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E X P E D I E N T E
Como as vacinas mudaram um País
S U P E R V I S Ã O
Antônio Britto | Presidente-executivo
C O O R D E N A Ç Ã O G E R A L
Octávio Nunes | Diretor de Comunicação Institucional
Selma Hirai | Coordenadora de Comunicação
Bruno Folli | Assessor de Imprensa
Giselle Marques | Analista de Comunicação
R E D A Ç Ã O E E D I Ç Ã O
Fanny Zygband – Mtb 13.464 | Duplo Z Editorial
R E V I S Ã O T É C N I C A
Dirceu Barbano
P R O J E T O G R Á F I C O E D I A G R A M A Ç Ã O
Nebraska Composição Gráfica
I M P R E S S Ã O
Ativaonline Editora e Indústria Gráfica.
R. Verbo Divino, 1.488 – 7º andar – cj. 7ACEP: 04719-904 – Chácara Santo Antônio – São Paulo – SPTel.: (11) 5180-3499 – Fax: (11) 5183-4247
w w w . i n t e r f a r m a . o r g . b r
3C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
AVISO DE CONFORMIDADE
De acordo com o Código de Conduta da INTERFARMA (Revisão 2016), esta publicação se caracteriza por:
· Ter conteúdo histórico e educacional sobre Saúde Pública;
· Estar disponível na internet sem restrição;
· Não ter valor comercial;
· Ser distribuída gratuitamente.
4
5 Apresentação
12 Dois séculos de vacina no Brasil
16 Avanços na imunização
18 Uma revolução epidemiológica
22 A Década da Vacina
26 Uma revolução tecnológica
30 Transferência de Tecnologia
33 O Programa Nacional de Imunizações
38 Uma máquina de saúde pública
40 Em busca da autossuficiência
44 Projeto Xingu
48 Os nós da questão
50 Muitos públicos, muitos desafios
52 Incorporação e sustentabilidade
54 Inovação e acesso
59 Movimento antivacinas
63 O futuro das vacinas
66 Na fronteira da ciência
70 Empresas apoiadoras
Sumário
5C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
ApresentaçãoMais de dois séculos transcorreram desde que foi realizada a primeira vacinação contra va-ríola no País. Desde então, acumulamos vitórias no controle e erradicação de várias epide-mias e doenças imunopreveníveis de grande impacto pessoal, social e econômico. Foi o que aconteceu com a poliomielite, sarampo, difteria e tétano neonatal, enfermidades que as novas gerações não tiveram que enfrentar.
Se fôssemos contabilizar o número de vidas poupadas nesse período, chegaríamos segura-mente a cifras surpreendentes. Exemplos não faltam. É direta a relação entre o aumento da cobertura vacinal e a redução das taxas de mortalidade infantil, especialmente no grupo das crianças menores de 1 ano. Entre 1997 e 2015, ela caiu de 31,9 por 1.000 nascidos vivos para 13,8 segundo registros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As vacinas, evidentemente, não foram a única causa dessa queda, mas desempenharam um papel primordial nesse resultado, de acordo com as análises do próprio instituto. Poucas ações de saúde pública tiveram um alcance tão grande e deram uma contribuição tão men-surável na melhoria da qualidade de vida da população, com uma relação custo x benefício tão favorável. Mas sua relevância extrapola também o espectro visível.
As vacinas são, ao mesmo tempo, resultado e impulsionadoras de um extraordinário de-senvolvimento científico global, decorrente de séculos de pesquisas, estudos e ensaios que promoveram – e continuam a promover – inovação, avanços na medicina e no patamar tecnológico do País.
Para que essa realidade se tornasse possível foi necessária a criação e manutenção de uma sólida rede de interações. Ela é formada por indústrias que, ao longo de 200 anos, mobili-zaram recursos e equipes ao redor do mundo em atividades contínuas de pesquisa e de-senvolvimento (P&D); laboratórios oficiais com um extraordinário histórico de excelência, como é o caso do Instituto Butantan em São Paulo e do Instituto de Tecnologia em Imuno-biológicos Bio-Manguinhos no Rio Janeiro; cientistas renomados e dedicados; equipes de vacinação que enfrentam as condições mais adversas para cumprir com êxito sua missão, além de gestores comprometidos com a continuidade e o aperfeiçoamento dos programas brasileiros de vacinação.
Essas parcerias, sem as quais nada disso teria sido possível, vivem agora uma nova e funda-mental etapa dessa jornada: os acordos público-privados de transferência de tecnologia das empresas produtoras para os laboratórios oficiais. Iniciativas como essas têm possibilitado ao Brasil produzir grande parte da sua demanda de imunobiológicos, que atualmente gira ao redor de 300 milhões de doses anuais de vacinas, segundo o Ministério da Saúde.
Como o Brasil é um país de dimensões continentais e profundos contrastes geográficos, econômicos e sociais, – razão pela qual as coberturas vacinais também não são homogêne-as – há um longo caminho a ser percorrido, apesar das conquistas. Sofremos com o retorno do Aedes Aegypti, que havia sido extinto em duas ocasiões, e com a transmissão de doenças devastadoras como a dengue, zika, chikungunya e a febre amarela.
Além disso, ainda temos outras questões a resolver, como epidemias que poderiam ser evi-tadas e problemas decorrentes da falta de saneamento e da miséria. Ao mesmo tempo em
7C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Victor Mezei Presidente do Conselho Diretor
Antônio BrittoPresidente executivo
que bate à nossa porta um desafio demográfico, o envelhecimento da população, com sua carga de doenças crônicas, mais caras e complexas, como o câncer, diabetes, hipertensão e Alzheimer.
Os resultados alcançados pelo Brasil em políticas de imunização tem um caráter didático que não pode passar sem um instante de reflexão, especialmente neste momento de tama-nha dificuldade para o sistema de saúde.
A maior lição é o próprio sucesso. A comprovação de que o País pode, sim, organizar e executar projetos de saúde pública que sejam consistentes, planejados e implementados com eficiência e competência. A vacinação no Brasil é ironicamente um poderoso antídoto contra o complexo de "Jeca Tatu".
Esse sucesso, porém, tem alguns pressupostos tão necessários quanto incomuns em nosso País em matéria de saúde pública. Entre eles, podemos citar uma política pública com foco, objetivos e métodos claros, estruturada a partir do conhecimento aprofundado sobre o pro-blema a ser atacado, a meta a ser alcançada e o processo que pode levar até lá. Um raro exemplo de cooperação entre União, Estados e Municípios, na qual as responsabilidades de cada ente parecem mais claras que em todas as outras áreas da saúde pública.
Outro ponto é a ausência de preconceito para a ação comum entre o setor público e o setor privado, uma aliança que, embora benéfica, ainda hoje enfrenta obstáculos em muitas áreas do sistema de saúde em decorrência de visões ultrapassadas e anacrônicas.
Há ainda o envolvimento direto da sociedade, protagonista de nossas campanhas de vaci-nação - com intervenção direta de organizações sociais, do terceiro setor e da cidadania – e alvo do esforço empreendido para ampliar o acesso às vacinas durante o ano todo, seja por meio de sua disponibilização permanente nas Unidades Básicas de Saúde, seja pela atuação constante das equipes de Saúde da Família.
Por outro lado, existem as contradições brasileiras: o passivo que recebemos dos erros co-metidos no passado, como a alta prevalência de dengue e o desafio gigantesco impostos pela nova realidade, da urbanização ao envelhecimento da população, que requerem ações urgentes e a necessidade de um novo salto em nossos esforços em imunização.
Como País, precisaremos dar respostas a essas demandas. E é com o olhar voltado para essas novas necessidades, e para as antigas que ainda não foram cobertas, que empresas e laboratórios no Brasil e no mundo dedicam-se à pesquisa e desenvolvimento de vacinas que possam prevenir essas doenças – assim como ocorreu há séculos em relação às infec-tocontagiosas.
É com o propósito de contribuir para este debate, para este necessário diálogo sobre o presente e os caminhos para o futuro, que lançamos este livro, na certeza de que as bem--sucedidas alianças e parcerias que nos trouxeram até aqui também permitirão que avance-mos para conquistar novas vitórias.
Antônio BrittoPresidente executivo
10
A todos os que dedicaram seu tempo e conhecimento
para que este livro se tornasse possível.
Agradecimentos
10
Dr. Akira HommaConsultor científico do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos/Fiocruz
Dr. Gabriel OselkaProfessor da Faculdade de Pediatria da USP e membro do Comitê Técnico Assessor de Imunização (CTAI) do PNI
Dra. Carla DominguesCoordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde
Dra. Helena SatoDiretora técnica da Divisão de Imunização de Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.
Dr. Eduardo Hage CarmoProfessor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia e ex-diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde
Evelin Plácido dos SantosEnfermeira apoiadora técnica de imunização do Projeto Xingu da Escola Paulista de Medicina/ Universidade Federal de São Paulo
Mirian Martho de MouraEnfermeira e ex- coordenadora do PNI.
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11C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S 11C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Dr. José Geraldo LeiteProfessor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e membro do Comitê Técnico Assessor de Imunização (CTAI) do PNI
Dr. Marco Aurélio SáfadiPresidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria e membro do Comitê Técnico Assessor de Imunização (CTAI) do PNI
Dr. Jarbas BarbosaDiretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e ex-Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde
Dra. Maria de Lourdes de Sousa MaiaAssessora clínica do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos/Fiocruz e ex-coordenadora do PNI.
Dr. José Cassio de MoraesProfessor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e consultor da Organização Panamericana de Saúde (OPAS)
Maria Izabel NascimentoEnfermeira Coordenadora do Programa de Imunizações do Amazonas.
Dr. Reinaldo de Menezes MartinsConsultor científico do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos/Fiocruz
Dr. Renato KfouriVice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
Dra. Rosana RichtmannInfectologista do Hospital Emílio Ribas e membro do Comitê Técnico Assessor de Imunização (CTAI) do PNI.
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1804 Realizada a primeira vacinação no País, contra a varíola.
1811 Criada a Junta Vacínica da Corte para propagar a vacina antivariólica.
1832 Primeira legislação de obrigatoriedade da vacina no Brasil.
1834/35 Epidemia de varíola no Rio de Janeiro.
1846 Criado o Instituto Vacínico do Império a partir da reestruturação da Junta Vacínica, com raio de ação ampliado para todo o Império.
1872 Nasce Oswaldo Gonçalves Cruz em São Luís de Paraitinga, São Paulo.
1878 Epidemia de varíola no Rio de Janeiro.
1885 Introdução da primeira geração da vacina antirrábica.
1886 Extinção do Instituto Vacínico.
1887Epidemia de varíola no Rio de Janeiro.
Introdução da vacina antivariólica animal no Brasil.
1889 Surto de peste bubônica no porto de Santos leva o governo a adquirir a Fazenda Butantan, para produzir soro antipestoso.
1889 Obrigatoriedade da vacina contra a varíola para crianças de até seis meses de idade.
1894 Criação do Instituto Vacínico Municipal no Rio de Janeiro.
1897 Primeira geração da vacina contra a peste bubônica.
1900 Criação do Instituto Soroterápico Federal, primeira instituição a produzir soro no Brasil que, a partir de 1974, passou a se chamar Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
1902 Oswaldo Cruz assume a Direção-geral do Instituto Soroterápico Federal.
1903 Rodrigues Alves nomeia Oswaldo Cruz como Diretor Geral de Saúde Pública, cargo que corresponde atualmente ao de Ministro da Saúde.
1904Epidemia de varíola no Rio de Janeiro.
Aprovada a lei da obrigatoriedade da vacinação antivariólica. Estoura a Revolta da Vacina.
1907Febre Amarela é erradicada no Rio de Janeiro.
O Instituto Soroterápico Federal passa se chamar Instituto de Patologia Experimen-tal de Manguinhos.
1908 Epidemia de varíola leva a população em massa aos postos de vacinação.
Dois séculos de vacina no BrasilLinha do tempo
13C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
1909 Oswaldo Cruz deixa a Diretoria Geral de Saúde Pública, passando a dedicar-se ape-nas ao Instituto de Manguinhos, que passa a se chamar Instituto Oswaldo Cruz.
1917 Morre Oswaldo Cruz.
1919 O Instituto Oswaldo Cruz incorpora em sua estrutura o Instituto Vacínico Municipal que passa a ser denominado Instituto Vacínico Federal.
1925 Introduzida a BCG no Brasil.
1937 Início da produção e utilização da vacina contra a febre amarela fabricada no Brasil.
1940 Reforçada a necessidade de combater o mosquito vetor, aedes aegypti, devido à baixa eficácia da vacina.
1942 Erradicada a febre amarela urbana no Brasil.
1950 Implantação do toxoide tetânico (TT) e da vacina DTP em alguns estados.
1953 Epidemias de difteria no Brasil.
1961 Primeiras campanhas experimentais com a vacina oral contra a poliomielite.
1962 Primeira campanha nacional contra a varíola.
1966 Criada a campanha de erradicação da varíola.
1967 Introdução da vacina contra o sarampo para crianças de 8 meses a 4 anos.
1968 Inicia-se a vacinação com a vacina BCG.
1970Criada a Superintendência de Campanha de Saúde Pública (SUCAM) resultado da fusão do Departamento Nacional de Endemias Rurais, da Campanha da Erradicação da Varíola e da Erradicação da Malária.
1971Implantado o Plano Nacional de Controle da Poliomielite.
Últimos casos de varíola no Brasil. Iniciada a produção do BCG liofilizado pelo Bu-tantan.
1972 Início do Programa de Vacinação contra o sarampo.
1973Certificação internacional da erradicação da varíola no Brasil.
Criado o Programa Nacional de Imunizações (PNI), com o objetivo de controlar ou erradicar doenças infectocontagiosas e imunopreveníveis.
1974Criado o Programa Ampliado de Imunizações.
Epidemia de meningite meningocócica no Brasil.
1975Início do sistema de registro de doses de vacinas aplicadas.
Instituído o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e Imunizações.
Campanha nacional de vacinação contra a meningite meningocócica.
1976 Implantado em Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz, um centro de produção de vacinas contra a meningite meningocócica A e C.
14
1977Definidas as vacinas obrigatórias para menores de 1 ano em todo o Brasil.
Aprovado o modelo de Caderneta de Vacinações.
1980Extinta a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola.
Início do Dia Nacional Contra a Paralisia Infantil no Brasil.
1981 Lançada a campanha nacional de conscientização sobre a febre amarela.
1982 Fiocruz lança o primeiro lote da vacina brasileira contra o sarampo.
1984 Iniciada em todo o País a vacinação de crianças de 0 a 4 anos contra poliomielite, sarampo, difteria, coqueluche e tétano.
1986Criação do Zé Gotinha, personagem símbolo da campanha pela erradicação da poliomielite no Brasil.
1989 Registrado o último caso de poliomielite no Brasil.
1990 Extintas a SUCAM e a FSESP, que resultam na Funasa.
1992
Campanha Nacional contra o Sarampo.
Implantada a vacina tríplice viral.
Implantada a vacina anti-hepatite B para grupos de risco.
Lançado o Plano de Eliminação do Tétano Neonatal.
1994 Certificação internacional da erradicação da poliomielite no Brasil.
1996 Campanha Nacional de Vacinação contra a hepatite B, envolvendo escolares e odontólogos.
1997 Campanha Nacional de Vacinação contra o sarampo, em crianças menores de cinco anos.
1998 Vacinação contra a hepatite B em todo o Brasil.
1999
Implementado o Plano de Erradicação do sarampo.
Primeiro ano da Campanha de Vacinação para a terceira idade - contra gripe, tétano e difteria.
Implantada a vacina contra Haemophilus influenzae b para menores de 2 anos.
15C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Fontes: Revista da Vacina (Ministério da Saúde) e livro dos 30 anos do Programa Nacional de Imunizações
2000 Concretizado o calendário básico para vacinação dos povos indígenas.
2001 Intensificada a vacinação das mulheres em idade fértil, com o intuito de zerar a ocor-rência do tétano neonatal.
2002Implantada a vacina tetravalente (DTP + Hib), para menores de 1 ano.
Campanha Nacional de Vacinação contra a rubéola dirigida a mulheres.
2003
Jornada Sul-Americana de Vacinação com o propósito de acelerar a erradicação do sarampo e o controle de doenças que podem ser evitadas por meio de vacinas.
Assinado pelo Ministério da Saúde acordo para a fabricação da vacina tríplice viral contra sarampo, rubéola e caxumba.
2004
Instituído o Calendário Básico de Vacinação.
Apresentadas pelo Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) as seis vacinas prioritárias para desenvolvimento nos próximos três anos: pentavalente (contra dif-teria, coqueluche, tétano, hepatite B e Haemofilus influenzae), contra a raiva huma-na e canina, imunização das meningites A e B, e contra a leishmaniose canina.
2005 Distribuição da nova Caderneta da Criança por maternidades públicas e privadas.
2006Incorporada a vacinação contra o rotavírus no Calendário Básico de Vacinação da Criança. Instituído o “Dia Nacional de Prevenção da Catapora”, celebrado anualmente no dia 5 de agosto.
2008 Campanha nacional de vacinação contra a rubéola.
2009 A Organização Mundial da Saúde informa que a pandemia de influenza A (H1N1) passou a ser disseminada entre humanos.
2010Realização da Estratégia de Vacinação contra o vírus H1N1.
Inclusão das vacinas contra infecções pneumocócicas – vacina pneumocócica 10 valente – e da conjugada meningocócica C no calendário de vacinação.
2011 Ampliação das faixas de vacinação contra a influenza e hepatite B.
2012Inclusão da vacina inativada contra a poliomielite.
Substituição da vacina tetravalente pela pentavalente.
2014 Incorporação da vacina contra o papiloma vírus humana (HPV) para meninas de 11 a 13 anos no calendário nacional.
2015 Ampliação da faixa de vacinação contra o HPV para meninas a partir de 9 anos.
2017
Ampliação do público-alvo de seis vacinas: tríplice viral, tetra viral, dTpa adulto, HPV (passa a incluir meninos), Meningocócica C e hepatite A.
Registrado surto de febre amarela silvestre em Minas Gerais e Espírito Santo e ocor-rências em algumas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.
16
“Comecei a trabalhar com imunização em 1981, quando coordenei a campanha de erradica-
ção da poliomielite no Estado de São Paulo. Na época, não havia um programa estruturado
no estado e mesmo no Brasil as coberturas eram baixas, ao redor de 50%. Era um período
em que ocorriam muitas mortes por sarampo e difteria.
Os parâmetros de armazenamento e conservação das vacinas e de toda a rede de frio, da
produção à aplicação no posto de saúde, não estavam bem estabelecidos no mundo. Como
os imunobiológicos perdiam eficácia, surgiam casos de doenças em pessoas vacinadas.
Ainda não eram também utilizados materiais descartáveis.
As seringas eram de vidro e as agulhas de metal eram li-
xadas ao fim do dia. Os descartáveis só começaram a ser
usados no Estado de São Paulo em 1987, na campanha con-
tra o sarampo. Havia uma epidemia. Eram tantos casos que
contabilizávamos apenas o número de internações. Parale-
lamente, cresciam os casos de Aids em São Paulo e no País.
Nossa meta era vacinar 15 milhões de pessoas até 15 anos
contra o sarampo. Muita gente não acreditava que daria
certo. Mas atingimos uma cobertura de quase 90% e, assim,
conseguimos controlar a doença, que começou a diminuir
em pouco tempo. Em 1990, ganhamos um Prêmio da Uni-
cef pelos resultados da campanha. Foi um marco.
Em 1991, assumi a Coordenação de Imunizações e Autos-
suficiência em Imunobiológicos (CIAI). Tive oportunidade
de elaborar, com outros profissionais, naquele mesmo ano,
o primeiro Manual de Normas e Procedimentos para Vaci-
nação e, em 1992, de organizar a Campanha Nacional de
Vacinação contra o Sarampo, iniciando o controle da doença no País. Implantamos também
naquela época o Programa de Controle de Efeitos Adversos do PNI.
Esses passos foram dados graças ao trabalho de uma equipe muito comprometida que con-
tribuiu para fazer do PNI um programa forte e ágil na introdução de vacinas, com qualidade
de armazenamento, capacitação e treinamentos.”
Avanços na imunizaçãoMirian Martho de MouraEnfermeira em saúde pública, Coordenadora do Programa Nacional de Imunizações entre 1991 e 1992 e Diretora Técnica
do Programa de Imunização do Estado de São Paulo de 1986 a 1990.
17C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S 17C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
18
Uma revolução epidemiológicaA Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 2 a 3 milhões de mortes no
mundo são evitadas todos os anos como resultado da vacinação. No mesmo período, apro-
ximadamente 116 milhões de crianças ao redor do planeta recebem as vacinas básicas e,
junto com elas, proteção contra grande número de doenças infectocontagiosas, muitas de-
las fatais.
Por outro lado, doenças como AIDS, câncer de pulmão e hepatite C fazem cerca de 2 mi-
lhões de vítimas por ano no mundo. Apenas no Brasil, os tumores de próstata e de mama são
responsáveis por quase 30 mil mortes por ano. São doenças com alta incidência e elevadas
taxas de mortalidade, para as quais não existem ainda vacinas disponíveis. Mas grandes es-
forços estão sendo realizados no mundo todo, prin-
cipalmente pela indústria de pesquisa, para reverter
essa situação.
Os números e resultados da imunização são vulto-
sos e apontam para um consenso entre os especia-
listas no que diz respeito ao seu poder: as vacinas
representam um dos maiores casos de sucesso da
medicina moderna. Nas últimas décadas, possivel-
mente nenhum outro programa de saúde pública
tenha obtido resultados tão relevantes, em larga es-
cala e em todas as faixas etárias, para a melhoria da
qualidade de vida das populações.
Mais do que isso: do século XVIII, quando foi desen-
volvida a primeira vacina contra varíola, aos dias de
hoje, a imunização promoveu uma verdadeira revo-
lução na história da saúde da humanidade. Doenças
como a própria varíola, pandêmica durante mais de 3 mil anos e responsável por um rastro
de meio bilhão de mortes no século passado segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), foram varridas do mapa. A poliomielite, devastadora por seus impactos pessoais,
sociais e econômicos, foi erradicada no Brasil em 1994 e está em vias de desaparecer do
mundo.
O mesmo se pode dizer do sarampo, rubéola e tétano neonatal – enfermidades das quais as
novas gerações mal ouviram falar. Outras, se não foram ainda eliminadas, estão controladas
ou em franca redução, como a difteria, as meningites bacterianas e as doenças diarreicas
causadas por rotavírus. Em termos de impactos na saúde pública, são benefícios equiva-
lentes aos que ocorreram com o acesso das populações à água tratada, na comparação do
presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco
Aurélio Sáfadi.
As vacinas representam uma das maiores histórias de sucesso da medicina modernaOrganização Mundial da Saúde
Jarbas Barbosa, diretor-presidente da ANVISA
19C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Seja no mundo, seja no Brasil, as ações de imunização foram – e continuam sendo – uma das
mais importantes ferramentas para diminuir a mortalidade e morbidade de doenças, reduzir
hospitalizações e prevenir sequelas graves e muitas vezes incapacitantes, como as causadas
pela poliomielite.
Por trás de toda a estrutura que envolve a área da imunização, existe um conceito básico: in-
vestir na prevenção é melhor do que tratar. E os resultados comprovam essa tese tradicional.
Em 1930, as doenças infeciosas e parasitárias representavam 45,7% dos óbitos do Brasil. Em
2005, responderam por apenas 5,2% das mortes com causas definidas e, em 2010, o índice
caiu para 4,3%, de acordo com o Ministério da Saúde.
Voltando um pouco no tempo, vemos que tanto no Brasil quanto no mundo as crianças
foram, em geral, o grupo mais afetado por essas doenças e, por isso, também os principais
alvos dos programas de vacinação locais e mundiais promovidos pela Organização Mundial
da Saúde (OMS).
Na década de 80, a prevalência e mortes pelas doenças mais comuns em crianças de até 5
anos - sarampo, poliomielite, rubéola, síndrome da rubéola congênita, meningite, tétano,
coqueluche e difteria - giravam ao redor de 153 mil casos e 5,5 mil óbitos no Brasil. Em 2009,
após sucessivas campanhas de vacinação, foram registrados 2 mil casos e 50 óbitos.
As vacinas disponíveis atualmente no mundo possibilitam a prevenção e o controle de 26
doenças ou agentes infeciosos, contribuindo para uma drástica redução da ocorrência e da
magnitude das epidemias. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministé-
rio da Saúde inclui 19 vacinas que são disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e
protegem contra cerca de 20 doenças.
* Vacinas poliomielite esquema sequencial (VIP e VOP). 1ª e 2ª doses (VIP), 3ª dose e reforço s(VOP) Fonte: Ministério da Saúde
CRIANÇAS
BCG
Hepatite B (dose ao nascer)
Penta (DTP/Hib/HepB)
VIP (Vacina inativada poliomielite)*
VOP (Vacina oral poliomielite)*
VORH (Vacina oral rotavírus humano)
Pneumocócica 10 valente
Febre amarela
Tríplice viral (Sarampo, caxumba e rubéola)
DTP (Tríplice bacteriana) – difteria, tétano e coqueluche
Meningocócica C (conjugada)
Influenza (campanha anual) 6 meses a < 5 anos
Tetraviral (Sarampo, caxumba, rubéola e varicela)
Hepatite A
Papilomavirus humano 6, 11, 16 e 18 (recombinante) – HPV
ADOLESCENTE E ADULTOS
Hepatite B
dT (Dupla adulto) – tétano e difteria
Febre amarela
Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
dTpa (Gestante e profissionais de saúde)
Influenza (Grupos prioritários)
IDOSOS
Hepatite B
dT (Dupla adulto) –tétano e difteria
Febre amarela
Influenza (campanha anual)
Vacinas disponíveis no Programa Nacional de Imunizações
20
A OMS estima que, no século XX, a morbidade das doenças preveníveis – a taxa de pessoas
infectadas na população – caiu entre 90% e 100% em consequência da imunização.
Embora as vacinas promovam uma proteção individual contra doenças, exercem um papel
ainda maior na população: ao diminuir o número de pessoas que transmitem doenças, re-
duzem a circulação de vírus e bactérias e, dessa forma, protegem a comunidade inteira. É o
que os especialistas denominam de proteção indireta.
À parte o fato de melhorar a saúde da população,
as vacinas também exercem um grande impacto
econômico, reduzindo os custos com tratamen-
to e assistência médica. Na avaliação do epide-
miologista e atual diretor-presidente da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Jarbas
Barbosa, a imunização em massa é uma das ações
de saúde pública que possui uma das melhores
relações entre custo e efetividade, sendo um dos
meios mais baratos para prevenir doenças e evi-
tar mortes, quando comparada a outros tipos de
intervenções.
Pesquisadores da Johns Hopkins University, nos
Estados Unidos, calcularam os custos que os paí-
ses deixam de ter ao investir na prevenção de do-
enças com programas de imunização. Ao analisar
dados de 94 países de baixa e média renda e pro-
jetar as taxas de vacinação pelo período de 2011
a 2020, eles concluíram que para cada U$ 1 inves-
tido em vacinas, os países economizam U$ 16 –
valor que deixam de desembolsar por não ter que
lidar com as enfermidades e suas consequências.
Entraram na análise 10 tipos de infeções evitáveis
por vacina: Haemophilus influenzae tipo b, hepatite
B, papilomavírus humano, encefalite japonesa, sarampo, Neisseria meningitis sorogrupo A,
rotavírus, rubéola, Streptococcus pneumoniae e febre amarela.
A conclusão a que chegaram se aplica ao Brasil e a todos os países que se empenham para
ampliar o acesso de suas populações às vacinas: “Embora sejam estimativas que assumem
que a cobertura vai se expandir e melhorar, nossos achados são importantes para estimular
doadores e governos a continuar investindo em programas de imunização”, disse Sachiko
Ozawa, autora do estudo.
Para cada U$ 1 investido em imunização, os países economizam U$ 16 quando doenças preveníveis por vacinas deixam de ocorrer, segundo pesquisadores da Johns Hopkins University (EUA)
21C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Redução de custos assistenciais
Erradicação e eliminação de doenças
como poliomielite, sarampo e rubéola
O valor das vacinas
Fonte: IFPMA (International Fe-deration of Pharmaceutical Manufacturers&Associations)
Milhões de vidas salvas
Proteção de toda a sociedade
22
A Década da VacinaA Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o período de 2010 a 2020 como a Década
da Vacina, um esforço mundial para tornar o acesso às vacinas universal. A meta é estender
os benefícios da imunização a todos no planeta até o fim da década. Apoiada por cerca de
200 países e considerada uma das maiores e mais ambiciosas ações de saúde pública, a
iniciativa conta com um Plano de Ação Global de Vacinas que definiu seis objetivos estraté-
gicos que os países devem cumprir nesses 10 anos para que os objetivos sejam alcançados:
1. Todos os países se comprometem a priorizar a imunização;
2. Indivíduos e comunidades compreendem o valor das vacinas e exigem a imunização
como seu direito e responsabilidade;
3. Os benefícios da imunização são estendidos equitativamente a todas as pessoas;
4. Sistemas fortes de imunização fazem parte de um bom sistema de saúde;
5. Programas de imunização têm acesso sustentável à provisão de recursos, suprimentos de
qualidade e tecnologias inovadoras;
6. Pesquisas e desenvolvimento de inovações locais, regionais e globais maximizam os be-
nefícios da imunização.
22
23C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S 23C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
24
1878Primeira vacina desenvolvida, contra varíola
1885Vacina contra
raiva
1886Vacina contra
cólera
1927Vacina contra
tuberculose (BCG)
1935Vacina contra febre amarela
1948Vacina DTP
(difteria, tétano e pertussis)
24
25C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Dois séculos de pesquisa e inovaçãoHistórico das vacinas no mundo
1963Vacina contra o sarampo e
Vacina contra a poliomielite
1969Vacina contra a
rubéola 1986Vacina contra
hepatite B
2000Vacina
pneumocócica (heptavalente)
2001Vacina pentavalente
2006Vacina contra o
rotavírus (atenuada e nova imunológica)
2006Vacina contra o
papilomavírus humano (HPV)
25C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
26
Uma revolução tecnológicaO foco das pesquisas na prevenção das principais ameaças que assolaram e devastaram a
humanidade realizadas por laboratórios no mundo todo tiveram papel crucial na erradi-
cação, eliminação e controle de grande número de doenças infectocontagiosas. Além de
poupar e proteger milhões de vidas, colocando-as a salvo dessas enfermidades, abriram
espaço para que fossem enfrentadas outras doenças que desafiam as autoridades de saúde
no mundo, como a prevenção de algumas formas de cânceres causadas por vírus, entre eles
o de colo de útero e o de fígado.
Esse extraordinário desempenho em termos de saúde pública, resultado de mais de 200
anos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no campo da imunização, ao mesmo tempo em
que se beneficiou das descobertas científicas que ocorre-
ram em todas as áreas, também as promoveu, consolidan-
do uma revolução tecnológica que se acelerou nas últimas
décadas. E que possibilitou que o mundo todo se unisse
em torno de campanhas globais de erradicação, como as
promovidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
em relação à poliomielite e o sarampo.
Existem atualmente centenas de vacinas sendo testadas e
desenvolvidas ao redor do mundo – em torno de 300 ape-
nas nos Estados Unidos, segundo estimativas da PhRMA,
a associação norte-americana da indústria de pesquisa. O
rápido desenvolvimento da ciência abriu portas e revelou
novos processos pelos quais as vacinas podem atuar e se
tornar mais eficazes e seguras, ampliando as perspectivas
também para o surgimento de outros produtos e o atendi-
mento de necessidades ainda não resolvidas.
Porém, ao mesmo tempo em que acena com um universo
potencial de promessas, o desenvolvimento científico e
tecnológico alcançado até aqui tornou ainda mais com-
plexa e onerosa a pesquisa, o desenvolvimento e a pro-
dução das vacinas – um processo que, por si só, já é longo
e arriscado, além de demandar altos investimentos finan-
ceiros.
Um exemplo: a tendência mundial de se produzir vacinas
multivalentes conjugadas – que protegem contra várias
doenças a partir de um único produto – coloca diante dos pesquisadores desafios muito
maiores do que havia para se produzir uma tradicional vacina inativada com foco na preven-
ção de apenas uma enfermidade.
O processo de produção de vacinas é tão complexo que leva de 10 a 15 anos da descoberta ao licenciamento do produto. De cada 10 vacinas em teste, apenas uma chegará à população.Organização Mundial da Saúde
27C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
As exigências regulatórias, que fornecem os parâmetros de segurança e eficácia que nor-
teiam os processos de pesquisa, desenvolvimento e produção das vacinas, também se so-
fisticaram e tornaram-se mais rigorosas ao longo do tempo. Para atendê-las, muitas vezes o
fabricante terá que realizar algo em torno de 500 testes de controle de qualidade para uma
única vacina.
A complexidade do processo de produção de vacinas é tal que a Organização Mundial da
Saúde (OMS) estima que da descoberta de uma vacina ao seu licenciamento transcorrem
em média 10 a 15 anos. E de cada 10 novas candida-
tas que estão sendo testadas, apenas uma chegará,
de fato, ao mercado.
Grande parte das dificuldades deve-se à imprevisi-
bilidade dos micro-organismos empregados na pro-
dução de vacinas e à incerteza sobre como o orga-
nismo humano irá reagir a eles. Algumas vacinas em
teste podem produzir, por exemplo, uma resposta
imunológica adequada, mas provocar reações ad-
versas. Outras podem ser seguras, mas ineficazes na
prevenção de doenças.
E tudo isso se desenrola em uma sucessão de eta-
pas que se desdobram a partir da pesquisa e da des-
coberta: o processo de desenvolvimento envolve a
produção de uma vacina que seja economicamente viável para o mundo; a etapa de desen-
volvimento clínico inclui inúmeras fases nas quais é necessário demonstrar a segurança da
vacina e mensurar o seu efeito protetor em humanos; a fase de ensaios requer a realização
de inúmeros testes para assegurar a pureza, potência e estabilidade do produto que está
sendo desenvolvido.
Mas, graças aos avanços obtidos em diversas áreas de pesquisa e também no campo da
imunização, já é possível produzir vacinas mais seguras e eficazes. Além disso, está mudando
a perspectiva com que os pesquisadores pensam e produzem vacinas. Hoje, além da pre-
venção de doenças, os cientistas buscam também vacinas terapêuticas, que estimulam o
organismo a reagir para combater determinadas enfermidades, entre elas infecções crônicas
ou doenças degenerativas.
Da primeira geração de vacinas, quando se inoculava na população as bactérias ou vírus
causadores das doenças depois de submetidos a tratamentos que os atenuavam ou inativa-
vam, às modernas pesquisas de vacinas de DNA, que trabalham com o material genético do
vírus ou bactéria, as pesquisas deram um salto quântico nesse campo.
Ainda persistem grandes desafios e necessidades não atendidas. Pesquisadores e cientistas
ao redor do mundo continuam em busca de caminhos que levem à produção, por exemplo,
de uma vacina contra o HIV, a hepatite C ou ainda contra a zika e a chikungunya. No entanto,
com o horizonte que se abre com as novas técnicas e estratégias de desenvolvimento de
vacinas, essas descobertas tornam-se mais prováveis.
28
Como é característico à área de vacinas desde os primórdios da imunização, tudo ainda de-
pende de novas investigações, estudos e pesquisas. É esse esforço contínuo que possibilita
que uma vacina, mesmo após o lançamento ou anos de uso, continue a ser aperfeiçoada,
seja para aumentar sua eficácia, seja para a redução de eventuais reações adversas.
Isso aconteceu inúmeras vezes no Brasil, graças às investidas da ciência nacional. Institutos
de pesquisa consagrados na área da imunização foram gradualmente absorvendo as tec-
nologias inovadoras e, uma vez de posse do conhecimento científico e da capacidade de
produção, desenvolveram pesquisas para aperfeiçoar os produtos.
Existem acordos de cooperação entre cientistas brasileiros e empresas internacionais há
mais de 40 anos, permitindo que tecnologias inovadoras sejam internalizadas pelos nossos
pesquisadores. Um exemplo é a vacina contra hepatite B, que foi melhorada e teve o seu
custo de produção expressivamente reduzido depois de ter sido incorporada à ciência local.
Os imunizantes contra meningite A e C também passaram a ser produzidos pelo Brasil ainda
na década de 1970, a partir de um acordo de cooperação com o Instituto Mérieux, da França.
Foram aperfeiçoadas ainda as vacinas contra febre amarela, sarampo e poliomielite.
Esse tem sido o grande trunfo da ciência brasileira, por meio dos laboratórios públicos, como
ressalta o consultor científico do Instituto Bio-Manguinhos/Fiocruz, Reinaldo de Menezes
Martins. Ele reconhece que são modestas as colaborações nacionais com a inovação, mas
destaca o sucesso da transferência de tecnologias nessa área. Ela não somente torna viável o
aperfeiçoamento dos imunizantes, como ajuda a vencer o desafio de abastecer um País de
proporções continentais e muito populoso, pois consegue baratear de forma significativa
o custo de cada dose. Essa colaboração entre setores público e privado tende a extrair o
melhor de cada um, em benefício da sociedade brasileira.
28
29C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S 29C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
30
ANO PRODUTO LAB. PÚBLICO PARCEIRO 1 FASE PDP FASE DESCRIÇÃO
2010 Vacina Influenza H1N1 Butantan Sanofi Fase IVInternalização de Tecnologia
2010 Vacina Meningocócica C Conjugada Funed NovartisProjeto tecnológico
PDP
2010 Vacina Pneumocócica 10 Valente Bio-Manguinhos GSKProjeto tecnológico
PDP
2012 Vacina Hepatite A Butantan MSD Fase III PDP
2012 Vacina Tetraviral Bio-Manguinhos GSK Fase III PDP
2013Vacina Adsorvida Difteria, Tétano e Pertussis Acelular (Imunoterapia)
Butantan GSK Fase II Projeto de PDP
2013 Vacina HPV Butantan MSD Fase III PDP
Transferência de tecnologia para produção de vacinas
Transferência de tecnologiaA parceria entre indústria farmacêutica e laboratórios oficiais do governo tem sido uma prá-
tica bem-sucedida, na qual o setor privado investe em pesquisa para a criação e desenvolvi-
mento de uma determinada tecnologia e, posteriormente, a transfere para o setor público.
Atualmente existem sete projetos para transferência de tecnologia em andamento no País,
sendo cinco no modelo de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) e duas no
modelo de Projeto Tecnológico, em que a tecnologia é transferida sem que o medicamento
seja fornecido pelo setor privado nas fases intermediárias do processo.
A transferência de tecnologia para a produção de vacinas tem alcançado um sucesso muito
superior aos demais acordos de parceria, envolvendo outras categorias de medicamentos.
Das 110 PDPs aprovadas pelo governo brasileiro entre 2009 e 2013, apenas 23 estão forne-
cendo medicamentos ao Ministério da Saúde. Outras 24 foram excluídas ou suspensas e as
demais não apresentaram avanços.
Já quando se observa o universo das vacinas em relação a outros modelos de parceria, a
história muda completamente. Todos os sete projetos estão caminhando de maneira consis-
tente, com indicadores de um provável desfecho de sucesso em um futuro próximo.
De acordo com Reinaldo de Menezes Martins, Consultor Científico da Bio-Manguinhos/Fio-
cruz, o maior desafio das parcerias é cumprir prazos das transferências de tecnologia. Para isso
seriam necessários financiamentos robustos num tempo adequado e novas formas de gestão
setor público, que precisa de modernização e agilidade sem abrir mão do controle. Segundo
Martins, “é indispensável a criação ou desenvolvimento de infraestrutura e recursos humanos
de alta qualificação”.
Veja abaixo tabela com as vacinas, os laboratórios públicos e as empresas farmacêuticas
detentoras das tecnologias.
Fonte: DECIIS/SCTIE/MS. Atualizado em 19/05/2017
31C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S 31C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
33C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Evolução dos recursos financeiros do PNI
O Programa Nacional de ImunizaçõesUm ponto fora da curva
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde é um ponto fora da curva
no espectro das ações de saúde pública do Brasil. Desde que foi criado, em 1973, saiu com
arranhões pequenos e pontuais das crises econômicas que assolaram o País. O programa
mantém há mais de quatro décadas um corpo técnico coeso que o assessora. Passou por
10 presidentes da República e 26 ministros da Saúde sem perder o status de prioridade ou
sofrer descontinuidade e influências políticas.
Existem muitas e justificadas razões para que o PNI seja considerado uma referência interna-
cional em saúde pública e tenha transcorrido as últimas décadas sem muitos sobressaltos.
Uma delas é a capacidade de estender a vacinação a todos os municípios do País e de ofere-
cer, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), vacinas gratuitas custeadas exclusivamente
com recursos públicos a toda população.
Como suporte a essa boa atuação, existe um amparo legal que garante apoio financeiro
ao programa, seja qual for o governo, e que contribuiu para que as verbas a ele destinadas
crescessem ao longo do tempo. “Mesmo se houver contingenciamento no orçamento do
Ministério da Saúde ou do Governo Federal, os investimentos em vacinas não podem sofrer
cortes”, diz a coordenadora do PNI, Carla Domingues.
Para viabilizar e manter sua estrutura, o programa conta com um orçamento anual de R$
4,3 bilhões – maior que o orçamento global de capitais como Aracaju, Florianópolis, Natal
e Vitória.
Fonte: CGPNI/DEVIT/SVS
0,5
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
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2007
Bilh
ões
(R$)
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2013
2014
2015
2016
2017
*
1,5
2,0
1,0
2,5
3,0
3,5
4,5
4,0
Rotavírus
Dupla/tríplice viral(Campanha rubéola)
Campanha de seguimento (TVV) eAmplicação hepatite B outros
Penta, VIP
Tetra viral
HPV, dTpa e Hep A,Campanha TVV
Pneumo10 eMeningo C
33C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
34
Os impactos da imunização no País também chamam a atenção, antes mesmo da imple-
mentação do PNI. Um dos exemplos foi a erradicação da varíola em 1973, como consequ-
ência de uma campanha mundial liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para
se ter uma ideia do efeito devastador da varíola, a OMS estima que mais de meio bilhão de
pessoas morreram no século passado em decorrência desse vírus. A doença foi pandêmica
por mais de 3.000 anos, até os idos de 1970, matando cerca de 30% das pessoas acometidas.
O programa, aliás, nasceu na esteira dessa bem-sucedida iniciativa, na qual o Brasil se ante-
cipou a vários países. Em termos globais, a doença só foi considerada erradicada do planeta
sete anos mais tarde.
Bons resultados foram alcançados também no combate à poliomielite, conhecida como
paralisia infantil. De 11.545 casos registrados na década de 1970, a doença diminuiu pro-
gressivamente por força das vacinações – a única forma de preveni-la – até desaparecer por
completo em 1989. Foi por ocasião das campanhas contra a poliomielite que surgiu o po-
pular personagem Zé Gotinha, marca-símbolo dessa empreitada, que acabou se tornando
sinônimo de vacina.
Em 1994, o Brasil recebeu da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) o Certificado da
Erradicação da Transmissão Autóctone do Poliovírus Selvagem, juntamente com os demais
países do continente americano.
Coqueluche e difteria foram doenças que praticamente desapareceram do mapa brasileiro.
No primeiro caso, a incidência girava ao redor de 10,6 por 100 mil habitantes. Quando a imu-
nização atingiu 100% da população, a proporção de casos caiu para 0,32/100 mil habitantes,
em 2010. Já a difteria despencou de 495 casos para 56 entre 1991 e 1999.
Quando a vacinação em massa contra a meningite tipo b foi iniciada em 1999, o País regis-
trava 1,7 mil casos por ano e uma incidência média anual de 23,4 casos para cada 100 mil
crianças menores de um ano. Com a vacina, houve uma redução de mais de 90% no número
de casos, incidência e óbitos.
Depois de conquistar esses marcos importantes de saúde pública, o Brasil busca atualmente
controlar as infecções causadas por doenças que ainda exercem grande impacto na saúde
da população e nas finanças do sistema público de saúde. É o caso da Haemophilus influen-
zae tipo b (bactéria que atinge principalmente crianças até 5 anos), rubéola, síndrome da
rubéola congênita, hepatite B, influenza (gripe) e infecções pneumocócicas.
Um estudo realizado entre 1992 e 2006 por um grupo de pesquisadores de Brasília, Rio de
Janeiro e Salvador comprovou que, além de prevenir ou controlar as doenças, a imunização
também promove uma redução nos problemas que elas possam causar.
Para chegar a essa conclusão, compararam dados do SUS sobre internações de idosos por
complicações da gripe antes e depois de 1999, quando este grupo passou a ser regularmen-
te imunizado. “Após as campanhas, o índice de hospitalização caiu de 22 por 1.000 idosos/
ano para 0,75 por 1000 idosos/ano”, aponta o professor do Instituto de Saúde Coletiva da
Universidade Federal da Bahia, Eduardo Hage Carmo, um dos participantes do estudo.
34
35C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
A redução no número
de casos de doenças no
Brasil foi inversamente
proporcional ao aumento
da cobertura vacinal
CoquelucheIncidência x Cobertura vacinal com DTP; DTP+Hib; (DTP+Hib+HB) Penta (Brasil, 1990 a 2013)
DifteriaIncidência x Cobertura vacinal com DTP; DTP+Hib; (DTP+Hib+HB) Penta (Brasil, 1990 a 2013)
Meningite por HIBIncidência x Cobertura vacinal com DTP; DTP+Hib; (DTP+Hib+HB) Penta (Brasil, 2001 a 2013)
RubéolaIncidência x Cobertura vacinal da vacina tríplice viral (Brasil, 2000 a 2013)
SarampoIncidência x Cobertura vacinal da vacina tríplice viral (Brasil, 1978 a 2013)
Fonte: Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
1990
Inci
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92
94
88
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2013
Em 2015 foi decretada a erradicação da rubéola nas Américas.
1978
Inci
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1979 1980 2011 2012 2013
Cam
illa
Carv
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anta
n
35C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
37C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Impactos da imunização no controle de doenças infecciosas preveníveis no Brasil
Doenças eliminadas ou em processo de eliminação• Varíola• Poliomielite• Sarampo (nas américas)• Síndrome de Rubéola Congênita• Tétano Neonatal
Tendência de redução• Tétano Acidental• Difteria• Meningite por Hib (Haemophilus influenzae
tipo B)• Meningite por Streptococcus pneumoniae• Doenças diarreicas por rotavírus
Transmissão controlada• Meningites e Doença Meningocócica
Doenças preveníveis por vacinas no Brasil
Fonte: Dra. Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas. 2017
Fonte: Ministério da Saúde
• Catapora (varicela)• Caxumba• Coqueluche• Cólera• Dengue• Difteria• Doença meningocócica• Doença pneumocócica• Febre amarela• Febre tifoide• Gripe (influenza)• Doenças causadas por
Hemófilo B
• Hepatite A• Hepatite B• Herpes zóster• HPV• Poliomielite• Raiva• Rotavirose• Rubéola• Sarampo• Tétano• Tuberculose
38
“O PNI é um dos maiores programas de inclusão social do mundo”Jarbas Barbosa, diretor-presidente da ANVISA
Uma máquina de saúde públicaAs características do Brasil – País de dimensões continentais com grandes contrastes ge-
ográficos, sociais e econômicos – tornaram o Programa Nacional de Imunização (PNI) um
projeto superlativo em todos os aspectos e, sobretudo, um bom articulador logístico.
Basta lembrar que estamos falando de levar vacinas a 210 milhões de pessoas que vivem em
metrópoles densamente povoadas, mas também àquelas isoladas no meio de florestas. E
que, para serem vacinadas, dependem de transportes como barcos e aviões.
Ainda assim, o PNI alcança níveis de cobertura vacinal entre 80% a 90%, maior que o de
muitos países. Evidentemente, há disparidades que variam de região para região. Mas o re-
sultado é considerado um feito diante das dificuldades de acesso que se impõem, como
observa José Cassio de Moraes, consultor da Organização Panamericana de Saúde (OPAS).
O PNI é tido também um dos programas de imuniza-
ção que oferece o maior rol de vacinas à população e
que inclui todas as básicas recomendadas pela Organi-
zação Mundial da Saúde (OMS). São 19 no total, dirigi-
das a crianças, adolescentes, adultos e idosos, além de
gestantes e grupos com condições especiais de saúde,
como os que possuem baixa imunidade.
Em 2017, o PNI prevê distribuir 300 milhões de doses
de vacinas e soros. Para isso, conta com a estrutura
que os serviços públicos de saúde já destinam rotinei-
ramente à atenção primária: 36 mil salas distribuídas
por 26 estados, o Distrito Federal e mais de 5.500 mu-
nicípios. As campanhas mobilizam, a cada vez, uma le-
gião de 250 mil enfermeiros, técnicos e auxiliares que
concentram seus esforços nesse período para garantir
a imunização do maior número de pessoas. Mas os serviços de vacinação também ficam
disponíveis durante o ano todo nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). São mais de 10 mil UBS
espalhadas pelo Brasil que possibilitam o acesso da população aos imunizantes do PNI em
qualquer época do ano, e não apenas durante as campanhas.
A infraestrutura faz parte do programa Saúde da Família, criado há quase 25 anos e que, atu-
almente, já presta atendimento para mais da metade da população brasileira por meio de
cuidados básicos e também do acompanhamento e incentivo a adesão às vacinas do PNI.
A operação dessa máquina de saúde pública resulta de uma rede de interações que envol-
ve os governos federal, estadual e municipal, laboratórios oficiais e indústrias de pesquisa,
sociedades médicas, especialistas, entidades nacionais e internacionais e técnicos em vaci-
nação.
39C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
7 laboratórios
públicos produtores de vacinas
O PNI em números
“O PNI é um dos maiores programas de inclusão social do mundo. Uma criança da área rural
recebe as mesmas vacinas que uma criança da clínica particular”, afirma o epidemiologista
e sanitarista Jarbas Barbosa, diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA).
Nos últimos anos, o programa tem sido ágil na introdução de novas vacinas no calendário
oficial de vacinação e tem ainda ampliado as faixas etárias que são alvo de vacinação. Em
2017, o Ministério da Saúde expandiu os públicos de seis vacinas: Hepatite A, Tetra viral (sa-
rampo, caxumba, rubéola e varicela), HPV, Meningocócica C, dTpa adulto (difteria, tétano e
coqueluche) e Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola).
Trata-se de uma estratégia importante em termos de ampliação da cobertura. Porém, ela
requer um intenso trabalho de conscientização da população, já que não faz parte da cul-
tura vacinal brasileira compreender que a imunização deve ocorrer ao longo da vida e não
apenas na infância, como observa o pediatra e epidemiologista José Geraldo Leite, professor
da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e colaborador do Comitê Técnico Asses-
sor do programa.
R$ 4,3 bilhões de orçamento
300 milhões de doses
de vacinas em 2017
250mil vacinadores
Presente em 26 estados, no
Distrito Federal e em 5.500 municípios
80% de cobertura vacinal média
19 tipos de vacinas
Proteção contra
20 doenças
47 Centros de Referência de
Imunobiológicos Especiais
Atende todas as faixas
etárias da população
36 mil salas de vacinação
40
Em busca da autossuficiênciaUm dos pilares de sustentação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) é a busca pela
autossuficiência do País em vacinas. Com esse objetivo, o Ministério da Saúde criou, em
1985, o Programa de Autossuficiência Nacional em Imunobiológicos (PASNI), que estabelece
uma ação coordenada entre os produtores públicos e parcerias com universidades, centros
de pesquisa, institutos, universidades, organizações nacionais e internacionais e a iniciativa
privada. Além de uma ação articulada entre os sete laboratórios oficiais.
O incentivo à produção nacional funciona como
uma espécie de cláusula pétrea que rege as deci-
sões do PNI em relação à incorporação de novas va-
cinas. Ela estabelece que um novo imunobiológico
somente passará a fazer parte do calendário oficial
de imunização se for firmado um acordo de trans-
ferência de tecnologia que capacite os laboratórios
públicos a fabricá-lo no País. Essas parcerias têm
possibilitado a produção de vacinas novas, moder-
nas e eficazes e são um grande apoio às ações de
controle, erradicação e eliminação de doenças.
O consultor científico do Instituto de Tecnologia em
Imunobiológicos Bio-Manguinhos, Akira Homma,
acredita que as parcerias para transferência de tec-
nologia e a produção local ampliam o acesso da po-
pulação às vacinas e contribuem para o treinamento
e capacitação científica do País. O Brasil, por exem-
plo, é o maior produtor mundial de vacinas contra a
febre amarela, segundo Rosana Richtmann, e autos-
suficiente em imunobiológicos contra a influenza.
Pelas estimativas dos coordenadores do PNI, cerca
de 75% dos 300 milhões de doses de vacinas que
o programa se comprometeu a distribuir em 2017
sairão dos laboratórios públicos, especialmente do
Instituto Butantan, em São Paulo, e do Instituto de
Imunobiológicos Bio-Manguinhos, no Rio de Janei-
ro. As duas instituições produzem em conjunto 16 diferentes tipos de vacinas e mantêm em
suas bancadas de pesquisa 17 outros imunobiológicos em diferentes fases de desenvolvi-
mento e produção.
Laboratórios públicos• Instituto de Tecnologia em
Imunobiológicos Bio-Manguinhos (RJ) – produção de vacinas e soros;
• Instituto Butantan (SP) – produção de vacinas e soros;
• Instituto Vital Brazil (IVB), Rio de Janeiro - produção de soros;
• Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR) - produção de vacina antirrábica canina;
• Fundação Ezequiel Dias (FUNED), Minas Gerais – produção de soros;
• Centro de Pesquisa e Produção de Imunobiológicos (CPPI), Paraná – produção de soros;
• Fundação Ataulpho de Paiva (FAP), Rio de Janeiro – produção da vacina BCG contra a tuberculose.
40
41C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S 41C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
43C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Instituto Bio-Manguinhos/Fiocruz
10 VACINAS
1. Meningocócica AC (polissacarídica)
2. Haemophilus influenzae (Hib) (conjugada)
3. Difteria, tétano, pertussis e Haemophilus influenzae B (conjugada) - tetravalente DTP e Hib
4. Pneumocócica 10-valente (conjugada)
5. Febre amarela (atenuada)
6. Poliomielite 1, 2 e 3 (atenuada oral)
7. Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada)
8. Rotavírus humano
9. Sarampo, caxumba, rubéola (tríplice viral - TVV)
10. Sarampo, caxumba, rubéola e varicela (tetravalente viral – MMRV)
Em diferentes fases de desenvolvimento
1. Vacina de DNA para prevenção da febre amarela
2. Vacina contra meningite causada por meningocócico sorogrupo B
3. Vacina contra meningite C
4. Vacina humana contra Leptospirose
5. Vacina bivalente contra esquistossomose e fasciolose
6. Vacina para prevenção da febre amarela e malária
7. Vacina para prevenção da dengue
8. Vírus influenza recombinantes defectivos como plataformas no desenvolvimento de vacinas bivalentes contra a gripe e a circovirose suína
9. Vacinas contra vírus influenza pandêmicos
Vacinas humanas produzidas pelos laboratórios públicos
Instituto Butantan
6 VACINAS
1. Vacina adsorvida difteria, tétano e pertussis (DTP)
2. Vacina adsorvida difteria e tétano adulto (dT)
3. Vacina adsorvida difteria e tétano infantil (DT)
4. Vacina adsorvida hepatite B (recombinante)
5. Vacina influenza sazonal trivalente (fragmentada e inativada)
6. Vacina raiva (inativada)
Vacinas em desenvolvimento
1. Dengue
2. Rotavírus
3. Pneumococo
4. DTPlow
5. Vacina heptavalente
6. BCG recombinante-pertussis – vacina neonatal contra coqueluche
7. Onco-BCG recombinante– tratamento de câncer de bexiga
8. Hemófilos – novo método de conjugação para vacina
Transferência de Tecnologia
1. HPV, em parceria com a MSD – para meninas de 9 a 13 anos
2. Hepatite A em parceria com a MSD – para crianças de até 1 ano
3. dTpa em parceria com a GSK (GlaxoSmithKline) – para gestantes
43C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
44
Projeto XinguQuatro vezes por ano, equipes de seis a 12 médicos, enfermeiros, nutricionistas e dentistas
vinculados ao Projeto Xingu da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp) deslocam-se de São Paulo ao Parque Indígena do Xingu, localizado na região
nordeste do Estado do Mato Grosso, na porção sul da Amazônia brasileira. Ali eles vacinam e
prestam assistência à saúde a 54 aldeias de 19 etnias indígenas que vivem na parte norte do
parque, conhecida como Baixo Xingu.
Desde que o programa foi criado em 1965, a pedido do então diretor do Parque, Orlando
Villas Boas, a imunização foi priorizada para evitar a repetição de um fato devastador: em
1954, uma epidemia de sarampo – introduzida pelo contato com o homem branco - dizi-
mara cerca de 20% da população do Alto Xingu. A varíola também fazia muitas vítimas na
região.
Como as distâncias são grandes, as expedições duram cerca de 40 dias e contam com o
apoio de quatro polos base distribuídos pela região do Baixo Xingu, que possuem gerador
próprio e freezer para conservação das vacinas, além de equipes permanentes de saúde.
Sem eles, seria impossível manter as vacinas nas temperaturas necessárias à preservação de
sua eficácia.
Por isso, para que tudo dê certo, cada via-
gem é minuciosamente preparada com
pelo menos 30 dias de antecedência. Este é
o período mínimo para montagem da logís-
tica especial que envolve, além da rede frio,
necessidades de transporte terrestre e fluvial,
barqueiros experientes e combustível, entre
outras demandas. E que variam de acordo
com a época do ano, já que o clima da região
comporta de secas e calor acima de 35°C a
chuvas torrenciais, quando os técnicos ca-
minham pela mata fechada com água pela
cintura.
Os 3.174 indígenas assistidos pelo programa
da Escola Paulista de Medicina da Universida-
de Federal de São Paulo (Unifesp) recebem
antes do restante do País todas as vacinas que fazem parte do calendário nacional de imuni-
zação. Mas as faixas etárias vacinadas e o número de doses variam de acordo com as especi-
ficidades e o histórico de contato de cada povo.
“A vacina contra a gripe é dada a toda a população a partir dos seis meses de idade, porque
os indígenas são bastante vulneráveis a essa doença. Os resultados do programa são muito
bons. As coberturas vacinais alcançam índices de 92% a 98% e há muitas décadas não há
47C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
mais registro de doenças imunopreveníveis no Baixo Xingu”, afirma Evelin Plácido dos San-
tos, enfermeira e apoiadora técnica de imunização do Projeto Xingu desde 2006.
Em contrapartida, as crianças ainda morrem em consequência de diarreia e doenças respira-
tórias. E os povos do Xingu como um todo enfrentam as ameaças decorrentes de mudanças
nos hábitos alimentares e de vida, como diabetes, hipertensão, colesterol elevado, obesida-
de e doenças cardiovasculares.
Ao contrário do restante do Brasil, onde a contabilidade da cobertura é feita pelo número
de doses de vacina aplicadas, no Xingu o cadastro de vacinação é nominal. Ocorre que, por
razões culturais, os índios mudam de nome
ao longo dos anos e os agentes de saúde
indígenas da comunidade são fundamen-
tais para identificar as pessoas que preci-
sam ser vacinadas.
Aliás, o papel desses agentes vai muito
além da imunização. São eles que ajudam a
equipe técnica a entender, respeitar e inte-
grar no trabalho as regras culturais e sociais
da população indígena.
“O técnico que vai ao Xingu tem que esta-
belecer um diálogo que integre a medici-
na tradicional à indígena e trabalhar com
as pessoas que prestam serviços de saúde
na comunidade, como o pajé, a parteira e
o raizeiro, que conhece as plantas medici-
nais. Para os indígenas, as doenças não estão separadas das questões espirituais. Precisamos
sempre saber se estão sendo tratados pelo pajé e ainda integrar, por exemplo, o pré-natal de
uma gestante com a parteira local”, explica a enfermeira.
48
Os nós da questão
Cobertura
Chegar a todos os estados e municípios do Brasil é um dos trunfos do Programa Nacional de
Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, mas manter uma cobertura vacinal homogênea
é um de seus principais desafios.
A cobertura é o indicador que expressa a proporção da população que foi vacinada e que
mede se o público-alvo e as metas de imunização foram alcançadas e se a estratégia funcio-
nou. Quanto mais pessoas receberem determinada vacina, maior será a cobertura vacinal.
O Brasil registra índices elevados de vacinação, especialmente nos primeiros anos de vida,
quando a cobertura chega a praticamente 100% das crianças. Porém, há municípios em que
ela não chega sequer a 40% da população que deveria ser vacinada, pelas estimativas da
infectologista do Instituto Emílio Ribas, Rosana Richtmann.
O problema dos “bolsões” com baixas coberturas é que, além de afetar os moradores locais,
eles colocam em risco toda a população brasileira. O aumento do número de pessoas des-
protegidas pode ocasionar surtos de doenças que já estavam sob controle, ou evitar que
sejam controladas.
Parte das discrepâncias de cobertura tem a ver com as diferenças regionais. Para chegar aos
cerca de 20 mil habitantes de Atalaia do Norte, no Alto Solimões, no Amazonas, as vacinas
saem de Manaus e percorrem uma distância fluvial de 1.623 quilômetros, perfazendo mais
de 40 horas de viagem.
Percentual de municípios que contam com coberturas adequadas em 75% ou mais das vacinas do calendário básico de vacinação*, 2014.
Fonte: MS/SVS/CGPNI – Dados disponíveis no TABNET/Datasus: Indicadores do Rol de Diretrizes, Metas e Indicadores 2013-2015.
* Vacinas consideradas: BCG, Rotavirus, Pentavalente (DTP + Hin + Hep B), Poliomielite, Meningocócica, Pneumocócica, Tríplice Viral, Febre Amarela e Influenza.
0Norte
20
10
30
40
60
50
Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste BRASIL
35,56
Porc
enta
gem
dos
mun
icíp
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com
co
bert
ura
vaci
nal a
dequ
ada
40,3
57,13
47,94
53,53
47,7
49C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
“Quando vamos imunizar a população de Ipixuna, na bacia do Rio Juruá, a 1.500 quilômetros
de Manaus, viajamos mais de 70 horas de carro e de barco”, detalha a enfermeira Maria Izabel
Nascimento, Coordenadora do Programa de Imunizações do Amazonas.
Seria difícil, na região norte, vacinar populações ribeirinhas e comunidades indígenas, e ain-
da correr contra o tempo para que as vacinas não percam eficácia, sem a ajuda da Operação
Gota. Essa parceria do Ministério da Saúde com as Forças Armadas disponibiliza helicópte-
ros, pequenos aviões, barcos e até navios que funcionam como salas de vacinação fluvial.
Mesmo em São Paulo, que historicamente exibe índices de cobertura acima de 90%, algu-
mas localidades, como o Vale do Ribeira, no sul do Estado, são acessíveis apenas por barco.
Para garantir as vacinações em alguns outros municípios, a saída é utilizar ônibus itinerantes.
Importante lembrar que essa logística que toma conta do Brasil em épocas de campanha se
repete várias vezes ao ano, seja porque algumas vacinas necessitam de doses de reforço, seja
porque possuem diferentes calendários de imunização, como é o caso da vacina sazonal
contra a gripe.
O problema, porém, nem sempre é geográfico. Na avaliação da Coordenadora Geral do PNI,
Carla Domingues, o nó da questão não está propriamente na dificuldade da população para
iniciar o esquema vacinal, mas principalmente para completá-lo. “Nem todos voltam ao pos-
to de saúde para receber as doses de reforço”, afirma.
Outro aspecto importante a ser ressaltado é que, historicamente, a percepção em relação
à cobertura de vacinação no Brasil sempre esteve associada às ações governamentais de
prevenção, traduzidas por campanhas de massa, para atingir as populações nos lugares mais
distantes do território brasileiro e aonde a logística é um desafio a ser vencido pelos agentes
de saúde. Ocorre que, provavelmente em razão de puro desconhecimento por parte da
população, as pessoas acreditam que o momento de tomar uma vacina é somente durante
as campanhas oficiais quando, na verdade, a prevenção pode acontecer ao longo do ano.
Para remover essas barreiras, algumas ideias que os técnicos discutem passa por soluções
simples, como abrir os postos aos sábados, quando a população está mais disponível para
se vacinar. Outra maneira é mobilizar associações de moradores, conselhos municipais e
“se aproximar da população”, como aponta a assessora clínica de Bio-Manguinhos/Fiocruz,
Maria de Lourdes de Sousa Maia, ex-coordenadora do PNI.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu um debate para
estabelecer uma norma sanitária que poderá definir os requisitos mínimos para a prestação
dos serviços de vacinação em farmácias, drogarias e outros estabelecimentos, ampliando
assim, a cobertura, especialmente durante as campanhas de imunização.
No Amazonas, onde além das distâncias também a natureza influi nos resultados da vaci-
nação – como, por exemplo, as cheias e secas dos rios que inviabilizam a navegação – os
responsáveis pelo programa encontraram uma boa estratégia para facilitar o acesso da po-
pulação às vacinas. “Tentamos casar as datas de vacinação com os dias em que as pessoas
vão receber o Bolsa Família”, explica Maria Izabel do Nascimento.
50
Muitos públicos, muitos desafios
Os Ministérios da Saúde e o da Educação renovaram recentemente o Programa Saúde na
Escola e firmaram uma parceria para ampliar a imunização de crianças e adolescentes contra
o HPV e a meningite C. Os adolescentes são um dos públicos mais refratários à vacinação,
segundo avaliação dos técnicos do PNI.
A ideia é que as escolas passem a atuar em conjunto com as equipes de saúde para reforçar
a adesão desse grupo, que não tem o hábito de procurar o sistema de saúde.
O resultado da dificuldade pode ser medido em números: mais da metade dos municípios
brasileiros está com baixa cobertura vacinal contra o HPV, o que significa cerca de 5,5 mi-
lhões de meninas de 9 a 14 anos com o esquema vacinal incompleto.
Em 2017, além de aumentar a vacinação das adolescentes, o programa pretende imunizar
também 3,6 milhões de meninos contra o HPV. Para atingir os jovens, o Ministério também
mudará sua maneira de se comunicar. Vai utilizar games nas campanhas e pretende ainda
contar com a ajuda de blogueiros.
Em São Paulo, as autoridades de saúde realizam um trabalho conjunto com a área de saúde
do adolescente, da mulher e de doenças sexualmente transmissíveis da Secretaria Estadual
da Saúde e com a Secretaria da Educação, conscientizando professores sobre a importância
da vacina contra o HPV na prevenção do câncer do colo do útero.
“Também fazemos divulgação em locais públicos. Distribuímos material informativo em
bancos de sangue, estações de metrô e de trem”, explica Helena Sato, diretora técnica da
Divisão de Imunização de Secretaria Estadual de Saúde.
Com o apoio das sociedades de ginecologia e obstetrícia, pediatria e imunização, o pro-
grama pretende reverter também a dificuldade de vacinar gestantes. Um dos problemas a
vencer é a crença equivocada de que as vacinas possam prejudicar o feto.
45% das meninas, de 9 a 14 anos, não tomaram a segunda dose da da vacina contra o HPV.
0RR
Primeira dose
40
20
60
80
120
100
114,
672
,5
DF
112,
781
,6
ES
104,
970
,8
MS
104,
856
,0
AM
103,
971
,6
CE
102,
766
,7
PE
101,
062
,5
AC
98,2
52,1
GO
98,0
54,8
SP
97,6
58,9
AL
97,3
58,9
TO
95,8
53,7
MG
94,9
60,6
AP
94,3
58,2
SC
93,7
62,3
SE
92,5
49,0
MT
91,9
53,1
RO
91,1
55,5
PB
89,8
52,9
MA
89,2
54,3
RJ
89,2
50,0
PR
85,3
49,8
RS
84,5
52,9
PI
80,6
44,0
RN
79,3
42,6
PA
79,0
35,2
BA
76,6
38,1
BR
92,4
55,0
Segunda dose
Fonte: SIPNI/CGPNI/DEVIT/SVS/MS (Período 2014 a 2016 - Jan/Out)
51C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
A rede de frio
A cadeia ou rede de frio é o coração de todo progra-
ma de imunização de massa. Para não perder eficácia
e segurança, a maioria das vacinas precisa ser conser-
vada a temperaturas que variam de 2 a 8°C durante
24 horas do dia, desde que saem dos laboratórios
produtores até serem aplicadas na população.
É uma estrutura complexa, regida por regras e regu-
lamentações técnicas que devem ser observadas no
armazenamento, distribuição, transporte e manipu-
lação dos imunobiológicos. E cuja importância fica
evidente quando lembramos que, antes de chegar à
população, as vacinas percorrem um longo trajeto de
caminhão, passando por câmaras frigoríficas, freezer
e geladeiras do Governo Federal e dos estados até
chegar às salas de vacinação nos municípios.
De modo geral, a cadeia funciona bem e garante
segurança à população, uma vez que qualquer al-
teração na conservação das vacinas deve ser obri-
gatoriamente reportada ao PNI. Mas como ocorre
com outros aspectos do programa, as condições de
manutenção e renovação desta cadeia – que envol-
ve geladeiras, freezers e meios de transporte refrige-
rados – também não são homogêneas em todos os
estados e municípios.
Recentemente, o Ministério da Saúde investiu R$ 106
milhões na melhoria da cadeia de frio. Uma das ações
previstas é a realização de um amplo mapeamento
para identificar necessidades e vulnerabilidades e, as-
sim, orientar os investimentos nessa área.
Segundo José Cassio de Moraes, consultor da Organi-
zação Panamericana de Saúde (OPAS), as ampliações
do programa também trouxeram novas demandas
em relação à cadeia de frio. O aumento do número
de vacinas incorporadas ao calendário oficial e a am-
pliação do público-alvo a ser atingido requerem uma
maior capacidade de armazenamento.
51C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
52
Incorporação e sustentabilidade
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) vive um dilema co-
mum a todas as áreas da saúde: como compatibilizar o desen-
volvimento de novas tecnologias e vacinas e a necessidade de
oferecê-las à população com um orçamento que, embora cons-
tante e seguro, é finito e limitado.
Equacionar o binômio inovação x sustentabilidade financeira
é um dos principais desafios atuais do PNI e uma situação que
tende a se tornar cada vez mais presente à medida que a ciência
avança e o perfil epidemiológico do mundo e do Brasil se trans-
formam.
O desenvolvimento de novas tecnologias exige cada vez mais
investimentos e o futuro desponta com a necessidade de dar
respostas para a prevenção de doenças crônicas, que se tornam
mais comuns à medida que a população envelhece.
Embora o PNI tenha se notabilizado no mundo pela oferta de
um rol consideravelmente amplo de vacinas, nem todas as que
estão hoje nas clínicas privadas do País são disponibilizadas no
Sistema Único de Saúde (SUS).
“Ainda não oferecemos à população idosa que se vacina na rede
pública todos os recursos disponíveis na rede privada, como as
vacinas contra a pneumonia”, observa o vice-presidente da So-
ciedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri.
52
53C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S 53C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
54
Inovação e acessoA partir da década de 1960, o mundo testemunhou um desenvolvimento científico sem pre-
cedentes na área da imunização. Novas tecnologias possibilitaram o surgimento de grande
número de vacinas e muitas das que estavam em uso passaram por modificações importan-
tes, que as tornaram mais modernas, seguras e eficazes.
O acúmulo de conhecimento científico promoveu paralelamente uma grande ampliação
do acesso da população às vacinas, possibilitando que a imunização fosse estendida para
outros grupos, como idosos e adolescentes. Impulsionou também o surgimento de vacinas
com “novos conceitos”, de acordo com o professor da Faculdade de Pediatria da USP, Gabriel
Oselka.
“Esse aporte científico deu origem às vacinas combinadas, que possibilitam a prevenção
de múltiplas doenças com uma única vacina.
Ele abriu diversas possibilidades de aperfei-
çoamento dos imunobiológicos, promo-
vendo o aparecimento de produtos mais
seguros, com melhores resultados e menos
efeitos adversos”, diz o pesquisador.
Um exemplo: até a década de 1960, as vaci-
nas eram produzidas com vírus ou bactérias
mortos ou atenuados. Fazem parte desse
grupo, considerado de primeira geração, as
vacinas contra varíola, sarampo, poliomielite,
entre outras.
Embora as vacinas atenuadas continuem
em uso, para aumentar a segurança sem
comprometer a eficácia os pesquisadores
começaram a utilizar também frações cada
vez menores desses agentes. Na segunda geração, as vacinas passaram a conter apenas as
proteínas desses micro-organismos capazes de provocar uma resposta do sistema imunoló-
gico. Vacinas como toxoide tetânico e antidiftérica pertencem a esta categoria.
Outras classes de vacinas, denominadas conjugadas, como a da Hepatite B e HPV, só se tor-
naram possíveis após o desenvolvimento da engenharia genética, abrindo um novo campo
de estudos e de proteção para a população.
A própria vacina contra a dengue, lançada recentemente, é um marco epidemiológico im-
portante para prevenir a manifestação de um vírus incurável e que pode levar a complica-
ções sérias. Ela é uma forma de prevenir a doença, principalmente suas formas mais graves,
podendo evitar milhares de mortes. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou
802 mil casos da doença em 2016.
55C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
As vacinas de terceira geração, denominadas vacinas de DNA, trabalham com sequências
do material genético do vírus ou bactéria que se quer combater e com agentes capazes de
transportá-las para dentro das nossas células, denominados “vetores de DNA”.
“Resultados como esses somente se tornaram possíveis devido a um enorme esforço global
de pesquisa e estudos, envolvendo empresas no mundo todo. Um esforço concentrado e de
enorme complexidade. Hoje as exigências de segurança são extremamente rigorosas e para
introduzir uma vacina nova é necessário seguir uma infinidade de obrigações regulatórias”,
afirma Oselka.
Na avaliação de Akira Homma, consultor científico do Instituto de Tecnologia em Imunobio-
lógicos Bio-Manguinhos/Fiocruz, o desenvolvimento de vacinas é também uma empreitada
de alto risco. O avanço da imunização demanda investimentos muito elevados e contínuos
em pesquisa e desenvolvimento, durante longo período de tempo e com retorno incerto,
porque não é possível saber de antemão se os resultados serão satisfatórios.
Cada projeto inclui diversas fases e etapas até que uma vacina possa ser aprovada para uso
humano e muitas experiências e tentativas fracassam ao longo desse caminho.
Para se ter uma ideia, segundo os pesquisadores Stanley A. Plotkin, Paul A. Offit e Walter
Orenstein, da Universidade da Pensilvânia, no livro “Vaccines”, a vacina contra varicela levou
cerca de 25 a 30 anos até ser aprovada; a vacina contra o HPV também demandou o mesmo
tempo; no caso da vacina contra o rotavírus, foram necessários entre 14 e 16 anos e, até que
a população pudesse ter acesso a uma combinação de vacinas pediátricas, transcorreram
entre 10 e 12 anos.
Segundo Oselka, o setor de vacinas é muito dinâmico no mundo todo. A constante busca
por maior eficácia e segurança impulsionam continuamente a pesquisa e o desenvolvimen-
to de novos imunobiológicos, permitindo que maior número de pessoas tenha acesso e se
beneficie da imunização.
56
Novas vacinas, novos públicos
Na década de 1970, apenas quatro vacinas eram obrigatórias e ministradas às crianças no
primeiro ano de vida: BCG, DTP (difteria, tétano e coqueluche), contra o sarampo e a polio-
mielite. Porém, com o desenvolvimento científico e tecnológico, novas vacinas surgiram ou
foram aperfeiçoadas.
A partir de 1990, o Brasil adotou a estratégia de multivacinação para complementar o esque-
ma básico previsto para os primeiros anos de vida, ampliando progressivamente o programa
de imunização. Passaram a fazer parte dele vacinas contra a hepatite B, além da vacina dupla
e tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba).
Em 1999, o país adotou a 1ª campanha de vacinação do idoso, com a imunização contra
influenza. Paralelamente, algumas vacinas foram substituídas por versões mais modernas,
como ocorreu com a vacina dupla difteria e tétano, substituta da vacina contra o tétano.
Atualmente, 19 vacinas estão incorporadas ao PNI, protegendo a população contra mais de
20 tipos de doenças. Os públicos também se ampliaram, assim como as faixas etárias be-
neficiadas, formando um calendário complexo que inclui vacinas do nascimento à terceira
idade, passando por todas as fases, como por exemplo a gestação.
Evolução da incorporação de vacinas e públicos no calendário nacional
Década de 1970
Décadas de 1980-1990
Fonte: Ministério da Saúde
Vacinas População alvo
Bacilo Calmette Guerin (BCG) Ao nascer
Vacina oral poliomielite (VOP) 2, 4 e 6 meses. Reforço aos 15 meses e 4 anos
Difteria, Tétano e Coqueluche (DTP) 2, 4 e 6 meses. Reforço aos 15 meses
Vacina contra sarampo 9 meses
Ano Vacina População alvo Comentários
1989 vacina hepatite B 13 municípios Amazônia Ocidental
19922ª dose da vacina contra sarampo 15 meses de idade
vacina tríplice viral 1 ano de idade por campanhas de vacinação (1 a 11 anos de idade)
1996 vacina hepatite B < 1 ano idade desabastecimento no país iniciada em 1998
1999Haemophilus influenzae B (Hib) < 1 ano idade
Influenza sazonal em idosos em idosos (65 anos) ampliando em 2000 (60 anos)
Década de 2000
Ano Vacina População alvo Comentários
2003
vacina tríplice viral 1 ano de idade Exclusão vacina monovalente
vacina tetravalente (DTP+Hib) < 1 ano idadeSubstituição da tríplice bacteriana (DTP) e monovalente (Hib)
vacina tríplice viral
4 a 6 anos de idade 2ª dose da vacina
Adolescentes não vacinados até 19 anos
duas doses
Adultos não vacinados 20 a 39 (homens) 20 a 49 (mulheres)
1 dose
2006 vacina oral rotavírus humano < 1ano de idade 1m15 dias (D1) e 5m15 (D2)
57C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Década de 2010
Fonte: Ministério da Saúde
Ano Vacina População alvo Comentários
2010
Vacina pneumocócica 10 valente conjugada
< 1 ano idade
Vacina meningocócica C conjugada
< 1 ano idade
2011
Vacina hepatite B Ampliação para pessoas de 20 a 24 anos
Vacina influenza sazonal
Crianças 6 meses a 2 anos; gestantes; trabalhadores de saúde; indígenas
2012
Vacina hepatite B 25 a 29 anos
Vacina inativada poliomielite (VIP)
esquema sequencial VIP/VOP
Vacina penta (DTP/Hib/Hep B)
substituiu a tetravalente
2013
Vacina hepatite B Ampliação para pessoas de 30 a 49 anos
Tríplice viral Ampliação para homens e mulheres até 49 anos
Vacina influenza sazonal Ampliação para puérperas, comorbidades e pessoas com condições especiais
Tetraviral (Sarampo, rubéola, caxumba, varicela)
15 meses de idade em substituição 2ª dose de tríplice viral
Vacina oral rotavírus humano
< 1ano de idade1m15 dias (D1) 2ª dose ate 7m29d (mais oportunidade de vacinação)
2014
Hepatite A 1 ano de idade
dTpaGestante entre a 20ª e 36ª semana de gestação
HPV 11 a 13 anos
Vacina influenza sazonal Crianças 2 a 5 anos
2015 HPV9 a 13 anos Mulheres HIV+ (9 a 26 anos)
59C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
A recusa de se vacinar coloca em risco a saúde e a segurança de toda a população.
Movimento antivacinasUm movimento contrário ao uso de vacinas tem começado a ganhar força no Brasil, espe-
cialmente por meio das mídias sociais. Com receio de reações adversas, mesmo que não
haja evidência científica sobre elas, mães e demais tutores estão deixando de levar os filhos
para receberem até mesmo as vacinas básicas do calendário nacional de imunização.
Especialistas acreditam que o movimento seja consequência, de certa forma, do próprio
sucesso das vacinas e dos programas de imunização ao redor do mundo. A erradicação de
muitas doenças fez com que a ameaça que elas representavam para a sociedade fosse es-
quecida, levando muitos a questionarem a necessidade dos imunizantes.
Isso tem repercutido na imprensa e pre-
ocupado o Ministério da Saúde, uma vez
que não se trata apenas de uma questão
individual, mas sim de saúde pública. Caso
a cobertura vacinal diminua no País, doen-
ças erradicadas ou com baixa incidência
podem retornar e causar surtos.
Recentemente, os Estados Unidos sofre-
ram um surto de sarampo, doença que
poderia ser prevenida com vacinação.
Atribui-se esse fenômeno à propagação
do movimento antivacinas.
Segundo especialistas, os tutores com-
partilham de maneira discreta e, eventual-
mente, anônima nas mídias sociais informações sem fundamento científico sobre possíveis
danos à saúde e reações adversas das vacinas. Essa estratégia é adotada para evitar repercus-
são negativa e, assim, reduzir o risco de denúncias ao Conselho Tutelar.
Há casos de mães que admitem esconder até dos próprios maridos a decisão de não vacinar
os filhos. Essa atitude chega a ser encorajada pelos militantes antivacinas, especialmente
com relação a médicos pediatras e a escolas infantis.
Também é defendido por eles o uso de terapias alternativas, como homeopatia e óleos su-
postamente medicinais, para fortalecer o sistema imune das crianças. A aparência saudável,
assim como cuidados com a alimentação dos pequenos, completa a perspectiva de que as
vacinas representariam um risco desnecessário – embora não haja evidência científica para
isso.
Para refrear o movimento, a classe médica tem reforçado os esclarecimentos a mães e de-
mais tutores de que as vacinas disponíveis no País têm a eficácia e a segurança comprovadas
por estudos robustos e verificadas pelo controle dos órgãos sanitários.
60
A Revolta da Vacina
No início do século XX, um movimento marcou as ações de combate às
doenças infectocontagiosas. Naquela época, diferentemente dos dias de
hoje, as populações, por absoluta falta de conhecimento, se recusavam a
tomar vacinas acreditando que elas não traziam benefício; ao contrário,
poderiam trazer muitos riscos à saúde.
Na época, a então capital do Brasil, o Rio de Janeiro, crescia sem nenhuma
estrutura. A população avançava para os morros, formando favelas sem
rede de esgoto ou coleta de lixo. A falta de saneamento básico favore-
ceu a proliferação de doenças contagiosas como a febre amarela, peste
bubônica e varíola. Essa última, sozinha, matou mais de 3,5 mil pessoas
em 1904.
A situação era alarmante e forçou o então presidente Rodrigues Alves a
criar um amplo projeto de revitalização para a cidade, que começou pela
região central. Para isso, o biólogo e sanitarista Oswaldo Cruz foi nomeado
chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública.
A revitalização incluía demolição de favelas, combate a mosquitos, roe-
dores e outros animais que poderiam transmitir doenças, além da Cam-
panha da Vacinação Obrigatória. Nela, pessoas eram vacinadas compul-
soriamente, utilizando-se de violência, em alguns casos. A Lei da Vacina
Obrigatória foi instituída em 31 de outubro de 1904, com a implementa-
ção da campanha no mês seguinte.
Carente e com pouca instrução, a população do Rio de Janeiro não com-
preendia a importância da vacina para prevenir doenças potencialmente
fatais. Impulsionados também pela crise econômica, os moradores come-
çaram a destruir bondes, principal meio de transporte no período, além
de prédios, trens, lojas e bases policiais. Esse episódio ficou conhecido
como a Revolta da Vacina.
O levante popular fez com que o governo suspendesse a lei em 16 de
novembro de 1904, retirando a obrigatoriedade da vacinação. Foi preciso
intervenção do exército e da marinha, além da polícia, para conter os âni-
mos da população e finalizar a revolta.
Depois disso, a vacinação foi retomada. Em 1906, dois anos depois da re-
volta, foram registradas apenas nove mortes decorrentes de varíola e, em
1910, apenas uma vítima. Após mais de 300 milhões de vítimas fatais no
século XX, a varíola foi declarada oficialmente extinta pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) em 1980.
60
61C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S 61C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
63C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
O futuro das vacinasO grande cabedal de conhecimento acumulado na área da imunização abre para o futuro
do Brasil e do mundo enormes possibilidades de que novas linhas de vacinas sejam desen-
volvidas, em resposta a necessidades que hoje ainda não são atendidas.
Existem atualmente cerca de 300 pesquisas com imunizantes em andamento nos Estados
Unidos segundo a PhRMA, entidade que representa a indústria farmacêutica de pesquisa
naquele País. Ainda não é possível prever quais desses estudos serão bem-sucedidos, nem
quando as vacinas estarão disponíveis no mercado, mas as linhas de investigação revelam
a natureza e a tendência dos esforços, e para quais doenças está voltada a preocupação da
comunidade científica global.
Uma das grandes áreas atuais de pesquisa que mobiliza
cientistas, pesquisadores e empresas do mundo todo é a
da prevenção de vários tipos de cânceres. O que se busca
é avançar e conseguir prevenir outras formas da doença, a
exemplo do que já ocorre hoje por meio da vacina contra
o HPV, que protege contra o câncer de colo de útero, e da
vacina contra Hepatite B, que previne o câncer de fígado.
Existem atualmente linhas de estudos contra tumores de
próstata, mama, colorretal, ovário, pâncreas e do sistema
digestivo, entre outros. Todas essas doenças têm registra-
do avanços expressivos ao redor do mundo, com índices
de mortalidade preocupantes. O Brasil também enfrenta
esse problema e, certamente, teria muito a se beneficiar
com a prevenção dessas doenças por meio de imunizan-
tes. “Os pesquisadores estão aprofundando estudos para
estabelecer melhor o nexo entre a ocorrência de vírus e
o desenvolvimento do câncer”, diz Eduardo Hage Carmo,
professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade
Federal da Bahia.
O Consultor Científico da Bio-Manguinhos/Fiocruz, Rei-
naldo de Menezes Martins, completa afirmando que não
se pode dizer que há problemas insolúveis, pois as tecno-
logias imunológicas são aprimoradas cada vez mais. “Os
desafios impulsionam a inovação. Estamos ainda na fase
de controle das doenças infecciosas causadas por agentes
microbianos. Dificuldade ainda maior será aplicar a vacinologia às doenças não infecciosas,
como as diversas formas de câncer. Há muitas doenças, de base genética, que aparentemen-
te somente a terapia gênica será capaz de evitar ou controlar, e assim, imunologia e genética
precisam trabalhar em interação, ou como alternativas”.
O que se busca é prevenir outras formas de câncer, a exemplo do que já ocorre hoje por meio da vacina contra o HPV, que protege contra o câncer de colo de útero, e da vacina contra a Hepatite B, que previne o câncer de fígado.
63C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
64
No campo das doenças infecciosas, onde a ciência e a tecnologia da imunização conquista-
ram suas maiores vitórias até o momento, ainda persistem necessidades e dificuldades que
desafiam o mundo e que também são alvo de atenção global. É o caso das pesquisas para
produção de vacina contra a zika e a chikungunya, que fazem grande número de vítimas no
Brasil e no mundo. E ainda contra a malária, esquistossomose e Doença de Chagas.
Apesar de todo avanço tecnológico, perduram há décadas os esforços para produzir vacinas
contra o HIV, a hepatite C e o vírus sincicial respiratório, uma das principais causas de infec-
ção em recém-nascidos e crianças.
O combate ao HIV, por exemplo, concentra pesquisas tanto para o desenvolvimento de
vacinas preventivas quanto para tratamentos pós-infecção. São estudos extremamente
complexos, uma vez que o vírus tem um dos mais sofisticados mecanismos existentes de
sobrevivência às defesas naturais do organismo. Mas avanços têm sido registrados. Alguns
estudos já ultrapassaram as fases iniciais. Existe uma esperança cada vez maior de que, um
dia, a AIDS possa ser combatida com uma arma definitiva.
Novas perspectivas
Malária. De acordo com a organização humanitária internacional, Médicos Sem Fron-
teiras, em 2015, foram registrados 214 milhões de casos novos no mundo e a estima-
tiva é de que 490 mil pessoas já morreram em decorrência da doença. A malária deve
ter sua primeira vacina licenciada em 2018.
Esquistossomose. É uma das doenças parasitárias mais devastadoras socioeconomi-
camente, perdendo apenas para a malária. De acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OMS), cerca de 200 milhões de pessoas convivem com a esquistossomose no
mundo e o alto índice tem uma forte conexão com a precariedade de saneamento,
atingindo áreas endêmicas em mais de 70 países, incluindo 19 estados do Brasil.
Após 30 anos de desenvolvimento, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está realizando
testes finais em humanos da vacina brasileira contra a esquistossomose, a chamada
Vacina Sm14. Se os resultados forem positivos, fica pronta para uso em 2017. A inicia-
tiva foi escolhida como prioridade de investimento da Organização Mundial da Saúde
(OMS).
Doença de Chagas. Estima-se que cerca de 12 milhões de pessoas no mundo sofram
com a doença. Dessas, três milhões só no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
Estudos para o desenvolvimento da vacina contra a Doença de Chagas vêm sendo
coordenados há 20 anos pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e uma va-
cina brasileira capaz de estimular o sistema imunológico contra o parasita causador
da doença foi testada com sucesso de forma terapêutica em experimentos com ca-
mundongos.
Fonte: Portal da Fiocruz, Médicos Sem Fronteiras, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
64
65C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
O aumento da população idosa e a busca por um envelhecimento saudável trazem novas
demandas que também deverão ser contempladas pelas pesquisas. Uma das respostas ne-
cessárias é como lidar com a imunossenescência, a perda da capacidade do corpo de res-
ponder às infecções e à memória imunológica, especialmente à vacinação – condição que
ocorre gradativamente com o passar dos anos.
Além disso, a ciência mantém um esforço cons-
tante para o aperfeiçoamento, por meio das
inovações incrementais, das vacinas já existen-
tes. Seja pelo aprimoramento dos processos
de produção, seja pela redução do risco de re-
ações adversas. Outra tendência é aumentar o
número de vacinas que podem ser conjugadas
em um único produto com eficácia e seguran-
ça.
Atualmente já existe tecnologia para com-
por até seis produtos. As vacinas conjugadas
ajudam a melhorar a adesão da população à
imunização e a ampliar a cobertura, porque as
pessoas terão de ir apenas uma vez ao posto de
saúde para se vacinar.
Nessa mesma linha, despontam as pesquisas
que buscam obter vacinas mais eficazes, du-
radouras e que produzam menos efeitos ad-
versos, como a da gripe, que deve ser tomada
apenas uma vez por ano.
Esforços não faltam e eles ocorrem ao redor do
mundo, em uma extraordinária concentração
de cérebros e talentos voltados para o aumento
da sobrevida e melhoria da qualidade de vida
da população em nível global. Trata-se de uma
empreitada enorme, de tamanho equivalente
ao desafio que os cientistas têm pela frente.
A média para que uma inovação radical em va-
cinas seja bem-sucedida ultrapassa facilmente
uma década de pesquisas. O que hoje está sen-
do estudado pode chegar ao mercado talvez apenas como um benefício da próxima gera-
ção. Apesar disso, o esforço é sempre transformador, com impacto expressivo na redução da
incidência das doenças e nos índices de mortalidade, podendo em muitos casos resultar na
erradicação total da enfermidade. A espera não é fácil e os esforços são gigantescos, mas o
benefício para a sociedade é igualmente grandioso.
Algumas vacinas em pesquisa e desenvolvimento no mundo
• Campylobacter jejuni• Doença de Chagas• Chikungunya• Dengue• Escherichia coli enterotoxigênica• Enterovírus 71 (EV71)• Streptococcus do Grupo B (GBS)• Vírus Herpes Simplex• HIV-1• Doença de Hookworm humana• Leishmaniose• Malária• Vírus Nipah• Doença da Salmonella Nontyphoidal• Norovírus• Febre paratifóide• Vírus sincicial respiratório• Esquistossomose• Shigella• Staphylococcus aureus• Pneumococo• Streptococcus pyrogenes• Tuberculose• Vacina universal contra a gripe
Fonte: Organização Mundial da Saúde
65C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
66
Na fronteira da ciênciaEntrevista com Antônio Britto, presidente-executivo da INTERFARMA
É possível resumir em poucas palavras o que as vacinas representam para a nossa sociedade?
As conquistas da ciência no campo das vacinas são tão expressivas e transformadoras que
chegamos a esquecer como era o mundo antes delas. A varíola, por exemplo, matou mais
de 300 milhões de pessoas no século passado – isso é um Brasil e meio. Mas hoje você ouve
alguém falar em varíola? Ou em sarampo? Essa doença infectou mais de 300 mil pessoas só
nos Estados Unidos da década de 1960, causando centenas de mortes. Atualmente, contu-
do, ninguém se preocupa com o sarampo. Isso só foi possível graças às vacinas. Elas conse-
guiram erradicar ou reduzir significativamen-
te doenças que estavam no topo da lista das
preocupações mundiais com saúde. Não
raro, tais doenças lideravam até o ranking
mundial das preocupações em geral, pois
uma doença tem impacto na economia, na
política e nas relações internacionais, assim
como no cotidiano familiar, transformando
a rotina de famílias inteiras quando um ente
adoece.
Hoje, dados da Organização Mundial da Saú-
de mostram que mais de três milhões de
mortes são evitadas todos os anos graças à
adoção de um calendário de vacinas básicas
mundo afora, que protegem contra mais de
20 doenças. Estamos falando das vacinas
mais antigas, que já se consagraram até em
países com baixo nível de desenvolvimento.
Estima-se que o número de mortes evitadas
poderia aumentar em pelo menos 50% se outras vacinas mais modernas não fossem negli-
genciadas. Então, em poucas palavras, as vacinas são capazes de transformar a história, eli-
minando barreiras que pareciam intransponíveis, e possibilitando que a sociedade se torne
menos vulnerável e avance com maior segurança.
Esse tipo de transformação vai continuar ocorrendo nos próximos anos? Quais são os desafios atuais no campo das vacinas?
As pesquisas das décadas anteriores definiram as transformações geradas recentemente
pelas vacinas e das quais podemos hoje usufruir. O mesmo podemos imaginar em rela-
“As vacinas são capazes de transformar a história, eliminando barreiras que pareciam intransponíveis”Antônio Britto, presidente-executivo da INTERFARMA
67C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
ção ao futuro quando observamos as pesquisas atualmente em andamento. São mais de
300 imunizantes em diferentes fases de estudos clínicos ao redor do mundo. Dezenas de
estudos buscam uma vacina preventiva contra o HIV e outros tantos visam tratar o pa-
ciente já infectado. Imagine um mundo livre da AIDS. Talvez não estejamos tão distantes
disso. Entre as doenças sexualmente transmissíveis, o HPV era uma enorme preocupação,
especialmente entre as mulheres, pois ele pode evoluir silenciosamente para um câncer
de colo de útero. Hoje esse cenário já começa a mudar. A criação de vacinas recentes já
está protegendo as novas gerações de muitas cepas da doença, com esperado impacto
na incidência da doença.
No total, são mais de 120 doenças infecciosas e outros 105 tipos diferentes de câncer que
estão no alvo das vacinas hoje em desenvolvimento. Dengue, herpes, ebola, mal de Alzhei-
mer, diabetes tipo 1, esclerose múltipla, doença celíaca, gota, atrite reumatoide, câncer renal,
câncer de pulmões, câncer de mama, de pâncreas, de próstata e de ovário são alguns exem-
plos. É importante destacar
as investidas em vacinas
contra bactérias. O uso
indevido de antibióticos,
entre outros problemas,
tem favorecido a criação
de bactérias cada vez mais
resistentes às drogas hoje
disponíveis no mercado.
Entende-se que muitas
dessas doenças infecciosas
precisam de um tratamen-
to preventivo eficiente,
pois o seu combate pode
estar próximo de se tornar
inviável. Por isso, existem
muitas linhas de pesquisa
nessa área.
Talvez levem poucos anos
para se trazer uma novi-
dade transformadora, tal-
vez levem mais 20 anos,
como já foi preciso esperar
em outros casos. A média
mundial para o lançamento de vacinas, considerando o período entre o início de sua criação
e o final da terceira fase de pesquisa, quando o medicamento é submetido à aprovação das
agências sanitárias, varia entre 10 e 15 anos. Mas seja qual for o tempo de espera para os
estudos avançarem, cada vacina apresentada ao mercado tem sempre um potencial trans-
formador.
Nel
son
Tole
do
68
Por que as vacinas levam tanto tempo para serem desenvolvidas?
Porque a tecnologia nelas empregada é muito sofisticada. Se o setor farmacêutico for obser-
vado de forma ampla, é seguro dizer que o maior desafio enfrentado hoje está no desenvol-
vimento dos medicamentos biológicos. Isso porque o processo de produção deles é muito
delicado, complexo e sofisticado, no qual pequenas variações nas condições de fabricação
podem influenciar no produto final. Fazer o medicamento já é algo extremamente com-
plicado, mas antes disso existe um desafio ainda maior, o desafio da inovação radical, em
que os cientistas precisam descobrir como fazer o medicamento. São necessários estudos
multicêntricos, por vários anos consecutivos, para chegar a resultados consistentes, que ga-
rantam segurança e eficácia ao paciente. O campo específico das vacinas lida com tudo isso.
Assim como nos demais medicamentos biológicos, as vacinas trabalham com organismos
vivos e manipulação de DNA. Isso ainda é extremamente desafiador nos dias atuais, mas
já está na rotina de pesquisas com imunizantes há décadas. Portanto, criar vacinas é estar
nas fronteiras da ciência, significa trabalhar com muito mais perguntas do que respostas e
enfrentar muito mais fracassos do que vitórias.
Então lidar com a criação de vacinas é uma atividade com muitas incertezas?
A inovação em qualquer área é, por natureza, uma atividade de risco, repleta de incertezas.
Não sabemos quando acontecerá a descoberta, nem sequer se ela realmente irá acontecer
algum dia. São necessários investimentos bilionários para reunir tecnologia de ponta com
pesquisadores altamente capacitados, em estruturas que muitas vezes requerem bases em
diversos países. A indústria farmacêutica lida com esse desafio, às vezes com o apoio de
laboratórios públicos ou com financiamentos de bancos estatais, mas muitas vezes contan-
do única e exclusivamente com recursos próprios. Não é raro encontrar pesquisadores que
estão há mais de 30 anos conduzindo diversas linhas de pesquisa para barrar uma doença. O
custo disso é gigantesco. Porém, o ganho para a sociedade, quando uma vacina finalmente
é criada, já sabemos o quanto pode ser transformador. Vale o esforço. E alguém precisa as-
sumir essa responsabilidade.
70
Início da operação no Brasil: 1908
Sede no Brasil: Estrada dos Bandeirantes 8464, Rio de Janeiro, RJ
Desde 1988, quando registramos a vacina contra hepatite B (recombinante) Engerix®
B, a GSK distribui vacinas em todo território nacional. Hoje, estamos presentes em 80%
dos calendários de vacinação de crianças e adolescentes no Brasil.
Além de atender ao mercado privado, firmamos parcerias sólidas com o governo
brasileiro para o controle da poliomielite, do sarampo, da caxumba, da rubéola, da
varicela, de doenças pneumocócicas, da Haemophilus influenzae tipo b, do rotavírus,
de doenças meningocócicas, da difteria, do tétano e da coqueluche.
O UNICEF destaca também a redução da mortalidade infantil no país em 77% nos
últimos 20 anos. O Fundo cita uma “combinação de estratégias” responsáveis por tal
redução, incluindo serviços de saúde nas comunidades, melhora na condição de sa-
neamento, promoção do aleitamento materno e expansão da imunização.
Nosso portfólio de potenciais novas vacinas cobre doenças que ainda têm um sério
impacto em todo o mundo, incluindo Herpes-Zoster, a Malária, HIV, Tuberculose e
Ebola.
BR/VAC/0090/17 Abril/2017. Mais informações, bulas dos produtos e referências à disposição sob solicitação ao Departamento de Informações Médicas (DDG 08007012233 ou [email protected]). Informação destinada exclusivamente a profissionais de saúde habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. Recomenda-se a leitura da bula do produto antes da prescrição de qualquer medicamento. Para notificar eventos adversos ocorridos durante o uso de medicamentos da GlaxoSmithKline/Stiefel, entre em contato diretamente com o Departamento de Far-macovigilância da empresa pelo e-mail [email protected] ou através do representante do grupo de empresas GSK.
71C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Início de operação no Brasil: 1952
Sede no Brasil: São Paulo, SP.
Há 125 anos, a MSD está comprometida com a invenção e o desenvolvimento de
vacinas capazes de prevenir inúmeras doenças, como sarampo, caxumba, rubéola,
varicela, rotavírus, hepatites A e B, herpes-zóster, doenças pneumocócicas e contra
cânceres e doenças relacionadas ao papilomavírus humano (HPV). Atualmente, a
empresa conta com um dos portfólios mais amplos de imunizantes para uso pedi-
átrico e adulto.
Presente no Brasil desde 1952, a MSD se dedica não apenas a inventar vacinas e a
oferecer serviços capazes de melhorar e salvar a vida da população, como também
busca maneiras de ampliar o acesso da população a seus produtos. Uma das vitórias
da empresa nesse sentido foi a disponibilização da vacina contra o HPV, capaz de
prevenir cerca de 90% das verrugas genitais e 70% dos cânceres de colo do útero, de
forma gratuita a milhões de meninas e meninos por meio da parceria de desenvol-
vimento produtivo firmada pela MSD com o Instituto Butantan.
A MSD colabora ativamente com a educação da comunidade científica, médica e
da população no país, compartilhando informações sobre o impacto e a importân-
cia da prevenção e do cuidado com a saúde desde o nascimento até as fases mais
avançadas da vida.
72
Início de operação no Brasil: 1952
Sede no Brasil: São Paulo
A Pfizer vem fortalecendo sua área de vacinas, tanto por meio da ampliação do por-
tfólio quanto pelo estímulo à descoberta de imunizantes inovadores. Trata-se de
uma de suas áreas prioritárias para investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento, o
que se reflete em um pipeline diversificado, contemplando moléculas que no futuro
poderão auxiliar no combate a enfermidades desafiadoras, como as infecções por
bactérias resistentes, nomeadamente Staphylococcus aureus e Clostridium difficile.
A trajetória da companhia em vacinas foi impulsionada pela aquisição, em 2009,
dos Laboratórios Wyeth, empresa com tradição nesse segmento e que, ao longo do
século 20, desempenhou papel decisivo em epidemias mundiais, como a varíola.
Foi também a principal fornecedora da primeira vacina trivalente oral contra a po-
liomielite e da vacina contra a febre tifoide, na Segunda Guerra Mundial. Outra con-
tribuição fundamental foi o desenvolvimento da vacina pneumocócica conjugada,
considerando o forte impacto das doenças pneumocócicas no mundo.
Ao adquirir a Wyeth, a Pfizer teve a oportunidade de utilizar sua capacidade comer-
cial e escala global para ampliar a distribuição da vacina pneumocócica conjugada
13-valente, que protege contra os sorotipos de pneumococo mais prevalentes no
mundo. Lançada no Brasil em 2010, inicialmente para bebês e crianças, atualmente
Prevenar 13 é indicada para brasileiros de todas as idades e comercializada em mais
de 120 países.
Os esforços da companhia também se voltam para o combate à meningite, caracte-
rizada pela facilidade de contágio, evolução rápida e elevada letalidade. A aquisição
da vacina Nimenrix, em 2015, para prevenir a doença meningocócica associada aos
sorogrupos ACWY da bactéria Neisseria meningitidis, é uma das respostas da com-
panhia frente a esse desafio.
73C O M O A S V A C I N A S M U D A R A M U M P A Í S
Início de operação no Brasil: 1974
Sede no Brasil: São Paulo, SP
A Sanofi Pasteur, uma das líderes mundiais na produção e distribuição de vacinas,
chegou ao Brasil em 1974, atendendo a um pedido do governo brasileiro para for-
necer doses da vacina contra meningite. Na época foram imunizados 90 milhões de
brasileiros, dando fim à epidemia.
Com mais de 1 milhão de euros investidos por dia em pesquisa e desenvolvimento
de vacinas, atualmente, a empresa oferece uma ampla gama de vacinas para imuni-
zação dos brasileiros, a exemplo da vacina contra a gripe, raiva, poliomielite e, desde
2016, oferece a primeira e única vacina contra a dengue.
Nosso principal objetivo é proteger as pessoas contra doenças infecciosas por meio
de vacinas seguras e eficazes. Possuímos um amplo portfólio de imunizantes que
protegem contra 20 doenças bacterianas e virais.
Ao longo dos anos, a Sanofi Pasteur estabeleceu várias parcerias com o Ministério
da Saúde e laboratórios públicos no Brasil para responder às principais necessidades
de saúde pública do País. Temos parcerias tecnológicas para as vacinas contra gripe,
raiva e a vacina inativada contra poliomielite.
Nossa parceria de mais de dez anos com o Instituto Butantan o levou a ser o pri-
meiro laboratório público na América do Sul a fabricar a vacina contra a gripe, que
imuniza cerca de 50 milhões de brasileiros contra -a doença, por ano.
Já o acordo com o Bio-Manguinhos, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), permitiu introduzir a vacina inativada contra
poliomielite (VIP) da Sanofi Pasteur no Programa Nacional de Imunizações.
A Sanofi Pasteur se orgulha de ter contribuído significativamente na constante me-
lhoria da saúde pública do País, através da prevenção de doenças. A empresa segui-
rá o seu compromisso para que cada vez menos brasileiros sofram ou morram por
causa de uma doença infecciosa que pode ser prevenida por vacina.
A DIVISÃO DE VACINAS DA SANOFI