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Como pensam os militares 15

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A obra é interessante para quem deseja conhecer uma abordagem sociológica de como os militares constroem a sua visão de mundo. Inicia por uma abordagem teórica, para sustentar a argumentação de que os militares não são todos iguais. Em seguida, surpreende pela riqueza de detalhes com que é analisada a vida dos militares e como eles interpretam a realidade. O último capítulo dá uma visão atual das relações dos militares brasileiros como mundo político e com a sociedade de um modo geral.

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São Paulo 2016

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Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa Ygor Moretti

Diagramação Jacilene Moraes

Revisão Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________

M51c

Menezes, Delano T. Como pensam os militares : a construção social da subjetividade dos milita-res / Delano T. Menezes . - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0498-2

1. Ciência militar. 2. Sociologia. I. Título.

15-28649 CDD: 355 CDU: 355

________________________________________________________________27/11/2015 30/11/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

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Sumário

APrESENTAÇÃo ....................................................7

AGrADECimENToS ............................................15

PrEFáCio ............................................................17

CAPÍTuLo i - TANGENCiAS TEÓriCAS ................25

CAPÍTuLo ii - umA EXPEriÊNCiA iNSTiGANTE .... 43

CAPÍTuLo iii - A CoNSTruÇÃo DA SuBJETiViDA-DE Em DiFErENTES AmBiENTES DE ATuAÇÃo DoS miLiTArES ..................................................51

3.1 - No mar ......................................................523.1.1. o Tangível ............................................523.1.2. o intangível ..........................................60

3.2 - Na Terra ....................................................653.2.1. o Tangível ............................................653.2.2. o intangível ..........................................79

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3.3 – No Ar ........................................................853.3.1. o Tangível ............................................853.3.2. o intangível ........................................106

CAPÍTuLo iV - o uSo DoS mEioS.....................117

CAPÍTuLo V - oS ESTiLoS DE LiDErANÇA .......125

CAPÍTuLo Vi - A HiErArQuiA ...........................141

CAPÍTuLo Vii - A DiSCiPLiNA ............................167

CAPÍTuLo Viii - A DouTriNA DE CADA umA ....179

CAPÍTuLo iX - A SEmiÓTiCA DAS LiTurGiAS E SÍm-BoLoS ...............................................................205

CAPÍTuLo X - A NArrATiVA NA CoNSTruÇÃo So-CiAL DE CADA ForÇA .......................................231

10.1. As estórias da marinha ...........................24410.2. os “causos” do exército ...........................25310.3. As “estórias” da Força Aérea ..................264

CAPÍTuLo Xi - AS ATuAiS rELAÇÕES CiViS-miLi-TArES No BrASiL .............................................281

CoNCLuSÃo ......................................................301

rEFErÊNCiAS ...................................................309

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APrESENTAÇÃoJoão Roberto Martins Filho1

Não é tarefa fácil a que nos aguarda quando somos convidados a escrever a apresentação de um livro, muito menos quando se trata de um tema complexo, sensível, importante e atual, como o de “Como pensam os mili-tares”, de Delano Teixeira Menezes. Delano e eu perten-cemos à mesma geração, talvez com alguns anos de dife-rença. Vivemos em campos muito diferentes nossa idade adulta. É pouco provável que tivéssemos cruzados nossos caminhos então. Ele, em sua brilhante carreira na Força Aérea, eu, em minha trajetória como professor. Talvez na parte mais marcante de nossas respectivas vidas vivencia-mos o regime militar, que nos afetou de forma diversa, mas ouso dizer crucial.

Quando ambos estávamos na casa dos quarenta 40 anos, nosso país começava a consolidar sua longa traje-tória de construção da democracia. Qualquer coisa que se diga sobre os limites e dificuldades desse regime po-lítico, uma coisa é certa: sem ele, os caminhos do autor

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deste livro e do autor de sua apresentação jamais teriam se encontrado. Com a fundação da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, em 2005, eu e ele nos vimos no mesmo barco (ou na mesma cabina), como membros de sua diretoria. Ali aprendi como são fortes os laços feitos em situações como essa, quando um projeto comum nos move a procurar pontos em comum e solidariedades, em busca de um objetivo maior. No caso, o aprimoramento das relações civis-militares no Brasil.

Talvez por características compartilhadas de per-sonalidade, nos demos já de início muito bem, cada um acomodando-se e procurando compreender mutu-amente as diferenças de formação e visão política. Nas conversas que íamos tendo, sempre percebi a angústia do brigadeiro quanto a um tema em particular: a in-compreensão civil sobre certos aspectos da vida militar e particularmente a ignorância mesmo dos mais treinados estudiosos, sobre as particularidades de cada força. Ou, como ele aponta já no começo de seu livro, a ideia de que “milico é tudo igual”.

O livro que Delano escreveu é uma obra criada por um militar com vocação de estudioso. Essas duas identi-dades percorrem do início ao fim as páginas que seguem. O autor jamais deixa de ser um militar, e dessa sua con-dição derivam alguns dos aspectos mais esclarecedores do texto. Ao mesmo tempo, é forte desde o começo sua am-bição de compreender seu objeto de estudo, o que exige algum distanciamento.

É essa a dialética (me perdoe, Delano, cada um acos-tuma-se a sua linguagem) a perpassar todos os capítulos.

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De forma fluente, ele trata de um assunto até hoje em busca de um estudo: a forma como “o comportamento dos militares de cada uma das Forças é configurado pela influência que sofrem pelo tipo de treinamento que rece-bem, do ambiente físico em que exercem suas atividades operacionais e os fatores históricos e culturais que os pre-cedem e os cercam, estabelecendo, desta forma, padrões de comportamento diferenciados”.

Sua introdução teórica tem justamente o objetivo de ajudar a entender como o universo militar coloca obs-táculos específicos ao entendimento dos que não perten-cem a ele, com consequências diretas para a compreensão mútua das elites civis e militares. No capítulo seguinte, ele vai explorar uma tese – a de que “a orografia do local em que se vive influencia de maneira decisiva no com-portamento das pessoas”. Ele parte então de sua experi-ência de infância, das férias passadas na fazenda do avô, para chegar às diferenças que nota no comportamento dos brasileiros que vivem no extremo sul e nas áreas mon-tanhosas de Minas Gerais, onde foi cursar a escola mili-tar, como forma de falar do que realmente interessa.

Trata-se do tema das diferenças operadas por fato-res tangíveis e intangíveis atuantes na formação da sub-jetividade do aviador militar (principalmente o piloto de caça), do soldado (representado em sua essência pelo de infantaria) e do navegador militar (simbolizado pelo co-mandante do navio de guerra de superfície).

É difícil realmente acreditar que de ambientes tão diferentes saiam pessoas iguais. A hábil pena do autor oferece aqui um texto destinado a ocupar lugar seguro

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em qualquer introdução aos estudos de defesa, além de fornecer informações novas mesmo ao mais calejados dos pesquisadores do tema, para não falar dos próprios mili-tares de cada força, jovens ou maduros, mais “modernos” ou mais “antigos”, que têm aí uma oportunidade de se deparar com dados sobre a construção de suas próprias identidades, no confronto com a de seus camaradas de armas de outras forças.

Em suas palavras, “desde cedo o oficial de Marinha aprende a conviver com o mar, a compartilhar a sensa-ção de isolamento produzida pela sua imensidão, com os horizontes distantes e infinitos, com a sua calma que lhes transmite uma sensação de paz ou, com a sua fúria, que lhes transmite angústia e, algumas vezes, pavor. O mar é ambiente que não oferece um “acostamento”, uma “trincheira” para encostar-se ou esconder-se em situações de perigo”. O trânsito nesse meio propicia características particulares ao oficial de Marinha, que influenciam des-de seu contato com o mundo lá fora, criando condições para o apego peculiar às tradições navais universais, ao cosmopolitismo característico da profissão, até chegar aos uniformes, sociabilidade e linguagem, tudo isso operan-do dentro dos navios e fora deles para produzir uma re-lação particular com o que é comum a toda organização militar: a disciplina e a hierarquia.

Em contraste com os oficiais destinados à guerra no mar, os do Exército derivam características particulares do meio em que atuam: “Quase tudo que um soldado faz para se deslocar, combater e sobreviver na superfície da terra exige uma preparação física intensa e contínua. A

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prática de qualquer esporte e exercícios físicos, altamente incentivados no Exército, torna-se requisito indispensá-vel para as promoções. A higidez e o porte físico distin-guem aqueles que mais se identificam com a atividade fim da corporação”. Daí derivariam traços como a seve-ridade e um certo caráter tosco nos atos, a intransigência nas decisões e a dureza na disciplina, além de uma atitude peculiar de economia de meios (tema de um capítulo in-teiro). Por não necessitar de portos ou bases aéreas, desde suas origens, o Exército se espalhou por todo o território nacional, o que estaria na origem de um apego específico às tradições de identificação dessa força com a própria Nação, e a um particular conservadorismo político.

Sintetizado no piloto de caça, o ethos do oficial da Força Aérea tem outras determinações: “Diferentemen-te do que ocorre na Marinha e no Exército, na Força Aé-rea, o combatente é o próprio oficial. O ciclo completo das decisões e análise de situação em combate ocorre na cabeça de um único indivíduo - o piloto. A única decisão que independe de sua vontade, e que precede o momento da decolagem, é a escolha do alvo ou objetivo da missão que pertence ao comando superior”. A base aérea é uma organização na qual tudo converge para a atividade fim: o voo. Dessas condições surge, no plano ideal, o caráter autocentrado do piloto, o culto do “ás da aviação”, seu senso de superioridade em relação aos homens comuns, incapazes de manobrar uma máquina de guerra tão complexa quanto seus aviões, bem como o pouco apego à economia de meios. Força nascida com a modernidade, seus oficiais não seriam propensos a pen-

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dores intelectuais, e sim vocacionados para a racionali-dade da tecnologia.

E aqui a descrição feita pelo autor sobre as condi-ções extremamente exigentes de seu ambiente de tra-balho nos deixa com a curiosidade de entender como recentemente as mulheres se capacitaram a exercer uma profissão até aqui tida como exclusivamente masculina. No livro todo, para ser sincero, fala-se de um universo exclusivamente povoado por homens. Talvez seja tema para um próximo livro.

Os capítulos seguintes tratam de temas como os di-ferentes estilos de liderança (para o autor, mais autoritá-rio no Exército, autocrático na Marinha e democrático na Força Aérea, caracterização que talvez provoque des-conforto entre seus leitores militares) e as formas diferen-tes de atuação da hierarquia (mais calcada na antiguidade e na experiência no Exército que nas outras forças). Nesse contexto, o autor se permite afirmar que o militar tende a ser mais objetivo e mais eficiente que os civis (o que poderá levantar as sobrancelhas de um eventual leitor ci-rurgião ou engenheiro nuclear civil). Como não poderia deixar de ser, o outro alicerce da vida militar – a discipli-na – também é analisado na forma particular que assume em cada vertente da profissão: “A codificação do corpo opera de modo diferente nos militares de cada Força”.

Para um leitor civil com formação sociológica, fica, às vezes, a sensação de que Delano cede à tentação de centrar-se no tipo ideal das profissões que analisa, par-ticularmente quando trata da força aérea, deixando para segundo plano o processo real, em que os ideais sofrem

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a fricção das próprias fraquezas humanas. Mas mesmo assim, sua análise dos temas anteriores e de novos, como a especificidade das doutrinas naval, aérea ou terrestre, revela estudo e observação, que custaram tempo e perspi-cácia, resultando num texto inovador. O mesmo se pode dizer de sua análise da semiótica das liturgias e símbolos das três forças, que nos ensina que “de um modo geral, os militares são fascinados pelas representações visuais simbólicas, por causa do denso poder de transmissão de informações que possuem e por se tratar de um instru-mento cognitivo que dispensa as palavras”.

Em minha opinião, o capítulo mais saboroso é o que trata das narrativas de cada força, que se inicia com comentários sobre o jargão capaz de criar termos como “cochado”, “rosca fina” e “voga larga”, “manter nos cal-ços”, “atrás da perna”, “pau nos burros” e “drenar o tan-que” (com significado às vezes muito diferente de uma para outra força). As histórias em si reproduzidas neste capítulo constituem momento certo de prazer na leitura e informação sobre as diferentes identidades.

O deleite dos capítulos penúltimos pode ser traiço-eiro, porém, pois o relaxamento antecede à parte mais polêmica e relevante do texto. Quando parecia que o autor evitaria o tema mais sensível do conservadorismo militar na política, ele nos oferece reflexão sincera sobre o mais estudado dos temas militares. Minha reação a este capítulo foi, posso confessar, desconfiada. Minha visão sobre o regime militar e as violências que empregou con-tra a oposição (não apenas armada) é diferente da do au-tor em vários pontos, que poderemos discutir no futuro.

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Contudo, o ponto alto do livro também se encon-tra neste capítulo, quando Delano Teixeira Menezes lan-ça luz sobre o pensamento militar atual sobre a política. Reconhece aí sem meias palavras: a democracia é o am-biente em que devem se dar daqui para a frente às rela-ções civis-militares. Por fim, traz anotações pertinentes sobre a dificuldade que os militares enfrentam nesse novo ambiente. Nesse ponto, li com prazer sua avaliação do impacto crucial sobre a nova geração do contato com o meio acadêmico civil nos últimos anos, prática hoje in-centivada, mas que foi negada à própria geração do autor. E surge aqui um tema derradeiro, o da forma particular como a hierarquia militar procurou a partir de um certo momento do regime castrense despolitizar a oficialidade, aspecto que sempre incomodou o autor.

Mas já é hora de terminar estas páginas introdutó-rias e permitir a leitura do livro. Faça-o com atenção, caro leitor, pois vale a pena.

1 Professor de Ciência Política na Universidade Federal de São Carlos e ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos de De-fesa (ABED).

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AGrADECimENToS

Ao meu querido pai, velho cavalariano, que desde a minha tenra idade, transmitiu-me os valores do Exército Brasileiro que tanto amava.

À Força Aérea Brasileira que me fez decolar como ci-dadão e sonhador inveterado e despertou em mim a pai-xão pelo voo e pela imensidão dos céus. Deu-me a opor-tunidade de viver em um ambiente tão salutar e conviver com pessoas particularmente especiais que me ensinaram a ver o mundo de uma maneira diferente.

À Marinha do Brasil que me acolheu com respeito e profissionalismo nos quatro anos que vivi no porta-avi-ões Minas Gerais.

Aos meus professores da Sociologia da Universidade Federal do Ceará, onde fiz a minha pós-graduação, que souberam, com maestria, me oferecer um método para aguçar o meu olhar sociológico, o qual serviu de lupa na garimpagem da enorme quantidade de observações que acumulei durante a minha vida e durante a fase de pes-quisa para a realização deste trabalho.