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Monografia Diversificação Alimentar e Implicações no Desenvolvimento da Criança Complementary feeding and Implications on children´s developing Ana Carolina Oliveira Fontes Orientado por: Dulce Lemos Porto, 2009

Complementary feeding and Implications on children´s … · 2013-07-30 · 6- Desvantagens de uma incorrecta Alimentação Complementar…………… ... A importância do Aleitamento

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Monografia

Diversificação Alimentar e Implicações no

Desenvolvimento da Criança

Complementary feeding and Implications on children´s

developing

Ana Carolina Oliveira Fontes

Orientado por: Dulce Lemos

Porto, 2009

2

Índice

_Toc183611703

Lista de Abreviaturas…………………………………………………………………….3

Resumo em Português e Inglês………………………………………………………..4

Palavras-Chave em Português e Inglês……………………………………………….4

Introdução…………………………………………………………………………………5

1- Importância do Aleitamento Materno………………………………………………..7

2- Características fisiológicas e metabólicas do lactente……………………………9

3- Recomendações da OMS/UNICEF………………………………………………..10

4- Alimentação Complementar………………………………………………………...10

5- Fórmulas Infantis…………………………………………………………………….13

6- Desvantagens de uma incorrecta Alimentação Complementar………………..15

6.1- Desnutrição………………………………………………………………………...16

6.2- Doença Celíaca………………………………………………………………...….16

6.3- Diabetes Mellitus tipo 1……………………………………………………..…….17

6.4- Obesidade………………………………………………………………………….18

6.5- Infecção………………………………………………………………………….....19

6.6- Alergias e intolerâncias alimentares………………….………………………..20

6.7- Anemia por deficiência de ferro…………………………………………………22

6.8 - Doença Cardiovascular………………………………………………………….24

7- Suplementação……………………………………………………………….……..23

8- Análise Crítica………………………………………………………………….……26

9- Conclusão……………………………………………………………….…………..27

Referências Bibliográficas…………………………………………………….……....29

3

Lista de Abreviaturas

AA – Ácido Araquidónico

AAP – Academia Americana de Pediatria

AC – Alimentação Complementar

AD – Alimentação Diversificada

AM – Aleitamento Materno

DC – Doença Celíaca

DCV – Doença Cardiovascular

DHA – Ácido Docosahexanoico

DM1 – Diabetes Mellitus Tipo 1

ESPGHAN – European Society for Pediatric, Gastroenterelogy, Hepatology and

Nutrition

FI – Fórmulas Infantis

IMC – Índice de Massa Corporal

LC-PUFAs – Ácidos Gordos Polinsaturados de Cadeia Longa

LM – Leite Materno

LV – Leite de Vaca

OMS – Organização Mundial de Saúde

UE – União Europeia

UNICEF – United Nations Children’s Fund

4

RESUMO

Quando a criança começa alimentar-se de outros alimentos para além de leite

materno ou fórmula, começa a despertar novos domínios pois esta é uma etapa

de exploração e descoberta. Esta é uma fase de extrema importância já que é o

primeiro contacto com os alimentos. Existem regras para uma adequada

alimentação complementar, regras essas fundamentais para o desenvolvimento, a

maturação da criança e para garantir um estado saudável.

Este trabalho tenta perceber se realmente esta fase tão importante da vida da

criança vai ter repercussões mais tarde, ou seja, na adolescência e na vida adula.

Palavras-Chave: Alimentação complementar, diversificação alimentar,

aleitamento materno.

ABSTRACT

When the children start to feeding with another foods beyond exclusive breast-

feeding or infant formula, starts to evoke news domains whereas this is a period of

exploration and innovation. This is an extremely important phase because is the

first contact with foods. There are some rules for the convenient complementary

feeding, which are crucial for the development, maturation of the child and that

guaranties a healthy shape.

This works try to understand if this important phase of children’s life will have late

repercussion, in the adolescence and later life.

Key-words: Complementary feeding, Solid foods, Breast-feeding.

5

INTRODUÇÃO

Uma alimentação adequada durante os primeiros meses de vida é fundamental

para um correcto desenvolvimento e crescimento do recém-nascido 1,2. Esta

fase é importante para que a criança se possa desenvolver de forma saudável.

Existem estudos que comprovam que esta é uma idade crítica para prevenir

deficiências em micronutrientes e doenças que tradicionalmente ocorrem

durante a infância, e que poderão ter consequências a longo prazo 1.

O alimento ideal para o recém-nascido é o leite da mãe 1,2,44. No século XXI

cada vez mais as crianças são alimentadas por fórmulas infantis (FI) em vez do

leite materno (LM). São muitas as razões que impedem a mãe de amamentar,

como o stress, a falta de informação e a doença crónica. Este é um factor

importante, pois além do do vínculo mãe-filho, este é o alimento ideal para a

criança durante os primeiros meses de vida 3,4,5. Quando não é possível o

aleitamento materno (AM), usam-se FI. Hoje em dia, a indústria tenta aproximar

o mais possível a composição das fórmulas para lactentes do leite materno

(LM). Estes leites são preparações à base de proteínas do leite de vaca (LV) e

por isso o seu teor proteico, bem como o perfil lipídico é diferente do leite da

mulher, no entanto respeita as recomendações da UE, estando dentro dos

limites permitidos relativamente à composição em macro e micronutrientes 6.

A partir de uma certa altura, o LM ou FI não é suficiente do ponto de vista

nutricional para as necessidades do lactente 6. Para além disso, torna-se

necessário para a maturação do aparelho digestivo, a introdução de novos

alimentos 7. E aqui, há que ter em conta o aparelho digestivo ainda imaturo do

6

lactente, e daí a grande importância do tipo de alimentos a dar primeiramente e

a sua consistência1.

A diversificação alimentar (DA), alimentação complementar (AC) ou beikost 51

constitui a introdução de novos alimentos na alimentação da criança, quando

esta passa de uma alimentação exclusivamente láctea (LM ou FI) para uma

alimentação constituída por alimentos semi-sólidos, como as papas e

posteriormente sólidos, quando o lactente possui a capacidade de mastigar, até

à integração na dieta familiar 2,8. Quando são introduzidos alimentos impróprios

para a criança é possível que a sua alimentação fique comprometida. Há que

ter em conta um organismo ainda imaturo, assim como a menor produção das

enzimas necessárias para a digestão dos alimentos. Por isso é importante o

tipo de alimentos a dar ao bebé de início, pois estes podem, por exemplo,

agredir a flora intestinal ou causar vómitos 7.

Esta fase revela grande importância já que o lactente vai desenvolver a

mastigação, a deglutição e conhecer os diferentes sabores, é uma fase de

exploração 9.

É muito comum, nos dias de hoje, a ausência de AM ou a sua interrupção

precoce, bem como a introdução de outros alimentos na dieta do lactente antes

dos 4 meses de vida 3. Isto traz consequências para a saúde, prejudicando a

digestão e a assimilação dos nutrientes, reflectindo-se no crescimento e

desenvolvimento do lactente 7.

A introdução da AC é fundamental a nível do desenvolvimento da criança e

para um bom estado a nível nutricional.

7

1. A importância do Aleitamento materno

Organizações internacionais e associações científicas como a Organização

Mundial de Saúde (OMS), a European Society for Pediatric, Gastroenterelogy,

Hepatology and Nutrition (ESPGHAN) e a Academia Americana de Pediatria

(AAP), apontam que nos primeiros meses de vida a alimentação do recém-

nascido deve ser exclusivamente constituída por LM. Na impossibilidade de

poder amamentar, utilizam-se FI em substituição do LM.

De uma forma geral, as FI apresentam maior teor proteico e energético que o

LM, e desta forma podem ser uma das causas desencadeantes da obesidade

infantil 10.

Apesar de controversa, existe uma associação entre a duração do AM e a

redução de doenças crónicas na infância, redução da obesidade e melhores

efeitos cognitivos 1.

Um estudo feito no Reino Unido revelou que as crianças alimentadas com FI,

dos 0 aos 6 meses de idade, ganharam mais peso, comprimento e adiposidade

do que aqueles alimentados com LM. E quanto mais tempo forem alimentados

com LM, mais lento será o ganho de adiposidade 11.

Alguns autores associam a idade, a escolaridade e o grau socioeconómico da

mãe como factores que condicionam o AM. É o caso das mães adolescentes,

que não têm muitas vezes a noção da sua importância e sentem-se inseguras

em promover a alimentação do seu filho. Mães com maior grau de instrução

amamentam por mais tempo, talvez por terem maior acesso à informação das

vantagens do aleitamento materno 3. Vários estudos nos países desenvolvidos,

dão conta que as crianças que não são alimentadas com LM têm mais

8

hipóteses de morrer no inicio da vida (seis a dez vezes mais) do que aquelas

que são amamentadas 2,12.

Um estudo defende que as crianças alimentadas com FI apresentam maior

risco, cerca de um terço, de morrer por pneumonia e diarreia. Os benefícios do

AM não são apenas para a criança mas também para a mãe, ajudando-a a

alcançar o peso anterior à gravidez, a prevenir uma próxima gravidez nos

primeiros meses após o parto, bem como a diminuir o risco de desenvolver

cancro do peito e do ovário 2.

Sendo o alimento ideal nesta idade, o LM para além dos nutrientes essenciais,

hidratos de carbono, proteínas, gordura, vitaminas, minerais e água, nas

quantidades óptimas, possui elementos importantes para o sistema imunitário,

promovendo protecção contra a infecção. Este benefício imunológico existe

graças à acção das imunoglobulinas, principalmente a secretora,

Imunoglobulina A, os glóbulos brancos que defendem o organismo contra

microrganismos patogénicos, à lisozima e à lactoferrina importantes na

destruição de bactérias, vírus e fungos, a oligossacarídeos que protegem a

mucosa intestinal de bactérias patogénicas. O LM possui ainda factores

bioactivos importantes na digestão, como a lipase, factores de crescimento que

ajudam na maturação do intestino. Durante os primeiros dias após o parto, a

mulher produz um “leite especial” amarelado e gorduroso, chamado colostro

muito rico em vitaminas lipossolúveis (A, E e K), IgA, importantes contra

agentes infecciosos 2.

O AM é recomendado também ao longo da introdução de AC. Ao contrário das

FI, cuja composição não varia, o LM apresenta variações ao longo do dia, quer

9

da composição, do cheiro e aroma o que poderá melhorar a aceitabilidade por

parte do lactente do consumo de outros alimentos13.

Contudo, o leite materno é pobre em alguns nutrientes, nomeadamente ferro e

zinco. Num estudo, Yang et al defende que as crianças cuja alimentação seja

exclusivamente constituída por leite materno, até ao sexto mês de vida,

apresentam maior risco de deficiência em ferro. Concluiu ainda que crianças

com um peso à nascença maior que 2500g, têm pouca probabilidade de

apresentarem anemia por deficiência em ferro antes dos 6 meses de idade. No

entanto, crianças com peso à nascença de 2500 a 3000g apresentam maior

risco de deficiência de ferro e de desenvolver anemia 14.

2. Características fisiológicas e metabólicas do lactente

Durante os primeiros anos de vida ocorre no lactente, um processo de

maturação de sistemas e órgãos e por isso, uma incorrecta introdução de

alimentos poderá prejudicá-lo, quer por excesso ou deficiência de nutrientes,

podendo desenvolver problemas seja na infância ou até posteriormente na

idade adulta 15.

É importante que a alimentação seja adequada e fisiologicamente adaptada ao

lactente, tendo em conta que estas particularidades anatómicas e funcionais do

tracto gastrointestinal podem prejudicar na digestão e assimilação dos

nutrientes pelo organismo da criança. O lactente, nos primeiros meses de vida,

apresenta um aparelho digestivo imaturo, levando-o muitas vezes a episódios

de vómito e regurgitações, pelo facto da ligação entre o esófago e estômago

constituir uma larga abertura que se fecha de modo fraco 7. As glândulas

salivares produzem ainda pouca saliva e a camada muscular do estômago

10

ainda se encontra insuficientemente desenvolvida. Estando portanto mais

vulnerável a infecções gastrointestinais e a contaminantes 2. Aos 4 meses as

crianças já se podem sentar e possuem um adequado controlo neuromuscular

do pescoço e tronco 7.

3. Recomendações da OMS e UNICEF:

Em 2002, a OMS e a United Nations Children’s Fund (UNICEF) propuseram

uma “estratégia global” para a prática de uma alimentação saudável na

infância:

-AM exclusivo até ao sexto mês;

-Introdução de alimentação complementar, nutricionalmente adequada,

juntamente com AM até ou além dos 2 anos de idade 2.

4. Alimentação Complementar

Uma alimentação complementar (AC) traduz-se na introdução de alimentos

para além do LM ou fórmula 45. A partir dos 6 meses de idade, o leite (LM ou

FI) tornam-se insuficientes para suprir as necessidades do bebé. O LM é

insuficiente em energia, proteínas, em alguns minerais, como o ferro e o zinco

e algumas vitaminas lipossolúveis (A e D) 8.

Nesta idade, o sistema digestivo da criança já se encontra maduro o suficiente

para digerir amido, gordura e proteínas. Até aos 9 meses tolera bem as papas

(alimentos semi-sólidos).

No entanto, o LM deve permanecer na dieta da criança, sempre que possível

até depois dos 2 anos. Este leite fornece metade das necessidades de energia

11

entre os 6 e os 12 meses e um terço dos 12 aos 24 meses. Continua com a

mesma qualidade que lhe é característica, ou seja, fornece à criança uma

maior qualidade de nutrientes que os alimentos complementares e possui

factores de protecção contra infecção 15.

A OMS e a Pan American Health Organization (PAHO) publicaram em 2003

orientações para a introdução AC na alimentação da criança, onde separam as

recomendações para crianças alimentadas com LM e crianças alimentadas

com FI. As concentrações em alguns nutrientes são maiores nas fórmulas

infantis que no leite materno, como o zinco, o ferro e as proteínas. No entanto a

ESPGHAN considera que tal divisão pode causar confusão 8.

Existe uma série de cuidados a ter na introdução da AC. Práticas de higiene,

na preparação dos alimentos são factores importantes para garantir à criança

uma alimentação desprovida de contaminantes. Nesta altura, entre os 6 e os

12 meses é muito comum o aparecimento de diarreia, sendo muitas vezes

causada pela contaminação dos alimentos da AC. Uma correcta preparação e

armazenamento dos alimentos podem prevenir a contaminação 2.

Outro factor importante prende-se com o tipo e a quantidade de alimentos a

dar à criança, sendo que muitas vezes estes não são adequados em termos

nutricionais e/ou não são dados no tempo correcto. Deve-se aumentar a

consistência e variedade dos alimentos gradualmente.

Quanto às necessidades energéticas provenientes da AC, deve-se ter em

conta a quantidade de leite materno que a criança costuma ingerir. Em média,

nos países desenvolvidos, a quantidade de energia proveniente do leite

materno é de aproximadamente: 486 Kcal/ dia, dos 6 aos 8 meses, 375

kcal/dia, dos 9 aos 11 meses, 313 kcal/dia, dos 12 aos 23 meses. Assim, tendo

12

em conta as necessidades energéticas totais da criança (615 kcal/d – 6 a 8

meses; 686 kcal/d. 9 a 11 meses; 894 kcal/dia – 12-23 meses), subtrai-se a

energia proveniente do leite materno para poder obter a energia necessária

para AC. As necessidades energéticas para crianças alimentadas com LM, nos

países desenvolvidos, são de aproximadamente 130 kcal/dia dos 6 aos 8

meses, 310 kcal/dia dos 9 aos 11 meses e 580 kcal/dia dos 12 aos 23 meses 1.

Um factor importante na AC prende-se com o número de refeições que a

criança deve ingerir por dia. Aqui há que ter em consideração a densidade dos

alimentos já que, se os alimentos forem de baixa densidade energética (menos

que 0,8 kcal/d), a criança poderá não alcançar as suas necessidades

energéticas, tendo em conta o pequeno volume do estômago da criança

pequena (30-40 ml/kg de peso) 9. Poderá também diminuir com a ingestão do

aleitamento materno, o que não é aconselhável, por isso, terá de aumentar o

número de refeições por dia para suprir com as necessidades energéticas 1. No

entanto a ESPGHAN alerta para o risco de desenvolver excesso de peso na

infância, se o consumo de alimentos energeticamente densos for elevado,

recomendando que a ingestão energética não deve estar acima dos 25% 8.

Em média, o número de refeições de AC que uma criança deve fazer por dia,

deve ser de 2 a 3, dos 6 aos 8 meses; 3 a 4, dos 9 aos 11 meses e 3 a 4 dos

12 aos 23 meses, com mais 2 “snacks” como fruta ou um pedaço de pão,

devem ser dados entre as refeições.

Para além dos benefícios mencionados anteriormente, a AC é necessária para

suprir a necessidade em micronutrientes, como o ferro e o zinco, que nesta

altura estão insuficientes no LM. Carne, aves, peixe ou ovos (gema) devem

estar presentes diariamente na alimentação da criança, para além de

13

equivalentes do leite, por serem uma óptima fonte de proteínas de alto valor

biológico.

Por outro lado, alimentos com elevado risco alérgico, como o leite de vaca (LV)

são contra-indicados antes do primeiro ano de vida 8.

Outros alimentos com maior risco de causar alergia alimentar a clara do ovo,

peixe, nozes e marisco devem ser dados o mais tarde possível de forma a

evitar alergia alimentar. Fontes de vitamina A como as frutas, devem ser

consumidas diariamente 1.

As dietas vegetarianas são desaconselhadas nestas crianças já que não

cobrem as necessidades em nutrientes essenciais, podendo causar

deficiências nutricionais, levando a atraso no crescimento, um desenvolvimento

psicomotor mais lento, pelo baixo teor em energia, proteínas, vitamina B12,

vitamina D, cálcio e riboflavina. O mesmo acontece para o seu leite, se a mãe

estiver a fazer uma dieta vegetariana e não tomar suplementos, e se a criança

estiver com uma dieta que não inclua alimentos de origem animal, este pode

ter problemas de desenvolvimento, pois o leite não possui quantidades

suficientes de nutrientes essenciais 8.

5. Fórmulas infantis

Algumas crianças não podem beneficiar da AM. A OMS e a UNICEF

desenvolveram recentemente uma actualização, das razões médicas aceitáveis

para substituir o LM. Como foi dito anteriormente, a amamentação durante os

primeiros meses de vida (6 meses) é o melhor para a criança e para a mãe. No

entanto, quando a mãe e/ou a criança não têm condições de saúde que o

permitam, torna-se, portanto, necessária a utilização de substitutos do leite, FI.

14

A mãe, quando portadora de HIV ou de doença grave, quando toma uma

medicação que comprometa a saúde do lactente, deve alimentar o seu filho

com FI. Em relação às condições da criança, quando nascem com baixo peso

(menos de 1500g), prematuros, lactentes em risco de hipoglicemia em virtude

de adaptação metabólica, necessitam de complementar a sua alimentação com

FI, juntamente com o LM. Em caso de doença, quando a criança necessita de

fórmulas especiais, como lactentes com galactosémia clássica, deverão obter

uma fórmula especial, isenta de galactose. Os lactentes com doença da urina

de xarope de bordo, a fórmula especial terá de ser livre de leucina, isoleucina

ou valina, e os lactentes com fenilcetonúria necessitam de fórmulas especiais

isentas de fenilalanina, neste caso a amamentação pode ser possível se

cuidadosamente controlada 16.

Hoje em dia, cada vez mais as FI aproximam-se do leite materno.

A constituição nutricional das FI é obviamente diferente do LM, por ter maiores

concentrações de alguns nutrientes, como por exemplo, proteínas, ferro e

zinco. Havendo até orientações que recomendavam que as crianças com AM

deveriam comer certo tipo de alimentos, como a carne mais cedo por este leite

ser mais pobre nestes nutrientes 8.

O teor proteico das FI oscila entre 1,8 e 3,0g/100kcal e apresenta,

normalmente uma relação caseína/proteínas solúveis inferior a 50/50, sendo

portanto muito semelhante à do leite materno que é 45/55. As FI são

preparações à base de leite de vaca, contudo, apresentam maior conteúdo em

proteínas, minerais, gordura saturada e ferro. Em relação aos hidratos de

carbono, estas fórmulas são constituídas exclusivamente por lactose ou por

uma associação de açúcares 6.

15

Hoje em dia, há uma vasta oferta de leites infantis adaptados ao bebé. Muitos

deles suplementados com nucleotídeos, ferro, oligossacarídeos,

oligoelementos, probióticos traduzindo vantagens nutricionais 6.

Em relação à introdução da AC, a OMS/PAHO recomendam algumas

orientações um pouco diferentes das recomendadas para crianças alimentadas

com LM. As orientações diferem na ingestão de líquidos, sendo que estas

crianças alimentadas com FI necessitam de obter líquidos provenientes de

outras fontes, ao contrário dos lactentes amamentados que adquirem quase

90% de água do LM. Estimou-se que o lactente necessita de 400 a 600ml/dia

de líquidos extra, em climas amenos, tendo em conta que aproximadamente

200 a 700 ml são ingeridos por dia, provenientes de do leite e outros alimentos

17.

Em relação às necessidades energéticas, estas baseiam-se igualmente nas

orientações para lactentes em AM 17.

6. Desvantagens de uma incorrecta alimentação complementar

A alimentação do lactente neste período é muito importante para um correcto

desenvolvimento e crescimento da criança. Nesta altura o lactente está mais

vulnerável a desenvolver malnutrição, podendo a AC interferir na saúde da

criança. As crianças europeias provavelmente não sofrerão de carências

nutricionais de macronutrientes durante a AC. Poderão até apresentar excesso

de peso ou obesidade 8.

16

6.1 Desnutrição

Uma tardia introdução de AC pode traduzir-se numa deficiência de nutrientes

para a criança e pode ter consequências no desenvolvimento desta enquanto,

uma precoce introdução deste tipo de alimentos, pode também prejudicar a

criança, dado o seu “estado vulnerável”, correndo o risco de infecções e

mortalidade 12,18. É sobretudo nas classes desfavorecidas que há maior risco

de desenvolver desnutrição e carências específicas de micronutrientes,

particularmente de ferro, zinco e vitamina A 19. Durante o período de AC as

crianças correm o risco de desnutrição 2.

As quantidades em zinco e ferro do leite materno são inferiores às necessárias

para o lactente aos 6 meses. É importante não só garantir os nutrientes

necessários à criança, como também se devem respeitar as quantidades, o tipo

de alimentos a dar primeiro no tempo oportuno.

6.2 Doença Celíaca

A Doença Celíaca (DC) é uma doença de etiologia imune, genética e

ambiental. Caracteriza-se pela intolerância ao glúten, mais precisamente à

gliadina, componente solúvel responsável pela extensibilidade do glúten e que

constitui a porção proteica do trigo, centeio e cevada. Esta doença atinge a

mucosa do intestino delgado, aumentando o número de linfócitos intra-

epiteliais, hiperplasia das criptas e atrofia das vilosidades intestinais, desta

forma, condiciona a absorção de nutrientes. Indivíduos geneticamente

susceptíveis são possuidores de antigénios de histocompatibilidade: HLA de

classe II, DQ2 e DQ8 20.

17

Apesar de esta doença apresentar forte predisposição genética, é

recomendado que o glúten seja gradualmente introduzido na alimentação da

criança, após os 6 meses de idade, enquanto o lactente continua a ser

alimentado com LM, pois poderá reduzir o risco de desenvolver DC 8.

Esta doença está associada a complicações graves de saúde, devido à perda

da superfície de absorção e consequente malabsorção de nutrientes, vitaminas

e minerais, como anemia, infertilidade, problemas neurológicos, cancro e

outras complicações devido à constante inflamação e deficiência em

mucronutrientes21,22.

6.3 Diabetes Tipo 1

A Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) é uma doença auto-imune e caracteriza-se

pela destruição das células beta do pâncreas e consequente perda de

produção de insulina. Esta é uma doença que atinge indivíduos geneticamente

susceptíveis, portadores de antigénios de histocompatibilidade HLA de classe II

23. Um estudo demonstrou que se a introdução do glúten for tardia, superior a 7

meses, aumenta o risco de desenvolver DM1 8,23. Estudos epidemiológicos

demonstraram que o AM protege o lactente de desenvolver DM1 enquanto o

LV parece promover o risco de desenvolver DM1 23.Existe uma associação

entre o tipo de leite que a criança está a ser alimentada e o desenvolvimento

da DM 1.

Ambas as doenças (DC e DM 1) resultam da interacção de factores genéticos,

imunes e ambientais. Há um aumento da prevalência de DC em crianças com

DM1 22,24,25. Assim como na doença celíaca, em que o AM pode prevenir a

18

doença, também as crianças que estejam a ser alimentadas com LM têm

menor risco de vir a desenvolver DM 1 8.

6.4 Obesidade

Hoje em dia, o aumento da prevalência de obesidade/ excesso de peso na

infância atingiu proporções preocupantes. A prevenção poderá modificar os

valores inquietantes da obesidade infantil. Hábitos de vida saudáveis devem

começar logo na infância. Por isso, a criança começa a experimentar novos

alimentos, a descobrir os alimentos quando inicia a AC.

Esta é uma fase de descoberta de novos aromas e sabores. A criança está

geneticamente predisposta a gostar do doce e do salgado e rejeitar o azedo e o

amargo. Um estudo feito por Beauchamp e Morgan, demonstrou em 200

crianças, que estas preferiam soluções doces ao invés da água simples 8.

Apesar destas preferências serem inatas à criança, cabe aos pais educar e

restringir o acesso a alimentos que prejudiquem a saúde da criança, não

adicionando sal ou açúcar nos alimentos da AC. Estas medidas podem

beneficiar o lactente quer a curto-prazo quer mais tarde, para evitar que a

criança desenvolva o gosto do doce e salgado, evitando assim alimentos

açucarados, cariogénicos, e salgados uma vez que, quando o sal está em

excesso na alimentação da criança, pode elevar a pressão sanguínea 8.

Estudos demonstraram que quanto mais rápido for o ganho de peso no

primeiro ano de vida, maior será o risco de ter obesidade quando entrar na

escola 13. Estudos epidemiológicos demonstraram que a ingestão aumentada

de proteína pode estar associada à ocorrência de obesidade e maior índice de

19

massa corporal (IMC). Esta teoria assenta na hipótese de lactentes

alimentados com FI, comparando apenas a maior concentração de proteína e

não de hidratos de carbono ou energia, com lactentes amamentados, podendo

os primeiros verem aumentada a predisposição da obesidade no futuro. Esta

hipótese, “the early protein hypothesis” está a ser testada no projecto da

European Chilhood Obesity, que inclui mais de 1000 crianças de cinco países

(Bélgica, Alemanha, Itália, Polónia e Espanha) 13,26.

6.5 Infecção

Nos primeiros anos de vida, as crianças são mais susceptíveis a malnutrição,

uma insuficiente ingestão ou absorção de calorias são factores de risco para

desencadear infecção. Nutrição e infecção estão intimamente associadas uma

vez que, uma pode prejudicar a outra. A carência de certos nutrientes, como o

ferro, vai ter repercussões na saúde da criança já que corre maior risco de

infecção. Esta é uma carência habitual nos países desenvolvidos, levando a

deficiência imunitária e é a segunda causa de susceptibilidade à infecção e

mortalidade, depois da malnutrição energético-proteica 27. A deficiência em

ferro, diminui a imunidade celular, a capacidade fagocitária e a imunidade das

mucosas, logo terá efeitos no desencadeamento de uma infecção.

Os ácidos gordos polinsaturados de cadeia longa (LC-PUFAs) têm um efeito

imunomodulador e têm implicações na imunidade mediada por células 27. Os

LC-PUFAs mais importantes são: ácido araquidónico (AA) e o ácido

docosahexanoico (DHA) e estão presentes no leite materno 28. O AA é

percursor dos eicosanóides, mais precisamente de prostaglandinas que estão

envolvidas na intensidade e duração da inflamação e da resposta imune

20

enquanto o DHA poderá ter um efeito de diminuição da resposta imune, já que

diminuem a produção mediadora que desencadeia a resposta das células Th2.

Existe uma diminuição de infecções respiratórias em crianças cuja alimentação

foi suplementada com n-3 PUFAs (DHA) 27.

O zinco é um oligoelemento essencial ao crescimento, desenvolvimento e

reprodução, cuja deficiência traduz-se em imunodeficiência – diminuição da

produção de anticorpos, diminuição da capacidade fagocítica, da imunidade

mediada por células, pelo que porvoca susceptibilidade à infecção27.

É prudente que a criança seja alimentada com LM até ao sexto mês e que a

sua alimentação complementar seja suficientemente capaz de suprir com as

necessidades energéticas da criança, prevenindo carências em determinados

nutrientes, vitaminas e minerais, prevenindo a infecção 27.

6.6 Alergias e intolerâncias alimentares

Ao contrário da alergia, uma intolerância alimentar não envolve o sistema

imunitário. Quando certos alimentos causam uma intolerância alimentar, deve-

se ao facto do organismo não conseguir administrá-lo, por problemas de

assimilação e/ou digestão como a deficiência de enzimas digestivas 29. Os

sintomas podem ser diarreias, gases e/ou obstipação. Exemplos de intolerância

alimentar são a intolerância à lactose e ao glúten 30.

Alimentos como o peixe, ovos, amendoins, LV e marisco são os mais

envolvidos em alergias alimentares, são portanto alergénicos 8,31,32. As alergias

alimentares são comuns em cerca de 7 a 8% das crianças 34. A alergia consiste

numa reacção exagerada do sistema imunitário contra determinados

21

antigénios. Existe uma tendência pessoal e/ou familiar para produzir

Imunoglobolinas E (anticorpos) em excesso, em resposta ao contacto com

alergénios 33. Existem evidências que comprovam que a introdução precoce da

AC está associada a uma maior incidência de doenças atópicas 8,9. Estudos

demonstraram que o LM pode prevenir as alergias alimentares, mesmo nas

crianças mais susceptíveis. No entanto, o American College of Allergy, Asthma

and Immunology, criou medidas preventivas a tomar em crianças com alto risco

de desenvolver alergia, em que atrasava a introdução dos alimentos ditos

alegénicos da seguinte forma: ovos aos 24 meses, amendoins, frutos secos,

mariscam aos 3 anos. Esta posição criou conflitos com outros investigadores

que consideram importante alertar para as consequências nutricionais de

atrasar a introdução de alimentos específicos 8.

A alergia ao LV é a mais comum e atinge cerca de 7% das crianças 34,35. A

alergia à proteína do LV resulta de uma reacção imunológica mediada ou não

pela Imunoglobolina E, a uma ou mais proteínas do leite 34,36,52. Estas proteínas

são classificadas como caseínas ou proteínas do soro, sendo que a β-

lactoglobulina (proteína do soro), uma vez que está ausente do leite humano,

foi considerada como a mais importante no desencadeamento de alergia, no

entanto outras proteínas como as caseínas, são consideradas alergizantes 37.

A alergia ao LV apresenta maior incidência na infância devido à impossibilidade

de AM e por conseguinte introdução de fórmulas à base de LV 36. No entanto, o

LV pode sofrer tratamentos que levem a uma menor alergenicidade das

fórmulas infantis, como por exemplo, hidrólise da lactose ou da fracção proteica

do leite. Assim, as fórmulas infantis apresentam-se como parcialmente

hidrolisados e extensamente hidrolisados. Nas primeiras, as proteínas do leite

22

são hidrolisadas, no entanto apresentam alguns fragmentos que podem

desencadear reacção alérgica em crianças sensibilizadas, e as segundas as

proteínas do leite são extensamente hidrolisadas, pelo que são desprovidas de

proteínas alergizantes 6. O LV apresenta maior quantidade de proteínas,

gorduras saturadas e minerais, e diferente composição de LC-PUFAs,

apresenta no entanto níveis interessantes de DHA nos glóbulos vermelhos 8.

Devido ao elevado suprimento proteico do LV, este está contra-indicado até

aos 12 meses 8. Outra das razões da sua contra-indicação é devido ao baixo

conteúdo em ferro, e ao contrário do LM, apresenta baixa biodisponibilidade,

pelo que é insuficientemente absorvido. Apesar disso, existem FI presentes no

mercado, à base de proteínas do LV, que por serem enriquecidos em alguns

compostos aumentam a biodisponibilidade de ferro 6.

6.7 Anemia por carência de ferro

O ferro está envolvido em múltiplas funções vitais, capaz de alternar entre dois

estados oxidativos (ferroso e férrico), sendo por isso um composto útil dos

citocromos, das moléculas transportadoras de oxigénio como a hemoglobina e

a mioglobina, e de enzimas 38,42.

O AM exclusivo até aos 6 meses de vida é o suficiente em ternos nutricionais

para o lactente, apesar de ser pobre em ferro, apresenta alta biodisponibilidade

(50% é absorvido), uma vez que se encontra ligado à lactoferrina. Cada vez

mais, há uma interrupção precoce do AM e introdução de alimentos na dieta do

lactente. Isto compromete a saúde do lactente comprometendo o seu

crescimento e desenvolvimento 39.

23

No entanto, a anemia por carência de ferro ou anemia ferropriva, é uma

preocupação para alguns lactentes alimentados exclusivamente por LM antes

dos 6 meses, principalmente nas classes desfavorecidas 14,40,43. Estima-se que

50% das crianças nos países em desenvolvimento apresentam anemia por

carência de ferro 40. Os grupos mais susceptíveis a desenvolver anemia são as

crianças (43%) e as grávidas (51%), e a prevalência tem vindo a aumentar 38.

Nos lactentes alimentados exclusivamente de LM, entre os 4 e os 6 meses, e

crianças amamentadas após os 6 meses, que não consigam obter um aporte

em ferro suficiente nos outros alimentos, está recomendado a suplementação

de ferro oral. A forma recomendada pela OMS é a de springles que são

saquetas que contêm ferro em pó 38,41. Um estudo feito em lactentes de nove

meses de idade, permitiu estudar a prevalência de anemia por deficiência de

ferro, que foi de 19,4% numa amostra de 201 lactentes, em que os lactentes

amamentados apresentavam maior prevalência de anemia por défice de ferro

que os outros lactentes. Houve uma diferença relativa aos sexos, em que os do

sexo masculino apresentaram maior risco de deficiência de ferro,

provavelmente associada ao maior aumento do peso do nascimento até aos 9

meses 38. Demonstraram que os rapazes apresentam menores concentrações

de ferritina (reflecte o tamanho dos depósitos de ferro) e hemoglobina do que

as raparigas. Também é possível que este facto se deva a maiores reservas de

ferro ao nascimento, nas raparigas e maiores perdas intestinais por parte dos

rapazes. Apesar de ainda serem necessários mais estudos que o comprovem,

factores genéticos e hormonais parecem explicar parcialmente a razão da

diferença entre sexos 14. O comité de nutrição da ESPGHAN recomenda que

AC deva incluir, no tempo oportuno, fontes de ferro como carne e ovos. A

24

precoce introdução de LV na alimentação do lactente é um factor de risco de

desenvolver anemia, por carência de ferro 6.

6.8 Doença Cardiovascular

Apesar de ainda não ter sido devidamente estudada a relação entre a ingestão

de sal na AC e o seu efeito nas doenças cardiovasculares (DCV), pensa-se que

dado ao período de aprendizagem e adaptação por parte do lactente, este

pode ter aumentada a sensibilidade para alimentos salgados, dado que, como

referido anteriormente, a criança apresenta predisposição para gostar de

soluções salgadas ao invés de soluções simples. Ziner et al mostraram que há

um aumento da pressão sanguínea na primeira semana de vida e até um mês,

em recém-nascidos que preferiam soluções salgadas. Estudos de Forsyth et al

revelaram que os lactentes alimentados com FI enriquecidas em LC-PUFAs,

apresentavam menor pressão sanguínea aos 6 anos de idade, demonstrando

assim a importância daqueles ácidos gordos na prevenção de DCV. Não

existindo ainda claras associações entre a ingestão de sal durante a AC e a

prevenção de DCV é, no entanto, prudente que não seja adicionado sal aos

alimentos da AC 8.

7. Suplementação em vitaminas e minerais

A OMS e a PAHO nas orientações para a AC, referem que nos países

industrializados, os alimentos têm sido fortificados em ferro e zinco, embora só

estejam disponíveis nalguns países em vias de desenvolvimento, assim como o

uso de suplementos de vitaminas e minerais 1.

25

Dois estudos verificaram o efeito da suplementação em LC_PUFAs na AC.

Estes ácidos gordos não são sintetizados pelo homem, pelo que terão de ser

adquridos dieta e estão associados ao neurodesenvolvimento 28. Crianças

alimentadas com fórmulas enriquecidas em DHA, dos 4 aos 6 meses,

apresentavam uma função visual mais madura aos 12 meses 8.

26

8. Análise Crítica

Dada à grande importância da alimentação no estado de saúde da criança, é

consensual que o LM é o alimento ideal para o lactente até ao 6º mês de vida.

Tem-se verificado cada vez mais uma diminuição do AM e consequente

utilização de FI. Apesar dos avanços da indústria, em aproximar a composição

das FI do LM, só devem ser administradas FI no caso de impossibilidade do

AM. A partir 6º mês, torna-se necessário a introdução de outros alimentos para

garantir um bom estado nutricional, para um correcto crescimento e

desenvolvimento, uma vez que o leite já não é capaz de suprir as necessidades

nutricionais. Após a leitura de alguns estudos, verifica-se que apesar das

recomendações, a introdução da AC nem sempre é correcta, causando muitas

vezes problemas na saúde da criança, como diarreias ou alergias alimentares.

O uso de suplementos (ferro e zinco) deve apenas ser utilizado em países em

vias de desenvolvimento já que há maior risco de desenvolver desnutrição. No

entanto, em crianças cuja absorção esteja comprometida, deve reforçar-se a

AC com estes suplementos. O LV, bem como outros alimentos devem ser

evitados a fim de prevenir situações de intolerâncias ou alergias.

Sendo esta uma fase de grande importância e responsabilidade para os pais,

cabe-lhes a destreza de fornecer ao seu bebé uma alimentação adequada e

equilibrada, prevenindo o desenvolvimento de patologia a curto e a longo

prazo. Apesar da OMS ter recomendações diferentes para lactentes em AM e

alimentados com fórmulas infantis, é de facto mais ponderada a recomendação

global, como o recomendado pela ESPGHAN, que sugere que as

recomendações sejam as mesmas para lactentes amamentados e lactentes

alimentados com FI, minimizando assim eventuais confusões entre os pais.

27

9. Conclusão A alimentação do lactente com LM parece ter caído em desuso nos últimos

anos e são muitas as razões que levam à alimentação com FI. Apesar destas

fórmulas constituirem um alimento ajustado ao lactente, o LM continua a ser

insubstituível. Vários estudos concluem que o AM é o ideal para o lactente a

todos os níveis. É o alimento capaz de garantir todas as propriedades para o

crescimento e desenvolvimento da criança. A introdução da AC deve ser

acompanhada do LM pelo menos até aos 2 anos de idade, respeitando as

recomendações em termos do tipo de alimentos e consistência de forma a

evitar complicações no lactente, sendo tão recorrente nos primeiros meses de

vida, a diarreia e outras situações que comprometem a alimentação do

lactente. A alimentação com FI só deve ser opção quando, há de facto, algo

que comprometa a saúde do lactente, como doença grave e a toma de

fármacos prejudiciais ao lactente.

Esta é uma fase de extrema importância para o lactente, que acarreta

apreensão e preocupações para os pais. Apesar das recomendações, nem

sempre estas são levadas em consideração, por isso vemos tantos casos de

alergia, anemia e outras doenças antes do primeiro ano de vida. É de facto,

idealmente reconhecida a orientação da ESPEGHAN para a introdução da AC

uma orientação para a introdução da AC, sem distinções sobre o tipo de leite

que a criança é alimentada desde o nascimento.

As crianças mais susceptíveis a complicações devem ser acompanhadas,

garantindo uma apropriada AC.

28

A alimentação nos primeiros meses de vida poderá ser uma forma de poder

prevenir problemas no futuro, como a obesidade que cada vez mais atinge

crianças em todo o mundo.

29

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