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2021 Frederico Amado Direito Previdenciário Organizadores Frederico Amado | Lucas Pavione Coleção Resumos para Concursos 15 10 ª edição revista atualizada

Coleção Concursos Resumos para 15

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2021

Frederico Amado

Direito Previdenciário

Organizadores Frederico Amado | Lucas Pavione

Coleção

Resumos para

Concursos 15

10ªedição

revistaatualizada

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Capítulo

2CONTRIBUIÇÕES PARA O CUSTEIO

DA SEGURIDADE SOCIAL

1. NOTAS INTRODUTÓRIAS

Além dos recursos provenientes dos orçamentos da União, dos estados, do Dis-trito Federal e dos municípios, a manutenção da seguridade social contará com as receitas decorrentes das contribuições para a seguridade social, que têm apli-cação vinculada ao sistema securitário, por serem tributos afetados ao sistema.

Com propriedade, toda a sociedade deverá financiar a seguridade social bra-sileira, de maneira direta ou indireta, ante o seu caráter universal que objetiva a proteção do povo contra os riscos sociais selecionados pelo legislador, consoante o interesse público, através de prestações na área da saúde pública, assistência e previdência social.

Contudo, há uma exceção “temporária” no artigo 76, do ADCT, da Constitui-ção, que criou a DRU – Desvinculação de Receitas da União, prorrogada até 31 de dezembro de 2015 pela Emenda Constitucional nº 68/2011, que permitiu que até 20% do montante arrecadado com as contribuições sociais tenham destinação diversa.

Coube à Emenda Constitucional 93/2016 prorrogar e ampliar a DRU, que agora abarca 30% da arrecadação da União relativa às contribuições sociais, sem prejuízo do pagamento das despesas do Regime Geral da Previdência Social, às contribui-ções de intervenção no domínio econômico e às taxas, já instituídas ou que vierem a ser criadas até a referida data até 31 de dezembro de 2023.

Ademais, foram inseridos os artigos 76-A e 76-B que instituíram a DRU em favor dos estados, Distrito Federal e municípios até 31 de dezembro de 2023 e no mesmo importe de 30% das receitas relativas a impostos, taxas e multas, já instituídos ou que vierem a ser criados até a referida data, seus adicionais e respectivos acrésci-mos legais, e outras receitas correntes, salvo recursos destinados ao financiamento

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das ações e serviços públicos de saúde e à manutenção e desenvolvimento do ensi-no (incisos II e III do § 2º do art. 198 e o art. 212 da Constituição Federal) e receitas de contribuições previdenciárias e de assistência à saúde dos servidores.

\ ATENÇÃO

Com o advento da Emenda 103/2019 (art. 2º), a DRU não mais se aplica às contribuições para a seguri-dade social, tendo havido perda de interesse governamental na sua manutenção nesta área, pois desde o ano de 2016 as despesas da seguridade social passaram a superar as receitas, limitando-se o superávit ao ano de 2015.

Existe um orçamento específico para a seguridade social, ao lado do orça-mento fiscal e do de investimentos nas empresas estatais, para onde são destinadas as contribuições, competindo à União cobrir a eventual falta de recursos financeiros para o pagamento dos benefícios previdenciários.

Apenas poderão os recursos do orçamento da seguridade social ser utilizados para suprir necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações e fundos, se apro-vada autorização legislativa específica, nos termos da excepcional previsão do arti-go 167, inciso VIII, da Constituição Federal.

Insta destacar que dentro da categoria tributária “contribuições sociais”, exis-tem duas espécies: contribuições para a seguridade social e contribuições sociais ge-rais, conforme já se pronunciou o STF no julgamento da ADI 2.556, de 09.10.2002, sendo que somente as primeiras se submetem ao regime jurídico do artigo 195, da Constituição.

Deveras, em regra, apenas a União tem competência para instituir as con-tribuições para a seguridade social, salvo no que concerne ao regime de previ-dência social dos servidores públicos efetivos dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, pois há permissivo para que essas pessoas políticas criem contribui-ções para o custeio dos respectivos regimes previdenciários, a teor do artigo 149, § 1º, da CRFB.

Conquanto exista no Brasil corrente doutrinária minoritária que sustente a na-tureza não fiscal dessas contribuições, especificamente as previdenciárias, é certo que é amplamente prevalente a sua natureza fiscal.

Ao contrário dos impostos, taxas e contribuições de melhoria, tributos tradicio-nais previstos expressamente no CTN, que são diferenciados pela natureza jurídica específica do seu fato gerador da respectiva obrigação, não se identifica a natureza jurídica de uma contribuição para a seguridade social através da delimitação da sua hipótese de incidência.

Deveras, é plenamente possível que uma contribuição securitária tenha o mes-mo fato gerador de um imposto, como ocorre na tributação sobre o lucro das pes-soas jurídicas, considerado fato imponível tanto do imposto de renda quanto da contribuição social sobre o lucro líquido.

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Cap. 2 • CONTRIBuIçõES PARA O CuSTEIO DA SEGuRIDADE SOCIAL 57

Dentre as espécies tributárias, o que define uma contribuição para a seguridade social é a sua finalidade de custeio do sistema securitário, independentemente da natureza do fato gerador, pois são tributos finalísticos.

No mais, o artigo 27, da Lei 8.212/91, ainda aponta outras receitas para o cus-teio da seguridade social, tais como as multas, a atualização monetária e os juros moratórios; a remuneração recebida por serviços de arrecadação, fiscalização e cobrança prestados a terceiros; as doações, legados, subvenções e outras receitas eventuais; 50% dos valores obtidos e aplicados na forma do parágrafo único do art. 243 da Constituição Federal e 40% do resultado dos leilões dos bens apreendidos pelo Departamento da Receita Federal do Brasil.

\ ATENÇÃO

A arrecadação desses tributos é tão importante que há vedação no artigo 195, § 3º, da Constituição Fede-ral, para que o Poder Público contrate com as pessoas jurídicas em débito com a seguridade social, bem como lhes conceda incentivos fiscais ou creditícios.

2. A RELAÇÃO JURÍDICA DE CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL

A relação de custeio da seguridade social é nitidamente de índole tributária, porquanto as contribuições sociais são modalidade de tributos, uma vez superada a divisão tripartite do CTN, com o advento do atual ordenamento constitucional.

É possível defini-la como um vínculo jurídico obrigacional público, em que o sujeito ativo (Estado) é credor do sujeito passivo (responsável ou contribuin-te), que deverá promover o recolhimento de contribuição destinada ao cus-teio da seguridade social, acrescida de eventuais consectários legais (multas, juros de mora e correção monetária), uma vez realizada em concreto a hipó-tese de incidência prevista em lei stricto sensu, observada a base de cálculo, a alíquota e os prazos legais.

De acordo com o artigo 121, parágrafo único, do CTN, contribuinte é a pessoa que tem relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato ge-rador, enquanto o responsável, apesar de não revestir a condição de contribuinte, tem obrigação decorrente de expressa previsão legal.

A responsabilidade, por seu turno, poderá ser por substituição ou por trans-ferência, a depender do momento em que ocorra. Conforme lições de Ricardo Alexandre (2008, pg. 209), “na responsabilidade por substituição, a sujeição passiva do responsável surge contemporaneamente à ocorrência do fato gera-dor. Já na responsabilidade por transferência, no momento do surgimento da obrigação, determinada pessoa figura como sujeito passivo, contudo, num mo-mento posterior, um evento definido em lei causa a modificação da pessoa que ocupa o pólo passivo da obrigação, surgindo, assim, a figura do responsável, conforme definida em lei”.

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3. CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURIDADE SOCIAL EM ESPÉCIE

As contribuições para a seguridade social estão previstas no artigo 195, da Constituição Federal, a cargo de diversas fontes de custeio, cujo texto foi reformado pela Emenda 20/1998, exigindo-se lei complementar para a criação de novas fontes não previstas no texto constitucional.

Contudo, a despeito da exigência de lei complementar para a criação de novas contribuições para a seguridade social, a teor do artigo 195, § 4º, da Constituição Federal, não lhes é aplicável o disposto no artigo 154, I, da CRFB, ou seja, é plena-mente válida a instituição de novas contribuições sociais cumulativas e com mesmo fato gerador ou base de cálculo dos impostos, mas não de outras contribuições so-ciais.

De efeito, com base no artigo 195, incisos I/IV, serão analisadas as contribui-ções para a seguridade social pagas pelas empresas, empregadores e equiparados (contribuição previdenciária patronal, COFINS e CSLL), pelos trabalhadores e de-mais segurados do RGPS (contribuição previdenciária) e pelo importador de bens ou serviços do exterior (COFINS).

A receita dos concursos de prognósticos oriunda dos apostadores de jogos e loterias oficiais também será analisada, conquanto não goze de natureza tributária em razão da sua facultatividade.

3.1. Contribuições do empregador, da empresa e da entidade a ela equipara-da na forma da lei

A) Incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

Trata-se da contribuição previdenciária patronal para o custeio do Regime Geral de Previdência Social, prevista no artigo 195, inciso I, “a”, da Constituição Federal e regulamentada pelos artigos 22/24, da Lei 8.212/91, que instituiu o Plano de Cus-teio da Seguridade Social, bem como pelo artigo 1º, da Lei 10.666/2003.

Essa contribuição incidirá sobre o total da remuneração paga ou creditada pe-las pessoas jurídicas aos trabalhadores que lhe prestam serviços, com ou sem vín-culo empregatício, sendo a sua arrecadação afetada ao pagamento dos benefícios do RGPS, na forma do artigo 167, inciso XI, da Constituição Federal.

Por sua vez, estas contribuições destinar-se-ão diretamente ao Fundo do RGPS, previsto no artigo 250, da Constituição Federal e criado pela Lei Complementar 101/2000, cabendo ao INSS geri-lo.

Por se tratar de uma contribuição previdenciária, o seu estudo será aprofunda-do no Capítulo 06 – Das Contribuições Previdenciárias.

B) Incidentes sobre a receita ou o faturamento;

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Cap. 2 • CONTRIBuIçõES PARA O CuSTEIO DA SEGuRIDADE SOCIAL 59

Trata-se da contribuição para financiamento da seguridade social – COFINS, in-cidente sobre a receita ou o faturamento das pessoas jurídicas, na forma do artigo 195, inciso I, “b”, da Constituição, cuja alíquota é de 7,6%, incidente sobre os valores faturados mensalmente, assim considerados como a receita bruta das pessoas jurí-dicas, a teor do artigo 3º, da Lei 9.178/98.

C) Incidentes sobre o lucro;

Cuida- se da CSLL – contribuição social sobre o lucro líquido, prevista no artigo 195, inciso I, “c”, da Constituição Federal e criada pela Lei 7.689/88, cuja base de cálculo é o valor do resultado do exercício das empresas, antes da provisão para o imposto de renda.

Em regra, a alíquota dessa exação será de 9%. Para as pessoas jurídicas de se-guros privados, de capitalização e para determinadas instituições financeiras, a alí-quota será de 15%, tendo sido elevada para 20% até 31 de dezembro de 2018 pela Lei 13.169/2015 e para 17% no caso das cooperativas de crédito.

3.2. Contribuições do trabalhador e dos demais segurados do RGPS

Esta é a contribuição previdenciária devida pelos trabalhadores e demais se-gurados do Regime Geral previdenciário, prevista no artigo 195, inciso II, da Cons-tituição Federal, inclusive pelo aposentado que continua a desenvolver atividade laborativa e pela mulher que percebe o salário-maternidade.

\ POSIÇÃO DO STFEm sede de Repercussão Geral, em 4 de agosto de 2020, no RE 576.967, o STF declarou inconstitucional a incidência de contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade, não tendo havido modulação da eficácia da pronúncia de inconstitucionalidade, sendo possível a apresentação de embargos de declaração pela União.Restou fixada a seguinte tese: “É inconstitucional a incidência da contribuição previdenciária a cargo do empregador sobre o salário-maternidade”:“69. Diante do exposto, considerando os argumentos formal e material, dou provimento ao recurso ex-traordinário, para declarar, incidentalmente, a inconstitucionalidade da incidência de contribuição pre-videnciária sobre o salário maternidade, prevista no art. 28, § 2º, da Lei nº 8.212/91, e a parte final do seu § 9º, alínea a, em que se lê “salvo o salário-maternidade” , e proponho a fixação da seguinte tese: “É inconstitucional a incidência da contribuição previdenciária a cargo do empregador sobre o salário maternidade”.A tese de aplica tanto à parte da empresa quanto à parte do segurado, conforme se depreende do voto vencedor acima transcrito, em que pese o fechamento tenha sido restritivo. A decisão é inter partes, pois não foi tomada em sede de ação abstrata, não tem efeitos erga omnes.

Este inciso foi incluído pela Emenda 20/98, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social.

\ ATENÇÃOCriou-se uma imunidade para excluir o poder de tributar sobre as aposentadorias e pensões do RGPS, ao contrário do que ocorre com o regime de previdência dos servidores públicos, em que os inativos e pensio-nistas passaram a poder contribuir ante a polêmica permissão imposta pela Emenda 41/2003.

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Com o advento da Emenda 103/2019, o texto do inciso II do artigo 195 da Constituição passou a prever expressamente a progressividade de alíquotas das contribuições dos segurados, que decorre do Princípio da Equidade no Custeio, que é corolário da Isonomia Fiscal e Capacidade Contributiva, pois quem possui maior remuneração tem maiores condições de contribuir com a previdência social com alíquotas mais elevadas.

Foi interessante positivar a progressividade para segurados no texto constitu-cional, embora implicitamente a Constituição já a permitisse.

A regulamentação da contribuição previdenciária dos trabalhadores foi pro-movida pelos artigos 20 e 21, da Lei 8.212/91, sendo também a sua arrecadação afetada ao pagamento dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

Por se tratar de uma contribuição previdenciária, o seu estudo será aprofunda-do no Capítulo 06 – Das Contribuições Previdenciárias.

3.3. Concurso de prognósticos

Apesar de a Constituição tratá-la como contribuição para a seguridade social, pois prevista no artigo 195, inciso III, não se trata tecnicamente de um tributo, e sim de repasses de recursos financeiros arrecadados pelo Poder Público em decorrên-cia das apostas oficiais.

O tema vem regulamentado pelos artigos 26 e 27, da Lei 8.212/91, sendo defini-dos os concursos de prognósticos como todos os concursos de sorteios de números, loterias, apostas, inclusive aquelas realizadas em reuniões hípicas, no âmbito fede-ral, estadual, distrital e municipal.

De resto, frise-se que apenas a União poderá criar loterias, por se tratar de tema legiferante privativo do ente central, consoante previsto no artigo 22, inciso XX, da Constituição Federal.

3.4. Contribuição do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar

Essa novel fonte de custeio da seguridade social foi fruto da Emenda 42/2003, tendo sido publicada logo em seguida a Medida Provisória 164/2004, convertida na Lei 10.865/2004, que instituiu a COFINS importação, cuja hipótese de incidência é a entrada no Brasil de bens e serviços do exterior.

No caso de bens importados, a base de cálculo será o valor aduaneiro e, no caso de prestação de serviços por pessoas residentes no exterior, a quantia paga pela prestação.

Em regra, a alíquota da COFINS será de 7,6%, salvo as inúmeras exceções elen-cadas no artigo 8º, da Lei 10.865/2004, havendo autorização legal para a redução

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Capítulo

7ACIDENTE DE TRABALHO,

MOLÉSTIAS OCUPACIONAIS E EVENTOS EQUIPARADOS

1. INTRODUÇÃO

Não é de hoje que a sociedade se preocupa em editar normas jurídicas que asse-gurem a incolumidade física e mental das pessoas no exercício do labor, sendo direi-to dos trabalhadores desenvolverem a sua atividade com segurança, pois a empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador, ante o reconhecimento constitucional da exis-tência do meio ambiente do trabalho.

Já em 1919 foi aprovada a Lei 3.724, a primeira norma geral sobre acidentes de trabalho no Brasil, que apenas considerava como acidente de trabalho “o produzido por uma causa subita, violenta, externa e involuntaria no exercicio do trabalho, de-terminado lesões corporaes ou perturbações funccionaes, que constituam a causa unica da morte ou perda total, ou parcial, permanente ou temporaria, da capacidade para o trabalho ou a molestia contrahida exclusivamente pelo exercicio do trabalho, quando este fôr de natureza a só por si causal-a, e desde que determine a morte do operario, ou perda total, ou parcial, permanente ou temporaria, da capacidade para o trabalho”.

O enquadramento do acidente de trabalho era bem restrito, pois a legislação de época exigia que o evento ou a moléstia decorressem do exercício do trabalho, este como a única causa da incapacidade laboral ou da morte.

Naquele tempo, uma vez ocorrido um acidente de trabalho, o patrão obrigava--se a pagar uma indenização tarifada ao trabalhador ou à sua família, excetuados apenas os casos de força maior, dolo da própria vítima ou de estranhos, sendo um direito trabalhista à época, adotando-se a responsabilidade objetiva pelo risco pro-fissional.

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Com o advento da Lei 5.316/67, a proteção acidentária saiu da esfera tra-balhista e adentrou a previdência social, operando-se a estatização do seguro de acidentes de trabalho, onde se mantém até hoje, na forma no artigo 201, inciso I, da CRFB, que prevê a cobertura nos casos de doença, invalidez e morte, sendo a responsabilidade estatal objetiva.

Destarte, passou a se adotar o seguro social para proteger o trabalhador contra acidentes de trabalho, passando o INPS (atual INSS) a pagar as prestações previden-ciárias em decorrência de acidente de trabalho, cabendo às empresas o pagamento de contribuição denominada “seguro de acidente de trabalho” para fazer frente às despesas, saindo de cena as seguradoras privadas.

Vale frisar que, com o advento da Emenda 20/1998, passou a existir autori-zação constitucional no § 10, do artigo 201 (ainda não regulamentada), para a cobertura do risco de acidente de trabalho concorrentemente pelo Regime Geral de Previdência Social e pelo setor privado.

O parágrafo 10 do artigo 201 da Constituição havia sido inserido pela Emenda 20/98. Buscava abrir ao setor de seguros privados o risco do acidente de trabalho, a exemplo de benefícios por incapacidade, mas nunca chegou a ser regulamentado.

\ ATENÇÃO

Com a Emenda 103/2019, teve a redação ampliada, pois a Constituição passou a permitir a cobertura concorrente entre RGPS e setor privado de todos os benefícios não programados, o que abarca, além dos benefícios por incapacidade laboral, a pensão por morte e o auxílio-reclusão.

Outra novidade é que a regulamentação deve ser feita por lei complementar, e não mais por lei ordinária.

De acordo com o artigo 19, §§ 1º e 2º, da Lei 8.213/91, a empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador, constituindo contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho, devendo o Ministério da Economia exercer a fiscalização.

2. DEFINIÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO

A matéria atualmente é regulada pelos artigos 19 a 23 da Lei 8.213/91, tendo sido alvo de reforma pela Lei Complementar 150/2015, que passou a prever os be-nefícios previdenciários por acidente do trabalho em favor do empregado domés-tico, pois foi criada a contribuição SAT a ser paga pelo empregador doméstico, no importe de 0,8% do salário de contribuição do empregado doméstico a seu serviço.

Por conseguinte, a LC 150/2015 modificou a redação dos artigos 19, 21-A e 22, todos da Lei 8.213/91, a fim de inserir a proteção acidentária em favor do empre-gado doméstico.

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Cap. 7 • ACIDENTE DE TRABALHO, MOLÉSTIAS OCuPACIONAIS E EVENTOS EquIPARADOS 177

Desde então, passou a ser considerado legalmente como acidente de trabalho o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, perma-nente ou temporária, da capacidade para o trabalho (artigo 19).

De efeito, do referido conceito legal, agora ampliado para abarcar o empregado doméstico, é possível extrair os elementos caracterizadores do típico acidente de trabalho:

• Evento decorrente de trabalho a serviço da empresa ou do empregador do-méstico, de atividade campesina ou pesqueira artesanal individualmente ou em regime de economia familiar para a subsistência, desenvolvida pelo segurado especial;

• Causação de lesão corporal ou funcional (psíquica);

• Ocorrência de morte do segurado, redução ou perda temporária ou defini-tiva da capacidade laboral.

Destarte, para a caracterização de um acidente de trabalho, é imprescindível que haja um nexo entre o exercício do trabalho e o evento que cause lesão física ou psicológica ao trabalhador.

A prevenção aos acidentes de trabalho é dever legal das empresas, que são responsáveis pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador, sendo obrigatória a constituição de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), de conformidade com instruções expedi-das pelo Ministério do Trabalho (com a extinção do Ministério do Trabalho, desde 2019 o Ministério da Economia assumiu a área trabalhista, tendo sido criada uma Secretaria Especial de Previdência e Trabalho), nos estabelecimentos ou locais de obra nelas especificadas, na forma do artigo 163, da CLT.

3. DOENÇAS OCUPACIONAIS (EQUIPARADAS)

As doenças ocupacionais também são consideradas pela legislação como aci-dente de trabalho, assim consideradas as que guardam nexo com o exercício da atividade laborativa.

As doenças ocupacionais se dividem em:

A) Doença profissional ou tecnopatia – a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da res-pectiva relação elaborada pelo Ministério da Previdência Social (compe-tência atualmente exercida pelo Ministério da Economia ante a extinção do Ministério da Previdência Social);

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B) Doença do trabalho ou mesopatia – a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação acima mencionada.

As doenças profissionais (doenças ocupacionais típicas) são aquelas típicas do exercício de determinadas atividades laborativas (profissões), a exemplo da si-licose, que normalmente assola os mineiros, que contraem esta espécie de pneu-moconiose através da inalação da sílica nos túneis que trabalham, prejudicando o pulmão do trabalhador.

Por outro lado, as doenças do trabalho são compostas por enfermidades que também se fazem presentes em atividades que não guardam nexo com o trabalho, como a disacusia (surdez), que poderá decorrer ou não do exercício do trabalho (doenças ocupacionais atípicas).

De acordo com Hermes Arrais Alencar (2009, pg. 135), “nessa ordem de consi-derações, as moléstias típicas (tecnopatias) prescindem da demonstração do nexo de causalidade, porque se presume oriunda da atividade profissional (conforme visto supra, é o nexo causal um dos requisitos indispensáveis à configuração do aci-dente do trabalho). No que se reporta às mesopatias (doenças atípicas), não ocorre a mesma presunção, carecendo seja comprovado que a entidade mórbida adquirida é decorrência lógica do trabalho realizado pelo obreiro”.

As doenças ocupacionais estão listadas no anexo II do RPS, que formam um rol exemplificativo, pois, excepcionalmente, se o INSS constatar que a enfermidade não listada resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, deverá considerá-la como acidente do trabalho.

Atualmente, o anexo II do Regulamento da Previdência Social tem redação dada pelo Decreto 6.957/2009, onde consta um rol de agentes patogênicos que poderão causar doenças ocupacionais, assim como as Listas A, B e C.

É considerado como dia do acidente, no caso de doença profissional ou do trabalho, a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da atividade habitual, o dia da segregação compulsória, ou o dia em que for realizado o diagnós-tico, valendo para este efeito o que ocorrer primeiro.

\ ATENÇÃODe acordo com a legislação previdenciária, não serão consideradas como doença do trabalho: a) a doen-ça degenerativa; b) a inerente a grupo etário; c) a que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.

Com o advento da LC 150/2015, o empregado doméstico passou a ser vítima das doenças ocupacionais, pois anteriormente não sofria acidente do trabalho.

4. ACIDENTE DE TRABALHO POR EQUIPARAÇÃO

Por sua vez, conforme listagem do artigo 21, da Lei 8.213/91, determinados eventos são equiparados a acidente de trabalho, pois o exercício da atividade

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Cap. 7 • ACIDENTE DE TRABALHO, MOLÉSTIAS OCuPACIONAIS E EVENTOS EquIPARADOS 179

laboral é considerado uma concausa para a sua ocorrência (causalidade indireta), concorrendo com outras alheias ao trabalho:

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:

I – o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;

II – o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conseqüência de:

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão;

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decor-rentes de força maior.

III – a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade;

IV – o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autorida-de da empresa;

b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito;

c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando fi-nanciada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;

d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

O artigo 21, inciso I, da Lei 8.213/91, constitui uma hipótese aberta, razão pela qual a listagem deste dispositivo é meramente exemplificativa, pois equiparou a acidente de trabalho o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação.

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vol. 15 – DIREITO PREVIDENCIÁRIO • Frederico Amado180

Logo, se um empregado se acidenta no exercício do labor, potencializando a sua lesão pelo fato de ser hemofílico, enfermidade que somada ao acidente gera a inca-pacidade laboral, configurado está o acidente de trabalho por equiparação.

Por outro lado, conforme dispõe expressamente o artigo 21, § 2º, da Lei 8.213/91, não é considerada agravação ou complicação de acidente do traba-lho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se su-perponha às consequências do anterior.

Destarte, suponha-se que um empregado sofre uma torção de tornozelo no exercício do trabalho e fica incapacitado, configurando um acidente de trabalho. Contudo, quando ele está em casa se recuperando, a televisão cai sobre o seu pé e quebra os ossos do seu tornozelo. Neste caso, a segunda lesão não se configura como agravação ou complicação do acidente de trabalho, pois se superpôs à torção, lesão bem mais leve.

Ressalva o artigo 337, § 2º, do RPS, que será considerado agravamento do aci-dente aquele sofrido pelo acidentado quanto estiver sob a responsabilidade da rea-bilitação profissional, vez que o segurado está sob a proteção da Previdência Social.

Impende salientar que nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho.

Também é considerado como acidente de trabalho o infortúnio sofrido pelo se-gurado no local e horário de trabalho, tais como agressão, ofensa intencional ligada ao trabalho e atos decorrentes de fortuito ou força maior que gerem a incapacidade laboral ou a morte do trabalhador.

Ademais, em algumas situações acidentes ocorridos fora do local e horário de trabalho são equiparados a acidente de trabalho, pois existe um nexo com a ati-vidade laboral, tais como na prestação de serviço espontâneo que objetiva trazer benefício para a empresa ou em viagem de trabalho.

É ainda acidente equiparado ao de trabalho o ocorrido no percurso da resi-dência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado (acidente em trânsito). A tentativa de revogação desta hipótese pela MP 905/2019 foi revogada pela MP 955/2020.

Conquanto a LC 150/2015 não tenha modificado a redação do artigo 21, da Lei 8.213/91, entende-se pela sua aplicabilidade integral ao empregado doméstico, pois inexiste motivo para deixar desprotegido o empregado doméstico dos aciden-tes equiparados ao de trabalho.

5. RECONHECIMENTO

No que concerne ao segurado empregado, empregado doméstico (LC 150/2015) e ao trabalhador avulso, caberá à empresa e ao empregador doméstico expedir a