100
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS FUNDAÇÃO PARQUE ZOOLÓGICO DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONSERVAÇÃO DA FAUNA GABRIELA RODRIGUES FAVORETTO Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari, Bonaparte, 1856) em cativeiro e a influência da técnica flocking na interação de pares Sorocaba 2016

Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

FUNDAÇÃO PARQUE ZOOLÓGICO DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONSERVAÇÃO DA FAUNA

GABRIELA RODRIGUES FAVORETTO

Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari, Bonaparte,

1856) em cativeiro e a influência da técnica flocking na interação de pares

Sorocaba

2016

Page 2: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

FUNDAÇÃO PARQUE ZOOLÓGICO DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONSERVAÇÃO DA FAUNA

GABRIELA RODRIGUES FAVORETTO

Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari, Bonaparte,

1856) em cativeiro e a influência da técnica flocking na interação de pares

Dissertação apresentada ao Programa de Pós

Graduação em Conservação da Fauna

(UFSCar / FPZSP) como parte das exigências

para obtenção ao título de Mestre Profissional

em Conservação da Fauna, sob orientação do

Prof˚. Dr˚. Augusto João Piratelli.

Sorocaba

2016

Page 3: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária UFSCar Processamento Técnico

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

F275cFavoretto, Gabriela Rodrigues Comportamento de arara-azul-de-lear(Anodorhynchus leari, Bonaparte, 1856) em cativeiroe a influência da técnica flocking na interação depares / Gabriela Rodrigues Favoretto. -- São Carlos: UFSCar, 2016. 96 p.

Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal deSão Carlos, 2016.

1. Comportamento. 2. Livre escolha. 3. Manejo ex-situ. 4. Psittacidae. 5. Reprodução. I. Título.

Page 4: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari
Page 5: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

Agradecimentos

Agradeço inicialmente ao meu professor, mestre e orientador favorito: Augusto João

Piratelli. Você há alguns anos me apresentou a Ecologia Comportamental (em parceria com o

querido prof. Marcelo Nivert) e me proporcionou a honra de poder aprender e contribuir com

alguns dos seus trabalhos. Nos últimos dois anos permitiu que eu caminhasse sozinha, mas

sempre esteve pronto para me amparar quando precisei. Obrigada por todas as oportunidades,

incentivos, ensinamentos, confiança e compreensão. Você esteve presente desde o início da

minha formação como bióloga e grande parte do que eu sou hoje, minhas convicções e

valores são frutos da sua orientação. Sou eternamente grata!

Agradeço a Fundação Parque Zoológico de São Paulo pelo suporte financeiro que

permitiu que eu me dedicasse nesses últimos dois anos ao estudo do comportamento da arara-

azul-de-lear. Agradeço pela oportunidade e por me permitir ter um contato tão íntimo com

essa espécie, foi impossível não me apaixonar por cada uma delas. Agradeço aos funcionários

que nos receberam e compartilharam do seu tempo e conhecimento com os mestrandos, e

aqueles que de alguma forma fizeram parte do desenvolvimento dessa pesquisa, em especial:

minha coorientadora Angélica M. Sugieda e colaboradora Fernanda J. V. Guida que foram

fundamentais para o andamento do projeto, obrigada pelas informações compartilhadas,

paciência em atender meus pedidos, pelo apoio, atenção e preocupação com o

desenvolvimento da pesquisa; Regiane pelo apoio e colaboração com o desenvolvimento das

ilustrações; aos meninos do setor de aves (Marcos, Zé Roberto, Mesquita e Rodrigo) pela

companhia e preocupação com as learis durante todo o flocking; ao pessoal da Fazenda,

obrigada por todo suporte e pela acolhida tão carinhosa, agradecimentos especiais para o

Sérgio, Laura, Cátia, Zé, João, Claudinei e Vânia.

Agradeço ao professor Miguel Petrere Jr. pelo auxílio com as análises estatísticas.

Obrigada pela simpatia, atenção e paciência.

Agradeço ao Pedro Busana por superar minhas expectativas com as ilustrações,

obrigada por toda a dedicação, comprometimento e atenção aos mínimos detalhes.

Agradeço minha família (Marisa, Pedro, Rafaela, Jonas e meus falecidos avós Raphael

e Maria Glória) por todo amor, suporte e apoio. Apesar de todas as dificuldades sempre me

permitiram seguir o caminho escolhido por mim.

Agradeço ao Cauê por deixar todo esse processo tão mais feliz e divertido, por todo

apoio, parceira, compreensão, infinita paciência e amor (sim, ele tem coração, gente).

Page 6: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

Agradeço também a sua família, em especial dona Elaine maravilhosa, pela energia positiva,

motivação e apoio.

Agradeço a família Baranguidae por esses dois últimos anos compartilhando alegrias e

tristezas, frustrações e conquistas. Vocês tornaram tudo mais divertido. Obrigada Caio, Dodô,

Fer, Mármara, Patica, Samara Mülleryan, rainha dos barangos e dos primeiros mestrandos,

mãe dos pretinhos, senhora do Gedsney, guia dos rolês, anfitriã dos bêbados desorientados,

primeira (e espero que última) do seu nome, tenho certeza que nossa união não seria a mesma

sem sua alegria contagiante e sem essa sua capacidade de não conseguir calar a boca, e por

último e não menos importante, May bichana, obrigada por me acolher no seu lar e de quebra

me proporcionar dois anos de parceria e cumplicidade. Obrigada por todo apoio e carinho que

você sempre me deu, obrigada por todas as gordices compartilhas (isso inclui a Blue),

obrigada pelo coração lindo que você tem e por permitir fazer parte da sua vida. Você é

maravilhosa e com certeza essa amizade é eterna.

Page 7: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

“Uma falha nem sempre é um erro, pode ser apenas o melhor que conseguimos fazer sob

certas circunstâncias. O erro real é parar de tentar.”

B. F. Skinner (Beyond Freedom and Dignity, 1971)

Page 8: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

SUMÁRIO

1. Introdução geral................................................................................................................... 5

2. Objetivos ........................................................................................................................... 16

3. Coleta de dados ................................................................................................................. 16

4. Caracterização das áreas de estudo ................................................................................... 17

5. Caracterização dos indivíduos amostrados ....................................................................... 23

6. Referências Bibliográficas ................................................................................................ 26

Capítulo 1 - Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) em cativeiro

1. Introdução.......................................................................................................................... 34

2. Material e métodos ............................................................................................................ 36

3. Resultados ......................................................................................................................... 38

4. Discussão ........................................................................................................................... 53

5. Conclusões ........................................................................................................................ 63

6. Referências Bibliográficas ................................................................................................ 64

Capítulo 2 - A efetividade do flocking na interação de pares de arara-azul-de-lear

(Anodorhynchus leari) em cativeiro

1. Introdução.......................................................................................................................... 73

2. Material e métodos ............................................................................................................ 75

3. Resultados ......................................................................................................................... 77

4. Discussão ........................................................................................................................... 82

5. Conclusões ........................................................................................................................ 86

6. Referências Bibliográficas ................................................................................................ 88

7. Anexos ............................................................................................................................... 91

Page 9: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

5

1. INTRODUÇÃO GERAL

A biodiversidade tem enfrentado uma crise nunca antes vista. Aproximadamente 30%

das espécies descritas e avaliadas estão ameaçadas de extinção (INTERNATIONAL UNION

FOR CONSERVATION OF NATURE, 2015). As taxas de extinção vistas atualmente

superam em até 1000 vezes os níveis históricos (PIMM et al., 2014), sendo que a extinção das

espécies “criticamente ameaçadas” poderá configurar a presente perda da biodiversidade em

um princípio de sexta extinção em massa (BARNOSKY et al., 2011), tendo como causa direta

ou indireta as ações humanas que afetam aproximadamente 83% das áreas continentais

(SANDERSON et al., 2002) e 100% dos oceanos (HALPERN et al., 2008). Entre os

principais impactos estão a degradação dos habitats, a introdução de espécies exóticas, o

tráfico de animais silvestres e as mudanças climáticas (HOFFMANN et al., 2010).

Apenas 15,4% das áreas continentais do planeta estão protegidas sob alguma categoria

proposta pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) (JUFFE-

BIGNOLI et al., 2014), sendo que as áreas de proteção integral constituem aproximadamente

6% deste total (JENKINS; JOPPA, 2009); os demais 94% vêm sofrendo grandes impactos

antrópicos, tornando os ambientes inapropriados para diversas espécies, reduzindo e

fragmentando populações. As poucas unidades de conservação existentes e as que têm sido

lentamente criadas não são representativas ecologicamente e os seus esforços não têm sido

efetivos o suficiente para conter os impactos sobre a biodiversidade (MORA; SALE, 2011;

PIMM et al., 2014). Em diversos casos, apenas a conservação in situ não é suficiente para

reverter um quadro de ameaça, destacando-se a importância de ações conjuntas com a

conservação ex situ no desenvolvimento de programas de cativeiro que devem ser

estabelecidos antes que declínios populacionais causados por impactos antrópicos

inviabilizem a sobrevivência de algumas espécies em condições naturais (IUCN, 1987;

BRASIL, 2000).

Em 1987, a IUCN publicou a primeira declaração oficial sobre a relevância da

conservação ex situ para biodiversidade, destacando a importância dos zoológicos e

recomendando a manutenção de populações autossustentáveis de espécies ameaçadas em

cativeiro sempre que o número de indivíduos na natureza fosse menor que 1000 para os

grupos de vertebrados (IUCN, 1987). Desde então, o reconhecimento da reprodução em

cativeiro para a conservação tem aumentado consideravelmente, acompanhado de um

incremento no número e na qualidade de programas de reintrodução e revigoramento de

Page 10: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

6

populações selvagens em declínio (SNYDER et al., 1996; TEIXEIRA et al., 2007; ROBERT,

2009; LEUS, 2011). Em relação à fauna, diversas espécies já foram salvas desta forma, como

o condor-da-califórnia (Gymnogyps californianus) (WALTERS et al., 2010), o cavalo-de-

przewalski (Equus przewalskii) (BOYD; KING, 2011) e o mico-leão-dourado

(Leontopithecus rosalia) (COELHO, 2011). Para algumas, este é ou já foi o único caminho

para a sobrevivência, como o caso do Órix-da-Arábia (Oryx leucoryx) (AL QUARQAZ;

KIWAN, 2007), do mutum-de-alagoas (Pauxi mitu) (MACHADO; MARTINS;

DRUMMOND, 2005) e da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) (JUNIPE; YAMASHITA,

1991).

Psitacídeos

O Brasil é um dos países mais ricos do mundo em relação à diversidade de aves

(MARINI; GARCIA, 2005; BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2016), sendo também o detentor

do maior número de espécies ameaçadas. Das 1753 espécies catalogadas, 165 (9,4%) se

encontram na lista vermelha da IUCN (BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2015a). A ordem

Psitaciformes é a mais crítica, onde 28% do total de 398 espécies estão ameaçadas

(BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2015b). É composta por três famílias, Psittacidae,

Cacatuidae e Strigopidae (OLAH, 2016), existindo no Brasil representante apenas da

primeira, que possui grande diversidade, conferindo ao país o status de “Terra dos Papagaios”

durante o período de colonização (SICK, 1997). Representada por periquitos, maracanãs,

papagaios e araras, variam principalmente pelo padrão de cores e tamanhos (SICK, 1997). O

grupo das araras é comporto pelos gêneros Ara, Anodorhynchus, Cyanopsitta, Primolius,

Orthopsittaca e Diopsittaca e globalmente, das 22 espécies descritas, cinco estão extintas, três

criticamente ameaçadas, quadro em perigo, duas vulneráveis e uma quase ameaçada (OLAH

et al., 2014). São aves extremamente procuradas para serem criados como animais de

companhia devido a sua beleza, cognição desenvolvida e capacidade de imitar sons, tornando-

se assim, alvos do comércio ilegal (ALVES; LIMA; ARAÚJO, 2013). Dentre as verdadeiras

araras brasileiras estão os gêneros Ara e Anodorhynchus. O primeiro é composto por oito

espécies (COLLAR, 1996), entre elas A. ararauna (arara-canindé), A. macao (arara-piranga) e

A. chloropterus (arara-vermelha), e o segundo abrange as araras azuis, sendo reconhecida a

existência de três espécies: A. glaucus (Vieillot, 1816) (arara-azul-pequena), considerada

extinta no Brasil (INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA

BIODIVERSIDADE, 2014a) e criticamente ameaçada (e possivelmente extinta) pela IUCN

Page 11: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

7

(IUCN, 2016); A. hyacinthinus (Latham, 1790), a arara-azul-grande, considerada vulnerável

globalmente (BIRDLIFE INTERNATIONAL 2014) e não ameaçada no Brasil pela portaria

MMA 444 de 2014 (BRASIL, 2014c); e A. leari (Bonaparte, 1856), classificada como em

perigo (BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2013; BRASIL, 2014) e foco do presente estudo.

A arara-azul-de-lear

Histórico

Anodorhynchus leari, popularmente conhecida como arara-azul-de-lear, foi descoberta

em 1823 em cativeiro, classificada por muito tempo como A. hyacinthinus (PACÍFICO, 2011)

e considerada como uma “ave misteriosa” (FORSHAW, 1973) por mais de cem anos, sendo

descrita pelo príncipe francês Bonaparte em 1856 com base em exemplares que chegavam aos

zoológicos e coleções particulares sem informações específicas de procedência. Edward Lear

(1812 – 1888) foi o artista responsável pela primeira prancha da espécie, sendo então

homenageado por Bonaparte na nomenclatura da mesma (SICK; GONZAGA; TEIXEIRA,

1987). A. leari chegou a ser considerada um híbrido entre A. glaucus e A. hyacinthinus

(Voous, 1965) pelas semelhanças morfológicas e área de ocorrência suposta na época. Em

1950, Olivério Pinto foi o primeiro cientista a sugerir corretamente a área de ocorrência da

espécie baseado em uma ave com procedência de Juazeiro, Bahia, encontrada em uma

expedição feita por ele à Pernambuco com o objetivo de encontrar maiores informações sobre

esta espécie e sobre Cyanopsitta spixii (SICK; GONZAGA; TEIXEIRA, 1987). Porém apenas

em 1978, após muitos anos de buscas pelo nordeste brasileiro, estes mesmos autores

localizaram os primeiros espécimes na natureza, na região do Raso da Catarina, Bahia, Brasil

(SICK; TEIXEIRA, 1980). Apesar do crescente aumento populacional ao longo dos anos

desde a descoberta da sua área de ocorrência, os índices populacionais sempre foram baixos e

poucos estudos foram realizados sobre a biologia da espécie, que é classificada em termos de

ameaça como em perigo pela IUCN, contando com 1294 indivíduos na natureza no último

censo realizado em 2014 pelo Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves

Silvestres (CEMAVE) (BRASIL, 2015).

Características morfológicas

A. leari mede cerca de 70 centímetros (cm) de comprimento total, os machos em

cativeiro pesam em média 889 gramas e as fêmeas 789 gramas, sendo maiores que A. glaucus

Page 12: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

8

e menores que A. hyacinthinus (SICK, 1997). A plumagem da cabeça, pescoço e partes

inferiores são azul esverdeado, o ventre é levemente desbotado, o dorso, asas e cauda são

mais escuros, em azul-cobalto mais sutil que em A. hyacinthinus. A face interna das rêmiges e

retrizes são negras em todo o gênero. Possui bico marrom muito escuro tal como A.

hyacinthinus, a borda superior da maxila é caracterizada por um delineamento amarelo,

podendo estar escondida pelas penas da fronte, e a base do bico possui uma área nua (barbela)

amarelo-clara e em formato nodular, diferindo claramente de A. hyacinthinus, cuja barbela

possui o formato de meia lua em um amarelo mais intenso (Figura 1). A língua é preta, com a

base e as laterais também amarelas, sendo branca nos filhotes. A pele sob as penas é amarela,

íris castanha, pálpebras brancas levemente azuladas, região perioftálmica amarela intensa,

diferindo de A. hyacinthinus por ser mais alongada em sua porção posterior (SICK;

GONZAGA; TEIXEIRA, 1987; AMARAL et al. 2005). Segundo Brandt e Machado (1990),

os juvenis são caracterizados por penas arrepiadas na cabeça, menor porte e cauda mais curta,

anel perioftálmico mais estreito e mais claro que dos adultos, assim como a barbela. Não

apresentam dimorfismo sexual evidente, sendo os machos sutilmente maiores que as fêmeas

(COLLAR, 1996). Durante a estação reprodutiva, fêmeas pareadas em cativeiro podem ser

diferenciadas dos machos pelo desgaste das penas da cauda por permanecerem com

frequência no ninho, como observado para A. hyacinthinus de vida livre (GUEDES, 1993), e

também pelo desgaste das penas próximas a álula.

Figura 1 - Diferenças entre coloração, barbelas e anel periocular de A. hyacinthinus e A. leari.

Foto: Csaba Godeny (a); Gabriela Favoretto (b).

Distribuição

A arara-azul-de-lear é endêmica da caatinga do nordeste do estado da Bahia, uma zona

de transição entre os climas árido e semi-árido, caracterizada por alta radiação solar, alta

temperatura média anual e precipitações pluviométricas baixas e irregulares. As temperaturas

Page 13: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

9

variam de 15˚C a 45˚C (YAMASHITA, 1987), com precipitação média de 650 mm/ano, onde

o período chuvoso ocorre de dezembro a julho (VELLOSO; SAMPAIO; PAREYN, 2002)

proporcionando um aumento da oferta de recursos alimentares como insetos, folhas e frutos,

coincidindo com o período reprodutivo de diversas espécies de aves (SICK, 1997) . Até 70%

das chuvas são concentradas em três meses consecutivos, período no qual folhas e frutos se

desenvolvem, garantindo disponibilidade de recursos para a estação reprodutiva. O período de

seca pode variar de 7 a 11 meses em algumas regiões, sendo a vegetação caracterizada por

espécies lenhosas, herbáceas, cactáceas e bromeliáces (LEAL, I. R. et al. 2005).

A área de ocorrência da arara-azul-de-lear é restrita a região do Raso da Catarina, nos

Municípios de Sento Sé, Campo Formoso, Monte Santo, Euclides da Cunha, Santa Brígida,

Paulo Afonso e Novo Triunfo, sendo a maior parte da população encontrada nos municípios

de Canudos e Jeremoabo, onde são localizados os principais dormitórios (LUGARINI;

BARBOSA; OLIVEIRA, 2012; SANTOS NETO; CAMANDAROBA, 2007; SOUSA;

BARBOSA, 2008; ARAÚJO; COELHO; BARBOSA, 2014) (Figura 2).

Figura 2. Área de ocorrência da arara-azul-de-lear, compreendendo os municípios de Sento Sé, Campo

Formoso, Monte Santo, Euclides da Cunha, Santa Brígida, Paulo Afonso e Novo Triunfo, sendo a maior parte da

população encontrada nos municípios de Canudos e Jeremoabo, todos no estado da Bahia.

Fonte: BRASIL, 2012.

Page 14: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

10

O Raso da Catarina é uma chapada com altitudes que variam entre 400 e 600 m, onde

se encontram canyons de afloramentos de arenito formados pelos cursos d’água de regime

intermitente que ocorrem na região, servindo de dormitório e área de nidificação para a

espécie (SICK; GONZAGA; TEIXEIRA, 1987; INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO

AMBIENTE E DOS RECUSOS NATURAIS RENOVÁVEIS, 2006; VELLOSO;

SAMPAIO; PAREYN, 2002).

Alimentação

Altamente especialistas, sendo o principal item alimentar o coco da palmeira licuri

(Syagrus coronata) (LUGARINI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2012), que possui pico de

floração coincidindo com um período da estação reprodutiva das araras entre fevereiro e abril.

Um mesmo pé pode ser visitado pelo mesmo grupo por dias consecutivos, até que o recurso

se esgote. Possuem como recursos alimentares complementares ou alternativos o pinhão

(Jatropha pohliana), umbu (Spondias tuberosa), mucunã (Dioclea sp.) (SICK; GONZAGA;

TEIXEIRA, 1987), baraúna (Schinopsis brasiliensis), flor de sisal (Agave sp.), mandacaru

(Cereus jamacaru) (PACÍFICO, 2011; LIMA; TENÓRIO; GOMES, 2014) e o milho (Zea

mays), importante fonte de alimento quando a disponibilidade de licuri é baixa (BRANDT;

MACHADO, 1990; PACÍFICO, 2011; SILVA NETO; SOUSA; SANTOS NETO, 2012;

LIMA; TENÓRIO; GOMES, 2014). Estes últimos autores também registraram o consumo de

conchas de caramujos Megalobulimus sp. como fonte de proteína.

Em grupos, deixam os paredões no início da manhã em busca de alimento, podendo

percorrer muitos quilômetros por áreas não protegidas, retornando apenas ao entardecer

(SANTOS NETO; CAMANDAROBA, 2008; SILVA NETO; SOUSA; SANTOS NETO,

2012). Gastam aproximadamente três horas diárias se alimentando e passam a maior parte do

dia empoleiradas na vegetação nativa. Cada indivíduo consome entre 290 e 350 cocos de

licuri por dia (BRANDT; MACHADO, 1990; SILVA NETO; SOUSA; SANTOS NETO,

2012).

Período reprodutivo, nidificação e cuidado parental

A arara-azul-de-lear utiliza cavidades naturais em paredões de arenito como local de

reprodução, sendo os principais a Toca Velha (Estação Biológica de Canudos), pertencente à

Fundação Biodiversitas, e Serra Branca (Estação Ecológica Raso da Catarina) em Jeremoabo

(LUGARINI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2012). As aberturas das cavidades encontram-se em

Page 15: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

11

média a 26,78 metros (m) acima do solo em paredões que podem atingir até 72 m de altura,

onde se encontram túneis de no mínimo 5,7 m de profundidade, podendo chegar até 18 m

(PACÍFICO, 2011). O período reprodutivo da espécie parece estar relacionado ao início das

chuvas em decorrência da mudança na quantidade de recurso alimentar, umidade e fisionomia

do ambiente (PACHECO, 2004; LUGARINI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2012). O início da

estação reprodutiva é marcado pela exploração das cavidades pelos casais entre os meses de

setembro e outubro, prolongando-se até abril, quando os filhotes deixam o ninho (SICK;

GONZAGA; TEIXEIRA, 1987; AMARAL et al., 2005; PACÍFICO, 2011; LUGARINI;

BARBOSA; OLIVEIRA, 2012). Atividade de cópula foi relatada em novembro por Brandt e

Machado (1990). Territorialismo ocorre durante a estação reprodutiva (YAMASHITA, 1987),

sendo este o período em que as araras permanecem mais tempo no interior do ninho ou

protegendo a abertura de entrada (AMARAL et al., 2005). Até 2008, os estudos sobre

biologia reprodutiva eram feitos apenas com observações externas dos ninhos. Entre 2008 e

2011, PACÍFICO (2011) desenvolveu um trabalho inovador, sendo a primeira pesquisadora a

visitar internamente as cavidades. Neste período visitou diversas cavidades na Estação

Biológica de Canudos, onde pôde descrever a estrutura interna dos ninhos, obter dados sobre

a biologia reprodutiva da espécie, como taxas de fecundidade, produtividade e de reprodução,

além de acompanhar e descrever o desenvolvimento dos filhotes e desenvolver estudos sobre

recrutamento populacional. PACÍFICO et al. (2014) estimaram que aproximadamente 20% da

população era ativa reprodutivamente no ano de 2010. Os psitacídeos, de forma geral, são

monogâmicos, porém com o avanço das técnicas de análises moleculares, como o DNA

fingerprinting, constatou-se a existência de comportamento reprodutivo entre o mesmo sexo e

extra-par tanto na natureza quanto em cativeiro, sendo, portanto, o sistema de acasalamento

desse grupo monogâmico não exclusivo (PRESTI, 2010; ASSIS, 2011; CAPARROZ;

MIYAKI; BAKER, 2011).

Conservação

Quanto à conservação, as principais ameaças para a espécie são a perda de hábitat, a

caça de retaliação e ação dos traficantes, também responsáveis pela redução de várias outras

espécies na região (LUGARINI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2012). A degradação do habitat

pela expansão agrária e pela pecuária extensiva acaba reduzindo a oferta do principal

componente da dieta da espécie, o licuri. A pecuária está presente em 94% dos sítios de

alimentação da espécie, sendo que o gado pisoteia e se alimenta das mudas de licuri,

Page 16: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

12

impedindo sua regeneração natural (MENEZES et al. 2006; SANTOS NETO;

CAMANDAROBA, 2008). A extração ilegal de madeira também é um fator a ser considerado

(LIMA, 2004).

Os agricultores, que têm suas plantações de milho consumidas pelas araras como fonte

alternativa de alimentação, utilizam armas de chumbinho e de fogo para atirar nos bandos

enquanto estes se alimentam no milharal (BRASIL, 2006; SILVA NETO; SOUSA; SANTOS

NETO, 2012), sendo que essa ação predatória foi constatada desde 1970 por Brandt e

Machado (1990). O prejuízo médio gerado é de 1,2 toneladas de milho perdido por plantação,

causando danos financeiros à economia local (SANTOS NETO; GOMES, 2007). A caça para

consumo por comunidades indígenas da etnia Pankararés também representa uma ameaça

(LUGARINI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2012). LIMA (2004) relata ainda um caso de abate

para uso das penas como ornamento em rituais, apesar de não ser considerada uma prática

comum pelos índios.

Já os traficantes agem capturando espécimes da natureza para o comércio ilegal

instalando redes na entrada das cavidades, atraindo as aves com ceva de milho e atirando em

suas asas ou fazendo rapel e retirando os filhotes de dentro do ninho (BRASIL, 2006),

estando a espécie listada no Anexo I da Convenção Internacional sobre o Comércio de

Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES). Até dezembro de 2014,

das 125 aves que constituíam o plantel do Programa de cativeiro, 45% nasceram em vida livre

(CORNEJO, 2014) e eram provenientes de captura, resgate ou apreensão (LUGARINI;

BARBOSA; OLIVEIRA, 2012).

Em resumo, por ter sua principal fonte de alimento reduzida pela agropecuária, as

araras acabam por procurar suprir suas necessidades alimentares nos milharais dos

agricultores, que criando aversão às aves, recorrem ao uso de armas de fogo e negligenciam as

ações dos traficantes, que muitas vezes recorrem a essa alternativa por questões sociais

relacionadas às condições miseráveis de vida do povo sertanejo, sendo esta situação usada a

favor dos atravessadores e colecionadores para movimentação do comércio ilegal.

Por se tratar de uma espécie ameaçada de extinção, o Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade (ICMBio) aprovou em 2014 o “Plano de Ação Nacional para

Conservação da Arara-Azul-de-Lear” que tem como objetivo manter o crescimento

populacional até 2017, garantindo e incrementando a qualidade do habitat e envolvendo as

comunidades da área de ocorrência da espécie na sua conservação (BRASIL, 2014a). Nos

últimos anos, diversas organizações têm atuado em conjunto visando o incremento de ações

Page 17: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

13

que minimizem o impacto do tráfico e da caça sobre a espécie, como em programas de

educação ambiental, atividades de ecoturismo, ressarcimento da população por prejuízos

causados por ataques aos milharais e aumento da fiscalização (MENEZES, 2006).

Atualmente, o CEMAVE e seus parceiros realizam pesquisas in situ sobre monitoramento

populacional, reprodutivo e alimentar, além de buscas por novos dormitórios. Como resultado

dos esforços conjuntos, a população na natureza vem lentamente se recuperando

(LUGARINI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2012).

Quanto à conservação ex situ, o Plano de Manejo de 2006 já dispunha de um Programa

de Cativeiro com instituições participantes naquele momento e seus objetivos (BRASIL,

2006). Porém, apenas em 2012 o ICMBio estabeleceu os procedimentos para os programas

de cativeiro de espécies ameaçadas (BRASIL, 2012) e na sequência aprovou o “Programa de

Cativeiro da arara-azul-de-lear” com o objetivo de estabelecer um plantel adequado em

termos genético, demográfico, sanitário e comportamental para integrar futuro programa de

revigoramento populacional, especialmente na região do Boqueirão do Onça/BA (BRASIL,

2013). E então, o “Grupo de Trabalho do Programa de Cativeiro da Arara-Azul-de-Lear” foi

estabelecido em junho de 2014 (BRASIL, 2014), sendo coordenado pelo CEMAVE com

supervisão da Coordenação Geral de Manejo para Conservação, vinculada à Diretoria de

Pesquisa, Avaliação e Manejo da Biodiversidade (DIBIO) (BRASIL, 2013). Até o fim de

2014, quinze instituições eram responsáveis pela manutenção da população cativa no mundo

(Tabela 1) (CORNEJO, 2015). Em 2016, o Parque das Aves também passou a integrar o

Programa, recebendo nove indivíduos provenientes da Fundação Loro Parque, sendo que

futuramente alguns serão destinados a outras instituições que integram o Programa

(BARROS, 2016).

Page 18: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

14

Tabela 1. Instituições mantenedoras de espécimes de arara-azul-de-lear até final de 2014, sua

nacionalidade e número de aves mantidas.

Instituição País Número

de aves

Zoológico de Buenos Aires* Argentina 1

Zoológico de Belo Horizonte Brasil 3

CRAX Sociedade de Pesquisa do Manejo e da

Reprodução da Fauna Silvestre Brasil 2

Fundação Lymington Brasil 1

Criadouro Milton Soldani Afonso Brasil 2

Criadouro Nest Brasil 2

Zoológico do Rio de Janeiro Brasil 12

Zoológico de Salvador Brasil 4

Zoológico de São Paulo Brasil 12

Zoológico de Praga República

Tcheca 3

CITES Portugal* Portugal 2

Al Wabra Wildlife Preservation Qatar 37

Fundação Loro Parque Espanha 34

Zoológico de Zurich* Suíça 2

Harenwood Bird Garden* Reino Unido 8

Total

125

*Instituições mantenedoras que não fazem parte do Programa de Cativeiro da espécie com indivíduos a serem

repatriados (Angélica Sugieda, com. pess.).

Reprodução em cativeiro

O primeiro caso de sucesso reprodutivo ex situ ocorreu em 1984 na instituição Bush

Garden (Estados Unidos) com o nascimento de dois filhotes, sem que novos nascimentos

ocorressem até julho de 2006 (CORNEJO, 2014), quando a Al Wabra Wildlife Preservation

(AWWP) conseguiu um novo sucesso reprodutivo. Um casal mantido pela instituição durante

oito anos realizou postura de três ovos, sendo um ovo fértil, um infértil e um, que apesar de

fértil, não iniciou o desenvolvimento. O ovo fértil foi incubado artificialmente após ser

constatado relativo descuido dos pais. O ovo eclodiu após 28 dias, com ajuda da equipe, e o

filhote foi criado artificialmente (WATSON, 2007). Após esta ocorrência, houve mais 68

nascimentos até 2014 (LUGARINI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2012), e em 2015 a FPZSP

registrou o primeiro nascimento da espécie em cativeiro na América Latina, e até julho de

2016 registraram ao todo oito filhotes (Angélica Sugieda, com. pess.). Todo o sucesso

reprodutivo da espécie em cativeiro é decorrente da reprodução de apenas oito casais, sendo

que atualmente apenas cinco apresentam sucesso reprodutivo, representando uma limitação na

variabilidade genética da população cativa (LUGARINI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2012).

Page 19: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

15

Por possuírem baixas taxas reprodutiva e de sobrevivência dos filhotes, longo tempo

para maturação sexual e alta seletividade para escolha do ninho (SNYDER et al., 2000), a

manutenção de uma população sustentável de certas espécies de psitacídeos em cativeiro se

mostra uma tarefa árdua, dificultando o sucesso dos programas de reprodução. Além do

elevado custo e das questões físicas, genéticas e/ou ambientais (MEROLA, 1994), o insucesso

reprodutivo muitas vezes é decorrente de problemas de comportamento (SYNDER et al.,

1996), e questões comportamentais são extremamente importantes para o manejo adequado

em cativeiro (GIBBONS; DURRANT; DEMAREST, 1995). Sistemas de acasalamento e

critérios de escolha do parceiro influenciam diretamente na dinâmica populacional, no

tamanho efetivo da população e na diversidade genética, sendo, portanto, sua compreensão

fundamental para o planejamento de estratégias dos programas de reprodução ex situ (CARO,

2007).

A participação de zoológicos em programas para conservação de espécies tem se

tornado cada vez mais frequente neste tipo de estudo, afinal este deve ser um dos principais

objetivos destas instituições, juntamente com a educação, a pesquisa e o lazer. A aplicação de

conceitos de ecologia comportamental em programas de conservação se intensificou há

aproximadamente 20 anos (CARO, 1999) e apesar do crescente número de pesquisas

envolvendo o tema, muito pouco tem contribuído para a conservação, mesmo com o grande

potencial que pesquisas na área oferecem para a resolução de problemas conservacionistas

(BERGER-TAL et al., 2011), sendo o estudo do comportamento reprodutivo um dos tópicos

mais importantes para a conservação de espécies ameaçadas (QUADER, 2005;

SCHLINDWEIN; NORDI, 2013).

Tendo isto em vista, a FPZSP implementou uma nova estratégia para a reprodução de

A. leari em cativeiro conhecida como flocking. A técnica flocking consiste no manejo de um

grupo de indivíduos gregários de forma a proporcionar condições para que ocorra a livre

escolha entre parceiros sexuais, aumentando o desempenho reprodutivo do grupo (STYLES,

2000).

A implementação da técnica só foi possível com a inauguração do Centro de

Conservação da Fauna Silvestre do Estado de São Paulo (CECFau), um novo centro de

reprodução para onde foi transferida a maior parte dos espécimes mantidos até então na sede

da FPZSP. Como parte do projeto Grande Flocking, novos recintos foram construídos

especificamente para a espécie com o objetivo de oferecer as melhores condições de

infraestrutura, desenvolver protocolos de manejo e possibilitar a expressão de todo o

Page 20: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

16

complexo comportamento dos casais, incrementando a possibilidade de sucesso reprodutivo.

Para atender essa demanda, os recintos foram planejados possibilitando a realização da livre

escolha entre os espécimes para formação de casais, técnica conhecida como flocking, sendo

esta uma oportunidade única para a produção de novos conhecimentos sobre o

comportamento reprodutivo da espécie e compreensão de suas necessidades comportamentais

em cativeiro.

2. OBJETIVOS

Objetivo geral

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar os efeitos da técnica flocking sobre os

comportamentos afiliativos e reprodutivos de Anodorhynchus leari em cativeiro, detalhando o

repertório comportamental da espécie.

Objetivos específicos

Descrever o repertório vocal e comportamental de A. leari em cativeiro (Capítulo 1);

Verificar se o grau de aproximação entre pares de A. leari mantidos em cativeiro é

influenciado pela técnica flocking (Capítulo 2);

Verificar se as frequências dos comportamentos sócio-reprodutivos de A. leari em

cativeiro são influenciadas pela técnica flocking (Capítulo 2);

Verificar se as frequências de comportamentos sócio-reprodutivos variam de acordo

com o período do dia (Capítulo 2);

Verificar as características que possam favorecer a interação entre casais de A. leari

mantidos em cativeiro (Capítulo 2).

3. COLETA DE DADOS

Em decorrência da necessidade da obtenção de informações específicas sobre o

comportamento da espécie A. leari em cativeiro para posterior análise do efeito da técnica

flocking na frequência dos comportamentos sociais e reprodutivos, o presente trabalho foi

dividido em duas etapas e dois capítulos. A primeira etapa consistiu no levantamento e

descrição do repertório comportamental da espécie (fases 1, 2 e 4 a seguir) e resultou na

Page 21: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

17

construção do Capítulo 1. A segunda etapa refere-se à análise da influência do flocking sobre

a interação dos pares antes e durante a técnica (3 e 5 a seguir), resultando no Capítulo 2.

A coleta de dados foi seccionada em cinco fases:

Sede da FPZSP

1) Adaptação do observador ao objeto de estudo e habituação do objeto de estudo à

presença do observador. Esta etapa ocorreu do dia 15/09/2014 ao dia 19/09/2014,

totalizando 30 horas.

2) Levantamento do repertório comportamental pela metodologia ad libitum

(ALTMANN, 1974) para formulação do etograma do dia 22/09/2014 a

03/10/2014, totalizando 60 horas. Nove indivíduos foram amostrados (seis fêmeas

e três machos).

3) Quantificação pré flocking dos comportamentos sócio-reprodutivos das fêmeas

selecionadas e da aproximação entre os pares através da metodologia animal focal

(ALTMANN, 1974) do dia 07/10/2014 a 04/02/2015, totalizando 130 horas.

CECFau

4) Qualificação de possíveis novos comportamentos e gravações das vocalizações

pela metodologia ad libitum do dia 29/09/2015 a 04/02/2016, totalizando 288

horas.

5) Quantificação dos comportamentos sócio-reprodutivos das seis fêmeas

selecionadas e da aproximação entre os pares após interações iniciais do flocking

através da metodologia animal focal do dia 17/11/2015 a 04/02/2016, totalizando

96 horas.

4. CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE ESTUDO

O estudo teve início em outubro de 2014 na sede da FPZSP (São Paulo), onde 12

araras em idade reprodutiva eram mantidas. Posteriormente, no segundo semestre de 2015,

nove indivíduos desta população foram transferidos para o CECFau (Araçoiaba da Serra),

onde o estudo teve continuidade até fevereiro de 2016. As localizações das cidades no estado

de São Paulo estão ilustradas na Figura 2.

Page 22: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

18

Figura 2. Localização do município Araçoiaba da Serra (em preto), onde se encontram o CECFau, e do

município de São Paulo (em cinza escuro), onde se localiza o Zoológico de São Paulo, ambos no estado de São

Paulo.

3.1. Fundação Parque Zoológico de São Paulo

A primeira parte do estudo foi desenvolvida na FPZSP (Lat 23˚38’56” S / Long

46˚37’12” W), considerado um dos maiores zoológicos do mundo em diversidade de espécies.

Localiza-se na região sudoeste do município de São Paulo, dentro de um importante

remanescente de Mata Atlântica pertencente à unidade de conservação Parque Estadual

Fontes do Ipiranga (PEFI), caracterizado pela proteção das nascentes do rio Ipiranga, que

conferem um clima ameno e maior umidade relativa do ar em relação ao seu entorno. A média

de temperatura na região de São Paulo para o ano de 2014 foi de 21,8˚C, com acúmulo

pluviométrico de 1216,88 mm no ano (INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA, E

CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS, 2014).

O plantel do zoológico é composto por cerca de 3200 animais, entre invertebrados,

anfíbios, répteis, aves e mamíferos (FUNDAÇÃO PARQUE ZOOLÓGICO DE SÃO

PAULO, 2014). A Fundação está entre as instituições que integram o Programa de Cativeiro

da Arara-Azul-de-Lear (BRASIL, 2013), e no início do presente estudo era responsável pela

manutenção de 12 espécimes, todos adultos (oito fêmeas, quatro machos). Os animais eram

abrigados em pares no setor extra, que conta com oito recintos em uma área bastante

arborizada e protegida por cercas e bloqueada visualmente por vegetação, com entrada restrita

apenas aos tratadores responsáveis e pessoas autorizadas. Por estar localizado em um ponto de

Page 23: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

19

intenso tráfego aéreo e de passagem obrigatória de funcionários e de automóveis (Figura 3), o

ambiente possuía bastante poluição sonora, principalmente entre as 7:00h e 9:00h e 15:00h e

17:00h (horário de entrada e saída da maioria dos funcionários, respectivamente).

Figura 3 - Posicionamento do recinto da arara-azul-de-lear (em amarelo, recinto 100) e principais vias de

acesso ao estacionamento, áreas técnicas e administrativas, entrada dos funcionários para o parque e acesso a

área de eventos (em azul) da FPZSP.

Nesse local, quatro machos e quatro fêmeas formavam duplas em recintos específicos,

respeitando pareamentos já impostos por outras instituições e a sugestão de pareamento por

análise genética proposta no studbook (2009) da espécie, restando quatro fêmeas sem

pareamento com machos, mas também alocadas em duplas entre si conforme tabela 2.

Tabela 2 - Identificação dos espécimes adultos de A. leari mantidos pela FPZSP por número referente

ao studbook, o sexo e recinto onde se encontravam na sede.

Recinto N˚ do

studbook Sexo Recinto

N˚ do

studbook Sexo

100 A 59 Fêmea

100 D 43 Fêmea

47 Macho 23 Macho

100 B 60 Fêmea

100 H 61 Fêmea

35 Macho 58 Fêmea

100 C 39 Fêmea

100 I 34 Fêmea

38 Macho 57 Fêmea

Os quatro recintos que abrigavam os casais possuíam dimensão de 6,0 m x 2,0 m x 3,0

m, com telhas cobrindo cerca de 50% da parte superior, distribuição de poleiros horizontais de

Page 24: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

20

eucalipto, comedouros suspensos, jardineira central com terra e vegetação, plataformas de

madeira e ninhos artificiais também de madeira em forma de “L” (Figura 4). Todos os

recintos eram telados, com barreiras visuais confeccionadas com piaçava na metade superior

da tela, impedindo a visualização entre os animais de recintos distintos, e com a metade

inferior coberta com placa de alumínio, impedindo a entrada de pequenos animais. Apenas um

dos recintos (100 A) era ambientado com um paredão artificial que dava acesso ao ninho,

simulando o ambiente natural da espécie, estando alocados neste recinto o casal reprodutor.

No restante, o acesso ao ninho é feito diretamente pela tela. As quatro fêmeas restantes

estavam alocadas em dois recintos suspensos. Estes recintos consistem em uma grande gaiola

telada suspensa, com dimensões de 4,0 m x 2,0 m x 3,0 m, telhado cobrindo 50% da parte

superior, contendo poleiros e cocho de alimentação, sendo que um deles possuía um pequeno

ninho artificial de madeira e o outro uma plataforma de madeira sem ninho (Figura 4). A

limpeza do recinto ocorre diariamente as 8h, sendo ofertada duas alimentações, uma pela

manhã após a limpeza e outra as 15h horas, sendo composta na parte da manhã por ração

extrusada para arara (Nutrópica Alimento Super Premium), sementes (variando entre

amêndoas, pistaches, avelãs, nozes ou castanhas) e frutas secas, na parte da tarde por frutos

(coco, banana, maçã, goiaba, quiabo ou milho) e sementes de girassol.

Figura 4 – Disposição dos recintos de A. leari na sede da FPZSP (a) e formato dos ninhos (b).

3.2. Centro de Conservação da Fauna Silvestre do Estado de São Paulo

O Centro de Conservação da Fauna Silvestre do Estado de São Paulo (CECFau) se

encontra dentro da Divisão de Produção Rural da FPZSP no município de Araçoiaba da Serra

Page 25: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

21

(Lat 23˚34’37” S / Long 47˚32’19” W). A Divisão possui área de 574 hectares é mantida

desde 1982 pela Fundação, sendo responsável pela produção de parte dos alimentos que são

oferecidos aos animais mantidos no zoológico. A temperatura média relatada para o ano de

2014 foi de 27,1 ˚C e acúmulo pluviométrico de 1097 mm (SGA/DPR, 2016).

O CECFau foi inaugurado no dia 19/06/2015, em uma área de 80 mil metros

quadrados, tendo como principal objetivo promover a conservação de espécies da fauna

silvestre nativa ameaçadas de extinção através do desenvolvimento de pesquisas voltadas para

a manutenção e reprodução de espécies ameaçadas em cativeiro, visando o estabelecimento de

populações geneticamente viáveis em termos sanitários, genéticos e comportamentais para

futuros programas de reintrodução e revigoramento populacional (FPZSP, 2015). O CECFau

foi contemplado com um projeto de paisagismo ecológico realizado pela Agência Ambiental

Pick-upau e as mudas de espécies arbóreas e arbustivas encontram-se em estágios iniciais de

desenvolvimento, sendo o local ainda desprovido de sombreamento. A área possui acesso

restrito, com baixo fluxo de pessoas e automóveis. As instalações são compostas por área

administrativa, apoio técnico, alimentação animal, ambulatório, vestiários, depósitos de

suprimento e três complexos de recintos destinados à manutenção de pequenos primatas do

gênero Leontopithecus (L. chrysomelas, L. chrysopygus e L. rosalia), tamaduá-bandeira

(Myrmecophaga tridactyla) e arara-azul-de-lear (Figura 5).

Sistema de Gestão Ambiental da Divisão de Produção Rural do Zoológico de São Paulo. Comunicação pessoal,

2016

Page 26: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

22

Figura 5 - Disposição dos recintos na área do CECFau (em verde), incluindo o complexo para A. leari (em

amarelo), o setor técnico, o setor de alimentação, o recinto dos tamanduás, o micário e as principais vias de fluxo

de funcionários e automóveis (em azul).

O complexo para A. leari possui 248 m2 e é composto por dois conjuntos de quatro

novos recintos com dimensões de 8,0 m x 2,0 m x 4,0 m, ambientados igualmente, com

jardineiras, poleiros em diferentes ângulos e espessura, e paredões artificiais que dão acesso a

um conjunto de ninhos artificiais de madeira de diversos tamanhos e formas ligadas por tubos

de PVC. Cada recinto possui um cambiamento de 3,0 m x 2,0 m x 4,0 m por onde os técnicos

tem acesso aos ninhos, sendo equipado com poleiro, comedouro e abertura manual de saída

para o recinto, permitindo a passagem livre das aves. Os recintos estão dispostos lado a lado,

separados por divisórias móveis que ao serem removidas formam um só recinto, permitindo a

realização do flocking. Após o pareamento entre os indivíduos, as divisórias poderão ser

recolocadas e cada casal poderá ficar alocado em um recinto próprio (Figura 6).

A alimentação é ofertada as 9:00 horas e as 14:00 horas, tendo a mesma composição

da alimentação ofertada na sede em São Paulo. A principal limpeza dos recintos é feita

diariamente com a lavagem dos comedouros, bebedouros e do chão antes da primeira

alimentação. A segunda limpeza é feita após a segunda alimentação, visando à remoção de

alimentos do chão para evitar a atração de outros animais durante a noite.

Page 27: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

23

Figura 6 – Recintos de A. leari no CECFau; (a) recintos utilizados para o flocking com a remoção das divisões;

(b) complexo de recintos; (c) disposição dos ninhos.

5. CARACTERIZAÇÃO DOS INDIVÍDUOS AMOSTRADOS

Foram selecionadas seis fêmeas (STB 59, 60, 39, 61, 58 e 57) e três machos (STB 47,

35 e 38) para o estudo. Dos indivíduos restantes, um casal (STB 23 e 43) e uma fêmea (STB

34) não foram selecionados, pois o macho do casal apresentava muita agressividade em

relação à presença humana e a outra fêmea não era propícia à reprodução, apresentando

ovário escuro e reduzido.

Para o flocking foram transferidas todas as aves selecionadas, com exceção de um

casal (STB 47 e 59), que obteve sucesso reprodutivo durante o estudo, portanto, sem

necessidade de participar da técnica. Três aves de outras instituições foram integradas ao

plantel temporariamente (STB 24, 37 e 175) para participarem do processo e uma fêmea

transferida posteriormente (STB 57) não teve oportunidade de ser integrada ao flocking.

Em cativeiro, a idade média mínima de reprodução é de oito anos para machos e dez

anos para fêmeas (CORNEJO, 2015), porém, ainda não se conhece a idade média máxima

para reprodução, sendo conhecidos indivíduos com 20 anos que ainda estão em idade

reprodutiva (Angélica Sugieda, com. pess.). A estrutura etária das aves participantes pode ser

vista na Figura 7. Informações mais detalhadas sobre os espécimes (nome, idade, estado das

gônadas, pareamento e posturas) encontram-se na tabela 3.

Page 28: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

24

Figura 7 - Estrutura etária por sexo dos indivíduos de Anodorhynchus leari participantes do flocking,

em preto número de fêmeas e em cinza número de machos.

Page 29: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

25

Tabela 3 - Caracterização dos indivíduos adultos de arara-azul-de-lear mantidos pela FPZSP durante o projeto, incluindo nome, número referente ao studbook, sexo, idade

aproximada, estado das gônadas, pareamento e postura de ovos.

Nome STB Sexo Idade Gônadas Pareamento Posturas

Francisco 47 M 17 2010: testículo vascularizado e

tamanho bom.

Com STB 59 em 2005 na F.

Lymington.

2014: 2 ovos quebrados; 2015: 2 ovos férteis (1 quebrado);

2016: 4 ovos férteis.

Maria

Clara 59 F 14

2007: ovário bom, oviduto não

desenvolvido.

Com STB 47 em 2005 na F.

Lymington.

Ceguinho 35 M 19 2010: testículo pouco desenvolvido. Com 60 em 2011. Sem

interação.

Maria

Fernanda 60 F 14 2010: ovários muito bons.

Com 35 em 2011. Sem

interação.

Charmoso 38 M 19 2014: testículo desenvolvido.

Lindsay 39 F 19 2001: ovário desenvolvido. 2013: 5 ovos inférteis; 2014: 4 ovos inférteis; 2015: 5 ovos

inférteis; 2016: 8 ovos inférteis.

Francês 23 M 23 2005: testículo bem desenvolvido

Marjory 43 F 21 2014: ovário imaturo.

Maria

Eduarda 61 F 15 2014: ovário desenvolvido.

Maria

Luiza 58 F 15

2014: ovário bom com alguns folículos

desenvolvidos. 2015: 3 ovos quebrados

Maria

Eugênia 57 F 13 2009: ovários e ovidutos muito bons. Com 34 em 2011.

Eulália 34 F 19 2014: ovário reduzido e escuro. Com 57 em 2011.

Frank 24 M 21 2004: testículo pouco desenvolvido.

Elisa 37 F 19 2004: ovário em desenvolvimento.

Dumont 175 M 15 -

Page 30: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

26

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTMANN, J. Observational study of behavior: sampling methods. Behaviour, v. 48, n. 3, p.

227-267, 1974.

AL QUARQAZ, M.; K. KIWAN. Arabian oryx release program, Abu Dhabi Emirate, United

Arab Emirates. Reintroduction News, v. 26, p. 49-51, 2007.

ALVES, R. R. N.; LIMA, J. R. F.; ARAÚJO, H. F. P. The live Bird trade in Brazil and its

conservation implications: an overview. Bird Conservation International, v. 23, n. 1,

p. 53-65, 2013.

AMARAL, A. C. A. et al. Dinâmica de ninho de Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

Bonaparte, 1856) em Jeremoabo, Bahia. Ornithologia, v. 1, n. 1, p. 59-64, 2005.

ARAÚJO, D. S; COELHO, H. E. A.; BARBOSA, A. E. A. Registros de novos sítios

reprodutivos, dormitório e alimentação da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari)

nos municípios de Canudos e Novo Triunfo, Bahia. Ornithologia, v. 7, n. 1, p. 21-22,

2014.

BARNOSKY, A. D. et al. Has the Earth’s sixth mass extinction already arrived? Nature, v.

471, p. 51-57, 2011.

BARROS, Y. M. Araras-azuis-de-lear estão voltando para casa. O Eco, São Paulo, 29 fev.

2016. Disponível em: <http://oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/araras-azuis-

de-lear-estao-voando-para-casa/>. Acesso em: 13 abr. 2016.

BERGER-TAL, O. et al. Integrating animal behavior and conservation biology: a conceptual

framework. Behavioral Ecology, v. 22, n. 2, p. 236-239, 2011.

BIRDLIFE INTERNATIONAL. Anodorhynchus leari. The IUCN Red List of Threatened

Species – 2013. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2013-

2.RLTS.T22685521A48042913.en>. Acesso em: 01 ago. 2016.

BIRDLIFE INTERNATIONAL. Anodorhynchus hyacinthinus. The IUCN Red List of

Threatened Species - 2014: Disponível em:

< http://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2014-2.RLTS.T22685516A61733086.en>.

Acesso em: 01 ago. 2016.

BIRDLIFE INTERNATIONAL. Country profile: Brazil – 2015a. Disponível em:

<http://www.birdlife.org/datazone/country/brazil>. Acesso em: 02 abr. 2016.

BIRDLIFE INTERNATIONAL. The BirdLife checklist of the birds of the world: Version 8.

2015b. Disponível em:

<http://www.birdlife.org/datazone/userfiles/file/Species/Taxonomy/BirdLife_Checklis

t_Version_80.zip. Acesso em: 01/08/2016.

BOYD, L.; KING, S. R. B. 2011. Equus ferus ssp. przewalskii. The IUCN Red List of

Threatened Species. Version 2014.2. Disponível em: <www.iucnredlist.org>. Acesso

em: 03 set. 2014.

Page 31: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

27

BRANDT, A.; MACHADO, R. B. Área de alimentação e comportamento alimentar de

Anodorhynchus leari. Ararajuba, v. 1, p. 57-63, 1990.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. A Convenção sobre Diversidade Biológica. Série

Biodiversidade n˚1. Brasília. 2000, 30 p. Disponível em: <

http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/cdbport_72.pdf>. Acesso

em 11 set. 2014.

BRASIL. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

(IBAMA). Plano de manejo da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari).

Coordenação de Espécies da Fauna. Brasília: Ibama, 2006. 78 p.

BRASIL. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Instrução Normativa nº

22 de 27 de março de 2012. Estabelece os procedimentos para os Programas de

Cativeiro de Espécies Ameaçadas. Diário Oficial da União, Brasília, DF, de 28 de

Março de 2012. Seção 1, p. 141.

BRASIL. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Portaria n˚ 231, de 26

de Setembro de 2013. Aprova o Programa de Cativeiro da Arara azul-de-lear, espécie

ameaçada de extinção, estabelecendo seu objetivo, objetivos específicos, ações

estratégicas para a conservação ex situ da espécie. Diário Oficial da União, Brasília,

DF, de 30 de Setembro de 2013. Seção 1, p. 105.

BRASIL. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Portaria n˚ 33, 27 de

Março de 2014. Aprova o Plano de Ação Nacional para Conservação da Arara-azul-

de-lear (Anodorhynchus leari), espécie ameaçada de extinção, estabelecendo seu

objetivo, objetivos específicos, metas, prazo, abrangência e formas de implementação

e supervisão. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2014a. Seção 1, p. 266.

BRASIL. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Portaria nº 280, de 27

de junho de 2014. Cria o Grupo de Trabalho do Programa de Cativeiro da Arara-azul-

de-lear. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2014b. Seção 2, p. 114.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portaria n˚ 444, de 17 de dezembro de 2014. Aprova

a Lista Nacional Oficial de Espécies Ameaçadas de Extinção. Diário Oficial da União,

Brasília, DF, 2014c. Seção 1, p. 121.

CAPARROZ, R.; MIYAKI, C. Y.; BAKER, A. J. Genetic evaluation of the mating system in

the blue-and-yellow macaw (Ara ararauna, Aves, Psittacidae) by DNA fingerprinting.

Genetics and Molecular Biology, v. 34, n. 1, p. 161-164, 2011.

CARO, T. The behavior conservation interface. TREE, v. 14, n. 9, p. 366-369, 1999.

CARO, T. Behavior and conservation: a bridge too far? Trends in Ecology and Evolution, v.

22, n. 8, p. 395-400, 2007.

COELHO, A. S. Reintrodução do mico-leão-dourado, Leontopithecus rosalia, em

fragmentos: sucesso reprodutivo, interações inter-grupais em corredores e conflito

social. 2011. 127 f. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Centro de

Biociências e Biotecnologia, Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos

dos Goytacazes, RJ.

Page 32: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

28

COLLAR, N. J. Priorities for parrot conservation in the New World. Cotinga, v. 5, p. 26-31,

1996.

CORNEJO, J. Lear´s Macaw (Anodorhynchus leari) International Studbook and Population

analysis. Captive Program for the Lear´s Macaw / ICMBio, 2014. 50 p.

FORSHAW, J. M. Parrots of the World. Melbourne: Lansdowne, 1973. 584 p.

FUNDAÇÃO PARQUE ZOOLOGICO DE SÃO PAULO. Relatório anual: 2014.

BRESSAN, P. M. & GONÇALVES, M. L. (Coord.), São Paulo: FPZSP, 2014.

FUNDAÇÃO PARQUE ZOOLÓGICO DE SÃO PAULO. Ciência no Zoo. Informativo n 5.

São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 2015.

GIBBONS, E. F., JR, DURRANT, B. S.; DEMAREST, J. Conservation of Endangered

Species in Captivity. Albany, New York: State University of New York Press, 1995,

810 p.

GUEDES, N. M. R. Biologia reprodutiva da arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) no

Pantanal - MS, Brasil. 1993. 122 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) –

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo,

Piracicaba. 1993.

HALPERN, B. S. et al. A global map of human impact on marine ecosystems. Science, v.

319, p. 948:952, 2008.

HOFFMANN, M. et al. The impact of conservation on the status of the world’s vertebrates.

Science, v. 330, p. 1503–1509, 2010.

INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS DA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (IAG). Boletim Climatológico Anual da Estação

Metereológica do IAG/USP, v. 17, 2014 – São Paulo: IAG/USP

INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE (IUCN). IUCN Policy

Statement on Captive Breeding. Gland: IUCN, Species Survival Commission, Captive

Breeding Specialist Group, 1987.

INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE (IUCN). Anodorhynchus

glaucus. The IUCN Red List of Threatened Species. 2013. Version 2014.2. Disponível

em: <http://www.iucnredlist.org/details/22685527/0>. Acesso em: 11 set. 2014.

INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE (IUCN). Table 1:

Numbers of threatened species by major groups of organisms (1996–2015). 2015.

IUCN Red List version 2015.4: Table 1. Disponível em:

<http://cmsdocs.s3.amazonaws.com/summarystats/20154_Summary_Stats_Page_Doc

uments/2015_4_RL_Stats_Table_1.pdf >. Acesso em 03 fev. 2015.

INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE (IUCN). IUCN Red List

2016 - Table 9: possibly extinct and possibly extinct in the wild species. Disponível

em:http://cmsdocs.s3.amazonaws.com/summarystats/20161_Summary_Stats_Page_D

ocuments/2016_1_RL_Stats_Table_9.pdf. Acesso em 01 ago. 2016.

Page 33: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

29

JENKINS, C. N.; JOPPA, L. Expansion of the global terrestrial protected area system.

Biological Conservation, v. 142, p 2166–2174, 2009.

JUFFE-BIGNOLI, D. et al. Protected Planet Report 2014. UNEP-WCMC: Cambridge, UK,

2014.

JUNIPER, A. T.; YAMASHITA, C. The habitat and status of Spix’s Macaw Cyanopsitta

spixii. Bird Conservation International, v. 1, n. 1, p. 1-9, 1991.

LEAL, I. R. et al. Changing the Course of Biodiversity Conservation in the Caatinga of

Northeastern Brazil.Conservation Biology, v. 19, n.3, p. 701-706, 2005.

LEUS, K. Captive breeding and conservation. Zoology in the Middle East, v. 3, p. 151–158,

2011.

LIMA, D. M . Aves da pátria da leari. 1. ed. Salvador: Atualidades ornitológicas. 2004. 271

p.

LIMA, D. M.; TENÓRIO, S.; GOMES, K. Dieta por Anodorhynchus leari Bonaparte, 1856

(Aves: Psittacidae) em palmeira de licuri na caatinga baiana. Atualidades

Ornitológicas, v. 178, p. 50-54, 2014.

LUGARINI, C; BARBOSA, A. E. A.; OLIVEIRA, C. G. de. (orgs.). Plano de Ação Nacional

para a Conservação da Arara-azul-de-Lear. 2 ed. Série espécies ameaçadas n˚ 4.

Brasília: ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2012.

MACHADO, A. B. M.; MARTINS, C. S.; DRUMMOND, G. M. (eds). Lista da Fauna

Brasileira Ameaçada de Extinção: Incluindo as espécies quase ameaçadas e

deficientes em dados. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 2005. 160 p.

MARINI, M. A.; GARCIA, F. I. Bird conservation in Brazil. Conservation Biology, v. 19, p.

665-671, 2005.

MENEZES, A. C. et al. Monitoramento da população de Anodorhynchus leari (Bonaparte,

1856), Psittacidae, na natureza. Ornithologia, v. 1, p. 109-113, 2006.

MEROLA M. A reassessment of homozygosity and the case for inbreeding depression in the

cheetah, Acinonyx jubatus: Implications for conservation. Conservation Biology, v. 8,

n. 4, p. 961-971, 1994.

MORA, C.; SALE, P. F. Ongoing global biodiversity loss and the need to move beyond

protected areas: a review of the technical and pratical shortcomings of preotected areas

on land and sea. Marine Ecology Progress. Series, v. 434, n. 251-266, 2011.

OLAH, G. et al. Nest site selection and efficacy of artificial nests for breeding success of

scarlet macaws Ara macao macao in lowland Peru. Journal of Nature Conservation,

v.22, p. 176-185, 2014.

OLAH, G. et al. Ecological and socio-economic factors affecting extinction risk in parrots.

Biodiversity and Conservation, v. 2, p. 205-223, 2016.

Page 34: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

30

PACÍFICO, E. Biologia reprodutiva da arara-azul-de-lear Anodorhynchus leari (Aves:

Psittacidae) na Estação Biológica de Canudos, BA. 2011, 130 f. Dissertação (Mestrado

em Zoologia) - Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo.

PACÍFICO, E. et al. Breeding to non-breeding population ratio and breeding performance of

the globally endangered Lear’s Macaw Anodorhynchus leari: conservation and

monitoring implications. Bird Conservation International, v. 24, n. 4, p. 466-476,

2014.

PACHECO, J. F. As aves da caatinga: uma análise histórica do conhecimento. In: SILVA, J.

M. C.; TABARELLI, M.; FONSECA, M. T.; LINS, L. V. Biodiversidade da caatinga:

áreas de ações prioritárias para a conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente:

Universidade Federal de Pernambuco, 2004, p. 189 - 250.

PIMM, S. L. et al. The biodiversity of species and their rates of extinction, distribution, and

protection. Science, v. 344, p. 987-998, 2014.

PRESTI, F. T. 2010. Caracterização da diversidade genética, da estrutura populacional e do

parentesco de Arara-Azul-Grande (Anodorhynchus hyacinthinus) por meio de análise

de regiões dos genomas nuclear e mitocondrial. 2011. 87 p. Tese (Doutorado em

Genética) - Departamento de Genética e Biologia Evolutiva, Instituto de Biociências,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

QUADER, S. Mate choice and its implications for conservation and management. Current

Science, v. 89, n. 7, p. 1220-1229, 2005.

ROBERT, A. Captive breeding genetics and reintroduction success. Biological Conservation,

v. 142, p. 2915–2922, 2009.

SANDERSON, E. W. et al. The human footprint and the last of the wild. Bioscience. V. 52, n.

891–904, 2002.

SANTOS NETO, J. R.; GOMES, D. M. Predação de milho por arara-azul-de-lear,

Anodorhynchus leari (Bonaparte, 1856) (Aves: Psittacidae) em sua área de ocorrência

no Sertão da Bahia. Ornithologia, v. 2, n. 1, p. 41-46, 2007.

SANTOS NETO, J. R.; CAMANDAROBA, M. Ampliação da área de ocorrência da arara-

azul-de-Lear Anodorhynchus leari (Bonaparte 1856). Ornithologia, v. 2, n. 1, p.63-

64, 2007.

SANTOS NETO, J. R.; CAMANDAROBA, M. Mapeamento dos sítios de alimentação da

arara-azul-de-Lear (Anodorhynchus leari) (Bonaparte, 1856). Ornithologia, v. 3, n. 1,

p. 1-17, 2008.

SCHLINDWEIN, M, N.; NORDI, N. Ecologia comportamental e biologia da conservação. In:

PIRATELLI, A. J.; M. R. FRANCISCO. Conservação da Biodiversidade: dos

conceitos às ações. Rio de Janeiro: Technical Books Editora, 2013, p. 69 – 102.

SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1997, 912 p.

SICK, H.; GONZAGA, L. P.; TEIXEIRA, D. M. A Arara-Azul-de-lear, Anodorhynchus leari

Bonaparte, 1856. Revista Brasileira de Zoologia, v. 3, n. 7, p. 441-463, 1987.

Page 35: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

31

SICK, H.; TEIXEIRA, D. M. Discovery of the home of the Indigo Macaw in Brazil.

American Birds, v. 34, n. 2, p. 118-212, 1980.

SILVA NETO, G. F.; SOUSA, A. E. B. A.; SANTOS NETO, J. R. S. Novas informações

sobre a dieta da arara-azul-de-lear, Anodorhynchus leari Bonaparte, 1856 (Aves,

Psittacidae). Ornithologia, v. 5, n. 1, p.1-5, 2012.

SNYDER, N. F. R. et al. Limitations of Captive Breeding in Endangered Species Recovery.

Conservation Biology, v. 10, n. 2, p. 338-348, 1996.

SNYDER, N. F. R. et al. Parrots: status survey and conservation action plan 2000–2004.

Gland, Switzerland and Cambridge, UK.: IUCN, 2000.

SOUSA, A. E. B. A. de; BARBOSA, A. E. A. Registro de ocorrência da arara-azul-de-lear

Anodorhynchus leari (Bonaparte 1856) no município de Monte Santo, Bahia.

Ornithologia, v. 3, n. 1, p. 64-66, 2008.

STYLES, D. K. Reproductive management of captive psittacine collections. The Veterinary

Clinics Exotic Animal Practice, v. 5, p. 475–487, 2002.

TEIXEIRA, C. P. et al. Revisiting translocation and reintroduction programmes: the

importance of considering stress. Animal Behaviour, v. 73, n. 1, p.1-13, 2007.

VELLOSO, A. L.; SAMPAIO, E. V. S. B.; PAREYN, F. G. C. Ecorregiões propostas para o

Bioma Caatinga. Recife: Flamar Gráfica e Editora, 2002. 75 p.

WALTERS, J. R. et al. Status of the Condor (Gymnogyps californianus) and efforts to

achieve its recovery. The Auk, v. 127, n. 4, p. 969-1001, 2010.

WATSON, R. Captive Husbandry Management of the Lear’s Macaw (Anodorhynchus leari)

at Al Wabra Wildlife Preservation. 33rd Annual Convention of the American

Federation of Aviculture (AFA), Los Angeles, 2007.

YAMASHITA, C. Field observations on the Indigo Macaw (Anodorhynchus leari), a highly

endangered species from northeastern Brazil. Wilson Bulletin, v. 99, n. 2, p. 280-282,

1987.

Page 36: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

32

Capítulo 1

COMPORTAMENTO DE ARARA-AZUL-DE-LEAR (Anodorhynchus leari) EM

CATIVEIRO

Resumo:

A arara-azul-de-lear (Anodorhyncus leari) é um psitacídeo endêmico da caatinga do

nordeste do estado da Bahia, classificada como em perigo de extinção em decorrência

principalmente da destruição do seu habitat e do tráfico de animais silvestres. Foi descoberta

na natureza a relativamente pouco tempo, sendo escassos estudos sobre a espécie. A

compreensão de padrões comportamentais de espécies ameaçadas é fundamental para a

elaboração de estratégias conservacionistas eficientes. O presente trabalho teve como objetivo

o levantamento do repertório comportamental de um grupo de indivíduos da espécie mantidos

pela Fundação Parque Zoológico de São Paulo. As observações ocorreram entre outubro de

2014 e fevereiro de 2016, totalizando 348 horas de esforço amostral através de amostragem

ad libitum de registro contínuo com caráter qualitativo em duas condições ambientais

distintas, tanto na manutenção dos indivíduos em pares quanto em bando, resultando na

descrição de 60 condutas comportamentais dentro das categorias manutenção, locomoção,

alimentação, social, estereotipado, reprodutivo e alerta, além de cinco padrões de vocalização

(alarme, contato, coesão, reprodução e imitação). A maioria dos comportamentos descritos

para outras espécies é relatada para A. leari, com maior semelhança com A. hyacinthinus.

Porém as diferenças são discutidas com o objetivo de contribuir com a formulação de um

perfil comportamental para a espécie e com informações que possam auxiliar na manutenção

de comportamentos naturais em cativeiro.

Palavras-chave: Aves, etograma, conservação ex-situ, Psittacidae

Page 37: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

33

Abstract:

The Lear's Macaw (Anodorhyncus leari) is an endemic parrot of northeastern Bahia

state, classified as endangered mainly due to the destruction of their habitats and wildlife

trade. It was recently discovered in the wild, and few studies are known for this species.

Understanding behavioral patterns of species threatened by extinction is essential for

developing effective conservation strategies. Here we describe the behavioral repertoire of a

group of this species maintained by the São Paulo Zoological Park Foundation. We carried

out observations between October 2014 and February 2015, totaling 348 hours of sampling

effort through ad libitum continuous record, in two different environmental conditions, both

in in pairs and in flock. We described 60 behavioral states, grouped in categories

maintenance, locomotion, feeding, social, stereotyped, reproductive and alert. We also found

five patterns of vocalization (alarm, contact, cohesion, reproduction and imitation). Most of

the behaviors described for other species is also reported here to A. leari, more similar to A.

hyacinthinus. We discuss the differences in order to contribute to the formulation of a

behavioral profile for this species, and with information that may assist in maintaining normal

behavior in captivity.

Keywords: Birds, etogram, ex-situ conservation, Psittacidae

Page 38: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

34

1. INTRODUÇÃO

Psittacidae é uma das famílias de aves mais ameaçada do mundo; no Brasil existem

representantes de 25 gêneros e 87 espécies, das quais 25 correm algum risco de extinção

(BIRDLIFE INTERNACIONAL, 2016). Entre essas espécies encontra-se a arara-azul-de-lear

(Anodorhynchus leari), cuja única população em vida livre é formada por aproximadamente

1300 indivíduos (BRASIL, 2015), sendo considerada globalmente ameaçada de extinção e

classificada como “em perigo” pela IUCN (BIRDLIFE INTERNACIONAL, 2013). Os

fatores de pressão envolvem principalmente a degradação do habitat, a caça e o tráfico

(LIMA, 2005; LUGARINI; BARBOSA; OLIVEIRA, 2012).

São aves monogâmicas e gregárias, endêmicas do nordeste do estado da Bahia,

ocorrendo na região do Raso da Catarina, onde ocupam grandes paredões de arenito para

nidificação e área de dormitório (PACÍFICO, 2011; LUGARINI; BARBOSA; OLIVEIRA,

2012). Apesar de ter sido descrita em 1856, foi descoberta na natureza apenas em 1978 por

Sick, Gonzaga e Teixeira (1987), trabalho no qual reuniram todo o conhecimento sobre a

espécie na época, e desde então poucos estudos foram publicados. Os estudos existentes para

A. leari compreendem a biologia em vida livre, com foco em distribuição geográfica,

alimentação, biologia reprodutiva, monitoramento populacional e genética (e.g. SICK;

TEIXEIRA, 1980; YAMASHITA, 1987; 1997; ALVARENGA, 2007; SANTOS NETO;

CAMANDAROBA, 2007; 2008; SOUSA; BARBOSA, 2008; ARAÚJO; COELHO;

BARBOSA, 2014; KUNIY; YAMASHITA; GOMES, 2001; SANTOS NETO; GOMES,

2007; LIMA; TENÓRIO; GOMES, 2014; BRANDT; MACHADO, 1990; SILVA NETO;

SOUZA; SANTOS NETO, 2012; AMARAL et al., 2005; PACÍFICO, 2011, PACÍFICO et

al., 2013; MENEZES et al. 2006; NOGUEIRA et al., 2006; PRESTI, 2010). Em relação à

conservação ex situ existem duas publicações com foco em manejo (WAUGH;

REINSCMIDT, 2006; WATSON, 2007) e um estudo com foco em capacidade cognitiva e

utilização de ferramentas (BORSARI, 2010). Munn (1995), Reynolds (1998) e Lima, Santos e

Lima (2003) destacaram a escassez de estudos relacionados ao comportamento reprodutivo da

espécie. Estudos específicos com descrições do repertório comportamental, tanto na natureza

quanto em cativeiro, nunca antes foram divulgados.

Uma das aplicações mais importantes do estudo do comportamento animal está

relacionada com o sucesso reprodutivo de espécies ameaçadas mantidas em cativeiro

(GIBBONS; DURRANT; DEMAREST, 1995). Em frente a atual crise da biodiversidade, as

Page 39: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

35

instituições mantenedoras de espécies ameaçadas colaboram diretamente na conservação

atuando como centros de reservas genéticas, contudo, constantemente enfrentam desafios

referentes à adaptação dessas espécies às condições de cativeiro (FRANKHAM, 2005).

Problemas comportamentais são frequentes na manutenção ex situ decorrentes dos constantes

fatores de estresses aos quais os espécimes são submetidos nessas condições (MORGAN;

TROMBORG, 2007) e fazem parte das principais preocupações envolvendo o bem estar

animal, sendo a ecologia comportamental uma ferramenta crucial para tomada de decisões

mais cabíveis relacionadas ao manejo dessas espécies (WILSON; LIGHTFOOT, 2005).

A padronização de comportamentos realizados por uma mesma espécie (protocolo ou

perfil comportamental) e a sua quantificação são ferramentas essenciais para o entendimento

das necessidades etológicas intraespecíficas em diferentes condições de cativeiro e é

fundamental para identificação de diferenças comportamentais entre indivíduos selecionados

para possíveis pareamentos (CARLSTEAD, 2000), já que a personalidade individual dos

espécimes influencia diretamente a reprodução em cativeiro, indicando casais que poderão ou

não apresentar potencial sucesso reprodutivo (PANKHURST et al., 2009).

As vantagens do estudo do comportamento em cativeiro incluem a presença constante

do animal, a possibilidade de controle de certas variáveis, identificação individual garantida e

chances de observação de comportamentos alterados. A proximidade oferecida pelo cativeiro

permite ainda a adaptação do objeto de estudo ao observador, possibilitando o registro de

comportamentos fortuitos e de difícil registro em campo, como comportamentos afiliativos e

reprodutivos, assim como vocalizações de curto alcance.

O monitoramento bioacústico é importante para compreensão de diversos aspectos

biológicos e ecológicos das espécies, como oferecer informações sobre sexo, idade, condição

física, comportamento, relação com outros indivíduos, estimar riqueza e abundância, auxiliar

em estudos filogenéticos e biogeográficos, contribuir para o planejamento de estratégias de

manejo e ações conservacionistas eficazes, avaliar grau de impacto antrópico (ALSTROÖM;

RANFT, 2003; LAIOLO, 2010), entre outros. Porém, o estudo da bioacústica em campo

muitas vezes é limitado pela ameaça constante que representa a presença de um observador na

natureza e pela distância entre a fonte de gravação e o som emitido (DE ARAÚJO, 2007). Os

trabalhos envolvendo análises sonoras focam principalmente em vocalizações de longo

alcance, pois vocalizações de curto alcance são caracterizadas pela baixa intensidade de

emissão e só ocorrem quando não existem ameaças eminentes, havendo necessidade de uma

maior aproximação em relação ao objeto estudado para serem gravadas sem que o observador

Page 40: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

36

represente uma ameaça, permitindo a espécie o desenvolvimento de comportamentos

conspícuos (DE ARAUJO, 2007). Neste sentido, mais uma vez o cativeiro age como fonte

complementar de informação aos estudos desenvolvidos em campo. A vocalização é uma das

características mais marcantes dos gêneros Ara e Anodorhynchus (SICK, 1997), sendo essa

comunicação não compreendida totalmente até hoje (DE ARAUJO, 2011).

Assim como as vocalizações, as araras possuem diversos outros comportamentos

comuns ao grupo, com cada espécie apresentando um perfil comportamental específico

(LOCATELLI et al., 2013). Sabe-se, por exemplo, que A. leari é notavelmente mais

neofóbica e tímida em relação à presença humana do que A. hyacinthinus (YAMASHITA,

1987; BORSARI, 2010), sendo esse tipo de informação muito relevante para o seu manejo ex

situ, já que aves com personalidades mais tímidas (reativas) tendem a demorar mais do que

aves mais ousadas (pró-ativas) para retomar a incubação de uma postura ou até mesmo

abandonar com maior facilidade seu ninho após algum tipo de distúrbio (COLE; QUINN;

2014). O desenvolvimento de pesquisa de base sobre comportamento de espécies ainda

pouco estudadas é fundamental para a compreensão de suas necessidades em cativeiro, que

quando supridas favorecem a reprodução, colaborando assim com a conservação no âmbito de

fornecer indivíduos que poderão um dia suplementar uma população em declínio ou serem

reintroduzidos em áreas onde já foram extintos.

Assim, o objetivo do presente trabalho consiste na apresentação de um protocolo

descrevendo os comportamentos e as vocalizações realizados por A. leari em cativeiro, tendo

como finalidade contribuir com as informações necessárias ao seu manejo e conservação ex-

situ.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O presente trabalho foi realizado na sede da Fundação Parque Zoológico de São Paulo

(FPZSP), localizada na região sudoeste do município de São Paulo e no Centro de

Conservação da Fauna Silvestre do Estado de São Paulo (CECFau), localizado no município

de Araçoiaba da Serra, SP. A Fundação é membro do Programa de Cativeiro da arara-azul-de-

lear e durante o desenvolvimento do estudo era responsável pela manutenção de 12 espécimes

adultos. As aves eram mantidas pela Fundação em áreas de acesso restrito descritas

anteriormente (pg. 15-19).

Page 41: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

37

Coleta de dados

Nove indivíduos (STB 47, 59, 35, 60, 38, 39, 61, 58 e 57) descritos previamente (pg.

19-21) foram selecionados para as análises comportamentais. As observações ocorreram do

dia 22/09/2014 a 03/10/2014. O método de observação aplicado foi o ad libitum

(ALTMANN, 1974) com registro contínuo, cinco vezes por semana, e duas sessões diárias

entre as 08h00min e 11h00min e entre as 14h30min e 17h30min, totalizando 20 sessões e 60

horas de observação. Esta etapa foi realizada após um período de cinco dias (30 horas) de

adaptação mútua entre a observadora e os indivíduos, visando reduzir o efeito do observador

na a amostragem dos dados. É importante ressaltar que durante todo o estudo a pesquisadora

evitou ao máximo realizar condutas de interação e presenciar situações onde pudesse ser

associada a qualquer tipo de estímulo. Após o período de adaptação, a observadora se

posicionava a cerca de um metro de cada recinto para a coleta dos dados, permitindo a

observação de toda área interna e registro detalhado dos comportamentos. Com base nessas

observações foram confeccionadas categorias comportamentais para a espécie, caracterizando

um etograma. Este etograma foi utilizado como base para o desenvolvimento da segunda

etapa do projeto que resultou na formulação do Capítulo 2 (quantificação dos

comportamentos sócio-reprodutivos). Novos comportamentos observados durante o flocking

foram descritos e adicionados ao etograma. Nesta etapa também foram registradas

vocalizações visando a complementação das descrições comportamentais. As gravações

foram realizadas com auxílio de um gravador profissional Marantz PMD670, microfone

direcional Sennheiser ME66 e módulo Sennheiser K6.

Como o objetivo principal do estudo foi caracterizar e quantificar os comportamentos

reprodutivos da espécie (Capítulo 2), os comportamentos não relacionados à reprodução

foram apenas qualificados visando à elaboração de um etograma.

Análise de dados

Foram definidas condutas comportamentais agrupados em categorias baseadas nos

trabalhos de URIBE (1982), PRESTES (2000) e SCHNEIDER, SERBENA; GUEDES (2006)

com as devidas adaptações a espécie em questão. A partir das observações foi definido o

protocolo comportamental, ressaltando alguns aspectos funcionais do comportamento. Uma

curva do coletor foi traçada para estimar a abrangência da coleta dos dados. As vocalizações

detectadas foram agrupadas de acordo com seu contexto comportamental, editadas pelo

programa Audacity® 2.1.2 (AUDACITY TEAM, 2015) e analisadas em estrutura através de

Page 42: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

38

sonogramas gerados pelo programa Raven Lite 1.0 (CHARIF, R. A.; PONIRAKIS, D. W.;

KREIN, T. P., 2006). Foram medidas as durações das notas, frequência aproximada de

ocorrência do harmônico fundamental, concentração da intensidade e faixa de frequência

utilizada.

3. RESULTADOS

Na primeira etapa do estudo, foram empregadas 60 horas de esforço amostral em 20

sessões onde foram identificadas e descritas 51 diferentes condutas comportamentais (Figura

1), divididos em oito categorias, sendo elas: manutenção, locomoção, alimentação, social,

comportamento estereotipado, vocalização, comportamento reprodutivo e alerta. Nove novas

condutas foram observadas e descritas durante a segunda etapa do projeto (flocking), estando

inclusos no presente etograma, totalizando 60 comportamentos (vide Anexo I).

Figura 1- Número de novas condutas comportamentais observados por sessão de observação para A. leari

mantida em cativeiro.

Protocolo de atividade de arara-azul-de-lear em cativeiro

Manutenção

Limpar

Limpar o bico: para limpeza externa a ave fricciona ambos os lados do bico contra o

chão, grade ou poleiro diversas vezes, intercalado os lados. Para limpeza interna a ave reclina

a cabeça para baixo e eleva um dos pés em direção ao interior do bico, passando a unha do

dedo III por toda a parte interna da maxila superior.

0

20

40

60

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

N d

e co

nd

uta

s

Sessões

Comportamentos observados por sessão (n = 51)

Page 43: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

39

Limpar os pés: o pé é elevada na altura do peito e a cabeça se inclina para baixo, sendo

que o bico alcança a região entre as falanges, por onde língua e bico são passados.

Limpar as narinas: com a cabeça reclinada para baixo, um pé se eleva em direção a

cabeça e a unha do dedo III adentra a cavidade nasal realizando a limpeza com movimentos

repetitivos para dentro e para fora, geralmente o ato é seguido por um espirro.

Limpar as penas (preening): a ave organiza/limpa as próprias penas com auxílio do

bico e da língua, que possui ângulo de ação voltada para baixo. Frequentemente as penas são

eriçadas para facilitar sua seleção. A cabeça se move em direção a parte do corpo a ser limpa.

A ação pode ser voltada ao peito, ventre, dorso, asas, tarsos e cauda. Penas pequenas, como

tetrizes e plúmulas, são selecionadas com auxilío da ponta da maxila superior e mordiscadas

com a maxila inferior. As penas maiores, como as penas de voo, também são separadas pela

mandíbula superior no início da raque, próximo ao cálamo, passando entre a língua e a maxila

superior conforme movimento da cabeça. Para limpeza das coberteiras, a asa se mantem

entreaberta, paralela ao corpo, indo a cabeça lateralmente em direção a elas. Para as rêmiges e

retrizes, as asas ficam próximas ao corpo e a cabeça se volta para baixo em direção ao dorso,

com a pena separada no bico, a cabeça se move para trás e para cima, enquanto a pena desliza

no bico. As penas são abertas levemente em leque para facilitar a seleção. A limpeza das

penas da tíbia pode ocorrer de duas formas, com os dois pés fixos sobre o poleiro e a cabeça

abaixando-se em direção a elas, ou com o pé levantado indo a cabeça em direção a ela na

altura do ventre.

Descanso

Repousar: o ato pode ser realizado de cinco diferentes formas: empoleirada, sobre os

pés, sobre o ventre, na horizontal e na grade. A ave empoleirada se encontra sobre o poleiro,

com os pés paralelos e levemente separadas, cauda para baixo, pescoço em posição normal

(nem recolhido, nem estendido), asas paralelas ao corpo, bico fechado e penas não eriçadas.

Na posição “sobre os pés” a ave se posiciona “empoleirada”, porém com um dos pés

recolhidos em direção ao ventre com as falanges fechadas. “Sobre o ventre” a ave se encontra

“empoleirada”, porém com os pés flexionados de forma a apoiar o ventre no poleiro,

escondendo os pés. “Na horizontal” a ave repousa com o ventre apoiado no substrato, pescoço

distendido para frente, cabeça e cauda na horizontal um pouco abaixo da linha do corpo com

as asas afastadas e apoiadas no poleiro, observa-se movimentos de contração da cauda. “Na

grade” o indivíduo se posiciona de forma vertical e paralela a tela do recinto, com apoio dos

Page 44: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

40

pés e do bico que se prendem a grade, estando a cauda e o ventre pressionados contra a

mesma.

Alongar: em posição de descanso, geralmente “empoleirada”, a ave flexiona um dos

pés e apoia o ventre no poleiro, estendendo o outro pé, cauda e a asa correspondente para trás

e para baixo, inclinando o corpo levemente para o lado oposto. Asa e cauda são abertas em

leque, e toda a musculatura é estendida, inclusive das falanges. O ato também pode ser

realizado erguendo-se as asas em direção ao dorso, onde as álulas quase se encontram por

alguns segundos, sendo possível observar a abertura das rêmiges. O corpo é levemente

inclinado para frente durante este processo. Após este alongamento, ainda é possível que a

ave bata as asas por cerca de três vezes já com o corpo ereto para então voltar a posição

inicial.

Dormir: é comum ocorrer nas posições de espera, podendo estar a cabeça voltada para

o dorso com o bico entre as penas do manto, entre o dorso e a asa, ou na plumagem eriçada do

peito. Pode ocorrer também com o peito apoiado sobre a lateral do paredão e deitada no

paredão com o ventre e os pés para cima.

Aparar o bico: a ave movimenta de forma rápida e repetitiva objetos duros (pedras,

tijolo, concreto, torrão de terra, madeira) para frente e para traz entre a mandíbula superior e

inferior, causando desgaste tanto do objeto quanto do bico.

Banhar: Indivíduo entra com as duas patas no cocho de água, abaixando e levantando.

Bater na água com um dos pés também é frequente. Asas abrem e fecham lateralmente. Após

se molhar, a ave sai do cocho e se chacoalha eriçando as penas.

Brincar: a ave destrói com o bico enriquecimentos, poleiros e substratos como plantas

e pedras.

Bocejar: em posição de espera, o indivíduo abre e fecha o bico lentamente elevando a

língua, ocorrendo o prolongamento do maxilar para frente, estando a cabeça levemente

inclinada para cima.

Cavar: a ave raspa com a ponta da maxila superior superfícies como poleiro, ninho,

paredão ou alimento.

Coçar: pode ocorrer com as unhas ou com o bico. No primeiro caso, o individuo

alcança a parte a ser coçada direcionando o pé para a região e utilizando a unha para coçar.

Quando a região a ser coçada é a cabeça, esta se inclina em direção as patas. No segundo

caso, a ave torce a cabeça e leva o bico até a região pretendida, raspando-o no local. Podendo

também esfregar a região nos poleiros e telas.

Page 45: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

41

Debicar: a ave bate bruscamente a parte frontal da maxila superior no poleiro, cocho

ou tela do recinto.

Eriçar: principalmente em situações de alerta, as penas da cabeça, pescoço, peito e

dorso se levantam.

Espirrar: após a limpeza da narina, a ave expeli ar pelas narinas para completar a

limpeza. O ato produz um som característico de espirro e não é acompanhado por secreções.

Ofegar: em posição de espera a ave permanece com o bico parcialmente aberto e com

a língua se movendo para cima e para baixo, acompanhado de movimentos torácicos , sendo

que muitas vezes a respiração é audível.

Sacudir plumagem: a ave eriça as penas do corpo, principalmente pescoço, dorso e

ventre, sacudindo-as rapidamente para esquerda e para a direita.

Locomoção

Andar: no poleiro, com a cauda levemente levantada, as patas se movem de forma

alternada para frente, com as falanges fixas ao poleiro, provocando o deslocamento. Ao andar,

a cauda se desloca ligeiramente para o lado da pata movimentada, portanto, o corpo se inclina

para o lado da pata que está à frente. No deslocamento no chão, as patas permanecem

separadas e se movem paralelamente com os dedos estendidos, a cauda se arrasta pelo

substrato.

Correr: a ave se locomove rapidamente pelo chão do recinto ou paredão movendo de

forma intercalada as patas. O ato pode ser acompanhado por saltos.

Escalar: intercalando o movimento das patas, a ave agarra o substrato e com auxílio

do bico projeta seu corpo para cima. A cada mudança de apoio entre as patas a ave apoia seu

bico novamente no substrato.

Deslizar: com os dois pés fixos a um poleiro reclinado, a ave desliza de um nível mais

alto para um nível mais baixo.

Ganhar impulso: o ato precede o comportamento voar e saltar. Sobre uma superfície

como chão, poleiro, grade ou paredão, a ave inclina seu corpo para baixo, flexionando o

calcanhar para trás e para baixo e impulsionando o corpo para o alto e para frente.

Saltar: flexionando as patas simultaneamente sobre o substrato e de forma paralela, a

ave impulsiona o corpo para cima, podendo bater rapidamente as asas durante o movimento

dependendo da distância a ser alcançada. Muitas vezes é utilizada juntamente com o ato de

andar como forma de rápida locomoção no solo.

Page 46: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

42

Voar: com o corpo paralelo ao chão, cauda estendida horizontalmente, cabeça

estendida um pouco abaixo da linha do corpo e patas flexionadas, a ave visualiza o local de

pouso, impulsiona o corpo com as patas realizado um salto e batendo as asas abertas para

cima e para baixo realiza o voo. Durante o ato, a cabeça permanece na linha do corpo ou

levemente abaixo.

Pousar: para pousar após voo, a ave bate as asas para frente e para trás, com as penas

abertas em forma de leque, assim como a cauda, fornecendo resistência ao movimento até os

pés agarrarem o substrato, flexionando os tornozelos e cessando o voo. Para pousar após o

salto, as asas são flexionadas para trás, criando um ângulo de resistência entre o corpo e a asa

até os pés alcançarem o substrato, com flexão dos tornozelos e fixação ao poleiro. As penas

da asa e da cauda não se abrem em leque.

Alimentação

Beber: elevando a cauda e flexionando a cabeça para baixo em direção ao cocho, a ave

submerge parte do bico e da língua na água, levantando rapidamente a cabeça e trazendo a

língua para trás. O movimento é repetido até a ave ficar satisfeita.

Forragear: a ave anda pelo solo ou voa em direção a diferentes cochos a procura de

alimento caído.

Comer: o alimento pode ser pego com o pé e levado ao bico, ou pode ser pego no

cocho diretamente com o bico. Alimentos duros como sementes e ração são triturados ou

raspados com a maxila inferior, apoiados sob a maxila superior. O alimento é posicionado

com auxílio da língua. Alimentos moles como frutas são segurados com um dos pés e

raspados com a ponta da maxila superior. Em ambos os casos a língua, encurvada para baixo,

realiza movimentos de vai e vem trazendo o alimento para dentro do bico. É comum o pé de

apoio e o pé que segura o alimento se alternarem, porém observou-se a preferência pelo uso

do pé esquerdo para realizar o manuseio dos alimentos. Muitas vezes pedaços de alimento

são cumulados dentro do bico e das patas para deslocamento.

Regurgitar: a ave movimenta por três ou quatro vezes a cabeça com movimentos

elípticos (para frente, para baixo, para traz e para cima), podendo fazer com que o alimento se

desloque do inglúvio para o bico (alimento não digerido). Quando há deslocamento do

alimento, este é dispensado ao chão ou novamente engolido. O comportamento ocorre após

fatores estressantes e não é ofertado a outra ave. Observado apenas para o macho STB 175.

Page 47: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

43

Excretar: na posição “empoleirada”, a ave eleva a cauda e o corpo estendendo as

patas, eriça levemente as penas e abaixando um pouco a cauda e expondo a cloaca, defeca.

Social

Afilitivo

Alimentação conjunta: os indivíduos se alimentam ao mesmo tempo no mesmo cocho.

Aproximar: na posição “empoleirada” a ave movimenta as patas lateralmente no

poleiro se aproximando de outro indivíduo.

Chamar atenção: a ave curva o corpo para baixo, ergue a cauda e bica levemente a

pata do parceiro, podendo também pressionar o bico de forma leve e rápida contra o peito, a

asa ou a cabeça do outro indivíduo.

Contato de bico: os parceiros encaixam um bico no outro e realizam movimentos

delicados tocando as línguas, tocando a língua no bico do parceiro ou apenas tocando os

bicos. A ave pode também com a ponta da maxila superior limpar a cavidade do parceiro.

Segurar pés: em posições de descanso, o indivíduo eleva o pé e segura o pé oposto do

parceiro, também levantada, podendo até dormirem assim.

Furtar objeto: ao observar o parceiro manipulando um objeto (enriquecimento,

alimento, etc), a ave se aproxima suavemente e com o bico tenta retirar o alimento da outra,

que pode aceitar dividi-lo, se afastar lentamente ou tentar afastar a outra ave com o pé. Não

existe nenhum tipo de interação agonística.

Allopreening: a ave realiza a limpeza das penas de outro indivíduo. Alisa ou mordisca

as penas do parceiro delicadamente, principalmente em regiões de difícil limpeza pelo

mesmo, como cabeça, pescoço e região da cloaca. O comportamento não é retribuído (Figura

2).

Mutual allopreening: allopreening mútuo entre os parceiros. Quando realizado na

região da cloaca, os indivíduos permanecem lado a lado, paralelos e em sentidos opostos.

Ambos posicionam a cauda e a cabeça na linha do corpo, horizontalmente, com ambos os pés

fixos ao poleiro, direcionando o bico para a parte de baixo da cauda do parceiro. A cabeça se

volta para cima, permitindo que o bico mordisque as penas na região da cloaca (Figura 2).

Figura 2. Três formas de conduta de limpeza das penas realizada por A. leari. Preening: limpeza própria(a);

Allopreening: limpeza do parceiro (b); Mutual allopreening: limpeza mútua (c).

Page 48: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

44

Ilustração: Pedro Busana, 2016.

Agonístico

Estranhar: ocorre quando um indivíduo se aproxima do outro e este permanece no

local, porém evitando a aproximação levantando a pata ou dando bicada no outro e

vocalizando. Não ocorre encontro agonístico, nem afastamento.

Afastar: na posição “empoleirada” a ave movimenta as patas lateralmente no poleiro

ou realiza um voo se afastando de outro indivíduo.

Fugir: sob aproximação agonística, a ave alvo levanta voo e se desloca para um lugar

distante do agressor.

Simulação de cópula: sem função reprodutiva, o casal simula cópula sem interações

afiliativas prévias e sem contato de cloacas. O comportamento dura apenas alguns segundos.

As aves não ficam tão próximas quanto o observado para cópula efetiva, apenas o suficiente

para as caudas se cruzarem acima da linha do corpo. É visível o estado de alerta das aves, que

podem emitir a vocalização de alerta antes ou depois do ato. O comportamento é visto em

momentos de potencial ameaça, como aproximação de outras aves e pessoas, ocorrendo

geralemente próximo ao ninho escolhido pelo casal.

Suplantar: uma ave voa em direção a outra de forma menos agressiva e com menor

velocidade de voo do que na utilizada no ato “investir”. A ave alvo levanta voo e se afasta.

Seu lugar é ocupado pela agressora. Não ocorre contato físico no ato.

Page 49: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

45

Perseguir: um indivíduo ou um casal voam agressivamente atrás de outra ave, que

foge diversas vezes levantando voo e pousando em vários pontos do recinto, sendo seguida

pelas aves agressoras.

Investir: a ave agressora voa em direção à ave agredida, expulsando-a. Não ocorre

contato físico, porém a ave se aproxima em voo com os pés e o bico abertos voltados para

frente em direção à outra em alta velocidade. A ave alvo levanta voo assim que percebe a

aproximação, sendo este o comportamento que precede um encontro agonístico propriamente

dito. Nem sempre a ave agressora ocupa o lugar ocupado pela ave agredida.

Bicar: a ave disfere um movimento contra outra com o bico, este se abre e se fecha na

outra ave, geralmente no peito, ventre e membros inferiores. A ave também pode disferir o

movimento contra o bico de outra ave, neste caso o ato é precedido por uma postura ereta do

corpo, com o bico aberto e movimentos lentos e curtos para frente, para traz e lateralmente,

como se avaliasse a possibilidade de ser agredida primeiro pela outra ave, as asas se

encontram levemente afastadas do corpo.

Encontro agonístico: ocorre quando um indivíduo se aproxima de outro de forma

agonística e este resiste ao invés de fugir. A ave agressora se aproxima geralmente voando

rapidamente com os pés e o bico abertos direcionados para frente em direção ao peito de outra

ave. A ave agredida responde levantando voo, bicando e se agarrando à ave agressora (Figura

3). Com frequência os indivíduos caem no chão, onde a briga continua até um dos indivíduos

consiga se afastar. Comportamento acompanhado pela Vocalização tipo I.

Page 50: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

46

Figura 3. Representação gráfica da conduta “encontro agonístico” entre dois indivíduos de A. leari.

Ilustração: Pedro Busana, 2016.

Comportamento estereotipado

Balançar: na posição “empoleirada” a ave balança a cabeça para cima e para baixo

repetidas vezes, podendo ocorrer também em deslocamento quando a ave anda de frente pelo

poleiro balançando verticalmente a cabeça a cada passo. Observado apenas para a fêmea STB

59.

Chacoalhar a cabeça: na posição de repouso empoleirada, a ave agita vigorosamente

e rapidamente a cabeça para o lado esquerdo e para o lado direito repetidas vezes. Observado

apenas para o macho STB 35.

Andar lateral bicando asa: com aproximação humana, a ave anda lateralmente no

poleiro com o bico mordiscando a asa retraída e levantada na altura da cabeça. Observado

apenas para o macho STB 23.

Pêndulo: a ave se encontra por muito tempo em posição vertical, com os pés fixos na

tela superior do recinto, de cabeça para baixo e cauda para cima ou com a cabeça entre os pés

Page 51: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

47

e cauda para baixo, podendo ocorrer com a ave pendurada apenas pelo bico ou com apenas

um pé.

Comportamento reprodutivo

No ninho: a ave entra e permanece dentro do ninho.

Porta: a ave se encontra em posição de espera próxima a entrada do ninho.

Verificar ninho: o macho entra e sai do ninho antes da fêmea para verificação, a fêmea

pode acompanhá-lo na sua entrada ou esperar sua saída. Ato frequentemente observado após

períodos de perturbação, como manejo ou checagem do ninho pelos tratadores e técnicos.

Defesa do ninho: com a aproximação de uma possível ameaça (aproximação humana

ou de outra ave que não o parceiro), a ave assume uma postura defensiva em frente a entrada

do ninho, se locomovendo de um lado para o outro, dando bicadas, vocalizando e até mesmo

investindo na possível ameaça. A ação pode se estender por toda área de dominância do casal.

Cortejo alimentar: balançando a cabeça em movimentos elípticos, retraindo e

estendendo o pescoço, provocando o deslocamento do alimento do papo para o bico, a ave em

posição “empoleirada” oferece o alimento virando o seu bico em direção ao bico do parceiro.

Este por sua vez flexiona as patas, recolhe o pescoço e se posiciona abaixo do bico do

parceiro com a cabeça voltado para cima e o bico entreaberto. A ave que oferta o regurgito

posiciona o seu bico aberto voltado para baixo sobre a maxila superior do parceiro,

direcionado o alimento regurgitado para dentro do bico do parceiro com auxílio da língua

(Figura 4). Comportamento observado apenas na estação reprodutiva.

Page 52: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

48

Figura 4 - Sequência de movimentos desenvolvidos por A. leari durante o ato “cortejo alimentar”. Macho

(esquerda) e fêmea (direita) aproximam os bicos (a), a fêmea se posiciona abaixo do bico do macho (b), macho

posiciona seu bico de forma transversal ao bico da fêmea para então iniciar os movimentos elípticos com a

cabeça conduzindo o alimento para dentro do bico da fêmea (d e e).

Ilustração: Pedro Busana, 2016.

Pedir cópula: o indivíduo interessado permanece junto ao parceiro, abaixando a

cabeça e posicionando a sua cauda sobre a cauda do parceiro caso o indivíduo interessado seja

fêmea, ou sob a cauda da parceira caso o indivíduo interessado seja macho (Figura 5).

Frequentemente dando leves bicadas na pata e no peito do parceiro, acompanhado da

vocalização IV.

Page 53: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

49

Figura 5 – Sequência de movimentos desenvolvidos por A. leari durante o ato “pedir cópula”. O ato pode ser

precedido por comportamentos de limpeza, como allopreening (a), seguido da aproximação mútua (b), onde a

ave que solicita a cópula posiciona sua cauda em direção ao parceiro (c) realizando movimentos para cima e para

baixo com as patas e cauda, estimulando a elevação da cauda do parceiro (d, e, e f).

Ilustração: Pedro Busana, 2016.

Copular: o casal se posiciona lateralmente, muito próximos, direcionam a cabeça para

baixo e cauda para cima em direção ao parceiro, estando a cauda do macho por baixo da

cauda fêmea. As caudas se movem lentamente para as laterais, encostando-se as cloacas. O

ato é acompanhado pela vocalização V. Os pés podem estar fixos ao substrato, agarrando um

pé do parceiro ou com um pé do macho sobre o dorso da fêmea. A intensidade do movimento

é gradativa e ao atingir o ápice, as cloacas se afastam e as caudas se abaixam, voltando a

posição “empoleirado”. É perceptível o movimento de pulsação das cloacas e o movimento

ofegante das línguas. A cópula muitas vezes ocorre após condutas de interação mútua como

contato de bico e mutual allopreening (Figura 6).

Page 54: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

50

Figura 6. Sequência de movimentos realizados por A. leari durante o ato “copular”. (I) As aves se aproximam e

manifestam o interesse pela cópula (a), caso o parceiro seja receptivo (b) as caudas sobrepostas se elevam (c) e

as aves buscam o contato entre as cloacas (d). (II) Vista frontal do ato “copular”, onde é possível observar a

aproximação com sobreposição de cauda (a e b) e realização da cópula com sobreposição de paras (c) e asas (d).

Ilustração: Pedro Busana, 2016.

Alerta

Encolher: sob alguma perturbação do meio, a ave encolhe o pescoço e as asas junto ao

corpo e observa a possível ameaça.

Vigiar: duas posições são possíveis enquanto a ave observa o ambiente. Na primeira

estende o pescoço para cima, cauda levemente para cima e asas junto ao corpo. Na segunda

posicionam a cabeça na altura ou abaixo dos pés, com pescoço estendido para frente e cauda

para baixo. Ato acompanhado por vocalização I.

Vocalização

Foi possível observar que as vocalizações registradas para A. leari são constituídas

por unidades curtas, simples e em forma de harmônicos que são chamadas de sílabas, um tipo

Page 55: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

51

de som não puro constituído de um harmônico fundamental e mais outros chamados de modos

harmônicos, que são múltiplos da frequência do harmônico fundamental (MOURA, 2007), e o

conjunto dessas sílabas constituem as frases. As estruturas harmônicas observadas são

semelhantes entre si no quesito da forma, mas diferem em intensidade, frequência máxima e

mínima do harmônico fundamental, números de harmônicos, concentração de energia e

duração, representando cinco diferentes formas de vocalização, além das imitações vocais.

Segundo ORTIZ (2011), as vocalizações podem ser relacionadas a um contexto

comportamental e agrupadas em categorias como: alarme, contato de voo e pouso, agonística,

afugentamento, corte, dueto, entre outras.

Seis vocalizações foram observadas com cinco contextos diferentes, sendo eles:

1) Vocalização de alarme

Vocalização tipo I: vocalização observada com maior frequência nos momentos

iniciais e finais do dia, assim como durante a percepção de potenciais ameaças (como

aproximação de pessoas, em especial de técnicos da Fundação). Som agudo, alto e repetitivo

relacionado geralmente a comportamentos agressivos ou de alerta. Pode ser iniciada por um

único individuo, sendo posteriormente realizada por todo o bando ao mesmo tempo em

posição de espera. É possível observar o bico abrindo e fechando associado a movimento

torácico-abdominal causado pelos músculos respiratórios. A vocalização realizada no ato da

expiração é representada por sonograma através de harmônicos com estrutura de Us

invertidos, com duração de aproximadamente 0,4 segundos e até 6 kHz de frequência. O

harmônico fundamental está em torno de 600 Hz, a energia é concentrada em H2 e H3 entre 1

e 2 KHz (Figura 7a). As estruturas são sobrepostas quando realizadas em conjunto pelo bando

(Figura 7b).

2) Vocalização de contato

a) De longa distância

Vocalização tipo II: vocalização ocorre sem período específico, indicando

comunicação entre os indivíduos que se encontram totalmente despertos, muitas vezes

precedendo a Vocalização I. Sons mais graves, mais baixos e mais espaçados que Vocalização

tipo I, mas ainda sim altos. Também é possível observar o bico abrindo e fechando associado

a movimentos de contração dos músculos respiratórios, ocorrendo em resposta a vocalização

de outros indivíduos. A estrutura do harmônico se assemelha à vocalização tipo I pela

frequência máxima, porém apresenta duração média de 0,6 segundos, harmônico fundamental

Page 56: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

52

em torno de 600 Hz, com concentração de energia em H1, H2 e H3 entre 0,4 e 2 KHz (Figura

7c).

b) De curta distância

Vocalização tipo III: vocalização observada em períodos de menor atividade, onde as

aves se encontram sonolentas e algumas se encontram dormindo. São mais graves, mais

baixas e mais espaçadas que vocalização tipo II. Menos indivíduos respondem. As estruturas

dos harmônicos duram aproximadamente 0,25 segundos, chegam a 3 KHz, com harmônico

fundamental em torno de 400 Hz e energia concentrada em H1, H2 e H3 entre 0,4 e 2 KHz

(Figura 7d).

3) Vocalização de coesão de casal

Vocalização tipo IV: vocalização observada durante comportamentos de interação

social entre parceiros como allopreening, mutual allopreening, contato de bico e pedido de

cópula. Som agudo com duração de 0,25 s, chegando a frequência máxima de 2 KHz. O

harmônico fundamental está em torno de 800 Hz. A energia concentrada é a mesma entre os

dois harmônicos existentes (Figura 7e).

4) Vocalização de reprodução

Vocalização tipo V: vocalização relacionada a cópula. Mais aguda e gradativamente

mais alta e frequente que vocalização IV. A frequência máxima chega a 10 KHz com duração

de 0,7 segundos, harmônico fundamental em 900 Hz com energia concentrada em H3 em

torno de 2 KHz (Figura 7f).

5) Imitações vocais

Vocalização tipo VI: a ave vocaliza sons que não são parte do seu repertório natural,

como imitação do canto de outras aves, toque de celular e vocalizações humanas, como “

loro”, “arara”, resmungos e assobios.

Durante o estudo, observou-se um dos indivíduos mimetizando a vocalização de um

tico-tico (Zonotrichia capensis) diversas vezes. Essa espécie ocorre com grande riqueza na

área do recinto das araras, forrageando os restos de alimentos que caem no chão. Suas

vocalizações estão presentes em praticamente todo o registro sonoro do estudo. Na figura 8,

observam-se os três harmônicos vocalizado pela arara logo abaixo das três últimas sílabas da

frase do tico-tico (som puro). Na terceira repetição consta a vocalização mimética da arara no

Page 57: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

53

intervalo correto que a vocalização do tico-tico costuma ocorrer (cinco segundos após a

última vocalização), porém o tico-tico vocaliza após 7 segundos e então a arara para de imitá-

lo. Quando o tico-tico torna a vocalizar no período certo, a arara emite uma vocalização

semelhante a vocalização II e então volta a imitá-lo (Figura 7g).

Figura 7. Representações gráficas das vocalizações de A. leari em cativeiro.

(a) Sonograma representando a vocalização tipo I (alerta) de um único indivíduo, indicação da sílaba (1) e sílaba

de inspiração (2); (b) Sonograma representando o conjunto de vocalizações tipo I de vários indivíduos; (c)

Sonograma representando a vocalização tipo II de diferentes indivíduos; (d) Sonograma representando a

vocalização tipo III de dois indivíduos; (e) Sonograma representando a vocalização tipo IV de um único

indivíduo durante interação social afiliativa com parceiro; (f) Sonograma representando a vocalização tipo I de

uma fêmea durante cópula; (g) Sonograma da vocalização de um indivíduo imitando um tico-tico.

4. DISCUSSÃO

A transferência dos espécimes da sede da FPZSP para o CECFau possibilitou a

descrição de comportamentos não observados anteriormente. A obtenção de nove

comportamentos (banhar, deslizar, fugir, investir, suplantar, perseguir, encontro agonístico,

regurgitar e verificar ninho) após a curva do coletor atingir um platô de estabilidade

demonstra que a formulação de um etograma nunca estará completa, principalmente em

cativeiro, onde o desenvolvimento de novos comportamentos está relacionado com a

Page 58: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

54

capacidade cognitiva dos animais e com as mudanças das estruturas dos recintos, da rotina, do

ambiente e do manejo (LIGHTFOOT; NACEWICZ, 2006). Esses novos comportamentos

observados apenas durante o flocking, como “banhar” e “deslizar”, estão relacionados às

mudanças climáticas e estruturais decorrentes da transferência dos animais de São Paulo para

os novos recintos em Araçoiaba da Serra (maior temperatura média anual e maior variedade

de ângulos dos poleiros ofertados).

Os comportamentos agonísticos de estabelecimento de dominância “suplantar”,

“investir” e “encontro agonístico”, assim como o comportamento de alerta para possível

ameaça “verificar ninho” observados apenas em Araçoiaba estão associados às alterações nas

relações sociais em decorrência da interação permitida entre os espécimes participantes do

flocking.

É relevante ressaltar que certos comportamentos podem não ter sido observados

em São Paulo na presença da observadora por esta não representar uma ameaça, evitando

estar presente em momentos que possam ter sido estressante para as aves justamente para que

a associação entre pesquisadora e estímulo não ocorresse.

Sabe-se que a possibilidade de interação com outros indivíduos para espécies

sociais reduz a taxa de ocorrência de comportamentos estereotipados (GARNER et al., 2006).

Esta categoria de comportamento foi observada tanto na sede da FPZSP quanto no CECFau,

porém apenas o comportamento “andar lateral bicando asa” continuou a ser desempenhado

durante o flocking. Comportamentos estereotipados são muito comuns em cativeiro, onde não

existem interações competitivas (alimentar, reprodutiva ou territorial), predação, e

suscetibilidade a alterações ambientais, o que torna o ambiente desestimulante física e

psicologicamente para os indivíduos cativos, que podem apresentar diferentes tipos e graus de

anormalidade mesmo sob as mesmas condições (JEPPESEN; HELLER; BILDSOE, 2004), já

que existe uma relação entre tolerância ao estresse e personalidade em aves (CUSSEN;

MENCH, 2015). O “andar lateral bicando asa” é desenvolvido exclusivamente pelo macho

STB 23, sempre em situações de aproximação humana e principalmente quando o observador

olha diretamente para ele, sendo o levantar de asa observado neste comportamento um sinal

claro de intimidação (MOURA, 2007), mostrando alta sensibilidade desta ave à presença

humana. Com exceção deste indivíduo, os demais mantidos pela Fundação não apresentam

comportamentos estereotipados com frequência, e quando apresentam, as taxas são baixas e

sem riscos para a integridade física do animal.

Page 59: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

55

Todos os indivíduos provenientes de outras instituições apresentaram estereotipias

durante o flocking. O indivíduo STB 175 foi recentemente integrado ao programa de cativeiro,

apresentando alta sensibilidade a perturbações, regurgitando com frequência nessas situações

e realizando preening exageradamente nas penas da região do pescoço, porém sem danificá-

las. Não foi constatado sinal clínico de nenhuma patologia, indicando ser um distúrbio

puramente comportamental de grau leve. Distúrbios puramente comportamentais são

causados por um ou mais fatores estressantes (SCHMID; DOHERR; STEIGER, 2006),

podendo estar associado às pressões sociais relacionadas ao flocking e a recente introdução ao

cativeiro. Este indivíduo deve ser acompanhado para que o quadro não se agrave, pois o

preening excessivo está relacionado com o desenvolvimento da síndrome do arrancamento de

penas (VAN HOEK; KING, 1997), comum em psitacídeos cativos (GARNER et al., 2006),

sendo que diversos autores destacam que a maioria das aves possui preferência pelo

arranchamento de penas dessa região em decorrência da facilidade de acesso (VAN HOEK;

KING, 1997; NETT; TULLY, 2003). O indivíduo STB 24 apresentou o comportamento

estereotipado de passar a maior parte do tempo de ponta cabeça pendurado pelos pés na tela

superior do recinto como forma de se manter afastado das outras aves. A fêmea STB 37, que

não apresentava este comportamento, passou a desenvolvê-lo para se manter próxima a ele,

por já se conhecerem previamente. De 2001 a 2005 estiveram sob os cuidados da FPZSP,

foram transferidos para a Fundação Lymington em 2005, onde permaneceram juntos até 2010,

quando a fêmea foi transferida para o zoológico de Belo Horizonte.

Diversas espécies apresentam aprendizagem social e podem aprender

comportamentos observando outros animais, inclusive comportamentos anormais (GARNER

et al., 2006). A aversão a outras aves pode estar relacionada com a ausência de socialização

adequada com coespecíficos em fases anteriores do seu desenvolvimento ou interação

excessiva com seres humanos, sendo que aves mantidas sozinhas por muito tempo em recinto

exclusivo podem apresentar distúrbios comportamentais como o medo (MEEHAN;

GARNER; MENCH, 2003). Apesar da melhora no bem estar que a possibilidade de

socialização oferece para psitacídeos, isto também pode aumentar os riscos de injúrias entre

as aves (eg. MEEHAN; GARNER; MENCH, 2003), o que foi confirmado pelos encontros

agonísticos registrados que só ocorreram durante o flocking. Este comportamento está

relacionado com questões de dominância, sendo relatado para outras espécies de psitacídeos

cativos que vivem em grupo, visando o estabelecimento de uma hierarquia no bando

(HARDY, 1965; TARVIN; WOOLFENDEN, 1997; SEIBERT; CROWELL-DAVIS, 2001).

Page 60: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

56

Segundo Sick (1997), alguns comportamentos são comuns em psitacídeos em

cativeiro, como o chacoalhar da plumagem em momentos de alerta, a contração da íris em

momentos de excitação, dormir com o bico entre as penas do dorso em momentos de

relaxamento, levantar o pé, arrepiar a plumagem da cabeça, abaixar e levantar o corpo

repetidamente e disferir bicadas em sinais agonísticos, De fato, grande parte dos

comportamentos descritos no presente estudo é observada para outras espécies de psitacídeos.

As agressões físicas do “encontro agonístico” tendem a acontecer no chão, como observado

também por Moura (2007) para Amazona amazonica, assim como a posição de cópula com

asa e pés dispostos em cima da fêmea.

Das 34 condutas descritas para A. hyacinthinus de vida livre (SCHNEIDER;

SERBENA; GUEDES, 2006), 31 foram observadas para A. leari em cativeiro. As três

condutas não descritas para A. leari estão relacionadas à manipulação de frutos encontrados

na natureza: retirada dos frutos dos galhos, manipulação dos frutos e procura de frutos nas

fezes do gado. Todas essas condutas já foram descritas para A. leari na natureza (BRANDT;

MACHADO, 1990; SILVA NETO; SOUSA; SANTOS NETO, 2012), sendo a manipulação

de frutos citada também em cativeiro (BORSARI, 2010). Não foram observados no presente

estudo pela ausência de oferta de frutos de palmeiras. Na natureza, a alimentação é uma das

atividades observadas com maior frequência, exigindo 3 horas na procura, manipulação e

consumo de 280 frutos por dia (SILVA NETO; SOUSA; SANTOS NETO, 2012). Esses

comportamentos observados em vida livre podem ser motivados em cativeiro através do

enriquecimento alimentar. O projeto paisagístico do CECFau, que inclui palmeiras de licuri e

jerivá, poderá futuramente ser utilizado para este fim.

Dentre os comportamentos semelhantes descritos foram observadas apenas três

incompatibilidades. A primeira consiste na descrição do uso da glândula uropigial por

Schneider, Serbena e Guedes (2006), sendo que psitacídeos dos gêneros Anodorhynchus,

Cyanopsitta e Amazona não possuem tal glândula, ocorrendo a impermeabilização das penas

através da distribuição de grânulos de queratina produzidos pelas plúmulas de pó

(GRESPAN; RASO, 2014) durante as condutas de preening. A segunda se refere a forma de

voo, já que psitacídeos em cativeiro não dispõem de grandes áreas para voo que contemplem

a posição descrita para vida livre, com a cabeça e cauda alinhados ao corpo na horizontal,

com bater de asa constante para cima e para baixo.

A terceira diferença foi a observação de corte alimentar da fêmea para o macho e

de regurgito em cativeiro, ambos não são relatados para vida livre, onde apenas o macho foi

Page 61: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

57

visto fazendo corte alimentar para a fêmea e regurgito nunca foi relatado, apesar de ser uma

resposta fisiológica comum ao estresse. Neste caso, optou-se pela separação dos

comportamentos em diferentes categorias, “regurgitar” em “alimentação” e “corte alimentar”

em “comportamento reprodutivo”. “Regurgitar” está estritamente ligado a aspectos

fisiológicos e emocionais, podendo ser tanto um sinal clínico não específico relacionado a

alguma patologia ou situação de estresse, como também uma forma de alimentação entre pais

e filhotes (MØLLER, CUERVO, 2000). É também comum em filhotes de araras em

decorrência de superalimentação, como demonstrado por GROFFEN et. al. (2008) para C.

spixii. Porém, apenas a resposta ao estresse foi observada no presente estudo. “Corte

alimentar” é uma forma de corte entre macho e fêmea (GALVÁN, SANZ, 2011), estando,

portanto, diretamente relacionado à reprodução e a manutenção de coesão do casal sem

função alimentar direta, sendo uma forma da fêmea de avaliar a capacidade do macho de

prover recursos futuros para ela e um possível filhote, já que no começo da estação

reprodutiva o comportamento ocorre mesmo com a fêmea se alimentando sozinha, e

posteriormente exerce a função de alimentação propriamente dita, já que a fêmea deixa de se

alimentar para chocar o ovo, ficando dependente do recurso provido pelo macho.

Cabe também uma ressalva em relação à cópula, o estudo realizado por Schneider,

Sorbena e Guedes (2006) indica que a cópula de A. hyacinthinus em vida livre ocorre após a

realização de comportamentos afiliativos, como mutual allopreening, já em cativeiro, esse

comportamento é muito importante para formação e coesão do casal e ocorre frequentemente

antes da cópula, porém a cópula pode ocorrer também sem contato prévio entre os parceiros,

com uma das aves, geralmente o macho, se aproximando do parceiro e pedindo cópula, sendo

que esta conduta não deve ser confundida com a “simulação de cópula”, comportamento de

demonstração de dominância sobre território e de união com parceiro. Todos os outros

comportamentos descritos para ambas as espécies são executados da mesma forma, sendo tal

semelhança esperada, já que espécies filogeneticamente próximas apresentam muitas

características similares pela ancestralidade comum (DE ARAUJO, 2011). As diferenças

comportamentais são mais perceptíveis em relação aos aspectos quantitativos e não

qualitativos para espécies do mesmo gênero, fazendo com que apresentem personalidades

distintas em decorrência da frequência de realização de certos comportamentos, como o

observado entre A. macao e A. ararauna. A primeira espécie realiza um maior número de

comportamentos afiliativos e de coesão, apresentando uma personalidade mais calma, sendo

que a segunda demonstra preferência por comportamentos agonísticos e de dispersão,

Page 62: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

58

apresentando personalidade mais agressiva. Apesar de todos os comportamentos realizados

serem os mesmos, é a quantificação da frequência com a qual são desenvolvidos que definirá

diferentes personalidades entre as espécies filogeneticamente próximas (URIBE, 1982).

Este mesmo autor descreveu 20 comportamentos para A. macao e A. ararauna

durante o período não reprodutivo, sendo apenas o pedido de alimento pela fêmea ao macho

não observado para A. leari, todos os outros são correspondentes.

Das 28 condutas descritas por Prestes (2000) para Amazona pretrei em cativeiro,

apenas “solicitar alimento” não foi registrada no presente estudo e três comportamentos

diferem na forma como são executados. O primeiro refere-se à conduta claramente intencional

“banhar”, sendo descrito para A. leari em cativeiro com a utilização de cochos em dias muito

quentes, e apesar de ter sido registrada a permanência de aves na chuva, eriçando e sacudindo

a plumagem, esses registros foram escassos e difíceis de avaliar se ocorriam intencionalmente

ou de forma circunstancial, não sendo observada a disposição para banhos de chuva registrada

para A. pretrei, que por sua vez, não utilizou o cocho para esta finalidade. O segundo refere-se

ao andar sem arrastar a cauda no chão registrado para A. pretrei, o oposto ocorre para A. leari

pelo fato da sua cauda ser mais longa. O terceiro comportamento é relativo a conduta de

“beber água”, onde não foi registrado o consumo de água acumulada nos galhos e telas do

recinto para A. leari, que sempre realizou o ato diretamente no cocho.

Vocalizações

As vocalizações do presente estudo se assemelham em estrutura de nota

(harmônico) com as emitidas por outros psitacídeos como A. hyacinthinus (UENO, 2007)

Amazona amazonica (MOURA, 2007), Brotogeris tirica (ORTIZ, 2011), Psittacus erithacus

(GIRET et al., 2010), Amazona aestiva, Ara ararauna, Aratinga aurea, Aratinga

leucophthalma, Botogeris chiriri, Diopsittaca nobilis, Forpus xanthopterygius, Orthopsittaca

manilata, Pionus maximiliani (DE ARAÚJO, 2011), Aratinga acuticaudata (FERNANDEZ-

JURICIC; ALVAREZ; MARTELLA, 1998a) e Alipiopsitta xanthops (DE ARAUJO, 2007).

Estudos realizados com papagaio verdadeiro (Amazona aestiva) (DE ARAÚJO 2011),

papagaio-do-mangue (Amazona amazonica) (MOURA, 2007) e aratinga-de-testa-azul

(Aratinga acuticaudata) (FERNANDEZ-JURICIC; ALVAREZ; MARTELLA, 1998b) na

natureza demonstram um complexo sistema de comunicação em psitacídeos constituído por

vocalizações que podem ser classificadas de acordo com um comportamento específico como:

alarme, contato (curto e longo alcance), interação agonística, alimentação, reprodução, voo,

Page 63: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

59

reconhecimento específico (similar a nomes próprio), entre outras, podendo cada uma delas

possuir mais de uma variação relacionada a um determinado contexto (FERNANDEZ-

JURICIC; ALVAREZ; MARTELLA, 1998a, 1998b; FERNANDEZ-JURICIC &

MARTELLA, 2000; MOURA, 2007; ORTIZ, 2011).

As vocalizações de alarme possuem a função comportamental de alertarem outros

membros do bando sobre a presença de uma potencial ameaça (FERNANDEZ-JURICIC;

ALVAREZ; MARTELLA, 1998a, 1998b; DE ARAÚJO, 2011). Existem diversos tipos de

vocalização de alarme registrados para psitacídeos, sendo que cada uma é referente a um tipo

de perigo específico ocasionando uma resposta apropriada (MOURA, 2007). Pode ser

realizada em voo ou enquanto pousado por até dois minutos ininterruptos. No sonograma as

notas são caracterizadas pela intensidade, apresentando pouca modulação, sendo

descendentes, com repetição de uma mesma nota (ORTIZ, 2011), o que garante o

recebimento da mensagem, importante em um contexto que envolva potenciais ameaças (DE

ARAÚJO, 2011).

Sick, Gonzaga e Teixeira (1987) são responsáveis pelo único trabalho publicado

que apresenta alguma informação sobre o repertório vocal de A. leari. Os autores formularam

os sonogramas de duas vocalizações registradas na natureza, sendo elas denominadas

“pousado” e “voo de cruzeiro”. No presente estudo, a vocalização I ocorre com maior

frequência nos momentos iniciais e finais do dia, apresenta harmônicos curtos, claros, emissão

em série (repetição) e grande faixa de frequência (muitos harmônicos), estando de acordo com

vocalizações de alerta observadas para A. hyacinthinus, Poicephalus robustus

(WIRMINGAUSS et al., 2000), Alipiopsitta xanthos (DE ARAUJO, 2007; 2011) e Brotogeris

tirica (ORTIZ, 2011). Foi observada em situações de ameaça iminente, como na presença

humana e de outras aves (como seriemas e gaviões), assim como observou Ortiz (2011) para

Brotogeris tirica e Moura (2007) para Amazona amazônica, mas nem sempre o fator que

motivou a vocalização foi registrado, podendo a observadora não ter notado a possível

ameaça. Assemelha-se a vocalização descrita por Sick, Gonzaga e Teixeira (1987) para as

aves pousadas na natureza. A estrutura do harmônico, a frequência do harmônico fundamental

e a concentração de energia são as mesmas, indicando serem vocalizações semelhantes. Esse

tipo de vocalização é definido para A. hyacinthinus como a vocalização responsável pela

função de reconhecimento específico por estar relacionada com defesa territorial e por possuir

alta dispersão do som (UENO, 2007).

Page 64: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

60

A compreensão da funcionalidade desse tipo de vocalização associado ao fato de

serem aves monogâmicas é fundamental se tratando de estratégias de remanejamento

populacional. Mesmo sem contato visual, casais previamente pareados serão capazes de se

reconhecerem, fazendo com que não ocorra pareamento com uma nova ave. Esta questão foi

observada durante o flocking entre as fêmeas STD 61 e STD 57. Ambas deram entrada na

Fundação em 2004 e permaneceram juntas em um mesmo recinto. Durante o estudo

apresentaram comportamento homossexual, com realização de cópula e postura de ovos. A

fêmea mais dominante representava o papel do macho no desempenho da cópula e na

preferência por se manter na porta do ninho enquanto a outra ave se mantinha com frequência

dentro dele. Durante o flocking, continuaram pareadas e mostraram tendência a dominância

em relação a outros pares. Foram então separadas e mantiveram interação visual e sonora pela

tela dos recintos. Só houve interação de uma das fêmeas com outra ave (macho) quando a ave

retirada do flocking foi transferida novamente para São Paulo. Na intenção de formação de

novos casais, aves pareadas previamente durante muito tempo não devem manter contato

visual ou sonoro.

A vocalização II assemelha-se em termos comportamentais ao “grito de contato”

descrito para A. aestiva (MOURA, 2011), Amazona amazônica (MOURA, 2007), Myopsitta

monachus (MARTELLA; BUCHER, 1990) e Alipiopsitta xanthos (DE ARAÚJO;

MARCONDES-MACHADO,VIELLIARD, 2011), sendo associada ao reforço de coesão do

bando através da manutenção de contato entre os indivíduos, porém não se assemelham em

estrutura. Ortiz (2011) e De Araújo, Marcondes-Machado e Vielliard (2011) registraram

indivíduos solitários emitindo esse tipo de vocalização na natureza acarretando na resposta de

outros indivíduos da mesma espécie na proximidade. Para estas espécies citadas é esta

vocalização que codifica o reconhecimento específico (DE ARAUJO; MARCONDES-

MACHADO; VIELLIARD, 2011; BERG et al., 2011, ORTIZ, 2011), diferindo do observado

para A. hyacinthinus e possivelmente para A. leari, por questões filogenéticas. Porém, por

essa vocalização em questão não ter sido estudada para A. hyacinthinus e por se assemelhar a

vocalização I descrita anteriormente para A. leari, existe a possibilidade de que a vocalização

II também contenha informações intraespecíficas, sendo necessários mais estudos.

A vocalização III apresenta baixa taxa de repetição das notas, que são curtas e

pouco intensas, se enquadrando nas características descritas por De Araújo (2007) para

vocalizações de contato a curta distância, não sendo encontrados registros semelhantes em

outros estudos, tanto em termos de estrutura, quanto em termos comportamentais. A

Page 65: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

61

finalidade deste tipo de vocalização ainda permanece obscura (ORTIZ, 2011) pela dificuldade

de gravação desse tipo de som, uma vez que são utilizados apenas em contextos onde não

existem ameaças (DE ARAUJO, 2007).

A vocalização IV é constituída de apenas dois harmônicos de igual intensidade e

de curta duração, semelhante ao “grito de baixa amplitude” descrito por Moura (2011) para A.

aestiva quando o casal estava pousado próximo ao ninho. Ambos possuem a mesma

modulação, duração, aproximadamente a mesma frequência e mesma quantidade de

harmônicos por nota, porém contextos etológicos distintos, apesar de ambos estarem

relacionados a comportamentos de coesão do casal.

Em relação à vocalização V, não foram encontrados estudos que analisem

vocalizações que ocorram durante a cópula em decorrência da dificuldade de registro em

campo, já que psitacídeos podem copular sem a emissão de sons (KOENIG, 2001; MOURA,

2011), porém o contexto etológico é claro no presente estudo.

Em relação às imitações vocais, sabe-se que por serem altamente gregários e

sociais, os psitacídeos dependem da capacidade de aprendizado vocal para desenvolverem

sons que auxiliem no reconhecimento intraespecífico (VIELLIERD, 2004), sendo as

imitações uma consequência dessa capacidade. Este é um fator crítico a imitação da fala

humana (PEPPERBERG; NEAPOLITAN, 1988), conduta observada apenas em cativeiro

(VIELLIARD, 2004).

Para os animais do presente estudo, as imitações vocais foram recorrentes em

momentos mais calmos do dia, sendo observado no período pré-flocking vocalizações como

resmungos e imitações de dispositivos, como toques de celular (Nextel). Após transferência

para o CECFau, as aves passaram a desenvolver vocalizações imitando assobios,

frequentemente realizados pelos tratadores durante a limpeza dos recintos. Palavras como

“arara” e “loro” também eram repetidas, em especial pela fêmea STB 37, que demonstrou

muita afinidade com seres humanos no início do flocking, ficando mais retraída após o

convívio com as outras aves. Psitacídeos possuem alta capacidade cognitiva e estão aptos a

desenvolverem novos comportamentos aprendidos a todo o momento, principalmente quando

em cativeiro (PEPPERBERG, 2004), estando a conduta dos tratadores claramente relacionada

ao desenvolvimento de novas vocalizações.

Psitacídeos tendem a agregar vocalizações aos seus chamados de contato naturais

quando suas condições sociais são alteradas (FARABAUGH et al.; 1994), e sabe-se que as

vocalizações aprendidas são transmitidas entre as gerações (ORTIZ, 2011). A aprendizagem

Page 66: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

62

vocal em psitacídeos começa a se desenvolver entre a terceira e quarta semana de vida com o

aprendizado do chamado de contato que é único para cada indivíduo, sendo aprendido pelo

contato com os pais. É através desse chamado que as aves irão reconhecer outros membros do

bando e futuramente seus parceiros (BERG et al., 2011). Ainda não se sabe o quanto as

imitações de fala humana podem alterar as vocalizações funcionais, que não serão aplicadas a

um contexto apropriado sem um aprendizado adequado. Se um filhote não ouvir um canto

correto num contexto apropriado, ele não será capaz de emitir sons com mensagens

reconhecíveis por outros membros da sua espécie (MOURA, 2007), podendo ser excluído do

bando por ser incapaz de defender um território ou se associar a um parceiro (VIELLIARD,

1997).

Pelas gravações observadas no presente estudo, fica claro que o cativeiro oferece a

oportunidade para a obtenção desse tipo de informação, somando mais uma vez os esforços à

conservação in situ. As vocalizações no presente estudo foram analisadas apenas com o

objetivo de serem identificadas e relacionadas a um contexto comportamental, portanto,

estudos aprofundados relacionados à bioacústica da espécie, tanto em vida livre quanto em

cativeiro, ainda são necessários.

Muitas reintroduções falham por deficiências comportamentais de indivíduos

reintroduzidos, especialmente em comportamentos de forrageamento, anti- predação e sociais,

sendo especialmente frequente em espécies que possuem fácil aprendizagem e indivíduos que

não tiveram a oportunidade de socializar com indivíduos coespecíficos de vida livre durante

os períodos críticos de aprendizado, aparecendo com maior frequência em espécies cujos

filhotes requerem cuidado parental (SNYDER et al., 1996). O contado de juvenis com

indivíduos adultos de outras espécies também deve ser evitado, pois pode acarretar em

problemas futuros de reconhecimento específico em decorrência de imprinting sexual

(IRWIN; PRICE, 1999). A morte de indivíduos reintroduzidos geralmente se deve as

deficiências comportamentais decorrentes da manutenção em cativeiro, estando as baixas

taxas de sucesso dos programas de reintrodução diretamente relacionadas com a necessidade

da reavaliação na forma como os animais são mantidos e manejados (MCPHEE, 2003;

ARMSTRONG; SEDDON, 2008).

Page 67: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

63

5. CONCLUSÕES

Foi registrado e detalhado um grande número de condutas comportamentais para a

espécie Anodorhynchus leari mantida em cativeiro. O flocking proporcionou o aumento da

diversidade de comportamentos, em especial dos comportamentos sociais agonísticos e

estereotipados resultantes das pressões envolvendo dominância territorial, e tendo isto em

vista, aves que não possuíram interação adequada com coespecíficos previamente não são

indicadas para este tipo de estratégia reprodutiva.

A população estudada apresentou um repertório comportamental semelhante à de

outros psitacídeos e apesar da manutenção em cativeiro, é saudável em termos

comportamentais, porém a ausência de certos comportamentos observados em vida livre e a

alta capacidade de aprendizado vocal poderá resultar em possível redução do sucesso de

futuros programas de revigoramento populacional. Os comportamentos observados apenas na

natureza devem ser estimulados em cativeiro com a aplicação de enriquecimentos ambientais

e alimentares específicos.

Os recentes sucessos reprodutivos alcançados pela FPZSP oferecem uma grande

oportunidade para o desenvolvimento de estudos que ainda representam uma lacuna no

conhecimento da biologia de A. leari em cativeiro, como a descrição de comportamentos de

nidificação, cuidado parental e compreensão do desenvolvimento comportamental da espécie

em diferentes fases da vida. Incentivar e compartilhar informações entre instituições

mantenedoras de espécies ameaçadas é um meio comprovado de determinar causas de

problemas comportamentais, como os reprodutivos, o que ainda é muito escasso para A. leari,

representando uma necessidade a ser suprida pelas instituições que integram o programa de

cativeiro.

As questões aqui abordadas poderão ser contempladas nas tomadas de decisões que

envolvam o manejo de psitacídeos cativos que possam ter seus descendentes integrados a

futuros programas de reintroduções ou suplementação populacional. O vasto repertório

comportamental aqui descrito poderá oferecer uma base detalhada para o desenvolvimento de

futuros estudos que envolvam aspectos comportamentais desta e de outras espécies de

psitacídeos.

Page 68: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

64

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALSTROÖM, P.; RANFT, R. The use of sounds in avian systematics, and the importance of

bird sound archives. Bulletin of the British Ornithologist’s Club Club, v. 123, p. 114–

135, 2003.

ALTMANN, J. Observational study of behavior: sampling methods. Behaviour, v. 48, p. 227-

267, 1974.

ALVARENGA, H. Anodorhynchus glaucus e A. leari (Psittaciformes, Psittacidae):

osteologia, registros fósseis e antiga distribuição geográfica. Revista Brasileira de

Ornitologia, v. 14, n. 4, p. 427-432, 2007.

AMARAL, A. C. A. et al. Dinâmica de ninho de Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

Bonaparte, 1856) em Jeremoabo, Bahia. Ornithologia, v. 1, n. 1, p. 59-64, 2005.

ARAÚJO, D. S.; COELHO, H. E. A.; BARBOSA, E. A. 2014. Registro de novos sítios

reprodutivo, dormitório e alimentação da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) nos

municípios de Canudos e Novo Triunfo, Bahia. Ornithologia, v. 7, n. 1, p. 21-22,

2014.

ARMSTRONG, D.P.; SEDDON, P. J. Directions in reintroduction biology. Trends in

Ecology & Evolution, v. 23, p. 20–25, 2008.

AUDACITY. Versão 2.1.2. Boston: Audacity Team. 2015.

BERG, K. S. et al. Vertical transmission of learned signatures in a wild parrot. Proceedings of

the Royal Society B., v. 279, p. 585–591, 2011.

BIRDLIFE INTERNACIONAL. Search: Psittacidae. 2016. Disponível em:

<www.birdlife.org/datazone/speciessearchresults.php?reg=0&cty=30&cri=&fam=67&

gen=0&spc=&cmn=&hab=&thr=&bt=&rec=N&vag=N&sea=&wat=&aze=&lab=&en

b=&mib=&cnv=&hdnAction=ADV_SEARCH&SearchTerms=> Acesso em: 07 abr.

2016.

BIRDLIFE INTERNATIONAL. Anodorhynchus leari. The IUCN Red List of Threatened

Species 2013: e.T22685521A48042913. 2013. Disponível em:

<www.iucnredlist.org/details/22685521/0>. Acesso em: 13 abr. 2016.

BORSARI, A. Uso de ferramenta por araras azuis (Anodorhynchus hyachintinus) e

identificação de causa e efeito por alguns psitacídeos neotropicais. 2010, 193p. Tese

(Doutorado em Psicologia) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São

Paulo, 2010.

BRANDT, A.; MACHADO, R. B. Área de alimentação e comportamento alimentar de

Anodorhynchus leari. Ararajuba, v. 1, p. 57-63, 1990.

BRASIL. INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

(ICMBio). Cemave finaliza censo 2014 da arara-azul-de-lear. 2015. Disponível em:

<http://www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/noticias/20-geral/6693-cemave-

finaliza-censo-2014-da-arara-azul-de-lear.html>. Acesso em: 26 abr. 2016.

Page 69: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

65

CARLSTEAD, K. Constructing behavior profiles of zoo animals: incorporating behavioral

information into captive population management. AZA Behavior and Husbandry

Group Oregon Zoo, 2000, 40 p.

CHARIF, R. A.; PONIRAKIS, D. W.; KREIN, T. P. Raven Lite 1.0 User’s Guide. Cornell

Laboratory of Ornithology, Ithaca, NY. 2006.

COLE, E. F.; QUINN, J. L. Shy birds it safe: personality in captivity predicts risk

responsiveness during reproduction in the wild. Biology Letters, v. 10, n. 5:20140178,

2014.

CUSSEN V. A.; MENCH J. A. The Relationship between personality dimensions and

resiliency to environmental stress in orange winged amazon parrots (Amazona

amazonica), as indicated by the development of abnormal behaviors. PLoS ONE, v.

10, n. 6:e0126170. doi:10.1371/ journal.pone.0126170, 2015.

DE ARAÚJO, C. B. de. Comportamento alimentar e a comunicação sonora do papagaio-

galego Alipiopsitta xanthops (Spix) 1824, em fragmentos de cerrado do Distrito

Federal e Goiás. 2007, 85 p. Dissertação (Mestrado em Ecologia) - Instituto de

Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

DE ARAÚJO, C. B. Psitacídeos do Cerrado: sua alimentação, comunicação sonora, e

aspectos bióticos e abióticos de sua distribuição potencia. 2011, 174 p. Tese

(Doutorado em Ecologia) - Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas,

Campinas, 2011.

DE ARAÚJO, C. B.; MARCONDES-MACHADO, L. O.; VIELLIARD, J. M. E. Vocal

pepertoire of the yellow-faced parrot (Alipiopsitta xanthops). The Wilson Journal of

Ornithology, v. 123, n. 3, p. 603–608, 2011.

FARABAUGH, S. M.; LINZENBOLD, A.; DOOLING, R. J. Vocal plasticity in budgerigars

(Melopsittacus undulatus): evidence for social factors in the learning of contact calls.

Journal of Comparative Psychology, v. 108, p. 81-92, 1994.

FERNANDEZ-JURICIC, E.; E. V. ALVAREZ; M. B. MARTELLA. Vocalizations of the

Bluecrowned Conures (Aratinga acuticaudata) in the Chancani Reserve, Córdoba,

Argentina. Ornitologia Neotropical, v. 9, p. 31-40, 1998a.

FERNANDEZ-JURICIC, E.; M. B. MARTELLA; E. V. ALVAREZ. Vocalizations of the

blue-fronted amazon (Amazona aestiva) in the Chancaní Reserve, Córdoba, Argentina.

Wilson Bulletim, v. 110, n. 3, p. 352-361, 1998b.

FERNANDEZ-JURICIC, E; M. B. MARTELLA. 2000. Guttural calls of blue-fronted

amazons: structure, context, and their possible role in short range communication.

Wilson Bulletim, v. 112, n. 1, p. 35-43, 2000.

FRANKHAM, R. Stress and adaptation in conservation genetics. Journal of Evolutionary

Biology, v. 18, n. 4, p. 750-755, 2005.

GALVÁN, I.; SANZ, J. J. Mate-feeding has evolved as a compensatory energetic strategy

that affects breeding success in birds. Behavioral Ecology, v. 22, n. 5, p. 1088-1095,

2011.

Page 70: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

66

GARNER, J. P.; MEEHAN, C. L.; FAMULA, T. R.; MENCH, J. A. 2006. Genetic,

environmental, and neighbor effects on the severity of stereotypies and feather picking

in Orange-winged Amazon parrots (Amazona amazonica): An epidemiological study.

Applied Animal Behaviour Science, v. 96, n. 2, p. 153-168, 2006.

GIBBONS, E. F.; DURRANT, B. S.; DEMAREST, J. Conservation of Endangered Species in

Captivity. Albany, New York: State University of New York Press, 1995.

GIRET, N. et al. Referential learning of French and Czech labels in African grey parrots

(Psittacus erithacus): different methods yield contrasting results. Behavioral Process,

v. 85, p. 90–98, 2010.

GRESPAN, A.; RASO, T. F. Psittaciformes (araras, papagaios, periquitos, calopsitas e

cacatuas). In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R. & CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de

Animais Selvagens: medicina veterinária. 2. ed. São Paulo: Roca. 2014, 2470 p.

GROFFEN, H. et al. 2008. Analysis of growth rate variables and postfeeding regurgitation in

hand-reared Spix's macaw (Cyanopsitta spixii) chicks. Journal of Avian Medicine, v.

22, n. 3, p. 189-198, 2008.

HARDY, J.W. Flock social behavior of the orange-fronted parakeet. Condor, v. 67, p. 140-

156, 1965.

IRWIN, D. E.; PRICE, T. Sexual imprinting, learning and speciation. Heredity, v. 82, p. 347-

354, 1999.

JEPPESEN, L.L.; HELLER, K.E.; BILDSOE, M. Stereotypies in female farm mink (Mustela

vison) may be genetically transmitted and associated with higher fertility due to effects

on body weight. Applied Animal Behaviour Scince, v. 86 n. 2, p. 137–143, 2004.

KOENIG, S. E. The breeding biology of Black-billed Parrot Amazona agilis and Yellow-

billed Parrot Amazona collaria in Cockpit Country, Jamaica. Bird Conservation

International, v. 11, n. 3, p. 205-225, 2001.

KUNIY, A. A.; YAMASHITA, C.; GOMES, E. P. C. Estudo do aproveitamento de frutos da

palmeira jerivá (Syagrus romanzoffiana) por Anodorhynchus hyacinthinus, A. leari e

Ara ararauna. Ararajuba, v. 9, n. 2, p.119-123, 2001.

LAIOLO, P. The emerging significance of bioacoustics in animal species conservation.

Biological Conservation, v. 143, n. 7, p. 1635-1645, 2010.

LIGHTFOOT, T.; NACEWICZ, L. Psittacine behavior. In: BAYS, T. B.; LIGHTFOOT, T.;

MAYER, J. Exotic pet behavior: birds, reptiles and small mammals. Missouri:

Elsevier Health Sciences. 2006, 386 p.

LIMA, C. P. Aves da pátria da Leari. 2 ed. Salvador: Atualidades Ornitológicas. 2005, 271 p.

LIMA, D. M.; TENÓRIO, S.; GOMES, K. Dieta por Anodorhynchus leari Bonaparte, 1856

(Aves: Psittacidae) em palmeira de licuri na caatinga baiana. Atualidades

Ornitológicas, v. 178, p. 50-54, 2014.

Page 71: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

67

LIMA, P. C.; SANTOS, S. S. dos; LIMA, R. C. F. R. Levantamento e anilhamento da

ornitofauna na pátria da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari, Bonaparte, 1856):

um complemento ao levantamento realizado por H. Sick, L. P. Gonzaga e D. M.

Teixeira, 1987. Atualidades Ornitológicas, v. 112, p. 11-22, 2003.

LOCATELLI, A. C. et al. Comportamento reprodutivo e materno de araras Canindé (Ara

ararauna) mantidas em cativeiro para conservação. Comunicata Scientiae, v. 4, n. 4,

p. 316-323, 2013.

LUGARINI, C; BARBOSA, A. E. A.; OLIVEIRA, C. G. de. (orgs.) Plano de Ação Nacional

para a Conservação da Arara-azul-de-Lear. 2 ed. Série espécies ameaçadas n˚ 4.

Brasília: ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2012.

MARTELLA, M. B.; BUCHER, E. H. Vocalizations of the Monk Parakee. Bird Behaviour v.

8, p. 101-110, 1990.

MCPHEE, M. Generations in captivity increases behavioral variance: considerations for

captive breeding and reintroduction programs. Biological Conservation, v. 115, p. 71-

77, 2003.

MEEHAN, C. L.; GARNER, J. P.; MENCH, J. A. 2003. Isosexual pair housing improves the

welfare of young Amazon parrots. Applied Animal Behaviour Science, v. 81, n. 1, p. 73-

88, 2003.

MELLEN, J. D. Survey and interzoo studies used to address husbandry problems in some zoo

vertebrates. Zoo Biology, v. 13, p. 459-470, 1994.

MENEZES, A. C. et al. Monitoramento da população de Anodorhynchus leari (Bonaparte,

1856), Psittacidae, na natureza. Ornithologia, v. 1, p. 109-113, 2006.

MØLLER, A. P, CUERVO, J. J. The evolution of paternity and paternal care in birds.

Behavioral Ecology, v. 11, p. 472–485, 2000.

MORGAN, K. N.; TROMBORG, C. T. Sources of stress in captivity. Applied Animal

Behaviour Science, v. 102, p. 262–302, 2007.

MOURA, L. M. Comportamento do papagaio-do-mangue Amazona amazônica: gregarismo,

ciclos nictemerais e comunicação sonora. 2007, 110 p. Dissertação (Mestrado em

Psicologia) - Departamento de Psicologia Experimental, Universidade Federal do

Pará, Belém, 2007.

MOURA, L. N. 2011. Comportamento reprodutivo e dialetos populacionais do papagaio-do-

mangue Amazona amazônica. 2011, 85 p. Tese (Doutorado em Ecoetologia) - Núcleo

de Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará, Belém, 2011.

MUNN, C. A. Lears macaw: A second population confirmed. Psitta Scene, v. 7, n. 4. p. 1-3,

1995.

Page 72: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

68

NETT, C. S.; TULLY, T. N. 2003. Anatomy, clinical presentation, and diagnostic approach to

feather-picking pet birds. Compendium, v. 25, n. 3, p. 206-218, 2003.

NOGUEIRA, D. M. et al. The karyotype of the critically endangered Lear’s macaw,

Anodorhynchus leari Bonaparte 1856 (Aves, Psittaciformes). Genetics and Molecular

Biology, v. 29, n. 4, p. 656-658, 2006.

ORTIZ, G. G. Comportamento alimentar, biogeografia e estudo bioacústico de periquito rico,

Brotogeris tirica (Aves, Psittacidae) no Estado de São Paulo. 2011, 94 p. Dissertação

(Mestrado em Zoologia ) - Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista,

Botucatu, 2011.

PACÍFICO, E. C. Biologia reprodutiva da arara-azul-de-lear Anodorhynchus leari (Aves :

Psittacidae) na Estação Biológica de Canudos, BA. 2011, 130 p. Dissertação

(Mestrado em Zoologia) - Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, 2011.

PACÍFICO, E. C. et al. Breeding to non-breeding population ratio and breeding performance

of the globally Endangered Lear’s Macaw Anodorhynchus leari: conservation and

monitoring implications. Bird Conservation International, v. 24, n. 4, p. 466-476,

2013.

PANKHURST, S. J. et al. Zoo Research Guidelines: Behavioural Profiling. London: BIAZA,

2009.

PEPPERBERG I. M. Cognitive and communicative capacities of Grey parrots – implications

for the enrichment of many species. Animal welfare, v. 13, p. 203-208, 2004.

PEPPERBERG, I. M.; NEAPOLITAN, D. M. Second Language Acquisition: a framework for

studying the importance of input and interaction in exceptional song acquisition.

Ethology, v. 77, n. 2, p. 150-168, 1988.

PRESTES, N. P. Descrição e análise quantitativa do etograma de Amazona pretrei em

cativeiro. Ararajuba, v. 8, n. 1, p. 25- 42, 2000.

PRESTI, F. T. Caracterização da diversidade genética, da estrutura populacional e do

parentesco de Arara-Azul-Grande (Anodorhynchus hyacinthinus) por meio de análise

de regiões dos genomas nuclear e mitocondrial. 2010, 87 p. Tese (Doutorado em

Genética) - Departamento de Genética e Biologia Evolutiva, Instituto de Biociências,

Universidade de São Paulo, 2010.

REYNOLDS, M. Lears Macaw, some history, the current situation, and proposals for its

preservation. Psitta Scene, v. 10, n. 4, p. 2-4, 1998.

SANTOS NETO, J. R.; CAMANDAROBA, M. Ampliação da área de ocorrência da arara-

azul-de-Lear Anodorhynchus leari (Bonaparte 1856). Ornithologia, v. 2, n. 1, p.63-

64, 2007.

SANTOS NETO, J. R.; CAMANDAROBA, M. Mapeamento dos sítios de alimentação da

arara-azul-de-Lear (Anodorhynchus leari) (Bonaparte, 1856). Ornithologia, v. 3, n. 1,

p. 1-17, 2008.

Page 73: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

69

SANTOS NETO, J. R.; GOMES, D. M. Predação de milho por arara-azul-de-lear,

Anodorhynchus leari (Bonaparte, 1856) (Aves: Psittacidae) em sua área de ocorrência

no Sertão da Bahia. Ornithologia, v. 2, n. 1, p. 41-46, 2007.

SCHMID, R.; DOHERR, M.G.; STEIGER, A. The influence of the breeding method on the

behaviour of adult African grey parrots (Psittacus erithacus). Applied Animal

Behaviour Science, v. 98, n. 293–330, 2006.

SCHNEIDER, L.; SERBENA, A. L.; GUEDES, N. M. R. Behavioral categories of hyacinth

macaws (Anodorhynchus hyacinthinus) during the reproductive period. Revista de

Etologia, v. 8, n. 2, p. 71-80, 2006.

SEIBERT, L. M.; CROWELL-DAVIS, S. L. Gender effects on aggression, dominance rank,

and affliative behaviors in a flock of captive adult cockatiels (Nymphicus hollandicus).

Applied Animal Behaviour Science, v. 71, p. 155-170, 2001.

SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1997, 912 p.

SICK, H.; GONZAGA, L. P.; TEIXEIRA, D. M. A Arara-Azul-de-Lear, Anodorhynchus leari

Bonaparte, 1856. Revista Brasileira de Zoologia, v. 3, n. 7, p. 441-463, 1987.

SICK, H.; TEIXEIRA, D. M. Discovery of the home of the Indigo Macaw in Brazil.

American Birds, v. 34, n. 2, p. 118-212, 1980.

SILVA-NETO, G. F.; SOUSA, A. E. B. A.; SANTOS NETO, J. R. dos S. Novas informações

sobre a dieta da arara-azul-de-lear, Anodorhynchus leari Bonaparte, 1856 (Aves,

Psittacidae). Ornithologia, v. 5, n. 1, p.1-5, 2012.

SNYDER, N. F. R. et al. Limitations of Captive Breeding in Endangered Species Recovery.

Conservation Biology, v. 10, n. 2, p. 338-348, 1996.

SOUSA, A. E. B. A.; BARBOSA, A. E. A. 2008. Registro de ocorrência da arara-azul-de-

Lear Anodorhynchus leari (Bonaparte 1856) no município de Monte Santo, Bahia.

Ornithologia, v. 3, n. 1, p. 64-66, 2008.

TARVIN, K. A.; WOOLFENDEN, G. E. Patterns of dominance and aggressive behavior in

blue jays at a feeder. Condor, v. 99, p. 434 – 444, 1997.

UENO, F. Y. C. Estudo da variação individual no grito de alerta da arara-azul-grande

Anodorhynchus hyacinthinus. 2007, 56 p. Dissertação (Mestrado em Multimeios) -

Instituto de artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

URIBE, F. Quantitative ethogram of Ara ararauna and Ara macao (Aves, Psittacidae) in

captivity. Biology of Behaviour, v. 7, p. 309-323, 1982.

VAN HOEK, C. S.; KING, C. E. Causation and influence of environmental enrichment on

feather picking of the crimson-bellied conure (Pyrrhura perlata perlata). Zoo Biology,

v. 16, n. 2, p. 161-172, 1997.

VIELLIARD, J. M. A diversidade de sinais e sistemas de comunicação sonora na fauna

brasileira. I Seminário Música Ciência Tecnologia: Acústica Musical, 2005, São

Paulo. Anais do I Seminário Música Ciência e Tecnologia, v. 1, 2004.

Page 74: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

70

VIELLIARD, J. M. E. O uso de caracteres bioacústicos para avaliações filogenéticas em aves.

Anais de Etologia, v. 15, p. 93-107, 1997.

WATSON, R. Captive husbandry management of the lear’s macaw (Anodorhynchus leari) at

Al Wabra Wildlife Preservation. 33rd Annual Convention of the American Federation

of Aviculture (AFA), Los Angeles, 2007.

WAUGH, D.; REINSCMIDT, M. Notícias sobre o manejo em cativeiro da arara-azul-de-lear

Anodorhynchus leari. Atualidades Ornitológicas, 134-20-21, 2006.

WILSON, L.; LIGHTFOOT, T. L. Concepts in Behavior: Section III: pubescent and adult

psittacine behavior. in: clinical avian medicine – vol. 1: pet species. HARRISON, G. J.

& LIGHTFOOT, T.L. (eds). Palm Beach: Spix Publishing Inc. 2005, p. 73-84.

WIRMINGAUSS, J. O.; DOWNS, C. T.; SYMES, C. T.; DEMPSTER, E.; PERRIN, M. R.

Vocalisations and behaviours of the Cape parrot Poicephalus robustus (Psittaciformes:

Psittacidae). Durban Museum Novitates, v. 25, p. 12-17, 2000.

YAMASHITA, C. Field observations on the Indigo Macaw (Anodorhynchus leari), a highly

endangered species from northeastern Brazil. Wilson Bolletin, v.99, n.2, p. 280-282,

1987.

YAMASHITA, C. Anodorhynchus macaws as followers of extinct megafauna: an hypothesis.

Ararajuba, v. 5, n. 2, p. 176-182, 1997.

Page 75: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

71

Capítulo 2

A EFETIVIDADE DO FLOCKING NA INTERAÇÃO DE PARES DE ARARA-AZUL-

DE-LEAR (Anodorhynchus leari) EM CATIVEIRO

Resumo:

Em grande parte das instituições de conservação ex-situ, as espécies de psitacídeos

ameaçados são mantidas em pares em recintos exclusivos, onde o pareamento ocorre de

acordo com indicações genéticas, impedindo a possibilidade de livre escolha. O projeto

Grande Flocking faz parte do programa de conservação ex-situ da FPZSP que visa o

aprimoramento do manejo de Anodorhynchus leari. Para tanto, construiu um um complexo de

recintos que comportasse a alocação de diversos espécimes, permitindo a socialização entre as

aves e a possibilidade de escolha de parceiro sexual (flocking). Observações comportamentais

foram feitas antes e durante o processo visando a quantificação de comportamentos sociais e

reprodutivos pela técnica de amostragem animal focal com o objetivo de avaliar a efetividade

do flocking no estímulo à interação focada na reprodução entre os indivíduos cativos. Foram

utilizados os testes Regressão de Poisson (Log-lin), Wilcoxon pareado e Qui-quadrado para

avaliar as variáveis que influenciaram na frequência dos comportamentos afiliativos,

reprodutivos e na aproximação entre os pares, respectivamente. A frequência dos

comportamentos afiliativos aumentou de forma significativa durante o flocking (χ2

= 21553;

g.l. = 9; p = 0,000) e variaram entre os indivíduos de acordo com a interação observado no

período pré-flocking (χ2 = 21,35; g.l. = 2; p = 0,000). Foi observada maior frequência de

comportamentos sócio-reprodutivos no período da tarde (χ2

= 21553; g.l. = 9; p = 0,000) e o

aumento significativo da aproximação entre os pares (χ2

= 1295; g.l.: 2; p = 0,000) durante o

flocking. Porém, não houve alteração significativa da frequência dos comportamentos

reprodutivos cópula (p = 0,42) e pedido de cópula (p = 0, 78). Apesar disso, o flocking se

mostrou uma técnica efetiva no aumento da interação entre os pares. As informações

apresentadas poderão servir de subsídio para o planejamento de futuras ações que envolvam o

pareamento de indivíduos de A. leari e de outros psitacídeos mantidos em cativeiro.

Palavras-chave: Aves, Psittacidae, comportamento reprodutivo, livre escolha, manejo

Page 76: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

72

Abstract:

Most of the ex-situ conservation institutions keep threatened parrots in pairs in

exclusives enclosures, and the pairing occurs according to genetic information, preventing the

possibility of free choice. The Big Flocking project was an improvement management

program of Anodorhynchus leari consisted in the construction of a complex of enclosures

allowing the allocation of several specimens, permitting socializing among birds and the free

choice of pair mates. We proceed behavioral observations before and during the flocking

aiming to quantify social and reproductive behaviors by focal animal sampling method, in

order to evaluate the effectiveness of flocking in stimulating interection and reproductive

success among couples. We used Poisson regression (Log-lin), Wilcoxon and Chi-square tests

to check the variables that influenced the frequency of affiliative and reproductive behaviors

and rapprochement between the pairs, respectively. The frequency of affiliative behaviors

increased significantly during the flocking (χ2 = 21,553; df = 9; p = 0,000) and varied

between individuals according to the interaction observed in the pre-flocking period (χ2 =

21,35; df = 2; p = 0,000). We found a higher frequency of social and reproductive behaviors

in the afternoon (χ2 = 21,553; df = 9; p = 0,000) and a significant increase in approaching

between the pairs (χ2 = 1295; df: 2; p = 0,000) during the flocking. However, there was no

change in the frequency of copulation reproductive behavior (p = 0,42) and request for

copulation (p = 0,78). Despite that, the flocking proved to be an effective technique in

increasing the interection between pairs. The information that we present here may assist

planning future actions involving the pairing of individuals of A. leari in captivity.

Keywords: Birds, Psittacidade, reproductive behavior, free choice, management

Page 77: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

73

1. INTRODUÇÃO

O comportamento social é um processo dinâmico ligado ao desenvolvimento de

relações entre indivíduos e entre esses e o ambiente. A formação de relações sociais é

fundamental para muitas espécies, pois está relacionada à variação de níveis de bem estar,

determinando o sucesso reprodutivo dos indivíduos envolvidos (LUCAS et al., 2003). Muitas

espécies de aves são monogâmicas (DUNN; WHITTINGHAM; PITCHER, 2001) e uma das

primeiras etapas comportamentais do processo reprodutivo dessas espécies é a escolha do

parceiro sexual (SVEC; LICHT; WADE, 2009), sendo a formação de um casal e a vida em

bando as formas de organização social nesse tipo de sistema reprodutivo (KUBITZA;

BUGNYAR; SCHWAB, 2015). A seleção é feita visando o aumento do valor adaptativo dos

indivíduos envolvidos com base em características comportamentais, fisiológicas e

morfológicas (BOTTONI et al., 1993).

Em relação às aves monogâmicas, as mudanças envolvidas no pareamento são sutis e

ocorrem gradualmente em um processo muitas vezes prolongado, sendo, portanto, difícil de

ser avaliado (CLAYTON, 1990). Um par pode ser definido como um casal por diversos

critérios, sendo um deles o tempo despendido em comportamentos sociais afiliativos que não

são desempenhados com outros membros adultos (ADKINS-REGAN, 2011). A formação

desses casais pode ser avaliada pela realização de comportamentos sincronizados como

alimentar-se conjuntamente, empoleirar-se próximo ou em contato com outro indivíduo, alisar

as penas de outra ave, defender conjuntamente o ninho, tempo gasto dentro do ninho,

perseguir uma ave ou defender parceiro pela aproximação de outros indivíduos, cortejar e

solicitar cópula (CLAYTON, 1990; BOTTONI et al., 1993; ADKINS-REGAN, 2011). Em

psitacídeos especificamente, o longo período de incubação associado a filhotes muito

dependentes e com lento crescimento em relação a outras aves, colaboram com o

desenvolvimento de um alto grau de interação entre o casal, já que requer muita cooperação

mútua para que se atinja o sucesso reprodutivo de fato (KOENIG, 2001).

Apesar dos programas de cativeiro terem por objetivo a criação de aves que

futuramente possam ser capazes de sobreviver na natureza, pareando, reproduzindo e criando

filhotes naturalmente, comumente na reprodução ex-situ os indivíduos são forçados ao

pareamento, onde o macho e a fêmea selecionados são mantidos juntos em um recinto

exclusivo, sendo observadas baixas taxas reprodutivas para certas espécies, em especial as

ameaçadas (GAUDIOSO et al., 2002). Análises genéticas e demográficas de populações

Page 78: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

74

cativas fornecem informações que subsidiam estratégias reprodutivas em longo prazo, porém

os objetivos imediatos dos programas de reprodução envolvem a manutenção e o sucesso

reprodutivo de indivíduos pertencentes a populações cativas específicas. Neste sentido, se faz

necessário a realização de estudos comportamentais em cativeiro que garantam a menor

interferência humana no comportamento desenvolvido pelos animais com a produção de

informações que possam ser relevantes para a melhoria de estratégias reprodutivas através da

observação de comportamentos conspícuos que não são facilmente ou frequentemente

observados na rotina de manejo (SIEBERT; CROWELL-DAVIS, 2001; FRANCISCO, 2012).

Em relação aos pareamentos em cativeiro, as recomendações propostas geralmente

envolvem apenas fatores genéticos, mas na prática um pareamento efetivo pode ser

influenciado por fatores nutricionais, sociais, comportamentais, físicos e ambientais

(MELLEN, 1994). A possibilidade de escolha do parceiro sexual em cativeiro aumenta a taxa

de sucesso reprodutivo dos indivíduos envolvidos (IHLE; KEMPENAERS; FORSTMEIER,

2015). Sabe-se que esta liberdade de escolha é um fator que afeta diretamente parâmetros

reprodutivos, como produção hormonal e taxa de defesa de ninho em espécies monogâmicas

(BOTTONI, 1993). Klint, Enquist (1981) e Bottoni et al. (1993) afirmam que machos

pareados por livre escolha possuem maior concentração de testosterona no plasma do que

aqueles que foram forçados a parear e apresentam maiores taxas de defesa do ninho, já fêmeas

que escolheram livremente seus parceiros tendem a realizar a primeira postura anos antes em

relação as fêmeas que foram forçadas a parear, além de apresentarem maiores taxas de ovos

fertilizado, de dispensarem mais tempo no ninho e de possuem maior taxa de postura do que

fêmeas forçadas a um pareamento. A falta de sucesso reprodutivo sem causa aparente muitas

vezes é consequência da incompatibilidade comportamental entre pares (BALTZ, 1998; FOX;

MILLIAN, 2014), onde o pareamento forçado causa repressão na atividade reprodutiva dos

indivíduos envolvidos (LUPO et al, 1990; BOTTONI et al, 1993, STONE et al, 1999) e

ocasiona modificações das características fisiológicas e comportamentais relativas à

reprodução, sendo extremamente importante o desenvolvimento de estratégias que sejam

capazes de estimular respostas etológicas adequadas para indivíduos que possam futuramente

integrar programas de reintrodução ou revigoramento (GAUDIOSO et al., 2002).

A espécie Anodorhynchus leari encontra-se em perigo de extinção (BIRDLIFE

INTERNATIONAL, 2013), com notória escassez de conhecimento sobre questões

comportamentais e baixa taxa de casais reprodutivos em cativeiro (CORNEJO, 2015).

Page 79: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

75

A utilização do flocking como nova estratégia reprodutiva proposta pela FPZSP e

aprovada pelo Programa de Cativeiro da arara-azul-de-lear/ICMBio permite a formação de

novos casais baseada em análises comportamentais relacionadas às interações entre os

indivíduos que possuem a possibilidade de livre escolha de parceiro sexual. Assim, o presente

trabalho teve como objetivo acompanhar o primeiro flocking oficial realizado na história do

programa de cativeiro da espécie, visando fornecer subsídios para o aprimoramento de

estratégias de manejo ex-situ que possibilitem o aumento do sucesso reprodutivo de

indivíduos mantidos em cativeiro.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O trabalho foi realizado na sede da FPZSP, localizada na região sudoeste do município

de São Paulo, e no Centro de Conservação da Fauna Silvestre do Estado de São Paulo

(CECFau), localizado no município de Araçoiaba da Serra. A Fundação é membro do

Programa de Cativeiro da arara-azul-de-lear e é durante o desenvolvimento do estudo era

responsável pela manutenção de 17 espécimes, sendo eles 12 adultos, um juvenil e quatro

filhotes. As aves são mantidas pela Fundação em áreas de acesso restrito descritas

anteriormente (pg. 15-19).

Coleta de dados

Das doze aves adultas mantidas pela FPZSP, foram selecionadas seis fêmeas (STB 39,

57, 58, 59, 60 e 61), descritas previamente (pg. 19-21), para quantificação dos

comportamentos afiliatiavos e reprodutivos (sócio-repodutivos) antes e durante a técnica

flocking. A seleção das aves ocorreu através da avaliação do potencial reprodutivo desses

espécimes, além de ter sido reforçada por questões judiciais que asseguravam a manutenção

da maior parte dessas fêmeas pela Fundação, garantindo que estas não fossem transferidas

para outras instituições ao longo do desenvolvimento da pesquisa.

Após o detalhamento do repertório comportamental da espécie (Capítulo 1), foram

selecionados 10 comportamentos relevantes ao estudo visando a sua quantificação, sendo eles

comportamento sócio-afiliativos (alimentação conjunta, allopreening, chamar atenção,

contato de bico, mutual allopreening) e reprodutivos (cortejo alimentar, pedido de cópula,

copular, próximo ao ninho e dentro do ninho). A coleta dos dados ocorreu em duas fases com

Page 80: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

76

aplicação da mesma metodologia para fins comparativos: uma fase prévia e uma durante o

flocking. A planilha utilizada para a quantificação dos comportamentos pode ser consultada

no Anexos II.

A primeira etapa ocorreu na sede da FPZSP entre os dias 07/10/2014 e 04/02/2015. Os

comportamentos das seis fêmeas selecionadas foram quantificados pela metodologia animal

focal (ALTMANN, 1974) com registro instantâneo em intervalos de 30 segundos e duração

de meia hora com três sessões diárias (às 8h, 13h e 16h) para cada indivíduo, totalizando 130

horas de observação. Também foi registrada a distância entre as aves (junto – até 30 cm;

próximo – de 30 a 100 cm; longe – acima de 100 cm).

Em agosto de 2015 foram transferidas oito aves mantidas pela FPZSP (STB 35 e 60,

38 e 39, 23 e 43, 61 e 58) para o CECFau e também três aves provenientes de outras

instituições (STB 24, 37 e 175), totalizando 11 indivíduos disponíveis para o flocking (seis

fêmeas e cinco machos). Foram mantidas separadas em pares (quando previamente pareadas)

para adaptação aos novos recintos até a realização do flocking, que ocorreu no dia 29/09/2015.

Em decorrência do sucesso reprodutivo alcançado pelo casal STB 47 e 59 antes das

transferências, estes permaneceram na sede da Fundação. A fêmea STB 57 foi transferida

posteriormente para Araçoiaba para participação de um possível segundo flocking, porém, por

questões burocráticas e sanitárias o mesmo não ocorreu. Portanto, das fêmeas selecionadas

para o estudo, quatro (STB 39, 58, 60, 61) foram transferidas e participaram do flocking,

entretanto, uma precisou ser retirada logo no início do processo (STB 58), restando apenas

três fêmeas para o desenvolvimento da segunda etapa. A segunda fase do estudo teve início

no dia 17/11/2015 e se estendeu até 04/02/2016 com a aplicação da mesma metodologia

desenvolvida na primeira fase, totalizando 94 horas. Todo o estudo comportamental foi

realizado por um único observador.

Durante o flocking, a movimentação de diversas araras simultaneamente dificultava a

identificação individual, senso assim, marcações foram feitas nos espécimes (anilha de aço

com fita colorida para identificação de instrumentais cirúrgicos (autoclavada), corte das

retrizes, coloração do bico e das unhas, marcações de Kuraderm® nas asas ou cauda, além de

marcas naturais quando presentes) com a finalidade de facilitar o reconhecimento individual

(Anexo III). Em termos de durabilidade e visibilidade, as melhores marcações para este tipo

de metodologia foram o corte das retrizes, as marcações naturais e a marcação com esmalte na

parte central superior da maxila. As outras marcações mostraram-se pouco úteis e sem

durabilidade. As marcas de Kuraderm® desaparecem com cerca de quatro dias, as anilhas

Page 81: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

77

tiveram suas fitas coloridas arrancadas e o esmalte nas unhas é pouco visível e tem baixa

durabilidade.

Análise de dados

Para verificar a possibilidade de variação não aleatória nas frequências da

aproximação entre as aves nas etapas pré-flocking e flocking foi utilizado o teste qui-

quadrado. Regressão de Poisson (modelo log-linear) foi aplicada para avaliação dos efeitos

das variáveis independentes (flocking, indivíduo e período do dia) sobre a frequência dos

comportamentos amostrados. Para análise específica da variação dos comportamentos

reprodutivos (copular e pedir cópula) foi utilizado o teste Wilcoxon pareado. Os dados

coletados durante a etapa pré-flocking para as aves que não participaram do flocking não

foram utilizados nas análises.

Todas as análises foram realizadas no software MYSTAT (SYSTAT Software, 2007)

com intervalo de confiança a 95%. Para as análises estatísticas foram levados em

consideração apenas os comportamentos com n > 10 em cada etapa. Vide Anexos IV e V para

acesso aos dados.

3. RESULTADOS

A coleta dos dados resultou em um esforço amostral de 226 horas totais de

observações. Em relação ao período pré-flocking, em 58% do tempo de amostragem não

houve registro de comportamentos interativos, 36% do tempo foi dispendido no interior do

ninho, 2% próximo a ele e em apenas 4% do tempo observou-se interações entre os pares

(Figura 1a). Durante o flocking, o uso do paredão e área dos ninhos era feito apenas por um

casal dominante, fazendo com que as outras aves deixassem de ocupar o interior e

proximidades do ninho, o que ocasionou um acréscimo de 25% do tempo na permanência fora

do ninho sem interação para as outras aves, porém observou-se um acréscimo de 2% no

tempo investido em interações entre os pares (Figura 1b).

Page 82: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

78

Figura 1- Porcentagem observada para as categorias “sem interação”, “no ninho”, “próximo ao ninho” e

“interação” em relação à amostragem total durante o periodo pré flocking (a) e flocking (b).

a) Flocking e frequência dos comportamentos sócio-reprodutivos

As frequências dos comportamentos sócio-reprodutivos variaram de forma

significativa em relação às etapas pré-flocking e flocking (χ2

= 21553; g.l. = 9; p = 0,000; Log-

linear), indicando a influência da técnica na alteração desses comportamentos. Esta diferença

se deve ao aumento da frequência de comportamentos afiliativos como “alimentação

conjunta”, “contato de bico”, “cortejo alimentar” e “mutual allopreening” observados durante

o flocking (Figura 2), porém observou-se variação individual na resposta ao flocking (χ2 =

21,35; g.l. = 2; p = 0,000; Log-linear), conforme a assimetria observada na dispersão dos

dados (Figura 3).

Figura 2 - Variações das frequências dos comportamentos sócio-reprodutivos entre os períodos pré-flocking (a)

e flocking (b).

AC: alimentação conjunta; AL: allopreening; CA: chamar atenção; CB: contato de bico; CO: copular; CoA:

Cortejo alimentar; MA: mutual allopreening; PC: pedir cópula (n pré-flocking: 556 ; n flocking: 645 ).

0

10

20

30

40

AC AL CA CB CO CoA MA PC

Fre

qu

ên

cias

(%

)

Comportamentos

Pré-flocking

Flocking

Page 83: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

79

Figura 3 - Boxplot representativo da dispersão dos dados referentes à contagem dos comportamentos sócio-

reprodutivos entre os períodos pré-flocking (a; n = 556) e flocking (b; n = 645) para as três fêmeas de

Anadorhynchus leari amostradas.

AC: alimentação conjunta; AL: allopreening; CA: chamar atenção; CB: contato de bico; CO: copular; CoA:

Cortejo alimentar; MA: mutual allopreening; PC: pedir cópula.

Porém, em relação aos comportamentos reprodutivos “copular” e “pedir cópula”

especificamente, não houve evidência de que a frequência tenha sido alterada pelo flocking (p

= 0,42 e p = 0, 78, respectivamente; Wilcoxon), apesar do aumento significativo dos

comportamentos afiliativos. Observou-se uma inversão de proporção de cópulas totais em

relação aos meses, com um decréscimo das cópulas de novembro a fevereiro no período pré-

flocking e o oposto para o período do flocking (Figura 4).

Figura 4 - Número de cópulas totais de Anodorhynchus leari observadas nos meses de novembro, dezembro,

janeiro e fevereiro durante o período pré-flocking (n = 208) e flocking (n = 123).

Analisando individualmente a variação dos comportamentos, foi observada a redução

da frequência de cópulas e pedidos de cópula pela fêmea STB 39, porém com aumento dos

comportamentos sociais (Figura 5a). Foi observado acréscimo no número de cópulas e de

0

20

40

60

80

100

120

140

nov. dez. jan. fev.

me

ro d

e c

óp

ula

s

Meses

Pré-flocking

Flocking

Page 84: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

80

comportamentos sociais para a fêmea 60 (Figura 5b) e redução comportamentos sócio-

reprodutivos como “alimentação conjunta”, “pedido de cópula” e “cópula” para a fêmea 61,

entretanto, comportamentos como “contato de bico”, “allopreening” e “cortejo alimentar”

passaram a ser mais frequentes (Figura 5c).

Figura 5 - Variação das frequências observadas para os comportamentos sócio-reprodutivos no período

pré-flocking e flocking para as fêmeas 39 (a), 60 (b) e 61 (c).

AC: alimentação conjunta; AL: allopreening; CA: chamar atenção; CB: contato de bico; CO: copular; CoA:

Cortejo alimentar; MA: mutual allopreening; PC: pedir cópula.

b) Flocking e grau de aproximação entre pares

O flocking exerceu influência significativa no tipo de aproximação entre os pares (χ2

=

1295; g.l.: 2, p = 0,000; Qui-quadrado), sendo que as fêmeas apresentaram respostas

divergentes (Figura 6). Apesar do aumento da frequência dos comportamentos sócio-

reprodutivos observados anteriormente, houve uma redução de 12% na permanência da fêmea

STB 39 junto ao seu parceiro em relação ao observado para o período pré-flocking (Figura

6a), pois durante o flocking o macho passou mais tempo na região do ninho do que dentro

dele junto a ela (Figura 7a) (como foi observado no período pré-flocking), o que ocasionou

uma queda na aproximação da categoria de maior aproximação (junto). Entretanto, observa-se

que a frequência do tempo permanecido junto ao macho em momentos que não envolviam

interação (maior parte do tempo amostrado) teve um aumento de aproximadamente 30% em

relação ao período pré-flocking (Figura 7b). O mesmo valor da redução da aproximação junto

Page 85: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

81

ao macho foi observado no aumento da permanência próximo a ele. Não houve diferença

quanto à frequência do tempo permanecido longe do parceiro.

Para a fêmea STB 60 foi observado um acréscimo de 30% do tempo junto ao macho

durante o flocking em relação ao período pré-flocking, com decréscimo tanto na categoria

“próximo”, quanto na categoria “longe” (Figura 6b).

Para a fêmea STB 61 foi observado uma redução de 33% da proximidade junto ao

parceiro com o dobro de tempo longe em relação ao período pre-flocking, já que esta fêmea

teve sua parceira retirada do flocking antes do período de coleta de dados, se aproximando

lentamente de um macho proveniente de outra instituição (Figura 6c).

Figura 6 - Distribuição das frequências relativas a aproximação entre as fêmeas e seus respectivos pares no

período pré- flocking e durante o flocking.

AC: alimentação conjunta; AL: allopreening; CA: chamar atenção; CB: contato de bico; CO: copular; CoA:

Cortejo alimentar; MA: mutual allopreening; PC: pedir cópula.

Figura 7 - Frequência do da aproximação entre a fêmea 39 e seu parceiro durante a ausência de interação e

permanência do ninho.

Page 86: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

82

c) Comportamento sócio-reprodutivo e período do dia

Foi observada variação dos comportamentos sócio-reprodutivos ao longo do dia (χ2 =

204,91; g.l. = 2; p = 0,000), com preferência da realização de comportamentos sociais de

manutenção (como allopreening e mutual allopreening) pela manhã e maior frequência de

comportamentos sócio-reprodutivos no período da tarde (alimentação conjunta, pedido de

cópula, cópula e corte alimentar) (Figura 8).

Figura 8 - Variação das frequências dos comportamentos afiliativos para os períodos manhã (8h), início da tarde

(tarde 1 – 13h) e fim da tarde (tarde 2 – 16h).

AC: alimentação conjunta; AL: allopreening; CB: contato de bico; MA: mutual allopreening; CO: copular; PC:

pedir cópula; CA: chamar atenção; CoA: Cortejo alimentar.

4. DISCUSSÃO

A assimetria na frequência dos comportamentos é esperada, já que mesmo estando

submetidas às mesmas condições de manejo, as fêmeas recebem e oferecem estímulos

distintos em relação a cada parceiro, dependendo do tipo de afiliação existente previamente. A

determinação de um par como um casal envolve uma variedade de critérios, existindo,

portanto, diversas definições. Trillmich (1976) considera um casal um par de aves que copula

ou tenta copular, com o macho dando assistência à fêmea no ninho. Cox, Goldsmith e

Engelhardt (1993) considera um casal quando a cópula resulta na postura de pelo menos um

ovo. Yamamoto (1989) considera que o que define um casal é a ocupação conjunta de um

ninho. Com base nesses critérios, das três fêmeas analisadas para o projeto, tanto a fêmea

STB 39 com o macho STB 38, quanto a fêmea STB 61 com a fêmea SBT 57 constituíram

casais, não sendo o mesmo observado para a fêmea STB 60 pareada com o macho STB 35,

Page 87: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

83

pois apesar dos poucos eventos de cópula observados, a fêmea não explorava o ninho e o

macho não fornecia assistência a ela. Todas essas configurações já eram observadas durante o

período pré-flocking. Um casal tende a ser composto por um macho e uma fêmea, mas a

formação de casais do mesmo sexo é relatada tanto em cativeiro quanto em vida livre

(SEIBERT; CROWELL-DAVIS, 2001), e para um manejo efetivo em cativeiro, pares

formados pelo mesmo sexo também devem ser considerados casais na tomada de decisões

para subsidiar as estratégias de reprodução.

Aves pareadas que passam longo período da vida juntas tendem a manter o vínculo

mesmo na ausência de contato físico com o parceiro. Estudos demonstram que aves que foram

separadas e mantiveram contato sonoro permaneceram durante seis meses preferindo o

parceiro anterior a possíveis novos parceiros do mesmo grupo (STONE, 1999), o que foi

também observado para o flocking. Após a retirada da fêmea STB 58, a fêmea STB 61

continuou manifestando interesse pela parceira até que esta fosse transferida novamente para

a sede da FPZSP. Poucos dias depois, a fêmea STB 61 passou a desenvolver comportamentos

afiliativos com o macho 175.

A alta porcentagem de tempo registrada sem interações sociais ou reprodutivas está

diretamente relacionada com a biologia da espécie. Em vida livre, essas aves passam 81% do

tempo envolvidas em atividades de forrageamento ou descanso e apenas 5% em atividades

sociais (BRANDT; MACHADO, 1990).

Todas as aves previamente pareadas na sede da Fundação mantiveram seu pareamento

durante o flocking, mesmo os pares que não foram considerados um casal. Isso pode ser

explicado por questões de vantagens do pareamento. O flocking se mostrou uma técnica

efetiva no estímulo de comportamentos afiliativos. O aumento da frequência desses

comportamentos pode ser um reflexo da competição estimulada pelo flocking. A arara-azul-

de-lear é uma espécie altamente gregária, o que confere ao bando diversas vantagens, porém,

em cativeiro a formação de bandos não é viável por limitação espacial, sendo uma das formas

mais simples de gregarismo a formação de pares (SEIBERT; CROWELL-DAVIS, 2001).

Quando indivíduos da mesma espécie compartilham um espaço limitado, há um aumento na

competição direta por recursos, sendo que a formação e manutenção de pares representam

uma vantagem no sentido adaptativo (WEST-EBERHARD, 1979). Pares dão assistência um

ao outro em encontros agonísticos, assim como também inibem outras aves de atacarem seus

parceiros, além de se apoiarem na competição por alimento e território (SCOTT, 1980).

Page 88: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

84

A proximidade entre um par varia de acordo com a densidade do grupo, sendo

observada maior aproximação quanto maior a densidade, permitindo assistência imediata em

situações de ameaça (SCOTT, 1980), conforme o aumento da aproximação observado para a

fêmea STB 60. Porém, o oposto foi registrado para as fêmeas STB 39 e STB 61. A queda da

frequência de permanência do macho junto à fêmea STB 39 é justificada pela sua menor

frequência na permanência dentro do ninho com a fêmea e maior frequência próximo e longe

dela, porém sempre na região do ninho (paredão ou poleiro mais próximo). A possível ameaça

oferecida pela presença de indivíduos que antes do flocking não tinham acesso à área ocupada

pelo casal pode justificar este fato, já que previamente cada par ocupava um recinto exclusivo.

A constante presença humana durante o flocking também pode ser um fator que influenciou

na queda da frequência observada, pois quatro diferentes tratadores revessavam semanalmente

na permanência diária no recinto para impedir possíveis brigas, sendo constante também a

visita de técnicos e funcionários de manutenção. Neste sentido de defesa territorial, os machos

tendem a ser mais agressivos que as fêmeas (SEIBERT; CROWELL-DAVIS, 2001), cabendo

a eles a defesa e proteção do ninho, enquanto à fêmea cabe a responsabilidade da postura dos

ovos e o maior investimento na manutenção dos filhotes (KOKKO; JENNIONS, 2012),

justificando a maior permanência do macho na área externa do ninho. Porém, a permanência

do macho no ninho no período de corte estimula comportamentos reprodutivos da fêmea

(YAMAMOTO, 1989), sendo indicado, portanto, a redução de fatores que possam estimular o

macho a permanecer fora do ninho como necessidade de defesa territorial.

A inspeção do ninho para futura postura é iniciada pelo macho, sendo mais frequente

em machos cuja fêmea realizou postura previamente (YAMAMOTO, 1989). Isto pode

justificar o uso dos ninhos exclusivamente pelo casal STB 39 e STB 38, cuja fêmea já havia

realizado posturas diversas vezes, porém as primeiras aves a explorarem os ninhos nos

paredões foram o casal de fêmeas STB 61 e STB 58, sendo que esta última também já havia

realizado posturas previamente. Depois da retirada da fêmea STB 58 do flocking, a ave STB

61 deixou de frequentar os ninhos, sendo então utilizados exclusivamente pelo casal STB 39 e

STB 38, chegando à postura de oito ovos não férteis.

A constante inspeção pelos técnicos e tratadores no ninho escolhido por esse casal

resultou no início da exploração de outros ninhos, o que pode ter ocasionado a morte do

macho STB 35, já que este macho costumava permanecer na área onde o casal passou a

demonstrar interesse, sendo este macho atacado pelo casal, vindo a óbito em decorrência da

gravidade das lesões e sua condição física já precária.

Page 89: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

85

A variação da frequência dos comportamentos ao longo do dia também foi observada

em vida livre. Assim como no presente estudo, Amaral et al. (2005) observou maior

frequência de comportamentos relacionados a manutenção no período da manhã. Brandt e

Machado (1990) observaram que o período da tarde é mais propício ao desenvolvimento de

comportamentos sociais e afiliativos, em especial ao entardecer, quando os indivíduos se

reúnem para retornar para os dormitórios.

Considerações sobre os pares

As aves STB 47 e 59 foram mantidas pareadas pela Fundação durante mais de 10 anos

e apenas em 2015 alcançaram sucesso reprodutivo com o nascimento do primeiro filhote,

estando os pais com aproximadamente 10 e 14 anos de idade, respectivamente, não sendo

então transferidos para participação no flocking. Este casal teve o sucesso reprodutivo

alcançado sem que nenhuma alteração estrutural ou de manejo fosse feita, sendo que as aves

demonstravam sinais claros de pareamento (constante aproximação, comportamentos

afiliativos, permanência no interior do ninho e cópulas perfeitamente executadas), além de

não apresentarem comportamentos agressivos em relação ao parceiro. Hoje, são pais de oito

filhotes, sendo os outros sete nascidos no primeiro semestre deste ano.

O casal STB 35 e 60 convivia bem na sede da FPZSP, desenvolvendo alguns

comportamentos afiliativos, em especial de manutenção (allopreening e mutual allopreening).

Permaneceram juntos por indicação do studbook em decorrência da boa variabilidade

genética, porém não frequentavam o ninho e raramente tentavam copular. Alguns pares

podem apresentar sociabilidade sem que sejam sexualmente compatíveis (BALTZ, 1998).

Apesar de a fêmea possuir excelentes condições para reprodução (ovários desenvolvidos), o

macho possuía testículos pouco desenvolvidos, condições físicas comprometidas (um olho

cego e problemas pulmonares) e enfrentou algumas dificuldades durante o processo de

estabilidade de dominância que ocorre naturalmente durante o flocking em decorrência disso.

O casal STB 38 e 39, apesar das cópulas constantes, da ocupação do ninho e da

postura de ovos (inférteis), apresentava idade avançada para reprodução (ambos com 19 anos)

e alto índice de comportamentos agonísticos, como bicadas e afastamentos, podendo ser

considerado um casal mais agressivo. A falta de sucesso reprodutivo pode estar relacionada a

uma idade avançada, além do fato do macho não apresentar um desenvolvimento satisfatório

do comportamento de cópula, tendo visível dificuldade em articular a cauda para cima,

Page 90: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

86

impedindo o acesso à cloaca da fêmea. Nenhuma lesão foi constatada até hoje, podendo ser a

dificuldade uma disfunção puramente comportamental.

As fêmeas STB 58 e 61 possuem boas condições reprodutivas segundo seus exames

clínicos (ambas com 15 anos e ovários desenvolvidos). Após separação, a fêmea STB 61

demonstrou afinidade pelo macho STB 17. As constantes perturbações durante o início da

aproximação entre o casal resultavam em afastamentos temporários com redução dos

comportamentos afiliativos, porém sempre voltavam a se aproximar, indicando uma

possibilidade viável de pareamento, desde que sejam mantidos sem contato com a antiga

parceira da fêmea. As últimas informações recebidas, pós coleta de dados, relatam que esse

casal se alimenta junto e permanece próximo boa parte do tempo (Angélica Sugieda, com.

pess.).

A fêmea STB 57 não participou do flocking por problemas sanitários e burocráticos

que impediram a participação de indivíduos de outras instituições no período de realização

deste estudo. Essa fêmea não demonstrou comportamentos reprodutivos enquanto na sede da

Fundação, onde ocupava um recinto em conjunto com outra fêmea (não participante do

projeto). Possui excelentes condições para reprodução segundo seus exames clínicos (13 anos

e ovários bons), sendo imprescindível sua participação em um possível novo flocking.

Desde o início do programa de cativeiro, a formação de pares reprodutivos tem sido

baixa, com apenas oito casais produzindo descendentes de 1984 a 2015 (CORNEJO, 2015).

Pares não reprodutivos são mantidos pareados por longos anos esperando que um dia

reproduzam. Isto pode de fato ocorrer, como observado para o casal reprodutivo mantido pela

FPZSP, porém não é o que se observa com frequência. Uma avaliação mais criteriosa das

condições clínicas, da idade e da sociabilidade entre os pares associada a uma avaliação

genética dos possíveis participantes da técnica podem contribuir com a formação de casais

compatíveis e adequados geneticamente.

5. CONCLUSÕES

A técnica flocking favoreceu a aproximação e os comportamentos afiliativos entre os

pares, especialmente no período da tarde, no qual é indicado evitar perturbações em cativeiro.

O flocking se mostrou também uma alternativa potencial na afiliação entre aves

desconhecidas. O tipo de resultado alçado com a utilização desta técnica estará de acordo com

o nível de relação social que as aves participantes tiveram previamente entre si.

Page 91: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

87

Se o objetivo do manejo for a formação de novos casais (repareamento), é importante

que aves previamente alocadas no mesmo recinto por muito tempo sejam separadas na

participação do flocking, que deve ser realizado com indivíduos que não se conheceram

previamente ou que não mantiveram contato prolongado, e neste caso, o acompanhamento

científico poderá colaborar com a melhor compreensão dos critérios de seleção sexual da

espécie. Porém, casais pareados previamente podem participar do processo caso o objetivo

seja apenas estimular os comportamentos sócio-afiliativos das aves.

É reconhecido o aumento da territorialidade e agressividade durante o período

reprodutivo e em adição a isso, sabe-se que o estabelecimento dos casais ocorre antes do

período reprodutivo na maioria das aves, sendo, portanto, indicado a realização desta técnica

fora do período reprodutivo, com separação dos casais após constatação de compatibilidade

para que possam ter livre acesso aos ninhos.

O presente trabalho acompanhou o primeiro flocking oficial na história do programa

de cativeiro de Anodorhynchus leari. Articular a comunicação e colaboração entre os

membros é o papel fundamental dos Programas de Cativeiro estabelecidos pela Instrução

normativa ICMBio n˚ 22, criando condições favoráveis para produção e compartilhamento de

novos conhecimentos quanto às necessidades reprodutivas das espécies, visando assim, por

uma alternativa viável em termos financeiros e estruturais, atingir os objetivos propostos. É

indispensável o estabelecimento de um protocolo que padronize as observações

comportamentais e que estabeleça critérios relativos ao melhor manejo e a escolha de

indivíduos aptos a participarem desse tipo de projeto.

As informações apresentadas neste estudo poderão servir de subsídios para o

aprimoramento dos protocolos utilizados pelos centros de reprodução de instituições

mantenedoras de psitacídeos ameaçados e este estudo traz algumas reflexões como um ponto

de partida para que novas abordagens possam ser planejadas para as futuras realizações da

técnica, que também devem ser acompanhadas cientificamente para que a produção e

divulgação de informações sobre as relações sociais e preferências sexuais colaborem com

melhor compreensão dos aspectos reprodutivos da espécie em cativeiro.

Page 92: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

88

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADKINS-REGAN, E. Neuroendocrine contributions to sexual partner preference in birds.

Frontiers in Neuroendocrinology, v. 32, p. 155-163, 2011.

ALTMANN, J. Observational study of behavior: sampling methods. Behaviour, vol. 49, n. 3,

p. 227-267, 1974.

AMARAL, A. C. A. et al. Dinâmica de ninho de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

Bonaparte, 1856) em Jeremoabo, Bahia. Ornithologia, vol. 1, n. 1, p. 59-64, 2005.

BALTZ, A. P. The assessment of reproductive potential in Micronesian Kingfisher pairs. Zoo

Biology, v. 17, p. 425-432, 1998.

BIRDLIFE INTERNATIONAL. Anodorhynchus leari. The IUCN Red List of Threatened

Species 2013: e.T22685521A48042913. Disponível em:

<http://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2013-2.RLTS.T22685521A48042913.en>.

Acesso em: 02 ago. 2016.

BRANDT, A.; MACHADO, R. B. Área de alimentação e comportamento alimentar de

Anodorhynchus leari. Ararajuba, v. 1, p. 57-63, 1990.

BOTTONI, L.; MASSA, R.; LEA, R. W.;SHARP, P. J. Mate choice and reproductive success

in the red-legged partridge (Alectoris rufa). Hormones and behavior, v. 27, p. 308-

317, 1993.

CARLSTEAD, K., et al. Black rhinoceros (Diceros bicornis) in U. S. Zoos: II. Behavior,

breeding success, and mortality in relation to housing facilities. Zoo Biology, v. 18, p.

35-32, 1999.

CLAYTON, N. S. Mate choice and pair formation in Timor and Australian mainland zebra

finches. Animal Behaviour, v. 39, p. 474–480, 1990.

CORNEJO, J. Lear´s Macaw (Anodorhynchus leari) International Studbook and Population

analysis. Captive Program for the Lear´s Macaw / ICMBio, 2014. 50 p.

COX, C. R.; GOLDSMITH, V. L.; ENGELHARDT, H. R. 1993. Pair formation in California

Condors. American Zoologist, v. 33, p. 126-138, 1993.

DUNN, P. O.; WHITTINGHAM, L. A.; PITCHER, T. E. Mating systems, sperm

competition, and the evolution of sexual dimorphism in birds. Evolution, v. 55, n. 1, p.

161-175, 2001.

FRANCISCO, L. R. Resposta reprodutiva de psitacídeos neotropicais em cativeiro à retirada

de ovos e filhotes. Dissertação. 66 p. Programa de Pós-Graduação em Ciências

Biológicas – Zoologia, Setor de Ciências Biológicas da Universidade Federal do

Paraná, 2012.

FOX, A. R.; MILLIAM, J. A. Personality traits of pair members predict pair compatibility

and reproductive success in a socially monogamous parrot breeding in captivity. Zoo

Biology, v. 33, p. 166-172, 2014.

Page 93: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

89

GAUDIOSO, V. R. et al. Effects of housing type and breeding system on the reproductive

capacity of the red-legged partridge (Alectoris rufa). Poultry Science, v. 81, p. 169-

172, 2002.

KLINT, T.; ENQUIST, M. Pair formation and reproductive output in domestic pigeons.

Behavioral Processes, v. 6, p. 57–62, 1981.

IHLE, M.; KEMPENAERS, B.; FORSTMEIER, W. 2015. Fitness benefits of mate choice for

compatibility in a socially monogamous species. PloS Biology, v.13, n. 9, e1002248,

2015.

KOENIG, S. The breeding biology of black-billed parrot Amazona agilis and yellow billed

parrot Amazona colaria in cockpit country, Jamaica. Bird Conservation International,

v. 11, n. 3, p. 205-225, 2001.

KOKKO, H., JENNIONS, M. Sex differences in parental care. In: ROYLE, J. N.; SMISETH,

P. T.; KOLLIKER, M. The evolution of parental care. Oxford, United Kingdom:

Oxford University Press, 2012, p. 101-114.

KUBITZA, R. J.; BUGNYAR, T.; SCHWAB, C. Pair bond characteristics and maintenance

in free-flying jackdaws Corvus monedula: effects of social context and season.

Journal of avian biology, v. 46, n. 2, p. 206-215, 2015.

LUCAS, R. E. et al. Reexamining adaptation and the set point model of happiness: reactions

to changes in marital status. Journal of Personality and Social Psychology, v. 84, n. 3,

p. 527–539, 2003.

LUPO, C. et al. Steroid hormones and reproductive success in the Grey partridge (Perdix

perdix). Bulletin of Zoology, v. 57, p. 247-252, 1990.

MELLEN, J. D. Survey and lnterzoo studies used to address husbandry problems in some zoo

vertebrates. Zoo Biology, v. 13, p. 459-470, 1994.

SCOTT, D. K. Functional aspects of the pair bond in winter in Bewick's swans (Cygnus

columbianus bewickii). Behavioral Ecology and Sociobiology, v. 7, n. 4, p. 323-327,

1980.

SEIBERT, L. M.; CROWELL-DAVIS, S. L. Gender effects on aggression, dominance rank,

and affiliative behaviors in a flock of captive adult cockatiels (Nymphicus

hollandicus). Applied Animal Behaviour Science, v. 71, n. 2, p. 155-170, 2001.

STONE, E. G. et al. Determinants of reproductive success in force-re-paired cockatiels

(Nymphicus hollandicus). Applied Animal Behaviour Science, v. 63, p. 209-218, 1999.

SYSTAT SOFTWARE INC. 2007. MYSTAT 12, version 12.02.00.

SVEC, L. A.; LICHT, K. M.; WADE, J. Pair bonding in the female zebra finch: a potential

role for the nucleus taeniae. Neuroscience, v.160, n.2, p. 275-283, 2009.

TRILLMICH, F. Spatial proximity and mate-specific behaviour in a flock of budgerigars

(Melopsittacus undulatus; Aves, Psittacidae). Ethology, v. 41, n. 3, p. 307-331, 1976.

Page 94: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

90

WEST-EBERHARD, M. J. Sexual selection, social competition, and evolution. Proceedings

of the American Philosophical Society, v. 123, n. 4, p. 222-234, 1979.

YAMAMOTO, J. T. et al. reproductive activity of force-paired cockatiels (Nymphicus

hollandicus). Auk, v. 106, p. 86-93, /1989.

Page 95: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

91

7. ANEXOS

ANEXO I - Etograma de arara-azul-de-lear em cativeiro.

* Novos comportamentos observados durante o flocking.

Page 96: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

92

ANEXO I – cont. Etograma de arara-azul-de-lear em cativeiro.

* Novos comportamentos observados durante o flocking.

Page 97: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

93

ANEXO II. Planilha utilizada para quantificação dos comportamentos selecionados.

Page 98: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

94

ANEXO III - Marcações utilizadas para individualização dos indivíduos pertencentes ao projeto. Anilhas

coloridas e unhas pintadas com esmalte (A), marcações com Kuraderm® nas asas ou cauda (B), corte das

retrizes (C), marcações com esmalte na parte frontal do bico (D) e marcações naturais (E).

Page 99: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

95

ANEXO IV - Contagem e frequência dos comportamentos amostrados por fêmea para cada etapa da coleta de dados. CA: chamar atenção; CB: contato de bico; AC:

alimentação conjunta; AL: allopreening: MA: mutual allopreening; CoA: cortejo alimentar; PC: pedido de cópula; CO: copular; PN: porta do ninho; NI: interior do ninho; SI:

sem interação.

Pré-flocking Flocking

Comportamento 39 60 61

Total (n) Comportamento 39 60 61

Total n Freq. (%) n Freq. (%) n Freq. (%) n Freq (%) n Freq. (%) n Freq. (%)

CA 1 0.02 0 0.00 4 0.08 5 CA 2 0.05 2 0.05 4 0.10 8

CB 3 0.06 12 0.26 4 0.08 19 CB 33 0.89 3 0.08 42 1.08 78

AC 2 0.04 5 0.11 76 1.49 83 AC 59 1.58 69 1.83 1 0.03 129

AL 0 0.00 91 1.96 12 0.24 103 AL 43 1.15 8 0.21 11 0.28 62

MA 1 0.02 40 0.86 14 0.28 55 MA 70 1.88 76 2.01 7 0.18 153

CoA 0 0.00 0 0.00 0 0.00 0 CoA 18 0.48 1 0.03 6 0.15 25

PC 47 0.97 1 0.02 15 0.29 63 PC 51 1.37 6 0.16 1 0.03 58

CO 130 2.68 14 0.30 64 1.26 208 CO 51 1.37 47 1.24 25 0.65 123

PN 32 0.66 33 0.71 233 4.58 298 PN 84 2.26 0 0.00 0 0.00 84

NI 2951 60.82 67 1.45 2312 45.47 5330 NI 1280 34.37 0 0.00 4 0.10 1284

SI 1685 34.73 4370 94.32 2351 46.23 8406 SI 2033 54.59 3564 94.39 3774 97.39 9371

Total 4852

4633

5085

14570 Total 3724

3776

3875

11375

Page 100: Comportamento de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari

96

ANEXO V - Contagem e frequência dos comportamentos por fêmea para cada período de amostragem. M: manhã (8h); T1: início da tarde (13h); T2: fim da tarde (16h); I:

comportamentos interativos; NI: comportamentos de permanência no ninho e entorno; SI: comportamentos sem interação.

Pré-flocking

Período

39 60 61

I NI SI I NI SI I NI SI

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

M 77 4.41 75 3.97 35 2.88 69 4.19 73 4.43 21 1.57 99 5.11 91 4.97 19 1.42

T1 990 56.67 1400 74.03 593 48.73 65 3.95 0 0.00 35 2.61 827 42.72 975 53.28 743 55.49

T2 680 38.92 416 22.00 589 48.40 1512 91.86 1573 95.57 1285 95.82 1010 52.17 764 41.75 577 43.09

total 1747

1891

1217

1646

1646

1341

1936

1830

1339

Flocking

Período

39 60 61

I NI SI I NI SI I NI SI

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

n Freq. (%)

M 120 10.20 79 6.17 69 5.67 85 6.66 25 1.95 45 3.88 10 0.79 46 3.43 50 3.92

T1 371 31.52 509 39.77 494 40.56 0 0.00 0 0.00 0 0.00 4 0.32 0 0.00 0 0.00

T2 686 58.28 692 54.06 655 53.78 1192 93.34 1256 98.05 1116 96.12 1251 98.89 1296 96.57 1227 96.08

total 1177

1280

1218

1277

1281

1161

1265

1342

1277