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Como o ambiente pode influenciar o comportamento de um criminoso? Publicado em Terça, 03 Março 2015 13:44 O espaço físico pode influenciar a percepção e o comportamento das pessoas nos mais diversos sentidos. Com a segurança, não seria diferente. Por isso, há algumas semanas, introduzimos o assunto "espaços inibidores de crime". Agora, seguiremos adensando o tema, posicionando o ambiente como importante variável nas ações de prevenção de delitos. Iniciemos por Gifford, para quem a Psicologia Ambiental traduz-se pelo "estudo da transação entre indivíduos e o cenário físico." Segundo o autor, enquanto os indivíduos modificam o ambiente, este modifica comportamentos e experiências (Gifford, 1997). Na mesma direção, Günther (2005) define a disciplina como "o estudo das relações (recíprocas) entre os fenômenos psicológicos (comportamentos e estados subjetivos) e variáveis ambientais físicas." Já para Paul e Patrícia Brantingham (1981), expoentes da criminologia ambiental, o crime é caracterizado por quatro componentes: a ruptura da lei

Como o Ambiente Pode Influenciar o Comportamento de Um Criminos1

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Como o ambiente pode influenciar o comportamento de um criminoso? Publicado em Tera, 03 Maro 2015 13:44

O espao fsico pode influenciar a percepo e o comportamento das pessoas nos mais diversos sentidos. Com a segurana, no seria diferente. Por isso, h algumas semanas, introduzimos o assunto "espaos inibidores de crime". Agora, seguiremos adensando o tema, posicionando o ambiente como importante varivel nas aes de preveno de delitos.Iniciemos por Gifford, para quem a Psicologia Ambiental traduz-se pelo "estudo da transao entre indivduos e o cenrio fsico." Segundo o autor, enquanto os indivduos modificam o ambiente, este modifica comportamentos e experincias (Gifford, 1997). Na mesma direo, Gnther (2005) define a disciplina como "o estudo das relaes (recprocas) entre os fenmenos psicolgicos (comportamentos e estados subjetivos) e variveis ambientais fsicas." J para Paul e Patrcia Brantingham (1981), expoentes da criminologia ambiental, o crime caracterizado por quatro componentes: a ruptura da lei (crime), o ofensor motivado, a vtima/alvo disponvel e o ambiente favorvel.Por meio dessas falas, podemos aduzir que, tanto quanto o comportamento de indivduos e grupos, o espao constitui relevante varivel a ser considerada em matria de preveno criminal.Em termos prticos, do ponto de vista do cidado ordinrio, potencial vtima, certos ambientes podem produzir a sensao de segurana, enquanto outros induzem ao medo, mesmo em reas onde os ndices criminais no so altos.Avanando, da perspectiva dos potenciais agressores, podemos recorrer a duas abordagens relacionadas preveno situacional do crime: a) a Teoria da Escolha Racional e b) a Teoria do Comportamento Planejado.A primeira oferece elementos para explicar os delitos em termos de custo-recompensa. De acordo com Cornish e Clark (1986), por exemplo, a intenso de cometer atos ilegais estaria inversamente relacionada ao custo do ato delitivo per si.Ao seu turno, a Teoria do Comportamento Planejado prope que a deciso de engajar-se em um comportamento em particular resultado de um processo volitivo.A partir de ambas abordagens, podemos concluir que os potenciais delinquentes avaliam suas opes de comportamento e, ento, tomam a deciso de cometer ou no o crime.Quando observamos o fenmeno do crime desta maneira, percebemos que os criminosos no atuam de forma aleatria, mas, em verdade, se comportam e so movidos por escolhas conscientes. Por consequncia, em geral, o intento de delinquir pode ser neutralizado naquele potencial agente que, para a consumao do crime, perceba alta dificuldade e risco.A esta altura, podemos inferir que o arranjo do espao fsico, em termos de projeto ou intervenes a posteriori, pode ser realizado de forma a criar obstculos ou mesmo inibir a ao de potenciais infratores. Ao encontrar barreiras fsicas ou psicolgicas que o separem do alvo ou elementos que dificultem uma eventual fuga, potenciais agressores so desestimulados a delinquir. Por ora, ficaremos apenas com essas duas ilustraes.

Tringulo do Crime segundo Paul e Patricia Brantingham.Em sentido oposto, os crticos de estratgias preventivas baseadas nas teorias da Escolha Racional e do Comportamento Planejado denunciam o possvel deslocamento dos delitos. Supostamente, ao sentir-se desencorajado a cometer crimes em uma rea, simplesmente, o delinquente passaria a atuar em outro setor ou atividade delitiva.Entretanto, pesquisas apontam para casos de robustas redues de delitos via preveno situacional. Em um clssico sobre o assunto, Heal e Laycock (1986) demonstram que, mesmo quando o referido deslocamento ocorre, somente parte de potenciais criminosos voltam a delinquir. Desta feita, implementando-se aes de preveno situacional, haveria um ganho lquido na reduo global de crimes em uma determinada cidade, por exemplo.De igual modo, ao abordar a Teoria da Oportunidade, Clark e Felson (1979) asseveram que os criminosos respondem muito mais ao incremento do risco e do esforo para a consecuo de seus objetivos delitivos do que prev as teorias criminolgicas tradicionais. Para esses autores, potenciais delinquentes no apenas recuam diante de um evento especfico, mas muitas vezes desistem de toda uma carreira criminosa. Igualmente, os pesquisadores demostram, haver rara migrao quando os crimes so prevenidos por meio da preveno situacional.Ademais, mesmo os adeptos da Criminologia Crtica sustentam que nem todos os indivduos "pegos" em atos definidos pela sociedade como desviantes seguiro carreira na delinqncia. Apenas para ilustrar, isso est explicito na Teoria dos Rtulos de Howard Backer (1997).Em suma, cremos que a discusso exposta at o momento demonstra a clara relao entre o comportamento dos indivduos, sobretudo de eventuais delinquentes, e as caractersticas fsicas do ambiente. Em face disso, nosso prximo desafio ser apontar as principais estratgias utilizadas com vistas a consecuo de espaos mais seguros. Para tanto, em nosso prximo texto, estaremos delineando os contornos da Preveno Criminal pelo Desenho Ambiental, CPTED*.REFERNCIASAJZEN, Icek. From intentions to actions: A theory of planned behavior. Springer Berlin Heidelberg, 1985.BECKER, Howard S. Uma teoria de ao coletiva. Zahar, 1977.BRANTINGHAM, Paul J.; BRANTINGHAM, Patricia L. (Ed.). Environmental criminology. Beverly Hills, 1981.CLARKE, Ronald Victor Gemuseus; FELSON, Marcus (ed.). Routine activity and rational choice. New Jersey, 1993.CORNISH, Derek e CLARKE, Ronald. The Reasoning Criminal: Rational Choice Perspectives on Offending. New York, 1986.COSTA, Isngelo Senna da. O que so espaos inibidores de crime?. Disponvel para acesso emGIFFORD, R. The role of Environmental Psychology in the formation of environmental policy. Comunicao apresentada no Simpsio Internacional LAPSI-IAPS - Psicologia e Ambiente, So Paulo, SP, Brasil. 2002.GUNTHER, Hartmut. A psicologia ambiental no campo interdisciplinar de conhecimento. Psicologia USP, 16 (1/2), 179-183. Sao Paulo: USP, 2005.HEAL, K. & LAYCOCK, G. Situational Crime Prevention. London. 1986----------------* Sigla em ingls para Crime Prevention Through Enviromental Design.Fonte da Foto:Local inseguro em BrasliaFonte:http://veja2.abrilm.com.br/assets/images/2014/12/253714/Mato-Alto-07-size-598.jpg?1419085288