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COMO WEB ESCREVER PARA A Elementos para a discussão e construção de manuais de redação online Guillermo Franco Uma iniciativa do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, da Universidade do Texas em Austin Traduzido por Marcelo Soares

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COMO ESCREVERPARA AElementos para a discusso e construo de manuais de redao onlineGuillermo FrancoMarcelo SoaresUma iniciativa do Centro Knight para o Jornalismo nas Amricas, da Universidade do Texas em Austin Traduzido por

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Guillermo [email protected] [email protected]

Nota do tradutor

A edio brasileira deste livro tem muito poucas alteraes signicativas em relao ao original. Procurou-se manter dentro do possvel o tom do material. No caso das referncias onde o original era em ingls, procurou-se comparar com o original. O ponto que demandou maior esforo de adaptao foi o uso dos numerais. Em espanhol, o sistema numrico completamente diferente do sistema brasileiro. Foram mantidas as recomendaes do livro, exceto as especcas do espanhol. Para adapt-las, foram consultados manuais de redao brasileiros. Nas recomendaes sobre aspectos do texto, referncias especcas a dicionrios em espanhol foram mantidas e traduzidas quando a mesma gura de linguagem, por exemplo, tambm existe em portugus, mas mantendo a referncia fonte espanhola. A frase mais difcil de traduzir neste livro tinha apenas 4 palavras: Mutis por el foro. Est no captulo 3, num grco sobre essa inadequao de alguns ttulos. Era um ttulo de uma notcia colombiana sobre a saturao do noticirio com informaes sobre o seqestro da senadora Ingrid Betancourt. J traduzi histrias em quadrinhos que demandaram pesquisar Plutarco, Shakespeare, a histria da Ma e at noes sobre esclerose lateral amiotrca. Nada disso, porm, demorou tanto a compreender quanto essas quatro palavras. Perguntei ao autor o que a frase queria dizer. Ele respondeu: at em espanhol a frase crptica. A traduo (Sada pelo frum) no boa. Mas, como se pode ver ao longo das recomendaes do 2

livro, sequer o foi a prpria idia de usar o ttulo. Mesmo se fosse uma expresso comum na Colmbia, h outra questo interessante suscitada pelas recomendaes do livro. Sendo o seqestro de Betancourt notcia no mundo inteiro, nada mais natural do que algum brasileiro (ou americano, ou japons, ou sueco) interessado no assunto procurar informaes a respeito no principal jornal colombiano, disponvel na Internet para todos os leitores do mundo. Por melhor que possa ser o artigo, o ttulo enigmtico corre o risco de alienar esse leitor.Marcelo Soares Marcelo Soares jornalista, tradutor e instrutor em So Paulo. Colabora, entre outros, com o Los Angeles Times, o International Consortium for Investigative Journalism e a MTV Brasil. Em 2006, coordenou na ONG Transparncia Brasil o projeto Excelncias, um banco de dados que cruza informaes pblicas sobre parlamentares. O projeto ganhou o prmio Esso de Melhor Contribuio Imprensa naquele ano. Enquanto cursava jornalismo no nal dos anos 90, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, exerceu diversas funes auxiliares no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre. Uma delas foi a implantao do website do jornal, em 1997. Em 2000, participou do Programa de Treinamento em Jornalismo Econmico do jornal Folha de S.Paulo, e trabalhou por um ano e meio na editoria de poltica do jornal. Marcelo foi um dos membros fundadores da Associao Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e trabalhou como correspondente do website do Centro Knight para o Jornalismo nas Amricas antes de tornar-se o primeiro gerente da Abraji, em 2004. Na associao, editou o boletim Apurao, com dicas de reportagem investigativa, e organizou o primeiro congresso internacional da entidade, em 2005. Desde 2006, colabora com o jornal Los Angeles Times em reportagens sobre o Brasil. Em 2008, participou da criao do blog Jornalismo nas Amricas, do Knight Center para o Jornalismo nas Amricas. Como instrutor de tcnicas de reportagem com o auxlio do computador, deu aulas em redaes e faculdades de diversos estados, incluindo os jornais Folha de S.Paulo e A Tarde, a TV Globo e a Universidade de So Paulo (USP). Paralelamente sua atividade jornalstica, Marcelo traduz quadrinhos Marvel para a Panini Comics Brasil.

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Guillermo FrancoGuillermo Franco um jornalista com 23 anos de experincia, sendo os ltimos oito dedicados ao jornalismo digital e Internet. Ele desenvolveu toda sua carreira na Casa Editorial El Tiempo (CEET), proprietria do jornal EL TIEMPO e do portal eltiempo.com; este ltimo o website mais visitado da Colmbia. Entre o ano 2000 e outubro de 2008, Franco foi Gerente de Contedo de Novas Mdiasr da CEET e editor do eltiempo.com, sendo responsvel pela estratgia de contedo dos websites da organizao. Em 2006, reassumiu seu cargo, depois de ser bolsista Nieman na Universidade Harvard (http://www.nieman.harvard.edu/newsitem. aspx?id=100035), no ano letivo de 2005-2006, quando se dedicou ao estudo da Internet em todas as suas vertentes. Franco foi co-autor das duas maiores pesquisas sobre jornalismo digital e websites da Amrica Latina: The State of Online Journalism in Latin America, ou Situao do Jornalismo Online na Amrica Latina (http://www.poynter.org/content/content_view. asp?id=64532), de 2004, e Online Newspapers in Latin America: Latest Trends in Stafng, Content and Revenue, Jornais Online na Amrica Latina: as Mais Novas Tendncias em Pessoal, Contedo e Receita (http://www.poynter.org/content/ content_view.asp?id=124337 ), de 2007, ambas publicadas pelo Poynter Online. Uma das reas de interesse de Franco a redao para a Web, campo que estuda desde

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2004, quando apresentou seus primeiros trabalhos no Simpsio Internacional de Jornalismo Online, promovido pela Fundao Knight na Universidade do Texas em Austin. Ali, apresentou o estudo Youve Got My Attention. Please, Dont Repeat yourself!, ou Estou Prestando Ateno. Por Favor, No Repita! (http://online. journalism.utexas.edu/2004/papers/guillermo.pdf), que demonstrava como o mau uso dos recursos da diagramao impressa para apresentar textos na Internet afetava negativamente a usabilidade das pginas iniciais, particularmente as dos jornais, tornando ineciente a publicao de informaes. Atualmente, em um projeto pessoal, Franco ajuda a desenvolver programas de jornalismo online na Colmbia e outros pases da Amrica Latina, trabalhando como professor e conferencista e aplicando bibliograa em espanhol sobre a Internet e o jornalismo digital. Aplicou, por exemplo, a verso em espanhol do estudo We Media: How the audiences are shaping the future of news and information, ou Ns, a Mdia: Como as Audincias Modelam o Futuro das Notcias e da Informao (disponvel em espanhol no endereo http://www.hypergene.net/wemedia/espanol.php). Esse estudo, originalmente em ingls, foi preparado pelo Media Center do American Press Institute e a traduo foi publicada em seu website ocial em janeiro de 2005. Segundo os autores, o documento foi baixado mais de 115 mil vezes pela comunidade de fala espanhola. No nal de 2007, Franco prefaciou a verso em espanhol do livro Jornalismo 2.0 Como sobreviver e prosperar. Um guia de cultura digital na era da informao (http://knightcenter.utexas.edu/Periodismo_20.pdf), de Mark Briggs, que em poucos meses ultrapassou os 100 mil downloads, tornando-se outro verdadeiro best-seller se que cabe a expresso.

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Para Daniela, Gabriela e Consuelo

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Agradecimentos

Este trabalho no seria possvel sem a generosidade da Casa Editorial El Tiempo (CEET), que permitiu, a mim e minha equipe (a Redao do eltiempo.com e dos outros websites da organizao), fazer experincias bem-sucedidas com tcnicas para apresentar textos na Internet, durante vrios anos. Em particular, gostaria de citar os nomes de Luis Fernando Santos, Presidente da CEET; Ricardo Pombo Gaviria, Gerente da Unidade de Novas Mdias da CEET; Luis Carlos Gmez, Juan Jos Ramrez, Freddy Moreno, Julio Csar Guzmn, Diego Santos, Rafael Quintero, Mauricio Aragn, editores adjuntos do eltiempo.com em diferentes momentos; Carlos Restrepo, Carolina Lancheros, Soa Gmez, Paula Cardona, Carlos Sno, redatores de eltiempo.com, e Luis Eduardo Jimnez, infograsta. A esta lista deve-se agregar aqueles que permitiram ampliar meus horizontes jornalsticos, em particular a Fundao por um Novo Jornalismo Iberoamericano e seu diretor, Jaime Abello, que me apoiou em cada uma das minhas iniciativas, inclusive este documento; e Rosental C. Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Amricas na Universidade do Texas em Austin, que me guiou academicamente. Tambm preciso citar outros que contriburam com este documento, como Daniel Samper Pizano (no texto A frase curta aumenta a vida til do redator), Mauricio Jaramillo (no texto Microblogs, o mundo em 140 caracteres e outros formatos emergentes), e Alberto Gmez Font, coordenador geral da Fundao do Espanhol Urgente (Fundu), que respondeu s dvidas gramaticais suscitadas pelo texto original. No menos importantes foram o impulso e estmulo permanentes de Juan Felipe Castano, gerente de portais de informao, e Diego Carvajal, diretor de contedos no noticiosos em novas mdias, ambos da Casa Editorial El Tiempo. A Fernando vila, agradeo por ter-me iniciado no tema da redao e ser meu guia permanente, atravs de sua palavra e publicaes, neste trabalho.

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AGRADECIMIENTOS

Revisores deste trabalho: Mauricio Jaramillo, redator de tecnologia da Casa Editorial El Tiempo. Fernando Milln, diretor do jornal ADN, Colmbia. Mauricio Romero, editor do Portafolio.com Julio Csar Guzmn, editor de Entretenimento da Casa Editorial El Tiempo. Marcos Foglia, gerente de novas mdias da Clarn Global, Argentina. Jaime Dueas, subeditor da seo Internacional do El Tiempo. Freddy Moreno, editor noturno do El Tiempo. Camilo Baquero, ex-redator do eltiempo.com.

Diagramao do manual: Nstor Fabin Crdenas (Diretor de Arte do El Heraldo) Fotomontagem da capa: Alejandro Cepeda Beltrn (Publicitrio)

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Prlogo

Uma resposta aos pedidos de formaoPor Rosental C. Alves

Conheci Guillermo Franco em agosto de 2000, quando foi um dos alunos de uma dzia de pases da Amrica Latina que assistiram a um curso de jornalismo online organizado no Mxico pela Fundao por um Novo Jornalismo Iberoamericano. Nesses oito anos, apesar da distncia geogrca que nos separa, acompanhei de perto sua brilhante carreira e, sempre que pude, convidei-o a participar da conferncia anual sobre jornalismo online que organizo na Universidade do Texas em Austin. Duas coisas me impressionam na trajetria de Guillermo Franco. Uma sua paixo pelo jornalismo digital e pela perspectiva de que se criem narrativas mais adequadas e mais ecientes para a Internet e demais plataformas digitais. A segunda caracterstica impressionante seu abnegado esforo por compartilhar conhecimento com seus colegas na Amrica Latina. Este livro mais uma demonstrao da generosidade de Guillermo Franco, j expressa em diversas tradues para o espanhol de documentos em ingls sobre jornalismo digital e frequentes apresentaes para colegas de todo o hemisfrio. Em 2004, Guillermo Franco e seu colega Julio Csar Guzmn (tambm aluno daquele curso no Mxico em 2000) publicaram no Poynter Online sua primeira pesquisa sobre o estado do jornalismo digital na Amrica Latina, intitulado The State of the Online Journalism in Latin America. Ali se delineava um perl bsico do jornalista digital da regio, mas sobretudo se explorava suas necessidades em termos de formao. A maioria dos jornalistas de Internet nos jornais da Amrica Latina tem entre 20 e 30 anos de idade, ganha menos que seus colegas do impresso e pensa ser vista como um grupo de prossionais de menor nvel. O trabalho desses jornalistas se concentra na redao e na edio, mas muito pouco em reportagem. Embora no tenham formao em jornalismo online, sentem que precisam adquiri-la, especialmente aprendendo como criar contedo multimdia e como escrever para a Internet, diz o trabalho.

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PRLOGO

Na segunda verso, de 2007, Online Newspapers in Latin America: Latest Trends in Stafng, Content and Revenue (Jornais Online na Amrica Latina: as Mais Novas Tendncias em Pessoal, Contedo e Receita), tambm publicada pelo Poynter Online, as mesmas necessidades de capacitao voltaram a aorar, mas com um componente adicional: apareciam no contexto da urgncia de integrar redaes online e do produto impresso, como estratgia para expandir a operao dos jornais na Internet. Embora o foco dessas pesquisas fosse os meios de comunicao tradicionais que tm operaes na Internet, eu me atreveria a dizer que suas concluses coincidem em parte com as necessidades de capacitao de todos os jornalistas da Amrica Latina e, em geral, de qualquer um que deseje se aventurar nesse novo meio de comunicao. Digo em parte porque so muitas as habilidades de que os jornalistas precisam para se desenvolver no ambiente digital. Este documento, que busca ser parte da resposta a essas necessidades de formao, pretende compartilhar conhecimento e experincia com todos os interessados no assunto na Amrica Latina, seguindo a mesma direo e losoa de outros esforos apoiados pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Amricas, da Universidade do Texas em Austin. Franco, que foi editor entre 2000 e 2008 do eltiempo.com, o website de maior trfego da Colmbia, experimentou com sua equipe, como poucos, as diversas formas de apresentar textos na Internet. Lembro como, na edio de 2004 do Simpsio Internacional de Jornalismo Online, que organizo a cada ano na Universidade do Texas em Austin, Franco fez uma apresentao sobre a forma ineciente como os websites de grandes jornais do mundo apresentavam na poca textos em suas pginas iniciais. Frente a frente com os editores de vrios deles, Franco se atreveu a mostrar como essa inecincia nascia do fato de que ainda estavam presos s formas de apresentar e diagramar contedos para meios impressos.

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Muitos dos nossos websites na Amrica Latina, grandes e pequenos, associados a meios de comunicao tradicionais ou independentes, seguem presos ao mundo impresso, mesmo quando sequer nasceram nele. Este, talvez, seja um bom comeo para criar algo novo na Internet.

Rosental C. Alves Rosental C . Alves professor da Universidade do Texas em Austin, onde ocupa a Ctedra Knight de Jornalismo e a Ctedra Unesco de Comunicao. diretor fundador do Centro Knight para o Jornalismo nas Amricas, na mesma universidade, criado em 2002 graas a uma doao de dois milhes de dlares da Fundao James L. e John S. Knight, que permitiu alcanar milhares de jornalistas com programas de treinamento auto-sustentveis que buscam elevar os nveis ticos e prossionais, para contribuir com a liberdade de imprensa e com a democracia no hemisfrio. Em 2007, a Fundao Knight fez outra doao de 1,6 milhes de dlares para que o Centro reenfoque suas atividades dando mais nfase ao treinamento dos jornalistas no uso de ferramentas digitais. Membro de diretorias de vrias organizaes nacionais e internacionais relacionadas ao jornalismo (entre elas o Conselho Reitor da Fundao por um Novo Jornalismo Iberoamericano FNPI), Alves foi palestrante, trabalhou como consultor de jornais e conduziu diversos cursos em vrios pases para treinar jornalistas e professores de jornalismo no uso dos novos meios de comunicao. Desde 1999, organiza o Simpsio Internacional de Jornalismo Online na Universidade do Texas em Austin, um encontro nico em seu gnero, que rene jornalistas, executivos e acadmicos do mundo inteiro. Alves comeou sua carreira acadmica nos Estados Unidos em maro de 1996, depois de 27 anos como jornalista prossional, incluindo sete anos como professor de jornalismo no Brasil. Por mais de uma dcada, foi correspondente estrangeiro na Espanha, Argentina, Mxico e Estados Unidos do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, um dos mais importantes jornais brasileiros. Alves criou o primeiro servio brasileiro de notcias online em 1991, usado pelos corretores da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Em 1995, comandou a criao da edio online do Jornal do Brasil, transformando-o no primeiro jornal brasileiro disponvel na Web. Na Universidade do Texas em Austin, criou o primeiro curso de jornalismo online. L, tambm d aulas de reportagem internacional e de estudos latino-americanos. Alves, que exerce o jornalismo desde os 16 anos, formou-se em jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi o primeiro brasileiro laureado com uma bolsa Nieman na Universidade de Harvard (ano acadmico de 1987-1988). Lecionou jornalismo na Universidade Federal Fluminense e na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, comeando sua carreira como professor aos 21 anos.

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A nova sintaxePor Fernando vila

Guillermo Franco estudava comunicao social e jornalismo na Universidade Central de Bogot, onde eu ensinava Redao Jornalstica e ele era um dos meus alunos. Sua turma era formada por um grupo de garotos motivados por diversos aspectos da comunicao, mas desinteressados, em sua maioria, pelo mundo da imprensa o que fazia as aulas terminarem sendo um dilogo entre ele e eu, os dois nicos apaixonados pelo jornalismo escrito. At hoje o dilogo continua. Franco foi at muito pouco tempo atrs o editor do eltiempo.com, um dos websites mais consultados do mundo espanhol, e eu continuo em minha quixotada de tentar fazer os outros se interessarem por escrever melhor, ou ao menos por escrever sem erros. No tempo em que Franco e eu conversvamos sobre como se devia escrever para os meios escritos, era dogma o esquema inventado pelos reprteres da Guerra de Secesso e sistematizado pela AP a pirmide invertida. Era preciso escrever um lide (lead, em ingls) que respondesse aos cinco dobrevs: who, what, where, when, why, alm do inescapvel how. Esse lide se desenvolvia num corpo de quatro pargrafos em ordem decrescente de importncia e se condensava num ttulo de at seis palavras. A pirmide invertida perfeita devia permitir a eliminao sucessiva de pargrafos, do ltimo at o segundo, sem que o leitor desse pela falta de nenhum deles, caso recebesse apenas uma parte da verso original da notcia. Embora o esquema tenha continuado em uso, sem melindres, pelas agncias de notcias, os acadmicos e seus alunos logo comearam a reavali-lo. Apareceram outras formas de contar os fatos noticiosos, e esse tradicional recurso caiu em desuso nos jornais em geral e nos dirios em particular, em vrios pases, a tal ponto que se tornou cafona mencion-lo em qualquer Redao moderna. A pirmide invertida passou a ser como diz Franco a pirmide pervertida.

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A chegada da Internet e a sua popularizao como meio informativo no apenas recuperou a famosa pirmide como tambm a modernizou e exigiu para ela um novo estilo. Hoje, est claro que a notcia da Internet deve ser redigida com esse esquema tradicional, s que adaptado a novas exigncias. Existe, pois, um novo estilo de pirmide invertida.

InovaoA velha pirmide narrava trs vezes o fato. Primeiro num ttulo de seis palavras, em seguida no lide e nalmente no corpo. Anunciava-se o fato (ttulo), ampliava-se com os dados essenciais (lide) e logo se glosavam esses dados (corpo). A nova pirmide narra uma s vez, sem repetir, desde o ttulo, que vem a ser o mesmo lide, at o nal do corpo. Ttulo e lide passam a ser um s, e o corpo agrega informao. Essa nova forma exige palavras curtas, conhecidas e precisas. uma necessidade para os textos da rede, que inevitavelmente termina sendo uma necessidade para todos os meios de comunicao. Inclusive o romance e o conto, a reportagem e a crnica, o ensaio e o informe cientco escritos em papel devem acomodar-se a esse novo estilo, o das palavras curtas, conhecidas e precisas. Um estilo que nos exige escrever m em vez de propsito, porque mais curto; trabalho em vez de labor, porque mais conhecido, e colibri em vez de ave, porque mais preciso (se for efetivamente um colibri). A frase deve ser curta, sem excesso de incisos e nem de circunstncias. O ritmo de frase longa + frase curta + frase longa resulta ideal para formar um pargrafo ecaz e de impacto. O ncleo de cada frase, o verbo, deve ser forte e direto, esclareceu, e no fraco e sinuoso, prestou esclarecimentos. Advrbios e adjetivos no podem ser valorativos, mas descritivos e exatos. Alm disso, deve-se extremar o cuidado com guras e jogos de palavras. A redao na Internet requer mais do que nenhuma outra a economia de palavras, o que nalmente veio a tornar-se misso de todo texto escrito. Locues como com a maior brevidade possvel ou no dia imediatamente anterior j so peas de museu,

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pois foram substitudas denitivamente pelos equivalentes o quanto antes e ontem (se que efetivamente foi ontem). A inovao, alis, vai alm do simples estilo e atinge a sintaxe. Quantas vezes exigimos de nossos redatores a ordem sujeito-verbo-objeto-advrbio, a InBev comprou a Budweiser e a cervejaria Anheuser-Busch de seu conselho de administrao, numa operao comercial que supera os 52 bilhes de dlares, e quantas vezes teremos exigido de nossos alunos que mudassem a voz passiva, Uribe foi reeleito pelos Colombianos, pela ativa, os Colombianos reelegeram Uribe. Pois bem, o novo estilo, o estilo da Internet, nos exige mudar esses paradigmas. A informao na tela lida vista , segundo informa Franco neste documento, congurando um padro em F, onde os usurios s veem o primeiro tero dos ttulos, a primeira frase dos pargrafos e os interttulos quando exploram a pgina. Assim, esquerda deve ir a palavra mais signicativa, no necessariamente a primeira palavra do sujeito da frase. Em consequncia, o que um meio de comunicao tradicional poderia anunciar como Guerrilha das FARC se desmobiliza, na rede preciso anunciar como Desmobilizada a guerrilha das FARC. A nova sintaxe que sem dvida o oferece menos restrio voz passiva, recupera o recurso dos dois pontos, unica o uso de cifras para todas as quantidades e em muitos casos, especialmente ttulos e interttulos, prescinde dos artigos.

Mais almA revoluo nos aspectos da redao e da sintaxe profunda e no se restringe ao prprio meio, alterando o estilo de todos os demais meios e de todos os gneros. Basta pensar em algo que escapa ao alcance deste trabalho: o romance, o mais alto gnero narrativo, j adota o sistema de apresentar captulos por trechos, com a possibilidade de fazer uma leitura no linear, de interagir com os personagens, de escolher diversos caminhos para chegar ao nal, de saltar pginas e at de escolher o desenlace. Quem sabe Cortzar tenha antecipado isso em O Jogo da Amarelinha, como o

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gnio que foi. Os novos escritores de hoje conectam suas narrativas na rede e traam labirintos onde os leitores se perdem, criticam, intervm na trama e dialogam com o autor. A redao na Internet signica uma mudana de estilo, uma mudana sinttica, uma reviso dos gneros tradicionais de escritura e um desao para os produtores de contedos informativos comerciais, recreativos e educativos da rede.

Fernando vila Licenciado em Artes pela Universidade Nacional da Colmbia, em 1975, com estudos complementares em Educao, Filosoa e Literatura. Foi bolsista Adveniat do Nono Programa de Graduados Latino-americanos da Universidade de Navarra, em Pamplona, Espanha, 1980, onde se graduou com tese em Redao Jornalstica. Participou de cursos de atualizao prossional, como Elaborao de Material Didtico, Universidade da Sabana, 1982; Jornalismo Cientco, Universidade de Antioquia, 1987, e Criao Literria, Escola de Escritores de Madri, 2006 a 2008. A partir de sua tese sobre Redao Jornalstica e de sua dedicao ao ensino nas escolas de comunicao social e jornalismo, que comearam a consolidar-se na Colmbia na dcada de 1980, foi desenvolvendo teorias e didticas de redao, paulatinamente aplicadas a outros campos, como a publicidade, a redao comercial e ultimamente criao literria. Alm da ctedra de Redao Jornalstica em vrias faculdades de comunicao e mais de mil cursos dados em empresas comerciais e entidades do Estado Colombiano, j foi responsvel pelo ensino da redao em sete temporadas da Especializao em Jornalismo da Universidade dos Andes, sete temporadas de Redao Jornalstica na Universidade de Rosrio e sete cursos de Comunicao para a pastoral da Universidade Javieriana. Foi, alm disso, decano de Jornalismo na Escola Prossional Inpahu. vila estendeu seu trabalho aos meios de comunicao, como chefe de redao da agncia Colprensa, chefe de redao da revista Arco, Defensor da Linguagem do jornal El Tiempo e responsvel pela capacitao e atualizao de jornalistas de meios impressos, rdio e televiso, em diversas empresas e associaes, como a Casa Editorial El Tiempo, o Grupo Editorial Norma, o Canal Caracol, a Caracol Radio, meios de informao da Polcia e do Exrcito, alm das publicaes Semana, El Pas, La Patria e Andiarios. Sua obra didtica se espalha por numerosas colunas de imprensa, como El Lenguaje en El Tiempo (El Tiempo) e Verbo y Gracia (mbito Jurdico), frequentes intervenes no rdio e na televiso e duas dezenas de livros publicados, entre os quais se destacam Onde vai a vrgula, Diga-o Sem Erros, Como se Escreve, Redao Jornalstica, Em Busca do Verbo Preciso e Espanhol Correto para Dummies. Este ltimo o primeiro livro escrito originalmente em espanhol dentro da prestigiosa coleo para dummies (da IDG Books, de Nova York), editados pela Norma para os Estados Unidos e quinze pases da Amrica Latina, e pela Granica, para a Espanha e a Unio Europia, embora indito no Brasil.

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ndice

Introduo.................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 20 Captulo 1...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 25Comportamento do usurio: o que dizem as pesquisas 1.1 EyeTrack07: A destruio do mito da leitura supercial? .................................................................................. 26 1.2 O ponto de entrada da pgina ................................................................................................................................................................................................ 32 1.3 Leitores escaneadores e leitores que leem palavra por palavra .................................................... 36 1.4 Padro com que os usurios percorrem a tela do computador.................................................... 39 Tabela: Resumo das principais pesquisas ........................................................................................................................................................................................ 46

Captulo 2...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 47Incorporao do conceito de usabilidade para aferir a qualidade de um texto no ambiente da Web 2.1 Denio de usabilidade prova de jornalistas ........................................................................................................................... 47

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Medindo a usabilidade de um texto .......................................................................................................................................................................... 48

Captulo 3...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 52

Use a pirmide invertida! 3.1 Denio de pirmide invertida............................................................................................................................................................................................ 53 3.2 Justicativa do uso da pirmide invertida para apresentar contedos na Web ................................................................................................................................................................................................. 55 3.3 Nvel bsico de utilizao da estrutura de pirmide invertida: texto linear colocado numa s pgina da Web ................................................................................. 56 3.4 Segundo nvel de utilizao da estrutura de pirmide invertida: texto linear dividido tematicamente em uma s pgina da Web................................................................................................................................................................................................................. 58 3.5 Terceiro nvel de utilizao da estrutura de pirmide invertida: texto linear dividido em subtemas que aparecem em diferentes pginas da Web................................................................................................................................ 59 3.6 Critrios de tamanho de textos no ambiente online .................................................................................................. 64 3.7 Estraticao da informao no ambiente Web ........................................................................................................................ 66 3.8 Pirmide invertida e modelos de titulao ............................................................................................................................................... 70 3.9 Como proceder com textos que no podem ser reescritos com estrutura de pirmide invertida....................................................................................................................................................................... 80 3.10 Frmulas que no se ajustam ao formato da pirmide invertida.................................................. 80 3.11 Redao e otimizao para mecanismos de busca............................................................................................................. 81 3.11.1 A linguagem metafrica, uma forma de confundir o usurio e os buscadores ...................................................................................................................................................................... 88

Captulo 4...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 89

Construa a pirmide 4.1 O conceito da pirmide invertida horizonta ....................................................................................................................................... 90 4.1.1 Troque a ordem dos elementos da frase de forma a comear com as palavras que, a seu juzo, tenham mais relevncia e gancho................................... 94

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4.1.2 Use a voz passiva sempre que for necessrio.................................................................................................................................. 97 4.1.3 Os dois pontos: um recurso vlido para levar para o lado esquerdo as palavras mais portadoras de informao ............................................................................................. 99 4.1.4 Palavras que no funcionam para iniciar ttulos (ou pargrafos, interttulos ou itens de uma enumerao)........................................................................... 103 4.2 Minimize a pontuao, racionalize o nmero de idias que coloca nas frases (e controle seu tamanho).......................................................................................... 106 4.3 Reviso de recomendaes de manuais de edies impressas que no se aplicam s edies digitais.................................................................................................................... 110 Quadros - Quando a frase longa bem usada...................................................................................................................................................................... 117 - Use verbos fortes ................................................................................................................................................................................................................................................. 119 - Seja impiedoso com a repetio de informaes ........................................................................................................... 120

Captulo 5...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 121

Rompa a uniformidade do texto 5.1 Interttulos que identicam blocos temticos como frmula para romper a uniformidade do texto........................................................................................................................... 121 5.1.1 Modelos de utilizao dos interttulos: como entidades externas ao bloco temtico que identicam ou como partes dele ...................................... 123 5.1.2 Exemplo de utilizao dos diferentes modelos de interttulos e um mesmo texto ................................................................................................................................................................................ 128 5.2. Enumeraes como frmula para romper a uniformidade do texto................................ 138 5.2.1 Recomendaes para a construo de enumeraes............................................................................................... 138 5.3 Utilizao da cor para romper a uniformidade do texto e atrair o usurio ................................................................................................................................................................................................................. 146 5.3.1 O negrito (bold) como recurso de cor para romper a uniformidade ......................................................................................................................................................................................................... 146 5.3.2 Entrevistas de pergunta e resposta (ping-pong) como um caso de ruptura da uniformidade pela utilizao do negrito.................................................................... 147

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5.3.3 O link como um elemento destacado pela cor para romper a uniformidade do texto ............................................................................................................................................................ 151 5.4 Pargrafos curtos como outra forma de romper a uniformidade do texto........................................................................................................................................................................ 151

Captulo 6...................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 154

Textos em outros formatos e plataformas 6.1 Blogs e a redao para a Web................................................................................................................................................................................................... 154 6.2 Microblogs (o mundo em 140 caracteres) e outros formatos emergentes/Por Mauricio Jaramillo............................................................................................ 156 6.2.1 Experincias jornalsticas com o Twitter ............................................................................................................................................................ 161 6.2.2 O futuro da microblogagem ....................................................................................................................................................................................................... 163 6.2.3 Algumas recomendaes para seu microblog................................................................................................................................... 164 6.2.4 Dicas de redao para o Twitter ........................................................................................................................................................................................... 165 Tabela: guia rpido para o processamento de textos .................................................................................................................................. 170

EplogoO futuro do texto na Internet .................................................................................................................................................................................................................................. 171 Apndice e exemplos ...................................................................................................................................................................................................................................................................... 180

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Introduo

De volta ao velho em um novo meioEscrever para a Web signica, em grande parte, retornar a dois fundamentos do ofcio jornalstico: a boa redao e a boa edio. O resto, denitivamente em menor proporo, determinado pelas particularidades deste novo meio. Apesar de parecer simples enunciar essa frmula, um fato vericvel que so poucos os que percorreram o caminho da redao para a Web, seja por desconhecimento, indiferena ou franca renncia. A vtima disso sempre foi o usurio, muitas vezes sacricado para proteger injustamente o ego de um autor. Na primeira dcada de sua existncia, a World Wide Web foi usada principalmente como um novo canal de distribuio de contedo. Ainda no se desenvolveu como novo meio (...) para a maioria, o contedo da Web simplesmente o contedo impresso publicado online. At que todas as capacidades da tecnologia sejam aplicadas para criar e usar, o meio continuar em fase de desenvolvimento, diziam no ano 2000 Nora Paul e

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INTRODUO

Cristina Fiebich, pesquisadoras do Institute for New Media Studies and New Directions for News, da Universidade de Minnesota, em seu trabalho Cinco elementos da narrativa digital (5 Elements of Digital Storytelling), (http://www.inms.umn.edu/elements/) uma das melhores tentativas de caracterizar a Internet como um novo meio. Hoje, esse diagnstico continua vigente, e correndo o risco de ser repetitivo um dos sintomas que o tornam presente a profuso de textos que no foram adequados ao formato digital. Autores especializados no tema no duvidam em armar que o contedo na Internet est falido. Em ingls, inclusive, cunhou-se o termo shovelware para descrever o contedo (que inunda a rede) pego de qualquer fonte e posto na Web sem levar em conta sua aparncia ou usabilidade (shovelware deriva da palavra p em ingls, designando o movimento do material de um lugar a outro, sem valor agregado). Para que a Web alcance esse status completo, os desenvolvedores de contedo e os usurios devem tirar vantagem de seus atributos, ambiente e funcionalidades. A Web deve passar por um processo de maturao o mesmo pelo qual todos os novos meios passaram. O exemplo clssico desse processo so as notcias de televiso. No comeo, eram simplesmente textos de rdio lidos diante da cmera. Hoje, porm, todas as capacidades do meio so usadas, com cmaras de mltiplos ngulos, vdeos gravados ao vivo, fotos e grcos sendo empregados para contar as notcias do dia, diziam Paul e Fiebich em seu trabalho. Os textos tambm deveriam passar por um processo de maturao. Este estudo, originado de um trabalho acadmico orientado pelo mestre Rosental C.Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Amricas na Universidade do Texas em Austin, se concentrar em como ajustar os textos para a Web. Embora esteja voltado a websites de meios de comunicao, especialmente de jornais, os conceitos que oferece so aplicveis a qualquer tipo de stio de Internet. De fato, esses sites podem capitalizar o conhecimento jornalstico para apresentar seus contedos textuais. Como valor agregado, o documento apresenta em portugus todas as pesquisas sobre o assunto, trazendo tambm contribuies originais e bibliograa de apoio

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CMO ESCRIBIR PARA LA WEB

INTRODUO

para o processo de redao, e leva esses dados ao terreno da prtica por meio da incluso de exemplos que, embora tirados de meios de comunicao colombianos, so compreensveis em outros contextos. Muitos deles incluem erros originais, que so usados como recurso para ilustrar. Porm, numa etapa posterior, esperamos incluir exemplos desenvolvidos em outros pases da Amrica Latina. Ao buscar informao sobre esse assunto na Web, livros e entrevistas que realizamos, nos deparamos com todo tipo de viso, mas privilegiamos as que estavam respaldadas por pesquisas. Ao revisar este documento em seu conjunto, dois nomes ganham relevncia (pelo nmero de vezes em que so citados): Poynter Institute e Jakob Nielsen. Este manual uma homenagem aos dois, mas em especial a este ltimo, uma referncia obrigatria em temas de usabilidade e Internet, que compartilha seu conhecimento generosamente em seu website useit.com. um convite para que at seus detratores o conheam antes de polemizar. Como fazem muitos escritores, poderiamos utilizar conhecimento alheio sem reconhecer a autoria, mas no sucumbimos tentao: cada pargrafo, cada aluso, remete a seu respectivo autor. A forma como se estruturou o documento deve ser vista como um guia de referncia bibliogrca. Alguns conceitos (tanto os prprios como os dos autores citados), que podem ser controversos, assim como todo o manual em seu conjunto, devem ser considerados um ponto de partida para a discusso sobre o tema da redao para a Web. Esta no uma obra acabada, mas em constante construo, com a incorporao de novos conceitos, pesquisa ou bibliograa, mas fundamentalmente com as colaboraes dos usurios. Estamos convencidos parafraseando ao guru do jornalismo participativo Dan Gillmor, autor do livro We the Media (lanado com o ttulo Ns, os Media, em Portugal) de que eles sabem mais do que eu; de que esta no uma ameaa, e sim uma oportunidade e de que podemos usar este princpio para criar juntos algo a meio caminho entre uma palestra e uma conversa, que nos eduque a todos.

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INTRODUO

Entre na discussoProcure no Facebook o grupo Como escrever para a Web (http://www.facebook.com/group.php?gid=47605591799&ref=mf) Grupo administrado por Camilo Sixto Baquero, Julio Csar Guzmn e Guillermo Franco

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O USURIO, ESTPIDOS!** Parafraseando conselho dado por James Carville a Bill Clinton sobre o tema mais importante da campanha presidencial de 1992: a economia, estpido!.

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CAPTULO

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Comportamento do usurioO que dizem as pesquisas

As pesquisas de Eyetrack (rastro ou caminho do olho) e os estudos de usabilidade do papel central viso e ao comportamento dos usurios.

Justo quando eu tinha quase todas as respostas, mudaram todas as perguntas. Essa a sensao que experimentam aqueles que acompanham de perto desde 1994 as diversas pesquisas que, com diversas metodologias, trataram de determinar a forma como os usurios navegam nos stios da Internet, suas pginas iniciais e interiores, e a forma como consomem o contedo, em particular os textos. Algumas concluses so to contraditrias que fazem com que seja lcito questionar se houve uma evoluo no comportamento dos usurios ou se as diferenas podem ser atribudas metodologia e metas das mesmas pesquisas. A maior contradio: o EyeTrack07 (http://eyetrack.poynter.org/), o mais recente estudo realizado pelo Poynter Institute, centro de pesquisa e educao em jornalismo com sede na Flrida (Estados Unidos), proclamou que as pessoas leem em profundidade nos websites de jornais, at mais do que nas edies impressas. Quase todas as pesquisas anteriores ao EyeTrack07, principalmente as feitas por Jakob Nielsen,

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COMO ESCREVER PARA A WEB

CAPTULO 1

o guru da usabilidade (http://www.useit.com/ ) para os ns deste manual, a palavra ser usada como sinnimo de facilidade de uso , e pelo prprio Poynter diziam que a leitura era breve e supercial. Embora as pesquisas de Nielsen no tivessem em mente os websites jornalsticos quando foram realizadas, suas concluses e recomendaes eram aplicveis a eles. Curiosamente, seus autores recomendavam usar princpios jornalsticos para apresentar os contedos textuais. Os resultados das pesquisas do Poynter, feitas com sites jornalsticos, foram extrapolados pelos especialistas, com algumas observaes, a outros tipos de website. Neste captulo revisaremos e compararemos as concluses das principais pesquisas. Mais que dar respostas denitivas, procuramos possveis explicaes. No presuma nada; parta da posio conhecida como pressuposto da soma zero, onde cada regra est aberta a ser desaada e alterada, escreveu Howard Finberg na nota sobre as pesquisas de caminho do olhar intitulada O Eyetrack no a soluo, Eyetrack Is Not a Solution, (http://www.poynterextra.org/EYETRACK2004/solution.htm). Arriscamos, porm, uma hiptese: as contradies entre as diferentes pesquisas no invalidam e nem reavaliam o conceito fundamental: elas o renam e reforam. preciso estruturar os textos para o ambiente digital (ou online, expresso que usaremos como sinnimo de digital neste manual, arriscando sofrer crticas dos puristas da linguagem), tendo em mente o comportamento e os objetivos do usurio. Convidamos os leitores deste documento a procurar as fontes primrias das pesquisas, para propiciar a discusso sobre elas.

1.1 EyeTrack07: A destruio do mito da leitura supercial?Para chegar concluso de que h uma leitura profunda nos websites jornalsticos, no Eyetrack07, assim como no de 2000 (mas no no realizado em 2004), os participantes usaram culos que incluam cmeras que rastreavam e registravam o movimento dos olhos. Da o nome Eyetrack, que em traduo livre signica rastro ou caminho do olho.

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COMPORTAMENTO DO USURIO

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Imagem de uma sesso do EyeTrack07. No caso do Eyetrack07, eram duas cmeras: uma registrava os movimentos do olho; a outra, o ponto em que observavam a tela ou a edio impressa. Os pesquisadores codicaram mais de 300 elementos nas pginas que os participantes (605 pessoas) observaram. Ao total, foram registradas, documentadas e analisadas mais de 102 mil detenes ou xaes do olho. Para uma indstria de jornais nervosa, uma preocupao entre muitos se a capacidade de ateno dos leitores foi irreversivelmente reduzida. Ao menos entre os 582 leitores do EyeTrack07 (aqueles dentre os 605 totais cujos registros de sesso foi possvel usar) no foi assim. Nesse estudo, independente do formato ou do meio (impressos, em formato standard ou tablide, ou online) cerca de dois teros dos textos escolhidos foram lidos. E, desaando a noo de que os leitores online particularmente se movem rapidamente para dentro e para fora dos textos,

Cortesa Poynter.org

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COMO ESCREVER PARA A WEB

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nossos leitores online leram inclusive com mais profundidade do que os leitores do impresso, diz o resumo ocial da pesquisa, publicado pelo Poynter e de autoria de Pegie Stark Adam, Sara Quinn e Rick Edmonds. De acordo com os pesquisadores, os participantes online do EyeTrack07 leram 77% do texto que escolheram. Essa cifra alta se for comparada com o que leram os participantes dos formatos impressos em formato standard, 62%, e os do tablide, 57%. Os pesquisadores estabeleceram que esse comportamento maior leitura online do que impressa no dependia do tamanho dos textos. Tambm estabeleceram que os leitores online tendiam a completar a leitura dos textos selecionados mais do que os leitores do impresso: 63%, comparado com 40% em standard e 36% em tablide. Percebemos, porm, que medida que o texto aumentava, a leitura diminua, diz Pegie Stark Adam, em comentrio no texto ocial da pesquisa. Essa observao relevante para a forma como se deve estruturar os textos, e ser discutida em um captulo posterior. As concluses da pesquisa de 2007 contrastam com as da pesquisa EyeTrack de 2000 (http://www.poynterextra.org/et/i.htm), realizada pelo Poynter e pela Universidade de Stanford, segundo a qual os textos curtos eram trs vezes mais vistos que os compridos e que, em geral, a leitura era supercial; mas tambm assinalava e isso coincide com a de 2007 que, quando se encontrava algo de interesse, a leitura era mais profunda (lia-se mais de 75% do texto escolhido). Os autores dessa pesquisa foram Marion Lewenstein, Greg Edwards, Deborah Tatar e Andrew DeVigal. Na pesquisa Eyetrack III (http://www.poynterextra.org/EYETRACK2004/index.htm), de 2004, realizada tambm pelo Poynter em associao com o Estlow Center for Journalism & New Media e a empresa Eyetools, no se mediu a profundidade de leitura dos artigos escolhidos. Porm, a supercialidade de leitura foi parcialmente posta em evidncia pela ateno visual que recebiam os pargrafos de acordo com seu tamanho.

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Imagem de uma sesso da pesquisa EyeTrack do ano 2000. Na pesquisa, os pargrafos mais curtos tiveram melhor desempenho que os maiores. Nossos dados revelaram que textos com pargrafos curtos recebiam o dobro de ateno visual que aqueles com pargrafos mais longos. O formato de pargrafos longos parece desestimular sua observao, dizem Steve Outing e Laura Ruel. A supercialidade da leitura tambm foi posta em evidncia pela forma como os usurios liam apenas o primeiro tero dos ttulos (veja os mapas de calor e o padro em F, mais adiante). Nesta pesquisa (EyeTrack III), diferentemente das de 2000 e 2007, os participantes no usavam culos. A cmera que rastreava os movimentos de seus olhos estava localizada na base da tela do computador, qual olhavam. Com esta tecnologia, que

Cortesa Poynter.org

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COMO ESCREVER PARA A WEB

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Imagem de uma sesso da pesquisa EyeTrack III, de 2004. A cmera que segue o movimento do olho dos usurios est posicionada na base do monitor do computador.

pode ser classicada como no invasiva, o comportamento dos usurios era mais natural. De acordo com os autores do EyeTrack07, sua pesquisa pode corrigir os trabalhos anteriores (em particular o Eyetrack de 2000 e o Eyetrack III), que sugeriram a leitura supercial online, porque utilizou em sua aplicao contedos reais do dia em que se zeram as sesses, e no prottipos (contedo no real). O uso de prottipos pode indicar efetivamente que elementos do design capturam a ateno do olhar, mas o uso de material dinmico dava a resposta do leitor a textos reais do impresso e do online. No nico outro estudo EyeTrack que usou textos noticiosos reais em vez de prottipos (a pesquisa de 2000 do Poynter e da Universidade de Stanford), os participantes leram 75% do texto que selecionaram, diz o documento ocial da pesquisa. Jakob Nielsen no se pronunciou em sua pgina sobre as concluses do EyeTrack07, mas em maio de 2008 publicou uma coluna com o sugestivo ttulo Quo pouco leem os usurios?, How Little Do Users Read?, (http://www.useit.com/alertbox/percenttext-read.html), onde quanticava isso a partir do trabalho intitulado No exatamente

Cortesa Poynter.org

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COMPORTAMENTO DO USURIO

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na mdia: um estudo emprico do uso da Web, Not Quite the Average: An Empirical Study of Web Use, fevereiro de 2008, (http://portal.acm.org/citation.cfm?id=1326566), de Harald Weinreich, Hartmut Obendorf, Eelco Herder e Matthias Mayer. Para isso diz Nielsen , os autores do trabalho original monitoraram os navegadores da Web de 25 usurios e registraram informaes de tudo o que faziam enquanto desenvolviam suas atividades normais. Nielsen analisou 59.573 page views (pginas vistas). Dentre elas, ele removeu aquelas nas quais os usurios caram menos de 4 segundos, pois era claro que elas eram saltadas sem serem usadas; aquelas que duravam mais de 10 minutos, pois quase seguramente o usurio havia deixado a tela aberta enquanto fazia outras coisas; e aquelas com menos de 20 palavras, porque provavelmente eram mensagens de erro ou no carregaram integralmente. Com as 45.237 page views que sobraram, Nielsen construiu frmulas para descrever o comportamento do usurio em pginas que tenham entre 30 e 1.250 palavras. (leia mais sobre o tamanho dos textos no captulo 4). Nielsen presumiu em sua frmula que os leitores neste caso liam 250 palavras por minuto (pois eram de classe alta e tinham altos nveis de alfabetizao e educao). Para um leitor mdio, esperava uma velocidade de 200 palavras por minuto. A frmula parece indicar que as pessoas gastam um pouco do seu tempo entendendo o design da pgina e as caractersticas de navegao, bem como olhando as imagens. Claramente, ningum l durante cada segundo de uma visita a uma pgina, diz Nielsen em seu artigo. Numa visita mdia, os usurios leem a metade da informao s naquelas pginas com 111 palavras ou menos. No conjunto completo dos dados, a pgina mdia continha 593 palavras. Assim, os usurios tero tempo para ler 28% das palavras se dedicarem todo o seu tempo leitura. Sendo realistas, os usurios lero s 20% do texto numa pgina mdia.

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COMO ESCREVER PARA A WEB

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Nielsen lembra que, segundo revelava a pesquisa feita para seu livro Prioritizing Web Usability (http://www.useit.com/prioritizing/) as pessoas liam apenas 10% do texto que supostamente concordaram em ler.

1.2 O ponto de entrada da pginaAs pesquisas Eyetrack 2000 e Eyetrack III coincidem em que o ponto de entrada s pginas iniciais o texto. Mas a de 2007 matiza isso ao estabelecer uma diferena entre o texto dos ttulos destacados e o das listas de textos e pargrafos que os descrevem. Aonde vo os olhos depois de dar partida na pgina inicial de um website de notcias? Ao texto, com maior probabilidade. No s fotos ou grcos, como se poderia esperar. Em vez disso, as notas breves e as legendas conseguem mais xaes primeiro, em geral. Os olhos dos leitores online a seguir voltam s fotos e grcos, algumas vezes s aps voltar primeira pgina depois de clicar sobre um artigo completo, diz o documento ocial do EyeTrack 2000. Jakob Nielsen, ao analisar os resultados do EyeTrack 2000 na coluna Fragilidades metodolgicas no estudo EyeTrack do Poynter, Methodology Weaknesses in Poynter Eyetrack Study, (http://www.useit.com/alertbox/20000514_ weaknesses.html), disse que o predomnio do texto como ponto de entrada poderia ser mais forte se fossem usadas nos testes conexes normais (como as da maioria dos usurios naquele momento), e no de alta velocidade, porque os grcos teriam demorado mais a carregar. Alm disso, criticou a forma como foram selecionados os participantes da pesquisa, atravs de anncios em websites de jornais, porque a seu juzo isso introduzia um vis reforado pelo fato de que o pr-requisito era ler notcias online ao menos trs vezes por semana. Esse vis na seleo torna impossvel generalizar as concluses do estudo segundo as quais os usurios gastam em mdia 34 minutos em cada sesso de leitura e que gastam a maioria desse tempo em sites de jornais tradicionais. Aqueles que preferem

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COMPORTAMENTO DO USURIO

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Sites de jornal vs. Outros sites possvel aplicar as descobertas das pesquisas realizadas com websites jornalsticos queles websites que no o so (corporativos, de comrcio eletrnico ou intranets)? A resposta : s vezes. Seria necessrio discutir as concluses de cada estudo pontualmente. Advertindo que a maioria dos websites da Internet no de jornalismo, Jakob Nielsen respondeu a este pesquisador enumerando uma srie de limitaes para aplicar completamente as concluses do Eyetrack 2000 a outros sites (neste caso, em particular, as concluses principais eram aplicveis a todo tipo de site). Observe que estas observaes tambm poderiam ser aplicadas ao Eyetrack III, de 2004, e ao Eyetrack07: A con ana no um tema que preocupe os jornais, que costumam ser reconhecidos por sua integridade. Outros sites precisam lutar pela credibilidade e devem reduzir o uso da retrica promocional, slogans publicitrios e outros elementos que gerem descon ana. Os usurios provavelmente gastam menos tempo em outros sites. Dez minutos seriam uma visita longa para a maioria dos websites. Os usurios leem menos palavras em outros sites do que leem nos dos jornais. A integridade editorial e o equilbrio jornalstico estimula o pblico disposio de ler uma maior porcentagem do material. A tarefa de ler notcias implica uma disposio para processar mais palavras do que a mdia dos usos da Web, que so direcionados a encontrar informaes espec cas e solues concretas.

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os sites de notcias no tradicionais provavelmente no teriam sido recrutados para este estudo. E seria improvvel que aqueles que gastam pouco tempo lendo notcias online encontrassem o anncio e respondessem a ele, disse. De acordo com as concluses do EyeTrack III, os ttulos predominantes atraem a ateno com mais frequncia quando se abre a pgina (...) As fotograas, ao contrrio do que se poderia esperar (e ao contrrio das concluses da pesquisa de rastro ou caminho do olho de jornais impressos de 1990), no so tipicamente o ponto de entrada na pgina inicial. O texto domina as telas de PC tanto no que diz respeito ordem em que visto quanto no tempo gasto com ele. Entre 1994 e 1997, Nielsen havia proposto quase o mesmo atravs de estudos que tinham metas, usurios e metodologias diferentes. Alm disso, bvio que a rede tinha um grau inferior de desenvolvimento. Nielsen dizia que o texto era o foco da ateno dos usurios da Web, a razo pela qual se conectavam Internet e a primeira coisa que viam ao carregar uma nova pgina. O que havia de mais notvel em sua pesquisa que ela no se referia exclusivamente a websites de notcias, mas a qualquer site. At hoje, Nielsen no mudou de opinio sobre o texto. As concluses das pesquisas EyeTrack 2000 e EyeTrack III, de 2004, bem como as das de Nielsen, representavam uma volta de 180 graus em relao primeira pesquisa EyeTrack, de 1990, que avaliou o comportamento dos usurios de jornais impressos e determinou que eles eram atrados primeiro pelas fotos de uma pgina, antes de permitir que sua ateno se desviasse em busca do texto. Ao descrever os textos, tanto em listas de matrias quanto em pargrafos que as descrevem, como dispositivos direcionais (junto com a navegao do stio), o EyeTrack07 quer dizer que so dispositivos a partir dos quais o usurio toma a deciso de ir a um contedo especco. Para o Eyetrack07, esse o ponto de entrada dos usurios s pginas. Em contraste, segundo a mesma pesquisa, os leitores dos

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jornais standard simplesmente comeam com os ttulos (lembre que, em 1990, acreditava-se que iniciavam pelas fotos), e os leitores de tablides comeam pelas fotos. Quase a metade dos leitores online (48%) viu primeiro os dispositivos direcionais ao entrar na pgina, diz o relatrio ocial da pesquisa. (...) Os grcos foram o segundo ponto de entrada mais popular, e atraram 25% dos leitores online como primeira parada visual. Para ns de codicao, os grcos incluram reportagens de El Tiempo e do trnsito, acompanhados de elementos visuais informao seguramente mais atualizada online do que no jornal. Apareciam normalmente na parte superior da pgina inicial, perto da barra de navegao, que estavam entre os elementos mais vistos, diz o relatrio do estudo. Segundo os autores, parece que os usurios estavam examinando as direcionais em busca do que os interessava, e a seguir selecionavam e liam os textos. Os pesquisadores do EyeTrack07 qualicam como dramtico contraste entre o impresso e a verso online a forma como foram vistos os principais ttulos. Comparando aos 53% de leitores do formato standard que viam um ttulo como ponto de entrada inicial, apenas 8% dos leitores online viu os ttulos da pgina inicial, que era coroada por uma matria em texto, dizem. Ao contrrio dos leitores do impresso, os leitores online no pareciam ver inicialmente o que o editor havia selecionado para destacar..., acrescentam. Apenas para marcar um contraste com as pesquisas anteriores sobre esse tema em particular, basta mencionar que o Eyetrack III, de 2004, determinou que o olho dos usurios aterrissava primeiro no canto superior esquerdo da pgina inicial, normalmente dedicado matria principal ou ao ttulo dominante.

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1.3 Leitores escaneadores e leitores que leem palavra por palavraAs concluses do EyeTrack07 sobre a profundidade da leitura online contrastam com as armaes de Nielsen, segundo as quais as pessoas no buscam ler grandes quantidades de texto na tela por conta de sua baixa resoluo, que torna a leitura cerca de 25% mais lenta. Em 2005, a Microsoft informou ter obtido melhoria de 5% nas velocidades de leitura (nos estudos de sua tecnologia ClearType para melhorar a resoluo-legibilidade de tipos de letra). Nielsen escreveu sobre o assunto: No o suciente para tornar as telas de computador to boas quanto o papel, mas pelo menos um passo adiante. Nielsen assegura at hoje que, de fato, a proporo de usurios que leem palavra por palavra numa pgina Web mnima. A maior parte, 79%, tende a no ler textos completos (http://www.useit.com/alertbox/9710a.html), tal como estabeleceram Nielsen e seu colega John Morkes. Em vez disso diz Nielsen escaneiam, ou folheiam, o texto (ou, se preferir, leem supercialmente) e escolhem palavras-chave, frases e pargrafos de seu interesse, enquanto brincam sobre as partes do texto que lhes interessam menos. Para explicar as diferenas relacionadas com a profundidade de leitura entre as concluses de Nielsen (que, em geral, documentam muito pouco) e as do EyeTrack07, qualquer um pode arriscar a tese de que os leitores agora esto dispostos a ler mais, sem que a resoluo das telas o impea. A disposio a ler em telas poderia ter passado por um processo similar ao do scroll vertical (rolagem da tela). Nas primeiras pesquisas (1994), o mesmo Nielsen no o recomendava, pois considerava que reduziria a usabilidade (facilidade de uso). Por sinal, em 1997, numa coluna intitulada Mudanas na usabilidade na Web desde 1994, ou Changes in Web Usability Since 1994 (http://www.useit.com/alertbox/9712a.html), ele dizia que era permitido e que j no era um desastre de usabilidade para a navegao das pginas. Parece, porm, que h uma explicao mais plausvel: a pesquisa do Poynter poderia ter direcionado os usurios para que lessem, enquanto as de Nielsen lhes pediam para

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Quando o escaneamento se incrementaAs pesquisas estabeleceram que o comportamento de leitura palavra por palavra, em comparao com o de escaneamento da pgina, afetado por alguns fatores, como o nvel de alfabetizao e o tamanho da letra. O nvel de alfabetizao do usurio determina a ocorrncia de um ou outro comportamento, segundo estabeleceu Jakob Nielsen em maro de 2005. De acordo com ele, a diferena mais notvel entre os usurios com nveis mais baixos de alfabetizao (Lower-Literacy Users), (http://www.useit.com/ alertbox/20050314.html), e os que so alfabetizados em nveis mais altos, que os primeiros no conseguem entender um texto com apenas uma olhada. Devem ler palavra por palavra e, com frequncia, gastam um tempo considervel para entender palavras com muitas slabas. Os pesquisadores do Eyetrack III descobriram que o uso de tipograas menores motiva o que eles chamam viso focalizada (http://www. poynterextra.org/EYETRACK2004/main-spanish.htm), ou seja, ler as palavras, enquanto as tipograas maiores promoviam o escaneamento. Obviamente, o conselho no reduzir a tipograa, se voc quer que as pessoas leiam.

encontrar informao. A diferena entre ler e pesquisar poderia explicar muito sobre as diferenas entre os resultados. Outra diferena foi que, devido sua natureza (pedir aos usurios que lessem o jornal, bem como a tela), o estudo do Poynter estava limitado a recolher dados manualmente com uma delidade muito mais baixa que os estudos de Nielsen ou o prprio Eyetrack III, que usavam a tecnologia dos computadores. Por isso, o Eyetrack07 no pde construir mapas de calor (registro grco sobre onde se concentram os olhares dos participantes das pesquisas), como zeram as outras duas pesquisas. Isso lhes permitiu determinar a existncia do chamado padro em F (ver seo 1.4 deste captulo) ao escanear a pgina, ou que os usurios s leem o primeiro tero dos

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ttulos. Isso demonstrava pouca leitura. Tambm lhes permitiu medir a ordem na qual as pessoas viam as coisas, que o Poynter decidiu no registrar. O EyeTrack07 divide os usurios em duas categorias (escaneadores e metdicos), que podem se assemelhar s estabelecidas por Nielsen (escaneadores ou leitores de palavra por palavra); diga-se que a proporo entre eles mais prxima: 53% escaneadores, 47% metdicos. A pesquisa descreve os leitores metdicos como aqueles que liam de cima a baixo. No folheavam com muita frequncia. (...) quando se conectavam, usavam os menus descendentes e as barras de navegao para localizar as matrias, diz o relatrio nal do estudo. Podem ter lido parte de uma matria, olhar fotos ou outros itens do pacote, mas geralmente no voltavam depois de abandonar o texto. Os autores do EyeTrack07 atribuem o comportamento de escaneamento s mltiplas possibilidades oferecidas por uma pgina inicial que aponte para de 40 a 60 matrias, por meio de itens ou de pargrafos descritivos, e outros dispositivos direcionais, como as barras de navegao. A pesquisa Eyetrack07 destaca que, em se tratando tanto de escaneadores quanto de metdicos, existe pouca diferena na quantidade

... preciso estruturar os textos para o ambiente online levando em conta o comportamento e os objetivos do usurio.

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de texto lido depois que cada leitor seleciona uma matria: os metdicos leem 78% e os escaneadores 77% (muito superior ao dos leitores de impressos). Esta armao da pesquisa EyeTrack07 parece sugerir que nas pginas interiores no se escaneia. Nielsen, porm, no faz essa distino. Ao comentar os resultados da pesquisa Poynter de 2000 (Eyetracking Study of the Web Readers), (http://www.useit.com/alertbox/20000514.html), Jakob Nielsen dizia algo que pode ser aplicado aos resultados do EyeTrack07: O comportamento mais comum caar informao e ser brutal em ignorar detalhes. Mas, depois que a presa foi pega, os usurios algumas vezes mergulharo mais profundamente. Assim, o contedo da Web precisa dar suporte a ambos os aspectos do acesso informao: busca e consumo. Os textos precisam ser escaneveis, mas tambm devem dar as respostas que o usurio busca. Dito de outra maneira: para Nielsen, escanear o comportamento dominante, e no a leitura detalhada. Mesmo quando ocorre a leitura, ela prossegue s depois de o usurio ter escaneado uma seo especca que contm informaes importantes. O contedo da Web precisa dar suporte a ambos os aspectos do acesso informao: busca e consumo. Os textos precisam ser escaneveis, mas tambm devem dar as respostas que o usurio busca. Uma possvel explicao alta incidncia da leitura palavra por palavra no Eyetrack07 (que mostrou menor nvel de escaneamento) que precisaria ser validado revisandose diretamente os websites utilizados que o design das pginas teria impedido o escaneamento. De fato, muitos websites noticiosos, por terem design pobre, no o permitem.

1.4 Padro com que os usurios percorrem a tela do computadorUtilizando a tecnologia do EyeTrack, no ano de 2006 Jakob Nielsen encontrou o que classicou como um padro em forma de F (F-Shape Pattern for Reading Web

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COMO ESCREVER PARA A WEB

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Content), (http://www.useit.com/alertbox/reading_pattern.html), com trs componentes: um movimento horizontal na parte superior da rea de contedo; um segundo movimento horizontal um pouco mais abaixo, s que mais curto do que o anterior; nalmente, um movimento vertical na parte esquerda da tela. Nielsen adverte que o padro em F algumas vezes toma a forma de E, e at de L invertido, com a barra horizontal na parte superior da tela. Na prxima imagem, conhecida como mapa de calor (heat map), a cor vermelha mostra as zonas onde mais se concentram as visualizaes.

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Padro de leitura em FDe acordo com as pesquisas de Jakob Nielsen, existe um movimento horizontal na parte superior da rea de contedo, da esquerda para a direita, e ao voltar h um movimento vertical pela parte esquerda da tela; h um segundo movimento horizontal, mas mais curto que o anterior e, nalmente, um movimento vertical na parte esquerda da tela. As setas indicam a trajetria.

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COMO ESCREVER PARA A WEB

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Padro de leitura em EO padro em F adverte Jakob Nielsen, algumas vezes toma a , forma de E. As setas indicam a trajetria.

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Padro de leitura em L invertidoO padro em F adverte Jakob Nielsen, algumas vezes toma a , forma de L invertido, com a barra horizontal na parte superior da tela. As setas indicam a trajetria.

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COMO ESCREVER PARA A WEB

CAPTULO 1

Anteriormente, a pesquisa EyeTrack III havia apontado como j mencionamos que o olho dos usurios aterrissava primeiro na parte superior esquerda da pgina inicial, normalmente dedicada matria principal ou ao ttulo dominante, o que refora as concluses de Nielsen. Ela tambm determinou como se concentravam os olhares sobre os ttulos e pargrafos (http://www.poynterextra.org/EYETRACK2004/main-spanish.htm).

Nesta imagem, a cor laranja mostra a rea mais vista; a azul, a menos vista. Em outras palavras, como diz a pesquisa, quando h uma lista de ttulos numa pgina inicial, o usurio os escanea ou folheia verticalmente, sem l-los completamente; ele se concentra na parte esquerda deles. Se as primeiras palavras no os capturarem, passam reto. Na mdia, um ttulo tem menos de um segundo da ateno do usurio. Este comportamento dos usurios na leitura de ttulos e pargrafos poderia ser interpretado, como dissemos antes, como outra manifestao de supercialidade da leitura. Em mdia, um ttulo tem menos de um segundo da ateno dos visitantes. Para os ttulos especialmente os maiores parece que as primeiras duas palavras deveriam cativar verdadeiramente a ateno se voc deseja captar os olhos, dizem Steve Outing e Laura Ruel, os pesquisadores. Percebemos que, quando se olha os pargrafos que seguem os ttulos nas pginas iniciais de notcias, com frequncia se olha s o tero esquerdo deles. Noutras palavras, a maioria das pessoas olha apenas o primeiro par de palavras e s continua lendo se animada por elas, acrescentam.

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COMPORTAMENTO DO USURIO

CAPTULO 1

A tarefa de encontrar informaoGrande parte dos usurios de websites de jornais vai a eles para atualizar a informao. As visitas do website so disparadas por um comportamento rotineiro, em vez de um objetivo em especial. Este mtodo dos usurios para chegar informao foi chamado de monitoramento no trabalho Anlise taxonmica de que atividades na World Wide Web tm impacto signicativo nas decises e aes das pessoas, Taxonomic Analysis of What World Wide Web Activities Signicantly Impact Peoples Decisions and Actions, (http:// www2.parc.com/istl/groups/uir/publications/items/UIR-2000-17Morrison-CHI2001-WebTaxonomy.pdf ), publicado em 2001 pelos pesquisadores Julie B. Morrison, Peter Pirolli e Stuart K. Card, do Centro de Pesquisas de Palo Alto (PARC), da Xerox. Outros mtodos descritos na mesma pesquisa (que no particularizava os websites jornalsticos) so: Explorar: busca de informao em geral. A busca no motivada por um objetivo em particular. por um objetivo. Encontrar: os usurios buscam um fato, documento ou pedao de informao especcos. A busca motivada Coletar: busca de mltiplos fragmentos de informao. Quem busca est aberto a qualquer resposta, sem esperar uma em particular. Uma meta dirige o comportamento de quem busca.

As categorias gerais de tarefas referentes a qualquer tipo de website, segundo a pesquisa do PARC da Xerox so comparar-escolher (avaliar mltiplos produtos ou respostas para tomar uma deciso), adquirir (encontrar um fato ou documento, localizar um produto, baixar alguma coisa) e entender (compreender algum tema, o que inclui localizar fatos ou documentos).

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COMO ESCREVER PARA A WEB

CAPTULO 1

Resumo das principais pesquisasPesquisa Sondagens de usabilidade Jakob Nielsen 1994/ Eyetrack 2000 Autor Nielsen Norman Group Orientado a: Concluses Observaes Websites em - Texto o foco geral da ateno - Leitura supercial - 79% dos usurios escaneiam Websites de jornais - Texto o ponto de entrada da pgina - Leitura supercial - Quando se seleciona um texto, l-se cerca de 75% - Ttulos dominantes atraem primeiro a ateno dos olhos dos usurios - Os olhos entram pela esquina superior esquerda - Os pargrafos curtos foram mais vistos que os longos - Leitura supercial - Leitura do primeiro tero dos ttulos Uso de websites sem contedo real

PoynterUniversidad de Stanford

Eyetrack III/2004

Poynter

Websites de jornais

Uso de websites sem contedo real

Eyetrack Nielsen 2006 Eyetrack07 2007

Nielsen Norman Group Poynter

Websites em Padro de leitura em F geral Websites de jornais - Leitura online profunda, at mais que no impresso - Dispositivos direcionais, o ponto de entrada - 53% dos usurios escaneia, 47% metdico - Pode ter induzido a leitura - Coleta manual de dados - No permitiu fazer mapas de calor

Not Quite the Average: An Empirical Study of Web Use (No exatamente na mdia: um estudo emprico do uso da Web). Fevereiro, 2008.

Harald Weinreich, Hartmut Obendorf, Eelco Herder e Matthias Mayer. Reviso: Jakob Nielsen

Websites em - Baixa leitura geral na Internet. - Os usurios leem 28% das palavras se dedicarem todo seu tempo leitura. - Mais realista, os usurios leem s 20% do texto numa pgina mdia

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CAPTULO

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Incorporao do conceito de usabilidade para aferir a qualidade do texto no ambiente da Web

A forma de estruturar os textos na Internet est determinada mais por razes funcionais que por simples motivos estticos, literrios ou artsticos.

2.1 Denio de usabilidade prova de jornalistasA usabilidade denida como a efetividade, ecincia e satisfao com que um grupo de usurios especcos pode realizar um conjunto especco de tarefas num ambiente particular (International Standards Organization ISO). Como esta denio pode soar abstrata para um leitor mdio, neste documento nos permitimos com propsito pedaggico reduzi-la de palavra que descreve a facilidade de uso. O conceito pode ser aplicado a uma ampla variedade de produtos e servios, como software, hardware, websites, controles remotos de eletrodomsticos e at a qualidade dos textos. O conceito de facilidade de uso de um texto no se refere complexidade do tema, mas forma como est estruturado. Ao ser questionado sobre por que importante a usabilidade (Usability 101: Introduction to Usability), (http://www.useit.com/alertbox/20030825.html), Jakob Nielsen, conhecido como o guru da usabilidade, responde: Na Web, a usabilidade

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COMO ESCREVER PARA A WEB

CAPTULO 2

condio necessria para a sobrevivncia. Se um website difcil de usar, os leitores o abandonam. Se a pgina inicial falha em mostrar claramente o que uma empresa oferece e o que os usurios podem fazer no website, eles o abandonam. Caso os usurios se percam num website, eles o abandonam. Se a informao do website difcil de ler ou no responde as perguntas-chave dos usurios, eles o abandonam.

2.2 Medindo a usabilidade de um texto

A usabilidade uma caracterstica mensurvel, quanticvel. De fato, num trabalho j considerado clssico, Nielsen avaliou e quanticou a usabilidade dos textos de um website turstico sobre Nebraska, (http://www.useit.com/alertbox/9710a.html), apresentando-os de diversas formas: a original em que foi escrito (cheia de linguagem promocional), a concisa (tambm com linguagem promocional, mas mais curta), a escanevel (com linguagem promocional, mas organizando os itens em listas para romper a uniformidade do texto, para facilitar o escaneamento ou leitura supercial da pgina), a objetiva (que evitava a linguagem promocional) e, nalmente, a combinada (sem linguagem promocional, mais curta, com listas). Para avaliar as diferentes formas de apresentar os textos, foi pedido aos usurios que realizassem um conjunto de tarefas: a primeira parte consistia em buscar fatos especcos (Em que data Nebraska tornou-se um estado?, Qual a stima maior cidade de Nebraska?), e responder a um questionrio. A segunda, encontrar informao relevante e avali-la a seguir (Em sua opinio, qual atrao turstica seria a melhor para visitar?, Por qu?). Em seguida, instruia-se os participantes a aprender em 10 minutos tudo o que fosse possvel a partir das pginas no website, para responder a algumas perguntas. Finalmente, pediu-se que eles desenhassem num papel a estrutura do website. Os pesquisadores mediram o tempo que os usurios levaram para encontrar as respostas para as tarefas de busca e as de avaliao, e calcularam a porcentagem de erros, com base no nmero de respostas erradas.

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INCORPORAO DO CONCEITO DE USABILIDADE

CAPTULO 2

Outras variveis medidas, afetadas diretamente pela forma de apresentar os textos, estavam associadas s memria. Nielsen classicou-as como reconhecimento e recordao. A memria de reconhecimento era o resultado de retirar o nmero de respostas incorretas do nmero de respostas corretas a perguntas de mltiplas opes. Um exemplo tpico de pergunta foi: Qual o maior grupo tnico de Nebraska? a) Ingls, b) Sueco, c) Alemo, d) Irlands. A memria de recordao era o resultado de retirar do nmero de itens lembrados (neste caso, websites tursticos de Nebraska) o nmero de itens incorretamente recordados ou no recordados. A pergunta era: Lembra dos nomes de algumas das atraes mencionadas no website? Por favor, escreva-as no espao a seguir. O que Nielsen classica como satisfao subjetiva foi medido com o uso de questionrios que cobriam os temas da qualidade, da facilidade de uso, do gosto e da disposio do usurio. Nielsen destaca que esta medio demonstra o que pensam os usurios sobre o funcionamento do website, e no sua desenvoltura nele. A qualidade estava composta pela exatido, o benefcio, a utilidade e a pergunta Qual seu grau de satisfao com a linguagem deste website?

Os usurios preferem a linguagem objetiva, os textos concisos e o design escanevel.

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COMO ESCREVER PARA A WEB

CAPTULO 2

A facilidade de uso do website inclua perguntas como: Em que grau fcil trabalhar com o texto neste website?, Em que grau fcil encontrar informao especca?, Em comparao com o que esperava, com que velocidade cumpriu as tarefas? e Foi muito difcil concentrar-se na busca de informao? O gosto pelo website inclua, entre outras, perguntas relacionadas com o quanto ele entretinha, interessava, atraa ou aborrecia. A disposio do usurio inclua trs itens: Sente-se cansado agora?, Sentiu-se confuso ao trabalhar neste website? e Sentiuse frustrado enquanto trabalhava neste website? Leia as perguntas-tipo que Nielsen usou em sua pesquisa para medir a satisfao subjetiva: - Questionrio 1 (http://www.useit.com/papers/webwriting/studyles/questionnaire1.html) - Questionrio 2 (http://www.useit.com/papers/webwriting/studyles/questionnaire2.html) Os resultados obtidos por Nielsen demonstraram que a experincia do usurio num website afetada pela forma em que se apresentam os textos: os usurios preferem a linguagem objetiva (sem linguagem promocional ou mercadolgica), os textos concisos (bem editados, mais curtos) e o design escanevel (neste caso, o uso de listas para romper a uniformidade). Dos textos avaliados, o que se qualicou melhor foi aquele que ofereceu todas essas caractersticas. Voc pode ver no website de Nielsen a tabela com os resultados da avaliao. Uma concluso que se pode tirar dos trabalhos de Nielsen que a forma de estruturar os textos na Internet est determinada mais por razes funcionais do que por simples razes estticas, literrias ou artsticas. Uma vez que voc se familiarize com as diretrizes para apresentar contedos, reconhecer quando um texto no facilita a tarefa do usurio de encontrar informao.

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INCORPORAO DO CONCEITO DE USABILIDADE

CAPTULO 2

Linguagem do site Redao promocional (Condio controle =padro de referncia) Usa o marquets o estilo de redao promocional encontrado em muitos websites comerciais. Linguagem objetiva

Amostra de pargrafo Nebraska est repleta de atraes internacionalmente reconhecidas, que atraem multides a cada ano, sem falta. Em 1996, alguns dos destinos mais populares foram Fort Robinson State Park (355.000 visitantes), Scotts Bluff National Monument (132.166), Arbor Lodge State Historical Park & Museum (100.000), Carhenge (86.598), Stuhr Museum of the Prairie Pioneer (60.002) e Buffalo Bill Ranch State Historical Park (28.446).

Melhora na usabilidade 0% melhor (esta era a condio controle= padro de referncia).

Nebraska tem vrias atraes. Em 1996, alguns dos lugares mais visitados foram o Fort Robinson State Park (355.000 visitantes), o Usa linguagem neutra em vez Scotts Bluff National Monument (132.166),o do texto exagerado, subjetivo Arbor Lodge State Historical Park & Museum e promocional (o estilo da (100.000), Carhenge (86.598), Stuhr Museum condio controle) of the Prairie Pioneer (60.002) e Buffalo Bill Ranch State Historical Park (28.446). Design escanevel Usa o mesmo texto que a condio controle, mas num design que facilita o escaneamento

27% melhor

Nebraska est cheia de atraes 47% melhor internacionalmente reconhecidas, que atraem multides a cada ano, sem falta. Em 1996, alguns dos destinos mais populares foram: - Fort Robinson State Park (355.000 visitantes). - Scotts Bluff National Monument (132.166) - Arbor Lodge State Historical Park & Museum (100.000) - Carhenge (86.598) - Stuhr Museum of the Prairie Pioneer (60.002) - Buffalo Bill Ranch State Historical Park (28.446) Em 1996, seis das mais visitadas atraes em Nebraska foram Fort Robinson State Park, Scotts Bluff National Monument, Arbor Lodge State Historical Park & Museum, Carhenge, Stuhr Museum of the Prairie Pioneer e Buffalo Bill Ranch State Historical Park. Em 1996, seis dos lugares mais visitados em Nebraska foram: - Fort Robinson State Park - Scotts Bluff National Monument - Arbor Lodge State Historical Park & Museum - Carhenge - Stuhr Museum of the Prairie Pioneer - Buffalo Bill Ranch State Historical Park 58% melhor

Texto conciso Cerca da metade das palavras usadas na condio controle Verso combinada Usa as trs melhorias no estilo de redao: texto conciso, design escanevel e linguagem objetiva

124% melhor

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CAPTULO

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Use a pirmide invertida!

A Internet no apenas resgatou a importncia da pirmide invertida como a melhor estrutura para apresentar textos, como tambm abriu a possibilidade de que o prprio usurio a construa.

Em maro de 2008, Roy Peter Clark, professor do Poynter Institute, centro de pesquisa e formao em jornalismo com sede na Flrida (Estados Unidos), incluiu a pirmide invertida numa lista de maravilhas do mundo jornalstico. A linha que explicava a escolha dizia simplesmente: Como as pirmides do Egito, ela passou no teste do tempo. Ironicamente, essa distino vem num momento no qual, em muitas redaes do mundo, se diz que a pirmide invertida cou fora de moda, sendo substituda por outras tcnicas narrativas uma posio absolutamente polmica. Em alguns casos, o resultado do uso dessas tcnicas narrativas to pobre (em essncia, dilui a informao), sobretudo no ambiente online, que seria possvel falar da transio da pirmide invertida pirmide pervertida. Roy Peter Clark poderia muito bem incluir a pirmide invertida numa lista de maravilhas do mundo online/digital, porque ela atende a todos os pr-requisitos para apresentar contedos nesse mundo.

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USE A PIRMIDE INVERTIDA!

CAPTULO 3

Neste captulo, acompanharemos a construo de textos, desde os mais simples, estruturados segundo a denio de pirmide invertida e publicados numa s pgina da Web, e que so em essncia lineares (herana do mundo impresso, mas que se saem muito bem online), at os mais complexos, que tiram proveito do potencial de interligao da Web e permitem uma leitura no linear. Quando nos referimos a simples e complexos, no queremos sugerir que um melhor que o outro. Fazemos referncia apenas ao trabalho que sua elaborao exige do autor/editor. Assim, apresentaremos o conceito de estraticao da informao.

3.1 Denio de pirmide invertidaUtilizar a estrutura de pirmide invertida, na denio tradicional, signica comear o texto com a informao mais importante e depois prosseguir na ordem decrescente de importncia. Nielsen descreve a estrutura de uma forma sutilmente diferente: Comece o artigo contando a concluso aos leitores, siga com a mais importante informao de apoio e termine dando contexto. Esse estilo conhecido como pirmide invertida pela simples razo de que vira do avesso o estilo tradicional de pirmide. Melvin Mencher, autor do livro clssico de jornalismo News Reporting and Writing, identica os seguintes elementos na estrutura da pirmide invertida: - A entrada, ou lead. - O material que explica e amplia o lead. - Pargrafos de contexto. - Material secundrio ou menos importante. (O termo lead vem da palavra inglesa que signica liderar ou conduzir: , portanto, o pargrafo inicial que conduz tanto o jornalista para desenvolver em seguida a informao, quanto o leitor no conhecimento do fato. Assim se constitui na porta de entrada da notcia, diz o Manual de Redao do jornal El Tiempo, da Colmbia. Outros denem essa abertura como a resposta s 6 perguntas (quem, qu, quando, como, onde e por qu) ou parte delas.

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COMO ESCREVER PARA A WEB

CAPTULO 3

Estrutura da pirmide invertida vertical+ Importante

Ordem de importncia na qual os elementos so apresentados

- ImportantePerceba que no ttulo desta ilustrao ns introduzimos a palavra vertical, que faz supor tambm a existncia de uma pirmide invertida horizontal. No captulo 5, apresentaremos o conceito de pirmide invertida horizontal.

Para marcar o contraste com outras formas de apresentar contedos, basta lembrar que os artigos cientcos se estruturam de tal forma que as concluses so a ltima coisa a ser publicada, depois de itens como a introduo, os objetivos, a justicativa, a metodologia, etc. Da mesma forma, quando um tribunal de Justia emite uma sentena, a deciso ca para a ltima pgina, depois de vrias em que se faz o que se chama considerandos. Quando um desses artigos cientcos ou decises judiciais cai nas mos de um jornalista, o insumo bsico para arrancar a verso jornalstica quase sempre est na ltima pgina, nas concluses ou na sentena.

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USE A PIRMIDE INVERTIDA!

CAPTULO 3

3.2 Justicativa do uso da pirmide invertida para apresentar contedos na WebSegundo Mencher, a pirmide invertida permaneceu porque satisfaz as necessidades dos usurios dos meios de comunicao. Os leitores desejam saber o que aconteceu, assim que a matria comea a se desenvolver. Se for interessante, prestaro ateno. De outra forma, iro a outro lugar. As pessoas vivem ocupadas demais para parar sem nenhuma recompensa, diz. Embora Mencher no tenha feito essa armao na verso original de seu livro em referncia a textos escritos para a Internet, e sim a textos impressos, essa forma de apresentar contedos a que mais se ajusta ao ambiente digital e satisfaz as necessidades dos usurios tanto nas pginas iniciais, resultados de buscas e canais RSS, como em boletins enviados por e-mail. A origem da pirmide invertida est ligada inveno do telgrafo, em 1837, e preocupao de que a transmisso pudesse ser cortada. Tratava-se de entregar a mensagem o quanto antes. Uma lgica similar funciona na Web: a idia que, no instante (menos de um segundo, segundo o EyeTrack III) em que um ttulo captar a ateno do usurio, ele deve ser sucientemente eloquente para dizer de que trata a informao ou matria (aqui inclumos udio e vdeo, normalmente apresentados por linhas de texto), para ver se vale a pena l-la, assisti-la ou ouvi-la ao clicar no link. A redao em pirmide invertida til para os jornais porque os leitores podem parar a qualquer momento tendo lido as partes mais importantes do artigo, dizia Jakob Nielsen no trabalho Pirmides invertidas no ciberespao, Inverted Pyramids in Cyberspace (http:// www.useit.com/alertbox/9606.html), de 1996. Na Web, a pi