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Comunidades – lugar do perdão e da festa Comunhão e participação como espaços de cura e crescimento Etapa 1 Entrando no caminho – conhecer-se e fazer amizade com o texto Introdução Nós vamos percorrer juntas/os um caminho que muitos já fizeram. Já está muito contato, não é muita novidade, já se tem muitas noticias espalhadas sobre o terreno, o clima, a paisagem, as hospedarias, onde comer, que tipo de gente vai encontrar, o que esperar, o que levar.

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Comunidades – lugar do perdão e da festaComunhão e participação como espaços de cura e

crescimento

Etapa 1

Entrando no caminho – conhecer-se e fazer amizade

com o texto

Introdução

Nós vamos percorrer juntas/os um caminho que

muitos já fizeram. Já está muito contato, não é muita

novidade, já se tem muitas noticias espalhadas sobre

o terreno, o clima, a paisagem, as hospedarias, onde

comer, que tipo de gente vai encontrar, o que esperar,

o que levar.

Mas é sempre bom a gente mesmo experimentar.

Mesmo que outras pessoas já tenham dito e

mostrado fotos, nunca é a mesma coisa do que olhar

e experimentar com o próprio corpo e tirar as nossas

próprias opiniões. Cada um experimenta de um jeito,

cada pessoas vai ser tocada por algo diferente.

Vamos andar juntas/os com a comunidade de João,

que também deu seu testemunho sobre Jesus e seu

tempo.

Isto significa que vamos ter que olhar com

cuidado textos que foram produzidos pelas igrejas

nascentes do primeiro século da Era Cristã.

Chamamos esta época de ‘segunda geração cristã’.

São os anos 60 a 100 d.C mais ou menos.

O objetivo deste caminho não é conhecer mais

sobre Jesus e sua vida. Os evangelhos não foram

escritos para se ter mais ‘informação’ sobre Jesus e

sua época. Não é relato biográfico. Se compararmos

os 4 evangelhos vamos ver muitos dados que não

combinam.

Então por que os Evangelhos foram escritos?

Para quem? De que maneira? Essas são perguntas

que precisamos responder agora, antes de entrarmos

na beleza do texto de João e irmos caminhando pelo

caminho de Jesus .

Os Evangelhos foram escritos para:

! Procure essas passagens:

Depois de ler e fazer sua reflexão e lista,

que você devem compartilhar na

plataforma, clique aqui para ler minha

sugestão de resposta.

! Estamos, portanto, diante de narrativas

teológicas, não historiográficas, com um profundo

acento eclesiológico, feito muitos anos depois do

evento da vida, ministério, assassinato e ressurreição

de Jesus. Isto quer dizer que os textos do Novo

Testamento, em geral, revelam muito da realidade

das igrejas da segunda geração de cristãos e cristãs.

Os conflitos e perguntas, bem como o conteúdo da

catequese, encontram-se por detrás das memórias

guardadas e repassadas para esta geração.

As igrejas da época, entre os anos 60 a 100 d.C, já

estavam bastante organizadas e continuavam

preocupadas em entender a nova realidade em que

viviam, agora sob os auspícios do Espírito de Deus.

Viver uma vida nova não era (e não é) algo fácil de

articular. São muitas as forças contrárias, são muitos

os compromissos e conflitos a assumir.

Olhe que desafiante: vamos ler 1Cor 12 e Rom

12.

1. O que significa para você viver na

comunidade?

2. Qual é a diferença entre as duas cartas de

Paulo?

É bom saber que 1Coríntios é escrita antes da

carta aos Romanos. Olhe o que mudou para entender

como Paulo precisava ser mais duro as vezes nas

suas exigências quanto mais o tempo passava e as

comunidades se organizavam.

Ler os evangelhos deve nos ajudar a percorrer

este caminho da novidade em Cristo, para poder

dizer como Paulo: “Já estou crucificado com Cristo; e

vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida

que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de

Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por

mim” (Gl 2,20).

Vai ajudar a desanuviar, fazer uma limpeza,

nossas imagens, muitas vezes fantasiosas, que temos

de Jesus, o Cristo. O encontro do verdadeiro eu com

o verdadeiro Cristo é urgente. Vamos descobrir o

que sustentou as comunidades cristãs numa época

de muitas crises, perguntas, desistências, alegrias e

novidades. Como estas três perspectivas diferentes

do mesmo Jesus (o Nazareno e o Cristo) podem nos

ajudar, hoje, a parecer-se mais com ele.

Ler a Bíblia e ler a vida: desafios fundamentais

Hoje em dia muitas pessoas lêem a Bíblia.

Pessoas que acreditam em Deus e pessoas que não

acreditam. As pessoas lêem a Bíblia de jeitos muito

diversos. Isso é bom? Com certeza é bom. O

problema é que encontramos muitos jeitos que não

estão de acordo com os desejos de Deus, com a

Revelação de Deus para a humanidade. Tem gente

que acabou criando seus deuses, criando seu próprio

Jesus e usa a Bíblia e Jesus (sua interpretação de

Jesus) não mais para libertar, para ajudar o povo a

ser feliz e encontrar Deus de novo, mas para oprimir,

dominar e controlar.

A maioria das pessoas esqueceram o que

significa a ‘verdadeira religião’ ou o ‘verdadeiro

culto a Deus’. Acho que podemos lembrar alguns

textos:

i. A religião pura e imaculada para com

Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as

viúvas nas suas tribulações e guardar-se da

corrupção do mundo (Tg 1,27)

ii. Aquele que quer gloriar-se glorie-se disso:

que ele tenha inteligência e me conheça,

porque eu sou o Senhor que pratico o

amor, o direito e a justiça na terra. Porque é

disso que eu gosto, oráculo do Senhor! (Jr

9,23)

Por isso é muito importante redescobrir a Bíblia,

como fonte de fé e como instrumento de Deus

(Palavra de Deus) para nos ajudar a sermos felizes e

a libertar o povo da opressão, exatamente como Ele

próprio fez várias vezes e, com certeza, vai continuar

fazendo.

Abrindo a Bíblia vocês encontrarão várias

respostas para a pergunta de todos os dias:

o que é a Bíblia? Para que ela serve? Como

eu devo usá-la?

A Bíblia é como gente amiga. Quando você

conhece alguém, demora um pouco para você ficar

intima da pessoa, da sua família, freqüentar a casa,

fazer programas juntos, etc. Tem gente que você só

conhece. Tem gente que você conhece e cria

intimidades, fica amiga. Mas para isso, você precisa

freqüentar sua casa, você precisa estar junto com ela,

se relacionar com essa pessoa e seu ambiente.

Quanto mais tempo você passa com essa pessoa,

mais intima você fica dela. Vai chegar um tempo que

você já vai estar entrando na casa dela pela cozinha,

sem precisar bater palmas (ou campainha) e sem

precisar avisar antes. Vai ser sempre um prazer estar

juntas.

Assim é a Bíblia. Muita gente não criou ainda

essa intimidade com ela. Isso porque não “freqüenta”

as páginas da Bíblia costumeiramente. Pode ser

porque não deixa a Palavra de Deus falar. Vão

procurar na Bíblia somente “algumas coisas” para

justificar o conhecimento já adquirido ou os

conceitos já prontos na cabeça. Só USA a Bíblia. A

Bíblia se tornou um pequeno livro de receitas para

tudo.

A Bíblia precisa ser como uma amiga.

Precisamos querer nos relacionar com ela. Abrir suas

páginas, ler suas palavras, entrar no seu mundo para

podemos comer juntos na mesma mesa. É bom que a

Bíblia se torne íntima nossa e assim possamos, na

leitura e na oração, perceber a revelação de Deus em

Jesus Cristo.

“Tua palavra é lâmpada para meus pés, Senhor.

Lâmpada para meus pés e luz, luz para o meu

caminho” (Sl 119,105)

A Bíblia é em primeiro lugar Palavra de Deus. E

é palavra de Deus espalhada por muitos livros. A

palavra “Bíblia” vem da língua grega e significa, na

tradução literal, “livros”. Por isso costumamos

chamá-la de “escritos sagrados”. É mais uma

biblioteca, uma coleção de escritos cujo objetivo é

nos ajudar a entender e perceber a Deus que se

revela para a humanidade. Esses livros revelam o

desejo de Deus e colaboram para que a Obra de Deus

seja realidade concreta na vida das pessoas e do

mundo.

Mas é importante se dar conta que não é a

primeira Palavra de Deus. A primeira Palavra de

Deus é o mundo, a criação. A Bíblia (os livros

sagrados) veio bem depois para ajudar a devolver

pro mundo sua bondade e beleza.

Que significa ‘Palavra’ quando aplicamos isso

para a Bíblia? Hoje em dia “palavra” se tornou

simplesmente um código de comunicação entre nós.

Para a Bíblia “palavra” é um acontecimento, uma

ação concreta. Vem do hebraico “dabar'”. Veja a

primeira página do Gênesis! Quando Deus

pronuncia uma palavra, o que acontece? Acontece

algo de concreto: a luz aparece, os animais são

criados, o ser humano vive. Os profetas podem ver a

Palavra de Deus. Então, quando falamos que a Bíblia

é palavra de Deus precisamos nos dar conta de que

ela é um instrumento pascal, de ressurreição, de

mudança de vida concreta em nossa história. Ler a

Bíblia nos leva a uma mudança de vida em direção a

Deus e ao Reino.

A Bíblia é lâmpada para os pés e luz para o

caminho, diz o Salmo. Que significa isso? Que a

Bíblia é um instrumento e não um fim em si mesma.

Experimentem olhar para uma luz fixamente. Olhem

para cima e fixem seus olhos na lâmpada ou no sol.

O que acontece? Ficamos impedidos de enxergar

depois. Ficamos ofuscados. Para que serve a luz?

Para iluminar o caminho. Portanto o nosso olhar

deve estar fixo no caminho. A luz precisa estar em

nossas mãos para que o caminho seja fácil de trilhar,

para que não tropecemos, para que não nos

enganemos no rumo a tomar. Mas não podemos ficar

olhando para a luz (para a Bíblia) todo o tempo. Se

assim o fizermos, certamente vamos errar o rumo e

acabar num abismo, muito machucados e

machucadas.

O Novo Testamento

Os escritos que temos e que conhecemos como

Novo Testamento, ou Segundo Testamento são fruto

de uma longa caminhada das comunidades cristãs

do primeiro século da nossa era. Na verdade,

“somente no segundo século temos deveras provas

de que os cristãos/ãs1 usavam o termo “Novo

Testamento” para designar seus próprios escritos...”2

Por muito tempo o que existia como ‘escritura’ era

somente o que conhecemos por Bíblia dos Setenta3.

Quando lemos no Segundo Testamento a expressão

“Está escrito” ou “conforme foi dito” estamos diante

de uma referência do Primeiro Testamento traduzido

do hebraico para o grego. Era esse o texto conhecido

das comunidades, provavelmente também de Jesus. 1 A linguagem inclusiva de gênero é opção deste autor, não necessariamente constando no texto original das obras referenciadas.

2 Brown, R. Introdução ao Novo Testamento.2004, p. 56.

3 A Septuaginta, ou Tradução dos Setenta, remonta ao século II a.C. Foi uma iniciativa de um imperador que reuniu um grupo de anciãos para traduzir a Bíblia Hebraica para o grego, visto que a maioria das pessoas que a liam não sabiam mais a língua original.

Os evangelhos canônicos4 são escritos anônimos

que apareceram organizadamente a partir da década

de 70 da nossa era. As comunidades que os

escreveram não estavam preocupadas em colocar

títulos ou autoria. Não era um costume naquela

época tal prática. Também não estavam preocupadas

em fazer uma historiografia ou biografia de Jesus. O

mais importante era continuar a reflexão, responder

a perguntas, solidificar caminhos, alimentar a fé. Esta

informação é importante ressaltar, visto que estamos

lendo escritos ‘sobre o tempo de Jesus’ mas que

surgiram fora da Palestina e muitos anos depois do

evento da morte e ressurreição dele. Mais do que ler

o tempo de Jesus, estamos aqui lendo o tempo das

igrejas que guardaram, contaram e escreveram a

memória de Jesus: origem, conteúdo e destino da

4 Aqui falamos de Mateus, Marcos, Lucas e Joao. Há muitos outros evangelhos escritos naquela época que não entraram no Cânon oficial. São considerados como escritos “apócrifos”. Do grego apokruphos, que quer dizer “subtraído da vista, oculto, secreto”.

caminhada. Muitos do que lemos nos Evangelhos só

será compreendido a partir do contexto em que eles

aparecem. Ou seja, estaremos caminhando entre os

anos 70 e 100 d.C e não nas três primeiras décadas do

tempo de Jesus.

Clique aqui para ver a linha do tempo e

localizar-se no primeiro século com os

escritos canônicos do Novo Testamento.

Depois da morte e ressurreição de Jesus, os

discípulos/as ficaram perplexos, alguns congelados

de medo, outros/as fugiram. O texto do casal de

Emaús, que que vamos logo em seguida, é bem

ilustrativo para perceber como estavam se sentindo a

agindo os/as discípulos/as no tempo de Jesus e

também no tempo em que o Evangelho de Lucas foi

escrito (anos 80-85 d.C).

A partir da ressurreição de Jesus muitas

comunidades surgiram e se espalharam pelo

império. Muita gente nova, de diferentes tradições

culturais (ainda que a cultura helenística tenha sido a

marca mais acentuada) e de religiões diferentes. As

comunidades agora não eram formadas somente por

judeus convertidos. Isto era uma alegria mas também

um ponto de conflitos internos. Muitas idéias

diferentes, muitas imagens de Jesus foram sendo

criadas.

Os escritos vão surgindo com a intenção de

apontar caminhos para o Cristo, para não haver

‘desvios’ neste caminho de compromisso com a vida

plena.

Cronologia dos textos no NT

Como já dissemos, o NT é fruto de uma longa

caminhada das comunidades do primeiro e segundo

séculos da nossa era. No tempo de Jesus não existia

nada escrito ainda do NT. Somente a Bíblia Hebraica

e a Septuaginta. Somente depois de alguns anos da

morte e ressurreição de Jesus é que aparecem os

primeiros escritos5. Em primeiro lugar temos as

cartas de Paulo, as que chamamos ‘autênticas’ (são 7:

1Ts, 1Cor, 2Cor, Gl, Fl, Fm, Rm). As outras são de

discípulos/as dele. Estamos aqui pelos anos 51 a 70

mais ou menos. Depois temos os evangelhos

sinóticos (objeto do nosso estudo) em torno dos anos

71 a 80-85. Pelo final do século aparece o Evangelho

de João e o Apocalipse. A partir do ano 80 aparece a

maioria dos outros escritos: as outras cartas ditas de

Paulo (Cl, Ef, 2Ts, Hb, 1Tm, 2Tm, Tt) e as cartas

5 Veja quadro de formação do NT anexo.

católicas (1Jo, 2Jo, 3Jo, Jd, 1Pd, 2Pd, Tg). É um tempo

de crise forte entre os cristãos e os judeus e entre os

cristãos e o império. Por isso temos uma

concentração grande de textos teológicos aqui.

Os escritos do NT surgem da necessidade das

comunidades de irem “mergulhando” cada vez mais

no mistério de Cristo, nada fácil de compreender e

muito menos de testemunhar. No terceiro anuncio da

paixão de Jesus, quando os/as discípulos/as

perguntavam quem sentaria a direita e quem a

esquerda (eles/as não tinham entendido nada ainda,

não se deram conta de que sentar perto de Jesus era

morrer na cruz como ele), Jesus responde: “Não sabeis

o que estais pedindo. Podeis beber o cálice que eu vou beber

e ser batizados com o batismo com que serei

batizado?” (Mc 10,38).

Depois da morte e ressurreição de Jesus, quando

as comunidades já não o tinham em carne e osso e

com o avanço do cristianismo pelo império, muitas

dúvidas foram surgindo, muitas versões da história

de Jesus apareceram, muitos caminhos foram

aparecendo, muitas imagens de Jesus se impuseram.

Como congregar tudo isso? Como permanecer no

caminho ‘correto’ que Jesus mesmo apontou como

caminho de salvação e partilha de si mesmo para o

mundo?

As cartas, os evangelhos e o apocalipse vão

aparecendo aos poucos para responder a essas

questões de fé, que afetam diretamente a prática da

vida. Vários grupos começaram a se preocupar em

recolher, por escrito, para compartilhar, alguns fatos,

milagres, sinais, parábolas, histórias, ditos de Jesus.

Evangelho: boa notícia para os pobres, má noticias

para os poderosos

Conforme vários estudiosos/as, no Novo

Testamento, quando falamos de Evangelho, não

estamos falando de um escrito ou conjunto de

escritos. Estamos falando de algo que chega como

boa notícia, boa nova. Vem de uma palavra grega.

No mundo não-cristão essa palavra era usada para

“anúncios em vitórias em batalhas; no culto imperial,

o nascimento e a presença do imperador constituíam

boas novas para o mundo romano. Na Septuaginta,

as palavras corretalas traduzem uma expressão

hebraica que tem a acepção semelhante a

proclamação de boas novas, especialmente da vitória

de Israel ou da vitória de Deus. Mais amplamente,

pode abranger a proclamação das ações gloriosas em

favor de Israel”6. Mas para o mundo cristão,

6 BROWN, R. op. cit., pag 172

posteriormente, interpreta-se como boa notícia que

chega com alegria e muita esperança. Esta palavra

aparece pela primeira vez na Septuaginta em Isaías

52,7: “Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que

anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que

anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a

Sião: O teu Deus reina!” . Isso se encaixa

perfeitamente com a missão de Jesus: revelar o Reino

de Deus e a misericórdia de Deus. Essa era a boa

notícia que chegou através de Jesus. Devemos

considerar que Jesus mesmo não deve ter usado essa

expressão. Isso vem das igrejas que nasceram e se

organizaram décadas depois de sua ressurreição.

A maioria das vezes em que é usada esta palavra

(Evangelho) é por Paulo nas suas cartas. Ela aparece

76 vezes o substantivo e desses Paulo usa 60 vezes a

palavra. Os/as cristãos/ãs utilizavam esta palavra

para designar sempre a Boa Nova que é Jesus e sua

pregação e pratica. Nunca foi relacionada com os

escritos que hoje conhecemos como Evangelhos. A

primeira vez que é usada para designar os escritos

foi no século II por Justino (+165)7.

Afirmar que os escritos que estavam circulando

sobre Jesus e sua pratica era um “Evangelho”

significava mais do que simplesmente designar um

nome para estes. Significava afirmar uma posição

política diante do império romano e de outras

autoridades da época. Dizer que Jesus é o Evangelho

tem conotações religiosas e políticas. Para a religião

de Jesus significa dizer que n’Ele se concretiza as

promessas feitas por Deus aos antepassados. Isso era

um escândalo, visto que Jesus não se parecia com a

idéia de messias que os judeus guardavam na

memória. E, politicamente, significa desautorizar o

7 Dialogo 10,2.

império. O verdadeiro ‘evangelho’ não vem do

império, mas de Jesus que com sua morte e

ressurreição afirma que a vida está acima de tudo e

que Deus não compactua com as atrocidades e

opressões que vem do sistema imperial. Acreditar

em Jesus, seguir seu caminho significava, e deveria

significar ainda hoje, um compromisso social,

político e econômico de viver uma vida pautada

pelos valores que ele pregou e viveu. Ser cristão/ã é

parecer com Jesus e seguir seus passos.

Sobre a origem dos evangelhos “a santa Madre

Igreja, com firmeza e máxima constância, sustentou e

sustenta que os quatro mencionados Evangelhos,

cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem

fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver

entre os seres humanos, realmente fez e ensinou para

a eterna salvação deles, até o dia em que foi elevado

(At 1,1-2). Os Apóstolos, após a ascensão do Senhor,

transmitiram aos ouvintes aquilo que Ele dissera e

fizeram, com aquela mais plena compreensão de que

gozavam, instruídos que foram pelos gloriosos

ensinamentos de Cristo (Jo 14,26; 16,13) e

esclarecidos pela luz do Espírito de Verdade (Jo 2,22;

12,16; 14,26; 16,12-13; 7,39). Os autores sagrados

escreveram os quatro evangelhos, escolhendo certas

coisas das muitas transmitidas ou oralmente ou por

escrito, fazendo síntese de outras ou explanando-as

com vistas à situação das igrejas, conservando enfim

a forma de proclamação, sempre de maneira a

referir-nos a respeito de Jesus com verdade e

sinceridade8. Pois os escreveram, seja com

fundamento na própria memória e recordações, seja

baseado no testemunho daqueles ‘que desde o

começo foram testemunhas oculares e ministros da

8 Cf. Instrução Sancta Mater Ecclesia, da Comissão Pont. Para os Estudos Bíblicos: AAS 56 (1964) pag. 715

palavra’: com a intenção de que conheçamos ‘a

verdade’ daquelas palavras com que fomos

instruídos (Lc 1,2-4)” .(DV 19)

Caminhar para entender – reconhecer Jesus

A comunidade de Lucas, pelos anos 80 d.C.

estava meio perdida na caminhada. Parece que a

distância do evento da Cruz de Jesus fez com que a

compreensão do que significa ser cristão se perdesse.

Então a comunidade conta uma história para retomar

o caminho para Jesus.

Vamos ler Lucas 24,13-35.

Algumas perguntas para vocês estudarem o

texto:

1. Ler com bastante atenção. Ler umas duas ou

três vezes em traduções diferentes.

2. Quem são as personagens do texto?

3. Qual a situação dos discípulos? Como eles

estão? Se vocês fossem caracterizá-los, o que diriam

deles? Como estão caminhando? Como estão se

sentindo?

4. Quais as ações de Jesus? Tentem resumir em 7

verbos o que Jesus faz.

5. Como era a situação dos discípulos no começo

da história e como é no final?

6. Quem seria o outro discípulo? Poderia ser

uma discípula? Procure nas passagens dos

evangelhos quem ficou aos pés da cruz.

Clique aqui para assistir um documentário

sobre a expansão da Igreja. As pessoas

facilitadoras vão ajudar vocês a

aprofundarem com questões e comentários

na plataforma.