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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 CONCENTRAÇÃO TERRITORIAL E A DESIGUALDADE DOS LUGARES, UM BREVE ESTUDO DOS MUNICÍPIOS AO LONGO DA RODOVIA ANHANGUERA Rodolfo Bassani UNESP, Campus de Rio Claro. IGCE - Departamento de Geografia [email protected] Rodolfo Dias da Silva UNESP, Campus de Rio Claro. IGCE - DEPLAN [email protected] Rodrigo da Silva UNESP, Campus de Rio Claro. IGCE - Departamento de Geografia [email protected] INTRODUÇÃO A viabilidade do planejamento territorial no espaço está diretamente ligada ao conhecimento geográfico do território. Ainda que por vezes o papel do geógrafo seja subestimado por alguns especialistas, políticos, gestores e mesmo outros cientistas delegando ao geógrafo apenas as questões concernentes as localizações, o geógrafo é por excelência o especialista do território. Nesse sentido Santos (2000), discerne entre as diferenças entre território e território usado, o qual, segundo sua análise, é o âmbito de trabalho do geógrafo. O conceito de território usado é baseado no resultado de um processo histórico acumulativo das ações humanas expressas no espaço. O Território usado é aquele que é composto não apenas das materialidades (objetos), mas também de conteúdo (sociedade e ações), é, portanto o território usado o resultado da sobreposição destas duas constantes na 4219

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CONCENTRAÇÃO TERRITORIAL E ADESIGUALDADE DOS LUGARES, UM BREVEESTUDO DOS MUNICÍPIOS AO LONGO DA

RODOVIA ANHANGUERA

Rodolfo Bassani

UNESP, Campus de Rio Claro. IGCE - Departamento de Geografia

[email protected]

Rodolfo Dias da Silva

UNESP, Campus de Rio Claro. IGCE - DEPLAN

[email protected]

Rodrigo da Silva

UNESP, Campus de Rio Claro. IGCE - Departamento de Geografia

[email protected]

INTRODUÇÃO

A viabilidade do planejamento territorial no espaço está diretamente ligada ao

conhecimento geográfico do território. Ainda que por vezes o papel do geógrafo seja

subestimado por alguns especialistas, políticos, gestores e mesmo outros cientistas

delegando ao geógrafo apenas as questões concernentes as localizações, o geógrafo é por

excelência o especialista do território. Nesse sentido Santos (2000), discerne entre as

diferenças entre território e território usado, o qual, segundo sua análise, é o âmbito de

trabalho do geógrafo.

O conceito de território usado é baseado no resultado de um processo histórico

acumulativo das ações humanas expressas no espaço. O Território usado é aquele que é

composto não apenas das materialidades (objetos), mas também de conteúdo (sociedade e

ações), é, portanto o território usado o resultado da sobreposição destas duas constantes na

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forma de um hibrido. Essa perspectiva de território abrande um viés que contempla todos

os elementos que atuam sobre o território bem como suas inter-relações. Essa

interpretação de território induz a ideia de espaço banal, que constitui o espaço de todos.

Em consonância com as ideias de Santos, Cataia (2011), Bernardes et alli (2001)

se pautam nas discussões sobre o território usado para tecer suas análises sobre as

dinâmicas espaciais e a fluidez do território.

Invariavelmente discutir desenvolvimento econômico e concentração no

território nacional está diretamente relacionado com explorar as ideias de Celso Furtado no

que concerne a sua perspectiva econômica do binômio desenvolvimento e

subdesenvolvimento que permeia entre escalas continentais até o regional.

O desenvolvimento é ao mesmo tempo uma invenção e um desafio a ser

superado, está impregnado de intencionalidade e condicionado segundo processos de

ordem histórica. De modo que acontece de diferentes formas em cada lugar, em função de

suas características peculiares bem como sua historicidade. Conforme explicita Furtado

(1992, p. 32), de acordo com os meios se abrem um horizonte de opções ao

desenvolvimento.

Com efeito, o “desenvolvimento no mundo todo tende a criar desigualdades. É

uma lei universal inerente ao processo de crescimento: a lei da concentração” (FURTADO,

2000, p.30). Esta noção basea-se na ideia deque o capitalismo se desenvolve de maneira

diferente no território mundial em função da difusão irregular do progresso técnico

cientifico.

Os baixos níveis de assimilação de tecnologia pelos países periféricos

traduzem-se em desigualdades no seio das populações, projetando o seu atraso na

trincheira da acumulação de capital (FURTADO, 2000, p. 41). Desta forma o

subdesenvolvimento só poderia ser equacionado a partir de oportunidades iguais em

acesso a tecnológicas e meio de produção em um sistema de pleno regime democrático,

apontado por Furtado (2000, p. 41), como elemento central para a expansão de qualquer

economia.

Tomando o Brasil como exemplo, observou-se nas regiões sul e sudeste,

denominado por Milton Santos como Região Concentrada, uma enorme concentração de

renda, indústria, capital, educação, saúde, dentre outros elementos fundamentais ao

desenvolvimento. Nessa perspectiva esta região se apresenta como centro do poder,

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atuando como centro do poder em escala nacional.

Voltando a uma perspectiva macroeconômica, em escala mundial o Brasil é

historicamente designado como país periférico, incumbido, segundo a divisão internacional

do trabalho, a atender sua vocação natural de produção agrícola e indústria de base. De

modo que ainda que a região Sul e sudeste do Brasil apresentem altos índices de

industrialização, não possuem em grande parte os meios de produção, reproduzindo seu

papel periférico de fornecedor de mão de obra barata às grandes multinacionais e

transnacionais que veem no Brasil não um mercado consumidor em potencial, mas um

potencial fornecedor de insumos e mão de obra a baixo custo.

Desta forma as questões escalares permeiam fundamentalmente a questão de

como lidar com as escalas de poder de forma a não promover a fragmentação territorial e

não fragilizar a ideia de federação nacional.

A discussão sobre a competitividade dos lugares e a fragilização do sistema

federativo vem ganhando impulso nas ultimas décadas especialmente na voz de Milton

Santos, Celso Furtado, Armem Mamigoniam, Ignacio Rangel, Ardinat e Paul Krugman.

O problema da dificuldade de desenvolvimento das cidades vem sendo

relacionado à falta de competitividade das cidades quando da escolha das grandes

multinacionais para instalação de suas filiais.

Com a abertura comercial na década de 1990, destituída de regulamentação e

órfã da presença do estado a ideia de que a solução para o aumento da receita municipal

seria o recebimento de novas unidades industriais vez com que as cidades buscassem novas

formas de se tornarem competitivas e competirem entre si. Este princípio é problemático

em diversas instancias, principalmente por não prever espaço para o desenvolvimento da

indústria e tecnologia nacional.

Assim cabe reinterar o questionamento de Furtado (1992, p 32.), “até que ponto

é possível absorver tecnologia moderna escapando ao processo de mundialização de

valores imposto pela dinâmica dos mercados?”.

Ainda que conturbada essa perspectiva não é necessariamente novidade, a ideia

de que os territórios tem que competir umas com as outras, a exemplo da competição entre

as grandes corporações no mercado global, também já foi defendida pelo presidente

estadunidense Bill Clinton durante sua gestão.

Uma das questões centrais sobre a hipótese da competitividade enquanto motor

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do desenvolvimento econômico se baseia nas consequências de uma empresa e de um país

que apresentam resultados insatisfatórios no mercado.

Como salienta Krugman (1994, p.7), uma empresa que não consegue pagar seus

funcionários e fornecedores em função de seu baixo desempenho no mercado vai

indubitavelmente sair do negocio e deixar de existir, pois esta empresa não é competitiva

para se autossustentar. Todavia não existe a possibilidade de países que apresentem baixo

desempenho no mercado deixarem de existir e as consequências de seu desenvolvimento

econômico lastreado exclusivamente no seu desempenho no mercado global são

simplesmente catastróficas.

Conforme explicita Ardinat (2012, p. 5), a competitividade dos lugares de

consolida como um dos pilares da globalização e constitui uma nova etapa de

mercantilização do mundo, pois baseia-se no principio do território comerciável em que

empresas podem escolher onde se instalar a partir da concorrência entre os países. “Em um

mundo onde tudo, ou quase tudo, pode ser cotizado na Bolsa (direitos de poluir, títulos de

dívidas, matérias-primas), a competitividade faz às vezes de bússola para os investidores ao

avaliar a suposta performance de um território”. (ARDINAT, 2012, p.5)

A partir desta discussão propõe-se entender como a competitividade dos lugares

tem promovido à concentração industrial e econômica no território, mais especificamente

no interior do Estado de São Paulo em 31 municípios que margeiam a Rodovia Anhanguera

ou SP - 330.

A escolha do recorte territorial para execução do presente estudo se deu em

função da preocupação com a influência de uma importante via de escoamento de

produção do estado, onde a concentração industrial é bastante presente e é possível

visualizar mais facilmente a relação entre a concentração industrial, incentivos fiscais de

desigualdades no espaço.

Inaugurada em 1940 para conectar a cidade de São Paulo a Jundiaí a rodovia

anhanguera possui hoje extensão de 453 km ligando a divisa do estado de São Paulo com

Minas Gerais até a cidade de São Paulo. Considerada uma das rodovias mais bem

conservadas do país a Rodovia Anhanguera compõe um o sistema BR - 050, que liga Brasília

ao porto de Santos. Na figura 01 pode-se observar o traçado da rodovia bem como o limite

dos municípios que a circundam.

Além de ligar as regiões industriais mais produtivas do estado a SP - 330 também

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serve ao escoamento da produção agrícola do estado. Junto com a Rodovia dos

Bandeirantes compõe o sistema Anhanguera-Bandeirantes, administrado hoje pela

concessionária AutoBan. O sistema Anhanguera-Bandeirantes juntamente com a Rodovia

Washington Luis configuram o corredor financeiro de maior desempenho do país.

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Figura 1: Localização dos municípios da área de estudo.

No quadro 01 foram elencados os municípios e suas referidas regiões,

entretanto cabe esclarecer que o presente estudo detém-se aos municípios pelos quais a

rodovia Anhanguera passa, de modo que ainda que cada aglomeração urbana e/ou região

administrativa possuam mais municípios, estes não fazem parte deste trabalho e a divisão

por regiões e aglomerações foi adotada exclusivamente para facilitar a compilação e

elucidação dos dados.

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Quadro 1: Distribuição dos municípios por Regiões.

Fonte: Dados do SEADE, 2013. Organizados pelos autores.

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A Aglomeração Urbana de Jundiaí compreende sete municípios, dentre estes

apenas Jundiaí e Louveira são cruzados pela rodovia Anhanguera. A economia região

sustenta-se, além da agricultura no cultivo de uva e morango, através de um grande parque

industrial atuando em vários setores como o de alimentos, cerâmica, borracha, entre outros.

Aglomeração Urbana de Jundiaí é estrategicamente interessante, pois localiza-se entre as

regiões metropolitanas de Campinas e São Paulo.

A Região Metropolitana de Campinas é constituída por dezenove municípios

dentre o quais foram elencados: Vinhedo, Valinhos, Campinas, Sumaré, Nova Odessa e

Americana. A região compõe um cenário econômico dinâmico e é dotada infraestrutura que

proporciona o desenvolvimento de toda a região metropolitana, um de seus destaques é o

Aeroporto de Viracopos, o segundo maior terminal aéreo de cargas do país.

A Aglomeração Urbana de Piracicaba é constituída por vinte e dois municípios,

sendo que, apenas quatro destes são cruzados pela Rodovia Anhanguera (Limeira,

Cordeirópolis, Araras e Leme). A economia desta Aglomeração se destaca pela presença de

universidades como a Universidade de São Paulo (ESALQ), em Piracicaba; a Universidade de

Campinas, presente em Piracicaba e Limeira (município presente no perímetro da Rodovia

Anhanguera) e; ainda, a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” em Rio

Claro, entre outras. Possui uma economia dinâmica com foco no setor de indústrias e

produção de ensino e pesquisa na área agrícola.

A Região Administrativa de Campinas é formada por sete regiões de governo

sendo que a cidade-sede é Campinas. O número de municípios dessa região chega a

noventa, sendo que apenas dois estão no perímetro da Rodovia Anhanguera Santa Cruz da

Conceição e Pirassununga.

A Região Administrativa Central possui 26 municípios, dentre os quais dois estão

no percurso da Rodovia Anhanguera: Porto Ferreira e Santa Rita do Passa Quatro.

A Região Administrativa de Ribeirão Preto reúne vinte e cinco municípios. Quatro

destes estão ao longo da Rodovia Anhanguera: São Simão, Cravinhos, Ribeirão Preto e

Jardinópolis. Destaca-se por Aeroportos em Ribeirão Preto, cidade-sede dessa Região

Administrativa e, o município de Sertãozinho.

A Região Administrativa de Franca é formada pela união de vinte e três

municípios, porém são oito os que circundam a Rodovia Anhanguera, sendo estes Sales

Oliveira, Orlândia, São Joaquim da Barra, Guará, Ituverava, Buritizal, Aramina e Igarapava

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que compõem uma das quinze Regiões Administrativas de São Paulo.

A Região Metropolitana de São Paulo com pouca interferência econômica

proveniente da Rodovia Anhanguera e Surge na Rua Monte Pascal na cidade de São Paulo e

passa por Osasco (Economia voltada à área comercial e prestação de serviços) e Cajamar. A

Região metropolitana de São Paulo contém trinta e nove municípios.

Em termos populacionais (gráfico 01) destaca-se a Região Metropolitana de

Campinas (Vinhedo, Valinhos, Campinas, Sumaré, Nova Odessa e Americana) com quase 18

milhões de habitantes e R.M. de São Paulo (composta por Osasco e Cajamar) e Aglomeração

Urbana de Ribeirão Preto (São Simão, Cravinhos, Ribeirão Preto e Jardinópolis) com

aproximadamente 7 milhões ambas.

Em todos os casos a população urbana é a grande maioria do total populacional

desde a década de 1990. Entretanto a diferença entre a população urbana e rural aumentou

desde então. Em todas as regiões a população rural é quase inexpressiva se comparada em

relação a população urbana. A densidade populacional é maior nas R.Ms. de São Paulo e

Campinas.

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Gráfico 01: População (1990-2010)

Fonte: Dados do SEADE, 2013. Organizados pelos autores.

A grande concentração populacional e a alta densidade populacional torna o

suprimento das necessidades básicas como emprego, saneamento e educação à população

um desafio ainda maior.

Com o passar do tempo, a participação dos empregos na indústria na região

estudada foi diminuindo. As regiões metropolitanas de São Paulo e de Campinas foram as

que mais apresentaram redução, enquanto a Região Administrativa de Campinas e a Região

Administrativa de Franca apresentaram pequeno aumento. Essas duas regiões são as que

apresentam o menor número de empregados, proporcionais às suas diminutas populações,

e o contrário ocorre com as maiores regiões. Isso demonstra que as áreas com maior

número de habitantes estão num nível mais elevado da hierarquia urbana, concentrando e

desenvolvendo um maior número de bens e serviços que as demais, levando os empregos a

se deslocarem para o setor de serviços, em especial.

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Gráfico 02: Participação dos Empregos Formais da Indústria (em %) - (1990-2010)

Fonte: Dados do SEADE, 2013. Organizados pelos autores.

Apesar do aumento da densidade demográfica resultante da maior atração

populacional para essa área de desenvolvimento, dados do SEADE indicam uma diminuição

nos roubos e nos latrocínios, embora o número de furtos tenha aumentado.

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Gráfico 03: Emprego e Produto Interno Bruto (PIB) per Capta – (2010)

Fonte: Dados do SEADE, 2013. Organizados pelos autores.

Como pode ser observado no gráfico 03, os índices de emprego são maiores na

região metropolitana de Campinas e de São Paulo e os maiores empregadores em quase

todas as regiões é o setor de serviços, exceto a Aglomeração urbana de Piracicaba e R.A.

Central onde a industria é o maior empregador.

Um importante indicador da concentração e desigualdade entre as regiões é o

valor de PIB per capta entre as regiões. As regiões mais industrializadas correspondem a

R.M. de São Paulo e de Campinas, consequentemente são as áreas onde o PIB per capta é

maior. Esta observação denota que é nas regiões mais concentradas que o capital tende a se

concentrar.

Nesse sentido é interessante observar como apesar dos incentivos fiscais

atribuído às grandes industriais, os maiores empregadores hoje não são os industriais e sim

o setor de serviços. Entretanto analisando o gráfico 03 pode-se notar claramente o consumo

de energia elétrica exigido pela indústria nas ultimas décadas.

Desde 1990 a indústria desponta como maior consumir de energia elétrica entre

os três setores, aumentando quase 80% seu consumo entre 1990 e 2010. O gasto de energia

elétrica pelo comercio e serviços é em media um décimo do gasto de energia da indústria.

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Gráfico 04: Consumo de Energia Elétrica (em MWh) por Setores – (1990-2010)

Fonte: Dados do SEADE, 2013. Organizados pelos autores.

Apesar do expressivo aumento do consumo energético pela indústria desde

1990, a balança comercial da indústria ainda sofre déficit. A indústria no estado de São Paulo

ainda consome mais itens importados do que é capaz de exportar. No gráfico 05 também é

possível observar a relevância da indústria ao longo da Rodovia Anhanguera no Estado de

São Paulo. As cidades que compõem o eixo Anhanguera de São Paulo à Igarapava são

responsáveis por quase 15% das exportações do estado, totalizando aproximadamente seis

bilhões de dólares no ano de 2010, segundo a base de dados do SEADE.

A alta concentração econômica e industrial nesta região é fruto de um processo

de competitividade entre as cidades resultando em uma disputa para atração de

investimentos pelas cidades. Essa característica de competição se acentua nos países não

desenvolvidos, uma vez que a atual Divisão Internacional do Trabalho (DIT) os retrai a

produtores de matéria prima e produtos primários para exportação. A possibilidade de

instalação de uma manufatureira, principalmente internacional, leva os governos a

direcionarem o poder da máquina pública em favor destas em detrimento da sociedade

civil.

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Gráfico 05: Valor das Exportações e Participação nas Exportações do Estado (em %) – (1990-2010)

Fonte: Dados do SEADE, 2013. Organizados pelos autores.

O local que determinada empresa decide se instalar é aquele que oferece maior

valor agregado, incorporado através de técnicas e políticas públicas, sendo atrativo por

proporcionar maior produtividade. Dessa forma, as políticas e os investimentos das

prefeituras e governos em outras escalas são voltados para satisfazer os anseios das

empresas que desejam se instalar, de forma que ela efetivamente se instale e traga os

benefícios que a implantação de uma grande empresa, em tese, proporcionaria à população

de uma cidade.

A implantação de uma empresa, geralmente de médio/grande porte,

transnacional, efetivamente leva a um crescimento econômico na cidade/região de

operação, no entanto, nem sempre leva a um desenvolvimento econômico. Apenas pelo

fato de estar em funcionamento, a indústria movimenta renda e eleva o PIB municipal pela

produção/venda. Mas é ilusório pensar que o lucro gerado por essas grandes estrangeiras

desenvolverá o ambiente municipal que participa, visto que tal filial deve encaminhar seus

rendimentos para a matriz, não havendo a permanência e aplicação desses rendimentos na

cidade em que é produzido. Essas empresas podem proporcionar empregos e

aperfeiçoamento de infraestrutura urbana e rural, porém, somente aquelas que interessam

ao funcionamento pleno da unidade. Muitas vezes, isso é um pré-requisito para a instalação

dessas fábricas: equipamento local e regional adequado e melhoria nas relações materiais e

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informacionais (quase sempre proporcionados pelas prefeituras, para impedir que a

empresa se instale em outra cidade). Além dessas questões técnicas e políticas, também é

preciso uma adequação das normas fiscais e trabalhistas, por exemplo. Citando Milton

Santos (2006), o uso preferencial do território por essas empresas acaba “desvalorizando

não apenas as áreas que ficam de fora do processo, mas também as demais empresas,

excluídas das mesmas preferências”. Além disso, elas obedecem a uma lógica global, e não

local, de funcionamento. Isso torna o território envolvido por tais mudanças instável e

ingovernável.

A visão das cidades que participam dessa disputa, voluntariamente ou apenas

para não serem esquecidas num contexto regional de crescimento, é da cidade como

mercadoria. O planejamento estratégico, técnica empresarial para organização do

desenvolvimento, é empregada, transformando tais espaços urbanos em empresas,

coexistindo num contexto de concorrência, divergindo da integração, vista por muitos como

o real caminho para o desenvolvimento.

Para Santos (2006),

o caso brasileiro ilustra de forma explícita essa entrega ao privado da regulação

dos usos do território, sobretudo naquelas suas fatias, pontos e articulações

essenciais. A privatização extrovertida das vias e meios de transporte e de

comunicação agrava o conjunto de crises.

A Rodovia Anhanguera perpassa regiões estratégicas do estado de São Paulo, o

qual apresenta maior progresso econômico e tecnológico em todo o país, ligando a capital ao

interior. É nessa articulação essencial que foi focado este texto, em como ela se alterou com o

passar do tempo devido às políticas instauradas e a atual situação, confrontando teoria –

existência de prejuízos em decorrência da guerra dos lugares para os municípios diretamente

envolvidos e os demais afetados – e a realidade apresentada.

Está pratica em nada contribui para o desenvolvimento territorial e constitui

sumariamente na renuncia da soberania nacional em prol do neoliberalismo, é confiar ao

capital o papel de prover bens e serviços à sociedade e esperar dele a erradicação da

pobreza e promoção do bem estar social.

Exemplos de ônus ao território desencadeado pela pratica da concorrência

global neoliberal não são escassos. Na China um processo de desvalorização dos salários e

de permissividade à degradação ambiental tem aumentado a competitividade do país no

cenário internacional, entretanto em contra partida também tem promovido os mais

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diversos tipos de dumpings de forma dissimulada (social, ambiental, monetário,

regulamentário e fiscal). Na Grécia, a busca por uma melhor concorrência entre seus

vizinhos tem imposto a nação grega uma serie de medidas contrarias a população, como

desvalorização da moeda e do salário.

Por fim cabe ressaltar que tanto na visão de Milton Santos como de Celso

Furtado, dois grandes pensadores brasileiros e profundos conhecedores das contradições

do território nacional, a noção de desenvolvimento está diretamente ligada a ideia de

integração nacional.

A competitividade dos territórios (em suas diversas escalas) é diametralmente

contraria a ideia de integração. É impensável um projeto de integração nacional e de

valorização do federalismo enquanto houver concorrência em nível local.

Nesse sentido o papel do estado é não apenas fundamental, mas também

bastante complexo. Em um sistema federalista cabe ao estado promover a integração,

homogeneização e desenvolvimento do território nacional sem, todavia, afogar o poder

local.

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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

CONCENTRAÇÃO TERRITORIAL E A DESIGUALDADE DOS LUGARES, UM BREVE ESTUDO DOS MUNICÍPIOS AO LONGO DA RODOVIA ANHANGUERA

EIXO 3 – Desigualdades urbano-regionais: agentes, políticas e perspectivas

RESUMO

A possibilidade de intervenção no espaço está diretamente ligada ao conhecimento geográfico do

território. As relações que se desenvolvem no espaço dão origem às contradições que buscamos

investigar. No presente estudo buscamos entender as relações de desigualdade que se

desenvolvem em uma determinada porção do território quando a noção de competitividade dos

espaços é adotada como política de desenvolvimento regional. Entendemos que a

competitividade dos territórios é diametralmente contraria a ideia de integração. É impensável um

projeto de integração nacional e de valorização do federalismo enquanto houver concorrência em

nível local ou regional. A partir de uma concepção furtadiana entendemos que a imposição de

competitividade aos governos tem origem na manutenção do subdesenvolvimento aos quais

alguns territórios são destinados, atendendo a uma lógica de divisão internacional do trabalho. Ao

longo desta pesquisa buscamos entender os elementos que estimulam a competitividades e como

esta se desenvolve no espaço, através de uma serie de indicadores (PIB, IDHM, PIB per Capta,

Importação/Exportação dentre outros). Concluímos que a busca pelo crescimento local destituído

de articulação regional em nada contribui para o para o desenvolvimento dos territórios e ainda

fragiliza a unificação do espaço nacional.

Palavras-chave: competição, Anhanguera, desigualdade.

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