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1 Comércio e desenvolvimento Modelo Centro-Periferia Reinaldo Gonçalves Professor titular – UFRJ

Comércio e desenvolvimento Modelo Centro-Periferia - UFRJ · Frei Vicente de Salvador, História do Brasil , 1627, ... História Econômica do Brasil ... Representantes dos Ministérios

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Comércio e desenvolvimento

Modelo Centro-Periferia

Reinaldo GonçalvesProfessor titular – UFRJ

2

Sumário

1. Modelo Centro-Periferia: enfoques

2. Exportação de commodities

3. Progresso técnico e exportação de commodities

4. Substituição de importações

5. Integração regional

6. Brasil: reprimarização das exportações

7. Síntese

3

Bibliografia básica

R. Baumann, O. Canuto e R. Gonçalves

Economia Internacional. Teoria e Experiência

Brasileira

Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2004, cap. 5.

4

5

6

1. Modelo Centro-Periferia: enfoques

• CEPAL: economias primário-exportadoras (Prebisch, 1949)

• Dependência (Santos, 1970)

• Pobreza permanente – plantations e enclaves (Beckford, 1972)

• Desenvolvimento do subdesenvolvimento (Frank, 1967)

7

Prebisch e a deterioração dos termos de troca

• ganhos de produtividade• transferência para o exterior

• elasticidade-renda• baixa

• política comercial nos países desenvolvidos• restritiva para commodities

• subsídios

• tarifas e MNTs

8

Período Prebisch: 1876-1939

Em outros períodos não há evidência conclusiva

9

Centro versus Periferia

Vulnerabilidade externa estruturalOrigem de crises e transmissão

Instabilidade específica (TT e

receita de X)

Instabilidade sistêmica do

capitalismo

ETs: transferênciasETs: excedente global

Déficit crônico BOPEquilíbrio BOP

Desemprego estruturalEmprego

Primário-exportadoraIndustrialização

Especialização: commoditiesManufaturados

ConcentradasDiversificadas

HeterogêneasHomogêneas

PeriferiaCentro

10

E o modelo Centro-Periferia continua no século XXI: Exemplos recentes

a. dependência em relação às

commodities

b. instabilidade de preços

c. experiência brasileira: TT e CPI

d. ETs: apropriação do excedente

11

a. Importância das commodities

(UNCTAD, 2008)

12

b. Instabilidade de preços: commodities vs manufaturados

(UNCTAD, 2008)

13

c. Brasil - Termos de troca e capacidade de importar: 1974-2008

0

20

40

60

80

100

120

140

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

Termos de troca - índice (média 2006 = 100)

Capacidade de importar (média 2006 = 100)

14

Termos de troca da economia brasileira em perspectiva histórica – tendência e volatilidade: 1901-1975

Brasil: Termos de troca 1901-1975 (índice 1995 = 100)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

1901

1905

1909

1913

1917

1921

1925

1929

1933

1937

1941

1945

1949

1953

1957

1961

1965

1969

1973

15

d. ETs: apropriação do excedente

(UNCTAD, 2008)

16

2. Exportação de commodities : problemas

1. baixa elasticidade-renda da demanda por produtos primários

2. elasticidade-preço da demanda desfavorável

3. reduzida absorção dos benefícios do progresso técnico

4. estruturas de produção retrógradas –concentração / excedente / poder econômico

17

Exportação de produtos primários: problemas (cont.)

5. efeitos negativos: concentração da riqueza e da

renda – grandes propriedades (vazamento /

mercado interno débil)

6. restrição externa: commodities – volatilidade de

preços / instabilidade da receita de exportação

7. transmissão internacional dos ciclos econômicos

8. maiores barreiras de acesso ao mercado

internacional

18

Exportação de produtos primários: problemas (cont.)

9. escalada tarifária

10. menor valor agregado

11. dumping ambiental: custos e riscos crescentes

12. dumping social: custos e riscos crescentes

19

Alguma evidência empírica recente

a) Brasil: peso das commodities

b) Elasticidades-preço e renda

c) Produtos agrícolas: baixo dinamismo

d) Produtos agrícolas: maior protecionismo

e) Produtos agrícolas: subsídios

f) Commodities: escalada tarifária

g) Commodities: MNTs

h) Commodity: valor agregado e cadeia produtiva

i) Commodity: dumping ambiental

j) Commodity: dumping social

20

a) Brasil: Participação dos 10 principais produtos de exportação (%)

32,3Total dos 10 produtos

2,1Partes e pecas para veículos automóveis e tratores (m)

2,1Café cru em grão (b)

2,3Aparelhos transmissores ou receptores e componentes (m)

2,4Farelo e resíduos da extração de óleo de soja (b)

2,7Aviões (m)

2,8Carne de frango congelada,fresca ou refrig.incl.miúdos (b)

3,5Óleos brutos de petróleo (b)

3,7Automóveis de passageiros (m)

4,5Soja mesmo triturada (b)

6,2Minérios de ferro e seus concentrados (b)

2005Produtos

21

b) Evidência: elasticidadesEUA: Elasticidades das importações

(Houthakker e Magee, 1969, p. 21)

1,42-0,88Total

2,63-4,05Manufaturados

1,11-1,83Semimanufaturados

1,28-1,40Alimentos processados

0,30-0,21Alimentos

0,61-0,18Matéria-prima

Є renda da demanda

Є preço da demanda

Grupo de produtos

22

c) Produtos agrícolas: baixo dinamismo

23

d) Produtos agrícolas e animais: maior protecionismo

24

e) Produtos agrícolas: subsídios

25

f) Escalada tarifária: tarifa cresce em proporção direta do valor agregado

26

Escalada tarifária na América do Norte

27

g) Protecionismo: Medidas não-tarifáriasGrau de cobertura

28

MNTs: principais

29

h) Cadeia produtiva e valor agregado: couro

30

i) Dumping ambiental e pecuária

31

Amazônia: Arco do desmatamento e Arco do boi

32

j) Dumping social e pecuária

33

Commodities

=>

maior vulnerabilidade externa estrutural

(esfera comercial)

34

Marco Aurélio Garcia: Estratego dos governos Lula e Dilma.Entrevista: Por SINAL, Sindicato Nacional dos Funcionários do BACEN, Ano 3, No. 13, p. 20-27, maio 2005.

No entanto ...Será que, no Brasil, foi descoberta a “teoria do padrão ótimo” de comércio internacional?

35

Esquecendo a história....Relembrando: Produtos agrícolas - baixo dinamismo

36

3. Progresso técnico e exportação de commodities

O historiador que não aprendeu história?

E o “gênio” continua ...

37

Entretanto, 4 séculos antes...Progresso técnico e o ciclo da cana de açúcar (1580-1650)

Frei Vicente de Salvador, História do Brasil, 1627, p. 125

38

Mais evidência para o século XVII ...

“Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses conhecimentos vão constituir a base para a implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente de grande escala, na região do Caribe.”

Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil, 1959, p. 17

39

Evidência para o século XIX

“O emprego da máquina a vapor, o uso do bagaço de cana como combustível e as novas variedades de canas introduzidas facilitariam o surto açucareiro, verificado no século XIX.”

Roberto Simonsen, História Econômica do Brasil, 1937, p. 115.

40

4. Substituição de importações

• Argumento da indústria nascente• Longo prazo

• Relembrando:

“os países atualmente desenvolvidos (PADs) recorreram a políticas industrial, comercial e tecnológica intervencionistas a fim de promover as indústrias nascentes”.

(Chang, 2006, p. 210)

41

4.1 Argumento da indústria nascente

• a proteção gera resultados positivos no longo prazo

• geração de vantagem comparativa• setor específico

• dimensão temporal

• vantagem comparativa dinâmica • economias de aprendizado

• economias de escala

42

Economia aberta: equilíbrio

43

Economia fechada: tarifa proibitivaperda de bem-estar no curto prazo

44

Entretanto, no longo prazo ...

45

Economias de escala (Q) e economias de aprendizado (t)

46

4.2 ISI: Política comercial

• importante instrumento

• pró-ativo: strategic trade policy e ISI

• impactos significativos• renda

• emprego

• BOP

• distribuição

• desenvolvimento

etc.

47

Protecionismo, indústria nascente nos países atualmente desenvolvidos (PADs)

(Chang, 2006, p. 114)

48

ISI: Pontos a favor

• transformações estruturais

• acumulação de capital

• economias de escala

• economias de aprendizado

• vantagens comparativas dinâmicas (processo sequencial)

• necessária para romper com o modelo Centro-Periferia

• upgrade do padrão de comércio

49

4.3 ISI: Problemas

• ineficiência alocativa

• ineficiência técnica

• ineficiência sistêmica

• reduzida geração de emprego

• baixa contestabilidade

• concentração de riqueza e renda

50

ISI: problemas....

• vulnerabilidade externa estrutural

• esfera produtiva: ETs - desnacionalização

• esfera tecnológica: escolha de técnicas ineficientes

• esfera financeira: passivo externo

• Estado “contaminado”: sistema político clientelista e corrupto

• governança (falhas de governo): seletividade temporal e

setorial/produto

• inviabilidade técnica (tamanho do mercado) => integração

regional

51

5. Integração regional:5.1. Razões

• viabilizar ISI

• maior eficiência alocativa

• reestruturação produtiva

• economias de escala

• economias de aprendizado

• diversificação do comércio exterior

• balanço de pagamentos

• hedge: conjuntura internacional desfavorável

52

Razões não-econômicas

• cultural

• política

• segurança

• acordos bem sucedidos• objetivos políticos

• convergência de modelos

53

5.2 Divergência de modelos e integração regional

Hipótese

Avanço da integração regional depende da

convergência de modelo/estratégia de desenvolvimento

54

América Latina no início do século XXI

55

56

57

5.3 Questão central

Qual é a importância da integração regional na América do Sul para o desenvolvimento de longo prazo do Brasil?

58

Hipótese 1

“a política interna e externa do Brasil deve

ter como objetivo fundamental a

construção do espaço econômico e político

sul-americano, sem qualquer pretensão

hegemônica, com base na generosidade

decorrente das extraordinárias assimetrias

entre o Brasil e cada um dos seus vizinhos”

Samuel P. Guimarães, Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes. 2006.

59

Hipótese 2

• o Brasil deve se “integrar em si mesmo”

• a integração regional é um objetivo secundário

• e que se realiza na dimensão bilateral

Reinaldo Gonçalves, O Brasil e o Comércio Internacional, 2000.

60

6. Brasil: Reprimarização das exportações

• produtos manufaturados• forte tendência de queda

• 2002 = 56,8%

• 2010 = 45,6%

• produtos básicos• aumento da participação

• 2002 = 25,5%

• 2010 = 38,5%

61

62

63

64

65

Mundo

Brasil

66

7. Síntese

• Modelo Centro-Periferia• diferentes enfoques

• divisão internacional do trabalho – obstáculo ao desenvolvimento

• Exportação de commodities• dependência => instabilidade e

vulnerabilidade

• restrições sérias (acumulação, produção, distribuição; oferta, demanda)

67

(Chang, 2006, p. 114)

ISI: Rejeitando o livre comércioPaíses atualmente desenvolvidos: experiência histórica

68

Entretanto....

Cuidado com o protecionismo

• não garante o desenvolvimento

• pode prejudicar o desenvolvimento

Entretanto, pode ser instrumento eficaz se

• seletividade e temporalidade

• Estado: “não capturado” pelos setores/grupos beneficiados diretamente

Fundamental

69

Síntese, cont...

• progresso técnico e exportação de commodities• questão central: transferência de benefícios

• substituição de importações• resultados variam

• questão central: Estado versussetores/grupos dominantes

70

Síntese, cont...

• limites do processo de substituição de importações

• Hipótese do esgotamento: errada

• progresso tecnológico: janela permanentemente aberta de oportunidades

71

Síntese, ...

• integração regional• benefício-custo econômico

• questões não-econômicas

• dimensões: bilateral e plurilateral

• divergência de modelos e inviabilidade da integração

• questão central: Estado versus setores dominantes

72

Marco Aurélio Garcia: Estratego do governo LulaEntrevista: Por SINAL, Sindicato Nacional dos Funcionários do BACEN, Ano 3, No. 13, p. 20-27,

maio 2005.

Síntese...Enquanto isso, no Brasil, foi descoberta a “teoria do padrão ótimo” de comércio internacional.

73

1,328,438,949,601,22Participação

exportações mundiais

de bens %

2,6714,076,673,800,78Participação

exportações mundiais

de serviços %

66,075,886,193,638,0Manufaturados

20,68,44,72,921,3Minerais e combustíveis

10,211,36,93,437,7Prods. agrícolas

ÍndiaEUAAlemanhaChinaBrasil

Distribuição das exportações segundo os principais grupos de produto

(%, 2009)

Et pour cause, China, Índia, Alemanha e EUA preocupadíssimos...

Fonte: OMC

74

Importância relativa de manufaturados nas exportações e participação nas exportações mundiais de bens: 2009 (%)

93,6

86,1

75,8

66,0

38,0

9,608,94

8,43

1,32 1,22

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

China Alemanha EUA Índia Brasil

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

Manufaturados Participação exportações mundiais de bens %

Brasil

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Centro e Periferia no século XXI: China e Brasil 8/Junho/2011: Trem versus carne suína

76

Centro e Periferia no século XXI: China e Brasil

8/Junho/2011

77

78

04/05/2011 - 15:02:37

Embargo russo à carne suínabrasileira deve terminar em breveEspecialistas acreditam que o embargo não deve durar muito tempo

Fonte: Notícias agrícolas

Representantes dos Ministérios da Agricultura do Brasil e da Rússia se reuniram ontem (3), semsucesso, para discutirem saída para o embarco das importações russas de carne suína. Alegandoproblemas sanitários, a Rússia suspendeu parte das exportações de três frigoríficos catarinenses daBRF Brasil Foods. Especialistas acreditam que o embargo não deve durar muito tempo. O assuntodeve ser resolvido em até 35 dias, na opinião do vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc), Eroni Barbieri. O presidente do Instituto Nacional da Carne Suína(INCS), Wolmir de Souza, lembra que os russos fazem estoque para atravessar o inverno, mais um motivo para solução rápida.

Enquanto isso, menos de um mês depois, na Rússia...

79O Globo, 12 de março de 2012, p. 28.

80

Será que os chineses já aprenderam a fazer o ERJ-145?

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Governos FHC, Lula e Dilma e o NADA:(Nacional-desenvolvimentismo às Avessas)

Dominação financeira

Crescente vulnerabilidade externa estruturalFinanceira

Maior concentração de capital

DesnacionalizaçãoProdutiva

Maior dependência tecnológicaTecnológica

Perda de competitividade internacional

Reprimarização

Dessubstituição de importações

DesindustrializaçãoComercial

Erro estratégicoEsfera

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Prêmio Brasil de Economia 2013

Categoria: Livro1º lugar

83

Perspectivas: Questão central

erros estratégicos

comprometem estruturalmente o

desenvolvimento do país

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85

Obrigado!

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http://www.ie.ufrj.br/hpp/mostra.php?idprof=77