2
CEL - I MODIFICADOR DO GV E COMPLEMENTO OBLÍQUO Em discussão até 2010-05-30 | Adicionar Comentário No processo de revisão dos programas de Português, a sintaxe tem sido um dos domínios onde o debate tem sido mais acalorado. A razão prende-se, entre outros factores, com o facto de se introduzirem novas noções até há pouco tempo estranhas aos professores de Português. O caso do estudo das funções sintácticas ao nível do grupo verbal – e entre elas a distinção entre complemento oblíquo e modificador do Grupo Verbal (GV) - é, a este respeito, paradigmático. Partindo do princípio que no 2.º ciclo o aluno já aprendeu a identificar um complemento oblíquo (na gramática tradicional o complemento oblíquo estava diluído entre diversos outros complementos que iam desde o directo ao circunstancial de qualquer coisa), no 7.º ano de escolaridade convém que se sedimente esse conhecimento prévio e se sistematizem estas funções sintácticas através do contraste entre este complemento e o modificador de GV. Como proceder para que esta diferença seja clara? Em primeiro lugar, associar a ideia de complemento à ideia de obrigatoriedade de colocação na frase e a de modificador à de colocação facultativa, como acontece nos exemplos 1) e 2): 1) O João foi a Lisboa . 2) O João trabalha em Lisboa . Como se verifica, a frase1) ficaria sem sentido se lhe retirássemos o segmento sublinhado, pelo que a sua presença é obrigatória. Já na frase 2), o segmento sublinhado apenas acrescenta uma informação que, embora completando o sentido da frase, não lhe é de todo indispensável, pelo que pode ser considerada acessória. Em segundo lugar, mostrar que o verbo que solicita a presença de um complemento oblíquo exige vir acompanhado de preposição (quando a função é exercida por um GPrep) ou de um advérbio (quando a função é exercida por um GAdv), como se pode ver nos exemplos 3) e 4), o que não acontece com os modificadores, como se observa nas frases 5) e 6): 3) O João gosta da Maria . [o verbo «gostar» exige a utilização da preposição «de», (aqui contraída com o determinante «a»)] 4) Ele mora ali . [sem o advérbio locativo, a frase fica sem sentido] 5) Eles estudam de manhã . [o verbo estudar não selecciona preposição] 6) Eles almoçam ali . [o verbo almoçar não selecciona advérbio para lhe completar

Complemento oblíquo ou modificador

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Complemento oblíquo ou modificador

CEL - I

MODIFICADOR DO GV E COMPLEMENTO OBLÍQUOEm discussão até 2010-05-30  |  Adicionar Comentário

No processo de revisão dos programas de Português, a sintaxe tem sido um dos domínios onde o debate tem

sido mais acalorado. A razão prende-se, entre outros factores, com o facto de se introduzirem novas noções até

há pouco tempo estranhas aos professores de Português.

O caso do estudo das funções sintácticas ao nível do grupo verbal – e entre elas a distinção entre

complemento oblíquo e modificador do Grupo Verbal (GV) - é, a este respeito, paradigmático.

Partindo do princípio que no 2.º ciclo o aluno já aprendeu a identificar um complemento oblíquo (na gramática

tradicional o complemento oblíquo estava diluído entre diversos outros complementos que iam desde o directo

ao circunstancial de qualquer coisa), no 7.º ano de escolaridade convém que se sedimente esse conhecimento

prévio e se sistematizem estas funções sintácticas através do contraste entre este complemento e o

modificador de GV.

Como proceder para que esta diferença seja clara?

Em primeiro lugar, associar a ideia de complemento à ideia de obrigatoriedade de colocação na frase e a

de modificador à de colocação facultativa, como acontece nos exemplos 1) e 2):

1) O João foi a Lisboa.

2) O João trabalha em Lisboa.

Como se verifica, a frase1) ficaria sem sentido se lhe retirássemos o segmento sublinhado, pelo que a sua

presença é obrigatória. Já na frase 2), o segmento sublinhado apenas acrescenta uma informação que, embora

completando o sentido da frase, não lhe é de todo indispensável, pelo que pode ser considerada acessória.

Em segundo lugar, mostrar que o verbo que solicita a presença de um complemento oblíquo exige vir

acompanhado de preposição (quando a função é exercida por um GPrep) ou de um advérbio (quando a

função é exercida por um GAdv), como se pode ver nos exemplos 3) e 4), o que não acontece com os

modificadores, como se observa nas frases 5) e 6):

3) O João gosta da Maria. [o verbo «gostar» exige a utilização da preposição «de», (aqui contraída com o

determinante «a»)]

4) Ele mora ali. [sem o advérbio locativo, a frase fica sem sentido]

5) Eles estudam de manhã. [o verbo estudar não selecciona preposição]

6) Eles almoçam ali. [o verbo almoçar não selecciona advérbio para lhe completar obrigatoriamente o sentido]

Esta actividade de contraste será ainda mais bem sucedida se previamente o professor tiver definido o

descritor de desempenho associado a estes conteúdos, de forma a certificar-se que foram

adequadamente interiorizados.

A consciência da diferença entre complemento e modificador (e entre complementos e entre modificadores)

é muito importante, visto que ajuda os alunos a distinguir o essencial do acessório e, no plano textual, por

exemplo, também lhes permite mais facilmente separar a informação obrigatória da circunstancial, o que é

Page 2: Complemento oblíquo ou modificador

fundamental para produzir, resumir ou sintetizar melhor um texto.

http://www.manualescolar2.0.sebenta.pt/projectos/port7/posts/337