Compreensão Clínica Em Gestalt

7/18/2019 Compreensão Clínica Em Gestalt

http://slidepdf.com/reader/full/compreensao-clinica-em-gestalt 1/40

Compreensão clínica em Gestalt--terapia: pensamento diagnóstico

processual e ajustamentos criativos

funcionais e disfuncionais

LILIAN MEYER FRAZÃO

As emoções são um universo sagrado. É precisocuidado

respeito e permissão para penetrar nesse espaço

tão delicado, tão poderoso...

O objetivo do presente capitulo é compartilar al!umas

re"e#$es %eitas nas &ltimas décadas a respeito dodia!n'sti(

co em )estalt(terapia* Embora comumente no campo da

psi(

colo!ia se pense em dia!n'stico como um processo

investi(



!ativo +ue deve preceder o tratamento ou a interven,-o

cl.nica ( como ocorre +uando se %ala em estudo de caso

acredito +ue esse modelo/ +ue em muito se assemela ao

modelo médico/ n-o seja ade+uado 0 )estalt(terapia/dada

sua concep,-o de omem e de processo terap1utico*

2ma

ve3 +ue concebemos o omem como uma totalidade/ em

constante processo de crescimento e desenvolvimento/ o

+ue

inclui n-o apenas aten,-o a suas di4culdades eso%rimentos/

mas também a suas possibilidades e potencialidades/ %a3(

se





ditar ser ele um r'tulo limitante +ue pouco contribu.a para a

compreens-o e o desenvolvimento do paciente* Acreditava(se

+ue o dia!n'stico redu3ia as pessoas a conceitos e as cate!o(

ri3ava/ tornando(se assim antiterap1utico e politicamente re(pressivo =>eslile/ 9::<?*

@alve3 isso tena rela,-o com o %ato de +ue/ ao pensar em

dia!n'stico/ esses movimentos consideravam os critérios

diagnósticos/ cuja %un,-o é operacional e cujo objetivo é o%e(

recer uma conven,-o +ue possibilite uma conmnalidade de

lin!ua!em e de critérios* ara tanto/ a!rupam/ nomeiam e

classi4cam a+uilo +ue se re%ere 0 perda dos mecanismos nor(mais de %uncionamento ( como é o caso dos Manuais >ia!(

nosricos e stat.sticos de @ranstornos Mentais =>BMs? e dasClassi4ca,$es Internacionais de >oen,as =CI>s?*

Embora a classi4ca,$es desse tipo possam ser &teis por proporcionar uma linguagem coomum importante no campo

do trabalo interdisciplinar/ n-o s-o su4cientes*Elas vem o +ue 5 em comum entre as pessoas

terminado dist&rbio/ como é o caso das alucina,$es nos psi(c'ticos ( sejam elas visuais/ auditivas/ ol%ativas etc* ( mas n-o

descrevem o conte&do sin!ular delas em cada paciente/ tam(



pouco seu si!ni4cado*

Bem ne!ar a import6ncia de tais classi4ca,$es/ é preciso

considerar +ue elas s-o insu4cienres para o desenvolvimento

do trabalo clinico/ demandando também a compreens-o dá

din6mica e da comple#idade de cada paciente em sua sin!ula(

ridade e#istencial*

Be os cr itérios dia!n'sticos nos o%erecem a comunalidade( o +ue 5 de comum entre os omens (/ %alta(les a

singulari-

dade =o +ue 5 de di%erente/ pr'prio/ sin!ular em cada

omem?*ara tanto/ é preciso +ue nos a%astemos do modelo médico/

+ue sup$e/ con%orme colocado por Ro!ers =9:D/ p* 9:?G

H +ue uma situa,-o or!6nica tem uma causa +ue a

antecedeH +ue o controle dessa situa,-o é mais poss.vel se essa

causa %or conecida

H +ue a descoberta e a descri,-o e#ata da causa s-o um

problema +ue pode ser cienti4camente investi!ado*



No campo da psicoterapia/ o dia!n'stico deve ser enten(

dido como a descri,-o e a compreens-o de cada cliente em

sua sin!ularidade e#istencial/ ou seja/ é preciso compreender

o +ue cada sintoma e +uei#a si!ni4cam no conte#to específcoem +ue sur!iram e no conjunto da vida cia pessoa/ bem como

a +ue prop'sito serviram*O dia!n'stico n-o deve ser vinculado a uma done,a ou anor(

malidade/ e sim ao modo de e#istir de al!uém =o +ue pode

incluir

uma doen,aJanormalidade/ mas esta n-o é elemento su4ciente

para

uma compreens-o mais ampla?*

>ia!nosticar implica pensar em processos de ajustamentos

cristivos %uncionais e dis%uncionais/ ra3-o pela +ual esclare,o

mina compreens-o deles a se!uir*

AJUSTAMENTOS CRAT!OS "UNCONAS



A )estalt(terapia tem uma concep,-o ol.stica de Komem

+ual é concebido como ser biopsicossocial dotado de m&lt

pias dimens$esG %.sica/ a%etiva/ intelectual/ social/ cultural

espiritual* A e#peri1ncia é %ruto da intera,-o do indiv.duocom o meio ambiente*

O +ue possibilita a e#peri1ncia em tal intera,-o é contato

e awareness.

Awareness é a capacidade de aperceber(se do +ue se pas(

sa dentro e %ora de si no momento presente/ seja em +ue di(

mens-o %or =corporal/ mental/ emocional?* a possibilidade

de perceber/ simultaneamente/ os meios e#terno e interno/mediante recursos perceptivos e emocionais/ embora em de(

terminado momento al!o possa se tornar mais proeminente

=Fra3-o/ 9:::?*

ara +ue aja awareness é necess5rio +ue e#ista contato/

embora possa aver contato sem awareness =eris/ Keerline

e )oodman/ 9::?*

O contato se d5 por meio da+uilo +ue em )estalt(terapia camamos de %un,$es de contatoG vis-o/ audi,-o/



ol%ato/ tato/ %ala e movimento* pelas %un,$es de contato

#$e nossa percep%&o se organi'a e nossos sentimentos

ad#$irem

signifcado(Contato com a)areness empo*recida res$lta em contato

#$e

carece de #$alidade( + o processo de contato de *oa

#$alidade

#$e propicia #$e a intera%&o indiíd$oam*iente se.a

n$tritia e

#$e ocorram m$dan%as no campo relacional pessoa-am*iente, isto

/, crescimento e desenolimento(

Em nossa ida, temos necessidades distintas e inter-

relacionais0

as de nat$re'a fsiol1gica 2comer, *e*er, dormir3 e as de

nat$re'a

psicol1gica 2relacionarmo-nos com o o$tro, e4pressarmosemo%5es,

d i d 3 l d



sermos amados e respeitados3( Ao longo do

desenolimento, nossas

necessidades tornam-se progressiamente mais

comple4as e a*ran-gem di6erentes 7m*itos de inser%&o social e c$lt$ral(

8$al#$er #$e

se.a a nat$re'a o$ a a*rang9ncia da necessidade, / no

campo in-

diíd$oam*iente #$e ela se mani6esta e se reali'a(:esde o início da ida, as e4peri9ncias da pessoa s&o

re

lacionais( ;ara o rec/m-nascido, esse campo est<, em

grande

parte, delimitado pela rela%&o m&e-*e*9(

A m&e, por meio de s$a awarene, pode captarempatica-

mente se$ *e*9, perce*endo s$as necessidades( Uma

e' #$e /ela #$e, a $m s1 tempo, s$pre as necessidades

fsiol1gicas e

á . t d fl= it t l 9



está .$nto do fl=o amorosa e respeitosamente, ela 9 o

primeiro

o$tro signifcatio com #$em a crian%a tem contato>

constit$ia primeira e mais importante possi*ilidade de

esta*elecimento

de rela%&o, sendo nesse campo relacionai m&e-*e*9 #$e

ter<

meio o processo de desenolimento( ;o$co a po$co, ?

medi-

#$e desenola a$toss$porte e se sinta seg$ra, a crian%a;oder< ampliar se$ contato com o m$ndo, ampliando

cada

e' mais o 7m*ito e a comple4idade de s$ase4peri9ncias(

E b l b b1 P l



Embora em !eral se pense no beb1 como Pa+uele +ue

de(

pendeP/ creio ser importante assinalar +ue e#iste também uma

interdepend1ncia/ uma rela,-o de reciprocidade m-e( 4lo/ uminterjo!o de satis%a,-o m&tuas* Ao mesmo tempo +ue a m-e

satis(

%a3 o beb1/ sente(se satis%eita/ tanto +uanto o beb1 precisa ser

amamentado/ também a m-e precisa aliviar a press-o do seio

re(

pleto de leite aos incQmodos sentidos e mani%estos pelo beb1

correspondem descon%ortos na pr'pria m-e* As rea,$es da m-eno

sentido de aliviar o 4lo dos incQmodos +ue mani%esta

cumprem/

também/ a %un,-o rec.proca de proporcionar a si mesmo

satis%a,-o*

>essa %orma/ a rela,-o m-e(beb1 envolve interdepend1ncia e

certamutualidade*

Estar com seu beb1 amorosa e respeitosamente



Estar com seu beb1 amorosa e respeitosamente/

aceitando(

(o e con4rmando(o tal como ele é/ %avorecer5 a

di%erencia,-o eo desenvolvimento da individualidade* Esse processo de

tornar(

(se um indiv.duo &nico decorre da +ualidade da rela,-o

com o

outro* E/ na medida em +ue o outro %a3 parte do ambiente/

o

+ue possibilita o desenvolvimento ps.+uico saud5vel é aintera(

,-o saud5vel indiv.duo(ambiente/ EuJn-o Eu/ por meio da

#$al

se dar5 a satis%a,-o de necessidades sobretudo a+uela

#$e

considero %undamental do ponto de vista psicol'!icoG o

estabe(lecimento e a manuten,-o da rela,-o com o outro*

O atendimento de necessidades ocorre por intermédio do

ajustamento criativo +ue a capacidade de satis%a3er s



ajustamento criativo/ +ue a capacidade de satis%a3er snos(

sas necessidades de acordo/ simultaneamente/ com nossa

ierar+uia de necessidades e com as possibilidades nocampoor!anismoJmeio* Ou sejaG é a capacidade de intera!ir

de modo com o ambiente na %ronteira de contato +uando

necess5rio/ a demanda das necessidades às possibilidades deatendimento tio ambiente*

A.$stamento criatio sa$d<el implica a)areness

de nossas ne-cessidades, *em como ser capa' de priori'<-las, de

acordo com a#$ilo #$e ;erls 2@B3 denomino$ de

=ierar#$ia de alores o$ domin7ncias e no Drasil

conencionamento c=amar de =ierar#$ia de

necessidades0 #$ando di6erentes necessidades

ocorrem ao mesmo tempo, a pessoa atende a

necessidade do-minante primeiro( Trata-se de $ma =ierar#$ia #$e,

no caso de

a.$stamentos criatios 6$ncionais sempre aria



a.$stamentos criatios 6$ncionais, sempre aria,

$ma e' #$e

a todo momento nossas necessidades m$dam(

A medida #$e a pessoa possa e4perienciar, aolongo de

se$ desenolimento, $ma rela%&o amorosa e

respeitosa, em

#$e possa e4pressar s$as necessidades 2se.am elas

de #$e na-

t$re'a 6orem3 e e4ercer se$ potencial, poder< se

desenolercomo indiíd$o nico e sing$lar, interagindo com o

am*iente

por meio do a.$stamento criatio, de acordo com

s$a =ierar-

#$ia de alores(

Em*ora e$ este.a 6ocali'ando o processo de

desenolí

mento com *ase no #$e ocorre na intera%&o



mento com *ase no #$e ocorre na intera%&o

m&e*e*9, pro

ccssos an<logos se d&o em o$tros tipos de

relacionamento aolongo da ida, com d$as di6eren%as signifcatias0

das e#peri1ncias +ue se apresentam 0 pessoa/ e

maior

possibilidade de ela dar conta dessas e#peri1ncias*

Binteti3andoG considero o ajustamento criativo

%uncional

um %enQmeno interativo +ue ocorre na %ronteira de

contato

se re%ere 0 abilidade de se relacionar criativamente

com

ambiente como indiv.duo &nico/ com vistas 0

e#press-o e ao

atendimento de necessidades ( mantendo/ ao mesmo

tempo/uma rela,-o respeitosa com o outro em sua unicidade*

AS2B@AMEN@O CRIA@ITO >IBF2NCIONAL



S

Ao lon!o do desenvolvimento/ a satis%a,-o de certas

necessi(

dades pode rivali3ar com a manuten,-o da rela,-ocom o ou(

tro* Uuando isso ocorre/ a pessoa/ por meio do

ajustamento

criativo/ busca %ormas di%erentes de e#pressar suas

necessida(

des/ mantendo/ ao mesmo tempo/ a rela,-o com o

outro* No

entanto/ se essas tentativas %alarem/ aver5 con"ito*

2ma

ve3 +ue a m-e é necess5ria para atender 0s

necessidades maisprim5rias/ esse con"ito poder5 se tornar crucial/

sobretudo se

ocorrer cedo e repetidamente na vida* >e %orma

menos deci(siva/ mas ainda assim si!ni4cativa/ o mesmo pode se





melantes ou id1nticas 0s situa,$es passadas* Na opini-o



, p p

des(

se autor/ as pessoas tinam escolas poss.veis/ apesar de

sen(tirem como se n-o as tivessem*

)ostaria de discutir tr1s +uest$es relativas 0 coloca,-o

%eita por @obin*%rimeira questãoG considero interessante a maneira

como

@obin nomeia o resultado desse processo/ e#ceto peio %ato de

restrin!ir as respostas a situa,$es infantis. Embora concorde

+ue

elas ocorram e sejam si!ni4cativas sobretudo em situa,$es

in%an(tis/ +uando a necessidade de manuten,-o da rela,-o coinoutro é maior e o con"ito mais crucial/ essas 7respostas adap(

tativas necess5rias 0 sobreviv1ncia8 podem ocorrer em

situa,$es relacionais si!ni4cativas di%.ceis ao lon!o da vidaSegunda questão: acredito +ue as pessoas tinam

escolas poss.veis/ apesar de sentirem como se n-o tives(

sem/ por+ue não podiam %a31(las/ seja +ual %osse a nature



sem/ por+ue não podiam %a31 las/ seja +ual %osse a nature

da impossibilidade* O %ato de a pessoa n-o poder ter %e(

ito outra escola n-o deve ser entendido como se os pais

tivessesido t-o 7ruins8 +ue ela n-o teve outra alternativa/ nem como

se n-o quisesse %a3er outra escola* O +ue precisa ser

conside(

rado é a maneira como a pessoa percebeu o %ato e a reação

+ue isso suscitou nela dito de outra %orma/ de +ue %undo

a+uela 4!ura emer!iu de modo +ue ad+uiriu tal si!ni4cado*

A

escola %eita pela pessoa é sempre a escola +ue ela/

naquela

circunst6ncia/ com a+uela e#peri1ncia/ pôde %a3er* A escolha

%eita %oi em %un,-o de uma necessidade +ue consideroabsolu(

tamente verdadeira e le!.timaG a de sobreviver como indiv.(

duo mantendo a rela,-o com o outro*

Essa escola se constitui num ajustamento criativo +uepressup$e o princ.pio da pre!n6ncia/ ou da boa %orma/ da

psicolo!ia da )estalt/ de acordo com a +ual a or!ani3a,-o



psicol'!ica ser5 sempre t-o 7boa8 +uanto as condi,$es rei(

nantes o permitirem =VoWa/ 9:D/ p* 99?*O princ.pio da

pre!n6ncia é o pressuposto do conceito de autorre!ula,-o or(!an.smica da )estalt(terapia/ se!undo o +ual o or!anismo

%ar5 o melor +ue pode para se re!ular dados

simultaneamen(

te suas capacidades e os recursos do ambiente =Latner/

9:DX?*

As respostas adaptativas necess5rias 0 sobreviv1ncia +ue ob(

servamos em %uncionamento n-o saud5vel resultam de pro(essos de autorre!ula,-o or!an.smica/ sendo =na ori!em?

justamentos criativos e constituindo a+uilo +ue é poss.vel*

Al/m disso, rais a.$stamentos m$itas e'es

reelam possi-*ilidades #$e, reconfg$radas, podem reelar

potencialidades

a seri%o do desenolimento de $m modo de

6$ncionar sa$-d<el e criatio(

Terceira questãoG o %uncionamento n-o saud5vel implicaP

certa desor!ani3a,-o ou distor,-o do universo das percep,$es



e dos sentimentos por isso/ como colocou @obin/ as situa,$es

presentes parecem id1nticas 0s passadas*

En4m/ cabe a4rmar +ue considero ajustamento criativodis%uncional um %enQmeno interativo +ue ocorre na %ronteira

de contato e se re%ere 0 inabilidade eJou impossibilidade de

se

relacionar criativamente com o ambiente* Ao contr5rio/ a pes(soa se relaciona por meio de padr$es cristali3ados e repetiti(

vos/ pelos +uais a e#press-o de necessidades e sentimentos

é

distorcida ou suprimida a 4m de manter a rela,-o com o ou(

tro/ por mais arti4cial ou inaut1ntica +ue uma rela,-o desse

tipo possa parecer. Uuanto mais intensa a necessidade e

maiora di4culdade de e#press5(la e satis%a31(la/ e +uanto mais

pre(

cocemente ela ocorrer/ tanto mais prov5vel depararmos com

sintomas !raves =%.sicos ou ps.+uicos?*



nature3a criativa/ devemos identi4car os ajustamentos



criativos %uncionais +ue nos remetem 0s possibilidades e

potencialidades de nossos pacientes*Esse dia!n'stico deve acompanar o processo terapêuti-

co levando em considera,-o o crescimento do paciente e

suas

mudan,as ao lon!o do tempo e na sua rela,-o consi!o e com

o outro* por isso +ue/ em lu!ar de dia!n'stico/ pre4ro %alar

em pensamento dia!n'stico processual*

Ao dia!nosticar precisamos estar atentos 0+uilo +ue se

mostra no +ue aparece e n-o apenas no +ue aparece/ comonos mostra a %enomenolo!ia* >ito de outra %orma/ é neces(

s5rio compreender a servi,o de +u1 se constituiu a+uilo

+ue aparece*

O pensamento dia!n'stico processual n-o precisa ser

despersonali3ante nem tem rela,-o com um r'tulo limitante*

N-o se re%ere ao +ue a pessoa é/ mas a como ela est a cada

momento do processo terap1utico*

A+uilo +ue o cliente nos tra3 no a+ui e a!ora n-o é



apenas

seu presente imediato/ a(ist'rico* O a+ui e a!ora inclui o pas(

sado ( +ue sur!e na %orma de lembran,as e e#peri1ncias ( e o%uturo o ( +ue se apresenta na %orma de projetos/ anseios/

planos*

o +ue aparece no relato do paciente é uma 4!ura +ue se

insere num %undo/ e por %undo entendo a ist'ria de vida do

cliente/ suas e#peri1ncias/ seus relacionamentos passados =em

especial as rela,$es prim5rias si!ni4cativas?/ seus sucessos e

insucessos nas mais di%erentes 5reas =pro4ssional/ a%etiva/ so(cial etc*?/ suas potencialidades e seus limites* preciso

compreender a rela,-o entre a+ui e a!ora e l5 e ent-o do

passado com o presente entre a 4!uraJ+uei#a e o %undo/ pois

é a rela,-o 4!uraJ%undo +ue d5 sentido 0 4!ura*

A 1n%ase dada pela )estalt(terapia ao a+ui e a!ora %re(

+uentemente !era um mal(entendidoG pensa(se +ue o passa(

do n-o tem import6ncia/ devendo ser desconsiderado Ao

en%ocarem a %un,-o da recupera,-o de cenas passadas/

erls/ Keerline e )oodman =9::/ p( 9</ !ri%os dos au(



tores? a4rmamG

&...' o conte(do da cena recuperada é )astante sem

import*ncia, mas

&...' o sentimento e a atitude infantis que viveram a cena são

da m-

+ima import*ncia. s sentimentos infantis não sãoimportantes

como um passado que deve ser desfeito, mas como

alguns dos pode-

res mais )elos da vida adulta que precisam ser

recuperados &...'.

Assim/ o pensamento dia!n'stico processual implicacompreender a rela,-o da pessoa com sua ist'ria passada e

presente/ pois a con4!ura,-o presente est5 relacionada a

como a pessoa viveu suas e#peri1ncias e a como elas a a%eta(

ram e ainda a a%etam*

O conecimento +ue posso ter do cliente se d5 por a+uilo



due ele apresentaG sua e#press-o verbal e n-o verbal/ sua is(

t'ria de vida/ seus sintomas e +uei#as/ seus sentimentos etc*

Cone,o(o também por meio da+uilo +ue e#perencio emmina rela,-o com eleG sentimentos/ intui,-o/ %antasias e

observa,-o/ além do conecimento e da mina e#peri1ncia

cl.nica prévia =+ue orientam meu olar e mina escuta?*

O pensamento dia!n'stico processual envolve umacri,-o e compreens-o do %uncionamento ps.+uico de cada

indiv.duo sin!ular/ bem como seu desenvolvimento e mud-o

ao lon!o do processo psicoterap1utico*

O pensamento dia!n'stico processual com cadacliente é

t-o sin!ular +uanto cada cliente é &nico* Embora n-o seja

um

processo linear/ nem o mesmo com todos os pacientes/numa

tentativa de o%erecer al!uns ind.cios de como se pode

alcan,ar

um dia!n'stico compreensivo mencionarei al!unsaspectos

&teis para tanto*

>esde o primeiro momento de contato com o paciente

i i t i t t l % d l



+uer na primeira entrevista/ no tele%one ( +uando ele

marca

sua primeira consulta ( ou no in.cio de uma sess-o/ é

impor(

tante n-o ter nenuma ideia aprior.stica em mente* Fa3(se

ne(

cess5rio um estado de disponibilidade interna e deabertura

ao outro/ no +ual é poss.vel dei#ar(se entrar em contato

com

a+uilo +ue possa emer!ir na rela,-o*Além disso/ é preciso demonstrar uma atitude respeitosa

de curiosidade/ tomando o cuidado de n-o invadir/ e sim de

mostrar interesse per!untar sem insistir/ ouvir e acoler sem

jul!ar ou avaliar*

importante estar atento 0+uilo +ue impacta/ 0+uilo +ue

cama a aten,-o/ intri!a/ n-o %a3 sentido/ impressiona e

assimpor diante* Isso pode ocorrer no discurso do paciente/ na sua

apar1ncia/ na sua ener!ia/ na sua postura corporal/ na sua

% i id d = bl i d l ?



a%etividade =ou nos blo+ueios dela? na sua vo3 ou em

e#press-o*

sões de outra natureza. m geral, o imapcto sinaliza algo que,em)ora talvez não sea compreendido de imediato, pode vir a

fazer sentido ao longo do tempo.

/erta ocasião fui procurada por uma paciente de

apro+imadamente 01 anos. Ao rece)2-la na sala de espera,deparei com uma mul#er muito malvestida. 3ua roupa parecia-

me e+tremamente inadequada para a idade e muito

descom)inada.

4 medida que camin#avmos para min#a sala, o)servei quetanto suas roupas quanto seus sapatos e sua )olsa eram de

grifes caras - e aquilo me impactou. A cliente relatou que era

de origem muito po)re e que, depois de alguns anos casada

seu marido se tornou um #omem rico, mas ela não conseguiase sentir parte daquele mundo repleto de pessoas ricas,

antares, viagens etc. ra como se ela fosse uma estrangeira

em qualquer lugar5 ela não pertencia 6quele novo mundo e

tam)ém não pertencia mais as suas origens.

Essa mul#er tina um sério problema de identidade/ n-o

sabia quem era E suas roupas +ue aviam inicialmente



sabia quem era* E suas roupas/ +ue aviam inicialmente

me impactado/ revelavam isso*

Omiss$es também podem ser si!ni4cativas e esclarecedo(

ras* Omiss$es se re%erem 0+uilo +ue o paciente não conta,

deliberadamente ou n-o* As omiss$es/ ao contr5rio dos im(

pactos/ n-o s-o percebidas pelos sentidos/ mas por lacunas no

relato verbal* odem re%erir(se a per.odos de vida/ rela,$essi!ni4cativas/ 5reas de desempeno pro4ssional/ se#ual ou so(

cial/ sa&de %.sica etc* Lacunas podem indicar 5reas de di4cul(

dade ou menospre3adas pelo paciente*

7ive um paciente cua apar2ncia c#amou min#a aten-ção: alto, orte e musculoso. 8alava o m9nimo poss9vel e res-

pondia laconicamente 6s min#as perguntas. A razão que o

levara a procurar psicoterapias não era clara para mim, emesmo quando eu l#e perguntava ea (nica resposta que

o)tin#a era que o médico dissera que :ele precisava:.

;ei-me conta de que ele não #avia mencionado nada arespeito de sua vida afetivo e se+ual. %erguntei-l#e a esse

respeito, e ele me contou que era impotente. ste era narealidade o motivo que o levara a )uscar terapia e só foi



realidade o motivo que o levara a )uscar terapia, e só foi

poss9vel c#egar a ele pela percepção da omissão.

Tam*/m presto aten%&o as associa%5esespont7neas, isto

/, ao F$4o associatio da e4press&o er*al e n&o

er*al do

cliente 2#$er ela se refra a 6atos eo$ a a6etos3( As

associa%5es

espont7neas podem reelar cone45es fg$ra6$ndo,

das #$aiso cliente m$itas e'es n&o se d< conta(

/erta vez, uma cliente iniciou a sessão comentando

so)re

as <ores vermel#as que vira no ardim. Acrescentou que gos-tava muito de vermel#o, pois essa cor, para ela, signi=cava

vida e pai+ão. m seguida, disse estar muito deprimida,

sentindo-se como fol#as secas no c#ão, sem vida nem

função.

a=rmou5 > %reciso reciclar e no entanto só veo coisas ruins5

quero viver... me transformar:. ?etomei o que ela dissera a

respeito das <ores vermel#as e apontei que ela não via



respeito das <ores vermel#as e apontei que ela não via

apenas

as coisas ruins. @o decorrer da sessão, ela se deu conta dociclo no qual fol#as caem de rvores e transformam-se cm

fertilizantes que, por sua vez, nutrem a rvore, tornando pos-

s9vel que novas fol#as, potencialmente mais fortes, cresçam.

Acrescentou que vin#a sentindo que todas as coisas dif9ceis pelas quais passara um processo longo e doloroso de

depressão, com sério comprometimento org*nico e

em)otamento intelectual$ #aviam l#e ensinado muitas

coisas5 era como se só agora ela começasse a viver ssa

associação, uma vez esclareada, levou-a, por meio de

uma met!ora, a perce"er ela

nascia de novo, como as ol#as novas e mais ortes da!rvore.

Além dos impactos/ das omiss$es e das associa,$es/

con(

sidero &til também prestar aten,-o 0s repeti,$es* Elas

podem

sinali3ar cristali3a,$es/ +ue impedem a "uide3 na %orma,-o

de )estalten Repeti,$es muitas ve3es podem ser ouvidas



de )estalten. Repeti,$es muitas ve3es podem ser ouvidas

lite(

ralmente como repetições, um pedir novamente* A +uest-o

n-o é atender ao pedido/ e sim ouvi(lo no +ue concerne 0

sua

%un,-o/ de tal %orma +ue o pedido e#presso possa ser

ressi!ni(%cado e o processo "uido de %orma,-o e destrui,-o de Gten, restaurado*

Perls, Keerline e )oodman =9::D/ p* 9<9? camam a

aten,-o para o %ato de +ue Pa compuls-o neur'tica 0 repeti(ção é sinal que uma situa,-o inacabada do passado ainda est5

inacabada no presente8* Acrescentam ainda +ue 7é o es%or,o

repetido do or!anismo para satis%a3er sua necessidade +ue

causa a repetição (i)idem/ p* 9<X?*Tive uma paciente +ue se +uei#ava de ter um péssimo

relacionamento com o marido* Apesar disso/ n-o conse!uia se

separar dele. Ela di3ia n-o ser capa3 de %a3er nada so3ina e

usar o marido como uma espécie de PmuletaP ( padr-o +ue se

repetia em di%erentes relacionamentos de sua vidaG com sua

mãe, com sua irm-/ com seus 4los etc* A cliente se sentia

ameaçada pela possibilidade de se divorciar pois n-o se dava



ameaçada pela possibilidade de se divorciar/ pois n-o se dava

conta de suas pr'prias PpernasP ( por sinal muito %ortes e

bonias. Bua ist'ria de vida indicava +ue/ na verdade/ ela erauma muler %orte +ue perdera contato com suas capacidades

e possibilidades* 2ma ve3 +ue ela pQde se apossar delas/ n-o

recisou mais de relacionamentos tipo PmuletaPG pQde se di(

vorciar/ administrar sua vida/ suas contas/ sua casa*

Finalmente/ !ostaria de mencionar os sintomas +ue tam(

bém podem sinali3ar rela,$es 4!uraJ%undo * Embora eles

pos(

sam remeber(nos a cate!orias nosol'!icas/ é necess5rio

com(

preender a servi,o de +u1 eles se constitu.ram e se mant1m*

O

sintoma pode ser uma %orma/ 0s ve3es dram5tica/ de

e#pressar

uma necessidade muito pro%unda +ue/ por al!uma ra3-o/

n-o



n-o

pQde ser e#pressa de outra ( maneira ( pe um !rito silecioso

de

socorro +ue precisa ser cuidadosa e respeitosamente ouvido*

Revela um dos muitos parado#os umanosG o de evitar o

so%rimento !era so%rimento* No %uncionamento n-osaud5vel/

os sintomas podem ter %un,-o compensat'ria/ indicando um

dese+uil.brio* @alve3 eles revelem/ meta%oticamente/ o +ue a

pessoa n-o pode di3er*

s ve3es/ lido com o sintoma como se %osse al!o comple(

tamente desconecido para mim/ como se eu n-o soubesse

a

+ue o cliente est5 se re%erindo* osso pedir a ele +ue

descreva

o sintoma/ +ue se identi4+ue como ele le d1 vo3 outras ve(



seus su"ordinados. A medida que transcorreu a terapia perce-"emos que isso l#e causava irritação e insatisfação.



3ua :mer-

da: , metaforicamente, indicava sua necessidade de

e$pressar seus sentimentos, e sua diarréia apontava para a

(nica manei-

ra poss%vel, para ele, de faze-lo uma forma

perigosa de se livrar dos conte(dos que ointo+icavam. Algum

tempo depois, tendo perce)ido seus sentimentos, ele

pCde

"uscar meios novos e mais funcionais de se

e+pressar. Dm

deles oi começar a pintar e a fazer vitrais.

importante ressaltar +ue n-o se pensa dia!nosticamen(

te com apenas um ou outro elemento o camino para o pen(

samento dia!n'stico processual n-o é linear nem i!ual

com

todos os clientes ou em todos os momentos do processotera(

p1utico* @odos esses elementos =os impactos/ asomiss$es/ as



associa,$es espont6neas/ as repeti,$es/ os sintomas

etc*? se

entrecru3am e podem ocorrer ao mesmo tempo* B-o

sinais

+ue indicam poss.veis rela,$es 4!uraJ%undo e su!erem

ip'te(ses dia!nosticas +ue a!u,am a observa,-o e a

discrimina,-odo )estalt(terapeuta*

>esejo reiterar +ue o pensamento dia!n'stico processualn-o envolve apenas os aspectos dis%uncionais do paciente*

i!ualmente importante atentar para os aspectos %uncionaisG

as

%or,as/ os recursos/ os sucessos em di%erentes 5reas/ aspoten(

cialidades/ as capacidades/ as +ualidades/ a ener!ia etc*

ensar o dia!n'stico em termos !est5lticos implica pen(

sar em processo/ em rela,$es de rela,$es =pensamento

dialéti(



cia e autonomia da pessoa aumentam* Embora a

neces(



eces

sidade de se relacionar com outro persista/ a

nature3adessa rela,-o se modi4caG en+uanto decresce

em !rau

de depend1ncia/ cresce em !rau dereciprocidade e

mutualidade*

8$anto mais se ampliam os processos de

desenolimento e

matura,-o/ maiores o 6mbito e a comple#idade

Documents

Compreensão Clínica Em Gestalt