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1 transformar DA MORTE DO PADRE ABEL VARZIM COMEMORAÇÕES DOS 50 ANOS CONFERÊNCIA NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA UM HOMEM SÉRIO CONHECER O ARQUITECTO JOÃO SOUSA ARAÚJO MUNDO, LUGAR POUCO RECOMENDÁVEL JOSÉ JORGE LETRIA PROCISSÃO DOS PASSOS www.forumavarzim.org.pt TR SFORMAR Revista dos Associados e Amigos do Forum Abel Varzim Desenvolvimento e Solidariedade JULHO 2014 50 EDIÇÃO

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DA MORTE DO PADRE ABEL VARZIM

COMEMORAÇÕES DOS

50 ANOS CONFERÊNCIA NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

UM HOMEM SÉRIO

CONHECER O ARQUITECTO JOÃO SOUSA ARAÚJO

MUNDO, LUGAR POUCO RECOMENDÁVEL JOSÉ JORGE LETRIA

PROCISSÃO DOS PASSOS

www.forumavarzim.org.pt

TR SFORMARRevista dos Associados e Amigos do Forum Abel Varzim Desenvolvimento e Solidariedade

JULHO 201450

ED

IÇÃ

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COLABORADORES :António SoaresAntónio Leite GarciaCristina MonteiroArtur LemosJosé Carmo Francisco

Design: nelsongarcez © [email protected]

Fotografia : Miguel Cardoso pag 16

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editorial

50 Esta edição do «Transformar» é o número

cinquenta. Por feliz coincidência este número

coincide com os 50 anos da morte do Padre

Abel Varzim que este ano estamos a comemorar, com um conjunto

de iniciativas que visam recordar a acção, a vida e o pensamento

daquele que muitos consideram um «Santo». Por esta razão, a

presente edição dedica muitas páginas a esta efeméride e inclui

um encarte de quatro páginas.

Um primeiro artigo, consiste numa reportagem alargada da sessão

que ocorreu na Assembleia da República, dedicada ao pensamento

e obra do Padre Abel Varzim, e em que estiveram como oradores,

o Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, o Prof Doutor Diogo

Freitas do Amaral, e Dr. Guilherme de Oliveira Martins, actual

Presidente do Tribunal de Contas. As intervenções completas

destes ilustres oradores estarão, brevemente, disponíveis no site

do Forum Abel Varzim.

Um outro artigo, para o qual se chama a atenção dos leitores, é a

entrevista ao Arquitecto João José de Sousa Araújo, reconhecido

como um artista de grande qualidade no domínio da arte sacra, na

casa do qual o Padre Abel Varzim viveu durante quatro anos. Na

última página dá-se nota da 3ª edição da «Procissão dos Passos»,

livro que retrata a vivência do Padre Abel Varzim junto do mundo

da prostituição, no Bairro Alto, enquanto Pároco da Igreja da

Encarnação

Outros artigos publicados, justificam a leitura deste número 50 do

transformar, a saber: Maior responsabilidade para Escolas, Encontro

com um homem bom e o Mundo lugar pouco recomendável. Este

último cedido pelo Jornal de Sintra com a autorização do seu autor:

José Jorge Letria.

A Direcção

CONTACTOS: Forum Abel Varzim

Desenvolvimento e Solidariedade

Apartado 2016 - 1101-001 LISBOA

Rua Damasceno Monteiro nº1, r/c

1170 – 108 LISBOA

Telef. 218 861 901

[email protected]

50ESTE NÚMERO COINCIDE COM OS 50 ANOS DA MORTE DO PADRE ABEL VARZIM QUE ESTE ANO ESTAMOS A COMEMORAR, COM UM CONJUNTO DE INICIATIVAS QUE VISAM RECORDAR A ACÇÃO, A VIDA E O PENSAMENTO DAQUELE QUE MUITOS CONSIDERAM UM «SANTO»

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A deputada Maria da Conceição Pereira começou por manifestar a honra e o privilégio que sentia em estar nesta conferência, tendo enaltecido a figura do Padre Abel Varzim como uma das grandes figuras do catolicismo do Século XX e referia a dada altura: «Preocupou-se o Pe. Abel Varzim, contra os puritanos da época, contra esta problemática, nomeadamente contra a prostituição feminina, procurando encontrar caminho para uma promoção humana e digna de reinserção social.

Também, mostrou séria preocupação com o mundo laboral, sendo um dos grandes impulsionadores do movimento operário católico, o que lhe provocou imensos dissabores por parte dos governantes à época.

Foi deputado nesta casa, sendo uma voz livre e crítica ao Estado Novo o que levou à sua saída de forma mais rápida, mas cuja semente ficou»

O Engenheiro António Leite Garcia, em representação do Forum, deu as boas vindas e agradeceu a presença dos oradores e participantes e sintetizou o objectivo do evento: «Nesta casa, que ele frequentou como deputado à então Assembleia Nacional, queremos recordá-lo principalmente como homem político» Teceu depois algumas considerações sobre a situação mundial e a crise que se vive na Europa e em Portugal e a importância e responsabilidade dos políticos. Ser político exige talento e generosidade», disse.

Quase a terminar a sua intervenção, Leite Garcia referiu-se ao Padre Abel Varzim: «Dedicado à construção de uma sociedade mais justa e feliz, reconheceu a importância da ação política, e não se recusou a servir os seus irmãos nesta área, em contextos tão ou mais difíceis dos que os atuais.»

HOMENAGEM AO PADRE ABEL VARZIM

No âmbito das comemorações do cinquentenário da morte do Padre Abel Varzim, decorreu no passado dia 20 de Maio uma conferência, seguida de debate, no auditório do edifício novo da Assembleia da Republica, subordinado ao tema «Pensamento e acção política do Padre Abel Varzim. A sessão foi presidida pela deputada Maria da Conceição Pereira, presidente do Grupo de Trabalho para a Cultura, em representação da Senhora Presidente da Assembleia da República. Usaram da palavra, além de Leite Garcia, em representação do Forum Abel Varzim, o Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, o Prof. Doutor Freitas do Amaral e o Dr. Guilherme de Oliveira Martins. No final teve lugar um debate.

PENSAMENTO E ACÇÃO POLÍTICA

SESSÃO DE ABERTURA

20 DE MAIO 2014 ASSEMBLEIA DA REPUBLICA

PÁGINA 3

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...ERA UMA ALMA GRANDE E QUE SABIA COMPREENDER A SI PRÓPRIO E À SOCIEDADE PORTUGUESA, MAS TAMBÉM COMPREENDER OS OUTROS E AS POSIÇÕES DOS OUTROS SEM NUNCA PERDER A CHAVE EVANGÉLICA.”

INTERVENÇÃO DE D. MANUEL CLEMENTE

Prosseguindo a sua intervenção, D. Manuel referiu algumas balizas do que foi o percurso do Padre Abel Varzim, desde o seu nascimento em Cristelo (perto de Barcelos), em 1902, passando pelo seminário de Braga e da sua ordenação como sacerdote. Falou também da sua deslocação para a Diocese de Beja, em 1925, para ajudar a criação do Seminário Menor. Aqui ele funda o escutismo católico na Diocese e toma conhecimento de uma realidade socioeconómica, bem diferente do seu Minho.

Continuando a narração, o Patriarca, recorda: «Nos anos 30 o Pe. Abel Varzim vai conhecer uma realidade diferente, que é a Universidade de Lovaina, que é uma escola de estudos sociais. Aqui ele vai aplicar-se com afinco ligando essas experiências que já tinha, quer no Minho quer no Alentejo, à reflexão e ao estudo de uma escola que era pioneira concretamente na

investigação social à luz da já assim chamada Doutrina Social da Igreja, sobretudo de dois documentos base: a Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII sobre a situação dos operários, de 15 de maio de 1891, e uma Encíclica Quadragésimo Anno que vai ser fundadora dos seus estudos na Bélgica, de 1931, do Papa Pio XII. Estes documentos referidos são documentos de longo curso, na reflexão e na referência do Pe. Abel Varzim, e mesmo dos seus escritos no Jornal «O TRABALHADOR».

«Em 1934 o Pe. Abel Varzim regressa de Lovaina e é-lhe cometida a função de Assistente da Acção Católica, concretamente a LOC. Em Lovaina, ele tinha tido conhecido essa grande figura do jocismo que foi o Padre Cardijn. E por isso está na origem do Movimento Operário Católico».

O Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, iniciou a sua intervenção salientando a importância de eventos como este, de invocação de figuras do passado que se distinguiram. «Todos sabemos – disse - que a memória quando é correcta acaba por ser um bom alicerce de um futuro que seja também correcto. E por isso retomar a memória do Pe. Abel Varzim é também retomar o que foi o Catolicismo Português no Século XIX e no século XX, concretamente nas décadas que foram as do Pe. Abel Varzim, que era uma alma grande e que sabia compreender a si próprio e à sociedade portuguesa, mas também compreender os outros e as posições dos outros sem nunca perder a chave evangélica.»

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Em Lisboa, na segunda metade dos anos 30, o Padre Abel Varzim torna-se Deputado da Assembleia Nacional, (II Legislatura). D. Manuel Clemente justifica este facto porque o Padre Abel Varzim era capelão na casa da família do Dr. Josué Trocado (que ele conhecia da Póvoa do Varzim) e em casa de quem o Dr. Oliveira Salazar ia à missa ao domingo. Provavelmente, após a Missa, existiram conversas entre os dois que andariam à volta das ideias de Corporativismo que para o Padre Abel Varzim era a abertura à Doutrina Social da Igreja. D. Manuel Clemente refere a ideia de Corporativismo do Padre Abel Varzim «não era exactamente a ideia do Dr. Oliveira Salazar, ou pelo menos aquilo que ele depois organizou em termos de trabalho nacional e organização do trabalho» E prossegue: «E o conflito vai surgir na Assembleia Nacional. Para isso, basta ler a sua intervenção em 16 de janeiro de 1939 - o Aviso-Prévio. Ele diz o seguinte: «Pretendo tratar em aviso-prévio, certos aspectos da organização sindical corporativa, pelas seguintes razões:

1.º Existe da parte de muitas entidades patronais uma guerra muitas vezes vitoriosa contra a organização e existência dos Sindicatos Nacionais;

2.º Porque o desenvolvimento da organização sindical tem sido impedido por falta de protecção legal, e ainda por falta de execução de medidas legais já existentes;

3.º Porque este estado de coisas tem acontecido muitas vezes à execução arbitrária dos contractos singulares ou colectivos de trabalho, com grave prejuízo dos direitos já legalmente reconhecidos aos operários.» No Aviso-Prévio, que depois o explana na própria Assembleia Nacional, na “Ordem do Dia” em 17 de fevereiro de 1939, esclarece: «seria ainda necessário rever a Legislação que regulamenta os Sindicatos Nacionais. Desde que elas possam estar em juízo para defender os seus operários, desde que possam, em nome dos operários, tratar com os patrões em pé de igualdade, nessa altura desaparecerão quase todas as razões de queixa.»

Mas esta liberdade de organização sindical que estava prevista na proposta social da Igreja, desde a Rerum Novarum e reforçada na Quadragesimo Anno, nunca se efectivou, nem parcialmente no Regime que vigorou até 1974, em Portugal. «Podem efectivamente os operários organizar-se autonomamente? «Este ponto é central» - referiu o Patriarca – «porque é aqui que começam as desavenças do Pe. Abel Varzim com o Regime.»

Nos anos 30, com a ligação do Padre Abel Varzim à Liga Operária Católica e ao jornal «O TRABALHADOR», os seus editoriais, assinados ou não, aceleram as divergências com o regime. No ano de 1945 a hostilidade do regime, concretamente da Subsecretaria das Corporações e Previdência Social, e em relação ao jornal «O

TRABALHADOR» cresce acentuadamente. E o Padre Abel Varzim era acusado de estar a ser parcial, e embandeirar os inimigos da Igreja. «Esse tipo de protesto cresce ao longo dos anos 40 e em 47/48 torna-se insuportável.» - sintetiza D. Manuel Clemente, que acrescenta: «a pressão junto do Episcopado, em particular de uma figura que acompanhou muito de perto, em termos de amizade e até ao fim o Pe. Abel Varzim – estou a falar do Patriarca de Lisboa Cardeal Cerejeira – era muito grande.»

A este propósito, o orador leu uma anotação do Diário de o Padre Abel Varzim de Abril de 1948:

«O senhor Cardeal (Cerejeira) disse-me há dias que tinha dois caminhos a seguir: cobrir-me e sofrer as consequências da má vontade do Estado» (Esta má vontade do Estado tinha dois destinos especiais, um era em relação à Acção Católica o outro ao Instituto de Serviço Social) ou o guardar como reserva da Igreja. Esta situação não pode durar muito, e nós não temos ninguém a não ser o Pe. Varzim, com prestígio suficiente para desfraldar, depois

da queda disto, (isto é o Regime) uma bandeira e pediu-me para me manter como reserva da Igreja.»..., «vamos tirá-lo desta frente que o senhor não vai aguentar, porque nós precisamos de si quando isto mudar - isto está por pouco – para relançar o movimento católico em Portugal.»

O Pe. Abel Varzim continua aqui por Lisboa, passará cinco anos na Paróquia da Encarnação e faz um trabalho notável, porque ele transportava para onde fosse aquilo que ele era, uma sensibilidade social a toda a prova e a todas as balas que viessem dum lado ou de outro. «E esses anos que ele passa na paróquia da Encarnação e o olhar que ele fixa na problemática da prostituição do Bairro Alto, o trabalho que ele fez com essas mulheres vitimadas pela prostituição, pelas suas redes, o trabalho que ele fez até de recuperação de todas as que pode recuperar com a casa que criou na Quinta do Bosque, na Amadora, com muitas colaborações de católicos».

Quase a concluir, D. Manuel Clemente comenta: «O trabalho desenvolvido pelo Pe. Abel Varzim esgotaria qualquer um, mas mesmo assim, quando volta para a sua terra, Cristelo, até ao fim, não para. Ajudou a criar uma cooperativa local, mais uma casa para regeneração no Porto, ainda vai assinar uma carta com outros quarenta, dirigida ao Dr. Salazar que traz uns bons amargos de boca. Exausto, no fim de uma vida pleníssima. Esta figura que tão brevemente invoquei é uma figura essencial e até crucial, com todos os sentidos que este adjectivo pode ter, no Catolicismo Português e na sua relação com a sociedade portuguesa do século passado.»

“O TRABALHO DESENVOLVIDO PELO PADRE. ABEL VARZIM ESGOTARIA

QUALQUER UM, MAS MESMO ASSIM, QUANDO VOLTA PARA A SUA TERRA, CRISTELO, ATÉ AO FIM, NÃO PARA.”

...«PODEM EFECTIVAMENTE

OS OPERÁRIOS ORGANIZAR-SE

AUTONOMAMENTE ? (...) «PORQUE

É AQUI QUE COMEÇAM AS

DESAVENÇAS DO PE. ABEL VARZIM

COM O REGIME.»

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Após esta introdução, Freitas do Amaral fez uma leitura da evolução do Pensamento Social Europeu, do

século passado aos nossos dias. Esta leitura ajudou a perceber o contexto da acção do Padre Abel Varzim e a importância que o seu pensamento pode ter nos dias de hoje.

Segundo aquele Professor: «Entre as duas guerras, na primeira metade do Século XX, em vinte e tal países Europeus (sem contar com a Rússia), só sete ou oito é que se mantiveram democráticos: Inglaterra, Irlanda, Holanda e os Países Nórdicos, todos os outros: Portugal, França, Espanha, Itália, Alemanha, Áustria, e países do que viria ser depois a Jugoslávia, mais os países Bálticos, uns católicos outros Protestantes, mas todos conheceram a Ditadura nacionalista, com ou sem invocação da religião».

Hoje, todos os países da Europa vivem em democracia e até a Europa do Leste, com a queda do muro de Berlim se torna democrática.

«O que se passou a seguir à Guerra na Europa - segundo Freitas do Amaral - foi uma

aliança estratégica, eu diria um compromisso histórico, entre o socialismo democrático e a democracia cristã, para construir não apenas a unidade Europeia, mas também os projectos democráticos na generalidade dos países europeus, no chamado Modelo Social Europeu. Nestes projectos de unidade europeia foi predominante a acção de políticos e governantes democratas-cristãos com Maurice Schumann, ministro francês do Negócios Estrangeiros, Konrad Adenauer Chanceler Alemão e Alcide De Gasperi Primeiro Ministro Italiano. No modelo social europeu nada foi possível sem a colaboração intensa entre Democracia Cristã e Socialismo Democrático».

O modelo social europeu foi construído e consolidado a seguir à Guerra e em grande parte para tentar acorrer às ruínas, que não eram apenas físicas, eram económicas, eram sociais e eram humanas, provocadas por esse conflito que ia destruindo a Europa.

E lembra: «de 1945 até ao princípio da década de 80, tudo corre pelo melhor, do ponto de vista de quem entendia, como eu entendo, que era preciso conciliar a

democracia política com a democracia económica e social, ou seja, com a justiça social.»

Eis senão quando, da Áustria e dos Estados Unidos aparecem vozes neo-liberais, dois economistas, prémios Nobel: Friedrich Hayek austríaco, depois naturalizado inglês, e Milton Friedman, norte-americano que começam a atacar ferozmente o modelo social europeu em nome de um Capitalismo neoliberal. Segundo Freitas do Amaral: «aquilo que doutrina neo-liberal defende, é destruir pouco a pouco, gradualmente, o “Estado Social Europeu.» E explicita: «Friedrich Hayek permitiu-se dizer uma coisa que me parece profundamente falsa e até um processo de intenção calunioso, que foi, dizer que a Doutrina Social da Igreja tal como foi formulada pelos Papas e tal como foi expandida por toda a Europa e até pelo resto do Mundo, não era mais – isto disse Hayek por escrito – do que o resultado dos Papas e os Bispos Católicos terem deixado de acreditar no Paraíso Celeste e terem procurado rapidamente construir o Paraíso na Terra. Isto é uma calúnia pura e simples».

INTERVENÇÃO DO PROFESSOR FREITAS DO AMARAL

Depois de cumprimentar os presentes o Prof. Diogo Freitas do Amaral, começou por referir as razões da sua presença: Assume-se como católico e adepto da Doutrina Social da Igreja e teve a honra de ter sido baptizado pelo Padre Abel Varzim. «Ele quando me baptizou tinha 39 anos e morreu no ano em que entrei para a Universidade» - conta o Professor – e acrescenta: «Eu era um aluno do liceu, e não era suposto que os jovens do liceu tivessem nessa altura conversas dessas, com pessoas desta categoria. Mas sempre ouvi falar dele, em casa dos meus avós, em casa dos meus pais, com muita admiração, com muita amizade e com muito carinho, e até com preocupação, nos anos em que muito deprimido teve de se recolher lá em cima, na sua terra em Cristelo».

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...NÓS ESTAMOS A VIVER DESDE OS ANOS 80/90 UM RETROCESSO HISTÓRICO. ESTAMOS A ANDAR PARA TRÁS. E A DESTRUIR AOS POUCOS, POR VEZES CONFESSADAMENTE, POR VEZES INCONFESSADAMENTE, O MODELO SOCIAL EUROPEU.

Para HayeK o Estado devia intervir menos na sociedade. Não devia ser preocupação do Estado a Justiça Social. Esta é uma contradição nos próprios termos, porque ou a Justiça é a conformidade com a Lei, ou não é Justiça. Justiça Social não é mais que um conjunto de votos pios que não são justiça e que, quando muito, poderão ser caridade individual, mas não social.

Freitas do Amaral mostrou a sua perplexidade com a situação actual. Refere o Professor:

«Desde a Encíclica Rerum Novarum, em 1891, até ao final de II Guerra Mundial, criaram-se partidos, criaram-se movimentos, movimento Republicano Popular que foi a Democracia Cristã Francesa. Portanto houve um avanço no mundo sindical, no mundo operário, mas também no mundo político e nas políticas económico sociais dos governos. Houve um avanço significativo, em termos históricos, relativamente ao que era o Capitalismo Liberal do século XIX, onde não havia legislação de trabalho, onde não havia direito a férias, onde as mulheres e as crianças não tinham protecção, onde não havia Serviço Nacional de Saúde, onde não havia educação gratuita, onde não havia Segurança Social. A partir dos anos 80 vem a chamada era Reagan/Thatcher que fizeram suas, as ideias de Hayek e de Friedman. A verdade é que Reagan e Thatcher estiveram no poder respectivamente 8 e 10 anos e que exerceram muita influência não só nos seus países, mas no Mundo, iniciaram o ataque ao modelo Social Europeu, à luz de princípios neo-liberais. E conseguiram, infiltrar-se poderosamente em grandes

organismos internacionais, nomeadamente o FMI e o Banco Mundial. Quando o FMI aparece em qualquer país para ajudar, já se sabe que ajuda sim, por vezes com muito dinheiro, é certo, mas sempre dentro da ideologia neoliberal. Não conhece outra, não aceita outra, não discute outra.

Nós estamos a viver desde os anos 80/90 um retrocesso histórico. Estamos a andar para trás. E a destruir aos poucos, por vezes confessadamente, por vezes inconfessadamente, o Modelo Social Europeu. Nós estamos a desinvestir na Educação, estamos a desinvestir na Saúde, estamos a tentar privatizar a Segurança Social, estamos a reduzir o numero das pessoas desempregadas que têm direito ao subsídio de desemprego quando mais precisavam dele, estamos a reduzir a metade o Rendimento Mínimo Garantido, estamos a cortar nos passes nos transportes colectivos, estamos a dificultar os programas de habitação social, deixamos aumentar subitamente as rendas da habitação E tudo isto, embora invocando sempre as necessidades de repor o equilíbrio das Contas Públicas, ou de corrigir o Défice das com o Exterior. Na verdade as medidas vão todas no mesmo sentido».

E quase a terminar a sua alocução, o Prof. Freitas do Amaral coloca algumas perguntas à assistência: «Há partidos Democratas-cristãos suficientemente convencidos da mensagem evangélica, como foi o Pe. Abel Varzim? Não os vejo, viraram todos à Direita. Há Partidos Social-democratas ou Socialistas para fazer frente sozinhas a esta ofensiva? Duvido. Há movimentos

de cidadãos, movimentos católicos, sejam eles universitários, agrários, industriais, independentes, operários, dinâmicos para fazer face a esta ofensiva mundial?? Duvido. Muitas coisas vão ter que mudar para que esta ofensiva não triunfe, e para que possamos assistir, pelo menos os mais novos, ao renascimento do fervor social que animou as décadas de 45/80 sob a base da aliança entre democratas-cristãos e sociais-democratas. Qual é a solução»

A minha esperança como cidadão, como ex-político, como católico, é de que pelo menos a influência da Rerum Novarum, Quadragesimo Anno, Vaticano II, Papa João Paulo II, possam atingir o seu alvo com o Papa Francisco, e ajudar-nos a dar uma grande volta, porque senão o retrocesso histórico será muito maior e pode levar mais de um século a derrotar. Mas eu, como sou católico, tenho Esperança e tenho Fé».

...ESTA É UMA CONTRADIÇÃO NOS PRÓPRIOS TERMOS, PORQUE OU A JUSTIÇA É A CONFORMIDADE COM A LEI, OU NÃO É JUSTIÇA.

JUSTIÇA SOCIAL NÃO É MAIS QUE UM CONJUNTO DE VOTOS PIOS QUE NÃO SÃO JUSTIÇA E QUE, QUANDO MUITO, PODERÃO SER CARIDADE

INDIVIDUAL, MAS NÃO SOCIAL.

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INTERVENÇÃO DE GUILHERME DE OLIVEIRA MARTINS

Jornal «O Trabalhador» - 15 de agosto de 1937:

… «E, se as riquezas foram acumuladas à custa do esforço alheio (insuficientemente remunerado) … é um dever de justiça, como é o de restituir os bens que se adquiriram pela violência, pela fraude ou pelo roubo.

Não queríamos também dizer que o Estado como guarda e zelador do bem comum e como protector dos fracos e desprotegidos, não tenha o direito – e também o dever – de impedir que as riquezas se acumulem na mão dos poderosos, com prejuízo da justa remuneração do salário, ou que lhe não assista o direito de forçar ao cumprimento dos deveres àqueles que os não querem compreender.» …

Jornal «O Trabalhador» - 15 de janeiro de 1939:

«É grande a luta travada entre as pessoas sensatas – com os insensatos não queremos perder tempo – sobre a maneira como devem ser encarados os problemas: se mais sob o ponto de vista económico, se mais sob o ponto de vista social.

Alegam os primeiros que não se pode fazer obra verdadeira e profundamente

social enquanto a economia não tenha obtido aquele grau de independência e prosperidade que lhe permita suportar os encargos sociais.

Alegam os segundos que é preciso limitar os excessos do ponto de vista económico na resolução dos problemas pois, que o homem tem de comer e de vestir e não pode estar à espera para comer, que a economia atinja o processo desejado pelos primeiros.

Qual é a nossa opinião?

Estamos de acordo com os primeiros em que, para que haja pão para todos, é preciso que se produza em suficiente abundância; e em que é impossível resolver devidamente o problema social enquanto o económico não estiver por sua vez resolvido. Uma vida social justa é incompatível com uma vida económica anarquizada ou arruinada.

Há, porém, um aspecto que no problema não podemos esquecer e que é posto muita vez de lado pelos que olham mais para o lado económico das questões. E é este: o económico, por si próprio, não tem razão de ser. O económico é para o social, ou, por outras palavras, a economia é para o homem.

Querer melhorar a economia à custa do

sacrifício do homem, no intuito de, num futuro mais ou menos próximo, lhe poder valer, não será o mesmo que obrigar-se um homem a passar fome durante uns anos para poder juntar dinheiro a fim de, mais tarde, levar vida regalada? Quando chegar a ter dinheiro para gozar, já tem os ossos debaixo da terra ou, pelo menos, está em luta com a tuberculose ou com anemia perniciosa, de que nunca mais se curará por mais dinheiro que tenha.

Encara os problemas sob o ponto de vista económico, desprezando o ponto de vista social, é agravar o mal social. Quando o económico estiver salvo, talvez o social já não tenha remédio.

Por isso nós queremos um meio termo. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, como dizem os pescadores poveiros.

Não se despreze o ponto de vista social quando se resolvam os problemas, nem se esqueça que a economia é para o homem, e não o homem para a economia, como tanta vez se faz não só em empresas particulares como em repartições do Estado.

Olhe-se para as coisas a tempo, não vá estar desenganado o doente quando houver meios para o começar a tratar.»

O DR. GUILHERME DE OLIVEIRA MARTINS CONSIDEROU QUE O MAIS IMPORTANTE ERA OUVIR O PADRE ABEL VARZIM E POR ISSO OPTOU POR LER EXTRACTOS DO SEU PENSAMENTO PUBLICADO. DIZ ELE: «É IMPRESSIONANTE OUVI-LO HOJE. «TERÃO A OPORTUNIDADE DE VERIFICAR, COMO EU PRÓPRIO VERIFIQUEI AO RECORDAR ALGUNS DOS SEUS TEXTOS».

...NÃO SE DESPREZE O PONTO DE VISTA SOCIAL QUANDO SE RESOLVAM OS PROBLEMAS, NEM SE ESQUEÇA QUE A ECONOMIA É PARA O HOMEM, E NÃO O HOMEM PARA A ECONOMIA, COMO TANTA VEZ SE FAZ NÃO SÓ EM EMPRESAS PARTICULARES COMO EM REPARTIÇÕES DO ESTADO.

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9transformarJornal «O Trabalhador» - 15 de maio de 1948:

«Já os nossos leitores conhecem pelos jornais diários o enorme esforço que se está operando na Europa para se realizar uma autêntica e fecunda união entre todas as Nações desta martirizada parte ocidental do velho Continente.

A razão deste febril movimento filia-se na imperiosa necessidade de se darem as mãos os diferentes povos europeus para mais facilmente se erguerem da ruína e se defenderem contra os perigos comuns que os ameaçam. No fundo, uma razão de utilidade, uma razão de interesse mútuo.

Que pensamos contudo, nós, trabalhadores cristãos, deste projecto tão ousado e tão pouco simpático às doutrinas que a última guerra sepultou no campo de batalha, isto é, às doutrinas ultra-nacionalistas?

A união faz a força. Nós sabemo-lo pela experiência de cada dia. Uma empresa é uma união de esforços de trabalhadores manuais e intelectuais, de capitalistas e proletários. E tanto mais eficaz será a empresa quanto maior for a união de uns com os outros. Uma nação é também uma união. E quanto mais unidos estiverem os cidadãos entre si tanto mais prosperidade se poderá esperar da colaboração nacional.

O mesmo princípio, os mesmos raciocínios, valem internacionalmente. A América seria a poderosa e próspera nação que hoje é, se cada um daqueles 48 Estados fosse independente e se quisesse bastar a si mesmo fechado no egoísmo nacional?

Mas nós temos outras razões que nos levam a aplaudir a união da Europa. Para um cristão, a Humanidade é uma Família: a Família Humana. A própria palavra católica significa e quer dizer universal, isto é, que se estende a tudo e a todos. Nós temos uma lei: amai-vos uns aos outros. Ora o amor significa auxílio mútuo, amparo, doação, colaboração, e tudo o mais que quiserem e signifique união. Um cristão, sob pena de trair o cristianismo, não pode deixar de favorecer e desejar que as Nações se entendam, se auxiliem, se unam, se sacrifiquem umas pelas outras, se deem mutuamente as mãos.

Amai-vos uns aos outros! O dever do amor implica união.

Sendo todos irmãos, apenas oporemos a nossa recusa aqueles que vieram para nós, não como irmãos, mas como dominadores.

Se uma união europeia significa, como parece significar, fraternidade, dêmo-nos a ela de alma e coração, que assim realizaremos a paz e a felicidade das futuras gerações.»

Eu acho que não é preciso dizer mais nada o Pe. Abel Varzim disse-nos tudo.

Após as intervenções iniciais houve lugar a um debate extensivo a todos os presentes que o desejaram. De realçar o testemunho de um familiar do Padre Abel Varzim e a pergunta deixada pelo Dr. João Gomes sobre a justiça de se iniciar um processo de canonização do Padre Abel Varzim o que não mereceu discordância do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

DEBATE

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JOÃO JOSÉ DE SOUSA ARAÚJONASCEU EM 12 DE NOVEMBRO DE 1929. LICENCIOU-SE NA ESCOLA SUPERIOR DE BELAS ARTES - LISBOA, EM ARQUITECTURA, PINTURA E ESCULTURA COM A CLASSIFICAÇÃO FINAL DE 20 VALORES.

«APELIDADO PELO PAPA PAULO VI COMO “PINTOR DE MARIA”, A OBRA DE JOÃO DE SOUSA ARAÚJO É UM CONTÍNUO COMPROMISSO COM O MISTÉRIO DIVINO, E POR ISSO, UM EXCELENTE ESPELHO DA FIGURA DO “DEUS REVELADO”», COMO COMENTA UM SEU ADMIRADOR E AMIGO. E ACRESCENTA AINDA: «GOSTA DE PINTAR UMA IDEIA DE CONTEMPLAÇÃO, COMO SE “AQUELA VISÃO” ACONTECESSE NAQUELE MESMO INSTANTE E O ESPECTADOR FOSSE POR ISSO PARTICIPANTE DESSE MESMO ACONTECIMENTO.»

A OBRA DE SOUSA ARAÚJO PODE SER APRECIADA NOS SANTUÁRIOS DE FÁTIMA E CRISTO-REI, DE ALMADA; IGREJA DA ENCARNAÇÃO, EM LISBOA; CATEDRAL DE NAMPULA, EM MOÇAMBIQUE, TENDO REALIZADO NUMEROSAS EXPOSIÇÕES EM PORTUGAL E NO ESTRANGEIRO.

O PADRE ABEL VARZIM ERA UM SANTO… SABE O QUE É UM SANTO?

ENTREVISTA AO ARQUITECTO JOÃO DE SOUSA ARAÚJO

NOS PRIMEIROS DIAS DO MÊS DE MAIO, UMA EQUIPA DO

«TRANSFORMAR» DESLOCOU-SE AO ESTORIL, A CASA E AO ATELIER DO ARQUITECTO JOÃO DE SOUSA ARAÚJO PARA UMA CONVERSA SOBRE O PADRE ABEL VARZIM. FICAMOS DESLUMBRADOS COM A SIMPATIA DAQUELE HOMEM-ARTISTA E AO MESMO TEMPO

ESMAGADOS COM A BELEZA E A PROFUNDIDADE DOS TRABALHOS ARTÍSTICOS EXPOSTOS, ALGUNS, AINDA, EM FASE DE CONCLUSÃO.

PERGUNTA: Como conheceu o Padre Abel Varzim?

RESPOSTA: Conheci o Padre Abel Varzim em 1953, exactamente no ano em que me casei. Aliás, ele esteve presente na cerimónia do meu casamento que foi presidido pelo Prior da Igreja de Fátima, na altura,o Padre Abranches.

P: E nesse dia foi o princípio de uma grande amizade

R: Claro. Desde então nunca mais nos «largamos». Passamos a ir com frequência à Igreja da Encarnação, onde o Padre Abel Varzim era Pároco.

P: E a partir desse contacto, o Padre Abel Varzim pedi-lhe para fazer trabalhos na Igreja da Encarnação?

R: Eu estava a fazer o serviço militar em Lisboa. Também entrei para o Banco de Portugal e isso dava-me alguma liberdade de movimentos Fiz a tropa e pude fazer alguns trabalhos.

P: E na Igreja da Encarnação o que foi feito?

R: Em dada altura, na sequência da acção

do Padre Abel Varzim junto das Prostitutas do Bairro Alto, surgiu a ideia de construir uma Capela para colocar a imagem de Santa. Maria Goretti, uma santa que tinha sido assassinada para defender a sua dignidade.

Devo dizer que a imagem era visitada pelas jovens prostitutas que nutriam pela santa grande devoção. Isto vem muito bem descrito no livro que o Padre Abel Varzim publicou posteriormente «Procissão dos Passos».*

P: E surgiu a Capela

Fizemos uma procissão de oferendas numa atitude de ascensão num nicho que lá havia que nós aproveitámos Também foi proposta a ideia que o altar era um sítio onde representava o remorso do homem que a assassinou. As puas que estão nas paredes onde estão colocadas as chaves dos caixões. Era uma alusão ao martírio que ela tinha passado. Tudo aquilo nos envolveu muito.P: O Padre Abel Varzim também participava?

R: Sim. Fomos trocando impressões, fomos sofrendo o assunto e havia um grande

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amigo meu que me acompanhou nos trabalhos que fizemos – o Construtor Matias Franco que tinha um atelier na Rua da Emenda. Os trabalhos foram feitos nesse atelier e foram transportados para a Igreja.

P: Além da Capela, o Sr. Arquitecto criou um fresco no tecto numa das galerias da Igreja?

R: Sim. Os estucadores fizeram o seu trabalho, construíram aquela abóbada onde depois foi pintado o fresco e todo isso se tornou fácil. A inauguração teve o apoio do Sr. Cardeal Patriarca da altura, D. Manuel Gonçalves Cerejeira.

P: Esse fresco gerou polémica?

R: Eu reconheço que deve ter sido um pouco aflitivo na altura aparecer num templo clássico uma outra harmonia. Só foi talvez aceite e assimilado porque se tratava de procurar uma imagem de beleza. Isso não separa épocas e nós podemos ir somando essas coisas. Eu acho que não tinha consciência disto mas atirei-me para a frente e com o apoio do Padre Varzim foi fácil.

P: Era mais jovem…

R: Tinha acabado Arquitectura e depois fiz Escultura.

P: Conte-nos um pouco um como foi a evolvente que levou à produção daquele fresco.

R: Quando o Padre Abel Varzim deixou de viver no Restelo ficou um pouco mais fragilizado com toda a vida que tinha. Eu e minha mulher perguntamos-lhe se ele queria viver connosco. Nessa altura não tínhamos filhos. Vivíamos numa casa no Estoril e ele deu-mos a «Graça» de aceitar

Íamos diariamente para Lisboa, tomávamos um pequeno-almoço juntos na Parisiense. Ele ia para a Igreja e eu ia já trabalhar no fresco, que ele me pediu e que representaria as Alianças de Deus com os Homens. Falou-me muito sobre o assunto e fez-me entrar no tema com violência e uma paixão muito grande.

O Matias Franco foi preparando a abóbada para fazer fresco. E é curioso que isso demorou mais de um ano a fazê-lo.

Pela noite eu e Padre Abel Varzim regressávamos ao Estoril, jantávamos e ficávamos a conversar longamente, também com a companhia da minha mulher.

P: Pela manhã voltavam para Lisboa?

R: Claro. Entretanto, na Igreja, o fresco foi aparecendo.

Gostava de contar uma situação que presenciei enquanto trabalhava no fresco. Acontece que o local onde eu trabalhava era a galeria de acesso ao espaço onde o Padre Abel Varzim atendia as pessoas que o procuravam. Eu via a multidão de gente que se acumulava para ser atendida. Era gente do Bairro Alto e de outros locais da Paróquia. Havia algum barulho porque as pessoas falavam umas com as outras. De vez em quando eu vinha ter com o Padre Abel Varzim trocar impressões. Várias vezes o encontrei com um disco que ensinava

canários a cantar. Deitava painço em cima do disco e os canários bicavam e ouvindo a música e cantando com ele. E aquilo era um ambiente que o sossegava dos dramas que tinha acabado de conhecer.

P: Voltando ao fresco, o que é aconteceu quando o Padre Abel Varzim saiu da Paróquia e foi viver para Cristelo?

R: O Padre Abel Varzim foi substituído por um Pároco que não tinha nada a ver com ele. Era mesmo o seu oposto. O novo Pároco sentia-se muito perturbado pela natureza das figuras que compunham o fresco e queria mandar tapá-lo Mas o Patriarca - Gonçalves Cerejeira decidiu que era de manter.

P: Então o que é que se passou a seguir?

R: Eu tive responsabilidade no que se passou posteriormente. Cada vez que eu ia à Igreja da Encarnação o Pároco martelava-me com a ideia de fazer desaparecer o fresco. E eu acabei por dizer: se o senhor Padre está tão perturbado com isso, faça o que quiser.

O fresco esteve assim escondido durante 50 anos.

Entretanto foi nomeado Pároco, o Padre João Seabra e eu disse-lhe: veja lá que aqui estão 100 metros quadrados de fresco. A tinta começou a rebentar e começaram a aparecer partes do fresco.

Quando se fizeram obras na Igreja perguntaram-me se eu queria encarregar-me do restauro. O Padre João Seabra disse que queria um fresco Aliança de Deus com os homens. Havia uma parte do fresco que tinha sido destruída porque colocaram um painel de azulejos. As partes brancas foram aproveitadas para fazer o Antigo Testamento. E foi aproveitado esse incidente para fazer Nova Aliança. Então o Padre João passou a chamar-lhe o percurso da Aliança.

P: Voltemos, então, ao período em que o Padre Abel Varzim era Pároco na Encarnação. Foi o tempo em que ele viveu em sua casa?

R: Sim. Vivemos assim muitos meses juntos. Depois do trabalho, à noite, vínhamos para casa e as nossas conversas continuavam. Era um prolongamento da vivência do Evangelho. Eu e a minha mulher fomos formados no nosso casamento cristão.

P: O Padre Abel Varzim era uma figura fascinante, como homem, como padre como cidadão. É natural que tenha muitas recordações dele. Ele teve um a experiência de Deputado na Assembleia Nacional, durante uma legislatura. Depois ele ficou um pouco desiludido com o regime.

R: Como cidadão ele pôs-me ao corrente do que era o seu sofrimento em toda a área política. Vivíamos num regime fechado. Repare que houve zonas do país (Ultramar) onde não foi autorizada a publicação da Pacem in Terris. que era uma coisa revolucionária e que marcou o mundo.

O Padre Abel Varzim era um homem de diálogo, aberto e muito sensível. Naturalmente as coisas não correram bem quando exerceu as funções de Deputado e saiu desiludido.

Deixe-me contar um episódio que ouvi quando entrevistaram uma pessoa que era filiada no Partido Comunista e que teve longas conversas com o Padre Abel Varzim. Ele contava que uma vez o Padre perguntou-lhe: você sabe o que eu faço quando, depois de conversarmos, você sai para o escuro da noite? Fico a rezar por si para que não seja apanhado nem nenhum mal lhe aconteça.

O entrevistado quando conta a história tem um engulho enorme na voz

P: A Experiência, como Pároco da Encarnação, foi uma experiência sofrida?

R: Sim. Muitos dos aspectos dessa experiência vêm muito bem descritos no Livro «Procissão dos Passos».P: O Padre Abel Varzim viveu antes do seu tempo?

Sim ele recebeu uma mensagem. Essa mensagem não tem tempo. Mas no contexto onde ele viveu era um homem do futuro.

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Vivia-se debaixo de um regime de um autoritarismo que inibia muitas iniciativas. Há pessoas que sofreram muito com isso. Outros sobreviveram. Também é difícil ser juiz equilibrado de um tempo em que tínhamos um espaço inconcebível para ser administrado.

O Padre Abel Varzim estava a par disso tudo e transmitia-nos isso tudo em pormenor. Não era uma pessoa que estivesse tranquila. O que o fazia desabafar era acompanhar tantos quantos se aproximavam com essas dificuldades.

P: O Padre Abel Varzim interessava-se também pela arte?

R: Sim claro. Cada um de nós os dois no seu campo de acção específico tinha pontos comuns que permitia o nosso diálogo e o consequente desenvolvimento da uma amizade muito grande.

P: O Senhor Arquitecto aprendeu com o Padre Abel Varzim algo que depois se foi reflectindo na sua obra, não?

R: – Sim, Nessa altura apareceu também a Encíclica «Pacem in Terris» de João XXIII. Eu mergulhei-me profundamente nela e reflectimos muito sobre ela.

P: Depois que ele foi para Cristelo, os seus contactos com o Padre Abel Varzim diminuíram?

R: O Padre Abel Varzim saiu da nossa casa e foi para o Porto e depois para Cristelo. Foi para casa da Irmã quando saiu da Paróquia Encontrei-me com ele pouco depois. Tinha um trabalho em Vila do Conde e isso proporcionou o nosso último encontro. Ele veio a Lisboa, com muita pressa. Não nos conseguiu visitar e escreveu uma carta dizendo que Nosso Senhor havia de encarregar-Se de agradecer o nosso acolhimento. E de facto nós tínhamos estado 4 anos sem ter filhos e tivemos o nosso primeiro filho quando ele se foi embora. Faz-me lembrar aquela passagem do Antigo Testamento em que o enviado de Deus promete que quando voltar, no ano seguinte a esposa dará à luz.

Ele disse-me uma vez: Sabes João, nós muitas vezes acolhemos Anjos e Santos em casa sem sabermos. Foi o nosso caso.

P: E em Cristelo como foi a vida do Padre Abel Varzim?

R: Quando chegou a Cristelo o Padre Abel Varzim viu um grupo desorganizado e passou a fazer o que ele fazia sempre: ajudar as pessoas a se interessarem umas pelas outras. E surgiu aquela Cooperativa de frangos – SAMI .Isso eu fui acompanhando à distância. E pouco tempo de pois ele dizia-me «Os Cristalinos (marca dos frangos) são os melhores frangos daquela área»

O Padre Abel Varzim arranjou camionetas para a distribuição. E dizia-me: sabe João, quando vejo às vezes as aves a depenicarem cada um o seu grão debaixo daqueles pequenos espaços lembra-me aquela gente lá em baixo, porque no fundo são como frangos que estão ali a apanhar aqueles picados a lutar uns pelos outros. No fundo referia-se à escala. Eu acho que ele encontrou uma escala mais humana e mais livre em Cristelo.

P: Quando foi a última vez que esteve com o Padre Abel Varzim?

A última vez que seu estive com o Padre Abel Varzim foi em Cristelo. Fui visitá-lo. Ele tinha uma obra lá para cima. Agarrei-me a ele a chorar, a chorar (emocionado). E aquele nosso amigo comum, o construtor com quem tinha trabalhado na Igreja da Encarnação – que me deu boleia na viagem – reproduziu aquela frase do Evangelho, quando nos via abraçados – «vede como eles eram amigos». Foi esse o último momento que tivemos

P: Já vai longa a nossa conversa. Para terminar, como poderíamos resumir em poucas palavras o Padre Abel Varzim?

R: Eu se tivesse que caracterizar o padre Abel Varzim em poucas palavras reproduziria a frase da sua irmã: o Padre Abel Varzim era um Santo. Sabe o que é um Santo?

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ENCONTRO COM UM HOMEM SÉRIO DE SORRISO BOM

Fiquei à conversa com este homem que me habituei a respeitar desde 1997. Foi um tempo em que os pais ainda contrariavam os filhos que gostavam de jogar futebol. Um dos poucos sempre atrás do filho era o Caneira que vinha de Negrais e, no regresso dos jogos fora, chegava sempre primeiro à porta «10A». Mistério que este homem discreto um dia me desvendou: «A gente pára em Alhandra para deixar o Luís Miguel».

Era verdade mas eu não relacionava as coisas. Estivemos lado a lado em Cantanhede quando a equipa de Juniores do SCP espatifou por completo os azuis e brancos de Madjer em Julho de 1997 com Tony Kakinda a brilhar no campo todo. O título foi perdido na Nazaré com uma arbitragem que virou o resultado de 1-0 para 1-2 a favor do Boavista, era um jovem árbitro a pagar a factura da promoção.

Pior que a derrota foi a morte de Tony Kakinda que soubemos numa manhã de Domingo na porta «10A» onde um cunhado do jogador veio informar o Futebol Juvenil do SCP. Aprendi com este homem que a salvação de um jogo mau está no próximo jogo. «Para a semana há um jogo que é preciso ganhar!». Com esta frase sábia ele sustinha muitas lágrimas e várias lamentações. No mundo do Futebol o próximo jogo é o resgate de todas as desgraças. Coloco a foto de seu pai com quem deve ter aprendido tudo o que sabe sobre a vida, a moral e os homens. Obrigado amigo.

A CIDADE FAZ ENTRAR NO AUTOCARRO GENTE ZANGADA COM

A VIDA, ROSTOS SUBURBANOS, SOMBRIOS, SOTURNOS, CAPAZES DE

AZEDAR O AÇÚCAR DOS AFECTOS. DEIXO-ME ENVOLVER NESSA

AMARGURA FALHA DE RAZÕES E PROPÓSITOS E OLHO SEM OBSERVAR OS OUTROS PASSAGEIROS DO «58».

MAS PENSO QUE EM TEMPOS DEDIQUEI UM POEMA AO «15», SEU

ANTEPASSADO, POEMA QUE FAZ PARTE DO LIVRO «TRANSPORTE

SENTIMENTAL» EDITADO PELA CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA.

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MUNDO, LUGAR POUCO RECOMENDÁVEL

Quando, em 1989, foi derrubado o Muro de Berlim, muita gente se convenceu de que ia começar um ciclo de paz e estabilidade, numa lógica unipolar, para durar muitas décadas ou mesmo séculos. Houve mesmo filósofos e analistas de direita que anunciaram, com estridentes toques de clarim, o fim da História. Seria o triunfo da “pax americana” e do capitalismo sem escrutínio nem regulação. O resultado dessa visão do mundo está à vista.

Basta olhar para o que se passa hoje na Ucrânia (Crimeia incluída), na Venezuela e em países como a Espanha ou o Reino Unido, onde o nacionalismo radicalizado aponta para uma possível independência da Catalunha ou da Escócia, através de referendos que podem fazer desagregar seculares unidades nacionais.

O que se está a passar na Crimeia constitui a demonstração de que o convívio com uma Rússia ainda poderosa e de democracia mais do que duvidosa é e será muito problemático. Ex-oficial do KGB, o poderoso Vladimir Putin, espécie de czar pós-moderno, não está disposto a abrir mão da península da Crimeia, muito mais por causa da mobilidade da frota russa do Mar Negro e da correlação de forças com os Estados Unidos e com a União Europeia do que pelas preocupações com a defesa da população russa e russófona daquele território. É um braço de ferro que ninguém sabe como irá terminar. Por outro lado, não é o facto de ser pró-ocidental e de querer aderir à União Europeia que faz da oposição que tomou o poder em Kiev uma entidade unida, impoluta e digna de incondicional apoio e admiração, até porque há factos que estão por apurar em todo este processo. Também a situação das chamadas “primaveras árabes”, que o Ocidente aplaudiu incondicionalmente convencido de que assim ficava o caminho aberto para democracias parlamentares de tipo ocidental, deixou muito a desejar, sobretudo por ter aberto as portas às forças do fundamentalismo islâmico que conseguiram, na maior parte do casos, alcançar o poder à boleia de milhares ou mesmo milhões de manifestantes mobilizados pelas chamadas “redes sociais”.

E ainda falta referir a crescente tensão entre o Japão e a República Popular da China, entre a Coreia do Sul e a do Norte e todos os outros focos de tensão regional que, tendo ventos favoráveis, poderão converter-se em incêndios incontroláveis ou em paióis à beira da explosão.

Por seu turno, a União Europeia, em véspera de eleições para Parlamento e para a Comissão, verdadeiro gigante económico mas anão político como lhe chamaram os pais fundadores, fala alto para se fazer ouvir, mas não tem forças armadas que a tornem credível e temível, o que reforça a margem de manobra de Moscovo, que nunca deixa de jogar com o argumento poderoso da força militar. Restam os Estados Unidos, de Obama e de Kerry, a maior potência mundial, que não podem perder essa liderança cada vez mais ameaçada, mas, por outro lado, não podem abarcar em aventuras que conduzam a uma nova guerra de dimensões e consequências imprevisíveis. Assim, o impasse mantém-se e agrava-se.

Todos vão deixando subir o tom da voz, mas nem assim conseguem provar que têm razão.

E fica por referir a crescente tensão social num país como o Brasil, onde centenas de milhares de pessoas vêm regularmente para as ruas denunciando as graves assimetrias sociais, a falta de investimento nas áreas da saúde e da educação e os gastos imensos com a preparação do Mundial de Futebol. E não deixa de ser espantoso o facto de o país do futebol estar a revoltar-se por não aceitar que o futebol e as suas infra-estruturas e despesas sejam a grande prioridade nacional, em detrimento das necessidades e das prioridades sociais.

Tudo isto é agravado por uma crise de dimensão global que as tecnologias mais avançadas fazem com que não possa ser dissimulada ou ocultada. O mundo tornou-se assim, no ano do centenário da I Grande Guerra, um lugar muito pouco frequentável e recomendável, com um destino mais do que incerto, com os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, com a política e os políticos cada vez mais desacreditados, com mais multidões revoltadas nas ruas e com um receio generalizado em relação ao futuro das gerações que estão para vir. Resta desejar que prevaleçam o bom senso, o desejo de paz, a tolerância, a solidariedade social e o castigo exemplar dos corruptos e dos ladrões sem perdão, para que ainda seja possível continuarmos a coabitar e a respirar.

José Jorge Letria

Crónica publicada no Jornal de Sintra, ed. 4021 de 4 de Abril de 2014

fotografia de: Miguel Cardoso

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O Forum Abel Varzim, em colaboração com a Editorial

Cáritas Portuguesa, promoveu a 3.ª Edição do Livro «PROCISSÃO DOS

PASSOS» da autoria do Padre Abel Varzim.

O Lançamento desta edição, no ano em que se comemoram os 50 anos

da morte do seu autor, ocorreu no passado dia 16 de março, da Igreja da Encarnação, onde o Padre Abel

Varzim foi pároco.

À Cerimónia de Lançamento do livro, muito concorrida seguiu-se a celebração da Eucaristia, presidida por D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa e com a participação do

Cónego João Seabra.

O LIVRO DO PADRE ABEL VARZIM

PROCISSÃO DOS PASSOS NA FEIRA DO LIVROPor ocasião da 84.ª Feira do Livro Lisboa, que decorreu entre 29 de maio e 15 de junho, a “Paulus – Editora” promoveu a venda do livro. No dia 4 de junho foi feita uma apresentação do livro pelo Historiador Prof. Dr. Paulo Fontes, da Universidade Católica Portuguesa.

Cerimónia de Lançamento - Igreja da Encarnação

D. Manuel Clemente, Cónego João Seabra e António Soares

Eucaristia na Igreja da EncarnaçãoDistribuição dos Livros

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