77

    Trs Vezes Teatro

    Todo ator precisa ter determinados autores em seu currculo. Queria muito

    fazer alguns clssicos e o di Botelho me sugeriu trs peas curtas: Os Malefcios

    do Tabaco, de Tchekov, O Homem com a Flor na Boca, de Pirandello, e A Mentira,

    de Cocteau. E foi assim o espetculo, muito elogiado pelo Sbato Magaldi e

    pelo Mino Carta e teve uma excelente repercusso quando viajei pelo Brasil

    com ele. As pessoas riam e se emocionavam nas horas certas. Para mim foi

    muito bom rever a obra desses autores, me fez sentir de novo na EAD arrumando

    caderno, merendeira, livros. Aquela coisa tensa e deliciosa.

    Capitanias Hereditrias

    Resolvi ir sozinho para Nova York e a Maria Padilha mandou que eu procurasse

    o Miguel Falabella. Pois bem, fiquei duas semanas grudado com ele, impossibi-

    litado de dormir, conversando, fazendo palhaada, rindo e jogando cartas. Fica-

    mos ntimos. Foi l que ele teve a idia de fazer Capitanias Hereditrias e me

    chamou para o elenco. A pea mudou bastante desde a primeira idia, mas eu

    permaneci. Para mim foi uma oportunidade maravilhosa trabalhar com a Nat-

    lia do Vale, que adorei, com a Bia Nunnes, amiga mais antiga, com o Jos Wilker,

    com quem havia feito Hair, com a Guilhermina Guinle e o di Botelho. E mais,

    agora posso colocar no meu currculo que fiz Nelson Rodrigues, Brulio Pedroso,

    Plnio Marcos e Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa.

    Untitled-7 8/9/2008, 21:1977

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  • 79

    Cinema

    Cinema glamour puro! quando o ator se sente um Gulliver, um gigante

    representando para aquelas pessoas pequenininhas l embaixo. Digamos que

    a consagrao maior do ego. o ego amplificado em som dolby. Desde peque-

    no sonhei com o estrelato no cinema, tapete vermelho, bandeira do Brasil

    hasteada, vrios Oscars.

    No ginsio eu tinha um fichrio, cuja capa era uma colagem com notcias de

    Hollywood, mas eu substitua o nome dos atores pelo meu: Ney Latorraca

    voou para Los Angeles...; Ney Latorraca inaugurou a sua piscina. Nas contra-

    capas havia a foto da Elizabeth Taylor e da Carol Lynley.

    Aos doze anos eu j dizia para a minha me: Um dia voc ainda vai ver o meu

    nome aqui, na fachada do Cinema Roxy, que era um dos maiores cinemas do

    Rio de Janeiro. Ela achava que eu era maluco, mas se no cheguei a Hollywood,

    estava nos letreiros do Roxy pouco tempo depois, porque quando a gente quer

    realmente uma coisa, consegue. E eu queria muito o cinema, com todas as suas

    dificuldades, as interminveis esperas, poucos recursos e seu enorme fascnio.

    Audcia, A Fria dos Trpicos

    Assim como no teatro, quis comear num esquema bem off, Boca do Lixo. Tinha

    a maior curiosidade de ver a minha cara na tela grande. Quem me garantiu um

    lugar neste filme do Carlos Reichenbach e do Antonio Lima foi a Therezinha

    Sodr. A produo no tinha nada e o Carlos Alberto Torres, com quem ela

    estava namorando na poca, comprou um engradado de frutas, dois sacos de

    batatas e me levou na rodoviria.

    Cheguei na cidadezinha em que eles estavam filmando, entreguei tudo para a

    produo e ganhei um personagem: um bbado, que falava mal at mesmo do

    cinema brasileiro. Gostei de me ver na tela, embora tenha assistido ao filme

    absolutamente sozinho. No tinha ningum no cinema. Mais uma vez paguei

    pela minha vaidade.

    Untitled-7 8/9/2008, 21:1979

  • 80

    A Noite do Desejo

    O Robert Bolant, que era o rei da Boca do Lixo, me levou para conhecer o Fauzi

    Mansur, que me contratou imediatamente, ao saber que eu do signo de Leo.

    Ele s trabalhava com leoninos.

    Untitled-7 8/9/2008, 21:1980

  • 81

    Seduo

    Fiquei muito amigo do Fauzi, que

    decidiu fazer um filme comigo e

    com o David Cardoso, campo-

    grandense, da terra da mame. Eu

    fiz a cabea do Fauzi para chamar

    a Sandra Bra, que era a estrela

    do momento, o Fregolente, o

    Dionsio Azevedo, a Flora Geni. O

    filme, que seria mais um filme com

    uma boazuda, virou um filme de

    poca, bonito, muito bem cuida-

    do, que me fez ganhar todos os

    prmios no Festival de Guaruj

    e o Coruja de Ouro da Air France.

    Foi quando a Llian Lemmertz me

    deu uma lio: Melhor coisa para

    segurar porta, para ela no bater,

    prmio, serve para isso.

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2581

  • 82

    No filme, eu e a Sandra danamos um tango. Ela, como tinha a formao de

    bailarina, pediu para marcar a cena e ele concordou. Virou a grande cena do

    filme, um plano-seqncia genial, ns dois danando pela casa inteira. Esta

    cena era aplaudida no cinema.

    Aprendi muito com Fregolente, Dionsio e Flora. Ficava horas ouvindo suas hist-

    rias.

    Sandra era uma estrela! O lugar dela nunca mais foi ocupado! Est para nascer

    algum para descer uma escada como ela, com aquela canela fina, pernas mara-

    vilhosas, aquela bunda de crioula, linda, sabendo danar, cantar e segurar

    uma roupa.

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2582

  • 83

    Deixa... Amorzinho... Deixa

    Eu j estava morando no Rio de Janeiro quando fui convidado para fazer este

    filme, em que fazia papel duplo, gmeos, um bem mau, que morava no cu,

    junto com o Fbio Sabag, o Moacyr Deriqum, o Wilson Grey, enfim, o cinema

    brasileiro inteiro, e atazanava o outro que ficava aqui na Terra.

    Nunca entendi porque o filme tem este ttulo. Por mim seria O Passado me

    Condena ou Meu dio Ser Tua Herana. o filme que mais passa no canal de

    filmes brasileiros. Todos os dias, est ele l, de manh, de tarde e de noite.

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2583

  • 84

    Anchieta Jos do Brasil

    Querida Mame

    A est o seu filho Anchieta, Jos do Brasil, numa das cenas iniciais. Estou louco

    para voltar ao Rio.

    Todos os meus queridos esto a. Reze por mim e pelo filme.

    Ney - 23/maio/76

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2584

  • 85

    O roteiro foi escrito para o Roberto Carlos fazer, mas a Dona Mari,

    me do Paulo Csar Saraceni, achava que o Anchieta era eu. Com este

    lobby poderoso, acabei ganhando o papel.

    O filme tem momentos geniais. O Paulo um grande diretor. claro

    que acho que d para cortar um pouco daqueles planos e-n-o-r-m-e-s e

    lanar um bom DVD. O filme foi muito bem recebido em Veneza, todos

    os crticos falaram bem de mim e teve hino, bandeira brasileira, s no

    teve prmio, porque no era uma mostra competitiva. O processo de

    beatificao do Anchieta foi muito ajudado pela repercusso que o filme

    teve na Itlia. E foi a partir de ento que a minha me teve a certeza

    que era me de um santo.

    Ela morreu com a certeza de que serei lembrado pelo meu trabalho em

    Anchieta.

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2585

  • 86

    Das Tripas Corao

    Ana Carolina tem uma coisa espanhola muito

    forte, meio Almodvar, febril! Ela aposta na

    loucura! Adorei trabalhar com ela. Foi a pri-

    meira mulher que me dirigiu e aprendi como

    bom.

    A arte feminina. As mulheres so mais deli-

    cadas e fazem muito bem a sua parte; no

    querem, como os homens, ser donas de tudo.

    De ns, atores, elas conseguem o mximo da

    emoo, com o mnimo de tenso.

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2586

  • 87

    O Beijo no Asfalto

    O meu beijo com o Tarcsio ficou na histria. Na hora da cena,

    eu, deitado no cho, sussurrava: Me chama de Glria, me cha-

    ma de Glria... Tarcsio no perdeu a pose, no se desconcen-

    trou. Quando samos da filmagem, ele me deu uma carona e

    me perguntou se eu havia achado a cena pesada, forte. No,

    havia achado normal, mas causou celeuma.

    Hoje passaria no horrio infantil. Afinal, estamos na poca

    metrossexual: homem de brinco, salto alto, clio postio, se

    embolando com outro, sem problema algum.

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2587

  • 88

    O Grande Desbum

    Esse considerado o pior filme j feito na face da terra. No toa que se

    chama O Grande Desbum, Pecaram pelo Exagero ou Qualquer Coisa.

    A Marlia Pra insiste em esconder, em dizer que no estava no elenco, mas ela

    fez o filme, sim, que era uma adaptao de uma pea do Martins Pena, As

    Desgraas de Uma Criana, que havia sido um enorme sucesso no teatro com

    Marieta Severo, Marco Nanini, Camila Amado, Eduardo Dussek. Sempre come-

    tem este erro. Na hora de passar para o cinema, trocaram o elenco. No deu

    certo. O filme foi um grande fracasso. Merecido. No d para acreditar no que

    se est vendo.

    Ningum se salva neste filme. Eu achei bom participar de um fracasso desta

    magnitude, uma coisa meio Ed Wood. Mandei passar o filme para DVD, de vez

    em quando reno um grupo e passo. S ouo as exclamaes de horror. Eu fiz

    o filme, quero deixar claro. Marlia Pra, no.

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2588

  • 89

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  • 90

    A Mulher do Atirador de Facas (curta-metragem)

    Este filme, que fiz com a Carla Camurati, ganhou todos os prmios, menos o de

    melhor ator. Deram para um gacho, em Gramado. Fiquei com dio. Eu tenho

    problemas, s que confesso: minhas paixes, meus dios. E se falo, eles vo

    embora. No fico remoendo-os em casa.

    pera do Malandro

    Cinema exaustivo. Voc acorda s cinco horas da manh, fica prontinho e s

    seis da tarde avisam que no vai dar para fazer a cena porque a luz acabou.

    Uma vez perguntaram ao Marcelo Mastroianni se ele era o maior ator do mundo

    e ele respondeu: No, sou a pessoa que mais esperou na vida. Ele, o Henry

    Fonda e o Wilson Grey. Quando no a luz, o negativo. Vamos, vamos, faz

    de primeira, porque tem pouco filme. Sempre sobra muito pouco para o ator.

    Posso dizer que o nico filme que fiz, sem problema algum, foi A pera do

    Malandro, que era uma co-produo com a Frana. O Ruy guardava a tomada

    1, a 14 e a 80. Um luxo s!

    A Dina Sfat foi quem me apresentou ao Ruy, e ele me convidou para fazer o

    papel principal junto com a Snia Braga, mas ela no pde e o Ruy mudou os

    dois protagonistas. Ficaram a Cludia Ohana e o Edson Celulari. E eu virei o

    Tigo, o que foi timo, acho que fiz bem e acabei sendo chamado pelo Chico

    para cantar o Hino da Represso no disco dele: Malandro. Posso dizer que te-

    nho a honra de estar ao lado de Gal Costa e Zizi Possi, fazendo parte da

    discografia de Chico Buarque de Hollanda. No pouco, no!

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2590

  • 91

    Ele, O Boto

    Filmei muito em Paraty. O Boto foi feito l. Foi muito bom trabalhar com o

    Carlos Alberto Riccelli, que meu amigo de toda a vida, e com a Cssia Kiss,

    que acho uma tima atriz. E, em especial, com o Walter Lima Jr. Foi muito

    especial o trabalho com algum que filma o boto, a ostra, o vento, o mar e que

    tem um tempo muito particular. Walter acredita, vai em frente e funciona.

    Eu uso um aplique neste filme. Estou com muito cabelo. Na cena do casamento,

    acontece a maior ventania e meu cabelo fica grudado, no levanta nem um

    milmetro. At uma rvore voa, menos o meu implante.

    A Bela Palomera

    Eu enlouqueci tanto o Ruy Guerra que ele acabou pegando um pedao de Cem

    Anos de Solido e fazendo o filme, uma co-produo Brasil/Espanha, A Bela

    Palomera, com roteiro do prprio Gabriel Garcia Mrquez. A Dina Sfat s tem

    uma fala no filme. Ela olha para mim e diz: Puto. E est absolutamente genial.

    Em um momento, a produo do filme ia ter que parar porque os produtores

    comearam a implicar com o meu bigode, que cada hora estava de um jeito. Eu

    fazia Irma Vap e precisava estar de cara limpa no palco. Eu tive uma idia, que

    o Ruy gostou: em uma cena, o personagem entrava em um lugar s dele e

    havia uma coleo de bigodes. A partir da, tudo era possvel. E os R$ 300.000

    que estavam faltando, entraram na produo.

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2591

  • 92

    Festa

    Adorei fazer este filme. Talvez

    seja o meu melhor momento

    no cinema. Ugo Giorgetti tra-

    balha com publicidade e faz

    cinema. da mesma tribo do

    Waltinho Salles, do Fernando

    Meirelles. Eles sabem tudo o

    que querem. uma maravilha!

    Muita gente contra, fala mal,

    que eles trazem tudo pronto,

    limpo, mas, na verdade, eles

    fazem um cinema muito bem

    feito. Ugo mostra So Paulo

    para o Brasil.

    Brevssimas Histrias das Gentes de Santos

    Eu fao todos os papis deste curta-metragem e passeio pelos lugares que foram

    importantes na minha juventude em Santos. Com ele ganhei o prmio de melhor

    ator no Festival de Fortaleza. O filme tem muito humor, parece com Santos. E

    eu sou um santista, cabreiro, boca-dura, que vai na Ponte Pnsil comprar

    bananinha-passa, anda trs quilmetros para cair na gua, mas tem o maior

    orgulho do seu balnerio.

    Carlota Joaquina, Princesa do Brasil

    Foi a primeira vez que trabalhei com a Carla Camuratti me dirigindo. Nossa,

    que prazer! Fiz uma participao como Debret e amei.

    For All, o Trampolim da Vitria

    Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, escreveu o papel principal do For All para mim,

    mas eu no fiquei muito animado para fazer o filme. Minha me tinha morrido,

    estava enterrada em So Paulo, no Morumbi alis, um tmulo chiqurrimo,

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2592

  • 93

    carssimo, que ela mesma escolheu, entre a Elis Regina e o Ayrton Senna, 5 mil

    japoneses de um lado, 5 mil fs da MPB do outro, nunca mais pude ir l. Na

    poca, porm, eu achava que, se ficasse sempre na cidade, estaria mais perto

    dela. Uma coisa maluca, claro! No aceitei o convite e ele me pediu para fazer

    uma participao, porque ele me acha um pouco p de coelho. E eu topei.

    bom ter o Ney no elenco. Eu sou bom de intervalo, animo a festa. Rezo todos

    os dias quando saio de casa para ser discreto, mas dura meia hora. Quando

    vejo, j estou com a equipe inteira em volta de mim se estiver faltando algum

    no comeo o nmero, gosto de casa cheia contando as mesmas histrias, s

    que eu vou aumentando a cada dia. Eu minto mesmo.

    Viva Sapato

    Outro filme do Bigode. Desta vez fiz um personagem bem legal. Adorei traba-

    lhar pela primeira vez com a Irene Ravache, que est genial no filme ela diz

    que no, mas mentira. Alis, o elenco todo timo.

    Diabo a Quatro

    Este o primeiro longa da Alice de Andrade, filha do Joaquim Pedro de Andrade,

    diretor de Macunama, entre outras obras-primas; um dos maiores cineastas

    brasileiros. Eu fao um senador, casado com a Marlia Gabriela, em umas quatro

    seqncias. Durante as filmagens, havia uns outdoors com a minha cara espa-

    lhados pelas ruas e muita gente veio me perguntar se eu estava me candidatando

    a alguma coisa. S faltava essa! No combinaria nada comigo.

    Quem Tem Medo de Irma Vap?

    Em 2001, a Carla Camurati me ligou, contou que havia comprado os direitos da

    pea e que ia fazer um filme. Eu achei que era uma pegadinha. Ns amos

    filmar logo em seguida, mas ficou adiado para 2004. diferente da pea, uma

    coisa mais operstica, com muitos outros personagens. Que presente! Que cele-

    brao! No vejo nada melhor para comemorar os meus 40 anos de profisso e

    60 de vida.

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2593

  • 94

    Televiso

    Como todos os atores que passaram por escola de teatro e isso existe at hoje

    eu tinha um certo desprezo pela televiso. Ao mesmo tempo era completa-

    mente seduzido por ela. Por isso mesmo comecei a flertar com a TV. Comecei

    fazendo pontas: danando l no fundo do Al Doura, por exemplo, seriado

    que fazia um sucesso enorme com a Eva Wilma e o John Herbert. Fiz muita

    figurao.

    Mais uma vez, as mulheres me ajudaram, foram mes para mim: Therezinha

    Sodr me levou para fazer parte da turma dos cabeludos em Dom Camilo e os

    Cabeludos, que ela protagonizava junto com o Zeloni. Nuno Leal Maia liderava

    a turma e eu fazia o Besouro. No tinha fala, s fazia BZZZZ. Depois, a Marlia

    Pra, a minha madrinha, me levou para uma novela, em que ela era a estrela,

    junto com Rodrigo Santiago Super Pl, na Tupi. No ganhava cach, mas uma

    coisa que apelidvamos de dinheirn, que servia para trocar por calcinhas, copo

    de liquidificador, uma coisa bem de pobre.

    Em 1971, a Llian Lemmertz assinou um contrato com a Record e colocou como

    condio que eu fosse contratado tambm ns estvamos fazendo uma pea

    juntos. Por qu? Ora, porque ela me queria junto, era minha amiga, me amava.

    E eu amo a Llian no consigo usar o verbo no passado. Benditas mulheres

    que me encaminharam e me abriram as portas de um veculo que me deu um

    sucesso sem igual.

    O Tempo No Apaga

    A Llian era estrelssima da novela, junto com Hlio Souto e a Nathlia Timberg.

    Eu estava no ncleo pobre, com a Lolita Rodrigues e a Edi Cerri a primeira

    Narizinho do Stio do Pica-pau Amarelo. E foi um aprendizado maravilhoso.

    At ento eu nunca havia me sentido confortvel na televiso, me achava muito

    duro, teatral, e quando ouvia o gravando j ficava tenso. Os trs anos que

    fiquei na Record fiz ainda Eu e a Moto, do Sylvan Paezzo, e o primeiro texto

    da Leilah Assumpo para a TV, Venha Ver o Sol na Estrada, com direo de

    Antunes Filho foram uma espcie de ensaio, para que eu pudesse entender o

    que era realmente a televiso.

    Os captulos chegavam com cheiro de mimegrafo. Eu lia correndo para ver

    quantas falas eu tinha. Queria muito texto! Que ironia: hoje quero gravar um

    cenrio, no chegar nunca na porta, para no ter que gravar externa e, se

    possvel, falar somente boa-noite.

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2594

  • 95

    Eu ia para casa correndo para me ver e torcia para que as pessoas me reconhe-

    cessem na rua... Mas ningum me reconhecia. As novelas da Record no passa-

    vam nacionalmente, mas, graas a Deus, passavam em Santos e em Campo

    Grande, no Mato Grosso do Sul, e assim a minha famlia podia torcer por mim.

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2595

  • 96

    Escalada

    Em 1974, fui convidado para ser o protagonista

    de uma novela da Tupi. Combinei tudo, fui

    primeira reunio do elenco, a imprensa toda

    estava l, e na hora do intervalo vi no fundo do

    corredor a porta de sada e um txi parado. Fui

    embora e nunca mais voltei. Eu no estava prepa-

    rado para ser protagonista de uma novela. Nin-

    gum acredita, mas s eu sei o que senti. Quando

    cheguei em casa, minha me me deu uma bron-

    ca, porque afinal eu havia enchido o saco da

    Irene Ravache, da Joana Fomm, da Marlia Pra

    e na hora H havia literalmente fugido. Na manh

    seguinte recebo um telefonema da TV Globo

    para gravar no Rio de Janeiro uma novela: Esca-

    lada.

    Grande Nathlia, leonina!

    Assinei um contrato de trs meses de experincia. Meu personagem s iria parti-

    cipar da primeira fase da novela, no falava quase nada, ficava abrindo e fechan-

    do porta e deitado na rede, aquela coisa magra e branca, atrs da Rene de

    Vielmond e do Tarcsio Meira. Duas semanas depois da estria eu j era candi-

    dato a Rei da Televiso concorrendo com Roberto Carlos e com Tarcsio. Claro

    que tinha a mozinha da mame no meio, que enviava muitos cupons! Virei

    um sucesso, uma febre nacional. Fiz novo contrato de dois anos, direto com o

    Boni, passei a ganhar cinco vezes mais, o personagem desandou a falar louca-

    mente e a namorar sem

    parar: Nathlia Timberg,

    Tessy Callado, Vera Gime-

    nez e Sandra Bra. Bem

    gal. Com o sucesso de Es-

    calada, comecei a fazer

    muita fotonovela, baile

    de debutante e comprei

    o meu primeiro aparta-

    mento, financiado em 24

    anos pela Caixa Econmi-

    ca, mas comprei!

    Untitled-8 8/9/2008, 21:2596

  • 97

    O Grito

    Eu e a Elizabeth Savalla, como a Malvina de Gabrie-

    la, havamos estourado. O Avancini nos chamou

    para protagonizar O Grito, uma novela densa do

    Jorge Andrade (em minha opinio, um autor

    injustiado), com um elenco maravilhoso. A hist-

    ria toda se passava em uma semana e todos os

    personagens, exceto eu, viviam no mesmo prdio.

    Eu ficava no edifcio em frente observando tudo

    de binculos. No foi um sucesso, a novela ficou

    meio maldita e at hoje, junto com O Rebu e Beto

    Rockfeller, estudada pelos pesquisadores, a

    queridinha das teses. Para mim deu prestgio e a

    oportunidade de aprofundar meus laos com

    Walter Avancini, com quem fiz os mais belos traba-

    lhos na TV.

    Untitled-9 8/9/2008, 21:3197

  • 98

    Estpido Cupido

    Como eu e a Savalla no fizemos sucesso em O Grito,

    fomos escalados para uma novela chamada Estpido

    Cupido. Nossos nomes que vinham l na frente passa-

    ram l para trs, aqueles que passam correndo. S que

    deu a maior zebra, tanto a personagem dela, a freira

    que se apaixona pelo Luiz Armando Queirz, como o

    meu, o Mederiques, foram um baita sucesso.

    Eu estava com 33 anos e meu personagem tinha 18.

    Quando vi a primeira chamada, na qual eu aparecia

    danando twist e dizendo a minha idade, com um

    enorme chuca um aplique horroroso que haviam

    colocado, porque eu j estava meio careca , vi que

    no dava para continuar daquele jeito. Pedi uma rou-

    pa toda preta, que pintassem a moto de preto, passei

    a cham-la de Brigitte, arranquei o aplique e acredi-

    tei que tinha 18 anos mesmo.

    Ns tnhamos um time de futebol que jogava contra

    o time da igreja. Um sucesso!

    Untitled-9 8/9/2008, 21:3198

  • 99

    Untitled-9 8/9/2008, 21:3199

  • 100100

    Sem Leno, Sem Documento

    Eu fazia o personagem principal da novela, mais uma de Mrio Prata, na cola

    do sucesso de Estpido Cupido. Era disputado pela Christiane Torloni e Bruna

    Lombardi. Digamos que ficamos sem leno, sem documento e sem audincia.

    Eu andava nas ruas e as pessoas perguntavam quando eu ia voltar para a tele-

    viso. Esse o termmetro que indica que as coisas andam mal. Foi muito bom,

    especialmente para uma pessoa vaidosa como eu. Esta raa de pessoas regateiras

    precisa levar uma chapuletada de vez em quando.

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31100

  • 101

    Saudade No Tem Idade

    Foi idia do Boni que eu desse uma parada nas novelas para fazer um musical

    na Sexta Nobre tinha a Betty Faria em Brasil Pandeiro, Sandra e Mile e o

    Saudade No Tem Idade, apresentado por mim e pela Djenane Machado, com

    direo do Augusto Csar Vanucci. Eu gostava de fazer, porque tinha oportuni-

    dade de cantar, danar e conhecer artistas maravilhosos como Isaurinha Garcia

    e as Irms Batista.

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31101

  • 102

    A Djenane funcionava

    muito bem comigo!

    Bonitinha, jeitosa, com

    uma voz pequena, mas

    que dava conta do re-

    cado, ela, ainda por

    cima, vinha de uma fa-

    mlia tradicional do

    musical. Filha de Carlos

    Machado, sabia tudo!

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31102

  • 103

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31103

  • 104

    No acho que foi um desvio na minha trajetria, mas sim uma volta s minhas origens, aos

    meus pais que eram cantores: meu pai fazia a linha intimista, bossa-novista, Tito Madi; minha

    me era samba-exaltao, ba! Fazendo Saudade No Tem Idade eu me sentia como se estives-

    se trabalhando, como eles, no tempo dos cassinos.

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31104

  • 105

    Aplauso: Como Matar um Playboy

    No sei por que Aplauso acabou? As pessoas adoram teatro na televiso e

    pedem at hoje a volta do Grande Teatro Tupi.

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31105

  • 106

    Malu Mulher: A Amiga

    Fui o ltimo namorado da Malu. No me sa nada bem. Sou f da Regina Duarte

    e no conseguia contracenar com ela. S queria pedir um autgrafo e que ela

    tirasse uma foto comigo, boquiaberto. Acho-a uma grande estrela da televi-

    so. Em vez de fazer o personagem, fiquei babando por ela.

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31106

  • 107

    Chega Mais

    Foi uma participao breve, porque tive o meu momento Oscar e larguei tudo.

    Melhor no falar disso outra vez...

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31107

  • 108

    Corao Alado

    Foi a primeira vez que trabalhei em uma novela de Janete Clair. Eu no fazia

    bem o personagem. Era uma poca que andava muito preocupado com a carrei-

    ra do Fagundes, do Jos Wilker e a minha ficava empacada. Quando resolvi

    este problema que no era com eles, mas sim comigo mesmo tudo melho-

    rou.

    Eu fazia um vilo mesmo, mas estava muito preso. A Dbora Duarte me ajudou

    muito quando sugeriu que eu comesse o arranjo de flores em cima da mesa

    durante a cena. O personagem se solucionou a partir dessa pirada, comeou a

    render. No parei de comer arranjos: lrios, rosas, margaridas, nada me escapava.

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31108

  • 109

    Av. Paulista

    Este era um texto da Leilah Assumpo, em parceria com o Daniel Ms, que

    estreava na televiso. A proposta do Avancini era fazer uma coisa bem

    jornalstica, atual. Eu interpretei um empresrio que simulava o prprio seqes-

    tro, porque estava de caso com um cara. Na hora de gravar me colocaram no

    porta-malas de um carro, jogaram a chave fora e ningum tinha uma cpia.

    Quando eu sa l de dentro, quase matei o Avancini.

    A srie tinha um charme. Mostrava outra So Paulo, desconhecida de muitos.

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31109

  • 110

    Eu Prometo

    Mais um papel srio, nossa, quantos eu fiz! Nunca me foram impostos, foi real-

    mente uma proposta de trabalho na televiso. Podia ter apostado em ser o

    gal, mas preferi atirar em outras reas. Nesta novela fazia o principal oponen-

    te ao personagem do Cuoco, que deseja ser presidente. Ele quase um Iago.

    Mais uma vez estou junto com Dina Sfat, Walmor Chagas, Joana Fomm. Uma

    verdadeira turma!

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31110

  • 111

    Anarquistas, Graas a Deus

    Eu estava decidido a fazer uma temporada na praia, pegando onda, comendo

    biscoito Globo e tomando mate. Era um grupo grande: eu, Aracy Balabanian,

    Glria Menezes, Francisco Cuoco, Flvio Stefanini e Edney Giovenazzi. Pois bem,

    chega um convite para eu largar a praia e ir para o interior de So Paulo gravar

    uma histria que o Edvaldo Pacote tinha achado muito boa e recomendado ao

    Boni. Na mesma hora disse que no estava interessado. A Aracy insistiu que eu

    devia fazer, era um livro da Zlia Gattai, mulher do Jorge Amado, e que aquele

    trabalho iria mudar o meu perfil na TV. Com muita m vontade, achando que

    a Aracy tinha enlouquecido, comprei o livro. Adorei, mas mesmo assim no me

    via no papel, achava que era uma coisa para um Jardel Filho. Quando gravei a

    primeira cena de Anarquistas, Graas a Deus cercado pelos meus filhos soube

    que havia virado outra classe de ator. Aracy estava certa!

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31111

  • 112

    Anarquistas, Graas a Deus foi o trabalho que mais gostei de fazer na televiso.

    Gravamos em 1983, mas Anarquistas s foi exibida um ano depois, quando

    estreou s pressas, depois que um texto do Nelson Rodrigues dirigido pelo

    Ademar Guerra teve problemas com a censura. Em uma quinta-feira, estava

    em casa, quando vi a chamada; na sexta, a divulgao preparou um material

    correndo e a srie estreou na segunda-feira muito mal de audincia. Na sexta

    seguinte, eu j era capa de todas as revistas do Brasil. O casal protagonista era

    muito elogiado. Mas a Dbora Duarte no era surpresa para ningum, todo

    mundo tinha certeza que ela era uma atriz maravilhosa. Digamos que eu sur-

    preendi mais. Guardo at hoje um telegrama que recebi da Zlia Gattai em

    que ela diz que se o pai fosse vivo ficaria muito contente em se ver. At hoje

    ela se emociona muito quando se encontra comigo e sempre me chama cari-

    nhosamente de pai.

    Untitled-9 8/9/2008, 21:31112

  • 113

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36113

  • 114

    Partido Alto

    Uma participao especial,

    que gostei muito de fazer.

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36114

  • 115

    Rabo de Saia

    Que elenco! Com a Dina Sfat eu tinha uma relao de filho. Ela cuidava de mim

    como uma me. Com a Tssia Camargo, acontecia o contrrio, ela me chamava

    de vovozo e eu a tratava como uma menina. A Lucinha Lins era a esposa, com

    quem freqentava a igreja e fazia amor no escuro. Eu amava as trs, assim

    como o Quequ.

    Quequ virou at verbo na poca da srie: quequezar era enganar a mulher.

    Em 1984, fiz 40 anos de idade, 20 de carreira e fui presenteado com o Ernesto e

    com o Quequ. O que um ator pode querer mais?

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36115

  • 116116

    Um Sonho a Mais

    Esta novela foi uma loucura. No deu certo, mas eu fiz um baita sucesso. Foi

    feita para mim, principalmente a Anabela, que acabou casando com o Carlos

    Kroeber na igreja, tendo uma gravidez psquica, um amante, que era o Jos

    Lewgoy, e recebendo em sua garonnire o Roberto Bataglin e o Edson Celulari.

    Acabou em todas as capas de revista e as atrizes, claro, ficaram com dio.

    Em Um Sonho a Mais realmente aprendi a valorizar ainda mais as mulheres.

    Como elas sofrem. Um ano de salto alto no foi mole.

    Eu fazia vrios personagens: o velho da bolha, o advogado, o motorista, Dr.

    Nilo Peixe, Volpone, Augusto, Anabela e eu mesmo. Foi um trabalho em que

    pude brincar muito. O er baixou mesmo. Foi vendo a novela que a Marlia

    teve a idia de chamar a mim e o Nanini que tambm aparecia de mulher,

    como a Florisbela, irm da Anabela para O Mistrio de Irma Vap. Viu como as

    coisas vo se juntando, tijolo com tijolo, pecinha com pecinha. Nada gratuito.

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36116

  • 117

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36117

  • 118Grande Serto, Veredas

    Foi s uma participao, mas quase me meti em uma grande confuso. No li a

    rubrica em que dizia que ao final da cena eu devia dizer a Ave-Maria em latim.

    Na hora da gravao, sem saber o que fazer, sugeri que em vez da orao eu

    tivesse um acesso, rodopiasse pela igreja e casse duro no cho depois que a

    Yon Magalhes confessava que me amava e que havia matado o marido por

    minha causa. Tudo porque no sabia a Ave-Maria em latim. Deu certo.

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36118

  • 119

    Memrias de um Gigol

    O Avancini queria misturar nesta srie o Quequ com o Exrcito Brancaleone.

    Era tudo exuberante, vibrante, exagerado, largo. No deu muito certo. Sobra-

    ram a beleza da Bruna Lombardi e o Lauro Corona, que estava muito bem. Eu

    acho que no era papel para mim, precisava ser algum mais novo para que as

    pessoas acreditassem na rivalidade.

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36119

  • 120

    TV Pirata

    Eu queria muito fazer algo diferente. O Nanini me indicou para o TV Pirata. Eu

    e a Cludia Raia fomos os ltimos a entrar no elenco. Fiquei dois anos, adoran-

    do aquela loucura maravilhosa. Fiz pelo menos uns 30 personagens por ms,

    mas o que ficou mesmo foi o Barbosa.

    Barbosa era um personagem da novela Fogo no Rabo, que existia dentro do TV

    Pirata. Ele no tinha texto, s repetia o que os outros falavam. E virou mania

    nacional. At hoje sou obrigado a responder na rua porque matei o Barbosa.

    At com o Tom Jobim, o Barbosa cantou. O maestro maravilhoso cantava:

    pau, pedra, o fim do caminho. E o Barbosa complementava: caminho.

    Vou revelar uma coisa que jamais contei a ningum. Cada um de ns em Fogo

    no Rabo homenageava um ator. Era uma base para ns. Eu quis fazer uma

    homenagem ao Walmor e ao Ricelli, que, quero deixar claro, meu amigo de

    infncia. Projetei um pouco o lbio inferior para frente, mas os tcnicos no

    estdio nossa primeira platia adoraram e pediam mais, mais, mais e acabei

    ficando com um bico enorme.

    A Louise Cardoso brincava que havia estudado tanto para andar na rua e as

    pessoas dizerem: Olha a mulher do Barbosa.

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36120

  • 121

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36121

  • 122

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36122

  • 123

    Vamp

    Deveria ser uma histria de amor com pitadas vampirescas. Virou uma novela

    em que todos eram vampiros e eu, o chefe deles todos. Eu tenho uma tendn-

    cia a puxar a brasa para a minha sardinha!

    Eu queria fazer um trabalho especialmente para crianas e consegui. Na primeira

    cena, sria, a Cludia Ohana toca piano e eu ofereo-lhe o sucesso em troca de

    sua alma. Eu olhei para a cmera e disse assim: Gotoso. Pronto, acabou, virei

    queridssimo de todos. As crianas compravam os dentinhos e as capinhas nas

    bancas de jornais e saam todos de Vlad pela rua.

    Uma dia eu cheguei tarde no hotel em So Paulo e uma criana no elevador s

    me dizia: Sai de mim, sai de mim. J outras, pediam para ser mordidas.

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36123

  • 124

    Zaz

    Fiquei um tempo parado e voltei em Zaz, que no deu certo. As pessoas tam-

    bm me perguntavam na rua quando eu ia voltar para a TV. O Silas no aconte-

    ceu. Era um elenco genial, o Lauro Csar um autor maravilhoso, mas no

    funcionou. Depois disso fiquei um pouco de castigo, fazendo uns Voc Decide.

    Quando voc faz um fracasso na televiso ele vira seu, no o projeto que deu

    errado.

    O Cravo e a Rosa

    Depois de um bom tempo fiz esta novela genial, que marca outro momento da

    minha vida profissional na televiso. Foi quando deixei de ser o protagonista

    da novela para ser o rei do meu ncleo. Fui fazer esta participao em O Cravo

    e a Rosa por motivos afetivos: era um trabalho do Avancini, e a gente intua

    que seria o ltimo. Ele sempre dizia que eu era o p-de-coelho dele. E o Cornlio

    foi um grande sucesso. Tudo era bom: os figurinos, o texto do Walcyr Carrasco,

    o Zeca Pagodinho cantando Jura na abertura, um clima meio Martins Pena,

    enfim, um trabalho que deu certo.

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36124

  • 125

    O Beijo do Vampiro

    No final de Vamp , Vlad dizia assim: Eu vou voltar. E voltou como Nosferatu

    em O Beijo do Vampiro.

    Da Cor do Pecado

    Quando as pessoas falam que eu e a

    Mait estamos nos divertindo muito,

    elas tm toda razo. Voc s faz com-

    dia bem se est se divertindo por den-

    tro. Eu no vou me mandar para o

    Projac, 70 km, ida e volta da minha casa,

    para sofrer. Adoro ver o pessoal da lim-

    peza, os bombeiros, os tcnicos, todos

    paradinhos na frente do cenrio quando

    estamos gravando, s gargalhadas. Casa

    cheia.

    Muitas vezes fico pensando se, aos 60

    anos, ainda existe espao para mim. Ser

    que o tempo s para os gals altos,

    louros, enormes? Mas no, sempre exis-

    te um espao para os ATORES, jovens

    ou velhos: Walmor Chagas, Thiago

    Lacerda, Camila Morgado, talo Rossi,

    Dan Stulbach. Isso genial!

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36125

  • 126

    Histrico de uma Carreira

    1964Reportagem de Um Tempo MauAutor: Plnio Marcos - Direo: Plnio MarcosElenco: Walderez de Barros, Leonardo Lopes e todos os integrantes da Companhia doTeatro de Arena de So PauloEstria: Teatro de Arena de So PauloDenncia sobre os fatos que ocorreram na poca do golpe de 64. A pea teve apenasuma apresentao, foi censurada e o elenco preso.

    1965A CrnicaAutor: Carlos Alberto Sofredini - Direo: Carlos Alberto SofrediniElenco: Jandira Martini, Eliana Rocha, Rubens Ewald Filho e integrantes do Teff, Tea-tro da Faculdade de Filosofia de SantosEstria: Teatro Independncia de Santos

    O Cristo NuAutor: Carlos Alberto Sofredini - Direo: Carlos Alberto SofrediniElenco: Carlos Alberto Sofredini, Jandira Martini, Eliana Rocha, Rubens Ewald Filho eintegrantes do TEFF (Teatro da Faculdade de Filosofia de Santos)Estria: Teatro Coliseum de Santos

    1966A FalecidaAutor: Nelson Rodrigues - Direo: Celso Nunes, superviso de Antunes FilhoElenco: Jandira Martini, Eliana Rocha, Rubens Ewald Filho e integrantes do TEFFTemporada: Estria no Teatro Independncia e depois Teatro Coliseum de Santos, Tea-tro Maria Della Costa e uma apresentao no Municipal, So Paulo.

    1967 a 1969EAD (Escola de Arte Dramtica da USP - So Paulo)Direo-Geral: Alfredo MesquitaTrabalhos na Escola:O Burgus Ridculo, de Molire - Direo: Alfredo MesquitaA Lio, de Ionesco - Direo: Ney Latorraca

    Untitled-10 8/9/2008, 21:36126

  • 127

    Entre Quatro Paredes, de Jean Paul Sartre - Direo: Paulo HesseBalada de Manhattan, de Leo Gibs