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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 A FEIRA LIVRE NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO AGRESTINO: O CASO DE ARAPIRACA/AL E ITABAIANA/SE Paul Clívilan Santos Firmino 1 Universidade de São Paulo – USP pcfi[email protected] PALAVRAS INICIAIS A região Nordeste, certamente, foi a responsável por impulsionar o desenvolvimento do capitalismo comercial dada a intervenção do português. Dessa intervenção se tem os primeiros indícios do que seria a feira livre futuramente em terras brasileiras, mais precisamente no Nordeste. Evidenciar o papel e o grau de relevância das feiras livres nas transformações econômicas, torna-se um ponto chave no entendimento desse desenvolvimento em cidades nordestinas, com especial destaque para as localizadas na sub-região chamada de Agreste 2 . Nessa perspectiva, inserem-se as cidades de Arapiraca e Itabaiana 3 , localizadas respectivamente no Agreste dos estados de Alagoas e Sergipe, os dois menores estados da Federação brasileira. Pode-se dizer que essas cidades, assim como outras espalhadas no Nordeste do Brasil, têm nas feiras a gênese do seu desenvolvimento econômico. Posteriormente, elas passaram a assumir cada vez mais posição de destaque, manifestando-se como atividade comercial, mobilizando e impulsionando a dinâmica da 1 Aluno do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana/PPGH do Departamento de Geografia/DG da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/FFLCH. Bolsista de Mestrado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/FAPESP, sob a orientação do Prof. Dr. Armen Mamigonian. 2 Para Mário Lacerda de Melo (1980, p. 37) “o espaço agrestino possui peculiaridades que, a partir de sua posição geográfica e de seus quadros econômicos, lhe conferem um papel estratégico altamente relevante em um planejamento regional que se apoie em relações interespaciais”. Ainda segundo o mesmo autor “cada Agreste estadual constitui verticalmente parcela de uma grande unidade territorial definida como região agrária nordestina, mas horizontalmente figura como segmento territorial possuidor de funções muito relevantes dentro do Estado a que pertence” (1980, p. 38). 3 A cidade de Arapiraca possui uma população de 216.108 habitantes (IBGE - 2011) e uma área de 356,179 quilômetros quadrados, distando cerca de 136 km da capital Maceió. Já a cidade de Itabaiana apresenta uma população estimada em 87.747 habitantes (IBGE - 2011) e uma área de 336,692 quilômetros quadrados. 2597

A FEIRA LIVRE NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO …6cieta.org/arquivos-anais/eixo3/Paul Clivilan Santos Firmino.pdf · Segundo Pazera Jr. (2003, p. 37), “a Feira de Gado surgiu em função

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A FEIRA LIVRE NO DESENVOLVIMENTOECONÔMICO AGRESTINO: O CASO DE

ARAPIRACA/AL E ITABAIANA/SE

Paul Clívilan Santos Firmino1

Universidade de São Paulo – USP

[email protected]

PALAVRAS INICIAIS

A região Nordeste, certamente, foi a responsável por impulsionar o

desenvolvimento do capitalismo comercial dada a intervenção do português. Dessa

intervenção se tem os primeiros indícios do que seria a feira livre futuramente em terras

brasileiras, mais precisamente no Nordeste. Evidenciar o papel e o grau de relevância das

feiras livres nas transformações econômicas, torna-se um ponto chave no entendimento

desse desenvolvimento em cidades nordestinas, com especial destaque para as localizadas

na sub-região chamada de Agreste2.

Nessa perspectiva, inserem-se as cidades de Arapiraca e Itabaiana3, localizadas

respectivamente no Agreste dos estados de Alagoas e Sergipe, os dois menores estados da

Federação brasileira. Pode-se dizer que essas cidades, assim como outras espalhadas no

Nordeste do Brasil, têm nas feiras a gênese do seu desenvolvimento econômico.

Posteriormente, elas passaram a assumir cada vez mais posição de destaque,

manifestando-se como atividade comercial, mobilizando e impulsionando a dinâmica da

1 Aluno do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana/PPGH do Departamento de Geografia/DG daFaculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/FFLCH. Bolsista de Mestrado da Fundação de Amparo à Pesquisado Estado de São Paulo/FAPESP, sob a orientação do Prof. Dr. Armen Mamigonian.

2 Para Mário Lacerda de Melo (1980, p. 37) “o espaço agrestino possui peculiaridades que, a partir de sua posiçãogeográfica e de seus quadros econômicos, lhe conferem um papel estratégico altamente relevante em umplanejamento regional que se apoie em relações interespaciais”. Ainda segundo o mesmo autor “cada Agresteestadual constitui verticalmente parcela de uma grande unidade territorial definida como região agrária nordestina,mas horizontalmente figura como segmento territorial possuidor de funções muito relevantes dentro do Estado aque pertence” (1980, p. 38).

3 A cidade de Arapiraca possui uma população de 216.108 habitantes (IBGE - 2011) e uma área de 356,179 quilômetrosquadrados, distando cerca de 136 km da capital Maceió. Já a cidade de Itabaiana apresenta uma população estimadaem 87.747 habitantes (IBGE - 2011) e uma área de 336,692 quilômetros quadrados.

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economia, do comércio e do crescimento das mesmas. Associados às feiras livres

encontram-se eventos de natureza diversas que contribuíram para um processo de

mudanças, imprimindo novos ritmos e configurando-as como centros regionais dinâmicos

que são, dando uma maior dinamicidade às áreas ao seu entorno.

Partindo dessa premissa, tem-se a década de 1950-60 como um período de

destaque para a região Nordeste. Estudos como o de Araújo (1997, p. 8), mostram a

veracidade da afirmativa, quando a mesma mostra que,

A partir dos anos 60, impulsionadas por incentivos fiscais – 34/18-Finor e isenção

do imposto sobre a renda, principalmente –, por investimentos de empresas

estatais do porte da Petrobrás (na Bahia e Rio Grande do Norte) e da Vale do Rio

Doce (no Maranhão), complementados com créditos públicos (do BNDES e BNB,

particularmente) e com recursos próprios de importantes empresas locais,

nacionais e multinacionais, as atividades urbanas – e dentro delas, as atividades

industriais – ganham crescentemente espaço no ambiente econômico do

Nordeste e passam a comandar o crescimento da produção na região,

rompendo a fraca dinâmica preexistente (ARAÚJO, 1997, p. 8).

Esses e outros eventos que aí estavam acontecendo, surpreenderam muitos

descrentes a respeito da economia, cultura e desenvolvimento dessa região, desmistificando

assim, interpretações equivocadas e tendenciosas. Nas observações feitas pelo professor

Armem Mamigonian (2009) a respeito do Nordeste e da sub-região Agreste, encontra-se um

dos pontos de partida que norteou a construção do objeto de estudo aqui proposto,

Ora, Euclides da Cunha desmistificou a imagem do sertanejo nordestino, assim

como Gilberto Freyre desmascarou as ideias racistas a respeito do negro e

elogiou a miscigenação. Nos últimos tempos os agrestinos tem demostrado que

o imobilismo social que paralisou o nordeste é uma imagem falsa diante da

multiplicidade das iniciativas empresariais regionais (MAMIGONIAN. 2009, p. 52).

Trilhando por este caminho, o estudo do Nordeste vem se tornando uma

importante linha de pesquisa, ganhando seguidores e ampliado as abordagens e as análises

a respeito do desenvolvimento econômico e regional a partir de uma perspectiva geográfica.

Nota-se, que o conhecimento da região ora apresentada é de grande relevância, para que se

possa formular uma teoria que explique a gênese e o dinamismo dessa região.

Diante da diversidade regional que está presente nessa porção territorial –

Nordeste –, a sub-região Agreste ganha destaque por ser portadora de uma dinâmica

singular que tem sua gênese atrelada ao papel desempenhado pelas feiras livres. Assim,

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segundo Manuel Correia de Andrade (1974, p. 135) “têm as feiras, sobretudo no Agreste e no

Sertão, onde domina uma atividade policultora, grande influência na economia local”.

A referida zona vai apresentar uma diversificação maior que as outras, o que é

visível quando se analisa as estruturas econômicas, as mudanças, evoluções e

transformações por quais suas cidades vem passando. Trazer à luz os nexos que explicam

as relações entre Arapiraca e Itabaiana, atualmente dois importantes centros de prestação

de serviço do Agreste, a partir das feiras livres é de fundamental importância para o

conhecimento do desenvolvimento econômico no interior do Nordeste brasileiro.

APONTAMENTOS HISTÓRICOS DA FEIRA LIVRE NO NORDESTE DO BRASIL

Ocupado em meados do século XVI pelos colonizadores, o Nordeste é a mais

antiga região de povoamento do país, também foi a mais dinâmica em se tratando de

economia por cerca de dois séculos, mas, perdendo dinamicidade para o Sudeste do País

ainda no século XVIII. Sabe-se, que sua base econômica estava voltada para o engenho, que

foi responsável pela constituição de núcleo social de extrema importância na colônia. Para

Diégues Jr. (2006, p. 15), “a colonização do Brasil iniciou-se com a construção de engenhos; o

crescimento numérico destes refletia o desenvolvimento econômico da então colônia

portuguesa”. Logo, com o “descobrimento” do Brasil e o consequente povoamento destas

terras, começou a se estruturar uma economia num primeiro momento de exportação, que

servia de base para suprir as necessidades do mercado exterior com os produtos advindos

das terras brasileiras, com especial destaque para região Nordeste, com o cultivo da cana de

açúcar.

Pode-se dizer que esta região geográfica brasileira, foi se desenvolvendo em

função da metrópole Portugal. Certamente, o responsável por impulsionar o

desenvolvimento do capitalismo comercial, que segundo Andrade (1979, p. 13), atribui-se a

esse desenvolvimento “o descobrimento e a organização do território brasileiro, em geral, e

do Nordeste em particular”. Observa-se que o mercado capitalista proveniente da Europa4,

tendo como sua representante maior a Coroa, vendiam nos mercados europeus os

produtos que saiam das colônias, de forma que os meios de intermediações comerciais

eram externos a sociedade e a própria economia das colônias.

Assim, os portugueses mantinham relações comerciais as maiores possíveis,

4 Para Karl Polany (1944, p. 81), “o breve florescimento das famosas feiras da Europa constitui um outro exemplo deum tipo definido de mercado produzido pelo comércio de longa distância”

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tirando todo proveito em benefício próprio, começando a nascer no Brasil o processo de

comercialização, mas subordinado ao mercado externo, estruturando-se com o passar dos

tempos o ““polo externo” da dualidade básica da economia brasileira” (RANGEL, 1981, p. 10).

Esse processo de comercialização entre a Colônia e a Metrópole, e, consequentemente, o

desenvolvimento das trocas, “determinara uma produção de valores de troca em escala que

aumentava com a tecnica. Já não são mais somente as feiras onde se cambiavam os

produtos do oriente com os do ocidente[...]” (MENEZES, 1937, p. 92).

Então, pensar nas feiras livres no Brasil, mais precisamente as feiras do Agreste

nordestino, requer uma reflexão num primeiro momento sobre os apontamentos inicias do

que caracterizavam as feiras para entendê-las na atualidade. Sendo assim, a feira livre no

Brasil, tem início com a expansão colonial europeia e a consequente chegada dos

portugueses em terras brasileiras. Dessa forma, os colonizadores traziam consigo as

experiências do comércio e iam impondo na colônia, criando novas formas de comercializar

em terras estranhas a deles. Porém, nesse momento não é possível afirmar que essa

existência de comercialização eram feiras propriamente ditas, e sim, formas de trocas.

Portanto, “foram estes modelos de mercados que foram trazidos para o Brasil no rastro do

processo de colonização portuguesa no início do século XVI” (DANTAS, 2007, p. 60).

Partindo desse pressuposto, pode-se afirmar que a economia das cidades

nordestinas tem sua gênese baseada num mercado onde se tinha uma troca imediata, com

uma comercialização e negócio feitos instantaneamente, caracterizando assim, as chamadas

feiras livres. Não obstante, vê-se que a origem desse mercado no Mundo, data de tempos

atrás e que no Brasil é de fato uma herança herdada do colonizador português, sendo que a

primeira feira de que se tem notícia é a que “estava localizada em Capoame no norte do

Recôncavo Baiano”, por volta do século XVI e XVII, como está relatado no trabalho de Dantas

(2007) sobre a feira de Macaíba – RN citando Mott (1975).

Posteriormente outras feiras foram surgindo ao longo de toda a região. Muitas

tiveram grande influência a partir da atividade pecuária, já que nos fins do século XVI esta

estava começando a ser a base da economia de algumas sub-regiões. A comercialização de

gado, de certa forma deu origem ao surgimento de algumas feiras e, consequentemente, de

alguns povoados, principalmente no Agreste e Sertão nordestino, transformando mais tarde

em grandes cidades, destacando-se não só nas suas sub-regiões, como em todo o estado

onde estão localizadas. Segundo Pazera Jr. (2003, p. 37), “a Feira de Gado surgiu em função

de uma atividade – a pecuária – amplamente favorecida pelas condições naturais

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favoráveis”.

As feiras livres como têm-se hoje, é reflexo direto ou indireto das pequenas vilas

que surgiam nos caminhos abertos pelo gado e que tinham condições propícias para fixá-las

e mantê-las, de modo a se expandir e ganhar cada vez mais espaço, impulsionando as

povoações que iam surgindo. Para Dantas (2007),

À medida que a pecuária foi responsável pela fixação da população nas áreas do

Agreste e do Sertão nordestino, criou as condições para o abastecimento dos

primeiros núcleos de povoamento e, consequentemente, para o

estabelecimento das relações comerciais, inicialmente, voltadas para a

comercialização do gado e, posteriormente, para a evolução para as atuais feiras

(DANTAS, 2007, p. 74).

A cidade itabaianense no interior do estado de Sergipe, surgiu como povoado, e,

posteriormente se consolidou como cidade – a partir da feira, nesse caso, a feira de gado.

Itabaiana de certa forma servia de ponto de parada ao deslocarem o gado de uma cidade a

outra, ou mesmo para sua própria comercialização. Nota-se, que “a criação de gado no

agreste e no sertão pôs em movimento esse interior e atraiu a especulação de comerciantes

capazes de gerar o desenvolvimento precoce dos seus centros urbanos e algumas de suas

aldeias” (ALMEIDA, 1984, p. 216).

Juntamente com o comércio de gado, vários tipos de produtos começaram a

serem inseridos no processo de comercialização, visto o crescimento e o grau de

importância que as feiras estavam tomando no desenvolvimento econômico de diversas

cidades agrestinas e sertanejas. Então, o comércio desponta como ator de destaque,

conquistado seu espaço e se fixando e, como consequência, um aumento em relação as

trocas e um crescimento no que se refere as feiras livres.

As feiras passaram a ter maior destaque para o comércio local e com o tempo

atingiram um raio de abrangência maior, atraindo comerciantes de diversas partes para

cidades que tinham e ainda tem uma dinamicidade excepcional – diga-se Arapiraca/AL e

Itabaiana/SE (mapa 1).

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Mapa 1: Localização das Cidades de Arapiraca/AL e Itabaiana/SE.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Bases de Dados. Elaboração Cartográfica: Claudia Blanco.

Com a expansão das feiras, logo surgiu a necessidade de melhorias tanto na

forma de comercializar como no que se refere a todo processo anterior ao da realização das

mesmas. Observa-se que a evolução dos transportes e sua melhoria, bem como abertura de

várias estradas ligando o litoral ao interior dos estados passando pelo Agreste, foram

fundamentais no processo de integrar e interiorizar suas economias, fazendo com que o

comércio e a cidade tornassem mais dinâmicos.

Isto posto vê-se que os transportes têm uma função ímpar na realização das

feiras, desde os mais simples e rústicos, como a “carroça de burro” até os mais modernos;

seja o caminhão, o ônibus ou mesmo as motos (fotos 1, 2 e 3), estas, tendo um papel de

destaque nas cidades de Itabaiana/SE e Arapiraca/AL com o papel desempenhado pelo

serviço de moto-táxi.

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Fotos 1 e 2: Caminhão e Carroça de Burro na Feira e Ponto de Moto-taxi no Centro de Itabaiana/SE.

Fonte: Paul Clívilan S. Firmino/arquivo particular do autor. Dezembro e Fevereiro de 2013 respectivamente.

Foto 3: Ponto de Moto-taxi no Centro de Arapiraca/AL.

Fonte: Paul Clívilan S. Firmino/arquivo particular do autor. Julho de 2013.

A feira livre como “herança” da feira de gado, é de certa forma o último estágio

de um determinado processo produtivo. Há que considerar também a produção e a

distribuição em qualquer forma de comercialização, mesmo nas mais modernas. Não

havendo uma transformação geral, a feira ainda continua tendo um papel de destaque na

economia e na dinâmica das cidades onde são realizadas. Inseridas nos novos processos

econômicos, as feiras reagem e se adaptam as mudanças que vem ocorrendo, coexistindo

com formas comerciais as mais modernas possíveis.

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ARAPIRACA/AL E ITABAIANA/SE: A FEIRA LIVRE NA GÊNESE DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

As cidades nordestinas, principalmente as localizadas na sub-região do Agreste,

possuem nas feiras livres uma importância de grande destaque, tanto do ponto de vista

econômico, social, e político, como também cultural. Estudar o desenvolvimento econômico

das cidades de Arapiraca no estado de Alagoas e de Itabaiana em Sergipe, requer fazer um

estudo das feiras livres, as quais são de certa forma responsáveis pela gênese desse

desenvolvimento. Manuel Correia de Andrade em um dos seus escritos, mostra que “têm as

feiras, sobretudo no Agreste e no Sertão, onde domina uma atividade policultora, grande

influência na economia local” (1974, p. 135).

Seguindo essa linha de pensamento, percebe-se que grandes feiras vão

extrapolar as fronteiras municipais. A feira livre da cidade de Itabaiana é um bom exemplo,

convergindo para ela uma produção advinda de várias áreas (fotos 4): do próprio estado

sergipano, de vários outros estados brasileiros e países como a própria Argentina de onde

vem uma grande produção de alho. Toda essa produção é destinada para a própria cidade,

como para cidades circunvizinhas e outras áreas de grande concentração, a exemplo da

própria cidade arapiraquense no Agreste alagoano.

Fotos 4: Produção de Cebola Chegando no Mercado Público de Itabaiana/SE.

Fonte: Paul Clívilan S. Firmino/arquivo particular do autor. Fevereiro de 2013.

A heterogeneidade encontrada no Nordeste brasileiro é excepcional, é um

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espaço muito rico, com características que variam de acordo com a sub-região. No Agreste

essa diversidade deve-se em parte, graças a pequena e média propriedade e as

possibilidades mais abertas voltadas para o comércio. Num primeiro momento, a

comercialização na feira livre dos mais variados produtos, principalmente artesanais, abre

espaço para o começo do desenvolvimento da economia das cidades agrestinas.

Posteriormente outros tipos de produtos passam a integrar esse processo de

comercialização, que é amplo e variado, assumindo papel de suma importância no

comércio, de forma a promover uma maior circulação de pessoas e dos mais variados

produtos, acarretando numa maior dinamicidade em suas economias. Pazera Jr. (2003, p.

27), aponta que “no Nordeste, no entanto, ela deixa de ser um fato rotineiro para assumir

um papel de destaque sendo, às vezes, difícil distinguir até que ponto a feira depende da

cidade ou a cidade depende da feira”.

É preciso trazer à tona as contribuições das feiras livres para o entendimento do

desenvolvimento econômico das cidades aqui já referidas. Para tanto, se faz necessário

entender os mais variados aspectos presentes nas mesmas, desde a gênese e a evolução,

até sua organização e funcionamento dentro do sistema econômico.

Neste caminhar, a feira livre como a principal forma de comércio presente em

quase todas as cidades nordestinas, modifica a dinâmica das mesmas nos dias de sua

realização através das diversas atividades. Isso mostra que mesmo passado séculos elas

ainda sobrevivem, dividindo espaço com outros grandes mercados e formas de

comercialização espalhados no território brasileiro. Compartilhando da ideia de Braudel

(1998), percebe-se que,

Se este mercado elementar, igual a si próprio, se mantém através dos séculos é

certamente porque, em sua simplicidade robusta, é imbatível, dado o frescor dos

gêneros perecíveis que fornece, trazidos diretamente das hortas e dos campos

das cercanias (BRAUDEL, 1998, p. 15).

As feiras passaram a assumir importância cada vez mais expressiva como

atividade econômica, o que visível nos estudos a respeito das mesmas. Cabe fazer uma

diferenciação daquelas realizadas na sub-região agrestina com as realizadas, por exemplo,

na zona da Mata ou mesmo no Sertão para se ter uma noção do grau de importância delas

para o comércio e a economia de suas cidades.

Existe no Nordeste basicamente dois tipos de feiras de acordo com sua

localização. De um lado têm-se as “feiras de zona de transição” e do outro as “feiras de

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zonas típicas” conforme apresentada por Pazera Jr. (2003). No primeiro caso, as feiras são

aquelas encontradas numa faixa de transição – zona da Mata-Sertão, Brejo-Agreste.

Andrade (1974), vai caracterizar essas feiras como sendo as mais diversificadas, maiores

proporcionalmente, apresentam uma grande variedade de produtos e são as mais

importantes dentre as sub-regiões nordestinas. Tudo isso também deve-se ao “domínio da

pequena e média propriedade, o que propicia condições para que um número maior de

agricultores participem da feira” (PAZERA JR., 2003, p. 27). Por outro lado, no segundo caso

têm as feiras de tamanho e área de abrangência menores e com menos grandiosidade.

Diante dessas observações, grandes cidades localizadas nos agrestes dos seus

estados, como Campina Grande/PB, Caruaru/PE, Feira de Santana/BA entre outras, são

bastante dinâmicas e têm atrelada a essa dinamicidade o papel desempenhado pelas

grandes feiras realizadas por entre suas ruas. Aqui cabe também referência as cidades

analisadas no presente trabalho, diga-se Arapiraca/AL e Itabaiana/SE, que direta ou

indiretamente tiveram na feira livre a gênese de suas economias, originária primeiramente

da atividade pecuária, no caso de Itabaiana, e, posteriormente, do processo de

comercialização de bens e demais produtos surgidos dessa atividade.

Arapiraca, em meados da década de 1940 (foto 5), teve um segundo momento

no seu desenvolvimento, este voltado para cultura fumageira, e que certamente, foi através

dessa cultura nas suas proximidades, que a cidade viu aumentar sua área de influência.

Entretanto, a diversificação que atingia seu comércio e a atração de certos serviços,

colocou-a num posição de destaque.

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Foto 5: Plantação de Fumo – Arapiraca/AL, s/d.

Fonte: http://biblioteca.ibge.gov.br/index.htm - Acessado em Novembro de 2013.

Em Itabaiana também não é diferente, a feira faz parte da gênese do seu

desenvolvimento econômico. Ela alcança proporções enormes e uma vida bastante intensa

durante o correr do dia, ocupando grande parte da área central da cidade com a

distribuição das barracas e dos diversos produtos espalhados por todas as ruas, becos e

vielas onde a mesma é realizada. Isso mostra que as feiras “reconstituem-se nos locais

habituais de nossas cidades, com suas desordens, sua afluência, seus pregões, seus odores

violentos e o frescor de seus gêneros” (BRAUDEL, 1998, p. 14).

As feiras livres tidas como manifestações da atividade comercial – um espetáculo

cotidiano – tiveram e ainda têm grande importância, refletindo não somente no comércio

como nos diversos serviços urbanos, mobilizando e impulsionando a dinâmica da economia

e do crescimento das cidades agrestinas, chegando a influenciar várias cidades

circunvizinhas. Assim, converge para elas produtos dos mais variados, compradores de

diversos bairros e cidades, bem como artistas populares, o que torna um espaço vivido por

todos, é o mão na mão, olho no olho, é o negócio feito instantaneamente.

As diversas pessoas que são atraídas pelo movimento frenético da feira vão

utilizar de prestação de serviços os mais variados, desde o de alimentação até os serviços de

crédito: o barbeiro e cabelereiro; consertos de relógios, panelas de pressão, fogões, rádios e

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TVs; e hoje em dia têm a presença muito forte das operadoras de telefone e cartões de

créditos (fotos 6 e 7).

Fotos 6 e 7: Serviço de Telefonia – Arapiraca/AL e Serviço de Alimentação – Itabaiana/SE.

Fonte: Paul Clívilan S. Firmino/arquivo particular do autor – Janeiro e Fevereiro de 2013 respectivamente.

No Nordeste, principalmente na sub-região do Agreste, as cidades se destacam

por apresentarem uma importante função do ponto de vista comercial, industrial (mesmo

que ainda de forma tímida) e a já referenciada prestação de serviços, que segundo

Rochefort (1964, p. 122), “o estudo da distribuição de cada serviço contribui para a

compreensão das atividades produtivas e da organização da vida regional. Constitui, pois,

um aspecto indispensável e quase uma conclusão de todo estudo regional”.

Neste sentido, certas cidades vão ter maior centralidade, onde os consumidores

são atraídos não somente pela feira, como também pelos vários serviços e bens oferecidos.

No entanto, é no dia da feira que a cidade tem uma maior movimentação. Então, o papel

desempenhado por ela vai além do simples ato de comprar e vender, existe entre a feira e o

comércio ao seu redor uma relação de complementariedade, onde a dinâmica econômica

das cidades localizadas na sub-região do Agreste e do Sertão, por exemplo, é influenciada

pelo papel exercido pelas feiras. Trilhando por este caminho, percebe-se que a região

Nordeste, tem nas feiras livres um componente fundamental que é responsável de forma

direta ou indiretamente pela centralidade de algumas cidades. Dantas (2007) aponta que,

Um dos elementos que conferem grande importância para as feiras nordestinas

é que em qualquer núcleo – seja urbano ou rural – em que se realize, elas

exercem uma centralidade, mesmo que periódica, ou seja, em função dos tipos

de atividades que se desenvolvem no espaço da feira, ela atrai para si uma

população para consumir e vender, bem como para desenvolver atividades

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voltadas para a prestação de serviços (DANTAS, 2007, p. 33).

As cidades agrestinas recebe um número de mercadorias muito maior que as

cidades da Zona da Mara e/ou Sertão. A abundância de mercadorias que se comercializa nas

feiras é algo impressionante, quase sempre se acha tudo que procura: é o queijo e a

manteiga produzida no Sertão, os ovos e a galinha de capoeira criada solta no quintal, as

frutas típicas, as verduras e hortaliças cultivadas na própria região, o artesanato e tantos

outros produtos – diga-se produtos industrializados que antes não era possível de os

encontrar expostos nas feiras.

A feira livre da cidade de Itabaiana é realizada às quartas-feiras e aos sábados,

porém, é na feira de sábado que ela atinge seu maior movimento, com todo o esplendor de

uma feira livre típica da sub-região do Agreste nordestino. Encontra-se aí todo tipo de

produto, do mais moderno ao mais tradicional, produtos vindos da zona rural e urbana da

própria cidade, como de outras cidades e estados, espalhados por várias ruas do centro,

expostos nas centenas de barracas, nas carroças de mão, nos caixotes de madeira ou

mesmo colocados sobre lonas e plásticos no chão (fotos 8 e 9).

Fotos 8 e 9: Diversas formas de expor os produtos e visão geral da feira ocupando as ruas –Itabaiana/SE.

Fonte: Paul Clívilan S. Firmino/arquivo particular do autor – Fevereiro e Dezembro de 2013 respectivamente.

À medida que as feiras crescem, a tendência é crescerem também as cidades e,

consequentemente, atrair novos investimentos além da feira. O aumento cada vez mais

acelerado das trocas e do processo de comercialização, fazem surgir mercados muitas vezes

especializados, lojas etc., fazendo movimentar toda uma vida de relações. Esse aumento em

conjunto entre feira, mercado e loja, de forma direta ou indireta obriga as autoridades

competentes a tomarem decisões que na maioria das vezes vão afetar os feirantes,

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beneficiando outros atores nesse processo.

A tradicional feira livre da cidade de Arapiraca, ocupava até meados dos anos

2004 cerca de 25 ruas no centro da cidade, sendo realizada semanalmente todas às

segundas-feiras. Mas, neste mesmo ano a feira foi deslocada devido à expansão que ela

estava tomando e, consequentemente, pelos transtornos que ela estava causando no

centro, ocasionando na diminuição do seu tamanho e na sua área de abrangência. Sendo

assim, pode-se perceber que,

Incapazes de caber nos antigos espaços que lhes eram reservados, transbordam

para as ruas vizinhas, que se tornam cada uma delas uma espécie de mercado

especializado: peixe, legumes, criação, etc. [...]. As autoridades constroem então,

para desimpedir as ruas, grandes edifícios ao redor de amplos pátios. São,

portanto, mercados confinados, mas a céu aberto, alguns especializados,

principalmente de atacado, outros mais diversificados (BRAUDEL, 1998, p. 22).

As feiras realizadas normalmente em dias e localidades fixas, tornam-se um

espetáculo a céu aberto, ocupando um espaço determinado, onde se encontra uma

heterogeneidade de pessoas. Por entre as ruas onde acontecem as feiras, está presente um

fervilhado de pessoas diversas, cada uma com características próprias, construindo seu

próprio “mundo”, vivendo cada pedaço da feira de forma intensa. Debruçando-se no dizer

de Braudel, “a feira é o ruído, o alarido, a música, a alegria popular, o mundo de pernas para

o ar, a desordem, por vezes o tumulto” (1998, p. 67). Aí, pratica-se estratégias de

comercialização únicas, que não é possível encontrar numa grande rede de supermercado

por exemplo.

Dessa forma, as feiras passam a dividir seu espaço com um número cada vez

maior de grandes empresas, firmas e instituições, cada uma com seus próprios objetivos.

Compartilhando da ideia de Santos ([1996] 2008, p. 283), poderia dizer que se torna um

lugar vivido por todos, chamando-o de “espaço banal, espaço de todas as pessoas, de todas

as empresas e de todas as instituições, capaz de ser descrito como um sistema de objetos

animado por um sistema de ações”, torna-se, portanto, fundamento relevante na dinâmica

de cada região e no entendimento das atividades comerciais que as envolvem.

Diante dessa realidade, um grande diferencial que se encontra na feira livre é

que o negócio é feito na hora, o preço pré-estabelecido pode ser mudado mediante a

“pechincha5” entre feirante e freguês; a forma de pagamento muitas vezes pode ser

5 “A pechincha, quer dizer, a discussão que se estabelece entre o comprador e o vendedor sobre o preço de uma

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parcelada ou a crédito6, ou seja, a confiança que o feirante tem para com o cliente, sendo

este uma pessoa conhecida a bastante tempo; pode-se dizer que não existe competitividade

entre os feirantes e sim uma competição, onde um ajuda o outro da melhor forma possível.

Este evento ainda encontra-se a todo vapor7, mesmo com todo o processo do

atual período, no qual tem-se um aumento significativo pelos melhores pedaços do

território com uma competitividade bastante voraz, que é característica predominante da

chamada globalização, que “acaba por destroçar as antigas solidariedades, frequentemente

horizontais, e por impor uma solidariedade vertical” (SANTOS, 2008).

O papel desempenhado pelas feiras dentro do circuito inferior da economia

urbana (proposto por Milton Santos, [1979] 2008) é de grande importância como atividade

economica8 para suas cidades, visto que não se exige alta qualificação do trabalhador, não é

um trabalho permanente, encontra-se trabalho de forma ágil, a mão de obra é o fator

principal e se dá de forma bastante diversificada, envolvendo homens, mulheres, idosos e

crianças, tanto no processo de produção como no de comercialização, seja nas feiras livres

ou em outros trabalhos que fazem parte do circuito inferior da economia urbana. Refletindo

nas observações feitas por Rangel (1990, p. 103), percebe-se que “todo esforço para obter

capital se traduz, afinal, em absorção de mão-de-obra, porque é pela aplicação do fator

trabalho que se cria o fator capital”.

Nos dias atuais, a feira tem uma grande função de destaque, que é a de

empregar um número muito grande de pessoas que não tem outra opção, encontrando

nela uma forma de sobrevivência. Muitos a têm como um espaço para mostrar certas

habilidades direcionadas ao comércio e assim tirar o máximo de proveito e conhecimento

para se estabeleceram como pequeno comerciante e, posteriormente, se destacar como um

grande comerciante local. É o caso de muitos exemplos espalhados pelo Nordeste brasileiro.

Por fim, cabe lembrar que o conhecimento das feiras que impulsionaram o

crescimento de determinadas cidades tornando-as centros regionais, é de grande

relevância, para que se possa analisar as mudanças, evoluções, transformações e a própria

mercadoria, é um dos aspectos mais característicos da formação dos preços no circuito inferior [...] a pechincha só épossível no plano de uma atividade econômica de pequena escala” (SANTOS, [1979] 2008, p. 250).

6 “O crédito aqui é de outra natureza, com uma larga porcentagem de crédito pessoal direto, indispensável para otrabalho das pessoas sem possibilidades de acumular” (SANTOS, [1979] 2008, p. 44).

7 “Com efeito, se a vida econômica se acelera, à feira, relógio velho, não acompanha a nova aceleração; mas, se essavida se desacelera, à feira recupera sua razão de ser” (BRAUDEL, 1998, p.76).

8 “Toda atividade econômica (seja um produto material ou um serviço) precisa ser financiada em todos os estágios desua produção” (DICKEN, 2010, p. 408).

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economia das cidades de Arapiraca e Itabaiana, bem como de outras cidades do Agreste.

PARA NÃO CONCLUIR...

A investigação do papel desempenhado pelas feiras livres nas cidades de

Arapiraca e Itabaiana, mostraram-se relevantes no entendimento do desenvolvimento

econômico em cidades agrestinas. Inserem-se também nesse contexto as atividades

artesanais e agrícolas que atreladas a feira colocaram-nas numa posição de destaque frente

as outras, o que se vê mediante o seu comércio bem diversificado e toda dinâmica que as

envolvem. Hoje, ambas as cidades caracterizam-se como centros regionais de concentração

de comércio e de serviços, envolvendo vários municípios tanto do Agreste de seus estados

como de outros vizinhos.

O comércio dessas cidades e suas respectivas economias, cada uma com

particularidades próprias, tiveram de forma direta ou indireta impulso a partir da feira livre,

o que não pode ser observado em outras cidades onde prevalece o poderio da indústria

canavieira. Esse impulso deu possibilidade para que Arapiraca e Itabaiana se situassem num

patamar de influência sobre as demais, com grandes fluxos convergindo para elas, fazendo

aumentar cada vez mais seu comércio, surgindo com o passar do tempo outras formas de

comercialização, produtos advindos de fora, bem como o surgimento de outras feiras

espalhadas pela cidade, integrando assim a economia local que começava a se estruturar.

Portanto, Arapiraca e Itabaiana constituem importantes cidades não só do

Agreste como também de todo o estado a qual cada uma faz parte, tornando-se centros

dinâmicos, prestadores de serviços, comportando atividades modernas e

consequentemente globalizadas. O que pode ser constatado a partir do seu amplo e variado

comércio.

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A FEIRA LIVRE NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO AGRESTINO: O CASO DE ARAPIRACA/AL E ITABAIANA/SE

EIXO 3 – Desigualdades urbano-regionais: agentes, políticas e perspectivas

RESUMO

A economia das cidades nordestinas, em sua maioria, têm sua gênese baseada num mercado

onde se tinha uma troca imediata, com uma comercialização e negócio feitos instantaneamente –

diga-se as feiras livres em um primeiro momento. Estudar a importância das feiras, com destaque

para grande parte das cidades do Agreste, remete a entender os mais variados aspectos

presentes nas mesmas, desde sua gênese e evolução, até sua organização e funcionamento

dentro do sistema econômico. Para tal, tomou-se como referencial teórico-metodológico a

concepção de feira livre, desenvolvimento econômico e Agreste, desenvolvidos por Andrade

(1974, 1998), Araújo (1984, 1997), Braudel (1998), Mamigonian (2009), Melo (1980), Menezes (1937),

Rangel (1981), Santos (2008) etc. Arapiraca e Itabaiana – localizadas respectivamente no Agreste

dos estados de Alagoas e Sergipe – tiveram de forma direta ou indireta sua gênese atrelada a

feira livre – originária da atividade pecuária – e posteriormente do processo de comercialização

de bens e demais produtos que foram surgido. Assim, o conhecimento das feiras que

impulsionaram o crescimento de determinadas cidades tornando-as centros regionais, é de

grande relevância para que se possa analisar as mudanças, evoluções, transformações e a própria

economia das cidades agrestinas.

Palavras-chave: desenvolvimento econômico; feira livre; agreste.

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