Como Se Ensina a Ser Meninia

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  • 7/22/2019 Como Se Ensina a Ser Meninia

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    M O N T S E R R A T M O R E N O

    CONIO SE ENSINAA SER MENINAo SE XISMO NA ESCOLA

    Traduo: Ana VeniteFuzattoReviso tcnica: Ana Maria Faccioli deCarnargoCoordenao: UlissesFerreira deArajo

    U,F.M,G, ~BIBLIOTECA UNIVERSITR A ; I I I l l l l m l l l l l I I I l I I I I I I I 94240705

    ' O D.l\N1F iQUE ES TA E TI QUETA

    = Mode rna

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    - -t... r: -J~L..:., ,Y} -r-1 '

    :11I ModernaCOOR DEN A O EDI TOR IA L: Carrn nha B ra nco

    EDIO DE TEXTO: Cl a Regina F. MeninREVISO: Maria F. Cavallaro

    Taeco MoriSSaW:.1GE R NCIA DE PRODU O GRFICA: W;lson Teodoro Garcia

    EDI O D E ARTE E PROJETO G RFICO: Ana Maria On ofriCAPA: Joo Baptista Costa Aguiur

    PESQUISA lCONOGRfICA: Vera Lucia da Silva BarronuevoA:> imagen ..jch:llIificadas com a sigb Cf D foram fornecktus peloCentro de tnformao e D(K lIIn.nrao

    , ... .O and roc entr ismo, 22 -( ~/ ';.. . . . . . . . . . . .. . '- '~O qu e acred itam os se rt1i 2 :S;~ .1 7. . .. . . , . .

    942407 ,,,051 A DISC RIMINA O POR MEIOJ ;~~ W :C6NTEDOS DO ENSINO 35

    . ..., :: )O pr ~me iro uso e scolar da li ng uage m o com o apr end e ra expre ssar -se no mas culi no, 3 6 .:A s cinci as sociais, 44

    , Dados Internacionais de Cctcloqoo na Publicao ( C l P I(Cmara Brasileira do livro, SP, Brasill

    A mulh er no tem histria, 5 1A matem tica e as cinc ias expe riment ais, 5 8

    A m atem tic a coisa de homens, 60

    Moreno, Moruserrat,Como se ensina a ser menina : o s exismo na escola / MontserratMoreno ; coordenao Ulisses Ferreira de Arajo ; traduo AnaVenlte Fuzano. - So Paulo : Moderna; Campinas. SI' : Editora daUniversidade Estadual de Campinas, 1999. - (Educao empuuta : escola e democracia)

    o her i e outros m itos, 44Ttulo origin:d: Cmo se ensenu a ser nina: el sexismo cn Ia escuela

    1. Diferenas entre SeXOS na educuo 2. Mulheres - Educao3. Sexismo na educao I. Arajo, Ulisses Ferreira de. 11.Ttulo.111.Ttulo: O sex ismo n;\ escola. rv . Srie.99-1703 CDD-370, 19345

    ndices para catlogo sistemtico:1. Sexismo na escola : So

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    rPREFCIO

    A n a M a ri? F ac cio lide CamargoANLISE Critica e perspiccia so os traos maissalientes deste trabalho de Montserrat Moreno. C o m ose ensina a s er m e ni n a: o sexismo na escola um livrode questionamentos, em que a autora revela a visosexista - discriminao entre os sexos - don:i-nante na sociedade e, conseqentemente, na escola.

    Em suas reflexes, observa como o poder dacincia torna o conhecimento cientfico uma crena dog-mtica. Indo mais alm, aponta para o fato de que asverdades cientficas se alteram com a aquisio denovos conhecimentos, que derrubam dogmas fortemen-e estabelecidos.

    Tendo como substrato de sua investigao asociedade espanhola da atualidade, investigao estaque pode ser perfeitamente adaptada realidade bra-sileira, Montserrat Moreno demonstra sensibilidadenas anlises que faz tanto da produo do conheci-mento cientfico como das atitudes e atividades dasociedade e da escola, captando a presena do sexis-mo na linguagem, nos contedos das diferentes disci-plinas do currculo escolar e na forma de apresenta-o desses contedos nos livros didticos.Ana M aria Facc ia li de Cam arga prafessoro do Faculdade de Ed ucao da Unicamp _Un iv e rs id ad e E stad ual d e Cam pinas . d ou toro em Educa o e coord enadora do G EISH _G ru p o d e E st ud os Interd isc iplina re s e m S ex ualidade H um ano . n a qu e la u n iv e rsidade.

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    .Outro ponto que parece-me pertinente co-

    mentar que C o m o se ensina a ser men ina: o sex i smon a e sc ol a se insere em uma produo mais ampla quea autora e o grupo a que pertence em Barcelonavm publicando nos ltimos anos, com o apoio doInstituto da Mulher do Ministrio de Assuntos So-ciais da Espanha.

    Na totalidade desta obra surge, de modo nti-do, a linha de continuidade da investigao conduzidapor Montserrat Moreno e aqui abundantemente exem-plificada: de um lado, a presena do sexismo na escola econseqentemente no ensino e, de outro, a crena naspossibilidades de superao deste quadro. Crena quea autora manifesta ao considerar que as grandes reali-zaes da humanidade foram, em algum momento, uto-pias e que para constru-Ias foi necessrio sonhar. Istome faz lembrar de um pensamento de autor desconhe-cido: O homem do tamanho de seu sonho, de seuideal, de sua esperana, de seu plano; o homem faz oseu sonho e,ao realiz-Io, o sonho que faz o homem .

    Qual , ento, a mensagem da autora? Que osfundamentos cientficos que discriminam a mulher de-vem ser recusados pela escola, para que ~Ia no se con-verta em cmplice ideolgica da cincia erompa, assim,a cadeia de transmisso do androcentrismo. A autorad seu testemunho de que os sonhos so possveis e,quando se v diante do sexismo presente na escola,nos livros, nos professores e nos pais, no recua. Pene-tra fundo em sua anlise e publica suas reflexes semreceio. Seu compromisso como educadora significa tam-bm assumir-se, publicamente, perante seus colegas e asociedade. com esta coragem que, 'ao tratar de umtema to difcil e carregado de discriminaes, Mont-serrat Moreno mostra como os sonhos v o escola.

    Em relao ao sexismo, ela diz que estamoshabituados a pensar segundo uma concepo andro-cntrica - o homem como ser humano e masculi-no no centro dos acontecimentos - imensamentedifcil de ser superada, pois a prpria mulher cornpac-tua com o androcentrismo porque compartilha destepensamento. Mas a autora vai alm e considera que, seos dogmas cientficos podem ser substitudos, o mes-mo pode ocorrer com o pensamento androcntrico.Assim, a mulher poder deixar de ser marginalizada econsiderada elemento social de segunda categoria.

    Os trs captulos do livro mostram como alinguagem utilizada na apresentao do conhecimen-to cientfico est impregnada de sexismo e que a es-cola, por seu carter normativo e por seu papel detransmissora daquele conhecimento, tambm est con-taminada pelo sexismo, que constitui o cdigo secretoe silencioso que molda e discrimina o comportamen-to de meninos e meninas, homens e mulheres. O ex-pressar-se no masculino est presente em diversoscontedos de Histria, de Matemtica e de Lngua tra-balhados. A escola tambm ensin a a ser m en in a ... Camoinas, abril de 1999.

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    INTRODUAO ~~. -U M A das ca rac terstica s fund am ent ais qu e d if erenciam o ser hu -mano dos demais animai s sua ca pac id ad e d e imag ina r. Nossafa nt asia transforma a realid ade e a reconstri dentro d e cad a um ,dando-l he uma fo rma particul ar qu e se pa rece mais com quem aimag in a do que co m a re alid ad e exte rior. O pi nt or a c onve rt e emum quad ro, o msico em uma melod ia, o c ientis ta em uma teor ia,

    e o re sul tado d esta pro du o tem tanto d e realid ade com o de fan -tas ia. Talve z por iss o se d iga qu e ns somos fe itos d a mesma ma-tria qu e os so nhos , porque iss o a que chamamos realid ade no mai s do que-o qu e im ag inamos se r a realid ad e .P ara cada um s possve l o que pode imag ina r, s re al o que pe nsa que existe e s c erto aqu ilo em que acred ita.Nossa vi so do mun do , p ois, parcial e limitad a por ns mes-mos, por nos sos conheciment os e po r n os so s dog mas. Agimos emov emo-n os no de acor do co m a realidade , mas d e aco rdo comnos sa imagem do mun do. Cad a pessoa no constri esta ima-., ' gem por si mesma, a par tir da obse rvao d e alguns fatos con-cr e tos e reais, e sim , na mai ori a d os casos, a pa rti r do que osoutros lhe d izem a re spe it o d esses fatos, ou se ja, a par tir dosjulgamentos que os demais em item sobre a realidade .

    Os d emais - fam iliares, pr ofessoras e pr ofess or e s, li -vros , am igos e am igas, e te . - esto, por sua vez , sob a inf lu n-ci a de out ros d emai s , qu e recebem a inf lu ncia d e out ros , eas sim suce ssivament e . Essa cad e ia d e in fluncias pe ssoa is e sten-

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    COM O SE ENS INA A SEI\ M EN INA : O SEXIS M O NA ESCOLA INTI\ OD U O

    d e-se no e spao e remont a a pocas muito d istante s , c uja lembran- a s e perd eu, mas d as qu ais co ns e rvamos u rna forma de v e r o mun-do . D a advm o fat o d e qu e n os sa f orma de pensa r est fort ement econd icionad a pe la so cied ad e qua l pe rtencemos, por su a cultura epor sua histri a. D a tam bm decorre qu e as id ias ma is ab surdas,se m nenhum co rre lato com a realid ad e , pod em perp e tuar -se du-ra nte s cul os e ma is s cul os .

    A s palav ras d e um id iom a ind ic am as catego ri as nasqua is ur na d eterm in ada co munid ad e lin gs tica d iv id e o mun-do, e tais cat egorias imprim em na m ent e d e ca da um de se usmembr os ur na prim e ira forma de c la s sifi ca r o universo. Que estemundo se d ivid a d e ur na for ma ou d e ou tra d epend e dos int e -resses d e ca da socied ad e , e a ant ropolo gi a nos mos tra corno e s-se s sistemas d e c la ssifi ca o n o s o iguais para todo s o s p ov os.

    D e fato , e xist em lnguas que , c orn o o h o p i n o pos suemtermos qu e indiquem ogne ro a que pe rtenc e a p es so a d e qu em sefa la , e alguns po vo s indgenas da Amrica - corno os navarros -cl assif icam , e m seu id ioma, os obje to s d e a cord o com a form a qu epos suem , dand o a esta c ar acters ti c a pri or id a de so bre as d emais...Ao mesmo tempo que apr end em as pala vr as , a s m eni -n as e o s m en in os d e ca da comunid ad e ling s tica apre nd em -in icialm ente d~m ane ira confusa - a i d ia que .h por tr s d e las ,ou se ja, a re ali d ad e que os d e ma is lhe atribue~ . med id a qu eo tempo pa ssa e se u d ese nv olviment o in te lectu al av ana, os sig-nificados das palav ras tor nam -se pre cisos e , c om e le s, su a p arti -cipao na form a de concebe r o mundo de sua comun id ad e .

    Sob a tica social, exis te s om ent e aqui lo que tem umnome ou aqu ilo d e que p ossve l fa lar , ou se ja, aquilo d e qu e jse falou algum a vez '; o re sto das co isa s -t-t-- o in e fve l- perte nce

    Ns no orga nizamos o mun do de man e ir a or igin alcom o n os so pensam ent o, m as lim itamo- nos qu ase sempr e aapre nd er a form a pe la qu al o o rg aniza ram aqu e le s que no s pre-ce d eram, qu ais so as categorias em que se d iv id e o un iv e rso ,qu e se re s pert encem a c ada ur na d e las , o q ue o bom e o mau ,o qu e d e ve ser e o que no de ve se r.

    A par tir d o moment o em que nascemos , co m e a mo s arece be r e ss a i n fl uncia social q ue c on dici ona r n os sa man e ir a d eve r e d e estar no mundo. Com a li ng ua gem , a pr en d emos a pri-m eir a form a de d ivid ir nosso univ erso e m categorias. As palavrasdenom inam as c ois as , m a s tambm fa ze m c om qu e as a g rupemosd e ur na d eterm in ada mane ira em n os so p ensamento.O beb aprend e com as primeiras palav ras que existeu rn a m ame e um pa pai ; logo apre nd er que e xistem meni-nas e m eni nos , e e sta d icotom ia o te r d ifere nciad o muitoan te s que e le saiba que existe a palav ra pessoa , qu e pode apl i-ca r-s e igualm ente a todas e las. E xistem mui ta s fo rm as d e d if e -renc iar as pessoas, mas nosso id iom a pri ori zo u a c ar acte r sti ca

    s e x o para subd ivid i-I as, d and o- lh es um nom e especfico . Evi-d entement e , o m esmo no ocorr e co m ou tras cara ctersti ca shumanas . N o e xiste , po r e xe mplo , urna pa la vra e spec f ic a parad enom in ar u rna pessoa d e olhos azuis ou ur na cuj os ps suam .

    I . Os grupos sociais m inor itr ios - jov ens. marginalizad os. ete. - p re ci sa m in v en tor um o novolinguagem (g ria) porque querem diz er coisa s novos e o linguagem de suo co munidadeling stica inc a po z d e p re st ar con to de suo d iv iso do m undo, da q ue la s carac ter st ic os q u en o s o c on s id e rado s pelo s o ci ed a de, m os que, poro ess es g ru po s, s o m ui t o im portan tes .Som en te o cientista, o lite rato , o cria do r e m q ualque r c am po ou o margi nolizado - os qu efog em do com um - inv entam palav ras no vo s p oro denom ina r n ov os co nceitos ou po rocom porar. va riar, m arcar, sub div id ir ou da r um novo sentido oos j existentes, isto , paroc ri or n o vo s c lo sses ou enr iquecer o com preenso dos j ex isten tes .

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    ao m und o ob scuro e confu so do ind ivi dual, do in co municve l,do qu e no pode ser d ito e , porta nto , n o tem existnc ia s ocial.A ling uagem refle te , a ss im , o sistema de pensamento co le ti vo , eco m e le se tran sm it e um a g ra nd e parte d o modo d e pensa r, se n-tir e atu ar d e cad a sociedade .

    Esse tip o d e transm isso in consc iente , como ocorr ecom a maioria d as coi sas que do for m a ao social. Uma me , aoensinar sua fil ha a fa lar , no pensa que , alm d e e nsin -Ia a co-munica r- se , est ensi nand o tambm um sistema para interp re ta ro mundo, e st mostrando a e la qu e coi sas so igua is a out ras ,porq ue rece bem o mesmo no me , e qu e coisa s so d if e rent e s,porq ue rece bem nomes d if erent e s. A m enin a, como fa z p art e domundo , tambm est inclu d a em uma cate goria, um a m em na.Com o tempo, e la va i ap rende r o qu e is to s ign if ica .

    Ao ingr e ss a r na e scola, meninas e menino s j sabe mmuito bem qual sua id entid ad e sexual e qu al o pap el que ,c om o tais, lhe s corr espon de , aind a que no tenham muito cla-ro o alcance e o significad o d este conce ito , assim com o o d et an to s o u tr os . A e s cola colaborar e f icazmente no e sclarecimen-to c on ce itual d o significado d e se r m en ina e far o mesm o co mo menino. N o o far , p orm , sem pre d e m aneir a cla ra e a be r-ta mas na maioria d as veze s d e forma d iss im ulada ou com ace 'rt e za a rr og an te d aqu ilo que , por se r to ev id ent e , no neces-sita se que r se r m encionad o nem muito m enos expl ica do . A sat itudes , o que est implci to, os ge stos atu am da m esm a ma-ne ira que a propag anda sub lim ina r, usa da s veze s d e m aneir asubv e rsiva no ci nem a e na te levis o , em itin do m ensagens d asquai s no somos consci ent e s, mas que so mui to mais e ficazesque as expli ci tad as e tm a v ant agem d e no pre cisar se r pen-s ad as n em jus tif icadas.-. 16.

    INTI \OD U O

    A e sc ola te m m arcada uma dup la f un o: a fo rm a oin te le ctu al e a f orm a o s oc ia l d o s i nd iv duo s, o u s eja , s eu a de s-tram ento nos pr prio s m od elos culturai s. Porm, c as o s e lim it ea is to , te r fe it o um pequeno favor s oc ied ad e . N o s er maisqu e um apa re lh o r ep ro duto r d e v cios e virtu d es, d e sabed or iase d e m ed iocrid ad e s. S u a m i ss o pode se r m u ito d if er ente . Emlugar d e ensinar o que o utro s pensa ram , pod e e nsin ar a p ensa r;em lu gar d e ensinar a obed ece r, pod e e nsinar a que stionar, abusc ar os por qus d e cada coisa, a in iciar no vo s cam in ho s, no-va s form as d e in terp re tar o m undo e d e org ani z -Io .N as pgin as que seguem , anali sa re m os c om o, por

    m eio d e ss es o bje tivos que lh e foram atribudos - a fo rm aoin telec tu al, cient f ic a e s oc ial- , a e sc ola tra nsm ite o s s istemasd e pensam ento e as atitud es sexistas, aque las que margina li-zam a m ulhe r e , a levam a se r consid erad a um elem en to s oc iald e segund a c ate goria, ou s e ja , analisa rem os corto a e sco la e n-. .sma a se r m en ma.FANTASIA E REALIDADE DA CINCIA

    .. A e s co la tem por m iss o a pr oxim ar a lu n as e alunos dopen sam e nto cient fico, p ara proporcionar-Ihes conheciment os ed e senvolv er s ua in te li gnc ia , e c ostu ma c um prir e sta m iss o c oma rigid ez p r pri a d e um a manif es ta o d o gm tica . Esta atitud eapia-se em um a s rie d e co nc epe s e rr neas a respe ito do que a cincia e do qu e a in te lig nci a.A cr ed it ou-se dur an te s cul os, e co nt in ua-se acred it an-do aind a, que a in te ligncia - no pla no in div idual-: - e a cin-ci a - no plano cole tivo - conduzem desco be rta d a verdade ,

    e est a uma id ia que pr ecisa se r ab olid a, porque equ ivocada.17- a

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    A cinc ia, assim como a i nte ligncia, no no s co nduz verdade(mesmo qu e esta se ja sua presun o), mas simplesment e nosperm ite ela bo ra r mode los e expl icaes dos fenmeno s que ocor-rem ao nosso redor e em ns mesmos . Estes mod e lo s e e xpl ic a- es pod em se r adequados aos fatos tratados, se m qu e por issose jam mais ou meno s intelige ntes ou cient fi cos.

    Encont ramos, ao longo da histri a d as ci ncia s, mui -tas teorias e explica es de fenmenos qu e , em se u tem po, me-rece ram a adeso in cond icional dos cientis tas e, com o passardo tempo, out ra s novas teor ias e in terp re taes se encarrega-ram de inva lid ar.Um personagem to re leva nt e como Descartes, cujoexce le nte n ve l in te lectua l nin gum se atreve ri a a colocar emdvid a, consid e rav a que as ped ras caam p orq ue e ram atra d asp ara a te rra po r um redemoinho sem elhan te aos q ue se formamn as c orrente s d e gua e qu e um grande redemoinho tam bm eraa c au sa d e os plane tas girarem ao redor do Sol. O qu e parec esurp reendente, por m , no qu e os c ien tis tas, e a c incia qu ee les pr oduz em , co metam erros, e sim qu e estes err os, que so oresultado de uma form a de inte rpr e tar os fatos, se jam co nfundi-

    dos com a re alid ad e at o po nto d e se te ntar desloc ar esta m es-m a realidade para adapt -Ia a suas idias , A h istri a nos pro por -cion a in meros exemplos deste fato.Qua nd o, em 1672 , se descobriu , gr a as ao m icrosc-pio, a existnci a do s e sp erm atoz ides, a maiori a dos cient istasda poc a aderiu te oria do homnculo pr -formado, que de -fe nd ia que dent ro de ca da espermatozid e humano havia umape sso a m insc ula, pe rf e itamente acaba d a, que te ria apenas dec re sc er p ara transform ar -se em um beb. Estavam to intensa-

    i: ' :

    'I;II

    -. 18.~

    INTI IODUO

    ment e co nve ncid os desta id ia , que muitos de le s c he garam a v-1 0 1 Nos trat ados da poc a podem ser observados os d es enho squ e alguns de les reali zaram de s sa s v ises.

    Como pod e um a id ia prvia alt e ra r a tal ponto a p er-ce po d a reali dade? E com o pos sve l qu e se jam exa tamenteos cient istas os que so frem esse tip o de alu cin ao? Simples-ment e po rq ue tal in te rpretao constitua uma pe a qu e e ncai-xav a perf e itamente no quebra-ca bea id eo lgico da poca. D efato, e la permitia expl ica r desde a p redestinao - se e stamospreform ados , estamos tambm predestina dos - at o peca doorig in al, j que nos vul os e e sperm atozid es de Eva e de Adoestavam co ntidos todos os se res hu manos, como em uma es-pcie de boneca ru ss a, enca ixados uns d entro dos out ros. Todaa espcie estav a, pois, pres ent e no momento d a inge sto dafa td ica mac., ,Esse tipo de extrap olao que tent a manipular a cin-cia a se rvio da id eo log ia, lo nge de constitu ir ra ra exceo, an tes o po nosso d e cada d ia . Quando John W esley desco-briu, no scu lo XVII I, o asbesto, um m in eral incombustvel doqu al se ext rai o am ian to, d eu sa lto s de alegria no porqu e pr es-se ntiu o uso qu e iam faz er d e le no futuro os esfo rados bom-be iros, mas porq ue consid erou que hav ia encontrado a provair re fu t ve l da existncia e lo inf e rno . D e fato, se o asbesto pod iaresistir ao fog o sem se que imar, tam bm pod iam fa z-lo as al-m as dos cond ena dos, cuja combustibi lidade , aparentemen te ,o havia preocup ado bastante.

    As id ias preconce bid as e a inse r o d as m itol og ias ed as re lig ie s no pens amento cientf ico ne m sempr e tive ram msorte ; s vezes, como o asno da f bula, conseguiram fazer tocar.-19-I

    B

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    a flauta. Uma co is a a ss im o co rre u a P ara ce lso , um sbi o e famo-so md ico do s culo XV I qu e su ps qu e os pa cient es anm icos,co m ca rncia d e sa ngue , tinham algu ma re lao com M arte , oplane ta ve rm e lho, qu e po r sua ve z e ra consid era do d esd e a an-tiguidade o d eus da gue rr a, do sa ngue e do fe rro. Em co nse -q ncia , administro u-lh es sais d e ferro, com o qu e casua lment eob teve sucesso.M otivos se melhante s, ainda que menos afortuna dos ,tinham os md icos para ad m inistrar assa-f tid a e va leri ana smul he res acometid as d e hi ste ria , porque ac red itavam que estaenferm id ad e era pr oduzid a pela m igra o do t e ro a tra v sdo corpo, o qual vol tav a a sua pos io normal graas a odos ftid os remd io s. Nenhuma obse rvao d ir e ta ou co ns-tata o experiment al jam ais avalizou a teor ia do t ero m igr a-tri o - que dificilmente pod e ria explica r os casos d e his te riamascul ina -, mas isto no abalou ne m um po uco a co nvic- o que os md ico s tinham a respe ito da valid ad e das citad asd rogas, a ponto d e , no in ci o de no s? o s cul o, quando j sehav ia e sq ue cid o co mple tament e sua o ri ge m , co nt inu arem sen-d o re ce itadas.Dizia-se acima qu e a cincia no conduz necessaria-mente ve rdade , mas pode r-se -i a argumentar qu e no se po dec ha mar cincia aos e rr os dos cientistas , co mo os qu e acabo decitar ou co mo muitos out ros, cuja re lao exaustiva excede riaem muito o espa o d estin ado a este texto. Somente tm dire itod e ser chamados cient ficos aque le s d escobrimentos cuja certe -z a e st ampl amente compr ov ada, mas no aqu ele s so bre os quaisse duvid a ou que se mos traram falsos no decor rer do tempo. Seac e itamos este pont o d e v ista, no te mos outra sa d a a n o se r

    ad m it ir que s ci entfi co o pensamento d e nossa poc a, ou-. 20.

    INT RO D U O

    se ja, aq uele qu e a histria n o teve ain da tempo de controverte r.Ento, por qu e no admi tir as afirm aes qu e re al ize i no in cioso br e a no-verac id ad e da cincia? O fato d e qu e e ste ltimoargument o se ja par adoxa l no o torn a necessariamente fal so .A s id ias d e Newton co ntinuam se ndo cientf ica s,mesmo qu e contenh am algun s erros; o mesmo ocorr e co m ateori a darw in iana da evolu o das espc ies ou a teor ia da re la-tiv id ad e d e E in ste in , porq ue o qu e c ar ac te riz a o pensa mentocientfico exatament e a mutab ilid ad e , ou se ja, a capacid ad equ e tem de estar em co ntnua mudana, em contnua bu sca d enovas formas d e inte rp re tar os fatos, d e mud ar a id ia que se

    tem da re alid ade .M as pr eciso aboli r a con v ic o, c omum ent e d ifun-d id a, de qu e os fatos consid era dos cient ifi camente provados no po dem se r fals os , p ar a que , gui ados por.um inco nsc ient epaga ni smo, no e rga mos um trono verd ad e e assentemosnele a cin cia.

    A cincia no s comete e r ro s, c omo tam bm nece s-s rio que os come ta, d a mesma forma que para constru ir umed if cio necess ri o co loc ar an daim es e pila re s p rovis rios, qu ese ro re tirados uma vez te rm inad a a construo. O e rro co n-sub stancial a to da c on stru o int e le ctual. N o coloco em qu es-to que os e rros fazem parte d a cin cia, como tambm fazempar te do que ch amamos int e ligncia; me oponho, na re al id ade ,a co nsi d era r a cincia com o sin nimo de verd ad e .A cincia con stitui uma fo rm a particu lar d e in te rpre taro mun do em ca da po ca hi stri ca e no est em abs olu to ise nt ade pr econce itos id eolgico s; ind o mais alm , a cincia, ju nt o

    co m a id eolog ia, d e te rm ina a forma e a cor do cr istal co m qu e21 - .

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    COMO SE ENS INA A SE R M EN INA : O SEXISMO NA ESCOLA

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    INTRO DUO

    ca da poc a hi strica co nte mpl a o un ive rso que o envol ve . Estaform a de ver as coi sas transmitid a aos jov ens por m eio do quecham amos educa o, em cad a momento hi str ic o, de te rm in a osmode lo s d e pensamento e os pad res de co nduta dos no vos indi-v duos, ensina-lh es o qu e ca da um de les e indica -l hes tambmem qu e c on si st e a re alid ade e a forma ad equ ada de a prox imar-s ede la , d e ju lg -Ia, d e anali s -Ia , d e conhec -I a e de acre d itar ne la,

    A d isc riminao da mulhe r, a s c ara cte rs ticas nega tiva sque lh e tm sid o atri bu d as tm -se apoiado freqente mente emco nce pes cie nt ficas como as qu e acabamos de coment ar , pr o-fu nd ament e in flu enciadas por preconceitos id eolg icos, dos quaisa cinc ia atu al no est is enta, preciso cont empl -I a, pois, comesp r ito c r tico e tran sm iti r e ste mesmo esp rito a o s jov ens, A cin ciano s pode equi vocar-se , como tambm se equ ivoca, enu nci averdade s pr ov is ri as que se re tificam co m o passar d o tempo e , seesta re tifi cao no se prod uz, por qu e estamos falando de cren-a s d o gm tica s que esto nas contra d ies d a cincia.Todo pretenso fundamento cientf ico e m nome do qua lse d isc rim ina a mulher deve se r ene rgicam ente rechaado e cri-ticad o pe la esco la, para qu e esta n o s e c on verta em cm plice da

    man ipu lao id eolgica da ci nc ia e par a que se rompa , as sim , acad e ia d e tran sm isso do and rocentrismo.

    pa rt ir d a ti ca do obj e to), algo qu e j menc ionamos ant e ri -orm ent e , mas a e sta parcialid ade id eolgica necess rio acre s-ce nt ar ou tra que at agora n o analis amos , a parcialid ade an-d rocntri ca , qu e ain d a mais forte que a id eolg ica , porqu e ,enqu anto ao longo da his tr ia mud am a s i d eologias, as filos o-fia s, as re lig ies, os sistemas polticos e econm icos, as castasou camadas em que se hi e ra rqu iza a s ociedade, a re lao so-cial homem-mulh er perm anece in va ri ve l ou muda mui topouco, como se neste assun to, e somente nest e , os cromos-somos de te rm inassem o lug ar qu e cad a ind ivd uo deve ocu-par em uma so cied ade.

    . O androcentr ismo, um dos pr econceitos mais gravese castrad ores d e qu e pade ce a humanid ad e , vem im pregnan -do o p ensament o cientfico , o filosfico, o re ligioso e o polti -co h milnios. Tantos s culos pensa ndo d e urna mane ira po-dem levar a cre r que no h ou t ra m ane ira po ss ve l d e pensare , e stand o to presos a algumas idia s, p are ce qu e somos in -, c ap az es d e re fl e ti r sobre e las e d e critic -I as , como s e f os semverdad es ina lt e r ve is.

    o ANDROCENTRISMO

    O androcentrismo consiste em conside rar o se r hu-mano do sexo masculin o como o ce ntro do u niv erso como amed ida de todas as co isa s, com o o n ico obse rv ador v lid o d etu do o que ocorre em nosso m und o, como o nico capaz d editar as le is, d e im por a jus tia , d e go ve rnar o m undo. preci-samente esta metad e da human id ad e que possui a fora (osex rcitos, a polcia), d om in a os me io s d e c omuni ca o d e mas -sas, d e tm o poder legislativo, governa a sociedade, tem emsua s mos os principais meios de produ o e dona e senh orad a tc nica e d a cinc ia.

    A fa lta de neut rali d ade d a cinc ia, influenciada porpre co nc eito s id eolg icos ou por ad eso a id ias pr eco nce bi -das qu e tornam impo ssve l a supos ta ob je tividade ( se algum suje ito , nu nca pod e ve r as co isa s ob je tivam ente , ist o , a 22. 23.

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    COM O SE ENSINA A SER M ENINA: O SEXISM O NA ESC OLA INTRO DUO

    Homens e mulheres compart ilham a visoa n d r o c n t r i c a . pois nela foram edu cados eno pu deram ou no qu ise ram esqu ivar-se.

    Existe um preconceito muito d ifu nd ido que co nsist e emacr editar qu e a viso and rocntri ca d o mund o a qu e possuem oshomens, mas isto no ve rd ade ; na realidade, esta a vis o qu epos sui a maioria dos se re s hum ano s, homens e mulheres , ne laeducados e qu e no pu d eram ou no quiseram esquiva r-se .

    O and rocentr ismo sup e, a parti r da ti ca so cial, umacm ulo d e d iscriminae s e de inju stias em relao mulherque no se ri am tole rados e m n enhum outro grupo humano. Quemconsiderari a ju sto no mom ento atu al , po r ex emplo, que todas aspe ssoas que nascessem com o cab e lo ruivo tivesse m qu e obed e-ce r s que tm o cabe lo ne gro, cuidar d elas e servi-I as at que amorte as separe?S e a m ulh er os tol e ra , po rq ue e la mesma part icipa dope nsamento and roc nt rico e te m in co nscient emente ace itado todasas suas idias; mais, em in meras oc as ie s, sua principal de fen-so ra e , na im e ns a ma ioria da s v e ze s , s u a mais fie l'tr an sm issora.O pe nsamento a nd ro cntrico , na rea li dade , um tip o depensamento muito rud iment ar qu e, c uriosamente , p od e c oe xist irao lad o d e out ro m uito m ais e laborado, como o p en sam ento cie nt-fic o, ao qual co nt am in a e no qual introduz grave s d efo rma e s.

    Enco ntramos seu correlato nas soci edades menos evol ud as so b onom e de e tn oc entr is rno.Em todos os g ru po s hu man os do pl an eta ( tanto histri -co s c omo atua is ) n os qu ais existem e xplica es m ito lgicas so breas origens de nossa espc ie , encontramos repe ti tiv am ente a idiade que os p rim e iros se res humanos apar ece ram no mundo preci-sament e ali , on de e les habitam . Seus antepas sados fo ram se mpreos pr ime iros habita nte s d o pl aneta. Esta idia e st a rraiga da naspopula e s autc to nes da Amrica , da fri ca , d a Oce ania , da s ia

    , t:

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    COM O SE ENSINA A SER M ENINA : O SEXISM O NA ESCO LA INTRO DU O

    e tambm da Eur opa. No ent an to , se algum n o se con sid e rapa rt e in tegran te d e nenhum a tr ib o , m as simplesm ent e habitanted e um pl ane ta cu ja pr im az ia todos d ispu tam ent re si , torn a-semuito f cil com pr eend e r o absurd o d e todas e ss as pre tenses e t-noc ntri cas. C omo po de have r tan tas orige ns nicas?

    O e tnoc entrismo est e stre itam ente lig ado ao and ro-ce n trism o, po rq ue o m acho humano, no conte nte em co nsid e -rar que sua e tni a a prim e ira a habitar a fa ce d e nosso ve lh oplan e ta, enalte ce e ste m ito at con tro vert e r d e forma ri d cu la asle is natu rais.O se r que d eu origem ao prim e iro ind ivduo huma-

    no , na m itolog ia an d rocntri ca, sempre d o sexo mas culin o,as sim com o o prim e iro se r human o, o que lhe cr ia a d if cilsi tu ao d e te r qu e expli ca r co mo, a pa rtir d e um prime ir ohomem , s e e stril, tod a a e spcie hum ana fo i g erad a. M as osm ito s no se intim id am d ia n te d e sta pe quena d ifi cu ld ad e e ,co mo no tm por qu e faze r a m enor co ncesso lg ica e le -m entar ou ao senso comum e como a opin i o das mulhe re ssobr e sua flagrant e suplan tao no lhe s preocupa em absolu-to, re co rrem lg ica and rocn trica. N este sen tido , qualq ue rabsurd o , co ntan to qu e fa vor ea a id ia preconceb id a que d e -fend em , co nsid e ra do como ac e it ve l.

    P orm , o pensamento and rocnt rico, lim itado a si m es-mo, sim ple s e reduzido, no se d e tm na m ito logia , m as impreg-na o pensa m ent o fi los fico e cie n tfic o qu e o acompanharo aolongo da histri a.O hom em o ce ntro da e spci e human a: e sta umaid ia rid cula qu e no se conseguiu e lim inar d e sd e qu e , h m ilha-re s d e ano s, co meou a se impor.

    .

    As manifes taes espontneas nas brincadeiras dosme ninos costuma m ser elecarter agressivo, com ono caso ele lima disputa de bola, no jogo de futebo l.

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    COM O S E ENS IN A A S Er, M ENIN A . O S EX ISM O NA ES CO LA

    r :

    A cincia , do mesm o mod o qu e o s m itolgicos cclo pe s,contempla a real idad e com um olho s, e a viso que resu lta destaco nt empl a o parcial, sim plista, se m re lev nc ia. Falta-l he o ne-cess rio con tra ste d e ou tra viso , de out ro ponto de vista. Marce lP roust d izia q ue o verd ade iro d escobrim ento n o co nsiste em bu s-ca r novas pa isagens, mas e m possuir no vo s o lhos . D e fato , Copr-ni co no pre ciso u m udar de plan e ta par a chega r co nclu s o d e qu ea Terra no e ra o cent ro do un ive rso; apenas cont emplou a pr obl e -m tic a a prese nt ada com olhos d if e rent es, nega nd o o ge oce ntrismo, ,ou tro dos centrismos qu e im ped ia o a va n o do pensamento. Tam-pouco pr eciso mud ar de pl ane ta para ver a reali dad e de out ramane ira; ba st a i ntroduzir o ponto de v ista da mulher, e um a dasmuitas formas d e faz -Ia por m eio d a educa o, c ampo no qu alrepresenta um pape l extra ord in ari amente im portante ..

    r :,... o QUE ACREDITAMOS SER

    Do mesmo m od o qu e c ad a p es so a tem um a im ag em da re ali dade prof un dament e in fluenciada pe la cincia e pela id eolo-gia de se u tempo, tambm te m um a im agem do qu e e la que fo i-s eformando pr eci samente por meio destas e de outras inf lu ncia ssi-m ilares, qu e co nstitu em o marco de re ferncia d e nosso eu.Tud o o qu e faz em os, c om o nos comportamos, a form ad e pensa r, falar, se ntir, fant as iar e at sonha r, so fre in fluncia daimag em que temos de ns mesmos .

    Esta im agem, ns no a fabr icamos do nad a, mas a co ns-trum os a p artir dos mod e los qu e a socied ad e nos oferece . E asocied ade e no a bio log ia ou o s g en es qu em de te rmina co modevemos se r e no s comportar, qu ai s s o no ss as pos sib ili d ad es eno ssos lim ites. V em d a a n ec es sidad e d a edu ca o. S e os se res

    rI NTr,O DU Ohumanos se com po rtassem unicam ent e a partir d e seus im pul sosbiol gicos, se as condutas co nside rad as masc ul ina s e femininasfoss em espont neas, naturais e pred e te rminadas, no se ria neces-s rio educar to cui dadosam ente tod os os aspectos d ife renc iais;bas tari a de ixa r qu e a natu reza atuasse po r si mesma. Ao c ontr rio ,o ind ivduo humano capa z de um a gam a variad a d e co ndutasque n o est o d e te rm inadas no momento do na sc im ento. D e to-das as po ss ve is form as d e atu ao, ca d a sociedade e lege algum asqu e con sti tuem seu mod e lo e que vo -se formand o e transm iti n-do ao lon go de su a h istria , fi cando rigid am ent e estabe lecidas com onorm as ou mode los d e co nduta . E stes pad res ou mode los nos o o s mesm os para tod os os ind ivd uos; existem un s para o sexofem in ino e outros para o mascul ino , claram ent e d ife renciad os .

    Os mode los de compo rtament o tm a pa rticu lar idad e dese r con sid e rados em ca d a sociedad e co mo un ive rsais e in e re nte s a og nero hum an o; vem da qu e no se hesit e em liga -I os a um de te r-m inismo biolg ic o ou , se o assunto s e p re sta a is so , a um mandatod ivin o. A an tropologia mostra-nos um a g ra nd e va riedad e de expli -c a e s d e ste tip o. Assim , por exemplo, os massai co ns id e ram qu etm o d ire ito d e se ap od erar do ga do das tribos vizinh as , porqueDeus, depois de cri ar o gado, criou os massai e entrego u-l hes oga do. Estes, mui to d evotos do s man datos d iv ino s, pra ticam o rou-bo do gado se m o menor remorso . A mitologia oc ident al consi de raa mulher um a pr opr iedad e do hom em po r te r sid o e la cr iada apar tir d e uma de suas coste las, faz endo proc eder tam bm de ummandato d iv ino uma norm a de con duta e le ita pe lo homem.O s mod e los de conduta so as d ire trize s que guiam ocomport am ento dos i nd ivduo s, s ua s a ti tud es e sua mane ira d eju lgar os fatos e os a con tecimentos que os rod e iam . D ete rm inamo qu e est bem ou o que est m al, o que se deve e o que no se

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    . CO M O S E E NS INA A SE R M E NIN A : O SE XI SMO NA ES CO LAdeve faz e r e como h de se re agir em cada momento de te rminado.O s m ode los d e cond uta co nst itu em o suce dneo do pensamentointe ligente , porque impl icam a submisso da ra z o s normas dosco stumes estabe lecidos.

    Os modelos de c om po rtamento atuam como o rg an iz a -dores inconsc ientes da ao, e esta ca rac teris tica d e inconscinciaque os tom a mais d if ic ilmente mod if icveis. S o tra nsm itidos dege rao a gerao e sculo aps sculo por meio da im itao decond uta s e de ati tud es qu e no cheg am a se r expl icitadas verb al-mente ou por escrito, mas que so conhecid as po r to dos e compar-tilh adas por quase todos.Os pad re s e os mode los de con duta no podem se r mo-d if ic ad os c om a simples imposi o de uma d isposio ou de umdecre to-le i. necess r ia uma m udana mais profunda na mentali-dade dos indivd uos, e o lug ar privilegia do p ar a i nt rodu zi -I a e xa -tamente a escola. Para que isso sej a p os sve l, necess rio tomarcon scincia d os m e ca ni smos inco ns cient es de tran sm is s o d o mo-de lo qu e qu ere mo s m od ificar.A d is crim inao da mulher comea mui to cedo, no mo-mento do na scimento ou mesm o a nte s. Quando meninas e meni-

    nos c he gam e sc ola, j tm in te r io r izada a maior ia do s p ad res deco nduta d isc riminatr ia. M esm o que tenhamo s e sc olas m ista s e quemeninas e meninos sent em-se ao redor das mes mas mes as, na hor ado recre io os meninos jogam com os meninos e as meninas com asmeninas. Nas br incade ira s livres qu e s e exercitam espon taneam enteos mode los ap rend idos de conduta, a qu e apare ce a fantas ia coma qual cad a ind ivid uo se identifi ca. M as, cur ios ament e , nessesmomentos de libe rd ade que ca da indvduo se encontra m ais in -tensamente lim itado pe las norm a s e s ta belecid as , c o m o s e tivesse ple --. 30

    IN TR O D U O

    Em suas brincadeiras. as meninas tm liberdadepara ser cozinheiras. cabeleireiras. fadasmadrinhas . mes que limpam seus filhos.enfermeiras etc .. brincadeiras q ue d en ot am o

    carter pac fico a elas atribudo.

    oA en ro lado ra de l de Jean-Baptiste Greuze.

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    COM O SE ENSI NA A SEI \ M ENINA: O SEX ISM O NA ESC OLA

    na liberdad e pa ra id entif icar -se com os arq ut ip os que esto desti -na dos a e le e m funo de seu se xo, mas no par a transgred i-I as.A s meni nas tm libe rd ad e para se r coz inhe ir as, cabe -le ir e iras , fad as madrinhas , m e s qu e l impam se us filhos , enfe r-m e ira s, e tc ., e os m enino s so livres para se r nd ios, la dr e s dega d o , b and idos , poli ciai s, supe r-h omens , tigr es fe roze s ou qua l-. quer ou tro e lemento da fa un a agr essi va.A s mani fe st a e s e spont n eas nas brin ca d e iras dos me -nino s cos tumam se r d e car te r ag re s si vo e no das meninas de ca -r te r pacfi co. Isso se deve a qu? Se menino s e m enin as tend em aid entif icar-se com os mode los vige ntes em nossa socied ade e is so

    se mani fe sta no jogo , se os jogos so to d ife rentes, necess rioadmi tir qu e exist em mod e lo s d ife re ntes pa ra un s e para ou tro s noqu e co nce rn e a essa ca rac te r stica. A ssim, esses mod e los po d emobedecer a p ad re s de c on du ta d o tip o gen tico, ligados biolo-gia e to talm ente in depend ent es d o so cia l; po d em , po r out ro lad o,depender uni camente de um de te rm inado tip o d e organizaoso ci al ou particip ar d e am bos os co mponent es.A s ati tudes e as caract e r sti ca s d e tempe ram ent o co nsi-de radas in ata s e in depend ent es d e fa tor es cultu rai s e ed ucat ivosap arecem na mais tenra idad e e , nos suj e itos normais , s au-m ent am com a id ad e se o meio as inc ent ivar e fav orece r; casoco ntr rio, so re prim id as pe lo ind iv duo e pa ss am por um pro-cess o recessivo , sendo na maioria dos casos e lim inadas, modif ica-das ou reduzid as ao est ad o l atent e . T al o ca so, por exemplo, d atend ncia qu e tm tod as as crian as pequenas d e apod erar- se doque gost am , se m se preoc upar com a que sto d e a qu em pertence ,ou dos impulso s se xuai s qu e aparecem na criana pequena e que ,ao se rem repr im id os em no ssa socied ade , pe rmanecem no- ex-

    I NTI\O DU O ..pl citos no pe rodo d a infncia que os psicanalistas denom in amde latnci a e reaparecem de man e ira m anifesta na adol esc ncia ,momento em qu e gozam da compr eenso e d e ap rovao so cial.

    Q uan do uma ca racterstica de temperament o, ao con-tr rio d e d im inuir com o te rripo e com a presso edu ca tiv a au-menta com a idad e , te mos d e pensar que , long e d e te r sido re -primida so cialmente , e la foi estim ul ada ou pe lo m enos tole rad ase m que se tenh a co locad o em ao al gum mecanismo efica z decontrole dessa caracterstic a. Is to exatam ent e o que oc or re coma agressi vidad e dos m eni no s.N o s p rim eiros m ese s d e vid a impossve l d e tectar um

    n ve l de agress ivid ad e maior nos m eni nos qu e nas meninas, m as , m ed id a qu e cresce m , a d ife rena vai-se acentuan do Deve mospois, co nclu ir qu e a agress ivid ade uma das caract~rst icas d~mod e lo que se apre se nta aos m eninos e qu e tal car acte rs ti can o figura no qu e apresentado s meninas . iNenhum liv ro de texto, nenh uma his tria em quad ri-nhos, nenhu m pr ogram a d e te leviso, nenh um film e d iz abe rta -men te ao menino qu e e le de ve se r agress ivo , mas no acre d ita -mos que no tenham nenhum a in fluncia so bre sua conduta

    agress iv a. C ada um de les, d e d if e rente s m ane iras , e st est imu-lan do a agress ividade no meni no e reprimindo-a na menina node forma expl c ita e decla rada, m as com a hi poc risia cmplicede quem incita a fa ze r al go de que no qu er se r a cu sa do.Ce rtos psiclogos assegu ram que os filmes e se ria d osagressivos cu mp rem uma fu no ben fica para o m enino, poi sajudam -no a l ibe rar, por me io da fantas ia, se us impulsos agr es-siv os inatos. Se assim fosse , d everia se r tambm benfic o apre -sentar na te la tudo aquilo que se d ese ja reprimir , comeand o

    33.

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    COM O SE ENS INA A SEr, M ENINA O SEX ISM O NA ESCOLA

    l i

    por inc e sto, todo tipo d e re la e s se xuais, he r is d e sobed e-cend o a se us pa is e pr ofessore s, e te ., e te . M as cur iosa m ent eeste s mod elos no so apresen tados aos m enin os , porque nofun do, no nos enganemos, to dos ns sabemos muito bem oque se reprim e e o que se incit a e a qu em isso se dirige . A spalavras qu e e scondem id ia s implc it as atu am com o est imu-lant e s ou repr esso ras d e uma e fic cia muito su pe rior d os d is-cur sos claram ent e form ula dos .

    A s form as d e comport ament o esco lhid as por no ss a s o-cied ad e e tr ansmitid as aos jo vens por me io da educ a o so ore fl exo d a id eolog ia qu e a domina, tm mui to pouc o de unive r-sa is e d e ine rent e s ao se r humano e so, p ort an to, mod ificve i s.A e scol a no a n ic a r esponsve l pe la transm isso d emode los segregacioni stas , mas tem um papel import an te ne statransm iss o , pa pel que tentaremos an ali sa r pr im eir am ente emre la o formao int e le ctual e transm isso d e contedos. Nomomento d e ensinar L n guas, H istr ia, M atem tica , C inc ia s,e tc ., a e sc ola pa rece te r um papel ne utro em re lao d isc rimi-nao d a mulh e r, por que trata-se d e m atria s cie nt fica s e , por-tan to, apar entem ente d ist anci ad as d e preconce itos id eo lgicos.V e remos se realm ente as sim .

    ., .

    -. 34D

    ~d

    1A DISCRIMINAO POR MEIO DOS

    CONTEDOS DO ENSINO .-o FATO d e qu e o ensino m isto e st gene raliz ado nos d iasd e hoje po d e levar qu alq ue r obse rvadora in g nua a acre -d itar que a e sco la abo li u a d isc rim inao se xista. Isto no nem sequer um a garantia. A fa m lia tam bm m is ta, m ui toslo ca is d e trabalho e a prpria soc ied ad e tambm o s o, e exis-te d is criminao sex ista n ele s pr ecisament e porq ue so m is-to s; no fo sse assim , e sta no te ri a lugar. O s danos compa ra-tivo s pem-se , pre cisa m ente em evid ncia quan do h aluno sd e ambos os sexos nas classe s e possve l estbe le ce r co mpa -ra e s e ntre os d ife rente s tra tamentos recebidos . Porm , pas-saremos agora ao largo d esta d ife rena - d a qu al falar emosmais ad iante -, para nos centrarmos na an li se d os con te-dos do ensino. ce rto qu e as a lu nas e os al uno s d e uma mesm aclas se ouve m as m esmas expli ca e s, re ali zam as m esm as ati-vid ad e s, lem os m esm os livros, mas po d emos afirmar , po risso, que re cebem a m esma educao? O s ensi na m ent os quelh e s so transm it idos esto d iz endo o m esmo s m enina s eao s menino s?A im agem d a mulh e r e do hom em que se pa ss a a osalu no s p or m eio dos cont edos do ensino contribui intensa -m ent e para fo rm ar se u eu so cial, seus pad re s d ife renciais d e

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    COMO SE ENSINA A SEI\ MENINA: O SEXISMO NA ESCOLAcomportamento, o mod e lo com o qual devem identificar-separa se r mais mulher ou mais homem e , inform -Ios, po rsua vez, d a d ife rente va lo rao qu e nossa sociedad e atribuia os i nd ivduos de cada se xo.o PRIMEIRO USO ESCOLAR DA LINGUAGEM OUCOMO APRENDER A EXPRESSAR SE NO MASCULINO

    . ;

    A m aioria dos e le mentos que em nossa sociedadere fl e tem o and rocentrismo cultural ao qual estam os su bmeti-dos pa ss a-n os despercebida pe la sim ples razo d e que temosse mpr e visto dessa mane ira, e iss o fa z com que nos pa rea se ro natu ral e por iss o pas samos a conside r -l o co mo unive r-sa l e e te rn o, ist o , e le no nos surpreend e , nem o ve mosc omo mo di ficve l. A su rp re sa s urge , por outro lado, quandodesco brimos que nem se mpr e foi ass im nem o e m tod os oslu ga res, qu and o rompemos o m ito d a unive rsal id ad e - e te r-nid ad e de um comport amen to. A s pessoas pr ecisam te r e le -ment os d e con tra ste par a inte irar -se d as coi sa s.A lgo deste tip o o co rre com a lingu age m. D esde qu e

    ap rend emos a falar, apr endemos tambm que existem duasformas d e dirigir-se ou d e re fe rir-se s pess oa s segundo o se xoa que pertenc em .Ess as form as - que no se apresentam , como vim os ,em tod as as lnguas do mundo - so muito claras e espec fi-cas e m no sso id io ma se mpre que no s d irigim os a u ma p essoaisolad ament e . Existe um a palavr a para d enom inar um ind iv-duo do sexo fe m inino e out ra para o do sexo masculino, e est ad ife renci ao conce rne tanto aos se re s h umano s com o aos ani-

    . ,.

    I:: I

    -. 36

    A DISCI\IMINAO POI\ MEIO DOS CONTEDOS DO ENSINO .mais. A ba lan a da eqid ad e lingst ica d esequ il ibr a-se assom -brosament e no momento em que , por raze s de e con om ia, pr eciso utilizar um a form a co mum para re fe ri r-se a ind iv duo sd e ambos os sexo s. A menina pequ ena v, ento, d is sip ar -seno esp e lh o d a ling uage m a im agem recm-adqui ri da de suaid entidade sexoling stica , qu e d eve d is fa ra r so b algun s no-m es, os quais no lhe d ize m re spe ito. E na escola qu e , emfu n o do nm ero, a in d ivid ualidad e se perde d entro do gru-po de al un os , on de se re forar at a exausto a idia d e qu e oid iom a no lhe pertence .

    Prime iro ap rend er que se d irige m a e la chamand o-ad e m enin a ; port anto, se ouve fra se s c om o Os meni no s qu ete rm inaram po d em ir pa ra o r ecre io , pe rm anece r senta da emsua ca rte ira contemplando im pa cient emente a tare fa conclu -da, e spe ra d e qu e um a frase no fe minino lh e ab ra as portasdo esperado recre io. M as essas fra ses no costumam ch egar. ma is p rov ve l qu e a pr of essora d iga, ao advertir a menin a qu eterm inou: Fu lana, eu d isse que os meni nos qu e j te rm ina-ram . .. , e e la continue no se sentindo re ferida. Ento a pr o-fessora lh e explica r qu e , qu and o d iz m eninos , e st -se re fe -rind o tambm s meni nas . Porm , se a meni na in co rr e no errode acre d itar que a palavra meni no d iz respe ito ig ualmenteaos do is s ex os, log o ve r frust rad as suas ilus es igu alit rias. Oriso d e seus co mpanhe iros d ia nt e d e sua mo levantad a podefaz -I a compr eend er, bruscament e , qu e te ria sid o melhor nose conside rar m encionada em fra se s d o tipo: Leva nt em as m osos meni nos qu e qu ere m fazer parte do time de fu tebol . Emca sos como este , a professora costuma in te rvir , record ando:Eu d iss e os m eni nos d iante do que a meni na , estup e fata, pen-sar : M as e la n o d isse os m enin os ? ( re fe rin do-se af irmati -

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    COM O SE E NSINA A SE R M ENINA: O SE XISM O NA ESC OL A A DISC I\IM INA O POR M EIO DOS CONTE DOS DO E NSINO

    va an te rio r d a pro fe ssora d e q ue q uando d iz menino s se re fe -re tambm s m eni nas ).A meni na deve apren de r s ua id en tidad e sexo lingsti-ca para imed ia tamen te r enun ci ar a e la . P e rmane ce r durante todasua vida d ian te de um a am bigi dade de expresso com a qualac abar acos tumand o-se , com o sentim ento de qu e oc up a umlugar prov is ri o n o id io ma, lugar que deve r ce der im ed iata-mente qu and o a pare ce r no ho riz onte d o d iscu rso um ind ivduod o sexo m asculin o, se ja qu al for a e spcie a qu e e le p e rt ena.Tambm apre nder rapidam ente qu e h algumas nor -mas d e ord em no uso d a linguagem que expr e ssam a hierar-

    qu ia, a importncia e a de fe rncia qu e con ce d emos s pe sso asco m ou de quem falamos. Ass im , por exempl o, expresse s co moFilho e pa i so advogados ou Eu e voc som os amigas cha -mam a ateno porque infringem as norm as de cortesia d a lin-guagem ' qu e re qu erem coloca r em prime iro lu gar a pessoa qu eocupa posi o mais alta na hi e rar quia e coloca r- se , m od esta-m ent e , em l tim o luga r.A s m eninas, m ais pr ecoces no uso d a ling ua ge m qu e osmeninos, d esco br em an tes de les que , qu ando o s a dul tos se re fe -

    rem a um grupo in fantil qu e in cl ui i nd ivd uos de ambo s os sexos,o f az em quas e sempr e usand o unicam ente a fo rma masculina, emnenh um caso soment e a f eminina e mui to po uc as v ezes as duas .Quando est a lt ima forma oco rre , invaria ve lm ent e a masc ulinaoc up a o p rim eiro lu g ar n a frase . A pr ofessora d ir : O s meni nos eas m eninas que v o e xc urso ... , Venham at aqui um m en inoe um a m enina , e nunca se equ ivoca r co m re lao ordem .M as no s a ling uagem oral re fle ti r a d i sc rimina ose xista na esco la. A palavra impr essa, qual tant a im por tncia

    se conce d e d esd e as primeiras s rie s em qu e se apre nd e a le r, seenca rre gar d e re fo r a r visualm ent e o m o d elo lin gsti ca and ro -cntric o. O s livros d e lin guagem das prim e iras srie s d o Ens in oFundament al parecem um trat ad o d e and ro cent rismo pa ra estu-dan te s in de fesos. P alavra e desenh o combinam-se perf eitamen-te pa ra compor um a sonata aud iovisu al c om a la da inh a d e sem -pr e . Evidentemente , nem uma s ve z co metem o de sli ze deescreve r o feminino em prim e iro lu gar. Est a ordem s istem tic aem frases como Lus e Jo se fa c om e m p o, Carlo s e Mar ia iropa ssear , d estinadas apre nd iza gem da le itura, tantas vezes re -pe ti da qu e menina s e menino s a ca bam p or d eco r -la s. M as nov o le r s is so . So hab it ua is f ra se s c omo as s egu inte s, extrad as ,as sim com o a s a nte riores, d as pgi nas de livro s d e texto do Ensi -no Fun damental:, Minha m e faz a com ida. (D es enh o de mul he r pr epa rando so licit a-ment e a com id a.)

    M in ha irm pe todos os d ia s as toa lhas na mes a.O urso l e a ursa limpa. (D es enho idea lizado dos pe rsonag ens men-cionado s, e le lend o o jornal e ela limpand o suas patas di an tei ras. )*

    No se po de d iz e r que em frase s como essas, qu e sofr eqente s, os autor es d os livr os venh am com muitas sut il ezas ,nem qu e fa am al ard e no moment o d e co loc ar se u gro d e are iana co nstru o do mode lo se xista.* As sim com o es so s F rases . qu e F o r am ret irados de liv ros d idti cos espan his . em vri os

    ou tros m om entos ao longo do obro o outora se reF eri r a informa es ou citar ex em p lose si tua es relacionados o realida de es panh olo . De qua lqu er F o rm o vale nota r que s oinform a es e situa es que re fle tem o rea lidade v iv ido em todos os luga res em rela o00 sexism o. em ma ior ou m en or g rau .

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    .1

    COM O SE ENSIN A A SER MEN INA O SEXISM O NA ESCOLA A DI SC RIM INAO POR ME IO DOS CON TE DOS DO ENSINO

    oLi

    M as os padres so os pa d re s, e no se pode co rr ero ri sc o d e incitar jove ns le it oras e le it ore s a im ag in ar qu e omund o pode se r d e outro mod o, d if e ren te do que . P ara sa l-vaguarda r e sta or d em , podemos continuar lendo fra se s c omoA me espe ra em casa; o pai e st v iajand o , porq ue assimfi ca r bem claro qu e , qu an do o pai e st viaj ando, o m e lhorqu e um a me que se pre za pode faze r e sperar tra nq il a-m ent e em sua casa e no and ar pe rambuland o por a , t raba-lhand o em um escritr io infe stado d e perigo s la sc iv os ( quemsabe o que se oc ul ta atr s d e um co mput ador ?) ou ent regan-d o-se ao pe rnicioso vcio da le itu ra ou da e scr ita , j que estatar e fa se r realizada pe lo pai que aparece no li vro, aque leque viaja, aquele que s veze s m etamorfos e ia-se em u rs o, paraque fique cla ro qu e o im portante o sexo e no a e spcie qu al se pe rtepce . E quand o ele acabar d e viajar, d e le r e d ereali zar out ras ativ id ad e s prpr ias d e sua cnd io masculi -na, v am os c ont emplar nov am ent e sua im agem estampada noli vro com um a frase que d iz : O se nho r escreve liv ros , en -quanto as linhas seguin te s iro nos mostrar d o que se ocupa,entre tantos cio s, a qu e rid a e sposa: A senh ora trabalha , eo d ese nh o segui n te ir nos m ostrar, para que no nos inquie -t emos, que se tra ta d e um trabalh o prpri o d e seu se xo.Essas ilustrae s so ba stante sign if ica tivas , sobretu-do pa ra m enin as e m eni nos pouco h be is na arte d e le r. D ife -re n te s e stud os re ali zados em psi co logia inf ant il mostram como,ao inicia r-se na apre nd izage m d a le itu ra , as m en in as p e qu e na s- e tambm os m eni nos - in terp re tam o signif ica d o daspa lavras e sc ritas a part ir do d e senho qu e costum a acompanh -Ias no s livro s d e le itura, m udando e d e formand o a interpre ta -

    o do tex to para ad equ -lo imag em que o ilustra.

    M inha me fa z a comida.Frases como ess a , c omuns nas pg inas dos livros doEnsino Fundam ental, reflete m o modelo sexista vigente.

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    COM O SE ENSINA A SEf\ ME NINA: O SEXISM O NA ESCOLA A DI SCf\IM IN AO POf\ M EIO DOS CONTED OS DO ENSINO

    1 1

    Nas idades mais te nr as , a in terp re ta o do dese nh o pr e-va le ce sob re a le itu ra d a palav ra e scr ita, j qu e e sta ainda oferececo nside rve is dificul d ad es aos jov ens le it ores.O va lor e a pr epondern ci a d a im ag em bem aprov e i-tad a pe lo se xism o vi sc era l e , qu eremos supor, in conscient e d eau torasres), ed ito ras(es) d e livros in fa ntis de linguagem. Bas tapegar qu alq ue r livro, aleatoriamente , e dar uma r pi da .olh ad aem suas pgi na s para qu e im ediatament e sa ltem aos olh os dale ito ra ou do le ito r m in imament e se nsibiliza dos a qu antid ade , anatu reza e o car te r d as im ag ens qu e as il us tram . Na im ensa eesmagadora maioria d as im ag ens em qu e aparecem personag ens,estes so do sexo mas culino. Uma in significa nt e porce nt ag emdas ilustraes repr ese nt a in d ivduos do sexo fem in ino (meni -n as, mul heres adul tas, animais humanizados, e tc. ), os qu ais es-to ocup ados ou expre ss am atitude s que se atribue m mulh e r.Assim , e m um dos liv ros qu e anali samo s, ad verte -se qu e os d e-se nhos que o jov em le ito r vai obse rvar expressam sent iment osde am or, am iza de e medo. A cada se nt im ento c orr es pond e umdese nh o que il us tra a palavra e scrita . O amor vem ilustra do poruma mul her qu e tem um beb em seus br aos , j que , evid ente -ment e , quand o um hom em carrega um be b, nunca se nt e am orpe la infe li z cri ana e se por acaso, co nt ra a natu re za, o sinta, melhor que iss o n o a pa re a co m fr eq ncia nos livro s d e textoin fant is. O sentim ent o d e am izad e ilus tra do pela im age m dedois meninos d e m os d ad as, enq uant o o medo - como no - ilu stra do por um personag em fem ini no na atitu d e e ste re o-tipada d e subir em uma ca d eira com expr es s o am ed rontada napresena d e um in signi ficante ra to. Uma vez que no muitocom um encont rar um rato em cas a entre o utras co is as , p or-que esse s roedore s costumam aparece r qu ando os humanos e s-

    to dormindo -, se po r ac aso isso algum d ia chegar a oc or re r, amenina, na fa lta d e modelo s d e atuao, j sa ber o qu e d evefazer neste s ca sos e assim pode r co ntinuar aliment and o e ste .pad ro d e co ndut a. ; : y ~:::JA maior ia das im ag ens d e pe rson age ns repre se nt am , CJ.: : : :t : no entant o, hom ens reali zando d ive rs as a e s : jogando, co rr en- S:~~.do, estudand o, co mendo ou exe rce ndo pr ofiss es co mo m di- .::~Ccos, arquite tos , as tronautas, e tc., consid era das freqentemente ~Clco mo masculinas, enq uant o naqu elas poucas em qu e aparecem ~meninas e mulheres, e s ta s e sto costurand o, lav and o , c oz inhan - a:t.~do ou realiza nd o ativid ad es pr prias d e se u sexo , para que Q~tu do p erm anea em ord em . ~9_.~Vemo s co mo o s li vros d e linguag em n o ensin am s a ler, ,as sim com o n o o domnio do id ioma a nic a co tsa que cul tiva m , @mas sim todo um c d igo d e smbolo s s ociais que ~omportam um a ~id eolog ia s ex ista, n o-expl ci ta, mas i nc ri ve lmente mais eficaz d o I;~que se fo s se expre ssa em forma de d ec logo. Men inas e meninostend em de mane ira ir re sistve l a se gu ir o s m o delos prop osto s, pri n-cipalm ent e quando lhe s s o o fere c ido s como inquestionve is e toevid entes qu e nem seque r nece ssitam ser formulados.

    A linguag em e a forma co mo se ensin a no so , poi s,imparciais, m as e sto impregnad as d e id eol og ia and roc ntrica eco ntribuem ativa ment e pa ra a formao dos pad res inc onsisten-tes d e co ndut a nas meninas e nos menin os , p ad res qu e vo con-tin ua r at uando ao longo de toda a vid a e vo nos aparecer comoim o dif ic ve is , g r a a s, precisamente , sua aq uis io precoce.Os mod elos ling stico s s o g en erica ment e ambguospa ra a mul her e clar os e categrico s para o h omem . Este s temque apl ica r a regra de our o: se mpre e em todos os casos usa- se o

    1 :

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    r .. CO M O SE ENSINA A SE R M EN INA: O S EXI SM O NA ESC O LAmas culino. A m u lh e r, ao cont rrio , pe rmanecer continuamen-te diante da d vid a sobre s e d e ve re nu nc ia r sua id entid ad ese xo li ng s ti ca ou s eg u ir a s regra s e s tabe l eci d as pe la s a ca dem ia sd e le tr as e aceitas por todos . Por esta razo, o mais fre qent e que os texto s escritos por m ulh ere s se expr e sse m no m as culino,uma vez que nos mais f cil renunciar nossa identidad e se xo-lingstica d o que a apro xim a rm o s d o s d emais, so bre tu do quandod esd e os remo to s te mpos de nossa apr end izagem d a lng ua es-cr ita nos vm mos trando de m il m ane ir as que a ss im que d evese r e que bom que assim se ja.I ~'IiI

    1 1, ,:C As CINCIAS SOCIAIS'~ -t o heri e outros mitos~~:.

    ,. t , . : , > /

    Le r um livro de texto s d e his tria d o Ensin o F un da-mental ou d o Ensin o M d io do com eo ao fim ve r d esfilard iante d e noss os olhos o maior batalho d e gue rras, he r is em itos que se pod e reunir em um s volume . D e man e ira expl ci-ta, algumas vezes, e d e outras m ais ve lad amente , e sto ali pre -se n te s todos os m itos e id ias m achis tas: valor iza o da fora, d avio lncia, d a vir ili d ad e , d o heroism o, da ord em hie r rqui ca,d a s c ondu tas qu e le va m ante s ao sui cd io d o que rend i o, d acap ac id ad e d e subme te r os outro s pe la for a, d a pe r cia em des-tru ir e em matar . A mensagem sublim inar que se tr ansm it e ad e que o m e lhor o m ais fo rte e o que importa ga nha r, se ja custa d o qu e for, aind a que se ja d a pr pri a v id a. Iss o d ito d einm e ra s m ane iras. P or exemplo , um livro de 7 srie d o Ensin oFu nd amental qualifica d e tri unfo re ssoante um a bata lha na qua lse ass egu ra que as pe rd as foram numerosas , un s 3 0 .00 0 fe rido s

    r, f ;}

    -. 44.

    A DISCRIMI NAO P OR M EIO DOS CO NTEU DO S DO E NS IN O e m orto s d e ca da lad o; o que no esclarece se o triun fo co n-sistiu em matar o u f erir 3 0 .000 pe sso as d o o utro lado , em con-seguir 3 0 .00 0 he r is ou m rtire s no prprio lad o ou a mb as a sco isas ao mesm o tempo. P orqu e o acmulo sad omasoqu istad e d e funtos algo muito v alo riz ad o p elos textos d e his tri a.

    V e jam os o que nos d iz outro livro d o Ensin o Fu n-d amental:Anbal e ra um jov em general ca rtag ins que d ecid iu te rm in ar c om opoderio de Roma. Sitiou e tomou a cid ad e d e S ag umo, aliada dosromanos, on d e os es panhi s se enc heram de glria 2 ao pre fe rir que i-mar -se na s fog ue ir as a r en der-se.E, duas p ginas ad ian te , se gue exaltan d o o holoc austoco le tivo: O s nu man tinos d ecidiram incend ia r a cid ad e e , assim

    m o rre r c om h o n.a3 co m o fiz era ante s Sagunto . ~ .O te rmo honra no est d e fi n id o em nenhum dostextos analisado s e , p or tanto, q ue m os l f ic a s em sa be r exata-mente em que con si st e. P o d e i nt ui r, en tre tanto , que d eve t ra ta r-se d e algo m uito importante , a ju lgar pe los conte xto s em que em pregado e pe la g ran diloq n cia q ue pe rm e ia s eu u so . N o sete r dvid a alguma do muito que se val oriza o fato d e s e ace itara morte vo luntari am ent e .Em outro luga r lemos, sob a epg rafe O qu e a Espa-nha deu a R om a: A Espanha , em troca d e tu do o que re cebeu,d eu a R oma hom ens ilustre s, m rtire s e bispos que engrandece -ram no ss a p tria co m seu exemplo'.

    2 e 3 O grifo meu.

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    COM O SE ENS INA A SER M ENINA: O SEX ISM O NA ESC OL A A DISCRIM INAO POR M EI O DOS CO NTEDO S DO ENS INO

    Bat alhas v itoriosas, condutas hericas, honra,martrio ... Term os com o esses, com fortesconota es ideolg icas; so mu ito va lorizados nosliv ros d a Ensino Fundamental e do Ensino Mdio,ref let indo todos os mitos e id ias machistas.

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    COM O SE ENSINA A SErI M EN INA: O SEXISM O NA ESC OLA

    N o vou m e p r a d iscutir sob re a ho nra qu e re ve stiuo s m rtires, a qual se m d vid a fo i enorme, m as o que me p a re c eum tanto e xag erad o p re te nd er faz er-nos acre ditar qu e com adiminuio demogr fi ca inerente a tod o m artrio e a to do ce li-b ato e pi sc op al s e c onsegu ir ia t ornar ma is p opu loso nosso pas.P rov ave lm ente e ste obje tivo foi co nse guido mais e ficazm ent epe las mul heres, que , por sua cond io nat ural , co stumavam pre -fe rir faz er am or a faz er gue rra, ainda que d e las no nos falemesses li vros d e texto .

    P ar ale lam ent e a e sta exalt a o do holo ca usto indivi-dual oucol e tivo, gr aas ao qu al se conse gue a g lo r io s a cond i od e he ri ou m rtir , a m aioria d os li vr os d e tex to m al d is simulamsua adm ira o pe la d istin ta fig ura do mat ad or no de tour os ,mas d e p e ss oa s, a quem exalta c om fra se s c om o e sta: Seus ex-cepcionais dote s d e m ilitar lhe d eram pre stg io in te rnacional,ou se re fe re a exce lent e s gene rais que com and am ex rci to s o r-ganizados ou fala d e alg u m a q ue m su as i no vaes m i li ta r e s eseu gni o lhe propor cionaram vitr ia s con st an te s .Ess a exalta o d as vi rtu d e s b li cas contrasta com aim age m qu e se pass a d e ce rto re i d o qual se d iz : Fo i um mo-

    na rc a paci fis ta . U m h omem bond oso, m as sem energia . O g-ni o , os d o te s e x ce p ci on ais e o pre stg io i nternacional fi -c am a ssim contrapo sto s a o p ac if ismo, qu e pa ssa a s er sinnimod e falta d e ene rg ia , isto , d e fr agil id ad e . P ara no ca ir nessesv cios af em in ados preciso se r, po is, be li coso, ag re ss ivo e ven-ce dor ou m rtir.

    ; . n : ~.',. . . . ~ O,~ u

    Ess e s li vros falam , co mo ve mos, d e batalh as vitorios as,d e condutas he ricas, d e honra, d e mart rio , temos com fort e sconota es id eol gi ca s, em lug ar d e d e sc re ve r d esapaixonad a--. 48.I

    A DIS Cr llMI NAO PO rl M EIO DOS CONTE DOS DO ENS INO

    mente a conduta p ri mi tiva e pouco evo lu d a d e alguns ind iv -d uos que recorri am d estrui o m tua por incapa cid ad e d e re -sol ve r seus problem as d e uma mane ir a m ai s in te l ig e nt e. E s sain cap acid ad e , em lugar d e se r ressalta d a e posta em evid ncia, disfara d a com te rmos como val or e heroismo , qu e tm avir tud e d e con vert e r a estupidez em c on du ta d ese j ve l.

    A hi storiogra fi a m ac h is ta no se lim it a a i gn orar a mu-lher - ass unto do qual falarem os m ais frente . N o som en-te pe lo que om ite que preciso critic -la, m as tam bm pe loque tra nsm ite .A his tr ia e scr ita pe lo s ho mens, ou por mulh eres qu e

    se guem os pad r es por e le s e stabelecidos, um a histria que secentra na investiga o e no estud o d aque les aspectos que e lescon sid e ram mai s im po rt an te s e ne gligencia os re stant e s. Ist oposto, tod a esco lh a se faz e m fu no de alguns jcr it rio s pr vio sque sup e m um a tomad a d e partid o. Nesse cas b, os cri t ri os d eesco lh a in d ic am uma d ete rm ina da co nce po do mundo , d aso cied ad e e das re laes entre seus component e s qu e se fixamna va loriz a o da fora, d a compe tio , e no d e sejo d e dom ni o ;isso e xplica porque e ssa h ist ri a se concentra principa lm ent enos qu e d om inam e pos suem o po de r e no s n arre a t a exaustoa m ane ira como uns v o e liminand o os outros d e form a extre -mam ente no-ori gin al. verd ad e qu e guerras, int ri ga s e crim es m arc am no ss ahistria , m as no m eno s ve rd ad e que , se no ss os an tepa ssadostivessem se lim it ad o a e ssa s ativid ades , no e staramos aqu i parale r sua narrativa. P or qu e se p ri or iz am ta nto e ssas atividades?Por que se conside ra m ais importante a vid a e obra d e pe rsona-gens ilustres (isto , aque le s qu e a historiograf ia d e staca), qu e

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    CO MO SE E NSIN A A SE~ M ENINA : O S EXISMO NA ESC O LA

    co nstituem um a porce nt age m m uito pequ ena dos seres quehabitaram ant e s d e n s o p la ne ta? cla ro q ue os docum entoshi stri cos d e m ais f ci l acess o re la ta m m a is con stantem ent e asfa anhas d e sse s pe rso nag ens ; claro qu e suas d e cis es e s uasa es in flu enc iaram intensam ent e na vid a d os povos, m as clar o tambm qu e e le s, soz inhos, n o t er iam co nse guid o abso-lu tam ent e nad a. N o so os docum entos his tri co s qu e d e te r-m in am o enfoque hs torogr fico , m as a m ent alid ad e d e qu emos in te rp re ta. A narrao hi st ri ca no imparci al, co m o tam-bm no o a narra o d e um fato observad o na atu al idade ,m as re fl e tem o po nto d e vista d e quem o narra . A int e rp re taodos ve stgio s pr - hi stricos um bom exe m plo d iss o. N as e s-cavaes, ap are ce m pont as d e fle cha e machados, m as tambmre stos d e ce rmica e ind c ios d e utilizao do fogo. O historia-d or and rocntri co proje ta sua pr pr ia id ia ao d ar-lhe s um si g-nifica do. Fala-n os d a inv eno d as armas pe lo hom em e atri-bui tam bm a e le o d esc obrim ent o do fog o, d a ag ricultura , d ace rm ica, d o id iom a, d escobrim ent os qu e as te ori as ma is a van -ad as em hi stri a at ri bue m mul her e qu e a lg ica mais e le -m entar nos le va a im ag in ar. D e fato , se ce rto que a principalativid ad e do homem e ra a caa, que o faz ia pe rmanece r longotem po fora do po vo ado, enqua nto a mulher co le tava frutos-o qu e lhe d av a um co nh ecim ent o so br e a vid a vege tal-, pr e -parav a a c om id a - para o que necess it ou do fog o e d a ce rmi -ca -, cui d av a dos filhos, com os qu ais, d e sd e o nas cim ent o,e nco ntrava um sistema pa ra se comunicar e a qu em , logo d e -pois, e nsina um a forma sonora d e Iaz -lo - ai nd a ho je fala -m os d e l ngua mate rn a -, torn a-se im pens ve l qu e o ho -m em , enq uanto pe rc orr ia grand e s extense s d e te rra ocup adona bu sc a d a ca a, tive sse as circ un stncias ad equadas e a dis-

    II

    A DISC ~IMI NA O PO ~ M EIO DO S CON TE DOS DO EN S IN O

    ponibi l idade necess ri a para re alizar esses in ve nt os, os ensi-nasse m ulh er e m se us r pi d os encontros e re nunciasse a e lespara continuar caand o. T ais f atos no s o pr ovados, ce rt am en-te , como tam bm no o so a maioria d os qu e co nst ituem apr -histri a, m as d e les existem claro s indcio s por m eio d am itolo gia, d o estud o d as socie d ad es pr im itivas atu ais, e tc . N ose necessit a d e pr ov a al gum a, ent re tant o , para atribuir ao ho-m em qualque r descobrim ento d e ori gem ignorad a. Sempre sesup e qu e o homem tenh a sid o o au tor d e qualq ue r in veno ,a m enos qu e o c ont r ri o e ste ja largam ent e co mprov ad o.

    A his tori og rafi a e litista tam bm se xista no s por-que ignora a existncia d a mul he r, m as porq ue e st con stru d aco m um a ti ca a nd roc ntrica e na rra d a d e ixa nd o tr anspa rece re sta m e sm a id eolog ia , se us va lore s sup rem os e sua in te rpre ta-o parcial e te pd enciosa, sua e xalt ao d a fora, d o pod e r e d aag re ssivid ad e . . i

    Amulher no tem histriaA histr ia que nos contam os liv ros d e texto , co motemos visto , uma hi stri a tend encio sa , c arrega d a d e id eolog ia.

    O fim a que se d e stina - sem que seus au tore s e aut oras te nh amnecessa riamente consc incia d iss o - in cu lcar nas alu nas e nosalu nos uma d e te rm in ad a forma d e ve r o pre se n te por m eio d eum a part icul ar m ane ir a d e int e rpre tar o passado, em uma d eses-pe rad a te ntativa d e Ia z-Io so br evive r, d e preservar se us val oresultrapassados, d e continuar man tend o sistemas e m od e los d econdu ta totalm en te in ad equados ao m omen to atu al. A hi stri ad e ve se r reescrita - e fe lizm ent e esta um a tare fa qu e j estse ndo re ali zada - so b um a ti ca c omple tamen te d if e rent e . .

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    COM O SE ENSINA A SEI\ M ENINA: O SEXISM O NA ESCO LA

    O s m o d e lo s d ec o m p o r t a m e n t o s ot r a n s m it i d o s d e g e r a oa g e ra o p o r m e io d aim i t a o d e c o n d u t a s e

    a t i t u d e s q u e s oc o n h e c id a s p o r to c lo s ec o m p a r t i l h a d a s p o rq u a s e to c lo s .

    -. 52.

    A DIS CI\IM INAO P OI\ M EI O DOS CON TEDOS DO EN SINO m.M a s a h is t ria a nd rocntrica, a H is tria que se e nsinanas clas se s d e Ensi no Fundamenta l e M d io , u rn a h istr iase m m ulh e re s, ur na histria exclu si vament e mas culina . O que

    no d eve su rp re end e r-nos, j que alguns aut ores nos adve rtemsobre isso d esd e o princ p io - e quem avisa am igo -,quando comeam de fini ndo o q ue ent end e m por histria. A s-sim , por exemplo, um de le s nos d iz : AH i stria a cinc ia q uee stud a os fatos important es que o h omem 4 tem realizad o d e sd ese u surg im ento sobre a Te rra, tra tan d o de e xplicar a evo lu oque se seguiu .Q uem e em funo de que d ecid e quais fa to s s o im -po rtant e s e qua is no so' O s fatos cujo pro tagonist a a mul he rs o cons id e rados im portante s, ai nda qu e n o tenham nenh umase m elhana com os importantes masculinos ? Sob urna tic aand rocntrica , S se r o con sid e radas impo rtantes as fa anha s fe -m ini na s que , cor no as pro tagonizad as por joana d 'A rc ou pe labras ile ira A n ita G aribald i, se ass eme lham quelas'e rn q ue se exal -tam os ho m ens.P orm , h m ais. Te rn os forte s raze s par a suspe ita r queo au tor d a d e fi nio citad a, quando fala d e hom em , n o o est

    fazend o n o se ntid o a mp lo d o termo, ou se ja, corno esp cie hu ma-na, m a s usa a palavra c om o sin nim o de macho. Esta ambigid a-d e inte rp retativa d a palavra hom em fac il itamu i to as coisa s pa raos aut or e s e auto ras d e li vros d e te x to a nd roc ntricos, j qu e as -sim eles pod em d ifund ir im punem ente toda a sua id eo log ia nasp gina s d o livro, sa lva guard and o - o u a cr ed itando salvag uard ar- sua re sponsabi lid ad e . D e fat o, sempre podem d ize r que qu an -4. o grifo me u.

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    ]COMO SE ENSINA A Sm MENINA: O SEXISMO NA ESCOLA

    d o falam d e homem , de co lon izadores , d e e spanh is , e tc.,e sto re fe rin do-s e , natura lm ente , s p e ssoas d e ambo s o s s e x os .M a s u m a le it ur a min imamente atent a mos tra-n os qu e no as-sim , que a mulhe r e st exclu d a da histria qu e narram , que amulhe r no tem hi stria .O aut or A lva ro G a rc a M e segu e r de screve um defe itoli ngstico qu e denom ina sa lto se mntico e qu e consiste emin ic iar um d iscur so re fe rente a pessoas utiliza nd o um te rm o d eg ne ro gramatical mas culino, em sen ti d o amplo, in cl ui nd o m u-lhe re s e homens e , mais adiante , no mesm o co ntexto , utili za rexpr esses que pe m em evi d ncia o fato d e qu e o autor se re fe -ria exclusivamente aos homens. E ste salto se mnt ico - d izGarca M esegue r - constitu i um dos m ecani smos mais sutisd e d is crim in ao sexual, a o re forar em nosso subconsciente ain ju st a e trad icional id entif ic a o ent re os conce itos homem epess oa . U m d os exem plos citad os por este autor e st , exata -mente , re lacionado com a h ist ri a : O s a ntig os e g pcio s ha bita-vam no vale d o N ilo. S uas mul he re s c os tumavam ... . O masc u-li no egpcio s , na prim e i ra f ra se , par e ce englobar o s d o is sexos ,mas imed ia tamente no s damos co nt a d e que no as sim : Ole itor - prossegue G arca M e segu e r -, p rime ira vis ta n oobserva na d a de d if e rente . Fomenta-se , assim , e m se u subcons-ci ente o fenm eno de id enti fica o d a parte com o todo, d o ho-mem com a pessoa; co mo conseqncia, prod uz-se um a ocul ta-o d a mulh e r. O s li vros d e texto de hi stria so especialista s em sal-tos semn ticos. D om inam -nos com perfe io. V e jamos algun sexem plos : A s si na e ra um te rr it rio montanhoso no al to va le doTigre ; se us habitante s, h be is ca ad ore s e gue rreiros, constitu -ram um poderoso ex rcito .. . . 54.

    A DISCRIMINAO POI'. MEIO DOS CONTEDOS DO ENSINO

    Quand o fala dos habi tant e s d a Assria, um a le itoraac red ita que e le re fe re -se a homens e mulhe re s, mas nas li -nh as seguinte s se d conta de qu e o texto adm ite tr s in te r-pre taes: ou os habitant e s da Assr ia e ram tod os d o sexomasculin o - e em algum luga r d e ve riam explicar- nos comofaziam para se repro duzi r; ou tod os os hab itan te s - mul he -re s e hom ens - no faziam outra co isa a no se r caar e gue r-rear; ou aind a o aut or d o texto pr iva a mul he r d e hi stria eim ag ina e esc reve um a hi str ia se m m ulhe re s. A lgo parecid ooc orre no s culo X , em Cas te la: Seus co loni za d ores s o ho -mens qu e d esce ram das m ontanhas vascas e ca nt br icas. V i-ve m da guerra e do pastor e io .E ste povo, al m d e se r unisse xua do (compos to d epa store s e guerre iro s) , possua um a estranh a fo nte d e alim en-ta o: a gue rna. O qu e no se esclarece se mas tig avam ocou ro ou chup ava m o fe rro roubado de seus ~dve rs ri os . M asquem vai p re o cu pa r- se c om essa s mincias ? que fica claro,em todos os casos, que id e ntif ic am q ua lque r grupo hu ma-no d e que falam com um grupo mascu lin o e , no contente scom isso, id enti fic am com grand e freqncia um pov o com

    se u exr cito : O s m ais importante s povos ge rmanos, visigo-do s e o st ro godo s , junto com os francos, ve nceram tila pe rtode O rleans .O u ainda: O s c ar ta gin e se s conquistam a P enn sul a,d e G ibralta r ao Ebro ... .H ce ntenas d e exemplos d esse tipo. O s po vo s g er-manos, vis igo dos, ostrogodos, cartagineses, e te . , e te ., tornam-s e pu ros ex rc it os n e sses livros. Se ao meno s tivessem o traba-lho d e esc reve r os ex rci to s ge rr nano s , os e x rcitos romanos ,

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    ,::: :

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    COM O SE EN51NA A SEf\ M EN INA . O SEX I5M O NA E5CO LA A DI5Cf\ IM INA O PO f\ ME IO DOS CONTE DOS DO EN51 NO

    e tc., d e ix ari am um re squ cio pa ra qu e jov ens le itor as e le itorespu d ess em sup or qu e , alm de sold ados , os citad os povos eramcompo sto s tambm de pacfi cos cid ad o sl s), de meni nas em enino s, e tc. Ao co ntr rio, fazem cr e r, d e m il m ane iras, quetodo cidad o era obriga do a guerrear : P assado o tempo, ascid ade s iam tornand o-se in d epend ent es d o pod er do pr ncip e ,d o bi spo ou do pad re : fica vam isent as d e muitos tr ibut os , as -sim como do se rvio m ilitar .

    Tod a a c id ade , antes dessa ise n o, devia, segund o otexto , pr estar o servio militar, ao que pa rece sem d is tino deidad e , se xo ou con d io social. M as nem sempre be lic os os sol-d ados abarrotava m as cid ad es e as vilas . Havia tambm inte rva -los d e paz, qu an do se apro ve itava par a falar da or ganizao dascidades, d a forma de vida, dos co stumes, das le is e d a cultu ra.V e jamos alguns exempl os : A caracters tic a fun damental da cul -tu ra grega o conce ito d a libe rd ade do homem .

    Ao le r est a fras e prom is so ra , u ma le itora pr essent e que ,quando fala de libe rdad e do hom em , o texto re fere-se mu-lher e ao homem . A s egui r comea a suspe ita r d e qu e n o po d ese r real tant a ge neros idad e , qu and o l: O s cid ados e ram osdonos d as te rr as, e tod os tinham os mesmos d ire ito s, se m d ife -re nas ent re pob res e ricos .

    P orm , nas lin has seguinte s no resta a menor dvid ad e que no s o g nero masculino usa do no texto se re fe re ex-clu siva m ent e aos homens, como tambm , alm d is so, e xclu i to-talm ente as m ul heres, como se e las no e xisti ssem . Ass im , po-d emos le r: A democracia part ia da bas e d e que os c id ad os de

    A tenas deviam go ve rnar- se a si m esmos e , porta nto , tin ham to -d o s 5 d ire ito ao vo to e a s e r e le itos para os cargos do gove rno .

    O texto no menciona em nenh um momento que asmulheres atenienses - as sim co mo os e scrav os - n o tinhamd ire ito d e vo tar nem de participar em nenhu m cargo do go ver-no. A palavra todos re fe re -se , pois, exclu siva mente que le s in-d iv id uos do se xo masculino que tinh am a qualidad e de c ida-d o s ate ni ense s, com o que n o fica a menor dvid a d e que olivro em que sto , ca da ve z qu e fala d e homem , est re fe ri ndo-s e a mac ho e nem se qu er tem a preocupao de menci ona r amulher, nem que se ja pa ra d iz e r qu e no po ss ua nenhum dosd ireitos atribu dos a tod os os atenie nse s. O d escaso tot al emre la o mulher , pois, a cara cte rsti ca do texto, que se pr e te n-de educa tivo.

    O m esm o d esca so leva-o, algumas pginas mais fr e n-te , a v alor iza r po sit ivam ent e uma inst itui o n'9 se io d a qua l po-d ia-se comete r o que hoje co nsid e ramos crim es, de mane ira to-ta lm ente impun e : Rom a chego u a dom in ar todo o M ed ite rrneo[ . , , 1 A s lid a o rg ani z a o fam iliar e o sistema d e g ov ern o repu -bli c an o p erm iti ram e s sa s conquistas ,P arece, pois, julg ar positiva mente , ou ao m en os noco ndenar, o s istema fam ili ar r omano, com o foi d ito linhas atr s:O pai e ra o che fe supre mo da fam lia em todos os aspe ctos , e rad ono de todos os bens e possua , inclusive , o d ire ito d e vi d a emorte so bre a espo sa e os filh os ,A mulher a grand e ause nt e nos texto s e sco lar e s d ehi stria , Sua aus ncia faz -se patente tanto na s d escries d asfaanha s bl ic as c omo no s e sc asso s momentos em qu e se fala daorgani z a o s ocial. Tudo iss o nos ind ic a que a mulher fo i int en-o grifo me u.

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    COM O SE ENSINA A SE R M EN INA: O SEX IS M O NA ESCOL A A DISCRIM IN AO P OR ME IO DOS CONTEDOS DO ENSINO

    samen te de sc on sid e rad a ao longo d a hi stri a e qu e os livro s d etexto co ntin ua m d escon sid e rand o-na , em uma de se sperad a te n-tativa de d e te r o pass ar do tempo.ou am bas as co isas ao mesm o tempo. Se a famlia car e ce d ere cur sos econ m icos, a m eni na lo go abandonar a e scola parad ed icar -se a um trabalho manual- por m eio ou n o d e um aforma o pr ofiss ion al - ou aind a se o cup ar d as tare fa s d acasa at se cas ar.A MATEMTICA E AS CINCIAS EXPERIMENTAIS o rend imento inte lectu al qu e se espera d as m eni na s sempr e in fe rior ao qu e se e spe ra dos m eni nos , e isto tem sidoas sim h muitos scul os. A s expl ica e s qu e tm sid o d ad asso de todo tipo. D esd e pr e te nde r uma infe rio rid ad e in ata d amulher at assegura r que o pensar pode pre jud ic -I a, co mo ocaso, no sc ulo passado, das con cluses extr adas po r Edw ardC lark e , o qual as segur ava qu e as m enin s no d eviam ser pres-sionadas a estu d ar porque , se o se u c rebr o fosse obrigado atrabalhar durante a pu be rd ad e , e sgotar-se -ia o s angue neces-s rio na menst ru a o.

    N o menos brilhant es e ram os arg ument os apr esen-tad os por F rancis G alton , qu e , no comeo do s culo, in iciouum a s rie d e estudos comparativos sob re as d ife rena s in te -lect uais ent re os dois sexos. Natu ralm ent e , a conclu so a quechegou - com o se mpre acontece qu an do se apl ica e ste tipod e med io a gru pos co nsid e rad os in fe ri ore s (negros, n d ios ,e te .) - fo i a d e qu e , em te rm os gerai s, as apt id e s int e le c-tu ais fem ini nas e ram in fe riores s masculinas . Um dos argu-m ent os qu e utiliza para m elh or conve nce r o le itor o s egu in-te : Se a c apaci dade d as mulhe res foss e su perio r dos homens ,os com erci an te s te ri am grand e in te ress e em t-I as como em -

    V im os co mo as c incias so ciai s, cu jos conte d os cons-titue m o melh or ve cul o d e tran sm iss o d e d e te rminados va lo-res e d e um a or d em soc ial parti cul ar, no poupa m recur sospara imbuir os jov ens da co nce po and roc nt ric a d o m un do.A matem ti ca e a s cincias expe rim enta is ( f sic a, qu m ica , bi o-log ia, ge olog ia . . ) co nstitu em um cap tulo parte . Esto pre -sent es na educao do E nsino Fundam ent al un ive rsid ad e e sua ap re nd izage m se co nced e um grand e val or, at o po nto emqu e , repr ovar repe tid am ent e ne ssas matrias - em e specialem M at em tica - con sid e rado por pais e p rof ess ores com oum sin al d e ale rta que po d e le var a p r em dvida as capacid a-d es int e lectuais d e qu em fo i reprovado.'

    Quand o isso ocorre , as reae s geradas so muitod ife rente s segu ndo o se xo ao qual pe rt ence o repr ovado. Se um meni no, por meno s que a rend a fam ili ar o permita, se rleva do a uma consulta psico lgica , su bme tido a reapr end iza-gem ou a aul as particul are s. Sofre r , alm d iss o, fort es pr es-se s fam il iares par a que se esforce em su perar suas d if ic ul d a-d es. Se um a meni na e pe rtence clas se md ia, pod e re ceberum tratam ento sim ilar ao do menino - ain da qu e isto se japouco fr eqe nt e - ou go za r d a benevolncia parental, qu eno dar exc ess iva im port ncia a essas repr ovaes, j qu e menina foi de stinado se guir uma carre ira de le tra s, ca sar- se 6. Cita do por S Shie lds em M . C. Hu rtig . M . F . Pic helJin . lo di ff er en c e d e s seres. Te rce-Sc iences. 1986.

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    ~.\COM O S E ENSINA A S Ef1, M ENINA: O SEXISM O NA ESCO LA A DISC f1,I M IN AO POR M E IO DO S CON TE ODO S DO ENS INO

    pre gad as, m as, d ado que ocorre o cont r rio, temos o d ire itod e pensar qu e a hi ptese corre ta a oposta .E st a a fi rm ao, por mais absurda e sem objetividad eq ue se ja , f az-nos pe nsar que G alto n pod eri a te r e vitad o to d as asmed ies e anu nciado fra ncamente e d e inc io s ua p osi o id eo-l gi ca e pr of undam ente and roc ntri ca . Se as postu ra s preconce-bidas fi ze ram os cientistas do s culo XV II ve r ho mn cu los pr e -formados no in terior dos esperm ato zid es, por qu e hav eri am d eim ped ir G alton d e ve r o qu e que ria ve r por m eio d e in strum en-to s menos p re cisos e ob je tivo s qu e um m icro sc pi o? realm ent e surpreend ent e co nstatar, uma vez mais,

    as enormes de fasag ens existent es no pe nsam ento dos c ie ntis -tas . Como um personage m com o p rest gio d e Galton - pi o-ne iro na aplic a o da matem tic a psicologia - po d ia pr o-duz ir, ao mesmo tem po, id ia s brilhantes e ra ciocnios topo uco e laborados? Dado que na maior ia das veze s agimosno levad os por raciocnios prprios, mas por critrios d eautorid ade , essas id ias e out ras se melhantes adquiriram ca-r te r de le i ind isc utv e l, que vinha re forar, com um ve rnizd e ci ent ifi cdad e , os pr econ ce itos comum ent e aceitos.

    av eriguar o co nt r rio . M a s j fal amos ant e riormente d os precon-ce itos id eol gico s d os cient istas e , na tu ralmente , nem os psic -logos nem a s p si c lo ga s c ar ec em de les.Curiosamente, e a pe sar de mui tos est udos e d as su-posies que se tm e mpre gado nessas in ve stigaes, n o hnenhum trabalh o qu e re na as cond ie s d e rigor cientficonecessri as para fo rne ce r con clu ses suficientemente conf i -ve is, qu e perm itam dar po r co nclu d a esta que sto. Ao con-tr rio, cad a um de les nos p ropor cio na dados -dife rent es e pro-fundament e re lacion ados com as id ia s prv ias d e seus auto rese autoras , o que nos leva a d esconfiar no de sua boa-f -pois j sa bemos que o in co nsc iente traioe iro -, mas d a

    obj e tivid ade dos resu ltados .No vou ent rar na polmica de se ou no verdadeque os homens tm maior facilid ade para a matem ti ca, um a. .ve z que podem ser enc ont rad os inm ero s estudos , real izadosp or homens, qu e assim o af irmam e uns poucos - casualmen-te realiza dos po r m ulh eres - qu e , tambm por meio de d adosexp erimentai s, obt m resu lta d os contrrios . D iante d este pa -no ram a, n o nad a f cil che gar a um a con clu s o, poi s as pr -

    prias exignc ias do r ig or c ie nt fico impe d em que se tom e par-tido, gr atuitament e , nesta qu esto . P or outro lado, tampoucome parece con fi ve l uti liz ar te stes ou provas matem ticas con-ve ncionais para avali ar as capac id ades do s ind ivduos n e ste c am-po , j que tais pr ovas m edem se mpre a atual izao das pos sibi-lidad es e no a s po ssib ilidad es em s i mesmas, e esta at ual iz a o

    A matemtica coisa de homens

    Essas id ias con tinu am , ent re ta nto , vige ntes no mo-mento atual, apesar d e j te rem sido realiza dos inmeros e stu -dos compar ativo s qu e tent av am comparar, vari ar e qu antific aras d if e re nas intelectu ais entre os se xos e averi guar se no campoda matemtica os hom ens eram melh or es qu e as mulheres, sen-d o prati cam ente inexist ent es os trabalhos no s quais se tentava 7. Ver G . S os tre e M . M o re no . I nt el ig encio, cul tu ro y sociedod . Anuor io de Ps ico logo de 10Univers idod de Botcetooo. n2 1 . 19 74.60. 61 .

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    COM O SE ENSINA A SER M ENINA : O SEXISM O NA ESC OL A A DISC R IM INAO P OI\ ME IO DO S CON TEDOS DO ENSINO

    i ;I I:II ; ;II :

    d epend e em g rand e parte - co mo demonstramos em outroponto? - dos e stm ulo s d o m eio. N o e ntan to , o que m e pareced e grand e importncia sab er qual a opinio, a e sse re spe ito,d e quem va i e star em contato com os m eninos e as m eninas,av aliar suas capacid ades mat emticas e reprov -Ias ou ap rov -lo s, d e a co rd o co m se u parece r. P ara co nhece r e ssa s opinies ,re aliz amos um a pesquis a com 80 alunas e alun os d o Curs o d eM agist rio , na qu al, ut il izand o um mtodo ind ire to , ave rigua-mos quais so su as id ia s precon ce bid as a respe it o d as c apaci-d ad e s m atem tica s d e m eni nas e m enin os .

    oU

    I: Esc olh emos alu nas e alu nos d e M ag istri o e noprofe s sor a s( e s ) em exe rccio porque queramos m ed ir se us con -ce itos prv