Comercialista v.9 - M

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    REVISTA COMERCIALISTA | 3 trimestre de 2013

    AREVISTACOMERCIALISTA uma publicao trimestral, independente, com o escopo de fomentar a produo acadmico-cientca nas reas do Direito Comercial e Econmico. Contato (11) 98133-5813 - [email protected]. Editor: Pedro A. L. Ramunno - [email protected].

    Nota aos leitores: As opinies expressas nos artigos so as de seus autores e no necessariamente as da Revista Comercialista nem das instituies em que atuam. proibida a reproduo ou transmisso de textos desta publicao semautorizao prvia.

    EDITOR EXECUTIVO

    Pedro Alves Lavacchini Ramunno

    CONSELHO EDITORIAL

    CONSELHO DISCENTEGustavo Lacerda Franco

    Paco Manolo Camargo Alcalde

    Pedro Alves Lavacchini Ramunno

    Rodrigo Fialho Borges

    CONSELHO DOCENTEAna de Oliveira Frazo

    Fbio Ulhoa CoelhoSrgio Campinho

    Walfrido Jorge Warde Jr.

    ARTICULISTAS DESTA EDIOCassandra Camargo Alcalde de Carv

    Herbert Morgenstern Kugler

    Ivo Waisberg

    Marcelo Guedes Nunes

    Pedro Alves Lavacchini Ramunno

    Sanjiv K. Kapur

    REPRTER DESTA EDIOPaco Manolo Camargo Alcalde

    DIAGRAMAORodrigo Auada

    FALE [email protected]

    Sumrio

    4. Editorial

    5. Perfl

    Nessa edio: entrevistacom Dra. Maria Cristina

    Cescon para a RevistaComercialista.

    Entrevista com Dra. MariaCristina Cescon, scia deSouza, Cescon, Barrieu &Flesch Advogados

    10. DoutrinaArtigos acadmicos sobreo que h de mais atuale relevante

    Nessa edio:

    Perl: Maria Cristina Cescon. Fusese incorporaes no mercado brasileiro.Por Paco Manolo Camargo Alcalde

    Do fundamento econmico dogio para ns scais. Por CassandraCamargo Alcalde de Carvalho

    FIN 48 is no Fun for Sellers ofBrazilian Companies with Uncertain TaxPositions. Por Sanjiv K. Kapur

    Consideraes sobre o direitosocietrio, as nanas e acontabilidade. Por Ivo Waisberg eHerbert Morgenstern Kugler

    Negociao em M&A. Por Pedro Alves

    Lavacchini Ramunno

    Notas sobre Jurimetria e operaessocietrias. Por Marcelo Guedes Nunes

    Bernard Moss

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    REVISTA COMERCIALISTA | 3 trimestre de 20134

    Os rearranjos das estruturas so-cietrias so conseqncias e, porvezes, at mesmo elementos do de-senvolvimento econmico-social deum pas ou de determinada regio,reetindo diretamente na mediode seu crescimento. O mais das ve-zes, verica-se que o aquecimentode determinada economia direta-mente proporcional ocorrncia de

    reorganizaes societrias, materia-lizadas pela transferncia do contro-le societrio ou empresarial das so-ciedades empresrias.

    Tanto atravs de uma anli-se quantitativa quanto valorativa, notrio que pases emergentes tmsido, seno protagonistas, grandespalcos das operaes de M&A pe-lo mundo. Os BRICS desfrutam deum elevado perodo de crescimen-to econmico desde meados da pri-meira dcada dos anos 2000, algoque corrobora para a vericao deintensas recomposies das estru-turas empresrias.

    O Brasil, a despeito de amargarum perodo de certa estagnao,mostra-se um ambiente propciopara conceber grandes operaessocietrias, admitindo inuxos

    econmicos de extrema relevnciapara a economia mundial. No obs-tante a assente sedimentao deoperaes de M&A, o desenvolvi-mento acadmico-legal desse ins-tituto modesto para um pas degrandes ambies.

    Nesta edio, com o intuito defomentar a reexo sobre a mat-

    ria, a Comercialista traz uma edi-o especial sobre M&A, abordandotemas diversos aos correntes as-pectos societrios versados em es-parsas obras acerca do assunto. Naseo Perl, Maria Cristina Cescon,traz-nos sua viso sobre o panora-ma das operaes de M&A no Brasil,abordando o tema sob a perspectivade uma experiente advogada fren-

    te de uma das maiores bancas deadvocacia do pas.

    Iniciando a anlise de multif-rios aspectos que circunscrevemas reorganizaes societrias, Cas-sandra Camargo Alcalde de Carva-lho trata com cirrgica preciso dofundamento econmico do gio eseus impactos nos investimentosatinentes s operaes de fusese incorporaes, um dos mais aca-lorados tpicos em matria de di-reito tributrio e contabilidade emoperaes de M&A.

    Ainda no tocante aos aspectosscais das reorganizaes societ-rias, Sanjiv Kapur aborda os aspec-tos e as consequncias da polti-ca americana, consubstanciada noFIN 48, acerca dos riscos tribut-rios a que esto sujeitas as socieda-

    des americanas nos demais pasesem que operacionalizam concen-traes societrias, evidenciando ocontingenciamento de riscos e a jreconhecida relevncia do planeja-mento tributrio em operaes deM&A, muitas vezes tratados de for-ma agressiva pelas sociedades em-presrias brasileiras.

    M&A: Muito mais do que a meratransferncia de participao societria

    Conselho Editorial

    Editorial

    Prova da mltipla aplicao dis-ciplinar nas operaes de fuses eincorporaes, o artigo trazidopor Ivo Waisberg e Herbert Mor-genstern Kugler, que sob a tica degrandes advogados atuantes no di-reito de empresa tratam do impres-cindvel conhecimento e aplicaode institutos de nanas e contabi-lidade, atrelados ao direito societ-

    rio, desde a negociao at o fecha-mento das operaes.Por falar em negociao em

    M&A, essa importante fase de mi-tigao de discrdias e ajustes ne-gociais esmiuada com maestriapor um dos maiores expoentes emnegociao do pas, Pedro Alves La-vacchini Ramunno, que traz suatcnica viso sobre os mais diversospontos negociais atinentes s reor-ganizaes societrias.

    Por m, com um tema de cres-cente instigao no mbito jurdi-co, Marcelo Guedes Nunes, pio-neiro e referncia no estudo dajurimetria no Brasil, traz-nos a im-portncia de pesquisas srias everdadeiramente empricas, espe-cialmente no direito comercial eem operaes de M&A, para que

    se tenha uma efetiva identicaode tendncias na anlise do merca-do e na implementao de polticaseconmicas e reformas legislativas

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    Fuses e incorporaes no mercado brasileiro

    Por Paco ManoloCamargo Alcalde

    Maria Cristina Cescon, uma das mais respeitadas prossionais atu-antes em M&A, mostra a sua opinio sobre assuntos relevantes aosprossionais da rea.

    Maria CristinaCescon, advogadacom atuao

    destacada em M&Ae scia do renomadoescritrio Souza,Cescon, Barrieu &Flesch Advogados,apresenta sua viso

    sobre o cenriodas fuses eincorporaes noBrasil, bem comosobre o mercado

    jurdico nacional e

    a importncia dasmicro, pequenas emdias empresas aosgrandes escritrios.

    Perfl - Dr. Maria Cristina Cescon

    BernardMoss

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    Comercialista - Levando-se emconta um mercado de operaesmuito aquecido no nal da ltimadcada, quais os principais moti-

    vos que inuenciaram a notvelqueda nas operaes de M&A noBrasil recentemente?

    Maria Cristina Cescon - Entre2009 e 2010 houve um pico, noqual tivemos grandes operaes.Existia o conceito de que o Brasilest na moda. Depois, no pero-do imediatamente anterior mu-dana das regras do CADE, ocor-

    reu um novo pequeno pico, vis-to que as operaes poderiam serfechadas antes de aprovadas pelorgo. Este cenrio acabou aque-cendo o mercado de M&A. To-dos que fariam ou pretendiam fa-zer alguma operao anteciparamas tratativas e o fechamento. Du-rante cerca de seis meses foi bemvolumoso. Enm, a partir da cria-o do Super CADE houve, sim,uma queda no nmero de opera-es. O que ocorreu, na verdade,foi uma volta ao estado de nor-malidade. A melhor viso no da perspectiva de que houve umaqueda, mas sim de que houve umpico. Atualmente existem diver-sas operaes no mercado e creioque todos os prossionais dessarea esto trabalhando bastante.

    Comercialista - Mas existe algumgrande motivo para essa volta normalidade?

    Maria Cristina Cescon - Creio queseja por uma questo econmi-ca mundial, no apenas do Brasil.Depois de 2008, o mundo passou a

    rever as suas bases econmicas, aexemplo dos Estados Unidos e daEuropa, que eram grandes investi-dores no Brasil e que faziam gran-des negcios aqui. Ento, existiuuma quase recesso e isso se re-etiu aqui no pas. Ocorre que lo-go depois disso no havia inte-resse em se investir nos EstadosUnidos e na Europa, de modo quediversos recursos migraram pa-ra o Brasil; por isso, esses picos de2009 e 2010. O Brasil era visto co-mo o pas aonde o futuro chegou.Finalmente havamos chegado l.

    Mas as bases - econmicas, prin-cipalmente - no se conrmaram,o Brasil no fez as reformas queprometia e deixou de ser a estre-la da vez mesmo porque, inves-timentos voltaram a ser feitos nosEstados Unidos e na Europa.Retornamos normalidade. Ain-da no foi dessa vez. O Brasil ain-da precisa de muito investimento,principalmente em determina-

    das reas como a de infraestrutu-ra. O problema que o pas aindano fez a lio de casa, embora asoportunidades existam.

    Comercialista - Qual a viso quea senhora tem do CADE?

    Maria Cristina Cescon - Pela mi-nha experincia, mesmo com a

    nova regra, o CADE tem feito umtrabalho excelente. Ele tem res-pondido de acordo com as nossasexpectativas. Havia um grande re-ceio com as mudanas das regrasdo jogo, de que ele no teria capa-cidade de atender, de dar um re-torno para o mercado, mas o CA-DE est cada dia mais organizado,

    estruturado, respondendo a tem-po e com fundamento. Eu entendoque o CADE deve se alinhar com osCADEs internacionais, pois creioque a funo do CADE no devaser uma funo de poltica de go-verno, mas uma funo de ajusteda concorrncia. isso que o CA-DE, no Brasil, tem que fazer e faz.

    Comercialista - O grande volu-me de operaes de fuses e in-corporaes protagonizadas porcompanhias estrangeiras afetade alguma maneira, a economia

    brasileira?

    Maria Cristina Cescon - Sem d-vida. Temos grande capitaliza-o e esses recursos geram em-pregos, com isso geram salriose as pessoas, consequentementeacabam gastando mais. Isto gira aeconomia. O investimento diretoou indireto dos estrangeiros cola-bora para o crescimento do pas.

    Comercialista - E a presena noapenas dos recursos, mas de so-ciedades estrangeiras no Brasilgera algum efeito negativo?

    Maria Cristina Cescon - Se essesestrangeiros ainda no atuam noBrasil, sero novos players, no-vas fontes de concorrncia. Do

    ponto de vista concorrencial, pa-ra quem utiliza o produto ou oservio, bom, pois a desconcen-trao de determinada rea coma entrada do estrangeiro saud-vel. O que eu vejo de diculdade do ponto de vista daqueles bra-sileiros que tm vontade, que soempreendedores e que querem

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    eventualmente, adquirir um ativo.Eles tm diculdade de concorrercom o estrangeiro por falta de -nanciamento o nanciamento muito caro para eles -, enm, di-culdade de captar recursos, aopasso que os estrangeiros ou jtm esses recursos ou tm maisfacilidade para capt-los.

    Comercialista - Quais os efeitosque a concepo do Comit deAquisies e Fuses CAF pro-duzir no cenrio de M&A nacio-nal? Haver repercusses efeti-

    vas?

    Maria Cristina Cescon - O CAFainda est em fase de divulgao,est em fase de venda. O Souza,Cescon, Barrieu& Flesch sediar[na data de publicao desta edi-o o evento j ocorreu] um even-to sobre o CAF, com a presenade seu Presidente. Participamos,de certa forma, desse processo

    de concepo, auxiliando algunsbancos que estavam nesse proje-to juntamente com a Bovespa. muito interessante, um gran-de passo. O objetivo moderni-zar, alcanar nveis de governan-a que j existem em outros pa-ses, principalmente na Inglaterra creio que um dos grandes espe-lhos de governana tenham sido

    as regras da Inglaterra -, mas no algo obrigatrio, as companhiasno se obrigam por essas regrasdo CAF. Ento, existe agora umafase comercial, de como con-vencer as companhias, seus ad-ministradores, de que vale a pe-na aderir a essas regras um poucomais restritivas.

    Comercialista - Os efeitos seriamde alguma forma parecidos comos do Novo Mercado?

    Maria Cristina Cescon - No. Euacho que algo bem diferen-te. Creio que ainda demorar umpouco para as companhias aderi-rem. Existiro algumas que seroas pioneiras e, quando o CAF semostrar eciente, talvez haja umaadeso maior.Ainda existe muita insegurana.Algumas regras do CAF acabaramincorporando obrigaes que o

    prprio Novo Mercado tentou im-plantar, mas as Companhias noaceitaram. Ento existe um cer-to estresse, que so as questesde oferta pblica por aumentode participao, etc. H questesespeccas que o CAF acaba im-pondo que no foram bem aceitasna poca em que o Novo Merca-do tentou adotar. O CAF tambmpode ser utilizado eventualmen-

    te, ou seja, se voc tiver opera-es especcas, voc no precisaaderir ao CAF; voc pode busc-lonaquela operao especicamen-te. Creio que no incio essa sera maior atuao dele, ou seja, emcasos especcos e no por umaadeso completa da companhia.

    Comercialista - Considerando o

    contexto econmico brasileiro, aatuao estatal na economia (Sis-tema BNDES e Fundos de Penso) um fator atrativo ou repelentea investimentos?

    Maria Cristina Cescon - Isso uma questo bastante circuns-tancial. Ns vemos o BNDES su-

    prir funes que a iniciativa pri-vada no pode ou no consegueexercer, seja pelo tamanho, pelaatividade ou pelo prazo de retor-no, que muito longo. O corre-to seria o BNDES entrar nas ati-vidades essenciais, pelo fato de aeconomia privada no conseguirentrar. Isso o que se espera doBNDES, mas eventualmente eleacaba interferindo em operaespor uma agenda de governo, ouseja, o governo decide que deter-minada rea deve ser capitaliza-da ou ingressar no mercado exte-

    rior por alguma indstria espec-ca, seja atacado ou varejo. Dessaforma, ele acaba interferindo emreas que no precisam desse ti-po de suporte. Eu acho que issono bom para nossa imagem.

    Comercialista -E em relao aosfundos de penso?

    Maria Cristina Cescon - Fun-

    dos de penso, no mundo intei-ro, so investidores essenciaispara a economia, pois investemno mercado, seja como subscri-tores de aumento de capital, defollow-on, IPOs, etc. Os fundos(de penso) so essenciais, poisagregam um volume de dinheiroexcepcional e necessrio. No Bra-sil devem ser assim, investidores

    independentes.Comercialista - Os chamadosescritrios boutique, escrit-rios de pequeno porte formadospor integrantes altamente quali-cados e que prometem serviospersonalizados, tm condiesreais de concorrer com os gran-

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    des escritrios, principalmen-te no mercado de M&A? Quaisso, na sua viso, as conseqn-cias da adoo de cada modelo,para os prprios advogados e osseus clientes?

    Maria Cristina Cescon - O n-mero de boutiques de M&A temaumentado e em um nmero im-pressionante. Eu, sinceramen-te, no conheo o funcionamen-to desses escritrios para opinar.Agora, voc no sabe o nmero depessoas que eu envolvo em uma

    operao de M&A. Em uma ope-rao, que no precisa ser muitogrande, contamos com at qua-renta pessoas envolvidas. Se for-mos levar em conta apenas a par-te de auditoria (Due Diligence),ela envolve aspectos scais, tra-balhistas, ambientais, tudo o quevoc puder imaginar. Voc pre-cisa ter um grupo de pessoas es-pecializadas. Se a empresa for re-gulada, por exemplo, voc preci-sa ter uma equipe especialista namatria. Eu tenho um time aqui(SCBF), por exemplo, que atuamexclusivamente em CADE. Se tra-tarmos de uma instituio nan-ceira, precisamos entender de re-gras do Banco Central. Em um -nanciamento, por exemplo, vocno faz uma operao sem ter to-

    da a parte nanceira por trs.Apesar de sermos consideradosgrandes, os atendimentos, emnosso escritrio e, nos outros,eu imagino que seja semelhan-te -, so muito personalizados. Apessoa contrata o Souza, Cescon,mas como sempre contamos compelo menos um scio envolvido

    em cada processo, a relao como cliente torna-se pessoal.E o fato de se ter uma equipe trei-nada, que trabalha sinergicamen-te, um diferencial.

    Comercialista - Quais so os prin-cipais entraves scais encontra-dos nos planejamentos tribut-rios das grandes reorganizaessocietrias?

    Maria Cristina Cescon - Existemoperaes em que uma parcela es-sencial do trabalho tributria. Eu

    diria que se comea um M&A pelo

    tributrio, principalmente se vocest do lado do vendedor. Isso fazdiferena no preo, na avaliao,nas condies do mercado. A par-

    te scal essencial em qualqueroperao de M&A, de modo quepode trazer vantagens ou, no m-nimo, que seja indiferente. Quan-do se une duas empresas, uma de-las com crditos scais, por exem-plo, ela pode perd-los. Dessaforma, a rea scal busca ganharsinergias ou pelo menos no ge-

    rar um nus. A rea tributria, emuma operao de M&A, anda ladoa lado com o societrio. Pelo me-nos em nosso escritrio, ela topresente quanto o societrio.

    Comercialista - Na ltima edi-o da Revista Comercialista, en-trevistamos o Sr. Alencar Burt(Presidente do Conselho Delibe-rativo do SEBRAE-SP), o qual dgrande importncia para as mi-cro, pequenas e mdias empre-sas (MPMEs). Para as grandesbancas de advocacia, qual a re-

    levncia das MPMEs no cenrionacional de M&A?

    Maria Cristina Cescon - o come-o da grande empresa, todos co-meam do zero (risos). Ns faze-mos mais operaes de M&A degrandes e mdias empresas. di-fcil fazermos M&A de pequenasempresas aqui dentro. Mas valo-rizamos o atendimento de peque-nas empresas, pois o futuro de-las , daqui alguns anos, um IPOPor que no? Toda empresa pas-sa por consolidaes, aquisio deoutras, fuses. Ns representamosgrandes empresas na aquisio demdias empresas. Isso acontecebastante. O mercado se consoli-da, isso acontece no mundo intei-ro. s vezes duas pequenas viram

    uma mdia, duas mdias viramuma grande e a gente se envolveda mesma maneira que em opera-es de muitos bilhes. No faz di-ferena. Para o advogado, no po-de fazer diferena.

    Maria Cristina Cescon - Ns aca-bamos de criar uma rea nova no

    O Brasil no fezas reformas queprometia e deixou

    de ser a estrelada vez

    Perfl

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    escritrio, relacionada a empre-endedorismo, pela qual os em-presrios que esto comeando,que no tm nenhum amparo le-gal ou nenhum conhecimento le-gal, nos procuram para que osajudemos a se estruturarem, pa-ra crescerem. Nosso foco so asstartups. uma iniciativa pio-neira no Brasil. Temos conheci-

    mento de apenas dois ou trs es-critrios nos Estados Unidos, naCalifrnia e em Boston, que fazemesse tipo de assessoria. E ns nosinspiramos neles para fazer essetipo de trabalho

    Comercialista - Tendo em vista

    que muitas vezes a Due Diligen-ce negligenciada nas opera-es de M&A, em sua opinio, ela realmente importante?

    Maria Cristina Cescon - Total-mente. Algumas pessoas esque-cem que podem comprar um ati-vo que no deveriam ter com-

    prado por desconhecimento.Diversas operaes so interrom-pidas por diversos riscos, seja porno ter concesso ou, at mesmoa empresa no ter um objeto pos-svel. Riscos ambientais tambmso muito importantes.Numa rede varejista, por exemplo,imagine se as lojas no tm os con-tratos de locao. So coisas bsi-cas, mas de extrema importncia.As auditorias nos levam a du-as coisas: a operao ocorrer ouno, pois a empresa pode se tor-nar algo completamente diferente

    daquilo que se imaginava depoisde uma auditoria, a depender,principalmente,das negociaesno futuro, indenizaes, do queo vendedor responde ou no, doajuste de preo, dentre outrospontos importantes. A auditoria absolutamente essencial.Ns fazemos isso com uma res-ponsabilidade extrema. Ns en-volvemos nossos melhores ad-

    vogados em auditoria, fazemos otrabalho com responsabilidade.J me deparei com relatrios deauditoria sem informaes ouanlises. Muitas vezes at h in-formaes, mas o prossional noas analisa. Ento quem l o relat-rio passa por determinadas infor-maes sem saber do que se trata.Auditoria custa caro. O brasilei-

    ro tem que se conscientizar deque auditoria um mal necess-rio, assim como ocorre em outrospases. Se a auditoria for barata,com certeza no se ter o resul-tado necessrio.E seria irresponsvel para umaempresa comprar outra sem teruma auditoria bem feita.

    Ns temos uma equipe s de au-ditoria, responsvel pela coor-denao da auditoria, de modoque fazem um trabalho minucio-so, tendo certeza de que tudo foichecado. Na hora em que surgeuma questo jurdica importan-te, tributria, por exemplo, o (Ro-berto) Barrieu, que o scio chefedessa rea, vai olhar aquilo.

    Comercialista - Para nalizar-mos, como a senhora prev asoperaes de M&A daqui a 5 anosquando o Brasil j tiver, de certa

    forma, assimilado os benefcios eas mazelas trazidas por grandeseventos como a Copa do Mundo eas Olimpadas?

    De modo geral, creio que o im-pacto no pas ser de crescimen-to, de gerao de riqueza, abertu-ra de novas reas, melhora na in-fraestrutura etc. O pas s tem ase beneciar e espero que faa-

    mos um bom papel.Creio que com isso entraro nomercado brasileiro muitos inves-tidores estrangeiros, que ou par-tiro do zero ou compraro em-presas que j tenham alguma es-trutura. Isso gera investimentosempregos. Enm, acho uma ma-ravilha, mas espero que corres-pondamos s expectativas.

    complicado falar no cenrio deM&A em cinco anos. Ocorre quea rea de M&A sofre menos osci-laes que a rea de mercado decapitais, por exemplo. No M&Ase a empresa est mal, ela preci-sa ser vendida, se ela est bemela ir comprar. Ou seja, M&A uma boa rea.

    Seria

    irresponsvelpara uma empresacomprar outra semter uma auditoriabem feita

    Perfl

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    Em virtude do cenriotributrio brasileiro, ogio gerado nas opera-es de fuso e aqui-sio (M&A) ocupa pa-

    pel de destaque nas discusses eavaliao das transaes, na me-

    dida em que o seu aproveitamen-to, para ns scais, impacta o va-lor do investimento.

    A gura do gio surgiu no or-denamento jurdico tributriobrasileiro com a publicao doDecreto-lei n 1.598/1977, que vi-sava adaptar a legislao do Im-posto de Renda s inovaes tra-zidas pela Lei n 6.404/76.

    Referido Decreto-Lei, quan-do das disposies acerca do m-todo de equivalncia patrimonial(MEP), determinou em seu artigo20, que o contribuinte que avaliaro investimento em sociedade co-ligada ou controlada pelo mtodode equivalncia patrimonial tema obrigatoriedade de, quando daaquisio da participao socie-tria, desdobrar o custo de aqui-sio em: i) valor do patrimniolquido poca da aquisio; e ii)

    gio ou desgio na aquisio.Esclareceu-se que o gio oudesgio na aquisio de investi-mento calculado pela diferen-a entre o custo de aquisio doinvestimento e o valor do patri-mnio lquido da sociedade ad-quirida na poca da aquisio.Portanto, quando essa diferenafor positiva, qual seja o preo pa-

    go maior que o valor do patrim-nio lquido, o investidor registra-r um gio. Ao passo que quandoessa diferena for negativa, as-sim apurada quando o preo pa-go for menor que o patrimniolquido, o investidor registrar

    um desgio.O valor do gio ou desgio,nos termos do Decreto-Lei n1.598/1977, ser registrado pelocontribuinte em subconta distintado custo de aquisio do investi-mento e dever indicar os seguin-tes fundamentos econmicos:

    a. Mais valia de Ativos:valorde mercado de bens do ativo dacoligada ou controlada superiorou inferior ao custo de aquisioregistrado contabilmente;

    b. Rentabilidade Futura: va-lor da rentabilidade da coligadaou controlada, com base nos re-sultados de exerccios futuros;

    c. Outras Razes: fundo decomrcio, intangveis e outrasrazes econmicas.

    O gio fundamentado com ba-se na mais valia de ativos (letraa) ou rentabilidade futura (le-tra b) dever ser devidamen-te suportado por demonstraoarquivada como comprovante daescriturao do investidor.

    Nota-se que o legislador elen-cou trs tipos de critrios parasuportar o preo pago na aquisi-

    o do investimento, cujo valorem tese, deveria estar em conso-nncia com as prticas de merca-do, cabendo ao contribuinte bus-car o critrio mais adequado parasuportar o valor da operao.

    Vale destacar que o Decreto-

    -Lei n 1.598/1977 no estabelecequalquer ordem a ser seguida pe-lo investidor para ns de funda-mentao do gio apurado. Ade-mais, no impede que o investidoraloque o gio em mais de umafundamentao econmica.

    O Decreto-Lei n 1.598/1977determinou, ainda, que as con-trapartidas da amortizao dogio ou desgio no seriam com-putadas na apurao do LucroReal, com exceo ao caso dealienao do investimento, mo-mento no qual, o gio ou desgiopassaria a compor o custo do in-vestimento para ns de apuraode ganho ou perda de capital.

    Observa-se, contudo, que so-mente com o advento da Lei n9.532/1997, o gio registradoquando da aquisio da partici-pao societria, ganhou grande

    importncia com a determinaodos critrios a serem observadospara alcanar a sua dedutibilida-de para ns scais, at ento nodisciplinados pelo Decreto-Len 1.598/1977.

    Os artigos 7 e 8 da Lei n9.532/1997 dispuseram que apessoa jurdica que absorver opatrimnio de outra, em virtude

    Por Cassandra Camargo Alcalde de Carvalho*

    Do fundamento econmico do gio para fins fiscais

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    de incorporao, fuso ou ciso,na qual detenha participao so-cietria adquirida com gio oudesgio (upstream merger), ouvice-versa (downstream mer-

    ger), dever observar os seguin-tes procedimentos:a. gio fundamentado com

    base na mais valia de ativos: de-ver ser registrado em contrapar-tida conta que registre o bemou direito que lhe deu causa, in-tegrando o custo de aquisio dobem ou direito, e, portanto, sujei-to depreciao, amortizao ouexausto, no prazo previsto pela

    legislao tributria vigente;b. gio fundamentado com

    base na rentabilidade futura: se-r registrado em conta de Ati-vo Diferido, sujeito amortiza-o razo de um sessenta avos,no mximo, por ms (equivalentea 20% ao ano), nos balanos cor-respondentes apurao do Lu-cro Real, aps a incorporao,fuso ou ciso.

    c. gio fundamentado em ou-tras razes: ser registrado emconta de Ativo Permanente, nosujeito amortizao. No caso dealienao do bem ou direito, ircompor o custo de aquisio pa-ra ns de apurao do ganho ouperda de capital. Ademais, referi-do montante poder ser deduzi-do como perda, no encerramen-to das atividades da empresa, secomprovada, nesta data, a inexis-tncia do fundo de comrcio oudo intangvel que lhe deu causa.

    Portanto, constata-se que arealizao do gio, para ns s-cais, atravs dos eventos es-peciais de incorporao, fusoou ciso, o mecanismo adota-

    do at os dias atuais, em virtudeda vigncia da Lei n 9.532/1997,para alcanar a dedutibilidadeda amortizao do gio. Todavia,esse mecanismo est limitado

    fundamentao econmica dogio, j que para cada cenrio, hum critrio de amortizao e de-dutibilidade a ser observado.

    Na prtica, os contribuintessempre buscam fundamentar ogio com base na mais valia deativos (gio letra a) ou na renta-bilidade futura (gio letra b) doinvestimento, com o intuito dealcanar benefcio scal quando

    da sua amortizao, j que o gioclassicado como outras razesno gera nenhuma dedutibilida-de para ns de apurao do Im-posto de Renda da Pessoa Jurdi-ca - IRPJ e da Contribuio Socialsobre o Lucro Lquido CSLL,apenas ser computado quandoda alienao do investimento pa-ra ns de determinao do ganhoou perda de capital.

    Vale destacar que a Contabili-

    dade, em nenhum momento at2008, dispunha de prticas con-tbeis claras, alm das previs-tas pela legislao tributria, pa-ra a contabilizao do gio. Havianormas infra legais da Comissode Valores Mobilirios CVM so-bre instrues a serem observa-das na contabilizao e amortiza-o do gio para as companhiasabertas, que visavam, principal-mente, proteo aos acionistas

    minoritrios.A fundamentao econmi-

    ca do gio constitui aspecto deextrema relevncia e cuidados aserem observados pelo investi-dor, j que pode acarretar diver-sos questionamentos em virtudedo seu enquadramento e conse-quente dedutibilidade.

    A legislao vigente no fazrestries sobre a preparaodesse estudo, podendo, inclusi-ve o prprio contribuinte pre-par-lo. Entretanto, com o intui-

    to de demonstrar transparnciae independncia na anlise doscritrios adotados, recomenda--se que esse estudo seja prepa-rado por empresa especializadaou outro terceiro independentecom a emisso de um laudo/es-tudo especco para suportar opreo pago na operao. Trata--se de elemento essencial parasuportar o fundamento econ-

    mico do gio apurado pelo inves-tidor, principalmente em caso dequestionamentos por parte dasautoridades competentes.

    A possibil idade de deduzir aamortizao do gio, para nsscais, no Brasil, um gran-de atrativo para os investidoresprincipalmente os estrangeirosj que esse benef cio scal no comum em outros pases.

    Da mesma forma que consti-

    tui um grande atrativo para in-vestidores, tambm passou a serfoco de scalizao das autori-dades scais. A Receita Federatem, nos ltimos anos, atravsdos seus agentes scalizadoresquestionado os gios gerados naaquisio de participaes socie-trias, bem como as reestrutura-es societrias que vislumbramo seu aproveitamento para nsscais. So geralmente valoresrelevantes e que podem impactarsignicantemente as demons-traes nanceiras das empre-sas, caso seus efeitos scais se-jam efetivamente glosados.

    Os grandes questionamen-tos dos gios ainda se perfazemna esfera Administrativa e no hevidncias efetivas do entendi-

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    Assim, usualmente, observa-vam-se transaes, nas quais de-terminada sociedade investido-ra, que tinha apurado o gio daaquisio de investimento, in-

    corporava esse investimento ouvice-versa, e com a realizaodesse gio, nos termos da Lei n9.532/1997, iniciava-se a amor-tizao do gio contabilmente,e a despesa gerada era conside-rada dedutvel (observado o limi-te mximo de 1/60 ao ms), parans de apurao do Lucro Real eda base de clculo da Contribui-o Social sobre o Lucro Lqui-do. Logo, o contribuinte alcan-ava reduo da carga tributriaem aproximadamente 34% do va-lor do gio apurado.

    Com a publicao da Lei n11.638/2007, esse modelo subor-dinado e secundrio da Contabi-lidade foi deixado pra trs e osconceitos e prticas contbeispassaram a ter independnciados conceitos tributrios.

    A Lei n 11.638/2007 trouxe

    mudanas signicativas na legis-lao societria, traduzidas naLei n 6.404/76, na medida emque convergiu as prticas con-tbeis brasileiras aos padresinternacionais do IFRS In-ternational Financial ReportingStandards, procedimento esse,que vem sendo progressivamen-te adotado por outros pases. Asnovas prticas contbeis torna-ram-se vigentes, no Brasil, a par-tir de 1 de janeiro de 2008.

    No que concerne especica-mente ao impacto que essas no-vas prticas contbeis poderiamtrazer ao gio apurado, em espe-cial nas operaes de M&A, valedestacar que foi criado um novogrupo contbil denominado Ati-vo Intangvel.

    mento que ir prevalecer sobre amatria, principalmente pelo fatode o Judicirio no ter sido acio-nado. De qualquer forma, o tematem sido objeto de acompanha-

    mento efetivo pelos contribuin-tes e estudiosos, j que qualquerentendimento desfavorvel quevenha prevalecer poder tornarinviveis eventuais alternativasde melhor gesto tributria pa-ra o aproveitamento do gio, econsequentemente desestimularoperaes de M&A.

    Nas operaes de M&A, os in-vestidores buscavam maximizaresse benefcio scal da deduti-bilidade do gio, e at o ano ca-lendrio de 2008, era muito co-mum o gio estar cem por centofundamentado na rentabilidadefutura do investimento. Confor-me j pontuado, a Contabilida-de permitia esse tipo de anlisee registro contbil com base noDecreto-Lei n 1.598/1977 e naLei n 9.532/1997, em virtude daprpria ausncia de normas con-

    tbeis expressas. A Contabilidadeera acessria legislao tribu-tria para o alcance dos resulta-dos pretendidos.

    Esse cenrio foi mantido ato ano de 2007, quando ainda, aContabilidade brasileira era nor-teada pela legislao tributria,em virtude da ausncia de dispo-sitivos expressos que indicassemas melhores prticas contbeis aserem seguidas.

    A legislao tributria porme-norizadamente determinava oscritrios contbeis a serem segui-dos pelas sociedades e a Contabi-lidade atuava como mera coadju-vante, sem qualquer intervenoexpressa legislao tributria,apenas acatando de forma passi-va as determinaes scais.

    Neste novo grupo foram com-preendidos os direitos que tmpor objeto bens incorpreos des-tinados manuteno da socie-dade ou exercidos com essa -

    nalidade, inclusive o fundo decomrcio adquirido. Incluiu-setambm neste conceito de ati-vo intangvel, para ns de IFRSo gio pago e suportado combase na rentabilidade futura, ochamado goodwill. Destaca--se que o goodwill, em virtudedos conceitos trazidos do IFRSdeixou de ser amortizado parans contbeis.

    Face s novas prticas cont-beis introduzidas, vrias discus-ses surgiram no mercado sobrea aplicabilidade da nova regra; edo ponto de vista scal, um dosprincipais pontos discutidos foa manuteno do benefcio scaldo gio.

    Com o objetivo, entre outrosde centralizar e uniformizar oentendimento no processo dedenio das boas prticas a se-

    rem consideradas pelas empre-sas para a convergncia da con-tabilidade brasileira aos padresinternacionais do IFRS, atravsda emisso de Pronunciamen-tos Tcnicos Contbeis, foi cria-do o Comit de PronunciamentosContbeis CPC pela Resoluodo Conselho Federal de Contabi-lidade CFC n 1.055/2005.

    No que concerne ao aspectocontbil relativo ao gio suporta-do com base na rentabilidade fu-tura, foi publicado o Pronuncia-mento Tcnico Contbil CPC n15, atual CPC n 15 (R1).

    O CPC n 15 instituiu o concei-to de combinao de negciosassim entendido como a opera-o ou outro evento, no qual oadquirente obtm o controle de

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    um ou mais negcios, indepen-dente da forma jurdica da ope-rao. Inclui-se tambm as ope-raes de fuses entre partesindependentes, at mesmo as

    operaes de true mergers oumerger of equals.Esse mesmo CPC estabeleceu

    o mecanismo do Purchase Pri-ce Allocation (PPA) para as opera-es de combinaes de negciosrealizadas entre partes indepen-dentes, que, em suma, deve obser-var os seguintes procedimentos:

    i) Reconhecimento a valorjusto dos ativos identicveis edos passivos assumidos, mesmoquando no estejam reconheci-dos no balano da sociedade ad-quirida, assim como de partici-paes de no controladores naadquirida; e

    ii) Reconhecimento comogoodwill ou resultado prove-niente da compra vantajosa, doativo que representa benefcioseconmicos futuros resultan-

    tes de outros ativos adquiridosna combinao de negcios, osquais no foram individualmen-te reconhecidos conforme itemi acima.

    Dessa forma, a adquirentedo investimento, nos termos doCPC n 15, dever efetuar a alo-cao do preo pago, com ba-se nos itens i e ii acima, e se-ria classicado como goodwill,incluindo-se aqui, o gio funda-mentado com base na rentabili-dade futura, apenas o montanteresidual. Esse PPA deve estar su-portado por um laudo de avalia-o especco.

    O goodwill registrado conta-bilmente, segundo as novas pr-ticas contbeis, no passvel

    de amortizao e est sujeito aoteste de reduo do valor recu-perado, o chamado Impairment(CPC n 01).

    A legislao tributria brasilei-

    ra no acompanhou as novas nor-mas e prticas contbeis de har-monizao ao IFRS. Contudo, essaruptura do antigo modelo cont-bil para o novo, gerou e ainda ge-ra grande incerteza dos impactostributrios que podem ser provo-cados pela aplicao dessas novasregras de contabilidade.

    A m de dirimir os questiona-mentos que vinham sendo levan-tados e discutidos no mercado,foi publicada a Medida Provis-ria n 449/2008, posteriormenteconvertida na Lei n 11.941/2009,que instituiu o Regime Tributriode Transio (RTT).

    O RTT tem como objetivoneutralizar os efeitos tributriosdecorrentes das novas prticascontbeis introduzidas pela Lein 11.638/2007 e normativos cor-respondentes, para ns de de-

    terminao do IRPJ, CSLL, PIS eCOFINS. As empresas poderiamoptar pelo RTT nos anos de 2008e 2009, contudo, a partir de 2010,tornou-se obrigatrio.

    De uma maneira geral, o IR-PJ, a CSLL, o PIS e a COFINS de-vidos pelos contribuintes deve-ro ser calculados de acordo comos mtodos e as prticas cont-beis vigentes em 31 de dezembrode 2007, ou seja, sem considerareventuais efeitos advindos das al-teraes nas prticas contbeis.

    Os ajustes decorrentes do RTT,atualmente, so reportados noControle Fiscal Contbil de Tran-sio (FCONT), assim como emchas especcas da Declaraode Informaes Econmico-Fis-cais da Pessoa Jurdica DIPJ, e

    constituem forma de demonstra-o dos resultados e do balanopatrimonial segundo os critrioscontbeis em 31 de dezembro de2007. Portanto, demonstram a

    diferena entre o balano socie-trio/contbil (novas regras con-tbeis) e o balano scal (antigasregras contbeis).

    A instituio do RTT no fosuciente para sanar todas as d-vidas e questionamentos quantoaos possveis impactos tribut-rios decorrentes das novas pr-ticas contbeis. No caso espec-co do gio gerado nas operaesde aquisio de participao so-cietria, dvidas so suscitadasem relao aplicabilidade doconceito de gio advindo do CPCn 15,qual seja, a necessidade defundamentar o gio, para ns s-cais, com base no PPA.

    Muitos passaram a entenderque a legislao tributria, an-tes precursora dos critrios con-tbeis, agora estaria subordina-da aos novos conceitos contbeis

    introduzidos. Nesse sentido, so-mente poderia ser fundamentadocomo gio com base na rentabi-lidade futura, aquele relacionadoao preo que no foi possvel seralocado a valor justo de ativosidenticveis e passivos assumi-dos, como determina o CPC n 15

    Ocorre que as novas prti-cas contbeis introduzidas pe-la Lei n 11.638/2007 e pela Lein 11.941/2009, devem ser con-sideradas neutras pra ns scaisPortanto, no deveriam produzirqualquer efeito scal.

    Com base na legislao s-cal vigente, constata-se que doiscritrios contbeis devem seradotados pelas empresas, com oobjetivo de identicar dois tiposde balanos:

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    tra para atendimento da legisla-o scal. Nota-se, contudo, queesse cenrio vem sendo ardua-mente discutido pelo mercado econtribuintes, em virtude do al-

    to custo de manuteno que elerepresenta.Considerando essa atual di-

    cotomia, e sendo o gio objetode legislao tributria expres-sa (Decreto-lei n 1.598/1977 eLei n 9.532/1997), no haveriaque se falar na aplicao dos cri-trios contbeis em detrimentoda legislao vigente. Como bemesclarece Lus Eduardo Schoue-ri conquanto o assunto gio te-nha recebido, do ponto de vistada contabilidade societria, no-vos desdobramentos por contada edio da Lei n 11.638/2007,importa reconhecer que o insti-tuto jurdico tributrio homni-mo - gio no sofreu qualqueralterao, cabendo, da, ao tribu-tarista, tomar por base a legisla-o que o regula.1

    Desta feita, se as autoridades

    scais pretendem se amparar dasnovas regras contbeis para nsde apurao e dedutibilidade dogio, devero primeiramente al-terar a legislao scal vigente,atentando-se, principalmente,para o princpio constitucionalda legalidade. Atualmente, oscontribuintes esto protegidospela neutralidade tributria ins-tituda pelo RTT.

    Ao tomar-se por base o De-

    creto-lei n 1.598/1977 e a aplica-bilidade do RTT, o investidor de-ver observar, para ns scais, oscritrios determinados pela le-gislao scal vigente para a fun-damentao do gio, quais sejam:

    i) Balano societrio combase nas novas prticas cont-beis para a elaborao das de-monstraes nanceiras; e

    ii) Balano scal com basenas prticas contbeis existentesem 31 de dezembro de 2007 paraapurao dos tributos federais.

    Tal entendimento foi corro-borado pela prpria Receita Fe-deral com a recente publicaoda Instruo Normativa RFB n1.397/2013, que regulamenta oRTT, e determinou que alm doselementos de Resultado (custos,despesas e receitas), tambm oselementos do Ativo, Passivo, Pa-trimnio Lquido, devero serconsiderados para ns tribut-rios, com base nos mtodos ecritrios vigentes em 31 de de-zembro de 2007.

    Essa Instruo Normativa daReceita Federal tambm instituiua Escriturao Contbil Fiscal(ECF) que dever ser apresentada

    anualmente pelas pessoas jurdi-cas tributadas com base no lucroreal, a partir de 2014. A ECF deve-r conter todos os lanamentosdo perodo de apurao confor-me os critrios contbeis aceitospara ns scais, ou seja, com ba-se nas prticas vigentes em 31 dedezembro de 2007 e ser trans-mitida ao Sistema Pblico de Es-criturao Digital (SPED). At oano de 2013, ainda permanece

    obrigatria a entrega do FCONT.Portanto, restou claro que os

    contribuintes so obrigados amanter duas escrituraes con-tbeis, uma para atendimentoda legislao societria e a ou-

    i) mais valia de ativos (letra a)ii) rentabilidade futura (letra b)ou iii) outras razes econmicas(letra c).

    Ademais, outro aspecto rele-

    vante a ser observado pelo in-vestidor, como j pontuado, apreparao de um estudo/lau-do, que fundamentar economi-camente o gio gerado para nsscais, com base nas premissasfatos e expectativas que nortea-ram a aquisio do investimentocom gio, sem qualquer ordemde aplicabilidade e relevncia aser seguida.

    Sob esse prisma, observa-seque as regras introduzidas peloCPC n 15, em princpio, altera-ram os mtodos e critrios con-tbeis vigentes em 31 de dezem-bro de 2007, na medida em queo investidor, para ns de aten-dimento das novas regras con-tbeis, passou a alocar a valorjusto, o preo pago aos ativosidenticveis e passivos assumi-dos, e somente o excedente se-

    ria considerado goodwill base-ado na rentabilidade futura. Hdesse modo, uma ordem e me-todologia imposta a ser seguidapelo contribuinte, at ento ine-xistente.

    Portanto, mesmo que para nsde balano societrio, elabora-do com base nos novos critrioscontbeis, o investidor tenha queefetuar a alocao do preo pa-go com base em laudo espec-

    co que suportar o PPA e even-tual goodwill gerado, com basena legislao tributria vigentebem como entendimento ema-nado pela prpria Receita Fede-ral atravs da Instruo Norma-

    1 Cf. Lus Eduardo Schoueri, gio em Reorganiza-es Societrias (Aspectos Tributrios). So Paulo.

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    tiva RFB n 1.397/2013, para nsde balano scal, dever tam-bm preparar um laudo espec-co que suportar o gio registra-do para ns scais, segundo os

    critrios vigentes em 31 de de-zembro de 2007 e que ainda per-manecem inalterados.

    Vale destacar, contudo, quealguns aspectos constantes doCPC n 15 no deveriam ser in-terpretados como novas prticascontbeis, tendo em vista queantes da sua publicao, j haviapreviso para a alocao do pre-o de compra em itens espec-cos, como no caso de bens doativo, mais especicamente parao Ativo Imobilizado. Ou seja, asprticas contbeis vigentes em 31de dezembro de 2007 permane-cem aplicveis. No haveria quese falar em qualquer alterao.

    Dessa forma, no necessaria-mente a alocao do preo decompra a valor justo, segundoas determinaes do CPC n 15, conceitualmente diferente da

    alocao do gio fundamentadona legislao tributria vigente.Assim sendo, mesmo que o in-

    vestidor esteja amparado pelaneutralidade tributria do RTT,e elabore dois laudos/estudoseconmicos para suportar o pre-o pago na aquisio do inves-timento com o intuito de alcan-ar maior benefcio scal, quaissejam o PPA baseado nos novoscritrios contbeis determina-

    dos pelo CPC n 15, bem como olaudo scal baseado nos crit-rios previstos pelo Decreto-lei n1.598/1977, caria inconsistenteapresentar um laudo/estudo pa-ra suportar o gio apurado, para

    ns scais, que esteja cem porcento fundamentado na rentabi-lidade futura do investimento, nocaso do PPA apresentar alocaopara Ativo Imobilizado (letra a),

    por exemplo.Restaria evidente, pelo balan-o societrio do investidor, queparte do valor pago na aquisiodo investimento compe o cus-to do Ativo Imobilizado adquiri-do, e ainda, que a fundamenta-o do gio, para ns scais, foiefetuada com o nico propsi-to de obter maior benefcio s-cal. Portanto, eventuais justi-cativas utilizadas no laudo parasuportar o gio gerado, para nsscais, estariam enfraquecidas,face referncia clara a outrofundamento para seu pagamen-to, j antevisto no Decreto-lein 1.598/1977, e que tambm erautilizado pelos investidores an-tes do advento nas novas prti-cas contbeis.

    No que concerne especica-mente alocao do preo pago

    em Ativos Intangveis (letra c)no PPA, Eliseu Martins e SrgioIudcibus ensinam que os trselementos citados na letra c, doartigo 20 do DL 1.598/77 no de-veriam, em hiptese alguma, lestar. Pleonasmo puro ou razoimpossvel de existir2. Os auto-res entendem que o sobrepreopago, a esse ttulo, compe, es-sencialmente, a rentabilidade fu-tura da entidade adquirida.

    Dessa forma, tomando-se porbase os ensinamentos da doutri-na contbil, bem como a inexis-tncia do grupo contbil AtivoIntangvel at o advento da Lei n11.638/2007, o investidor poderia

    suportar eventual preo alocadoem Ativo Intangvel, consoantePPA, como gio fundamentado narentabilidade futura da empresaadquirida, para ns scais.

    Portanto, nos termos da le-gislao vigente, possvel queo contribuinte disponha de doislaudos/estudos que fundamen-te o preo pago na aquisio doinvestimento, para ns societ-rios/contbeis e scais. Contu-do, extremamente importanteque o investidor analise a essn-cia sobre a forma de qualqueroperao que envolva gio e adocumentao pertinente. Mes-mo que a legislao tributriano tenha acompanhado as mu-danas das prticas contbeis, hcritrios e princpios que perma-necem inalterados e podem serutilizados como argumentos pa-ra suportar eventuais questiona-mentos por parte das autorida-des competentes.

    A tendncia que as autorida-des scais estejam cada vez mais

    rigorosas na scalizao dasoperaes que envolvam gio e ocontribuinte dever estar prepa-rado e munido de todos os sub-sdios necessrios e inerentes aessa nova realidade.

    2 Cf. Eliseu Martins e Srgio de Iudcibus, In-tangvel Sua relao Contabilidade / Direito

    Teoria, estruturas conceituais e normas Prob-lemas scais de hoje. In: Lus Eduardo Schoueri,

    gio em Reorganizaes Societrias (AspectosTributrios). So Paulo, Dialtica, p. 18.

    * Cassandra Camargo Alcalde de Carvalho

    Gerente Snior de Consultoria Tribu-tria da Deloitte Touche Tohmatsu.Bacharel em Direito pela PUC-SP,advogada inscrita na OAB/SP. Bacharelem Cincias Contbeis pela PUC-SP,contadora inscrita no CRC/SP. MBA emGesto de Projetos pela FGV-SP.

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    As the luster of invest-ing in Brazil and otherBRIC countries has di-minished, FIN 48, a USaccounting rule relating

    to the disclosure and valuation oftax contingencies may further de-crease the appetite of US compa-nies to undertake acquisitions inBrazil. That accounting rule on-

    ly went into effect at the end of2006 for some US companies, andat the end of 2008 for non-publicUS companies. In the case of salesof Brazilian companies to US buy-ers that are actually completed,this relatively new accounting rulewill increase the risks that the Bra-zilian seller might face in two re-spects. First, disclosures pursuantto FIN 48 about Brazilian tax con-tingencies might increase the risk

    that Brazilian tax authorities mightdetect the tax contingencies, andthus pursue the Brazilian seller fora potential historical tax underpay-ment. Second, the seller may faceincreased risks that it will have toindemnify the buyer for losses suf-fered as a result of the tax contin-gencies that were the subject ofdisclosure under the new account-ing rule. Sellers of Brazilian com-

    panies would thus be well advisedto consider the impact of FIN 48 onany proposed transaction involvinga US company.

    Brazil is widely recognizedto have one of the most compli-cated tax regimes in the world1.That complicated tax regime hasmeant that many Brazilian com-panies have routinely failed to

    comply with Brazilian tax re-quirements. Some of the non-compliance is unintentional. But,some Brazilian companies pur-posefully fail to comply with taxlaws or pursue questionable ag-gressive tax practices, precise-ly because they realize that over-burdened understaffed Braziliantax authorities are unable to de-tect instances of non-compliancewith the complicated tax regime.2

    Moreover, although the Brazil-ian government has taken actionsto combat public corruption,3 itis not unheard that payments toBrazilian tax ofcials can mysteri-ously lead such ofcials to ignoreand fail to take action against in-stances of tax non-compliancethat have been detected. In ad-dition, even if tax ofcials chal-lenge tax irregularities, taxpayers

    can tie up the challenge in Brazil-ian court litigation for years.4

    Until now, viewed from with-in Brazil, aggressive posturing intax planning has had little down-side risk for Brazilian companiesBut, as foreign companies in thelast several years have begun topay handsome prices for Brazil-ian companies to get access to the

    burgeoning Brazilian markets, Bra-zilian companies are beginning torealize that the tax savings theyobtained through pursuing aggres-sive tax planning may potentiallypale in comparison with lost or re-duced prots obtained from a saleto a US company. In the past fewyears, United States and Europeanauthorities have aggressively pur-sued companies for failing to ef-fectively promote compliance pol-

    icies. Foreign companies have thusbecome hesitant to buy Braziliancompanies with compliance issuesincluding with respect to tax mat-ters, in light of concerns that suchpractices, embodied in the cultureof the target, may continue un-der their watch. But even compa-nies who are comfortable that theycan implement policies and pro-cedures that will ensure such in-

    Por Sanjiv K. Kapur*

    FIN 48 is no Fun for Sellers of Brazilian Companieswith Uncertain Tax Positions

    Nota: Sanjiv K. Kapur is a partner with the lawrm Jones Day. He gratefully acknowledges theassistance of Douglas El Sanadi in research forthis article. The views expressed herein do notnecessarily reect the views of Jones Day.

    1 World Bank, International Finance Corporationand PWC, Paying Taxes 2013 The global picture.

    As Carlos Iacia of PWC notes in the regional analy-ses of the report, The tax compliance burden for

    Brazil is high and continues to far exceed the timerequired in any other economy by some margin.2 According to the Tax Planning Institute, eva-sion in Brazil is estimated to be 16% of potentialincome. Soto, Alonso, Brazils secret tax weap-on: the scal lion, Reuters, May 8, 2012.

    3 The most recent of these actions is the adop-tion of Law 12.846, Brazils anti-corruption law

    that will go into effect on January 20, 2014, andestablishes a comprehensive system of corpo-rate and individual liability for acts of corruptionincluding acts of bribery involving Brazilian andforeign public ofcials.

    4 Nothing is certain Brazilian rms ght hugeand unpredictable tax bills, The Economist, Jan-uary 12, 2013.

    Doutrina

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    stances of non-compliance will notcontinue under their watch, andthus can avoid liability for compli-ance issues on a going forward ba-sis from the acquisition, may still

    be hesitant to proceed forward.The reason for this hesitation arethe strengthened FIN 48 US nan-cial reporting guidelines that re-quire US rms to quantify and ac-count for the uncertainty extantin acquired companies uncertaintax positions.

    United States companies gen-erally prepare nancial state-ments in accordance with Gen-erally Accepted AccountingPrinciples (GAAP), principles pro-mulgated by the Financial Ac-counting Standard Board (FASB)and codied in 2009 in the FASBAccounting Standards Codifca-tion. When in 1992, FASB State-ment No. 109, established re-porting standards to account forthe impact of income taxes on acompanys nancial statements, itdid not provide specic guidance

    on accounting for uncertainty inmeasuring income tax positions.5That changed in 2006 when, FASBInterpretation No. 48, common-ly referred to as FIN 48, modiedFASB Statement No. 109 by pro-viding specic guidance abouthow to account for uncertain-ty in income taxes recognized ina companys nancial statements.

    Since it became effective forperiods beginning after Decem-ber 15, 2006 for US companies that

    publicly le reports with the U.S.Securities and Exchange Com-mission (SEC) and for periods be-ginning after December 15, 2008for all other non-public compa-

    nies, FIN 48 has imposed a two-step process to account for un-certain tax positions. The rstrequirement is recognition. Thisstep calls for a company to deter-mine whether it is more likely thannot that a tax position will be sus-tained upon examination by theappropriate taxing authority.

    In making this determination,the company uses its best judg-ment based on the individual factsand circumstances. The compa-ny must, however, presume thatthe tax position will in fact be ex-amined by the appropriate tax-ing authority; the fact that the riskthat a taxing authority will actual-ly discover and examine the posi-tion might be remote is irrelevant.Furthermore, the company mustpresume that the taxing authoritypossesses all information needed

    to evaluate the tax position.6

    The second step of the processis measurement. If a tax positionmeets the more-likely-than-notrecognition threshold, the posi-tion is gauged in order to identi-fy the amount of benet that maybe recognized in the companys -nancial statements. According toFIN 48:

    A tax position that meets themore-likely-than-not recogni-

    tion threshold shall initially andsubsequently be measured asthe largest amount of tax benethat is greater than 50 percenlikely of being realized upon set-

    tlement with a taxing authoritythat has full knowledge of all rel-evant information.7

    Thus, the second stage of this

    process requires identifying anactual numerical value to be ex-pressed within a companys -nancial statements. The numeri-cal value must include the value ofinterest and penalties.8 In Brazilat the federal level, penalties canrange from 75% to 150% of the taxthat was not properly paid.9

    FIN 48 requires that the com-pany disclose an array of items re-lated to income taxes and that thedisclosures be made no less fre-quently than the end of every an-nual reporting period.10 US com-panies that are subject to thereporting requirements of theSecurities Exchange Act of 1934

    make these disclosures in theirannual reports on Form 10-K ledwith the SEC.11Disclosures includethe gross amounts of increasesand decreases in unrecognized taxbenets as a result of tax positionsduring the prior and current pe-riods. Unrecognized tax benetsare dened as:

    the differences between atax position taken or expect-ed to be taken in a tax return

    5 Accounting for Uncertainty in Income Taxes:an interpretation of FASB Statement No. 109(hereinafter Accounting for Uncertainty), page2. Statement 109 contains no specic guidanceon how to address uncertainty in accounting forincome tax assets and liabilities.

    6 Id. at 3.

    7 Id. at 4.

    8 Id. at 5.

    9 Asciutti, Carlos R. What Are the Key Consid-erations for Executing Transactions in Brazil?Latin American Law & Business Report, March2011.

    10 Accounting for Uncertainty page 6.

    11 Sections 13 and 15 (d) of the Securities Ex-change Act of 1934 require publicly traded com-panies to le periodic reports prescribed bythe SEC. The SEC has promulgated Rule 13a-and Form 10-K to require the ling of annuareports.

    Doutrina

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    and the benet recognized andmeasured pursuant to this In-terpretation. A liability is cre-ated (or the amount of a net op-erating loss carry-forward or

    amount refundable is reduced)for an unrecognized tax benetbecause it represents an enter-prises potential future obliga-tion to the taxing authority fora tax position that was not rec-ognized pursuant to this Inter-pretation. 12

    Disclosure of changes in un-recognized tax benets due totax positions taken, settlementswith taxing authorities or lapseof the applicable statute of lim-itations is required to be madein a tabular reconciliation for-mat. Other information requiredto be disclosed includes how thetotal amount of unrecognizedtax benets, if recognized, wouldimpact the effective tax rate; anda description of tax years that re-main subject to examination by

    major tax jurisdictions. Finally, ifit is expected that total amountsof unrecognized tax benets willsignicantly increase or decreasewithin twelve months, disclosureabout the nature of the uncer-tainty, the event that could occurthat would cause the change aswell as an estimate of the changeis also required by FIN 48. 13

    FIN 48s impact on Brazilian sell-ers must be considered from twoperspectives. The rst comes fromthe possibility that disclosure of theliability in a US companys nancial

    statements might potentially alertand provide Brazilian tax ofcialswith information that they mightuse to pursue claims against theprior owners of the company; the

    concern is that such disclosuresmight potentially cast a spotlighton conduct that led to tax contin-gencies reported in the nancialstatements and the SEC reports ofthe US company that bought theBrazilian company.

    Until now, that has usually notproven to be a major concern.Companies typically address FIN48 within the sections of their an-nual reports on Form 10-K that re-port on income taxes. In accor-dance with the requirements ofFIN 48, companies provide infor-mation concerning total amountsof unrecognized tax benets. FIN48, however, imposes no require-ment that the reporting companyspecically identify unrecognizedtax benets by the taxing jurisdic-tion in which aggressive positionshave been taken.14And companies

    have generally not adopted a prac-tice of doing so. They, however, dohave to list the relevant remainingperiod in the statute of limitationsin the specic jurisdictions inwhich they are exposed to unrec-ognized tax benets---althoughbased on a review of several annu-al reports on Form 10-K, even thatdisclosure is not uniformly made.

    It is of course imaginable thatclose scrutiny of FIN 48 disclo-sures in a companys annual re-ports on Form 10-K over severalyears, especially where that com-

    pany has a practice of disclos-ing more than that necessary un-der the specic mandates of FIN48, could aid a taxing authorityseducated guesses about the ac-

    quired companys tax positionsTo the extent, a company has on-ly conducted one major acquisi-tion in the last several years, theinformation disclosed in the an-nual report may also potential-ly allow the reader of the reportto discern information about thetax uncertainty giving rise to FIN48 disclosure. In fact, the UnitedStates tax authority, the InternaRevenue Service (IRS), does useFIN 48 to its advantage during au-dits and examinations. But, FIN 48disclosures do not have the leveof specicity that allows the IRS tohave a perfect view of a companysuncertain tax position.15

    In addition, to the extent anyBrazilian tax liability is material inlight of the overall assets and li-abilities of a company, a compa-ny would be required to provide

    more specicity about the Brazil-ian tax liability in its SEC reportsthat could tip off Brazilian tax au-thorities. In any event, a Brazil-ian seller of a business with a his-tory of adopting aggressive taxpolicies, who has reason to wor-ry about the potential of the Bra-zilian tax authorities being alertedto the questionable past aggres-sive tax policies in a buyers pub-lic SEC reports, would be well ad-vised to review the past reportsled by an acquiring US companywith the SEC. The review should

    12 Accounting for Uncertainty page 5.

    13 Id. at 6

    14 In discussing additional disclosures about the

    tax liability, it was stated: the Board concludedthat requiring disclosures at the aggregate leveldoes not reveal information about individual taxpositions yet it provides information that usersindicated would be decision useful. Id. at 21.

    15 Lipin, Ilya A., Uncertain Tax Positions andthe New Tax Policy of Disclosures Through theSchedule UTP, 30 Virginia Tax Review 663,674(2011)

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    be done with an eye to gaugingthe reporting practices of the UScompany under FIN 48 and howmaterial any Brazilian tax liabili-ties about which it is concerned

    about might be, in light of suchacquiring companys overall assetsand liabilities. To the extent, therelevant Brazilian tax liabilities arematerial, then an acquiring com-pany will likely be required underthe relevant SEC regulations to in-clude information about the po-tential tax liability---even thoughits past reporting practices underFIN 48 might have suggested thatthe company would ordinarily notprovide much specic informationabout such liability.

    The second and perhaps moreimportant perspective from whicha seller of a Brazilian companymay want to consider the impactof FIN 48 is the impact on its deal-ings with the buyer itself and theconsideration to be received in thesale of the business. When onebegins to talk about consideration,

    one is, of course, implicitly talkingabout the valuation that the buy-er has made based on the infor-mation that a buyer has obtainedabout the assets and liabilities ofthe company. Consideration re-ceived also is measured by the po-tential that the seller may have toreturn part of the considerationreceived in the transaction, in-cluding as part of any contractu-al obligation of seller to indemnifybuyer for certain liabilities.

    Sellers cannot avoid FIN 48 bysimply not disclosing damaginginformation about tax contingen-cies. The intentional withhold-

    ing of information by a seller froma buyer, even when not requiredby the relevant contract govern-ing the sales of the company couldgive rise to liability under legal

    theories of fraud. In fact, the Del-aware Chancery Court in the Unit-ed States held earlier this year thata buyer is not barred from bring-ing a claim for fraudulent conceal-ment of material information de-spite executing a stock purchaseagreement that expressly dis-claimed reliance by the buyer onrepresentations and warrantiesoutside the agreement. 16

    In any event it is customarythat a US buyer will require thatspecic representations and war-ranties about the Brazilian com-pany being acquired be provided,and to the extent the representa-tions prove to be incorrect, the USbuyer will be indemnied for anyliability arising from such misrep-resentations - - including by re-covering from a portion of thepurchase price held in escrow to

    satisfy such liabilities. Clearly, rep-resentations about tax mattersmay cover liabilities that are sub-ject to the reporting requirementsunder FIN 48. But other represen-tations, including a representationabout the nancial statements ofthe business being acquired hav-ing being prepared in compli-ance with US GAAP would also in-directly pull in a representationabout compliance with FIN 48. Tothe extent a seller has prepared -nancial statements in accordancewith US GAAP and is ready to givea representation about nancialstatements having being prepared

    in compliance with US GAAP, theseller may well be advised to ex-pressly state something to the ef-fect that no representation ismade concerning accounting for

    unrecognized tax liabilities pursu-ant to FASB Interpretation No. 48.Purchase agreements also of-

    ten require sellers to indemnifybuyer for all tax liabilities arisingfrom events before the purchaseis consummated, regardless ofspecic representations givenabout tax matters. In additionunlike provisions dealing with in-demnication of other third par-ty claims, buyers are not willingto cede control of the defense ofclaims asserted by tax authori-ties to the Seller. To the extentFIN 48 disclosures in the nanciastatements make it more likelythat tax liabilities will be sufferedin the future, including as a resultof potential claims by the relevantBrazilian tax authorities (and thebuyer controls and is fully indem-nied for the resolution of any

    such claims), that will of courseimpact the returns that Braziliansellers realize from the sale of acompany that has in the past tak-en aggressive tax positions.

    16 TransDigm Inc. v. Alcoa Global Fasteners, Inc.,C.A. No. 7135-VCP (Del. Ch. May. 29, 2013)

    17 Lev, Avi M., Regulatory Watch: FIN 48 CreatesUnexpected Risks in Business Sales, The M&A

    Lawyer, July/August 2008..

    * Sanjiv K. KapurPartner at Jones Day. Lawyer in theDeutscher Akademischer Austauschdi-enst Juristenprogramm (Germany, 1988-1989); Pontifcia Universidad Catolicadel Ecuador (Fulbright Scholar in Ecua-

    dorian Labor Law, 1985-1986); HarvardUniversity (J.D. magna cum laude 1985;A.B. in Economics magna cum laude1982; Phi Beta Kappa); Universidad delos Andes, Bogota, Colombia (RotaryFoundation Scholar, 1981-1982).

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    Introduo

    Oadvogado que atuaem operaes com-pra e venda de parti-cipaes societriasou associaes en-

    tre sociedades empresariais (as-sim compreendidas as operaesde compra e venda de socieda-des, fuses, incorporaes, ci-ses, etc) operaes conhecidas

    no mercado como de Fuses eAquisies e tambm pelo angli-cismo Operaes de M&A1, bemcomo com o Direito Societrio demodo geral, frequentemente sedepara com conceitos da cinciadas Finanas ou da Contabilidadeem negociaes, contratos e de-mais documentos que fazem par-te de seu cotidiano.

    O Direito Societrio, neste

    ponto, age como um elemento desobreposio, o qual coleta dasnegociaes entabuladas pelaspartes contratantes os elemen-

    tos necessrios para formalizarjuridicamente as tratativas co-merciais, por meio de contratos,compromissos, opes e demaisatos societrios e contratuais ne-cessrios para a concretizaoda operao.

    Contudo, esta tarefa de co-locar no papel o quanto vislum-brado pelas partes do ponto devista econmico, contbil ou -nanceiro bastante rdua, tendo

    em vista a complexidade e ambi-guidade que existe ao se tradu-zir nmeros e conceitos cont-beis ou nanceiros em palavras econceitos jurdicos.

    Por exemplo, um investidorpode condicionar seu aporte emdeterminada companhia obten-o de uma expectativa de re-torno do seu investimento, ou,mais precisamente, realizao

    de certa Taxa Interna de Retor-no TIR, a qual ser calculadacom base em uma taxa de des-conto e determinado. Outras ve-

    zes, pode o investidor condicio-nar o pagamento de um prmioao vendedor, conforme o EBI-TA ou mltiplo de ndice de P/Lobtido pela companhia nos prxi-mos anos, o qual ser somando aopreo de aquisio da companhiae pago ao vendedor.

    Nem sempre trivial, porexemplo, exprimir elmente osignicado de WACC (Weighted

    Average Cost of Capital), sen-

    do que tarefa muito mais tor-mentosa convencer um juiz sobreo acerto ou erro deste concei-to. No por outra razo, a imen-sa maioria dos contratos de M&Apreveem clusulas de arbitragemna esperana de que em eventuacontroversa futura um especialis-ta da rea acostumado a tais con-ceitos seja indicado como rbitroda questo.

    O relacionamento entre o Di-reito, a Contabilidade e as Finan-as sempre existiu, mas podemosdizer que tem se intensicado

    Consideraes sobre o direito societrio,as finanas e a contabilidade

    Por Ivo Waisberg e

    Herbert Morgenstern Kugler*

    1 Este artigo se referir aos contratos ou com-plexo de contratos que materializam essasoperaes como Contratos de Fuses e Aqui-

    sies ou Contratos de M&A, pois tais termosso os comumente usados na vida prtica des-sas situaes empresariais.

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    ainda mais desde a edio da Lei11.638/2007, a qual trouxe inova-es impactantes Lei 6.404/76(LSA), principalmente no quetange contabilidade das Socie-dades Annimas, vez que a LSAagora obriga a Comisso de Valo-res Mobilirios (CVM) a expedirnormas em consonncia com ospadres internacionais de conta-bilidade adotados nos principaismercados de valores mobilirios.2

    Neste sentido, a CVM, com ful-cro nos comunicados do Comitde Pronunciamentos Contbeis e

    do Conselho Federal de Contabi-lidade, tem exarado instrues eorientaes voltadas inserono Brasil das prticas adotadospelo IFRS International Finan-cial Reporting Standards, as quaispossuem signicativo impactoem operaes de Fuses e Aquisi-es, vez que a contabilidade dascompanhias a principal matriaprima das Finanas, a qual norteia

    os propsitos dos indivduos emoperaes de M&A.

    Evidentemente, no estamosarmando que os prossionaisdo Direito Societrio ignoravama Contabilidade ou Finanas an-tes de 2007; pelo contrrio, sem-

    pre tiveram de lidar com elas, ha-vendo vrios estudos pioneiros ede longa data, cujas inunciasperduram at hoje, cabendo des-tacar, dentre outros ttulos de ex-presso, A Natureza Jurdica doBalano, de Fbio Konder Compa-rato3, e Finanas e demonstraesfnanceiras da companhia, de JosLuiz Bulhes Pedreira4.

    No entanto, a partir de 2007, onmero de debates acadmicos eestudos jurdicos voltados an-lise do relacionamento entre Di-reito, Contabilidade e Finanas

    crescente, o que signica um no-tvel avano interdisciplinar, ten-do em vista que, em comparaocom outros pases, so ainda pou-cos os estudos ptrios sobre o re-lacionamento entre o Direito, aContabilidade e as Finanas5.

    Neste sentido, chega-se a de-fender, at, a existncia de umDireito Contbil6, consisten-te no ramo do Direito que estuda

    as normas contbeis positivadaspelo Estado, as quais englobama LSA, as instrues e orienta-es da CVM, os normativos doConselho Monetrio Nacional,da Superintendncia de Segu-ros Privados e demais rgos e

    agncias reguladoras que positi-vam normas contbeis. Assim, osconceitos contbeis, desde quepositivados em normas emana-dos pelos rgos estatais com-petentes, tambm so concei-tos jurdicos, cuja compreensoe interpretao so impostas aosoperadores do Direito.

    De nossa parte, vericamosque, na esteira do que antecipouAlexsandro Broedel Lopes7, os im-pactos da Contabilidade e das Fi-nanas no Direito Societrio po-dem ser de ordem informaciona

    e contratual, conforme veremosem maiores detalhes a seguir.

    Relacionamento Infor-macional entre Contabi-lidade, Finanas e DireitoSocietrio

    A Contabilidade um siste-ma de informao, o qual procura

    prover dados econmicos, nan-ceiros e fsicos da entidade con-tabilizada aos seus usurios, osquais podem ser investidores, ad-ministradores, o Estado etc.8

    Assim, a Contabilidade oprincipal meio pelo qual as socie-

    3 In Estudos e Pareceres de Direito Empresarial,Forense, Rio de Janeiro, 1978, p. 29-37.

    4 Forense, Rio de Janeiro, 1989. Tambm domesmo autor,

    5 Alexsandro Broedel Lopes e Roberto QuirogaMosquera, O Direito Contbil FundamentosConceituais, Aspectos da Experincia Brasileirae suas Implicaes. In Controvrsias Jurdico--Contbeis (Aproximaes e Distanciamentos),

    2 Art. 177, 5. Roberto Quiroga Mosquera e Alexsandro Bro-edel Lopes (Coord.), So Paulo, Dialtica, 2010.6 Elidie Palma Bifano, Novos Aspectos do Direi-to Contbil: Lei n. 11.638/2007, suas alteraese variaes sobre a interpretao da normacontbil. In Direito Tributrio, Societrio e aReforma da Lei das S/A Vol. III, Srgio An-dr Rocha (Coord.), Quartier Latin, So Paulo,2012.

    7O Novo Regime Jurdico das DemonstraesFinanceiras das Companhias Abertas Bra-sileiras: Algumas Implicaes para o DireitoSocietrio. In Temas Essenciais de Direito Em-

    presarial, Estudo em Homenagem a ModestoCarvalhosa, Luiz Fernando Martins Kuyven(Coord.), Saraiva, So Paulo, 2012, p.443.

    8 A Contabilidade , objetivamente, um sis-tema de informao e avaliao destinado aprover seus usurios com demonstraes -nanceiras e anlises de natureza econmicananceira, fsica e de produtividade, com rela-o entidade objeto de contabilizao. Srgiode Iudcibus, Eliseu Martins, Ernesto RubensGelbcke, Manual de Contabilidade das Socie-dades por Aes, 6 edio, So Paulo, Atlas2003, p. 48.

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    dades, principalmente as com-panhias de capital aberto, for-necem informaes objetivas aomercado acerca de sua sade -nanceira e econmica. Baseadasnestas informaes, os indivdu-os e instituies tomam suas de-cises de investimento, funcio-nrios tm cincia do status dacompanhia na qual trabalham eo Estado verica eventuais tribu-tos cabveis, alm de outras an-lises pertinentes.

    O nvel de divulgao de infor-mao (disclosure) das informa-

    es contbeis varia de acordo como tipo de sociedade e as normas es-peccas aplicveis a cada ativida-de ou companhia, porm, em todosos casos continua a Contabilidadea ter a mesma funo, consisten-te em informar seus usurios sobrea situao patrimonial e econmi-ca-nanceira da entidade avaliada,motivo pelo qual a legislao socie-tria impe administrao e s-

    cios das sociedades deveres es-peccos com relao apurao,aprovao e eventual publicaodas demonstraes nanceiras.

    Assim, sob o aspecto da infor-mao, a Contabilidade prestaimensos servios ao Direito So-cietrio, fazendo parte integran-te dele na medida em que as nor-mas de escriturao e de livros

    contbeis tambm so jurdicas,vez que inseridas na prpria LSAe demais normativos infralegais.

    No h, portanto, como rea-lizar qualquer operao ou an-

    lise do capital social da compa-nhia, por exemplo, sem buscar noBalano Patrimonial da compa-nhia esta informao. A informa-o, portanto, , ao mesmo tem-po, contbil e jurdica.

    Contudo, h situaes onde ainformao contbil possui im-pactos jurdicos bastante con-troversos, como no caso de men-surao de valor justo ou valoreconmico do ativo. Com a ade-so do Brasil aos princpios doIFRS, a Contabilidade deve re-etir a essncia dos negcios ju-

    rdicos entabulados, o qual nemsempre reetido pelos instru-mentos jurdicos formais rma-dos pelas partes.

    Nestes casos, a informaocontbil muitas vezes resulta emdisputas jurdicas de difcil so-luo, vez que as normas con-tbeis, assim como as jurdicas,passaram a possuir um grau ain-da maior de subjetividade, o que

    torna os debates entre advoga-dos, contadores e auditores ain-da mais frequentes.

    Ademais, nota-se que, tamanha a complexidade e relevncia dainformao contbil, que o merca-do, bem como algumas normas ju-rdicas especcas, obrigam as de-monstraes contbeis de certasentidades a serem auditadas por

    entidades especializadas. o ca-so das companhias abertas, fundosde investimento e instituies -nanceiras, dentre outras entidades,cujas demonstraes contbeis so

    alvo de auditorias peridicas, naforma de legislao aplicvel.

    Por sua vez, a cincia das Fi-nanas compreende o estudo dooramento de capital, da estrutu-ra de capitais e da administraodo capital de giro das sociedadespropiciando aos seus usurios for-mas de entender o valor de seusinvestimentos e patrimnios9.

    Ao contrrio da Contabilida-de, os princpios e mtodos dasFinanas no gozam de positiva-o jurdica, o que no quer di-zer que no trazem impactos ju-

    rdicos. Um plano de recuperaojudicial, por exemplo, deve con-ter, nos termos dos incisos II e IIIdo art. 53 da Lei 11.101/2005, umademonstrao da viabilidade eco-nmica da recuperanda, alm deum laudo econmico-nanceiroos quais so baseados em mto-dos da cincia das Finanas.

    Outras vezes, as Finanas in-formam dados que a Contabilida-

    de omite, como marcas ou goo-dwill, as quais no so reetidaspela Contabilidade, mas so leva-das em considerao em anlisesnanceiras. Assim, um contratode cesso de marca a ttulo one-roso apenas se mostra vivel emfuno da informao da cinciadas Finanas, a qual atribui mar-ca um valor. Cabe muitas vezes s

    Finanas propiciar a real avalia-o de um ativo empresarial.Nestes termos, o primeiro pas-

    so do inter-relacionamento entreo Direito, a Contabilidade e as Fi-

    9 Stephen Ross, Randolph Westereld, Bra-dford Jordan, Fundamentals of Corporate Fi-

    nance, 8th Edition, McGraw-Hill Companies,2008, p. 17.

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    nanas est centrado no conte-do informacional que a Contabi-lidade e as Finanas fornecerem,bem como aos deveres jurdi-cos atrelados ao levantamento eaprovao destas informaes esua subsequente divulgao.

    RelacionamentoContratual entreContabilidade, Finanase Direito Societrio

    Alm do carter informacional,

    a Contabilidade e as Finanasafetam o Direito Societrio namedida em que os contratoselaborados em operaes deM&A possuem com substrato umfundamento da Contabilidade oudas Finanas.

    Conforme expusemos antes,so frequentes os casos onde aspartes inserem nos contratos si-glas como TIR, EBITA, PL, dentre

    outras, as quais exprimem con-ceitos contbeis e nanceirose que precisam ser devidamen-te traduzidos para o mundo ju-rdico, em linguagem competen-te, de modo a revestir a intenodas partes com a devida seguran-a jurdica.

    A diculdade aqui consiste emexprimir corretamente o concei-to contbil ou nanceiro no con-trato, de tal forma que sua in-terpretao por um terceiro, umjuiz ou rbitro, no seja destoan-te do que foi efetivamente con-vencionado pelas partes.

    neste ponto que a intelign-cia e criatividade dos prossionaisdo Direito Societrio se sobressa-

    * Ivo Waisberg

    Bacharel, Mestre e Doutor em Direitopela PUC-SP. LLM pela NYU. Professorde Direito Comercial da PUC-SP. Sciodo Costa, Waisberg & Tavares PaesSociedade de Advogados

    Herbert Morgenstern KuglerBacharel e Mestre em Direito pela PUC-SP. Advogado do Costa, Waisberg &Tavares Paes Sociedade de Advogados

    em, tendo em vista a complexi-dade dos assuntos envolvidos ea necessidade de conhecer, ain-da que sem a profundidade de umespecialista, os efeitos e possibili-dades contbeis e nanceiros dasdiversas formas societrias de sechegar a um dado objetivo.

    Por exemplo, ao escolher eminjetar recursos em uma compa-nhia com o objetivo de receberlucros dela, um investidor podeoptar por adquirir aes do ca-pital social da companhia ou ad-quirir uma debnture com parti-

    cipao nos lucros. Os reflexosfinanceiros e contbeis das duasalternativas so distintas e de-terminantes para escolha do in-vestidor, sendo que sempre ca-bem variveis adicionais ao casoconcreto (pode-se pensar emprever que as aes so prefe-renciais, preferenciais resgat-veis, as debntures so perptu-as etc.).

    Concluses

    Como visto, procuramos abor-dar a riqueza e desaos do re-lacionamento entre a Contabi-lidade, as Finanas e o DireitoSocietrio, tanto sob o enfoqueinformacional, quanto sob o pon-to de vista contratual, demons-trando que cabe ao operador doDireito Societrio aprofundar-see conhecer conceitos contbeis enanceiros, ainda que sem a pro-fundidade inerente a um espe-cialista, tendo em vista que estacompreenso indispensvel nacorreta redao e interpretaode contratos de M&A.

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    1. Introduo

    Odesenvolvimento daeconomia e das re-laes comerciaisintensificaram a ne-cessidade de maior

    previsibilidade econmica e se-gurana jurdica para as rela-es empresariais. Com isso, osestudos e as preocupaes, tan-to de cunho acadmico, comode cunho prtico, relacionadosaos contratos empresariais saumentou. Esse contexto levou,entre outras consequncias,a anlises recorrentes sobre a

    aplicao de certos institutosdestinados, comumente, a con-tratos de natureza civil aos con-tratos empresariais, tais como aboa-f objetiva e o instituto daleso, ou mesmo a aplicao doCdigo de Defesa do Consumi-dor s relaes contratuais tra-vadas entre profissionais daatividade empresarial.

    A mesma preocupao no ,contudo, observada quando se tra-ta do tema da negociao dos con-tratos empresariais, instrumentosprecpuos para concretizar opera-es de M&A. Cumpre entender oporqu de isso acontecer.

    Primeiramente, o estudo so-bre a negociao, to vital para aatividade prtica dos aplicadoresdo direito, , surpreendentemen-

    te, supercial. Basta comparar,por exemplo, a quantidade deestudos sobre negociao rela-cionados cincia jurdica, comaqueles que abordam as clssicas

    (e ainda atuais, repise-se) discus-ses sobre a interpretao doscontratos empresariais.

    Alm disso, a formao e apr-tica dos advogados, peas funda-mentais na negociao de todoe qualquer contrato, principal-mente os contratos relacionados vida empresarial, est aqumdas necessidades impostas pelasoperaes de M&A em que repre-sentam seus clientes. H um foco

    em aspectos puramente tcni-co-jurdicos, o que acaba, curio-samente ou no, colocando emcheque a efetividade do patronona negociao dos contratos queinstrumentalizam as operaesde fuso e aquisio.

    Essa caracterstica tem nti-ma relao, inclusive, com o lu-gar-comum sustentado sobre aatuao do advogado que atuana rea empresarial. O pensa-mento habitual define que o ad-vogado deve se preocupar tosomente com a tcnica jurdica,ou seja, escolher a melhor for-ma, o melhor designjurdico, pa-ra concretizar a operao, nosendo de sua alada a definiodos aspectos comerciais. Estesso taxados como pontos nego-

    ciais, de responsabilidade exclu-siva do cliente.

    Deve-se levar em considera-o, contudo, que o advogado considerado mandatrio dos in-teresses de seu cliente e, por-

    tanto, tem que se atentar aospontos negociais, mesmo queno detenha o poder decisrio.

    Essas ponderaes so o ob-jeto de anlise deste breve tra-balho. Pretende-se, em umprimeiro momento, analisar oconceito de negociao e, a par-tir dele, ingressar no papel dosadvogados quando diante de si-tuaes em que devem negociar

    contratos em operaes de M&AComo ser analisado, as prticasjurdicas normalmente observa-das caminham em direo oposta melhor execuo e concretiza-o dos interesses dos clientesrazo pela qual so propostas so-lues a tal conito de agncia.

    2. O conceito de negociao

    Todas as pessoas tm vonta-des. Estas, quando organizadase (normalmente) exteriorizadasdo origem a interesses, queso um dos objetos cernes danegociao.

    Quando uma pessoa se depa-ra com a oferta de um determi-nado produto, pode acontecerque lhe nasa a vontade de ad-

    Por Pedro Alves Lavacchini Ramunno

    Negociao em M&AInteresses, confito de agncia e o papel do advogado

    Doutrina

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    quiri-lo. Vontade, esta, por suavez, que, quando se tornar maispalpvel, ir compor um interes-se: o de adquirir o produto.

    O mesmo ocorre com, por

    exemplo, a vontade de um em-presrio adquirir as aes de umacompanhia, que poder se con-cretizar por meio de um negciojurdico de compra e venda deaes, que a tcnica contratualprecpua aquisio do controleou de participao societria re-levante, no mbito de operaesde fuso e aquisio (M&A). Talnegcio jurdico materializadoem um contrato, o qual exempli-ca elemento integrante do gru-po dos contratos empresariais.

    Com base nesse breve introi-to, negociao a criao, ex-

    tino, modificao e regulaode objetos negociais, dentre osquais se inserem os interesses.1A negociao opera, assim, tan-to dentro da parte (que deve

    ser entendida como um centrode imputao de interesses) aoque se denomina negociao in-terna, como entre as partes aque denomina, por sua vez, ne-gociao externa. Nesse senti-do, a negociao interna ocorretanto individualmente, como emrelaes em grupo. Explica-se.

    Em um primeiro momento, oempresrio define seus interes-ses individualmente (negociaointerna individual). O mesmoprocedimento tambm reali-zado pelo seu advogado. Ambos,em um segundo momento, an-

    tes de uma reunio com a outraparte, por exemplo, definem osinteresses que sero exteriori-zados, bem como as estratgiasa serem adotadas na mesa de

    negociao (negociao internarelativa a um grupo). Por fimem um terceiro momento, h areunio com a outra parte (ne-gociao externa).

    3. A identificao dos in-teresses envolvidos e oconflito de agncia

    Os interesses das partes socruciais em toda e qualquer ne-gociao. Um desalinhamentode tais interesses pode implicarem uma relao conflituosa en-

    1 Essa seria a denominada situao-interesse,que no pode ser confundida com a situao-

    posio, em que o objeto de discusso seriauma posio (em que o objeto a ser negociado

    apresenta um contedo xo e de difcil mu-dana em relao sua categoria); ou com asituao-valor, cujo objeto da negociaoseria um valor. Uma vez que a negociao em

    situaes-posio e situaes-interesse extremamente restrita, neste trabalho negociao ir se referir s situaes-interesse, salvose diferentemente estipulado.

    Negociao

    Externa

    Individual

    Interna

    Relativa a umgrupo

    Figura 1 - Negociao interna e externa

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    tre elas. Sendo assim, o embatede interesses em negociaes,por vezes referido como bri-gas ou discusses fervorosasfoi, durante muito tempo, tra-

    tado como o modelo clssicode relao negocial. Trata-se dachamada relao de negociao

    frente a frente (ou frontal). Nes-ses casos, as partes tm interes-ses diametralmente opostos, osquais, consequentemente, sodesarmnicos e orientados emsentidos contrrios.

    Essa parceria, que suposta-mente ocorre entre o advoga-do e seu cliente, de granderelevncia quando da condu-o de operaes de fuses eaquisies. Deve-se atentarpara o fato de que, por maisque no seja natural imaginarsituaes conituosas entreeles, relaes de negociaofrontais so, no mais das ve-zes, bastante comuns entre osclientes e seus representantesjurdicos. Esse desalinhamen-to, claro, no sempre de-

    clarado, ou seja, exteriorizadopor eles.O enfrentamento que deve

    ser feito em busca do por-qu, anal, cliente e advogadono teriam os seus interes-ses harmnicos e coordena-dos. O motivo para isso ofator risco, o qual, diga-se depassagem, inerente a todo equalquer contrato empresa-rial, no sendo diferente pa-ra os que instrumentalizam asoperaes de M&A.

    Pois bem. Os empresrios(clientes ou principals) ten-dem a ter interesses eminen-temente econmicos. Pensame calculam o valor a ser inves-tido, a rentabilidade do em-

    preendimento, a forma depagamento e outros aspec-tos naturalmente ligados fa-ce econmica da operaoE,