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Comentário Crítico
Introdução
Para a realização deste comentário escrito comecei, primeiramente, por
fazer a escolha de três escolas, tendo em conta os anos lectivos a que
correspondia cada um desses relatórios. Assim, e por me parecer interessante
verificar a existência de alguma evolução, escolhi o relatório de 2006/2007 da
Escola Secundária Anselmo de Andrade, em Almada, o relatório de 2008/2009
da Escola Secundária D. João V, na Damaia e o relatório de 2009/2010 da
Escola Secundária Padre António Vieira. Após a leitura e análise dos relatórios
da IGE, de Avaliação Externa destas três escolas, pensei apresentar uma
amostra dos referidos relatórios, retirando algumas passagens do texto onde é
referida a BE, seguindo os Campos de Análise do documento da instituição
avaliadora. Foi com alguma surpresa que verifiquei que a referência à
biblioteca se limitava ao espaço (condições físicas), aos serviços por
simultaneamente serem também Centros de Recursos e ao acervo
documental. Creio que o MAABE pode mudar esta forma de ver a biblioteca.
Desenvolvimento
Escola Secundária Anselmo de Andrade – Almada
Avaliação Externa 2006/2007
Campos de Análise
Caracterização da Unidade de Gestão
No capítulo III respeitante às Conclusões de Avaliação, ponto 2. Prestação de
Serviço Educativo, na página 4, pode-se ler o seguinte: “A escola cultiva
explicitamente uma tradição de oferta curricular enriquecida, para todos os
níveis de escolaridade com destaque para a Educação Artística, para áreas
científicas, nomeadamente experimentais e para as tecnologias. Para o efeito,
dispõe neste momento de um conjunto de infra-estruturas que tem vindo a
enriquecer, quer em termos da BE e CRE, quer em salas de TEC (…) e
laboratórios.”
No capítulo IV da Avaliação por domínio-chave, no ponto 2 Prestação do
Serviço Educativo, no ponto 2.3, relativo à Diferenciação e apoios, é dito que “É
ainda de referir o CRE como estrutura de apoio às aprendizagens e ao
desenvolvimento do gosto de pesquisa e de orientação para a autonomia dos
seus utilizadores.”
Não se encontram quaisquer referências à colaboração ou realização de
actividades da BE respeitantes à promoção da literacia ou projectos em
parceria com a Biblioteca Municipal de Almada. Pode deduzir-se que nesta
escola secundária, o trabalho pedagógico em colaboração com os diferentes
docentes e a articulação com os currículos não fazem parte dos objectivos do
plano de trabalho da biblioteca ou que a IGE não se serviu de instrumentos
para operacionalizar a avaliação do impacto da BE.
Escola Secundária D.João V – Damaia
Avaliação Externa 2008/2009
Campos de Análise
No Domínio Avaliação por Factor, no ponto 3, respeitante À Organização e
Gestão Escolar, o ponto 3.5 sobre Equidade e Justiça afirma-se “ O modo
como a escola se organiza nem sempre favorece os princípios de equidade e
justiça, como são exemplo os horários escolhidos para o funcionamento das
oficinas e apoios, dificultando a frequência dos alunos, a inexistência de uma
sala para alunos e a não adesão ao PNL, num contexto em que uma parte
significativa dos alunos revela uma baixa competência leitora”
Também no Domínio Avaliação por Factor, ponto 4, respeitante à Liderança, o
ponto 4.4 Parcerias, Protocolos e Projectos, pode ler-se a seguinte referência à
BE: “Apesar das actividades realizadas pela BE/CRE e dos materiais
disponibilizados aos alunos, a não implementação do PNL restringe as
experiências e actividades que favorecem e potenciam competências no
âmbito da leitura.”
No ponto 5, respeitante às Capacidades de Auto Regulação e melhoria da
escola pode constatar-se que “As práticas de auto-avaliação existentes têm
consistido na recolha e análise regular dos resultados das alunos e,
pontualmente, na recolha de informação acerca do grau de satisfação do
funcionamento dos serviços, na avaliação do PE e do PAA.”
Também este relatório não tem referências a projectos desenvolvidos pela BE,
projectos de parceria com instituições de interesse cultural, nem a actividades
com os docentes das várias áreas disciplinares, nem a colaboração com os
órgãos de gestão. Em que se traduzirá o grau de satisfação? Agora com a
nova visão, a IGE terá de mudar os instrumentos de avaliação.
Escola Secundária Padre António Vieira – Damaia
Avaliação Externa 2009/2010
Campos de Análise
No Campo de Análise 3 sobre a Organização e Gestão Escolar, o ponto 3.3,
respeitante à Gestão dos Recursos Materiais e Financeiros é dito que “
Presentemente as instalações estão a ser alvo de intervenção (…), ainda
assim, dispõe dos recursos indispensáveis para o seu funcionamento, sendo
de destacar, nomeadamente, os laboratórios, bem dotados de materiais,
atendendo às disciplinas a que se destinam, e a organização e apetrechamento
da BE/CRE.
Nesta escola, de momento a sofrer intervenção, podemos constatar que os
laboratórios continuam a funcionar e o interessante é a BE/CRE disponibilizar
os recursos, questiono-me: “Que recursos? Livros? Computadores?
Professores? Como funciona? E o que faz? “
Conclusão
Além dos relatórios analisados, fiz a leitura dos relatórios contraditórios, talvez
esperando que alguém mencionasse a falta de apreço de que as BEs estão a
ser vítimas, mas não há qualquer chamada de atenção nesse sentido, referem
outros aspectos e esquecem o papel da biblioteca como uma estrutura
pedagógica importantíssima nos seus contributos para o sucesso escolar.
Esquecem a colaboração com os órgãos da direcção, a planificação conjunta
com os outros docentes, o trabalho com os alunos que necessitam de apoio
nas suas tarefas etc. Antes de escolher as três escolas, li outros relatórios e
verifiquei que o que é avaliado é o equipamento, o material, o fundo
documental o espaço e as condições de trabalho.
Mais uma vez penso que poderei afirmar que o MAABE virá mudar a visão do
papel da Biblioteca nas nossas escolas.
Lembrando as leituras dos textos propostos, posso concluir com uma citação
de Ross Todd, extraída da conferência Transições para futuros desejáveis
das bibliotecas escolares que diz mais que qualquer outra intervenção neste
tema
“Sou de opinião que é no topo, no centro, no coração de uma biblioteca que
está o desenvolvimento da compreensão humana. O argumento central deste
artigo é que a biblioteca escolar no século XXI diz respeito à construção de
sentido e de novos conhecimentos e à construção de uma infra-estrutura de
informação e de recursos de informação para permitir isso. Esta é a ideia da
biblioteca como um espaço de conhecimento, e não como um lugar de
informação. Para que isso seja possível, acredito que precisamos de focar a
nossa atenção em três coisas: ligações/conexões, não colecções; acções, não
posições; e evidências, e não a política de promoção do valor da biblioteca
escolar.”