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DEMOCRACIA (amarrada com capim)
CAPITALISMO, SOCIALISMO-COMUNISMO
Nas mensagens contidas nesta descrição histórica, não tratamos das civilizações da China
e da Índia, bem como das civilizações ditas primitivas da República Romana, do Império
Romano e da Idade Média Feudalista, mas, trataremos apenas do Mundo Ocidental.
Contudo, faz-se necessário relembrar os princípios políticos da República Romana, do
Império Romano e da Idade Média e o sistema Feudal.
Nossas fontes informativas, quando necessário, são colhidas no “dicionário eletrônico,
elementos contido na Wilkipédia, tratada pelo Computador.
Repúbica Romana
Bandeira
Lema nacional Senatus Populusque Romanus (O Senado e o Povo de Roma)
Províncias romanas na véspera do assassinato de Júlio César,44 a.C.
Continente Eurafrásia
Capital Roma
Língua oficial Latim
Religião Politeísmo romano
Govemo República oligárquica Cônsul
De 509 a 508 a.C.
Lúcio Júnio Bruto, Lúcio Tarquínio Colatino
2
De 27 a.C. Otaviano, Marco Vipsânio Agripa
Legislatura Assembleia legislativa
Período histórico
Antiguidade Clássica
509 a.C. Tarquínio, o Soberbo deposto pelo senado
27 a.C. Batalha de Áccio
Área
• 326 a.C.[1] 10 000 km2
• 200 a.C.[1] 360 000 km2
• 146 a.C.[1] 800 000 km2
• 100 a.C.[1] 1 200 000 km2
• 50 a.C.[1] 1 950 000 km2
Precedido por Sucedido por
Reino de Roma
Itálicos
Etruscos
Civilização cartaginesa
Reino Ardieu
Celtiberos
Macedônia Antiga
Grécia Antiga
Reino de Pérgamo
Reino da Bitínia
Reino do Ponto
Império Selêucida
Gauleses
Império Selêucida
Império Romano
República Romana (em latim “Res Pvblica Romana) foi um período da antiga civilização
romana onde o govemo operou como uma república. Começou com a queda da monarquia, tradicionalmente datada cerca de 509 a.C., e sua substituição pelo govemo chefiado por dois cônsules, eleitos anualmente pelos cidadãos e aconselhados pelo senado. Uma complexa constituição gradualmente foi desenvolvida, centrada nos princípios de uma separação dos poderes e de freios e contrapesos. Exceto em tempos de terrível emergência nacional, ofícios públicos foram limitados por um ano, de modo que, em teoria ao menos, nenhum indivíduo exercesse poder absoluto sobre seus concidadãos.
A sociedade foi hierárquica. A evolução da constituição da República Romana foi pesadamente influenciada pela luta entre os patrícios, aristocratas proprietários de terra, que traçaram sua ancestralidade no início da história do Reino de Roma, e os plebeus, os cidadãos muito mais numerosos. Com o tempo, as leis que deram aos patrícios direitos
3
exclusivos de acesso aos mais altos ofícios foram revogadas e enfraquecidas, e as principais famílias plebeias tornaram-se membros plenos da aristocracia. Os líderes da república desenvolveram uma forte tradição e moralidade que exigia serviço público e patrocínio na paz e na guerra, tornando os sucessos políticos e militares indissociáveis.
Durante os primeiros dois séculos de sua existência a república expandiu-se através de uma combinação de conquista e aliança, da Itália central para a península Itálica inteira. Pelo século seguinte, incluía o Norte da África, a península Ibérica, Grécia, e o que é hoje o sul da França. Dois séculos após isso, em direção ao fim do século I a.C., incluía o resto da modema França, e muito do Mediterrâneo Oriental. Por esta altura, apesar das restrições tradicionais e legais da república contra qualquer aquisição individual de poderes políticos permanentes, a política foi dominada por um pequeno número de líderes romanos, com suas alianças pontuadas por uma série de guerras civis. O vencedor de uma destas guerras civis, Otaviano (mais tarde conhecido como Augusto) reformou a república como um principado, com ele mesmo como o "primeiro cidadão" (príncipe; princeps). O senado continuou a sentar e debater. Magistrados anuais foram eleitos como antes, mas as decisões finais em assuntos de política, guerra, diplomacia e nomeações foram privilégios de Augusto através de seu manejo de um número de separados poderes simultaneamente. Um de seus muitos títulos foi imperator do qual o título "imperador" derivou, e é costumeiramente chamado o primeiro imperador romano.
A República Romana nunca foi restaurada, mas também nunca foi formalmente abolida (o termo res publica continuou a ser usado para referir-se ao aparato do Estado), assim a data exata da transição para o Império Romano é um assunto de interpretação. Historiadores variadamente propuseram a nomeação de Júlio César como ditador perpétuo em 44 a.C., a derrota de Marco Antônio na Batalha de Ácio em 31 a.C., e a concessão de poderes extraordinários para Otaviano sob o primeiro assentamento e sua adoção do título de Augusto em 27 a.C., como o evento que define o fim da república.
Índice
1História política
o 1.1Era patrícia (509–367 a.C.)
o 1.2Conflitos das ordens (367–287 a.C.)
o 1.3Supremacia da nova nobreza (287-133 a.C.)
o 1.4Dos Gracos a Júlio César (133–49 a.C.)
Império Romano
Senatus Populusque Romanus
"O Senado e o Povo Romano" ou
Imperium Romanum.]
Império Romano
Império
4
← 27 a.C. – 476 d.C. 1453
→
→
Vexilo, com a águia e o acrônimo do Estado romano
Lema nacional
Senatus Populusque Romanus (Senado e Povo de Roma)
Extensão máxima do Império Romano durante o reinado deTrajano, em 117
Continente Europa, Bacia Mediterrânea da África e da Ásia
Capital Roma (27 a.C. - 286 d.C.) Constantinopla (A partir de 330)
Língua oficial
Latim, grego
Religião Politeísmo romano (27 a.C. - 380 d.C.) / cristianismo (380 - 476)
Govemo De jure: República De facto: Oligarquia Principado: 27 a.C.-295 d.C. Dominato: 235 - 395
Imperador
5
• 27 a.C. - 14 d.C.
Augusto
• 379 - 395 Teodósio I
• 475 - 476 1449 - 1453
Rômulo Augusto / Constantino XI Paleólogo
Legislatura Senado romano
Período histórico
Antiguidade clássica
• 31 a.C. Batalha de Áccio
• 27 a.C. Otaviano é proclamado Augusto.
• 285 Diocleciano divide o império entre Ocidente e Oriente
• 330 Constantino declara Constantinopla como a nova capital do império.
• 395 Morte de Teodósio I, selando a divisão permanente entre Leste e Oeste.
• 476 d.C. 1453
Rômulo Augusto é deposto/ Queda de Constantinopla
Área
• 25 a.C.[2][3] 2 750 000 km2
• 50[2] 4 200 000 km2
• 117[2] 6 500 000 km2
• 390[2] 4 400 000 km2
População
• 25 a.C.[2][3] est.
56 800 000
Dens. pop.
20,7 hab./km²
• 117[2] est. 88 000 000
Dens. pop.
13,5/km²
Moeda Denário, sestércio, soldo
Atualmente parte de
46 países[Expandir]
O Império Romano (em latim “Imperium Romanum” foi o período pós-republicano da antiga
civilização romana, caracterizado por uma forma de govemo autocrática liderada por um imperador e por extensas possessões territoriais em volta do mar Mediterrâneo na Europa, África e Ásia. A república que o antecedeu ao longo de cinco séculos encontrava-se numa situação de elevada instabilidade, na sequência de diversas guerras civis e conflitos políticos, durante os quais Júlio César foi nomeado ditador perpétuo e assassinado em 44 a.C. As guerras civis culminaram na vitória de Otávio, filho adotivo de César, sobre Marco António e Cleópatra na batalha de Áccio em 31 a.C. Detentor de uma autoridade inquestionável, em 27 a.C. o senado romano atribuiu a Otávio poderes absolutos e o novo título Augusto, assinalando desta forma o fim da república.
6
O período imperial prolongou-se por cerca de 500 anos. Os primeiros dois séculos foram marcados por um período de prosperidade e estabilidade política sem precedentes denominado Pax Romana. Na sequência da vitória de Augusto e da posterior anexação do Egito, a dimensão do império aumentou consideravelmente. Após o assassinato de Calígula em 41 d.C., o senado considerou restaurar a república, o que levou a guarda pretoriana a proclamar Cláudio imperador. Durante este período, assistiu-se ao maior alargamento do império desde a época de Augusto. Após o suicídio de Nero em 68, teve início um breve período de guerra civil, durante o qual foram proclamados imperadores quatro generais. Em 69, Vespasiano triunfou sobre os restantes, estabelecendo a dinastia flaviana. O seu filho, Tito, inaugurou o Coliseu de Roma, pouco após a erupção do Vesúvio. Após o assassinato de Domiciano, o senado nomeou o primeiro dos cinco bons imperadores, período durante o qual o império atingiu o seu apogeu territorial no reinado de Trajano.
O assassinato de Cómodo em 192 desencadeou um período de conflito e declínio denominado ano dos cinco imperadores, do qual Septímio Severo saiu triunfante. O assassinato de Alexandre Severo, em 235, levou à crise do terceiro século, durante a qual o senado proclamou 26 imperadores ao longo de cinquenta anos. A imposição de uma Tetrarquia proporcionou um breve período de estabilidade, embora no final tenha desencadeado uma guerra civil que só terminou com o triunfo de Constantino em relação aos rivais. Agora único govemante do império, Constantino mudou a capital para Bizâncio, rebatizada Constantinopla em sua honra, a qual permaneceu capital do oriente até 1453. Constantino também adotou o cristianismo, que mais tarde se tornaria a religião oficial do império. A seguir à morte de Teodósio, o domínio imperial entrou em declínio como consequência de abusos de poder, guerras civis, migrações e invasões bárbaras, reformas militares e depressão económica. A deposição de Rómulo Augusto por Odoacro é o evento geralmente aceite para assinalar o fim do império ocidental. No entanto, o Império Romano do Oriente prolongou-se por mais um milénio, tendo sido conquistado pelo Império Otomano em 1453.
O Império Romano foi uma das mais fortes potências económicas, políticas e militares do seu tempo. Foi o maior império da antiguidade Clássica e um dos maiores da História. No apogeu da sua extensão territorial exercia autoridade sobre mais de cinco milhões de quilómetros quadrados e uma população de mais de 70 milhões de pessoas, à época 21% da população mundial. A longevidade e extensão do império proporcionaram uma vasta influência na língua, cultura, religião, técnicas, arquitetura, filosofia, lei e formas de govemo dos estados que lhe sucederam. Ao longo da Idade Média foram feitas diversas tentativas de estabelecer sucessores do Império Romano, entre as quais o Império Latino e o Sacro Império Romano-Germânico. A expansão colonial europeia, entre os séculos XV e XX, difundiu a cultura romana a uma escala mundial, desempenhando um papel significativo na construção do mundo contemporâneo.
1História
o 1.1Augusto e transição da república para o império
o 1.2Principado
o 1.3Dominato
o 1.4Fragmentação e declínio
2Geografia e demografia
3Língua
7
4Govemo
o 4.1Govemo central
o 4.2Govemo provincial
o 4.3Exército e marinha
o 4.4Direito
o 4.5Finanças
5Sociedade
o 5.1Cidadania
o 5.2Ordens
o 5.3Mulheres
o 5.4Casamento
6Economia
o 6.1Moeda e banca
o 6.2Transportes e comunicações
o 6.3Trabalho e profissões
o 6.4Comércio
o 6.5Agricultura
o 6.6Mineração e metalurgia
7Religião
o 7.1A religião romana
o 7.2Cristianização
8 Cultura
o 8.1A vida nas cidades
o 8.2Educação
o 8.3Recreação e espetáculos
o 8.4Alimentação
o 8.5Vestuário
o 8.6Sexualidade
9Arte
o 9.1Arquitetura
o 9.2Pintura
o 9.3Escultura
o 9.4Artes decorativas
o 9.5Artes performativas
o 9.6Literatura
10Legado
11Notas
8
12Referências
13Bibliografia
14Ligações extemas
II
Pode-se observar, a partir do século XIV até os dias atuais, a existência de três estruturas
políticas principais, nos países do Mundo, o CAPITALISMO, O SOCIALISMO e o
COMUNISMO, todos adotando critério de convivência de infraestrutura humana chamado
DEMOCRACÍA; intrigante, parecendo filho espúrio dos três princípios e sua infraestrutura,
descrevem-se os princípios de um derivado destes três, O POPULISMO.
II
Relembra-se entrevista recente do escritor francês ALAIN BADIEU, com 80 anos de vida,
conferida ao jornal brasileiro “Folha de São Paulo”, publicada ao domingo de 17.04.2017,
sob o título de GUERRA À VISTA, da qual retiram-se as seguintes frases:
“Badieu chama a atenção para a crise da democracia e para o climas de desorientação
global, que podem favorecer regimes autoritários e reforçar discursos nacionalistas e
populistas-situação que também afeta a França, onde Marine Le Pen Candidata da extrema
direita, em boas chances de ir para o segundo tumo da eleição presidencial. A primeira
rodada de votação acontece em 23 de abril houve a invenção da hipótese comunista, de
sua criação, Marx e o Manifesto do Partido Comunista, essencialmente no século 19. Era
uma ideia consolidada e que começava a se organizar em partidos. A segunda etapa
começa com a Revolução Russa, de 1917. Foi a primeira experimentação histórica da idéia
e a primeira tentativa de construir uma sociedade que não se basearia na propriedade
privada. Mas foi uma experimentação fracassada. Na minha opinião, porque sua
organização se fundiu ao Estado. A ideia comunista foi engolida e devorada pelo poder.
Hoje, ao abandonarmos a ideia, ou a fazer entrar em sua terceira etapa. É uma escolha
histórica. Eu proponho manter a ideia. O retorno aos princípios fundamentais do
comunismo, ou seja, à ideia de romper com a organização da sociedade em torno da
propriedade privada e de acabar com as modalidades de divisão do trabalho, Retornar
também à ideia de que a organização, qualquer que seja ela, não se funde ao Estado.
Precisa ser uma mediação entre a população e o Estado. Sem isso, tem-se uma construção
estatal monstruosa. É preciso sublinhar que o fracasso da experiência comunista não se
deu por uma oposição, ela se decompôs em seu interior. Essas experiências podem originar
ideias a serem integradas em um novo comunismo. De certa forma, a ideia comunitária
sempre acompanhou a hipótese comunista, era a relação entre o comunismo científico e
utópico, por exemplo. Porque é o regime autoritário que vence nesses momentos? Porque
ele é sustentado pelo verdadeiro mestre, pelos dirigentes reais. Eles se lembram de Paris,
na Revolução Russa, na China, grandes crises provocaram vitórias comunistas. Por isso,
9
vão se proteger apoiando e financiando regimes que podem ser militares ou de partidos
fascistas. Pode ser que caminhemos para um partido único versão capitalista. O regime
parlamentar supunha um tipo de tensão contraditória de políticas, mesmo que artificial.
Havia necessidade de uma diferença visível entre direita e esquerda. Hoje, a esquerda
eleitoral, excluída a extrema esquerda, não é muito diferente estrategicamente do que
fazemos demais. Isso cria a hipótese de enfraquecimento crescente do aspecto legível da
democracia. Ela está em crise, mesmo nos EUA. A eleição de Trump foi algo um pouco
patológico. E, na Europa, espalha-se a força de partidos autoritários, nacionalistas”. (São
algumas das respostas de Badiou ao jornalista Femando Eichenberg na entrevista acima
referida).
III
Feudalismo.
O sistema capitalista foi precedido no Mundo pelo SISTEMA FEUDALISTA, sobre o qual é
necessário escrever, por seus fundamentos e importância.
Feudalismo
.
O feudalismo foi um modo de organização social e político baseado nas relações servo-
contratuais (servis). Tem suas origens na decadência do Império Romano. Predominou na Europa durante a Idade Média[.
Segundo o teórico escocês do Iluminismo, Lord Kames, o feudalismo é geralmente precedido pelo nomadismo e sucedido pelo capitalismo em certas regiões da Europa Ocidental[2].
Os senhores feudais conseguiam as terras porque o rei lhes dava. Os camponeses cuidavam da agropecuária dos feudos e, em troca, recebiam o direito a uma gleba de terra para morar, além da proteção contra ataques bárbaros. Quando os servos iam para o manso senhorial, atravessando a ponte, tinham que pagar um pedágio, exceto quando para lá se dirigiam a fim de cuidar das terras do Senhor Feudal[3.
Origem do Feudalismo
O feudalismo tem suas origens no século IV a partir das invasões germânicas (bárbaras) ao Império Romano do Ocidente (Europa).
Com a decadência e a destruição do Império Romano do Ocidente, por volta do século V d.C. (Fim da antiguidade 476 d.C.), em decorrência das inúmeras invasões dos povos bárbaros e das péssimas políticas econômicas dos imperadores romanos, várias regiões da Europa passaram a apresentar baixa densidade populacional e ínfimo desenvolvimento urbano.
O estabelecimento do Império Romano do Ocidente e as invasões bárbaras, ocorridas em diversas regiões da Europa, favoreceram sensivelmente as mudanças econômicas e sociais que vão sendo introduzidas e que alteraram completamente o sistema de propriedade e de produção característicos da Antiguidade principalmente na Europa Ocidental. Essas mudanças acabam revelando um novo sistema econômico, político e social que veio a se chamar Feudalismo. O Feudalismo não coincide com o início da Idade Média (século V d.C.), porque este sistema começa a ser delineado alguns séculos antes do início dessa etapa histórica (mais precisamente, durante o início do século IV), consolidando-se definitivamente ao término do Império Carolíngio, no século IX d.C
10
Em suma, com a decadência do Império Romano e as invasões bárbaras, os nobres romanos começaram a se afastar das cidades levando consigo camponeses (com medo de serem saqueados ou escravizados). Já na Idade Média, com vários povos bárbaros dominando a Europa Medieval, foi impossível unirem-se entre si e entre os descendentes de nobres romanos, que eram donos de pequenos agrupamentos de terra. E com as reformas culturais ocorridas nesse meio-tempo, começou a surgir uma nova organização econômica e política: o feudalismo.
Características
As características gerais do feudalismo são: poder descentralizado, economia baseada na agricultura de subsistência, trabalho servil e economia amonetária e sem comércio, onde predomina a troca (escambo).
Tudo isso só será modificado com os primeiros indícios das Revoluções Burguesas[4].
Sociedade
A sociedade feudal era composta por três estamentos (mesmo que grupos sociais com status praticamente fixo, não se pode dizer que a mudança de classe social não existia, pois alguns camponeses tornavam-se padres e passavam a integrar o baixo clero, por exemplo, mas essa mudança era rara e um servo dificilmente ascenderia à outra posição): os Nobres (guerreiros, bellatores), o Clero (religiosos, oratores), e os servos (mão de obra, laboratores). O que determinava o status social era o nascimento. Havia também a relação de suserania entre os Nobres, onde um nobre (suserano) doa um feudo para um outro nobre (vassalo). Apresentava pouca ascensão social e quase não existia mobilidade social (a Igreja foi uma forma de promoção de mobilidade.
O clero tinha como função oficial rezar. Na prática, exercia grande poder político sobre uma sociedade bastante religiosa, onde o conceito de separação entre a religião e a política era desconhecido. Mantinham a ordem da sociedade evitando, por meio de persuasão e criação de justificativas religiosas, revoltas e contratações camponesas
A nobreza (também chamados de senhores feudais) tinha como principal função a de guerrear, além de exercer considerável poder político sobre as demais classes. O Rei lhes cedia terras e estes lhe juravam ajuda militar (relações de suserania e vassalagem).
Os servos da gleba constituíam a maior parte da população camponesa: estavam presos à terra, sofriam intensa exploração, eram obrigados a prestarem serviços à nobreza e a pagar-lhes diversos tributos em troca da permissão de uso da terra e de proteção militar. Embora geralmente se considere que a vida dos camponeses fosse miserável, a palavra "escravo" seria imprópria. Para receberem direito à moradia nas terras de seus senhores, juravam-lhe fidelidade e trabalho. Por sua vez, os nobres, para obterem a posse do feudo faziam o mesmo juramento aos reis.
Os Vassalos oferecem ao senhor ou suserano, fidelidade e trabalho em troca de proteção e um lugar no sistema de produção. As redes de vassalagem estendiam-se por várias regiões, sendo o rei o suserano mais poderoso[6].
Economia e prosperidade
A produção feudal própria do Ocidente europeu tinha por base a economia agrária, de escassa circulação monetária, auto-suficiente. A propriedade feudal pertencia a uma camada privilegiada, composta pelos senhores feudais, altos dignitários da Igreja, (o clero)
11
longínquos descendentes dos chefes tribais germânicos. As estimativas de renda per capita da Europa feudal a colocam em um nível muito próximo ao mínimo de subsistência).
A principal unidade econômica de produção era o feudo, que se dividia em três partes distintas: a propriedade individual do senhor, chamada manso senhorial ou domínio, em cujo interior se erigia um castelo fortificado; o manso servil, que correspondia à porção de terras arrendadas aos camponeses e era dividido em lotes denominados tenências; e ainda o manso comunal, constituído por terras coletivas - pastos e bosques -, usadas tanto pelo senhor quanto pelos servos.
Devido ao caráter expropriador do sistema feudal, o servo não se sentia estimulado a aumentar a produção com inovações tecnológicas, uma vez que tudo que produzia de excedente era tomado pelo senhor. Por isso, o desenvolvimento técnico foi pequeno, limitando aumentos de produtividade. A principal técnica adaptada foi a de rotação trienal de culturas, que evitava o esgotamento do solo, mantendo a fertilidade da terra[6].
Para o economista anarco-capitalista Hans Hermann Hoppe, como os feudos são supostamente propriedade do Estado (neste caso, representado pelos senhores feudais), o feudalismo é, consequentemente, considerado por ele como sendo uma forma de manifestação socialista - o socialismo aristocrático (servismo).
Tributos e impostos
As principais obrigações dos servos consistiam em:
Corveia: trabalho compulsório nas terras do senhor (manso senhorial) em alguns dias da semana;
Talha: parte da produção do servo deveria ser entregue ao nobre, geralmente um terço da produção;
Banalidade: tributo cobrado pelo uso de instrumentos ou bens do feudo, como o moinho, o forno, o celeiro, as pontes e estradas
Capitação: imposto pago por cada membro da família (por cabeça);
Tostão de Pedro ou dízimo: 10% da produção do servo era pago à Igreja, utilizado para a manutenção da capela local;
Censo: tributo que os vilões (pessoas livres, vila) deviam pagar, para a nobreza;
Taxa de Justiça: os servos e os vilões deviam pagar para serem julgados no tribunal do nobre;
Formariage: quando o nobre resolvia se casar, todo servo era obrigado a pagar uma taxa para ajudar no casamento, regra também válida para quando um parente do nobre iria casar. Todo casamento que ocorresse entre servos deveria ser aceito pelo suserano. No sul da França, especificamente, o Senhor poderia ou não determinar que a noite de núpcias de uma serva seria para o usufruto dele próprio e não do marido oficial. Tal fato era incomum no restante da Europa, pois a igreja o combatia com veemência;
Mão Morta: era o pagamento de uma taxa para permanecer no feudo da família servil, em caso do falecimento do pai ou da família;
12
Albergagem: obrigação do servo em hospedar o senhor feudal caso fosse necessário.
Muitas cidades europeias da Idade Média tornaram-se livres das relações servis e do predomínio dos nobres. Essas cidades chamavam-se burgos. Por motivos políticos, os "burgueses" (habitantes dos burgos) recebiam frequentemente o apoio dos reis que, muitas vezes, estavam em conflito com os nobres[6]. Na língua alemã, o ditado Stadtluft macht frei ("O ar da cidade liberta") ilustra este fenômeno. Em Bruges, por exemplo, conta-se que certa vez um servo escapou da comitiva do conde de Flandres e fugiu por entre a multidão. Ao tentar reagir, ordenando que perseguissem o fugitivo, o conde foi vaiado pelos "burgueses" e obrigado a sair da cidade. Desta maneira, o servo em questão tornou-se livre[5].
Ascensão e queda
O feudalismo europeu apresenta, portanto, fases bem diversas entre o século IX, quando os pequenos agricultores são impelidos a se proteger dos inimigos junto aos castelos, e o século XIII, quando o mundo feudal conhece seu apogeu, para declinar a seguir
No século X, o sistema ainda está em formação e os laços feudais unem apenas os proprietários rurais e os antigos altos funcionários ou Ministeriais - administradores da propriedade feudal em nome de um senhor -, dos quais destacamos os Bailios (tomavam conta de uma propriedade menor) e os Senescais (supervisionavam os vários domínios de um mesmo senhor).
Entre os camponeses existiam homens livres - os Vilões - com propriedades menores independentes. A monarquia feudal não apresenta a rigidez que caracterizaria o regime monárquico posteriormente e a ética feudal não está plenamente estabelecida
Entretanto, a partir do ano 1000 até cerca de 1150, o Feudalismo entra em transformação: a exploração camponesa torna-se intensa, concentrada em certas regiões superpovoadas, deixando áreas extensas de espaços vazios; surgem novas técnicas de cultivo, novas formas de utilização dos animais e das carroças, o que permitiu a produção agrícola garantir um aumento significativo, surgindo, assim, a necessidade de comercialização dos produtos excedentes. Esse renascimento do comércio e o consequente aumento da circulação monetária, reabilita a importância social das cidades e suas comunas . Com as Cruzadas, esboça-se uma abertura para o mundo, quebrando-se o isolamento do feudo
O restabelecimento do comércio com o Oriente Próximo e o desenvolvimento das grandes cidades, começam a minar as bases da organização feudal, na medida em que aumenta a demanda de produtos agrícolas para o abastecimento da população urbana. Isso eleva o preço dessas mercadorias, permitindo aos camponeses maiores fundos para a compra de sua liberdade. Não que os servos fossem escravos; com o excedente produzido, poderiam comprar de seus senhores lotes de terras e, assim, deixar de cumprir suas obrigações junto ao senhor feudal. É claro que esta situação poderia gerar problemas já que, bem ou mal, o servo vivia protegido dentro do feudo e, para evitá-los, tornavam-se comerciantes ou iam morar em burgos, dominados por outros tipos de senhores, desta vez, comerciais. Ao mesmo tempo, a expansão do comércio cria novas oportunidades de trabalho, atraindo os camponeses para as cidades
Tais acontecimentos, aliados à formação dos exércitos profissionais — o Rei, agora, não dependeria mais dos serviços militares prestados por seus vassalos —, à insurreição camponesa, à peste, à falta de alimentos decorrente do aumento populacional e baixa produtividade agrária, contribuíram para o declínio do feudalismo europeu. Na França, nos Países Baixos e na Itália, seu desaparecimento começa a se manifestar no final do século XIII. Na Alemanha e na Inglaterra, entretanto, ele ainda permanece mais tempo,
13
extinguindo-se na maioria da Europa ocidental por volta de 1500. Em partes da Europa central e oriental, porém, alguns remanescentes resistiram até meados do século XX, como, por exemplo, a Rússia, que só viria a se libertar dos resquícios feudais com a Revolução de 1917.
(Vejam-se os seguintes livros a respeito desta matéria, dentre outros: “O Modo de Produção
Feudal”-Jaime Pinsky-Editora Brasiliense-São Paulo-1959;”Idade Média”-Régine Pemoud-
Agir-1978;”História Medieval”-Jacques Heers-Difel-1977; “Maomé e Carlos Magno”-Henri
Pirenne- Contraponto-PUC-2010; “As Cidade da Idade Média”-Henri Pirenne-Europa
América-6ª.edição-2009)._
CAPITALISMO.
Seguirei estudando pelo dicionário eletrônico Wilkipédia para explicar, em resumo, o que
se entende pelo CAPITALISMO, conforme a seguir.
Capitalismo
distribuição, decisões sobre oferta, demanda, preço e investimentos são em grande parte ou totalmente de propriedade privada, com fins lucrativos. Os lucros são distribuídos para os proprietários que investem em empresas. Predomina o trabalho assalariado. É dominante no mundo ocidental desde o final do feudalismo.
Alguns definem o capitalismo como um sistema onde todos os meios de produção são de propriedade privada, outros o definem como um sistema onde apenas a "maioria" dos meios de produção está em mãos privadas, enquanto uma terceira abordagem trata de propriedade mista dos meios de produção, como é o caso da maioria dos países da América Latina. A propriedade privada no capitalismo implica o direito de controlar a propriedade, incluindo a determinação de como ela é usada, quem a usa, seja para vender ou alugar, e o direito à renda gerada pela propriedade.[2] O capitalismo também se refere ao processo de acumulação de capital. Não há consenso sobre a definição exata do capitalismo, nem como o termo deve ser utilizado como categoria analítica.[3] Há, no entanto, pouca controvérsia que a propriedade privada dos meios de produção, criação de produtos ou serviços com fins lucrativos num mercado, e preços e salários, são elementos característicos do capitalismo.[4] Há uma variedade de casos históricos em que o termo capitalismo é aplicado, variando no tempo, geografia, política e cultura.
Economistas, economistas políticos e historiadores tomaram diferentes perspectivas sobre a análise do capitalismo. Economistas costumam enfatizar o grau de que o govemo não tem controle sobre os mercados (laissez faire) e sobre os direitos de propriedade. A maioria[6][7] dos economistas políticos enfatizam a propriedade privada, as relações de poder, o trabalho assalariado e as classes econômicas.[8] Há um certo consenso de que o capitalismo incentiva o crescimento econômico,[9] enquanto aprofunda diferenças significativas de renda e riqueza. O grau de liberdade dos mercados, bem como as regras que definem a propriedade privada, são uma questão da política e dos políticos, e muitos Estados que são denominados economias mistas.]
O capitalismo se tornou dominante no mundo ocidental depois da queda do feudalismo.[10] Este sistema gradualmente se espalhou pela Europa e, nos séculos XIX e XX, forneceu o principal meio de industrialização na maior parte do mundo.[5] As variantes do capitalismo são: o Anarcocapitalismo, o capitalismo corporativo, o capitalismo de compadrio, o capitalismo financeiro, o capitalismo laissez-faire, capitalismo tardio, o capitalismo de estado e o tecnocapitalismo.
ETIMOLOGIA
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A palavra capital vem do latim capitale, derivado de capitalis (com o sentido de "principal, primeiro, chefe"), que vem do proto-indo-europeukaput significando "cabeça".[18] Capitale surgiu em Itália nos séculos XII e XIII (pelo menos desde 1211) com o sentido de fundos, existências de mercadorias, somas de dinheiro ou dinheiro com direito a juros. Em 1283 é encontrada referindo-se ao capital de bens de uma firma comercial.
O termo capitalista refere-se ao proprietário de capital, e não ao sistema econômico, e o seu uso é anterior ao do termo capitalismo, datando desde meados do século XVII. O Hollandische Mercurius usa o termo em 1633 e 1654 para se referir aos proprietários de capital.[19] David Ricardo, na sua obra Principles of Political Economy and Taxation (1817), usa frequentemente a expressão "o capitalista".
Samuel Taylor Coleridge, poeta inglês, usou o termo capitalista em seu trabalho Table Talk (1823).[21] Pierre-Joseph Proudhon usou o termo capitalista em seu primeiro trabalho, O que é a propriedade? (1840) para se referir aos proprietários de capital. Benjamin Disraeli usou o termo capitalista em seu trabalho Sybil (1845).[22] Karl Marx e Friedrich Engels usaram o termo capitalista (Kapitalist) em O Manifesto Comunista (1848) para se referir a um proprietário privado de capital.
O termo capitalismo surgiu em 1753 na Encyclopédia, com o sentido estrito do "estado de quem é rico".[19] No entanto, de acordo com o Oxford English Dictionary (OED), o termo capitalismo foi usado pela primeira vez pelo escritor William Makepeace Thackeray em seu trabalho The Newcomes (1845), onde significa "ter a posse do capital".[22] Ainda segundo o OED, Carl Adolph Douai, um socialista teuto-estadunidense e abolicionista, usou o termo capitalismo privado em 1863.
O uso inicial do termo capitalismo em seu sentido modemo foi atribuída a Louis Blanc, em 1850, e Pierre-Joseph Proudhon, em 1861.[23] Marx e Engels foram os primeiros a referirem ao sistema capitalista (kapitalistisches System)[24][25] e ao modo de produção capitalista (kapitalistische Produktionsform) em Das Kapital (1867).[26] O uso da palavra "capitalismo" em referência a um sistema econômico aparece duas vezes no Volume I de O Capital, p. 124 (Edição alemã) e, em Theories of Surplus Value, tomo II, p. 493 (Edição alemã).
História
Mercantilismo
O período entre os séculos XVI e XVIII é comumente descrito como mercantilismo.[27] Associa-se este período à exploração geográfica da Era dos Descobrimentos por parte de mercadores, especialmente da Inglaterra e dos Países Baixos; à colonização europeia das Américas; e ao rápido crescimento do comércio exterior. O mercantilismo foi um sistema de comércio com fins lucrativos, embora as commodities ainda fossem em grande parte produzidas por métodos de produção não-capitalista.
Enquanto alguns estudiosos vêem o mercantilismo como o primeiro estágio do capitalismo, outros argumentam que o capitalismo não surgiu até mais tarde. Por exemplo, Karl Polanyi, observou que "o mercantilismo, com toda a sua tendência para a comercialização, nunca atacou as salvaguardas que protegeram [os] dois elementos básicos do trabalho de produção e da terra de se tornar os elementos do comércio"; assim atitudes mercantilistas para o regulamento da economia estão mais próximas das atitudes feudais, "eles discordavam apenas sobre os métodos de regulação."
Além disso, Polanyi argumentava que a marca do capitalismo é a criação de mercados generalizadas para o que ele referia como "mercadorias fictícias": terra, trabalho e dinheiro.
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Assim, "não foi até 1834 um mercado de trabalho competitivo, com sede na Inglaterra, portanto, não pode-se dizer que o capitalismo industrial, como um sistema social, não existiu antes desta data.
Evidências de comércio mercante de longa distância, orientado e motivado pelo lucro foram encontradas já no segundo milênio aC, com os antigos mercadores assírios.[29] As primeiras formas de mercantilismo da época formaram-se já no Império Romano e, quando este expandiu-se, a economia mercantilista também foi ampliada por toda a Europa. Após o colapso do Império Romano, a maior parte da economia europeia passou a ser controlada pelos poderes feudais locais e mercantilismo entrou em declínio. No entanto, o mercantilismo persistiu na Arábia. Devido à sua proximidade com países vizinhos, os árabes estabeleceram rotas de comércio para o Egito, Pérsia e Império Bizantino. Como o islã se espalhou no século VII, o mercantilismo espalhou-se rapidamente para a Espanha, Portugal, Norte da África e Ásia. O sistema mercantilista finalmente retornou à Europa no século XIV, com a propagação mercantilista de Espanha e Portugal.
Entre os princípios fundamentais da teoria mercantilista estava o bulionismo, uma doutrina que salientava a importância de acumular metais preciosos. Mercantilistas argumentavam que o Estado devia exportar mais bens do que importava, para que os estrangeiros tivessem que pagar a diferença de metais preciosos. Teóricos mercantilistas afirmavam que somente matérias-primas que não podem ser extraídas em casa devem ser importadas e promoveram os subsídios do govemo, como a concessão de monopólios e tarifas protecionistas, que foram necessários para incentivar a produção nacional de bens manufaturados.
Comerciantes europeus, apoiados por controles, subsídios e monopólios estatais, realizaram a maioria dos seus lucros a partir da compra e venda de mercadorias. Nas palavras de Francis Bacon, o objetivo do mercantilismo era "a abertura e o bem-equilíbrio do comércio, o apreço dos fabricantes, o banimento da ociosidade, a repressão dos resíduos e excesso de leis suntuárias, a melhoria e administração do solo; a regulamentação dos preços..."
Práticas semelhantes de arregimentação econômica tinham começado mais cedo nas cidades medievais. No entanto, sob o mercantilismo, dada a ascensão contemporânea do absolutismo, o Estado substituiu a corporações locais como regulador da economia. Durante esse tempo, as guildas funcionavam essencialmente como um cartel que monopolizava a quantidade de artesãos que ganham salários acima do mercado.
No período compreendido entre o século XVIII, a fase comercial do capitalismo, originada a partir do início da Companhia Britânica das Índias Orientais e da Companhia das Índias Orientais Holandesas.[33][34] Estas empresas foram caracterizadas por suas potências coloniais e expansionistas que lhes foram atribuídas por Estados-nação.[33] Durante esta época, os comerciantes, que haviam negociado com o estágio anterior do mercantilismo, investiram capital nas Companhias das Índias Orientais e de outras colônias, buscando um retorno sobre o investimento. Em sua "História da Análise Econômica", o economista austríaco Joseph Schumpeter reduz as proposições mercantilistas a três preocupações principais: controle do câmbio, monopolismo de exportação e saldo da balança comercial.
Industrialismo
Uma máquina a vapor de Watt. O motor a vapor, abastecido primeiramente com carvão,
impulsionou a Revolução Industrial no Reino Unido..
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Um novo grupo de teóricos da economia, liderado por David Hume[37] e Adam Smith, em meados do século XVIII, desafiou as doutrinas mercantilistas fundamentais, como a crença de que o montante da riqueza mundial permaneceu constante e que um Estado só pode aumentar a sua riqueza em detrimento de outro Estado.
Durante a Revolução Industrial, o industrial substituiu o comerciante como um ator dominante no sistema capitalista e efetuou o declínio das habilidades de artesanato tradicional de artesãos, associações e artífices. Também durante este período, o excedente gerado pelo aumento da agricultura comercial encorajou o aumento da mecanização da agricultura. O capitalismo industrial marcou o desenvolvimento do sistema fabril de produção, caracterizado por uma complexa divisão do trabalho entre e dentro do processo de trabalho e a rotina das tarefas de trabalho; e, finalmente, estabeleceu a dominação global do modo de produção capitalista.
O Reino Unido também abandonou a sua política protecionista, como abraçada pelo mercantilismo. No século XIX, Richard Cobden e John Bright, que baseavam as suas crenças sobre a escola de Manchester, iniciou um movimento para tarifas mais baixas.[38] Em 1840, o Reino Unido adotou uma política menos protecionista, com a revogação das Leis dos Grãos e do Ato de Navegação.[27] Os britânicos reduziram as tarifas e quotas, de acordo com Adam Smith e David Ricardo, para o livre comércio.
Karl Polanyi argumenta que o capitalismo não surgiu até a mercantilização progressiva da terra, dinheiro e trabalho, culminando no estabelecimento de um mercado de trabalho generalizado no Reino Unido na década de 1830. Para Polanyi, "o alargamento do mercado para os elementos da indústria - terra, trabalho e dinheiro - foi a conseqüência inevitável da introdução do sistema fabril numa sociedade comercial." Outras fontes alegaram que o mercantilismo caiu após a revogação dos Atos de Navegação, em 1849.
Keynesianismo e neoliberalismo
No período seguinte à depressão global dos anos 1930, o Estado desempenhou um papel de destaque no sistema capitalista em grande parte do mundo.
Após a Segunda Guerra Mundial, um vasto conjunto de novos instrumentos de análise nas ciências sociais foram desenvolvidos para explicar as tendências sociais e econômicas do período, incluindo os conceitos de sociedade pós-industrial e do Estado de bem-estar social.[27] Esta época foi muito influenciada por políticas de estabilização econômica keynesianas. O boom do pós-guerra terminou no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, e a situação foi agravada pelo aumento da estagflação.
A inflação excepcionalmente elevada combinada com um lento crescimento da produção, aumento do desemprego, recessão e, eventualmente, causaram uma perda de credibilidade no modo de regulação keynesiano de bem-estar estatal. Sob a influência de Friedrich Hayek e Milton Friedman, os países ocidentais adotaram as normas da política inspiradas pelo capitalismo laissez-faire e do liberalismo clássico.
O monetarismo em particular, uma altemativa teórica ao keynesianismo, que é mais compatível com o laissez-faire, ganha cada vez mais destaque no mundo capitalista, especialmente sob a liderança de Ronald Reagan nos os Estados Unidos e Margaret Thatcher no Reino Unido em 1980. O interesse público e político começaram a se afastar das preocupações coletivistas de Keynes de que capitalismo fosse gerenciado a um foco sobre a escolha individual, chamado de "capitalismo remarquetizado".[45] Na opinião de muitos comentaristas econômicos e políticos, o colapso da União Soviética trouxe mais uma prova da superioridade do capitalismo de mercado sobre o comunismo.
Globalização
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Embora o comércio intemacional tenha sido associado com o desenvolvimento do capitalismo por mais de 500 anos, alguns pensadores afirmam que uma série de tendências associadas à globalização têm agido para aumentar a mobilidade de pessoas e de capitais desde o último quarto do século XX, combinando a circunscrever a margem de manobra dos Estados na escolha de modelos não-capitalistas de desenvolvimento. Hoje, essas tendências têm reforçado o argumento de que o capitalismo deve agora ser visto como um sistema verdadeiramente mundial.[27] No entanto, outros pensadores argumentam que a globalização, mesmo no seu grau quantitativo, não é maior agora do que em períodos anteriores do comércio capitalista.
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Friedrich Hayek, ao descrever o capitalismo, aponta para o caráter auto-organizador das economias que não têm planejamento centralizado pelo govemo. Muitos, como por exemplo Adam Smith, apontam para o que se acredita ser o valor dos indivíduos que buscam seus interesses próprios, que se opõe ao trabalho altruístico de servir o "bem comum". Karl Polanyi, figura importante no campo da antropologia econômica, defendeu que Smith, em sua época, estava descrevendo um período de organização da produção conjuntamente com o do comércio. Para Polanyi, o capitalismo é diferente do antigo mercantilismo por causa da comoditificação da terra, da mão-de-obra e da moeda e chegou à sua forma madura como resultado dos problemas que surgiram quando sistemas de produção industrial necessitaram de investimentos a longo prazo e envolveram riscos correspondentes em um âmbito de comércio intemacional. Falando em termos históricos, a necessidade mais opressora desse novo sistema era o fornecimento assegurado de elementos à indústria - terra, maquinários e mão-de-obra - e essas necessidades é que culminaram com a mencionada comoditificação, não por um processo de atividade auto-organizadora, mas como resultado de uma intervenção do Estado.
Muitas dessas teorias chamam a atenção para as diversas práticas econômicas que se tornaram institucionalizadas na Europa entre os séculos XVI e XIX, especialmente envolvendo o direito dos indivíduos e grupos de agir como "pessoas legais" (ou corporações) na compra e venda de bens, terra, mão-de-obra e moeda, em um mercado livre, apoiados por um Estado para o reforço dos direitos da propriedade privada, de forma totalmente diferente ao antigo sistema feudal de proteção e de obrigações.
Devido à vagueza do termo "capitalismo", emergiram controvérsias quanto ao capitalismo. Em particular, há uma disputa entre o capitalismo ser um sistema real ou ideal, isto é, se ele já foi mesmo implementado em economias particulares ou se ainda não e, neste último caso, a que grau o capitalismo existe nessas economias. Sob um ponto de vista histórico, há uma discussão se o capitalismo é específico a uma época ou região geográfica particular ou se é um sistema universalmente válido, que pode existir através do tempo e do espaço. Alguns interpretam o capitalismo como um sistema puramente econômico; Marx, por sua vez, admite que o mesmo é um complexo de instituições político-econômicas que, por sua vez, determinará as relações sociais, éticas e culturais.
(Muito embora, Karl-Marx-Engels não tenham adotado o nome de Globalização, a situação foi descrita no Manifesto Comunista de impresso em fevereiro de 1848-Boitempo-2010, sendo estes os verdadeiros criadores dareferida tese0.
Modo de produção capitalista
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O modo de produção na economia, é a forma de organização socioeconômica associada a uma determinada etapa de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. Reúne as características do trabalho preconizado, seja ele artesanal, manufaturado ou industrial. São constituídos pelo objeto sobre o qual se trabalha e por todos os meios de trabalho necessários à produção (instrumentos ou ferramentas, máquinas, oficinas, fábricas, etc.) Existem 6 modos de produção: Primitivo, Asiático, Escravista, Feudal, Capitalista, Comunista.
Segundo Hunt, um sistema egronômico é definido pelo modo de produção no qual se baseia. O modo de produção atual é aquele que se baseia na economia do país.
Porém, segundo economistas não marxistas (não socialistas), só existiram dois modos de produção ao longo da civilização humana: o artesanal e o industrial.
Desde a antiguidade até a Revolução Industrial (Século XVIII), o trabalho sempre foi feito de forma artesanal, manual, por escravos, trabalhadores servis, ou trabalhadores livres, o modo de produção nunca mudou, o trabalho sempre foi braçal e as poucas ferramentas usadas sempre foram as mesmas.
Apenas a partir da Revolução Industrial, com o surgimento das máquinas, e com elas o surgimento da divisão do trabalho nas fábricas, é que o modo de produção mudou.
Um bom exemplo para mostrar os dois modos de produção, artesanal e industrial, é a fabricação de sapatos, por milênios o sapato foi feito manualmente, um a um, por um sapateiro ou pela própria pessoa que ia usar (modo de produção artesanal), depois da Revolução Industrial os sapatos passaram a ser feitos por máquinas nas fábricas, milhares de sapatos feitos em série pela divisão do trabalho (modo de produção industrial).
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Democracia, Estado e quadros jurídicos
Propriedade privada
A relação entre o Estado, seus mecanismos formais e as sociedades capitalistas tem sido debatida em vários campos da teoria política e social, com uma discussão ativa desde o século XIX. Hemando de Soto é um economista contemporâneo que argumenta que uma característica importante do capitalismo é a proteção do Estado e do funcionamento dos direitos de propriedade em um sistema de propriedade formal, onde a propriedade e as operações são registrados claramente.
Segundo Soto, este é o processo pelo qual os bens físicos são transformados em capital, que por sua vez podem ser utilizados de muitas formas mais e muito mais eficiente na economia de mercado. Um número de economistas marxistas argumentaram que as leis do cerco, na Inglaterra, e legislações semelhante em outros lugares, eram parte integrante da acumulação primitiva capitalista e que um quadro jurídico específico da propriedade privada da terra têm sido parte integrante do desenvolvimento do capitalismo.
Instituições
A nova economia institucional, um campo aberto por Douglass North, salienta a necessidade de um quadro jurídico para que o capitalismo funcione em condições ótimas e enfoca a relação entre o desenvolvimento histórico do capitalismo e a criação e manutenção de instituições políticas e econômicas.[50] Na nova economia institucional e em outros campos com foco nas políticas públicas, os economistas buscam avaliar quando e se a intervenção govemamental (tais como impostos, segurança social e a regulamentação do govemo) pode resultar em ganhos potenciais de eficiência. De acordo com Gregory Mankiw, um economista neo-keynesiano, a intervenção govemamental pode melhorar os
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resultados do mercado em condições de "falha de mercado", ou situações em que o mercado por si só não aloca recursos de forma eficiente.
A falha de mercado ocorre quando uma extemalidade está presente e um mercado sub-produz um produto com uma superprodução de extemalização positiva ou um produto que gera uma extemalização negativa. A poluição do ar, por exemplo, é uma extemalização negativa que não pode ser incorporada em mercados, visto que o ar do mundo não é propriedade e, consequentemente, não é vendido para uso dos poluidores. Então, muita poluição poderia ser emitida e as pessoas não envolvidas na produção pagam o custo da poluição, em vez da empresa que, inicialmente, emitiu a poluição do ar. Os críticos da teoria da falha de mercado, como Ronald Coase, Demsetz Harold e James M. Buchanan, alegam que os programas e políticas govemamentais também ficam aquém da perfeição absoluta. Falhas de mercado são muitas vezes pequenas, e falhas de govemo são, por vezes de grandes dimensões. É, portanto, o caso que os mercados são imperfeitos, muitas vezes melhor do que as altemativas imperfeitas govemamentais. Enquanto todas as nações têm atualmente algum tipo de regulamentação do mercado, o grau de regulamentação desejável é contestado.
DEMOCRACÍA.
A relação entre democracia e capitalismo é uma área controversa na teoria e movimentos políticos populares. A extensão do sufrágio universal masculino no Reino Unido no século XIX ocorreu juntamente com o desenvolvimento do capitalismo industrial. A democracia tornou-se comum ao mesmo tempo que o capitalismo, levando muitos teóricos a postular uma relação causal entre eles, ou que cada um afeta o outro. No entanto, no século XX, segundo alguns autores, o capitalismo também foi acompanhado de uma variedade de formações políticas bastante distintas das democracias liberais, incluindo regimes fascistas, monarquias e estados de partido único,[27] enquanto algumas sociedades democráticas, como a República Bolivariana da Venezuela e da Catalunha Anarquista, têm sido expressamente anti-capitalistas.
Enquanto alguns pensadores defendem que o desenvolvimento capitalista, mais ou menos inevitável, eventualmente, leva ao surgimento da democracia, outros discordam dessa afirmação, entendendo que o discurso democrático dos pensadores capitalistas é sempre suprimido quando é do interesse destes. A investigação sobre a teoria da paz democrática indica que as democracias capitalistas raramente fazem guerra umas com as outros[53] e têm pouco de violência intema. Porém os críticos dessa teoria dizem que os estados capitalistas democráticos podem lutar raramente ou nunca com outros estados capitalistas democráticos devido à semelhança ou a estabilidade política e não porque eles são democráticos ou capitalistas.
Alguns comentaristas argumentam que, embora o crescimento econômico sob o capitalismo levou a uma democratização no passado, não poderá fazê-lo no futuro, como os regimes autoritários têm sido capazes de gerir o crescimento econômico sem fazer concessões a uma maior liberdade política.[54][55] Estados que têm grandes sistemas econômicos capitalistas têm prosperado sob sistemas políticos autoritários ou opressores. Singapura, que mantém uma economia de mercado altamente aberta e atrai muitos investimentos estrangeiros, não protege certas liberdades civis, como a liberdade de opinião e de expressão. O setor (capitalista) privado na República Popular da China tem crescido exponencialmente e prosperou desde o seu início, apesar de ter um govemo autoritário. O govemo de Augusto Pinochet no Chile, levou ao crescimento econômico através de meios autoritários para criar um ambiente seguro para investimentos e o capitalismo.
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Em resposta às críticas do sistema, alguns defensores do capitalismo têm argumentado que suas vantagens são apoiadas por pesquisas empíricas. Índices de Liberdade Econômica mostram uma correlação entre as nações com maior liberdade econômica (como definido pelos índices) e pontos mais altos em variáveis como renda e expectativa de vida, incluindo os pobres, nessas nações.
PIB mundial per capita mostra um crescimento exponencial desde o início da Revolução
Industrial.
Capitalismo e a economia da República Popular da China
Entre os anos 1000-1820 economia mundial cresceu seis vezes ou 50% por pessoa. Após o capitalismo começar a se espalhar mais amplamente, entre os anos 1820-1998, a economia mundial cresceu 50 vezes, ou seja, nove vezes por pessoa.[57] Na maioria das regiões econômicas capitalistas, como Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, a economia cresceu 19 vezes por pessoa, mesmo que estes países já tinham um nível mais elevado de partida, e no Japão, que era pobre em 1820, 31 vezes, enquanto no resto do mundo o crescimento foi de apenas 5 vezes por pessoa.
Muitos teóricos e políticos nos países predominantemente capitalistas têm enfatizado a capacidade do capitalismo em promover o crescimento econômico, medido pelo Produto Intemo Bruto (PIB), a utilização da capacidade instalada, ou padrão de vida. Este argumento foi central, por exemplo, na defesa de Adam Smith de deixar um controle livre da produção e do preço do mercado, e alocar recursos. Muitos teóricos observaram que este aumento do PIB mundial ao longo do tempo coincide com o surgimento do sistema mundial capitalista modemo.
Os defensores argumentam que o aumento do PIB (per capita) é empiricamente demonstrado sobre um padrão de vida melhor, como uma melhor disponibilidade de alimentos, habitação, vestuário e cuidados de saúde.[60] A diminuição do número de horas trabalhadas por semana e a diminuição da participação das crianças e dos idosos no mercado de trabalho também têm sido atribuídas ao capitalismo.
Os defensores também acreditam que uma economia capitalista oferece muito mais oportunidades para os indivíduos aumentar a sua renda através de novas profissões ou empreendimentos que as outras formas econômicas. Para o seu pensamento, esse potencial é muito maior do que em qualquer das sociedades tradicionais tribais ou feudais ou em sociedades socialistas.
Liberdade política
Milton Friedman argumentava que a liberdade econômica do capitalismo competitivo é um requisito da liberdade política. Friedman argumentou que o controle centralizado da atividade econômica é sempre acompanhado de repressão política. Na sua opinião, as transações em uma economia de mercado são voluntárias e a grande diversidade que permite o voluntariado é uma ameaça fundamental à repressão de líderes políticos e diminui consideravelmente o poder de coagir do Estado. A visão de Friedman foi também partilhada por Friedrich Hayek e John Maynard Keynes, tanto de quem acreditava que o capitalismo é vital para a liberdade de sobreviver e prosperar.
Auto-organização
Os economistas da Escola Austríaca têm argumentado que o capitalismo pode se organizar em um sistema complexo, sem uma orientação extema ou mecanismo de planejamento. Friedrich Hayek considerou o fenômeno da auto-organização é subjacente ao capitalismo. Preços servem como um sinal sobre a urgência das vontades das pessoas e
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a promessa de lucros incentiva os empresários a utilizar os seus conhecimentos e recursos para satisfazer esses desejos. Assim, as atividades de milhões de pessoas, cada um buscando seu próprio interesse, são coordenadas.
Um pôster da Industrial Workers of the World (1911), mostrando a Pirâmide do Sistema
Capitalista
Notáveis críticos do capitalismo têm incluído: socialistas, anarquistas, comunistas, tecnocratas, alguns tipos de conservadores, luddistas, narodniks, shakers e alguns tipos de nacionalistas. Os marxistas defendiam uma derrubada revolucionária do capitalismo que levaria ao socialismo, até a sua transformação para o comunismo. O marxismo influenciou partidos social-democratas e trabalhistas, bem como alguns socialistas democráticos moderados. Muitos aspectos do capitalismo estiveram sob ataque do movimento anti-globalização, que é essencialmente contrário ao capitalismo corporativo.
Muitas religiões têm criticado ou sido contra elementos específicos do capitalismo. O judaísmo tradicional, o cristianismo e o islamismo proíbem emprestar dinheiro a juros, embora os métodos bancários tenham sido desenvolvidos em todos os três casos e adeptos de todas as três religiões são autorizados a emprestar para aqueles que estão fora de sua religião. O cristianismo tem sido uma fonte de louvor para o capitalismo, bem como uma fonte de críticas ao sistema, particularmente em relação aos seus aspectos materialistas.[66] O filósofo indiano P.R. Sarkar, o fundador do movimento Ananda Marga, desenvolveu a Lei do Ciclo Social para identificar os problemas do capitalismo.
Os críticos argumentam que o capitalismo está associado à desigual distribuição de renda e poder, uma tendência de monopólio ou oligopólio no mercado (e do govemo pela oligarquia); imperialismo, a guerra contra-revolucionária e várias formas de exploração econômica e cultural, a repressão dos trabalhadores e sindicalistas e fenômenos como a alienação social, desigualdade econômica, desemprego e instabilidade econômica. O capitalismo é considerado por muitos socialistas um sistema irracional em que a produção e a direção da economia não são planejadas, criando muitas incoerências e contradições intemas[69]. Outra crítica frequente se dá ao caráter acumulativo do capitalismo, que, segundo os críticos, sobretudo marxistas e anarquistas, acaba por criar uma abismal divisão da sociedade entre classes antagônicas e uma consequente dominação da maioria trabalhadora pela minoria proprietária.
Os ambientalistas argumentam que o capitalismo exige crescimento econômico contínuo, e, inevitavelmente, esgota os recursos naturais finitos da Terra e outros recursos amplamente utilizados. Historiadores.
(Wilkipédia).
(Vejam-se os seguintes livros sobre esta matéria, dentre outros).
(“Dicionário do Pensamento Marxista”-Zahar-2012-Pags.63-82; “O Capital”-Karl Marx- Gabriel Deville-Edipro: “A Evolução do Capitalismo” Maurice Dobb-Zahar; “O Capital” Resumo Literal-Luiz de Carvalho Bicalho-Edições NR; “Gêse e Estrutura de O Capital de karl Marx” Roman Rosdolsky- Contraponto-2001; “Para Além do Capital” István Mészáros-Boitempo-2002.
Democracia
ocráticos, oligárquicos e monárquicos em seus sistemas políticos. Karl Popper definiu a democracia em contraste com ditadura ou tirania, privilegiando, assim, oportunidades para as pessoas de controlar seus líderes e de tirá-los do cargo sem a necessidade de uma revolução.
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Diversas variantes de democracias existem no mundo, mas há duas formas básicas, sendo que ambas dizem respeito a como o corpo inteiro de todos os cidadãos elegíveis executam a sua vontade. Uma das formas de democracia é a democracia direta, em que todos os cidadãos elegíveis têm participação direta e ativa na tomada de decisões do govemo. Na maioria das democracias modemas, todo o corpo de cidadãos elegíveis permanece com o poder soberano, mas o poder político é exercido indiretamente por meio de representantes eleitos, o que é chamado de democracia representativa. O conceito de democracia representativa surgiu em grande parte a partir de ideias e instituições que se desenvolveram durante períodos históricos como a Idade Média europeia, a Reforma Protestante, o Iluminismo e as revoluções Americana e Francesa.
Características
Classificação política dos países de acordo com a pesquisa da Freedom House em 2016:[6]
Países em azul são designados "democracias eleitorais" pela pesquisa Freedom in the
World de 2015, elaborada pela Freedom House.
Não existe consenso sobre a forma correta de definir a democracia, mas a igualdade, a liberdade e o Estado de direito foram identificadas como características importantes desde os tempos antigos.[8][9] Estes princípios são refletidos quando todos os cidadãos elegíveis são iguais perante a lei e têm igual acesso aos processos legislativos. Por exemplo, em uma democracia representativa, cada voto tem o mesmo peso, não existem restrições excessivas sobre quem quer se tornar um representante, além da liberdade de seus cidadãos elegíveis ser protegida por direitos legitimados e que são tipicamente protegidos por uma constituição.
Uma teoria sustenta que a democracia exige três princípios fundamentais: 1) a soberania reside nos níveis mais baixos de autoridade; 2) igualdade política e 3) normas sociais pelas quais os indivíduos e as instituições só consideram aceitáveis atos que refletem os dois primeiros princípios citados.
O termo democracia às vezes é usado como uma abreviação para a democracia liberal, que é uma variante da democracia representativa e que pode incluir elementos como o pluralismo político, a igualdade perante a lei, o direito de petição para reparação de injustiças sociais; devido processo legal; liberdades civis; direitos humanos; e elementos da sociedade civil fora do govemo. Roger Scruton afirma que a democracia por si só não pode proporcionar liberdade pessoal e política, a menos que as instituições da sociedade civil também estejam presentes.
Em muitos países, como no Reino Unido onde se originou o Sistema Westminster, o princípio dominante é o da soberania parlamentar, mantendo a independência judicial.[14] Nos Estados Unidos, a separação de poderes é frequentemente citada como um atributo central de um regime democrático. Na Índia, a maior democracia do mundo, a soberania parlamentar está sujeita a uma constituição que inclui o controle judicial.[15] Outros usos do termo "democracia" incluem o da democracia direta. Embora o termo "democracia" seja normalmente usado no contexto de um Estado político, os princípios também são aplicáveis a organizações privadas.
O regime da maioria absoluta é frequentemente considerado como uma característica da democracia. Assim, o sistema democrático permite que minorias políticas sejam oprimidas pela chamada "tirania da maioria" quando não há proteções legais dos direitos individuais ou de grupos. Uma parte essencial de uma democracia representativa "ideal" são eleições competitivas que sejam justas tanto no plano material, quanto processualmente. Além disso, liberdades como a política, de expressão e de imprensa são
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consideradas direitos essenciais que permitem aos cidadãos elegíveis serem adequadamente informados e aptos a votar de acordo com seus próprios interesses.
Também tem sido sugerido que uma característica básica da democracia é a capacidade de todos os eleitores de participar livre e plenamente na vida de sua sociedade.[18] Com sua ênfase na noção de contrato social e da vontade coletiva do todos os eleitores, a democracia também pode ser caracterizada como uma forma de coletivismo político, porque ela é definido como uma forma de govemo em que todos os cidadãos elegíveis têm uma palavra a dizer de peso igual nas decisões que afetam suas vidas.
Enquanto a democracia é muitas vezes equiparada à forma republicana de govemo, o termo república classicamente abrangeu democracias e aristocracias.[20][21] Algumas democracias são monarquias constitucionais muito antigas, como é o caso de países como o Reino Unido e o Japão.
História
Origens na antiguidade
Clístenes foi um reformador de Atenas que ampliou o poder da assembleia popular e que
é considerado o pai da democracia ateniense
O termo "democracia" apareceu pela primeira vez no antigo pensamento político e filosófico grego na cidade-Estado de Atenas durante a antiguidade clássica.[22][23] Liderados por Clístenes, os atenienses estabeleceram o que é geralmente tido como a primeira experiência democrática em 508-507 a.C. Clístenes é referido como "o pai da democracia ateniense".[24]
A democracia ateniense tomou a forma de uma democracia direta e tinha duas características distintivas: a seleção aleatória de cidadãos comuns para preencher os poucos cargos administrativos e judiciais existentes no govemo[25] e uma assembleia legislativa composta por todos os cidadãos atenienses.[26] Todos os cidadãos elegíveis eram autorizados a falar e votar na assembleia, que estabelecia as leis da cidade-Estado. No entanto, a cidadania ateniense excluía mulheres, escravos, estrangeiros (μέτοικοι, metoikoi), os que não eram proprietários de terras e os homens com menos de 20 anos de idade. Dos cerca de 200 a 400 mil habitantes de Atenas na época, havia entre 30 mil e 60 mil cidadãos. A exclusão de grande parte da população a partir do que era considerada cidadania está intimamente relacionada com a antiga compreensão do termo. Durante a maior parte da antiguidade, o benefício da cidadania era associado à obrigação de lutar em guerras.[27]
O sistema democrático ateniense não era apenas dirigido no sentido de que as decisões eram tomadas pelas pessoas reunidas na assembleia, mas também era mais direto no sentido de que as pessoas, através de assembleias e tribunais de justiça, controlavam todo o processo político e uma grande proporção dos cidadãos estavam envolvidos constantemente nos assuntos públicos.[28] Mesmo com os direitos do indivíduo não sendo garantidos pela constituição ateniense no sentido modemo (os antigos gregos não tinham uma palavra para "direitos"), os atenienses gozavam de liberdades não por conta do govemo, mas por viverem em uma cidade que não estava sujeita a outro poder e por não serem eles próprios sujeitos às regras de outra pessoa.
Cícero denuncia Catilina, afresco que representa o senado romano reunido na Cúria
Hostília. Palazzo Madama, Roma.
A votação por pontos apareceu em Esparta já em 700 a.C. A Apela era uma assembleia do povo, realizada uma vez por mês. Nessa assembleia, os líderes espartanos eram eleitos e
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davam seu voto gritando. Todos os cidadãos do sexo masculino com mais 30 anos de idade podiam participar. Aristóteles chamava esse sistema de "infantil", em oposição a algo mais sofisticado, como a utilização de registros de voto em pedra, como os usados pelos atenienses. No entanto, em termos, Esparta adotou esse sistema de votação por causa da sua simplicidade e para evitar qualquer tipo de viés de votação.[31][32]
Mesmo que a República Romana tenha contribuído significativamente com muitos dos aspectos da democracia, apenas uma minoria dos romanos eram considerados cidadãos aptos a votar nas eleições para os representantes. Os votos dos poderosos tinham mais mais peso através de um sistema de gerrymandering, enquanto políticos de alto gabarito, incluindo membros do senado, vinham de algumas famílias ricas e nobres. No entanto, muitas exceções notáveis ocorreram. Além disso, a República Romana foi o primeiro govemo no mundo ocidental a ter uma república como um Estado-nação, apesar de não ter muitas características de uma democracia. Os romanos inventaram o conceito de "clássicos" e muitas obras da Grécia antiga foram preservadas. Além disso, o modelo romano de govemo inspirou muitos pensadores políticos ao longo dos séculos] e democracias representativas modemas imitam mais o modelo romano do que os gregos porque era um Estado em que o poder supremo era realizado pelo povo e por seus representantes eleitos, e que tinha um líder eleito ou nomeado. A democracia representativa é uma forma de democracia em que as pessoas votam em representantes que, em seguida, votam em iniciativas políticas; enquanto uma democracia direta é uma forma de democracia em que as pessoas votam em iniciativas políticas diretamente.
Índice de democracia de 2015.
As transições do século XX para a democracia liberal vieram em sucessivas "ondas" de democracia, diversas vezes resultantes de guerras, revoluções, descolonização e por circunstâncias religiosas e econômicas. A Primeira Guerra Mundial e a subsequente dissolução dos impérios Otomano e Austro-Húngaro resultou na criação de novos Estados-nação da Europa, a maior parte deles, pelo menos nominalmente, democráticos.
Na década de 1920 a democracia floresceu, mas a Grande Depressão trouxe desencanto, e a maioria dos países da Europa, América Latina e Ásia e viraram-se para regimes autoritários. O fascismo e outros tipos de ditaduras floresceram na Alemanha nazista, na Itália, na Espanha e em Portugal, além de regimes não-democráticos terem surgidos nos países bálticos, nos Balcãs, no Brasil, em Cuba, na China e no Japão, entre outros.
A Segunda Guerra Mundial trouxe uma reversão definitiva desta tendência na Europa Ocidental. A democratização dos setores estadunidense, britânico e francês da Alemanha ocupada (disputado[39]), da Áustria, da Itália e do Japão ocupado pelos Aliados serviu de modelo para a teoria posterior de "mudança de regime". No entanto, a maior parte da Europa Oriental, incluindo o setor soviético da Alemanha, caiu sob a influência do bloco soviético não- democrático. A guerra foi seguida pela descolonização e, novamente, a maioria dos novos estados independentes tiveram constituições nominalmente democráticas. A Índia emergiu como a maior democracia do mundo e continua a sê-lo.
Em 1960, a grande maioria dos Estados-nação tinham, nominalmente, regimes democráticos, embora a maioria das populações do mundo ainda vivesse em países que passaram por eleições fraudulentas e outras formas de subterfúgios (particularmente em nações comunistas e em ex-colônias). Uma onda posterior de democratização trouxe ganhos substanciais para a verdadeira democracia liberal para muitas nações. Espanha, Portugal (1974) e várias das ditaduras militares na América do Sul voltaram a ser um govemo civil no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 (Argentina em
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1983, Bolívia e Uruguai em 1984, o Brasil em 1985 e o Chile no início de 1990). Isto foi seguido por nações do Extremo Oriente e do Sul da Ásia no final da década de 1980.
O mal-estar econômico na década de 1980, juntamente com o ressentimento da opressão soviética, contribuiu para o colapso da União Soviética, o consequente fim da Guerra Fria e a democratização e liberalização dos antigos países do chamado bloco oriental. A mais bem sucedida das novas democracias eram aqueles geográfica e culturalmente mais próximas da Europa Ocidental e elas são agora, em sua maioria, membros ou membros associados da União Europeia. Alguns pesquisadores consideram que a Rússia contemporânea não é uma verdadeira democracia e, em vez disso, se assemelha a uma forma de ditadura.
A tendência liberal se espalhou para alguns países da África na década de 1990, sendo o exemplo mais proeminente a África do Sul. Alguns exemplos recentes de tentativas de liberalização incluem a Revolução Indonésia de 1998, a Revolução Bulldozer na antiga Iugoslávia, a Revolução Rosa na Geórgia, a Revolução Laranja na Ucrânia, a Revolução dos Cedros no Líbano, a Revolução das Tulipas no Quirguistão e da Revolução de Jasmim na Tunísia (parte da chamada "Primavera Árabe")
De acordo com a organização Freedom House, em 2007, havia 123 democracias eleitorais (acima das 40 registradas em 1972). De acordo com o Fórum Mundial sobre a Democracia, as democracias eleitorais agora representam 120 dos 192 países existentes e constituem 58,2 por cento da população mundial. Ao mesmo tempo, as democracias liberais, ou seja, os países que Freedom House considera livre e que respeitam os direitos humanos fundamentais e o Estado de direito são 85 e representam 38 por cento da população globa
Em 2010, as Nações Unidas declararam 15 de setembro o Dia Intemacional da Democracia.
Tipos
A democracia tem tomado diferentes formas de govemo, tanto na teoria quanto na prática. Algumas variedades de democracia proporcionam uma melhor representação e maior liberdade para seus cidadãos do que outras.[45][46] No entanto, se qualquer democracia não está estruturada de forma a proibir o govemo de excluir as pessoas do processo legislativo, ou qualquer agência do govemo de alterar a separação de poderes em seu próprio favor, em seguida, um ramo do sistema político pode acumular muito poder e destruir o ambiente democrático.
Países do mundo de acordo com sua forma de govemo em 2011
Repúblicas presidencialistas1
Repúblicas semipresidencialistas1
Repúblicas parlamentaristas1
Estados unipartidários
Monarquias constitucionais parlamentares
Monarquias absolutas
Ditaduras militares
Monarquias constitucionais onde o monarca exerce poder pessoalmente
Repúblicas com um presidente executivo dependente do parlamento
Países que não se encaixam em nenhum dos sistemas políticos acima
26 1Vários Estados constitucionalmente considerados repúblicas multipartidárias são
amplamente descritos pela comunidade intemacional como países autoritários. Este mapa
apresenta apenas a forma de govemo de jure e não o grau de democracia de facto de cada
país.
Direta
O Landsgemeinde, uma das mais antigas formas de democracia direta, ainda é praticado
em dois cantões da Suíça.
Democracia direta refere-se ao sistema onde os cidadãos decidem diretamente cada assunto por votação.
A democracia direta tornou-se cada vez mais difícil, e necessariamente se aproxima mais da democracia representativa, quando o número de cidadãos cresce. Historicamente, as democracias mais diretas incluem o encontro municipal de Nova Inglaterra (dentro dos Estados Unidos), e o antigo sistema político de Atenas. Nenhum destes se enquadraria bem para uma grande população (embora a população de Atenas fosse grande, a maioria da população não era composta de pessoas consideradas como cidadãs, que, portanto, não tinha direitos políticos; não os tinham mulheres, escravos e crianças).
É questionável se já houve algum dia uma democracia puramente direta de qualquer tamanho considerável. Na prática, sociedades de qualquer complexidade sempre precisam de uma especialização de tarefas, inclusive das administrativas; e portanto uma democracia direta precisa de oficiais eleitos. (Embora alguém possa tentar manter todas as decisões importantes feitas por voto direto, com os oficiais meramente implementando essas decisões). Exemplos de democracia direta que costumavam eleger Delegados com mandato imperativo, revogável e temporário podem ser encontrados em sedições e revoluções de cunho anarquista como a Revolução Espanhola, a Revolução Ucraniana e no levante armado da EZLN, no estado de Chiapas.
Contemporaneamente o regime que mais se aproxima dos ideais de uma democracia direta é a democracia semidireta da Suíça. Uma democracia semidireta é um regime de democracia em que existe a combinação de representação política com formas de Democracia direta[50] (Benevides, 1991, p. 129).
A Democracia semidireta, conforme Bobbio (1987, p. 459), é uma forma de democracia que possibilita um sistema mais bem-sucedido de democracia frente as democracias Representativa e Direta, ao permitir um equilíbrio operacional entre a representação política e a soberania popular direta. A prática desta ação equilibrante da democracia semidireta, segundo Bonavides[53] (2003, p. 275), limita a “alienação política da vontade popular”, onde “a soberania está com o povo, e o govemo, mediante o qual essa soberania se comunica ou exerce, pertence ao elemento popular nas matérias mais importantes da vida pública”.
Representativa
Nas democracias representativas, os parlamentos são os locais reservados para o trabalho
dos representantes. Na imagem, o Câmara dos Representantes dos Estados Unidos
Senado do Brasil, em Brasília
Em democracias representativas, em contraste, os cidadãos elegem representantes em intervalos regulares, que então votam os assuntos em seu favor. Do mesmo modo, muitas democracias representativas modemas incorporam alguns elementos da democracia direta, normalmente referendo.
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Nós podemos ver democracias diretas e indiretas como os tipos ideais, com as democracias reais se aproximando umas das outras. Algumas entidades políticas modemas, como a Suíça ou alguns estados norte-americanos, onde é frequente o uso de referendo iniciada por petição (chamada referendo por demanda popular) ao invés de membros da legislatura ou do govemo. A última forma, que é frequentemente conhecida por plebiscito, permite ao govemo escolher se e quando manter um referendo, e também como a questão deve ser abordada. Em contraste, a Alemanha está muito próxima de uma democracia representativa ideal: na Alemanha os referendos são proibidos—em parte devido à memória de como Adolf Hitler usou isso para manipular plebiscitos em favor do seu govemo.
O sistema de eleições que foi usado em alguns países capitalistas de Estado, chamado centralismo democrático, pode ser considerado como uma forma extrema de democracia representativa, onde o povo elegia representantes locais, que por sua vez elegeram representantes regionais, que por sua vez elegiam a assembleia nacional, que finalmente elegia os que iam govemar o país. No entanto, alguns consideram que esses sistemas não são democráticos na verdade, mesmo que as pessoas possam votar, já que a grande distância entre o indivíduo eleitor e o govemo permite que se tornasse fácil manipular o processo. Outros contrapõem, dizendo que a grande distância entre eleitor e govemo é uma característica comum em sistemas eleitorais desenhados para nações gigantescas (os Estados Unidos e algumas potências europeias, só para dar alguns exemplos considerados inequivocamente democráticos, têm problemas sérios na democraticidade das suas instituições de topo), e que o grande problema do sistema soviético e de outros países comunistas, aquilo que o tornava verdadeiramente não-democrático, era que, em vez de serem escolhidos pelo povo, os candidatos eram impostos pelo partido dirigente.
Direito ao Voto
A votação é uma parte importante do processo democrático formal.
O voto, também chamado de sufrágio censitário, é típico do Estado liberal (século XIX) e exigia que os seus titulares atendessem certas exigências tais como pagamento de imposto direto; proprietário de propriedade fundiária e usufruir de certa renda.
No passado muitos grupos foram excluídos do direito de voto, em vários níveis. Algumas vezes essa exclusão é uma política bastante aberta, claramente descrita nas leis eleitorais; outras vezes não é claramente descrita, mas é implementada na prática por meios que parecem ter pouco a ver com a exclusão que está sendo realmente feita (p.ex., impostos de voto e requerimentos de alfabetização que mantinham afro-americanos longe das umas antes da era dos direitos civis). E algumas vezes a um grupo era permitido o voto, mas o sistema eleitoral ou instituições do govemo eram propositadamente planejadas para lhes dar menos influência que outros grupos favorecidos.
Hoje, em muitas democracias, o direito de voto é garantido sem discriminação de raça, grupo étnico, classe ou sexo. No entanto, o direito de voto ainda não é universal. É restrito a pessoas que atingem uma certa idade, normalmente 18 (embora em alguns lugares possa ser 16—como no Brasil—ou 21). Somente cidadãos de um país normalmente podem votar em suas eleições, embora alguns países façam excepções a cidadãos de outros países com que tenham laços próximos (p.ex., alguns membros da Comunidade Britânica e membros da União Europeia).
A prática do voto obrigatório remonta à Grécia Antiga, quando o legislador ateniense Sólon fez aprovar uma lei específica obrigando os cidadãos a escolher um dos partidos, caso não quisessem perder seus direitos de cidadãos. A medida foi parte de uma reforma política que visava conter a radicalização das disputas entre facções que dividiam
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a pólis. Além de abolir a escravidão por dívidas e redistribuir a população de acordo com a renda, criou também uma lei que impedia os cidadãos de se absterem nas votações da assembleia, sob risco de perderem seus direitos.
Critérios
Muitas sociedades no passado negaram a pessoas o direito de votar baseadas no grupo étnico. Exemplo disso é a exclusão de pessoas com ascendência africana das umas, na era anterior à dos direitos civis, e na época do apartheid na África do Sul.
A maioria das sociedades hoje não mantêm essa exclusão, mas algumas ainda o fazem. Por exemplo, Fiji reserva um certo número de cadeiras no Parlamento para cada um dos principais grupos étnicos; essas exclusões foram adotadas para barrar a maioria dos indianos em favor dos grupos étnicos fijianos.
Até o século XIX, muitas democracias ocidentais tinham propriedades de qualificação nas suas leis eleitorais, o que significava que apenas pessoas com um certo grau de riqueza podiam votar. Hoje essas leis foram amplamente abolidas.
Outra exclusão que durou muito tempo foi a baseada no sexo. Todas as democracias proibiam as mulheres de votar até 1893, quando a Nova Zelândia se tornou o primeiro país do mundo a dar às mulheres o direito de voto nos mesmos termos dos homens. No Brasil, pela constituição de 1822 e suas emendas antes dessa data, permitiu-se o direito de voto feminino, desde que pertencesse à classe determinada dos fazendeiros e fosse alfabetizada.[50] Isso aconteceu devido ao sucesso do movimento feminino pelo direito de voto, tanto na Nova Zelândia como no Brasil, sendo que houve participações parlamentares já no Brasil depois dessa época.[50] Hoje praticamente todos os Estados permitem que mulheres votem; as únicas exceções são sete países muçulmanos do Oriente Médio: Arábia Saudita, Barein, Brunei, Kuwait, Omã, Qatar e Emirados Árabes Unidos.
O direito de voto normalmente é negado a prisioneiros. Alguns países também negam o direito a voto para aqueles condenados por crimes graves, mesmo depois de libertados. Em alguns casos (p.ex. em muitos estados dos Estados Unidos) a negação do direito de voto é automático na condenação de qualquer crime sério; em outros casos (p.ex. em países da Europa) a negação do direito de voto é uma penalidade adicional que a corte pode escolher por impor, além da pena do aprisionamento. Existem países em que os prisioneiros mantêm o direito de voto (por exemplo Brasil e Portugal).
Problemas
Os pensadores italianos do século XX Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca (independentemente) argumentaram que a democracia era ilusória, e servia apenas para mascarar a realidade da regra de elite. Na verdade, eles argumentaram que a oligarquia da elite é a lei inflexível da natureza humana, em grande parte devido à apatia e divisão das massas (em oposição à unidade, a iniciativa e a unidade das elites), e que as instituições democráticas não fariam mais do que mudar o exercício do poder de opressão à manipulação.[56] Como Louis Brandeis uma vez profetizou, "Podemos ter democracia ou podemos ter riqueza concentrada nas mãos de uns poucos, mas não podemos ter as duas coisas."[57]
Hoje todos os partidos políticos no Canadá são cautelosos sobre as críticas de alto nível de imigração, porque, como observou The Globe and Mail, "no início de 1990, o antigo Partido da Reforma foi marcado como 'racista' por sugerir que os níveis de imigração deveriam ser reduzidos de 250.000 a 150.000."[58] Como o professor de Economia Don J. DeVoretz destacou: "Em uma democracia liberal como o Canadá, o seguinte paradoxo persiste. Mesmo que a maioria dos entrevistados respondendo sim à pergunta: 'Há muitas imigrantes
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chegando a cada ano?' números de imigrantes continuam a subir até que um conjunto crítico de custos econômicos apareçam'".[59][60]
A ideia de “crise da democracia” vem ganhando repercussão na Teoria Política Contemporânea. Desde a década de 1970, autores da vertente partipacionista associam a legitimidade dos regimes democráticos a fatores que vão além da mera possibilidade de exercício livre do voto. A demanda, nesse sentido, é por efetiva atuação na concepção das políticas públicas, o que causa resistência em agentes representativos receosos de compartilhar o poder que o design institucional modemo lhes conferiu.
(Wilkipédia).
Populismo.
O termo populismo, um dos mais controversos da literatura política, possui várias
conotações. Geralmente é utilizado, na América Latina, para designar um conjunto de práticas políticas que consiste no estabelecimento de uma relação direta entre as massas e uma liderança política (um líder carismático, como um caudilho, por exemplo) sem a mediação de instituições políticas representativas, como os partidos, ou até mesmo contra elas, e geralmente empregando uma retórica que apela para figuras difusas ("o povo", "os oprimidos", "os descamisados", etc.).
Assim, o "povo", como categoria abstrata, é colocado no centro da ação política, independentemente dos canais próprios da democracia representativa. Exemplos típicos são o populismo russo do final do século XIX, que visava transferir o poder político às comunas camponesas por meio de uma reforma agrária radical ("partilha negra"), e o populismo americano, que, na mesma época, propunha o incentivo à pequena agricultura através da prática de uma política monetária baseada na expansão da base monetária e do crédito (bimetalismo).
Historicamente, no entanto, o termo 'populismo' tornou-se uma força importante na América Latina, principalmente a partir de 1930, estando associado à industrialização, à urbanização e à dissolução das estruturas políticas oligárquicas, que concentravam firmemente o poder político na mão de aristocracias rurais. Daí a gênese do populismo, no Brasil, estar ligada à Revolução de 1930, que derrubou a República Velha oligárquica, colocando no poder Getúlio Vargas, que viria a ser a figura central da política brasileira até seu suicídio, em 1954.
1 Características 2 Ideologias 3 Políticos populistas famosos 4 Ver também 5 Referências 6 Ligações extemas
Características
A política populista caracteriza-se menos por um conteúdo determinado do que por um "modo" de exercício do poder. Sua característica básica é o contato direto entre as massas urbanas e o líder carismático, supostamente sem a intermediação de partidos ou corporações. Para ser eleito e govemar, o líder populista procura estabelecer um vínculo emocional com o "povo". Isso implica num sistema de políticas ou métodos para o aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo, além da classe média urbana, como forma de angariar votos e prestígio (legitimidade para si) através da simpatia
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daquelas. Esse pode ser considerado o mecanismo mais representativo desse modo de govemar.
Pelo menos até o final dos anos 1970, o populismo foi encarado com desconfiança por diferentes correntes político-ideológicas, tanto de esquerda quanto de direita. O termo costumava ter sentido pejorativo,[4] sendo usado arma de combate discursivo, para a desqualificação do oponente.
Na Argentina, a antiperonista União Cívica Radical e no Brasil, a direita, representada, por exemplo, pelo antivarguismo da UDN, sempre recriminaram o populismo por suas práticas vulgares e suas atitudes "demagógicas", notadamente a concessão de benefícios sociais através do aumento do gasto público. Por outro lado, a esquerda apontava para o caráter desmobilizador das benesses populistas, que faziam crer que tudo dependeria apenas da vontade despótica de um caudilho bonapartista. Mais recentemente, vários historiadores e cientistas políticos passaram a considerar que o populismo promove uma espécie de proto-democratização, ao beneficiar os setores de classe média e baixa e limitar o poder das elites políticas.
Na América Latina, o populismo foi um poderoso mecanismo de integração das massas populares à vida política, favorecendo o desenvolvimento econômico e social, mas subordinando essa integração a um enquadramento estritamente burguês, colocando-se a figura de um líder carismático. O politólogo Emesto Laclau argumenta que o populismo é a melhor forma de organização política, porque oferece maior espaço e representatividade às classes usualmente excluídas.[7][8]Para ele, essa prática política representa uma articulação profunda por mudanças institucionais e "teve um papel enormemente positivo para a democracia" na América Latina, onde os movimentos de massa têm provocado mudanças políticas, com a ascensão de govemos de corte nacional-popular. A partir daí, segundo Laclau, há inevitáveis choques com elites , na luta por alterações institucionais. "A participação democrática das massas, com seus ideais comunitários, não se ajusta a estados liberais tradicionais", afirma ele, pois as instituições nunca são neutras. "Elas são a cristalização de uma relação de forças entre grupos sociais. Quando mudam essas relações, as instituições - e até as constituições - precisam ser modificadas. Estamos num processo de mudança no qual as novas forças sociais estão fazendo novas demandas e, naturalmente, vão se chocar com vários aspectos constitucionais estabelecidos anteriormente, em sociedades que eram muito diferentes". É para bloquear essa ascensão das massas que o poder conservador trata de se agarrar a essas antigas formas institucionais e faz uma cruzada antipopulista, avalia Laclau. "Não que as instituições tenham que ser abolidas, mas precisam ser reformadas", afirma Laclau.
Ideologias
O populismo é uma expressão política que encontra representantes na direita. Govemantes populistas como Getúlio Vargas, Perón e Lázaro Cárdenas[11] realizaram políticas nacionalistas de substituição de importações, estatização de certas atividades econômicas, imposição de restrições ao capital estrangeiro e concessão de direitos sociais.
Essa forma de govemo tendeu também a retirar da própria burguesia nativa a sua capacidade de ação política autônoma, na medida em que toda ação política é referida à pessoa do líder populista, que se coloca idealmente acima de todas as classes. Ideologicamente, o populismo não é, portanto, necessariamente de esquerda, no sentido de que seu alvo não são apenas as massas destituídas; há políticos populistas de direita - como os políticos paulistas Adhemar de Barros e Paulo Maluf, que tiveram como alvo de sua ações políticas a exploração das carências dos estratos mais baixos (ou menos organizados) da população urbana, com os quais estabeleceram uma relação empática baseada no ethos do empreendedorismo, do dinamismo, do arrojo e
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do self-made man, bem como na defesa de políticas autoritárias justificadas pela defesa da "moral e dos bons costumes" ou da "lei e da ordem". Alegam alguns que o maior representante do populismo de direita no Brasil talvez tenha sido o presidente Jânio Quadros.
Enquanto ideologia, o populismo não está tampouco ligado obrigatoriamente a políticas econômicas de corte nacionalista: na América Latina dos anos 1990, govemantes populistas combinaram políticas liberais de desregulamentação e desnacionalização com uma política social assistencialista, herdada do populismo mais tradicional dos anos 1930 naquilo em que tais políticas não contrariavam as práticas neoliberais. Isso ocorre, por exemplo, no Peru, durante a ditadura de Alberto Fujimori.[12]
Exemplo máximo do populismo no Brasil, Getúlio Vargas[11] subiu ao poder através de golpe de Estado nos anos 30 (a Era Vargas de 1930 até 1945), elegendo-se democraticamente presidente em 1951 e govemando até suicidar-se, em 1954. Apelidado de "pai dos pobres", sua popularidade entre as massas é atribuída à sua liderança carismática e ao seu empenho na aprovação de reformas trabalhistas que favoreceram o operariado. Entretanto, alguns alegam que suas medidas apenas minaram o poder dos sindicatos e de seus líderes, tornando-os dependentes do Estado e sendo usados pelos políticos por muito tempo para ganharem voto.
As quatro etapas do populismo econômico Conseguimos sobreviver às três primeiras.
O populismo econômico — ou a política econômica populista — pode ser caracterizado como um programa de govemo que recorre a uma maciça intervenção do estado em vários setores da economia, incentiva o consumismo (ao mesmo tempo em que desestimula os investimentos de longo prazo), e incorre em déficits no orçamento do govemo.
Além de se tratar de um modelo insustentável no longo prazo, o populismo econômico possui vários estágios entre sua adoção e seu inevitável fracasso. A última década de extremo populismo na Argentina e na Venezuela [Nota do editor: e, em menor grau, no Brasil, como será demonstrado mais abaixo] pode ser descrita como tendo seguido exatamente este padrão.
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Após observarem a experiência populista em vários países da América Latina, os economistas Rudiger Dornbusch e Sebastián Edwards identificaram em seu artigo "Macroeconomic Populism" (1990) quatro estágios universais inerentes ao populismo. Ainda que o populismo possa apresentar uma grande variedade de políticas, certas características parecem estar presentes na maioria dos casos.
O populismo normalmente estimula uma mobilização social em prol do govemo, faz uso maciço da propaganda glorificando determinados políticos, utiliza símbolos e práticas de marketing para incitar os sentimentos dos eleitores, e recorre frequentemente a uma retórica que apela à luta de classes.
O populismo é especialmente voltado para aqueles que têm uma renda baixa, ao passo que, paradoxalmente, as elites que controlam o partido dominante não explicam a fonte da milionária renda do seu líder.
Govemantes populistas têm facilidade em utilizar bodes expiatórios e em recorrer a teorias conspiratórias para explicar por que o país está passando por dificuldades, ao mesmo tempo em que se apresentam à população como os salvadores da nação. Para alguns, o populismo está associado à esquerda e a movimentos socialistas; para outros, à direita e a políticas fascistas.
Os quatro estágios do populismo, identificados por Dornbusch e Edwards, são:
Estágio I
O populista é eleito e faz um diagnóstico sobre tudo o que está ruim na economia. Ato contínuo, ele implanta políticas voltadas para atacar os sintomas e não para curar a doença. Há aumento dos gastos, há inchaço da máquina pública e há incentivos ao consumismo (mas não ao investimento de longo prazo).
Nos primeiros anos de govemo, as políticas aparentemente funcionam. A política macroeconômica mostra bons resultados, como um PIB crescente, uma redução no desemprego, um aumento real nos salários etc.
Como a economia está partindo de uma base baixa, há o chamado "hiato do produto", que é a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial. Isso permite que estímulos econômicos artificiais gerem um crescimento econômico grande no curto prazo e sem pressões inflacionárias.
Adicionalmente, o govemo paga pelas importações utilizando as reservas do banco central (artifício esse favorito de Venezuela e Argentina) e impõe regulamentações para controlar alguns preços (uma política de congelamento de preços é aplicada em simultâneo a uma política de subsídios para grandes empresas).
Tudo isso faz com que a inflação de preços fique relativamente sob controle.
Estágio II
Alguns gargalos começam a aparecer, pois as políticas populistas enfatizaram o consumismo e se esqueceram do investimento (mesmo porque os populistas tendem a demonizar empresários capitalistas).
Como consequência, o estoque de capital do país está sendo consumido mas não está sendo reposto. A produtividade cai.
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Adicionalmente, as reservas intemacionais utilizadas para pagar pela importação de produtos básicos também começam a cair.
Um aumento nos preços de vários bens — até então controlados — se torna imperativo, pois os produtos estavam se tornando escassos. Esse aumento geral de preços, o que equivale a uma redução no poder de compra da moeda e a um aumento do custo de vida, frequentemente leva a uma desvalorização na taxa de câmbio. Os preços dos serviços de utilidades públicas (eletricidade, tarifas de ônibus etc.) e da gasolina, controlados pelo govemo, também começam a subir, pois o govemo necessita de mais receitas.
Tal cenário leva a uma fuga de capitais, a qual é momentaneamente estancada pela imposição de controle de capitais. Investidores estrangeiros fogem do país, o que reduz ainda mais os investimentos produtivos.
O govemo tenta controlar seu orçamento e seus déficits, mas fracassa. Dado que o custo dos prometidos subsídios à eletricidade, à gasolina e a algumas grandes empresas (as favoritas do govemo) aumenta continuamente apenas para compensar o aumento do custo de vida, os déficits do govemo aumentam.
Novos impostos são criados e alíquotas são majoradas. A economia informal começa a crescer.
Nesse ponto, reformas fiscais se tornam necessárias, mas são evitadas pelo govemo populista, pois elas vão contra toda a retórica do govemo e toda a sua base de apoio.
Estágio III
Desabastecimentos e vários problemas relacionados à escassez se tornam significativos. Dado que a taxa nominal de câmbio não foi desvalorizada no mesmo ritmo da inflação de preços, há uma saída contínua de capitais (as reservas intemacionais caem ainda mais). No extremo, a alta inflação de preços empurra a economia para uma desmonetização. A moeda local é utilizada apenas para transações domésticas. Os cidadãos passam a poupar em dólares americanos.
A queda na atividade econômica afeta as receitas tributárias do govemo, piorando ainda mais os déficits orçamentários. O govemo tem de cortar subsídios.
Para estancar a perda de reservas intemacionais, uma nova desvalorização da taxa de câmbio é feita. O custo de vida dispara, a renda real dos cidadãos despenca, e sinais de instabilidade política e social surgem diariamente.
[Nota do editor: neste ponto, saques a comércios e residências se tornam comuns, como ocorreu na Argentina. Na Venezuela, a distribuição de alimentos foi colocada sob supervisão militar.
O fracasso do projeto populista se torna evidente.
Estágio IV
Um novo govemo é eleito (ou o próprio govemo é reeleito; ou um novo govemo assume em decorrência da deposição do atual) e é obrigado a fazer ajustes "ortodoxos", possivelmente sob a supervisão do FMI ou de organizações intemacionais que forneçam os fundos necessários para fazer as reformas econômicas (isso ocorre majoritariamente quando o país precisa de recompor suas reservas intemacionais).
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Como o estoque de capital do país foi consumido e destruído, sem ser reposto, os salários reais caem para níveis abaixo daqueles que vigoravam antes do início das políticas populistas. O novo govemo "ortodoxo" tem então de recolher os farrapos que restaram e tentar cobrir os custos das políticas fracassadas feitas pelo regime anterior. Isso normalmente implica políticas de austeridade, altamente impopulares.
Os populistas se foram, mas os estragos de suas políticas continuam totalmente presentes.
O populismo econômico segue firme e forte
Embora Dornbusch e Edwards tenham escrito seu artigo em 1990, as similaridades com o que ocorre hoje em países da América Latina são notáveis.
Nos últimos anos, para manter as ideias populistas firmes na mente dos eleitores, a Venezuela criou o Ministério da Suprema Felicidade Social e a Argentina de Cristina Kirchner criou uma Secretária do Pensamento Nacional.
Esses quatro estágios são, na realidade, cíclicos. O movimento populista utiliza o quarto estágio para criticar as políticas "ortodoxas" adotadas pelo novo govemo, e argumenta que, durante o reinado dos populistas, as coisas estavam melhores.
Dado que as políticas ortodoxas quase sempre se baseiam exclusivamente no aumento de impostos, as coisas dificilmente melhoram. A renda real segue em queda e a economia segue em contração. Consequentemente, a opinião pública, descontente com as medidas adotadas no estágio IV, concede ao movimento populista uma vitória nas próximas eleições. Os populistas recebem uma economia em recessão e o ciclo recomeça do estágio I.
Não é de se surpreender que govemos populistas normalmente surjam após tempos difíceis causados por crises econômicas. Um govemo populista mais ousado pode conseguir evitar o estágio IV descobrindo novas maneiras de permanecer no govemo, como, por exemplo, proibindo eleições ou criando resultados eleitorais falsos.
Nesse ponto, o govemo populista consegue transformar o país em uma nação totalmente autoritária.
Políticos populistas famosos
Anthony Garotinho Cristina Kirchner Evo Morales Getúlio Vargas Hugo Chávez Iris Rezende[
Juan Domingo Perón Leonel Brizola Luiz Inácio Lula da Silva. Nicolás Maduro Ollanta Humala
Paulo Maluf[ Rafael Correa Donald Trump[
(Mises Brasil Autor Nicolás Cachanosky).
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SOCIALISMO-COMUNISMO.
Li muitos livros escritos por KAR MARX, inclusive biografias, porém encontrei no livro “Karl
Marx ou o Espírito do Mundo”, escrito pelo economista argelino, ex-assessor do Presidente
francês François Mitterand, Jacques Attali, (tradução de Clóvis Marques-Editora Recoird-
Rio de Janeiro- São Paulo- 2.007) uma das melhores obras sobre a vida familiar, política e
de filósofo-economista do gênio mundial, Karl Marx.
Attali declara neste livro: “Digo-o sem ênfase em nostalgia. Nunca fui nem sou “marxista”
em qualquer sentido da palavra. A obra de Marx não me acompanhou na juventude; por
incrível que pareça, não ouvi muito seu nome ser pronunciado durante meus estudos de
ciências, direito, economia ou história. Meu primeiro contato sério com ele foi através da
leitura tardia de seus livros e de uma correspondência com o autor de “Pour Marx”, Louis
Althusser”. (Pag.13).
Por isto é que, lendo e relando referido livro, encontrei a opinião parece que isenta sobre o
grande humanista Karl Marx e resolvi incluir neste meu trabalho trechos do livro,
principalmente relacionados com a obra filosófica e econômica de Karl Marx.
A seguir relato os trechos, que encontrei significativos no referido livro.
“Em outros lugares, a liberdade continua a se manifestar em vigor: no ano seguinte ocorreu
a primeira travessia do Atlântico por um barco a vapor, o “Savannah”, em 28 dias, enquanto
em Manchester uma manifestação pela reforma e pelos direitos civis atrai 60 mil pessoas;
sua repercussão causa seis mortes. Apaixonado pela literatura, pela filosofia e pela ciência,
ele (Marx) trata de aproveitar os raros espaços de liberdade de que dispõe. Em 1825, fica
sabendo, maravilhado, que uma primeira via férrea acaba de ser construída na Inglaterra.
Em seu clube, debate animadamente a criação, perto de Nova York, de uma primeira
comunidade denominada“socialista” com base em palavra
inventada três anos antes por um certo Edward Oppen, em carta dirigida a Robert Owen,
fundador da referida comunidade. Este nascido no País de Gales, transferiu-se para os
Estados Unidos em 1824 para fundar a “New Harmony”, que tem como princípio básico a
igualdade e a harmonia). Em 1826, a Europa é afetada por uma grave crise financeira
conseqüência da superprodução agrícola. Na mesma época, Nicéphore Niépce tira primeira
fotografia (uma vista de sua casa de família (Pierre Leroux emprega o neologismo
“socialismo” pela primeira vez em francês em março de 1830, num texto intitulado
“Individualismo e Socialismo”, publicado em “La Revue encyclopédique”. Leroux define-o
como “a doutrina que não sacrificará nenhum dos termos da fórmula Libertade-
Fratemidade- Igualdade. Em 1835, Alexis de Tocqueville publica a primeira parte de “Da
democriacia na América”, enquanto o Texas se proclama independente do México e Colt
inventa o revólver de tambor. Uma linha ferroviária ligando Saint-Étienne a Lyon é entregue
aos passageiros, e um decreto autoriza a construção de uma linha Paris-Saint-Germain-em
Laye. Karl sente um fascínio cada vez maior pelo desenvolvimento desse modo de
transporte, e Jenny, a quem declara seu amor- tem ele então 17 anos- zomba dele, dando-
lhe o apelido de “Sr. Ferrovia” Karl Marx chama a atenção por sua força de trabalho e seu
carisma pessoal. Ele cuida da abundante cabeleira e já deixa crescer uma pequena barba.
De altura e corpulência médias, fala com um leve ceceio e forte sotaque renano. E começa
fazendo tudo em excesso: os estudos, as noites de vigília, as violências verbais e físicas...
e o álcool. Frequenta bares e salões de baile; mete-se em brigas. Chega inclusive a comprar
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uma pistola para se prevenir contra os rivais. Sua única fonte de renda é a que lhe envia o
pai, e que ele gasta sem escrúpulos bebendo, comendo, pagando o aluguel e comprando
livros. Em poucos meses, contrai dívidas no considerável montante de 160 táleres, que vêm
a ser quitados pelo pai sob fortes protestos. Assim tem início a complexa relação de Karl
com o dinheiro, feita de fascínio e ódio, que logo haverá de deixá-lo inclusive doente. Assim
começa também sua análise do trabalho obrigado, para ganhar a vida. Do trabalho
assalariado, do trabalho explorado. E mesmo, como veremos, de toda forma de separação
forçada de uma obra das mãos daquele que a produziu. Na França o médico Louis-René
Villermé denuncia a situação operária em seu “Quadro do estado físico e moral dos
operários nas fabricas de lã e de seda”. Um operário que se tornou filósofo, Pierre-Joseph
Proudhon, publica “O que é a propriedade? “, cristalizando as mais radicais formas de
oposição à sociedade capitalista nascente. “Revolta das batatas” explode em Lens. Surge
o vocábulo “comunismo”, designando a doutrina econômica
do jurista francês Étienne Cabet; realiza-se em Paris o primeiro “banquete comunista”,
enquanto a transferência das cinzas de Napoleão I para os Inválidos provoca enorme
comoção popular). Em 1841, seu caminho cruza, talvez sem vê-lo, com o de um jovem dois
anos mais moço que passa por Berlim para fazer o serviço militar e que viria a desempenhar
um grande papel em sua vida: Friedric Engels. Nesse ano, Karl lê, ao ser lançado, “A
essência do cristianismo”, de Fuerbach, pedra fundamental de sua obra, na qual Fuerbach
sustenta que, para permitir o advento de uma sociedade verdadeiramente humana, a
filosofia deve encontrar prolongamento na política, a única capaz de libertar o homem de
suas alienações, através da abolição da propriedade privada e portanto do salário. É
preciso, afirma Fuerbach, unir a humanidade sofredora, que pensa, e a humanidade
pensante, que é oprimida, em outras palavras, os trabalhadores manuais e os intelectuais;
é preciso transformar radicalmente o estado, pois ele não é, como julgava Hengel, a
encarnação do um absoluto acima das classes, mas o reflexo das relações econômicas,
jurídicas e sociais de uma época. Nenhuma classe social pode promover a emancipação
geral se não for confrontada com a necessidade com que só o proletariado, a única classe
em que o humano é totalmente negado, se vê confrontado de forma absoluta. Como todos
os jovens alemães de sua época, Marx é profundamente tocado por este livro. A 16 de
outubro de 1842, no momento em que seu jovem irmão acaba de morrer em Trier, Karl
escreve seu primeiro artigo político: “O comunismo e “Die Augburger Allgemaine Zeitung”.
Nele, explica que o “comunismo” é um movimento cujas origens remontam a Platão, às
seitas judaicas e aos primeiros movimentos cristãos, e que está em marcha na França, na
Grã Bretanha e na Alemanha Karl considera na época que a economia é o alicerce de todas
as outras ciências sociais. E que nada escapa a suas leis, como tampouco às do
materialismo. Ele abandona a utopia comunista para inventar o socialismo científico. Em
novembro de 1842, escreve na “Gazeta Renana”: “O mesmo espírito que constrói os
sistemas filosóficos no cérebro dos filósofos constrói as ferrovias com as mãos dos
operários”. Agora, ele já acredita inclusive na existência de uma lógica materialista que faz
com que a arte, a filosofia e o direito dependam das estruturas socioeconômicas e da
propriedade. Em carta (13 de março de 1843), ele reitera seu ponto de vista sobre a
emancipação dos judeus, acrescentando um esclarecimento revelador: “Acabo de receber
a visita do chefe da comunidade judaica aqui (ele não diz que se chama Raphael Marx),
que me pediu que fizesse uma petição à Assembléia provincial em favor (da emancipação)
dos judeus, e estou disposto a fazê-la. Por mais que deteste a fé judaica, o ponto de vista
de Bauer, de obrigar os judeus a se converter, parece-me por demais abstrato. A questão
é abrir o máximo possível de brechas no Estado cristão e introduzir o quanto pudermos o
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racional o, em contrabando. Para Karl, o judaísmo é uma forma de introduzir o racional no
Estado cristão. Pela primeira vez, ele também ousa declarar que detesta o judaísmo, e
logo vai explicar por quê. Para surpresa geral, inclusive de Marx, a Assembléia atende à
solicitação, conferindo aos judeus, pela primeira vez na história da Alemanha, a condição
de cidadãos comuns.
Naquele verão (1843), em Bad Kreuznach, Karl trabalha em dois textos: Critica da Filosofia
do Direito de Hegel e A questão Judaica. Em ambos apresenta o proletariado como uma
força histórica capaz de revolucionar as relações sociais e realizar essa “emancipação
humana” a que já se referiu. Escrevendo, ele descobre que pode discutir com Jenny suas
idéias, suas leituras, seus manuscritos. Ela se torna sua primeira leitora e sempre a única
capaz de decifrar com perfeição sua escrita; ele chega mesmo a fazê-la copiar seus textos
antes de enviá-los à gráfica. Em “Contribuição à crítica da filosofia do direito” de Hegel,
Marx, na linha do pensamento de Feuerbach propõe-se a “inverter a dialética hegeliana
para pô-la de novo de pé”, ou seja, partir não mais de um princípio teórico, mas das reais
condições de vida dos homens. Para ele, foram os homens que criaram Deus à sua
imagem, e a oração os afasta da reivindicação social. Ele formula pela primeira vez a idéia
de que a função histórica do proletariado é derrubar o capitalismo. Ao contrário de Hegel,
repete que não é o Estado que fará a História, mas a História que modela o Estado; e que
os homens só podem libertar-se por sua própria ação, e não pelo capricho de um mecenas
ou a vontade de um ditador esclarecido. A revolução só pode vir de uma “classe libertadora
por excelência”. Critica Feuerbach por não entender que os homens, precisando de
fratemidade, são sensíveis à religião, que lhes dá a sensação de pertencer a uma
comunidade. Indo de encontro a seus antigos companheiros do Doktorklub, ele afirma que
a religião não passa de produto e reflexo deformado das condições sociais em que vivem
os homens.” A religião é o suspiro da criatura oprimida, os sentimentos de um mundo sem
alma, é o espírito de condição sem espírito. É o ópio do povo. Religião, “ópio do povo”; a
expressão fora enunciada por Moses Hess. O Homem é a finalidade da ação humana. Ele
afirma: “O homem é para o homem o ser supremo”. Preocupado em frisar sua condição de
cientista, ele escreve: “Nós proporcionamos ao mundo os princípios que o próprio mundo
desenvolveu em seu seio. E lança contra os hegelianos de esquerda esta célebre e
ameaçadora exortação: “A crítica das armas não pode ser substituída pela armas da crítica.
A força física deve ser aniquilada pela força física; mas a teoria também pode tornar-se
uma força física, bastando que entre na posse das massas”. Finalmente, em oposição a
Ruge, que acredita na iminência de uma revolução burguesa na Alemanha, Marx conclui:
“Se a Alemanha só pode tomar o rumo de uma libertação humana radical, é precisamente
porque o caminho de uma revolução burguesa lhe está vedado pelo seu próprio atraso
político. A Alemanha que gosta de ir ao fundo das coisas, não pode fazer uma revolução
sem tudo revirar às avessas. A emancipação do alemão é a emancipação do homem
Quando estiverem reunidas todas as condições intemas, o dia da ressurreição alemã será
anunciada pelo canto do galo gaulês”.
Ele refina, em outro texto sobre a “questão judaica, sua resposta a Bruno Bauer sobre a
compatibilidade entre a “emancipação humana”. Para ele, esta pressupõe fim à alienação
religiosa, passando por uma liberdade de trabalho. A emancipação completa dos judeus
não implica, portanto, sua conversão, tal como imposta a seu pai e a ele mesmo, mas o
desaparecimento de todas as religiões, das quais o judaísmo é apenas uma expressão
entre outras: “A emancipação política do judeu, do cristão, do homem religioso, numa
palavra, é a emancipação do Estado em relação ao judaísmo, ao cristianismo, à religião em
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geral...” Acabar com o judaísmo é também acabar com o dinheiro. E aqui chegamos ao
essencial- a ligação entre o judaísmo e o dinheiro: “O dinheiro é o deus ciumento de Israel,
ante o qual não pode subsistir nenhum outro deus”. Sua própria história ensinou-lhe a
identificar os judeus à figura do comerciante. Marx escreve: “Qual é o fundamento profano
do judaísmo A necessidade prática, a utilidade pessoal? Qual é o culto profano do judeu?
O comércio. Qual é o seu deus profano? O dinheiro. A nacionalidade quimérica do judeu é
a nacionalidade do comerciante, do homem de dinheiro”. Acabando com o judaísmo, será
possível acabar com o dinheiro, que “rebaixa todos os deuses do homem, transformando-
os em mercadoria. O dinheiro é o valor geral e constituído em si de todas as coisas”. Na
sociedade burguesa, o “único vínculo que une é a necessidade natural, a necessidade e o
interesse privado, a conservação da propriedade privada e das pessoas egoístas”. Acabar
com o judaísmo permitirá fazer com que desmoronem ao mesmo tempo o cristianismo e o
capitalismo, dos quais o judaísmo constitui o fundamento. “Como a identidade judaica é
fundadora, livrando-se dela decorre, e do capitalismo ao qual passado o bastão. O judaísmo
só atinge o seu apogeu com perfeição da sociedade burguesa, mas a sociedade burguesa
só atinge a sua perfeição no mundo cristão”. Para emancipar os crentes, mas também os
nacionalistas, é preciso acabar com todas as religiões, mas também com todas as nações,
com o capitalismo por ela fundado, com os direitos do homem que “só dizem respeito ao
homem egoísta, ao homem como membro da sociedade burguesa, ou seja, um indivíduo
separado da comunidade, preocupado exclusivamente com seu interesse pessoal e
obedecendo o seu arbítrio privado”. Assim, será “somente quando o homem reconhecer e
organizar suas forças próprias como forças sociais que será consumada a emancipação
humana”. Para Marx, assim, judaísmo, religião, individualismo e dinheiro são indissociáveis.
Para libertar-se do dinheiro, é necessário libertar-se de todas as religiões, e particularmente
do judaísmo, que as funda. Libertando-se o judeu de toda a identidade religiosa, serão
suprimidas as bases de toda religiosidade, assim como as do capitalismo, de que ele é a
matriz. Será aberto o caminho para a emancipação de todos os homens e para a
transformação dos Estados “teológicos” em sociedades civis nas quais o homem será um
“ser profano”.
Só ao chegar a Paris ele (Marx) fica sabendo que Feuerbach recusa o convite para se
envolver com seus admiradores no debate político, indigno de sua posição. Está portanto
vago o lugar de “filósofo engajado” em política, que será ocupado por Karl. Primeiro, como
filósofo, depois como economista e em seguida como pensador global (69). Karl faz
amizade com o poeta Henrich Heine, 21 anos mais velho, primo distante pelo ramo matemo
de sua família, o que ambos ignoravam até então.
Embora continue considerando Feuerbach “o único pensador que promoveu uma
verdadeira revolução teórica”, é a Hengel que ele retorna. Relê certos trechos esquecidos
do mestre de sua juventude e aprofunda duas palavas-chaves da sua filosofia, até então
deixadas à margem: “alienação” e “inversão”. Retoma a idéia de que a “alienação” é um
processo pelo qual o espírito desliga-se de si mesmo para tentar reencontrar-se e voltar
para si mesmo, agindo contra si para tomar consciência de si. Por outro lado, como Hegel,
ele considera que a filosofia define-se como a “inversão” do senso comum, estabelecendo
assim a proximidade entre a razão e seu contrário, a loucura. A verdadeira unidade é,
portanto, inseparável de um processo de esfacelamento: a loucura é a condição da verdade
do ser. É esta a vivência do próprio Karl nessa época. E, tal como fizera Hegel enquanto
trabalhava em “A fenomenologia do espírito”, Karl mergulha na leitura de “O Sobrinho de
Rameau”, de Diderot, na tradução de Goeth; identifica-se com esta criatura original,
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excêntrica, na marginalidade social e intelect0,ual do Iluminismo francês, pondo em questão
a moral comum e os valores do senso comum. Bem mais tarde, Marx mandaria a Engels um
exemplar do “sobrinho” sublinhando vários trechos.
Neste trabalho, Marx pretende situar-se em relação à filosofia de Hegel, e particularmente
refletir sobre a alienação. Com isto, afirma, pretende “superar o subjetivismo e o
objetivismo, o espiritualismo e o materialismo”. Simplesmente! Para ele, a alienação não é
um conceito abstrato, como acontece em Hegel, mas uma produção da sociedade: o
homem é alienado pelo trabalho, e para nada mais. Ao mesmo tempo, sem querer, ele fala
de si mesmo nesse texto: ele que já agora recusa qualquer emprego assalariado concentra
sua análise na alienação pelo trabalho; ele que já vivenciou com tanta dificuldade a
condição de assalariado, como redator-chefe de duas revistas submetidas aos caprichos
de seus comanditários, vai transformar sua própria relação com o dinheiro na base de uma
teoria universal; ele que tem a maior dificuldade para entregar um manuscrito a um editor
enxerga precisamente o fundamento da alienação na separação do homem e sua obra; ele
que só tem como ofício escrever considera que uma sociedade ideal seria aquela em que
cada um pudesse entregar-se gratuitamente a todos os ofícios que se sentisse capaz de
exercer. Marx começa fazendo uma crítica fundamental aos economistas que acaba de ler:
todos, acredita, consideram a propriedade privada como um dado da condição humana, e
nenhuma deles explica historicamente seu surgimento. Acontece que, para ele, tudo é
trabalho e tudo é produto do trabalho, a começar pelo próprio homem: “o trabalho é o ato
de geração do homem por si mesmo”, e é no “trabalho que o homem se realiza”. Todo
objeto nada mais é que trabalho (ou quase): “o valor das coisas lhes é conferido na quase
totalidade pelo trabalho”. O capital não passa de trabalho realizado”, de “trabalho
acumulado”, de “trabalho morto como um vampiro”, só ganha vida sugando o trabalho vivo”,
escreve ele, referindo-se implicitamente ao vampiro de polidori, que acabou de ler. E a
própria história, assim como as diversas formas de sociedade e religião e os regimes de
propriedade, não passa de produto do trabalho. Marx faz em seguida o elogio de feuerbach,
“com o qual tem início um discurso crítico positivo, humanista e naturalista”. Segundo ele,
a teoria econômica não tem qualquer utilidade para entender o desenvolvimento humano
sob o ângulo filosófico. É para fazer frente a esta lacuna que ele desenvolve então uma
análise do “trabalho alienado”. Quanto mais o trabalhador produz de riqueza, quanto mais
aumenta sua produção em potência e volume, mais ele se torna pobre. Segundo ele,
contudo, não é a propriedade privada que está na origem do trabalho alienado: pelo
contrário, ela é sua consequência. A seus olhos, a alienação está intimamente ligada ao
próprio trabalho. Ao contrário de hegel, que a define como exterioridade do homem em
relação a si mesmo, e de feuerbach, que a identifica às religiões, marx situa a alienação na
relação do homem com a realidade através do trabalho, do qual decorrem as organizações
sociais e as religiões.
Distinguem-se então três níveis de alienação, todos vinculados por ele ao trabalho.
A objetivação: o fato de que o homem produz por seu trabalho uma realidade exterior a ele
próprio, sob a forma de objetos que em seguida adquirem vida própria. Seu trabalho torna-
se uma entidade separada, exterior dele, estranha a ele, que existe fora dele,
independentemente dele, estranha a ele, tornando-se uma potência autônoma em relação
a ele; a vida que ele atribui ao objeto opõe-se a ele, hostil e estranha”. O trabalho é um
castigo, um sofrimento que “arruína seu espírito e mortifica seu corpo”, “sua atividade é
vista por ele como um transtorno, sua vida é o sacrifício de sua vida”. Marx já adianta,
assim, a idéia de que todo o trabalho é sofrimento, pois todo o trabalho cria algo que está
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fadado a separar-se de seu autor. Certamente podemos identificar aqui uma pungente
observação autobiográfica, uma explicação da dificuldade que ele sentia ao longo de toda
a vida de separar-se de qualquer texto e dá-lo por concluído. Como para deixar bem claro
que, no seu sentimento, escrever a palavra “fim” embaixo de um manuscrito representa um
dilaceramento, ele descreve essa dolorosa separação, nos primeiros passos de seu
trabalho, através de uma reflexão sobre a natureza de qualquer trabalho e a relação íntima
entre um indivíduo e qualquer obra. O desapossamento: o fato de que, na sociedade
capitalista, o assalariado é desapossado pelo capitalista do fruto de seu trabalho. “o
operário dedica a vida a produzir “objetos” que não possui nem controla”, “ele não pertence
a si mesmo, mas a um outro”. Também aqui, temos uma evocação do que foi vivenciado
por ele mesmo em sua relação com os editores de que foi assalariado- como redator-chefe
da revista em colônia- e que o levaram a produzir um objeto- um jornal- “que ele não possuiu
bem controlou”
FINALMENTE A ESCRAVIDÃO.
A motivação aquele a troca não é a humanidade, mas egoísmo, escreve Marx. No lugar de
todos os sentidos físicos e intelectuais surgiu a simples alienação de todos esses sentidos,
o sentido de ter”. Mais uma vez, existe uma espécie de alusão a sua própria relação com o
dinheiro, que gosta de gastar, analisando muito bem como nos tornamos dependentes dele:
“A propriedade privada tornou-nos tão estúpidos e limitados que um objeto só é nosso
quando o possuímos, e portanto ele existe para nós como capital ou é imediatamente
possuído, comido, bebido, levado no corpo, habitado por nós, quando é utilizado por nós”.
Até mesmo o capitalista é induzido pela competição e a racionalização do trabalho a cultivar
um ideal absurdo, feito de privação: “Seu verdadeiro ideal é o avaro ascético mas usurário,
e o escravo ascético mas produtor. Quanto menos você come, bebe, compra livros, quanto
menos vai ao teatro, ao baile, ao cabaré, quando menos pensa, ama, teoriza, canta, fala,
esgrime etc. mais estará poupando, mais aumentando seu tesouro”. Não poderíamos
enxergar também aí um reflexo de sua própria atração pelos gastos, e ao mesmo tempo
uma expressão de sua aversão àqueles que preconizam a poupança e a frugalidade? E
certamente seria o caso de ler esta frase como uma reminiscência do que tantas vezes
durante toda a sua infância da boca dos pais, que o recriminavam por falar demais, amar
demais, beber demais, dissertar demais, comprar livros demais, estar sempre disposto a
brigar. O assalariado tornou-se então uma mercadoria como outra qualquer, igualmente
produzido pelo trabalho, entrando assim no jogo geral da escravização. A situação e a vida
do assalariado são portanto determinadas pela mesma lei que rege o preço das coisas: “A
demanda de homens regula necessariamente a produção dos homens, como qualquer
outra mercadoria.
Se a oferta é maior que a demanda, uma parte dos operários cai na mendicância ou na
morte por inação. A existência do operário vê-se então reduzida à condição de existência
de qualquer outra mercadoria”. O alimento do operário é o equivalente da manutenção da
máquina, pois “o salário tem absolutamente o mesmo significado que o óleo aplicado ao
mecanismo para mantê-los em movimento”. O capitalista é todo-poderoso, pois pode
decidir adiar a negociação de seu capital, ao passo que o operário é obrigado a vender sua
força de trabalho para sobreviver. “O capitalista pode viver mais tempo sem o operário do
que o operário sem o capitalista.” Nessa descrição radicalmente nova da relação do homem
com o trabalho e com o mercado, derivada de uma confissão reflexão pessoal sobre sua
própria relação com o dinheiro, Marx passa do conceito filosófico de alienação ao conceito
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econômico de exploração. Já está exposta uma parte importante da revolução que será
promovida mais tarde por sua teoria econômica. Resta elaborar as leis que permitirão medir
essa exploração e acompanhar sua evolução. O que passa pelo desenvolvimento do
conceito de “mais-valia”, que virá ao mundo 11 anos depois. Com sua teoria da alienação,
Marx acredita ter provado a superioridade da filosofia sobre a teoria dos economistas. Ao
mesmo tempo, ele faz da filosofia uma ciência social influenciada pelo meio filosófico: “A
atividade e o espírito, cada qual segundo seu próprio conteúdo e seu modo de existência,
são sociais: a atividade social e o Espírito social”.
Marx continua a refletir sobre a sociedade que poderia pôr fim a essa alienação, e define o
“comunismo” como um sistema social que permite a desalienação, a reapropriação das
coisas, a libertação do gozo e do trabalho por uma livre associação dos produtores. “O
comunismo é apropriação real da essência humana pelo homem”; resume-se na “abolição
da propriedade privada e na liberação total de todos os sentidos; ele é essa emancipação
precisamente porque esses sentidos tornaram-se humanos. Com isso, a necessidade ou o
gozo perderam sua natureza egoísta, e a natureza perdeu sua pura e simples utilidade,
pois a utilidade tornou-se a utilidade humana”. Segundo Marx, o trabalhador alienado
encontra seu prazer no trabalho, e ao mesmo tempo que produz o que é útil aos outros, e
cada um se torna plenamente humano: “É unicamente graças à riqueza objetivamente
exposta da essência humana que uma orelha se torna musical, que um olho percebe a
beleza da forma. O olho humano desfruta de forma muito diferente da orelha grosseira etc;
os sentidos do homem social são diferentes dos sentidos do homem não social”.
Individualidade e coletividade podem então confundir-se numa natureza humana
transcendida: “A essência ontológica da paixão humana atinge ao mesmo tempo sua
totalidade e sua humanidade”. É também o fim da solidão, e mesmo a vitória sobre a morte:”
A morte surge como uma dura vitória do gênero sobre o indivíduo determinado”, ao passo
que o “comunismo é a verdadeira solução do antagonismo entre o homem e a natureza”.
Esse comumismo messiânico será realizado através do jogo da História, não através da
política. Só poderá ser instaurado no fim da História, e não em seu lugar. “O comunismo é
o enigma resolvido da História. Todo o movimento da História é o ato de procriação desse
comunismo” (Pag.84-87).
Muito mais tarde, Friedrich descreveria da seguinte forma aquele encontro: “Quando visitei
Marx em Paris, no verão de 1884, revelou-se que estávamos em total acordo em todos os
terrenos da teoria, e é daí que data nossa colaboração. Marx não só chegava à mesma
opinião que eu, como também já havia generalizado nos “Anais Franco-Alemães”: no fim
das contas, não é o Estado que condiciona e rege a sociedade burguesa, mas a sociedade
burguesa que condiciona e rege o Estado; desse modo, é preciso explicar a política e sua
história partindo das condições econômicas de seu desenvolvimento, e não o contrário”.
Eles resumem tudo isso numa série de 11 teses de enunciado extremamente compacto,
das quais a mais conhecida e mais importante é a última: “Até o momento, os filósofos
limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é transformá-lo” o
que define a agenda de todo o seu trabalho.
Como a História obedece a uma lógica que constitui sua “força motriz”, o comunismo só
será possível quando a consciência dos trabalhadores, em circunstâncias históricas
determinadas, permitir-lhes tornar revolucionários. “Os proletários encontram-se em
oposição direta à forma que os indivíduos da sociedade até o momento escolheram como
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expressão de conjunto, vale dizer, em oposição ao Estado; e precisam derrubar o Estado
para realizar sua personalidade”.
A IDEOLOGIA ALEMÃ representa uma radical transformação do pensamento político e
social europeu. Por cinco motivos.
PRIMEIRO, pela primeira vez encontramos, nesse livro (“A Ideologia Alemã”) uma
formalização do conceito de ideologia e o enunciado das condições sociais e intelectuais
necessárias a uma revolução: os fatores econômicos são os fatores explicativos “em última
análise”, e toda a idéia deve ser explicada pelo contexto histórico em que foi formulada.
“Em toda ideologia, os homens e suas relações aparecem-nos de cabeça para baixo, como
numa “câmera oscura””. Marx e Engels ainda utilizam o conceito de alienação- para “que
nossa exposição seja inteligível para os filósofos”, explicam- fazendo dele a base de sua
análise das ideologias: a “superestrutura” da sociedade (a religião, a arte, as idéias) visa
justificar sua “infra-estrutura” (a economia, a realidade). Em outras palavras, a
superestrutura organiza a alienação determinada pela infra-estrutura. Karl e Friedrich
acrescentam quatro outras conclusões essenciais, que retornarão com freqüência na obra
de Marx, mas que seriam negligenciadas pela maioria de seus epígonos. Em primeiro lugar,
ainda que a ideologia dominante seja a da classe dirigente, dos senhores da economia, a
ação e o pensamento humanos nem por isso são prisioneiros dos fatores econômicos ou
sociais; os oprimidos podem rebelar-se, abrindo-se para uma “consciência de classe”.
Da mesma forma, pode haver obras de arte livres, sem relação com o jogo de forças
econômico, mesmo se “não existe história da política, do direito, da ciência etc., da arte, da
religião etc.”, que seja mais independente da história da produção. Além disso, o
capitalismo é um prólogo necessário do comunismo: “O capitalismo é uma condição prévia
do (comunismo) absolutamente indispensável, pois, sem ele, a penúria é que se tornaria
generalizada, e, com necessidade, recomeçaria também bem a luta pelo necessário, e
fatalmente voltaríamos a cair na velha lama”. Depois, o comunismo não é uma sociedade
ideal de contornos fixos em caráter definitivo, mas um “movimento” para a liberdade
individual, que deve ser constantemente conquistada e inventada: “para nós, o comunismo
não é um estado que deve ser criado, nem um ideal a partir do qual regular a realidade.
Chamamos de comunismo o movimento real que abole o estado atual. Na sociedade
comunista em que cada um não tem uma esfera de atividade exclusiva, podendo
aperfeiçoar-se no setor que lhe agradar, a sociedade regulamenta a produção geral, o que
me dá a possibilidade de fazer hoje uma coisa, amanhã uma outra, de caçar pela manhã,
pescar à tarde, praticar a criação mais adiante, fazer crítica depois da refeição, a meu
prazer, sem jamais me tornar caçador, pescador ou crítico”. Por isso é que, por exemplo,
“numa sociedade comunista, não haverá mais pintores, mas no máximo pessoas que, entre
outras coisas, pintarão. Através da revolução comunista e da abolição da propriedade
privada, que vem a ser a mesma coisas, cada indivíduo estará em condições de adquirir a
capacidade de desfrutar da produção do mundo inteiro em todos os setores. (Identificamos
aqui uma recomendação de Henrich Marx, exortando o filho a não cultivar somente suas
capacidades intelectuais, mas também suas aptidões físicas, morais, artísticas e políticas).
Finalmente, o comunismo só pode ser mundial. “Empiricamente, o comunismo só pode ser
realizado através da ação imediata e simultânea das populações majoritárias, o que
pressupõe o desenvolvimento universal das forças de produção e das relações
intemacionais a elas vinculadas. O proletariado só pode existir, assim, no seio da história
mundial; como o comunismo, suas atividades só podem ter uma existência “histórico-
43
mundial”. Em suma, para Marx e Engels, o capitalismo mundial é uma condição necessária
para o comunismo, e este só poderia instalar-se como sistema planetário; ele estará
constantemente mudando na direção de maior liberdade individual, e só poderá resultar de
uma revolta contra a ideologia dominante na fase de conclusão do capitalismo tornado
mundial. E no entanto, esse livro fundamental, que representa um alto sem precedente na
reflexão do homem sobre si mesmo, deixa de ser publicado, por falta de editor.
Marx expõe uma idéia que já desenvolveu, sem tela ainda tornado pública: a revolução
socialista virá muito depois da revolução burguesa. Se “o proletariado derrubar a dominação
política da burguesia, sua vitória constituirá apenas uma etapa no processo da própria
revolução burguesa, servindo a sua causa”.
Nesse texto, estamos longe da utilização que viria a ser feita de seu pensamento. Marx é
contra o Terror, que, a seus olhos, serviu apenas à burguesia; rejeita qualquer idéia de
revolução nos países onde capitalismo e democracia ainda não estejam suficientemente
desenvolvidos; considera que só no contexto da democracia parlamentar poderá nascer
consciência revolucionária da classe operária
Para ele (Marx), um bom programa comum teria de reforçar a proteção dos comerciante,
artesãos, camponeses e operários contra os industriais e os grandes proprietários
fundiários. Precisaria igualmente acelerar a industrialização do país, para permitir a
ampliação dos setores assalariados, acampando-os com o aperfeiçoamento da proteção
social. E ainda que “ a proibição geral do trabalho infantil seja incompatível com a existência
da grande industria, sendo portanto uma pretensão vazia”, será necessário proporcionar
educação gratuita aos filhos do povo, pois “ a combinação precoce do trabalho produtivo
com a instrução é um dos mais poderosos meios de transformação da sociedade atual”.
Além disso, acrescenta, os comunistas não poderiam aceitar um programa que não leva à
eliminação do Estado. Se ele próprio combateu tanto os anarquistas, não é porque
pretendem acabar com o Estado, mas justamente porque não tratam de fazer por onde e
só falam a respeito e de seu programa ao tratar da questão da conquista do poder.
Finalmente, um programa dessa natureza deve inscrever-se, em sua opinião, em uma ação
em três fase- o que é retomado de sua terceira “Mensagem”, escrita logo depois da
Comuna. Ele suprime a fase inicial mencionada nessa “Mensagem”, logo depois da
Comuna. Ele suprime a fase inicial mencionada nessa “Mensagem”, a da retomada do
poder através de uma revolução, já que a Alemanha, agora, a esquerda tem a esperança
de chegar democraticamente ao govemo.
Primeira fase de seu programa, tendo chegado ao poder democraticamente através das
umas, o Partido Socialista terá de respeitar o “direito igual para todos”, que se baseia na
igualdade dos indivíduos. (“A cada um segundo seu trabalho”). Para que esta fase não leve
a um aburguesamento- que seria suscitado, na sua avaliação, pela aplicação do programa
comum definido em Gotha-, deve rapidamente dar lugar a uma segunda fase destinada a
dotar o proletariado dos meios de não perder as eleições seguintes. Esta segunda fase, a
“ditadura do proletariado”, deve ampliar muito a aliança majoritária. Para isso, será
necessário organizar - permanecendo no contexto da democracia parlamentar - a completa
transformação das próprias relações de produção, especialmente o fim “da escravizante
subordinação dos indivíduos à divisão do trabalho e, com ela, da oposição entre o trabalho
intelectual e trabalho manual”. Para obter sucesso, o Estado deve atuar de forma enérgica,
sem pôr a causa da liberdade individual, a liberdade de imprensa, a separação dos poderes
nem a escolha dos dirigentes através de eleições livres e multipartidárias. Durante esse
44
período, a maioria parlamentar tem o poder legítimo de questionar a legislação existente
para passar “de cada um segundo suas capacidades a cada um segundo suas
necessidades”. Ele escreve: “na passagem de um sistema capitalista para um sistema
comunista, transcorre um período de transformação revolucionária de um sistema em outro
que corresponde a um período de transição política durante o qual o Estado pode apenas
reinar como ditador revolucionário sobre o proletariado”. Essa ditadura deve instituir um
Estado descentralizado, transparente, agindo à luz do dia, sem censura da imprensa nem
burocracia, sem partido único, sem designação hierárquica, sem exército permanente, com
juízes eleitos, sem “órgãos permanentes repressivos”. Esse Estado está portanto em vias
de extinção, mas será capaz de se defender contra seus inimigos. Ponto dos mais
importantes para Marx, a ditadura do proletariado não deve questionar as liberdades
individuais, e sim organizar o fim dos “órgãos repressivos de Estado”. (101)
Estamos logo do sentido que seria conferido a este conceito por Lenin! Na terceira fase do
programa, uma vez eliminado o Estado repressivo, instala-se a sociedade comunista sem
classe e sem divisão do trabalho; nela, os cidadãos têm liberdade para trabalha, como
quiserem, desenvolvendo suas capacidades e respeitando as dos outros; dispõem dos
bens de consumo na medida de suas necessidades, sem estarem submetidos a uma
ideologia nem a uma moral religiosa.
As empresas são de propriedade coletiva, mas não estão necessariamente nas mãos do
Estado. Marx não especifica as condições da transição de uma fase a outra de seu
programa, nem o que pode acontecer se a maioria dos eleitores recusar essa transição,
exigindo a volta à ordem anterior; tampouco esclarece a natureza do estado sob a ditadura
do proletariado, nem o que resta dele na sociedade comunista, como tampouco a maneira
como deve ser gerida a propriedade coletiva das empresas na sociedade ideal. Ele escreve:
“Por que transformação passará o Estado numa sociedade comunista? Em outras palavras,
que funções sociais serão mantidas nele de maneira análoga às funções atuais do Estado?
Só a ciência pode responder”. E acrescenta que os comunistas, por enquanto, não
precisam “se preocupar com o Estado futuro na sociedade comunista”. Esta constitui um
objetivo demasiado distante para preocupar a atual geração. Ele conclui com uma
expressão latina, dessas que tanto gosta de empregar. Dessa vez, são cinco palavras em
torno das quais seriam desenvolvidas milhares de páginas: dixit et salvavi animam meam
(“Eu disse, e salvei minha alma”).
Numa importante carta escrita nesse momento à revolucionária russa Vera Zassulitch, carta
extremamente refletida, da qual foram conservados três rascunhos sucessivos, Marx bota
no papel o que vem ruminando há algum tempo: na Rússia, e somente na Rússia, talvez
não seja necessário o desvio pelo capitalismo, embora sempre tenha sustentado o
contrário. “A Rússia é o único país da Europa em que a propriedade comunal foi preservada
em ampla escala, em caráter nacional. Mas, simultaneamente, a Rússia existe num meio
histórico modemo; ela é contemporânea de uma cultura superior; está ligada a uma
mercado mundial em que predomina a produção capitalista. Em conseqüência, não se pode
transformar meu esboço histórico-filosófica da marcha geral, fatalmente imposta a todos os
povos, quaisquer que sejam as circunstâncias históricas em que se encontrem, para chegar
em última instância a essa formação econômica que assegura, com o maior
desenvolvimento dos poderes produtivos do trabalho social, o desenvolvimento integral do
homem”. É esta carta- e somente ela- que haveria de aferrar-se os que pretenderam
instaurar o comunismo “em um só país” no lugar do capitalismo, e não depois dele. Veremos
45
que, dois anos depois, Marx faria um esclarecimento que põe por terra essa interpretação;
“a revolução só poderá ter êxito na Rússia”, diria ele, se se tornar imediatamente mundial.
Ao morrer, Marx deixa uma obra considerável, ao mesmo tempo clara e cheia de
ambigüidades. Sua visão de mundo baseia-se inicialmente na denúncia do trabalho, de sua
abstração, do desligamento de si mesmo e dos outros por ele acarretado. É o trabalho que
produz a História engendrando a luta de classes, que por sua vez dá à luz o capitalismo;
por sua própria natureza, este é levado a desenvolver-se mundialmente, a explorar cada
vez mais o trabalho dos homens, a transformar uma parte cada vez maior dos serviços em
produtor industriais, a esgotar-se na busca de um lucro sempre mais difícil de conseguir, a
exigir uma mais-valia cada vez mais alta para compensar a elevação do custo dos
investimentos tornados necessários pela concorrência. Para Marx, o capitalismo é
civilizador (“as idéias de liberdade de consciência e de liberdade religiosa limitaram-se a
proclamar o reino da livre concorrência no terreno do conheci mento”). A seus olhos, a
burguesia tem inclusive um papel revolucionário transformando o potencial da humanidade,
rompendo o isolamento das nações, favorecendo “a migração rural para as cidades, o que
constitui um formidável progresso, pois, com isso, ela preservou uma grande parte da
população da estupidez da vida no campo”. O capitalismo é uma introdução necessária ao
comunismo, “absolutamente indispensável, pois, sem ele, a penúria é que se torna
generalizada, e, com a necessidade, recomeçaria também a luta pelo necessário, e
fatalmente voltaríamos a cair na velha lama”. O proletariado só poderá obter a autêntica
vitória sobre a burguesia quando criarão a necessidade de pôr fim aos métodos burgueses
de produção e, em consequencia, à dominação política burguesa”. É necessário, portanto,
acelerar a generalização do capitalismo, favorecer a mundialização e o livre comércio: “A
situação mais favorável para o trabalhador é a do crescimento do capital, temos de admiti-
lo. De maneira geral, o sistema protecionista de hoje é conservador, ao passo que a livre
troca é destruidora. Ela aniquila as velhas nações e leva aos extremo o antagonismo entre
o proletariado e a burguesia. Numa palavra, o comércio livre acelera a revolução, e é numa
direção revolucionária, senhores, que voto em favor do livre comércio” (Marx).
O capitalismo cava o próprio túmulo alienando e explorando os trabalhadores. Aliena-os
por mantê-los exteriores ao objeto que produzem, pelo fascínio exercido sobre eles pelo
dinheiro; cria, assim, um mundo “desencantado” no qual cada um é alienado pela própria
existência das mercadorias que consome e produz. Ele explora os produtores
transformando suas forças de trabalho em uma mercadoria cujo preço (o salário,
correspondendo ao custo da manutenção e da renovação da força de trabalho) é inferior
ao valor que pode criar- e que só a força de trabalho pode criar, pois as máquinas não
acrescentam ao objeto que fabricam mais valor do que elas próprias contêm. A diferença
entre o valor criado pelo trabalho e o que é gasto pra produzi-lo- a mais valia- pertence ao
capital, que procura aumentá-la reduzindo a remuneração dos assalariados, formando um
“exército de reserva industrial” constituído de desempregados dos países industrializados
e do mercado colonial e aumentando a produtividade do trabalho: “Qualquer que seja o
índice dos salários, alto ou baixo, a condição do trabalhador tem de piorar à medida que o
capital é acumulado”. É a pauperização da classe operária. Sob sua pressão, as classes
médias desaparecem. As próprias empresas tendem a se refazer, em virtude da
concorrência desenfreada: “O monopólio do capital torna-se um entrava para o modo de
produção que cresceu e prosperou com ele.
“A socialização do trabalho e a centralização de seus dispositivos materiais chegam a um
ponto em que já não cabem em seu invólucro capitalista. Esse invólucro quebra-se em
46
pedaços. Os expropriadores são por sua vez expropriados”. Aumenta sempre mais o
número de capitalistas que se tornam proletários. Embora cada empresa tente preservar
individualmente o lucro auferido, o índice de lucro global não pode deixar de diminuir, em
virtude do crescimento dos investimentos, o que necessariamente acarreta crises, e logo
uma revolução, a única maneira de transformar a natureza da sociedade e levar ao
surgimento daquela na qual haverão de desaparecer ao mesmo tempo a alienação e a
exploração: a sociedade comunista.
A democracia parlamentar permitirá o nascimento e o desenvolvimento da consciência
política do proletariado, necessária para o advento da revolução e para a passagem ao
comunismo. Qualquer revolução brutal, como o Terror na Revolução Francesa, serve
apenas à burguesia. “Na Inglaterra, por exemplo, o caminho que leva ao poder político está
aberto para a classe operária. Uma insurreição seria loucura nas situações em que a
agitação pacífica é capaz de concretizar tudo, com rapidez e segurança, uma vez tomado
o poder pela via democrática, será necessário ainda que a maioria o conserve, através da
“ditadura do proletariado”; ela se resume na utilização dos meios da democracia a serviço
da maioria, para “derrubar o aparelho repressivo” ao mesmo tempo preservando as
liberdades individuais, a separação dos poderes e a liberdade de imprensa.
Nos países em que não existem democracias nem capitalismo, particularmente a Rússia,
nenhuma revolução comunista poderia ter êxito se não for simultaneamente desencadeada
uma revolução mundial: “Se a Revolução russa der o sinal para uma revolução proletária
no Ocidente, e as duas se completarem, a atual propriedade coletiva da Rússia poderá
servir como ponto de partida para uma evolução comunista”. Para que ocorra essa
conscientização das classes operárias, é necessário que partidos nos quais estejam
representadas se organizem concorram nas eleições e saiam vitoriosos; eles podem
conseguí-lo, ainda que a ideologia dominante seja a dos senhores da economia, pois a
ação e o pensamento humanos não são prisioneiros das estruturas econômicas.
Assim como pode haver obras de arte livre, sem ligação com as relações das forças
econômicas, é possível existir um livre pensamento político. Os oprimidos podem rebelar-
se, abrindo-se a uma “consciência de classe”. São os indivíduos que fazem a História, e
não as massas. Uma vez tendo desaparecido o Estado, será instalado o comunismo. Nele,
cada um terá liberdade para utilizar o tempo a seu bel-prazer, os bens estarão disponíveis
em abundância, gratuitamente, pertencendo à coletividade os meios de produção. O
comunismo não será portanto uma sociedade congelada para sempre, mas um
“movimento” incessante para a liberdade individual que deverá ser constantemente
conquistada, inventada, de tal maneira que cada um realize todas as suas aspirações: por
exemplo, “numa sociedade comunista, não haverá mais pintores, mas no máximo pessoas
que, outras coisas pintarão”. Nela, a liberdade e a igualdade tornar-se-ão compatíveis,
graças à igualdade real e não mais teórica dos direitos e liberdade individuais. O
comunismo só pode ter dimensões mundiais; nenhuma revolução poderia ter êxito
duradouro num único país, pois “o proletariado só pode existir assim no seio da História
mundial; como o comunismo, suas atividades só podem ter existência histórico-mundial.
(347-350). Na Rússia, o jovem Lenin sonha com o advento, em seu país, de um Estado de
tipo prussiano e de um Partido Socialista alemão. Vladimir Ulianov, que passou a viver á
beira do lago Lena (donde seu apelido de “Lenin”), critica Plekhanov, o marxista exilado na
Suíça, por “subestimar o caráter revolucionário do campesinado, superestimar o papel da
47
burguesia liberal e não ter ligação com o movimento operário” (Pag.369). Em 30 de julho
de 1903, durante o primeiro congresso do novo partido marxista russo, o PSDOR, em
Bruxelas, Martov e Trotski, explicam que a revolução proletária continua sendo impossível
na Rússia (Pag.375). Para Rosa Luxemburdo, a Europa tem de escolher entre “socialismo
ou barbárie”. Estranha ironia: os pacifistas são expulsos da II Intemacional, que no entanto
já é integrada apenas por partidos em guerra uns com os outros. Passam então a ser
chamados “comunistas”, por oposição a seus antigos camaradas “socialistas, que
continuam, se dizendo seguidores de Marx. A Intemacional Socialista perde sua razão de
ser. Os comunistas fundam um grupo à parte, “die Intemationale.”
Surge então a terceira mentira deturpadora da herança de Marx: depois de Engels e
Kautsky, eis que também Lenin, recuperando o trabalho dos alemães, começa a falsear
essa herança. Depois da invenção do partido guia “Que fazer”? ele escreve em seu exílio
na Suíça, de julho a novembro de 1914, por encomenda do “Dicionário enclopédico da
sociedade dos irmãos Granat”, 45 páginas sobre Karl Marx, ou antes, sobre o “Marxismo”.
Nesse texto, tudo é falsificado, ou no mínimo caricatura, empurrando o autor do “Capital”
no sentido da revolução que ele próprio está preparando. Ele começa a defender a idéia do
socialismo em um só país. Da Finlandia, Lenin escreve a 28 de setembro ao Comitê Central
de seu partido, que ficou em Petrogrado, para exigir que a insurreição seja preparada
secretamente. Para ele, contudo, ditadura do proletariado quer dizer uma ditadura
duradoura. Redige então uma carta a seu comitê central, texto fundado da Revolução de
Outubro, no qual tenta estabelecer uma análise tática precisa da ação a ser empreendida
com base numa interpretação falseada de Marx, atribuindo-lhe uma apologia da revolução
a qualquer preço (“a revolução como arte”) que não consta de qualquer de seus textos (de
Marx)
No dia 14 de março, de 1884, KAR MARX falece em sua poltrona, às quinze para três da
tarde; o maior pensador vivo deixou de pensar. Marx é enterrado ao lado da mulher Jenny
Westphalen, no cemitério de Highgate, de Londres (-343).
A Intemacional ou Associação Intemacional dos Trabalhadores: fundada em Londres em
1864, dentre outros pelo marxista Oder, e desaparecida em 1876, pela divergência entre
marxistas e anarquistas.
A IIª Intemacional, fundada em Paris, em 1.889, adotando o dia 1º de Maio como data da
festa socialista intemacional.
A IIIª Intemacional, ou Intemacional Comunista, ou Comintem, fundada em Moscou, em
1919, suprimida por Stalin em 1943.
Hino “A Intemacional”, canto revolucionário sobre um poema de Eugène Pottier e música
de P. Degeyter, feito em 1871.
JACQAUES ATTALI, neste livro faz algumas críticas à obra de KARL MARX.
Assim, Marx faz do “socialismo” uma nova parúsia planetária em que se reconciliam o
homem e sua obra, na qual o homem alcança a etemidade através de sua classe, que,
tomando o poder, se realiza no mesmo momento em que se nega. Todo o futuro está
contido nesse terrível equívoco. Pois a doutrina de Marx contém um suficiente grau de
ambiguidade para permitir muitas interpretações. Como qualquer um antes e depois dele,
Marx se engana em matéria de datas e prazos. A cada nova crise, vê-se obrigado a
intercalar uma fase suplementar entre a expansão inesperada e o inevitável apocalipse.
48
Tampouco esclarece como medir a mais-valia e a taxa de lucro. Não diz como nem quanto
tempo o capitalismo será capaz de adiar sua crise final. Não explica se, nem como, a
ditadura do proletariado pode ser revertida, vale dizer, o que acontece quando uma maioria
popular- com uma certa ubiguidade na palavra popular- deseja interromper o curso de uma
revolução. Tampouco diz alguma coisa sobre a natureza da sociedade comunista, nem a
maneira como as empresas serão coletivamente apropriadas, nem o papel a ser
desempenhado pelo Estado residual, subordinando a resposta a essas questões ao estudo
de cada caso particular. Finalmente, a última ambigüidade, Marx glorifica o trabalhador ao
mesmo tempo que considera que, por sua própria natureza, e qualquer que seja o seu
proprietário, o trabalho constitui em si uma insuportável alienação.
Por outro lado, seu comportamento pessoal, extremamente libertário de maneira geral, está
às vezes a anos-luz do seu próprio ideal. Jornalista antes de mais nada, ele considera a
liberdade de pensamento- e portanto a democracia parlamentar, donde desabrocha- o mais
sagrado dos direitos. Ao longo de toda a vida, opta por privilegiar a liberdade, confrontar
suas idéias com os fatos, recusar que sua doutrina se congele, que o transformem num
ideólogo. Tem consciência de seus próprios erros; mas, apostando como aposta na
bondade do Homem e desejando entregar-lhe as chaves de uma sociedade livre, sabe
também mostrar-se desdenhoso e de uma “arrogacia ofensiva, insuportável”. Assim,
invectiva (como em Miséria da Filosofia), exclui (como na Circular contra Krieger), lança
anátemas (como em Sagrada Família). Insulta os companheiros, como August Von Willich;
abre mão de amizades por causa de conflitos ideológicos (com Otto Bauer, Moses Hess ou
Arnold Ruge); chega a promover investigações policiais sobre inimigos (como Bakunin ou
lorde Palmerson). Permite que os filhos morram na miséria sem fazer de tudo para ganhar
melhor a vida. Marx insere deliberadamente sua teoria na luta, concebendo e construindo
sua vida como um permanente ir-e-vir entre a ação, pela qual se apaixona, e a escrita, que
o deixa impaciente, fazendo da economia política um instrumento de revolta dos
desapossados, oprimidos, ofendidos; ele é um materialista que acredita nas forças do
espírito, um filósofo para o qual a economia é subjacente à História, e a cujos olhos a ação
é mais importante que a teoria; é um pessimista que tem confiança no homem.
Em pouco tempo, outros haveriam de caricaturar sua teoria para pô-la em prática, tentando
imitar seu comportamento. Estes outros seriam: Engel, que inventaria o conceito de partido
de vanguarda; Kaustky, que caricaturaria a teoria econômica de Marx; Lenin que importaria
o marxismo para Rússia como estratégia de ocidentalização de um país atrasado; Stalin,
que transformaria a ditadura do proletariado numa ditadura exercida sobre o proletariado
depois da liquidação das outras classes. A ação deles desenvolveu-se em quatro cenas: a
Grã Bretanha, que só preservaria de Marx a prática socialdemocrata, sem vocabulário; a
França, que só conservaria dele o vocabulário, sem prática política; a Alemanha optaria por
um totalitarismo nacional contra o intemacionalismo comunista; a Rússia substituiria um
totalitarismo nacional por outro, invocando as palavras de ordem do intemacionalismo.
Ambas as herdeiras de Bismarck e de Hegel (ou seja, da ditadura prussiana), bem mais
que de Marx (ou seja, da Renânia e da Revolução Francesa). Para construir o instrumento
de tomada do poder de Estado de que Marx desconfiava desde a juventude, esses
epígonos teriam de reescrever cuidadosamente sua biografia e em seguida expurgar sua
obra, para fazê-la corresponder à caricatura de que precisavam; e teriam, finalmente, de
tentar elevar seus próprios escritos no nível dos dele, para arrogar-se o direito de falar em
seu nome. (Pag.417)
49
Belo-Horizonte- 15 de março de 2012.
ORESTES CAMPOS GONÇALVES.
SOCIALISMO E COMUNISMO. I
“Por que é tão difícil para o homem ser feliz, parece que não há maior perspectiva de
aprender algo novo” “já demos a resposta pela indicação das três fontes de que nosso
sofrimento provém: o poder superior da natureza, a fragilidade de nossos próprios corpos
e a inadequação das regras que procuram ajustas os relacionamentos mútuos dos seres
humanos na família, no Estado, na sociedade “(FREUD-Livro 8- O Mal-Estar na Civilização-
Imago- direção Jayme Salomão- 1974- pag.43).
O sábio mestre Sigmund Freud se mostra cético quanto a aquisição da felicidade pelo
comportamento humano.
O Mestre Jesus Cristo pretendeu que o homem desfizesse de seus bens para entrar no
Reino dos Céus, que seria a felicidade (Mateus- Biblia Sagrada CNBB- pag.1285).
Karl Marx-Engels pretenderam direcionar a questão, aludindo e constituindo o socialismo-
comunismo.
II
A humanidade, desde o início de sua existência como civilização, tem se comportado de
modo agressivo, selvagem, conforme informações da História da Bíblia Sagrada (Bíblia
Sagrada- CNBB- Loyola- 2021, pag 21; Torá- A Lei de Moisés- Rio – 1962- Bereshit- pag.
14), agressividade conhecida pelo caso Caim-Abel, (obs. Citadas- pags. 4 e 10), porque
Deus de voltou para a dádiva de Abel (ovelhas e suas gorduras), deprezando a dádiva de
Caim (lavrador de terras): no caso ocorreu uma vingança, decorrente pelo ciúme, em torno
de propriedade de bens terrenos,
No plano científico, o cientista inglês, Charles Darwin (1.809-1.882), em seu livro “A Origem
das Espécies” (tradução de Eduardo Fonseca-Livraria Hemus), demonstrou a luta pela vida
entre todos os seres da Terra.
Ainda no século passado (XX), no Brasil, os sertanistas Orlando Villas Boas e Claudio Villas
Boas, no livro “A Marcha para o Oeste” (Editora Globo-6ª.Edição), relataram o encontro
com os chamados “selvagens brasileiros”, em guerras antropofágicas constantes, embora
vivendo as referidas tribos indígenas em regime de comunhão pacífica de terras e bens,
podendo-se dizer em regime “socialista ou comunista”.
Pensemos que, nesses regimes chamados “selvagens”, teria havido agressividade
antropofágica combinada com a vivência comunitária- socialista ou comunista.
Podemos pensar, ainda, que esse regime “selvagem”, comunitário, socialista comunista,
fora um sistema primitivo de convivência em ter os povos.
Desde o princípio do Mundo, fosse ele determinado pela vontade de Deus, fosse pelo
princípio da evolução, procurou-se diminuir ou até suprimir essa agressividade, que atingiu
não só países em guerra, como até pela apropriação de parcela de povos pela apropriação
50
dos meios de produção, que seguiu e aumentou com o recrudescimento do regime
capitalista a partir do século XVII.
As Religiões tentaram resolver esse problema, a ciência, representada peça psicologia,
pela psiquiatria, pela medicina, pela farmacologia e outras medidas de capacitação
humana, mas nada tem contribuído e permanece atuante no seu sistema evolutivo de tese,
antítese e síntese, renovaveis.
Surgiram, no século XIX, as figuras dos cientistas KAR MARX e FRIEDRICK ENGERLS,
propondo estudos para a solução de tais problemas humanos.
Ambos se declararam materialistas, ou já, acreditando que a pessoa humana só possui o
corpo material, sem o espírito ou alma, muito embora, cumprissem eles, os ensinamentos
de JESUS CRISTO, quando ensinou no seu Sermão da Montanha, dentre outros preceitos
o de que “felizes o que têm fome e sede de justiça porque serão saciados”, sendo que a
dupla mencionada (MARX e ENGELS), exatamente, esse saciamento. Além disto, esses
dois escritores, como JESUS CRISTO, detestava os ricos, conforme foi dito por Jesus, “Em
verdade vos digo, dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus” (Biblia-ob, cit. pag.1303).
O conteúdo materialista de MARX E ENGELS nos parece meramente formal para
apresentação de seus temas, de natureza evidentemente com atenção à nossa vida na
Terra, sem atenção ao espírito ou alma.
Vale lembrar o histórico sobre socialismo-comunismo, escrito pelo inglês Tristam Hun, em
seu livro “Comunista de Casaca” (tradução de Dinah Azevedo-Record- 2010); “O historiador
Eric Hobsbawn escreveu sobre o quanto Marx e Engels demoraram ao chegar ao
comunismo; e também demoraram muito a chegar ao socialismo. Na década de 1830 e
início dos anos de 1840, mesmo que esses termos fossem muitas vezes usados como
sinônimo, socialismo e comunismo constituíam tradições filosóficas relativamente distintas,
cada qual com sua própria linguagem intelectual e políticas e tendo ambos florescido muito
tempo antes da chegada de nossos dois protagonistas prussianos. As origens do socialismo
são particularmente obscuras e, com algumas variantes, podem ser atribuídas a qualquer
uma entre um grande número de fontes: á “República” de Platão, à igualdade espiritual
proclamada pelo profeta Miqueias, do Velho Testamento, e ao utopismo de Sir Thomas
More e Tommaso Campanella ou ao nivelamento radical dos debates Putney. Mas, em sua
versão moderna, o socialismo derivou do fermento religioso e ideológico da Revolução
Francesa. Na década de 1790 e início do século XX, a busca de um novo “pouvoir
spirituelle” que se seguiu à queda da Igreja Católica-Romana e extensiva descristianização
de toda a França levou ao desenvolvimento de um grande número de seitas claramente
identificáveis como socialistas. Uma das primeiras foi fundada pelo conde Henri de Rouvroy
de Saint-Simon, o aristocrata francês que também foi herói de guerra e se transformou em
partidário da revolução e depois em especulador de imóveis e ainda em flagelo dos ricos
ociosos. Descendente do cronista da corte de Luís XIV em Versalhes, Saint-Simon
acreditava que a sociedade estava entrando numa nova fase critica de ciência e industria
que exigia novas de govemo e culto religioso. Defendia ~ uma ciência da humanidade ~
que compreenderia as sociedades como ~ corpos organizados ~ como fenômenos
fisiológicos ~. Essa abordagem racionas da administra; ao das questões humanas evitaria
exatamente o tipo de anarquia que a França viveu durante a década de 1790, mas, para
isso acontecer, era necessario transferir o poder das malfadadas elites nepotistas do ~
ancien regime ~ para uma hierarquia de industrias, cientistas, engenheiros e artistas. So
eles teriam condições de planejar uma sociedade ~ em que todos os indivíduos seriam
51
classificados segundo suas capacidades e remunerados de acordo co0m o trabalho ~. A
políitica devia se tornar uma ciência exata, passando ~de conjeturas para a certeza, da
metafisica para a fisica~. O ato político de “governar” seria substituído pelo processo
objetivo de “administrar” a sociedade de tal forma que todos os indivíduos poderiam realizar
o seu potencial. Nas palavras de Saint-Simon, numa frase que Marx adaptaria mais tarde
com tanta felicidade? De cada um de acordo com suas capacidades, a cada um de acordo
com seu trabalho~.
No âmago da sociedade ideal de Saint-Simon estava a ética da indústria. Os heróis de
Saint-Simon eram “a classe industrial (“les industriels”), produtores não parasitas. Seus
inimigos eram os dirigentes tradicionais da França- a aristocracia, o clero, os funcionários
do govemo (“les osifs~, os ociosos, era como os chamavam) - bem como os
~desocupados~, ou “consumidores” da nova burguesia que herdaram riquezas ou
vampirizavam os trabalhadores. Na futura era cientifica, o homem deixaria de explorar seu
semelhante e, em vez disso, todos se uniriam para explorar a natureza. Os modelos
existentes de propriedade privada, e competição seriam abolidos {a medida que a
sociedade, coletiva e harmoniosamente, pusesse mãos a obras. Todos os homens vão
trabalhar vão se considerar trabalhadores vinculados a uma oficina e seus esforços serão
dirigidos no sentido de orientar a inteligência humana de acordo com minha providencia
Divina. O Conselho Supremo de Newton vai dirigir seus trabalhos.
O que era esse Conselho Supremo de Newton? Saint-Simon o concebeu como o órgão
que govemaria a nova sociedade, uma associação de sábios- “homens geniais- que agiriam
como “tochas iluminando a sociedade”. Essa elite tecnocrática presidiria uma “chambre
d´invention” (administrada por duzentos engenheiros e cem artistas), uma “chambre de
examination” (cem biólogos, cem físicos, cem químicos), e uma “chambre dexecution” (os
industriais mais importantes e os empresário da época). Assim como Isaac Newton
reordenara o universo em torno do princípio da atração gravitacional, também o Conselho
Supremo, presidido por um matemático, asseguraria o bom funcionamento da sociedade
de acordo com as leis universais igualmente aplicáveis.
Em “O Novo cristianismo”, de 1825, Saint-Simon desenvolveu mais essas idéias,
defendendo uma religião secular para a humanidade. Do govemo eficiente da sociedade
surgiria um novo espírito de harmonia humana ao retorno ao “princípio da moralidade
cristã”, que ele considerava fundamental: o amor fratermo. Daí decorreria a missão de
“melhorar a existência física da classe mais pobre”, uma meta que nunca seria atingida sob
o sistema iníquo, perdulário e desumano da competição que era a base do capitalismo
modemo. Foi essa promessa de regeneração moral e crescimento espiritual por meio da
ação coletiva que inspirou as seitas saint-simonianas e seu popular evangelho da
fratemidade. Se a humanidade conseguisse se unir, Saint-Simon estava convencido de que
suas energias produtivas poderiam ser canalizadas para criar uma Nova Harmonia aqui na
terra.
A visão de Saint-Simon tinha de uma utopia pós-capitalista e pós-cristã era partilhada por
outro importante socialista francês do começo do século XIX, Charles Fourier. Uma das
personalidades mais cativantes do panteão progressista, ele nasceu em 1772, filho de um
próspero mercador de tecidos, e passou a vida acompanhando o mercado e negociando
no sul da França, principalmente nos distritos de Lyon que viviam da seda. “Sou um filho
do mercado”, explicou ele, “nascido e criado em estabelecimentos comerciais. Fui
testemunha das infâmias do comércio com os próprios olhos”. Mas o socialismo de Fourier
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não foi só um produto da experiência pessoal. Definiu-se como um novo Colombo, ele
declarou depois de um ano estudando ciências naturais na Bibliothéque Nationale, que
havia descoberto a verdadeira ciência da humanidade, que, de um único golpe, acabaria
com a miséria, a exploração e a infelicidade da civilização modema. Falou sobre tudo isso
em sua obra bizarra de 1808, “A Teoria dos Quatro Movimentos”. Entre visões de mares de
limonada e planetas em conjunção Fourier defendia uma proposição simples: homens e
mulheres são govemados por suas paixões naturais, criadas por Deus. Na verdade, todo
indivíduo poderia se encaixado exatamente num dos 810 tipos diferentes de personalidade,
derivados de 12 paixões, e viver num mundo govemado pelos quatro movimentos- social,
animal, orgânico e material.- que constituíam o sistema geral da natureza (com algo de um
Lineu sociólogo, Fourier era muito competente quando se tratava de fazer listas). Tentar
reprimir essas paixões era o erro terrível da sociedade contemporânea. “O que a natureza
expulsa pela porta volta pela janela”, Mas era exatamente isso que a França burguesa do
século XX estava fazendo com construtos artificiais como o casamento monogâmico, que,
de uma forma verdadeiramente Newtoniana, produzia paixões contrárias indesejáveis “tão
malignas quanto as paixões naturais teriam sido benignas”. A reação igual e oposta à
monogamia sancionada pela Igreja, por exemplo, poderia ser vista por 32 diferentes tipos
de adultério evidentes na França. Na sociedade harmoniosa de Fourier, os cidadãos teriam
permissão de exercer total liberdade sexual, começando e terminando suas relações a seu
bel-prazer. As mulheres teriam controle sobre a reprodução e as crianças teriam a
oportunidade de escolher entre os pais biológicos e os adotivos. Na esfera econômica, as
coisas eram como na esfera sexual. A subversão das paixões benignas tinha transformado
a ambição em avareza, extirpado do trabalho qualquer resquício de prazer e permitido o
desemprego, a pobreza e a fome da Marselha da década de 1790, Fourier condenava o
vício mortal do capitalismo: “É falsidade com toda a sua parafermália, falência,
especulação, usura e fraudes de todo o tipo”. Desprezava particularmente a classe
mercantil, que não pegava no pesado nem fiava, mas tinha vastos lucros em papel-moeda.
No entanto, o maior crime do capitalismo era que ele conspurcava a alma do homem
negando-lhe o prazer- mais especificamente, o fato de reservar o prazer aos ricos. Como
era preciso ter dinheiro para obter artigos de luxo como boa comida, sexo e arte, só os ricos
podiam se entregar aos tipos de prazer pelos quais muitos a outros- como Fourier-
ansiavam. Esse estado de coisas iníquo foi promovido pelo credo hipócrita de abstenção e
pobreza sagrada pregada pela Igreja católica romana. Fourier, o caixeiro viajante frustrado
e solitário, via pouca virtude na penúria ou nas restrições de uma vida conjugal
monogâmica.
A política tradicional não tinha resposta para esses sofrimentos humanos. Não havia um
programa de reforma ou ajuste econômico que levasse em conta as repressões antinaturais
da sociedade moderma. Portanto, era abandonar a ordem social existente e reorganizar a
humanidade numa série de comunidades autônomas, conhecidas como falanstérios, que
deviam se basear na ciência da “atração passional”: nas verdades da natureza humana e
não nas projeções moralistas. Todo falanstério seria organizado de modo a dispor de todos
os diferentes tipos de personalidade, sendo a população ideal de número 1620. A garantia
de um “mínimo sexual” a todos os residentes acabaria com as frustrações e os desejos que
distorciam as relações “amorosas” na sociedade burguesa patriarcal. Fourier adorava
descrever o tipo de orgias extremamente coreografadas- inspiradas numa inversão sensual
da missa católica-que haveria nos falanstérios, compreendendo toda e qualquer forma de
desejo sexual (incesto inclusive).
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Junto com o “mínimo sexual” viria o “mínimo social”. Assim como Furier restauraria o
respeito pelo amor sexual, seu sistema também ressuscitaria a dignidade do trabalho. O
problema do emprego modemo era que ele também negava ao homem viver plenamente
as suas paixões naturais- atribuindo-lhe tarefa monótona e que, ao mesmo tempo, eram
inadequadas às suas condições de trabalhar a todo vapor em oito empregos diferentes por
dia em grupos de amigos e amantes formados espontaneamente. Esse desabrochar das
capacidades produziria um desenvolvimento tal dos talentos que homens e mulheres
marchariam para os campos, fábricas, oficinas, ateliês e cozinhas ansiosos por canalizar
seu entusiasmo diligente. Fourier, ao contrário da Igreja católica, não achava que os seres
humanos haviam nascido para sofrer. A criação de novas comum idades permitiria que o
homem florescesse de acordo com suas paixões inatas.
Em nenhuma declaração de Saint-Simon ou Fourier há exigências de igualdade radical
(“um veneno social”) nas palavras de Fourier ou apela para uma tomada violenta de poder
em nome do “povo”. Seu socialismo era uma visão nobre, freqüentemente excêntrica, mas
bastante inspiradora, da plena realização do ser humano. Na verdade, dada sua
experiência e sua atitude em relação ao sangue e ao honor da Revolução Francesa, esses
dois pensadores mostraram muito pouco interesse pelo questionamento violento dos
sistemas sociais em vigor; pelo contrário; defendiam um programa de reforma moral
gradativa posto em prática por comunidades harmoniosas separadas das desigualdades e
injustiças da sociedade existente. Nas palavras de Engels: “A sociedade não apresentava
nada além de erros; acabar com eles era tarefa da razão. Portanto, era necessário descobrir
um sistema novo e mais perfeito de ordem social e impô-lo à sociedade a partir de fora por
meio da propaganda e, sempre que possível, pelo exemplo de modelos experimentais”. Os
Estados Unidos foram testemunha da realização mais prática possível da visão de Fourier
com o estabelecimento de uma série de comunidades em Brtook Farm, Massachusetts; La
Reunion, no condado de Dalas, Texas; e Raritan Bay Union, em Nova Jersey. Mas esses
falanstérios deixaram muito a desejar na hora de converter o restante da sociedade
americana ao projeto fourierista. Mais tarde, esses fracassos permitiriam a Engels
depreciar Saint-Simon e Fourier (assim como Robert Owen)), chamando-os de “socialistas
utópicos”, em contraste com Marx com seu “socialismo científico” rigoroso e prático.
Embora tempos depois Engels mostrasse uma profunda reverência pela análise do
casamento burguês feita por Fourier e tenha admirado muito sua crítica social (“Fourier
expõe inexoravelmente a hipocrisia da sociedade respeitável, a contradição entre sua teoria
e sua prática, a estupidez de todo o seu modo de vida”), ele criticou os utópicos por não
compreenderem a função do proletariado nem a marcha revolucionária da história: “estes
novos sistemas sociais foram antecipadamente condenados como utópicos, quanto mais
minuciosos os detalhes com que foram apresentados, tanto menos conseguiram evitar
tomar a direção de meras fantasias”.
A França do começo do século XIX acolheu outras ideologias igualmente impacientes com
esse absurdo rarefeito de tipos de personalidade e paixões. Eram as ideologias comunistas.
Lideradas por homens como Étienne Cabet e Louis-August Blanqui, eles estigmatizaram
as seitas parisienses durante toda a década de 1830, concentrando-se muito mais
intensamente na mudança política direta do que na análise social. Enquanto Cabet defendia
o caminho da transição pacífica”para uma sociedade baseada na igualdade”, Blanqui queria
uma revolução e glorificava o martírio do “Graco” Babeuf, que, em nome do povo, tramou
uma rebelião condenada ao fracasso em 1796 contra a desigualdade e a pobreza da França
pós-revolucionária. Apoiados por setores da classe operária desmantelada de Paris, os
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“babeufistas” ou “comunistas” (um termo que ganhou seu sentido mais amplo no início da
década de 1840), queriam remodelar a sociedade existente, não se retirar para falanstérios
ou comunas. Defendiam um revival da tradição republicana revolucionária, exigindo o fim
da herança e a abolição da propriedade privada, supondo que “uma grande comunidade
nacional de bens” se seguiria à revolução. Em 1839, Blanqui e seus seguidores fizeram
uma tentativa frustrada de chegar pela força à nova Jerusalém, o que resultou numa
sentença de prisão perpétua- da qual ele foi liberado intermitentemente. Marx e Engels,
curtindo suas noites de bebedeiras em Berlim e Bonn enquanto debatiam a filosofia
hegeliana, tinham pouco a ver com esses primeiros comunistas sérios. Mas um alemão que
se anunciou a eles de fato foi o chamado rabino comunista ou, como Engels o definia: “o
primeiro comunista do partido”: Moses Hess.
Como Marx e Engels, Hess era filho da Renânia, nascido em Bonn em 1812, quando a
cidade estava sob ocupação napoleônica e, nas palavras de Isaiah Berlin, “os portões do
gueto judeu foram escancarados, e seus moradores, depois de séculos amontoados uns
em cima dos ouros, tive4ram permissão de sair à luz do dia”. Como Marx, tinha uma
esplêndida herança semita, com rabinos por parte de ambos os pais. Mas, seu pai tinha
preferido uma vida fora da sinagoga como refinador de açúcar em Colônia, e Hess foi
deixado aos cuidados do avô matemo, “extremamente ortodoxo”, que o criou com histórias
de expulsão dos judeus de Israel. “A barba branca como neve daquele velho austero ficava
encharcada de lágrimas com essa leitura; nós, crianças, também, é claro, não
conseguíamos conter as lágrimas e soluços.
Embora nunca tenha libertado inteiramente dessa herança emocional, Hess perdeu a fé.
“Meu maior problema era, evidentemente, a religião: a partir dela cheguei mais tarde aos
princípios da ética. A primeira a ser examinada foi a minha religião positiva (isto é, o
judaísmo). Ela desmoronou. Nada, não restou nada. Eu era uma pessoa mais infeliz do
mundo. Tornei-me ateu. O mundo tornou-se uma carga e uma maldição para mim. Eu
olhava para ele como se fosse um cadáver”. Assim como o pai de Engels tionha pouca
paciência com o romantismo de Friedrick, o de Hess não sabia o que fazer com a
introspecção melancólica do filho e fez pressão para que ele entrasse para o negócio do
refinamento de açúcar da família. Mas Hess estava relutante em participar daquilo que
considerava as concessões morais do comércio e fugiu com o pretexto de viajar pela
Europa durante um ano. Isaiah Berlin o descreve carinhosamente nessa época como “um
jovem generoso, magnânimo, bondoso, de coração totalmente puro e entusiasmado, sem
ser exageradamente astuto- pronto- na verdade, ansioso- por sofrer por suas idéias, cheio
de amor pela humanidade, de otimismo, de paixão pelas abstrações e aversão pelo mundo
das questões práticas em direção ao qual os membros mais obstinados de sua família
estavam tentando levá-lo.
Foi em Paris, no início da década de 1830, que ele descobriu um remédio para seu ateísmo
entre as sociedades secretas comunistas e Saint-simonianos com os pés cada vez mais
longe da terra. Como Engels antes dele, e muitos milhares depois, Hess preencheu a
lacuna deixada pelo abandono de sua herança religiosa com o novo credo socialista da
humanidade. Contou sua versão intelectual em “The Sacred History of Mankind” (1837),
que enfatizava a crescente disparidade social entre “o pauperismo” e “uma aristocracia da
riqueza e propunha como solução uma comunidade de bens inspirada em Babeuf. O livro
foi uma das primeiras expressões do pensamento comunista na Alemanha e foi bem
recebido nos círculos liberais da Renânia. Muito tempo antes de Marx e Engels codificarem
suas opiniões, Hess e, depois dele, o artesão comunista Wilhelm Weitling estavam
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apresentando aos públicos alemães a idéia de um futuro comunista radical, igualitário, no
qual as crises espirituais e sociais da época seriam resolvidas.
A contribuição relativamente pioneira de Hess foi a ligação que ele fez entre essas idéias
comunistas de o pensamento dos Jovens Hegelianos. A figura hipnótica de August Von
Cieszkoski foi indispensável ao processo. Descrito por seu biógrafo como “uma espécie de
Alexandre Herzen polonês” Ciskoswowski era um aristocrata rico e instruído, educado
primeiro na Cracóvia e depois em Berlin, onde participou da luta dos Jovens Hegelianos
contra Schelling. Sua formação militar alimentou em Cieszkowski a necessidade de ação e
ele logo perdeu o interesse pelo exercício filosófico hermético e interminável. Em 1838,
publicou “Prelegomen to Historiosophy” (Prelegomenos à Historiografia), na qual procurava
transformar a obra de Hegel em ferramenta analítica em um plano de mudança de cunho
social. A dialética, sugeriu ele, estava entrando numa nova era de síntese, na qual o
pensamento teria de combinar com a ação. O que a Europa precisava era “uma filosofia
de atividade prática de “práxis, que exercesse uma influência direta sobre a vida social e
gerasse o futuro do reino na atividade concreta”. A discussão fútil e encharcada de cerveja,
tão ao gosto dos Jovens Hegelianos, tinha de ser recanalizada para um programa de
reforma.
Hess foi instantaneamente hipnotizado pelos escritos de Cieszkowsski. “Chegou a hoa de
a filosofia do espírito se tornar uma filosofia da ação”, proclamou ele. Retornando à ênfase
que Ludwig Feuerbach dera à necessidade de acabar com a alienação religiosa, Hess fez
com que seu pensamento desse passo à frente. É claro, concordava Hess, que o homem
só poderia recuperar sua essência acabando com a submissão a uma divindade cristã. Mas
essa mudança radical não devia ser tentada numa base individual; o que era necessário
era um processo comunal mais amplo. “Teologia e Antropologia. Certo, Mas essa não é
toda a verdade. É bom lembrar que o ser do homem é social, é a cooperação de vários
indivíduos para realizar um objetivo comum e a verdadeira doutrina do homem, o verdadeiro
humanismo, é a teoria da sociabilidade humana. Quer dizer, antropologia é socialismo”.
Pois o que o socialismo (ou o comunismo) prometia (e Hess, como Marx e Engels, usava
os termos, como sinônimo) era o céu na terra: tudo o que no cristianismo fora representado
profeticamente passaria por uma sociedade verdadeiramente humana, baseada nas leis
etemas do amor e da razão.
Para chegar a esse estado sublime de cooperação era urgentemente necessário um
confronto com o sistema capitalista contemporâneo- a causa de tantos males modemos.
Hess defendia a abolição da propriedade privada e, com ela, o fim dos efeitos alienantes
gerados pela economia monetária. Só então a cultura do egoísmo e da competição seria
restringida e em seu lugar uma nova sociabilidade baseada na liberdade e na solidariedade
humana. No grande movimento histórico rumo ao socialismo, todo membro do que ele
chamava de triunvirato europeu- França, Inglaterra e Alemanha- tinha um papel específico
a desempenhar. A Alemanha devia apresentar os fundamentos filosóficos do comunismo,
a França já estava bem avançada no ativismo político e a Inglaterra- que estava em
processo de industrialização - devia juntar a lenha para a fogueira social. “O antagonismo
entre a pobreza e a aristocracia do dinheiro só vai chegar a um grau revolucionário na
Inglaterra, assim como aquela oposição entre espiritualidade e materialismo só pode chegar
a seu clímax na França e o antagonismo entre Estado e Igreja só pode ter seu ápice na
Alemanha.
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Hess foi um dos primeiros a introduzir essa “questão social” - os custos humanos do
capitalismo industrial- na dinâmica política. Num artigo intitulado “sobre a Catástrofe que se
aproxima da Inglaterra”, Hess explicou que a temperatura que estava se armando era
produto do climatério de um momento socioeconômico crucial.
Cada vez mais a atividade teórica de Hess, voltava para o social e para a prática, estava
levando os Jovens Hegelianos para uma direção claramente comunista. No outono de
1842, segundo Engels, alguns membros do “partido” dos Jovens Hegelianos (entre os quais
ele se incluía), estavam insatisfeitos com a insuficiência da transformação política e
declararam que sua opinião era que uma revolução social baseada na propriedade comum
era o único estado da humanidade de acordo com os seus princípios abstratos.”
O que estava igualmente óbvio era que a Inglaterra- com suas manufaturas imensas, seus
ricos donos de fábricas e seu proletariado horrivelmente embrutecido- se encontrava com
tudo pronto para ser o palco da “catástrofe que se aproximava”: “Os ingleses são a nação
da práxis mais que qualquer outra. A Inglaterra estava para o nosso século como a França
esteve para o século passado”. E era para a Inglaterra que Friedrich Engels estava indo
agora. Antes de partir, procurou Moses Hess em pessoa com quem havia começado a se
corresponder. Hess contou a visita numa carta ao amigo e poeta judeu Bertold Auerbach.
Engels chegou tímido e ingênuo, escreveu ele, parecendo “um revolucionário” “novato”
(Anno I Revolucionar) da Revolução Frnacesa do timpo “montagnard “(montanhês). Na
época em que se concluiu seu curso particular com Hess e retomou seu caminhão para
Inglaterra, Engels, o Jovem Hegeliano, havia se convertido num “comunista extremamente
fervoroso” (Ob. Cit- pags. 80-90).
Em “A Miséria da Filosofia” (1874) Marx criticara Proudhon por não ter compreendido que
as raízes do capitalismo modemo estavam enterradas nos sistemas econômicos
preexistentes- “que a competição foi gerada pelo monopólio “feudal” e usou o método de
Hegel para revelar o seguinte: Tese: monopólio feudal, antes da competição. Antítese:
competição. Síntese: monopólio modemo, que é a negação do monopólio feudal, uma vez
que implica o sistema de competição e a negação da competição, uma vez que é
monopólio. (Hunt-ob.cit. pag.317).
“Da mesma forma, a dialética ajudou na hora de explicar a transição histórica do feudalismo
para a burguesia e desta para a revolução proletária. Agora Engels achava que ele havia
descoberto do método hegeliano nos processos recém-revelados das ciências físicas e
naturais. Como materialista e ateu, Engels tomou como ponto de partida a presença da
matéria, que existia independentemente da consciência humana e é anterior a esta. Em
contraste com os materialistas mecânicos do século XVIII, que tinham uma visão estática
da natureza e da humanidade. Engels considerava a matéria algo que se encontrava num
estado hegeliano permanente de mudança e transformação. “O movimento é modo de
existência da matéria”, escreveu ele num ensaio sobre filosofia natural. “Nunca e em parte
alguma houve houve matéria sem movimento, nem pode haver”. Era ali que entrava a
genealidade do método dialético de Hegel, pois seus rítimos de contradição e progresso
ofereceima uma excplanação perfeita para as transformações que a revolução científica do
século XVIII estavam revelando agora- a energia proveniente do Carlo, o homem
proveniente do maçado, a divisão das células. “Mas a teoria científica modema da
interaação das formas naturais (a Correlation of Forces, de Grov), obra que eu acho que foi
publicada em 1838) é apenas mais uma expressão, ou melhor, a prova positiva do
argumento de Hegel sobre causa, efeito, interação, força, etc”, escreveu ele em 1865 ao
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filósofo alemão Friedrich Langee, vinculando explícitamente os avanços da física com a
filosofia de Hegel. Mujitas e mujitas vezes Engels voltou ao “velho Hegel” como quem
procura um profeta cuas teorias prevêem o novo terreno da biologia evolutiva e da teoria
atômica. “Estou profundamente imerso na doutrina da essências”, observeou ele a Marx
em 1874 depois de algumas preleções do físico Johon Tyndall e de T.H. Huxley,
popularizado por Darwin. Isso me trouxe de volta outra vez ao tema dialética”, que Engels
pensava que “chega muito mais perto do cerme da matéria” do do que a comunidade
científica inglesa de tendência empírica poderia julgar”. (Hunt- ob.cit. ág.318).
Essas investigações produziram uma massa confusa de anotações e pequenos ensaios que se converteu em “Dialética da Natureza”!- embora esta obra só tenha vindo a lume em 1927, quando o Instituto Marx-Engels de Moscou publicou a coletanea pela primeira vez. Eduard Bersntain, um dos executivos testamentários da obra literária de Engels, havia mostrado os manuscritos a Albert Einstein, que considerou a ciência confusa, principalmente a matemática e a física, mas a obra geral de tamanha importância histórica que merecia um publico leitor mais amplo. Redigida entre 1872 e 1883, a “Dialética” é uma miscelânea aleatória de anotações em alemão, francês e inglês sobre as questões científicas e tecnológicas da “Wenn Coulomb Von particles of electricity sprich, which repel e época. ach other inversely as the sauare of the distance, so nimmt Thomson das rughig hin als bewiese”, diz uma frase típica. Assim como tentara antes com a história military, Engels procurava explicazr os avanços científicos que estavam acontecendo na Inglaterra, na França e na Alemanha industrializadas como respostas às mudanças no modo de produção.” (Hunt- ob. Cit. Pag.319).
A maioir ambição de Engels era explicar as descobertas científicas do século XIX,
aparentemente disparatadas, como a concretização lógica e tangível da dialética de Hegel.
Enquanto a filosofia de Hegel se limitava ao reino do Espírito, a preocupação de Engels era
conectar a teoria com a prática (práxis), exatamente como ele e Marx haviam feito antes de
intepretar a mudança socioeconômica à luz do pensamento hegeliano, “Na natrureza, em
meio à confusão de inúmeras transformações, as mesmas leis dialéticas de movimento se
impõe como aquelas que, na história, govermam a ocorrência aparentemente fortuita dos
eventos”, anunciou Engels, ligando a “astúcia da razão” que Hegel via na história à lógica
que está por traz da aleatoriedade aparentre dos resultados de laboratório”. O grande
mérito do sistema hegerliano era, dizia Engels, “que, pela primeira vez, o mundo inteiro,
natural, histórico, intelectuas, é representado por um processo - isto é, como em
movimento, mudança, transformação e desenvolvimento constantes; e é feita a tentativa de
fazer a conexão intema que converte numa totalidade contínua todo esse movimento e
desenvolvimento”. Ao inverter Hegel, colocando-o assim na posição que deveria estar-
considerando as idéias o produto da natureza e da história-, é possível demonstrar que a
confusão apatente do mundo físico é govemada de fato por leis da natureza que podem ser
explicadas: “Se virarmos a coisa para o outro lado, tudo fica simples, e as leis dialéticas
que parecem tão extremamente misteriosas na filosofia idealista tornam-se imediatamente
simples e claras como a luz do meio-dia”.
Baseando-se extensamente em três áreas de investigação científica - a conservação da
energia, a estrutura celular e a evolução darwinista-, Engels imitou Newton ao propor três
leis daqueilo que mais tarde passaria a ser conhecido como materialismo dialético”. A
primeira lei, “da transformação da quantidade em qualidade e vice-versa”, afirmava que a
mudança “qualitativa” ocorre que ocorre no mundo natural é resultado da mudança
“quantitativa” da matéria ou movimento que se segue a um acúmulo de tensões. Um
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aumento de número de átomos de uma molécula produziria uma mudança substantiva,
qualitativa (ozônio em vez de oxigênio, por esemplo); um aumento na temperatura
transformaria a molécula H.O. convertendo o gelo sólido em água líquida e em vapor A
segunda lei , “da interpenetração dos opostos”, afirmava de modo rigorosamento hegeliano
que “os dois pólos da antítese como o positivo e o negativo, são tão inseparáveis um do
coutro quanto e, apesar de sua oposição, penetram mutuamente um no outro”. Em outras
palavras, as contradições inenrentes aos fenômemos naturais eram a chave de seu
desenvolvimento. Essa a firmação era reforçada pela terceira e ultima lei da dialética de
Engels: “a lei da negação da negação”, pela qual as contradições intemas de um
fenômeno desembocavam em outro sistema, um sistema oposto que depois é ele próprio
negado como parte de um processo teleológico que leva a um plano mais elevado de
desenvolvimento. Usando o mesmo formato tese-antítese-síntese empregado por Marx em
“A Miséria da Filosofia”, na “dialética da natureza” Engels apresenta uma visão totalizadora
do mundo físico e natural, que ilustrou com uma série de casos “As borboletas, por exemplo
nascem do ovo, passam por certas transformações até alcançare a maturidade sexual,
acasalando-se e, por sua vez, são negadas, morrendo assim que o processo do
acasalamento se completa e a fêmea pôs os seus numerosos ovos”. Da mesma forma, “a
totalidade da geologia é uma série de negações negadas, uma série em que as formações
rochosas antigas são sucessivamente abaladas e novas são depositadas”. À sombra de
Darwin, Engels pôs sua dialética à prova com uma história materialista dos primórdios da
evolução humana (este capítulo, intitulado “A parte Desempanhada pelo Trabalho na
Transformação do Macado em Homem”, foi considerado pelo biólogo evolutivo Stephen Jay
Gould uma das vias secundárias mais importantes do pensamento darwinista do século
XIX). Como sempre, quando se tratava de hegelialismo, o alvo de Engels era a tradição
idealista, que, nesse caso, era a falsa doutrina segundo a qual o “Homo Sapiens” foi
iditentificado primordialmente em termos de sua capacidade mental. A matéria, e não a
mente, ainda era o mantra desse Jovem Hegeliano. Concentrando-se nas três
características essenciais da evoluçãao humana- fala, um cérebro grande e a postura ereta-
. Engels tentou provar que “o trabalho criou o homem”. Quando o homem desceu das
árvores e “adotou” uma postura mais ou menos eretica, segundo Engels ele liberou as mãos
para usar as ferramentas. “O domínio da natureza começou com o desenvolvi mento da
mão, com o trabalho, e ampliou o horizonte humano a cada avanço”. As demandas do
trabalhoreuniram lentamente as comunidades, alimentaram sistemas de apôio mútuo e
criaram o contexto no qual a fala e outros atos intelectuais poderiam então acontecer.
Enquanto Darwin supunha que o aumento do tamanho do cérebro e do intelecto ocorreu
antes de o homem caminhar ereto e usar ferramentas, para Engels as demandas materiais
do trabalho vieram primeiro, seguidas só mais tarde pela fala. E, com as ferramentas, e
depois com os instrumentos de caça, o homem conseguiu passar “de uma dieta
exclusivamente vegetariana para o uso concomitante da carne”, o que, por sua vez, levou
a uma nutrição maior e ao aumento da capacidade cerebral. No meio desse ensaio
intrigante, mesmo que cheio de divagações, Engels observou que uma das diferenças
básicas entre o mundo animal e a sociedade humana era a capacidade desta última de
manipular o ambiente natural em conhecimento sensoriais acumulados a respeito do
ambiente natural em benefício próprio. (Hunt- ob. Cit. Pags.320321-322).
“Agora somos todos socialistas”, foi a respostas despreocupada do estadista liberal Sr. William Hercourt à mudança do clima político dos últimos anos da década de 1880 na Inglaterra (Hunt- ob.cit. pag.357).
59
III
“Os comunistas acreditam ter descoberto o caminho para nos livrar de nossos males.
Segundo eles, o homem é inteiramente bom e bem disposto para com seu próximo, mas a
instituição da propriedade privada corrompeu-lhe a natureza. A propriedade da riqueza
privada confere poder ao indivíduo e, com ele, a tentação de maltratar o próximo, ao passo
que o homem é excluído da posse está fadado a se rebelar hostilmente contra seu opressor.
Se a propriedade privada fosse abolida, possuída em comum toda a riqueza é permitida a
todos a partilha de sua fruição, a má vontade e a hostilidade desapareceria entre os
homens. Como as necessidades de todos seriam satisfeitas, ninguém teria razão alguma
para encarar outrem como inimigo; todos, de boa vontade. Empreenderiam o trabalho que
se fizesse necessário. Não estou interessado em nenhuma crítica econômica do sistema
comunista; não posso investigar se a abolição da propriedade privada é conveniente ou
vantajosa. Mas sou capaz de reconhecer que as premissas psicológicas em que o sistema
se baseia são uma ilusão insustentável. Abolindo a propriedade privada, privamos o a mor
humano da agressão de um de seus instrumentos, decerto forte, embora, decerto também,
não o mais forte; ded maneira alguma, porém alteramos as diferenças em poder e influência
que são mal empregadas pela agressividade, nem tampouco alteramos nada em sua
natureza. A agressividade não foi criada pela propriedade, Reinou também sem limites nos
tempos primitivos, quando a propriedade ainda era muito escassa, e já se apresenta no
quarto das crianças, quase antes que a propriedade tenha abandonado sua forma anal e
primária; constitui a base de toda relação de afeto e amor entre pessoas (com a única
excessão, talvez, do relacionamento da mãe com o seu filho homem). Se eliminarmos os
direitos pessoais sobre a riqueza material. Ainda permanecem, no campo dos
relacionamentos sexuais, prerrogativas fadadas a se tornarem a fonte da mais intensa
antipatia e da mais violenta hostilidade entre homens que, sob outros aspectos, se
encontram e pé de igualdade. Se também removermos esse fatos, permitindo a liberdade
completa da vida sexual, não podemos, é verdade, prever com facilidade quais os novos
caminhos que o desenvolvimento da civilização vai tomar; uma coisa, porém, podemos
esperar, é que, nesse caso, essa característica indestrutível da natureza humana seguirá
a civilização” (Freud- ob.cit. livro 8 - pags.73-74).
Nas páginas desta escrita, retiradas do livro biográfico sobre Friedrich Engels “Comunista
de Casaca” de autoria do escritor inglês Tristran Hunt- Record- 2010), completada pela
teoria Marx-Engels, tentamos extrair os significados das palavras “SOCIALISMO-
COMUNISMO”. Adicionamos a opinião de Sigmund Freud sobre a teoria comunista (“O Mal
Estar na Civilização” – Imago - Livro 8 -pags.72-74). Vimos que as expressões socialismo
e comunismo são muito antigas e se originam dos cientistas da Grécia Antiga.
Hoje a expressão comunismo e comunista parece abominável, diante da teoria marxista-
leninista envolvendo a tragédia do govemo de Stalin na União das Repúblicas Socialistas
da Rússia (URSS); os políticos atuais renegam esta expressão como impura e demoníaca,
apesar de que certos historiadores tenham colocado o problema da URSS de Stalin como
uma inversão da doutrina marxista-leninista no interesse de dominação política. Na
realidade a Mídia modema se refere ao socialismo como o ressurgimento de princípios
renovadores e atualizados para a Humanidade.
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Os Países Europeus, de modo geral, participaram da exploração do Mundo não-Europeu
(Ásia, América e África), hoje se voltam para o socialismo, como se depara com os partidos
político com tais princípio (muito embora, omitindo o os nomes marxismo e comunismo),
adotando os princípios fundamentais do socialismo-comunismo, parecendo que este
princípios, condensados neste artigo, ainda permaneçam vivos e atuantes.
VALEM CERTAS OPINIÕES EMITIDAS PELO CIENTISTA ESTVÁN MESZÁROS, a seguir:
“O sistema do capital se articula numa rede de contradições que só se consegue “administrar” medianamente, ainda assim durante curso intervalo, mas que não se consegue “superar” definitivamente. Na raiz de todas elas encontramos o antagonismo inconciliável entre capital e trabalho, assumindo sempre e necessariamente a forma de “subordinação estrutural e hierárquica do trabalho aso capital”, não importando o grau de elaboração e mistificação das tentativas de camufla-la. Para nos limitarmos apenas a algumas das principai contradições a serem enfrentadas, temos: produção e controle; produção e consumo; produção e circulação; competição e monopólio” etc. (“O Século XXI socialismo ou barbárie” - István Meszaros- Boitempo pag. 19 - ano 2003).
Ainda Meszáros:” Bem mais de dez anos se passaram desde o que foi prescrito há um par de décadas, e nossas condições estão hoje muito piores do que em qualquer outra época anterior, mesmo num país de capitalismo avançado como a Grã-Bretanha, onde, de acorod com as características mais recentes-“uma em cada três crianças” vive abaixo da linha de pobreza, e seu número “se multiplicou por três” ao longo dos últimos vinte anos. E ninguém tenha ilusões sobre os efeitos da crise estrutural do capital até mesmo no país mais rico, os Estados Unidos, pois também lá as condições se deterioraram muito ao longo das duas últimas décadas” (Ob. citada-pag.74).
“Seguindo os passos de Marx, Rosa Luxemburgo expressopu de forma notável o dilema que teremos de - enfrentar: “socialismo ou barbárie”. Quando Marx formulou sua primeira versão dessa idéia, ele situou no último horizonte histórico das contradições em evolução. Conforme sua visão, num futuro indeterminado os indivíduos seriam forçados a enfrentar o imperativo de fazer as escolhas certas com relação à ordem social a ser adotada, de forma a salvar a próprioa existência. Quando Rosa Luxemburgo comentou essa dura altemativa, a segunda fase histórica do imperialismo estava em pleno apogeu, provocando em enorme escala o tipo de destruição inimaginável num estágio anterior de desenvolvimento. Mas a escala de tempo em que o sistema de capital continuaria a se afirmar na forma de “destruição produtiva” e de “produção destrutiva” ainda era indeterminada durante a vida de Rosa Luxemburgo. Não havia naquele tempo nenhuma potência- nem mesmo a união de todas- capaz de destruir a humanidade com seus conflitos devastadores” (Meszáros - Obra citada - pag.187).
DEMOCRACIA
Comentários: “La Democracia é mobile. Qual piuma ao vento” É necessário tratar do que chamamos de infraestrutura dos regimes Capitalista, Socialista e Comunista, pois, estes regime se dizem com base na democracia. Foram expostas às fls.18-28 as características das várias democracias vigorantes no Mundo Ocidental e até algumas notícias Mundiais.
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(Escreve Laurentino Gomes-1889): “O peso da rnáquina publica também era expressivo nas despesas. Entre 1825 e 1888, o império acumulou um deficit de 855,8 mil contos de réis. O govemo nao tinha como cobrir seus gastos e dependia de empréstirnos extemos, que nunca eram pagos em sua totalidade. O deficit vinha desde a época da Independencia, quando o Brasil fora obrigado a indenizar Portugal e a tomar sete emprestimos à Inglaterra, em um total de 10 milhöes de libras esterlinas. Em 1863, quase meio século após a Independência, o pals ainda se via forçado a contratar outros empréstimosde 3 milhoes de libras esterlinas para cobrir os juros daquelas despesas iniciais. O govemo controlava e se metia em tudo. Um sistema dessa forma organizado era inibidor do risco e da livre-iniciativa. Ate 1881, ou seja, oito anos antes da República, nenhuma sociedade anônima poderia funcionar sem autorização do Conseiho de Estado, principal órgão de assessoria do Imperador, composto dos homens mais ricos e influentes do pals. Era "o cérebro da Monarquia", na deflniçao do historiador e ensaIsta mineiro João Camilo de Oliveira Torres. O govemo central regulamentava e também amparava as empresas, locais e estrangeiras, autorizando ou proibindo seu funcionainento, proporcionando subsidios, garantindo juros favorecidos, definindo prioridades e assegurando isenções fiscais. Um dos resultados óbvios da excessiva presença do Estado na vida nacional foi a proliferação do empreguismo páblico. Um levantamento do historiador José Murilo de Carvalho mostra que, em 1877, o Brasil tinha 5,4 funcionários páblicos para cada mil
habitantes. O indice era mais de duas vezes superior ao dos Estados Unidos nessa mesma época, de apenas 2,4 funcionirios por mil! habitantes. O emprego püblico representava 70% das despesas do govemo em 1889. "O funcionalismo é um cancro que devora e aniquila as forças do pals, prejudicial não só no aumento das despesas, como pela desorganizaçao do serviço", aflrmava o medico cearense Liberato de Castro Carreira, senador do Império nos sete anos anteriores a Repüblica.17 "Esta moléstia – endémica no Brasil - é um de seus grandes males", escreveu o mineiro Afonso Celso de Assis Figueiredo, antes de se tornar visconde de Ouro Preto e chefe do último gabinete de ministros. 18 O abolicionista pemambucano Joaquim Nabuco deflniu o empreguismo püblico como um "viveiro politico" porque fornecia ao govemo os instrumentos para a criação de uma rede de clientelismo, capaz de abrigar "todos os pobres inteligentes, todos os que tem ambiçao e capacidade, mas não tém meios, e que são a grande maioria dos nossos hornens de merecimento". O resultado, segundo Nabuco, era a atrofia em quase todas as areas do conhecimento nacional. "Isso significa que o pals esti fechado em todas as direções", afirmou. "Muitas avenidas que poderiani oferecer um meio de vida a homens de talento, mas sem qualidades mercantis, como a literatura, a ciência, a imprensa, o magistério, não passam ainda de vielas; e outras, em que homens práticos, de tendências industriais, poderiain prosperar, são por falta de crédito, ou pela estreiteza do comércio, ou pela estrutura rudimentar da nossa vida econômica, outras tantas portas rnuradas? Durante o Primeiro e o Segundo Reinados, 40% dos senadoresbrasileiros receberam titulos de nobreza. Entre os presidentes do Senado, a proporção de nobres era ainda major, 80% do total. Os senadores eram vitalicios, nomeados pelo imperador. No ano da Proclamação da Repliblica, cinco deles permaneciarn no Senado jé havia quarto décadas. O barão de Souza Queiroz, mais antigo de todos, fora norneado em 1848. "O apoio desses homens era decisivo para obter-se um empréstimo bancário, um posto na burocracia, uma pensão do govemo, a aprovação de uma empresa ou companhia por ações, ou para o êxito numa carreira poiltica", anotou a historiadora Emilia Viotti da Costa. "A sociedade brasileira estava permeada de alto a baixo pela prática e pela ética da patronagem? A rede de clientelismo se estendia por virtualmente todos os aspectos da vida nacional. "Quem não tem padrinho, morre pagão", ensinava um dito popular em voga na época. A praga do apadrinhamento refletia-se tarmbém no meio intelectual. Os principais poetas e rornancistas do Irnpério eram
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funcionários públicos, incluindo Machado de Assis, José de Alencar, Raul Pornpeia e Gonçalves Dias. "O emprego público era procurado principalmente como, sinecura, como fonte estável de rendimentos", observou José Murilo de Carvalho. "A maioria dos escritores da época, por exemplo, sobrevivia a custa de algum emprego público que deles exigia rnuito pouco." Observado pela perspectiva da historia oficial, a Brasil do Segundo Reinado seria um modelo de democracia. As eleições aconteciam com regularidade exemplar. Os cinquenta senadores eram escolhidos pelo imperador em uma lista triplice dos candidatos mais votados em cada provincia. A Câmara, com 120 deputados, era renovada a cada quatro anos. Os debates no Parlarmento eram elegantes e civilizados. Na aparência, tratava-se de uma manarquia constitucional e parlamentarista, regime pelo qual os eleitores escolhem seus representantes e, com base no resultado das urnas, o monarca nomeia o chefe de gabinete encarregado de organizar o ministério. Na prática, era bem diferente. As eleiçôes eram de fachada, pautadas pela fraude e pela perseguição aos opositores. Frequentemente roubadas, as umas reapareciam mais tarde recheadas de votos que davam vitória confortável ao chefao regional e, as vezes por descuido, somavam mais do que o total de eleitores registrados. Como o voto não era secreto, os coronéis locais vigiavam a escolha dos seus protegídos e usavam a policia para irnpedir que eleitores da oposição votassem. "Quando o voto será livre?", perguntava, ingenuamente, a princesa Isabel em carta ao pai, em setembro de 1868, ao testemunhar da janela da casa em que estava hospedada no balneario de Campanha, Minas Gerais, policiais ameaçarem jogar na cadeia os eleitores da oposição que se atrevessem a votar nas eleições municipais. "Somos uns pares de pobretões para meia duzia de ricos", constatou o senador Cândido Mendes de Almeida em 1873, ao analisar o sistema eleitoral. "Como levantar a cabeça para eleger câmaras independentes que possam resistir aos desmandos e ao arbitrio do govemo?" Inspirado no modelo europeu, o sistema judicial brasileiro era igualmente exemplar. Pela Constituição, todo cidadão – categoria na qual não estavam incluidos os escravos - tinha direito de recorrer à Justiça para assegurar os seus direitos. O ritual previa amplo direito de defesa dos réus, só passiveis de condenação depois de esgotados todos os recursos. Ninguém podia ser preso sem culpa comprovada. O direito de liberdade de expressão era tão amplo no Brasil quanto nos países mais desenvolvidos. Na prática, a execução da lei dependia mesmo dos chefes locais, que mandavam prender adversarios ou soltar aliados de acordo com suas conveniências. "O braço da justiça não é nem bastante longo nem bastante forte para abrir as porteiras das fazendas”, escreveu Joaquirn Nabuco, ao fazer um retrospecto das instituiçoes imperiais em 1886. Dois partidos dominaram a cena política do Segundo Reinado, o Liberal e o Conservador. Definir com clareza as diferenças entre eles tem sido uma tarefa árdua para os historiadores. Os conservadores tinham representação mais forte nas províncias do Nordeste e, em geral, favoreciam a centralização do poder imperial, enquanto os liberais representavam as províncias do Sul e Sudeste - especialmente São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul - e defendiam uma maior descentralizaçao em favôr da autonomia regional. No passado, alguns estudiosos também se esforçaram para vincular os conservadores a aristocracia rural e escravocrata, enquanto os liberais teriam seus interesses mais associados aos profissionais liberais e comerciantes urbanos. Na verdade, não existia entre os dois partidos uma clara fronteira ideológica. Ambos refletiam mais rivalidades regionais do que programas distintos de govemo. Em Pemambuco, o conservador Pedro de Araujo Lima, rnarquês de Olinda, e seu rival, Antonio Francisco de Paula de Holanda Cavalcanti de Albuquerque, visconde de Albuquerque, eram ambos senhores de engenho. Tinham riqueza e posição social equivalentes. Araujo Lima foi conservador ate 1862. Depois pulou para o Partido Liberal. Na Bahia, Manuel Pinto de
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Sousa Dantas, chefe dos liberais, começou a carreira como protegido de Joao Mauricio Wanderley, o barão de Cotegipe, líder dos conservadores. Papel igualrnente dúbio era o do irnperador. Pela Constituição de 1824, cabia a ele o exercIcio do chamado Poder Moderador, invenção brasileira, inspirada nas ideias do pensador franco-suiço Henri-Benjamin Constant de Rebecque, o Poder Moderador se sobrepunha e arbitrava eventuais divergências entre os outros três - Executivo, Legislativo e Judiciário. Era uma tentativa de reconciliar a Monarquia com liberdade, direitos civis e Constituição. Na opinião de Benjamin Constant de Rebecque, seria tarefa do soberano remediar, balancear e restringir o choque entre os poderes. No caso do Brasil, entre as atribuições do Imperador estavam a faculdade de nomear e demitir livremente os ministros, dissolver a Câmara dos Deputados e convocar novas eleições parlamentares. O artigo 98 da Constituição afirmava que o Poder Moderador era "a chave de toda a organização política, delegado privativamente ao imperador, que, nessa condição, é o responsável pela manutenção da independência, do equilibrio e da harmonia entre os poderes publicos". O artigo seguinte afirmava: "A pessoa do imperador é inviolável e sagrada: ele não está sujeito a responsabilidade alguma". Lidos ao pé da letra, os dois artigos davam a entender que o imperador brasileiro era um monarca absoluto à moda antiga. Na prática, a simples existência de uma Constituição indicava que o poder imperial tinha algum limite. Isso valia especialmente para o caso de dom. Pedro II, que sempre se empenhou em passar a imagem de um soberano tolerante e magnânimo. O historiador Sérgio Buarque de Holanda fala numa "constituição não escrita", diferente da Constituiçao real, que ditava a política do Imperador mais de acordo com as conveniências do jogo de poder do que na letra da lei. A Constituição real, por exemplo, autorizava a dissoluçao da Câmara dos Deputados apenas "nos casos em que o exigir a salvação do Estado". Inferia-se que a medida seria adotada somente em situações extremas, de grave crise institucional. A rigor, nunca houve uma emergência dessa natureza em todo o Segundo Reinado, mas dom Pedro II, valendo-se de suas prerrogativas, dissolveu a Camara inumeras vezes com o simples objetivo de promover a rotatividade dos partidos no poder. Nos 49 anos do Segundo Reinado, dom Pedro II teve 36 gabinetes, em menos cada um ano e quatro meses. Executava, dessa forma, uma lei não escrita, com a devida complacência dos dois partidos. Sempre que um deles estivesse em oposição, sem chances de chegar ao poder pelas umas devido a fraude eleitoral, a unica forma de voltar a ser goveno era esperar que o imperador dissolvesse a Câmara e convocasse novo ministério. Os prenuncios do vendaval transformador haviam se manifestado ainda no sécülo anterior. A Revolução Industrial, na Inglaterra, tinha transformado por completo os meios de produção. Graças ao uso da tecnologia do vapor, as fabricas inglesas passaram a produzir bens e mercadorias numa escala até então nunca vista. A Independencia dos Estados Unidos, em 1776, criara a primeira democracia republicana da história modema e servira de inspiração para a Revolução Francesa de 1789. Ate então, com raras exceções, os países eram governados por reis e imperadores, que reivindicavam direitos divinos para dirigir os destinos dos povos. No novo regime havia outra fonte de poder, a própria sociedade organizada e consciente do seu papel politico na condução das coisas públicas. "Todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido", era o seu lema. Os revolucionários franceses haviam proclamado a Declaração Universal dos Direitos do Homem, segundo a qual todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. As ideias do século XIX ecoavam essas transformaçoes. Reivindicava-se a redistribuiçao das riquezas e dos privilégios na sociedade, incluindo a propriedade da terra e dos meios de produção. No campo, agricultores pobres passaram a defender a reforma agrária. Nas cidades, a burguesia - camada da população que havia
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enriquecido no comércio e em outras atividades, mas não tirtha titulo de nobreza - passou a exigir que o pagamento de impostos estivesse condicionado a participação nos negócios do Estado. A taxação era a contrapartida do direito de representação: só pagaria impostos quem tivesse voz e voto. Nas fabricas, operários exigiam melhores salários e condiçoes de trabalho, a prerrogativa de se organizar em sindicatos e, eventualmente, de entrar em greve na defesa de seus interesses. "Proletários do mundo, uni-vos", conclamava o alemão Karl Marx no Manifesto Comunista de 1848. Nos quinze meses de duração- entre 15 de novembro de 1889 e 25 de fevereiro de
1891 -, o govemo provisório dedicou-se a intensa atividade legislativa. "Cada ministério era uma fábrica de leis. Cada ministro valia por um congresso", observou Raimundo Magalhaes Junior, biógrafo de Deodoro. "Era preciso suprimir embaraços, suprir lacunas, substituir leis feitas no interesse da Monarquia por outras que atendessem as necessidades do novo regime. Alguns desses decretos e leis de gabinete eram importantes, como o que determinou a separação entre a Igreja e o Estado e o que estabeleceu a casamento civil. Outros pareciam, a primeira vista, mesquinhos, mera retaliação ao regime deposto. Havia dificuldades de toda natureza pela frente, a começar pela falta de quadros republicanos passam a ocupar as postos-chaves da administração e a pouca experiência dos novos govemantes. Durante o primeiro ano do regime, a rotatividade nos govemos estaduais foi altíssima. O Rio Grande do Norte teve dez administrações. Minas Gerais, seis; Parana, seis; Pernambuco, oito; e Sergipe, sete. Habituado a vida na caserma e desconfiado das reais intenções dos civis, que ele conhecia pouco, Deodoro preferiu de inicio delegar esses cargos aos seus companheiros de armas. Por essa razão, os militates dominaram por completo a cena poiltica brasileira. Para o govemo do Amazonas foi nomeado o jovem tenente de artilharia Augusto Ximeno de Villeroy, de 27 anos, parceiro de Deodoro e Benjamin Constant nas conspirações para a derrubada da Monarquia. Para o Piaui, o capitão de mar e guerra José Marques Guimarães, que nao aceitou o cargo, sendo substituldo por outro militar, o coronel Gregório Taumaturgo de Azevedo. Tambem em Goiás, o primeiro escolhido, o tenente-coronel Bernardo Vasques, recusou o posto, sendo trocado por um oficial mais jovem, o capitão Rodolfo Gustavo da Paixão. Em Mato Grosso, assumiu o brigadeiro Antonio Maria Coelho. Em Alagoas, o tenente reformado Pedro Paulino da Fonseca, irmão de Deodoro. Em Santa Catarina, o tenente Lauro Severiano Mullet. Em Pemambuco, o general José Simeão de Oliveira. O Paraná teve quatro govemadores militares em poucos meses: o brigadeiro Francisco José Cardoso Junior, o contra-almirante José Marques Guimarães, o tenente-coronel Inocêncio Serzedelo Corrêa e o coronel José de Aguiar Cerqueira. Pelo govemo do Rio Grande do Sul passaram, sucessivamente, dois marechais e dois generais no periodo de apenas sete meses: José Antonio Correia da Câmara, visconde de Pelotas; Julio Anacleto Falcão da Frota; Carlos Machado Bittencourt e, por fim, Cândido José da Costa. No dia 19 de dezembro, pouco mais de um mes depois da posse do govemo provisório, foi decretada uma reorganização geral do Exército aumentando o número de unidades. O objetivo principal era liberar vagas para promoçöes - até então uma das principais queixas contra as autoridades imperiais. As promoções foram aceleradas mediante a transferéncia para a reserva de muitos oficiais veteranos. Dessa forma, abria-se caminho para a ascensão dos mais jovens. Dos 28 generais da ativa em 1890, dez foram promovidos e nove reformados. Dos 54 tenentes-coronéis, quatro seriam promovidos a generais de brigada e trinta a coronéis nos dois anos seguintes. O ano de 1889 encerrou-se com aumento de 50% nos soldos militares, que assim atingiam o patamar rnais alto em todo o decorrer do século XIX - superior ate mesmo ao que se pagava durante a Guerra do Paraguai. "O golpe de 1889 proporcionou aos militares beneficios imediatos", observou o antropólogo e historiador Celso Castro.
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Em janeiro de 1890, uma lista de promoções por "serviços relevantes" beneficiou quase todos os oficiais envolvidos na conspiração republicana. Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro e futuro presidente da Repüblica, passou de capitão a major e tenente-coronel em menos de um ano. Lauro Sodré, que antes do golpe era tenente e auxiliar de ensino na Escola Superior de Guerra, terminou o ano seguinte como major e lente catedrático da instituição. O aluno José Maria Moreira Guimaraes foi promovido sucessivamente a alferes, segundo-tenente, prirneiro-tenente, capitão, ajudante de ordens do governador de seu estado natal, Sergipe, e, por fim, professor do Colégio Militar. Isso tudo no intervalo de apenas dois anos. Ate quem não tinha participado diretamente dos eventos de 15 de novembro acabou beneficiado de alguma forma. Foi o caso do tenente-coronel Jacques Ourique. Embora estivesse envolvido na conspiraçao, no dia da Proclamaçao da Republica, Ourique acordou tarde e chegou atrasado ao centro do Rio de Janeiro, quando as tropas já se confratemizavam depois da derrubada do ministério de Ouro Preto. Ainda assirn, ganhou o posto de coronel, sendo mais tarde promovido a general. No dia 25 de maio de 1890, Deodoro conferiu a todos os ministros a patente de general, em retribuiçao aos serviços prestados A pátria na mudança do regime. A promoção a um dos postos mais altos da hierarquia do Exército incluia os civis, como Rui Barbosa, Quintino Bocaiüva e Francisco Glicério. Embora nunca tivessem envergado uma farda na vida, as três passarain a ser tratados por respectivamente, "general Barbosa", "general Bocaiüva" e "general Glicério", com direito a receber soldos e aposentadorias compatíveis com o posto. Ao tornar conhecirnento das novidades, o monarquista Eduardo Prado reagiu com ironia: "O Quinze de Novembro não foi, portanto, um ato heroico; foi um bom negócio". “1889” - Laurentino Gomes - Globo Livros – 2013 - Páginas 100 -102;104-108;135-136). Escreve Luciano Canfora: Contudo, essa é uma história remota. O que nos interessa aqui é a praxis eleitoral do nosso tempo. Como se sabe, nos jornais europeus, as reportagens sobre as eleiçoes presidenciais norte-americanas jornais apresentam, ou melhor, praticamente escondem os resultados em termos de votos; apresentam apenas a porcentagem. Procura-se esconder (na Europa) o fato poderia parecer vergonhoso, caso conhecido que a maioria dos cidadãos com direito de voto, nos EUA, não exercita tal direito. O mecanismo é simples. O título eleitoral não é entregue a cada um dos cidadaos, como acontece na Europa; os cidadaos é que devem tomar a iniciativa de requere-lo, agindo como solicitante. Uma grande maioria nao o faz, por varias razões, entre as quais destaca-se de maneira óbvia o absenteísmo politico das comunidades pobres e marginais. Alem disso, grande parte daqueles que retiram o titulo também não vota. Enfim, o vencedor representa uma modesta minoria do corpo civico. Pode-se dizer, entretanto, que isso é fisiologico e de qualquer modo (formalmente) não deriva nem de coações nem de proibições, guiadas rumo ao objetivo desejado. Teria side um sinal de absurda incompetência perdé-las na própria casa. O auto-afundamento de AL Gore, que renunciou a lutar, term algo de inorgânico. E bem mais do que o suicídio de um candidato. Crítica da Retórica Democrática” - Luciano Canfora a Editora Estação Liberdade-São Paulo – 2007. A Democracia Brasileira é situação semelhante, pois, seguidamente à Proclamação da República (15.11.1889), verdadeiro golpe de estado (“punciamento”), instituindo período chamado de “República Velha” (1889-193, período de democracia instável, denominado por Nhá Chica (“Santa de Bapendi); “sem força, porque amarrado com capim”. Certo que a República Brasileira foi proclamada (15.11.1989), por civis e militares, muito mais por militares, sem a menor reação Monarquica e, logo, resultou no seguinte: a partir de 1930, criou-se, por golpe de estado, uma ditadura denominada Estado Novo, sob a direção do político gaúcho Getúlio Dornelles Vargas, com duração de 1930 a 1954; seguiu-se período democrático sob vários presidentes da república (Eurico Gaspar Dutra. Juscelino Kubithsche de Oliveira e João Goulart; após, seguiram-se 20 anos de ditadura
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militar-civil (1964-1978); em seguida, nova democracia, com os govemos de Color de Mello, José Sarney, Femando Henrique Cardoso Itamar Franco, Luiz Inácio da Silva e Dilma, estes dois tipicamente “populistas” e até corrompidos pelo dinheiro como atestam os processos pela Polícia Federal, Procuradoria da República e Justiça Federal, ainda em tramitação. Estes os resumos dos aspectos da Democracia Brasileira. Estudemos a história da Democracía dos EEUU, conforme escreveu Luciano Canfora: (Crítica da Retória Democrática - Luciano Canfora-Estação Liberdade-2007- Pags.28-30). A democracia do Brasil de hoje não é diferente dos demais países do Mundo que se dizem democratas, pois, sobreviveu aos indígenas agressivos por suas terras e antropófagos aos portugueses andantes e famintos por metais preciosos, pelos negros escravos, pelos italianos, japoneses e por muitos povos imigrantes, todos vindos ao Brasil e trazendo suas democracias falsas e seus capitalismos envenenados. Vê-se que a Democracia nas Américas, se constitui em “fatos não demonstrados”, ou de golpes de estado, chamado “PRONUNCIAMENTO”. Pois, pois, como dizem, a democracia é um “govemo do povo, com o povo e pelo povo”; MAS, QUE POVO É ESSE? Esse curioso povo, é semelhante, embora não idêntico, ao americano do norte, mas que possui imensa propriedade de fraudar a democracias, na espécie “toma lá, dá cá”, comprando e vendendo eleitores, que mal sabem votar, porque não possuem instrução; qual a instrução dos operários se estes passam o dia a trabalhar e, ao deixar o serviço, a maioria à noite, procura se divertir com as novelas da Globo, ou a assistir o futebol, seu ópio preferido! Que fazem os patrões burgueses a estes operários para instruí-los? Nada, porque deste modo os domina. Se a ditadura não serve, também a democracia é inútil; espera-se, talvez, a vinda de um “comunismo”, conforme descrito por Marx-Engels, mas estes próprios doutrinadores escreveram que o comunismo poderia vir ao Mundo, não em um só pais, não se sabe, como, nem quando, nem onde! (Estudo realizado por Orestes Campos Gonçalves, Desembargador Federal do Trabalho da 3ª. Região; ex-Juiz de Direito de Coxim (MTG), de Itaguara, Bom Sucesso, Bonfim, Passa Tempo, em MG; doutor em Direito pela Faculdade de Direito Federal de Minas Gerais, secção Direito Público; Comendador da Ordem de São José Operário, pelo Tribunal Federal do Trabalho de Cuiaba (MT); trabalho corrigido pelo autor e por sua esposa, Célia Schlittler Rocha Gonçalves, funcionária do TR 3ª.Região, aposentada e Professora de Direito de Historia, pela Pontifícia Universidade Católica de Belo Horizonte (MG).