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Revista Litteris ISSN 19837429 Março 2011. N. 7 Revista Litteris www.revistaliteris.com.br Março 2011. N. 7 Competência Comunicativa: das características ao alcance dessa habilidade nos aprendizes de língua estrangeira Rangel Peruchi ( UFPR) 1 Resumo O presente artigo pretende apresentar de maneira clara e concisa as habilidades que precisam estar presentes tanto na modalidade oral quanto na modalidade escrita de aprendizes de língua estrangeira para que ele seja considerado um falante linguisticamente competente. Além disso, apresentaremos com maior profundidade a divisão apresentada por Saville- Troike (2005, 2006) entre competência acadêmica e competência interpessoal visto que em muitos contextos de ensino-aprendizagem a dificuldade em escolher a competência a ser desenvolvida no aprendiz tem levado a ineficiências na formação desses aprendizes. Nesse sentido, o entendimento das competências a serem desenvolvidas no aprendiz de língua estrangeira mostra-se fundamental para que o professor possa traçar objetivos claros e realistas para o processo de ensino-aprendizagem. Palavras chave: competência comunicativa, competência acadêmica, competência interpessoal. aprendizagem de segunda língua. Abstract This article intends to expose in a clear and concise manner the skills that need to appear in the oral modality as well as the written one in second language learners. Moreover, it intends to verify which skills are required to be developed in the second 1 Mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal do Paraná, (Curitiba),(Brasil), ([email protected]), (https://wwws.cnpq.br/curriculoweb/pkg_menu.menu?f_cod=3B2F32E15C504B0B2A5C218673D26B BD)

Competencia Comunicativa (Rangel Peruchi)

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Competencia Comunicativa (Rangel Peruchi)

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    Competncia Comunicativa: das caractersticas ao alcance dessa

    habilidade nos aprendizes de lngua estrangeira

    Rangel Peruchi ( UFPR)1

    Resumo

    O presente artigo pretende apresentar de maneira clara e concisa as habilidades que

    precisam estar presentes tanto na modalidade oral quanto na modalidade escrita de

    aprendizes de lngua estrangeira para que ele seja considerado um falante

    linguisticamente competente. Alm disso, apresentaremos com maior profundidade a

    diviso apresentada por Saville- Troike (2005, 2006) entre competncia acadmica e

    competncia interpessoal visto que em muitos contextos de ensino-aprendizagem a

    dificuldade em escolher a competncia a ser desenvolvida no aprendiz tem levado a

    ineficincias na formao desses aprendizes. Nesse sentido, o entendimento das

    competncias a serem desenvolvidas no aprendiz de lngua estrangeira mostra-se

    fundamental para que o professor possa traar objetivos claros e realistas para o

    processo de ensino-aprendizagem.

    Palavras chave: competncia comunicativa, competncia acadmica, competncia

    interpessoal. aprendizagem de segunda lngua.

    Abstract

    This article intends to expose in a clear and concise manner the skills that need to

    appear in the oral modality as well as the written one in second language learners.

    Moreover, it intends to verify which skills are required to be developed in the second

    1 Mestre em Estudos Lingusticos pela Universidade Federal do Paran, (Curitiba),(Brasil),

    ([email protected]),

    (https://wwws.cnpq.br/curriculoweb/pkg_menu.menu?f_cod=3B2F32E15C504B0B2A5C218673D26B

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    language learner for his full command of the target language. Besides that, the

    differences between academic competence and interpersonal competence discussed by

    Saville- Troike ( 2005, 2006) will be presented in depth since the dificulties in

    choosing which skills should be developed have lead to inneficiencies in the second

    language learners trainning. Hence, the understanding of the competences to be

    developed in the second language learnes are seen as a key question to the

    development of clear and realistic goals by the teacher in the second-language

    learning process.

    Key words: communicative competence, academic competence, interpersonal

    competence, second language learning.

    Introduo

    Acreditamos que mesmo passadas trs dcadas desde o surgimento do termo

    Abordagem Comunicativa (Communicative Approach) no campo da aquisio de

    segunda lngua, seu entendimento e aplicao ainda algo um tanto obscuro.

    Sabemos que nos dias atuais tornou-se lugar comum o uso do termo Communicative

    Approach para toda e qualquer abordagem que no se baseie na abordagem

    estritamente gramatical. Todavia, sabemos que ainda faltam subsdios tericos e/ou

    prticos que proporcionem aos professores de lngua estrangeira a aplicao do

    Communicative Language Teaching (CLT). Sabemos tambm que nem todos os

    contextos de ensino-aprendizagem requerem a aplicao do Communicative Language

    Teaching (CLT), mas, em todos aqueles em que tal abordagem se faa necessria para

    o desenvolvimento da habilidade oral e/ou escrita do locutor-aprendiz, os professores

    carecem de um maior entendimento de tal abordagem. Acreditamos tambm que uma

    abordagem mais reflexiva, com relao ao ensino-aprendizagem, deve ser

    constantemente buscada e, por isso, acreditamos que uma prtica pedaggica onde se

    desenvolva a percepo no uso da lngua alvo se faz necessria para que aprendizes e

    professores possam desenvolver-se plenamente na lngua alvo. De acordo com

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    Thompson (1996), o princpio guia do Communicative Language Teaching a

    necessidade de desenvolver a competncia comunicativa do aprendiz com base na

    hiptese de que a comunicao o fim e o meio para a aprendizagem de uma lngua.

    Seguindo a mesma linha de raciocnio, Alcn (2000), afirma que o desenvolvimento

    da competncia lingustica, atravs do foco na gramtica, vocabulrio e pronncia,

    tem se mostrado insuficiente para o desenvolvimento da competncia comunicativa.

    A consequncia dessa limitao o atual foco no desenvolvimento da competncia

    pragmtica e estratgica. Acreditamos que o resultado da lacuna no entendimento do

    ensino pragmtico resulta, ainda, em um elevado nmero de instituies de ensino que

    prometem fluncia em um curtssimo espao de tempo de um lado, e, do outro lado,

    inmeros aprendizes que mesmo aps anos de instruo no se sentem seguros para

    falar a segunda lngua com confiana. Ou seja, tais aprendizes apesar de dominarem

    bem, at certo ponto, o conhecimento fonolgico, lexical e gramatical da lngua alvo,

    no dominam seu uso pragmtico. Como profissionais do ensino de lngua

    estrangeira, temos a impresso de que os aprendizes, muitas vezes, comportam-se

    como se estivessem em uma pea onde as falas foram distribudas, mas ningum sabe

    qual o seu personagem. Apresentaremos nas pginas seguintes quais habilidades

    precisam ser desenvolvidas nos aprendizes de lngua estrangeira e em que moldes

    visualizamos o ensino pragmtico da segunda lngua.

    The Commom European Framework

    Seguiremos na explanao sobre o ensino pragmtico as idias sobre ensino

    pragmtico apresentadas pelo Common European Framework de Referncia (2001,p.

    28 ). Assim:

    The approach adopted here, generally speaking, is an action- oriented one in so far

    as it views its users and learners of a language primarily as 'social agents', i.e.

    members of a society who have tasks [...] to accomplish in a given set of

    circunstances in a specific environment and within a particular field of action.2

    2 A abordagem adotada, no geral, orientada para a ao e percebe os usurios

    e aprendizes de uma lngua como agentes sociais, membros de uma sociedade que tm

    tarefas [...] e realizam essas tarefas em um conjunto de circunstncias em um

    userRealce

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    O Common European Framework (2001) apresenta com clareza aquilo que os

    aprendizes necessitam aprender para dominar uma segunda lngua e poder utiliz-la

    comunicativamente. Ele especifica quais conhecimentos e habilidades precisam ser

    desenvolvidos para que o aprendiz possa atuar linguisticamente de maneira adequada.

    Apresenta tambm os nveis de competncia que permitem medir o progresso do

    aprendiz. Alm disso, ao decompor a competncia lingustico-comunicativa em

    subcompetncias separadas, ele prope a identificao de necessidades e objetivos.

    Desse modo, no h separao absoluta das subcompetncias, uma vez que elas so

    interdependentes. Entendemos ento que o Common European Framework um

    quadro de referncia aberto e flexvel e, consequentemente, ele pode ser adaptado a

    diferentes contextos educacionais. Alm disso, outra consequncia dessa viso

    flexvel a possibilidade da instruo formal do discurso escrito com um recorte

    pragmtico, possibilidade essa que acreditamos ser uma ferramenta metodolgica

    eficaz para o ensino da segunda lngua.

    O Common European Framework de extrema relevncia quando pretendemos

    oferecer ao aprendiz de lngua estrangeira um ensino que o capacite a comportar-se

    adequadamente na segunda lngua. Alm disso, ele nos oferece de maneira clara

    aquilo que o aprendiz precisa aprender para utilizar a segunda lngua de maneira

    comunicativa e quais habilidades ele precisa desenvolver para atuar efetivamente na

    segunda lngua. Pode-se considerar que a competncia comunicativa, de acordo com o

    Common European Framework, consiste de componentes como: competncia

    lingustica, competncia sociolingustica e competncia pragmtica. Cada um desses

    elementos constitui o conhecimento e habilidade para saber como comportar-se

    adequadamente na segunda lngua. Alm dessas competncias h outras que no

    esto ligadas to fortemente ao conhecimento lingustico e, como acreditamos que tais

    competncias interferem na competncia lingustica apresentada por um aprendiz

    passamos a apresent-las.

    O conhecimento de mundo uma das competncias que esto presentes em todos

    os indivduos e atravs desse conhecimento que o indivduo capaz de fazer

    previses com relao a uma situao especfica. Esse conhecimento constri-se ao

    ambiente especfico e dentro de um grupo particular de ao.

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    longo da vida de um indivduo e resulta no conhecimento da construo gramatical e

    do vocabulrio a ser utilizado na lngua alvo (Common European Framework , 2001,

    p.101).

    O conhecimento sociocultural refere-se ao conhecimento da sociedade e da cultura

    na comunidade na qual a lngua alvo falada. Uma caracterstica dessa modalidade

    que, diferentemente de outros habilidades,o conhecimento prvio apresentado pelo

    aprendiz pode vir a lev-lo a criar alguns esteritipos com relao a lngua alvo (

    Common European Framework, 2001, p.104).

    A conscincia intercultural outra competncia de extrema relevncia quando

    pensamos em um ensino que capacite o aprendiz a comportar-se adequadamente na

    lngua alvo. Uma das caractersticas dessa competncia a habilidade que o aprendiz

    necessita desenvolver para reconhecer as diferenas e similaridades entre a cultura de

    origem e a cultura da lngua alvo. Essa conscincia intercultural refere-se tambm

    conscincia de como uma comunidade vista por um membro de outra sociedade

    (Common European Framework, 2001,p. 106).

    Para que as intenes comunicativas de um falante possam ser realizadas com base

    nas competncias gerais apresentadas acima, outras competncias com um carter

    mais especfico precisam ser desenvolvidas. Apresentaremos a partir de agora quais

    competncias um aprendiz de segunda lngua precisa desenvolver para comunicar-se

    eficazmente na lngua alvo.

    A competncia lngustica refere-se ao domnio de competncias que esto mais

    diretamente ligadas ao domnio da segunda lngua, enquanto um sistema constitudo

    de regras. Assim, a competncia lngustica envolve outras competncias sendo elas:

    competncia lexical, competncia gramatical, competncia semntica, competncia

    fonolgica, competncia ortogrfica e competncia ortopica.

    A competncia lexical envolve o conhecimento e a habilidade em utilizar o

    vocabulrio da lngua alvo, sendo esse domnio ligado a elementos lexicais e

    gramaticais. Assim, o aprendiz precisar dominar uma ampla gama de elementos

    lexicais tais como: expresses fixas, provrbios, expresses idiomticas, etc. J os

    elementos gramaticais envolvem o domnio de classes de palavras na lngua alvo tais

    como: artigos, quantificadores, pronomes pessoais, pronomes demonstrativos,

    pronomes possessivos, verbos auxiliares, etc (Common European Framework ,

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    2001,p.111).

    A competncia gramatical refere-se ao conhecimento e habilidade em utilizar os

    recursos gramaticais da lngua alvo. Assim, a competncia gramatical envolve a

    habilidade em compreender e expressar sentido atravs de produo e reconhecimento

    da formao de sentenas corretas em oposio mera memorizao de sentenas

    (Common European Framework, 2001,p. 115).

    A competncia semntica refere-se a conscincia e controle apresentados pelo

    aprendiz na organizao do sentido de uma sentena. Podemos considerar que a

    competncia semntica pode ser dividida entre a semntica lexical (que se refere a

    questes relacionadas ao sentido das palavras); a semntica gramatical que se refere

    ao sentido de elementos gramaticais e a processos e categorias estruturais; e a

    semntica pragmtica que se refere a relaes como a pressuposio, vinculao,

    implicatura, etc).

    A competncia fonolgica refere-se ao conhecimento e habilidade em perceber e

    produzir os elementos sonoros na lngua alvo e, consequentemente, as possveis

    distines fonticas que gerem diferenas na produo e compreenso da lngua alvo

    (Common European Framework, 2001, p. 114-116).

    A competncia ortogrfica envolve o conhecimento e a habilidade em perceber e

    produzir os smbolos nos quais uma lngua escrita. Dessa maneira, o aprendiz deve

    conhecer a forma impressa e a forma cursiva da lngua alvo; a soletrao correta das

    palavras assim como as formas contradas; sinais para pontuao e suas respectivas

    convenes para o uso; convenes tipogrficas e suas variaes com relao fonte,

    e, sinais logogrficos e suas convenes para o uso comum como: $,&,e.g, etc)

    A competncia ortopica envolve o conhecimento que um aprendiz precisa

    apresentar para ler em voz alta um texto ou utilizar pela primeira vez no discurso oral

    palavras vistas na forma escrita. Assim, essa habilidade envolve o conhecimento das

    convenes de soletramento, a habilidade para consultar um dicionrio e reconhecer

    as convenes utilizadas para a representao dos sons, o conhecimento das

    implicaes das formas escritas, especialmente os sinais de pontuao para realizar

    uma parfrase e/ou entonao e, ainda, a habilidade para resolver homnimos e/ou

    ambiguidades sintticas em um determinado contexto. Alm disso, o desenvolvimento

    das habilidades que tornaro um aprendiz competente linguisticamente requer um

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    tempo considervel de estudo. Assim, dentro de parmetros realistas, a aprendizagem-

    aquisio da lngua alvo exige o desenvolvimento de uma gama de habilidades

    lingusticas.

    Apresentaremos, nesse momento, o posicionamento terico de alguns

    pesquisadores com relao competncia comunicativa, visto que essa a habilidade

    que buscamos compreender para que possamos propor um ensino pragmtico onde o

    aprendiz possa melhor desenvolver suas habilidades comunicativas. Apresentaremos

    as ideias dos pesquisadores (Hymes, Canale, Saville-Troike) a despeito da

    competncia comunicativa. As ideias desses pesquisadores, apesar de algumas

    diferenas, esto em consonncia, e, por isso, buscaremos uni-las no decorrer da

    apresentao das mesmas.

    A perspectiva de competncia para Hymes

    Inicialmente apresentaremos as ideias propostas por Hymes, visto que elas, de

    alguma maneira, resgatam a proposta de competncia apresentada por Chomsky

    (1965). Dessa maneira, Hymes no minimiza a competncia gramatical, uma vez que

    ela parte integrante da relevncia cultural. Assim, um falante necessita do

    conhecimento gramatical mas tambm precisa conhecer o significado que se gera

    dentro de uma comunidade de fala. Nesse sentido, um evento comunicativo

    constitudo por elementos como: local, participantes, fins, sequncia de atos,

    instrumentos, normas de interao, interpretao e gnero. Esses elementos so

    considerados contextos de fala na qual uma interao verbal real ocorre. Entendemos

    ento que dizer que uma pessoa fala uma lngua especfica significa dizer que a

    pessoa sabe when to speak, when not.... what to talk about with whom, when, where

    in what manner'.3 ( HYMES, 1972,p. 277).

    Hymes, de certa maneira, concorda com a viso de competncia proposta por

    Chomsky (1965), mas acrescenta a necessidade do falante conhecer as regras de uso

    da lngua. Hymes (1974) tambm discute trs conceitos bastante importantes que so:

    adequao, evento e viabilidade. Entende-se por adequao - se e em que medida

    3 quando falar, quando no falar... o que dizer sobre algo para algum, quando,

    onde e, de que maneira.

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    algo adequado-; evento - se e em que medida algo realizado-; e por viabilidade -

    se e em que medida algo possvel sob um dada circunstncia. Podemos concluir por

    esses trs termos que a competncia comunicativa considera o conhecimento que o

    falante deve possuir com relao ao uso da lngua assim como o conhecimento que ele

    deve possuir a respeito das expectativas a serem tomadas com relao s normas e

    convenes sociais.

    A perspectiva de competncia para Canale

    Tambm Canale (1983) discorre sobre o domnio pragmtico que um aprendiz

    deve apresentar. Ele afirma haver quatro tipos de competncias: a competncia

    gramatical, que se refere s regras de cdigo lingustico; a competncia

    sociolingustica, que se refere s regras socioculturais; a competncia discursiva, que

    se refere s regras do discurso e a competncia estratgica que se refere s estratgias

    de comunicao verbal e no verbal.

    Dessa maneira, quando falamos de competncia gramatical nos referimos ao

    domnio das regras fonolgicas e lxico- gramaticais de formao de uma sentena.

    Ou seja, a capacidade do falante em interpretar o sentido literal de uma sentena

    atravs de seu conhecimento da pronncia, vocabulrio, sentido de palavras e

    sentenas, construo de sentenas, soletrao correta da lngua alvo.

    Quando nos referimos competncia sociolingustica, estamos tratando do

    domnio das regras socioculturais de uso adequado da segunda lngua. Ou seja, como

    as sentenas so produzidas e compreendidas em um contexto sociolingustico.

    Assim, a competncia sociolingustica se refere ao entendimento das convenes de

    atos de fala, da conscincia das normas de adequao estilstica, do uso da linguagem

    para sinalizar relaes sociais, etc. Para Canale (1983,p.5), ento, a competncia

    sociolingustica pode ser entendida como:

    [...] a competncia sociolingstica se ocupa em que medida as expresses so

    produzidas e entendidas adequadamente em diferentes contextos sociolingsticos

    dependendo de fatores contextuais como a situao dos participantes, os propsitos da

    interao e as normas e convenes da interao.

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    Dessa maneira, a adequao de um enunciado deve ser dupla, pois, de um lado,

    temos a adequao do significado e, do outro, a adequao da forma. A adequao do

    significado est relacionada com o grau em que as funes, atitudes ou ideias so

    prprias a uma situao dada. J a adequao da forma est relacionada com o

    registro de um contexto sociolingustico particular (CANALE, 1983).

    J a competncia discursiva refere-se ao domnio das regras que regem a coeso e a

    coerncia dos vrios tipos de discurso na segunda lngua. Ou seja, a correo no uso

    de pronomes, sinnimos, conjunes, substituio, repetio, marcao de

    congruncia e continuidade, assim como tpico, comentrio e sequncia. Ainda de

    acordo com Canale, a competncia discursiva refere-se combinao das formas e

    dos significados para se alcanar um discurso relacionado a diferentes gneros ou

    tipos de texto. Ou seja, um texto alcana unidade por meio da coeso de sua forma e

    da coerncia de seu significado.

    A competncia estratgica refere-se ao domnio da estratgia comunicativa na

    comunicao verbal e no verbal utilizada na segunda lngua para compensar

    deficincias na competncia gramatical e sociolingustica. Ou seja, essa estratgia

    refere-se s formas para melhorar a eficincia na comunicao. Essas estratgias

    podem ocorrer por meio da parfrase, das diferentes maneiras ao se dirigir a um

    interlocutor quando o falante no est seguro com relao posio social desse

    ltimo, da fala mais lenta com o objetivo de alcanar um efeito retrico, etc.

    A perspectiva de competncia para Saville- Troike

    Com um trabalho alinhado ao do etngrafo Dell Hymes, temos o da etngrafa

    Muriel Saville-Troike. Para esta autora, a competncia comunicativa deve ser

    considerada do ponto de vista do contexto de aprendizagem de uma segunda lngua ou

    uma lngua estrangeira. Assim, Saville-Troike (2005) divide a competncia

    comunicativa em trs tipos de conhecimento: conhecimento lingustico, conhecimento

    interacional e conhecimento cultural.

    Para Saville-Troike (2005) os traos lingusticos podem transmitir mensagens

    sociais assim como sentidos referenciais. Ou seja, a autora reconhece que variaes

    lingusticas carregam sentidos sociais e esses podem gerar srios problemas, at

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    mesmo para aprendizes com um domnio avanado da segunda lngua.

    O conhecimento interacional estaria relacionado ao conhecimento e s expectativas

    das normas e convenes sociais que precisariam ser dominadas pelo aprendiz.

    Falantes nativos da lngua Inglesa, por exemplo, sabem, em geral, como pedir um

    favor a algum que esteja em posio superior em termos de poder, assim como

    sabem comportar-se adequadamente com relao aos turnos conversacionais que

    devem ser seguidos numa conversa natural. Entretanto, aos aprendizes de uma

    segunda lngua lhes ensinada a construo de sentenas, a pronncia de palavras e o

    uso de vocabulrio explicitamente sem, no entanto, explicitar as habilidades

    interacionais que so necessrias para o fluxo da comunicao. Com isso,

    concordamos com a pesquisadora com relao necessidade de se desenvolver a

    habilidade interacional no aprendiz para que esse venha a alcanar a competncia

    comunicativa. Concordamos com a autora quando a mesma afirma que o

    conhecimento interacional de fundamental importncia para o aprendiz de uma

    segunda lngua. Assim, para a autora, sem o conhecimento interacional o aprendiz no

    saber fazer previses a respeito da situao em que a interao ocorre e, menos

    ainda, calibrar a varivel poder entre os participantes. Saville- Troike (2005) tambm

    nos apresenta de maneira bastante clara, a importncia da escolha entre os pronomes

    de tratamento para que a varivel poder seja levada em considerao e o falante no

    venha a colocar sua face em risco. Assim, de acordo com Saville- Troike (2005), a

    escolha do pronome tu versus vous em francs, du versus sie em alemo ou t versus

    usted em espanhol uma demonstrao de poder ou falta dele para o falante. Isto , o

    uso recproco de um desses pronomes revela uma simetria em termos de poder ou

    uma relativa posio dos participantes numa posio hierrquica social. O uso mtuo

    de T(familiar) indica proximidade ou solidariedade enquanto o uso do V (polidez)

    sinaliza distanciamento ou deferncia. J o uso assimtrico de pronomes de

    tratamento (um dos participantes dirige-se ao outro com T,4 enquanto o outro retorna

    o tratamento com V) sinaliza um status distinto entre os participantes, com o

    recebedor do tratamento V sendo reconhecido como possuidor de um poder maior.

    Dessa maneira, o uso recproco de T:T marcaria a conversa entre amigos, o uso de

    4 T indica o nome de um pronome de tratamento informal enquanto V indica

    um pronome de tratamento formal.

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    V:V marcaria, por exemplo, a conversa entre colegas que no apresentam uma

    intimidade e o tratamento assimtrico T:V indicaria a relao assimtrica em termos

    de poder. Ou seja, a relao professor-aluno, mdico-paciente, empregador-

    empregado, por exemplo, seria marcada pela relao powerful-powerless (mais

    poderoso- sem poder)(SAVILLE-TROIKE, 2005,p. 250-251).

    Para o desenvolvimento da habilidade interacional apresentada por Saville-Troike,

    acreditamos tambm que profundas mudanas seriam necessrias no ensino de lnguas

    estrangeiras. Por isso, concordamos com a pesquisadora com relao ao tipo de ensino

    que se oferece na aula de lngua estrangeira. Um bom exemplo da maneira que muitos

    professores de lngua inglesa atuam a modo com que muitos deles ensinam o

    auxiliar "Do", por exemplo. comum professores ensinarem o auxiliar "Do" dessa

    forma:

    Professor: Do you have a pen? Alunos: Yes, I do. Uma interao como essa levaria,

    muito provavelmente, um falante nativo ao riso, visto que a resposta mais adequada

    est em se oferecer o objeto que se est pedindo. Ou seja, no se ensina muitas vezes

    aquilo que adequado interacionalmente e, sim, a estrutura da lngua. Percebe-se,

    ento, que o uso real da lngua no explicitado para o locutor aprendiz levando-o a

    comportar-se inadequadamente em uma simples interao como a apresentada acima.

    J conhecimento cultural aquele que est ligado a uma comunidade de fala e aos

    valores e atitudes relacionados ao uso da lngua. Um falante da lngua inglesa, por

    exemplo, sabe como se dirigir apropriadamente a homens, mulheres, crianas e

    pessoas com um nvel educacional superior ou inferior. J os aprendizes de uma

    segunda lngua, podem, muitas vezes, fracassar em sua tentativa de se comunicar. O

    resultado dessa inabilidade em comportar-se adequadamente pode levar os aprendizes

    a sentirem-se ridicularizados ou, ainda, em terem ofendido seu interlocutor por no

    terem desenvolvido mecanismos adequados de identificao social (SAVILLE-

    TROIKE, 2005).

    Quando falamos de competncia comunicativa, buscamos enfatizar todo aquele

    conhecimento que se espera de um aprendiz e que no esteja limitado ao

    conhecimento gramatical da lngua alvo. Assim, parte da competncia comunicativa,

    por exemplo, est em parecer "incompetente" na lngua alvo por parte do aprendiz

    quando a situao assim exigir. Sabemos que em muitos casos no devemos nos

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    assemelhar linguisticamente a um falante nativo, pois, se demonstrarmos grande

    domnio morfossinttico da lngua alvo, nossa imperfeio em certas situaes sociais

    no ser tolerada (SAVILLE-TROIKE, 2005).

    Sabemos que a competncia lingustica na segunda lngua difere da primeira lngua

    e que tambm mais limitada quando se considera o nmero de situaes sociais em

    que ela ser utilizada e/ou aprendida. Consideramos, assim, que a competncia

    lingustica pode ser separada em dois grandes grupos que diferem internamente em

    vrias caractersticas, sendo eles: competncia acadmica e competncia interpessoal.

    A competncia acadmica inclui o conhecimento necessrio para que o aprendiz

    utilize a segunda lngua como meio para a aprendizagem de outros assuntos ou como

    uma ferramenta em seu campo de estudo. Para esses aprendizes o objetivo principal

    deve ser a aquisio de vocabulrio especfico de sua rea e em desenvolver o

    conhecimento que os capacite a ler com fluncia. Alm disso, se esses aprendizes

    estiverem em sua rea de estudo e o conhecimento for transmitido atravs da segunda

    lngua, eles ainda precisaro desenvolver, alm do conhecimento do vocabulrio, a

    habilidade para ler. Esses aprendizes tambm precisaro desenvolver o processamento

    oral para poder participar de palestras e discusses em classe e, muitos deles,

    precisaro desenvolver a escrita para, com isso, realizar atividades escritas

    (SAVILLE-TROIKE, 2006,p.136).

    A competncia interpessoal refere-se ao conhecimento necessrio para aquele

    aprendiz que planeja utilizar a segunda lngua principalmente no contato direto,

    pessoal, com a lngua alvo. Nesse tipo de competncia o conhecimento do vocabulrio

    da lngua alvo o conhecimento mais importante a ser adquirido e esse vocabulrio

    difere enormemente daquele utilizado no canal escrito. Dessa maneira, o vocabulrio

    a ser acessado deve ser utilizado em contextos interpessoais sem a vantagem de poder

    ser revisado previamente como no canal escrito. Assim, o aprendiz precisar utilizar-

    se de estratgias para esclarecer e negociar o sentido em uma interao verbal.

    As diferenas existentes entre essas duas competncias (competncia acadmica

    versus competncia interpessoal) faz com que as exigncias institucionais e as

    expectativas por parte do professor sejam diferentes para essas duas modalidades. Ou

    seja, na modalidade acadmica o foco ser a habilidade de leitura e escrita enquanto

    na competncia interpessoal ser a modalidade oral e auditiva as habilidades mais

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    importantes a serem desenvolvidas. O problema que se observa nessas duas

    competncias que os aprendizes universitrios da lngua Inglesa precisam, na

    maioria dos casos, desenvolver as habilidades presentes nas duas competncias e

    como o tempo ofertado pelas instituies relativamente curto, quando pensamos

    numa formao slida, os aprendizes acabam por no desenvolver de maneira

    competente todas as habilidades.

    Apresentaremos, nesse momento, quais so os componentes presentes no

    conhecimento de uma lngua que precisam ser desenvolvidos para que o aprendiz

    apresente um comportamento lingustico adequado, sendo eles: vocabulrio,

    morfologia, fonologia, sintaxe e discurso.

    necessrio registrar que at mesmo um falante nativo com um alto nvel de

    conhecimento lingustico no apresenta um domnio completo de todos os recursos

    dentro de uma comunidade de fala e, assim, a expectativa de apresentar um domnio

    completo em todas as habilidades no pode ser exigida dos aprendizes. Ou seja, o

    domnio completo de todos os componentes presentes na lngua algo irreal.

    O vocabulrio, como j afirmado anteriormente, o nvel de conhecimento da

    segunda lngua que precisa ser desenvolvido por todos os aprendizes, seja para o

    desenvolvimento da competncia acadmica ou da competncia interpessoal. Quando

    pensamos no vocabulrio que um aprendiz com domnio avanado precisa apresentar

    para dominar certos conceitos que j domina na sua lngua materna no haver grande

    dificuldade visto que muitos termos cientficos e tecnolgicos, por exemplo, tendem a

    ser emprestados de uma lngua em comum. Entretanto, a semelhana entre termos

    utilizados na primeira e na segunda lngua ser mais prxima entre lnguas como o

    ingls e o francs, por exemplo, do que entre o Ingls e o chins. J o vocabulrio e as

    expresses utilizadas no dia a dia dificilmente so parecidas em lnguas que no sejam

    prximas entre si. Sabemos, tambm, que o domnio do vocabulrio apresentado por

    um aprendiz inicia-se, primeiramente, com o reconhecimento das palavras que o

    aprendiz v ou ouve. Essas palavras so utilizadas inicialmente em contextos

    limitados para s aps algum tempo serem utilizadas com maior propriedade. Alm

    disso, os aprendizes podem nunca vir a dominar por completo as palavras que no

    faam parte de seu repertrio produtivo. Precisamos registrar, ainda, o uso efetivo do

    contexto para a aprendizagem de vocabulrio a ser desenvolvido pelos seguintes tipos

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    de conhecimento:

    a) Conhecimento lingustico- informao sinttica; limitaes nos possveis sentidos

    das palavras; padres na estrutura da palavra; e sentidos de palavras prximas;

    b) Conhecimento de mundo- entendimento dos conceitos que as palavras representam;

    familiaridade com quadros conceituais relacionados; conhecimento das relaes

    sociais;

    c) Conhecimento estratgico- controle sobre os recursos cognitivos (NAGY, 1997

    apud SAVILLE-TROIKE, 2006,p.141).

    Outro aspecto a ser considerado no desenvolvimento da competncia pragmtica

    a morfologia e esse elemento da lngua pode ser bastante importante para o

    desenvolvimento do vocabulrio, assim como da preciso gramatical. No ingls,

    como em muitas outras lnguas, o conhecimento da morfologia da lngua pode levar o

    aprendiz a expandir o domnio do vocabulrio. Ou seja, os sufixos podem converter

    adjetivos em verbos ou substantivos, verbos em substantivos, substantivos em

    adjetivos ou verbos e, ainda, adjetivos em advrbios. Outro aspecto importante no

    aprendizado da segunda lngua que, mesmo aps anos de estudo, muitos aprendizes

    ainda apresentam dificuldade na morfologia flexional (tempo, modo, nmero e

    gnero) visto que em contextos reais de uso da segunda lngua a informao contida

    nessas partes das palavras so, de certo modo, redundantes. Em outras palavras, certas

    flexes no so essenciais para a interpretao de sentido de uma sentena. Um

    exemplo da falta de necessidade de se fazer uso de uma parte da morfologia flexional

    o fato da lngua chinesa no utilizar-se de grande parte das flexes presentes em

    lnguas como o ingls e o portugus.

    Com relao ao desenvolvimento do sistema fonolgico na segunda lngua,

    podemos afirmar que este tem recebido menos nfase na segunda metade do sculo

    XX, quando comparado ao incio do sculo passado. Com o surgimento da hiptese

    do "Perodo Crtico" (KRASHEN, 1985), os aprendizes que tivessem passado da

    puberdade seriam incapazes de alcanar um nvel de pronncia semelhante ao de um

    falante nativo. Sabemos, contudo, que o domnio do sistema fonolgico ainda

    exigido como um dos componentes da competncia acadmica, especialmente para

    aqueles estudantes e/ou pesquisadores que utilizam a segunda lngua para ensinar

    outras pessoas ou que participam oralmente em conferncias. J como um

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    componente da competncia interpessoal, o domnio da percepo fonolgica e a

    produo oral compreensvel fundamental para a linguagem oral. Um ponto

    importante a ser destacado com relao ao domnio fonolgico que o sotaque tido

    como "estrangeiro" uma caracterstica previsvel na fala do falante aprendiz. Em

    certos momentos, ainda, a falta de domnio por parte do aprendiz algo esperado e o

    domnio extremamente aprofundado da segunda lngua pelo aprendiz pode levar o

    falante nativo ao desconforto e/ou desconfiana. Ou seja, o domnio aprofundado

    dessa habilidade pode levar o locutor-aprendiz a ser percebido como algum

    "mascarado" por no carregar marcas perceptveis de sua primeira lngua (SAVILLE-

    TROIKE, 2006, p. 143).

    De acordo com Haugen (1956), a percepo e a produo da segunda lngua

    tambm filtrada pelo sistema fonolgico da primeira lngua e a possvel incongruncia

    entre o sistema fonolgico da lngua materna e da lngua alvo pode ser prevista. Ou

    seja, onde no houver uma distino entre dois sons na lngua materna e na segunda

    lngua, essa distino leva construo de duas palavras distintas e o falante

    apresentar dificuldade na percepo e produo desses sons. Um falante de lngua

    portuguesa como primeira lngua, por exemplo, tender a pronunciar a palavra red

    com o som de um "r" aspirado j que esse som o mais frequente em incio de

    palavras na lngua portuguesa. Essa pronncia levar um falante nativo da lngua

    inglesa a acreditar que o aprendiz, em muitos casos, tenha tentando dizer "head". Em

    muitos casos o contexto ajudar o falante nativo a fazer a deduo correta da inteno

    do locutor aprendiz, em outros casos, no. J os novos fonemas aprendidos na

    segunda lngua sero percebidos com traos pertencentes primeira lngua gerando o

    chamado sotaque "estrangeiro".

    Um elemento importante na competncia acadmica que ela exige, por parte do

    locutor aprendiz, o processamento de sentenas mais longas e complexas. Alm disso,

    as construes passivas ocorrem de maneira mais evidente no discurso escrito para

    que com isso se possa tirar do foco da ao o(s) agente(s) ou ainda omiti-lo(s). Por

    meio dessas estratgias se alcana um discurso onde a nfase recai sobre o estado da

    ao, ao invs de recair sobre a ao. Uma estratgia utilizada no ingls para a

    realizao de sentenas mais impessoais ocorre por meio do uso da nominalizao

    onde sentenas inteiras so transformadas como em: " Edison invented the

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    phonograph por " Edisons invention of the phonograph" (SAVILLE-TROIKE, 2006,

    p.149).

    Por outro lado, as estruturas gramaticais utilizadas na competncia interpessoal

    tendem a ser mais simples e curtas. Em geral, elas no so sentenas completas, mas

    fragmentos como: "ok; right; me too". Sabemos tambm que a linguagem utilizada

    para propsitos afetivos frequentemente serve para expressar o ponto de vista do

    falante ao invs de transmitir uma informao referencial. Ou seja, essa diferena

    funcional responsvel pela alta frequncia de construes verbais como "is going to;

    is supposed to; needs to..."E, ainda, verbos como" know, think, say" (SAVILLE-

    TROIKE, 2006,p. 145).

    A competncia acadmica, assim como a competncia interpessoal, envolve

    categorias convencionalizadas e tipos de discurso, chamados gneros.

    Apresentaremos mais detalhadamente o conceito de gnero que estamos utilizando

    nesse trabalho no tpico "Discurso escrito".

    De acordo com Ellis (1997), o desenvolvimento da habilidade no uso de elementos

    discursivos na segunda lngua diferente de outros elementos da interlngua. Assim, o

    desenvolvimento na habilidade discursiva acontece gradualmente e sistematicamente

    e vrios erros na produo escrita podem ser atribudos tanto transferncia do

    conhecimento da primeira lngua no uso da segunda lngua como, ainda, a padres

    desenvolvimentais nessa ltima.

    Quando o contexto em questo o desenvolvimento da competncia acadmica, a

    habilidade escrita a habilidade mais importante a ser desenvolvida. A escrita

    tambm um dos meios mais utilizados at por aquelas instituies que avaliam a

    competncia oral como um requisito para o ingresso do aprendiz. Esses aprendizes

    precisaro apresentar um alto nvel de proficincia escrita para o acesso a tais

    instituies. Alm disso, fora do ambiente acadmico, muitos profissionais necessitam

    apresentar um domnio avanado da segunda lngua para propsitos como: redigir

    correspondncia formal, preparao de textos, relatrios, ou ainda, preparao de

    material escrito em um ambiente multilngue onde a lngua franca seja o ingls.

    Outro aspecto importante a ser considerado na competncia acadmica na modalidade

    escrita o fato de essa habilidade exigir do locutor aprendiz o uso mximo de sua

    habilidade lingustica, visto que ele no ter a seu favor a comunicao verbal. Alm

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    disso, o escritor no ter o ouvinte para preencher as lacunas e/ou o feedback pelo uso

    ineficiente da segunda lngua (SAVILLE-TROIKE, 2006, p. 164).

    Afirmamos anteriormente que a modalidade escrita necessita de uma interao com

    outros domnios da linguagem para que se alcance a competncia comunicativa, sendo

    esses domnios:

    a) Conhecimento do contedo; a formulao de conceitos mentais.

    b)Conhecimento do contexto; o reconhecimento de qual contedo ser relevante para

    os leitores pretendidos, assim como, com o estabelecimento de conhecimento comum

    e conhecimento novo.

    c) Conhecimento cultural; a construo de textos dentro de convenes socialmente

    definidas, incluindo nesse ponto a seleo de formas lingusticas e os padres

    organizacionais apropriados para o tpico, objetivo e pblico.

    Tendo apresentado os elementos que precisam estar presentes no processo de

    ensino-aprendizagem da segunda lngua para que o aprendiz seja considerado um

    locutor competente, pretendemos apresentar nesse momento algumas caractersticas

    relevantes para o entendimento da aprendizagem pragmtica. Nesse sentido,

    consideraremos o locutor aprendiz como algum que se utiliza de seu conhecimento

    na lngua materna para fazer previses na lngua alvo e isso afeta a maneira pela qual

    o falante nativo da lngua alvo ir perceber o locutor aprendiz.

    Transferncia pragmtica

    A transferncia de conhecimento da primeira lngua para a aprendizagem da

    segunda lngua um processo natural e reflete aspectos de vrios elementos da lngua.

    De acordo com Koike (1989), os locutores aprendizes transferem o conhecimento

    pragmtico da primeira lngua para a segunda lngua na tentativa de produzir

    sentenas pragmaticamente adequadas. Alm disso, quando os locutores aprendizes

    percebem que o ato de fala que eles precisam realizar em uma situao dada est alm

    de seu nvel atual de competncia, eles buscam empregar estratgias menos

    apropriadas e mais simples em termos sintticos. H, assim, uma mudana de

    estratgia. De acordo com Kasper (1997) a instruo pragmtica em sala de aula

    parece ser necessria para que se alcance esse conhecimento.

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    Ainda de acordo com Kasper (1992, p.203) a pragmtica interlinguistica pode ser

    compreendida como um ramo de pesquisa da segunda lngua que estuda como os

    falantes no nativos entendem e realizam uma ao lingustica na lngua alvo e como

    eles adquirem o conhecimento pragmtico na segunda lngua. Nesse sentido, a

    pragmtica interlingustica estuda o uso da linguagem em duas direes: a produo e

    o uso. H, assim, um preocupao em compreender a fala do aprendiz e o processo

    de aquisio de categorias pragmticas na lngua alvo. Para essa autora a transferncia

    pragmtica refere-se a influncia da conhecimento pragmtico prvio do locutor

    aprendiz no uso e aquisio do conhecimento pragmtico na lngua alvo.

    A transferncia pragmtica tem sido definida como: the use of L1 pragmatic

    knowledge to understand or carry out linguistic action in the L25

    (KASPER,1997,p.119).

    Para Thomas (1983), a aprendizagem da lngua em si e da cultura no podem seguir

    separadamente, pois, apesar da descrio terica necessitar, muitas vezes, dessa

    separao, o ensino da segunda lngua no poder seguir esses moldes sem deixar de

    lado algo irrecupervel. Ou seja, o aprendiz no desenvolver sua competncia

    pragmtica.

    Com uma viso pragmtica de ensino de lngua estrangeira, no podemos separar a

    aprendizagem da lngua da aprendizagem da cultura da lngua alvo.

    O diagrama abaixo nos ajudar a compreender melhor a transferncia pragmtica

    na pragmtica interlingustica

    Pragmtica

    lngua cultura

    5 o uso de conhecimento pragmtico da primeira lngua para entender e realizar

    aes lingusticas na segunda lngua.

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    pragmaticalingustica sociopragmtica

    (meios lingusticos para (comportamento lingustico socialmente demonstrar

    a fora ilocucionria adequado)

    e os valores de polidez)

    Diagrama baseado em Leech (1988) e Thomas (1983).

    Concluses

    Como professores de lngua inglesa, nosso papel tambm o de salientar certas

    diferenas culturais que se apresentem relevantes para o uso da lngua alvo. O

    objetivo, no entanto, no o de apresentar a cultura da lngua alvo como pior ou

    melhor e, sim, apresentar diferentes maneiras de comportamento social. Schmidt

    (1993) aponta para a necessidade em desenvolver a ateno pragmalingustica e a

    sociopragmtica para que a aprendizagem pragmtica ocorra. Assim, o

    desenvolvimento da conscincia lingustica na lngua alvo, como o reconhecimento de

    diferena sociopragmtica, fundamental. Nesse sentido, o desenvolvimento

    sociopragmtico do locutor aprendiz poderia ocorrer por meio da informao

    metapragmtica com exemplos reais do comportamento de falantes nativos. Alm

    disso, a dificuldade em eleger qual competncia se pretende desenvolver no aprendiz

    de lngua estrangeira ( competncia acadmica X competncia interpessoal) tem

    levado muitas instituies assim como aprendizes a experimentar o fracasso na

    aprendizagem-aquisio da lngua alvo. Ou seja, como se busca o desenvolvimento da

    competncia comunicativa no aprendiz sem, muitas vezes, se considerar o tempo

    necessrio para o desenvolvimento de uma ampla gama de habilidades, a maioria

    dessas habilidades acabar por no ser desenvolvida satisfatoriamente. Metas mais

    realistas e um conhecimento mais aprofundado sobre as habilidades a serem

    desenvolvidas -quando se almeja a formao de aprendizes linguisticamente

    competentes- faz-se necessria para que possamos ver um maior nmero de

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    aprendizes bem sucedidos aps anos de estudos.

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