Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Inovações em Embalagens
38 ‹ Suinocultura Industrial › nº 03 | 2020
Como o dEsIgn da EmbalagEmInfluEnCIa no Consumo dEprodutos CárnEos prEmIum?Cortes suínos premium são cada vez mais comuns, trazendo tendências gourmet ou da culinária internacional. O primeiro ponto importante para diferenciar um produto premium é ter uma embalagem “superior” tanto em design como tecnicamente em relação a de seus concorrentes
Por_Caroline Mendes
cada vez mais comum encontrarmos nas
gôndolas dos supermercados produtos di-
ferenciados, com embalagens que se des-
tacam aos olhos do consumidor. O mesmo
pode ser sentido nos casos dos produtos cárneos, como
a carne suína. Os cortes suínos de linha premium são
cada vez mais comuns, trazendo tendências gourmet ou
da culinária internacional para a mesa do dia a dia dos
consumidores brasileiros.
O designer Fábio Mestriner, especialista na área
de Inteligência de Embalagens e autor de
livros didáticos voltados especifica-
mente ao design dos mais diversos
tipos de embalagens, ressalta
que nenhum produto concorre
“no mercado”, mas que todo
o produto concorre dentro de
Éuma categoria, que tem regras próprias as quais deter-
minam as características desta competição. “O primeiro
ponto importante para diferenciar um produto premium é
ter uma embalagem ‘superior’, tanto em design como tec-
nicamente em relação a seus concorrentes. Esta diferen-
ça precisa dizer claramente ao consumidor que se trata
de um produto superior e mais caro”, afirma o designer.
Este efeito junto ao consumidor é possível de ser obtido
de diversas formas. Mestriner ressalta que simples fato
de se parar em frente a uma gôndola possibilita
a percepção de que há nela produtos mais
“caros” e mais “baratos”. Os produtos
premium, em geral, têm embalagens
mais sofisticadas. Visualmente, utili-
zam dourado e prateado, vernizes,
relevos e, preferencialmente, cores
escuras.
39nº 03 | 2020 ‹ Suinocultura Industrial ›
O consultor chama a atenção para o fato de que, quando se
trata de alimentos, antes de pensarmos no consumidor, pre-
cisamos pensar no Homo sapiens, que utiliza os seus cinco
sentidos para obter todos os dados que utiliza para a sua
sobrevivência. “O ‘Appetite Appeal’, ou seja, apelar para o
apetite, é o recurso mais eficiente para impactar o consumi-
dor”, afirma Mestriner. “Uma belíssima fotografia produzida
com cuidado nos detalhes, iluminação primorosa com a co-
mida pronta, mostrada no ângulo exato em que a pessoa
vê o prato a sua frente na mesa, normalmente, dispara uma
reação fisiológica; as papilas gustativas começam a salivar
e o resto é sucesso!”, completa.
Cor É um rECurso fundamEntalno dEsIgnA cor é um importante fator na hora de criar embalagens
para esse perfil de produto. A cor é uma informação física
captada pelos olhos e interpretada pelo cérebro que não
trafega pelos canais racionais altamente congestionados
pelo excesso de informação a que o ser humano atual está
submetido diariamente. “Por isso ela é um recurso importan-
tíssimo no design para o que podemos chamar de uma boa
embalagem”, avalia Mestriner. “Mais uma vez vale lembrar
que o produto concorre numa ‘categoria’ e que esta deve
ser considerada na hora de escolher a cor de um produto.
Não existe design de embalagem sem estudo de campo e
é preciso estudar a categoria na hora de projetar a embala-
gem, e a escolha da cor deve ser feita também em função
do que já está exposto na gôndola onde o pro-
duto vai entrar. Minha recomendação é
sempre ter uma cor definida, ou seja, é
preciso olhar para a embalagem e res-
ponder sem ter dúvidas: ‘Que cor é essa emba-
lagem’”, detalhou o especialista.
Nas gôndolas, a função da embalagem é fazer o produto
se destacar dentre tantos outros. Mestriner aponta
que existe uma hierarquia na linguagem visual da
embalagem. A forma, a cor e a imagem são as prin-
cipais. A forma exclusiva é a mais eficiente para ge-
rar diferencial e conquistar atenção e, sempre que
possível, deve ser buscada. “O uso da embalagem
como ferramenta de marketing, contendo ações pro-
mocionais, é uma excelente forma de destacar o pro-
duto dos demais onde nenhuma ação está ocorrendo.
A embalagem é uma excelente ferramenta de marketing
a custo zero, pois seu custo já está incorporado ao custo
do produto e devemos usar esta ferramenta em todo o seu
potencial”.
InoVaÇÃo E IntElIgÊnCIada EmbalagEmA inovação é a forma mais eficiente de comunicar diferen-
cial e obter vantagem competitiva no ponto de venda, avalia
o consultor. Para ele, a primeira coisa que uma empresa que
deseja inovar precisa fazer é escolher um método. Existem
diversas metodologias disponíveis que funcionam e podem
ser adotadas. “Eu trabalhei por dez anos junto com um gru-
po de professores no Núcleo de Estudos da Embalagem
da ESPM [Escola Superior de Propaganda e Marketing]
na construção de um método prático para inovar na emba-
lagem a partir da percepção de valor do consumidor. É um
método simples e comprovado, que está publicado em li-
vro” comentou Mestriner.
Ele aponta que inovar na embalagem é algo que está ao
alcance das empresas brasileiras, inclusive as pequenas.
“Todas as empresas que utilizam embalagens precisam ter
a inovação como uma de suas preocupações fundamentais”.
A embalagem tem um custo importante para as empre-
sas, é um recurso que ela tem dentro de casa e que não
pode mais ser utilizada apenas para “carregar” o produto,
a embalagem precisa ajudar o negócio da empresa. A in-
teligência de embalagem é um roteiro para se aproveitar
ao máximo a contribuição que a embalagem pode oferecer.
“A embalagem ajuda o negócio da empresa funcionando
Produtos premium em geral tem
embalagens mais sofisticadas
visualmente, utilizam dourado
e prateado, vernizes, relevos e,
preferencialmente, cores escuras
Crédito: Embalagem criada pelo consultor em Design & Inteligência de Embalagem, Fabio Mestriner
O consumidor pode identificar
perfeitamente o corte de
carne, sem o desagradável
resíduo de sangue em torno
Crédito: Instituto de Embalagens
40 ‹ Suinocultura Industrial › nº 03 | 2020
como ferramenta de marketing, veículo de comunicação e
elo de conexão com a internet”, explica Mestriner.
Ele afirma que cada uma destas ferramentas pode contribuir
com ações que tornam o produto mais competitivo, ajudam a
construir marcas mais fortes e estreitar o relacionamento com
os consumidores.
Outro ponto levantado por ele é que, devido à suspeita de
que a atual pandemia tenha se originado da ingestão de ali-
mentos sem nenhum tipo de controle sanitário, as pessoas
passarão a ser mais cuidadosas com aquilo que ingerem.
“Um QR Code na embalagem, que remete para um hot site,
onde são encontradas informações sobre origem do produto,
qualificação do fabricante, requisitos de qualidade e segu-
rança alimentar, por exemplo, é uma forma de oferecer infor-
mação e segurança aos consumidores na hora da compra”.
Para ele, daqui para frente, a embalagem precisará oferecer
cada vez mais informações úteis para a tomada de decisão
dos consumidores e, especialmente os alimentos perecí-
veis, deverão fazer isso de forma eficiente. “O programa de
Inteligência de Embalagem é um roteiro que permite que
a empresa explore todo o potencial de suas embalagens e
faça valer o custo do investimento que foi feito nelas. Este
programa também está publicado em livro, disponível nas
livrarias”, finalizou.
prEsErVaÇÃo do sabor E pratICIdadEAssunta Napolitano Camilo, diretora do Instituto de Embala-
gens, afirma que uma boa solução para os cortes premium
são as embalagens a vácuo termoformadas, como a bandeja
(um filme mais rígido) e um filme flexível na parte superior.
Ambos oferecem alta barreira à água, pós, microrganismos,
aroma e óleos, garantindo um bom shelf life (uma vida de pra-
teleira estendida) ao produto. “Além do apelo visual, fator de-
terminante para a compra, é importante que a experiência de
aquisição e consumo do consumidor seja positiva. Por isso,
a embalagem deve preser-
var a suculência e o frescor do
corte, além de facilitar o preparo e
promover conveniência e interação com o
consumidor. As embalagens tipo Skin Pack pro-
movem uma percepção tridimensional do
corte, destacando o produto em relação à
bandeja”, detalhou.
Para a diretora, uma das principais características
para essas embalagens é a segurança alimentar conferi-
da pela barreira dos filmes, a possibilidade de visualização
total no filme superior e cores na parte inferior, dando prota-
gonismo ao produto. “Uma embalagem diferenciada e de-
senvolvida com alta tecnologia é capaz de ser prática, con-
veniente, prolongar a vida útil, melhorar seu aspecto, manter
a suculência, permitir a exposição verticalizada na prateleira
e, ainda, contar com a conveniência do sistema abre-fácil, o
que facilita a vida do consumidor”, afirma Assunta.
sustEntabIlIdadE na EmbalagEmA sustentabilidade é um tema que está em grande evidên-
cia e não pode ser ignorado, mas, a principal função da
embalagem, é evitar a perda e o desperdício de alimentos,
avalia Mestriner. “Sabemos que no mundo, mais de 30% dos
alimentos produzidos no campo são perdidos por falta ou
deficiência de embalagem, não chegando à mesa das pes-
soas; e isso é trágico. A sustentabilidade das embalagens
de produtos perecíveis tem que levar a sustentabilidade em
consideração, lembrando que sua prioridade deve ser sem-
pre preservar a integridade do conteúdo”, completou.
Assunta afirma que o público que consome os produtos
premium está bem informado. Então, à medida que algu-
ma marca começar a trabalhar o tema nas embalagens, com
certeza terão destaque. “É preciso levar em conta também
que os cortes são vendidos em porções adequadas, evitan-
do desperdício. Assim ajuda muito na questão de sustenta-
bilidade econômica e ambiental”.
Para ela os consumidores do mundo todo querem cada
vez mais embalagens que evitem desperdício, preservem
melhor e, por mais tempo, sejam práticas, usem a menor
quantidade de material e ainda sejam seguras e belas. “O
crescimento de famílias menores ou de pessoas que moram
sozinhas demanda o desenvolvimento de embalagens para
porções individuais, que possam ser resseláveis, fáceis de
abrir, recicláveis ou, até mesmo, reutilizáveis”, finalizou a di-
retora do Instituto de Embalagens. SI
Exemplos de embalagens a vácuo
termoformadas, como a bandeja
e um filme flexível na parte
superior. Ambos oferecem
alta barreira à água, pós,
microrganismos, aroma e óleos,
garantindo um bom shelf life
ao produto
Crédito: Instituto de Embalagens