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AUTÁRQUICAS A baixa taxa de colocações na pri- meira fase de acesso ao ensino superior nos institutos politéc- nicos públicos (55%) fez soar o alarme: 93% dos alunos concorrentes tinham entrado, tendo sobrado apenas 3 004 mil candidatos para uma oferta de 14 176 vagas, número que também inclui as universidades. Como encher um curso superior Alunos estrangeiros, cursos de especialização tecnológica ou para maiores de 23 anos são a salvação dos politécnicos. A primeira fase de acesso representa menos de metade do total dos estudantes em muitas destas escolas POR PEDRO MIGUEL SANTOS SOCIEDADE EDUCAÇÃO O interior do País foi o mais penalizado. Tomar, Bragança, Guarda, Portalegre e Beja foram, por ordem crescente, os cinco po- litécnicos que menos alunos conseguiram captar, com taxas de ocupação entre 20% e 33 por cento. Do concurso geral, 66 cursos ficaram desertos, 13 dos quais na institui- ção do Nordeste Transmontano. Se consi- derarmos a oferta de milhares de vagas nas 66 v 12 DE SETEMBRO DE 2013 privadas, fica a pergunta: como sobrevivem estas instituições de ensino? Joaquim Mourato, 47 anos, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, diz não estar sur- preendido com os resultados: «Nesta pri- meira fase, registou-se um decréscimo de 7% do número de candidatos. Mas com a segunda e a terceira fases e os concursos especiais, conseguiremos, certamente, ul- trapassar os 100 por cento.» Às vagas do concurso geral acrescem mais 20% de lugares para os concursos locais (cursos como os de Música, Dança, Teatro ou Cinema, com 640 vagas abertas em 2013) e para diferentes regimes espe- cíficos de acesso: praticantes de desporto de alto rendimento (cerca de 800 novos Média mais baixa... São 14 os cursos em que a nota de entrada do último colocado foi de 9,5 ... e mais alta É no Norte do País que os alunos com notas elevadas escolhem estudar Gestão de Empresas Marketing Tecnologias e Sistemas de Informação Gestão de Recursos Humanos (pós-laboral) Enologia Teatro e Artes Performativas Marketing (pós-laboral) Desporto e Atividade Física Design de Comunicação e Produção Audiovisual Agricultura Biológica Engenharia Mecânica Psicologia do Desporto e do Exercício Ciência e Tecnologia Alimentar Marketing Medicina Medicina Medicina Arquitetura Bioengenharia Medicina Medicina Línguas e Relações Internacionais Engenharia Aeroespacial Design de Comunicação Univ. Porto (Fac. Medicina) Univ. Porto (ICBAS) Univ. Minho Univ. Porto Univ. Porto Univ. Coimbra Univ. Lisboa Univ. Porto Univ. Lisboa Univ. Lisboa 18,1 valores 18,1 17,9 17,9 17,8 17,8 17,6 17,6 17,6 17,6 Univ. Algarve Univ. Beira Interior Univ. Beira Interior Univ. Técnica de Lisboa Univ. Trás-os-Montes e Alto Douro Univ. Trás-os-Montes e Alto Douro Univ. Aveiro Inst. Politécnico de Castelo Branco Inst. Politécnico de Castelo Branco Inst. Politécnico de Coimbra Inst. Politécnico de Lisboa Inst. Politécnico de Santarém Inst. Politécnico de Viana do Castelo Inst. Politécnico de Viseu

Como encher um curso superior

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Alunos estrangeiros, cursos de especialização tecnológica ou para maiores de 23 anos são a salvação dos politécnicos. A primeira fase de acesso representa menos de metade do total dos estudantes em muitas destas escolas

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Page 1: Como encher um curso superior

AUTÁRQUICAS

Abaixa taxa de colocações na pri-meira fase de acesso ao ensino superior nos institutos politéc-nicos públicos (55%) fez soar

o alarme: 93% dos alunos concorrentes tinham entrado, tendo sobrado apenas 3 004 mil candidatos para uma oferta de 14 176 vagas, número que também inclui as universidades.

Como encher um curso superiorAlunos estrangeiros, cursos de especialização tecnológica ou para maiores de 23 anos são a salvação dos politécnicos. A primeira fase de acesso representa menos de metade do total dos estudantes em muitas destas escolasPOR PEDRO MIGUEL SANTOS

SOCIEDADE EDUCAÇÃO

O interior do País foi o mais penalizado. Tomar, Bragança, Guarda, Portalegre e Beja foram, por ordem crescente, os cinco po-litécnicos que menos alunos conseguiram captar, com taxas de ocupação entre 20% e 33 por cento. Do concurso geral, 66 cursos ficaram desertos, 13 dos quais na institui-ção do Nordeste Transmontano. Se consi-derarmos a oferta de milhares de vagas nas

66 v 12 DE SETEMBRO DE 2013

privadas, fica a pergunta: como sobrevivem estas instituições de ensino?

Joaquim Mourato, 47 anos, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, diz não estar sur-preendido com os resultados: «Nesta pri-meira fase, registou-se um decréscimo de 7% do número de candidatos. Mas com a segunda e a terceira fases e os concursos especiais, conseguiremos, certamente, ul-trapassar os 100 por cento.»

Às vagas do concurso geral acrescem mais 20% de lugares para os concursos locais (cursos como os de Música, Dança, Teatro ou Cinema, com 640 vagas abertas em 2013) e para diferentes regimes espe-cíficos de acesso: praticantes de desporto de alto rendimento (cerca de 800 novos

Média mais baixa...São 14 os cursos em que a nota de entrada do último colocado foi de 9,5

... e mais altaÉ no Norte do País que os alunos com notas elevadas escolhem estudar

Gestão de EmpresasMarketingTecnologias e Sistemas de InformaçãoGestão de Recursos Humanos (pós-laboral)EnologiaTeatro e Artes PerformativasMarketing (pós-laboral)Desporto e Atividade FísicaDesign de Comunicação e Produção AudiovisualAgricultura BiológicaEngenharia MecânicaPsicologia do Desporto e do ExercícioCiência e Tecnologia AlimentarMarketing

MedicinaMedicinaMedicinaArquiteturaBioengenhariaMedicinaMedicinaLínguas e Relações InternacionaisEngenharia AeroespacialDesign de Comunicação

Univ. Porto (Fac. Medicina) Univ. Porto (ICBAS)Univ. MinhoUniv. PortoUniv. PortoUniv. CoimbraUniv. LisboaUniv. PortoUniv. LisboaUniv. Lisboa

18,1 valores18,117,917,917,817,817,617,617,617,6

Univ. Algarve Univ. Beira Interior Univ. Beira InteriorUniv. Técnica de Lisboa Univ. Trás-os-Montes e Alto Douro Univ. Trás-os-Montes e Alto Douro Univ. Aveiro Inst. Politécnico de Castelo Branco Inst. Politécnico de Castelo Branco Inst. Politécnico de Coimbra Inst. Politécnico de LisboaInst. Politécnico de Santarém Inst. Politécnico de Viana do Castelo Inst. Politécnico de Viseu

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JOSÉ

CAR

LOS

CARV

ALH

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Sucesso Nove em cada dez candidatos à primeira fase conseguiram entrar e 60% dos alunos ficaram colocados na sua primeira opção

alunos foram admitidos no ano passado); estudantes que concluíram um curso de es-pecialização tecnológica; candidatos à fre-quência do ensino superior maiores de 23 anos, entre outros.

Só lá para outubro se saberá, ao certo, quais os cursos sem alunos ou com menos de uma dezena. Estes terão de fechar, como anunciou, na passada segunda-feira, 9, o mi-nistro da Educação e da Ciência, Nuno Crato: «Já tomámos medidas para que os cursos

com apenas dez alunos não reabrissem e agora, depois de conhecer os resultados da segunda e terceira fases, vamos ter de voltar a tomar medidas.»

Estrangeiros, adultos e especiaisBragança não costuma ser apresentada como cidade cosmopolita, mas talvez esta imagem tenha de ser repensada. No último ano, recebeu cerca de mil alunos estran-geiros, que frequentam os diferentes cur-sos do politécnico local. «A maioria vem da Europa, mas há mais de uma centena de chineses, que querem aprender português, e cerca de 450 originários de Países Africa-nos de Língua Oficial Portuguesa», explica Sobrinho Teixeira, 50 anos, presidente da instituição.

Segundo dados no Ministério da Educa-ção e Ciência, no ano letivo de 2011/2012, estavam inscritos no ensino superior, em Portugal, 29 045 estrangeiros. Destes, 7 820 integravam-se em programas internacio-nais de intercâmbio. Para as privadas, que também ministram ensino superior poli-técnico, e cujos alunos são todos captados sem recurso a seriação pública, os forastei-ros constituem clientes fundamentais, nota João Duarte Redondo, 53 anos, presidente da Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado: «É um público importante e tem crescido, de ano para ano.»

Além destes alunos, há os que entram atra-vés dos Cursos de Especialização Tecnológi-ca (CET) – formações pós-secundárias, não superiores, que conferem qualificação de nível 5. Em Bragança, por exemplo, o núme-ro de alunos colocados na primeira fase dos CET aproxima-se de um milhar e ainda falta a segunda fase. «Já compensou, e muito, a quebra registada na primeira fase do concur-so geral», congratula-se Sobrinho Teixeira.

Juntam-se a estas duas modalidades o sistema M23 – provas específicas para quem tenha mais de 23 anos e queira ingressar no ensino superior, mesmo sem ter concluído o ensino secundário ou depois de o ter com-pletado há mais de cinco anos. No ano letivo de 2012/13, inscreveram-se 15 150 e entraram 8 951, uma taxa de aprovação de 88 por cento.

Para o Instituto Politécnico de Bragança, estas formas de angariar caloiros represen-taram cerca de 57% de todos os alunos ali colocados no ano passado. Se somarmos essa percentagem com a dos colocados na primeira fase deste ano (23%), e incluirmos os potenciais candidatos à segunda (cujos resultados são conhecidos a 26 de setem-bro) e à terceira, talvez se possa admitir que há alarmes a tocar antes do tempo.

SOCIEDADE EDUCAÇÃO

«Há muita gente que não termina o 12.º porque não tem condições socioeconómicas para continuar a estudar. E o sistema de acesso também deve mudar. Em engenharia, por exemplo, torna-se um grave impedimento para muitos estudantes haver duas provas específicas de matemática e física, porque os alunos preferem cursos em que só é exigida uma destas»

JOÃO DUARTE REDONDO, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DO ENSINO SUPERIOR PRIVADO

«Ninguém acredita que isto resulte de um problema demográfico. A questão é que o grau de aprendizagem atingido ao longo dos anos e o grau de dificuldade do exame não estão relacionados, o dos exames é muito superior. O País está a desperdiçar os jovens e não tem solução para eles.»

JOAQUIM MOURATO, PRESIDENTE DO CONSELHO COORDENADOR DOS INSTITUTOS SUPERIORES POLITÉCNICOS

«Nos últimos anos, com este Governo, tem havido uma pressão muito grande para aumentar as dificuldades dos exames e travar a entrada no ensino superior. Há uma postura do ministro Crato no sentido de considerar que existe facilitismo e de fazer exames mais difíceis. Junta-se uma postura conservadora dos que sonham com os anos 60, com cortes no financiamento, resultantes dos acordos com a troika.»

ANTÓNIO TEODORO, EX-SECRETÁRIO-GERAL DA FEDERAÇÃO NACIONAL DOS PROFESSORES, FENPROF (1983-1994)FONTE Direção-Geral do Ensino Superior INFOGRAFIA AR/VISÃO

TomarBragançaGuardaPortalegreBeja

2023273133

Agricultura, Silvicultura e Pescas Serviços de Segurança Indústrias Transformadoras Proteção do Ambiente Informática

2331374646

Onde sobraram as vagas% de colocações

Inst. PolitécnicosNesta primeira faseos politécnicos do interiordo País são os menosprocurados e entreas áreas menos atrativasestão a agricultura e aindústria transformadora

Áreas de estudo

Que é feito dos alunos?Este ano, mais de 91 mil estudantesmanifestaram, na altura dos exames,interesse em prosseguir estudos.Candidataram-se menos de metade

* Na 1.ª faseFONTE Direção-Geral do Ensino Superior

159 15391 49951 461

40 41937 415

inscritos nos exames nacionais*queriam entrar no ensino superiorvagascandidatoscolocados*

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