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S o u t h A fr ic a n I n s tit u t e o f I n t e r n a ti o n a l A f f a i r s A fric a n p e rs p e cti v e s . G lo b a l in si g h ts . Economic Diplomacy Programme OCCASIONAL PAPER 206 Mega-Regional Trade Agreements: Strategic Implications for South Africa Peter Draper, Simon Lacey & Yash Ramkolowan November 2014

COLEÇÃO DIDÁTICA E DE REFERÊNCIA SOBRE LIXO …globalgarbage.org/IV-CBO-2010/0192.pdf · 01705 III Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO’2010 Rio Grande (RS), 17 a 21

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III Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO’2010Rio Grande (RS), 17 a 21 de maio de 2010

AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia

COLEÇÃO DIDÁTICA E DE REFERÊNCIA SOBRE LIXO MARINHO: PORQUE E COMO

Alves, L. H. B.1; Pontes, T. L. M.1; Sul, J. A. I. do1; Costa, M. F. da1

1 LEGECE, Depart. Oceanografia - UFPE. Av. Arquitetura s/n, Cidade Universitária, Recife, Pernambuco. Brasil.CEP 50740-550. Autor para correspondência: [email protected]

RESUMOCom o surgimento de novas linhas de pesquisas, surge a necessidade da formação de novascoleções, reunindo exemplares relacionados aos novos objetos de estudo e esclarecendo diferentes processos a eles relacionados. Estudos relacionados à presença de lixo nos ambientes costeiros e marinhos estão em amplo desenvolvimento, principalmente nas últimas décadas. Este trabalho apresenta os primeiros resultados da formação de uma coleção científica de referência relacionada ao lixo marinho. Além do papel científico, espera-se também atingir, através de uma linguagem mais flexível, a população em geral, cada vez mais interessada no assunto. A coleção pode ser total ou parcialmente transportada, colocando o tema lixo marinho, literalmente, dentro das salas de aula.

Palavras chave: plásticos, praias, ensino de oceanografia.

INTRODUÇÃO Coleções científicas de referência e coleções didáticas podem reunir exemplares de

animais, vegetais, fósseis, minerais, rochas, sedimento, gelo, água e outros tipos de amostras de interesse oceanográfico. Todas essas coleções são comuns em instituições de ensino e pesquisa. No entanto, com o desenvolvimento de novas linhas de pesquisa, há a necessidade da formação de novas coleções, reunindo exemplares relacionados aos novos objetos de estudo e esclarecendo diferentes processos a eles relacionados. Nas últimas décadas estudos sobre lixo marinho, principalmente da sua fração plástica, têm crescido muito em todo o mundo (MOORE, 2008), e o Brasil não foi exceção (IVAR DO SUL & COSTA, 2007). Isso se deu devido à percepção tanto por parte dos cientistas quanto por parte da população em geral; basta um olhar atento em qualquer uma das centenas de cidades litorâneas para se constatar que o lixo marinho faz parte da nossa paisagem do dia-a-dia. O lançamento cada vez maior de resíduos sólidos de diferentes tipos no ambiente marinho causa vários tipos de problemas e resulta em prejuízos à fauna e à saúde humana, além de criar dificuldade para as atividades marítimas. Estes impactos deram origem a diferentes ramificações em estudos sobre lixo marinho, que atualmente constitui uma linha de pesquisa em pleno crescimento, com novos campos se abrindo a cada ano. Em 2009, a preocupação internacional relacionada aos problemas relativos à presença de lixo nos ambientes costeiros e marinhos fica evidente através da publicação pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (http://www.unep.org/regionalseas/marinelitter/) de três livros abordando formas de monitorar e controlar o lixo marinho. Sendo assim, torna-se eminente a necessidade da formação de uma coleção científica de referência, que também possa ter uso didático, tendo em vista a grande demanda de professores e estudantes de todos os níveis de formação (do Fundamental I ao Pós-Doutorado) sobre este assunto, que é cada vez mais premente.

MATERIAIS & MÉTODOS Em períodos distintos (1999-atual) durante trabalhos de campo do LEGECE, foram

coletados amostras de lixo marinho em diversas praias. Itens encontrados nas praias de Boa Viagem (BV), Fernando de Noronha (FEN) e no Estuário do Rio Goiana (ERG) foram escolhidos para dar início à coleção. Os itens coletados foram trazidos para o laboratório onde foram triados, limpos, identificados e classificados (Tab. 1). As classes seguem parâmetros como fonte, tipo, uso mais provável (ex. usuários de praias, pesca, navegação de recreio e comercial), tamanho (IVAR DO SUL et al., 2009; COSTA et al., 2010), material predominante e risco ambiental oferecido. Cada item, ou grupo de itens semelhantes, foi acondicionado em um recipiente de vidro limpo e identificado com numeração especifica (Fig. 1), corresponde a uma ficha catalográfica. Diversos aspectos relacionados a cada item contido nos recipientes estão

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AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia

descritos na sua ficha. Estas fichas estarão ao alcance de qualquer interessado em conhecer a história particular de cada item depositado marinho nesta coleção.

Tabela 1: Exemplos de itens do lixo marinho pertencentes à coleção e algumas das características que constam da sua respectiva ficha catalográfica.Local Tipo de item Fonte mais

provável Tamanho Material Potencial de risco ambiental oferecido

BVAmostra grátis de bronzeador e protetor solar

Usuário da praia

Médio (2-10cm)plástico duro

Ingestão por grandes animais; Fácil transporte por correntes marinhas e ventos

BV Palito de picolé Usuário da praia.

Médio (2-10cm)plástico duro

Fácil transporte por correntes marinhas e ventos

BV Maquiagem Usuário de praia

Médio (2-10cm)plástico duro

Ingestão por grandes animais; Fácil transporte por correntes marinhas e ventos

BV Bijuterias Usuário da praia

Médio (2-10cm)plástico duro e metal

Ingestão por grandes animais

BV Copos descartáveis; tampa de PET

Usuário da praia

Médio (2-10cm)plástico mole e duro

Fácil transporte por correntes marinhas

BV Arame; lápis Comércio na praia

Médio (2-10cm)metal; madeira e grafite

Ingestão por grandes animais; cortes e ferimentos em usuários da praia

BV Piche NavegaçãoMédio (2-10cm)piche.

Fácil transporte por correntes marinhas e ventos; transporte de outros poluentes; ingestão por grandes animais contaminação química

BV Brinquedos Usuário da praia

Médio (2-10cm)plástico duro

Ingestão por grandes animais; Fácil transporte por correntes marinhas e ventos

FEN Pesos de chumbo pescaMédio (2-10cm)metal duro.

cortes e ferimentos em usuários da praia e animais; ghost fishing

FEN Redes de pesca pescaMédio (2-10cm)plástico mole

Ghost fishing

FEN Lightsticks pescaGrande (>10cm)plástico duro

Tóxico e irritante a pessoas e animais; Fácil transporte por correntes marinhas e ventos

FEN Fragmentos de plástico Indefinido

Diversosplástico duro e mole

Ingestão por grandes e pequenos animais; Fácil transporte por correntes marinhas

ERG Película de filme fotográfico rio

Médio (2-10cm)plástico duro

Fácil transporte de organismos incrustados por correntes marinhas e ventos

RESULTADOS & DISCUSSÕES A coleção foi iniciada com aproximadamente 30 (trinta) amostras de numeros de itens

diversos, demonstrando desde a sua formação a diversidade do lixo que é depositado/jogado nos diversos ambientes marinhos e costeiros, não só do estado de Pernambuco, mas de todo Brasil (Fig. 1). Nesse contexto a análise de risco é essencial, pois além da fragmentação com o tempo, que é comum a todos os itens de lixo marinho, exoistem riscos particulares associados aos diferentes materiais e situações. A coleção é uma atividade infinta, desde que se continue colecionado itens interessantes, podendo ser transportada total ou parcialmente para aulas e exposições tanto em ensino superior quanto em instituições de ensino públicas ou privadas, colocando o lixo marinho, literalmente, dentro das salas de aula. Outras coleções semelhantes podem (e devem) ser estimuladas em instituições e escolas, desde que se siga um critério mínimo de organização e semelhança entre as definições. Pesquisadores de outras instituições podem tanto depositar itens na coleção do LEGECE, quanto solicitar permuta com suas coleções de itens que ainda não tenham coletado em seus locais de estudo. Dessa forma, mesmo não tendo sido possível para o grupo ter acesso a um determinado tipo de item no campo, demosntrar sua existencia e risco potencial para a comunidade com a qual trabalha.

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III Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO’2010Rio Grande (RS), 17 a 21 de maio de 2010

AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia

(a) (b)

(c) (d)Figura 1: Exemplos de itens depositados na coleção de lixo marinho do LEGECE-DOCEAN-

UFPE. (a) diversos itens de atividades de pesca – Fernando de Noronha e praia da Boa Viagem; (b) palitos plásticos de picolé deixados por usuários da praia da Boa Viagem; (c)

brinquedos plásticos perdidos na Boa Viagem; (f) lixo tecnológico encontrado em Fernando de Noronha.

CONCLUSÕES A coleção é um importante instrumento de transmissão de conhecimento dentro do

próprio grupo (ao longo do tempo) e para além deste (entre grupos de pesquisa e universidades, por exemplo), por facilitar e padronizar métodos de coleta, classificação e catalogação dos diversos itens em exposição e estudo. A coleção científica tambem irá auxiliar futuros pesquisadores focados em estudos sobre lixo marinho, possibilitando estudos mais abrangentes. Também será possível expor às pessoas interessadas os problemas e impactos associados à presença de lixo nos rios, mares e oceanos. A coleção científica e didática do LEGECE torna-se um acervo de grande importância, tanto para conscientização da população em geral, quanto para pesquisas na área.

REFERÊNCIASCOSTA, M.F., IVAR DO SUL, J.A., SILVA-CAVALCANTI, J.S., ARAÚJO, M.C.B., SPENGLER, A., TOURINHO, P.S., 2009. On the importance of size of plastic fragments and pelletson the strandline: a snapshot of a Brazilian beach. Environmental Monitoring and Assessment, doi:10.1007/s10661-009-1113-4.

IVAR DO SUL, J. A., & COSTA, M. F. (2007). Marine debris review for Latin America and the Wider Caribbean Region: From the 1970s until now, and where do we go from here? Marine Pollution Bulletin, 54, 1087– 1104.

IVAR DO SUL, J. A., SPENGLER, A., & COSTA, M. F. (2009). Here, there and everywhere. Small plastic fragments and pellets on beaches of Fernando de Noronha (Equatorial Western Atlantic). Marine Pollution Bulletin, 58, 1236–1238.

MOORE, C. J. (2008). Synthetic polymers in the marine environment: A rapidly increasing, long-term threat. Environmental Research, 108, 131–139.