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1 RI 391.2/14 COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO VALE DO RIBEIRA E O PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA – PBQ PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE REGISTRO COMUNIDADE QUILOMBOLA PEROPAVA Tendo em vista a solicitação do Núcleo de Políticas públicas do Ministério Público do estado de São Paulo - estudo sobre as condições sociais das comunidades quilombolas do Vale do Ribeira, com vistas a identificar quais ações do Programa Brasil Quilombola (PBQ) podem ser viabilizadas na região – apresentamos relatório técnico elaborado pelo Núcleo de Assessoria Psicossocial do Vale do Ribeira a respeito da comunidade de remanescentes de quilombo Peropava. Promotoria de Justiça de Registro: A cidade de Registro, localizada às margens da Rodovia Regis Bittencourt, fica entre as capitais dos estados de São Paulo e Paraná, cidades de São Paulo e Curitiba. Com população de aproximadamente 54 mil habitantes é a cidade com os melhores índices de desenvolvimento do Vale do Ribeira. Seu grau de urbanização atinge cerca de 88% e a taxa geométrica de crescimento anual da população é de 0,10%a.a., abaixo dos valores médio do estado que chegam a 1,09%a.a. Conforme o IBGE 2010, foram registrados 14.692 domicílios na área urbana e 1.802 na área rural. A cidade de Registro é também sede da área regional do Vale do Ribeira do Ministério Público de São Paulo, tendo sido formalizada através da nomeação de diretoria própria no ano de 2015. A promotoria conta com 4 cargos para promotores, contemplando as cidades de Registro e Sete Barras. Também atua no município o Grupo de Atuação Especial do Meio ambiente –

COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO VALE DO RIBEIRA E O … · 1 ri 391.2/14 comunidades quilombolas do vale do ribeira e o programa brasil quilombola – pbq promotoria de justiÇa de registro

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RI 391.2/14

COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO VALE DO RIBEIRA E O

PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA – PBQ

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE REGISTRO

COMUNIDADE QUILOMBOLA PEROPAVA

Tendo em vista a solicitação do Núcleo de Políticas públicas do

Ministério Público do estado de São Paulo - estudo sobre as condições

sociais das comunidades quilombolas do Vale do Ribeira, com vistas a

identificar quais ações do Programa Brasil Quilombola (PBQ) podem ser

viabilizadas na região – apresentamos relatório técnico elaborado pelo

Núcleo de Assessoria Psicossocial do Vale do Ribeira a respeito da

comunidade de remanescentes de quilombo Peropava.

Promotoria de Justiça de Registro:

A cidade de Registro, localizada às margens da Rodovia Regis

Bittencourt, fica entre as capitais dos estados de São Paulo e Paraná, cidades

de São Paulo e Curitiba. Com população de aproximadamente 54 mil

habitantes é a cidade com os melhores índices de desenvolvimento do Vale

do Ribeira. Seu grau de urbanização atinge cerca de 88% e a taxa

geométrica de crescimento anual da população é de 0,10%a.a., abaixo dos

valores médio do estado que chegam a 1,09%a.a. Conforme o IBGE 2010,

foram registrados 14.692 domicílios na área urbana e 1.802 na área rural.

A cidade de Registro é também sede da área regional do Vale do

Ribeira do Ministério Público de São Paulo, tendo sido formalizada através da

nomeação de diretoria própria no ano de 2015. A promotoria conta com 4

cargos para promotores, contemplando as cidades de Registro e Sete Barras.

Também atua no município o Grupo de Atuação Especial do Meio ambiente –

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GAEMA, prestando atendimento a 20 municípios e 10 promotorias de justiça.

Há uma comunidade reconhecida como quilombola no município de Registro,

denominada Peropava.

A cidade de Sete Barras possui aproximadamente 13 mil habitantes, o

município não possui comunidade quilombola em seu território.

A Comunidade Quilombola Peropava:

De acordo com a publicação no diário oficial de SP – de 23 de julho de

2011, o parecer da assistência especial de quilombos do ITESP informa: ―A

comunidade de Peropava ocupa suas terras desde 1850. Os primeiros a morarem

nesse local foram negros livres vindos do bairro de Guaviruva e da cidade de Iguape,

em busca de terras livres para morar e criar seus filhos.

Nesse lugar residem 25 famílias, que na sua grande maioria, sobrevivem do

trabalho como mensalista e diarista nas fazendas dos arredores de suas terras

trabalhando nas plantações de banana e pupunha. Além disso, comercializam em

Registro o produto excedente de pequenas roças que mantém para o consumo

doméstico e mudas de plantas ornamentais. Eles plantam arroz, feijão, mandioca,

café, cará, milho, cana-de-açúcar, palmito, verduras e legumes como cenoura,

vagem, berinjela, chuchu, abobrinha, alface, couve, escarola, e frutas como mamão,

jabuticaba, jaca, framboesa, abacaxi, acerola, tomate e mana. Além da criação de

pequenos animais como galinhas e porcos. Algumas famílias vendem na cidade de

Registro a farinha de mandioca que produzem de forma artesanal na comunidade.

Um dos grandes problemas enfrentado por essa população é a falta de terras

para plantar, pois devido ao processo de expropriação vivido pelo grupo mais da

metade de suas terras tradicionalmente utilizadas para a agricultura estão atualmente

na posse de pessoas de fora da comunidade. Assim existem 15 famílias que trabalham

e moram em fazendas vizinhas as terras de Peropava que foram obrigadas a deixar o

local por falta de espaço para plantarem. Muitos jovens deixam a comunidade e

seguem para São Paulo e Curitiba em busca de trabalho.‖

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Comunidade Peropava e as políticas públicas para comunidades

quilombolas:

Durante a visita à Comunidade Remanescente de Quilombo Peropava

foi possível abordar algumas questões acerca das percepções de seus

moradores ao acesso a bens sociais, a partir da execução das políticas

públicas, mais especificamente em relação àquelas reunidas no plano de

ação do Programa Brasil Quilombola. Para além disso, foram realizadas

reuniões com órgãos municipais e contatos com profissionais para o alcance

das informações necessárias na concretização do presente estudo.

Para formalizar o presente documento, foi pensada a sistematização

das informações colhidas na mesma dinâmica do documento elaborado pela

Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial, a SEPPIR. Deste

modo, os assuntos serão divididos em grandes eixos temáticos – (I) acesso a

terra; (II) infraestrutura e qualidade de vida; (III) desenvolvimento local e

inclusão produtiva; (IV) direitos e cidadania – sendo que cada um destes terá

subdivisões que lhes serão pertinentes. Esse cuidado foi tomado como forma

de garantir que a maior parte das informações seja exposta para o

conhecimento do leitor.

Como forma de esclarecimento acerca das políticas oferecidas no

PBQ, todos os itens serão apresentados com a descrição presente no guia de

políticas públicas para comunidades quilombolas, no relatório de gestão 2012

do PBQ e/ou outras fontes de informações seguras a respeito das políticas

apresentadas.

Eixo I – Acesso à Terra:

Esse eixo foi criado pelo Programa Brasil Quilombola no intuito de

acompanhar a execução dos ―trâmites necessários para a certificação e

regularização fundiária das áreas de quilombo, que constituem título coletivo

de posse das terras tradicionalmente ocupadas‖.

4

A partir de alguns levantamentos bibliográficos foi possível perceber que

há um longo caminho a ser percorrido quando a comunidade remanescente

tem a pretensão de regularizar e titularizar suas terras.

No que se refere às legislações federais, o próprio Guia de Políticas

Publicas Para Comunidades Quilombolas traz marcos legais para atuação na

regularização fundiária:

(a) Na Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216 que

garantem a preservação cultural, ao passo que o artigo 68 do ADCT – dispõe sobre à

propriedade das terras de comunidades remanescentes de quilombos; (b)

Convenção 169 da OIT (decreto 5051 de 2004) diz dos direitos à autodeterminação de

Povos e Comunidades Tradicionais; (c) Lei nº 12.288 de 20 de julho de 2010 – dispõe

sobre o Estatuto da Igualdade Racial; (d) Decreto nº 4887 de 20 de novembro de 2003

– trata da regularização fundiária de terra de quilombos e define as responsabilidades

dos órgãos governamentais. (f) Decreto nº 6040 de 07 de fevereiro de 2007 – institui a

Política Nacional de desenvolvimento Sustentável dos Povos e comunidades

Tradicionais; (g) Decreto nº 6261 de 20 de novembro de 2007 – diz sobre a gestão

integrada para o desenvolvimento da Agenda Social Quilombola no âmbito do

Programa Brasil Quilombola; (h) Portaria Fundação Cultural Palmares nº 98 de 26 de

novembro de 2007 – institui o Cadastro Geral de Remanescentes das Comunidades

dos Quilombos da Fundação Cultural palmares, também autodenominadas Terras de

Preto, Comunidades Negras, Mocambos, Quilombos dentre outras denominações

congêneres. (i) Instrução Normativa do INCRA nº 57 de 20 de outubro de 2009 –

Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação,

demarcação desintrusão, titulação e registro de terras ocupadas por remanescentes

das comunidades dos quilombos.

Já no estado de São Paulo, os marcos legais tiveram sua gênese com o

decreto 40723 de março de 1996 que viria regulamentar no âmbito estadual o

artigo 68 do ADCT da Constituição Federal de 1988. Instituindo o Grupo de

Trabalho Multidisciplinar para a regularização fundiária dos remanescentes das

ocupações de quilombos. A partir de então novas leis e decretos precisaram

ser instituídos:

(a) Decreto 40.723 de 21 de março de 1996 – Institui Grupo de Trabalho

para os fins que especifica e dá providências correlatas; (b) Lei 9.757 de 15 de

5

setembro de 1997 – Dispõe sobre a legitimação de posse de terras públicas estaduais

aos remanescentes das comunidades de quilombos, em atendimento ao artigo 68 do

Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal; (c) Decreto

41.774 de 13 de maio de 1997 – dispõe sobre o Programa de Cooperação Técnica e

de Ação Conjunta a ser implementado entre a Procuradoria Geral do Estado, a

Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, a Secretaria do Meio Ambiente, a

Secretaria da Cultura, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, a Secretaria da

Educação e a Secretaria do Governo e Gestão Estratégica, para identificação,

discriminação e legitimação de terras devolutas do Estado de São Paulo e sua

regularização fundiária ocupadas por Remanescentes das Comunidades de

Quilombos, implantando medidas sócio-econômicas, ambientais e culturais; (d)

Decreto 42.839 de 4 de fevereiro de 1998 – Regulamenta o artigo 3º da Lei nº 9.757, de

15 de setembro de 1997, que dispõe sobre a legitimação de posse de terras públicas

estaduais aos Remanescentes das Comunidades de Quilombos, em atendimento ao

artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal;

(e) Decreto 43.651, de 26 de novembro de 1998 – Dá nova redação e acrescenta

parágrafo único ao artigo 3º do Decreto nº 22.717, de 21 de setembro de 1984, com a

redação dada pelo Decreto nº 28.348, de 22 de abril de 1988, que declara Área de

Proteção Ambiental da Serra do Mar; (f) Lei 10.207 de 08 de janeiro de 1999 – Cria a

Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo ―José Gomes da Silva‖ – ITESP e

dá outras providências correlatas; (g) Decreto 43.838 de 10 de fevereiro de 1999 -

Acrescenta dispositivo ao Decreto nº 41.774, de 13 de maio de 1997, que dispõe sobre

o Programa de Cooperação Técnica e de Ação Conjunta a ser implementado para

identificação, discriminação e legitimação de terras devolutas do Estado de São Paulo

e sua regularização fundiária ocupadas por Remanescentes das Comunidades de

Quilombos, implantando medidas sócio-econômicas, ambientais e culturais; (h)

Decreto 44.293 de 4 de outubro de 1999 – Acrescenta dispositivo que especifica ao

Decreto nº 40.135, de 8 de junho de 1995, que cria o "Parque Estadual Intervales" e dá

providência correlata; (i) Decreto 44.294 de 4 de outubro de 1999 – Regulamenta a Lei

nº 10.207, de 8 de janeiro de 1999, institui a Fundação Instituto de Terras do Estado de

São Paulo "José Gomes da Silva" - ITESP, e dá providências correlatas; (j) Decreto nº

44.944, de 01 de junho de 2000 – Aprova os Estatutos da Fundação Instituto de Terras

do Estado de São Paulo "José Gomes da Silva" – ITESP; (l) Lei 10.850 de 06 de julho de

2001 – Altera os limites dos Parques Estaduais de Jacupiranga e Intervales, visando o

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reconhecimento da aquisição do domínio das terras ocupadas por remanescentes

das comunidades de quilombos, nos termos do artigo 68 do Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias da Constituição Federal; (m) Decreto nº 48.328, de 15 de

dezembro de 2003 – Institui, no âmbito da Administração Pública do Estado de São

Paulo, a Política de Ações Afirmativas para Afrodescendentes e dá providências

correlatas;

A partir dessa base legal, o governo do Estado de São Paulo passou a

cooperar com a União (INCRA) no que tange a regularização fundiária e a

reforma agrária e posteriormente na regularização das terras quilombolas. A

diferença na atuação dos órgãos, é que o INCRA atua quando as

comunidades quilombolas estão pleiteando áreas de terras devolutas da

União ou então propriedades já ocupadas por posseiros, quer seja,

propriedades privadas. O ITESP, por seu turno, inicia um estudo antropológico

para o reconhecimento dessas comunidades quando estão reconhecidas e

ocupam áreas públicas estaduais, assim recebem do Estado o título de

domínio das terras, emitido em nome da associação de moradores.

A comunidade Peropava teve seu reconhecimento em 2011, a partir da

aprovação do RTC do Itesp publicado no Diário Oficial do Estado1, sendo que

um dos problemas enfrentados pela comunidade no momento é a intrusão de

terceiros em suas terras, já há um processo correndo na justiça, todavia, os

quilombolas declararam haver uma convivência pacifica entre as partes.

Notamos em diferentes momentos do estudo realizado a notável

relação entre as questões quilombolas e as problemáticas de acesso a terra.

Apesar de já reconhecido, os moradores do quilombo Peropava apontaram a

dificultosa relação com a justiça no âmbito do direito ambiental e o

distanciamento da aplicação das leis com as suas práticas de convivência e

de reprodução social no meio em que vivem. De acordo com os moradores,

já foi possível subsistir através da produção de itens importantes para a

1 Diário Oficial Poder Executivo - Seção I – São Paulo, 121 (138) de 23 de julho de 2011.

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sobrevivência alimentar, hoje o pouco do cultivo agrícola é realizado com

dificuldade.

Atualmente há moradores que respondem criminalmente por algumas

intervenções indevidas no meio ambiente, resultando na cobrança de altos

valores de multa. Como defesa, os quilombolas dizem utilizar formas de

convivência harmônica com a natureza, importantes para a produção

cultivada há anos na comunidade, eles apontam o quanto as leis atuais não

consideram a cultura quilombola.

Apesar da forte relação com a agricultura familiar, devido às restrições

de plantio e roça, a realidade atual difere da presente anos atrás. A maioria

dos quilombolas teve sua relação com o solo restringida, os alimentos são

adquiridos quase que em sua maioria através da compra no centro urbano, as

ocupações profissionais são baseadas em empregos formais e informais, nas

proximidades do centro de Registro e nas fazendas da região. Os

denominados ―terceiros‖ empregam alguns quilombolas em suas terras,

localizadas dentro da área quilombola, e que estão em disputa judicial.

Foi possível perceber que as crianças e jovens têm pouco envolvimento

com a cultura agrícola e há êxodo rural entre os jovens. Há um ideário pela

busca de melhor qualidade de vida em grandes centros, como Curitiba.

Tais percepções foram possíveis através de conversas com os

participantes do estudo. Alertamos a necessidade de compreensão acerca

das mudanças intrínsecas à dinâmica social, como os avanços tecnológicos, a

competitividade do mercado e a industrialização das formas de produção

agrícola. Entretanto, é válido salientar que parte dessas mudanças deu-se por

imposições verticais, algumas delas provenientes das leis ambientais e o

distanciamento do sistema de justiça com as comunidades tradicionais que

imprimiram uma nova configuração dentro dos quilombos.

O principal alerta presente nas percepções possíveis acerca desse tema

se dá em torno do atual contexto das comunidades quilombolas a respeito

das formas de apropriação e utilização da terra e qual a posição e papel do

estado acerca dessas questões. Para onde estamos caminhando? Como

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contribuir para a resistência da história dos quilombos? Em relatórios anteriores2

foram apontadas diferentes proposições e envolvimento do estado no Vale do

Ribeira, contribuindo com a concretização do emblemático título de ―região

mais pobre do estado de são Paulo‖. Evidencia-se assim que não há

neutralidade no âmbito da garantia de direitos, bem como as ações

assumidas na atualidade acarretarão alterações que poderão beneficiar ou

prejudicar a vida nos quilombos e a preservação de suas culturas.

A atuação com comunidades quilombolas deve perpassar uma

compreensão sensível ao histórico dos seus povos, suas formas de cultura e a

relação com a terra em que vivem, possibilitando uma aproximação cordial e

a construção de estratégias humanitárias, preservando o meio ambiente e a

história das famílias que ele habita.

Eixo II: Infraestrutura e qualidade de vida:

O eixo infraestrutura e qualidade de vida envolve as seguintes ações:

saneamento básico, acesso a água para consumo e produção, programa de

habitação, acesso a energia elétrica. Ressaltamos que uma vez que a

comunidade quilombola é localizada em área rural, há dificuldades de acesso

a bens e serviços comuns às demais famílias rurais.

Esgoto: O Programa de Aceleração do Crescimento – PAC

No Guia de Políticas Públicas PBQ: As ações são programadas

anualmente, em função da disponibilidade orçamentária para cada exercício

e considerando prioridades de governo. A seleção de comunidades

quilombolas a serem contempladas na programação é feita com base nas

2 Ver em:

http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Nucleo_Politicas_Publicas/ArtigosEstudos/

NPPartValeRibeira/Microsoft%20Word%20-

%20RI%20581%2013%20NPP%20Desenvolvimento%20e%20participa%2B%C2%BA%2B%C3

%BAo%20Vale%20do%20ribeira_0.pdf

9

informações de demandas prestadas pela SEPPIR à Funasa. A Funasa tem

priorizado o atendimento de demandas dos municípios que possuem projetos

técnicos de engenharia elaborados. Os municípios encaminham suas

demandas às Superintendências Estaduais da Funasa ou à SEPPIR.

Atualmente na comunidade Peropava não há sistema de saneamento

básico e a forma de descarte de dejetos é realizada através de fossa negra.

Sabemos que a questão de saneamento no município de Registro é matéria

de inquérito civil no MP/SP, abrangendo bairros do perímetro urbano.

Destacamos a importância da presença de técnicos para orientação e

apoio para a elaboração de projetos de engenharia, mencionado acima no

PAC, como para a concretização de alternativas mais saudáveis de descarte

de dejetos. Notamos o interesse em formas mais limpas para o destino do

esgoto, com o intuito de proteger o meio ambiente e a saúde da

comunidade, como as fossas sépticas, entretanto eles salientaram dificuldades

em se arcar com os custos que seriam gerados.

A escola municipal localizada na comunidade quilombola também

utiliza fossa negra, entretanto nos foi informado que a prefeitura mantém a

manutenção e limpeza periodicamente, com acompanhamento do

engenheiro vinculado ao departamento municipal de obras.

Sabemos que o atraso na efetivação da política abrangente de

saneamento é uma problemática presente em diferentes regiões do Brasil. De

acordo com Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental3, a

pesquisa publicada no Atlas do Saneamento 2011 do Instituto de Geografia e

Estatística (IBGE) : ―A falta de sistemas de esgotamento sanitário atinge quase

metade (44,8%) dos municípios brasileiros. A Região Norte é a que apresenta a

situação mais grave. Apenas 3,5% dos domicílios de 13% dos municípios da

região têm acesso à rede coletora de esgoto [...] A pesquisa aponta que, dos

serviços de saneamento, o esgotamento sanitário é o que apresenta menor

abrangência municipal. Em 2008, 68,8% do esgoto coletado no país recebeu

3 http://www.abes-mg.org.br

10

tratamento. Essa quantidade, porém , foi processada por apenas 28,5% dos

municípios brasileiros, confirmando acentuadas diferenças regionais [...] A

maioria dos municípios sem sistema está em áreas rurais e tem população

dispersa, menos de 80 habitantes por quilômetro quadrado. Nesses locais, os

dejetos são jogados em fossas sépticas, valas a céu aberto, fossas

rudimentares ou diretamente em rios, lagoas, riachos ou no mar.‖

Notamos na comunidade um discurso de desamparo em algumas

questões. Na data da visita havia sido iniciada a coleta de lixo residencial dos

moradores, ainda sem garantias se o serviço ofertado seria efetivo e regular,

uma vez que há insatisfação e descrença nas ações públicas desenvolvidas

na região. Os coletores, local onde os sacos de lixos deveriam ser colocados,

prometidos pelo município não haviam sido disponibilizados, os moradores

utilizaram baldes e outros bens próprios para o armazenamento do lixo até a

coleta.

Notamos um distanciamento não só físico/geográfico, como de

pertencimento e assistência, foram mencionados esforços contínuos para o

atendimento de demandas básicas, como o caso da coleta de lixo, além da

incerteza acerca da efetiva manutenção dos serviços prestados.

Água: O Programa Água para Todos apresentado no PBQ é

voltado ao atendimento de famílias do semiárido com renda familiar por

pessoa até R$ 140, 00, que estejam incluídas no Cadastro Único. Não fazendo

parte do Semiárido brasileiro a demanda do município será apresentada ao

Comitê Gestor, coordenado pelo Ministério da Integração Nacional, que

analisará a expansão do programa para outras localidades. Consiste na

construção de Cisternas (para consumo e produção), sistemas simplificados de

produção, pequenas barragens, kits de irrigação.

Na comunidade quilombola Peropava cada família possui o seu poço

que foi providenciado com recurso próprio. A escola municipal localizada no

11

quilombo, segundo informações, não possui fonte de água própria, utilizando

a poço de um vizinho.

De acordo com o que nos foi informado pelos moradores da

comunidade quilombola, houve a elaboração de projeto e viabilizada a

construção de um poço pela prefeitura, entretanto, o mesmo não obteve os

resultados esperados. Sendo utilizado um alto investimento público sem retorno

para a comunidade.

Habitação: Habitação Rural/ Minha Casa Minha vida

―Trabalhadores rurais e agricultores familiares, com renda familiar bruta anual

máxima de R$ 15.000,00, que comprovem enquadramento no Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Família (Pronaf), mediante

apresentação de Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), e trabalhadores

rurais com renda familiar bruta anual máxima de R$ 15 mil. São também

beneficiários do Programa e se enquadram como agricultores familiares:

pescadores artesanais, extrativistas, silvícolas, aquicultores, maricultores,

piscicultores, ribeirinhos, comunidades quilombolas, povos indígenas e demais

comunidades tradicionais. Os projetos que atendem comunidades

quilombolas são priorizados. O Trabalhador Rural ou Agricultor Familiar procura

uma entidade organizadora para que esta constitua grupos e apresente as

propostas a CAIXA; pode ser representada por cooperativa, associação,

sindicato ou poder público (Estado, Município e Distrito Federal).‖

O quilombo Peropava contou com a intermediação de uma

organização não governamental (denominada Mãe Terra, com sede no

nordeste do Brasil) para a adesão ao programa minha casa minha vida,

entretanto houve muitas críticas, uma vez que a organização não

desenvolveu um trabalho contínuo com a comunidade, realizando

intervenções pontuais. Atualmente há certo receio, uma vez que será iniciado

o pagamento das prestações acordadas e não há qualquer previsão para a

12

construção das casas, não houve esclarecimentos ou um canal aberto e ativo

de comunicação acerca das etapas do processo de aquisição dos imóveis.

Na comunidade existem aproximadamente seis casas construídas

através de programas sociais de habitação e foi relatada a demora para a

concretização das etapas de liberação dos recursos disponíveis para as

construções das casas.

Atualmente a falta de clareza a respeito de como se dará a

consolidação da construção das casas através do programa Minha casa,

Minha vida incomoda os moradores da comunidade e há receio sobre a

efetivação do contrato.

Luz: Programa Luz para Todos/ Tarifa Social

―O morador do meio rural que ainda não tem energia elétrica em casa

e não fez o pedido da luz, e desde que se enquadre nos critérios de

atendimento do Programa, devem se dirigir à distribuidora local para

cadastramento.

Tarifa social: As famílias indígenas e remanescentes de quilombos

inscritas no Cadastro Único e que tenham renda familiar por pessoa menor ou

igual a meio salário mínimo, terão direito a desconto de 100% até o limite de

consumo de 50 kWh/mês.‖

Há rede elétrica instalada na comunidade Peropava, de acordo com

os moradores a maioria das instalações foi realizada há algum tempo e

pagaram pela instalação, houve uma casa recentemente que foi

contemplada pelo programa luz para todos.

Sobre a tarifa social os moradores não sabiam informar se estavam

participando do programa, entretanto confirmaram que todos tinham

conhecimento acerca do cadastro único e que procuravam o CRAS sempre

que necessário. Em Registro há uma central de cadastramento, onde os

munícipes fornecem as informações para preenchimento do cadastro único e

são informados acerca dos diferentes programas que podem ser inseridos.

13

Eixo III – Desenvolvimento Local e Inclusão Produtiva:

―O eixo desenvolvimento local e inclusão produtiva do Programa

Brasil Quilombola abarca as ações de fomento produtivo sustentável junto às

organizações das comunidades quilombolas. As ações desenvolvidas nesse

eixo são efetivadas por parcerias com o poder público e organizações da

sociedade civil.‖

Declaração de Aptidão (DAP) ao PRONAF - Programa Nacional

de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

A DAP ―é o instrumento que identifica os agricultores familiares e/ou

suas formas associativas organizadas em pessoas jurídicas, aptos a realizarem

operações de crédito rural ao amparo do Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, em atendimento ao

estabelecido no Manual de Crédito Rural MCR, do Banco Central do Brasil,

Capítulo 10, Seção 2, no inciso V é posto ―Quilombolas que pratiquem

atividades produtivas agrícolas e/ou não agrícolas, de beneficiamento e

comercialização de seus produtos‖4 também fazem jus a esta modalidade de

financiamento.

O Guia de Políticas Públicas do PBQ (2013) esclarece que a DAP é

um documento obrigatório para se acessar as linhas de crédito. Elencando os

requisitos necessários para se conseguir este financiamento.

Contudo em 2014 o Ministério do Desenvolvimento Agrário aprovou

a portaria de nº 21, de 27 de março de 2014 cuja finalidade seria facilitar o

acesso ao crédito rural por comunidades tradicionais, destacando nas

Disposições Gerais, o art. 3º: ―São identificados também pela DAP, para as

finalidades estabelecidas nesta Portaria, os seguintes públicos: [...] V -

integrantes de comunidades remanescentes de quilombos rurais e demais

povos e comunidades tradicionais que pratiquem atividades produtivas e/ou

não agrícolas, de beneficiamento e comercialização de seus produtos;‖ 4 http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/equipamentos/feirasemercados/arquivos/declaracao-de-

aptidao-ao-pronaf-dap.pdf

14

Já o capitulo IV diz da Rede Autorizada de Órgãos Públicos e

Entidades Emissoras De DAP; a portaria oportunizou a ampliação dos órgãos

capazes de emitir a DAP, destes pode-se destacar ao art. 9, I alínea “a” que

diz do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária),

explanando sua atuação junto aos quilombos na alínea “m” item ii que diz:

―Integrantes de comunidades remanescentes de quilombos rurais,

devidamente certificadas pela Fundação Cultural Palmares - FCP e, ainda, a

DAP Jurídica, desde que a pessoa jurídica beneficiária seja constituída

exclusivamente por integrantes de comunidades remanescentes de quilombos

rurais‖.

Destaca-se ainda o art.9, II que diz dos demais órgãos da rede que

vão atuar junto aos agricultores do grupo ―B‖ entre essas instituições pode-se

destacar a alínea “g” A Fundação Instituto Estadual de Terras do Estado de

São Paulo "José Gomes da Silva" - ITESP; e a “k” A Fundação Cultural Palmares:

―por meio das entidades por ela reconhecidas, somente poderá emitir DAP

principal e acessória para integrantes de comunidades remanescentes de

quilombos rurais e, ainda, a DAP jurídica, desde que a pessoa jurídica

beneficiária seja constituída exclusivamente por integrantes de comunidades

remanescentes de quilombos rurais‖;

Por ter direito a essa linha de crédito, durante a entrevista na

comunidade PEROPAVA, esse assunto fora abordado, ao passo que a

comunidade informou que não fazia uso pela dificuldade do acesso, e pelas

formas exigidas de garantia de pagamento.

―A gente tem direito a cinco mil, mas tem que dar garantia o

terreno. Só que a gente não tem como dar o terreno como garantia porque o

terreno está no nome de todo mundo (...)‖ (SIC).

A percepção que os moradores da comunidade têm acerca da

linha de crédito pareceu estar obscurecida por falta de informações, melhor

dizendo, por informações desencontradas acerca do acesso ao crédito bem

como os passos necessários para esse processo.

15

―A gente não sabe o que fazer, não tem apoio da prefeitura, do

ITESP, do CATI para conseguir esse financiamento‖ (SIC)

A questão do financiamento rural tem sido objeto de estudo de

várias das secretarias do governo federal, sendo que em 2013 no diagnóstico

do PBQ já havia apontamentos das dificuldades para que o crédito chegasse

às mãos dos beneficiários.

O perfil produtivo das comunidades quilombolas é

eminentemente agrícola. A produção agrícola é desenvolvida

em 94% das comunidades pesquisadas na Chamada

Nutricional Quilombola (2008), seguida pela criação de animais

(56%) e pela pesca (32%). Parte dessa produção é voltada

para subsistência e parte para comercialização. Nesse sentido,

o acesso à Declaração de Aptidão ao Pronaf dos agricultores

quilombolas ainda é um desafio. Hoje, há 15.549 DAP

cadastradas para agricultores quilombolas. Num comparativo,

para indígenas, foram emitidas 19.408 e para extrativistas,

47.361 declarações. O acesso à DAP é fundamental para

ampliar as estratégias de comercialização, como venda para o

Programa de Aquisição de Alimentos e acesso ao Programa

Nacional de Alimentação Escolar.5

Na contrapartida dessas informações, durante a entrevista com o

diretor técnico do CATI EDR Registro, foi possível esclarecer um pouco acerca

das linhas de crédito de financiamentos rural que estão disponíveis, ele nos

confirmou sobre a desinformação dos quilombolas acerca das garantias de

crédito do PRONAF6 e disse haver outra linha de crédito ainda pouco

conhecida e utilizada que é disponibilizada pelo governo do Estado de São

Paulo que é o FEAP – Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista, também

conhecido como Banco do Agronegócio Familiar. Segundo o diretor técnico,

esta modalidade de financiamento tem alguns diferenciais do programa

federal, sendo estes: ―financiamento de até 100% do bem a ser investido; o

crédito para custeio não exige garantia, já o crédito para investimento exige

contrapartida‖. (SIC)

5 http://www.portaldaigualdade.gov.br/portal-antigo/destaques/pbq-diagnostico-julho

6 http://www.bcb.gov.br/?PRONAFFAQ

16

Todavia, não há um programa que seja exclusivo para a população

quilombola sendo que a comunidade deveria procurar o EDR da CATI em

Registro para criar um projeto adequado àquela população para desenvolvê-

lo e elencá-lo em uma das 30 linhas de crédito disponibilizado pelo FEAP7.

Projeto Micro Bacias II:

Outro ponto levantado pelos quilombolas acerca das políticas de

desenvolvimento local foi a respeito do Projeto Microbacias II, sobre a

participação neste programa da Secretaria da Agricultura do Estado de São

Paulo, segundo o entendimento dos moradores, eles sabem do montante a ser

liberado, e da participação dos técnicos, mas eles sentem que este auxílio tem

demorado em demasia o que pode levar a um fracasso no acesso à política

devido o final do prazo para adesão no projeto.

―A gente estava participando do Microbacias [II], o pessoal do ITESP

e do CATI tem ajudado, mas eles começam e param e a comunidade ainda

não está preparada para fazer o projeto sozinho. A CATI está há mais ou

menos cinco anos nisso.‖ (SIC)

Os quilombolas explicitaram ainda as necessidades mais urgentes

que tinham para usar da verba, caso ela realmente fosse liberada: ―São mais

ou menos duzentos mil reais, vai dar pra financiar trator e equipar a padaria da

comunidade‖ (SIC)

Após as entrevistas, foi possível perceber que o maior entrave para

o acesso a muitas políticas se dá pela dificuldade de entendimento e

apropriação dos projetos pelos sujeitos que lhes são destinatários.

Foi possível perceber que na Política de Crédito do PRONAF não há

indicações sobre a capacitação da população quilombola para o

entendimento e apropriação dos programas de crédito que, na maior parte

das vezes, são políticas com trâmites de difícil interpretação até mesmo para

7 http://www.agricultura.sp.gov.br/quem-somos/feap-credito-e-seguro-rural/183-feap-

linhas-de-financiamento

17

sujeitos mais esclarecidos, sendo fundamental o apoio técnico para o acesso

a elas, visto que na maior parte das vezes os moradores das áreas rurais têm

baixo nível de escolaridade.

Segurança Alimentar:

Este é um projeto amparado e desenvolvido pelo Ministério do

Desenvolvimento Social, por meio de editais que ―são instrumentos utilizados

pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) para

tornar públicos os processos seletivos relacionados a seus programas e ações

de segurança alimentar e nutricional. Por meio deles, são formalizadas

parcerias com governos distrital, estaduais e municipais e sociedade civil, para

a implementação de projetos com foco na promoção do direito humano à

alimentação.‖ 8

Foi encontrado no site do MDS que o atual projeto de Segurança

Alimentar está vinculado ao apoio na construção de cisternas no semiárido

brasileiro9, sendo este o único edital disponível naquele domínio. Em

contrapartida, há a uma maior solidificação do Sistema Nacional de

Segurança Alimentar que incentiva e co-participa de ações no plano da

segurança alimentar e nutricional. Em Registro há alguns anos a Rede SANS10,

que desenvolve ações (palestras, seminários, cursos, etc.) no âmbito da

alimentação saudável e solidária, das quais o Quilombo Peropava participa,

bem como auxilia na articulação dos atores da rede (trabalhadores das

políticas públicas e voluntários) e na formação e fortalecimento dos conselhos

municipais.

8 http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/seguranca-alimentar-e-nutricional/acesso-a-

agua/cisternas/editais

9 http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/editais/cisternas

10 http://www.redesans.com.br/registro/

18

Em 2012 foi criado o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e

Nutricional Sustentável (COMSEA) do município de Registro por meio da lei

municipal Lei 1.268/2012 aprovada em julho daquele ano.

As informações encontradas acerca das ações de Segurança

Alimentar foram levantadas a partir de fontes secundárias, uma vez que os

quilombolas não sabiam explicar especificamente sobre o programa, contudo

ao adentrarem no assunto de alimentação, eles apontaram ainda praticar a

agricultura de subsistência com a produção excedente direcionada à ―Família

do Vale Cooperativa dos Agricultores Familiares do Vale do Ribeira‖, que

repõe a alimentação escolar de Registro, Pariquera, Eldorado, Sete Barras,

Embu, Jacupiranga. A cooperativa participa do Mercado Paulista Solidário,

Banco de Alimentos de Embu e Itanhaém, Feiras no Vale e fora do Vale (Água

Branca). Distribuem em lojas na Região de Pinheiros, em São Paulo e

comercializam no município de São Lourenço – contudo, eles deixaram claro

que esta prática estava sendo muito dificultada pela mora nos pagamentos

que já ultrapassavam seis meses na época da visita.

Assistência Técnica e Inclusão rural Quilombola – ATER

―O Ministério do Desenvolvimento Agrário, a partir do serviço de

Assistência Técnica e Extensão Rural, busca estimular o desenvolvimento

etnosustentável das comunidades quilombolas com apoio à produção

diversificada, seu beneficiamento e comercialização, gestão do território,

fortalecimento das formas de organização e conhecimentos tradicionais.

Como participar: As instituições são selecionadas por meio de chamada

pública que, mediante equipes especializadas, prestarão atendimento aos

agricultores familiares. Os territórios quilombolas priorizados são definidos pelos

MDS, MDA, SEPPIR e FCP.‖

A ATER é um importante recurso para as comunidades quilombolas já

que a atuação possibilita o acesso às políticas públicas através de apoio

técnico, sendo está uma solicitação recorrente na fala dos quilombolas

ouvidos. A necessidade de intervenção técnica e apoio nos procedimentos

19

burocráticos para o acesso a um determinado direito está entre as

reivindicações dos moradores da comunidade, principalmente entre aqueles

que tentam viver da produção agrícola. O governo do estado através do ITESP

desenvolve algumas ações importantes nos quilombos, entretanto notamos

que a necessidade de assessoria técnica é constante e que muitas vezes os

projetos desenvolvidos não conseguem alcançar todas as demandas

existentes na comunidade.

Selo Quilombos do Brasil e Programa Brasil local – Economia

Solidária

―O Selo Quilombos do Brasil é uma identificação de origem de produtos

oriundos das comunidades. Ao Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA

caberá o procedimento de permissão de uso do Selo Quilombos do Brasil,

conforme as regras já existentes para o Selo da Agricultura Familiar, com a

inclusão apenas da Certidão de Auto-reconhecimento, fornecida pela

Fundação Cultural Palmares.

O Brasil Local fomenta a organização de empreendimentos geridos

pelos próprios trabalhadores(as), facilitando o acesso a políticas públicas de

incentivo, como capacitação, crédito comunitário, equipamentos

formalização e escoamento da produção‖

Eixo 4: direitos e cidadania

―As políticas situadas no Eixo Direitos e Cidadania, do Programa Brasil

Quilombola, visam o fortalecimento dos direitos das comunidades quilombolas,

a partir do acesso à políticas públicas de saúde, educação assistência social,

previdência, fortalecimento institucional, dentre outras.‖

20

Programa Nacional de Educação do Campo (pronacampo):

O programa teve como marco legal o Decreto nº 7.352 de 04 de

novembro de 2010 e a Portaria nº 86, de 1º de fevereiro de 2013 e teve como

objetivo:

Apoiar técnico e financeiramente os Estados, Distrito Federal e

Municípios para a implementação da política de educação do

campo, visando à ampliação do acesso e a qualificação da

oferta da educação básica e superior, por meio de ações para

a melhoria da infraestrutura das redes públicas de ensino, a

formação inicial e continuada de professores, a produção e a

disponibilização de material específico aos estudantes do

campo e quilombola, em todas as etapas e modalidades de

ensino. E as ações: Voltadas ao acesso e a permanência na

escola, à aprendizagem e à valorização do universo cultural

das populações do campo, sendo estruturado em quatro eixos:

Gestão e Práticas Pedagógicas — Formação Inicial e

Continuada de Professores – Educação de Jovens e Adultos e

Educação Profissional – Infraestrutura Física e Tecnológica.11

O portal do Ministério da Educação – MEC esclarece que o ACESSO a

essa política se faz com a adesão ao programa por meio de envio de projetos

em diversas áreas que mantenham relação estreita com o campo. Ou então

por meio de demandas informadas no PAR (Plano de Ações Articuladas) pelo

gestor da educação. Em ambos os casos a iniciativa deve partir do município.

No município de Registro, no que se refere a uma parte desse

programa, doze escolas municipais – entre elas a EMEB José Bruno – serão

contempladas com o Kit Ação Escola da Terra12.

Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE:

Há uma modalidade denominada PDDE ESCOLA DO CAMPO –

Programa Dinheiro Direto na Escola para auxílio às escolas do campo, foi

11 http://pronacampo.mec.gov.br/pagina-inicial/10-destaque/2-o-pronacampo

12http://pronacampo.mec.gov.br/images/xls/relacao_das_relacao_das_escolas_que_r

eceberao_os_kits_escola_da_terra.xlsx

21

fundamentada na Resolução nº 32 de 02 de agosto de 2013 e tem por

objetivo promover a melhoria da qualidade do ensino nestas escolas, por meio

do repasse de recursos para garantir a manutenção, conservação, reparos e

ou pequenas ampliações em suas instalações, bem como a aquisição de

mobiliário escolar, refeitórios escolares e utensílios de cozinha e outras ações

de apoio com vistas à realização de atividades educativas e pedagógicas

coletivas requeridas pelas escolas de educação básica.

Segundo pesquisa no site do Ministério da Educação PDDE interativo,

onde foi possível encontrar a Lista de Instituições contempladas no programa

Escolas do Campo13, foram encontradas cinco escolas de Registro, todavia a

EMEB José Bruno não apareceu como contemplada deste programa.

Por outro lado, a EMEB José Bruno faz uso de uma pequena verba

disponibilizada pelo PDDE Educação Básica para o ano de 2015.

Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em

Educação do Campo (Procampo):

O objetivo do programa é apoiar a implementação de cursos regulares

de licenciatura em educação do campo nas instituições públicas de ensino

superior de todo o país, voltados especificamente para a formação de

educadores para a docência nos anos finais do ensino fundamental e ensino

médio nas escolas rurais.

O Procampo também tem a missão de promover a formação superior

dos professores em exercício na rede pública das escolas do campo e de

educadores que atuam em experiências alternativas em educação do

campo, por meio da estratégia de formação por áreas de conhecimento, de

modo a expandir a oferta de educação básica de qualidade nas áreas rurais,

sem que seja necessária a nucleação extracampo.

Entre os critérios exigidos, os projetos devem prever: a criação de condições

teóricas, metodológicas e práticas para que os educadores atuem na

13

http://pdeinterativo.mec.gov.br/listaEscolasContempladasCampo.php

22

construção e reflexão do projeto político-pedagógico das escolas do campo;

a organização curricular por etapas presenciais, equivalentes a semestres de

cursos regulares, em regime de alternância entre tempo-escola e tempo-

comunidade; a formação por áreas de conhecimento previstas para a

docência multidisciplinar, com definição pela universidade da(s) respectiva(s)

área(s) de habilitação; consonância com a realidade social e cultural

específica das populações do campo a serem beneficiadas.14

Programa Nacional do Livro Didático - PNLD:

Com o Objetivo de distribuir materiais didáticos específicos para os

estudantes e professores do campo que permitam o desenvolvimento do

ensino e da aprendizagem de forma contextualizada, em consonância com

os princípios da política e as diretrizes operacionais da educação do campo

na educação básica.

Fomenta ações que contemplam a aquisição e disponibilização de

coleções com metodologias específicas voltadas a realidade do campo e

com conteúdos curriculares que favoreçam a interação entre os

conhecimentos científicos e os saberes das comunidades.

Durante a entrevista com a professora que atua na escola rural, foi

mencionado o uso do material para as classes multisseriadas rurais. A

professora ainda ressaltou que procurava reforçar a importância da cultura

local, incentivando a participação de membros icônicos da comunidade e

fazendo com que as crianças percebessem o valor daquele modo de vida.

Educação Quilombola - Fortalecimento da Educação Básica em

comunidades remanescentes de quilombos:

Com o objetivo de fortalecer os sistemas municipais, estaduais e do

Distrito Federal de educação, envolvendo o apoio à coordenação local na

melhoria de infraestrutura, formação continuada de professores que atuam

14 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=12394&Itemid=679

23

nas comunidades remanescentes de quilombos, visando à valorização e a

afirmação dos valores étnico-raciais na escola e proporcionando instrumentos

teóricos e conceituais necessários para compreender e refletir criticamente

sobre a educação básica oferecida nas comunidades remanescentes de

quilombos.

Com ações que perpassam a formação de Professores, produção de material

didático específico e a construção de escolas quilombolas, com vistas a dotar

de infraestrutura básica as comunidades quilombolas para realização de

educação de qualidade.15

Para atender as diretrizes orientadoras das políticas de igualdade racial,

o departamento municipal de educação de Registro, incluiu em seu Plano

Municipal de Educação do ano corrente um item dedicado à educação

quilombola.

Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE

―Garante por meio da transferência de recursos financeiros, a aliança

escolar dos alunos de toda a educação básica, matriculados em escolas

públicas e filantrópicas. Os repasses são efetuados em 10 parcelas anuais,

liberadas mensalmente de fevereiro a novembro de cada ano. O valor para

escolas indígenas e quilombolas, qualquer etapa de ensino, exceto creche é

de R$0,60.‖

A escola municipal quilombola está inclusa no PNAE.

Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego –

PRONATEC

―O PRONATEC/ Brasil sem miséria é uma das modalidades do Pronatec.

Essa linha de atuação do programa é voltada ao público do Programa Bolsa

Família e aos inscritos no Cadastro Único de Programas sociais.‖

15

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=17448&Itemid=817

24

A oferta do PRONATEC mais próximo é no bairro Agrochá, de acordo

com os moradores não há oferta de transporte para as aulas, portanto

impossibilita os moradores do quilombo a participarem, caso decidam realizar

um dos cursos a opção, muitas vezes, possível é a saída do quilombo e a

permanência na cidade.

Programa Bolsa Família/ Busca Ativa Cad-único

O Programa Bolsa Família é um programa de Transferência direta de

renda que beneficia, em todo país, famílias em situação de pobreza. O

programa é bastante divulgado e através da reunião no quilombo foi possível

notar que é do conhecimento dos moradores a sua existência, bem como há

famílias que são beneficiárias.

O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal

(Cadastro Único) é um instrumento que identifica e caracteriza as famílias de

baixa renda, utilizado para programas sociais como o bolsa família e o tarifa

social. Há em Registro uma central para o cadastramento do Cadúnico,

localizada no centro da cidade, o local conta com entrevistadores para o

preenchimento do cadastro e assistente social, atualmente o seu

funcionamento é ao lado do CRAS central.

O território do quilombo Peropava pertence a área de abrangência do

CRAS Vila Nova, a respeito de atividades de busca ativa e/ou demais

atuações no âmbito da política de assistência social na comunidade, fomos

informados que estão sendo pensadas ações de maior aproximação do

equipamento com as famílias quilombolas. Segundo informações o CRAS

atende os moradores do Peropava e não dificuldades para o acesso aos

atendimentos.

Programas Saúde da Família e Saúde Bucal:

A estratégia de Saúde da Família é um projeto dinamizador do SUS. É

uma estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde tem provocado

25

um importante movimento com o intuito de reordenar o modelo de atenção

no SUS. Busca maior racionalidade na utilização dos demais níveis assistenciais

e tem produzido resultados positivos nos principais indicadores de saúde das

populações assistidas às equipes saúde da família. Na maior parte das vezes o

programa atua em parceira com o Programa Saúde Bucal. Sendo o repasse é

50% maior para municípios que tenham a presença de quilombolas e

assentados.

De acordo o ―Relatório Simplificado do Atendimento de Saúde

Realizado no Bairro Peropava com a comunidade Quilombola‖, entregue aos

técnicos do NAT pela equipe municipal de saúde de Registro no dia 31 de

julho de 2015.

O território do bairro do Peropava está inserido na área de

abrangência da Estratégia de Saúde da Família do Bairro do Serrote, sendo

sua microárea acompanhada constantemente por uma agente comunitária

de saúde.

As consultas são realizadas mensalmente, toda última sexta feira do

mês, havendo revezamento entre o atendimento de uma médica e uma

enfermeira.

Desde o ano de 2013 Algumas ações e campanhas (entregas de

medicamentos, vacinas, etc.) são realizadas no espaço da escola rural.

No que tange a Saúde Bucal, a equipe realiza ações de promoção e

prevenção de saúde (aplicação de flúor, escovação supervisionada, e

avaliação bucal) no próprio bairro, geralmente no espaço da escola e nos

casos que seja preciso uma intervenção, o tratamento é realizado no

Consultório Odontológico da Unidade de Saúde do Bairro do Serrote.

A equipe salientou que algumas famílias preferiram continuar passando

por seus atendimentos na Unidade de saúde Central, por isso não é possível o

acompanhamento pela ESF do Serrote.

Segundo dados levantados, no período entre novembro de 2013 e

junho de 2015 foram realizadas 73 consultas referentes aos quilombolas: 12

26

famílias, 37 atendimentos individuais (03 crianças, 08 adolescentes e 26

adultos).

Telecentro e rádios comunitárias

O Programa Nacional de Apoio à Inclusão Digital nas Comunidades-

Telecentros.BR19 – é uma iniciativa do governo federal no âmbito do

Programa de Inclusão Digital, para a implantação e manutenção de

telecentros pelo Brasil.

A adesão ao Programa Telecentros.BR se dará mediante a celebração

de acordo de cooperação técnica entre as entidades proponentes e a

Coordenação Executiva do Programa.

A comunicação é uma das dificuldades apontadas no quilombo

Peropava, não há abrangência para a rede de celulares, tampouco a oferta

de telefone público nas proximidades.

Parecer Técnico:

A partir da visita na comunidade de remanescentes de quilombos e as

reuniões realizadas com os órgãos e entidades responsáveis pela execução

das políticas elencadas pelo Programa Brasil Quilombola foi possível visualizar

algumas dificuldades enfrentadas pela comunidade. O PBQ aponta o

interesse do estado em promover ações que insiram os quilombos dentro do

público prioritário para o acesso a determinadas políticas públicas, sendo um

marco importante a essas populações.

Por outro lado, notamos que algumas questões permanecem

constituídas como dificultadoras para a reprodução da cultura quilombola,

culminando para novos arranjos diante da realidade atual. Com isso, é

reiterado o questionamento acerca do lugar dos jovens dentro das

comunidades, cujas recorrentes saídas em busca de emprego e a

27

necessidade de renda para a subsistência, além da dificuldade em

compreender e lidar com as atuais restrições ambientais.

Um dos pontos levantados pela comunidade foi o distanciamento

entre o sistema de justiça e as demandas dos quilombolas, havendo uma

aproximação maior somente com a Defensoria Pública.

A questão da manutenção da estrada de acesso ao quilombo também

traz preocupação, uma vez que é necessário periodicamente procurar a

prefeitura municipal e formalizar inúmeras solicitações para serem atendidos.

Não há envolvimento e preocupação da gestão municipal para a constante

manutenção das estradas e o entendimento de que em períodos de chuvas

fortes a atenção à estrada deveria ser redobrada.

De acordo com os moradores, a estrada apresenta melhores condições

no trecho em que é mantida por uma empresa, localizada no caminho entre

a rodovia Regis Bittencourt e o quilombo Peropava, já a partir do ponto de

responsabilidade municipal há períodos de muita dificuldade de locomoção.

O transporte do ônibus escolar disponibilizado pelo município não

apresenta boas condições, como ausência de cintos de segurança e

velocidade incompatível com o terreno local, o que gera insegurança e

preocupação por parte dos usuários. Somado à sensação de desconforto

pela trepidação ocasionada pela alta velocidade na estrada esburacada.

Sobre a Assistência Social, é importante destacar a proposta do CRAS

Vila Nova em iniciar atividades com a comunidade, propondo o

levantamento de demandas latentes e mapeamento do território.

No quesito desenvolvimento econômico, notamos a necessidade por

assistência técnica no auxílio aos quilombolas para sua inserção nos

programas existentes e viabilização de concorrência em chamadas públicas.

Algumas falas ressaltaram a importância de conhecimento técnico cientifico

especifico para a materialização de projetos, principalmente na área de

produção agrícola.

28

No que tange à educação, desde a reabertura da EMEB José Bruno em

setembro de 2011, a comunidade gozou o direito de que seus filhos tivessem

acesso à educação básica dentro de seu território.

A escola é mantida em um prédio simples, com uma única sala

multisseriada, na qual se divide espaço entre as carteiras escolares, móveis,

televisão e um espaço com tatame de EVA e esteira de vime, onde os alunos

ficam para assistir programas da TV Escola. Fora da sala, foram observados

dois banheiros, o dos meninos já se encontrava parcialmente reformado, o das

meninas ainda precisava de reforma. Logo após, foi visto um pequeno

cômodo onde se guardam os materiais de limpeza, e alguns galões de água

que a escola deixa estocado caso haja falta no abastecimento. Em seguida

há a cozinha, fechada por uma porta e com uma janela bancada.

Notamos que inserção daquele equipamento de educação dentro da

comunidade, aproximou a comunidade para além do quesito geográfico. A

interação pode ser contextualizada de início com a grade curricular que

contempla matérias ligadas ao mundo rural – as crianças aprendem sobre

cultivo de alimentos, jardinagem, manutenção de horta da qual utilizam a

produção na própria alimentação. A professora contratada demonstrou

afinidade com o trabalho naquela escola, ela procura aproximar-se ainda

mais da comunidade, chamando as famílias para participarem das atividades

extraescolares e cooperando até mesmo em questões que ultrapassam o

âmbito pedagógico.

Os jovens utilizam-se do campinho de futebol de várzea nos períodos

livres e finais de semana e a escola ainda é utilizada pela saúde em ações

pontuais. Há um adulto da comunidade que trabalha como vigia da escola,

mas segundo os entrevistados todos ajudam no seu cuidado.

A ressalva que se pode fazer no âmbito da educação se dá em relação

à reforma do prédio (com especial atenção para a reposição e manutenção

das cortinas que já estão muito puídas, instalação de mais ventiladores), à

perfuração de um poço para utilização da própria água, e construção de

uma fossa séptica, mas o que foi levantado de mais urgente seria a

29

construção de uma cerca, que delimitasse a propriedade da escola, pois há a

reclamação de que em dias de chuva o vizinho sente-se no direito de

atravessar o espaço escolar com o maquinário estragando o campinho.

Ademais, já ocorreram algumas invasões do gado criado na vizinhança o que

pode colocar em risco a segurança das crianças.

No tocante à saúde, pode-se observar que a atenção básica alcança

o quilombo através da Estratégia de Saúde da Família. Por ser uma

comunidade rural, afastada, o Peropava enfrenta os mesmos problemas de

outros bairros rurais. O atendimento in loco acaba sendo restringido a apenas

uma vez por mês, sendo que o referenciamento se faz na Unidade Básica de

Atendimento do Bairro Serrote.

Como já foi confirmado pelos números apresentados no relatório, há

uma boa abrangência de atendimento daqueles cidadãos.

Muitas vezes o acesso por unidades móveis de saúde é dificultado pelas

condições da estrada, o que pode aumentar ainda mais a demora no

atendimento, mas segundo foi confirmado pelos moradores, ele acontece.

A saúde e a educação firmaram uma parceria, todavia foi prometida a

cessão de uma maca para permanecer na escola. Reforçando que as

cortinas também serviriam para garantir a privacidade durante o

atendimento.

Tratar da questão da garantia de direitos por uma determinada

população parece ser um trabalho árduo à primeira vista. Mas com o

decorrer do trabalho, e com o olhar atento foi possível notar que a falta de

acesso a bens de consumos básicos e a direitos sociais criam na população

que está e à margem, excluída pelo mercado e pelo Estado, sensações de

desânimo e impotência no enfrentamento das dificuldades cotidianas.

Sem cair no lugar comum, fica claro neste primeiro trabalho que é

impossível pensar qualquer trabalho com a população quilombola sem pensar

30

em uma ―dívida histórica‖ e em mecanismos para minorar esta exclusão que

ocorre de forma intergeracional.

No que tange a Comunidade Peropava foi percebido que há um longo

caminho a ser percorrido para que aquela população sinta-se amparada e

com pertencimento a muitos dos programas disponibilizados tanto por políticas

universalistas como por aquelas que fazem parte do rol de ações afirmativas -

criadas ou concatenadas pela Secretaria de Políticas de Promoção da

Igualdade Racial – SEPPIR. Sendo de suma importância a parceria de todos,

inclusive o sistema de justiça no amparo para a conquista e manutenção

desses direitos. Culminando em seu fortalecimento enquanto cidadãos, e

comunidade.

Esperando haver cumprido a missão que nos foi atribuída,

colocamo-nos à disposição para o esclarecimento de quaisquer dúvidas.

Registro, 28 de agosto de 2015

Gabriel Hernandes Alonso Borges

Analista de Promotoria I

Psicólogo CRP 06/92141

Leiderene Sousa Silva

Analista de Promotoria I

Assistente Social

CRESS 44172