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INSTITUTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL SUSTENTÁVEL COMPORTAMENTO INGESTIVO E TEMPERAMENTO DE BOVINOS NELORE : RELAÇÃO COM EFICIÊNCIA ALIMENTAR E ASPÉCTOS METODOLÓGICOS Julian Aldrighi

COMPORTAMENTO INGESTIVO E TEMPERAMENTO DE BOVINOS … · 2018-07-11 · de cinco, 10 e 15 minutos. As médias das medidas de comportamento ingestivo não diferiram entre os cinco

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INSTITUTO DE ZOOTECNIAPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL SUSTENTÁVEL

COMPORTAMENTO INGESTIVO E TEMPERAMENTO DE BOVINOS NELORE : RELAÇÃO COM EFICIÊNCIA

ALIMENTAR E ASPÉCTOS METODOLÓGICOS

Julian Aldrighi

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Nova Odessa-São Paulo-BrasilFevereiro-2013

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULOSECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO

AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOSINSTITUTO DE ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL SUSTENTÁVEL

COMPORTAMENTO INGESTIVO E TEMPERAMENTO DE BOVINOS NELORE : RELAÇÃO COM EFICIÊNCIA ALIMENTAR E ASPÉCTOS

METODOLÓGICOS

Orientadora PqC. Dra. Renata Helena Branco

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação do Instituto de Zootecnia, APTA/SAA, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Produção Animal Sustentável

Julian AldrighiZootecnista

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Nova OdessaFevereiro- 2013

Ficha catalográfica elaborada peloNúcleo de Informação e Documentação do Instituto de Zootecnia

G846p Aldrighi, Julian

Comportamento ingestivo e temperamento de bovinos Nelore: relação com eficiência alimentar e aspectos metodológicos. / Julian Aldrighi. Nova Odessa – SP, 2012.

60p.: il. Orientador: PqC. Dra. Renata Helena Branco. Dissertação (mestrado) – Instituto de Zootecnia.

APTA/SAA.

1. Bovinos de corte. 2. Comportamento 3. Alimentação. I. Branco, Renata Helena. II. Titulo

CDD 636.21

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULOSECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO

AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOSINSTITUTO DE ZOOTECNIA

Pós-Graduação - Produção Animal SustentávelCurso reconhecido pela Portaria MEC n.º 590, publicada no DOU de 19/06/2009

Ata da reunião da Comissão Julgadora da Defesa de Dissertação do Zootecnista Julian Aldrighi. Aos 08 dias do mês de Fevereiro de dois mil e treze às 8:30 horas, sob a presidência da Dra. RENATA HELENA BRANCO ARNANDES, em sessão pública, reuniu-se a Comissão Julgadora da Defesa de Dissertação de Julian Aldrighi, aluno do curso de Pós-Graduação em Produção Animal Sustentável, visando à obtenção do título de “Mestre em Produção Animal Sustentável”, assim constituída:

Dra. Renata Helena Branco ArnandesDra. Joslaine N. Gonçalves CyrilloDr. João Francisco Pereira Bastos

Iniciados os trabalhos, o candidato submeteu-se à defesa de sua dissertação, intitulada: “COMPORTAMENTO INGESTIVO E TEMPERAMENTO DE BOVINOS NELORE: RELAÇÃO COM EFICIÊNCIA ALIMENTAR E ASPÉCTOS METODOLÓGICOS”

Terminada a defesa, procedeu-se ao julgamento dessa prova, cujo resultado foi o seguinte, observada a ordem de argüição:

Dra. Renata Helena Branco ArnandesDra. Joslaine N. Gonçalves CyrilloDr. João Francisco Pereira Bastos

Apurados os resultados, verificou-se que o candidato foi habilitado, fazendo jus, portanto ao título de “Mestre em Produção Animal Sustentável”. Do que, para constar, lavrou-se a presente ata, que vai assinada pelos senhores membros da Comissão Julgadora.

Nova Odessa, 08 de Fevereiro de 2013.

Dra. Renata Helena Branco Arnandes

Dra. Joslaine N. Gonçalves Cyrillo

Dr. João Francisco Pereira Bastos

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Dedicatória

Aos meus pais, Wilson e Gilma, que jamais pouparam esforços para me

ensinar o valor do amor, da honestidade, da persistência e do

trabalho, eu os dedico...

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Agradecimentos

A Deus pelas oportunidades, pelos ensinamentos e pela proteção divina em todos os momentos da minha vida;

Aos meus familiares Dulce e Nico (avós) pelas preces e pelo apoio que nunca deixaram de oferecer e Michel e Renan (irmãos), pelos conselhos e pelo companheirismo durante toda a jornada;

A minha namorada Lorraine Stefanini, pela companhia, paciência, carinho e auxílio em muitos momentos da minha vida;

A Dra. Renata Helena Branco Arnandes pela orientação, oportunidade de trabalho e reconhecimento;

A Dra. Joslaine N. G. Cyrillo pelo exemplo de profissional e pelo auxílio e dedicação que contribuíram para a realização desta dissertação, seu apoio foi motivador;

Ao amigo Eduardo Guariglia pelo companheirismo durante o mestrado, a convivência me ensinou que a bondade parte de quem a tem e a cultiva;

Aos amigos conquistados durante esse período André, Braz, Cleisy, Elaine e Leandro, nossa amizade facilitou ultrapassar os obstáculos Melhor que ter trabalhado com vocês, foi compartilhar os bons momentos;

Aos funcionários Braz, Jôse, Frá e Sr. Zé pela dedicação, compromisso e responsabilidade com o experimento, pelo esforço conjunto, que, sem eles não seria possível concluir o trabalho;

Aos estagiários Camila, Eduardo, Fernando, Liliam, Vitor e em especial Luciane, Gustavo e Gabriela pela ajuda diária nos afazeres de campo, pela grande contribuição nas coletas de comportamento e análises do laboratório;

Aos colegas de trabalho Ana Paula, Bruno, Guilherme, Gustavo, Henrique, Luíza, Olinta e Pedro pelos momentos de diversão e pela amizade;

A todos os funcionários do Instituto de Zootecnia de Sertãozinho, em especial Estela, Dn. Irma, Rosângela, Lêo, Cará, Valdir, Fran, Niquinho, Marco Nogueira, Vardemá, Dau, João Pinga, Pedrinho, Cuaiada, Fábio, Sebastião e Clésia que, independente do setor, contribuíram para a realização desse trabalho;

Muito obrigado

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Sumário

RESUMO vii

ABSTRACT viii

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS 11.INTRODUÇÃO.................................................................................................... 12.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................. 2

2.1. Consumo alimentar residual, .................................................................. 32.2. Comportamento ingestivo........................................................................ 42.3. Temperamento......................................................................................... 52.4. Aspectos metodológicos do comportamento ingestivo de bovinos ........ 8

3. REFERÊNCIAS................................................................................................. 10

CAPÍTULO 2 - COMPORTAMENTO INGESTIVO E TEMPERAMENTO DE FÊMEAS E MACHOS NELORE CLASSIFICADOS PARA CONSUMO ALIMENTAR RESIDUAL ....................................................................................

15

RESUMO................................................................................................................. 15ABSTRACT............................................................................................................. 161. INTRODUÇÃO................................................................................................... 172. MATERIAL E MÉTODOS................................................................................. 183. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................... 234. CONCLUSÕES .................................................................................................. 325. REFERÊNCIAS................................................................................................... 33

CAPÍTULO 3 - ASPÉCTOS METODOLÓGICOS DO COMPORTAMENTO INGESTIVO DE BOVINOS CONFINADOS INDIVIDUALMENTE............................................................................................

36

RESUMO................................................................................................................. 36ABSTRACT............................................................................................................. 371. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 382. MATERIAL E MÉTODOS................................................................................. 393. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................... 424. CONCLUSÕES................................................................................................... 495. REFERÊNCIAS................................................................................................... 50

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Lista de abreviaturas e siglas

ACTH = hormônio adrenocorticotróficoARH(1) = auto-regressiva de primeira ordemCA = conversão alimentarCAR = consumo alimentar residualCMSMET = consumo de matéria seca por kg de peso vivo matabólicoCMSO = consumo de matéria seca observadoCMSP = consumo de matéria seca preditoCMSPV = consumo de matéria seca por kg de peso vivoCORT = cortisolDP = desvio padrãoEAL = eficiência de alimentaçãoEC = escore compostoEM = energia metabolizávelERUM = eficiência de ruminaçãoFDA = fibra em detergente ácidoFDN = fibra em detergente neutroFQ = frequência alimentarGMD = ganho médio diárioKp = taxa de passagemLAFA = laboratório de fisiologia animalMS = matéria secaPB = proteína brutaPV0,75 = peso vivo metabólicoPVF = peso vivo finalPVI = peso vivo inicialPVMET = peso vivo metabólicoTALM = tempo de alimentaçãoTALMS = tempo de alimentação por kg de matéria secaTD = tempo deitadoTMAST = tempo de mastigação totalTO = tempo em ócioTP = tempo em péTRUM = tempo de ruminaçãoTRUMS = tempo de ruminação por kg de matéria secaTXMAST = taxa de mastigaçãoVar1 = variância préviaVar2 = variância posteriorVarR = variância relativaVS = velocidade de saída

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COMPORTAMENTO INGESTIVO E TEMPERAMENTO DE BOVINOS NELORE : RELAÇÃO COM EFICIÊNCIA ALIMENTAR E ASPÉCTOS METODOLÓGICOS

RESUMO: Os objetivos desse trabalho foram avaliar o comportamento ingestivo e o

temperamento de bovinos Nelore classificados para consumo alimentar residual (CAR)

e validar aspectos metodológicos do comportamento ingestivo de bovinos confinados.

Foram utilizados 56 fêmeas e 62 machos Nelore desmamados, confinados em baias

individuais durante 112 dias. O CAR foi calculado pela diferença entre o consumo

observado e o predito, baseado no ganho de peso médio diário e no peso vivo

metabólico, assim, fêmeas e machos foram classificados como alto, n= 19 e 21 (>média

+ 0,5 DP); médio n= 21 e 21 (± 0,5 DP da média); e baixo CAR n=16 e 20 (<média –

0,5 DP), respectivamente. O comportamento ingestivo foi mensurado a cada 28 dias e o

temperamento foi avaliado através da velocidade de saída, REATEST®, escore

composto e concentração de cortisol. Os machos apresentaram maior consumo de MS e

maior ganho de peso que as fêmeas, que apresentaram maior tempo de alimentação,

menor tempo de alimentação por kg de MS, menor tempo de ruminação e menor

freqüência alimentar que os machos. Animais baixo CAR consumiram menos MS,

passaram maior tempo se alimentando e ruminando e um kg de MS que os alto CAR.

As diferenças no comportamento ingestivo indicam que os animais mais eficientes

aproveitam melhor os alimentos ingeridos e demandam menos energia com atividades

de alimentação. Animais baixo CAR apresentaram maior velocidade de saída em

relação aos alto CAR, indicando ser mais reativos. As variâncias residuais aumentaram

conforme ampliou os intervalos de registro, as correlações foram altas entre intervalos

de cinco, 10 e 15 minutos. As médias das medidas de comportamento ingestivo não

diferiram entre os cinco intervalos testados, exceto tempo de alimentação que foi

subestimado aos 30 minutos. O número de visitas ao cocho reduziu conforme aumentou

o intervalo de registros, indicando maior número de medidas perdidas e imprecisão do

método para mensurar freqüência alimentar. Doze animais foram suficientes para

estimar o comportamento ingestivo. Intervalos de 15 minutos geram boas estimativas da

duração do comportamento ingestivo. Uma amostra de animais gera estimativa

confiável do comportamento ingestivo de bovinos confinados individualmente.

Palavras-chave: bovinos de corte, comer, eficiência, intervalos de registro, ócio,

reatividade, ruminar

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INGESTIVE BEHAVIOR AND TEMPERAMENT OF BOVINE NELLORE: RELATIONSHIP WITH FEED EFFICIENCY AND METHODOLOGICAL ASPECTS

ABSTRACT: The objectives of this study were to evaluate the ingestive behavior and

temperament of bovines Nellore classifieds for residual feed intake (RFI) and validate

methodological aspects of ingestive behavior of feedlot cattle. Were used 56 females

and 62 males weaned Nellore, confined in individual pens during 112 days. The RFI

was calculated by the difference between the consuption observed and the predicted,

based on the average daily weight gain and metabolic live weight, thus females and

males were high, n = 19 and 21 (average > 0,5 + DP); medium n = 21 and 21 (± 0,5 SD

of the mean); and low RFI n = 16 and 20 (< average – 0,5 SD), respectively. The

ingestive behavior was measured every 28 days and the and temperament was evaluated

through flight speed, REATEST®, composite score and cortisol levels. Males had

higher consumption of DM and greater weight gain than females, which had higher

feeding time, shorter feeding time per kg DM, the shortest time of rumination and feed

frequency often than males. Low CAR animals consumed less MS and spent more time

eating and ruminating one kg of MS that the high CAR. The differences in ingestive

behavior indicate that the animals more efficient leverage better the feed ingested and

require less energy to activities of ingestion. Low CAR animals had higher flight speed

in relation to the CAR, indicating to be more reactive. The residual variances increased

as expanded registry intervals, correlations were high between intervals of five, 10 and

15 minutes. The averages of ingestive behavior measures did not differ among the five

intervals tested, except feeding time which was underestimated to 30 minutes. The

number of visits to the trough reduced as increased the range of records, indicating a

greater number of lost and imprecision of the method for measuring frequency. Twelve

animals were sufficient to estimate the ingestive behavior. Intervals of 15 minute

provide good estimates of the length of ingestive behavior. A sample of animals

generates reliable estimation of ingestivo behavior of confined cattle individually.

Key words: beef cattle, eating, efficiency, reactivity, resting, ruminate, intervals of records

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1. Introdução

O desenvolvimento sustentável é definido como o desenvolvimento que satisfaz

as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de atender as necessidades

das futuras gerações, associando setores sócio-econômicos e ambientais

(BRUNDTLAND, 1988).

Uma forma de aplicar sustentabilidade na bovinocultura de corte é utilizar a

eficiência alimentar dos animais, que é o potencial do indivíduo em converter o

alimento ingerido no produto desejado.

Considerando que a alimentação é o fator de custo mais representativo na

produção de bovinos, uma pequena redução na alimentação dos animais, gera economia

de capital e dos recursos naturais utilizados nessa atividade.

Como característica de eficiência alimentar o consumo alimentar residual (CAR)

pode ser utilizado para identificar animais que possuem menor exigência energética de

manutenção, contribuindo para a economia de matéria prima sem prejudicar a

quantidade e qualidade do produto final, no entanto, suas variações não são totalmente

conhecidas.

O comportamento ingestivo e o temperamento dos animais são características

que podem apresentar diferenças entre indivíduos diferentes quanto ao CAR

(RICHARDSON; HERD, 2004). A determinação dessas diferenças comportamentais

pode auxiliar na identificação de animais mais eficientes de maneira mais viável.

Para medir comportamento ingestivo de bovinos confinados podem ser

utilizados equipamentos, no entanto, têm alto custo de instalação e manutenção, além de

que nem sempre é possível medir todas as categorias comportamentais necessárias e

também pela impossibilidade de implantação dos equipamentos em alguns sistemas de

produção. Para mensurar o comportamento por meio de observadores é necessária uma

grande demanda de mão de obra e tempo para mensurar e manipular os dados

(MITLÖEHNER et al., 2001). Visando facilitar a mensuração do comportamento

ingestivo nos sistemas de produção de confinamento é importante determinar métodos

práticos e eficientes.

Com base nesse contexto o objetivo desse trabalho é avaliar o comportamento

ingestivo e o temperamento de bovinos Nelore classificados para CAR e o intervalo de

registros adequado para medir comportamento ingestivo, assim como o número mínimo

de animais na amostra a ser avaliada.

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2. Revisão bibliográfica

A cada ano o setor pecuário brasileiro se torna mais importante para o

desenvolvimento do país. Em 2008 a riqueza obtida colaborou com 26,4 % do PIB

nacional em um montante de 764 bilhões de reais (IBGE, 2010). Além do capital

promovido pelo setor, a pecuária de corte também absorve uma grande quantidade de

mão de obra. Em 2009 a Associação brasileira das indústrias exportadoras de carne

(ABIEC, 2011) considerou 7,5 milhões de empregos ligados ao agronegócio da carne.

Esses dados mostram a importância econômica e social da bovinocultura de corte para o

país.

Apesar de o Brasil deter o maior rebanho comercial do mundo, com

aproximadamente 202,3 milhões de cabeças e possuir uma área de aproximadamente

180 milhões de ha ocupados (IBGE, 2010), a produtividade ainda é considerada baixa

com média de 1,2 UA/ha, sendo que aproximadamente 97% do rebanho é criado em

pastagens, apenas com suplementação mineral (ABIEC, 2011). A utilização de

tecnologias zootécnicas como melhoramento genético, nutrição e sanidade, assim como

cuidados no manejo com os animais, são meios de intensificar a produção e aumentar a

produção nacional sem mudanças no uso da terra.

Como estratégia de intensificação do sistema produtivo, o confinamento de

bovinos promove redução do ciclo produtivo e aumento na oferta de carne no período

da entressafra. Nesse sistema de produção a alimentação é o componente de custo mais

expressivo, pois supera 70% do custo de produção total, quando desconsiderado o valor

de compra do animal (PACHECO et al., 2006).

Aperfeiçoar a característica de eficiência alimentar dos animais, visando

otimizar a utilização dos alimentos é interessante para o sistema de produção de carne,

uma vez que animais mais lucrativos são aqueles que convertem de forma mais eficiente

o alimento em carne e, nem sempre, os que apresentam melhor ganho de peso (REIS,

2009).

O CAR pode contribuir para otimizar a utilização de recursos naturais e reduzir

o desperdício de nutrientes (KENNEDY; VAN DER WERF; MEUWISSEN, 1993),

aproximando a pecuária de um modo mais sustentável de produção.

2.1. Consumo alimentar residual

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O consumo alimentar residual (CAR) é uma medida de eficiência alimentar que

não é relacionada com características fenotípicas de crescimento. Segundo Richardson

et al. (2001) as variações da eficiência alimentar de animais medida pelo CAR estão

associadas às diferenças de exigência energética de mantença.

O CAR é calculado subtraindo o consumo observado (CMSO) do consumo

predito (CMSP). O CMSO é mensurado por pesagens diárias da dieta oferecida e as

sobras e o CMSP é calculado pela equação de regressão múltipla (Eq. 1) desenvolvida

por Koch et al. (1963) que considera o peso vivo metabólico (PV0,75) e o ganho médio

diário (GMD).

Eq 1. CMSP = I + β1 x (PV0,75) + β2 x (GMD) + erro

Segundo Montanholi et al. (2010) a variação na eficiência alimentar pode estar

relacionada ao gasto energético associado a certos comportamentos.

Richardson, Herd e Oddy (2001) usando pedômetros em touros, evidenciaram

que animais mais eficientes andaram 9% menos que os menos eficientes.

Outros autores (WEBSTER, 1978; MONTANHOLI et al., 2007) evidenciaram

influência do comportamento ingestivo na quantidade de energia utilizada para as

atividades de alimentação e na eficiência alimentar de bovinos.

2.2. Comportamento ingestivo

O comportamento ingestivo nos ruminantes pode ser caracterizado pela

distribuição desuniforme de uma sucessão de períodos definidos discretos de atividades,

comumente classificadas como ingestão, ruminação e descanso ou ócio (PENNING,

ROOK e ORR, 1991).

De Haer, Luiting e Aarts (1993) afirmaram que 47% da variação do CAR em

suínos foram devido à variação no número de visitas diárias ao alimentador e no tempo

de alimentação. Suínos mais eficientes se alimentaram com menos freqüência e de

forma mais uniforme ao longo do dia, passaram menos tempo se alimentando e

consumiram maiores porções de alimento por visita ao cocho em comparação com os

suínos menos eficientes. Utilizando bovinos Taurinos, Richardson e Herd (2004)

estimaram a influência do padrão de alimentação para variações do CAR e mostraram

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que novilhos menos eficientes despenderam mais tempo com alimentação em relação

aos mais eficientes. Esses resultados indicam maior dispêndio de energia com

atividades de alimentação por parte dos animais menos eficientes.

Nkrumah et al. (2006) estimaram correlações entre tempo de alimentação e

digestibilidade aparente da MS e da proteína bruta (PB) de r=-0,55 e r=-0,47,

respectivamente, e concluíram que quanto maior foi o tempo usado para alimentação

(animais menos eficientes), menor foi a digestibilidade aparente da MS e da PB. Os

mesmos autores correlacionaram produção de metano e fezes diária com o tempo de

alimentação e obtiveram valores de r=0,51 e r=0,54, respectivamente. Esses resultados

indicam menor produção de dejetos e conseqüentemente maior aproveitamento dos

alimentos por parte dos animais mais eficientes.

Nkrumah et al. (2007) trabalhando com bovinos, relataram correlação entre o

tempo de alimentação e CAR (r=0,49), já a correlação entre CAR e freqüência de

alimentação apresentou menor valor (r=0,18). Esses autores verificaram que animais

mais eficientes passaram menos tempo se alimentando, visitaram menos vezes o cocho

e permaneceram menos tempo com a cabeça abaixada em relação aos animais menos

eficientes, indicando menor demanda energética com essas atividade pelos animais mais

eficientes. Golden, Kerley e Kolath (2008) trabalhando com novilhos da raça Angus

avaliaram o comportamento ingestivo utilizando o Sistema GrowSafe System® e

encontraram que o número de visitas ao cocho foi menor para animais baixo CAR (11

visitas) comparados aos alto CAR (18 visitas).

Para aproximar as pesquisas do sistema nacional de produção são necessários

realizar mais estudos com bovinos zebuínos.

Trabalhando com Nelore, Polizel Neto et al. (2009) correlacionaram CAR e

tempo de ruminação e encontraram valor de 0,22, indicando que animais menos

eficientes despendem mais tempo ruminando e exigem mais energia para essa atividade.

Corvino et al. (2009) e Magnani (2011) trabalhando com animais Nelore em condições

semelhantes não encontraram diferença no tempo de ruminação, número e tempo de

mastigação por bolo ruminal entre animais alto e baixo CAR. Os resultados das

pesquisas com zebuínos não são conclusivos, portanto, são necessários mais estudos.

Montanholi et al. (2010) mediram comportamento ingestivo de bovinos cruzados

Simental x Angus classificados para CAR e relataram que os animais mais eficientes

fizeram menores refeições, apresentaram lenta taxa de alimentação e visitaram menos

vezes o cocho em relação aos animais menos eficientes.

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Stieven (2012) estudando eficiência alimentar e comportamento ingestivo em

bovinos Purunã não encontrou diferença no comportamento ingestivo frente às classes

de CAR. Egawa (2012) trabalhando com um grupo homogêneo de bovinos Nelore

desmamados não encontraram diferença significativa para tempo de ruminação, no

entanto, o tempo de ruminação para um kg de MS ingerida e tempo de ruminação para

um kg de FDN foram maiores para animais baixo CAR comparado aos menos

eficientes. Esses resultados indicam que animais que ruminam mais lentamente,

disponibilizam e aproveitam melhor os nutrientes da dieta.

Desse modo, utilizar comportamento ingestivo permite entender melhor as

variações do CAR.

2.3. Temperamento

Dentre os indicadores comportamentais, o temperamento dos animais pode ser

usado como indicativo de estresse, dor ou desconforto (VOISINET et al., 1997a). De

acordo com Fordyce, Goddard e Seifert (1982) temperamento é uma resposta do animal

ao manejo pelo homem, que, geralmente está relacionada ao medo, podendo causar

mudanças fisiológicas e comportamentais nos bovinos.

O estresse pode ser definido como uma situação provocada por um efeito do

ambiente atuando no indivíduo, sobrecarregando seu sistema e reduzindo seu fitness,

implicando na redução das taxas de crescimento, desempenho produtivo e reprodutivo

(BROOM; JHONSON, 1993).

Os métodos mais usados para medir a temperamento em bovinos são

observações quantitativas do grau de perturbação dos animais durante o manejo

considerando a intensidade e a freqüência de certos comportamentos que o indivíduo

pode expressar (KABUGA; APPHIA, 1992). Quantifica-se o temperamento por meio

de atribuição de notas dentro de uma escala que varia do animal menos ao mais reativo

(BURROW; DILLON, 1997).

Piovesan (1998) descreveu uma escala de escore composto (EC) que varia de 1

(dócil) a 5 (intratável e perigoso), de acordo com a movimentação geral dos animais,

intensidade da respiração, presença ou ausência de vocalização, escores de agressão e de

investigação, avaliados durante a contenção. De acordo com sua classificação: calmo

(escore 1), ativo (escore 2), inquieto (escore 3), perturbado (escore 4) e muito

perturbado (escore 5).

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No teste de velocidade de saída (VS) proposto por Burrow, Seifert e Corbet

(1988), adota-se uma escala numérica de razão que mede o tempo em que os animais

levam para percorrer uma distância conhecida, logo após a soltura de uma situação em

que os animais estavam contidos isoladamente na balança ou no tronco de contenção,

sendo os animais mais rápidos considerados mais reativos.

O REATEST® – teste de reatividade animal em ambiente de contenção móvel

atribui pontuação aos animais contidos na balança durante as pesagens com base na

movimentação. Desse modo, os bovinos com maior pontuação são classificados como

mais agressivos e animais com pontuação baixa, de temperamento dócil (MAFFEI;

BERGMANN; PINOTTI , 2006).

Outro método de avaliar temperamento é medindo o aumento do cortisol

sanguíneo. O cortisol inibe a atividade do hipotálamo e da hipófise provocando a queda

na produção e secreção de hormônios do crescimento (RIVIER; RIVEST, 1991; CRUZ;

SOUZA, 2007). O aumento do cortisol na corrente sanguínea também atua como efeito

modulador das defesas do organismo, inibindo as respostas imunes não específicas ou

naturais (por meio de neutrófilos e reações inflamatórias) e específicas (humoral,

mediada por anticorpos e imunidade mediada por células). Desta maneira, o cortisol

interfere significativamente na qualidade do desempenho produtivo, adaptativo,

reprodutivo e imunológico do animal (MUNCK et al., 1984; KHANSARI et al., 1990).

Para avaliar a influência do temperamento no desempenho produtivo de bovinos,

Drugocio et al. (1977) observaram interferência do temperamento dos animais na

produção leiteira de vacas e Voisinet et al. (1997) relataram ganho de peso 14% maior

em bovinos mais calmos.

Outros pesquisadores (NKRUMAH et al., 2007; MONTANHOLI et al., 2010)

relacionaram temperamento e CAR e encontraram diferenças nos níveis de cortisol

plasmático e outras medidas de temperamento em animais diferentes quanto ao CAR.

Richardson e Herd (2004) afirmaram que a concentração de cortisol em animais

alto CAR pode ser mais que duas vezes superior àquela encontrada em animais mais

eficientes (baixo CAR). Estudando a relação de cortisol plasmático com consumo de

matéria seca e CAR, esses autores relataram valores moderados de correlação de -50 e

-48, respectivamente, sugerindo que animais mais estressados consomem menos

alimento e são mais eficientes (baixo CAR). Nkrumah et al. (2007) trabalharam com

464 bovinos cruzados e encontraram tendência das médias de VS serem maiores para

animais baixo CAR, indicando maior reatividade dos animais mais eficientes.

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Knott et al. (2008) usaram ovinos selecionados para alto CAR e alta conversão

alimentar (menos eficientes) e evidenciaram que a concentração de cortisol foi maior

antes e após indução por hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) em relação aos

animais mais eficientes. Da mesma forma Gomes et al. (2008) mensuraram cortisol

sérico após induzir bovinos a estresse por meio de jejum alimentar e hídrico de 24 horas

e constataram maior concentração em animais menos eficientes (alto CAR). Montanholi

et al. (2010) medindo concentração de cortisol plasmático e fecal de bovinos,

encontraram maiores concentrações de cortisol fecal em animais baixo CAR

comparados aos menos eficientes, no entanto o cortisol sanguíneo não diferiu em

animais de divergentes classes de CAR.

Utilizando escore composto (EC) Corvino et al. (2009) avaliaram o

temperamento de bovinos Nelore e não encontraram diferenças entre animais de

diferentes classes de CAR. Dessa mesma forma Aldrighi et al. (2012) utilizando machos

Nelore de um lote homogêneo quanto a idade e peso não observaram diferenças entre

notas de EC e concentração de cortisol plasmático em animais diferentes quanto ao

CAR. No mesmo sentido Egawa (2012) trabalhando com fêmeas Nelore não encontrou

diferença na pontuação atribuída pelo REATEST® para animais baixo, médio e alto

CAR.

Com base no exposto é importante que mais pesquisas relacionem

comportamento ingestivo e temperamento para verificar a influência na eficiência

alimentar de bovinos zebuínos.

2.4. Aspectos metodológicos do comportamento ingestivo

É importante mensurar comportamento ingestivo de forma prática nos sistemas

de produção animal, uma vez que medir comportamento de bovinos de corte em

confinamento exige elevado grau de trabalho, equipamentos, tempo e mão de obra.

(MITLÖEHNER et al., 2001).

Alguns equipamentos são utilizados para mensurar comportamento ingestivo,

como sistemas de câmeras de vídeo (BINGHAM et al., 2009) para realizar a gravação

diária dos animais confinados e posteriormente mensurar as categorias comportamentais

cronometrando o tempo e freqüência das atividades para obter a medida contínua. Com

outros aparelhos automáticos é possível medir o tempo e o número de visitas dos

bovinos ao cocho, entre eles, GrowSafe System®, Insentec BV® e Calan gate®, contudo,

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esses aparelhos possuem alto custo de instalação e manutenção, são limitados quanto

às categorias comportamentais medidas e não funcionam em qualquer sistema de

produção. Nesse sentido, algumas pesquisas (SILVA et al., 2004; CARVALHO et al.,

2007) aplicam esforços para determinar métodos que proporcionem uma boa

confiabilidade das medidas conciliando com a exeqüibilidade da coleta de dados.

Mitlöehner et al. (2001) com o intuito de testar aspectos metodológicos do

comportamento de bovinos confinados, compararam medidas estimadas em diferentes

intervalos de registro com avaliação contínua dos comportamentos comendo, deitado,

em pé, bebendo e andando e não encontraram diferenças na duração das atividades de

longa duração (comendo, deitado e em pé) comparando os dois métodos, nesse mesmo

trabalho encontraram baixa correlação entre o tempo total de coleta (24 h) com

amostragem parcial do tempo (16,6%), mostrando que uma amostragem do tempo de

observação prejudica as medidas e também testaram o número de animais suficientes

para estimar medidas acuradas dos diferentes comportamentos, mostrando que

comportamentos de curta duração e de maior variação entre indivíduos necessitam de

uma amostra maior de animais.

Silva et al. (2004) trabalharam com bezerros cruzados no pós aleitamento e

relataram que o tempo de duração de alimentação, ruminação e ócio podem ser

mensurados em intervalos de até 30 minutos, além de características como eficiência de

alimentação, eficiência de ruminação, número e tempo de ruminação por bolo

regurgitado que também não diferiram entre os intervalos de 5, 10, 15, 20, 25 e 30

minutos. Carvalho et al. (2007) observaram comportamento ingestivo de ovinos em

diferentes intervalos de registro para testar a confiabilidade das medidas e relataram que

a estimativa da duração do comportamento ingestivo não é influenciada utilizando

intervalos de registro de 5 até 30 minutos.

O modo de observação contínua é considerado o método mais seguro de

mensuração do comportamento, pois desse modo, as parcelas de observações perdidas

são reduzidas (MARTIN; BATENSON, 1993). No entanto não é um método prático

para ser utilizado em sistemas de produção comercial.

Gary, Sherritt e Hale (1970) observaram comportamentos de vacas da raça

Charolês em pastagem e avaliaram que o tempo de pastejo, tempo deitado, tempo em

ócio e tempo de ingestão de ração foram estimados de forma semelhantes comparando

observações contínuas e em intervalos de até 15 minutos.

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Mendes et al. (2011 ) avaliaram a acurácia das medidas de tempo e freqüência

alimentar de bovinos em diferentes intervalos de lapso das informações (0,5; 1; 1,6; 2,5

e 5 minutos) emitidas pelo sistema GrowSafe System® e compararam com medidas

contínuas utilizando câmeras de vídeo, evidenciaram que o tempo de duração do tempo

de alimentação não diferiu entre os intervalos de lapso, entretanto, a freqüência

alimentar foi subestimada quando medida em intervalos maiores que 1,6 minutos.

Para que o comportamento animal seja utilizado no sistema de produção é

necessário determinar métodos mais práticos que demandem menos trabalho, tempo e

mão de obra além de medidas consistentes e acuradas.

Nesse contexto é importante adequar o intervalo de registros do comportamento

ingestivo de bovinos confinados individualmente, assim como o número de animais a

ser avaliado, visando a aplicabilidade da técnica nos sistemas de produção.

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COMPORTAMENTO INGESTIVO E TEMPERAMENTO DE BOVINOS NELORE CLASSIFICADOS PARA CONSUMO ALIMENTAR RESIDUAL

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento ingestivo e o

temperamento de bovinos Nelore classificados para diferentes classes de consumo

alimentar residual (CAR). Foram utilizados 56 fêmeas e 62 machos desmamados,

confinados em baias individuais durante 112 dias. O consumo alimentar residual foi

calculado pela diferença entre o consumo observado e o predito, baseado no ganho de

peso médio diário e no peso vivo metabólico. Dessa forma fêmeas e machos foram

classificados como alto, n= 19 e 21 (>média + 0,5 DP); médio n= 21 e 21 (± 0,5 DP da

média); e baixo CAR n=16 e 20 (<média – 0,5 DP), respectivamente. O comportamento

ingestivo foi mensurado a cada 28 dias, durante 24h por meio de observações diretas.

As medidas de temperamento avaliadas nas pesagens inicial e final do estudo foram:

velocidade de saída, REATEST®, escore composto e concentração de cortisol

plasmático. Machos tiveram maior CMS e ganho de peso em relação às fêmeas

(P<0,05), que apresentaram maior consumo relativo por kg de peso, indicando menor

capacidade das fêmeas em converter alimento em carne. As fêmeas apresentaram maior

tempo de alimentação e menor tempo de alimentação por kg de MS consumida, menor

tempo de ruminação e menor número de visitas ao cocho comparadas aos machos

(P<0,05). Animais baixo CAR consumiram em média 600 g menos de MS, levaram

mais tempo para ingerir e ruminar um kg de MS e ingeriram menor quantidade de MS

por hora em comparação aos alto CAR. O CAR apresentou correlação negativa com

tempo em ócio, indicando maior eficiência dos animais que passam mais tempo ociosos.

O comportamento ingestivo indica que animais mais eficientes aproveitaram melhor os

alimentos ingeridos e demandaram menos energia para realizar as atividades de

alimentação. As medidas de temperamento não foram correlacionadas com o CAR, no

entanto, animais baixo CAR apresentaram maior velocidade de saída em relação aos

menos eficientes, indicando que animais mais eficientes são mais reativos. Animais

mais eficientes levam mais tempo para ingerir e ruminar um kg de MS e possuem maior

velocidade de saída (P<0,05; mais reativos) comparados aos menos eficientes.

Palavras-chave: bovinos de corte, comportamento, eficiência, sexo, reatividade

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INGESTIVE BEHAVIOR AND TEMPERAMENT OF NELLORE BOVINES CLASSIFIEDS FOR RESIDUAL FEED INTAKE

ABSTRACT: The objective of this study was to evaluate the ingestive behavior and

temperament of Nellore classified for different classes of residual feed intake (RFI). We

used 56 females and 62 males weaned, housed in individual pens for 112 days. The

residual feed intake was calculated as the difference between consumption observed and

predicted based on average daily weight gain and metabolic weight, so females and

males were rated as high, n = 19 and 21 (> mean + 0.5 DP), average n = 21 and 21

(average ± SD 0.5) and low CAR n = 16 and 20 (<mean - 0.5 SD), respectively.

Ingestive behavior was measured every 28 days for 24 hours through direct

observations. The measures of temperament assessed at initial and final weights of the

study were: flight speed, REATEST®, composite score and plasma cortisol levels.

Males had higher DM intake and weight gain compared to females that had greater

relative consumption per kg of body weight, indicating lower capacity of females to

convert feed in meat. Females had longer and shorter power supply per kg DM

consumed, less rumination and number of visits to the trough compared to males.

Animals low CAR consumed an average 600 g less than DM, took longer to ingest and

ruminate one kg of DM and ingested smallest quantity of MS per hour in comparison to

high CAR. The CAR presented negative correlation with time in idleness, indicating

greater efficiency of animals who spend more time idle. The ingestive behavior

indicates that more efficient animals seized best foods intake and demanded less energy

to perform the activities of feeding. Measurements of temperament were not correlated

with CAR, however, low CAR animals had higher flight speed than the less efficient,

indicating that more efficient animals are more reactive. More efficient animals take

longer to ruminate and ingest one kg of DM and have higher flight speed (more

reactive) compared to less efficient.

key words: beef cattle, behavior efficiency, females, males, reactivity

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1. Introdução

Uma das estratégias mais eficientes para tornar o sistema de produção de

bovinos de corte mais rentável é reduzir os custos de alimentação e a adoção de práticas

que permitam o melhor aproveitamento da dos nutrientes da alimentação pelos bovinos.

A alimentação é o componente de custo mais expressivo, pois supera 70% do custo de

produção total, quando desconsiderado o valor de compra do animal (PACHECO et al.,

2006).

Para melhorar o dinamismo dessa atividade é importante otimizar a utilização

dos inputs, diminuindo o desperdício e aumentando os outputs desejados. Uma medida

alternativa é o consumo alimentar residual (CAR), que identifica animais diferentes

quanto às exigências energéticas de manutenção e não prejudica outras características

de produção.

Existem evidências (RICHARDSON; HERD, 2004; NKRUMAH et al., 2006;

GOLDEN; KERLEY; KOLATH, 2008) de que bovinos de corte com eficiência

alimentar distintas quanto ao CAR, podem apresentar comportamentos alimentares

diferentes. Desse modo, o estudo de variáveis comportamentais relacionadas ao CAR

pode permitir melhor entendimento das causas de variações e identificar de maneira

mais econômica e rápida os animais mais eficientes.

Outros autores (NKRUMAH et al., 2007; GOMES; BALLOU; SIQUEIRA,

2008) observaram variação do temperamento de animais diferentes quanto ao CAR.

Nkrumah et al. (2007) trabalharam com 464 animais cruzados em diferentes

anos e encontraram tendência de diferenças de velocidade de saída (VS) entre os grupos

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de CAR. Os indivíduos de baixo CAR apresentaram velocidade maior em relação ao

grupo de médio e alto CAR. Gomes, Ballou e Siqueira (2008) mensuraram cortisol

sérico após induzir bovinos a estresse por meio de jejum alimentar e hídrico durante 24

horas e constataram maior concentração de cortisol sérico em animais menos eficientes.

Aldrighi et al. (2012) utilizaram escore composto (EC) e concentração de

cortisol plasmático de bovinos Nelore em crescimento para diferenciar animais quanto

ao CAR mas não encontraram diferenças. Dessa forma, a relação entre temperamento e

eficiência alimentar não são totalmente conhecidas, havendo necessidade de mais

estudos para melhor entender essas relações.

Assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar o comportamento ingestivo e o

temperamento de bovinos Nelore classificados para consumo alimentar residual.

2. Material e métodos

O estudo foi realizado no Centro Avançado de Pesquisas Tecnológicas dos

Agronegócios (APTA Bovinos de Corte), órgão do Instituto de Zootecnia do estado de

São Paulo. O Centro está localizado na região norte do estado, a 21°10´ S e 48° 5´ W

Possui clima tropical úmido e temperatura média anual de 22,5°C. O tipo do solo é

latossolo vermelho e o índice pluviométrico anual é de 1588,5 mm. Os dados utilizados

no presente trabalho foram coletados em 2011 e são oriundos do Teste de Eficiência

Alimentar.

O Teste de Eficiência Alimentar foi conduzido durante 112 dias, com início em

maio e término em setembro de 2011. O experimento foi dividido em quatro períodos

de 28 dias, sendo o primeiro período para adaptação dos animais às baias e à dieta e três

períodos para coleta de dados.

Os bovinos foram separados por sexo e alojados aleatoriamente em baias

individuais (Tabela 1).

Tabela 1. Descrição dos dados no início do testeFêmeas Machos

Número de animais 56 62Idade inicial, dias 293 261Peso inicial, kg 207,3 ± 19,2 260,7 ± 26,8 Peso final, kg 264,7 ± 18,8 324,3 ± 26,2

As fêmeas foram separadas em duas instalações, sendo 32 novilhas alojadas em

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baias individuais de dimensão de 12 m², totalmente cobertas, providas de cocho de

concreto, bebedouro tipo “nipple” e cama de bagaço de cana. Por se tratar de uma

instalação completamente coberta, os animais foram diariamente, soltos para banho de

sol por 3 horas. As 24 novilhas restantes permaneceram, também, em baias individuais

de 10 m², equipadas com comedouro de concreto e bebedouro plástico, cimentadas e

cobertas parcialmente, o que permitiu espaço para banho de sol.

Os 62 machos foram alojados em baias com área de 12 m², pavimentado com

concreto, parcialmente cobertas para proporcionar iluminação e providas de cocho e

bebedouro de alvenaria. No período noturno, em todas as instalações havia iluminação

artificial.

A dieta foi oferecida em dois horários, às 8h00 e 15h00. A dieta total (Tabela 2)

foi composta de feno de braquiária moído, milho moído, farelo de algodão e suplemento

mineral, em uma relação de volumoso: concentrado de 45:55. A cada dia as sobras da

dieta de cada animal foram pesadas, registradas e ajustadas para se manterem entre 5%

e 10% do total da ração.

Tabela 2. Composição nutricional da dietaIngredientes %MS

Feno de Urochloa spp. 44,5Milho grão moído 32,2Farelo de algodão 21,4Uréia 0,45Sulfato de amônio 0,05Suplemento mineral 1,45

Composição bromatológica Nutrientes em % da MSMatéria seca 93,40Matéria mineral 3,74Proteína bruta 11,34FDN 50,03FDA 31,02Celulose 23,93Lignina 6,18Extrato etéreo 2,84EM kgcal/kg 2,00

O consumo de matéria seca (CMS) de cada animal foi calculado pela diferença

entre o oferecido e a sobra. Para cada animal foi composta uma amostra única de sobras,

provenientes de duas amostragens semanais (oito amostragens totais) realizadas a cada

período de 28 dias. As amostras foram pré-secas em estufa ventilada a 55° C, durante 72

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horas, moídas em moinho tipo Willey (peneira de 1 mm) e determinada a matéria seca

(MS) definitiva em estufa a 105°C por 8 horas.

O ganho médio diário (GMD) foi calculado pelas médias das pesagens

realizadas durante o experimento e o peso vivo metabólico (PV0,75) foi calculado como

coeficiente de regressão linear eq. (1) e dessa forma determinado o PV0,75 no meio do

teste.

Eq (1). PV0,75= [PVi + (GMD x dias em teste)/2]0,75

O CAR foi calculado pela diferença entre o consumo observado e o consumo

predito. O consumo predito foi calculado pela equação de regressão baseada no PV0,75 e

no GMD, proposta por Koch et al. (1963). No cálculo do CAR para fêmeas eq. (1 e 2)

foi incluído no modelo o efeito fixo de instalação (instalação 1 e 2) e para o cálculo dos

machos eq. (3) foi retirado o efeito de instalação.

Eq. (1): CMS= (-5199) + (0,0766)*PV0,75 + (2,7779)*GMD +(-0,3825)+erro .(r²=0,74)

Eq. (2): CMS= (-5199) + (0,0766)*PV0,75 + (2,7779)*GMD + (0,0000) + erro (r²=0,74)

Eq. (3): CMS= (-0,1555) + (0,0708) *PV0,75+ (1,721)*GMD + erro (r2=0,94)

Dessa forma, fêmeas e machos foram classificados em alto CAR, n= 19 e 21

(>média + 0,5 DP), médio CAR, n= 21 e 21 (± 0,5 DP da média) e baixo CAR n=16 e

20 (<média – 0,5 DP), respectivamente.

O comportamento ingestivo foi avaliado semanalmente a partir do primeiro

período de coletas (28 dias), sendo que na primeira semana foi realizada a mensuração

dos machos e nas semanas seguintes das fêmeas (3 semanas) até o término do período e

assim consecutivamente durante todo o experimento.

Foram mensuradas as categorias comportamentais: comendo, ruminando, em

ócio, em pé e deitado (Quadro 1). Foram feitas observações diretas por oito

observadores treinados, cada um responsável por três horas diárias, usando rota de

amostragem focal e intervalos de registros instantâneos de cinco minutos. Durante o

período noturno houve iluminação artificial com adaptação prévia dos animais. Para

determinar a taxa de mastigação durante os picos de ruminação, um dia após a

mensuração dos comportamentos, foram observados três bolos ruminais por animal a

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fim de quantificar o número e a duração das mastigações merícicas.

Quadro 1. Etograma das categorias de comportamento ingestivo e postura

Categorias Descrição das categorias comportamentais

ComerAnimal frente ao cocho, com a cabeça baixa ou não, com mastigação após apreensão, ou mastigando com o focinho sujo de ração sem aparentar apreensão

RuminarAnimal mastigando, engolindo, regurgitando e remastigando com presença do bolo alimentar aparente no flanco da bochecha

Ócio Qualquer atividade não relacionada à alimentação sólida

Em péAnimal apoiado sobre as quatro patas, podendo estar em movimento ou não

DeitadoAnimal com as quatro patas flexionadas e com o abdômen em contato com o piso

Para quantificar a duração dos comportamentos (minutos/dia) foi calculado o

tempo total que o animal permaneceu nas atividades avaliadas e relacionadas com a

duração total do dia (1440 minutos). A duração total das atividades foi dividida pelo

total de alimento consumido de cada animal para determinar o tempo de atividade

despendido com a dieta (min/kg de MS) e a relação inversa indica a quantidade de

alimento utilizado na atividade em um tempo fixo (g de MS/h).

As variáveis usadas para avaliar o comportamento ingestivo foram: tempo de

alimentação (TALM, min/dia), tempo de alimentação por kg de MS (TALMS, min/kg

MS), eficiência de alimentação (EAL, g MS/h), tempo de ruminação (TRUM, min/dia),

tempo de ruminação por kg de MS (TRUMS, min/kg MS), eficiência de ruminação

(ERUM, g MS/h), tempo em ócio (TO, min/dia), tempo em pé (TP), tempo deitado

(TD), tempo de mastigação (TMAST, min/dia) que é a soma de TRUM com TALM e

taxa de mastigação (TXMAST, s/bolo).

As medidas de temperamento foram realizadas durante as pesagens no início e

final do experimento. Nesse mesmo dia foram feitas coletas de sangue com os animais

em jejum de sólidos de 12 h para análise da concentração de cortisol plasmático e o

manejo se manteve sempre semelhante para não interferir nas medidas de

temperamento.

A velocidade de saída (VS) foi mensurada por meio do equipamento “flight

speed” (BURROW; SEIFERT; CORBET, 1988). O aparelho foi colocado em uma

estrutura de metal na saída da balança onde foi registrado o tempo em que os animais

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percorreram a distância de 1,77 m (fixa). A VS, dada em m/s, foi calculada utilizando o

tempo (s) e a distância (m).

A movimentação do animal na balança foi mensurada utilizando o equipamento

REATEST® - teste de reatividade animal em ambiente de contenção móvel (MAFFEI;

BERGMANN; PINOTTI, 2006). O aparelho foi acoplado embaixo da balança e

programado para registrar os primeiros 5 s de movimentação do animal, assim que

fechasse a última porteira da balança. Esse método foi desenvolvido na Universidade

Federal de Minas Gerais, patenteado (Patente Modelo de Utilidade - No DEINPI/MG

001088 – Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e repassado para Bios Serviços e

Comércio LTDA.

O escore composto (EC), descrito por Piovesan (1998), foi registrado nos

primeiros cinco segundos da entrada do animal na balança e atribuídos escores

conforme a descrição a seguir: 1 = calmo, nenhum movimento, nenhuma respiração

audível; 2 = inquieto, alternando a posição das patas; 3 = se contorcendo, tremendo,

movimentando ocasionalmente a balança, respiração audível ocasional; 4 = movimentos

contínuos e vigorosos, movimentando a balança, respiração audível; 5 = movimentos

vigorosos e contínuos, movimentando a balança, virando-se ou lutando violentamente,

respiração audível. Todas as avaliações foram realizadas pelo mesmo observador para

maior confiabilidade dos dados.

A concentração de cortisol plasmático foi obtido a partir da coleta de sangue da

veia jugular dos bovinos, com agulha de calibre 25x8, em tubos com anticoagulante

heparina, após a coleta as amostras foram levadas para o Laboratório de Reprodução de

Bovinos de Corte do Instituto de Zootecnia de Sertãozinho, onde foram centrifugadas

por 20 minutos a 4000 rpm, sendo isolado o soro do plasma, do qual foram transferidas

alíquotas para tubos eppendorfs de 1,5 ml, um para cada animal para dia de coleta e

congelados para posteriores análises. Os eppendorfs congelados foram enviados ao

Laboratório de Fisiologia Animal (LAFA) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de

Alimentos (FZEA) / Pirassununga-SP, pertencente à Universidade de São Paulo (USP).

Para determinar a concentração de cortisol plasmático foram utilizados kits

comerciais da marca Monobind Inc. (Accubind). As análises foram realizadas pelo

aparelho Labsystems Multiskan MS por teste ELISA – Enzyme – Linked

Immunosorbent Assay - que se baseia na interação anticorpo-antígeno e é determinado

através de colorimetria.

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A análise do comportamento ingestivo foi realizada por meio do PROC MIXED

do SAS 9.3, utilizando as mensurações obtidas nos três períodos para compor a análise

de medidas repetidas. O modelo misto de análise incluiu os efeitos fixos de classe de

CAR (1, 2 ou 3), sexo, período (1, 2 ou 3), idade no meio do teste como (co) variável

linear, além da interação classe de CAR e sexo e os efeitos aleatórios de animal e

instalação (1, 2 e 3). Para modelar a variância heterogênea do erro ao longo dos

períodos e as correlações entre eles foi utilizada a matriz auto-regressiva heterogênea de

primeira ordem (ARH (1)), escolhida com base no critério Bayesiano de Schwarz

(BIC). O efeito da interação classes de CAR e sexo foi removido do modelo por não

apresentar significância ao nível de 5%.

Para a avaliação das características de temperamento, foram utilizadas médias

compostas pelas duas avaliações realizadas no início e no final do teste. As

características EC e cortisol foram analisadas utilizando o mesmo modelo descrito

acima, excluindo-se o efeito de período. Para as características REATEST® e VS, além

do período foi excluído o efeito de sexo uma vez que a medida foi realizada apenas nos

machos. Por meio do PROC CORR do SAS 9.3, foram obtidas estimativas de

correlações de Pearson entre características de eficiência alimentar, comportamento

ingestivo e temperamento. A comparação de médias foi realizada pelo teste t-Student e

em todas as análises a hipótese nula foi rejeitada quando a probabilidade ≤ 0,05.

3. Resultados e discussão

Comparando as medidas de desempenho entre machos e fêmeas foi possível

observar que os machos apresentaram maior GMD e CMS (P<0,05) (Tabela 3). Esses

dados indicam que os machos apresentaram maior eficiência alimentar (0,135) que as

fêmeas (0,118). Corroborando esses resultados, Paulino et al. (2008) trabalhando com

machos inteiros, castrados e fêmeas mostraram que as fêmeas tiveram menor eficiência

alimentar (0,092) em relação aos machos inteiros (0,109) e castrados (0,094), e

encontraram ganho 18,7% superior dos machos em relação às outras categorias. Esse

fato ocorre devido à maior capacidade dos machos em converter alimento em tecidos da

carcaça (SEIDEMAN et al., 1982). No presente estudo, os machos apresentaram GMD

20% superior em relação às fêmeas (Tabela 3). De acordo com a literatura, machos

inteiros crescem a uma taxa de 10-25% superior quando comparados com fêmeas ou

machos castrados (PURCHAS; BURNHAM; MORRIS, 2002; PÁDUA et al., 2004).

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Tabela 3. Médias e desvio padrão de medidas de desempenho, eficiência e

comportamento ingestivo em machos e fêmeas

Fêmeas Machos PNúmero de animais 56 62CAR -0,006 ± 0,04 0,005 ± 0,04 0,85PVI, kg 207,35 ± 19,21 a 260,70 ± 26,86 b <0,01PVF, kg 264,77 ± 18,87 a 324,35 ± 26,29 b <0,01PVMET, kg 60,44 ± 3,40 a 70,71 ± 5,03 b <0,01GMD, kg.dia-1 0,68 ± 0,02 a 0,85 ± 0,01 b <0,01CMS, kg.dia-1 5,7 ± 0,08 a 6,2 ± 0,08 b <0,01CMSPV, kgMS.kgPV-1 2,87 ± 0,05 a 2,49 ± 0,04 b <0,01CMSMET, kgMS.kgPV0,75-1 97 ± 1,37 a 90 ± 1,29 b <0,01TALM, min.dia-1 250 ± 2,57 a 229 ± 2,76 b <0,01TRUM, min.dia-1 434 ± 6,62 a 477 ± 6,89 b <0,01TO, min.dia-1 751 ± 7,10 734 ± 6,61 0,10TMAST, min.dia-1 689 ± 8,05 703 ± 9,07 0,27TD, min.dia-1 849 ± 11,48 882 ± 14,78 0,08TP, min.dia-1 590 ± 11,46 559 ± 14,69 0,09TALMS, min.kgMS-1 68 ± 1,03 a 64 ± 0,97 b <0,01TRUMS, min.kgMS-1 76 ± 1,51 76 ± 1,41 0,92EAL, g MS.h-1 1196 ± 27,16 a 1376 ± 25,28 b <0,01ERUM, g MS.h-1 803 ± 14,81 807 ± 13,80 0,88TXMAST, s.bolo-1 64,76 ± 1,99 64,70 ± 2,72 0,98FQ, visitas.dia-1 14,9 ± 0,31 a 16,7 ± 0,30 b <0,01Médias com letras iguais na mesma linha não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade.* CAR= consumo alimentar residual, PVI= peso vivo inicial, PVF=peso vivo final, PVMET= peso vivo metabólico, GMD=ganho médio diário, CMS=consumo de matéria seca, TALM=tempo de alimentação, TRUM=tempo de ruminação, TO= tempo em ócio, TMAST= tempo de mastigação, TD=tempo deitado, TP=tempo em pé, TALMS=tempo de alimentação por kg de MS, TRUMS=tempo de ruminação por kg de MS, EAL= eficiência de alimentação, ERUM=eficiência de ruminação, TXMAST´= taxa de mastigação, FQ=frequência de alimentação.

O CMSPV e CMSMET foram maiores para fêmeas (P<0,01) (Tabela 3). Na

desmama as fêmeas geralmente são mais leves, mas atingem a maturidade em menos

tempo que os machos (SCARTH et al., 1968). Para suprir as necessidades metabólicas

de desenvolvimento mais acelerado, as fêmeas exigem mais alimento por unidade de

peso devido ao uso dos nutrientes ser direcionado tanto para a maturação reprodutiva,

quanto crescimento e por isso são menos eficientes para converter o alimento ingerido

em carne. O´Brien, Bloss e Nicks (1968) utilizaram compostos progestogênicos (acetato

de melengesterol) para suprimir o estro e observaram a eficácia para supressão do estro

e melhor conversão alimentar das fêmeas.

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As características TALM e TALMS (P<0,05) indicaram que novilhas ingeriram

o alimento mais vagarosamente que os machos. Em um ensaio utilizando novilhos e

novilhas cruzados em sistema automatizado para medir consumo, Schwartzkopf-

Genswein, Atwood e McAllister (2002) relataram diferenças entre os sexos para CMS,

TALM e FQ, sendo que, fêmeas visitaram o cocho mais vezes, passaram mais tempo

comendo e conseqüentemente ingeriram mais alimento. Esses resultados contrastam

com os desse trabalho, no qual as fêmeas tiveram menor potencial de CMS devido ao

seu menor tamanho corporal e menor capacidade de armazenamento de alimento no

rúmen. Corroborando os presentes resultados, Ferreira (2006) em um experimento

medindo comportamento ingestivo de fêmeas e machos contemporâneos em pastagem,

não encontrou diferenças entre sexos para tempo de ruminação, tempo em ócio, tempo

em pé, tempo deitado e tempo de mastigação/bolo ruminal.

No presente estudo, TRUM foi menor para fêmeas, essa diferença é explicada

pelo menor consumo de ração, já que a ruminação é uma atividade dependente da

quantidade e qualidade da dieta ingerida (Tabela 3). VAN SOEST (1994) afirma que

alimentos mais fibrosos, contendo níveis elevados de FDN e do tamanho da partícula

estimulam a ruminação e aumenta o período de duração, no caso desse estudo, não

houve alteração na formulação da dieta, mantendo-se a mesma durante todo o

experimento.

Animais mais eficientes (CAR Baixo) consumiram em média 15,14% menos

alimento que os menos eficientes (CAR alto) e o GMD foi igual para animais baixo,

médio e alto CAR, afirmando a independência dessa medida de eficiência com a taxa de

crescimento (Tabela 4). Não foram observadas diferenças (P>0,05) no tempo de

alimentação, ruminação, ócio, postura em pé e deitado para animais de divergentes

classes de CAR. Corroborando com esses resultados, Stieven (2012) trabalhando com

bovinos Purunã, não encontrou diferenças significativas no tempo despendido pelos

animais nos comportamentos citados.

Segundo Souza et al. (2007) existem diferenças entre indivíduos quanto à

duração e repartição das atividades de ingestão e ruminação, que parecem estar

relacionadas ao apetite dos animais, diferenças anatômicas e ao suprimento das

exigências energéticas ou repleção ruminal.

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Tabela 4. Médias e desvio padrão das medidas de desempenho e comportamento ingestivo nas classes de CAR

CARVariáveis* Baixo Médio Alto PNúmero de animais 40 42 36CAR -0,32 ± 0,02 a 0,017 ± 0,02 b 0,34 ± 0,02 c <0,01PVI, kg 236,7 ± 16,81 234,8 ± 16,79 230,5 ± 16,89 0,54PVF, kg 299,1 ± 16,56 292,4 ± 16,53 292,48 ± 16,66 0,43PVMET, kg 66,29 ± 3,16 65,48 ± 3,15 64,94 ± 3,17 0,47GMD, kg.dia-1 0,77 ± 0,02 0,77 ± 0,02 0,77 ± 0,02 0,98CMS, kg.dia-1 5,6 ± 0,12 a 6 ± 0,11 b 6,34 ± 0,12 c <0,01CMSPV, kgMS.kgPV-1 2,19 ± 0,19 a 2,36 ± 0,19 b 2,54 ± 0,19 c <0,01CMSMET, kgMS.kgPV0,75-1

CMS kgMS.kgPV-187 ± 6,0 a 84 ± 6,0 b 100 ± 6,0 c <0,01

TALM, min.dia-1 238 ± 2,97 240 ± 2,93 240 ±3,17 0,84TRUM, min.dia-1 455 ± 6,87 449 ± 6,79 463 ± 7,25 0,31TO, min.dia-1 746 ± 7,63 746 ± 7,53 735 ± 8,13 0,53TMAST, min.dia-1 693 ± 8,09 689 ± 8,81 704 ± 8,48 0,32TD, min.dia-1 863 ± 10,72 869 ± 10,66 865 ± 11,01 0,79TP, min.dia-1 575 ± 10,73 569 ± 10,66 579 ± 11,01 0,58TALMS, min.kgMS-1 68 ± 1,0 a 66 ± 1,0 ab 64 ± 1,1 b 0,03TRUMS, min.kgMS-1 80 ± 1,6 a 75 ± 1,6 b 74 ± 1,7 b <0,01EAL, g MS.h-1 1227 ± 29,1 a 1295 ± 28,7 b 1336 ± 31b 0,03ERUM, g MS.h-1 759 ± 15,89 a 818 ± 15,67 b 838 ± 16,92 b <0,01TXMAST, s.bolo-1 65,27 ± 1,78 63,83 ± 1,77 65,10 ± 1,80 0,32FQ, visitas.dia-1 15,4 ± 0,33 16,2 ± 0,32 15,7 ±0,35 0,18Médias com letras iguais na mesma linha não diferem entre si a nível 5% de probabilidade.*CAR= consumo alimentar residual, PVI= peso vivo inicial, PVF=peso vivo final, PVMET= peso vivo metabólico, GMD=ganho médio diário, CMS=consumo de matéria seca, TALM=tempo de alimentação, TRUM=tempo de ruminação, TO= tempo em ócio, TMAST= tempo de mastigação, TD=tempo deitado, TP=tempo em pé, TALMS=tempo de alimentação por kg de MS, TRUMS=tempo de ruminação por kg de MS, EAL= eficiência de alimentação, ERUM=eficiência de ruminação, TXMAST´= taxa de mastigação, FQ=freqüência de alimentação.

Os resultados indicam que os animais baixo CAR tem maior TALMS e TRUMS

(P<0,05), ou seja, levam mais tempo para ingerir e ruminar um kg de MS comparado

aos alto CAR. Tem menor EAL (P<0,05) o que significa que ingerem e ruminam menor

quantidade de alimento em um mesmo período de tempo em relação aos animais menos

eficientes (Tabela 4).

Divergindo dos presentes resultados, Lancaster et al. (2009) encontraram que

novilhos mais eficientes consumiram menos alimento e passaram 13% menos tempo

comendo frente aos animais menos eficientes (P<0,05), esses mesmos autores não

encontraram diferença para EAL.

Montanholi et al. (2010) medindo comportamento ingestivo em novilhos

cruzados Simental x Angus classificados para CAR, reportaram que os animais baixo

CAR consumiram em média 0,9 kg de alimento a menos que os alto CAR e observaram

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que esses animais tiveram refeições menores, lenta taxa de alimentação e menor

freqüência alimentar comparado aos animais menos eficientes. Estudando o

comportamento ingestivo de bovinos Nkrumah et al. (2007) encontraram que animais

mais eficientes passaram menos tempo se alimentando, visitaram menos vezes o cocho

e permaneceram menos tempo com a cabeça abaixada em relação aos animais menos

eficientes. Egawa (2012) trabalhando com um grupo homogêneo de bovinos Nelore

desmamados não encontraram diferença significativa para TRUM, no entanto, o

TRUMS dos animais baixo CAR foi maior comparado aos animais menos eficientes.

Esses dados convergem com os presentes resultados, indicando que bovinos que

consomem refeições maiores em um curto período de tempo têm um CAR menos

desejável e mostram que a maior eficiência de aproveitamento dos alimentos está

relacionada à otimização da energia basal utilizada para realizar as atividades

relacionadas à alimentação e que animais que ruminam mais lentamente disponibilizam

e aproveitam melhor os nutrientes da dieta.

Contribuindo para essa explicação, Adam et al. (1984) em um ensaio realizado

para medir o gasto energético de cinco novilhos de 18 a 20 meses, concluíram que o

tempo de alimentação e a taxa de ingestão são fatores mais importantes que a

quantidade de alimento ingerido na determinação do gasto de energia usado na

alimentação pelos bovinos.

Nas correlações entre comportamento ingestivo com eficiência alimentar e

desempenho (Tabela 5) foi encontrada correlação positiva e significativa (P<0,05) entre

CAR com TRUM e TMAST, do mesmo modo, Polizel Neto et al. (2009), trabalhando

com bovinos Nelore de mesma idade, evidenciaram essa relação com valor de 0,22,

indicando que quanto menos eficiente (alto CAR), mais o animal mastiga e rumina,

aumentando os gastos energéticos para essas atividades.

As correlações entre CAR e FQ, TALM e EAL não foram significativas

(P<0,05), esses resultados se assemelham aos estudos de Kelly et al. (2010) que

analisaram o comportamento ingestivo de bovinos cruzados, medindo número de

eventos de alimentação, tempo e taxa de alimentação e não obtiveram correlações

significativas com CAR, da mesma forma, Stieven (2012) também não encontrou

correlação significativa entre essas variáveis e CAR. Lancaster et al. (2009)

encontraram correlação significativa e moderada entre CAR e TALM (r= 0,41) e entre

CAR e FQ (r=0,17), indicando que quanto maior a FQ e o TALM, menos eficiente é o

animal.

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Tabela 5. Correlações entre consumo alimentar residual, ganho médio com

características de comportamento ingestivo

CAR GMD CMS

TALM, min.dia-1 0,12 -0,009 -0,006TRUM, min.dia-1 0,21* 0,27* 0,09

TO, min.dia-1 -0,25* -0,23* -0,07

TMAST, min.dia-1 0,25* 0,07 0,24*

TD, min.dia-1 -0,04 -0,11 -0,05

TP, min.dia-1 0,03 -0,20* -0,11

TALMS, min.kgMS-1 -0,05 -0,42** -0,78**

TRUMS, min.kgMS-1 -0,008 -0,27** -0,77**

EAL, g MS.h-1 0,07 0,39** 0,74**

ERUM, g MS.h-1 0,02 0,25** 0,76**

TXMAST, s.bolo-1 0,0008 0,10 0,01

FQ, visitas.dia-1 0,09 0,22* 0,009 *P<0,05; **P<0,0001TALM=tempo de alimentação, TRUM=tempo de ruminação, TO= tempo em ócio, TMAST= tempo de mastigação, TD=tempo deitado, TP=tempo em pé, TALMS=tempo de alimentação por kg de MS, TRUMS=tempo de ruminação por kg de MS, EAL= eficiência de alimentação, ERUM=eficiência de ruminação, TXMAST´= taxa de mastigação, FQ=frequência de alimentação.

Nkrumah et al. (2006) estimaram correlações entre TALM e digestibilidade

aparente da MS e da proteína bruta (PB) de r=−0,55 e r=-0,47, respectivamente, e

concluíram que quanto maior o TALM (animais menos eficientes), menor foi a

digestibilidade aparente da MS e da PB, isso indica que quanto maior o TALM, maior a

quantidade de MS ingerida e conseqüentemente, maior a taxa de passagem do alimento

(Kp) pelo trato digestório. Esses mesmos autores correlacionaram produção de metano e

fezes diária com o TALM e obtiveram valores de r=0,51 r=0,54, respectivamente. Isso

mostra que a quantidade de alimento fermentado aumenta quando o animal passa mais

tempo se alimentando, ocorrendo maior produção de H+ livre no rúmen, que, associado

ao C pelo intermédio de organismos metanogênicos formam mais moléculas de metano

o que pode ser considerado desperdício energético.

As correlações de TALMS, TRUMS, EAL e ERUM com GMD e CMS foram

negativas (P<0,01), indicando que quanto mais tempo o animal leva para ingerir e

ruminar um kg de MS, menos alimento ele consome e menor seu ganho, no entanto, o

GMD não difere entre as classes de CAR. O GMD foi negativamente correlacionado

com TP, indicando que os animais que ganham mais peso passam mais tempo em ócio e

em postura deitado (Tabela 5).

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Quanto às medidas de temperamento, não foram encontradas diferenças

(P<0,05) na concentração de cortisol plasmático, EC e REATEST® em animais de

diferentes classes de CAR, indicando que o temperamento não prejudica a eficiência

alimentar de bovinos (Tabela 6).

Tabela 6. Médias e desvio-padrão das medidas de temperamento entre as divergentes classes de CAR

N Sexo Baixo Médio Alto PEC 118 M e F 2,22 ± 0,17 2,26 ± 0,17 2,29 ± 0,17 0,90CORT (μg/ml) 118 M e F 5,43 ± 0,34 6,03 ± 0,33 5,45 ± 0,36 0,38REATEST 62 M 11518 ± 511,21 10706 ± 528,96 11320 ± 531 0,52VS (m/s) 62 M 2,17 ± 0,13 a 1,92 ± 0,13 ab 1,61 ± 0,13 b 0,02EC=Escore composto, VS=velocidade de saída, CORT=cortisol.

Nesse trabalho não foi verificada diferença (P<0,05) da concentração de cortisol

plasmático de animais classificados quanto a eficiência alimentar (Tabela 6), ao

contrário de Knott et al. (2008) que, trabalhando com ovinos selecionados para alto

CAR e alta conversão alimentar, tiveram o nível de cortisol maior antes e após indução

por hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Richardson e Herd (2004) afirmaram que a

concentração de cortisol em animais alto CAR pode ser mais do que duas vezes superior

àquela concentração em animais mais eficientes (baixo CAR). Gomes, Ballou e Siqueira

(2008) mensuraram cortisol sérico após induzir bovinos a estresse por meio de jejum

alimentar e hídrico de 24 horas. Os autores constataram maior nível de cortisol sérico

em animais menos eficientes (alto CAR). As contradições de resultados relacionando

concentração de cortisol plasmático com CAR podem estar ligadas às diferenças de

manejo inerentes aos distintos experimentos, resultando em diferentes respostas dos

animais frente às situações proporcionadas pelo homem.

Outras medidas usadas para medir temperamento de bovinos em sistemas de

produção também podem ser utilizadas para entender melhor as variações da eficiência

com base no temperamento.

Nesse estudo VS foi maior (P<0,05) para animais baixo CAR, sendo 74% mais

rápidos, ou seja, mais reativos em relação aos menos eficientes (Tabela 6).

Corroborando essa evidência, Nkrumah et al. (2007) trabalharam com 464 animais

cruzados em diferentes anos e encontraram tendência de diferenças entre as médias de

VS para os grupos de CAR. Os indivíduos de baixo CAR apresentaram velocidade

maior (VS= 2,66 m/s) em relação ao grupo de médio e alto CAR, (VS= 2,50 e 2,43;

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respectivamente). Esses resultados indicam que a VS mede parâmetros de

temperamento que não são detectadas por outras medidas, sendo possível diferenciar

animais quanto ao CAR. Outros autores (EGAWA, 2012; ALDRIGHI et al. 2012),

trabalhando com a mesma raça e condições semelhantes ao do presente estudo, não

encontraram diferenças temperamentais entre animais classificados para CAR. Já

Montanholi et al. (2010) mediram os níveis de cortisol plasmático e o de cortisol fecal,

seus resultados mostraram que animais de CAR divergentes possuem o mesmo nível de

cortisol plasmático, no entanto, o nível de cortisol fecal foi maior para animais baixo

CAR. Com base nos resultados, explica-se que os animais baixo CAR mantém a taxa de

estresse mais elevada durante o ciclo circadiano (24h), refletindo em respostas mais

agressivas ou fugas mais rápidas durante o manejo e utilizam menos energia para variar

sua taxa de estresse em comparação aos animais alto CAR.

Nesse estudo as correlações entre temperamento com GMD e CMS não foram

significativas (P>0,05), mostrando que animais mais e menos reativos consomem o

alimento e ganham peso de formas semelhantes (Tabela 7). Foram estimadas

correlações entre desempenho e temperamento e verificou-se que a VS apresentou

correlação negativa com CAR, assim, quanto menos eficiente, menor a velocidade do

animal, indicando que animais mais reativos são mais eficientes. Divergindo desses

resultados, Fox (2004) trabalhando com touros Bonsmara e bezerros Simental, mediram

temperamento por meio da VS e encontraram correlações negativas entre temperamento

com GMD e CMS, mas não encontraram correlação com CAR. Stieven (2012) e Egawa

(2012) trabalhando com bovinos das raças Purunã e Nelore, respectivamente, não

encontraram correlação entre EC, REATEST®, cortisol e VS com o CAR.

Tabela 7. Correlações entre medidas de temperamento e consumo, ganho médio diário

e CAR

CMS GMD CAREC -0,01 -0,15 0,02VS -0,19 -0,19 -0,24*REATEST 0,05 0,18 -0,01CORTISOL 0,06 0,21* 0,07*P<=0,05; EC=Escore composto, VS=velocidade de saída, CMS=consumo de material seca, GMD=ganho médio diário, CAR=consumo alimentar residual.

Não foram encontradas correlações entre características de temperamento e

comportamento ingestivo. Divergindo desses resultados Soares et al. (2011) estimaram

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correlações entre GMD com VS (r=-0,231) indicando que animais com maior acúmulo

de massa corporal possuem menor VS, além da movimentação na balança que foi

correlacionada com TALM, apresentando estimativa de correlação residual negativa

(r=-0,241), sugerindo que animais mais agitados, durante o procedimento de pesagem,

tendem a ficar menos tempo no cocho se alimentando. Considerando que as relações de

comportamento ingestivo e temperamento não são conclusivos são importantes mais

estudos nessa área.

Correlacionando as medidas de temperamento, pode-se observar que a

associação entre as medidas EC e VS foi moderada e positiva (Tabela 8), indicando que

animais mais agitados durante a pesagem, são mais velozes, além do que as

características temperamentais dos animais podem ser detectadas parcialmente por essas

medidas.

Tabela 8. Correlação entre escore composto, velocidade de saída, reatest e níveis de cortisol

EC VS REATEST CORTISOLEC 1 0,51* 0,07 0,12VS 0,51* 1 0,02 0,11REATEST 0,07 0,002 1 -0,17CORTISOL 0,12 0,11 -0,17 1*P<0,05 EC=Escore composto, VS=velocidade de saída, CMS=consumo de material seca, GMS=ganho médio diário, CAR=consumo alimentar residual.

Maffei, Bergmann e Pinotti (2006) correlacionaram EC e REATEST®, utilizando

610 animais Nelore de aproximadamente 470 dias de idade de duas fazendas diferentes,

estimando valores de 0,85 (fazenda 1) e 0,82 (fazenda 2). Nesse mesmo estudo foram

realizadas correlações entre VS e EC, estimando valores de -0,41 e -0,22 para nas

respectivas fazendas, mostrando que quanto maior a nota atribuída ao animal, menor a

velocidade de fuga.

Soares et al. (2011) trabalhando com bovinos Guzerá e Nelore com idade média

inicial de 210 dias, estimaram a correlação entre tensão (uma categoria que compõe o

EC) e VS obtendo 0,29, sugerindo que animais mais tensos apresentaram altas

velocidades na saída da balança, ou seja, as medidas de comportamento estudadas

respondem, em parte, da mesma forma a reatividade dos animais. Egawa (2012)

também correlacionou medidas de temperamento e encontrou correlação positiva entre

REATEST® e EC (r=0,4). Sabendo que as avaliações de temperamento sofrem grande

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influência do manejo realizado durante a coleta de dados, para comparar resultados de

diferentes trabalhos é importante considerar essas variações.

4. Conclusões

Bovinos Nelore machos desmamados passam menos tempo se alimentando,

ruminam mais e possuem maior capacidade para converter alimento em carne em

relação às fêmeas.

Animais mais eficientes despendem mais tempo com alimentação e ruminação

por kg de MS.

Animais baixo CAR apresentam maior VS, portanto, são mais reativos

comparados aos animais alto CAR.

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ASPECTOS METODOLÓGICOS PARA COMPORTAMENTO INGESTIVO DE

BOVINOS CONFINADOS INDIVIDUALMENTE

RESUMO: O objetivo desse trabalho foi validar métodos para mensurar o

comportamento ingestivo de bovinos confinados individualmente. Foram utilizados 62

machos Nelore desmamados confinados durante 112 dias. O comportamento ingestivo

foi baseado nas atividades comendo, ruminando, ócio e posturas em pé e deitado a cada

28 dias, durante 24h, por observações diretas com rota de amostragem focal e intervalos

de registro de cinco minutos. As variâncias residuais e as respectivas mudanças relativas dos

diferentes intervalos de registro não se estabilizaram e aumentaram conforme os

intervalos ampliaram, indicando não serem bons parâmetros para indicar o intervalo

adequado. As correlações de Pearson mostraram alta associação entre os intervalos de

cinco, 10 e 15 minutos, indicando que intervalos de 15 minutos geram estimativas tão

acuradas quanto à de cinco minutos. As correlações de Spearman mostraram que os

animais classificados para medidas de comportamento no intervalo de cinco minutos

não são os mesmos a partir de 15 minutos, mostrando variação no ranking dos animais

nessas atividades, dependendo do intervalo de registro. As médias de duração das

características comportamentais não diferiram, exceto tempo de alimentação, que foi

subestimada no intervalo de 30 minutos quando comparada aos cinco minutos. Isso

indica que a duração das atividades pode ser tomada em intervalos de 15 minutos sem

perder precisão das medidas estimadas. A freqüência alimentar diminuiu conforme

aumentou o intervalo de registros, mostrando que o quanto maior o intervalo usado,

maior o número de medidas perdidas, indicando que usar intermitência pode não ser o

método mais adequado. As estimativas do comportamento ingestivo não diferiram entre

os diferentes grupos de animais, sendo que o grupo total de 62 animais apresentou

medidas de comportamento ingestivo semelhantes ao grupo de 12 animais,

evidenciando que, para mensurar o padrão de alimentação de bovinos em confinamento

é possível observar apenas uma parcela dos animais e obter estimativas confiáveis. Para

medir a duração do comportamento ingestivo pode-se utilizar intervalos de 15 minutos

sem perder precisão das medidas e a observação de parte dos animais é suficiente para

gerar estimativas precisas de comportamento ingestivo de bovinos confinados

individualmente.

Palavras-chave: amostra de animais, bovinos de corte, duração, freqüência, intervalos

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METHODOLOGICAL ASPECTS FOR INGESTIVE BEHAVIOR OF FEEDLOT

CATTLE INDIVIDUALLY.

ABSTRACT: The objective of work is to validate practical methods for measurement

of ingestive behavior of confined cattle individually. We used 62 males Nellore weaned

individually confined for 112 days. Ingestive behavior was based on activities eating,

ruminating, idle and positions standing and lying every 28 days for 24 hours by direct

observations with focal route sampling intervals of record of five minutes. The residual

variances and their relative changes of different registration intervals not stabilized

increased as the intervals increased, indicating not be good parameters to indicate the

proper range. Pearson correlations showed high association between the intervals of

five, 10 and 15 minutes, indicating that 15 minute intervals create accurate estimates as

about five minutes. The Spearman correlations showed that animals classified for

measures of behavior within five minutes are not the same as 15 minutes, showing

variation in the ranking of the animals in these activities, depending on the logging

interval of record. The mean duration of behavioral characteristics not different feed

time except, which has been underestimated in the range of 30 minutes as compared to

five minutes. This indicates that the duration of activities may be taken at intervals of 15

minutes without losing accuracy of measurements estimated. The feeding frequency

decreased as the increased interval of records, showing that the greater the interval used,

the greater the number of measures missed, indicating that intermittent use may not be

the most appropriate method for this type of measurement. Estimates of ingestive

behavior did not differ between different groups of animals, and the total group of 62

animals reported measures of ingestive behavior similar to the group of 12 animals,

suggesting that, to measure the standard of cattle in feedlots is possible to observe only

a fraction of the animals and obtain reliable estimates. To measure the duration of

ingestive behavior may be used intervals of 15 minutes without losing accuracy of

measurements and observation of the animals is enough to generate accurate estimates

of ingestive behavior of feedlot cattle individually.

Keywords: beef cattle, duration, frequency, intervals, sample of animals

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1.Introdução

Para mensurar comportamento ingestivo alguns equipamentos são usados

atualmente, entre eles, GrowSafe System®, Insentec BV®, Calan gate® e câmeras de

vídeo, contudo, esses aparelhos possuem alto custo de instalação e manutenção, são

limitados quanto às categorias comportamentais medidas e não são aplicáveis em

qualquer sistema de produção. Já as mensurações realizadas por observadores

demandam muito tempo, mão de obra e trabalho com manipulação dos dados.

Visando definir métodos mais práticos para a mensuração do comportamento

ingestivo, alguns trabalhos avaliaram o intervalo de registro mais adequado. Silva et al.

(2004) avaliando o comportamento ingestivo de novilhas leiteiras cruzadas não

encontraram diferenças significativas das medidas de comportamento estimadas em

intervalos de registro de 5, 10, 15, 20, 25 e 30 minutos. Da mesma forma, Carvalho et

al. (2007) trabalhando com ovinos mediram tempo de alimentação, ruminação e ócio e

não observaram diferenças nas estimativas do comportamento ingestivo.

Mendes et al. (2011) avaliaram a acurácia das medidas de tempo e freqüência de

alimentação em diferentes intervalos de lapso (0,5; 1; 1,6; 2,5; 5 minutos) emitidas pelo

sistema GrowSafe System® e compararam com observação contínua do comportamento

por meio de câmeras de gravação e relataram que o tempo de alimentação não diferiu

nos diferentes intervalos de lapso, entretanto, a freqüência alimentar foi subestimada

quando o lapso foi maior que 1,6 minutos, indicando que comportamentos de curta

duração (eventos) devem ser avaliados em intervalos menores que o tempo usado na

expressão da atividade.

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Mitlöehner et al. (2001) avaliaram o número de animais suficientes para estimar

medidas acuradas dos comportamentos comendo, deitado, em pé, bebendo e andando e

relataram que atividades que possuem curta duração e maior variação entre indivíduos

necessitam de amostras maiores (mais animais) para gerar estimativas seguras das

medidas.

Visando a viabilidade da mensuração do comportamento ingestivo, o objetivo

desse trabalho foi avaliar o intervalo de tempo adequado para a tomada das medidas de

comportamento ingestivo, assim como o número mínimo de animais na amostra a ser

avaliada.

2. Material e métodos

O estudo foi realizado no Centro Avançado de Pesquisas Tecnológicas dos

Agronegócios (APTA Bovinos de Corte), órgão do Instituto de Zootecnia do estado de

São Paulo. O Centro está localizado na região norte do estado, a 21°10´ S e 48° 5´ W.

Possui clima tropical úmido e temperatura média anual de 22,5°C. Solo tipo latossolo

vermelho e índice pluviométrico anual é de 1588,5 mm. O experimento foi conduzido

durante 112 dias, com início em maio e término em setembro de 2011. O tempo total foi

dividido em quatro períodos de 28 dias, sendo o primeiro período para adaptação dos

animais às baias e à dieta e três períodos para coleta de dados.

Foram utilizados sessenta e dois machos Nelore, com peso e idade média de

243,29 kg e 261,46 dias, respectivamente, alojados em baias individuais com área de

12m², pavimentadas com concreto, parcialmente cobertas para proporcionar iluminação

e providas de cocho e bebedouro de alvenaria.

A dieta total (Tabela 1) foi fornecida em dois horários durante o dia, às 8h00 e

15h00 e foi composta de feno de braquiária moído, milho moído, farelo de algodão e

suplemento mineral, em uma relação de volumoso: concentrado 45: 55.

40

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Tabela 1. Composição nutricional da dietaIngredientes %MS

Feno de Urochloa spp. 44,5Milho grão moído 32,2Farelo de algodão 21,4Uréia 0,45Sulfato de amônio 0,05Suplemento mineral 1,45

Composição bromatológica Nutrientes em % de MSMatéria seca 93,40Matéria mineral 3,74Proteína bruta 11,34FDN 50,03FDA 31,02Celulose 23,93Lignina 6,18Extrato etéreo 2,84EM kgcal/kg 2,00

O comportamento ingestivo foi avaliado durante 24h a partir do primeiro

período experimental, com uma coleta a cada 28 dias. Foram mensuradas as categorias

comportamentais: comendo, ruminando, em ócio, em pé e deitado (Quadro 1). Foram

feitas observações diretas por oito observadores treinados, cada um responsável por três

horas diárias, mediante rota de amostragem focal e intervalo de registros instantâneos a

cada cinco minutos (MARTIN e BATENSON, 1993). Durante o período noturno houve

iluminação artificial com adaptação prévia dos animais.

Quadro 1. Etograma das categorias de comportamento ingestivo e posturaCategorias Descrição das categorias comportamentais

ComerAnimal frente ao cocho, com a cabeça baixa ou não, mastigando após apreensão, ou mastigando com o focinho sujo de ração sem aparentar apreensão.

RuminarAnimal mastigando, engolindo, regurgitando e remastigando com presença do bolo alimentar aparente no flanco da bochecha.

Ócio Qualquer atividade não relacionada à alimentação e ruminação.

Em péAnimal apoiado sobre as quatro patas, podendo estar em movimento ou não.

DeitadoAnimal com as quatro patas flexionadas e com o abdômen inteiro ou parcialmente em contato com o piso.

Para quantificar a duração dos comportamentos (min/dia) foi calculado o tempo

total que o animal permaneceu nas atividades avaliadas e relacionadas com a duração

41

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total do dia (1440 minutos). A freqüência alimentar foi determinada pela contagem das

vezes que o animal visitou o cocho durante as 24h (vezes/dia).

As variáveis usadas para medir o comportamento ingestivo foram: tempo de

alimentação (TALM, min/dia), tempo de ruminação (TRUM, min/dia), tempo em ócio

(TO, min/dia), tempo em pé (TP), tempo deitado (TD) e freqüência alimentar (FQ). Os

intervalos de registro usados para comparar a variação das medidas foram de 5, 10, 15,

20 e 30 minutos. Os registros de cada intervalo foram obtidos a partir do registro inicial

(0 minutos, primeira observação) excluindo-se os registros intermediários, por exemplo,

para o intervalo de 15 minutos, foram excluídos os registros do tempo 5 e 10 minutos.

As análises do comportamento ingestivo foram feitas pelo PROC MIXED do

SAS 9.3. As variâncias residuais foram obtidas para cada variável em cada intervalo

utilizando o modelo misto descrito a seguir:

ijljiijl exxbApy +−+++= )(1µ

ijly = valores observados para as características comportamentais;µ = constante comum a todos os indivíduos;pi = efeito fixo de período (i = 1, 2 e 3);Aj = efeito aleatório de animal;b1 = coeficientes de regressão linear;X = idade do animal no meio do teste;X = valor médio da idade;

eijl = erro aleatório associado a cada observação, e~N(0, 2σ ).

A mudança relativa da variância eq. (1), conforme descrito por Wang et al.

(2006), foi definida como a diferença em porcentagem entre a variância obtida a partir

da medida prévia e a medida atual dividida pela variância da primeira medida (5

minutos) e foi usada como critério adicional para avaliar as mudanças nas variâncias

residuais.

em que: Var1 é a variância prévia; Var2 é a variância posterior e Var inicial é a primeira

variância (5 minutos).

42

eq. (1) VarR=(Var1-Var2)*100; Var inicial

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As médias das categorias comportamentais para cada intervalo foram obtidas por

meio do PROC MIXED do SAS 9.3, utilizando o mesmo modelo descrito acima,

incluindo o efeito fixo de intervalo (5, 10, 15, 20 e 30).

Por meio do PROC CORR do SAS 9.3 foram obtidas estimativas de correlações

de Pearson e Spearman entre os intervalos de registro para todas as características de

comportamento ingestivo.

O número de animais necessários para representar o comportamento do grupo

total (62 animais) foi avaliado utilizando as médias dos quadrados mínimos obtidas pelo

PROC GLM do SAS 9.3. O modelo de análise incluiu o efeito fixo de amostras (62, 52,

42, 32, 22 e 12 animais) e idade dentro de amostra como (co) variável. As médias das

características comportamentais foram comparadas entre si e com o grupo total (62

animais) pelo teste t-Student. A Em todas as análises a hipótese nula foi rejeitada

quando a probabilidade foi ≤ 0,05.

3. Resultados e discussão

Foram avaliadas as variâncias residuais, respectivas mudanças relativas nos intervalos avaliados e as

correlações de Pearson e Spearman para características de comportamento ingestivo nos intervalos de 5, 10, 15, 20

e 30 (Tabela 2). Observou-se, para todas as características tendências de aumento da variância residual à

medida que os intervalos entre as medidas aumentam, com exceção da FQ, em que foi observada tendência de

diminuição da variância residual. Esses resultados indicam que quanto maior o intervalo entre as mensurações

maior se torna a porção inexplicável da variância fenotípica total observada para a característica.

O mesmo ocorreu para as variâncias relativas, em que a mudança da variância fenotípica residual em

relação ao intervalo de cinco minutos, para as características de comportamento, excluindo-se FQ, tendeu a

aumentar ampliando os intervalos entre as medidas comportamentais (Tabela 1).

Wang et al. (2006) testando períodos de teste ótimos para gerar medidas acuradas de ganho de médio

diário (GMD), consumo de matéria seca (CMS), consumo alimentar residual (CAR) e conversão

alimentar (CA), utilizaram variância fenotípica residual, mudança relativa da variância e

correlações de Pearson e Spearman para indicar a estabilização dessas medidas nos

períodos de 7, 14, 21, 28, 35, 42, 49, 56, 63, 70,77, 84 e 91 dias. Corroborando com os

resultados desse trabalho, a mudança relativa da variância não foi um parâmetro eficiente para

indicar a estabilização das medidas ao decorrer do tempo devido à flutuação inconstante.

43

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Esperava-se que as tendências das variâncias fenotípicas residuais dos diferentes intervalos se

tornassem estáveis, entretanto, esses parâmetros não foram suficientes para indicar o intervalo adequado para

tomada de medidas de comportamento ingestivo.

44

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Tabela 2. Variância residual fenotípica, mudança relativa da variância e correlações de

Pearson e Spearman das medidas de comportamento ingestivo nos diferentes

intervalos de registro

Categorias ParâmetrosIntervalos (minutos)

5 10 15 20 30

Comendo

2eσ 687,55 929,92 1279,1 1678,86 2304,262eσ % 35,25 50,78 58,14 90,96

Pearson 1,000 0,92* 0,81* 0,34* 0,20

Spearman 1,000 0,91* 0,82* 0,31* 0,18

Ruminando

2eσ 2570,88 2868,58 3359,16 3804,87 4569,572eσ % 11,57 19,08 17,33 29,74

Pearson 1,000 0,94* 0,88* 0,18 0,29*

Spearman 1,000 0,95* 0,87* 0,23* 0,35*

Ócio

2eσ 3473,53 4086,37 4716,53 4734,11 6053,942eσ % 17,64 18,14 0,506 37,99

Pearson 1,000 0,95* 0,87* 0,20 0,21

Spearman 1,000 0,95* 0,86*8

0,18 0,23

Deitado

2eσ 5549,53 6872,75 6121,25 6710,11 7060,552eσ % 23,84 13,54 10,61 6,31

Pearson 1,000 0,90* 0,79* 0,18 0,23

Spearman 1,000 0,91* 0,76* 0,18 0,21

Em pé

2eσ 5549,53 6872,75 6121,25 6710,11 7060,552eσ % 23,84 13,54 10,61 6,31

Pearson 1,000 0,90* 0,79* 0,18 0,23

Spearman 1,000 0,91* 0,76* 0,18 0,21

FreqüênciaAlimentar

2eσ 8,87 5,17 2,44 3,16 1,682eσ % 41,71 30,77 -8,11 16,68

Pearson 1,000 0,49* 0,30* 0,24 0,06

Spearman 1,000 0,48* 0,32* 0,30* 0,01*P<0,05; 2

eσ =variância fenotípica residual; 2eσ %= mudança relativa da variância; Pearson=Correlação

de Pearson; Spearman=Correlação de Spearman

As estimativas das correlações de Pearson entre o intervalo de cinco minutos e os intervalos de 10, 15, 20

e 30 minutos diminuíram conforme a intermitência foi ampliada (Tabela 1). Nesse mesmo sentido, Wang et al.

(2006), correlacionando GMD, CMS, CAR e CA com os diferentes períodos de teste, consideraram que

a medida foi acurada, quando os valores das associações fossem maiores ou iguais 0,90, comparado ao maior

período (91 dias). Considerando correlações altas (r>0,80), as medidas realizadas usando intervalos de 15

minutos apresentaram boa acurácia, devido à associação com medidas registradas em intervalos de 5 e 10 minutos.

45

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As correlações de Spearman mostraram que ao ampliar o intervalo de registros

as relações entre as classificações dos animais diminuíram entretanto, os altos valores

de correlações (P<0,05) entre os intervalos de 5, 10 e 15 minutos evidenciaram que as

classificações dos animais nesses intervalos não se alteraram. Assim, embora as variâncias

residuais não tenham apresentado estabilidade, considerando as estimativas de correlações de Pearson e

Spearman, as medidas de comportamento ingestivo tomadas em intervalos de 15 minutos podem ser tão acuradas

quanto às tomadas a cada cinco minutos.

As médias ajustadas e respectivos erros padrão para as medidas

comportamentais nos intervalos de 5, 10, 15, 20 e 30 minutos, não diferiram

significativamente (P<0,05) entre intervalos para TALM, TRUM, TO, TD e TP (Figura

1) com exceção de TALM, que apresentou menor valor aos 30 minutos (P<0,05). Esses

resultados indicam que intervalos de até 20 minutos são suficientes para quantificar de

forma acurada a duração do comportamento ingestivo.

21,63 22,03 25,50 34,85 34,99

36,63 37,37 39,5159,56

59,61

68,1073,2744,4746,1744,85

45,4443,53 46,95 49,3651,72

43,53 45,44 46,95 49,36 51,72

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

5 10 15 20 30

talm trum to td tp

minutos

Tmin

uto

s/di

a

TALM=tempo comendo; TRUM=tempo ruminando; TO=tempo em ócio; TD=tempo deitado; TP=tempo

em pé

Figura 1. Médias ajustadas e respectivos erros padrão das medidas de comportamento nos diferentes intervalos

Diversos autores testaram intervalos de registro para medir categorias de

comportamento ingestivo em ruminantes. Silva et al. (2004) avaliando o

comportamento ingestivo de novilhas leiteiras cruzadas não encontraram diferenças

significativas das medidas de comportamento estimadas em intervalos de 5 até 30

minutos. Da mesma forma Carvalho et al. (2007) trabalhando com ovinos mediram

46

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tempo de alimentação, ruminação e ócio em seis diferentes intervalos (5, 10, 15, 20, 25

e 30 minutos) e não observaram diferenças nas estimativas de duração dos

comportamentos.

Outra forma de avaliação do comportamento ingestivo é por meio do registro

contínuo das atividades durante 24 horas. Gary, Sherritt e Hale (1970) observaram

comportamentos de vacas da raça Charolêsa em pastagem e avaliaram que o tempo de

pastejo, tempo deitado, tempo em ócio e tempo de ingestão de ração foram estimados de

forma semelhantes comparando observações contínuas (intervalos de 1 minuto) e em

intervalos de até 15 minutos. Do mesmo modo, Salla et al. (1999) estudando tempo

médio diário de ingestão, ruminação e descanso constataram que esse tipo de avaliação

pode ser feita com a escala de quinze minutos entre as observações, de forma que os

resultados não diferiram estatisticamente dos encontrados pelo método contínuo de

observação. Mitlöehner et al. (2001), avaliando o comportamento de bovinos por meio

de câmeras de vídeo para comparar a duração dos comportamentos mensurados por

medidas contínuas e em intervalos de 1, 5, 10, 15, 30 e 60 minutos, mostraram que

intervalos de 30 minutos geram medidas semelhantes às registradas continuamente para

as categorias comendo, bebendo, deitado e em pé.

Os resultados descritos acima corroboram os do presente estudo no qual as

atividades comportamentais também não diferiram (P>0,05) entre diferentes intervalos

de registro (Figura 1). Nesse contexto, é possível inferir que medidas intermitentes em

intervalos maiores possibilitam a avaliação precisa do tempo de comportamento

ingestivo, permitindo avaliar maior número de animais e utilizar menor número de

observadores.

No presente trabalho, a freqüência alimentar diminuiu e diferiu

significativamente (P<0,05) entre os intervalos de registro (Figura 2), indicando que

para essa medida, intervalos maiores que cinco minutos podem subestimar a quantidade

de visitas ao cocho. Mendes et al. (2011) trabalhando com novilhas, utilizaram câmeras

de vídeo para mensurar a duração e a freqüência de alimentação por observação

contínua e comparar com os o tempo e freqüência de alimentação detectados pelo

sistema automático GrowSafe System®. Esses autores programaram seis diferentes

intervalos (0,5; 1,0; 1,6; 2,5; e 5,0 minutos) de detecção do comportamento dos animais

pelo sistema automático e relataram que intervalos maiores que 1,6 minutos não geram

medidas acuradas para medir FQ, entretanto, para a duração do comportamento

47

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comendo, todos os intervalos estudados estimaram medidas semelhantes com boa

acurácia.

1,844

1,368

0,932 0,976 0,935

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

5 10 15 20 30

FQ

minutos

visi

tas/

dia

FQ=freqüência alimentar

Figura 2. Médias ajustadas e respectivos erros padrão da freqüência alimentar de

bovinos nos diferentes intervalos

Comparado aos resultados do presente estudo, onde a FQ foi de 16,32

visitas/dia, as mensurações realizadas pelos sistemas automatizados são mais acuradas,

pois permitem intervalos menores para detectar FQ e conseqüentemente reduzem a

quantidade de observações perdidas quando comparada às observações feitas em

intervalos de registro. Nkrumah et al. (2007) avaliaram o comportamento ingestivo de

novilhos das raças Angus e Charolês por meio do sistema de alimentação automático

GrowSafe System® e observaram FQ média de 29,62 visitas/dia. No mesmo sentido

Montanholi et al. (2010) avaliaram FQ de novilhos cruzados Simental x Angus pelo

sistema Isentec BV® e encontraram média de 53 visitas/dia e Kelly et al. (2010)

avaliando novilhas Limousin x Holandês pelo mesmo sistema de alimentação

encontraram média de 45,4 visitas ao cocho/dia. Pinheiro et al. (2011) utilizaram quatro

observadores para medir o FQ de 12 vacas mestiças Holandês x Zebu confinadas

individualmente e encontraram 10 visitas/dia usando intervalos de registro de cinco

minutos.

Assim, o intervalo de tempo adotado para o estudo da ciência do comportamento

ingestivo, deve ser baseado na expressão natural de cada característica em questão, pois

as mensurações são dependentes da duração da expressão de cada comportamento.

48

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Em sistemas de confinamento, onde há alta concentração de animais é inviável

realizar observações de cada indivíduo. Para determinar a quantidade de animais

necessários para mensurar medidas de comportamento ingestivo foram utilizadas

médias de características comportamentais nos diferentes grupos de animais (Tabela 3).

Em condições semelhantes, Mitlöehner et al. (2001) estudando bovinos em baias

coletivas, compararam médias de duração dos comportamentos deitado, em pé,

comendo, bebendo e andando em vários grupos de animais (10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2 e 1)

e mostraram que o tempo de duração dos comportamentos em pé, deitado e comendo

podem ser mensuradas observando apenas um animal. A categoria bebendo só foi

medida precisamente realizando a observações de quatro animais, indicando a

necessidade de uma amostra maior para mensurar comportamentos que possuem curta

duração e maior variação entre animais.

Tabela 3. Médias e desvio padrão de medidas de comportamento ingestivo utilizando

diferentes números de animais

n TALM min.d-1 TRUM min.d-1 TO min.d-1 TD min.d-1 TP min.d-1 FQ eventos

62

232±2,6 471±5,1 736±5,6 886±5,5 553±5,5 16±0,252

234±2,9 472±5,1 733±6,2 889±6,1 551±6,1 16±0,2

42

234±3,2 478±5,6 727±6,8 881±6,7 558±6,6 16±0,2

32

23±3,7 469±6,4 739±7,8 889±7,7 550±7,6 16±0,3

22

221±4,4 473±7,7 740±9,4 883±9,3 556±3,1 16±0,3

12

229±9 464±15,7 745±19 881±18,8 558±18,8 16±0,7

P 0,12 0,98 0,79 0,89 0,89 0,56Médias seguidas de letras iguais na mesma coluna não diferem a nível de P=5%TALM= tempo comendo; TRUM=tempo ruminando; TO=tempo em ócio; TD=tempo deitado;TP=tempo em pé; FQ=freqüência de alimentação

A partir dos resultados observa-se que o padrão de alimentação de bovinos

confinados individualmente pode ser quantificado usando 12 animais sem prejudicar as

estimativas dos tempos de duração das atividades comendo, ruminando, ócio, deitado,

em pé e freqüência alimentar (Tabela 3). As medidas comportamentais estudadas foram

consideradas iguais (P>0,05) entre os grupos de animais.

Considerando os aspectos metodológicos abordados, é importante ressaltar que,

para cada característica a ser estudada, existem maneiras adequadas para a abordagem

do comportamento animal e que devem ser baseadas em observações preliminares, as

quais servirão de base para a definição do melhor método. Para que o comportamento

ingestivo possa ter viabilidade da mensuração à campo, é primordial que possa ser

49

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aplicada com maior praticidade na produção animal, visando economia de tempo, mão

de obra e observando uma amostra dos animais, otimizando a coleta e a manipulação

dos dados.

4. Conclusões

Intervalos de 15 minutos geram medidas acuradas do da duração do

comportamento ingestivo de bovinos Nelore confinados individualmente.

A observação de uma amostra de 12 animais é suficiente para medir o padrão de

alimentação do grupo total sem prejudicar a qualidade das medidas.

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