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COMANDO DA ACADEMIA E ENSINO BOMBEIRO MILITAR WALBER MEIRELES PESSOA JUNIOR HISTORICO E EVOLUÇÃO DOS BOMBEIROS CIVIS E VOLUNTÁRIOS ANTE AO EFETIVO SERVIÇO PRESTADO POR BOMBEIROS MILITARES GOIÂNIA 2018

COMANDO DA ACADEMIA E ENSINO BOMBEIRO MILITAR … · obstaculizaria o exercício de atividade que, ... foi devastada por um grande incêndio no ano 22 a.C ... segurança de Roma

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COMANDO DA ACADEMIA E ENSINO BOMBEIRO MILITAR

WALBER MEIRELES PESSOA JUNIOR

HISTORICO E EVOLUÇÃO DOS BOMBEIROS CIVIS E VOLUNTÁRIOS

ANTE AO EFETIVO SERVIÇO PRESTADO POR BOMBEIROS MILITARES

GOIÂNIA

2018

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WALBER MEIRELES PESSOA JUNIOR

HISTORICO E EVOLUÇÃO DOS BOMBEIROS CIVIS E VOLUNTÁRIOS

ANTE AO EFETIVO SERVIÇO PRESTADO POR BOMBEIROS MILITARES

Artigo Científico, apresentado ao Comando da

Academia e Ensino Bombeiro Militar –

CAEBM, como parte das exigências para

conclusão do Curso de Formação de Oficiais e

obtenção do título de Aspirante-a-Oficial, sob

orientação da Sra. 1º Ten QOC Carlane Calixto

de Brito.

GOIÂNIA

2018

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WALBER MEIRELES PESSOA JUNIOR

HISTORICO E EVOLUÇÃO DOS BOMBEIROS CIVIS E VOLUNTÁRIOS

ANTE AO EFETIVO SERVIÇO PRESTADO POR BOMBEIROS MILITARES

Goiânia, 09 de janeiro de 2018.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

Roberto Machado Borges - TC QOC

Oficial Presidente

________________________________________

José Rodolfo Vicente Ribeiro - 1º Ten QOC

Oficial Membro

_______________________________________

Sancler Ramos – 1º Ten QOC

Oficial Membro

Nota

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HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DOS BOMBEIROS CIVIS E VOLUNTÁRIOS ANTE AO

EFETIVO SERVIÇO PRESTADO POR BOMBEIROS MILITARES

Walber Meireles Pessoa Júnior1

RESUMO

Esta pesquisa apresenta, em síntese, os motivos históricos que levaram ao surgimento dos

bombeiros civis bem como a forma como se encontram atualmente no mercado de trabalho -

inclusive juridicamente e suas aspirações no futuro - buscando fazer um contraponto entre as

atividades destes profissionais e as atividades desempenhadas pelos profissionais militares a

serviço do Estado Brasileiro, dos quais também será feita uma contextualização histórica.

Inicialmente, serão expostos o histórico e a evolução dos bombeiros militares no mundo até sua

chegada ao Brasil por meio de decreto de D. Pedro II – patrono desta entidade centenária para,

em seguida, demonstrar o motivo pelo qual ocorreu o surgimento dos bombeiros civis e

voluntários, bem como, a sua evolução até o momento atual. Posteriormente, serão apresentadas

as legislações que amparam cada uma das classes e os trabalhos desenvolvidos por elas no

Brasil e, por fim, a análise dos serviços desempenhados por cada organização e as limitações

impostas pela legislação atual sem deixar ainda, de demonstrar as possíveis intenções dessa

nova classe de profissionais civis.

Palavras-chave: Bombeiros Militares. Bombeiros Civis. Histórico. Legislação Relacionada.

ABSTRACT

This research presents, in summary, the historical reasons that led to the emergence of civilian

firefighters as well as the way they are currently in the labor market - including juridically and

their aspirations in the future - seeking to counteract the activities of these professionals and

activities performed by the military professionals in the service of the Brazilian State, of which

historical contextualization will also be made. Initially, the history and evolution of the military

firefighters in the world will be exposed until their arrival in Brazil by means of a decree of D.

Pedro II - patron of this centenary entity and then to demonstrate the reason for the occurrence

of the civil and volunteers, as well as their evolution to the present moment. Subsequently, the

legislations that support each of the classes and the work developed by them in Brazil will be

presented, and finally, the analysis of the services performed by each organization and the

limitations imposed by the current legislation without still to demonstrate the possible

intentions of this new class of civilian professionals.

Keywords: Military Firefighters. Firefighter. Historic. Related Legislation.

1 Graduado em Direito pelo Centro de Ensino Universitário de Teresina - CEUT

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INTRODUÇÃO

O trabalho de salvar vidas e patrimônio exige um cuidado especial por parte de todo e

qualquer cidadão que convive em uma sociedade harmônica e, em especial, aqueles

profissionais que desempenham e se dedicam exclusiva e rotineiramente a este fim, surgindo

assim a figura do Bombeiro.

Neste contexto, este serviço essencial tem caráter essencialmente público devendo

então, desde logo, ser enfatizado o trabalho efetivo desempenhado pelos bombeiros

profissionais empregados pelo Estado Brasileiro. Esta profissão, uma das mais aceitas

mundialmente, desempenhada por inúmeros servidores estatais militares no Brasil vem

atualmente – e cada vez mais – dividindo espaço com outra classe de profissionais civis que

surgiram com intuito de suprir certas carências decorrentes do serviço público prestado. No

entanto, as atividades desempenhadas por estas diferentes classes não podem se confundir

sendo este assunto um dos objetivos a ser estudado neste trabalho.

Inicialmente cabe destacar o artigo 144 da Constituição Cidadã Brasileira que afirma:

A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é

exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e

do patrimônio, através dos seguintes órgãos: V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.

§ 5º (...) aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei,

incumbe a execução de atividades de defesa civil.

§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e

reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos

Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

Assim é informado a todos que os corpos de bombeiros militares fazem parte da

estrutura estatal de apoio ao Exército Brasileiro e tem como papel primordial defender a

soberania e o perfeito funcionamento das atividades do Estado evidenciando que a finalidade

dos corpos de bombeiros militares destina-se constitucionalmente a “defesa civil” e debruça-se

principalmente ao bem estar do cidadão antes, durante e depois de eventos desesperadores

seguindo assim a filosofia centenária das Forças Armadas.

Com relação ao estado de Goiás, bem como em diversos outros estados da Federação, a

Constituição do Estado em seu Capítulo IV destinado especificamente aos militares amplia o

rol exposto na Constituição Federal ao atestar que cabe ao corpo de bombeiros militar, entre

outras atribuições:

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I - a execução de atividades de defesa civil;

II - a prevenção e o combate a incêndios e a situações de pânico, assim como

ações de busca e salvamento de pessoas e bens;

III - o desenvolvimento de atividades educativas relacionadas com a defesa civil

e a prevenção de incêndio e pânico;

IV - a análise de projetos e inspeção de instalações preventivas de proteção contra

incêndio e pânico nas edificações, para fins de funcionamento, observadas as

normas técnicas pertinentes e ressalvada a competência municipal definida no

Art. 64, incisos V e VI, e no art. 69, inciso VIII, desta Constituição.

Neste mesmo aspecto, abaixo segue decisão do Tribunal Regional da 4° Região que

reforça o entendimento e destaca a importância e o poder de fiscalização que é legalmente

atribuído a estes membros do arcabouço do controle estatal:

ADMINISTRATIVO. PREVENÇÃO A INCÊNDIOS. ATRIBUIÇÃO DO

CORPO DE BOMBEIROS. DESCABIMENTO DA AUTUAÇÃO PELO

CREA. O prosseguimento da conduta do CREA, autuando os integrantes do

corpo de bombeiros que realizam os trabalhos de prevenção de incêndios,

obstaculizaria o exercício de atividade que, demais de precípua do Poder

Público, da Administração, é de necessidade constante e consiste em dever do

Estado tanto quanto direito da comunidade. A discussão sobre a qualificação

do pessoal do corpo de bombeiros para a realização desses trabalhos deve ser

encaminhada por via outra, que não prejudique o interesse público na

manutenção da segurança. Ao Poder Público cabe disciplinar os aspectos da

segurança pública lato sensu. O corpo de bombeiros constitui instrumento de

implementação dessa disciplina. Para tanto, recebem treinamento, realizando

curso específico de formação para a atividade preventiva de incêndios. A

atuação de engenheiros e arquitetos e a dos bombeiros têm fundamentos

distintos, os primeiros figurando como elaboradores, cabendo-lhes o trabalho

propriamente criador, pois detêm a habilitação necessária, enquanto os

bombeiros exercem a atividade específica de prevenção de incêndio, disso

encarregados pela Constituição, tratando de aspectos que independem da

instrução técnica típica da engenharia ou da arquitetura, sua aquisição

ocorrendo pelo treinamento específico (do Corpo de Bombeiros) e pela prática

(g. n.) (BRASIL, TRF-4, 2000).

Observar-se-á que o surgimento de bombeiros civis teria a finalidade de prestar

assistência àqueles que em tese já estão assegurados pela segurança do estado por meio do

trabalho de prevenção realizado pelos corpos de bombeiros militares. Esta é a premissa na qual

se baseia o presente trabalho.

Posto isso, esta pesquisa procura trazer a literatura voltada ao tema, tendo como objetivo

principal demonstrar o serviço e a importância efetiva dos bombeiros estatais diferenciando-os

daqueles que destinam seu ofício somente ao cliente com serviços prestados em diversos

momentos de forma esporádica ou eventual.

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2. HISTÓRICO DOS BOMBEIROS

2.1. No mundo

A necessidade de um grupo de homens destinado ao combate a incêndios coincide com

a descoberta do fogo. Ocorre que, com o desenvolvimento do homem, a possibilidade de

aquecer-se e cozer os alimentos provenientes da caça e com intuito de evitar o surgimento de

diversos tipos de doença, o poder de gerar chamas também ocasionou diversas situações de

acidentes florestais que levaram a diversas perdas materiais e humanas.

Desta forma e, observando o desenvolvimento gradual da vida do homem em sociedade

e da propriedade privada, surgiu a necessidade de controle sobre ocorrências ligadas ao fogo.

Neste contexto, a primeira organização propriamente dita relacionada ao combate a

incêndio remete à primeira sociedade organizada que se tem notícia: os romanos. Conforme

descreve DA SILVA (2015) em trecho retirado da obra “Crime Omissivo Impróprio na

Atividade Bombeiro Militar: Análise Teórica e Jurisprudencial”:

Em todas as cidades do Império Romano também estavam regulados estes

serviços, mas como abordamos no início deste capítulo os bombeiros surgiram

por necessidade, quase sempre depois de um grande incêndio, e foi assim, que

surgiu o primeiro bombeiro, segundo registros históricos, quando a capital do

Império Romano, foi devastada por um grande incêndio no ano 22 a.C., e por

esta razão, o Imperador César Augusto, preocupado por este acontecimento,

decidiu na criação do que se pode considerar como o primeiro corpo de

Bombeiros, cujos integrantes se chamavam “vigiles”, responsáveis pela

segurança de Roma. Este corpo serviu até a queda do Império Romano (476

d.C.). Este, é o primeiro corpo organizado que se conhece na história,

dedicado exclusivamente a função de bombeiro. (p. 13)

Depois deste fato histórico marcante e, durante todo o período conhecido como Idade

Média, o combate e extinção dos incêndios permaneceu sendo realizado de forma rudimentar

por meio de utensílios simples como machados, enxadões e baldes que eram repassados de mão

em mão para extinguir as chamas.

Somente no século XVIII ocorreram mudanças significativas, com o desenvolvimento

das primeiras máquinas rudimentares, com o aprimoramento das bombas de incêndio mais

simples e a invenção das mangueiras de combate a incêndios por Jan Van der Heyden em 1672

que revolucionou a forma de combate a incêndios para sempre.

Àquela época, período em que as mangueiras (já de 15 metros) eram fabricadas em

couro com junções em bronze, tal invenção levou à ampliação dos métodos de extinção de

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incêndios pela simples possibilidade de efetuar jatos d’água em diversas direções pois

dispunham de maior alcance e manuseio por menor quantidade material humano, o que deu

também origem a palavra Bombeiro – aquele que utiliza de bombas.

Destaca-se que, por meio deste invento, surgiram na França neste período o primeiro

grupamento de 60 guarda bombas submetidos à hierarquia militar devidamente uniformizados

e pagos pelo Estado sendo esta a primeira corporação nos moldes dos sistemas atuais dos quais

se tem notícia, Windsor Fire Rescue Service (2006) afirma que é atribuído a Napoleão

Bonaparte a criação dos primeiros bombeiros “profissionais” militares do Exército ao

demonstrar que sua criação remonta a 1810 após um incêndio no salão de baile na embaixada

austríaca em Paris que feriu vários dignitários.

Após este fato, novamente fica claro que a evolução do combate ao incêndio e dos

bombeiros está intimamente ligada a algum desastre histórico ocasionado por um sinistro com

fogo. O grande incêndio ocorrido em Londres na Inglaterra em 1666 que destruiu grande parte

da cidade, fez com que diversas companhias de seguro formassem brigadas treinadas de

incêndios que combateriam o fogo somente nas edificações que fossem conveniadas

(WINDSOR FIRE RESCUE SERVICE, 2006), sendo talvez esse momento em que surgiu o

embrião dos bombeiros civis atuais.

Neste período da história também houve invenção do primeiro carro de incêndio

idealizado por John Lofting (1659-1742), holandês que mudou-se para Londres para 1688 e

patenteou “o Mágico Carro de Chuva” em 1690, sendo posteriormente neste país em 1905 a

citação do primeiro caminhão de combate a incêndio com motor a combustão.

No continente americano, mais distante e colonizado pelos imigrantes do Velho

Continente, os primeiros Bombeiros organizados alude ao ano de 1679 nos Estados Unidos e

mais uma vez ligado a uma tragédia que ocorreu na cidade de Boston conforme demonstra

REBELO (2013):

No ano de 1679, na cidade de Boston, capital dos Estados Unidos, houve

também um incêndio de grandes proporções, tendo causado imensos

prejuízos. Destrói mais de 170 edifícios, tendo ficado dezenas de milhares de

pessoas desalojadas. Neste mesmo ano, e após este incêndio, é criado na

América do Norte O Primeiro Departamento Profissional Municipal Contra

Incêndios. Esse departamento era composto por 13 bombeiros, e estava

equipado com uma bomba contra incêndios. No ano de 1715, a cidade de

Boston já dispunha de seis corporações de bombeiros, e todas já equipadas

com as respectivas bombas de água.

Ainda nos Estados Unidos da América, observando a crescente urbanização das cidades

locais bem como da falta de organização e disciplina dos bombeiros “voluntários” e a

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resistência destes frente a tecnologia trazida com o surgimento de bombas com motor a vapor,

nasce em 1° de abril de 1853 (portanto com 200 anos de atraso) na cidade de Cinccinati, a

primeira organização de bombeiros profissionais já dotada de bombas que, àquela época eram

transportadas em veículos puxados por cavalos.

Cabe lembrar que as primeiras escolas destinadas a formar bombeiros especializados

naquele país datam somente do fim do século XIX e início do século XX, quais sejam 1889 em

Boston e 1914 em Nova York, demonstrando novamente o papel secundário relegado ao

desenvolvimento da matéria até então.

Logo, observa-se que a sucessão de incidentes em diversas partes do mundo demonstrou

a importância das bombas e dos novos métodos de combate a incêndios, evidenciando cada

vez mais a necessidade do desenvolvimento da tecnologia aplicada ao ofício dos bombeiros

bem como a profissionalização e atualização constante destes profissionais que perdura até

hoje, pois, de acordo com os fatos históricos acima e com o aprendizado consequente, a

atividade desenvolvida envolve tanto o emprego de técnicas sempre em desenvolvimento como

o constante treinamento que sempre deve estar adaptado às exigências da sociedade atual em

que este profissional está inserido.

2.2. No Brasil

A história conhecida dos bombeiros no Brasil tem início ainda no período Colonial,

quando observa-se a necessidade de indivíduos que se prontificassem a dirimir as chamas que

eram oriundas principalmente das catedrais que continham grande carga de material de madeira.

Por meio dos sinos destas catedrais eram dados os sinais sonoros que indicavam um sinistro em

andamento, momento em que os cidadãos realizavam um mutirão com baldes e outros

recipientes, se amontoando em filas desde as fontes, chafarizes e outros locais com água e

passando de mão em mão até chegar ao local em chamas.

Segundo NUNES (2014) citando obra de Aste (1991), a ocorrência de incêndios durante

o período noturno eram ainda mais complexos, ocasionando diversos outros transtornos como

atropelamento e desorganização aos envolvidos:

Ainda conforme Aste (1991, p. 21), para os trabalhos nos incêndios corriam

as milícias, aguadeiros e voluntários que combatiam empiricamente as chamas

com os parcos meios disponíveis. O trabalho era dificultado pelas construções

em madeira e o arruamento estreito e irregular. Quando irrompiam à noite, os

incêndios vitimavam muitas pessoas, pela dificuldade de evacuação dos locais

em face à precária iluminação existente.

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Por este motivo, surge então a primeira “norma antipânico” emitida pelo Vice-Rei Luís

de Vasconcelos, que em ofício à Câmara datado de 12 de julho de 1788, determinou que todos

deveriam iluminar a frente de suas casas, a fim de evitar o "atropelamento" que gerava em

alguns casos mais vítimas que o próprio acidente primário. (NUNES, 2014)

Com o transcorrer dos anos, observou-se pela necessidade de aprimoramento e de um

serviço mais profissionalizado destinado ao combate às chamas. Surge então o Arsenal da

Marinha, uma repartição criada ainda em 1763 pelo Conde da Cunha, que se prontificou a

realizar o serviço em conjunto com outros disponíveis à epoca, destacando também que serviço

era na realidade uma especialização já existente aos quais aqueles servidores se submetiam,

nesse sentido NUNES (2014) ao citar diversos outros autores em sua pesquisa explana:

Em 1797, por meio do Alvará Régio e diante da necessidade de dotar a cidade

do Rio de Janeiro com sistema de combate a incêndio mais organizado, coube

ao Arsenal de Marinha a responsabilidade pela extinção de incêndio. Esta

escolha se deu em virtude da experiência dos marinheiros em combater o fogo

em embarcações, além de possuírem equipamentos de extinção. Neste sentido,

Lacowicz (2002, p. 11) aponta que antes de 1797 o serviço de extinção ficava

a cargo, além do Arsenal da Marinha, a outras organizações.

Ainda referente ao Alvará Régio de 12 de agosto de 1797, é válido informar que em seu

título XII estava expressa a determinação ao Intendente do Arsenal que "terão sempre prontas

as bombas, e todos os mais instrumentos necessários para se acudir prontamente não só aos

incêndios da cidade mas também aos do mar" sendo portanto desta data o primeiro indício de

um serviço de extinção de incêndios realizados por um órgão público na cidade do Rio de

Janeiro.

No entanto, o início efetivo dos Corpos de Bombeiros no Brasil se deu somente em 1856

quando, em resposta a um ofício emitido 5 anos pelo Inspetor do Arsenal de Marinha das Cortes

Joaquim José Inácio, o Imperador D. Pedro II – patrono dos Corpos de Bombeiros Militares

Brasileiros – com elaboração do Ministério da Justiça, promulgou em 02 de julho daquele ano

o Decreto Imperial n. 1.775 que estabelecia o Corpo Provisório de Bombeiros da Corte que

unificou diversos órgãos que realizavam tal serviço, NUNES (2014) destaca:

Mais tarde, por meio do Decreto nº 1.775, de 02/07/1856, assinado por D.

Pedro II, instalou-se no Rio de Janeiro (então capital do Império), o serviço

de extinção de incêndio. Porém, enquanto não fosse definitivamente

organizado o corpo de bombeiros, o serviço de extinção seria executado por

operários dos arsenais de guerra e marinha, das obras públicas e da casa de

correção, sendo criada e organizada em cada uma dessas repartições uma

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seção destinada a esta atividade. Esta seção formava o Corpo Provisório de

Bombeiros da Corte, sendo o seu primeiro Comandante um oficial superior do

Corpo de Engenharia do Exército, o Mj João Batista de Castro Moraes Antas,

nomeado em 26 de julho de 1856.

Posteriormente, com o Decreto número 2.587 de 30 de abril de 1860, o Corpo Provisório

de Bombeiros da Corte tornava-se definitivo sendo então subordinado à jurisdição do

Ministério da Agricultura criado naquela mesma data e cujo primeiro titular e organizador foi

o Almirante Joaquím José Inácio, antigo Inspetor do Arsenal de Marinha da Corte e emissor do

ofício levou à criação do Corpo de Bombeiros Provisório da Corte.

Após a instalação definitiva do Corpo de Bombeiros da Corte, foram notadas diversas

melhorias e momentos históricos marcaram os fatos que ocorreram com o decorrer do tempo

aos quais podemos citar:

a) Em 1865: a chegada da primeira bomba a vapor destinada a dirimir chamas somente

a beira-mar e operada por 20 homens;

b) Em 1879: quase 20 anos depois de prevista no Decreto Imperial de 1860, é instalada

pela Repartição dos Telégrafos no centro da cidade do Rio de Janeiro o primeiro

circuito efetivo com 12 aparelhos idealizado no Brasil para comunicar sinistros de

incêndio; neste mesmo ano é instalado um sistema de linhas telefônicas ligadas a

Estação Central dos Bombeiros e Estações Policiais;

c) Em 1881: Ratificado, através do Decreto 8.837 de 17 de dezembro, o regulamento

aprovado no ano anterior ao qual são concedidas nomenclaturas militares aos

trabalhadores do Corpo, pois apesar de devidamente organizados e aquartelados

como tal, não utilizavam de fardamento e insígnias sendo tratados portanto e pelos

demais civis como meros ajudantes, sendo este ano então considerado o momento

em que, para os efeitos legais, se consagram os Bombeiros do Estado Brasileiro como

militares;

d) Em 1905: Conclusão e inauguração do primeiro Quartel do Comando Geral do Corpo

de Bombeiros na cidade do Rio de Janeiro-RJ até então capital do Império, local

imponente que permanece preservado como tal até a atualidade.

Outros fatores históricos importantes remetem já a Segunda Guerra Mundial (1939-

1945) quando o corpo de bombeiros, ativo no Brasil e em diversas partes do mundo, atuou

como verdadeira força auxiliar do Exército, colaborando com as Forças Armadas no

treinamento de turmas especiais de bombeiros civis voluntários em cursos especializados de

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defesa passiva para atendimentos relacionados ao salvamento e com exercícios que ocorriam

tanto durante o dia como a noite.

Em 17 de dezembro de 1961, já com a capital devidamente estabelecida em Brasília

desde o ano anterior, segundo JORNAL O GLOBO (2017) o segundo maior desastre mundial

em número de óbitos (503 mortos) ocorre no Gran Circo Norte-Americano em Niterói no

Estado do Rio de Janeiro, local em que um funcionário do evento descontente com seus patrões

após sua demissão, incendiou o local sendo a lona, coberta por uma camada de parafina

altamente inflamável, material propagante que contribui a espalhar o fogo rapidamente no local.

A maioria das vítimas eram crianças, o que levou a uma comoção nacional que fez com que

houvesse uma maior preocupação com a fiscalização de tais eventos que muitas vezes ocorriam

sem saídas de emergência, sinalização ou qualquer pessoal destinado ao combate de incêndios

e pânico no local.

Ocorre que somente em 1974, com o incêndio no Edifício Joelma em São Paulo, houve

uma preocupação maior com a segurança estrutural por parte dos engenheiros.

Nesta edificação, um curto-circuito em um aparelho de ar-condicionado no 12º andar do

prédio paulistano deu início a um incêndio que se espalhou rapidamente pelos móveis de

madeira, pisos acarpetados e forros internos de fibra sintética, para piorar, em poucos instantes

as escadas foram consumidas pelo fogo e pela fumaça, impedindo as pessoas de evacuarem o

prédio que resultou em mais de 180 pessoas mortas e 320 ficaram feridos no incêndio o que

reacendeu as discussões sobre segurança e prevenção em combate a incêndios.

Ocorre que dois anos antes da tragédia no edifício Joelma, um prédio próximo, já havia

passado por situação similar. Em 1972, um fogo de causa ainda desconhecida – imagina-se uma

sobrecarga no sistema elétrico – se espalhou pela estrutura do prédio sem tratamento retardante

ao fogo. O evento foi televisionado ao vivo e a população se chocou com as cenas de pessoas

se atirando do prédio. A maioria dos 16 mortos e 330 feridos se encontrava no terraço onde

muitos correram para fugir do calor no local. GOMES (2014) complementa acerca da

repercussão do fato:

Devido à proximidade, tanto espacial quanto temporal, do incêndio no

Edifício Andraus, o impacto na opinião pública foi gigantesco. Percebeu-se a

inaptidão dos poderes tanto municipal quanto estadual para lidar com

situações de risco, tanto pelo despreparo do Corpo de Bombeiros quanto pelas

consequências de grandes falhas nas legislações. É nesse momento que se tem

o início da criação de Comissões, Decretos, Normas e aperfeiçoamento de

todos os sistemas existentes atualmente, unificando toda a linguagem de

incêndio para todas as regiões do País, sendo o Estado de São Paulo sempre

um pioneiro nessa área.

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Por fim, já em janeiro de 2013, cabe à Boate Kiss em Santa Maria - RS, o fato histórico

mais recente na história brasileira a ter efeitos práticos no combate aos incêndios. Este episódio

que resultou em 243 mortos, foi decorrente do uso de um sinalizador no interior de casa noturna

por um integrante da banda que fazia um show na ocasião, que rapidamente se alastrou por todo

o recinto após atingir o teto sem um controle de acabamento de material satisfatório, e que,

somado às deficiências quanto à sinalização e saídas de emergência, teria causado o quarto

maior incidente do mundo em número de mortos e que, por conseguinte, levou à edição da

norma popularmente conhecida como “Lei Kiss” que entrou em vigência em 2017 e alterou

diversos dispositivos legais referentes ao combate de incêndio e pânico e dando maior ênfase

ao controle e fiscalização ao dimensionamento efetivo das saídas de incêndios bem como da

sinalização eficiente para evacuar espaços fechados e com aglomeração de pessoas.

2.3 Bombeiros Civis no Brasil

Até o momento observamos a ótica da legislação e desenvolvimento mais voltado para

a história em geral e, portanto, relacionados aos bombeiros militares os quais eram mais

lembrados e requisitados em tais momentos. No entanto podemos observar que o aparecimento

dos bombeiros civis rememoram ao fim dos anos 1800 em Joinville, Santa Catarina, fatalmente

o mesmo Estado da Famosa Boate Kiss supracitada.

Em 1892, 32 anos após o Decreto Imperial que deu origem ao Corpo de Bombeiros

Provisório da Corte, surge o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville, influenciada pela

colonização alemã local juntamente com a prosperidade econômica da região, que se

manifestava nas diversificadas construções em estilo europeu. Cabe o adendo de que na

Alemanha atual todas as cidades possuem Corpo de Bombeiros constituídos por civis locais

que desempenham o ofício de mitigar as chamas de incêndios bem como as demais atividades

atinentes à profissão de bombeiro.

O Corpo de Bombeiros Voluntários, hoje administrado pela Associação Comercial e

Industrial de Joinville, com lema “um por todos e todos por um” e “em nome de Deus e em

defesa do próximo” exigia em seus primórdios que todo soldado fosse honesto e másculo sendo

exigidos ainda de seus soldados adjetivos como sobriedade, pontualidade, perseverança,

disciplina e obediência hierárquica.

Com relação a remuneração dos membros, inicialmente o efetivo era composto somente

por voluntários, fato que perdurou até 1972 com o desenvolvimento econômico de Joinville,

momento em que foi criada uma equipe fixa e remunerada que atualmente realiza diversos

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serviços inclusive com apoio das instituições públicas locais que, por sua importância, doam

viaturas à entidade, conforme GOIÁS (2016):

Os voluntários passaram a ser incorporados nos sinistros de maiores

proporções. Hoje, os bombeiros funcionam com a indispensável função de

segurança, em qualquer emergência. Deixaram a muito tempo de atuar

somente nos casos de incêndio. Possuem equipamentos e automóveis de alta

tecnologia, e representam a garantia de salvação e defesa tanto de patrimônios

materiais, como de vidas. (...) 1927: a Prefeitura de Joinville doa o segundo

caminhão ao CBVJ;

Outra instituição também ligada ao Estado de Santa Catarina e sua colonização alemã,

são os Bombeiros Voluntários de Concórdia, menos conhecidos porém com quase 40 anos de

história. Sua primeira unidade data de 6 de novembro de 1979, quando a empresa Sadia, ao

observar que a cidade se desenvolvia com amparo estatal deficiente, contribuiu para a fundação

desta entidade sem fins lucrativos que visava o atendimento de urgência e emergência aos

indivíduos daquela comunidade.

Com o tempo, houve a ampliação dos serviços prestados por esta entidade exigindo

apoio das entidades públicas locais como demonstra novamente GOIÁS (2016):

A Prefeitura Municipal de Concórdia contribuiu gradativamente para a

formação da associação, doando inicialmente o pátio de sua garagem como

sede para o estabelecimento. O primeiro caminhão de combate a incêndio foi

cedido pelo Defesa Civil do Estado, sendo que a Prefeitura cedeu 4

funcionários para atuarem como bombeiros. A Corporação atendia

inicialmente somente incêndios a acidentes, tanto na cidade de Concórdia

como nas cidades vizinhas. Nesta época foram realizadas inúmeras viagens de

transportes de pacientes doentes para os grandes centros.

Através de diversas doações, do Estado, da Prefeitura, da Secretaria da Saúde,

foram adquiridos mais caminhões de combate a incêndio, com a cidade em

crescimento constante. (...) Por volta do ano de 1993 foi implantado o

FUNREBOM, receita adquirida por meio de atividades técnicas, que

implantou o alvará, a vistoria e prevenção de incêndio nas empresas. A sede

atual foi construída através de doações na conta da luz e de recursos da

comunidade, sendo inaugurada em 6 de novembro de 2000. A partir desse

momento, iniciou-se a contratação de bombeiros através da sociedade.

Conclui-se então que o surgimento dos bombeiros civis se dá por diversos fatores, dentre

eles: o envolvimento da população e de empresas com capacidade econômica, bem como a

deficiência no número de municípios abrangidos pelos serviços estatais, conforme destaca o

estudo realizado em 2016 pelo Estado de Goiás denominado História da Corporação que

destaca também a necessidade e a importância de militares envolvidos no processo:

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No Brasil o serviço de bombeiro mais conhecido é o militarizado. Porém

também existe o brigadista, empregado em locais de público/grandes

empresas, que participa de atendimento público como voluntário ou

contratado, ou ainda como funcionário municipal. Menos de 350 cidades

possuem bombeiros militares empregados, sendo que existem mais de 5.500

municípios no País. A solução, principalmente na região sul do País, tem sido

os bombeiros civis, que atuam como voluntários em ONGs. Os projetos de

bombeiros comunitários, com parceria entre o Corpo de Bombeiros Militar e

os Municípios, cria as condições necessárias para a efetivação do serviço.

3. METODOLOGIA

Após este breve histórico dos bombeiros civis e militares e com relação à pesquisa

realizada, esta classifica-se quanto à sua natureza como uma pesquisa básica. Este tipo de

pesquisa tem o objetivo de gerar conhecimentos sem aplicação prática prevista, envolvendo

verdades e interesses universais (PRODANOV; FREITAS, 2013).

Por meio de conhecimentos já produzidos sobre a história dos bombeiros no mundo e

em especial no Brasil, incluindo fatos já documentados anteriormente, a pesquisa não tem o

intuito de aplicação imediata, apenas produzir entendimento sobre esta matéria, por vezes

desconhecida por grande parte dos bombeiros militares.

Quanto aos procedimentos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica em sua maior parte,

e empírica quando referente ao treinamento e efetivo serviço prestado tanto dos atuais como

dos futuros bombeiros civis e militares.

Encontramos em Lakatos (2007) que a pesquisa bibliográfica é fonte que abrange tudo

que já foi publicado, escrito, dito ou filmado. Portanto, grande parte do material produzido foi

referenciado em escritos de estudos já realizados relativos aos bombeiros e demais assuntos

relacionados.

Por fim, essa pesquisa teve limitações no que tange a referências bibliográficas

específicas, principalmente por se tratar de tema recentemente alterado pela vigência da

chamada “Lei Kiss”, o que ainda gera dúvidas tanto por parte dos operadores do direito quanto

nos envolvidos diretamente em sua execução, incluídos entre estes os militares das diversas

corporações estaduais brasileiras.

4. REALIDADE ATUAL E LEGISLAÇÃO DOS BOMBEIROS CIVIS E MILITARES

NO BRASIL

Conforme supracitado, o conjunto de eventos históricos – principalmente as tragédias

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que evidenciaram o despreparo até o momento das forças de combate e prevenção a incêndios

- culminaram em uma legislação em constante aprimoramento, e na busca por parte das

corporações pela otimização na execução de suas atividades.

Com relação às legislações atuais e decorrentes do artigo 144 da Nossa Carta Máxima

ao tratar sobre a segurança pública no Brasil, podemos destacar o que preceitua DA SILVA

(2015):

Neste sentido, torna-se relevante esclarecer que a segurança pública está

atrelada, também, à busca constante de proteção à população do fogo, nas

águas, nas vias públicas e quando afetados por problemas de saúde que

oferecem riscos de morte. Assim, pode-se afirmar que ao proteger a vida dos

cidadãos de diferentes formas, o Corpo de Bombeiros atua no sentido de

manter a ordem e a segurança pública de forma geral.

(...)

A atividade fim do órgão é a prevenção e combate aos sinistros, de qualquer

natureza ou emergências que venham ameaçar vidas humanas, patrimônios e

meio ambiente, que não dizem respeito à matéria criminal, porque se

substancia na prevenção e combate aos incêndios, busca e salvamento,

socorros de emergência em caso de acidentes, vistoria técnica de construções

e locais de eventos e, ainda, na execução de ações de defesa civil. Esta gama

de atividades do Corpo de Bombeiros diz respeito, isto sim, à tranquilidade

pública e salubridade pública, ambas integrantes do conceito de ordem

pública.

(...)

Há que se esclarecer que, de forma geral, não cabe aos bombeiros militares

atuar no policiamento ostensivo e preventivo, concentrando-se em atividades

de grande utilidade pública geral, como o controle aos incêndios, busca e

salvamento de indivíduos em locais de difícil acesso, como montanhas, matas,

etc, salvamentos no mar, quando necessário, além de atuarem na defesa civil.

(grifos nossos)

Dissipadas quaisquer dúvidas acerca da clara possibilidade da inserção dos bombeiros

militares como membros efetivos da segurança pública no país por meio de diversos pensadores

que consideram-na bem mais ampla que o mero poder repressivo desempenhado pelas polícias,

é importante informar sim, que o papel desempenhado por tal força estatal tem poder de polícia

e de império perante os cidadãos e ou empresas que estejam desempenhando atividades contra

o regular funcionamento das instituições ou da vida em sociedade, pois claramente uma

atividade de vistoria que resulte em fechamento de estabelecimento destinado ao público em

geral devido a possibilidade de perda de vidas é nítido retrato do poder estatal.

Sobre a atividade de prevenção, relata GOMES (2014) ao tratar sobre o tema:

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Entendemos que para os locais de reunião de público ainda não temos um

controle efetivo das lotações, não fornecemos adequada informação a seus

frequentadores para que eles possam sair em segurança e denunciar abusos,

nem cuidamos adequadamente dos materiais de acabamento. Esses incêndios

apontam para uma medida de proteção contra incêndio essencial para essa

ocupação, que falhou em ambos: o gerenciamento.

4.1 O advento da Lei Kiss

Após a inserção no contexto sobre segurança pública, é importante ressaltar que além

das atribuições constantes das Constituições Federal e Estadual de Goiás e como consequência

da conhecida tragédia de Santa Maria - SC, surgiu a mais recente inovação sobre o tema, é a

Lei n. 13.425 de 2017 com vigor em 30 de setembro deste mesmo ano e popularmente chamada

como “Lei Kiss” que, a nível federal, concedeu aos bombeiros militares a prerrogativa de

estabelecer diretrizes gerais sobre medidas de prevenção e combate a incêndio e a desastres em

estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público.

Entre os importantes preceitos na Lei Kiss cabe destacarmos alguns que serão debatidos

no decorrer deste trabalho:

Art. 2o O planejamento urbano a cargo dos Municípios deverá observar

normas especiais de prevenção e combate a incêndio e a desastres para locais

de grande concentração e circulação de pessoas, editadas pelo poder público

municipal, respeitada a legislação estadual pertinente ao tema.

(...)

§ 3o Desde que se assegure a adoção das medidas necessárias de prevenção e

combate a incêndio e a desastres, ato do prefeito municipal poderá conceder

autorização especial para a realização de eventos que integram o patrimônio

cultural local ou regional.

§ 4o As medidas de prevenção referidas no §3o deste artigo serão analisadas

previamente pelo Corpo de Bombeiros Militar, com a realização de vistoria in

loco.

§ 5o Nos locais onde não houver possibilidade de realização da vistoria

prevista no §4o deste artigo pelo Corpo de Bombeiros Militar, a análise das

medidas de prevenção ficará a cargo da equipe técnica da prefeitura municipal

com treinamento em prevenção e combate a incêndio e emergências, mediante

o convênio referido no §2o do art. 3o desta Lei.

Art. 3o Cabe ao Corpo de Bombeiros Militar planejar, analisar, avaliar,

vistoriar, aprovar e fiscalizar as medidas de prevenção e combate a incêndio e

a desastres em estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público,

sem prejuízo das prerrogativas municipais no controle das edificações e do

uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano e das atribuições dos

profissionais responsáveis pelos respectivos projetos.

§ 1o Inclui-se nas atividades de fiscalização previstas no caput deste artigo a

aplicação de advertência, multa, interdição e embargo, na forma da legislação

estadual pertinente.

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§ 2o Os Municípios que não contarem com unidade do Corpo de Bombeiros

Militar instalada poderão criar e manter serviços de prevenção e combate a

incêndio e atendimento a emergências, mediante convênio com a respectiva

corporação militar estadual.

Art. 4o O processo de aprovação da construção, instalação, reforma, ocupação

ou uso de estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público perante

o poder público municipal, voltado à emissão de alvará de licença ou

autorização, ou documento equivalente, deverá observar:

I - o estabelecido na legislação estadual sobre prevenção e combate a incêndio

e a desastres e nas normas especiais editadas na forma do art. 2o desta Lei;

(...)

V - as exigências fixadas no laudo ou documento similar expedido pelo Corpo

de Bombeiros Militar, por força do disposto no art. 3o desta Lei.

§ 1o Nos Municípios onde não houver possibilidade de realização de vistoria

in loco pelo Corpo de Bombeiros Militar, a emissão do laudo referido no

inciso V do caput deste artigo fica a cargo da equipe técnica da prefeitura

municipal com treinamento em prevenção e combate a incêndio e a

emergências, mediante o convênio referido no § 2o do art. 3o desta Lei.

(...)

Art. 5o O poder público municipal e o Corpo de Bombeiros Militar realizarão

fiscalizações e vistorias periódicas nos estabelecimentos comerciais e de

serviços e nos edifícios residenciais multifamiliares, tendo em vista o controle

da observância das determinações decorrentes dos processos de licenciamento

ou autorização sob sua responsabilidade.

§ 2o Nos locais onde não houver possibilidade de realização de vistoria in

loco pelo Corpo de Bombeiros Militar, a vistoria será realizada apenas pelo

poder público municipal, garantida a participação da equipe técnica da

prefeitura municipal com treinamento em prevenção e combate a incêndio e a

emergências, mediante o convênio referido no § 2o do art. 3o desta Lei.

§ 3o Constatadas irregularidades nas vistorias previstas neste artigo, serão

aplicadas as sanções administrativas cabíveis previstas nas legislações

estadual e municipal, incluindo advertência, multa, interdição, embargo e

outras medidas pertinentes.

§ 4o Constatadas condições de alto risco pelo poder público municipal ou pelo

Corpo de Bombeiros Militar, o estabelecimento ou a edificação serão

imediatamente interditados pelo ente público que fizer a constatação,

assegurando-se, mediante provocação do interessado, a ampla defesa e o

contraditório em processo administrativo posterior. (grifos nossos)

Com a leitura destes itens extraídos do conteúdo da Norma Federal – portanto abaixo

somente da Constituição Federal na hierarquia das normas – especialmente dos trechos

destacados é necessário ressaltar que: o poder de polícia dos bombeiros militares está ratificado

com a previsão da possibilidade de aplicar multas e fechar de estabelecimentos; existe a

possibilidade de atuação de bombeiros municipais naquela localidade em que não há cobertura

dos bombeiros, no entanto somente após realização de convênio (aprovação) com a instituição

militar e a emissão de alvarás só poderá existir se estiver em conformidade com a normatização

estadual e atendimento às exigências fixadas pelos bombeiros estaduais.

São extremamente importantes as informações acima pois a realidade trazida pelos

bombeiros civis confronta diversos temas especificados por esta recente inovação como por

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exemplo a falta de amparo de diversas cidades brasileiras desguarnecidas de Bombeiros

Estatais, sendo este fato o preponderante para o surgimento e desenvolvimento destes

trabalhadores.

Por fim, apesar do fato de ainda não existir bombeiros militares em todas as cidades

brasileiras e de ainda ocorrer erros mesmo com fiscalização qualificada realizada pelos militares

regidos sob o preceito constitucional da Disciplina – o perfeito acatamento às normas – bem

como por um Código Penal Militar rígido, não há que se pensar em repassar o serviço a terceiro

particular como deseja esta nova classe profissional, pois é preocupante, a possibilidade de

corrupção que irá pairar sobre o serviço de caráter público, pago a uma pessoa física/jurídica

para “comprovar” aptidão de quem lhe forneceu uma contrapartida.

4.2 O Conselho Nacional dos Bombeiros Civis

Em diversas partes do mundo, os bombeiros civis são uma realidade que supre a

necessidade de outros bombeiros pagos pelo Estado.

Ocorre que, além da cultura existente nestes locais, os bombeiros civis - em grande parte

municipais – possuem força atrelada tanto ao Estado como a grandes empresas que os subsidiam

como no caso da Alemanha em que todos os municípios possuem Entidades de Bombeiros.

No entanto, é válido informar que mesmo em países desenvolvidos como nos Estados

Unidos outrora descrito, o serviço unicamente realizado por bombeiros voluntários falhou por

sua falta de preparo e dedicação exclusiva.

A realidade dos Bombeiros Civis no Brasil é inegável e CRUZ (2009) destaca que os

bombeiros civis subdividem-se em:

a) voluntários: que são aqueles que se reúnem e formam uma associação para este fim

com apoio da prefeitura e demais entidades da sociedade civil;

b) municipais: que são semelhantes no entanto são empregados diretamente pela

prefeitura; e

c) mistos: decorrentes de uma variação do Corpo de Bombeiros Municipal e Militar no

qual os primeiros são Civis que são os trabalhadores autônomos ou a serviço de uma

empresa pública ou privada, e são comandados por uma pequena quantidade de

militares.

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Ocorre que o escritor supracitado, atual presidente do Conselho Nacional dos

Bombeiros Civis – CNBC - que é a entidade com maior poder de lobby no Congresso Nacional,

convencimento e agregação destes profissionais no país, tem em seu entendimento atual em

CONSELHO NACIONAL DOS BOMBEIROS CIVIS (2017) de que não há que se pensar em

submissão de uma profissão ao crivo de uma entidade militar o que remeteria à ditadura pois,

citando a Constituição Federal em seu artigo 5°, XIII “é livre o exercício de qualquer trabalho,

ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.

Segundo este estudioso a lei a que se refere é a Lei Federal número 11.901 (BRASIL,

2009) que regulamentou a profissão dos Bombeiros Civis no Brasil citando também que a

definição da atribuição destes profissionais é fornecida pelo Ministério do Trabalho na

Classificação Brasileiro de Ocupações (2010) sendo este o órgão responsável pela sua

fiscalização:

Previnem situações de risco e executam salvamentos terrestres, aquáticos e

em altura, protegendo pessoas e patrimônios de incêndios, explosões,

vazamentos, afogamentos ou qualquer outra situação de emergência, com o

objetivo de salvar e resgatar vidas, prestam primeiros socorros, verificando o

estado da vítima para realizar o procedimento adequado; realizam cursos e

campanhas educativas, formando e treinando equipes, brigadas e corpo

voluntário de emergência.

Ainda com relação a esta Lei, há de se destacar que o artigo 2° (BRASIL, 2009) prevê

que no atendimento a sinistros que atuarem juntos os Bombeiros Civis e o Corpo de Bombeiros

Militar, a coordenação e a direção daquelas ações cabe exclusivamente e em todas as hipóteses

aos últimos; como também o que prescreve o artigo 9° desta mesma norma:

Será obrigatório curso específico voltado para a prevenção e combate a

incêndio para os oficiais e praças integrantes dos setores técnicos e de

fiscalização dos Corpos de Bombeiros Militares, em conformidade com seus

postos e graduações e os cargos a serem desempenhados.

Acerca dos artigos supramencionados, BRANDÃO (2015) atual vice-presidente da

CNBC ao comentar cada artigo da Lei Federal, demonstra o entendimento de que o artigo 2°

só se refere aos sinistros em que os bombeiros civis atuem “em conjunto”, ou seja, caso atuem

em conjunto com os militares o que não significaria que “o bombeiro civil não possa exercer a

sua atividade profissional, ou que deve ser credenciado ou fiscalizado por Corporação Militar”.

Com relação ao artigo 9°, a mesma autora aponta que está explícito que tais empresas e

entidades poderão facultativamente firmar convênios o que, em seu entendimento, “não

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significa que devem ser credenciadas ou fiscalizadas por Corporação Militar” o que claramente

está alinhado ao entendimento do Presidente da associação da classe demonstrado acima.

Também neste diapasão, o CNBC destaca que a denominação Bombeiro Civil está

incorreta devendo ser tratada somente como Bombeiro pois o adjetivo “civil” está atrelado a

toda e qualquer profissão regulamentada pelo Ministério do Trabalho sendo a denominação

“militar” o que determinaria a diferenciação entre classes. Para tanto, destaca também que a

Norma Brasileira de Regulamentação - NBR 14608 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

NORMAS TÉCNICAS, 2000) indica que bombeiros são todos aqueles profissionais que

laboram em atendimento a emergências na proteção da vida, de bens e do meio ambiente e os

bombeiros “públicos”, sejam eles militares ou não, são aqueles pertencentes a uma organização

estatal de atendimentos a emergências.

No entanto, inicialmente vale informar que GOMES (2014) ensina que as NBRs

emitidas pela ABNT tem caráter somente informativo pois “a norma técnica é um documento,

estabelecido por consenso e aprovado por um organismo reconhecido, que fornece, para um

uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou características para atividades ou seus resultados,

visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto.” o que demonstra

que esta organização tem poder somente indicativo e não obrigatório ao contrário de uma norma

emitida pelo Poder Público, sendo norma todos os regulamentos emanados pelo Poder Público,

sejam eles leis federais, estaduais, municipais, decretos, resoluções, a própria Carta Magna, etc.

É então incontroverso a imposição do prescrito da Lei Federal 13.425 de 2017 já

disposta em seus artigos mais importantes que confirmaram tanto o poder de polícia exclusivo

aos estatais bem como pela possibilidade de existência de um corpo municipal desde que sob

firmamento de convênio com os mesmo, demonstrando portanto corroborado o entendimento

do STF da 4° Região também já descrito que permitia a inspeção dos Bombeiros Militares face

aos Conselhos Regionais de Engenharia e Arquitetura.

Vale também informar portanto que as Normas Técnicas emitidas pelo Corpo de

Bombeiros tem também valor de normas portanto válidas plenamente válidas para delimitar a

atuação dos bombeiros civis neste Estado, como destacam-se no estado de Goiás as NTs 16 e

17.

Por fim, vale demonstrar que no sítio oficial desta organização – portalcnbc.org.br - que

está cadastrada no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas como Associação com o nome

fantasia como Conselho em sua seção “Campanha” fornece um modelo de projeto de lei

municipal que dá poder aos bombeiros civis de realizar perícias, dentre outros e vincula a

aprovação destas ao preenchimento de “Normativas Nacionais” emanadas pela associação, o

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que claramente também afronta o disposto nos artigos da Lei Federal supra que destina tal

serviço aos militares estando desde logo desqualificadas.

A instituição tenta também, através de Código de Ética (2013, p. 14), impor sanções aos

bombeiros civis bem como às instituições de ensino que descumprirem diversos deveres

impostos, sanções como: advertência, multa, suspensão e cassação do registro. Ora, o próprio

“Conselho” afirma que é livre o exercício do ofício e ao mesmo tempo pune com a suspensão

e cassação do registro? Ou como no caso da fiscalização dos cursos – ao qual defendem ser de

responsabilidade do Ministério da Educação – existe previsão de fechamento se não se adequar

às normas emitidas também por esta associação? Neste aspecto, existe uma contradição.

Estas situações acima fizeram com que o Ministério Público Federal se manifestasse

contra as atitudes de seus membros e, ocasionou a assinatura do Termo de Ajuste de Conduta -

TAC 799 (BRASIL, 2017) firmado entre o presidente do CNBC e o órgão de defesa da

população sob pena de multa de R$ 10.000,00 por infração. Neste caso, também chegou ao

conhecimento do MP que esta mesma empresa vem induzindo ao erro os bombeiros civis de

que existe obrigatoriedade de filiação para o exercício da profissão, disseminando informações

de que os profissionais não credenciados são proibidos de atuar no mercado de trabalho o que

fazia com que empresas contratantes exigissem as “carteirinhas” profissionais desta.

Neste TAC, o presidente da CNBC se compromete junto ao MP e com base no princípio

constitucional da liberdade de associação sindical, que deve ser esclarecido a todos que a

filiação é voluntária, que deverá constar na razão social no Cadastro Nacional de Pessoa

Jurídica a expressão “autorregulamentação” – só pode regular a si mesmo e não a toda uma

categoria – bem como retirar expressões como “República Federativa do Brasil” e “válido em

todo o território nacional” de suas carteiras dos associados e, por fim, retirar de seu site qualquer

citação que possa confundir o cidadão fazendo imaginar que a empresa se trata de órgão estatal

de fiscalização ficando sujeito ao pagamento de multa por cada infração pois claramente não se

trata de entidade de fiscalização como por exemplo o CREA que é uma autarquia e

portanto entidade de direito público, com autonomia econômica, técnica e administrativa,

fiscalizada e tutelada pelo Estado que e constitui órgão auxiliar de seus serviços, deixando então

demonstrado que a legitimidade desta empresa em representar toda a classe está caduca.

4.3 Estudos no âmbito do CBMGO

A existência dos bombeiros civis no Brasil está clara como se depreende do que

fora visto até o momento, motivo pelo qual o CBMGO buscou estudos para análise da possível

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inserção destes trabalhadores em seu contexto tendo em vista experiências já realizadas em

outros estados.

O Comando Geral do CBMGO nomeou uma Comissão para realizar tal estudo,

composta por três oficiais, que empreenderam viagem ao Estado de São Paulo para observar a

prática implementada pelos bombeiros militares estaduais daquele local, qual seja, um sistema

de integração bombeiro público militar mediante convênio, no qual coexiste a atuação dos

bombeiros militares estaduais com os bombeiros públicos municipais, visando a expansão do

serviço prestado por aquela corporação, destacando que esta prática estava a frente de seu tempo

pois a Lei Kiss trata expressamente deste assunto.

A referida comissão realizou visita à sede do Comando do Corpo de Bombeiros da

Polícia Militar do Estado de São Paulo e às Unidades de Bombeiros localizadas nos municípios

de Boituva, Tietê, Araraquara, Matão e Orlândia, em que ocorre o sistema de integração, e após

análise, foi produzido um relatório, cujo diagnóstico, além do aumento do efetivo, pontuou os

seguintes aspectos:

6.2. Falta de uniformidade quanto ao salário a ser pago aos bombeiros públicos

municipais.

6.3. Falta de padronização quanto ao uniforme adotado para os bombeiros

públicos municipais.

6.4. Falta de uniformidade quanto a escalas e horários relativos à prontidão

dos bombeiros públicos municipais.

6.5. Promoção de inúmeras ações trabalhistas em desfavor dos municípios.

6.6. Falta de equipamentos de proteção individual para os bombeiros públicos

municipais, gerando sentimento de inferiorização destes em relação aos

bombeiros públicos militares.

6.7. Falta de código disciplinar que regule a conduta dos bombeiros públicos

municipais, ou ineficiência do ente municipal na aplicação de sanções, quando

o município dispõe de norma sancionadora.

6.8. Impossibilidade de atendimento de ocorrências por bombeiros públicos

municipais em município distinto daquele com o qual mantém vínculo

empregatício.

6.10. Impossibilidade de realização de cursos de especialização na Corporação

Militar em virtude de insegurança quanto à situação jurídica dos bombeiros

públicos municipais

6.11. Falta de uma carreira específica para os bombeiros públicos municipais,

o que leva à desmotivação daqueles profissionais e, consequentemente, à

evasão.

6.12. Falta de padronização quanto à possibilidade de condução de viaturas do

Estado pelos bombeiros públicos municipais em virtude de insegurança

quanto à situação jurídica dos bombeiros públicos municipais.

6.14. Possibilidade de greve pelos bombeiros públicos municipais,

comprometendo o funcionamento das unidades.

6.15. Possibilidade de ingerências do Prefeito Municipal no trabalho

desenvolvido pela Corporação Militar.

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Assim, é clarividente - tanto para o CBMGO como para diversas outras corporações

que buscam alternativas para a expansão de suas atividades no país - que a existência dos

bombeiros mistos já é uma realidade que, como no caso observado, ainda carece de

determinados ajustes para que se torne completamente efetiva e execute com uma maior

eficiência a prestação do serviço à comunidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após ter sido durante muito tempo, se não a única, mas a mais importante instituição

destinada ao combate e prevenção de incêndios no país, os Corpos de Bombeiros Militares do

Brasil vem dividindo o espaço com os bombeiros civis desde 2009 com o advento da Lei

Federal que regulamentou a profissão, sendo portanto natural que existam dúvidas quanto à

efetividade ou mesmo necessidade de outra organização para a prevenção a incêndio, por

exemplo.

Esta pesquisa não buscou demonstrar que a existência dessa nova classe de bombeiros

deve ser extinta ou relegada, questionando a legislação efetivada até o momento. Também não

foi objetivo da pesquisa rever toda a legislação referente a ambas as classes tendo em vista que

a recente Lei Federal “Kiss” demonstrou a efetiva e inegável competência da corporação

integrante da segurança pública em exercer o poder de polícia.

Trata-se de um estudo inicial que procurou, de forma sucinta, analisar o histórico,

evolução e situação atual dos bombeiros civis e militares, analisando a legislação mais recente

sobre suas atividades. Logo o que verificou-se foi que o surgimento desta se deu por uma

ausência da prestação do serviço estatal – como em diversas outras áreas – cuja ampliação deste

serviço está em curso com o auxílio desta nova força celetista, com a criação de bombeiros

mistos em diversas localidades, o que permitirá um avanço na prestação do serviço (observados

os aspectos diagnósticos descritos no relatório de estudo feito pelo CBMGO), dando efetividade

à legislação Federal recém-criada.

Buscou-se, portanto, estudar sobre uma categoria de profissionais ainda não totalmente

entendida, depreendendo que com o aval e treinamento especializado dos bombeiros estatais,

para melhoria nas ações junto à comunidade. Foram analisados diversos estudos para

compilação em um material específico que possibilitasse a compreensão e atualização sobre o

assunto e para servir de subsídio adicional para o CBMGO sendo apresentada de forma objetiva,

restando ao leitor decidir sobre sua importância em futuro de médio prazo.

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REFERÊNCIAS

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14276: Brigada de

incêndio – requisitos. Rio de Janeiro, 2006.

______._______. NBR 14608: Bombeiro Profissional Civil. Rio de Janeiro, 2000.

BRANDÃO, Leila. Bombeiro Civil e sua Legislação. Brasília, 2015. Disponível em <

http://leilabrandao.com.br/v1/index.php/artigos/2-uncategorised/4-bombeiro-civil-e-sua-

legislacao> Acesso em: 22 out. 2017.

BRASIL. Classificação Brasileira de Ocupações: CBO – 2010 – 3. ed. Brasília: MTE, SPPE,

2010.

______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

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